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09/03/2015 Síndrome dos Ovários Policísticos ­ Versão para Impressão

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Síndrome dos Ovários Policísticos

Autores:

Georges Fassolas

Especialista  em  Ginecologia  e  Obstetrícia  pelo  Hospital  das  Clínicas


da Faculdade de Medicina da USP

Alfonso Araujo Massaguer

Especialista  em  Ginecologia  e  Obstetrícia  pelo  Hospital  das  Clínicas


da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Especialista  em  Reprodução  Humana  pelo  Instituto  Universitário
Dexeus – Barcelona

Eduardo Leme Alves da Motta

Professor  Adjunto  Doutor  do  Departamento  de  Ginecologia  da


Universidade Federal de São Paulo
Doutor em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo

Ângela Maggio da Fonseca

Médica Assistente do Serviço de Ginecologia do Hospital das Clínicas
da  Faculdade  de  Medicina  da  Universidade  de  São  Paulo  (HC­
FMUSP).
Doutora em Medicina pela Faculdade de Medicina da USP

INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES
Alterações císticas no ovário humano foram descritas há mais de
100  anos.  Porém,  foi  em  1935  que  Stein  e  Leventhal  reconheceram
uma  associação  entre  ovários  policísticos  bilaterais  e  um  complexo
de  sinais  consistindo  de  amenorreia,  infertilidade,  hirsutismo  e
obesidade.  Essa  tríade  de  sinais  encontrados  em  conexão  com  os
multicistos  ovarianos  logo  foi  chamada  de  síndrome  de  Stein­
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Leventhal,  sendo  atualmente  mais  conhecida  como  síndrome  dos


ovários policísticos (SOP).
A  SOP  afeta  20  a  30%  das  mulheres  na  idade  fértil  e  tem
consequências deletérias à saúde delas. É a causa mais frequente de
anovulação  crônica,  levando  a  ciclos  menstruais  irregulares  com
atrasos  (oligomenorreia)  e  infertilidade.  O  hiperandrogenismo
característico  da  síndrome  produz  hirsutismo  e  acne.  Esses  dois
fatores podem causar danos estéticos importantes, resultando, muitas
vezes,  em  distúrbios  psicossociais  e  consequente  comprometimento
da  qualidade  de  vida.  Além  disso,  atualmente,  muitos  estudos  têm
mostrado  de  forma  conclusiva  a  associação  direta  entre  SOP  e
doenças malignas (câncer de endométrio), doenças cardiovasculares
(hipertensão  e  doenças  isquêmicas  cardíacas)  e  diabete  melito.  Em
razão  desses  aspectos,  considera­se  o  estudo  da  SOP  um  dos
tópicos mais importantes da endocrinologia reprodutiva feminina.
Neste  capítulo,  procuramos  discutir  o  quadro  clínico,  a
fisiopatologia, os critérios diagnósticos e os principais tratamentos da
SOP.
 
QUADRO CLÍNICO
A  síndrome  dos  ovários  policísticos  tem  um  espectro  grande  de
apresentações  clínicas,  que  decorrem  sobretudo  do
hiperandrogenismo  e  da  anovulação  crônica,  os  quais  podem  estar
presentes  em  conjunto  ou  mesmo  separadamente.  Assim,  podemos
dividir  a  sintomatologia  da  SOP  da  seguinte  forma,  para  melhor
compreensão.
 
Hiperandrogenismo Clínico
O  hiperandrogenismo  característico  da  SOP  pode  se  expressar
clinicamente de diversas formas.
 
Hirsutismo
Um dos principais indicadores clínicos do excesso de androgênio,
principalmente  do  excesso  de  di­hidrotestosterona  (DHT),  é  a
presença do hirsutismo, ou seja, o aparecimento de pelos em regiões
normalmente  glabras  das  mulheres  (face,  tórax,  periareolar,  glúteos,
região inferior do abdome e parte superior do dorso).
 
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Acne
Diante do excesso de DHT, também há aumento da secreção das
glândulas  sebáceas  da  pele,  contribuindo  para  hipersecreção
sebácea  e  acne.  Aproximadamente  1/3  das  mulheres  com  SOP
apresenta  acne  de  forma  persistente,  sendo  esse  um  motivo
importante de piora de qualidade de vida nessas pacientes.
 
Alopecia Androgênica
A  alopecia  androgênica  é  comum  em  homens  e  rara  em
mulheres.  O  meio  hiperandrogênico  determina  a  involução  dos
folículos  pilosos  na  fronte,  muito  embora  também  haja  uma
predisposição  genética  para  seu  acontecimento.  Assim,  mulheres
com  tal  predisposição  em  associação  com  a  hipersecreção
androgênica podem apresentar esse tipo de alopecia. Estudo recente
mostrou  que,  em  67%  das  vezes,  as  mulheres  com  alopecia
androgênica tinham diagnóstico de SOP.
 
Irregularidade Menstrual
A  irregularidade  menstrual  é  a  principal  característica  clínica  da
SOP.  Em  uma  das  maiores  séries  de  casos  já  publicadas  sobre  a
doença,  Balen  et  al.  avaliaram,  em  1995,  1.871  mulheres  com  pelo
menos  um  dos  sintomas  da  síndrome.  Nesse  trabalho,  os  autores
observaram  que  70%  das  pacientes  tinham  oligomenorreia  (ciclo
menstrual  com  intervalo  superior  a  35  dias),  e  20%  delas
apresentavam  amenorreia.  Além  disso,  alguns  autores  mostram  que
aproximadamente  85  a  90%  das  mulheres  com  oligomenorreia  têm
diagnóstico  de  SOP.  Ou  seja,  a  maioria  das  pacientes  com  SOP
apresenta  ciclo  menstrual  anormal,  caracterizado  por  atrasos
menstruais cíclicos causados pela anovulação crônica.
 
Obesidade
Vários  trabalhos  mostram  que  35  a  50%  das  mulheres  com  a
síndrome  têm  sobrepeso  (índice  de  massa  corpórea  (IMC)  >  25)  ou
são  obesas  (IMC  >  30).  Portanto,  devemos  estar  atentos  ao  fato  de
que  a  obesidade  não  é  uma  condição  sine  qua  non.  A  adiposidade
abdominal  é  o  tipo  mais  comum,  com  aumento  importante  do  índice
cintura­quadril.  Nesse  tipo  de  obesidade,  há  aumento  do  risco  de
desenvolver diabetes tipo 2. De fato, 30% das mulheres obesas com

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SOP  têm  diagnóstico  de  intolerância  à  glicose  com  consequente


hiperinsulinemia  compensatória,  e,  após  os  40  anos  de  idade,
aproximadamente  7,5%  dessas  pacientes  vão  desenvolver  diabetes.
Além  disso,  a  obesidade  central  aumenta  em  7  vezes  o  risco  de
desenvolvimento  de  infarto  do  miocárdio  e  outras  doenças
relacionadas à aterosclerose.
 
Acantose nigricans
A  acantose  nigricans  é  uma  rara  lesão  cutânea  que  ocorre  mais
frequentemente  nas  axilas,  nas  dobras  da  pele  e  na  nuca.  Ela  se
manifesta  por  aumento  de  pigmentação  e  por  papilomatose.  Está
presente em aproximadamente 3% dos casos com SOP, sendo mais
comum nas adolescentes com a síndrome. A ocorrência dessa lesão
decorre  da  hipersecreção  de  insulina  compensatória  à  resistência
desse  hormônio  provocada  pelo  excesso  de  aporte  glicêmico,  tão
comum na obesidade.
 
Infertilidade
Os  problemas  reprodutivos  da  SOP  se  relacionam  tanto  à
dificuldade  de  engravidar,  secundariamente  à  anovulação  crônica,
quanto  a  abortamento  de  repetição.  Se  uma  população  infértil  for
avaliada,  a  SOP  será  a  principal  causa  de  anovulia,  representando
aproximadamente  75%  dos  casos.  Além  disso,  a  prevalência  da
síndrome  em  pacientes  com  abortamento  habitual  também  é  alta.
Sendo  assim,  a  síndrome  dos  ovários  policísticos  é  um  dos
diagnósticos mais comuns em casais inférteis.
 
FISIOPATOLOGIA
Os  mecanismos  fisiopatológicos  que  levam  à  SOP  são
multifatoriais e serão abordados a seguir.
 
Secreção Anômala de Gonadotrofinas
A produção hipofisária de gonadotrofinas (LH e FSH) é um evento
fundamental para a função reprodutiva. Para que a hipófise produza e
libere  esses  hormônios,  ela  depende  da  estimulação  realizada  pelo
hormônio  liberador  de  gonadotrofinas  (GnRH).  A  secreção  pulsátil
dessa  substância  é  necessária  para  manter  a  liberação  normal  do
FSH  e  do  LH,  enquanto  uma  liberação  contínua  do  GnRH  leva  à
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supressão  da  secreção  das  gonadotrofinas.  Modificações  na


pulsatilidade  de  liberação  do  GnRH  influenciam  o  nível  de  secreção
das duas gonadotrofinas. Dessa forma, quando há pulsatilidade mais
lenta, há predomínio da secreção de FSH. Quando ela é mais rápida,
predomina a liberação de LH.
Alguns estudos sugerem que, nas pacientes com SOP, há tônus
diminuído  de  secreção  de  opioides  e  dopamina,  o  que  resultaria  em
aumento  de  frequência  de  pulsos  de  GnRH  e,  consequentemente,
secreção  exacerbada  de  LH  em  relação  ao  FSH.  Além  disso,  os
estrogênios  diminuem  a  atividade  de  enzimas  proteolíticas  que
degradam o GnRH. Assim, quando há o hiperestrogenismo, facilitado
pelo  excesso  de  aromatização  no  tecido  gorduroso  e  típico  de
pacientes  com  SOP,  pode  haver  aumento  da  biodisponibilidade  de
GnRH,  o  que  novamente  leva  à  liberação  de  níveis  elevados  de  LH
em detrimento do FSH.
 
Função Ovariana na SOP
A  presença  de  ovários  aumentados  e  com  vários  folículos  em
pacientes  com  SOP  sugere  que  essa  glândula  é  o  sítio  primário  do
hiperandrogenismo característico da síndrome.
Em  razão  da  secreção  exacerbada  do  LH,  alguns  estudos
demonstram  que  os  ovários  dessas  mulheres  apresentam  uma
hiperatividade  das  células  de  teca  e  do  estroma  ovariano.  Dados  de
trabalhos realizados in vitro e in vivo confirmam que as células tecais
das  pacientes  com  SOP  apresentam  esteroidogênese  aumentada,  o
que pode justificar o aumento da secreção ovariana de androgênios.
Outro  aspecto  interessante  da  fisiologia  ovariana  nas  pacientes
com  SOP  é  a  ausência  do  fenômeno  de  dominância  folicular,  o  que
leva ao excessivo número de folículos em estágios intermediários de
seu  desenvolvimento,  sem,  contudo,  atingir  seu  ápice,  causando
assim a anovulação crônica. A fase precoce de desenvolvimento dos
folículos (até o diâmetro de 4 a 5 mm) é normal nas pacientes com a
síndrome.  Após  isso,  a  maturação  folicular  torna­se  inadequada,
resultando em interrupção precoce de seu crescimento.
Existem  vários  fatores  que  podem  explicar  esse  fato.
Primeiramente,  o  hiperandrogenismo  presente  nas  pacientes  com
SOP leva à diminuição da produção hepática da proteína ligadora de
esteroides  sexuais  (SHBG).  Como  consequência,  há  aumento  da
fração  livre  de  estrogênios  na  circulação  (fração  metabolicamente
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ativa).  Por  seu  mecanismo  de  retroalimentação  negativa  no


hipotálamo  e  na  hipófise,  os  estrogênios  –  que,  dessa  forma,
encontram­se  em  níveis  ativos  aumentados  –  promovem  diminuição
da secreção de FSH e, portanto, do estímulo ao crescimento folicular.
Além  disso,  alguns  autores  demonstraram  que  os  folículos  de
pacientes  com  SOP  apresentam  resposta  inadequada  às
gonadotrofinas;  outros  autores  demonstraram  que  essas  pacientes
atingem  a  puberdade  com  número  significativamente  maior  de
folículos  primordiais  e  primários.  Nessas  pacientes  as  células  da
granulosa respondem ao LH quando o folículo apresenta por volta de
4  mm  de  diâmetro,  ao  passo  que,  nas  mulheres  normais,  essa
resposta  se  dá  somente  a  partir  de  10  mm  de  diâmetro.  A  ação
prematura do LH é prejudicial às células da granulosa e ao posterior
desenvolvimento  folicular,  principalmente  por  diminuir  a  ação  da
aromatase.  A  ação  prejudicada  dessa  enzima  leva  a  um  ambiente
pobre  em  estrogênios  na  periferia  dos  folículos.  Dessa  forma,  os
receptores  de  FSH  nas  células  da  granulosa  não  se  desenvolvem
adequadamente, o que impede o crescimento normal dos folículos e,
por  conseguinte,  verifica­se  a  ausência  de  dominância  folicular  e
anovulação.
Conclui­se,  portanto,  que  as  pacientes  portadoras  da  síndrome
dos  ovários  policísticos  apresentam  ampla  variedade  de  alterações
representadas  pela  secreção  anômala  das  gonadotrofinas,  com
predomínio  de  LH  em  relação  ao  FSH,  contribuindo  para  a
hiperatividade das células da teca ovariana em detrimento das células
da  granulosa,  que  determinam  o  crescimento  folicular.  Isso  pode
explicar,  pelo  menos  em  parte,  as  alterações  hormonais
(hiperandrogenismo) e ovarianas que observamos nessa síndrome.
 
Hiperinsulinemia
A  associação  entre  resistência  periférica  à  insulina  com
consequente  hiperinsulinemia  compensatória  é  considerada
atualmente  o  principal  mecanismo  fisiopatológico  que  resulta  no
persistente  estado  de  hiperandrogenismo  e  de  anovulação  crônica,
tão característico da síndrome dos ovários policísticos.
A  obesidade  é  um  dos  fatores  de  risco  mais  importantes  para  o
surgimento  da  resistência  à  insulina.  Porém,  a  sensibilidade
diminuída  à  insulina  nas  pacientes  com  SOP  é  potencialmente  um
defeito  intrínseco  em  mulheres  geneticamente  suscetíveis,  pois  é
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independente da obesidade, da disposição da gordura corpórea e de
outras  alterações  metabólicas.  A  insulina,  quando  em  excesso,  atua
de  várias  maneiras  no  organismo,  podendo  levar  ao
hiperandrogenismo e à anovulação crônica:
 
            liga­se  aos  receptores  de  IGF­1  das  células  tecais  ovarianas,

resultando  em  aumento  da  produção  androgênica  por  essas


células. Sabe­se que esse efeito é potencializado pela ação do
LH que está aumentado nas mulheres com SOP;
      atua no metabolismo hepático, diminuindo a produção de SHBG,

proteína  responsável  por  carrear  a  testosterona  livre,


aumentando, assim, sua fração biologicamente ativa;
            promove diminuição da produção hepática da proteína ligadora

IGF,  aumentando  a  biodisponibilidade  de  IGF­1  e  IGF­2,  que


são moduladores positivos da ação do LH nos ovários;
            aumenta a atividade da enzima P450c17­alfa, responsável por

estimular a produção androgênica nos ovários e nas adrenais.
 
DIAGNÓSTICO
Aproximadamente  15  anos  se  passaram  desde  a  primeira
conferência  internacional  sobre  os  critérios  diagnósticos  para  a
síndrome  dos  ovários  policísticos.  Esse  tema  sempre  foi  muito
controverso  pelo  grande  espectro  de  sintomas  que  podem  se
associar à morfologia policística dos ovários.
Entretanto,  em  2003,  foi  realizado,  na  cidade  de  Rotterdã,  um
consenso  sobre  SOP  que  envolveu  a  Sociedade  Europeia  de
Reprodução  Humana  e  a  Sociedade  Americana  de  Medicina
Reprodutiva. Nesse encontro, a SOP teve seus critérios diagnósticos
bem definidos.
Assim,  atualmente,  para  se  fazer  o  diagnóstico  de  SOP,  as
pacientes devem ter pelo menos 2 das seguintes características:
 
      hiperandrogenismo clínico e/ou laboratorial;

      ciclos menstruais com intervalos irregulares e alargados (atrasos

menstruais);
      ovários com característica micropolicística à ultrassonografia.

 
Além  disso,  obrigatoriamente,  devem­se  excluir  as  seguintes
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condições (que podem simular a síndrome):
 
      hiperplasia congênita da adrenal;

      síndrome de Cushing;

      tumores secretores de androgênios (ovarianos e adrenais);

      doenças tireoidianas;

      hiperprolactinemia;

      uso de androgênios exógenos.

 
Deve­se desconfiar de causa diferente de SOP em pacientes com
hiperandrogenismo  e  oligomenorreia,  principalmente  diante  das
seguintes situações:
 
            hirsutismo  de  início  abrupto  (mais  característico  de  tumores

hiperandrogênicos e de abuso de androgênios exógenos);
      virilização e testosterona > 200 ng/dL (característico de tumores

produtores de androgênios);
            início  dos  sintomas  após  a  3ª  década  de  vida  (a  SOP

usualmente começa na puberdade);
          grave  transtorno  menstrual  com  pouca  manifestação

hiperandrogênica (mais característico de hiperprolactinemia).
 
Algoritmo 1: Diagnóstico de SOP.

 
Observações:
       se houver grave alteração menstrual com leve hirsutismo, deve­

se pensar em hiperprolactinemia;
            se  houver  sinais  clínicos  de  virilização  ou  testosterona  >  200

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ng/dl  ou  hirsutismo  de  início  abrupto,  deve­se  procurar  por


tumores produtores de androgênios;
            se houver sinais clínicos de aumento de cortisona (moon face,

atrofia de pele), deve­se procurar por síndrome de Cushing.
 
Hiperandrogenismo Clínico
O  hiperandrogenismo  clínico  deve  ser  caracterizado  conforme
abordado no item Quadro clínico.
 
Hiperandrogenismo Laboratorial
Para  avaliar  a  ocorrência  desse  parâmetro,  devemos  solicitar  a
dosagem dos seguintes hormônios androgênicos:
 
      testosterona total (valor normal: 20 a 80 ng/dL);

      androstenediona (valor normal: < 200 ng/dL);

      17 alfa­hidroxiprogesterona;

      sulfato de deidroepiandrosterona (SDHEA).

 
A  alteração  de  qualquer  um  desses  hormônios  caracteriza  o
hiperandrogenismo laboratorial. Deve­se lembrar, contudo, que a data
ideal  da  mensuração  hormonal  é  no  início  de  um  novo  ciclo
menstrual,  uma  vez  que  os  androgênios  podem  se  elevar
discretamente  junto  ao  período  periovulatório.  Logicamente,  esse
detalhe  não  se  aplica  às  pacientes  com  SOP,  mas  naquelas  com
discreta  alteração  menstrual,  convém  dosá­los  na  época  mais
apropriada.
 
Irregularidade Menstrual
A  irregularidade  menstrual  deve  ser  caracterizada  conforme
referido no item Quadro clínico.
 
Ovários Policísticos
A avaliação dos ovários é realizada por meio de ultrassonografia.
Para  que  se  definam  ovários  policísticos,  deve  haver  a  presença  de
12 ou mais folículos em cada ovário, medindo 2 a 9 mm em seu maior
diâmetro,  e/ou  aumento  do  volume  ovariano  (>  10  mL).  A  presença
dessas características em apenas um dos ovários já é suficiente para
definir ovários policísticos.
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DIAGNÓSTICO DEFERENCIAL
Hiperplasia Congênita da Adrenal
Essa  é  uma  doença  hiperandrogênica  que  sempre  deve  ser
descartada  em  pacientes  com  quadro  clínico  de  hirsutismo  e
oligomenorreia,  pois  afeta  aproximadamente  1  a  5%  das  mulheres
com tais queixas.
A adrenal apresenta intensa atividade endócrina com a produção
de  esteroides  sexuais,  cortisol  e  aldosterona.  Todas  essas  reações
advêm da metabolização do colesterol, e a incorreta ativação de uma
de  suas  vias  poderia  desviar  a  produção  desses  hormônios.  Na
hiperplasia congênita da adrenal, de herança autossômica recessiva,
ocorrem  mutações  no  citocromo  P450  que  determinam  as  reações
enzimáticas  predominantemente  para  a  produção  de  cortisol  e
aldosterona.  Dessa  forma,  desvia­se  a  produção  para  o  lado  dos
esteroides sexuais, sobretudo androgênios. Sua forma mais comum é
a deficiência da enzima 21­hidroxilase, seguida de outras muito raras,
as deficiências da 3­beta­ol­desidrogenase e 11­hidroxilase.
Quando  há  a  deficiência  da  21­hidroxilase,  observa­se
predominantemente  o  acúmulo  da  17­hidroxiprogesterona  (17OHP).
Se o problema é com a 3­beta­ol­desidrogenase, há acúmulo de 17­
hidroxipregnenolona.  Se  houver  deficiência  de  11­hidroxilase,  há
acúmulo do composto S (11 deoxicortisol). Para avaliação inicial das
pacientes  com  hiperandrogenismo,  deve­se  realizar  a  dosagem  de
17­OHP  pela  manhã.  Se  essa  proteína  tiver  nível  <  200  ng/dL,  a
hiperplasia  congênita  da  adrenal  pode  ser  descartada.  Se  o  nível
estiver entre 200 e 400 ng/dL, deve­se prosseguir a investigação. Se
o  nível  de  17­OHP  for  >  400  ng/dL,  podemos  considerar  a  paciente
portadora de hiperplasia congênita de adrenal.
Deve­se lembrar ainda que existe uma forma leve na deficiência
da  atividade  da  enzima  21­hidroxilase,  chamada  de  hiperplasia
adrenal  congênita  da  forma  adulta,  na  qual  somente  no  estresse
intenso,  comum  na  vida  adulta,  seria  exigida  a  produção  de  cortisol,
desviando  novamente  a  atividade  da  adrenal  para  a  produção  de
androgênios.  Caso  haja  essa  suspeita,  deve­se  prosseguir  à
investigação,  realizando  o  chamado  teste  da  cortrosina.  Antes  da
realização  do  teste,  devem  ser  obtidos  os  níveis  basais  de  17­OHP,
DHEA e do composto S. Após isso, deve­se injetar 0,25 mg de ACTH
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sintético  (cortrosina)  por  via  intramuscular.  O  ACTH  sintético  tem  a


função  de  estimular  o  funcionamento  da  adrenal.  Após  1  hora  de
injeção da cortrosina, dosam­se novamente a 17­OHP, o SDHEA e o
composto  S.  Os  resultados  devem  ser  interpretados  da  seguinte
forma:
 
      se 17 OHP > 10 ng/mL, há deficiência de 21­hidroxilase;

            se  DHEA  >  1.818  ng/mL,  há  deficiência  de  3­beta­ol­

desidrogenase;
            se  o  composto  S  aumentar  mais  que  dois  desvios­padrão  em

relação ao seu nível basal, há deficiência da 11­hidroxilase;
       se nenhuma dessas substâncias estiver alterada, descarta­se a

hiperplasia congênita de adrenal.
 
Síndrome de Cushing
A  síndrome  de  Cushing  é  caracterizada  por  produção  excessiva
de  cortisol.  Os  androgênios  são  formados  como  intermediários  na
cadeia  enzimática  que  se  finaliza  com  a  produção  dos  corticoides.
Assim,  se  nessa  doença  há  produção  excessiva  de  cortisol,  há
também  aumento  na  formação  de  androgênios,  o  que  pode  levar  a
hiperandrogenismo  e  a  anovulação  crônica  e,  portanto,  simular  um
quadro de SOP.
Além  do  hiperandrogenismo,  porém,  a  produção  excessiva  de
cortisol  leva  a  outros  sinais  clínicos  característicos,  tais  como
aumento da deposição de gordura na face (moon face), presença de
telangiectasia  e  atrofia  da  pele  e,  em  casos  mais  graves,
acontecimento de hipertensão arterial sistêmica e diabete melito.
Dessa  forma,  uma  pesquisa  diagnóstica  específica  visando
descartar  a  síndrome  de  Cushing  nas  pacientes  com  quadro  clínico
sugestivo de SOP somente é  obrigatória  se  houver  os  outros  sinais
dessa doença caracterizados antes ou nos casos tratados como SOP
e que não responderem ao tratamento.
Para  diagnóstico  da  síndrome  de  Cushing,  pode­se  realizar  um
teste simples de supressão da adrenal. Para isso, administra­se 1 mg
de  dexametasona  às  23  horas  e  dosa­se  o  nível  plasmático  de
cortisol às 8 horas da manhã do dia seguinte. Níveis de cortisol < 7,5
mcg/dL descartam a doença.
 

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Tumores Secretores de Androgênios
Os  tumores  produtores  de  androgênios  acontecem  mais
comumente  nos  ovários  e  nas  adrenais.  O  quadro  clínico
característico  dessas  neoplasias  compreende  sinais  de  rápida
progressão  dos  sintomas  e,  na  grande  maioria  das  vezes,  perda  da
silhueta  feminina  e  virilização  (engrossamento  da  voz,  hipertrofia  da
musculatura corpórea, hipertrofia do clitóris).
Nesses  casos  extremos  e  com  níveis  de  testosterona  >  200
ng/dL,  portanto,  é  obrigatória  a  investigação  específica  para  se
descartar  a  ocorrência  de  tumores  produtores  de  androgênios.  Para
se  avaliar  o  acontecimento  desses  tumores  nos  ovários,  a
ultrassonografia  transvaginal  e  a  tomografia  computadorizada  (TC)
são os exames de escolha. Para abordagem inicial dessas neoplasias
na adrenal, indica­se também a TC e, se a dúvida persistir, pode­se
realizar a ressonância nuclear magnética (RNM).
 
Doenças Tireoidianas
As  doenças  tireoidianas,  tanto  hipo  quanto  hipertireoidismo,
podem  levar  a  quadros  de  irregularidade  menstrual  com  atraso  e
anovulação  crônica.  Assim,  as  pacientes  com  tal  quadro  clínico
devem  obrigatoriamente  ter  sua  função  tireoidiana  testada  mediante
dosagens de TSH e T4 livre.
Os valores normais desses exames são os seguintes:
 
            TSH:  0,3  a  5  mU/L  (valores  <  0,3  sugerem  hipertireoidismo  e

valores > 5 sugerem hipotireoidismo);
      T4 livre: 0,7 a 1,7 mU/L (valores < 0,7 sugerem hipotireoidismo e

valores > 1,7 sugerem hipertireoidismo).
 
Hiperprolactinemia
A  prolactina  é  um  hormônio  que  sabidamente  atua  em  diversos
locais do organismo. Nas mamas, esse hormônio leva à produção de
leite  e,  portanto,  galactorreia.  Na  hipófise,  a  hiperprolactinemia  é
compensada  pelo  aumento  na  secreção  de  dopamina,  contribuindo
na  queda  da  liberação  de  GnRH  e  consequente  hipoatividade
hipofisária  e  ovariana,  denotando  a  anovulia  crônica.  Atua  ainda
diretamente  nos  ovários  junto  a  17­OHP,  o  que  pode  acarretar  no
aumento de secreção de androgênios. Na adrenal, de igual forma, a
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prolactina também pode levar à produção exagerada de androgênios.
Sabendo­se  que  a  galactorreia  não  é  um  sinal  patognomônico  da
hiperprolactinemia, é lógico imaginar que a dosagem da prolactina é
obrigatória  nas  pacientes  com  ciclos  menstruais  irregulares  e  com
hiperandrogenismo, mesmo que não haja galactorreia.
Os níveis normais de prolactina são < 25 ng/mL.
 
EXAMES COMPLEMENTARES
Relação LH/FSH
Como  se  observa  no  item  Fisiopatologia,  muitas  pacientes  com
SOP  têm  secreção  anômala  de  gonadotrofinas.  O  que  se  vê  na
maioria dos casos é que há um excesso da secreção de LH. Assim, a
relação  LH/FSH  nessas  pacientes  se  torna  alterada.  Valores  da
relação  LH/FSH  >  2  sugerem  SOP.  Porém,  este  não  é  um  exame
obrigatório para investigação da doença.
 
Resistência à Insulina
Como  já  foi  dito,  atualmente  considera­se  que  um  dos  pontos­
chave  da  fisiopatologia  da  SOP  é  a  ocorrência  da  resistência  à
insulina. Portanto, muitos autores preconizam a realização de exames
com  o  objetivo  de  diagnosticar  essa  condição  nas  pacientes  com  a
síndrome  e,  assim,  nortearem  o  tratamento.  Não  existem  testes
válidos  para  o  diagnóstico  dessa  eventualidade,  porém  alguns
exames podem ser úteis, dentre eles:
 
            relação  glicemia/insulinemia:  se  <  4,5,  sugere  resistência  à

insulina;
            teste de tolerância à glicose de 75 g: se 140 < glicemia < 200

mg/dL após 2 horas da sobrecarga de glicose, estamos diante
de intolerância a glicose, o que sugere resistência à insulina;
      curva insulinêmica.

 
COMPLICAÇÕES EM LONGO PRAZO
Doença Cardiovascular
Sabe­se  que  a  SOP  pode  se  associar  a  risco  aumentado  de
doença  cardiovascular.  Esse  risco  pode  resultar  de  modificações  na
fisiologia  da  coagulação.  As  pacientes  com  SOP  apresentam
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capacidade  antioxidativa  diminuída.  Dessa  forma,  há  acúmulo  de


radicais  livres  e  aumento  de  dano  vascular,  o  que  aumenta  a
possibilidade  de  ocorrência  de  trombose.  A  supressão  da  fibrinólise,
mais  comum  nas  mulheres  com  SOP  e  hiperinsulinemia  do  que  na
população  geral,  é  associada  com  desenvolvimento  de  infarto  do
miocárdio por inibir a resolução do trombo.
Enquanto  20%  da  população  feminina  podem  cursar  com  a
síndrome  metabólica  durante  a  vida,  46%  das  pacientes  com  SOP
apresentam  essa  síndrome,  que  está  relacionada  com  aumento
importante  de  risco  de  doenças  cardiovasculares  e  é  caracterizada
pela presença de 3 ou mais dos seguintes critérios:
 
      triglicérides = 170 mol/L;

      HDL < 130 mol/L;

      pressão arterial = 130/85 mmHg;

      glicemia = 90 mol/L;

      circunferência abdominal = 88 cm.

 
Mesmo  que,  na  grande  maioria  das  vezes,  as  pacientes  mais
novas  com  síndrome  dos  ovários  policísticos  mantenham  pressão
arterial normal, elas cursam com pressão arterial muito lábil durante o
dia.  No  período  de  perimenopausa,  essas  pacientes  apresentam
hipertensão  arterial  sistêmica  (HAS)  com  incidência  2,5  vezes  maior
que o normal para a idade.
A  detecção  precoce  e  o  manejo  dessas  anormalidades  têm  se
mostrado  eficazes  na  diminuição  de  risco  de  doenças
cardiovasculares.  As  pacientes  devem  ser  estimuladas  a  perderem
peso  quando  obesas  e  a  praticarem  exercícios  físicos  de  forma
contínua e por períodos longos.
 
Diabete melito
A ocorrência de diabetes tipo 2 é 5 a 10 vezes mais frequente nas
portadoras  de  SOP  que  na  população  geral,  sendo  esse  risco
independente  do  índice  de  massa  corpórea.  Além  disso,  nas
pacientes  com  a  síndrome,  o  início  da  doença  acontece  mais
precocemente (entre a 3ª e a 4ª décadas de vida). Uma das principais
metas  que  se  deve  ter  no  manejo  das  portadoras  de  SOP  é  a
detecção precoce da intolerância à glicose. Assim, pode­se prevenir a
ocorrência  do  diabete  melito  com  medidas  comportamentais  (perda
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de peso e exercícios físicos).
 
SOP e Risco para Câncer
A  anovulação  crônica,  como  acontece  nas  pacientes  com  SOP,
sabidamente  é  um  dos  fatores  de  risco  para  o  desenvolvimento  de
câncer  de  endométrio.  Isso  porque,  nessa  condição,  há  exposição
ininterrupta  do  tecido  endometrial  ao  estrogênio  de  forma  não
contrabalanceada  pela  progesterona.  De  fato,  alguns  estudos
mostram que o risco de desenvolvimento de câncer de endométrio é
3 vezes maior em mulheres portadoras de SOP.
Em  relação  ao  câncer  de  ovário,  os  trabalhos  mostram  que  não
há  associação  dessa  neoplasia  com  a  síndrome  dos  ovários
policísticos.
 
TRATAMENTO
Um dos principais aspectos que sempre deve ser considerado no
tratamento da SOP é a perda de peso nas pacientes obesas. Alguns
estudos mostram que a perda de 5 a 10% do peso nessas pacientes
leva à melhora do perfil lipídico, da pressão arterial e da resistência à
insulina, e é capaz de diminuir as queixas hiperandrogênicas. Com a
normalização  desses  parâmetros,  muitas  vezes  essa  medida
promove a restauração dos ciclos menstruais regulares e ovulatórios
e  da  fertilidade.  Dessa  forma,  a  perda  de  peso  é  fundamental  nas
pacientes obesas com SOP e deve ser obtida preferencialmente com
modificações  do  estilo  de  vida,  como  dieta  balanceada  e  prática  de
exercícios físicos de forma regular.
Outra medida que sempre deve ser considerada no tratamento da
síndrome  é  a  utilização  de  agentes  sensibilizadores  à  insulina.  O
agente  mais  utilizado  para  esse  fim  é  a  metformina,  uma  biguanida
que  inibe  a  glicogenólise  hepática  e  aumenta  a  sensibilidade  dos
tecidos à insulina, o que resulta em diminuição dos níveis plasmáticos
desse  hormônio.  Dessa  forma,  a  utilização  da  metformina  nessas
pacientes  pode  levar  a  aumento  da  SHBG,  diminuição  da  produção
de  androgênios  e,  por  fim,  restauração  de  ciclos  menstruais
ovulatórios e regulares, além de prevenir o diabetes.
A metformina tem efeitos colaterais que, algumas vezes, limitam
sua utilização. Os mais importantes são: náuseas, vômitos e diarreia.
Para  minimizar  o  acontecimento  desses  indesejáveis  sintomas,  o
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agente deve ser utilizado da seguinte forma:
 
            1ª  semana:  1  comprimido  de  850  mg,  por  via  oral,  1  vez/dia,

todos os dias;
            2ª semana em diante: 1 comprimido de 850 mg por via oral, 2

vezes/dia, todos os dias.
 
Outras  medidas  terapêuticas  podem  ser  utilizadas  nas  mulheres
com SOP, a depender das queixas apresentadas e dos objetivos de
cada paciente. Assim, temos as seguintes situações.
 
Tratamento de Hirsutismo e Acne
Anticoncepcional Hormonal Oral (ACO)
Por  suprimirem  a  esteroidogênese  ovariana  e  aumentarem  os
níveis  do  SHBG,  as  pílulas  anticoncepcionais  podem  diminuir  os
níveis  plasmáticos  dos  hormônios  androgênicos  e,  assim,  são  a
primeira  escolha  para  o  tratamento  dos  sinais  clínicos  de
hiperandrogenismo.
Estudos  mostram  que  todos  os  tipos  de  ACO,  quando  utilizados
por pelo menos 6 meses, são capazes de tratar hirsutismo e acne nas
pacientes com SOP. Alguns tipos são compostos por progestagênios
antiandrogênicos,  como  o  acetato  de  ciproterona  e  a  drospirenona.
Então,  para  melhor  eficácia  do  tratamento  do  hiperandrogenismo,
prefere­se utilizar esses tipos específicos de ACO, como a seguir:
 
      EE (35 mcg) + Acetato de ciproterona (2 mg)*;

      EE (30 mcg) + Drospirenona (3 mg)*.

*cartelas  de  21  comprimidos:  utilizar  1  comprimido,  1  vez/dia,  com


intervalo de 7 dias entre as cartelas.
 
Espironolactona
A  espironolactona,  um  diurético  antagonista  da  aldosterona,  tem
múltiplos  efeitos  antiandrogênicos,  incluindo:  inibição  da  produção
androgênica  pelos  ovários  e  pelas  adrenais,  elevação  dos  níveis  de
SHBG,  aumento  do  clearance  de  testosterona  e  diminuição  da
atividade  da  5­alfa­redutase.  Assim,  esse  agente  pode  ser  utilizado
como  adjuvante  do  ACO  no  tratamento  do  hiperandrogenismo  nas
pacientes com SOP da seguinte forma:
 
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100 mg/dia para pacientes magras;
      

      200 mg/dia para pacientes obesas.

 
Os  possíveis  efeitos  colaterais  desse  agente  são:  polidipsia,
poliúria, náuseas, cefaleia, fadiga e hipercalemia, sendo este o efeito
adverso  mais  preocupante  e  que  deve  ser  sempre  monitorado  com
dosagens seriadas de potássio plasmático.
 
Finasterida
A finasterida é uma inibidora da 5­alfa­redutase, diminuindo assim
a conversão da testosterona em di­hidrotestosterona, sua fração mais
ativa.  Dessa  forma,  em  pacientes  com  SOP  e  hirsutismo  severo  ou
não responsivo às medidas anteriores, esse agente pode ser utilizado
na dose de 5 mg/dia, por 3 meses a 1 ano.
 
Flutamida
A flutamida é um agente não esteroidal cujo principal mecanismo
de  ação  é  o  de  antagonizar  a  ação  dos  androgênios  em  seus
receptores.  Estudos  recentes  sugerem  que  a  dose  de  125  mg,  2
vezes/dia,  é  muito  efetiva  principalmente  no  tratamento  da  acne.  Os
efeitos colaterais incluem falta de apetite, amenorreia, diminuição da
libido  ou  pele  seca.  Complicação  rara,  porém  grave,  é  a
hepatotoxicidade,  que  pode  ser  letal.  Consequentemente,  o  uso  da
flutamida  é  geralmente  reservado  para  casos  resistentes  de
hirsutismo e as enzimas hepáticas devem ser checadas regularmente
durante o uso do agente.
 
Metformina e Perda de Peso
Como já mencionado, o uso da metformina e a perda de peso são
medidas  fundamentais  no  tratamento  do  hiperandrogenismo  nas
pacientes com SOP.
 
Tratamentos Tópicos
Para  tratamento  do  hirsutismo,  a  melhor  opção  de  tratamento
tópico  é  a  aplicação  de  hidrocloreto  de  efornitina  13,9%  nos  locais
onde  há  maior  formação  de  pelos,  1  vez/dia,  por  pelo  menos  6
meses.
Para o tratamento da acne, podem­se utilizar derivados do ácido
retinoico  no  local  das  lesões,  além  de  antibacterianos  tópicos
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(geralmente à base de clindamicina ou tetraciclina).
 
Tratamento da Irregularidade Menstrual
Anticoncepcional Hormonal Oral
A utilização dos ACO é capaz de regularizar os ciclos menstruais
das  pacientes  com  SOP.  Esses  agentes  devem  ser  utilizados  como
vimos anteriormente para o tratamento de hirsutismo e acne.
 
Progestagênios
O uso de progestagênios isoladamente é opção interessante para
a regularização dos ciclos menstruais em mulheres com SOP. Nesse
caso, o agente mais utilizado é o acetato de medroxiprogesterona, na
dose de 1 comprimido de 10 mg, 1 vez/dia, por 10 dias.
Após  3  a  7  dias  de  sua  interrupção,  espera­se  que  a  paciente
menstrue. A medicação é utilizada novamente 15 dias após o 1º dia
da  menstruação,  da  mesma  forma  como  dito  anteriormente.  Esse
procedimento deve ser realizado ciclicamente todos os meses.
 
Tratamento da Infertilidade
O  tratamento  da  infertilidade  em  mulheres  com  SOP  deve
começar  pela  realização  de  propedêutica  básica  completa  de
investigação, inclusive com a avaliação do sêmen do marido e HSG.
Após  isso,  e  comprovada  a  causa  ovulatória  como  fator  de
infertilidade,  deve­se  recomendar  a  perda  de  peso  e  a  utilização  da
metformina.  Em  razão  da  idade  ou  no  caso  de  essas  medidas  não
terem  sido  capazes  de  restaurar  fertilidade,  pode­se  induzir  a
ovulação dessas pacientes com os seguintes agentes:
 
       citrato de clomifeno (CC): utilizado na dose de 50 a 200 mg/dia

do  3º  ao  7º  dia  do  ciclo  menstrual  (as  mulheres  com  SOP
respondem  ao  CC  em  80%  das  vezes,  e  o  principal  fator  que
leva à resistência a esse agente é a obesidade);
            gonadotrofinas:  utilizadas  a  partir  do  2º  ou  3º  dia  do  ciclo

menstrual. Sua dosagem é muito variável e depende de vários
fatores,  sendo  os  mais  importantes  a  idade  das  mulheres  e  o
tipo  de  tratamento  a  ser  realizado  (coito  programado,
inseminação artificial ou fertilização in vitro).
 

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É  sempre  bom  lembrar  que  a  indução  de  ovulação  dada  por


esses  agentes  deve  ser  obrigatoriamente  monitorada  por  meio  de
ultrassonografia,  principalmente  para  evitar  a  ocorrência  de
gestações múltiplas.
Outra  opção  que  se  deve  considerar  para  o  tratamento  da
anovulação  crônica  nas  pacientes  com  SOP  é  a  eletrocauterização
ovariana  laparoscópica,  que  consiste  em  realização  de  6  a  8
“perfurações”  de  3  mm  de  profundidade  em  cada  ovário,  utilizando
pinça  monopolar  com  energia  de  50  W.  Muitos  trabalhos  mostram
que  a  realização  desse  procedimento  pode  resultar  em  ciclos
ovulatórios  de  forma  transitória  (em  média,  6  meses)  e,  mesmo
quando  não  é  capaz  de  restaurar  a  ovulação,  pode  funcionar  como
um adjuvante dos agentes indutores da ovulação, diminuindo o tempo
de  tratamento  e  a  quantidade  de  indutores  de  ovulação  utilizada.
Atualmente,  a  eletrocauterização  ovariana  laparoscópica  é  indicada
principalmente nos casos de SOP resistentes ao tratamento habitual.
 
Algoritmo 2: Tratamento da síndrome dos ovários policísticos.

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TÓPICOS IMPORTANTES
            SOP  é  a  causa  mais  frequente  de  distúrbios  ovulatórios,
afetando  20  a  30%  das  mulheres  na  idade  fértil  e  pode
comprometer de forma significativa a qualidade de vida dessas
pacientes.
            A  síndrome  tem  como  principais  sintomas:  hirsutismo,

irregularidade menstrual e infertilidade (anovulação crônica).
      Grande parcela das pacientes com SOP não é obesa.

            Para  o  diagnóstico  da  síndrome,  é  obrigatória  a  exclusão  de

determinadas  condições,  como  hiperplasia  congênita  de


adrenal, doenças tireoidianas e hiperprolactinemia;
       Se houver sinais de aumento de secreção de corticoides (moon

face,  telangiectasia,  atrofia  de  pele),  deve­se  descartar


síndrome de Cushing;
      Se houver hirsutismo de início abrupto, testosterona > 200 ng/dL

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ou  virilização,  deve­se  descartar  tumores  produtores  de


androgênios ou uso de androgênios exógenos.
            Atualmente,  considera­se  a  resistência  à  insulina  como  parte

fundamental da fisiopatologia da síndrome.
      As pacientes com SOP têm maiores chances de desenvolver as

seguintes morbidades durante a vida: doenças cardiovasculares
(hipertensão  arterial  sistêmica  e  infarto  agudo  do  miocárdio),
diabete melito, câncer de endométrio.
            As medidas terapêuticas iniciais devem ser perda de peso nas

obesas e utilização de metformina.
            As  outras  medidas  terapêuticas  dependem  das  queixas  e

expectativas das pacientes, conforme descrito no Algoritmo 2.
 
BIBLIOGRAFIA
Adaptado,  com  autorização,  do  livro  Clínica  Médica:
dos  Sinais  e  Sintomas  ao  Diagnóstico  e  Tratamento.
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