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LUIZ CARLOS MERTEN - O Estado de S.Paulo
Pode até ter sido provocação, mas no Festival de Gramado de 2011, debaixo de uma
saraivada de críticas negativas, o diretor Paulo Caldas proclamou, alto e bom som, no
debate sobre País do Desejo, que o longa em cartaz nos cinemas de São Paulo (e de
diversas outras capitais brasileiras) é seu filme "mais pessoal". A maioria da crítica
tentava entender justamente como e por que, após obras como Baile Perfumado
(codireção de Lírio Ferreira), O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas e
Deserto Feliz, Caldas voltasse com um filme tão aparentemente distante de suas
preocupações estéticas e sociais. Aparentemente - ele se vê inteiro em País do Desejo.
Há um cinema pernambucano que parece mais brasileiro do que qualquer outro, e
Caldas, em Gramado, chegou a dizer que, em diversos eventos internacionais, quando
sabem que o filme vem de Pernambuco, o público e os críticos de todo o mundo já
partem gostando. É verdade que todos esses filmes - de Caldas, Lírio Ferreira, Cláudio
Assis e Marcelo Gomes, parecem convergir para a explosão de O Som ao Redor, de
Kléber Mendonça Filho, com o qual o cinema brasileiro iniciou 2013 em altíssimo nível.
Kléber gosta de dizer que Caldas e seus amigos - companheiros - de geração iniciaram
um novo ciclo há pouco menos de 20 anos, dando nova roupagem a elementos clássicos
da cultura local.
Cangaço, folguedos populares, sertão - a novíssima geração, a de Kléber, Gabriel
Mascaro e Daniel Aragão, rompeu com isso e hoje os filmes são majoritariamente
urbanos, mas há uma continuidade entre O Som e Domésticas, Boa Sorte Meu Amor e
Febre do Rato. País do Desejo é a exceção e, por que não dizer, o patinho feio dessa
seleção brilhante. Paulo Caldas lança as fundações de seu filme na cultura da terra - o
jovem padre que desafia o bispo para apoiar menina que foi estuprada. Ele vai contra as
normas da instituição - a Igreja - defendendo que ela faça aborto, mas o bispo, o poder,
excomunga a menina, sua família e o médico que faz o aborto, mas não o estuprador.
Essa primeira parte de País do Desejo não tem muito a ver com a história que se segue e
que trata do envolvimento do padre (Fábio Assunção) com uma pianista (Maria Padilha)
que teve um colapso renal em sua cidade, durante turnê, e que precisa de uma cirurgia
de emergência, sendo atendida justamente pelo irmão do religioso - o médico Gabriel
Braga Jr. Na verdade, por menos articulada que pareça a narrativa, o diretor sustenta
que tem tudo a ver. "É o mal-estar do padre perante a instituição que vai provocar seu
desgosto com a Igreja e, no limite, favorecer a aproximação com a pianista. O filme é
sobre ciência, religião e arte, sobre o amor idealizado e o carnal" - palavras de Paulo
Caldas.
O espanto provocado por País do Desejo decorre da filiação do filme à vertente do
melodrama, que remete - alguns teóricos dizem que pela via da paródia - à tragédia
grega. Douglas Sirk, o rei do melodrama, afirmava que seus filmes recorriam a uma
afetação controlada, em que o jogo de cena visava a prolongar o gesto e deixar entrever
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AE - Agência Estado
Cláudio Assis estava anteontem à noite em Florianópolis, promovendo o lançamento de
Febre do Rato. Foi lá que ouviu de um admirador local - "Tu diz que não é gay (na
verdade, a palavra era mais forte), mas tem sempre um em teus filmes." Sim, e heteros,
e homens e mulheres, e brancos, e negros, e mamelucos. Cláudio Assis faz cinema pela
tolerância, contra o preconceito. A Febre é sobre poeta que cria uma comunidade de
iguais, onde rola sexo, drogas e álcool. O filme faz a apologia da vida livre e desregrada.
Evoca Dioniso, o cinema marginal dos anos 1970 e o teatro bacante de Zé Celso
Martinez Corrêa.
É um filme na contracorrente do cinema brasileiro atual. Seus palavrões não têm nada a
ver com E Aí, Comeu?, que também estreia hoje e é uma grande aposta de mercado, com
cerca de 550 cópias. O lançamento de Febre do Rato é muito menor, mas tamanho, no
caso, não é documento.
Você pode preferir o filme de Cláudio Assis - crítico de respeito prefere -, mas isso não
significa que tenha de desprezar o olhar de Felipe Joffily sobre a infantilidade de Bruno
Mazzeo e seus amigos de boteco.
Febre do Rato é o melhor dos três longas de Cláudio Assis. Como diretor, como ?autor?,
ele só foi crescendo - Amarelo Manga, Baixio das Bestas, Febre do Rato. Por não ter
meias medidas, Claudião, como é chamado, carrega várias etiquetas - transgressor,
machista.
Transgressor, ele é, machista, não se crê. E já houve quem o chamasse de moralista às
avessas. "É o c...", ele dispara. "A sociedade está muito careta", avalia. Como não se
enquadra nos modelos palatáveis de comportamento nem de cinema de mercado,
desconcerta - no mínimo.
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
Colado de <http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,a-febre-do-rato-quer-provocar-polemica,890027,0.htm>
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LUIZ CARLOS MERTEN - O Estado de S.Paulo
Veja também:
Crítica: Alguns poemas de amor e uma canção desesperada
Matheus Brito/Divulgação
O ator Irandhir Santos vive o libertário poeta Zizo
Cláudio Assis estava anteontem à noite em Florianópolis, promovendo o lançamento
deFebre do Rato. Foi lá que ouviu de um admirador local - "Tu diz que não é gay (na
verdade, a palavra era mais forte), mas tem sempre um em teus filmes." Sim, e héteros,
e homens e mulheres, e brancos, e negros, e mamelucos. Cláudio Assis faz cinema pela
tolerância, contra o preconceito. A Febre é sobre poeta que cria uma comunidade de
iguais, onde rola sexo, drogas e álcool. O filme faz a apologia da vida livre e desregrada.
Evoca Dioniso, o cinema marginal dos anos 1970 e o teatro bacante de Zé Celso
Martinez Corrêa.
É um filme na contracorrente do cinema brasileiro atual. Seus palavrões não têm nada a
ver com E Aí, Comeu?, que também estreia hoje e é uma grande aposta de mercado, com
cerca de 550 cópias. O lançamento de Febre do Rato é muito menor, mas tamanho, no
caso, não é documento. Você pode preferir o filme de Cláudio Assis - crítico de respeito
prefere -, mas isso não significa que tenha de desprezar o olhar de Felipe Joffily sobre a
infantilidade de Bruno Mazzeo e seus amigos de boteco.
Febre do Rato é o melhor dos três longas de Cláudio Assis. Como diretor, como 'autor',
ele só foi crescendo - Amarelo Manga, Baixio das Bestas, Febre do Rato. Por não ter
meias medidas, Claudião, como é chamado, carrega várias etiquetas - transgressor,
machista. Transgressor, ele é, machista, não se crê. E já houve quem o chamasse de
moralista às avessas. "É o c...", ele dispara. "A sociedade está muito careta", avalia.
Como não se enquadra nos modelos palatáveis de comportamento nem de cinema de
mercado, desconcerta - no mínimo.
E ele explica a origem do personagem. "Vou lhe contar - não contei pra ninguém. Estava
na Rua Henrique Dias, de Olinda, quando vi o poeta, negro, pobre, poetando para as
mulheres. De cara, ele me seduziu. Pensei - aquele cara somos todos nós." Para um
machista, como é chamado, Cláudio Assis foge ao modelo tradicional. Machos, fêmeas,
gays, lésbicas - seu universo não discrimina nem classifica as pessoas. "A gente é tudo
igual." A mesma ideia vira conceito aplicado ao cinema. "É arte de equipe. O filme não é
de Cláudio Assis. É de Walter Carvalho (o fotógrafo), Hilton Lacerda (o roteirista),
Renata Pinheiro (a diretora de arte), é de Matheus, de Irandhir."
Stanley Kubrick dizia que cinema é montagem - Cláudio Assis não compartilha dessa
crença. "Não creio que se possa fazer nem salvar um filme na montagem. Apesar do
valor que tem o roteiro, o filme se faz no set, na realização, com o fotógrafo, o técnico de
O diretor empolga-se. "Cinema não é mercado. É **, é **." A definição seria considerada
chula, de muito baixo nível. "Pô, Claudião, assim tu me derruba. Não vou poder botar
essas coisas no jornal", reclama o repórter. Ele ri - "Cara, tem de ousar. Não dá pra ficar
bancando o certinho. Febre é direcionado para a juventude. É preciso mostrar que cada
um pode fazer o que quiser, é só ter coragem. O poeta somos todos nós."
O diretor pode ter, e tem razão, mas o poeta, Zizo, é Irandhir em outra atuação
antológica. Bastaram poucos anos e filmes para que ele se impusesse como um dos
grandes atores do cinema brasileiro. Como diz o diretor, ele tem a febre do rato. Em
nordestinês, isso quer dizer - estar acelerado, excitado. O filme, e o elenco - Irandhir,
Matheus, Nanda, Maria Gladys, etc. -, comunicam essa força.
Colado de <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,diretor-fez-febre-do-rato-para-provar-aos-jovens-que-poeta-e-quem-
ousa-,889858,0.htm>