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Projeto Nacional de Ações Integradas

Público-Privadas para Biodiversidade

em negociação com Global Environment Facility Trust Fund – GEF


por intermédio do Banco Mundial - Bird

Documento de salvaguardas
socioambientais
Outubro de 2006
O documento das salvaguardas para este projeto foi elaborado entre novembro de 2005 e julho
de 2006 pelo consultor Thadeu Melo (melo.thadeu@gmail.com). Em agosto de 2006 o
documento foi disponibilizado nos nas páginas de rosto dos endereços eletrônicos do MMA e do
Funbio onde foi acessado mais de 1400 vezes.
As alterações necessárias no documento foram feitas em outubro de 2006, quando o documento
foi finalizado. Esta nova versão será novamente disponibilizada tanto no sítio do MMA quanto
do Funbio.
As instituições envolvidas na elaboração do documento foram representadas pelas seguintes
pessoas:

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)


Elisa Furtado Madi

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)


André Alarcão e Felipe Ribeiro

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)


Márcia Chame e Norma Labarthe

Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio)


Marina Kahn e Pedro Leitão

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Ibama


Onildo Marini, Fátima Oliveira (Direc), Apoena Lopes (Diref) e Suelma Silva (Diref)

Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ)


Gustavo Martinelli, Paulo Guimarães e Vidal de Freitas Mansano

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)


Leontino Rezende Taveira

Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)


Andréa Nunes e Ione Egler

Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA)


Divani Souza e Fani Mamede

Ministério do Meio Ambiente (MMA)


Braulio Dias (SBF/DCbio), Daniela A S Oliveira (SBF/DCbio), Andréa Bufrem (SBF/Diflor –
PNF) e Joberto Freitas (SBF/Diflor – PNF)

Ministério da Saúde (MS)


André Fenner

Rede Brasileira de Jardins Botânicos


Maria Lucia M. da Costa

2
ÍNDICE

SUMÁRIO EXECUTIVO 4

1. INTRODUÇÃO 5
1.1. Descrição do Projeto 6
1.1.1. Objetivo de Desenvolvimento do Projeto e Indicadores 6
1.1.2. Componentes do Projeto 7
2. AVALIAÇÃO SOCIAL 12
2.1. Impactos Positivos 12
2.2. Potenciais Impactos Negativos 13
3. ANÁLISE SOCIAL 15
3.1. Caracterização social 15
3.1.1. Perfil socioeconômico 15
3.1.2. Composição étnica 16
3.1.3. Panorama socioambiental 16
3.1.4. Uso social da biodiversidade 17
3.1.4.1. Comunidades tradicionais 18
3.1.4.2. Povos indígenas 20
3.1.4.3. Empresas 21
3.1.4.4. Representantes de governo 23
3.1.4.5. Terceiro setor 25
3.1.4.6. Comunidade científica 27
4. AVALIAÇÃO AMBIENTAL 30
4.1. Impactos Positivos 31
4.2. Potenciais Impactos Negativos 32
5. ANÁLISE AMBIENTAL 34
5.1. Panorama ambiental 34
5.1.1. Biomas brasileiros 34
5.1.2. Biodiversidade 44
5.1.3. Temas ambientais relevantes no Brasil 49
5.2. Panorama Setorial 51
6. ANÁLISE DOS IMPACTOS DO PROJETO 62
6.1. Políticas de Salvaguardas Acionadas 62
7. PLANO DE MITIGAÇÃO DE IMPACTOS 68
7.1. Marco de Filtragem Ambiental 68
7.2. Suprimento de Bens e Serviços 68
7.3. Marco Legal 69

ANEXOS
1- Potenciais impactos ambientais e planos de mitigação 74
2- Plano de manejo integrado de pragas 78
3- Marco de Filtragem 88

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Sumário Executivo
O Projeto Nacional de Ações Integradas Público-Privadas para Biodiversidade tem como
objetivo estimular a priorização da biodiversidade nos processos de tomada de decisão de setores
públicos e privados no Brasil, em escala nacional. Os executores da iniciativa são o Ministério
do Meio Ambiente (MMA) e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), que estarão
empenhados junto a diversos outros parceiros ao longo de seis anos (2006-2012) para que os
resultados esperados sejam atingidos.

Para realização do Projeto, MMA e Funbio buscaram recursos complementares do Fundo


Global para o Meio Ambiente (GEF), tendo sua solicitação aprovada pelo Conselho do GEF em
2005. O Banco Mundial foi apontado como agência implementadora da iniciativa, sendo
responsável pela supervisão da utilização dos US$ 22 milhões disponibilizados pelo GEF para o
Projeto, ante uma contrapartida de 3 dólares para cada 1 dólar aportado pelo GEF.

O Projeto foi avaliado preliminarmente pela equipe do Banco Mundial face às políticas de
salvaguardas ambientais definidas pela instituição, tendo sido enquadrado na Categoria B:
operação de risco ambiental moderado. Isso significa que a equipe do Banco identificou que o
Projeto poderia vir a causar impactos e possuir riscos sociais e ambientais negativos, sobretudo
localmente e em curto prazo, para os quais há medidas de mitigação eficazes disponíveis
prontamente e que em geral não causam impacto negativo irreversível.

O presente documento consiste na análise detalhada dos grupos potencialmente afetados pelo
projeto, e dos impactos sociais e ambientais das atividades previstas para o Projeto, estando
orientado à identificação de potenciais impactos negativos e à definição das medidas de
mitigação cabíveis, bem como dos responsáveis por sua implementação e dos custos estimados
para sua realização.

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1. Introdução
Uma década depois de estabelecer os mecanismos oficiais para implementar a Convenção da
Diversidade Biológica - CDB, o Brasil pode encarar o desafio de tratar a biodiversidade nacional
de forma unificada e transversal. Nesta nova etapa da organização do setor de biodiversidade,
serão superadas as fronteiras dos territórios sob gestão ecológica e convertidas em sustentáveis
as paisagens sob controle de setores econômicos que geram impactos ambientais negativos em
larga escala.

O "Projeto Nacional de Ações Integradas Público-Privadas para Biodiversidade" é o marco por


meio do qual se pretende impulsionar a transformação dos modos de produção, consumo e
ocupação do território nacional, impactando, em princípio, os setores de agricultura, energia,
mineração, ciência, tecnologia, saúde, pesca e transportes.

Este ambicioso Projeto será executado em parceria entre o Ministério do Meio Ambiente
(MMA) e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). Para sua implementação, também
foram estabelecidas parcerias estratégicas com o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o Ministério da
Saúde (MS), o Ministério da Ciência & Tecnologia (MCT), a Fundação Oswaldo Cruz, o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), o Jardim
Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a
Rede Brasileira de Jardins Botânicos e com organizações não-governamentais. Outros setores,
tais como a energia, a mineração e os transportes, também foram incluídos nas discussões
preliminares, e espera-se que se juntem ao Projeto em seus estágios iniciais de implementação.

O Brasil já possui uma considerável gama de experiências e instrumentos que estimulam e


viabilizam o alcance dos três objetivos da CDB: conservação, uso sustentável e repartição
eqüitativa dos benefícios advindos da biodiversidade. A magnitude das ações realizadas até o
momento é bastante ampla, abrangendo desde o Programa de Pequenos Projetos – PPP até o
Programa Áreas Protegidas da Amazônia - Arpa1, demonstrando o amadurecimento institucional
e a capacidade de encarar de múltiplas formas o problema do esgotamento dos recursos naturais.

Ao longo desse período, parcerias nacionais e internacionais envolveram governo, iniciativa


privada e sociedade civil nos esforços de demonstrar a viabilidade de uma abordagem
ecossistêmica ao uso dos componentes da biodiversidade. Com o sucesso das iniciativas, foi
possível estabelecer uma rede de agentes engajados na implementação da CDB e preparar o país
para uma nova fase nesse processo, uma fase de integração e potencialização dos resultados
alcançados.
1
O Programa de Pequenos Projetos – PPP é a versão brasileira do Small Grants Programme (SGP), um programa
do Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF) administrado globalmente pelo Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento (PNUD). A iniciativa tem com o objetivo apoiar projetos que tenham como foco a promoção de
meios de vida sustentáveis e contribuam para benefícios ambientais globais. O PPP é implementado em 63 países e,
no Brasil, a iniciativa é desenvolvida há 12 anos sob a coordenação técnico-administrativa da organização não-
governamental Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).
O Programa Áreas Protegidas da Amazônia - Arpa é um programa do Governo Federal destinado a proteger uma
amostra representativa da diversidade biológica da Amazônia, criando e consolidando ao menos 50 milhões de
hectares de unidades de conservação e promovendo o desenvolvimento sustentável na região. Coordenado pelo
Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Ibama, é implementado em parceria com governos estaduais e municipais,
com o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), o Banco
Mundial, o KfW (banco de cooperação do governo da Alemanha), a GTZ (agência de cooperação técnica do
governo da Alemanha) e o WWF-Brasil. O orçamento total previsto para os dez anos da iniciativa (2003-2012) é de
cerca de US$ 400 milhões.

5
1.1. Descrição do Projeto2
O Projeto Nacional de Ações Integradas Público-Privadas para Biodiversidade foi desenhado
para integrar e potencializar as iniciativas em curso no país3, devendo ser realizado ao longo de
seis anos. O Projeto está diretamente relacionado com a Prioridade Estratégica 2 (BD 2) do GEF
(Transversalidade da biodiversidade em paisagens e setores produtivos) e com a BD 4 (Geração
e Disseminação das Melhores Práticas para Lidar com Temas Atuais e Emergentes sobre
Biodiversidade). O Projeto está de acordo com o Programa Operacional 1 (OP1) do GEF
(Ecossistemas Áridos e Semi-áridos), OP2 (Ecossistemas Costeiros, Marinhos e Águas
Continentais), OP3 (Ecossistemas Florestais), OP4 (Ecossistemas de Montanhas), OP12
(Abordagem Integrada de Manejo de Ecossistemas), OP13 (Conservação e Uso Sustentável de
Diversidade Biológica Importante para a Agricultura) e OP15 (Manejo Sustentado de Solos).

O Projeto será financiado com US$ 22 milhões do Fundo Mundial para o Meio Ambiente
(GEF) além de US$ 75 milhões de contrapartida, tanto de fontes governamentais quanto do setor
privado.

1.1.1. Objetivo de Desenvolvimento do Projeto e Indicadores


O objetivo de desenvolvimento do Projeto é promover, em nível nacional, a transversalidade da
biodiversidade no planejamento estratégico e nas práticas de setores-chave governamentais e no
setor privado e consolidar e fortalecer a capacidade institucional para produzir informações
relevantes para a transversalidade.

Três indicadores (que serão refinados durante um futuro workshop de alto nível) irão mensurar
o progresso deste objetivo:

• Pelo menos três setores econômicos incorporam critérios e parâmetros ligados à


biodiversidade em seus planos e políticas no sexto ano do Projeto.

• Progresso para o atendimento da metas de 2010 da CDB obtido pelo Brasil (Veja o anexo 22
do Project Appraisal Document – PAD) apoiado em políticas específicas de uso e conservação
da biodiversidade, sendo mapeado por uma estratégia de monitoramento dos indicadores
selecionados

• Pelo menos uma unidade de paisagem produtiva em cada bioma para a conservação e uso
sustentável integrados de componentes da biodiversidade implementada nas áreas prioritárias do
PROBIO no sexto ano do Projeto.

Três resultados intermediários são esperados do Projeto, e estes devem contribuir para o
alcance do objetivo de desenvolvimento do mesmo. Estes resultados estão relacionados com os
três componentes técnicos do Projeto e são:

• Conservação e uso sustentável da biodiversidade incorporados em setores selecionados do


governo;
• Conservação e uso sustentável da biodiversidade incorporados no planejamento estratégico e
práticas dos setores privados selecionados; e

2
Extraído do Project Appraisal Document – PAD, original em Inglês.
3
A Lista 1 apresenta um levantamento dos programas do Plano Plurianual do governo federal com potencial
transversalidade com a biodiversidade.

6
• Rede das principais instituições brasileiras que trabalham com temas relacionados com
biodiversidade consolidada e coordenada e produzindo informação relevante para o
desenvolvimento e implementação de políticas de transversalidade da biodiversidade.

Inicialmente, o Projeto está trabalhando com ministérios, ONGs e outras instituições, cobrindo
os setores da agricultura, saúde, ciência e tecnologia, meio ambiente, florestas, recursos
pesqueiros e recursos hídricos. Uma vez que os subprojetos desenvolvidos no Componente 2
estiverem selecionados, esta lista poderá ser expandida. É esperado que as instituições que
representam os setores de transportes, minas e energia tornem-se parceiros do Projeto durante a
implementação do mesmo. O principal critério para a seleção de subprojetos será o impacto da
atividade proposta na biodiversidade e os indicadores dos subprojetos deverão refletir este
enfoque.

O Objetivo Ambiental Global do Projeto é que, caso este Projeto tenha sucesso, ele irá
contribuir para a redução da atual taxa de perda de biodiversidade, como uma contribuição do
Brasil para o atendimento dos objetivos e metas de 2010 da CDB. Veja Anexo 3 do “Project
Appraisal Document” – PAD para mais informações sobre os objetivos, indicadores e planos de
monitoramento do Projeto.

1.1.2. Componentes do Projeto


Este Projeto foi desenhado como um Projeto de processo, que, durante a preparação e a
implementação, deverá levar a um aumento do envolvimento, da capacidade e da construção de
consenso para se promover a priorização da biodiversidade. A fase de preparação enfocou a
participação voluntária de instituições na concepção do Projeto, propostas de atividades para
enfrentar os gargalos para a priorização da biodiversidade e o esboço de indicadores para o
monitoramento. O processo de construção de consenso, construção de capacidade, análise
setorial, e desenho de soluções continuarão durante a implementação, enquanto que os primeiros
workshops irão juntar os interessados para alcançar o consenso sobre os desafios da
transversalidade e as soluções. A implementação dessas soluções é âmago deste Projeto.

O Projeto proposto tem quarto componentes, descritos abaixo. Detalhes adicionais sobre os
componentes, incluindo exemplos de atividades elegíveis para financiamento em cada
componente e por fonte de financiamento, podem ser encontrados nos Anexos 4 e 5 do “Project
Appraisal Document” – PAD.

Componente 1: Priorização da Biodiversidade em Setores Governamentais e em Setores


Econômicos Selecionados
O objetivo deste componente é implementar satisfatoriamente a Política Nacional de
Biodiversidade e promover a priorização da conservação e do uso sustentável da biodiversidade
em atividades governamentais de diferentes setores econômicos. Cada iniciativa de
transversalidade seguirá quatro passos: 1) consolidação da informação existente (avaliação dos
problemas e gargalos e soluções alternativas); 2) construção de consenso com os interessados
(análises dos problemas e das melhores soluções); 3) desenvolvimento das soluções escolhidas
(métodos e procedimentos); 4) implementação das soluções escolhidas em áreas selecionadas.
(Por favor, veja o Anexo 17 do “Project Appraisal Document” – PAD para um exemplo
detalhado deste modelo). Esta abordagem é baseada na experiência do PROBIO e outros
programas federais. A idéia é revelar oportunidades claras e de larga-escala com estratégias
unificadoras que enfrentem a necessidade de transversalidade e que contem com o apoio de

7
interessados relevantes – o único meio de fazer diferença na escala em que este Projeto estará
trabalhando.

Esta idéia será testada em campo por meio de projetos-piloto. Pelo menos um Projeto-piloto
será estabelecido em cada bioma. O Projeto irá apoiar a elaboração de planos setoriais
(agricultura, energia, saúde, etc.) incorporando o manejo da biodiversidade. Ele irá perseguir
estratégias para incorporar o objetivo de conservação e uso sustentável da biodiversidade em
políticas, programas, projetos e planos de desenvolvimento entre diferentes setores e níveis de
governo. Este componente irá trabalhar com os setores de saúde, agricultura, bem como com
setores que utilizam ou que têm grande impacto sobre a biodiversidade. Os setores adicionais a
serem incorporados ao Projeto serão selecionados baseando-se em análises sobre o atual e o
potencial impacto sobre a biodiversidade, potencial de transversalidade da conservação da
biodiversidade, disponibilidade de recursos financeiros e compromisso com o Projeto.

Componente 2: Priorização da Biodiversidade no Setor Privado


O objetivo deste componente é incorporar a conservação e o uso sustentável da biodiversidade
no planejamento e nas práticas de setores chave do setor privado. Este objetivo será alcançado
por meio da criação e manejo de um Fundo de Oportunidades, alojado e gerenciado pelo Funbio.
Este Fundo irá apoiar iniciativas de priorização no setor privado que serão resultantes da
avaliação das propostas recebidas (ou induzidas) de subprojetos e que visem realizar a
priorização da biodiversidade em paisagens regionais produtivas. O Fundo de Oportunidades
será direcionado para o financiamento de subprojetos integrados de paisagens produtivas de larga
escala. Embora o Fundo seja inicialmente apoiado pelo GEF é esperado que com o tempo o
Fundo seja ampliado com base nos investimentos e doações de novas fontes, bem como pelo
retorno dado pelos subprojetos apoiados, de modo a permitir replicações de novos subprojetos
em novas paisagens produtivas e em outros setores econômicos.

Uma estratégia de priorização de biodiversidade foi desenvolvida pelo Funbio com base em
análises sócio-econômicas e ambientais do território, com ênfase na identificação e qualificação
das atividades produtivas e suas relações com a biodiversidade regional e fontes de recursos
naturais. Adicionalmente, é dada atenção à identificação de setores econômicos líderes, agentes,
agregação de valor a cadeias produtivas, aglomerações, arranjos produtivos ou produtos que
possam atender ao propósito de “direcionar” e “liderar” o processo de priorização da
biodiversidade na região. Como parte desta estratégia estão prestes a ser inaugurados alguns
subprojetos originários de propostas já recebidas por outro edital do Funbio, enquanto que este
Projeto irá induzir a seleção de novos subprojetos. Estes subprojetos visam verificar as
possibilidades de sucesso da estratégia acima por meio de chamadas de propostas de consórcios
de agências ambientais, de desenvolvimento e de investimento para que o apoio aos subprojetos-
piloto selecionados com objetivos, estrutura conceitual, metodologias, planos de trabalhos,
arranjos e instrumentos institucionais e financeiros, bem como o planejamento conceitual de todo
o território possa ser posto em prática, ser testado e avaliado. Os subprojetos irão variar entre
centenas a milhares de quilômetros quadrados, com valores entre US$ 2 e US$ 3 milhões cada, e
serão desenvolvidos de forma coordenada e com a participação de setores públicos relevantes.

Finalmente, este componente procurará promover estratégias e políticas do setor privado que
suportem a conservação da biodiversidade. Isto será alcançado por meio de trabalho junto a
grupos produtivos, associações, cooperativas, câmaras de comércio e grandes firmas e em
coordenação com as iniciativas existentes e com objetivos similares. Este foco em políticas e
estratégias permitirá que este componente tenha um impacto mais amplo do que projetos individuais

8
poderiam ter. As iniciativas implementadas neste componente serão apoiadas por uma Base de
Conhecimento a ser criada para promover a transversalidade em paisagens regionais e em setores
produtivos privados. Essa Base avaliará o potencial de transversalidade da biodiversidade em paisagens
por meio da análise da importância da biodiversidade e das estruturas produtivas locais, bem como
estimular os incentivos econômicos para promover a transversalidade no setor privado e mobilizar e
disseminar inovações tecnológicas e as melhores práticas. Este componente será implementado por
meio de três subcomponentes: i) Subprojetos territoriais de transversalidade; ii) Melhores práticas e
inovações de produção e de gerenciamento; e iii) Coordenação e gerenciamento do Fundo de
Oportunidades. Essas atividades serão realizadas em coordenação e com a participação das agências
públicas relevantes.

Componente 3: Fortalecimento Institucional e Geração de Informação sobre Biodiversidade


para a Formulação de Políticas
São dois os objetivos deste componente. Primeiramente o Projeto trabalhará para promover a
capacitação técnica, institucional e organizacional das instituições responsáveis pelo
desenvolvimento e implementação de políticas relacionadas à biodiversidade no Brasil. Serão
estabelecidos os mecanismos de coordenação entre essas instituições. Isto permitirá a efetiva
transversalidade da conservação da biodiversidade em outras áreas econômicas. O outro objetivo
deste componente é promover a produção e troca de informações sobre biodiversidade, o que
subsidiará a formulação de políticas públicas e o desenho de projetos em todos os setores,
apoiará a transversalidade das atividades em setores econômicos selecionados e facilitará o
monitoramento do progresso em direção aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil,
como as metas de 2010 da CDB. Estes dois objetivos estão intimamente ligados, uma vez que a
geração de informações relevantes requer instituições mais fortalecidas e melhor coordenadas, e
que a informação produzida serve para fortalecer a capacidade dos setores relacionados à gestão
da biodiversidade, especialmente os relacionados à formulação de políticas.

Uma das tarefas primárias será estabelecer um Instituto Virtual Brasileiro de Biodiversidade.
Mais do que uma nova instituição, o Instituto servirá como um “centro de informações”
permitindo às instituições participantes partilhar informações, colaborar nos trabalhos e criar
sinergias. Este Instituto mobilizará capacidades entre as várias organizações envolvidas na
conservação, uso sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade, e facilitará a
implementação das políticas e ações. É esperado que o Instituto desempenhe um considerável
papel em apoiar a consolidação do complexo e diverso setor de biodiversidade no Brasil.
Também se espera que o Instituto se torne auto-suficiente ao juntar as capacidades das entidades
participantes para prover serviços relacionados à biodiversidade para projetos e programas que
estejam sendo implementados por outros setores no Brasil. O Projeto suportará também a criação
do Centro Brasileiro para Monitoramento e Prognósticos da Biodiversidade. O Centro, que fará
parte da estrutura do Ministério do Meio Ambiente, fornecerá as informações sobre o
monitoramento e os prognósticos voltados para as iniciativas governamentais de conservação da
biodiversidade, e será usado, em parte, para gerar os dados de monitoramento da biodiversidade
em nível nacional. Fornecerá também informações para o Instituto Virtual Brasileiro de
Biodiversidade.

Este componente fortalecerá também as instituições ligadas ao Ministério do Meio Ambiente.


O Jardim Botânico do Rio de Janeiro, o IBAMA e outras instituições responsáveis pela
conservação e manejo de espécies receberão treinamento técnico e administrativo. A fim de
executar as políticas existentes, o Projeto suportará a conservação da biodiversidade brasileira

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ameaçada, restauração da diversidade genética e das variedades locais e a conservação e a
restauração de ecossistemas raros e/ou ameaçados.

Uma atenção especial será dada na capacitação dentro das instituições que ainda não tenham
previamente trabalhado com o tema biodiversidade, de modo a criar as bases para apoiar as
atividades de transversalidade.

Este componente promoverá também a produção e a troca da informação da biodiversidade,


que subsidiará as decisões políticas e o desenho de projetos em todos os setores, suportará as
atividades de transversalidade em setores econômicos selecionados e facilitará que se siga o
progresso do atendimento dos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, como os
alvos da CDB para 2010. Suas atividades procurarão coordenar, ao invés de duplicar, as redes
nacionais e internacionais existentes, a fim de complementar os fluxos e os sistemas de feedback
de informações. O Projeto trabalhará para padronizar indicadores e procedimentos, e os
divulgará para os setores públicos e privados.

Por fim, o componente promoverá o monitoramento da biodiversidade em nível nacional,


avaliando: o progresso para o atendimento das metas da CDB, as tendências na composição e nos
níveis da biodiversidade, as causas principais da perda da biodiversidade, a sustentabilidade da
produção e do consumo, as espécies ameaçadas de extinção e a eficácia da conservação. O
objetivo é contribuir com informações objetivas e críticas em tempo real para subsidiar as
discussões das políticas e das práticas em todos os setores, para informar a comunidade científica
global e contribuir com as responsabilidades do Brasil junto à CDB. Muito deste monitoramento
será realizado pelo Centro de Monitoramento e Prognósticos e por instituições integrantes do
Instituto Virtual Brasileiro da Biodiversidade, ambos criados sob este componente. O
componente será executado em dois subcomponentes: i) Fortalecimento institucional, e ii)
Gerenciamento da informação sobre biodiversidade.

Componente 4: Coordenação e Gerenciamento do Projeto


Este componente suportará as outras atividades do Projeto, assegurando a execução, a
supervisão, a coordenação e a administração eficientes. São incluídas neste componente todas as
atividades relacionadas ao gerenciamento, às aquisições, ao gerenciamento financeiro e às
auditorias, assim como a Revisão de Meio Termo, a avaliação independente e as atividades de
fechamento do Projeto. Este componente suportará também oficinas, conferências, e os eventos
especiais desenvolvidos sob o Projeto, e coordenará a publicação e a disseminação das
informações geradas por atividades do Projeto.

A coordenação das atividades e do escopo do Projeto com outras iniciativas nacionais e


internacionais é também uma responsabilidade importante que recai sob este componente. O
Projeto inteiro será coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), através de sua
Secretaria de Biodiversidade e Florestas, e executado através de contratos diretos com MMA e
Funbio. A Comissão Nacional de Biodiversidade (CONABIO) fará a supervisão do Projeto com
relação a temas de alto nível ligados às prioridades, às políticas e às diretrizes da conservação e
uso sustentável da biodiversidade. A CONABIO também promoverá a transversalidade entre
setores diferentes e fornecerá a orientação geral para a execução do Projeto. Um comitê de
coordenação do Projeto foi previsto para supervisionar as atividades do Projeto, assegurando a
consistência e as sinergias dentro do Projeto. Outros ministérios e organizações do governo irão
co-financiar e executar este Projeto. Este componente é planejado para ser executado por dois

10
subcomponentes: i) Administração, monitoramento e avaliação do Projeto, e ii) Estratégias de
disseminação e de comunicação.

O processo de avaliação deste Projeto foi realizado para verificar os potenciais impactos
sociais e ambientais do Projeto, tendo resultado em uma Avaliação Social e uma Avaliação
Ambiental que é acompanhada do Anexo 1_ Potenciais Impactos Ambientais e Planos de
Mitigação, do Anexo 2_Plano de Manejo de Pragas e do Anexo 3_Marco de Filtragem
Ambiental, que consiste em um roteiro para a futura avaliação dos impactos de subprojetos com
detalhes específicos a serem definidos.

11
2. AVALIAÇÃO SOCIAL

2.1. Impactos Positivos


As atividades do Projeto Nacional de Ações Integradas Público-Privadas para Biodiversidade
foram concebidas para trazer impactos sociais positivos decorrentes dos esforços do Brasil para
implementar a Convenção da Diversidade Biológica – CDB4 e atingir suas metas para 20105. O
Projeto pretende elevar a biodiversidade a uma condição de elemento prioritário nos processos
de tomada de decisão nos setores público e privado no Brasil, levando técnicas sustentáveis e
socialmente justas a múltiplos setores econômicos e políticos, demonstrando a viabilidade da
ação ecológica em modelos racionalmente planejados, incentivando sua propagação.

A implementação do Projeto no setor público está a cargo das autoridades nacionais em


matéria ambiental - o Ministério do Meio Ambiente, o Ibama e o Jardim Botânico do Rio de
Janeiro, que trazem consigo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Ministério
da Saúde, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Ministério da Ciência e Tecnologia,
além de instituições federais de referência nas áreas da pesquisa e ação, como a Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa e a Fundação Oswaldo Cruz.

O componente de priorização da biodiversidade no setor privado está a cargo do Fundo


Brasileiro para a Biodiversidade - Funbio, instituição nacional sem fins lucrativos, que há 10
anos fomenta projetos de conservação e uso sustentável, sob as melhores práticas de gestão
difundidas pelo Banco Mundial e pelo GEF.

Além da mudança na forma como a biodiversidade é tratada no Brasil, com impactos positivos
sobre a qualidade de vida da sociedade, espera-se também a implementação de políticas para a
repartição eqüitativa dos benefícios do uso dos componentes da biodiversidade. Este é o aspecto
do escopo da CDB menos desenvolvido nas experiências em curso em âmbito nacional e
internacional.

Os ganhos sociais derivados das atividades do projeto estão relacionados principalmente ao


alcance das seguintes metas de 2010 para a biodiversidade:

Manutenção dos bens e serviços oriundos da diversidade biológica para apoiar o bem-estar
humano
Objetivo 8. Manter a capacidade de ecossistemas de fornecer bens e serviços e apoiar modos de
vida
Meta 8.1: Capacidade de ecossistemas de fornecer bens e serviços mantida
Meta 8.2: Manutenção dos recursos biológicos que ancoram modos de vidas sustentáveis,
segurança alimentar local e cuidados com a saúde, especialmente para populações carentes

4
A Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB é um dos principais resultados da Conferência das Nações
Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – CNUMAD (Rio 92), realizada no Rio de Janeiro, em junho de
1992. É uma das mais importantes convenções ambientais e funciona como um guarda-chuva legal/político para
diversas convenções e acordos ambientais mais específicos. A CDB é o principal fórum mundial na definição do
marco legal e político para temas e questões relacionadas à biodiversidade. 168 países assinaram a CDB e 188 países
já a ratificaram, tendo estes últimos se tornado parte da Convenção.
5
Acordou-se em 2002, durante a 6ª Conferência das Partes da CDB (COP 6) em “atingir até 2010 uma significativa
redução na atual taxa de perda de biodiversidade na escala global, regional e nacional, como uma contribuição para a
diminuição da pobreza e para o benefício de toda vida na Terra”. Tal decisão foi referendada na Cúpula Mundial
sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio + 10), em Johanesburgo. (ver http://2010.biodiv.org/2010/target.shtml)

12
Proteção dos conhecimentos, inovações e práticas tradicionais
Objetivo 9. Manter a diversidade sócio-cultural de povos indígenas e comunidades locais
Meta 9.1: Proteger conhecimentos, inovações e práticas tradicionais
Meta 9.2: Proteger os direitos dos povos indígenas e comunidades locais sobre seus
conhecimentos, inovações e práticas tradicionais, incluindo seus direitos à repartição de
benefícios

Garantia da repartição justa e eqüitativa dos benefícios oriundos do uso dos recursos genéticos
Objetivo 10. Garantir a repartição justa e eqüitativa dos benefícios oriundos do uso dos recursos
genéticos
Meta 10.1: Todas as transferências de recursos genéticos estarem de acordo com a CDB, com o
Tratado Internacional sobre Recursos Genéticos de Plantas para a Alimentação e Agricultura e
outros acordos Internacionais
Meta 10.2: Os benefícios oriundos do comércio ou de outras utilizações de recursos genéticos
repartidos com os países provedores dos recursos

2.2. Potenciais Impactos Negativos


Embora não seja esperado que o projeto venha a gerar impactos sociais negativos, se algumas
atividades não forem implementadas de maneira adequada, existe risco de que tais impactos
venham a ocorrer. A análise das atividades propostas pelos parceiros levou à identificação de que
os potenciais impactos negativos e as medidas mitigadoras necessárias seriam:
• Evolução do quadro de deficiência nutricional de população extrativista pela não
utilização dos produtos extraídos da floresta e que são base de sua alimentação
tradicional o que geraria a necessidade de se viabilizar a implantação de pequenas
agroindústrias comunitárias para beneficiamento/transformação da castanha-do-brasil
em produtos alimentícios;
• Aumento da pressão sobre a espécie pela extração excessiva de castanha-do-brasil
inviabilizando a regeneração da espécie. Opção dos produtores por atividades
econômicas de maior impacto ambiental e rentabilidade, e êxodo rural pela dificuldade
de organização em associações/cooperativas, implicando em baixa agregação de valor
ao produto. Esses impactos poderiam ser diminuídos por meio da difusão e adoção de
práticas de manejo da espécie e promoção da organização de grupos de extrativistas
voltados para a comercialização do produto (castanha-do-brasil) certificado para
manejo sustentável da espécie e segurança alimentar;
• Diferenciação social entre grupos de agricultores e entre assentamentos. Caberia o
acompanhamento sistemático das ações voltadas à capacitação e organização dos
produtores e a seleção de assentados a partir da indicação de suas categorias
representativas;
• Frustração da expectativa de eficiência da tecnologia do plantio direto, reduzindo a
produtividade, afetando conseqüentemente a necessidade de mão-de-obra, devido à não
adequação das práticas de manejo cultural ao novo sistema de produção. Neste caso
seria necessários o acompanhamento das práticas culturais e o fornecimento de
orientação para a produção de palhada em quantidade e qualidade satisfatória e para o
manejo correto da irrigação e da adubação, permitindo assim a expressão do potencial
produtivo.
• Um dos efeitos temporários, até se tornar mais comum o plantio direto ou até os
pequenos produtores descapitalizados se organizarem em cooperativas, seria a
substituição do capital humano pelo capital financeiro. As máquinas usadas no plantio

13
direto são mais caras do que as usadas no plantio convencional, o que limita sua
utilização a produtores mais tecnificados e capitalizados. Neste caso, a promoção do
associativismo entre os produtores poderia diminuir este impacto.
• Atraso na saída de meios de transporte devido à implementação do “Plano Executivo
dos Modelos de atuação da Vigilância Ambiental em Saúde de: água, solo,
contaminantes ambientais e substâncias químicas, desastres naturais e acidentes com
produtos perigosos incluindo a variável de biodiversidade”, demandando treinamento
dos fiscais para evitar as demoras de vistorias. Assim, planejamento prévio para agilizar
coleta de amostras em meios de transporte, com equipe exclusiva capacitada para este
fim evitaria estes transtornos.

14
3. ANÁLISE SOCIAL
Como esse projeto é de caráter nacional, e sem definição geográfica para a maioria das
atividades, a análise social tem um âmbito nacional, enfocando-se nos principais grupos ativos
ligados aos temas incluídos no projeto ou por estes impactados. Ressalte-se que as atividades
previstas pelos parceiros no escopo do Projeto não possuem potencial impacto sobre povos
indígenas nem promovem reassentamento involuntário, não tendo sido acionadas tais políticas de
salvaguardas. Embora não tenha ativado as políticas de salvaguarda sociais do Banco Mundial, o
documento também apresenta um plano para mitigar possíveis impactos negativos como medida
de melhorar e fortalecer o projeto.

3.1. Caracterização

3.1.1. Perfil socioeconômico

Durante os últimos 50 anos constatou-se uma mudança na distribuição da população brasileira,


por grupos de idade. Nesse período, foi registrado um aumento na expectativa de vida dos
brasileiros de 41,5 anos para 67,7. A parcela abaixo de 14 anos de idade caiu de 43% para 34%,
enquanto o segmento acima de 60 anos cresceu de 4% para 8%. A taxa de alfabetização
aumentou de 50% para 77%. Em 1997, a taxa de alfabetização no Brasil foi de cerca de 83%. À
medida que um maior número de pessoas adultas ingressam no mercado de trabalho, devem ser
criados aproximadamente 1.600.000 novos empregos a cada ano para acomodar os novos
candidatos aos empregos.

A oferta de saneamento básico no Brasil aumentou substancialmente nos últimos 25 anos.


Aproximadamente 96% dos domicílios contam com água potável, sendo 75% oriundos do
sistema público de fornecimento e 21% oriundos de poços e fontes naturais. Cerca de 73% das
residências têm pelo menos um sistema simplificado de escoamento de esgotos e 88% contam
com energia elétrica. Nas áreas urbanas, 90% das moradias recebem água e serviços de esgoto e
98% têm energia elétrica. No entanto, nas áreas rurais, apenas 17% das moradias recebem
serviços de água e esgoto e somente 55% possuem energia elétrica. Aproximadamente 70% dos
domicílios brasileiros têm geladeiras. Existe ainda um telefone instalado e um automóvel para
cada grupo de 10 brasileiros.

O Brasil obtém cerca de 60% de seu suprimento de energia a partir de fontes renováveis, como
hidrelétricas e etanol. Também cerca de 64% do petróleo que consome são produzidos
internamente. O Brasil é o maior exportador de ferro, assim como um dos maiores exportadores
de aço do mundo. Outros insumos produzidos no Brasil incluem petroquímicos, alumínio, metais
não-ferrosos, fertilizantes e cimento. Importantes produtos manufaturados incluem veículos,
aeronaves, equipamentos elétricos e eletrônicos, têxteis, artigos de vestuário e calçados. Os
Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Suíça, Japão, Reino Unido, França, Argentina, México e
Canadá são os maiores parceiros comerciais do Brasil.

Ao entrar na última década do século XX, o Brasil já estava entre as 10 maiores economias do
mundo. As exportações representam 10% de seu PIB; a indústria soma cerca de 34%, um padrão
encontrado em alguns países desenvolvidos. Em 1999, a força de trabalho estimada no Brasil foi
de 70 milhões de pessoas. O setor de serviços responde por 39% da força de trabalho, a

15
agricultura por 5,4% e a indústria por 24%. O comércio emprega 19,4% da força de trabalho do
país, enquanto a construção civil absorve cerca de 6% desse total6.

3.1.2. Composição étnica7

Delimita-se basicamente três origens para a formação do povo brasileiro. Aos habitantes
originais (indígenas) foram somadas sucessivas ondas de europeus (principalmente portugueses)
e africanos (a maioria da costa oeste, ao sul do Saara).

No século XVI, a área que hoje é o Brasil foi habitada por centenas de tribos indígenas de etnias
diversas, que falavam línguas diferentes e com culturas distintas. Grupos de língua Tupi-
Guarani, que viviam na região costeira e arredores, em muitas situações estabeleceram
casamentos com os colonizadores portugueses. Por outro lado, muitas tribos que falavam outras
línguas (Gê, Aruaq e Karib) e viviam no interior demoraram a estabelecer contato com os
"estrangeiros". Atualmente, chega a 200 o número etnias, e a 180 a quantidade de línguas faladas
no Brasil.

Atualmente, os povos indígenas do Brasil vivem num total de 850.000 km2, equivalentes a 12%
do território brasileiro, terras reservadas à população indígena pelo Governo Federal. Nessas
áreas estão aptos a preservar seu estilo de vida.

Em meados do século XVI, africanos pertencentes ao grupo étnico Bantu e sudaneses da Nação
Yoruba (o que é hoje a Nigéria e o Benin) foram trazidos para o Brasil para trabalhar como
escravos na indústria da cana-de-açúcar e, mais tarde, nas minas de ouro e diamantes e nas
plantações de café. O processo de integração iniciado entre europeus e índios rapidamente
englobou os escravos negros.

A mistura étnica ocorreu desde o descobrimento do Brasil, no final do século XV, recebendo um
número cada vez maior de imigrantes do mundo inteiro. Portugal permaneceu a mais importante
fonte de imigração para o Brasil, seguido da Itália e do Líbano. Na primeira metade do século
XX, como conseqüência da Segunda Guerra Mundial e pressão econômica, considerável
contingente de imigrantes veio do Japão e, pela boa receptividade social, estabeleceu-se uma
tendência à imigração japonesa. Por volta de 1969, 274.312 japoneses haviam vindo para o
Brasil. Hoje, vive no Brasil o maior contingente de descendentes de japoneses que se encontra
fora do Japão.

3.1.3. Panorama socioambiental

Com cerca de 180 milhões de habitantes, o Brasil é o sexto país mais populoso do mundo, atrás
apenas de China, Índia, EUA, Indonésia e Rússia. Sua taxa média de ocupação é de 19,2
habitantes por km², porém a distribuição não é regular. A grande maioria se concentra na faixa
litorânea, a até 100 km da costa. Certas regiões do interior apresentam taxas com menos de 1
habitante por km². Projetos políticos tentam mudar este quadro criando novos centros
populacionais, como a Zona Franca de Manaus e o estado do Tocantins, fomentando a
6
Fonte: Site da Embaixada do Brasil em Ottawa, disponível em, acessado em 21/06/2006
http://www.brasembottawa.org/prt/brasil_en_resumo/economia.html
7
Fonte: Site da Embaixada do Brasil em Ottawa, disponível em
http://www.brasembottawa.org/prt/brasil_en_resumo/populacao.html, acessado em 21/06/2006

16
construção de rodovias, como a Transamazônica, unindo áreas afastadas, gerando impactos
sociais e ambientais significativos.

A desigualdade de condições de vida e oportunidades entre as classes sociais é um dos maiores


problemas do Brasil, tendo rebatimentos sobre diversos aspectos na sociedade. Acredita-se que
essa conjuntura social seja responsável pelos altos índices de violência constatados em algumas
regiões do país, derivando também da deficiência dos sistemas públicos de saúde, educação,
lazer e transporte. Ao mesmo tempo, os elevados padrões de consumo de parte da sociedade,
variando conforme o poder aquisitivo, também são apontados como elementos propulsores de
degradação ambiental e instabilidade social.

Os grupos sociais a serem envolvidos no Projeto estão preferencialmente ligados aos setores
produtivos, tanto industrial quanto agropecuário, comunidades tradicionais, populações rurais e
urbanas e um contingente significativo de agentes públicos nas três esferas de governo, incluindo
diversos pesquisadores. A dimensão da iniciativa, entretanto, não permite a projeção do
completo alcance desses grupos pelas atividades do Projeto, sendo previsível sua inclusão apenas
por amostras representativas nas diferentes atividades e subprojetos.

3.1.4. Uso social da biodiversidade

A diversidade biológica é percebida de distintas formas por diferentes grupos de interesse,


podendo seu valor ser avaliado segundo múltiplos critérios. Possui valor intrínseco e também
valores ecológico, genético, social, econômico, científico, educacional, cultural, recreativo e
estético. Os serviços ambientais proporcionados pela biodiversidade mundial são estimados em
33 trilhões de dólares anuais, representando quase o dobro do PIB mundial.

O Brasil contemporâneo foi configurado ao longo da história por diferentes fases de exploração
de seus recursos naturais pela sociedade. O país se fez a partir da extração de espécies como o
pau-brasil (Caesalpinia echinata) e a borracha da seringueira (Hevea brasiliensis), ou da
exploração mais recentemente intensa do mogno (Swietenia macrophylla). Sua elite enriqueceu
também às custas da extração do ouro, da prata e de minérios de classe internacional cada vez
mais prospectados. A exploração social, de indígenas nativos e escravos trazidos da África
também contribuiu para a formação do país. A nação também se construiu pela ocupação do solo
por lavouras exóticas como a cana-de-açúcar (Saccharum officinarum), do sudeste asiático, o
café, (Coffea arabica), da África, a soja (Glycine max) e a laranja (Citrus sinensis), da China,
monoculturas que, apesar de ocuparem grandes extensões contínuas de terra e serem
responsáveis por parcela significativa do PIB nacional, não podem ser comparadas à diversidade
do patrimônio genético existente no território brasileiro. Este patrimônio genético é explorado de
forma cada vez mais ampla, consubstanciando-se em produtos de alto valor agregado,
especialmente em princípios ativos, como os utilizados em indústrias farmacêuticas, cosméticas,
de alimentos e bebidas.

A biodiversidade ocupa importância estratégica na economia do país. Somente o setor da


agroindústria responde por cerca de 40% do PIB brasileiro, o setor florestal por 4% do PIB e o
setor pesqueiro por 1% do PIB. Na área da agricultura o Brasil tem exemplos, de repercussão
internacional, sobre o desenvolvimento de biotecnologias que geram riquezas por meio do
adequado emprego de componentes da biodiversidade.

17
A perspectiva de utilização sustentável dos recursos genéticos disponíveis no país é bastante
promissora. O terceiro Relatório Nacional sobre a implementação da Convenção da Diversidade
Biológica aponta as dificuldades que o país vem enfrentando no processo de adaptação aos
princípios da convenção. Dentre as dificuldades, o relatório do governo federal destaca: falta de
vontade política para implementação da CDB; participação pública e envolvimento de atores
sociais limitados; tratamento transversal da biodiversidade por outros setores da sociedade
limitado; falta de medidas preventivas e pró-ativas, causando políticas reativas; instituições
enfraquecidas causam a falta de capacidade de agir; falta de recursos humanos; falta de
transferência de tecnologia e expertise; falta de capacidades em pesquisa científica adequadas
para apoiar todos os objetivos; falta de conhecimento e de documentação acerca da perda da
biodiversidade e dos bens e serviços providos por ela; conhecimentos científicos e tradicionais
não são completamente utilizados; disseminação de informação nos níveis nacional e
internacional não é suficiente; falta de educação e conscientização pública em todos os níveis;
falta de recursos financeiros; falta de sinergias nos níveis nacional e internacional; falta de
cooperação horizontal entre atores sociais; falta de parcerias efetivas; falta de engajamento da
comunidade científica; falta de políticas e leis apropriadas; falta de capacidades por parte das
comunidades locais.

3.1.4.1. Comunidades tradicionais8

A despeito dos impactos promovidos pelas populações tradicionais nos ambientes naturais, sua
importância para a conservação da biodiversidade continua inegável. Prova de que seu modo de
vida é menos impactante do que o modo urbano é o fato de que as próprias comunidades
tradicionais correm risco de extinção, sofrendo constante pressão para transformar seus hábitos
de consumo e modo de vida em geral. Esta pressão se manifesta seja para tornar essas
populações fornecedoras de recursos naturais numa escala que demanda práticas predatórias,
geralmente ilegais, como alternativa para a obtenção de renda - e porque existe um mercado que
acolhe e promove essas práticas -, seja forçando sua mudança para as periferias das cidades em
busca de emprego (para a mesma necessidade de renda), perdendo totalmente aquelas
características singulares e abrindo espaço para que as terras que ocupam sejam tomadas pelo
modelo predatório.

O que se pode observar com apoio da tecnologia das imagens de satélite é que, onde as práticas
das populações tradicionais mantém-se conforme critérios que as identificam enquanto tais –
com uma identidade, uma memória, uma história partilhada e um território - é notável como sua
relação com o meio ambiente causa impactos pouco representativos. Há extensa literatura no
campo da antropologia e da ecologia social que atesta a contribuição dessas populações para a
existência da diversidade das paisagens e, por conseguinte, da biodiversidade.

Freqüentemente o uso do termo “populações tradicionais” inclui também os povos indígenas.


No entanto, os índios no Brasil têm identidades específicas e direitos coletivos especiais
assegurados pela constituição brasileira, constituindo-se então em categoria distinta, o que
conduz a tratá-los, aqui, em um item específico.

8
Fonte: UNESP/ Dr. José Goldemberg - Secretário do Meio Ambiente (Projeto de Preservação da Mata Atlântica
no Estado de São Paulo), disponível em
http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./snuc/index.html&conteudo=./snuc/artigos/popuimpacto.ht
ml, acessado em 14/3/2006. e ESTERCI, Neide, in Almanaque Brasil Socioambiental, São Paulo: ISA, 2004, pp.
178-182.

18
QUADRO 1: Populações tradicionais

Uma classificação mais recente identifica 13 categorias distintas de populações tradicionais no


Brasil contemporâneo. As denominações e características que seguem são resultado do trabalho
dos pesquisadores Antônio Carlos Diegues e Rinaldo Arruda, do Núcleo de Apoio à Pesquisa
sobre Populações Humanas em Áreas Úmidas Brasileiras (Nupaub), da Universidade de São
Paulo (USP). Caboclos ou ribeirinhos amazônicos - Englobam, além das populações
amazônicas que dependem dos rios locais, os seringueiros e castanheiros da região. Mesclam
atividades extrativistas com agricultura, caça e pesca.

Praieiros - Moradores da faixa litorânea compreendida entre o Piauí e o Amapá, também são
chamados de pescadores artesanais, mas possuem características socioculturais que os
diferenciam de outras comunidades, como caiçaras ou jangadeiros. Dependem da pesca, mas
complementam a renda com trabalhos agrícolas, extrativismo e turismo.
Babaçueiros - Populações extrativistas que vivem da coleta do babaçu e da utilização dessa
palmeira. Encontram-se espalhados por uma área de cerca de 200 mil quilômetros quadrados,
basicamente entre os estados do Piauí e do Maranhão.
Sertanejos ou vaqueiros - Ocupam a orla descontínua do Agreste, avançando até as caatingas
e atingindo o cerrado. Desenvolvem uma economia pastoril, associada à produção açucareira,
voltada ao fornecimento de carne, couro e bois de serviço.
Jangadeiros - São os pescadores que habitam a faixa costeira situada entre o sul da Bahia e o
Ceará. Recebem esse nome por utilizar a jangada para desenvolver sua atividade no mar.
Pescadores artesanais - Estão espalhados pelo litoral do país e dependem basicamente da
pesca, ainda que exerçam outras atividades econômicas, como o extrativismo vegetal, o
artesanato e a pequena agricultura.
Caiçaras - Comunidades formadas pela mescla etno-cultural de indígenas, colonizadores
portugueses e, em menor grau, escravos africanos. Sua forma de vida baseia-se na agricultura
itinerante, na pequena pesca, no extrativismo vegetal e no artesanato. Ocupam o litoral norte
catarinense e a costa de Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro.
Açorianos - Descendentes de imigrantes portugueses provenientes principalmente das ilhas
dos Açores e da Madeira. Vivem da pesca e da agricultura no litoral do Rio Grande do Sul e de
Santa Catarina.
Campeiros - População de gaúchos descendentes dos índios guaranis e dos colonizadores
portugueses e espanhóis. Vivem nos pampas e nas coxilhas do Rio Grande do Sul,
desenvolvendo a pecuária extensiva.
Caipiras ou sitiantes - São as comunidades, em grande parte de meeiros e parceiros, que
sobrevivem em nichos entre as monoculturas do sudeste e do centro-oeste, desenvolvendo
atividades agropecuárias em pequenas propriedades, destinadas à subsistência familiar e ao
mercado.
Varjeiros ou ribeirinhos não-amazônicos - Denominação de populações que vivem às
margens de rios e várzeas, sobretudo do São Francisco, mas que se aplica também a ribeirinhos
de outros rios, como o Paraná. Além da pesca, pecuária e artesanato em cerâmica, combinam
atividades agrícolas, principalmente o plantio do arroz, com extrativismo da mata - de onde
retiram mel, ervas medicinais e madeira para fabricação das embarcações.
Quilombolas - Descendentes de escravos negros que sobrevivem em enclaves comunitários,
muitas vezes antigas fazendas deixadas por outros proprietários. Desenvolvem atividades
vinculadas à pequena agricultura, artesanato, extrativismo e pesca, que variam de acordo com a
região em que estão situados.
Pantaneiros - Habitantes do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul cuja subsistência se baseia
em atividades agropastoris em fazendas ou pequenas propriedades à beira dos rios.

19
3.1.4.2. Povos indígenas9 e 10

As Terras Indígenas funcionam como barreiras ao desmatamento na Amazônia, impedindo a


destruição de quase 3,5 milhões de hectares de florestas. Um total de 74% das Terras Indígenas
possui taxas de desflorestamento menores do que as áreas do entorno. As informações constam
no “Diagnóstico sobre Terras Indígenas Ameaçadas na Amazônia” realizado pela Coordenação
das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), através de seu Departamento
Etnoambiental.

O diagnóstico, realizado em parceria com a organização não governamental Instituto de


Conservação Ambiental (TNC), aponta ainda que, enquanto a taxa de desmatamento nas
unidades de conservação federais é de 1,52%, nas Terras Indígenas esse total baixa para 1,10%.
Dessa forma, apesar de receberem uma quantia muito menor de recursos para a sua preservação,
o papel das Terras Indígenas em proteger a floresta é notório: abrigam 90 milhões de hectares,
contra 65 milhões das Unidades de Conservação Federais.

O estudo desenvolveu um modelo que permite visualizar qual seria o desmatamento esperado
dentro dos territórios indígenas caso eles mantivessem o mesmo padrão de desenvolvimento da
região. A diferença entre o cenário com e sem Terras Indígenas gera um saldo positivo de 3,5
milhões de hectares de florestas protegidas. Os padrões do estudo consideram os elementos que
mais contribuem para o desmatamento tais como: presença de estrada asfaltada e de terra, acesso
fluvial, densidade populacional e desmatamento consolidado.

A proteção da biodiversidade e o uso sustentável dos recursos naturais existentes nas Terras
Indígenas têm importância estratégica para os projetos de futuro dos Povos Indígenas no Brasil.
Embora frágeis e pouco expressivos, os programas governamentais vêm incorporando em suas
linhas de atuação temas que incluem a interface entre os direitos indígenas e as políticas
ambientais, mesmo porque, segundo a Fundação Nacional do Índio – FUNAI, 85% das terras
indígenas sofrem algum tipo de interferência pelas mãos de terceiros e apresentam níveis
consideráveis de degradação em função da exploração ilegal de recursos naturais nessas áreas e
implementação de empreendimentos sem qualquer planejamento ambiental em seu entorno.

Estudos sobre o impacto de povos indígenas sobre a biodiversidade têm mostrado que, quando
ocorrem, são causados por indígenas e não-indígenas, com anuência de indígenas, em suas áreas
protegidas, incluindo caça e/ou pesca não-sustentável e corte de madeira-de-lei.

Cerca de 0,2% da população brasileira é indígena, sendo que a maioria das etnias (147 de um
total aproximado de 216) não se compõe por mais de mil indivíduos. A partir dos anos 70 nota-se
um crescimento da população indígena ao mesmo tempo em que outras estão ameaçadas de
extinção. As informações que existem sobre os índios no Brasil ainda estão relativamente
dispersas e são insuficientes para dar conta da sócio-diversidade já estimada. A Fundação

9
Fonte: UNESP/ Dr. José Goldemberg - Secretário do Meio Ambiente (Projeto de Preservação da Mata Atlântica
no Estado de São Paulo), disponível em
http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./snuc/index.html&conteudo=./snuc/artigos/popuimpacto.ht
ml, acessado em 14/3/2006 e RICARDO, Beto, in Almanaque Brasil Socioambiental, São Paulo: ISA, 2004, pp.
183-185.
10
Nota: A análise feita durante a preparação do projeto verificou que o projeto não terá nenhum impacto sobre os
povos indígenas no Brasil, muito embora, sua descrição tenha sido feita no documento para prover um perfil
completo da sociedade brasileira.

20
Nacional do Índio atesta que ainda existem no país em torno de 30 povos que se mantêm
isolados - ou voluntariamente arredios - ao contato com a sociedade nacional. A falta de
informação segura e as dificuldades inerentes aos estudos dessa natureza (sabe-se que hoje, no
Brasil, fala-se em torno de 180 línguas diferentes) podem explicar a responsabilização que recai
sobre os índios no que diz respeito aos impactos negativos que exercem sobre a fauna e a flora
devido seus hábitos e tradições. Destaca-se, neste contexto, que, se por um lado a Amazônia é
responsável por abrigar 20% das etnias que são autorizadas a usufruir legalmente de 12% do
território brasileiro, nas regiões sul, nordeste, sudeste e leste uma expressiva parcela da
população indígena vive confinada em micro territórios, em situação de pobreza e sem
alternativas promissoras de superação de problemas de saúde relacionados a alcoolismo e
subnutrição, justamente porque as fontes naturais de alimentação das quais dependiam foram
eliminadas pela população majoritária não-indígena.

3.1.4.3. Empresas

Múltiplos e importantes setores do empresariado brasileiro dependem da biodiversidade para


seu funcionamento e expansão. Em verdade, poucos são os segmentos da atividade empresarial
que não guardam alguma relação com a utilização da diversidade biológica. Além de toda a
cadeia produtiva agrossilvopastoril, um amplo número de empreendimentos depende de
componentes da biodiversidade como matérias-primas para elaboração de seus produtos. Como
exemplos de apropriação direta dos recursos genéticos, podem ser citadas as cadeias produtivas
de fármacos, cosméticos, móveis, tecidos, turismo e energia (biomassa).

A defesa da integração das questões referentes à biodiversidade nos principais sistemas de


gestão corporativa está se tornando cada vez mais forte e sendo abraçada por cada vez mais
empresas. No entanto, para a gestão da biodiversidade trazer resultados positivos ao setor
privado, é necessário combater a ênfase excessiva nos resultados financeiros de curto prazo. É
preciso introjetar no setor a noção de que ecossistemas saudáveis são vitais para a existência de
pessoas sadias, empresas sustentáveis, economias sólidas e, conseqüentemente, o
desenvolvimento sustentável.

Pode-se dizer que há no Brasil um movimento de modernização da postura do empresariado


em relação à biodiversidade. Razões econômicas podem ser apontadas como as principais
motivações para a adesão de lideranças empresarias à causa ambiental, mas os princípios éticos
também norteiam ações individuais que começam a ganhar escala no cenário nacional.

A biodiversidade está, gradativamente, sendo incluída nos critérios de avaliação da


sustentabilidade das empresas como, por exemplo, no Business in the Environment Index (Índice
Ambiental das Empresas), no Reino Unido, o qual apresenta uma pergunta sobre biodiversidade.
Mas os critérios específicos de avaliação do desempenho das empresas em biodiversidade ainda
estão sendo desenvolvidos. A ênfase atual centra-se nos processos de gestão como indicadores
dos reais impactos à biodiversidade e do desempenho.

A adesão à causa da biodiversidade pelo empresariado tem como objetivo, por exemplo, lidar
com os seguintes riscos emergentes:

• Questionamento de sua licença legal de operação;


• Ruptura de sua cadeia de suprimentos;
• Danos à imagem de sua marca;

21
• Boicote por parte dos consumidores e anti-campanhas promovidas por Ongs
ambientalistas;
• Multas, sinistros por danos ambientais a terceiros e futuras responsabilidades
ambientais;
• Baixo desempenho e valor nos mercados financeiros; e
• Baixa moral de seus colaboradores e redução de sua produtividade.

Razões particulares a cada setor também motivam a atenção das empresas ao uso sustentável
da biodiversidade. Para a indústria florestal, que depende de recursos renováveis, a questão
centra-se na gestão ou manejo florestal sustentável, ou seja, no reflorestamento, na conservação
dos habitats originais, no manejo da erosão genética, e na gestão total de um ciclo natural
sustentável.

Para a indústria pesqueira, a questão centra-se no esgotamento da base de recursos oceânicos


renováveis por uma pesca intensiva com um número excessivo de barcos e utilizando tecnologias
que destroem a biodiversidade marinha da qual a própria indústria pesqueira depende. Para as
empresas envolvidas com o suprimento e tratamento de recursos hídricos, a questão consiste em
conscientizar todos os seus clientes a prevenir a poluição e a gerenciar os níveis de consumo.

Para as empresas envolvidas na extração de recursos não-renováveis, a questão primordial


concentra-se nas práticas de gestão ambiental adequadas. Uma gestão inadequada pode resultar
na perda da licença de operação ou na perda de oportunidades de negócios futuros. Uma empresa
que perdeu sua reputação poderá ter dificuldades para recuperar a competitividade no mercado.

Para as indústrias de produção, as questões referentes à biodiversidade podem afetar a


localização de suas instalações ou acarretar alterações em seus processos, de modo a garantir que
sua produção não cause impactos adversos à biodiversidade. No setor farmacêutico, o acesso à
biodiversidade traduz-se na produção de importantes medicamentos para diversas doenças e em
garantir que os proprietários originais do conhecimento sobre a aplicação da biodiversidade
usufruam dos benefícios de sua comercialização de maneira eqüitativa.

Para a maior parte da indústria de serviços, as questões referentes à biodiversidade estão


associadas essencialmente com sua reputação e imagem pública, mas também podem estar
ligadas ao consumo de recursos que afetem a biodiversidade, como por exemplo, no setor de
turismo. Todas as empresas, mesmo aquelas localizadas em zonas urbanas, podem dar uma
contribuição positiva à biodiversidade. Além disso, a maior parte da atividade econômica não
está inserida em um contexto global ou multinacional, sendo ainda necessário engajar as
empresas domésticas, as empresas de pequeno e médio porte e as cooperativas artesanais nesse
posicionamento pró-biodiversidade11.

De modo geral, pode-se dizer que o governo federal vem empreendendo diversos esforços para
fazer as empresas perceberem seu papel na conservação da biodiversidade O relatório do
encontro Empresas e as Metas de 2010 – Desafios da Biodiversidade12, realizado em Londres em

11
As Empresas & a Biodiversidade – Um manual de orientação para ações corporativas, Copyright © 2002,
Earthwatch Institute (Europe), International Union for conservation of Nature and Natural Resources, World
Business Council for Sustainable Development., disponível em
http://biodiversityeconomics.org/document.rm?id=744, acessado em 14/3/2006.
12
O encontro foi organizado pelo Secretariado da Convenção da Diversidade Biológica, pelo Ministério da
Agricultura do Reino Unido (Department for Environment, Food and Rural Affairs), pelo Ministério do Meio
Ambiente do Brasil, pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e por outros parceiros. Seu

22
janeiro de 2005, indica a necessidade de inclusão das seguintes empresas ou grupos no debate
sobre negócios e biodiversidade:

• Empresas que geram impactos diretos sobre a biodiversidade.


• Empresas com cadeias de suprimentos que geram impactos sobre a biodiversidade. Em
especial, os varejistas, que geralmente possuem políticas e práticas mais flexíveis e
menos rigorosas que os fornecedores em relação à conservação da biodiversidade.
Assim, o impacto do engajamento do setor varejista tem potencial para ser maior.
• Empresas envolvidas em acesso e repartição de benefícios e em biotecnologia.
• Bancos, financiadoras e companhias de seguros.
• Companhias estatais que não estão submetidas às expectativas de consumidores e
investidores.
• Pequenas e médias empresas que podem ter menos experiência e capacidade para lidar
com a biodiversidade.

3.1.4.4. Representantes de governo

O Estado possui um papel insubstituível na conservação dos bens de interesse público que
compõem os recursos naturais de uma nação. Sua legitimidade para intervir nos processos
socioeconômicos e políticos em curso, sua capacidade de articulação, validação e fiscalização de
tarefas relacionadas à questão ambiental, além do poder de compra inerente ao Estado, faz do
setor governamental um importante instrumento para a promoção do desenvolvimento
sustentável.

As políticas públicas setoriais econômica, industrial, energética, agrícola, de transporte, de


ciência e tecnologia e de educação, para citar somente algumas, estão relacionadas à conservação
ambiental. No caso do Brasil, o Estado tem como desafio tratar de forma integrada a questão
nacional, as questões específicas a cada uma de suas regiões ricas em biodiversidade e a questão
das populações tradicionais.

De modo associado ao estabelecimento, no país, de instrumentos legais reguladores do acesso


aos recursos genéticos e conhecimentos associados das populações tradicionais existentes no
território nacional, em bases justas para o país e para essas populações, é preciso ainda:

(a) investir em ciência e tecnologia voltada para ampliar a base de conhecimentos sobre os
recursos genéticos e biológicos e sobre suas possibilidades de aproveitamento econômico e
social;

(b) investir em melhorias na qualidade de vida das populações locais e povos indígenas,
tornando-as parceiras da proteção e valorização dos recursos naturais que as cercam; e

objetivo foi desenvolver idéias que possam facilitar a implementação da CDB ou apoiar o cumprimento de seus
objetivos, através do envolvimento da biodiversidade na agenda das empresas, bem como estimular o alcance das
metas de 2010 quanto à redução da perda de biodiversidade. Relatório disponível em
http://biodiv.org/doc/meetings/biodiv/b2010-02/official/b2010-02-03-en.pdf, acessado em 14/3/2006.

23
(c) reconhecer a importância e oferecer condições para que esses conhecimentos “tradicionais”
sejam não apenas protegidos, mas para que também continuem a ser gerados e multiplicados13;

(d) promover o uso sustentável da biodiversidade nativa como forma preferencial ao uso dos
recursos genéticos exóticos.

Segundo dados do Sistema Integrado de Administração de Serviços Gerais – Siasg, em 2003, o


governo federal investiu R$ 10,45 milhões de reais em despesas com custeio de administração
direta. O potencial de negociação que tais cifras apresentam, entretanto, não é suficientemente
explorado pelos representantes governamentais, prevalecendo nos processos decisórios os
interesses econômicos sobre os ambientais ou sociais.

Além do poder do capital financeiro, o desenvolvimento de uma cultura ambientalmente


sustentável em todos os setores dos governos brasileiros enfrenta falta de conhecimento da
população em geral, inclusive de governantes e funcionários públicos, sobre os impactos diretos
e indiretos do consumo individual e institucional, tanto em pequena como larga escala. Também
são desconhecidos os impactos das decisões administrativas e políticas de natureza pública,
colocando o poder público entre os setores que fomentam o esgotamento dos recursos naturais
por seu uso insustentável.

Nos últimos anos, entretanto, algumas iniciativas governamentais tentam agregar critérios e
atributos ambientais, além dos critérios de preço e técnica, aos procedimentos de contratação e
aquisição de produtos e serviços pelo poder público, como instrumento de política com a
finalidade favorecer a melhoria da qualidade ambiental, a conservação de recursos naturais e
induzir mudanças nos sistemas de produção e consumo de produtos e serviços.

Atualmente, o governo federal possui 237 mil fornecedores de bens e serviços cadastrados no
Siasg, todos sujeitos aos critérios estipulados pelo governo (cf. Tabela 1). Com a inclusão de
critérios socioambientais nos processos licitatórios, o governo federal poderia facilmente
promover o desenvolvimento social e ambientalmente sustentável; estimular a inclusão social e o
desenvolvimento local e regional; induzir o desenvolvimento de inovações tecnológicas
ambientalmente amigáveis; re-orientar processos e cadeias produtivas, valorizando os segmentos
que incorporem tecnologias e conhecimentos seguros.

TABELA 1. Quantidade total de fornecedores cadastrados no SIASG (governo federal)


Ano 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Quant. 84.701 106.563 130.384 150.600 172.141 194.857 214.389 235.098 237.602
Fornecedores
Fonte: Base de dados do SIASG em 10/03/2006

A passagem para um modelo de desenvolvimento baseado no equilíbrio ecológico é lenta e


requer persistência. Nesse movimento é preciso intensificar a capacitação de funcionários e
governantes públicos, de todos os escalões de governo, para que priorizem a biodiversidade nos
momentos de tomada de decisão. Tal postura poderá ser alcançada se fortalecidos nos indivíduos
os conceitos que norteiam rotinas de trabalho e de decisão. É importante enfatizar o papel das
vivências de educação ambiental que podem ser aplicadas para facilitar a compreensão de tais
conceitos e a adoção de posturas cooperativas e de menor impacto socioambiental.

13
Extraído do documento “Interesse global no saber local: geopolítica da biodiversidade”, de Sarita Albagli,
disponível em http://www.museu-goeldi.br/NPI/docs/resumos/Palestra%20Sarita.PDF, acessado em 27/03/2006.

24
A sensibilização ambiental do poder público tem um expressivo potencial impacto positivo na
orientação de hábitos e costumes sociais que efetivamente reduzam a pressão sobre os recursos
naturais.

3.1.4.5. Terceiro setor

A emergência do Terceiro Setor no Brasil é um fenômeno das últimas três décadas. Estima-se
que existam cerca de 120 mil instituições no setor, empregando aproximadamente 1,5 milhão de
pessoas em todo o país, trabalhando em causas de interesse público, como: assistência social,
educação, saúde, esportes e lazer, meio ambiente, geração de emprego e renda, artes e cultura,
ciência e tecnologia, comunicação, segurança pública, etc.

Paradoxalmente o fortalecimento da sociedade civil no Brasil se deu no bojo da resistência ao


regime militar, nos anos 60-70. No momento em que a ditadura bloqueava a participação dos
cidadãos na esfera pública, micro-iniciativas na base da sociedade foram inventando novos
espaços de liberdade e reivindicação. Falava-se, então, muito de Estado e pouco de Mercado.
Repressão política e dominação econômica se interpenetravam e se reforçavam mutuamente.

Neste contexto, a solidariedade, sempre presente nas relações interpessoais, nas redes de
vizinhança e ajuda mútua, inspirando a ação de movimentos voltados para a melhoria da vida
comunitária, defesa de direitos e luta pela democracia. É deste encontro da solidariedade com a
cidadania que vão surgir e se multiplicar as organizações não-governamentais de caráter público.

O terceiro setor socioambiental brasileiro parte do princípio de que os compromissos


assumidos pelo país na CDB não são de responsabilidade apenas dos governos, mas sim de toda
a sociedade. Por isso, a atuação das organizações não-governamentais junto às questões da
biodiversidade brasileira é extremamente relevante. Sua contribuição técnico-financeira e em
recursos humanos coexiste com os esforços governamentais, complementando e estimulando o
andamento das políticas e projetos relacionados ao tema.

O Fórum Brasileiro de Organizações Não-Governamentais e Movimentos Sociais para o Meio


Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS) é o principal colegiado de posicionamento do terceiro
setor nacional em relação a um amplo espectro de temas, sendo ele responsável pelo diálogo com
o poder público e a iniciativa privada no encaminhamento de agendas de interesse comum (cf.
Quadro 2).

Atualmente o fórum conta com os seguintes grupos de trabalho (GTs): GT Agenda 21, GT
Água, GT Comércio e Meio Ambiente, GT Energia, GT Florestas, GT Mudanças Climáticas, GT
Sociobiodiversidade, GT Turismo Sustentável, GT Direito Ambiental, GT Juventude e GT
Educação Ambiental - estes últimos criados no XVIII Encontro Nacional do FBOMS, em
dezembro de 2004. Em 2005 foi criado o GT Químicos, resultado de uma articulação com a rede
Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA).

25
Quadro 2: Propostas do Fórum Brasileiro de Organizações Não-governamentais e
Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS)14

O GT de Sociobiodiversidade do FBOMS emanou as seguintes proposições como


encaminhamentos para as diversas questões relacionadas ao tema no Brasil, revelando sua
percepção sobre a realidade ambiental brasileira em todas as esferas:

A. Florestas – Conservação e uso sustentável: Dentre outras ações, recomenda-se que o


Programa Nacional de Florestas se desenvolva em consonância com a Política Nacional de
Biodiversidade; que as florestas nacionais sejam implementadas; que políticas de desincentivo ao
desmatamento sejam definidas e implementadas; que as reservas extrativistas e terras indígenas
encontrem apoio para o desenvolvimento de alternativas econômicas viáveis e que se
implementem instrumentos de controle e fiscalização do cumprimento das normais legais
referentes à manutenção de vegetação florestal em propriedades privadas. 11
B. Conhecimento da biodiversidade – Recomenda-se, entre outras propostas a formação de
núcleos regionais, especialmente no Nordeste e no Centro-Oeste, integrados a iniciativas
nacionais de inventário e monitoramento da biodiversidade; a realização de novos inventários; a
aplicação de técnicas bioinformáticas visando acelerar a difusão do conhecimento; e a
implementação equilibrada da Política Nacional de Biodiversidade referente a este tema.
C. Análise e mitigação de impactos ambientais – É fundamental que se garanta um processo
independente de avaliação de impactos ambientais e um licenciamento imune às influências dos
setores interessados. É preciso ainda que o licenciamento ambiental se converta efetivamente em
um pré-requisito para a implantação de projetos impactantes, sejam oriundos do governo ou da
iniciativa privada.
D. Acesso a recursos genéticos e repartição de benefícios – A regulamentação geral do acesso
aos recursos genéticos do país foi feita por meio de uma medida provisória, que além de ter
atropelado um longo processo de discussão nacional, apresenta inúmeras deficiências.
Recomenda-se, portanto, a retomada das discussões para a conversão da medida provisória em
lei e seu aprimoramento conforme as discussões já ocorridas. Além disso, vale ressaltar a
necessidade de ampliação da composição do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético -
responsável pela regulamentação do acesso aos recursos genéticos e ao conhecimento tradicional
e da repartição de benefícios -, que abarca hoje apenas membros do governo.
E. Proteção ao conhecimento tradicional – Não há, no momento, nenhum dispositivo no país
que estabeleça alguma forma concreta de proteção aos conhecimentos tradicionais. A medida
provisória que trata do acesso aos recursos genéticos e ao conhecimento tradicional associado
menciona que esse conhecimento deve ser protegido, mas não cria nem sugere nenhum
instrumento. O país precisa desenvolver tais instrumentos, bem como assegurar a sobrevivência
cultural das comunidades detentoras do conhecimento tradicional, pois somente dessa forma
poderá ser protegido. Além disso, a aprovação do Estatuto dos Povos Indígenas ajudaria a criar
um arcabouço legal necessário para que essas comunidades possam atuar de forma integral
nestes e em outros assuntos.

14
Disponível em http://www.fboms.org.br/doc/publ/revista_FBOMS2002.pdf, acessado em 16/3/2006.

26
(cont. quadro 2: Propostas do FBOMS)

F. Transferência de tecnologia – O Brasil deverá ter uma firme posição que garanta a
transferência de tecnologia dos países mais ricos aos que estão em desenvolvimento, sendo que
deverão ser contempladas as prioridades destes últimos e não deverá ser aceita a imposição do
tipo ou natureza da tecnologia a ser transferida. A biodiversidade não pode ser considerada como
uma moeda de troca, compensando falta de interesse ou recurso dos governos para investir em
ciência e em tecnologia.
G. Política Nacional de Biodiversidade – A Política Nacional de Biodiversidade, em fase final
de elaboração, deve ser orientadora das ações de conservação e uso da biodiversidade para os
diversos setores que atuam em áreas com interfaces com a questão ambiental. Recursos
orçamentários devem ser garantidos para sua implementação equilibrada.
H. Participação social – Somente o envolvimento e a participação da sociedade podem
assegurar a implementação da Convenção ou de qualquer outra política pública. Assim, é
essencial, como parte desse processo, que as posições brasileiras nas reuniões da CDB sejam
debatidas, divulgadas e explicadas para a sociedade, e que as diversas instâncias de
implementação interna da CDB sejam transparentes e participativas.
I. Relação da CDB com outros acordos internacionais – A Convenção tem perdido força, ao
longo desses 10 anos, frente a outros acordos internacionais e, principalmente, no âmbito das
negociações da Organização Mundial do Comércio - OMC. É importante buscar contrabalançar
tal situação, ampliando o diálogo entre os diversos acordos internacionais e procurando
estabelecer instrumentos que fortaleçam a CBD.
J. Valores e princípios de sustentabilidade subjacentes à conservação e uso da
biodiversidade – Os princípios da Agenda 21 de participação democrática, transparência e
prestação de contas à sociedade devem ser aplicados também com relação à implementação da
CDB. O princípio da precaução deve ser sempre lembrado e utilizado quando necessário e ainda,
o uso e conservação da biodiversidade inclui aspectos imateriais que não podem ser
monetarizados.

3.1.4.6. Comunidade científica

O setor acadêmico brasileiro apresenta forte relação com a biodiversidade. Não apenas as
ciências biológicas, mas as humanas e as exatas também absorvem conhecimento das pesquisas
de campo sobre os componentes da diversidade socioambiental. É justamente através do
conhecimento adquirido nessas pesquisas que o setor contribui para a conservação da
biodiversidade e colabora com o desenvolvimento sustentável do país, demonstrando a
viabilidade da utilização prática da megadiversidade nacional.

Entre os movimentos mais recentes do setor acadêmico brasileiro, pode-se destacar o aumento
do número de pesquisas relacionadas à biotecnologia, tanto no âmbito da iniciativa privada
quanto por estímulo dos governos federal e estaduais.

A maioria das ações empreendidas atualmente no país é apoiada pelo Programa Biotecnologia,
iniciativa do governo federal, executada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, com o objetivo
de promover o desenvolvimento da biotecnologia no país (cf. Quadro 3). Sua ação vem
envolvendo todos os segmentos da biotecnologia em todas as regiões do país, no sentido de
apoiar projetos e atividades voltados ao uso sustentável da biodiversidade, que visam o
aproveitamento de oportunidades regionais e locais, de modo a diversificar/ampliar a base de

27
inovação, tornar a biotecnologia mais competitiva e/ou gerar produtos/processos/serviços de
modo sustentável, e contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade brasileira.

Quadro 3: Projetos em Biotecnologia e seus principais resultados

Entre as ações desenvolvidas até o momento no país, ressaltam-se as seguintes, mencionadas


no terceiro Relatório Nacional sobre a implementação da CDB

1. Projeto Rede Genoma Nacional – tem como objetivo ampliar a competência, em âmbito
nacional, nas atividades de pesquisa genômicas. Envolve 25 laboratórios de biologia molecular,
distribuídos em todas as regiões geográficas do país, e conta com o apoio do Laboratório
Nacional de Computação Científica em Bioinformática – LNCC. O Projeto Rede Genoma
Nacional que já possibilitou o seqüenciamento dos genomas: i) bactéria Chromobacterium
violaceum – microrganismo de vida livre que apresenta características de interesse para as áreas
ambiental, industrial e de saúde humana. ii) Mycoplasma synoviae; iii) pesquisa de genomas
funcionais e comparativos de interesses diversos, destacando-se o estudo do genoma
comparativo entre as bactérias Mycoplasma synoviae e Mycoplasma hiopneumoniae.
2. Projetos em Rede dos Genomas Regionais – destinados a apoiar a implantação de redes
regionais para realizar estudos de genomas de organismos de interesse social, econômico e
regional. Atualmente, estão organizadas dez redes de pesquisa que estudam o genoma estrutural
e funcional de organismos de interesse das áreas de saúde e agricultura: Rede do Centro-Oeste,
Rede Genoma do Estado de Minas Gerais, Rede Genoma do Nordeste (ProGene), Programa de
Implantação do Instituto de Biologia Molecular do Paraná, Programa Genoma do Estado do
Paraná (GenoPar), Programa de Implantação da Rede Genoma do Estado do Rio de Janeiro
(RioGEne), Rede Genômica do Estado da Bahia, Rede Amazônia Legal de Pesquisas Genômicas
(REALGENE), Programa de Investigação de Genomas Sul (PIGS) e Rede Genoma do Mato
Grosso do Sul (ANAPLASMA).
3. Projeto Rede Nacional de Proteoma – Tem como finalidade fomentar as bases para o
desenvolvimento de uma rede nacional de laboratórios de pesquisa voltados para o estudo do
proteoma, focado na identificação de moléculas bioativas e marcadores biológicos que possam
ser utilizados para a produção de novas drogas terapêuticas ou novos instrumentos de
diagnóstico clínico. A potencialidade de nossa biodiversidade pode ser abordada por estudos
proteômicos de secreções e venenos de nossa variada fauna, na busca de produtos naturais
bioativos com potencialidade em aplicações medicinais ou biotecnológicas. Estão sendo
implementadas as Redes Estaduais de Pesquisa em Proteoma em 12 Estados. Além disto, e já
foram realizados vários cursos de capacitação em técnicas avançadas em proteômica com a
finalidade de subsidiar o funcionamento das Redes Estaduais.
4. Centro Brasileiro – Argentino de Biotecnologia (CBAB) – cuja missão é promover a
integração para o desenvolvimento científico e tecnológico em atividades comuns aos dois
países. Desde a sua criação o CBAB já ministrou cerca de 100 cursos de curta duração em nível
de pós-graduação, além de organizar simpósios e workshops nos quais foram atendidos cerca de
3.000 brasileiros e argentinos, além de participantes de outros países latino-americanos.
5. Participação das atividades do Centro Internacional de Engenharia Genética e Biotecnologia
(ICGEB) – tem como objetivo fomentar projetos biotecnológicos e promover cursos de
treinamento de curta e longa duração e eventos destinados a fortalecer a base científica dos
países signatários. Entre os temas abordados, estão: dinâmica e evolução do genoma; avaliação
de risco de organismos transgênicos; e bioinformática aplicada a biotecnologia e biodiversidade.
Contratação de estudos em biotecnologia – com o objetivo de realizar o mapeamento das
potencialidades e obstáculos ao desenvolvimento da biotecnologia.

28
6. Apoio ao Projeto Sistema de Informação de Coleções de Interesse Biotecnológico (SICol) –
tem como objetivo disseminar informações sobre os Centros de Recursos Biológicos do Brasil e
estruturar um sistema de informação que sirva de elemento integrador às diversas e diferenciadas
coleções de interesse biotecnológico, econômico e de aplicações industriais. O principal
resultado é o desenvolvimento do Catálogo Virtual que no momento contempla dados das
seguintes coleções: Banco de Germoplasma de Bacillus spp. para controle biológico; Coleção de
Culturas de Bactérias Diazotróficas; Coleção Brasileira de Microrganismos do Ambiente e
Indústria; Coleção de Culturas de Fitopatógenos e Agentes de Controle Biológico de
Fitopatógenos; Coleção de Culturas de Fungos Entomopatogênicos; Coleção de Culturas de
Fitobactérias do Laboratório de Bacteriologia Vegetal; Coleção de Culturas Oswaldo Cruz do
Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde; Coleção de Culturas de Fungos do
Instituto Oswaldo Cruz e Coleção de Culturas do Gênero Bacillus e Gêneros Correlatos. O SICol
também mantém informações atualizadas sobre o número de espécimes (culturas) que cada
coleção mantém nesta base de dados (mais informações: www.sicol.cria.org.br); publicação do
documento “Sistema de Avaliação da Conformidade de Material Biológico”.
7. Acompanhamento e participação de atividades relacionadas à biossegurança de organismos
geneticamente modificados (OGMs). Biossegurança de organismos geneticamente modificados
(OGMs) – Participação nas decisões da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança
(CTNBio); colaboração efetiva na elaboração das proposições da delegação brasileira para a
regulamentação do Protocolo de Cartagena; apresentação de proposta ao GEF para a
coordenação do projeto “Building Capacity for Effective Participation in the Biosafety Clearing
House (BCH) of the Cartagena Protocol”; acompanhamento e sugestões na elaboração do Projeto
de Lei de Biossegurança, que tramitava no Congresso Nacional; apoio à Rede de Biossegurança
da Embrapa

Diversos outros ramos da ciência estão aprofundando cada vez mais os estudos em torno da
biodiversidade. Entre as ações das instituições de pesquisa, pode-se destacar ainda as seguintes
linhas de ação mais específicas:

O Programa Mata Atlântica (PMA) do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de


Janeiro (JBRJ) possui o objetivo de gerar informação e conhecimento taxonômico acerca da
Mata Atlântica, visando à conservação do bioma. As atividades realizadas se enquadram em três
grandes projetos, constitutivos do Programa Mata Atlântica, a saber: 1) Levantamentos
Florísticos e Ambientais, 2) Revegetação e 3) Centro de Informações e Serviços da Mata
Atlântica (CISMA). O Programa tem também importante atuação na formação de recursos
humanos em nível superior, principalmente através de ações no Programa de Pós-Graduação em
Botânica da Escola Nacional de Botânica Tropical (ENBTJBRJ).

Os projetos de pesquisa desenvolvidos no âmbito dos três grandes projetos supracitados são
realizados em unidades de conservação brasileiras. Entre eles, destacam-se os estudos no Parna
do Itatiaia (levantamento florístico, estudo anatômico e de biologia reprodutiva); na Rebio de
Poço das Antas (efeitos da fragmentação de habitats), biodiversidade e conhecimento tradicional
de comunidades rurais, na Rebio União (efeitos da fragmentação e dinâmica florestal), na
Barragem de Saracuruna (estudo florístico e anatômico) e na Reserva Biológica de Tinguá
(estudo florístico e do efeito de borda sobre a estrutura da comunidade de árvores). O Projeto
Revegetação atua na Reserva Biológica de Poços das Antas com a avaliação dos indicadores
ecológicos, edáficos e nos plantios com espécies arbóreas nativas (monitoramento da
regeneração natural). O Projeto Cisma realiza o desenvolvimento da Base Cartográfica
Georeferenciada do PMA (BaseGeo). Dentre os produtos gerados destacam-se inúmeras
publicações científicas e de divulgação nos mais diversos meios de comunicação. Além disso,

29
também é substancial a participação dos integrantes do Programa Mata Atlântica em vários
fóruns de discussão acerca de temas relacionados à Mata Atlântica.

O Museu Paraense Emílio Goeldi pode ser citado como outra instituição de referência dedicada
ao estudo da biodiversidade. As atividades realizadas no sentido da disseminação do
conhecimento incluem, por exemplo, o Treinamento Especial sobre Coleta e Identificação de
Plantas, com o objetivo de qualificar pessoal para realização de inventários biológicos, incluindo
profissionais de nível superior, técnicos e comunitários. Os alunos realizam coleta,
processamento e anotação de dados sobre plantas e o ambiente. Também recebem instruções
sobre como implantar parcelas permanentes de inventário e conhecem as formas de orientação
através de GPS e bússola. O módulo de identificação botânica engloba a caracterização
morfológica de raízes e tronco e a arquitetura das copas das árvores. Até técnicas de rapel são
passadas para os participantes, a fim de capacitá-los para coletar ramos, frutos e sementes nas
copas das árvores15.

Já o Instituto da Biodiversidade e do Manejo Sustentável dos Recursos Naturais (IB) é um dos


três componentes do projeto Universidade da Floresta. Trata-se de uma ação proposta pela
Universidade Federal do Acre, em parceria com os ministérios do Meio Ambiente, da Ciência e
Tecnologia e da Educação, contando com o apoio do governo do Acre, instituições de pesquisa
do Brasil e do exterior, e representantes da sociedade civil organizada, para a implantação de um
programa de pesquisa do e desenvolvimento no vale do rio Juruá. O instituto tem como
princípios “fomentar a interação entre a pesquisa científica e os conhecimentos locais, estimular
a inclusão científica e apoiar a conservação e valorização cultural e econômica da biodiversidade
e dos saberes a ela associados".

Os objetivos do instituto são:


• Consolidar um modelo participativo e justo de política científica para o sudoeste
amazônico.
• Estabelecer um pólo de pesquisa regional, atraindo a comunidade científica nacional e
internacional.
• Integrar as comunidades locais ao processo de produção do conhecimento,
reconhecendo e protegendo seus direitos intelectuais.
• Apoiar o fomento de sistemas tradicionais de geração do conhecimento.
• Promover o desenvolvimento de produtos florestais e de arranjos produtivos locais,
melhorando a qualidade de vida.
• Fortalecer a formação básica de graduação e pós-graduação
• Estruturar uma rede de laboratórios na floresta com atividades de pesquisa construídas
em associação com indígenas, seringueiros e agricultores.
• Apoiar a soberania nacional sobre o patrimônio biológico e sobre o patrimônio material
e imaterial das populações regionais, conforme a Convenção sobre a Diversidade
Biológica.

Cabe lembrar a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira - CEPLAC


responsável por promover a competitividade e sustentabilidade dos segmentos agropecuário,
agroflorestal e agroindustrial para o desenvolvimento das regiões produtoras de cacau, tendo o
cliente como parceiro.

15
Disponível em http://www.museu-goeldi.br/biodiversidade/not_0007_07.asp, acessado em 14/3/2006.

30
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA – é vinculada ao Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento e foi criada em 26 de abril de 1973. Sua missão é
viabilizar soluções para o desenvolvimento sustentável do espaço rural, com foco no
agronegócio, por meio da geração, adaptação e transferência de conhecimentos e tecnologias, em
benefício dos diversos segmentos da sociedade brasileira. A Embrapa atua por intermédio de 37
Centros de Pesquisa, três Serviços e 11 Unidades Centrais, estando presente em quase todos os
Estados da Federação, nas mais diferentes condições ecológicas. Para chegar a ser uma das
maiores instituições de pesquisa do mundo tropical, a Empresa investiu, sobretudo, no
treinamento de recursos humanos, possuindo, hoje, 8.619 empregados, dos quais 2.221 são
pesquisadores, 45% com mestrado e 53% com doutorado. Está sob a sua coordenação o Sistema
Nacional de Pesquisa Agropecuária-SNPA, constituído por instituições públicas federais,
estaduais, universidades, empresas privadas e fundações, que, de forma cooperada, executam
pesquisas nas diferentes áreas geográficas e campos do conhecimento científico.

4. AVALIAÇÃO AMBIENTAL

4.1. Impactos Positivos

As atividades do Projeto Nacional de Ações Integradas Público-Privadas para Biodiversidade


foram concebidas para trazer impactos ambientais positivos, pois todas elas se destinam a
complementar os esforços do Brasil para implementar a Convenção da Diversidade Biológica –
CDB16 e a atingir suas metas para 201017. Para tal, o Projeto pretende elevar a biodiversidade a
uma condição de elemento prioritário nos processos de tomada de decisão nos setores público e
privado no Brasil. O Projeto irá levar técnicas sustentáveis a múltiplos setores econômicos e
políticos, demonstrando a viabilidade da ação ecológica em modelos racionalmente planejados,
incentivando sua propagação.

A implementação do Projeto está a cargo das autoridades nacionais em matéria ambiental - o


Ministério do Meio Ambiente, o Ibama e o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que trazem
consigo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Ministério da Saúde, o
Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Ministério da Ciência e Tecnologia, além de
instituições federais de referência nas áreas da pesquisa e ação, como a Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária - Embrapa e a Fundação Oswaldo Cruz.

Além da mudança na forma como a biodiversidade é tratada no Brasil, espera-se que o Instituto
Virtual da Biodiversidade, um dos resultados do Projeto, perenize e multiplique a abordagem
ecológica territorializada, servindo como referência para outras iniciativas semelhantes de

16
A Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB é um dos principais resultados da Conferência das Nações
Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – CNUMAD (Rio 92), realizada no Rio de Janeiro, em junho de
1992. É uma das mais importantes convenções ambientais e funciona como um guarda-chuva legal/político para
diversas convenções e acordos ambientais mais específicos. A CDB é o principal fórum mundial na definição do
marco legal e político para temas e questões relacionadas à biodiversidade. 168 países assinaram a CDB e 188 países
já a ratificaram, tendo estes últimos se tornado parte da Convenção.
17
Acordou-se em 2002, durante a 6ª Conferência das Partes da CDB (COP 6) em “atingir até 2010 uma significativa
redução na atual taxa de perda de biodiversidade na escala global, regional e nacional, como uma contribuição para a
diminuição da pobreza e para o benefício de toda vida na Terra”. Tal decisão foi referendada na Cúpula Mundial
sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio + 10), em Johanesburgo. (ver http://2010.biodiv.org/2010/target.shtml)

31
priorização da biodiversidade e tornando-se um fórum agregador de idéias e discussões sobre a
conservação e uso sustentável da biodiversidade brasileira.

O componente de priorização da biodiversidade no setor privado está a cargo do Fundo


Brasileiro para a Biodiversidade - Funbio, instituição nacional sem fins lucrativos, que há 10
anos fomenta projetos de conservação e uso sustentável, sob as melhores práticas de gestão
difundidas pelo Banco Mundial e pelo GEF.

A ação combinada das diversas atividades previstas para os seis anos do Projeto deverá
provocar os seguintes impactos globais positivos no setor de biodiversidade no Brasil:

• Redução das taxas de perda de biodiversidade;


• Proteção de espécies nativas ameaçadas de extinção;
• Manejo de espécies exóticas invasoras;
• Incremento da capacidade nacional para pesquisar, avaliar e monitorar a
biodiversidade;
• Recuperação de solo degradado por ação antrópica;
• Recuperação de pastagens degradadas;
• Restauração de habitats naturais;
• Conservação de recursos pesqueiros;
• Conservação e monitoramento da qualidade dos recursos hídricos;
• Difusão de modelos produtivos com bases ecológicas, entre eles a agricultura orgânica;
• Redução das contaminações do solo e dos recursos hídricos por poluentes orgânicos
persistentes;
• Diversificação da produção agrícola, em favor das espécies nativas, e em detrimento
das práticas de monocultura;
• Engajamento do setor produtivo na causa da biodiversidade;
• Implementação de territórios sob gestão ambiental integrada;
• Incremento da capacidade de atuação em questões relacionadas ao patrimônio genético
e ao conhecimento tradicional associado ao uso da biodiversidade;
• Incremento da coordenação entre instituições brasileiras e de sua capacidade de
incorporar questões relacionadas à biodiversidade de forma sustentável;
• Incorporação das estratégias para conservação e uso sustentável da biodiversidade em
políticas, programas, projetos e planos de desenvolvimento nos governos federal e
secundariamente nos governos estaduais;
• Incremento do conhecimento científico sobre a biodiversidade nacional;
• Capacitação de recursos humanos especializados em questões de biodiversidade em
múltiplos setores;
• Consolidação e fortalecimento da capacidade técnica e organizacional para
desenvolvimento e implementação da Política Nacional de Biodiversidade - PNB18;
• Monitoramento e avaliação da biodiversidade brasileira para prover informação
essencial aos tomadores de decisão e monitorar o alcance das metas de 2010 da CDB;

18
Os principais objetivos da PNB são: promover a integração de políticas nacionais do governo e da sociedade;
estimular a cooperação interinstitucional e internacional para a melhoria da implementação das ações de gestão da
biodiversidade; conhecer, conservar e valorizar a diversidade biológica brasileira; proteger áreas naturais relevantes;
promover o uso sustentável da biodiversidade; e, respeitar, preservar e incentivar o uso do conhecimento, das
inovações e das práticas das comunidades tradicionais.

32
• Promoção do uso sustentável dos recursos genéticos e a promoção de sua valoração por
pelo uso.

4.2. Potenciais Impactos Negativos


Cada atividade prevista no escopo do Projeto foi analisada de forma participativa, segundo
conhecimento técnico-científico dos parceiros proponentes. O exercício de antever de forma
exaustiva os potenciais impactos negativos foi feito de modo a evitar que tais impactos ocorram
e para mitigar seu potencial de ocorrência.

Uma avaliação detalhada ds lista de potenciais impactos indica que pela adoção do princípio
básico do próprio Projeto, com a biodiversidade no centro de todas as tomadas de decisões, tanto
nas atividades programáticas quanto não-programáticas, leva a uma diminuição significativa do
potencial de ocorrência dos mesmos. Assim, uma vez que os parceiros estão comprometidos em
perseguir a implementação da Convenção da Diversidade Biológica e promover sinergias com as
demais convenções das quais o Brasil é signatário, o risco de que o potencial desses impactos se
realize é muito baixo.

Essa probabilidade, entretanto, não reduziu o nível de exigência desta análise, que ressalta a
importância da observância das medidas de mitigação descritas na Matriz de Impactos anexada a
este documento (Anexo1). Segue uma lista dos potenciais impactos negativos ao meio ambiente,
considerados os mais prováveis, pela implementação de algumas atividades previstas no Projeto:

• Opção dos produtores por atividades econômicas de maior impacto ambiental e


rentabilidade, e êxodo rural pela dificuldade de organização em
associações/cooperativas, implicando em baixa agregação de valor ao produto;
• Desequilíbrio ambiental devido à superexploração de algumas espécies (plantas nativas
com potencial forrageiro);
• Contaminação de água e do solo pelo uso indiscriminado de insumos orgânicos, como
biofertilizantes e caldas;
• Captura de indivíduos da fauna nativa com ou sem coleta para diagnóstico da espécie e
seus patógenos;
• Risco de contágio de patógenos entre animais coletados e pesquisadores;

33
5. ANÁLISE AMBIENTAL
5.1. Panorama ambiental

A dimensão territorial brasileira impõe desafios relativos à ocupação, ao uso e manejo do seu
imenso e diversificado espaço. A questão se agrava devido aos extensos territórios inabitados,
aos intensos contrastes socioeconômicos e agroecológicos entre as regiões geográficas, à
dinâmica acelerada do uso das terras, ao avanço da fronteira agrícola, ao avanço do arco de
desmatamento, à baixa capacidade de promoção da observância das legislações ambientais, às
deficiências na infra-estrutura de transportes e comunicação e à carência de recursos humanos
adequadamente preparados.

Todas estas problemáticas compõem um cenário de grande complexidade a ser gerenciado pelo
planejamento territorial no Brasil, onde o elenco de alternativas de ocupação e uso é muito
variado. A pluralidade de atividades antrópicas é amplificada pelas distintas configurações dos
sistemas de produção adotadas, traduzindo-se em diferentes níveis de sustentabilidade e, em
grande parte das situações, em muitos impactos ambientais.

5.1.1. Biomas brasileiros19


O Brasil tem uma área de 8,5 milhões km², ocupando quase a metade da América do Sul. Essa
área possui várias zonas climáticas que incluem o trópico úmido no norte, o semi-árido no
nordeste e áreas temperadas no sul. As diferenças climáticas contribuem para as diferenças
ecológicas formando zonas biogeográficas que constituem diferentes biomas20. A maior floresta
tropical úmida (Floresta Amazônica) e a maior planície inundável (o Pantanal) do mundo se
encontram nesses biomas, além do Cerrado (savanas e bosques), da Caatinga (florestas semi-
áridas), do Pampa e da Mata Atlântica (floresta tropical pluvial). O Brasil possui uma costa
marinha de 3,5 milhões km² com uma variedade de ecossistemas que incluem recifes de corais,
dunas, manguezais, lagoas, estuários e pântanos.
A apresentação dos principais aspectos de cada bioma brasileiro respeita a organização
empregada pelo Ministério do Meio Ambiente nos processos de definição de ações e áreas
prioritárias para a conservação da biodiversidade em nível nacional.

19
MMA (2002). Políticas Públicas e Biodiversidade no Brasil.
20
Bioma é conceituado como um conjunto de vida (vegetal e animal) constituído pelo agrupamento de tipos de
vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história
compartilhada de mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica própria.

34
MAPA 1: Divisão dos Biomas Brasileiros21

TABELA 2: Extensão dos biomas brasileiros

Amazônia

O bioma Amazônia corresponde a quase 50% do território nacional, com uma superfície de
aproximadamente 4 milhões de km2, representando 78% da cobertura vegetal do país e
abrangendo nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima,
Tocantins e Maranhão. Além de rica fauna e flora, a Amazônia possui também ampla
diversidade de substrato geológico, solos, climas e a maior bacia hidrográfica do mundo. A

21
http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=169&id_pagina=1

35
Amazônia é assim considerada o maior "banco genético" natural do planeta, detendo cerca de 1/3
do estoque genético global22.

O estágio de conservação da Amazônia apresenta condições e potencialidades que permitem


situá-la como um caso especial de desenvolvimento em termos mundiais, de modo a promover,
mediante um planejamento inovador, a utilização sustentável de sua imensa e diversificada base
de recursos. O pleno aproveitamento dessas vantagens, entretanto, requer a superação de
deficiências estruturais, de modo a segurar a sustentabilidade de seu processo de crescimento,
que tem como fundamento a reestruturação de sua base produtiva23.

Apesar de ser relativamente pouco desenvolvida em comparação aos demais biomas, a


Amazônia apresentou nos últimos anos um acelerado processo de mudança na sua estrutura
produtiva, padrão tecnológico e densidade espacial, o que provocou forte pressão ambiental. De
modo geral, o uso e a ocupação do solo da Amazônia são caracterizados pelo extrativismo
vegetal e animal – incluindo a extração da madeira – pela pecuária, por madeireiras e pela
agricultura de subsistência, bem como pelo cultivo de espécies vegetais arbustivo-arbóreas. A
produção de grãos recobre parcelas contínuas expressivas. A mineração e o garimpo (atividades
pontuais) e a infra-estrutura regional (atividades pontuais e lineares) também são responsáveis
pela alteração dos ecossistemas naturais. Nos arredores de núcleos urbanos e áreas de ocupação
mais antigas, uma boa parte das terras, outrora desmatadas, encontra-se recoberta ora por
capoeiras ora por florestas nativas nos seus vários estágios de crescimento e regeneração.
Estima-se que 15% da Amazônia já foi desmatada. A Tabela 1: Quadro Geral dos Principais
Impactos Ambientais na Região Amazônica apresenta a síntese das atividades que ameaçam a
integridade do bioma, localizando-as segundo a área de ocorrência e os impactos ambientais
negativos delas decorrentes.

22
http://www.inpa.gov.br/frameamazonia.html e http://www2.ibama.gov.br/ecossis/index0.htm
23
http://www.integracao.gov.br/desenvolvimentoregional/programas_e_acoes/index.shtml

36
TABELA 1: Quadro Geral dos Principais Impactos Ambientais na Região Amazônica24

ATIVIDADES DE MAIOR ÁREAS DE OCORRÊNCIA TIPO DE DEGRADAÇÃO


POTENCIAL DE
IMPACTO AMBIENTAL
Garimpo de ouro Rondônia · Assoreamento e erosão nos cursos d'água
Amapá · Poluição das águas, aumento da turbidez e metais pesados
Pará · Formação de núcleos populacionais com grandes problemas
Amazonas (diversas sub-bacias dos rios sociais
Amazonas, Madeira e Tapajós) · Degradação da paisagem
· Degradação da vida aquática com conseqüências diretas sobre a
pesca e a população.
Mineração industrial, Ferro, Amapá · Degradação da paisagem
Manganês, Cassiterita, Cobre, Amazonas · Poluição e assoreamento dos cursos d'água
Bauxita, etc. Pará-Carajás · Esterilização de grande áreas
Rondônia · Impactos sócio-econômicos
Atividades agrícolas , Toda a Amazônia, próximo às estradas e · Incêndios florestais,
independentemente do porte grandes cidades - Destruição da fauna e flora
· Contaminação dos cursos d'água por agrotóxicos
· Erosão e assoreamento dos cursos d'água
· Destruição de áreas de produtividade natural
Grandes Usinas Hidrelétricas Balbina (AM) · Impacto cultural - provas indígenas
· Impacto sócio-econômico
· Inundação de áreas florestais, agrícolas, vilas, etc
· Impacto sobre flora, fauna e ecossistemas adjacentes.
Indústrias de Ferro Gusa Estado do Pará (Programa Grande Carajás) · Demanda de carvão vegetal de floresta nativa, desmatamento da
floresta Amazônica
· Exportação de energia a baixo valor e alto custo ambiental
· Poluição das águas, ar e solo
Pólos industriais e/ou grandes Centro Industrial de Manaus (Zona Franca) · Poluição do ar, água e solo
indústrias · Geração de resíduos tóxicos
· Conflitos com o meio urbano
Construção da rodovia Fixos da rodovia e suas interligações · Grandes migrações e grandes êxodos
Transamazônica · Destruição da cultura indígena
· Grandes projetos agropecuários, grandes queimadas
· Propagação de doenças endêmicas
· Explosão demográfica e todas as conseqüências do processo
Caça e pesca predatórias Em toda a Amazônia, próximo às estradas e · Extinção de mamíferos aquáticos e diminuição de populações
grandes cidades de quelônios e peixes da Bacia Amazônica
· Drástica redução de animais de valores econômico e ecológico
Indústrias de Alumínio Belém · Poluição atmosférica
· Poluição marinha
· Impactos indiretos pela enorme demanda de energia elétrica
Crescimento populacional Rondônia · Problemas sociais graves, chegando - em alguns casos - a um
vertiginoso (migração interna) Manaus aumento de 40% da população entre 1970 e 1980
Belém · Ocupação desordenada do solo com sérias conseqüências sobre
Amapá os recursos naturais
Exploração madeireira e Arco de desmatamento - Degradação da paisagem;
florestal - Destruição da fauna e flora

24
Baseado nas informações do endereço eletrônico: http://www.sivam.gov.br/TECNO/impam2.htm

37
Cerrado25
A área nuclear ou “core” do Cerrado está distribuída, principalmente, pelo Planalto Central
Brasileiro, nos Estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, parte de Minas
Gerais, Bahia e Distrito Federal, abrangendo 196.776.853 ha. Há outras áreas de Cerrado,
chamadas periféricas ou ecótonos, que são transições com os biomas Amazônia, Mata Atlântica e
Caatinga.
Os Cerrados são, assim, reconhecidos devido às suas diversas formações ecossistêmicas. Sob o
ponto de vista fisionômico temos: o cerradão, o cerrado típico, o campo cerrado, o campo sujo de
cerrado, e o campo limpo que apresentam altura e biomassa vegetal em ordem decrescente. O
cerradão é a única formação florestal.
O Cerrado típico é constituído por árvores relativamente baixas (até vinte metros), esparsas,
disseminadas em meio a arbustos, subarbustos e uma vegetação baixa constituída, em geral, por
gramíneas. Assim, o Cerrado contém basicamente dois estratos: um superior, formado por
árvores e arbustos dotados de raízes profundas que lhes permitem atingir o lençol freático,
situado entre 15 a 20 metros; e um inferior, composto por um tapete de gramíneas de aspecto
rasteiro, com raízes pouco profundas, no qual a intensidade luminosa que as atinge é alta, em
relação ao espaçamento. Na época seca, este tapete rasteiro parece palha, favorecendo,
sobremaneira, a propagação de incêndios.
A típica vegetação que ocorre no Cerrado possui seus troncos tortuosos, de baixo porte, ramos
retorcidos, cascas espessas e folhas grossas. Os estudos efetuados consideram que a vegetação
nativa do Cerrado não apresenta essa característica pela falta de água – pois, ali se encontra uma
grande e densa rede hídrica – mas sim, devido a outros fatores edáficos (de solo), como o
desequilíbrio no teor de micronutrientes, a exemplo do alumínio.
O Cerrado brasileiro é reconhecido como a savana mais rica do mundo em biodiversidade com
a presença de diversos ecossistemas, riquíssima flora com mais de 10.000 espécies de plantas,
com 4.400 endêmicas (exclusivas) dessa área. A fauna apresenta 837 espécies de aves; 67
gêneros de mamíferos, abrangendo 161 espécies e dezenove endêmicas; 150 espécies de
anfíbios, das quais 45 endêmicas; 120 espécies de répteis, das quais 45 endêmicas; apenas no
Distrito Federal, há 90 espécies de cupins, mil espécies de borboletas e 500 espécies de abelhas e
vespas.
Até a década de 1950, os Cerrados mantiveram-se quase inalterados. A partir da década de
1960, com a interiorização da capital e a abertura de uma nova rede rodoviária, largos
ecossistemas deram lugar à pecuária e à agricultura extensiva, como a soja, arroz e ao trigo. Tais
mudanças se apoiaram, sobretudo, na implantação de novas infra-estruturas viárias e energéticas,
bem como na descoberta de novas vocações desses solos regionais, permitindo novas atividades
agrárias rentáveis, em detrimento de uma biodiversidade até então pouco alterada.
Durante as décadas de 1970 e 1980 houve um rápido deslocamento da fronteira agrícola, com
base em desmatamentos, queimadas, uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos, que resultou em
cerca de 40%-60% do Cerrado “modificado”. Algumas dessas áreas apresentam voçorocas,
assoreamentos e depreciação dos ecossistemas. O mapeamento dos remanescentes do Cerrado,
apoiado pelo MMA com base em imagens de 2002, revelou que restam entre 40% a 60% de
remanescentes, dependendo se as áreas campestres usadas como pastagens são consideradas
como áreas remanescentes ou não.

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38
A partir da década de 1990, governos e diversos setores organizados da sociedade debatem
como conservar o Cerrado, com a finalidade de buscar tecnologias embasadas no uso adequado
dos recursos hídricos, na extração de produtos vegetais nativos, nos criadouros de animais
silvestres, no ecoturismo, na agricultura sustentável e outras iniciativas que possibilitem um
modelo de desenvolvimento sustentável e justo.

Pantanal26
A CIMA - Comissão Interministerial para Preparação da Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento-SI/PR, 1991, define o Pantanal mato-grossense como “a
maior planície de inundação contínua do planeta”. Sua localização geográfica é de particular
relevância, uma vez que representa o elo de ligação entre o Cerrado, no Brasil Central, o Chaco,
na Bolívia, e a região Amazônica, ao Norte, identificando-se, aproximadamente, com a bacia do
alto Paraguai.
O Pantanal funciona como um grande reservatório, provocando uma defasagem de até cinco
meses entre as vazões de entrada e saída. O regime de verão determina enchentes entre
novembro e março no norte e entre maio e agosto no sul, neste caso sob a influência reguladora
do Pantanal.
Os solos, de modo geral, apresentam limitações à lavoura. Nas planícies pantaneiras
sobressaem solos inférteis (lateritas) em áreas úmidas (hidromórficas) e planossolos, além de
várias outras classes, todos alagáveis, em maior ou menor grau, e de baixa fertilidade. Nos
planaltos, embora predominem também solos com diversas limitações à agricultura, sobretudo à
fertilidade, topografia ou escassez de água, existem situações favoráveis.
Como área de transição, a região do Pantanal ostenta um mosaico de ecossistemas terrestres,
com afinidades, sobretudo com os Cerrados e, em parte, com a floresta Amazônica, além de
ecossistemas aquáticos e semi-aquáticos, interdependentes em maior ou menor grau. Os planaltos
e as terras altas da bacia superior são formados por áreas escarpadas e testemunhos de planaltos
erodidos, conhecidos localmente como serras. São cobertos por vegetações predominantemente
abertas, tais como campos limpos, campos sujos, cerrados e cerradões, determinadas,
principalmente, por fatores de solo (edáficos) e climáticos e, também, por florestas úmidas,
prolongamentos do ecossistema amazônico.
A planície inundável que forma o Pantanal, propriamente dito, representa uma das mais
importantes áreas úmidas da América do Sul. Nesse espaço podem ser reconhecidas planícies de
baixa, média e alta inundação, destacando-se os ambientes de inundação fluvial generalizada e
prolongada. Esses ambientes, periodicamente inundados, apresentam alta produtividade
biológica, grande densidade e diversidade de fauna.
A ocupação da região, de acordo com pesquisas arqueológicas, se deu há, aproximadamente,
dez mil anos por grupos indígenas. A adequação de atividades econômicas ao Pantanal surgiu do
processo de conquista e aniquilamento dos índios Guatós e Guaicurus por sertanistas. Foi
possível implantar a pecuária na planície inundável, que se tornaria a única economia estável e
permanente até os nossos dias. Dentro de um enfoque macroeconômico, a planície representou,
no passado, um grande papel no abastecimento de carne para outros estados do país.
Uma série de atividades de impacto direto sobre o Pantanal pode ser observada, como garimpo
de ouro e diamantes, caça, pesca, turismo e agropecuária não sustentável, construção de rodovias
e hidrelétricas. Convém frisar a importância das atividades extensivas nos planaltos circundantes
como uma das principais fontes de impactos ambientais negativos sobre o Pantanal.

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39
O processo de expansão da fronteira, ocorrido principalmente após 1970, foi a causa
fundamental do crescimento demográfico do Centro-Oeste brasileiro. A região da planície
pantaneira, com sua estrutura fundiária de grandes propriedades voltadas para a pecuária em suas
áreas alagadiças, não se incorporou ao processo de crescimento populacional. Não houve
aumento significativo em número ou população das cidades pantaneiras. No planalto, contudo, o
padrão de crescimento urbano foi acelerado. Como todas as cidades surgidas ou expandidas
nessa época, as de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul não tinham e nem têm infra-estrutura
adequada para minimizar o impacto ambiental do crescimento acelerado, causado,
principalmente, pelo lançamento de esgotos domésticos ou industriais nos cursos d’água da
bacia. Esse tipo de poluição repercute diretamente na planície pantaneira, que recebe os
sedimentos e resíduos das terras altas.
O mesmo processo de expansão da fronteira foi responsável pelo aproveitamento dos cerrados
para a agropecuária, o que causou o desmatamento de vastas áreas do planalto para a
implantação de lavouras de soja e arroz, além de pastagens. O manejo agrícola inadequado
nessas lavouras resultou, entre outros fatores, em erosão de solos e no aumento significativo de
carga de partículas sedimentáveis de vários rios. Além disso, agrava-se o problema de
contaminação dos diversos rios com pesticidas e fertilizantes.
A presença de ouro e diamantes na baixada cuiabana e nas nascentes dos rios Paraguai e São
Lourenço vem atraindo milhares de garimpeiros, cuja atividade causa o assoreamento e
compromete a produtividade biológica de córregos e rios, além de contaminá-los com mercúrio.

Mata Atlântica27
Em termos gerais, a Mata Atlântica pode ser vista como um mosaico diversificado de
ecossistemas, apresentando estruturas e composições florísticas diferenciadas, em função de
diferenças de solo, relevo e características climáticas existentes na ampla área de ocorrência
desse bioma no Brasil.
Atualmente, restam cerca de 7,3% de sua cobertura florestal original, tendo sido inclusive
identificada como a quinta área mais ameaçada e rica em espécies endêmicas do mundo. Na
Mata Atlântica existem 1.361 espécies da fauna brasileira, com 261 espécies de mamíferos, 620
de aves, 200 de répteis e 280 de anfíbios, sendo que 567 espécies só ocorrem nesse bioma.
Possui, ainda, cerca de 20 mil espécies de plantas vasculares, das quais 8 mil delas também só
ocorrem na Mata Atlântica. Várias espécies da fauna são bem conhecidas pela população, tais
como os mico-leões e muriquis, espécies de primatas dos gêneros Leontopithecus e Brachyteles,
respectivamente. Vale lembrar que, no sul da Bahia, foi identificada, recentemente, a maior
diversidade botânica do mundo para plantas lenhosas, ou seja, foram registradas 454 espécies em
um único hectare.
A exploração da Mata Atlântica vem ocorrendo desde a chegada dos portugueses ao Brasil,
cujo interesse primordial era a exploração do pau-brasil. O processo de desmatamento prosseguiu
durante os ciclos da cana-de-açúcar, do ouro, da produção de carvão vegetal, da extração de
madeira, da plantação de cafezais e pastagens, da produção de papel e celulose, do
estabelecimento de assentamentos de colonos, da construção de rodovias e barragens, e de um
amplo e intensivo processo de urbanização, com o surgimento das maiores capitais do país, como
São Paulo, Rio de Janeiro, e de diversas cidades menores e povoados.
A sua área atual encontra-se altamente reduzida e fragmentada com seus remanescentes
florestais localizados, principalmente, em áreas de difícil acesso. A preservação desses

27
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40
remanescentes vem garantindo a contenção de encostas, propiciando oportunidades para desfrute
de exuberantes paisagens e desenvolvimento de atividades voltadas ao ecoturismo, além de servir
de abrigo para várias populações tradicionais, incluindo nações indígenas. Além disso, nela estão
localizados mananciais hídricos essenciais para abastecimento de cerca de 70% da população
brasileira, que nela habitam.
A conservação da Mata Atlântica tem sido buscada por setores do governo, da sociedade civil
organizada, instituições acadêmicas e setor privado. Vários estudos e iniciativas têm sido
desenvolvidos nos últimos anos, gerando um acervo de conhecimento e experiência significativo.
Vale ressaltar, também, a existência de um amplo arcabouço legal para a proteção do bioma.
Principais agressões à Mata Atlântica:
Está sendo derrubada para:
• Extração de madeira;
• Moradia, construção de cidades;
• Agricultura;
• Industrialização, e conseqüentemente poluição;
• Construção de rodovias.
Além de derrubada, sofre:
• Pesca predatória em seus rios;
• Turismo desordenado;
• Comércio ilegal de plantas e animais nativos;
• Exportação ilegal de material genético;
• Fragmentação das áreas preservadas.

A Avaliação e Ações Prioritárias para Conservação dos Biomas Floresta Atlântica e Campos
Sulinos (ou Pampa) determinou os níveis de pressão antrópica decorrentes das atividades
humanas mediante a superposição dos dados provenientes do Índice de Pressão Antrópica (IPA)
com o mapa de remanescentes da Mata Atlântica. O IPA consiste em uma metodologia do tipo
estoque-fluxo, baseada em dados municipais sobre densidade e crescimento da população urbana
e rural, grãos (arroz, milho, feijão, soja e trigo) e bovinos. Os dados em questão existem para
todos os municípios, oferecendo uma visão geral e cobertura sistemática de todos os municípios.
A partir das áreas evidenciadas pelo IPA foi realizada uma regionalização na qual as áreas foram
delineadas agregando conjuntos de municípios com pressão alta ou muito alta. Como resultado
final, foram definidas 34 áreas, divididas em dois grupos distintos: I) áreas de pressão alta
(extrema), que correspondem às proximidades de regiões metropolitanas, algumas cidades de
médio porte, como São José dos Campos, Juiz de Fora e Dourados, ao longo da BR-101 no
Nordeste e pontos dispersos no interior de São Paulo, oeste do Paraná e Santa Catarina; e II)
áreas de pressão antrópica média-alta, com pressões específicas e que merecem atenções
especiais. Tais áreas encontram-se no vale do Jequitinhonha e oeste da Bahia, vale do médio
Paraíba, vale do Ribeira e litoral de São Paulo. As especificidades incluem hidrovias,
silvicultura, extração de madeira, produção de carvão vegetal com espécies nativas, tráfico de
animais silvestres, barragens, assentamentos, migração pendular, especulação imobiliária e
estagnação de atividades sustentáveis (cacau), entre outras. (Relatório do grupo temático de
socioeconomia - Workshop do Subprojeto "Avaliação e Ações Prioritárias para Conservação dos
Biomas Floresta Atlântica e Campos Sulinos". 1999).

41
Pampa28
O Pampa foi denominado de “Campos sulinos” pelo estudo de prioridades para a conservação
e o uso sustentável da biodiversidade da Mata Atlântica e dos Campos Sulinos do MMA/Probio,
elaborado pela Conservação Internacional, Fundação SOS Mata Atlântica, Fundação
Biodiversitas, Instituto de Pesquisas Ecológicas, Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São
Paulo e SEMAD/Instituto Estadual de Florestas-MG.
Os campos, em geral, parecem ser formações edáficas (do próprio solo) e não climáticas. A
pressão do pastoreio e a prática do fogo não permitem o estabelecimento da vegetação arbustiva,
como se verifica em vários trechos da área de distribuição dos Campos do Sul.
A região geomorfológica do planalto de Campanha, a maior extensão de campos do Rio
Grande do Sul, é a porção mais avançada para oeste e para o sul do domínio morfoestrutural das
bacias e coberturas sedimentares. Nas áreas de contato com o arenito botucatu, ocorrem os solos
podzólicos vermelho-escuros, principalmente a sudoeste de Quaraí e a sul e sudeste de Alegrete,
onde se constata o fenômeno da desertificação. São solos, em geral, de baixa fertilidade natural e
bastante suscetíveis à erosão.
À primeira vista, a vegetação campestre mostra uma aparente uniformidade, apresentando nos
topos mais planos um tapete herbáceo baixo – de 60 cm a 1 m -, ralo e pobre em espécies, que se
torna mais denso e rico nas encostas, predominando gramíneas, compostas e leguminosas; os
gêneros mais comuns são: Stipa, Piptochaetium, Aristida, Melica, Briza. Sete gêneros de cactos e
bromeliáceas apresentam espécies endêmicas da região. A mata aluvial apresenta inúmeras
espécies arbóreas de interesse comercial.
Na Área de Proteção Ambiental do Rio Ibirapuitã, inserida neste bioma, ocorrem formações
campestres e florestais de clima temperado, distintas de outras formações existentes no Brasil.
Além disso, abriga 11 espécies de mamíferos raros ou ameaçados de extinção, ratos d’água,
cervídeos e lobos, e 22 espécies de aves nesta mesma situação. Pelo menos uma espécie de peixe,
cará (Gymnogeophagus sp., Família Cichlidae) é endêmica da bacia do rio Ibirapuitã.

Caatinga29
O bioma Caatinga é o principal ecossistema existente na Região Nordeste, estendendo-se pelo
domínio de climas semi-áridos, numa área de 73.683.649 ha, 6,83% do território nacional; ocupa
10 estados: Bahia, Ceará, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe, Alagoas,
Maranhão e Minas Gerais. O termo Caatinga é originário do tupi-guarani e significa mata branca.
É um bioma único pois, apesar de estar localizado em área de clima semi-árido, apresenta grande
variedade de paisagens, relativa riqueza biológica e endemismo. A ocorrência de secas
estacionais e periódicas estabelece regimes intermitentes aos rios e deixa a vegetação sem folhas.
A folhagem das plantas volta a brotar e fica verde nos curtos períodos de chuvas.
A Caatinga é dominada por tipos de vegetação com características xerofíticas – formações
vegetais secas, que compõem uma paisagem cálida e espinhosa – com estratos compostos por
gramíneas, arbustos e árvores de porte baixo ou médio (3 a 7 metros de altura), caducifólias
(folhas que caem), com grande quantidade de plantas espinhosas (exemplo: leguminosas),
entremeadas de outras espécies como as cactáceas e as bromeliáceas.

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42
Levantamentos sobre a fauna do domínio da Caatinga revelam a existência de 40 espécies de
lagartos, sete espécies de anfisbenídeos (espécies de lagartos sem pés), 45 espécies de serpentes,
quatro de quelônios, uma de Crocodylia, 44 anfíbios anuros e uma de Gymnophiona.
A Caatinga tem sido ocupada desde os tempos do Brasil-Colônia com o regime de sesmarias e
sistema de capitanias hereditárias, por meio de doações de terras, criando-se condições para a
concentração fundiária. De acordo com o IBGE, 27 milhões de pessoas vivem atualmente no
polígono das secas. A extração de madeira, a monocultura da cana-de-açúcar e a pecuária nas
grandes propriedades (latifúndios) deram origem à exploração econômica. Na região da
Caatinga, ainda é praticada a agricultura de sequeiro.
Os ecossistemas do bioma Caatinga encontram-se bastante alterados, com a substituição de
espécies vegetais nativas por cultivos e pastagens. O desmatamento e as queimadas são ainda
práticas comuns no preparo da terra para a agropecuária que, além de destruir a cobertura
vegetal, prejudica a manutenção de populações da fauna silvestre, a qualidade da água, e o
equilíbrio do clima e do solo. Aproximadamente 80% dos ecossistemas originais já foram
antropizados.

Sistemas Costeiros30
Embora o Mapa dos Biomas do IBGE de 2004 não inclua o mapeamento das formações
costeiras as mesmas estão aqui apresentadas devido a forte pressão sofrida por estas áreas.
A costa brasileira abriga um mosaico de ecossistemas de alta relevância ambiental. Ao longo
do litoral brasileiro podem ser encontrados manguezais, restingas, dunas, praias, ilhas, costões
rochosos, baías, brejos, falésias, estuários, recifes de corais e outros ambientes importantes do
ponto de vista ecológico, todos apresentando diferentes espécies animais e vegetais e outros. Isso
se deve, basicamente, às diferenças climáticas e geológicas da costa brasileira. Além do mais, é
na zona costeira que se localizam as maiores presenças residuais de Mata Atlântica. Ali a
vegetação possui uma biodiversidade superior no que diz respeito à variedade de espécies
vegetais. Também os manguezais, de expressiva ocorrência na zona costeira, cumprem funções
essenciais na reprodução biótica da vida marinha. Enfim, os espaços litorâneos possuem riquezas
significativas de recursos naturais e ambientais, mas a intensidade de um processo de ocupação
desordenado vem colocando em risco todos os ecossistemas presentes na costa litorânea do
Brasil.
O litoral amazônico vai da foz do rio Oiapoque ao delta do rio Parnaíba. Apresenta grande
extensão de manguezais exuberantes, assim como matas de várzeas de marés, campos de dunas e
praias. Apresenta uma rica biodiversidade em espécies de crustáceos, peixes e aves.
O litoral nordestino começa na foz do rio Parnaíba e vai até o Recôncavo Baiano. É marcado
por recifes calcíferos e areníticos, além de dunas que, quando perdem a cobertura vegetal que as
fixam, movem-se com a ação do vento. Há ainda nessa área manguezais, restingas e matas. Nas
águas do litoral nordestino vivem o peixe-boi marinho e as tartarugas, ambos ameaçados de
extinção.
O litoral sudeste segue do Recôncavo Baiano até São Paulo. É a área mais densamente
povoada e industrializada do país. Suas áreas características são as falésias, os recifes e as praias
de areias monazíticas (mineral de cor marrom-escura). É dominada pela Serra do Mar e tem a
costa muito recortada, com várias baías e pequenas enseadas. O ecossistema mais importante

30
http://www.ibama.gov.br/ecossistemas/

43
dessa área é a mata de restinga. Essa parte do litoral é habitada pela preguiça-de-coleira e pelo
mico-leão-dourado (espécies ameaçadas de extinção).
O litoral sul começa no Paraná e termina no Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul. Com muitos
banhados e manguezais, o ecossistema da região é riquíssimo em aves, mas há também outras
espécies: ratão-do-banhado, lontras (também ameaçados de extinção), capivaras.
A densidade demográfica média da zona costeira brasileira fica em torno de 87 hab./km2, cinco
vezes superior à média nacional que é de 17 hab./km2. Pela densidade demográfica nota-se que a
formação territorial foi estruturada a partir da costa, tendo o litoral como centro difusor de
frentes povoadoras, ainda em movimento na atualidade. Hoje, metade da população brasileira
reside numa faixa de até duzentos quilômetros do mar, o que equivale a um efetivo de mais de 70
milhões de habitantes, cuja forma de vida impacta diretamente os ecossistemas litorâneos. Dada
a magnitude das carências de serviços urbanos básicos, tais áreas vão constituir-se nos principais
espaços críticos para o planejamento ambiental da zona costeira do Brasil. Não há dúvida em
defini-las como as maiores fontes de contaminação do meio marinho no território brasileiro.
Além do mais, as grandes cidades litorâneas abrigam um grande número de complexos
industriais dos setores de maior impacto sobre o meio ambiente (química, petroquímica,
celulose).
Enfim, observa-se que a zona costeira apresenta situações que necessitam tanto de ações
preventivas como corretivas para o seu planejamento e gestão, a fim de atingir padrões de
sustentabilidade para estes ecossistemas.

5.1.2. Biodiversidade31
A variedade de biomas reflete a riqueza da flora e fauna brasileiras, tornando-as as mais
diversas do mundo. Muitas das espécies brasileiras são endêmicas. O Brasil é o país com a maior
biodiversidade do mundo, contando com um número estimado de mais de 20% do número total
de espécies do planeta. Diversas espécies de plantas de importância econômica mundial são
originárias do Brasil, destacando-se dentre elas o abacaxi, o amendoim, a castanha do Brasil
(também conhecida como castanha do Pará), a mandioca, o caju e a carnaúba.
O Brasil abriga o maior número de primatas com 55 espécies, o que corresponde a 24% do
total mundial; de anfíbios com 516 espécies; e de animais vertebrados com 3.010 espécies de
vertebrados vulneráveis, ou em perigo de extinção. O país conta também com a mais diversa
flora do mundo, número superior a 55 mil espécies descritas, o que corresponde a 22% do total
mundial. Possui por exemplo, a maior riqueza de espécies de palmeiras (390 espécies) e de
orquídeas (2.300 espécies). Possui também 3.000 espécies de peixes de água doce totalizando
três vezes mais que qualquer outro país do mundo.
O Brasil é agraciado não só com a maior riqueza de espécies, mas, também, com a mais alta
taxa de endemismo. Uma em cada onze espécies de mamíferos existentes no mundo é encontrada
no Brasil (522 espécies), juntamente com uma em cada seis espécies de aves (1.622), uma em
cada quinze espécies de répteis (468), e uma em cada oito espécies de anfíbios (516). Muitas
dessas são exclusivas para o Brasil, com 68 espécies endêmicas de mamíferos, 191 espécies
endêmicas de aves, 172 espécies endêmicas de répteis e 294 espécies endêmicas de anfíbios. Esta
riqueza de espécies corresponde a, pelo menos, 10% dos anfíbios e mamíferos e 17% das aves
descritas em todo o planeta.

31
http://www.mma.gov.br/port/sbf/chm/biodiv/brasil.html

44
A composição total da biodiversidade brasileira não é conhecida e talvez nunca venha a ser, tal
a sua magnitude e complexidade. Sabendo-se, entretanto, que para a maioria dos seres vivos o
número de espécies no território nacional, na plataforma continental e nas águas jurisdicionais
brasileiras é elevado, é fácil inferir que o número de espécies, tanto terrestres quanto marinhas,
ainda não identificadas, pode alcançar valores da ordem de dezena de milhões no Brasil.
Apesar da riqueza de espécies nativas, a maior parte das atividades econômicas do país está
baseada em espécies exóticas. A agricultura está baseada na cana-de-açúcar proveniente da Nova
Guiné, no café da Etiópia, no arroz das Filipinas, na soja e na laranja da China, no cacau do
México e no trigo da Ásia Menor. A silvicultura nacional depende de eucaliptos da Austrália e de
pinheiros da América Central. A pecuária depende de bovinos da Índia, de eqüinos da Ásia
Central e de capins Africanos. A piscicultura depende de carpas da China e de tilápias da África
Oriental, e a apicultura está baseada em variedades da abelha-europa provenientes da Europa e
da África Tropical.
É esperado que o país intensifique a implementação de programas de pesquisa na busca de um
melhor aproveitamento da biodiversidade brasileira e continue a ter acesso aos recursos
genéticos exóticos, também essenciais para o melhoramento da agricultura, pecuária, silvicultura
e piscicultura nacionais.
Essa necessidade está ligada à importância que a biodiversidade ostenta na economia do país.
Somente o setor da agroindústria responde por cerca de 40% do PIB brasileiro, (calculado em
US$ 866 bilhões no ano de 1997), o setor florestal por 4% do PIB e o setor pesqueiro por 1% do
PIB. Produtos da biodiversidade respondem por 31% das exportações brasileiras, especialmente
commodities como café, soja e laranja. As atividades de extrativismo florestal e pesqueiro
empregam mais de três milhões de pessoas. A biomassa vegetal, contando o álcool da cana-de-
açúcar e a lenha e o carvão derivados de florestas nativas e plantadas, responde por 30% da
matriz energética nacional e em determinadas regiões, como o Nordeste, atendem a mais da
metade da demanda energética industrial e residencial. Grande parte da população brasileira
utiliza-se de plantas medicinais na solução de problemas corriqueiros de saúde. A diversidade
biológica constitui, portanto, uma das características de recursos ambientais, fornecendo
produtos para exploração e consumo e prestando serviços de uso indireto. É importante, portanto,
a disseminação da prática da valoração da diversidade biológica. A redução da diversidade
biológica compromete a sustentabilidade do meio ambiente e a disponibilidade permanente dos
recursos ambientais.

Valoração da biodiversidade
A Convenção sobre Diversidade Biológica - CDB reconhece que a biodiversidade possui
valores econômicos, sociais e ambientais. Logo no primeiro parágrafo do texto esse
reconhecimento é explicitado: “Consciente do valor intrínseco da diversidade biológica e dos
valores ecológico, social, econômico, científico, educacional, cultural, recreativo e estético da
diversidade biológica e de seus componentes”.

A seguir, o artigo 1º define os objetivos da Convenção como sendo “a conservação da


biodiversidade biológica, a utilização sustentável de seus componentes e a repartição justa e
eqüitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos”. Complementando, o
artigo 11 destaca a necessidade de utilizar instrumentos econômicos na gestão da conservação da
biodiversidade, afirmando que: “cada parte contratante deve, na medida do possível e conforme o
caso, adotar medidas econômica e socialmente racionais que sirvam de incentivo à conservação e
utilização sustentável de componentes da diversidade biológica”.

45
Assim, a CDB busca demonstrar, como estratégia de proteção à biodiversidade, que a
conservação e o uso sustentável da biodiversidade têm valor econômico e que a utilização de
critérios econômicos é relevante na sua implementação, ou seja, apregoa ser imprescindível o
reconhecimento do valor econômico da biodiversidade por aqueles que participam de sua gestão.

Hoje, a maioria das decisões de políticas públicas se baseia em considerações econômicas.


Assim, o conhecimento dos montantes dos valores econômicos associados à conservação, à
preservação e ao uso sustentável da biodiversidade é a forma contemporânea de garantir que a
variável ambiental tenha peso efetivo nas tomadas de decisões em políticas públicas.

Neste contexto, a Economia Ambiental, fundamentada na Teoria Econômica Neoclássica,


incorpora hoje métodos e técnicas de valoração que buscam integrar as dimensões ecológicas,
econômicas e sociais, de forma que capture os valores econômicos associados à conservação e à
preservação da diversidade biológica32.

Fauna Ameaçada
A exploração desordenada do território brasileiro é uma das principais causas de extinção de
espécies. O desmatamento e degradação dos ambientes naturais, o avanço da fronteira agrícola, a
caça de subsistência e a caça predatória, a venda de produtos e animais procedentes da caça,
apanha ou captura ilegais (tráfico) na natureza e a introdução de espécies exóticas em território
nacional são fatores que participam de forma efetiva do processo de extinção. Este processo vem
crescendo nas últimas duas décadas à medida que a população cresce.

Uma forma de se perceber os efeitos da exploração desordenada das aéreas nativas sobre a
fauna residente é o acréscimo significativo do número de espécies na lista oficial33 de fauna
silvestre ameaçada de extinção. Essa lista foi revisada, pelo Ministério do Meio Ambiente e
Ibama, em parceria com a Fundação Biodiversitas e a Sociedade Brasileira de Zoologia, com o
apoio da Conservação Internacional do Brasil e do Instituto Terra Brasilis, e aponta novos
caminhos.

Com ela é possível decidir quais espécies e ecossistemas devem ser prioritariamente protegidos
e conservados e aqueles que poderiam ser utilizados dentro de princípios sustentáveis. Proteger e
utilizar racionalmente os recursos faunísticos são ações de manejo que demandam conhecimento,
técnica, controle e monitoramento.

Para se ter uma idéia da atual situação da fauna brasileira, do total de 633 táxons apontados na
Lista, 624 estão classificados em uma das três categorias de ameaça (criticamente em perigo, em
perigo e vulnerável) adotadas para a avaliação e 9 em uma das duas categorias de extinção. Os
vertebrados somam 67% do total de espécies indicadas sendo que, entre estes, estão cerca de
13% das espécies brasileiras de mamíferos. O bioma Mata Atlântica é o que apresenta maior
número de espécies ameaçadas ou extintas, com 383 táxons, seguido pelo Cerrado (112),
Marinho (92), Campos Sulinos (60), Amazônia (58), Caatinga (43) e Pantanal (30). Isso significa
que, em conjunto, Mata Atlântica e Cerrado respondem por mais de 78% das espécies da lista, ou
seja, 495 táxons.

32
Para saber mais sobre os esforços de valoração da biodiversidade brasileira, acesse o documento Valoração
Econômica da Biodiversidade - Estudos de Caso no Brasil
(http://www.mma.gov.br/estruturas/chm/_arquivos/valbiod.pdf)
33
Anexo à Instrução Normativa n° 3, de 27 de maio de 2003, do Ministério do Meio Ambiente Lista das Espécies da
Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (http://www.ibama.gov.br/fauna/downloads/lista%20spp.pdf).

46
A Diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros (DIFAP) do Ibama incluiu entre as atividades a
serem desenvolvidas sob sua responsabilidade no Projeto Nacional de Ações Integradas Público-
Privadas para Biodiversidade a revisão da lista de espécies da fauna brasileira ameaçada de
extinção, bem como estímulo à elaboração de pelo menos cinco listas estaduais de espécies
ameaçadas.

Flora Ameaçada
Atualmente, 107 espécies de plantas são reconhecidas oficialmente como ameaçadas de
extinção no Brasil. Entretanto, a atual lista 34 de espécies da flora brasileira ameaçadas de
extinção, publicada em 1992 (Portaria Nº 37-N, de 3 de abril de 1.992), já não mais reflete a
realidade. (O Projeto Nacional de Ações Integradas Público-Privadas para Biodiversidade prevê
como uma de suas atividades a revisão da lista, bem como o estímulo à produção de listas
regionais.) Além da Diretoria de Florestas do Ibama, deverão ser envolvidos nesse processo a
Fundação Biodiversitas, a Sociedade Brasileira de Botânica, o Jardim Botânico do Rio de
Janeiro, a Rede Brasileira de Jardins Botânicos e a Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte.
Neste processo, a coordenação dos trabalhos deverá contar com o apoio da comunidade científica
brasileira.

5.1.3. Temas ambientais relevantes no Brasil35

A compilação a seguir apresenta de forma sumária uma relação de temas ambientais relevantes
para o equacionamento da questão ambiental brasileira:

O crescimento populacional e a demanda de bens e serviços


O aumento populacional cria pressão sobre os serviços ambientais que são gratuitamente
fornecidos pela natureza – p. ex. maior emissão de CO2 afeta o controle atmosférico. O
fornecimento de alimento para o descomunal contingente populacional, do século XXI, não é
mais uma limitação malthusiana. No atual mercado globalizado, deve-se considerar o
crescimento das demandas internas em conjunto com as internacionais.

Diminuição da cobertura florestal do país e suas conseqüências para o equilíbrio climático e


conservação da biodiversidade
O desmatamento altera os ciclos de água e de energia induzindo um aumento na temperatura
do ar e diminuição nas precipitações, reduzindo a quantidade de vapor d’água exportada para
outras regiões. A fragmentação das áreas florestais diminui o número de habitats disponíveis
para as espécies biológicas.
Embora o arcabouço legal na área ambiental seja adequado e exigente, a sua implementação
deixa a desejar uma vez que, tem sido impossível atingir metas razoáveis dentro da legislação
existente. Ressalta-se a incapacidade governamental de exigir o tratamento dos efluentes
domésticos na grande maioria dos municípios das cidades brasileiras, implicando na degradação
dos recursos hídricos, sobretudo nas áreas densamente povoadas. Outros setores são atingidos

34
Portaria do Ibama Nº 37-N, de 3 de abril de 1992, que torna pública a Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira
Ameaçada de Extinção (http://www.ibama.gov.br/flora/extincao.htm).
35
Adaptado do documento “Temas Ambientais Mais Relevantes para o Brasil num Futuro Próximo” (Primeira
Versão), de Enéas Salati e Ângelo Augusto dos Santos.

47
pela falta de implementação da lei como: o desmatamento, o uso inadequado do solo e dos
recursos hídricos, a poluição atmosférica e a conservação da biodiversidade.
Os remanescentes da Mata Atlântica estão sob constante ameaça tendo em vista as atividades
no seu entorno. O seu destino dependerá fortemente da capacidade de gerenciamento dos órgãos
de meio ambiente.
A vegetação ciliar corresponde àquela associada aos cursos e reservatórios de água,
independente de sua área ou região de ocorrência, de sua composição florística e localização
(Ab’Saber, 2000). Neste sentido, desempenha funções de grande importância, podendo-se citar:
melhoria da qualidade de água; estabilização das margens dos rios, evitando erosão e
assoreamento; propicia um ambiente adequado para a fauna e melhora a qualidade de vida do
homem, dentre outras. As matas ciliares são importantes agentes de proteção ambiental para
flora e fauna associadas, tanto aquática como terrestre, bem como, uma proteção direta aos
recursos hídricos em relação à poluição difusa nas bacias hidrográficas.A perda das matas
ciliares é um problema extensivo a todo território nacional.
Por outro lado o manejo florestal propicia uma aliança concreta entre os aspectos econômicos,
sócio-culturais e ambientais do desenvolvimento. Ora, um processo inclusivo de tais dimensões e
dos diversos atores envolvidos em sua concepção e aplicação, tem o condão de potencializar o
uso de nossas florestas na perspectiva da eqüidade e sustentabilidade. Só nesse âmbito que se
pode pensar na adaptação e uso do solo de modo a promover sua recuperação pois, em muitas
regiões, o desenvolvimento rural pretérito já levou à degradação de vários componentes de
ecossistemas importantes. Dentre tantos se destaque, por exemplo, os recursos hídricos, que são
essenciais em programas de manejo florestal. Programas consistentes de Manejo Florestal vêm
sendo implementados em várias partes do mundo com o objetivo principal de proteger o setor
florestal, propiciando sua exploração em bases sustentáveis. Tais programas são em algumas
instâncias promovidos por organizações nacionais e internacionais, governamentais e não-
governamentais, associações e comunidades diversas e por empresas florestais privadas, na
busca de práticas alternativas de desenvolvimento sustentável.

Impactos das mudanças climáticas globais (MCG) sobre os biomas brasileiros


Mudanças climáticas são associadas ao aumento da concentração de gases de efeito estufa, e
também em mudanças do uso da terra. Ainda que a contribuição do Brasil, para a concentração
global de gases de efeito estufa seja menor que a dos países industrializados, a contribuição
devido a queimadas (fumaça e aerossóis) é bastante elevada.
O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (International Panel on Climate Change
- IPCC) conclui no seu Terceiro Relatório de Avaliação TAR (IPCC 2001 a) que a temperatura
média da atmosfera tem aumentado em 0.6ºC + 0.2ºC durante o século XX. Os modelos globais
do IPCC têm mostrado que entre 1900 e 2100 a temperatura global pode aquecer entre 1.4 oC e
5.8oC, o que representa um aquecimento mais rápido do que aquele detectado no século XX e
que, aparentemente, não possui precedentes durante, pelo menos, os últimos 10.000 anos.
As ferramentas comumente adotadas para obter e avaliar projeções climáticas passadas e
futuras são os modelos de clima, que podem ser: Modelos Globais Atmosféricos (GCMs) ou
Modelos Globais Acoplados Oceano-Atmosfera (AOGCMs).
O MMA apoiou o desenvolvimento do subprojeto “Caracterização do clima atual e definição
das alterações climáticas para o território brasileiro ao longo do século XXI”, por meio do
Probio. Este subprojeto realizou uma avaliação de projeções de clima futuro para a América do
Sul, usando as saídas geradas por cinco AOGCMs do IPCC-TAR e AR4, para cenários SRES de
alta emissão de gases de efeito estufa, A2 ou “pessimista”, e de baixa emissão de gases de efeito
estufa, B2 ou “otimista”. Estes cenários são conhecidos como Cenários SRES (Special Report
Emission Scenarios).

48
A publicação “Mudanças climáticas globais e seus efeitos sobre a biodiversidade:
caracterização do clima atual e definição das alterações climáticas para o território brasileiro ao
longo do século XXI / José A. Marengo (org.)– Brasília: MMA, 2006” que se encontra no prelo e
apresenta os resultados deste subprojeto mostra, entre outras, as seguintes conclusões:
1) Amazônia – Se o avanço da fronteira agrícola e da indústria madeireira for mantido nos
níveis atuais, a cobertura florestal vai diminuir dos atuais 5,3 milhões de km2 (85% da área
original) para 3,2 milhões de km2 em 2050 (53% da cobertura original). O aquecimento global
vai aumentar as temperaturas na região amazônica, e pode deixar o clima mais seco, provocando
a savanização da floresta. O aquecimento observado pode chegar até 8ºC no cenário pessimista
A2.
2) Semi-árido – As temperaturas podem aumentar de 2ºC a 5ºC no Nordeste, até o final do
século XXI. A Caatinga será substituída por uma vegetação mais árida. O desmatamento da
Amazônia pode deixar o semi-árido mais seco. Com o aquecimento a evaporação aumenta e a
disponibilidade hídrica diminui.
3) Zona Costeira – O aumento do nível do mar vai trazer grandes prejuízos ao litoral.
Construções à beira-mar vão desaparecer, portos serão destruídos, e populações terão que ser
remanejadas. Sistemas de esgoto precários entrarão em colapso. Novos furacões poderão atingir
a costa do Brasil.
4) Nordeste e bacia do Prata – Ainda que a chuva tendesse a aumentar no futuro, as elevadas
temperaturas do ar simuladas pelos modelos poderiam, de alguma forma, comprometer a
disponibilidade de água para agricultura, consumo ou geração de energia devido a um acréscimo
previsto na evaporação ou evapotranspiração. A extensão de uma estação seca, em algumas
regiões do Brasil, poderia afetar o balanço hidrológico regional e assim comprometer atividades
humanas, ainda que haja alguma previsão de aumento de chuva no futuro.

Degradação dos recursos hídricos


As águas superficiais nas proximidades dos centros urbanos encontram – se quase sempre
poluídas por fontes pontuais de efluentes domésticos, ou industriais, ou pela poluição difusa
oriunda de atividades agropecuárias. A escassez de água, em algumas regiões, poderá tornar-se
crítica, pelo crescimento do consumo de água para atividades industriais ou irrigação. Os rios,
naturalmente ou artificialmente barrados, sofrem uma fragmentação, dando origem a um ou mais
lagos ou reservatórios que são fragmentos que retêm uma porção do sistema original (matriz
abiótica e porções das comunidades, fauna e flora originais). Os processos que ocorrem após o
isolamento dos fragmentos poderão levar à perda de diversidade de algumas comunidades. No
caso da comunidade de peixes, por exemplo, a perda da capacidade de migração, principalmente
para a reprodução devido às barreiras criadas (barragens), é o principal causador da redução
drástica dessas espécies nos rios submetidos a barramentos.
Vários estudos indicam a degradação dos recursos hídricos da costa do Brasil, as informações
estão mais detalhadas para as regiões costeiras dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Os
dados indicam que muitas áreas estão comprometidas para o lazer em grande parte do ano ou no
ano todo. Em geral, a poluição vem dos efluentes urbanos e industriais sem desprezar as
atividades portuárias e o derramamento de petróleo. Os acidentes ambientais principalmente com
produtos químicos e petroquímicos embarcados representam ameaças constantes tanto para
oceanos como para as áreas costeiras. Alem disso o avanço de atividades tais como
carcinocultura desordenada e ilegal, turismo e pesca predatórios, poluição por esgoto, pesca
desordenada, ilegal e predatória e fragmentação dos ecossistemas, etc. Aliado a isso se encontra a
perda da diversidade biológica aquática derivada da sobre-explotação dos recursos pesqueiros o
que levou o MMA a editar a Instrução Normativa nº 5, de 27 de maio de 2004 listando essas
espécies.

49
A escassez e o manejo dos recursos hídricos no semi-árido brasileiro é um problema sazonal.
Ao longo do ano, o Nordeste semi-árido tem condições ideais quanto à oferta de energia solar e
temperatura para o desenvolvimento de uma agricultura intensiva. O fator limitante é a oferta de
água. É importante levar em conta o manejo dos recursos hídricos no semi-árido brasileiro
evitando-se o aumento da salinização das águas da região, se não forem deixados exutórios
adequados para o escoamento das águas mais salinizadas.

Relação entre a pobreza e degradação ambiental urbana


O maior crescimento das populações de baixa renda e o deslocamento de parte da população da
zona rural para as áreas urbanizadas, em busca de melhores condições de vida, levam à
“favelização” de grandes áreas urbanas. As populações migrantes se instalam em áreas menos
apropriadas para habitação. Sem as condições educacionais e culturais de auto-sobrevivência
tornam-se agentes da degradação ambiental. Dessa forma, a pobreza vem a ser ao mesmo tempo
causa e conseqüência desse ciclo pernicioso.
A geração de resíduos sólidos (lixo e lodo de esgoto) no Brasil vem aumentando, já havendo
problemas sérios em regiões metropolitanas para construção de aterros como destino final. A
solução deste problema é um desafio para as próximas décadas. A incineração tem sido solução
em diversos países (Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França e Áustria), mas os impactos
sobre o aquecimento global não devem ser desconsiderados, pressionando para outras
alternativas sejam encontradas.
A desigualdade ambiental é sem dúvida uma das expressões da desigualdade social que marcou
a história do nosso país. Os pobres estão mais expostos aos riscos decorrentes da localização de
suas residências, da vulnerabilidade destas moradias a enchentes, desmoronamentos e à ação de
esgotos a céu aberto. Há, conseqüentemente, forte correlação entre indicadores de pobreza e a
ocorrência de doenças associadas à poluição por ausência de água e esgotamento sanitário ou por
lançamento de rejeitos sólidos, emissões líquidas e gasosas de origem industrial. Esta
desigualdade resulta, em grande parte, da vigência de mecanismos de privatização do uso dos
recursos ambientais coletivos – água, ar e solos.

Impactos diretos e indiretos da produção e transporte de energia no equilíbrio ambiental


(hidroelétrica, termoelétrica e eletronuclear)
No processo da implantação de uma linha de transmissão um dos impactos ambientais mais
significativos é a remoção da vegetação para implantação dos canteiros de obras e alojamentos,
para a ampliação e construção de estradas e vias de acesso, bem como da faixa de servidão, com
repercussão sobre os solos, recursos hídricos, vegetação e fauna (ELETROSUL, 2001 a, p.2-2).
Mas, pode-se observar que as mudanças na legislação ambiental têm exigido alterações nos
procedimentos e planejamentos dos empreendimentos que gerem impactos, no caso da pesquisa,
no setor elétrico. Diante disso, no processo de licenciamento ambiental, para este tipo de
empreendimento, a percepção, de forma estratégica, propicia a viabilização econômica deste,
mas o diagnóstico é imprescindível ao planejamento ambiental, auxiliando, também, na
avaliação dos aspectos e impactos ambientais e no fornecimento de informações para o
dimensionamento das ações necessárias ao processo de gestão ambiental.
No que tange à questão ambiental, foram realizados esforços durante os últimos anos no
sentido de incorporar a dimensão ambiental desde as primeiras etapas do processo planejamento,
tendo em vista uma concepção mais integrada dos empreendimentos. Estes esforços foram
motivados pelo debate em torno dos impactos ambientais causados pela implantação de grandes
projetos hidroelétricos nas décadas de 70 e 80, e em virtude da crescente preocupação e das
iniciativas existentes para se estabelecer um novo padrão de desenvolvimento – o
desenvolvimento sustentável.

50
Os impactos ambientais diretos de hidroelétricas são bem conhecidos, no entanto muitas vezes
os impactos indiretos são muitos maiores, especialmente na região Amazônica onde
empreendimentos como a hidroelétrica de Tucuruí acelerou o desmatamento no seu entorno.

Introdução de organismos geneticamente modificados (OGM) e a biossegurança

Segundo Nodari & Guerra, 200036, a liberação de plantas transgênicas, ou de seus produtos
derivados, para o cultivo e o consumo humano e animal têm atraído a atenção das pessoas e isto
vem sendo um dos temas predominantes nas discussões científicas, éticas, econômicas e políticas
na atualidade.
A maioria da comunidade científica não é contra o uso dessa tecnologia que permite a
reprogramação genética de plantas, animais e microrganismos, mas a quantidade de informações
dúbias, muitas das quais sem sustentação científica, contribui para gerar insegurança nos
consumidores (Nodari & Guerra, 2000).
Nos métodos convencionais de melhoramento genético, novas combinações genéticas são
obtidas por meio de cruzamentos sexuais entre plantas que apresentam as características
desejadas. Neste caso, o que ocorre é a substituição de um alelo por outro. Com a transgenia,
insere-se uma seqüência quimérica geralmente composta por genes de resistência a antibióticos,
promotores fortes e genes de interesse, oriundos de diferentes espécies. Ou seja, plantas
transgênicas (ou organismos geneticamente modificados) são plantas que têm inserida, em seu
genoma, uma seqüência de DNA manipulado em laboratório por técnicas moleculares ou
biotecnológicas. Essas seqüências de DNA, que diferenciam as variedades transgênicas e as
demais, merecem ser cientificamente estudadas quanto aos seus efeitos sobre a saúde humana e
possíveis danos ao meio ambiente.
Ainda segundo Nodari & Guerra, 2000, entre os possíveis riscos ambientais, podem ser
mencionados os efeitos diretos sobre os seres vivos, o solo e a água, e os efeitos indiretos, via
transferência vertical e horizontal. A ameaça à diversidade biológica decorre, então, das
propriedades do transgene ou de sua transferência e expressão em outras espécies. A priori, não
se podem desprezar os vários efeitos potenciais indesejáveis provocados pela adição de um novo
genótipo em uma comunidade, como o deslocamento ou a eliminação de espécies não
domesticadas, a exposição de espécies a novos patógenos ou agentes tóxicos, a poluição
genética, a erosão da diversidade genética e a interrupção da reciclagem de nutrientes e de
energia.
Em 2002, a área global de culturas transgênicas foi de 60 milhões de hectares, utilizadas por
cerca de 6 milhões de agricultores em 16 países. A chegada dos OGM no agronégocio brasileiro
foi contundente a partir de 2004.

5.2. Panorama Setorial37


Uma das principais características do Projeto Nacional de Ações Integradas Público-Privadas
para Biodiversidade é o envolvimento de setores econômicos responsáveis por impactos
ambientais negativos em larga escala no país. Historicamente, esses setores não incorporam o
componente ambiental em seus planejamentos e investimentos, reduzindo o potencial impacto
positivo das iniciativas que visam a conservação e o uso sustentável da biodiversidade.

36
NODARI, Rubens Onofre; GUERRA, Miguel Pedro. Implications of transgenics for environmental and
agricultural sustainability. Hist. cienc. saude-Manguinhos., Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, 2000. Disponible en:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702000000300016&lng=es&nrm=iso>. Acceso
el: 19 Oct 2006. doi: 10.1590/S0104-59702000000300016
37
MMA (2002). Políticas Públicas e Biodiversidade no Brasil. MMA. Biodiversidade e Espaços Territoriais
Protegidos. Relatório Nacional.

51
Agropecuária
Existem no Brasil 4,8 milhões de estabelecimentos rurais, dos quais 85% são familiares, com
áreas menores que 100 hectares, representando cerca de 38% do valor bruto da produção
agropecuária e empregando 76% do pessoal ocupado na agricultura. O setor agrícola tem muitas
interfaces com o meio ambiente, uma vez que tradicionalmente o ecossistema nativo é
modificado para atender às exigências da produção. Aí se incluem a retirada da cobertura vegetal
nativa, nem sempre dentro dos limites de uso que a legislação permite, a introdução de espécies,
a mudança nos fluxos de água e nutrientes e o uso de substâncias químicas com potencial
poluente. Essas ações têm um grande impacto na biodiversidade e na condição dos recursos
naturais locais. Por fim, é importante lembrar que os impactos da introdução das várias culturas
podem estender-se por diversas regiões, fragmentando os ecossistemas nativos38.
A agricultura dos países em desenvolvimento tem enfrentando sérias dificuldades por causa da
erosão. No Brasil, o fenômeno tem sido registrado em praticamente todos os estados.
Anualmente, o País perde aproximadamente 500 milhões de toneladas de solo em virtude da
erosão. Isso corresponde à retirada de uma camada de 15 centímetros de solo das regiões Sudeste
e Centro-Oeste e mais o Estado do Paraná” (Thomazine, 2003)39.
O longo histórico de conversão da cobertura florestal da terra em áreas agropastoris que se deu
no Sudeste brasileiro resultou em uma paisagem onde a cobertura vegetal natural se encontra
reduzida a fragmentos com diversos tamanhos e padrões espaciais. A fragmentação da cobertura
vegetal causa diversos efeitos deletérios às populações biológicas que dependem deste hábitat,
como subdivisão de populações, aumento da taxa de endogamia e conseqüente erosão genética,
menor resistência a distúrbios e, risco de extinção local. (Maia Santos, 2002)40.
Embasada em um número reduzido de espécies vegetais cultivadas em grandes extensões de
terra, e em poucas variedades dentro dessas espécies, a agricultura moderna tende a
homogeneizar a paisagem, simplificando desse modo os processos naturais e favorecendo a
diminuição da diversidade genética da vida selvagem e doméstica.
Por sua vez, a expansão da fronteira agrícola tem eliminado ecossistemas naturais, com perda
de biodiversidade e alteração do funcionamento dos ciclos globais biológicos, geológicos e
químicos.
A biodiversidade é essencial para a produção agrícola da mesma forma que a agricultura o é
para a conservação da biodiversidade.
A biodiversidade possibilita o funcionamento equilibrado dos sistemas de produção agrícola.
Um meio ambiente diversificado oferece proteção aos agroecossistemas contra perturbações
naturais ou provocadas pelo homem (pragas e doenças de plantas e animais, clima desfavorável,
etc), possibilitando a sua reação no sentido de retornar à situação de equilíbrio.
Da mesma forma, a biodiversidade oferece serviços e insumos para a agricultura, com
oportunidades para o aumento da produtividade e da qualidade ambiental. Por exemplo, a

38
MMA (2002). Políticas Públicas e Biodiversidade no Brasil. MMA. Biodiversidade e Espaços Territoriais
Protegidos. Relatório Nacional.
39
Atividade e comunidade microbianas de solo submetido à erosão simulada e em recuperação, Autor: Gustavo
Rodrigo Thomazine, Orientador: Adriana Parada Dias Silveira. Co-Orientador: Wanderley Dias da Silveira. Data da
defesa: 12/02/2003. Unicamp
40
Análise da paisagem de um corredor ecológico na Serrada Mantiqueira / J. S. Maia Santos - São José dos
Campos:INPE, 2002.

52
biodiversidade é importante como reservatório de organismos responsáveis pelo combate
biológico de pragas e doenças agrícolas.
Um problema mais recente observado, o empobrecimento das pastagens, está associado ao
manejo inadequado e à falta de investimento em programas de recuperação de pastagens, que,
assim como as culturas, exigem cuidados e manutenção.
Cabe observar que o gráfico abaixo mostra a grande abrangência da cadeia da pecuária de
corte. A importância social da atividade é refletida na manutenção do emprego e da renda em boa
parte do país. Viabilizar através de políticas públicas a convivência entre a biodiversidade e esta
atividade promove o desenvolvimento sustentável nas regiões mais longínquas do país, através
de seu desenvolvimento local e regional.

53
Recursos pesqueiros
Cerca de 80% dos recursos pesqueiros costeiro-marítimos encontram-se
sobreexplotados ou próximos de tais níveis. O excesso de esforço de pesca tem sido
apontado como a causa mais visível de tal situação. Nos ambientes aquáticos
continentais, observações e relatos de grupos de pescadores revelam considerável perda
da produtividade pesqueira. Isso se deve ao barramento dos principais rios para usos
múltiplos, ao desmatamento das margens e cabeceiras, ao assoreamento de lagos e
lagoas e à poluição, tanto química quanto orgânica.
Na raiz de tais problemas encontra-se um sistema de gestão do acesso e uso dos
recursos pesqueiros que desconsidera saberes, conhecimentos, projetos de vida e
objetivos dos diversos grupos sociais pesqueiros. As normas de acesso e uso desses
recursos são geradas com pouca participação dos usuários. Isso faz com que eles se
sintam pouco comprometidos com os níveis de sustentabilidade dos recursos. Contudo,
nos últimos anos houve avanço político no trato desse tema com a criação da Secretaria
Especial de Aqüicultura e Pesca, o que possibilitará maior integração entre o governo
federal e a comunidade de pescadores na construção de políticas públicas.

Recursos florestais

No Brasil, há cerca de 550 milhões de hectares de florestas, em sua maioria nativas, o


que representa 64,3% do nosso território. Essa é a base sobre a qual se extraem recursos
para finalidades diversas, como a produção de papel e celulose, móveis, lenha e carvão
vegetal para consumo doméstico. O setor madeireiro é responsável por 4% do Produto
Interno Bruto brasileiro e emprega milhões de pessoas. Existe, porém, uma precariedade
em toda a rede de produtos e serviços florestais, quer seja na pesquisa, na utilização e no
destino final desses recursos.
O Programa Nacional de Florestas, criado pelo Decreto 3.420, de 20 de abril de 200
tem entre os seus objetivos fomentar as atividades de reflorestamento, notadamente em
pequenas propriedades rurais.
As florestas plantadas brasileiras correspondem a cerca de apenas 1% (5 milhões de
hectares) da cobertura florestal encontrada no Brasil. No entanto estas florestas
plantadas têm um papel fundamental no setor florestal brasileiro e, conseqüentemente
para a economia nacional servindo de matéria prima para os setores de papel e celulose,
chapas, aglomerados, compensados, etc.
As florestas plantadas no Brasil são predominantemente constituídas de pelos gêneros
Pinus e Eucalyptus.
A cultura do eucalipto ocupa posição de destaque na atividade agrícola brasileira
atual. Em função da diversidade de espécies e adequações a diferentes locais, o
eucalipto passou a ser considerado como padrão de produção de matéria-prima florestal
de alto rendimento e rápido crescimento para diversos usos. Porém, ao lado da expansão
da eucaliptocultura, começaram a surgir críticas, destacando principalmente os prejuízos
e perigos dela decorrentes.

55
A publicação de Lima41 procura analisar crítica e cientificamente o eucalipto e seus
impactos ambientais, com o intuito de fornecer fundamentação consistente à discussão,
afastando mitos e lendas que a circundam.
Principais impactos ambientais causados pela atividade de reflorestamento com
monocultora de eucalipto podem ser resumidos nas preocupações referentes ao consumo
de água, à demanda de nutrientes e aos efeitos alelopáticos da espécie.42
Os impactos ambientais adversos estão presentes em muitos dos projetos de
reflorestamento feitos na fase inicial dos incentivos fiscais no Brasil. Todavia, os efeitos
ecológicos podem ser minimizados, ou seja, eles podem estar ao alcance do controle do
profissional florestal, através da adoção de práticas ambientalmente sadias de manejo
florestal, conforme os preceitos do manejo florestal sustentável. Estes efeitos ecológicos
envolvem principalmente questões relativas aos problemas de destruição de
ecossistemas, manutenção da biodiversidade, degradação de microbacias, diminuição do
capital de nutrientes do solo, desfiguração da paisagem, etc. Este problema ambiental,
decorrente de reflorestamentos com monoculturas, e todos os possíveis desdobramentos,
não pode mais ser desconsiderado em qualquer projeto florestal.43

Transportes
A implantação da infra-estrutura de transportes no Brasil deixou enorme passivo
ambiental em degradação dos solos, da cobertura vegetal, da água e do ar. Isso ocorre
porque a implantação e a gestão da infra-estrutura de transportes, composta por
rodovias, ferrovias, hidrovias e portos, sempre se pautaram por parâmetros técnicos e
requisitos econômicos. Prova disso é a ênfase dada à pavimentação de estradas de
rodagem e à produção de veículos de passeio, em detrimento das estradas de ferro e
meios de transporte coletivo. Somente a partir dos anos 1980 é que começam a ser
adotados padrões de qualidade e de conservação ambiental.
O histórico de implantação dos projetos de infra-estrutura de transportes reflete a falta
de planejamento regional integrado. Isso se verifica na dificuldade do escoamento da
produção e nos custos para a mobilidade das pessoas. A falta de integração entre meios
de transporte, considerando as diferentes modalidades (rodoviário, ferroviário e
hidroviário) evidencia o problema. Outra constatação é a ausência de normas e de
critérios socioambientais para o licenciamento dos projetos.
A aplicação de grandes volumes de recursos na melhoria da malha viária, sem foco
específico no transporte público de passageiros, além de socialmente perversa, tende a
aumentar a carga de poluição causada pelo trânsito de veículos individuais. Essa lógica
prejudica diretamente a saúde e a qualidade de vida da população, especialmente das
pessoas com menor renda.

Água de lastro
Estima-se que pelo menos 7 mil espécies aquáticas são transportadas, diariamente,
entre diferentes regiões do mundo por meio da água de lastro dos navios. O problema
motivou a Marinha a elaborar uma Norma de Autoridade Marítima (Normam),

41
LIMA, W. P. Impacto Ambiental do Eucalipto. 2. ed. São Paulo: EDUSP (Editora da Universidade de
São Paulo), 1993. 301 p.
42
Lima, W. de P. Indicadores hidrológicos do manejo sustentável de plantações de eucalipto. In
Conferência IUFRO sobre Silvicultura e Melhoramento de Eucaliptos. Acessado em 06 de novembro de
2006 no endereço eletrônico: http://bosques.cnpf.embrapa.br/node_embrapa/uploads/znkdqetnph.pdf
43
Idem citação anterior.

56
determinando que todos os navios que se destinarem aos portos brasileiros troquem a
água de lastro, ao menos, a 200 milhas da costa e a 200 metros de profundidade. A
decisão foi tomada no seminário sobre a Convenção de Água de Lastro e os Desafios
para Proteger o País das Espécies Aquáticas Invasoras, promovido pelo Ministério do
Meio Ambiente e pela Transpetro, em novembro de 2004. No encontro, que reuniu
técnicos e pesquisadores dos Ministérios do Meio Ambiente, Transportes, Saúde e
Ciência e Tecnologia, além de representantes da indústria náutica, foi aprovada a
elaboração de uma agenda de trabalho definindo um plano de ação para gerenciar o
controle da água de lastro nas zonas portuárias.

Energia
O desenvolvimento da infra-estrutura energética no país tem se pautado por critérios
técnicos e por pressões da demanda em vez de considerar o planejamento integrado do
território. Impactos negativos gerados pelo uso de energia não renovável, como o
petróleo e seus derivados, envolvem desde a poluição do ar e acidentes no transporte,
até o impacto direto sobre populações das regiões produtoras. Essas comunidades vêem
seus territórios, pontos turísticos e históricos destruídos por incêndios, derramamentos,
contaminação de solos, rios e lençóis subterrâneos.
Cerca de 30 milhões de brasileiros vivem sem o mínimo de energia necessário a uma
razoável qualidade de vida. Dependem de fontes energéticas caras, sujas e pouco
confiáveis, como lampiões a querosene, velas e lenha. Isso gera diversas conseqüências
negativas para a saúde e o desenvolvimento humano.
No que se refere à oferta interna de eletricidade, o país é abastecido em sua maioria
(77,1%) por hidrelétricas, sendo que apenas 3,9% do total oferecido são provenientes de
fontes renováveis de energia, como biomassa, eólica e outras não convencionais. Essa
relação é extremamente desproporcional, principalmente se considerados os últimos
estudos sobre os impactos de médio e longo prazo dos lagos artificiais que armazenam
água para movimentar as turbinas das hidrelétricas. Em algumas partes do mundo, há
movimentos para desativar lagos artificiais que se sobrepuseram a monumentos naturais
e patrimônios culturais. A utilização de tecnologias alternativas para a geração de
energia elétrica é uma oportunidade para o Brasil aproveitar a diversidade de fontes
disponíveis e as pesquisas desenvolvidas sobre o tema no país.
Ao se manter prioritária no Brasil, a energia hidrelétrica tem imenso potencial para
impactar negativamente a Amazônia e o Cerrado, uma vez que 70% do potencial
hidrelétrico a se aproveitar são encontrados nesses biomas. O Plano Nacional de
Energia 2030 demonstra tendência para manter sobreposta a importância da geração
hidrelétrica à conservação da biodiversidade. Por outro lado, o Plano indica estudos
sobre energia eólica, solar, de biomassa de madeira e das ondas marítimas.
A Bioeletricidade, energia elétrica cogerada a partir da biomassa (madeira, cana-de-
açúcar) com previsibilidade, sustentabilidade e qualidade, tem grande potencial no país
devido à abundância de biomassa e biocombustíveis. O Brasil possui condições
geográficas favoráveis (dimensões continentais, características do solo, clima,
insolação, regime de chuvas, etc.). O país conta com tecnologia desenvolvida para o
etanol e o biodiesel, e também sabe realizar cogeração a partir do bagaço de cana.

57
Mineração44
O subsolo brasileiro possui importantes depósitos minerais. Parte dessas reservas são
consideradas expressivas quando relacionadas mundialmente. O Brasil produz cerca de
70 substâncias, sendo 21 do grupo de minerais metálicos, 45 dos não-metálicos e quatro
dos energéticos. Em termos de participação no mercado mundial em 2000, ressalta-se a
posição do nióbio (92%), minério de ferro (20%, segundo maior produtor mundial),
tantalita (22%), manganês (19%), alumínio e amianto (11%), grafita (19%), magnesita
(9%), caulim (8%) e, ainda, rochas ornamentais, talco e vermiculita, com cerca de 5%.
O perfil do setor mineral brasileiro é composto por 95% de pequenas e médias
minerações. Dados de 1999 demonstram que as minas no Brasil estão distribuídas
regionalmente com 4% no norte, 8% no centro-oeste, 13% no nordeste, 21% no sul e
54% no sudeste. Estima-se que em 1992 existiam em torno de 16.528 pequenas
empresas, com produção mineral de US$ 1,98 bilhões, em geral atuando em regiões
metropolitanas na extração de material para construção civil.
No Brasil, os principais problemas oriundos da mineração podem ser englobados em
quatro categorias: poluição da água, poluição do ar, poluição sonora, e subsidência do
terreno. Em geral, a mineração provoca um conjunto de impactos relacionados a
alterações ambientais, conflitos de uso do solo, depreciação de imóveis circunvizinhos,
geração de áreas degradadas e transtornos ao tráfego urbano.
Devido à magnitude dos impactos ambientais que a atividade mineradora mal
conduzida pode gerar, os subprojetos de priorização da biodiversidade que
eventualmente vierem a ser realizados em territórios que abrigam atividades
mineradoras deverão tratar da sensibilização do setor, especialmente pela aplicação de
medidas de incentivo à adoção de práticas sustentáveis.
Os impactos ambientais da mineração, principalmente sobre os recursos hídricos,
variam conforme o tipo de lavra e a tecnologia utilizada. Existem basicamente quatro
tipos de lavras: dragagem, subterrânea, céu aberto e mista.
Dragagem. Implica em impactos como a alteração da morfologia dos leitos dos corpos
d’água, tornando-os mais turvos e assoreados, lançamento de rejeitos e estéreis nos
recursos hídricos, desmatamento de matas ciliares para a instalação da estrutura física
do empreendimento (tornando as margens suscetíveis à erosão), perda da potabilidade
da água, poluição química, entre outros impactos.
Subterrânea. Nesse tipo de explotação, o contato com o meio externo é menor,
diminuindo a magnitude de impactos decorrentes da poluição visual, desmatamentos e
poluição do ar. Na explotação subterrânea, o estéril pode ser transportado para o
subsolo, onde será acondicionado (backfill). Nesse caso, porém, caso o
acondicionamento seja feito de forma inadequada, haverá risco de vazamento de
materiais estéreis para os lençóis d’água subterrâneos, gerando assim uma forma de
contaminação de difícil reversão. Via de regra, são característicos da explotação
subterrânea impactos sobre os recursos hídricos, como incremento da turbidez,
lançamento de sólidos sedimentáveis e sólidos dissolvidos e, em alguns casos,
modificações de pH, incremento de metais, sulfetos, arsênio, dependendo da
mineralogia. Tais impactos são principalmente derivados do arraste de partículas finas
das áreas de acesso por água pluvial, solubilização do estéril pelo contato com o sistema
ar/água.

44
Mineração e Meio Ambiente no Brasil, relatório do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos - CGEE
http://www.cgee.org.br/arquivos/estudo011_02.pdf

58
Céu Aberto. Contato permanente de cargas poluidoras com o ar, água e solo, sendo
assim possível a formação de vários tipos de impactos ambientais, principalmente em
termos de poluição do ar em virtude do arraste eólico e por água pluvial de partículas
finas das áreas decapeadas (mina, estradas, depósito de estéril e pátios) e também o
contato do ambiente, principalmente os recursos hídricos, com produtos químicos e
rejeitos da mineração. As alterações de parâmetros de qualidade ambiental dos recursos
hídricos características da explotação a céu aberto são o incremento da turbidez, sólidos
sedimentáveis, pH e outros compostos, dependendo de mineralogia.
Mista. Corresponde a uma combinação das explotações subterrânea e a céu aberto.

Ciência e Tecnologia
O Brasil é dotado de um expressivo parque científico e tecnológico, envolvendo
diversas instituições públicas e privadas com elevada capacidade de lidar com questões
relacionadas à biodiversidade. Entretanto, devem ser apoiados mais pesquisas e
desenvolvimento tecnológicos voltados para o desenvolvimento sustentável,
consignados na Agenda 21 e nos compromissos internacionais firmados pelo governo.

Comércio
A Pesquisa Anual de Comércio - PAC 45 , realizada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), estimava, em 2003, a existência de um total de
1.365.136 empresas com atividade principal em atividades do comércio no Brasil,
vinculadas ao comércio de veículos e peças, comércio por atacado e comércio varejista.
Estas empresas possuíam 1.426.988 estabelecimentos com receita de revenda de
mercadorias, auferiram R$ 675,6 bilhões de receita operacional líquida, ocuparam cerca
de 6.271 mil pessoas e pagaram R$ 38,8 bilhões em remunerações. Trata-se, portanto,
de um contingente expressivo da economia e da demografia nacional.

Indústria
A Pesquisa Industrial Anual - Empresa - PIA46, realizada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), estimava, em 2003, um total de 137.000 empresas em
funcionamento no país, responsáveis por quase 7 milhões de postos de trabalho. Os
setores de alta e de média alta intensidade tecnológica, numericamente minoritários,
eram responsáveis, em 2003, por 17,7% do total de empresas representadas na PIA e
empregam 25,8% do total de pessoas ocupadas, enquanto os de baixa e de média baixa
intensidade concentram a maior parte das empresas (cerca de 82%) e possuem a maior
proporção de pessoal ocupado (74%).

A abordagem a este setor pelo Projeto deverá levar em consideração que o maior
desafio para a política de meio ambiente relacionada à iniciativa privada é o de garantir,
simultaneamente, padrões crescentes de qualidade e de conservação ambiental e um
sistema eficiente de regulação que não implique incertezas, elevação do risco
empresarial e bloqueio de decisões de investimentos.

Mídia
O papel da mídia na sensibilização da população para a causa da biodiversidade e na
difusão de práticas sustentáveis de utilização dos recursos naturais é subutilizado no
Brasil. Sua função é recorrentemente contrária aos princípios da sustentabilidade,

45
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/comercioeservico/pac/2003/default.shtm
46
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/industria/pia/empresas/defaultempresa2003.shtm

59
estando a maioria dos veículos de comunicação orientados à difusão de práticas de
consumo insustentáveis e predatórios. A aproximação com os veículos de comunicação
e sua sensibilização para a necessidade da emissão de mensagens que estimulem o
engajamento de atores estratégicos nas iniciativas de conservação deve ser um dos focos
principais da atuação do Projeto.

Turismo
No Brasil o segmento de ecoturismo segmento é visto, tanto pelo governo, como pelos
estudiosos do tema, como uma alternativa econômica com perfil de sustentabilidade e
como meio para conservação dos recursos naturais e culturais, além de gerador de
benefícios às comunidades locais.

O Plano Nacional de Turismo 47 destaca que a oferta turística do Brasil tem se


configurado pela promoção de poucos destinos em áreas pontuais, gerando produtos de
apelo repetitivo. Os produtos atualmente ofertados não contemplam a pluralidade
cultural e a diversidade regional brasileira. Existe um potencial a ser revelado e
trabalhado no interior do país, e uma urgente necessidade de encontrar alternativas de
desenvolvimento local e regional. O país pretende desenvolver o turismo com base no
princípio da sustentabilidade, trabalhando de forma participativa, descentralizada e
sistêmica, estimulando a integração e a conseqüente organização e ampliação da oferta.

47
http://institucional.turismo.gov.br/Mintur/UserFiles/File/planoNacionalPortugues.pdf

60
6. ANÁLISE DOS IMPACTOS DO PROJETO
6.1. Políticas de Salvaguardas Acionadas
Os tópicos a seguir sumarizam a interface entre as atividades do Projeto e as políticas
operacionais para as quais o Banco Mundial estabelece salvaguardas ambientais. Além
de levar em conta as diretrizes do Banco, a análise também incorpora os marcos legais
que regulamentam em âmbito nacional a execução de atividades como as previstas pelos
parceiros do Projeto.

Políticas de Salvaguardas do Banco Mundial acionadas


Avaliação Ambiental (OP/BP/GP 4.01)
Habitats Naturais (OP/BP 4.04)
Controle de Pragas (OP 4.09)
Florestas (OP/BP 4.36)
Patrimônio Cultural (OPN 11.03)

Do total de recursos previstos para desembolso pelo GEF, cerca de 30% serão
aplicados em atividades executadas fisicamente em meio natural, ou seja, atividades que
podem afetar diretamente o meio ambiente. Tais atividades incluem os projetos piloto
previstos no Componente 2 do Projeto, bem como as iniciativas de campo a serem
promovidas pelos ministérios e institutos envolvidos no Projeto. Algumas atividades
têm local geográfico definido para seu desenvolvimento (como os remanescentes do
bioma Mata Atlântica), que serão priorizados pelo MCT, estando sua execução
condicionada a processos seletivos a serem conduzidos pelas instituições parceiras ao
longo do Projeto.

Preferencialmente, tais atividades de campo serão realizadas nas áreas prioritárias


definidas pelo Projeto Probio, as quais foram encampadas pelo governo federal como
foco de trabalho para a conservação da biodiversidade. Trata-se de 900 territórios
distribuídos por o todo o país, definidos por meio de um extenso processo de consulta,
segundo critérios de priorização para ações de conservação da biodiversidade. A
preferência por essas áreas é desejável e positiva.

Espera-se que o impacto ambiental de tais atividades seja altamente positivo, e que
elas contribuam para modificar a percepção do setor público e de setores econômicos
sobre a importância e os benefícios advindos da conservação da biodiversidade. Tal
estratégia atende um dos princípios da Lei nº 6.938, de 31/08/81, que estabelece a
Política Nacional do Meio Ambiente, posteriormente incorporados à Constituição
Federal, que em seu artigo 225, §1º, VI dispõe sobre a educação ambiental em todos os
níveis e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.

Pretende-se, por exemplo, fomentar a adoção da agricultura orgânica em maior escala,


a redução da utilização de pesticidas por meio da difusão de técnicas ecológicas de
controle de pragas, a recuperação de áreas degradadas pelo pasto para a formação de
novas pastagens, de forma a conter a derrubada de novas áreas de floresta para a
pecuária extensiva. Também se espera promover o resgate e a conservação in situ de
ancestrais silvestres de espécies com potencial agropecuário, bem como desenvolver e
implementar iniciativas de melhores práticas em aqüicultura, biodiversidade genética e

61
manejo sustentável da biodiversidade nativa, em propriedades rurais e em comunidades
tradicionais e nas unidades de conservação integrantes do Sistema Nacional de
Unidades de Conservação - SNUC, fortalecendo o sistema e proporcionando mudanças
positivas nas formas de gerenciamento das unidades de conservação.

Além das iniciativas setoriais, os subprojetos sob responsabilidade do Funbio deverão


integrar as diversas práticas de sustentabilidade e conservação em pelo menos sete
territórios, difundindo tais práticas em larga escala em meio ao setor privado, sob o
amplo apoio do poder público. A abordagem territorial e multissetorial faz parte da
estratégia de difusão da experiência adquirida pelo Funbio na implementação de 62
projetos de médio porte em todo o país. Avaliando os resultados desses projetos, o
Conselho Deliberativo do Funbio recomendou o apoio e a implementação de programas
de maior escala. Assim, foi criado o Programa Integrado de Conservação e Uso
Sustentável da Biodiversidade (PICUS), que se encontra em fase inicial de operação em
três territórios selecionados por meio de um processo criterioso. As três iniciativas se
encontram na Mata Atlântica, bioma que sofre maior pressão antrópica no país. O
PICUS irá articular esforços de conservação e de uso sustentável dos recursos naturais,
de forma a gerar impactos positivos, em longo prazo, em territórios de valor estratégico
para a conservação da biodiversidade no Brasil.

A planilha de atividades previstas para o Projeto estima que 47% dos recursos doados
serão aplicados em atividades a serem realizadas fisicamente, em sua maioria, em
laboratórios e escritórios, as quais apresentam menor potencial de impacto direto sobre
o meio ambiente. Para assegurar a minimização do potencial impacto indireto de tais
atividades sobre o meio ambiente, é imprescindível a aplicação das diretrizes de
consumo sustentável nos processos de suprimentos para o Projeto. Muito embora não
exista legislação brasileira expressa sobre este tema, tais diretrizes já pautam algumas
políticas governamentais e o debate da sociedade civil.

Esses processos abrangem os procedimentos logísticos e operacionais, eventos,


publicações e workshops, bem como a maioria dos estudos técnicos e documentos
governamentais cuja produção é prevista. Aqui está incluída, por exemplo, a formação e
operacionalização, em âmbito governamental, de grupos assessores para flora e fauna
invasora ou ameaçada de extinção, as iniciativas de fomento à transversalização da
biodiversidade nas políticas públicas, a formação de uma rede integrada de pesquisa em
biodiversidade, os processos de capacitação, a realização de inventários de espécies, a
impressão de manuais sobre enfermidades emergentes e reemergentes ambientais, além
de outras atividades de escopo semelhante.

Especialmente com relação à formação de uma rede de pesquisa em biodiversidade,


além das normas gerais que regulamentam a pesquisa científica no país, há que se
considerar os dispositivos da Medida Provisória nº 2.186, de 23/08/2001, que, dentre
outros aspectos, estabelece as condições para que pesquisadores, empresas e demais
interessados possam solicitar autorizações para acessar recursos genéticos e
conhecimento tradicional associado no país. Quanto a isso, atenção específica é dada à
questão do consentimento prévio e informado das comunidades e povos tradicionais, o
que originalmente aparece no texto da Convenção da Diversidade Biológica,
incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro por meio do Decreto 2.519, de 16/03/98.

62
A análise da planilha de atividades possibilita ainda identificar que os 23% dos
recursos do GEF restantes deverão ser aplicados em atividades híbridas, que envolvem
igualmente desempenho de campo e de gabinete. Inclui-se neste grupo os estudos
científicos de ecologia de populações de espécies, estudos sobre o uso sustentável dos
componentes do patrimônio genético e do conhecimento tradicional associado, estudos
de genética da conservação, estudos biogeográficos para o detalhamento de ecorregiões
aquáticas e outras atividades semelhantes.

Por se tratar de uma iniciativa que tem como objetivo elevar a biodiversidade a uma
condição de elemento prioritário nas operações dos setores público e privado no Brasil,
as instituições parceiras envolvidas no Projeto buscarão inserir os princípios da
sustentabilidade ambiental e da conservação da biodiversidade em seus próprios
procedimentos operacionais e administrativos. Para tanto, deverão considerar o disposto
no Decreto 4.339/2002, que institui a Política Nacional de Biodiversidade. O Decreto
define princípios e diretrizes para a implementação da Política Nacional, com a
participação dos governos federal, distrital, estaduais e municipais, além da sociedade
civil. Dentre outras coisas, a Política Nacional de Biodiversidade pressupõe um esforço
nacional integrado de conservação e utilização sustentável da diversidade biológica, de
forma complementar e harmônica, em planos, programas e políticas setoriais ou
intersetoriais pertinentes. Destaque-se também o Decreto 4.703/2003, que regulamenta
o Programa Nacional da Diversidade Biológica (Pronabio) e o funcionamento da
Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio) – que coordena o Pronabio, dispondo
sobre a elaboração e implementação da referida Política Nacional de Biodiversidade,
bem como sobre a promoção de parceria com a sociedade civil com vistas a conhecer e
conservar a diversidade biológica, usar seus componentes de forma sustentável e
garantir a repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados dessa utilização.

Para assegurar a efetividade do investimento na conservação da biodiversidade, o


Conselho Deliberativo do Funbio determinou que as atividades apoiadas no âmbito do
componente 2 do Projeto sejam precedidas de análises socioeconômicas e ambientais
dos territórios que vierem a ser selecionados, com ênfase na identificação e
caracterização das atividades produtivas e seus efeitos na biodiversidade regional e nos
recursos associados. De modo geral, espera-se que os efeitos dos subprojetos sobre o
meio ambiente sejam positivos, gerando resultados como a melhor concepção e
implementação de estratégias de conservação, o aumento da capacidade de proteção, o
uso mais sustentável da terra, a melhoria da capacidade de conservação da
biodiversidade e a utilização mais sustentável dos recursos naturais.

Uma vez que todo o Projeto é concebido para ser sustentável, é mínima a expectativa
de que haja impactos negativos sobre o meio ambiente. Possíveis impactos derivados do
Projeto podem estar relacionados à eventual necessidade de construção de uma infra-
estrutura básica para alojar o Instituto Virtual de Biodiversidade e/ou o Centro de
Monitoramento e/ou Centro de Informação em Saúde Silvestre e/ou a criação e
reestruturação dos Centros de Conservação da Flora e bases já existentes e/ou
fortalecimento dos Centros Especializados em Fauna e Pesca e criação de novos Centros
Especializados e eventualmente alguma infra-estrutura nas áreas de implementação das
ações. Os potenciais impactos negativos previstos e as respectivas ações de mitigação
estão relacionados na Matriz de Potenciais Impactos Negativos, Anexo 2 desta
Avaliação Ambiental.

63
Além de atuar na implementação de iniciativas práticas e na elaboração de políticas
públicas, o Projeto tem potencial de impacto positivo em larga escala se conseguir
difundir melhores práticas de políticas de investimentos, considerando a biodiversidade.
A definição de critérios claros e didáticos para a aplicação de recursos de forma
sustentável poderia auxiliar a aumentar a conscientização desses grupos sobre os
componentes da biodiversidade e as políticas de salvaguarda.

A previsão e a análise dos eventuais rebatimentos ambientais decorrentes do Projeto


estão resumidas nos tópicos a seguir.

Habitats Naturais
Há diversas atividades previstas no âmbito do Projeto que estão relacionadas a
habitats naturais, tanto aquáticos quanto terrestres. Entretanto, nenhuma delas prevê
conversão substancial ou degradação de habitats naturais, sendo todas sempre
relacionadas à conservação e/ou à recuperação de tais áreas. As atividades financiadas
com recursos do Projeto, realizadas in situ ou ex situ, estão diretamente submetidas aos
princípios da Convenção da Diversidade Biológica e da Política Nacional de
Biodiversidade (Decreto nº 4.339, de 22 de agosto de 2002), que institui princípios e
diretrizes para a implementação da Política Nacional da Biodiversidade, normatizando a
gestão da biodiversidade no Brasil.

Há uma possibilidade remota de que as atividades de pesquisa de campo venham a


afetar diretamente o meio ambiente pesquisado, ainda que de forma pontual. Nesse
caso, a avaliação ambiental das atividades de logística e coleta de amostras para as
pesquisas, bem como o desenvolvimento de um programa de monitoramento, são
tarefas que podem ser importantes para mensurar, minimizar e mitigar esses impactos.

Uma vez que é previsto que o Projeto trabalhe junto a setores produtivos de larga
escala e já consolidados em uma dada realidade regional, espera-se que o Projeto venha
a apoiar atividades ligadas a cadeias produtivas que ainda não levam em conta critérios
ambientais. Um dos objetivos do Projeto é justamente reduzir o impacto negativo dessas
atividades produtivas de larga escala sobre habitats naturais. No caso de as iniciativas
apoiadas no âmbito dos subprojetos de priorização territorial da biodiversidade, sob
apoio do Funbio (componente 2), apresentarem algum potencial de impacto sobre
habitats naturais, ainda que estes sejam menores que os apresentados antes da
aproximação do Projeto, serão adotados os princípios estabelecidos no Anexo 1 desta
Avaliação Ambiental.

Florestas
A avaliação da biodiversidade dos biomas brasileiros do Probio, que indicou 900
áreas prioritárias para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade no Brasil, é
um dos principais subsídios que o Projeto tem para direcionar suas atividades de campo,
sendo desejável que o Projeto atue nessas áreas, de modo a conservá-las e garantir o uso
sustentável da biodiversidade aí encontradas. Os subprojetos a serem desenvolvidos no
âmbito do componente 2 que eventualmente forem executados em áreas florestais terão
sua elaboração, implementação e monitoramento realizados de modo a assegurar que se
minimizem os impactos negativos sobre essas áreas florestais.

64
O projeto não financiará atividades florestais de caráter comercial. Para qualquer
atividade que envolva produção florestal será adotada a Política Florestal do Banco
Mundial. Dependendo do setor econômico em questão, as modalidades de suprimentos
responsáveis que puderem ser aplicadas o serão para evitar que as cadeias produtivas de
bens e serviços fornecidos para as atividades do Projeto gerem, ainda que de forma
indireta, impactos negativos sobre os remanescentes florestais.

A Lei 4.771, de 15/09/65, conhecida como Código Florestal, estabelece uma série de
medidas protetoras das florestas existentes no país, inclusive o reconhecimento de que
tais florestas são bens de interesse comum a todos os habitantes, merecedoras por isso
mesmo de proteção especial. Uma das formas de proteção às florestas é o
estabelecimento de limites máximos para o corte raso das áreas de florestas em
propriedades privadas, fixados de acordo com as características de cada região do país.

Controle de Pragas
Os recursos do Projeto, originários do GEF ou da contrapartida nacional que
eventualmente vierem a financiar a aquisição de defensivos agrícolas deverão ser
empregados sob a orientação do Plano de Manejo Integrado de Pragas (PMIP), Anexo 3
desta Avaliação Ambiental. Os parceiros do Projeto irão avaliar a conveniência do
envolvimento de produtores agrícolas que fazem uso de pesticidas em suas lavouras,
sempre levando em consideração os potenciais benefícios de tal envolvimento para se
atingir os objetivos do Projeto.

O poder público envolvido no Projeto unirá esforços para promover a observância ao


disposto na Lei nº 7.802, de 11/07/1989, que estabelece as restrições para o uso de
agrotóxicos em razão dos riscos que os mesmo causam ao meio ambiente, à saúde
humana e à biodiversidade.

As atividades do Projeto ligadas disseminação de técnicas de agricultura ecológica


serão desenvolvidas em paisagens agropecuárias visando à adoção de boas práticas que
levem em consideração critérios de conservação da biodiversidade em larga escala. Ao
longo do Projeto, espera-se atingir a gradativa conversão de unidades de produção
orgânica reduzindo, até eliminar, a utilização de defensivos agrícolas químicos. Ao
mesmo tempo, a iniciativa irá encorajar a adoção de métodos tradicionais e abordagens
ecológicas e sustentáveis para o controle de pragas.

Vale lembrar que a Lei nº 8.171, de 17/01/91, que dispõe sobre a Política Agrícola
Brasileira, estabelece, como um dos seus objetivos, a proteção do meio ambiente com a
garantia do uso racional e o estímulo à recuperação dos recursos naturais, o que passa
pela disciplina no uso racional do solo, da água, da fauna e da flora, bem como pela
realização de zoneamentos agroecológicos que permitam estabelecer critérios para
disciplinar e ordenar o espaço das diversas atividades produtivas.

Espera-se estabelecer ao menos sete paisagens produtivas que comprovem a


viabilidade dessas práticas de baixo impacto ambiental, contribuindo para a redução da
utilização dos poluentes orgânicos persistentes (POPs), conforme determina o Tratado
para Banimento dos POPs, ao qual o Brasil aderiu em maio de 2001. O Tratado tem
como principal objetivo eliminar a produção, uso e disposição de substâncias químicas
tóxicas, visando proteger a saúde humana e o meio ambiente, promove a utilização,

65
comercialização, manejo e o descarte destes poluentes de forma sustentável e
ambientalmente adequada. O Tratado pretende ainda a geração de um sistema de
regulamentação e avaliação que impeça a produção e a introdução no mercado de novos
pesticidas e produtos químicos industriais contendo POPs, por intermédio da adoção do
chamado princípio da substituição, que prega a necessidade de implementação de uma
alternativa sempre que uma atividade gerar ameaça de um dano sério e irreversível ao
meio ambiente ou à saúde.

Patrimônio Cultural
Não é esperado que o Projeto afete negativamente aspectos de propriedade cultural. A
articulação em nível territorial e alianças envolvendo turismo podem ajudar a proteger
importantes monumentos arqueológicos, históricos ou outros patrimônios culturais ou
locais de valor natural único. Na eventualidade de o Projeto apoiar iniciativas em áreas
que contenham recursos de propriedade cultural, serão aplicados os instrumentos
regulatórios existentes na Política de Salvaguarda sobre patrimônio Cultural do Banco
Mundial e legislação brasileira relativa ao Patrimônio Cultural.

O primeiro destes instrumentos é o Decreto-lei nº 25, de 30/11/37, que organiza a


proteção do patrimônio histórico e artístico nacional, caracterizando a sua conservação
como de interesse público. Além dele, o Decreto nº 3.551, de 04/08/2000, institui o
registro de bens culturais de natureza imaterial, que constituem patrimônio cultural
brasileiro, criando o programa nacional do patrimônio imaterial. Conforme determina o
Banco Mundial, se houver qualquer questão a respeito de propriedade cultural na área
de atuação do Projeto, um perito deve empreender breve levantamento de
reconhecimento no campo. Nesse caso, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN) também deverá ser acionado para assegurar o devido tratamento ao
patrimônio cultural em questão, conforme inclusive disposto no já mencionado Decreto
nº 3.551/2000.

66
7. PLANO DE MITIGAÇÃO DE IMPACTOS
As medidas de mitigação previstas para evitar a ocorrência de impactos ambientais
negativos durante a execução do Projeto estão descritas, para cada atividade que
apresenta potencial impacto, no Anexo 2 _Impactos Ambientais e Plano de Mitigação
desta Avaliação Ambiental. O documento relaciona todas as atividades com potencial
impacto negativo, discriminando as dimensões espaço-temporais dos impactos, sua
intensidade, abrangência, risco de ocorrência e potencial de persistência. Essas
informações orientam a determinação das medidas de mitigação cabíveis, o parceiro
responsável pela tomada da medida, o custo de sua consecução e a fonte orçamentária.

7.1. Marco de Filtragem Ambiental

Anexo 3 desta avaliação ambiental apresenta as avaliações que deverão ser realizadas
previamente ao início de uma nova atividade ou de apoio a um novo subprojeto, para
verificação da adequação dos mesmos aos objetivos do Projeto e a este Plano de
Salvaguardas.

Adicionalmente o Funbio, parceiro responsável pelo fomento dos subprojetos


previstos no âmbito do componente 2 do Projeto, determinou que as atividades que
vierem a ser realizadas sob seu apoio serão previamente analisadas pelo filtro
classificatório do Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bolsa de Valores de São
Paulo (ISE). O Projeto do ISE foi financiado pelo International Finance Corporation
(IFC), braço privado do Grupo Banco Mundial, cuja principal missão é promover
investimentos no setor privado de países em desenvolvimento, com objetivo central de
reduzir a pobreza e promover a melhoria de qualidade de vida nestas regiões.

A dimensão ambiental, dada a relevância e diferença de impactos sobre o meio


ambiente dos diversos setores, considera a natureza dos negócios. As empresas listadas
do setor financeiro têm um questionário ambiental diferenciado e adaptado às suas
características. As demais empresas foram divididas em dois níveis de impacto - alto e
moderado - e responderão ao mesmo questionário. Porém, os critérios da dimensão
ambiental receberão ponderações diferentes na avaliação final segundo os dois níveis.

7.2. Suprimento de Bens e Serviços


Como princípio fundamental, os processos de aquisição e contratação de bens e
serviços para o Projeto serão conduzidos sob as diretrizes de suprimento responsável do
ponto de vista socioambiental (environmentally and socially responsible procurement -
ESRP), em consonância com as recomendações do World Bank’s Environment
Department and Operational and Country Procurement Services Group. O programa
ESRP do Banco Mundial busca refinar as especificações e termos de referência para
contratações com recursos originários do Banco, priorizando aspectos relacionados à
proteção da camada de ozônio, às adaptações derivadas das mudanças climáticas e à
redução da utilização dos POPs (Poluentes Orgânicos Persistentes), além, é claro, de
priorizar o investimento em bens e serviços ambientalmente amigáveis.

67
O ESRP será aplicado às operações do Projeto de modo a fortalecer a rede de
fornecedores que atendam a ou apliquem parâmetros ambientais em sua cadeia
produtiva, sempre que possível. As equipes envolvidas no Projeto, em especial as de
suprimentos, serão capacitadas para priorizar de forma permanente a demanda e
contratação de fornecedores e serviços de consultoria ambientalmente amigáveis.

No que se refere à definição de fornecedores, está-se tratando da possibilidade de


especificação do objeto das licitações, com requisitos voltados à conservação e à
preservação do meio ambiente. A combinação de dispositivos constitucionais, como o
artigo 37 (princípios gerais da Administração Pública), artigo 170 (princípios gerais da
atividade econômica), art. 225 (sobre o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado) e seu §1º, V (necessidade de controlar a produção, comercialização e o
emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a
qualidade de vida e o meio ambiente), aliada a diversos dispositivos da Lei nº 8.666, de
21/06/93, que trata das licitações, demonstram justamente a viabilidade em face do
ordenamento jurídico brasileiro da especificação do objeto na licitação com requisitos
acerca da conservação e preservação do meio ambiente.

Em suma, as instituições executoras do Projeto Nacional de Ações Integradas Público-


Privadas para Biodiversidade servirão como exemplos da viabilidade e aplicabilidade de
práticas sustentáveis cotidianas e políticas institucionais que tenham a biodiversidade
como elemento prioritário, estimulando sua adoção em âmbito interno por meio de
campanhas que farão parte dos esforços de educação ambiental empreendidos pelo
Projeto. Esta estratégia desenhada pelos parceiros está em consonância com a Lei 9.795,
de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a educação ambiental e institui a Política
Nacional de Educação Ambiental, estabelecendo, dentre os seus objetivos fundamentais,
“o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas
múltiplas e complexas relações”.

7.3. Marco Legal48

A formação do arcabouço jurídico e normativo que trata dos recursos naturais


brasileiros teve início no período da ditadura Vargas e Estado Novo (1930/46) e
prosseguiu sem alterações conceituais até o período da ditadura militar (1964/1984).
Nesta fase, o que se observou foi uma regulamentação dos recursos naturais sob o
prisma exclusivo do desenvolvimento econômico, o que, de certa forma, mesmo com os
avanços legais e normativos alcançados, notadamente o Capítulo de Meio Ambiente da
Constituição Federal de 1988, mantém-se até hoje.

Desde 1937, com a criação do primeiro Parque Nacional, em Itatiaia, RJ, o Brasil vem
adotando a estratégia mundialmente difundida para a conservação in situ da
biodiversidade, baseada na criação de "Unidades de Conservação" (UCs).

48
Extraído do documento “Políticas Públicas em Biodiversidade: Conservação e uso Sustentado no País
da Megadiversidade”, disponível em
http://www.hottopos.com/harvard1/politicas_publicas_em_biodiversi.htm, acessado em 17/03/2006.

68
Nas décadas de 60 e 70, verificou-se um grande avanço na criação de UCs e surgiram
as primeiras propostas para criação de um "sistema nacional de unidades de
conservação".

Também na década de 70, após a Conferência de Estocolmo (1972), o governo


brasileiro deu início ao desenvolvimento de uma política pública voltada para a
conservação do meio ambiente, culminando com a criação da Secretaria Especial do
Meio Ambiente, em 1973. Já nesta época, verificava-se um estado de degradação
ambiental crítico em diversas áreas do país.

No início da década de 80 foi instituído o Sistema Nacional do Meio Ambiente


(SISNAMA, Lei 6938/81), constituído pelo CONAMA - Conselho Nacional do Meio
Ambiente, MMA - Ministério do Meio Ambiente, IBAMA - Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e órgãos da administração pública
federal, setorial, estadual e municipal de meio ambiente. Os dois primeiros órgãos do
sistema eram responsáveis pela formulação de políticas e articulação inter-institucional
e os demais pela execução da Política Nacional do Meio Ambiente O sistema foi
orientado para uma execução descentralizada, com repartição de responsabilidades entre
as três esferas de governo e participação da sociedade civil na conservação do meio
ambiente.

Já em 1987, o governo brasileiro, com apoio do PNUD (Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento), iniciou a negociação do Programa Nacional do Meio
Ambiente (PNMA), voltado para resolução de deficiências nas áreas de capacitação
institucional, conservação da biodiversidade e estratégias de desenvolvimento. O
PNMA, efetivado em 1991, foi a maior operação de crédito firmada com agências
multilaterais (Banco Mundial, BIRD e KFW) na área de meio ambiente no Brasil,
constituindo-se na principal fonte de financiamento de projetos neste período, com
recursos da ordem de US$ 127 milhões. O PNMA caracterizou-se como inovador ao
buscar a integração da questão ambiental no planejamento e desenvolvimento regional.

A Constituição Federal de 1988 criou condições para a descentralização da


formulação de políticas, permitindo que estados e municípios assumissem uma posição
mais ativa nas questões ambientais locais e regionais. Iniciou-se então, a formulação de
políticas e programas mais adaptados à realidade econômica e institucional de cada
estado, permitindo maior integração entre as diversas esferas governamentais e os
agentes econômicos. Alguns estados se destacaram, demonstrando consciência da
necessidade de conservar seus recursos naturais remanescentes em razão do
agravamento de seus problemas ambientais ou por possuírem melhor nível de
informação sobre eles.

Em 1990, iniciam-se as discussões e negociações para a implantação de um Programa


Piloto para a Preservação das Florestas Tropicais do Brasil (denominado PPG7),
instituído em 1992 (Decreto nº 563/92). A primeira fase foi desenvolvida de forma
piloto com recursos da ordem de US$ 250 milhões e contrapartida nacional de 10%.
Como suporte financeiro ao Programa foi criado, em 1992, o "Rain Forest Trust Fund"
(RTF), administrado pelo Banco Mundial. Os objetivos do Programa Piloto são:
conservar a biodiversidade, reduzir emissões de carbono e promover maior
conhecimento sobre atividades sustentáveis da floresta tropical.

69
Existem ainda, iniciativas pontuais de diversos órgãos não-governamentais (ONGs),
agências financiadoras nacionais (CNPq, FINEP e BNDES) e órgãos estaduais de apoio
ao desenvolvimento científico e tecnológico (FAPESP, FAPERJ, FAPERS e FAP/DF
entre outros) direcionadas à promoção de estudos, formação de recursos humanos e
pesquisas em conservação e uso da biodiversidade.

Instrumentos jurídicos de proteção da biodiversidade no Brasil

No aspecto jurídico desde a década de 60, e mais acentuadamente na década de 80, o


Brasil vem formulando normas de proteção ambiental relacionadas à conservação da
biodiversidade, dentre as quais destacam-se:

· Lei No. 4.771/65: institui o Código Florestal;

· Lei No. 5.197/67: dispõe sobre a proteção à fauna;

· Lei 6.766/79: dispõe sobre o parcelamento do solo urbano;

· Lei No. 6.902/81: dispõe sobre a criação de estações ecológicas e áreas de proteção
ambiental;

· Lei No. 6.938/81: dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e
mecanismos de formulação e aplicação;

· Decreto No. 89.336/84: dispõe sobre Reservas Ecológicas e Áreas de Relevante


Interesse Ecológico;

· Lei No. 7.347/85: disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos
causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico;

· Lei No. 7.661/88: institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro;

· Lei No. 7.679/88: dispõe sobre a proibição da pesca de espécies em períodos de


reprodução;

· Constituição Federal/88, Capítulo do Meio Ambiente (art. 225): garante o direito de


todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações; estabelece, dentre
outros, a obrigatoriedade de preservação e restauração de processos ecológicos
essenciais e manejo ecológico das espécies e ecossistemas; preservação da diversidade e
a integridade do patrimônio genético do País, fiscalização das entidades dedicadas à
pesquisa e manipulação de material genético; definição de espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos; proteção da fauna e flora. Declara
como patrimônio nacional a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o
Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira;

70
· Lei No. 7.754/89: estabelece medidas para proteção das florestas existentes nas
nascentes dos rios;

· Lei No. 7.797/89: cria o Fundo Nacional do Meio Ambiente;

· Decreto Legislativo No. 02/94: aprova o texto da Convenção sobre Diversidade


Biológica;

Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005 - Regulamenta os incisos II, IV e V do § 1o do


art. 225 da Constituição Federal, estabelece normas de segurança e mecanismos de
fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados –
OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS,
reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, dispõe sobre a
Política Nacional de Biossegurança – PNB, revoga a Lei no 8.974, de 5 de janeiro de
1995, e a Medida Provisória no 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, e os arts. 5o, 6o, 7o,
8o, 9o, 10 e 16 da Lei no 10.814, de 15 de dezembro de 2003, e dá outras providências.

· Lei No. 9.605/98: dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de


condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e dá outras providências (Lei de Crimes
Ambientais).

MP 2.186-16 de 23 de agosto de 2001 - Regulamenta o inciso II do § 1o e o § 4o do


art. 225 da Constituição, os arts. 1o, 8o, alínea "j", 10, alínea "c", 15 e 16, alíneas 3 e 4
da Convenção sobre Diversidade Biológica, dispõe sobre o acesso ao patrimônio
genético, a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado, a repartição de
benefícios e o acesso à tecnologia e transferência de tecnologia para sua conservação e
utilização, e dá outras providências.

Decreto Legislativo nº 70, de 18 de abril de 2006 - aprova o texto do Tratado


Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e Agricultura, aprovado
em Roma, em novembro de 2001, e assinado pelo Brasil, em 10 de junho de 2002.

Apesar de todo esse arcabouço legal, as taxas de desmatamento e perdas de


biodiversidade continuam alarmantes. Na região amazônica, por exemplo, durante o
período de 1978 a 1998, este valor atingiu 2 milhões de hectares. A Mata Atlântica, por
sua vez, está reduzida à apenas 7,3% de sua cobertura original, causando a
fragmentação de ecossistemas, à extinção de espécies e a perda de habitats de caráter
irreversível.

71
ANEXO 1

POTENCIAIS IMPACTOS AMBIENTAIS


E
PLANOS DE MITIGAÇÃO

Projeto Nacional de Transversalização e Priorização da Biodiversidade


e Consolidação Institucional

72
Projeto BioPrioridade - Matriz de Potenciais Impactos Ambientais Negativos

Responsável pela
Mitigação /Obs.**
Subcomponente

Persistência do
potencialmente
Sub-atividade

Sub-atividade

Categoria do
Componente

Extensão do
responsável

Medidas de

Orçamento

Orçamento
necessário
Instituição

Execução
negativos

Processo
Atividade

Impacto *
Impactos

Fonte de
Parceiro

Impacto

Impacto
Risco
Conversão de culturas, erosão e
esgotamento do solo
Desmatamento ou destruição da Proibir os seguintes procedimentos ou insumos agrícolas: Queimadas sistemáticas; Desmatamento ou destruição da
vegetação natural protetora de mananciais vegetação natural protetora de mananciais e beira de rios; Utilização de materiais orgânicos com potencial poluente ou
e beira de rios contaminante; Uso de implementos pesados que destruam a estrutura do solo; Uso de águas contaminadas por agrotóxicos,
Poluição e contaminação por materiais fertilizantes solúveis, esgoto e resíduos industriais; Utilização de adubos químicos de média e alta solubilidade e

1.2.1.1
Promoção e Desenvolvimento da
Negativo concentração; Usos de agrotóxicos; Produtos com propriedades corretivas, fertilizantes ou condicionadores do solo com C/ DA/
Agricultura Orgânica para a conservação MAPA B L T MAPA R$ 15.000,00 MAPA
Alteração da estrutura do solo Mitigável agentes potencialmente poluentes; Esterco, restos vegetais ou outro material contaminado por agrotóxico; Uso de qualquer EIA/ ME
da biodiversidade
agrotóxico e esterilizante de solo de natureza química; Uso de produtos inorgânicos sintéticos à base de metais persistentes
no ambiente (mercúrio, chumbo, arsênio e outros); Tratamento de sementes e mudas com agrotóxicos; Uso de organismos
Contaminação química geneticamente modificados/transgênicos; Uso de herbicidas químicos, derivados de petróleo e hormônios sintéticos;
Fumigantes sintéticos; Irradiações ionizantes; Reguladores de crescimento; Inibidores de brotamento; Indutores de maturação

Esterilização do solo

Identificação, avaliação e uso de recursos Desequilíbrio ambiental devido à


Negativo Definir o manejo adequado para essas espécies, plantios de enriquecimento (se necessário), prospecção constante de
forrageiros nativos (espécies arbóreas) superexploração de algumas espécies M L T 13500 Embrapa
Mitigável plantas com potencial forrageiro visando aumento da diversificação.
para produção de feno em assentamentos (plantas nativas com potencial forrageiro)
Ação 1 - Organização e capacitação de
assentados de reforma agrária para a
produção de hortaliças em sistemas
orgânicos com conservação da Embrapa ME
biodiversidade ; Ação 2- Implantação de Contaminação de água e do solo pelo uso
Negativo Monitorar o uso de biofertilizantes e caldas; capacitar os assentados em tópicos voltados ao manejo da produção (Ex: uso de
unidades pilotos de produção orgânica de indiscriminado de insumos orgânicos, M L T 8500 Embrapa
Mitigável insumos orgânicos, controle de pragas, dentre outros)
hortaliças com conservação da como biofertilizantes e caldas.
biodiversidade ; Ação 3- Instalação de
unidades pilotos de processamento de
1.2.1.3

hortaliças orgânicas para agregação de


valor
Criação de banco de dados para o
desenvolvimento de índices de qualidade
Aumento da área sob plantio direto para
do solo associados à valoração da
grandes culturas e diminuição da área de Negativo Estimular a produção de outras espécies para consumo próprio por pequenos agricultores, esclarecendo sobre o valor
biodiversidade de microrganismos e P E P 20000 Embrapa
outras espécies para consumo próprio por Mitigável nutritivo dos alimentos.
invertebrados edáficos em diferentes
pequenos agricultores.
ecossistemas sob distintos sistemas
manejo
Embrapa C
Criação de banco de dados para o
1.2.1

desenvolvimento de índices de qualidade Compactação dos solos por manejo


do solo associados à valoração da inapropriado de máquinas agrícolas,
Negativo Oferecer cursos, folhetos e esclarecimentos em dias de campo sobre o manejo adequado das máquinas utilizadas no
biodiversidade de microrganismos e resultando em problemas de infiltração da P L P 25000 Embrapa
Mitigável sistema de plantio direto.
invertebrados edáficos em diferentes água no solo, erosão por escorrimento
ecossistemas sob distintos sistemas superficial.

1
1.2

manejo

Ação 1: Avaliação das características Compactação subsuperficial, devido à não


físico-químicas e biológicas do solo em Embrapa adequação das práticas de manejo cultural
Negativo Acompanhar as práticas culturais e orientar para produção de palhada em quantidade e qualidade satisfatória, minimizando a
áreas sob plantio direto de hortaliças Ação ao novo sistema de produção, em alguns A E P Embrapa ME 4437 Embrapa
Mitigável ocorrência de processos erosivos. Quanto ao uso de herbicidas dessecantes, orientar no tangente à tecnologia de aplicação.
2: Capacitação de agentes atuantes na casos. A tecnologia utiliza maior
produção de hortaliças sob plantio direto quantidade de herbicidas dessecantes.
1.2.1.4

Monitoramento da dinâmica da fauna do


Limitações no ajuste e configurações de
solo sob plantio direto de arroz de Aprimorar as partes de equipamentos (sulcador, disco de corte e distribuidor de adubo) para melhorar a relação máquina
partes da plantadeiras especialmente do
cobertura em relação ao solo sob floresta Negativo semente e solo. Usar espécies de cobertura para melhorar a estrutura física do solo e a dinâmica de nutrientes visando Fonte
disco de corte da palhada e sulcadores A E P Embrapa ME 90000
de cerrado. Ação 2: Monitoramento das Mitigável melhorar o desenvolvimento do sistema radicular das plantas Selecionar variedades de arroz com sistema radicular mais Competitiva
para permitir que o adubo seja depositado
transformações físico-químicas do solo denso e profundo com maior capacidade de explorar o solo.
a uma maior profundidade.
sob plantio direto com plantas de cobertura

Promover eficiência dos sistemas


Riscos associados à degradação de áreas
produtivos, recuperação e o uso
de proteção ambiental e à liberação de
sustentável de áreas degradadas e
poluentes de fontes pontuais e difusas,
1.2.1.5

alteradas, visando disciplinar a abertura de


causadores de impactos sobre Áreas de Negativo Avaliar os impactos ambientais, indicar Boas Práticas de manejo e adotar inovações tecnológicas agropecuárias, e propor Fonte
novas fronteiras agrícolas e reduzir as M E P Embrapa ME 56618
Proteção Ambiental e de conservação da Mitigável Gestão Ambiental Territorial visando a proteção das áreas de proteção e de conservação da biodiversidade Competitiva
pressões antrópicas sobre a Floresta
biodiversidade, pelas atividades rurais e
Amazônica, o Cerrado, a Caatinga, áreas
agroindustriais ligadas à produção de
remanescentes da Mata Atlântica e outras
biocombustíveis.
reservas de biodiversidade.
Redução da diversidade em sistemas
Ação 1 : Intensificação das atividades de produtivos devido à internalização e uso
1.2.1.6

Enriquecimento da Variabilidade ; Ação 2 : excessivo de recursos genéticos exóticos;


Negativo concentrar esforços na coleta, resgate e promoção do uso de recursos genéticos da biodiversidade brasileira, reduzindo Fonte
Intensificação do Uso de Recursos eliminação do uso de alternativas A E P Embrapa ME 90000
Mitigável riscos de impactos ambientais negativos. Competitiva
Genéticos via Pré-Melhoramento e autóctones, com perda de diversidade
Integração com Programas Finalísticos genética e eventuais efeitos ambientais
negativos.
1.2.2.3 1.2.2.1

Alteração da paisagem, contaminação de


MMA - Negativo Não remover vegetação natural, disposição adequada dos sacos plasticos e lixo, elaboração de manual com medidas para
Silvicultura de Espécies Nativas águas pela disposição inadequada de terra B L T MMA/DIFLOR EIA, ME 20000 MMA
SBF/Diflor Mitigável evitar danos
e sacos plásticos, transmissão de pragas.
1.2.2

Contaminação de solo e água pelo uso de


Implementação dos planos de ação de
espécies invasoras e ameaçadas de
extinção e sobreexplotadas
JBRJ
adubos químicos e pesticidas; introdução
de patógenos por sementes e materiais
B
Negativo
Mitigável
L T
Localizar viveiros apropriadamente. Realizar controle fitosanitários das espécies a serem estudadas. Capacitar pessoal para
a deposição correta de vasilhames de adubos e pesticidas.
JBRJ DA, C 100000 73JBRJ
genéticos vegetativos.
Projeto BioPrioridade - Matriz de Potenciais Impactos Ambientais Negativos

Instituição Responsável pela Execução


Impactos potencialmente negativos

Medidas de Mitigação /Obs.**


Persistência do Impacto
Categoria do Impacto *

Orçamento necessário
Parceiro responsável

Extensão do Impacto

Fonte de Orçamento
Subcomponente

Sub-atividade

Sub-atividade
Componente

Atividade

Processo
Risco
Conversão de culturas, erosão e esgotamento do solo;
Desmatamento ou destruição da vegetação natural protetora
2.1.2.1

Aplicar critérios de seleção dos subprojetos e das atividades elegíveis para execução, replicados do Índice
2.1.2
2.1

de mananciais e beira de rios; Poluição e contaminação por Negativo DA, C, S, GEF e


Implementação dos subprojetos pilotos M L T de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bovespa (Anexo 2 da Análise Ambiental). O conceito-base do ISE Funbio 50000
materiais orgânicos; Alteração da estrutura do solo; Mitigável EIA, ME Contrapartida
avalia elementos econômico-financeiros, sociais e ambientais de forma integrada.
Contaminação química; Esterilização do solo; Sobrexplotação
de espécies.
2 Funbio
Impactos indiretos sobre o meio ambiente devido à realização
Aplicar princípios de Suprimentos Responsáveis. A maior parte das tarefas aqui incluídas demanda atenção
aos procedimentos licitatórios, de forma a minimizar o potencial impacto indireto dos suprimentos de bens e
2.3.3.1

Coordenação, administração, de procedimentos administrativos que não internalizam os serviços necessários à Administração, Monitoramento e Avaliação do Projeto (p. ex. material de escritório,
2.3.3
2.3

Negativo GEF e
monitoramento e avaliação do componente princípios éticos e ambientais do Projeto, em especial no A L T passagens). As atividades incluídas no Componente 2 do projeto estão sob responsabilidade do Funbio, Funbio C, S, EIA 500.000
Mitigável Contrapartida
do setor privado tocante à compra de materiais (consumo e geração de estando sujeitas à aplicação do Marco de Filtragem Ambiental elaborado para a seleção de subprojetos a
resíduos) e à contratação de serviços. serem apoiados, segundo o disposto no referido Marco, segundo o Plano de Controle de Pragas e também
segundo o Manual Operacional do Projeto.
É provável que o CBMB aproveite instalações já construída, evitando impactos de novas construção. Caso
haja a necessidade de novas construções as instalações acontecerão em área urbana e toda a operação
3.1.3.1
3.1.3

Criação e manutenção do Centro de Impactos secundários negativos advindos da instalação física Negativo cumprirá as leis, regulamentos, padrões e procedimentos de avaliação ambiental do país. Em nenhum
MMA B L T MMA EIA, ME 25000 MMA
Monitoramento da Biodiversidade do Centro Brasileiro de Monitoramento da Biodiversidade. mitigável momento será permitido o comprometimento de nascentes, degradação/ supressão de ambientes naturais,
aterros e descartes de lixo e poluentes em áreas inapropriadas. Utilização de critérios ambientais no
processo de licitação para a compra de bens e serviços
3.1.6.1 3.1.4.2

Localizacao do prédio em locais frágeis, contaminação de A construção será dentro do JBRJ, em área já utilizada e não será em áreas de mata ou de declive
3.1.4

Negativo
Centro de Conservação da Flora JBRJ solo e águas pela deposição imprópria dos materiais de MB L T acentuado. O JB elaborará um pequeno manual de construções de forma a capacitar o construtor sobre a JBRJ DA, EIA, C 25000 MMA
Mitigável
construção) deposição correta dos materiais de construção.

Implementação Física e consolidação do A construção de estrutura para o alojamento do programa no campus de Jacarepaguá da Fiocruz estará
Negativo DA, EIA,
Programa Institucional Biodiversidade & Contaminação por efluentes, translocação de patógenos. B L T submetida ao Plano Diretor que não permite desmatamento na área do campus e incentiva a utilização de Fiocruz 30000 Fiocruz, MS
Mitigável C, ME
Saúde alternativas de mínimo impacto socioambiental. A Fiocruz cumpre as normas de controle ambiental,
biossegurança e legislações estaduais e federais pertinentes.
3.1

Vacinas disponíveis gratuitamente


3.1.6.3

Vacinar os pesquisadores e técnicos de laboratório; Exigir uso obrigatório de EPI; Providenciar termo de
Rede de Laboratórios de Referência em Fuga de patógenos; Biopirataria, contaminação de Negativo pelo serviço público; EPI-R$
MB L T responsabilidade sobre as regras de biossegurança; oferecer condições físicas para a manipulação de MS, Fiocruz C; ME Fiocruz, MS
Diagnóstico pesquisadores e técnicos Mitigável 3000,00/pesquisador ou técnico
patógenos de acordo com as categorias de risco; firmar Termo de confidencialidade pelos pesquisadores
durante trabalho de campo

Exigir as licenças de coleta de material biológico e acesso ao patrimônio genético de acordo com a IBAMA, CGEN,
3.1.6

Captura de indivíduos da fauna nativa com ou sem coleta Negativo DA, ME,
Fiocruz A L T legislação,expedidas pelos órgãos responsáveis (IBAMA - CGEN); e a licença de Comitê de Ética no Uso CEUA/ não se aplica não se aplica
para diagnóstico da espécie e seus patógenos Mitigável EIA
3 de animais (CEUA) FIOCRUZ
3.1.6.4

Modelos Sentinela de doenças emergentes


e reemergente originárias da biodiversidade
Vacinas disponíveis gratuitamente
brasileira
Risco de contágio de patógenos entre animais coletados e Negativo Vacinar os pesquisadores e auxiliares de campo; Exigir uso obrigatório de EPI; Firmar Termo de pelo serviço público; EPI-R$ MS, Fiocruz e
MB L T MS, Fiocruz C
pesquisadores Mitigável responsabilidade sobre as regras de biossegurança 3000,00/pesquisador ou técnico projeto
durante trabalho de campo.

Vacinas disponíveis gratuitamente


3.1.6.5

Uso de animais de laboratório para testes; Risco de contágio Vacinar os pesquisadores e técnicos de laboratório; Exigir uso obrigatório de EPI; Firmar Termo de
Desenvolvimento tecnológico em Negativo não se pelo serviço público; EPI -R$ MS, Fiocruz e
de pesquisadores e técnicos de laboratório in locu; MB L T responsabilidade sobre as regras de biossegurança; oferecer condições físicas para a manipulação de MS, Fiocruz
diagnóstico de patógenos da fauna nativa Mitigável aplica 3000,00/pesquisador ou técnico projeto
biopirataria. patógenos de acordo com as categorias de risco; firmar Termo de confidencialidade pelos pesquisadores
durante trabalho de campo
3.2.3.1
3.2.3

Rede de parcelas permanentes para Negativo


MMA/ Diflor conflito com comunidades B L T a localização das parcelas será em locais onde não haja uso por comunidades DIFLOR/MMA S 5.000 MMA
monitoramento florestal Mitigável
3.2.

Exigir as licenças de coleta de material biológico e acesso ao patrimônio genético de acordo com a IBAMA, CGEN,
Captura de indivíduos da fauna nativa com ou sem coleta DA, ME,
A legislação,expedidas pelos órgãos responsáveis (IBAMA - CGEN); e a licença de Comitê de Ética no Uso CEUA/ não se aplica não se aplica
Projetos selecionados, por edital, para para diagnóstico da espécie e seus patógenos . EIA
de animais (CEUA) FIOCRUZ
3.2.6.2

elaboração de Modelos de Gestão de Risco


3.2.6

Negativo
e Vulnerabilidade da saúde da fauna Fiocruz L T
Mitigável Vacinas disponíveis gratuitamente
brasileira em áreas de fronteira ecológica
Risco de contágio de patógenos entre animais coletados e Vacinar os pesquisadores e auxiliares de campo; exigir uso obrigatório de EPI; firmar Termo de pelo serviço público; EPI-R$ MS, Fiocruz e
nos biomas brasileiros MB MS, Fiocruz C
pesquisadores. responsabilidade sobre as regras de biossegurança 3000,00/pesquisador ou técnico projeto

74
durante trabalho de campo.

Impactos indiretos sobre o meio ambiente devido à realização


4.1.1.1

de procedimentos administrativos que não internalizam os A maior parte das tarefas aqui incluídas demanda atenção aos procedimentos licitatórios, de forma a
4.1.1

4
4.1

Negativo GEF e
Administração, monitoramento e avaliação MMA princípios éticos e ambientais do Projeto, em especial no A E P minimizar o potencial impacto indireto dos suprimentos de bens e serviços necessários à Administração, MMA C, S, EIA 500.000
Mitigável Contrapartida
tocante à compra de materiais (consumo e geração de Monitoramento e Avaliação do Projeto (p. ex. material de escritório, passagens).
resíduos) e à contratação de serviços.
Simbologia Descrição * Categoria

L Local Positivo
E Extensiva Negativo mitigável

Negativo não
P Permanente
mitigável

T Temporal Insignificante
A Alto
M Médio
MB Médio-baixo
B Baixo
N Nulo
DA Diagnostico Ambiental
S Socializacão
C Capacitação
EIA Avaliação de Impacto Ambiental
ME Monitoramento e Avaliação

** As células na cor cinza indicam medidas de mitigação orientadas também


pelo disposto no Anexo 2_ Plano Integrado de Manejo de Pragas

75
ANEXO 2

PLANO DE MANEJO INTEGRADO


DE PRAGAS

Projeto
Projeto Nacional de Transversalização e Priorização da Biodiversidade
e Consolidação Institucional

76
INTRODUÇÃO

O "Projeto Nacional de Ações Integradas Público-Privadas para Biodiversidade" irá


promover atividades florestais, agroflorestais, aqüiculturais e de cultivo de produtos
básicos. Uma vez que parte dos recursos utilizados para sua execução é proveniente do
Global Environment Facility (GEF) e estão sob a supervisão do Banco Mundial, o
projeto ativa a política de salvaguarda do Banco Mundial OP 4.09 Manejo de Pragas, o
que requer, portanto, um Plano de Manejo Integrado de Pragas (PMIP) para assegurar
que o impacto que essas atividades ocasionarão na área de influência do Projeto será o
mínimo.

O Manejo Integrado de Pragas (conhecido como MIP), constitui um plano de medidas


voltadas para diminuir o uso de agrotóxicos na produção convencional, buscando
otimizar o uso desses produtos no sistema.

São etapas de um plano de manejo integrado de pragas a identificação das pragas-


chave da cultura, a amostragem e determinação da densidade populacional da praga,
estabelecimento de nível de dano econômico e conseqüente nível de controle, além dos
aspectos preventivos e de tratamento de causas, com foco na redução do uso de
pesticidas químicos. Estes últimos, quando utilizados devem ter seu aproveitamento
otimizado com uso por meio de técnicas adequadas e em condições favoráveis.

Abrangência e Objetivo
Estão condicionadas a este Plano de Manejo Integrado de Pragas todas as atividades
do “Projeto Nacional de Ações Integradas Público-Privadas para Biodiversidade” que
envolvam controle de pragas e parasitas que afetam tanto a agricultura e a aqüicultura
quanto a saúde pública. O projeto apóia uma estratégia que promove o uso de métodos
de controle biológicos ou ambientais e reduz o uso de pesticidas químicos sintéticos.
Todas as atividades e todos os subprojetos financiados pelo Projeto que contemplam as
questões de controle de pragas e parasitas estão submetidos aos regulamentos aqui
estabelecidos.

O objetivo deste Plano de Manejo Integrado de Pragas é promover e apoiar uma


estratégia segura, eficaz e ambientalmente benigna. O Projeto pretende ampliar a
capacidade de controle de pragas e parasitas, bem como fortalecer a aplicação da
legislação existente e a capacidade das instituições nacionais.

Controle de Pragas para Fins Agrícolas


O Projeto apóia o manejo integrado de pragas (MIP) e o uso seguro e mínimo de
pesticidas agrícolas, prevendo apoio à utilização de técnicas produtivas sustentáveis,
inclusive de agricultura orgânica.

Nas atividades agrossilvopastoris financiadas pelo Projeto, as pragas serão


controladas dentro do conceito amplo de MIP, enfatizando o controle biológico, práticas
de cultivo, e desenvolvimento e uso de variedades que sejam resistentes ou tolerantes a
pragas, minimizando pesticidas. Estes, portanto, serão utilizados se forem
imprescindíveis dentro dos limites toleráveis de danos estabelecidos pelo MIP.

77
Gestão de Parasitas na Saúde Pública
O projeto poderá financiar atividades de controle fitossanitário de parasitas através
sobretudo de métodos ecológicos. Quando os métodos ecológicos, por si só, não forem
eficazes, o Projeto pode financiar o uso de pesticidas para o controle de vetores de
doenças, quando as atividades previstas assim o demandarem.

Critério para a Seleção e Uso de Pesticidas


A compra de qualquer pesticida com recursos do Projeto está sujeita a uma avaliação
da natureza e grau dos riscos associados ao uso do mesmo, levando em consideração o
uso proposto e os usuários previstos. Em relação à classificação de pesticidas e suas
formulações específicas, o Projeto segue a Lei 7.802, em 11 de julho de 1989,
regulamentada pelo Decreto 4.074, de 04 de janeiro de 2002, que foi alterado pelo
Decreto nº 5.549, de 22 de setembro de 2005. A Portaria da Secretaria Nacional de
Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde nº 03, de 16 de janeiro de 1992 ratifica as
“Diretrizes e orientações referentes à autorização de registros, renovação de registro e
extensão de uso de produtos agrotóxicos e afins - nº 1, de 9 de dezembro de 1991” onde
são apresentadas as classificações toxicológicas que são as seguintes: Classe I -
Produtos Extremamente Tóxicos; Classe II - Produtos Altamente Tóxicos; Classe III -
Produtos Medianamente Tóxicos; e Classe IV - Produtos Pouco Tóxicos.

O Projeto exige que todos os pesticidas por ele financiados sejam fabricados,
embalados, rotulados, manuseados, armazenados, eliminados e aplicados de acordo com
padrões aceitáveis pela a Lei 7.802, em 11 de julho de 1989, regulamentada pelo
Decreto 4.074, de 04 de janeiro de 2002, que foi alterado pelo Decreto nº 5.549, de 22
de setembro de 2005.

O Projeto não financiará as formulações que se encaixem nas categorias I -


extremamente tóxico; classe II - altamente tóxica.

Serão efetuados os testes padrão para monitoramento de resíduos mantendo-os dentro


dos limites toleráveis de acordo com a legislação.

Regras para o armazenamento dos pesticidas


O armazenamento de agrotóxicos, seus componentes e afins obedecerá à legislação
vigente e às instruções fornecidas pelo fabricante, inclusive especificações e
procedimentos a serem adotados no caso de acidentes, derramamento ou vazamento de
produto e, ainda, às normas municipais aplicáveis, inclusive quanto à edificação e à
localização.

Disposição de embalagens
A destinação de embalagens vazias e de sobras de agrotóxicos e afins deverá atender
às recomendações técnicas apresentadas na bula ou folheto complementar
Os usuários de agrotóxicos e afins deverão efetuar a devolução das embalagens
vazias, e respectivas tampas, aos estabelecimentos comerciais em que foram adquiridos,
observadas as instruções constantes dos rótulos e das bulas, no prazo de até um ano,
contado da data de sua compra.
As embalagens rígidas, que contiverem formulações miscíveis ou dispersíveis em
água, deverão ser submetidas pelo usuário à operação de tríplice lavagem, ou tecnologia
equivalente, conforme orientação constante de seus rótulos, bulas ou folheto
complementar.

78
I. MANEJO ATUAL DE PRAGAS PELOS AGRICULTORES

Segundo pesquisadores da Embrapa Hortaliças49, as tendências quantitativas absolutas


de consumo aparente de agrotóxicos nas principais hortaliças [batata, tomate, melão,
cebola, entre outras] em geral constitui informação geralmente não disponibilizada, e
quem a detém [ANDEF, SINDAG, empresas comerciais que fabricam os agrotóxicos],
em geral, dificultam o acesso a ela. E quando as informações são fornecidas, em geral
as estatísticas relativas aos produtos são agregadas por grupos e/ou classes, quase
sempre defasadas em quatro-cinco anos, o que torna sua utilização pouco útil.
Quanto ao impacto econômico, as informações disponíveis na literatura reforçam a
percepção de que o componente “Agrotóxicos” no custo de produção de hortaliças ainda
é muito elevado, mesmo no estágio atual de avanço no conhecimento no setor da
agricultura. Por exemplo, há 20-25 anos estimava-se que o uso de herbicidas,
fungicidas e inseticidas-acaricidas aplicados durante o ciclo das culturas de batata e
tomate representasse aproximadamente 35-45% do custo de produção. Resultados de
investigação recente demonstram que produtores de tomate destinados à indústria
utilizam pelo menos 12-15 marcas comerciais de inseticidas, cinco classes diferentes de
agrotóxicos, por ciclo da cultura [4-5 meses], que representam até 25% do custo de
produção. Alguns destes inseticidas são carbamatos tão antigos [> 30 anos no mercado]
quanto o Cartap ou o Lannate, e outros, são produtos relativamente mais modernos,
fisiológicos ou não, como o Gallaxy ou Confidor.
De forma geral, desde que o Estado deixou de prestar assistência técnica ao setor
produtivo no Brasil a partir do início dos anos 1990, este foi apropriado pelo setor
privado. Especialmente a área da proteção de plantas. No caso da produção hortaliças,
que historicamente já era pouco assistida tecnicamente pelo Estado, a situação que já era
grave há 15-20 anos, hoje é muito pior. Desconhece-se qualquer prática de MIP sendo
adotada regularmente de forma isolada ou sistemática por pequenos, médios ou grandes
produtores de hortaliças no Brasil. Em todos os casos, os produtores convencionais de
hortaliças utilizam agrotóxicos nos seus processos de produção, associados à práticas
culturais [rotação, queima ou enterrio de restos culturais, etc]. Segmentos específicos
de produtores não utilizam agrotóxicos industrializados nos seus sistemas de produção,
e são geralmente associados a movimentos sociais orientados à agricultura orgânica, ou
métodos agroecológicos, que ainda são pouco representativos na produção olerícola
nacional.
As práticas de manejo integrado de pragas não são utilizadas pelos produtores em
primeiro lugar, pela tradição, praticidade, conveniência, acesso e facilidade de uso,
disponibilidade de assistência técnica, excelente eficiência técnica de controle, riscos
conhecidos e controláveis, além de proporcionar excelente relação benefício-custo [pelo
menos no curto prazo], fazendo com que a adoção de métodos de controle químico
sejam poderosos atrativos aos produtores agrícolas. Mas o fator econômico ainda é o
mais relevante.
Mesmo que informações técnicas sobre o MIP estejam disponíveis, os produtores
deixam de adotá-lo porque métodos químicos de controle são mais convenientes e em
geral, do ponto de vista privado, de menor custo. Existem os custos sociais e ambientais
(intoxicação, hospitalização e morte de aplicadores; resíduos contaminantes ambientais
que afetam polinizadores e outros insetos benéficos, peixes, água subterrâneas e de
superfície). Infelizmente, estes são desconsiderados, porque não são arcados pelos
agentes poluidores, seja pela ausência de previsão legal ou de fiscalização, e

49
Comunicação pessoal

79
transferidos para a sociedade. Qual seja, ainda não se aplica o conceito econômico
ambiental do poluidor-pagador aos sistemas de produção agrícola, e com isto, admite-se
a poluição/contaminação ambiental sem ônus econômico, ou outro tipo de penalidade.
Falta de informação validada sobre a eficiência das práticas MIP em vários
agroecossistemas; a assistência técnica privada, geralmente sob domínio ou associada às
indústrias fabricantes de agrotóxicos ou de quem comercializa estes produtos,
explicariam a baixa adoção ou pequeno interesse sobre o MIP, por parte de agricultores
e técnicos do setor público e privado, associados aos sistemas de produção de hortaliças.

Tabela 1. Pesticidas mais utilizados na agricultura brasileira.

DEFENSIVOS AGRÍCOLAS EM LINHA DE COMERCIALIZAÇÃO POR


CLASSE DE ORGANISMOS CONTROLADOS POR ELES
DATA
CLASSES JUL/92 ABR/95 MAI/97 JUL/99 DEZ/00 SET/02
TOTAL: 194 215 234 256 262 278
100% 100% 100% 100% 100% 100%
HERBICIDAS 57 61 66 78 77 81
29,4% 28,4% 28,2% 30,5% 29,4% 29,1%
FUNGICIDAS 43 51 56 63 65 72
22,2% 23,7% 23,9% 24,6% 24,8% 25,9%
INSETICIDAS 59 65 70 75 79 79
30,4% 30,3% 29,9% 29,3% 30,2% 28,4%
ACARICIDAS 14 19 21 17 16 16
7,2% 8,8% 9,0% 6,6% 6,1% 5,8%
OUTROS 21 19 21 23 25 30
10,8% 8,8% 9,0% 9,0% 9,5% 10,8%
Fonte: Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola - SINDAG

80
II. METAS DO PLANO DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS

Promover a racionalização do uso de pesticidas pelos participantes do Projeto, com


disponibilização de tecnologias para uso do manejo integrado de pragas como estratégia
de controle sanitário dos cultivos.

III. ESTRATÉGIAS DE MANEJO: DECISÕES PRELIMINARES


A eventual utilização de pesticidas nas atividades do Projeto terá como prioridade a
garantia da segurança alimentar, a proteção ao meio ambiente, ao agricultor e ao
consumidor. Todas as práticas estimuladas por meio do Projeto irão produzir com
responsabilidade e respeito à sociedade.

IV. MANEJO PREVENTIVO

IV.1. Manejo de culturas

Melhorar a saúde do solo


Este é um dos principais focos do trabalho com o plantio direto que será realizado no
âmbito do Projeto. Recuperando ou preservando as características físicas, químicas e,
principalmente, as biológicas do solo, garante-se uma biota mais diversificada e
complexa, observando-se competição entre agentes fitopatogênicos e antagonistas.
Além disso, a dispersão das doenças é reduzida em sistemas de plantio direto, em
função do escorrimento superficial de água, que é reduzido em até 90%, e da
diminuição do efeito de respingos que dissemina esporos de fungos pelo efeito do
impacto da gota d’água sobre a palhada e não diretamente sobre o solo.

A excessiva mecanização das culturas acelera demasiadamente os processos biológicos


no solo com relação à degradação da matéria orgânica e redução na população e
diversidade da biota do solo. O primeiro fator, a matéria orgânica do solo, é o alicerce
para a construção de sua fertilidade, enquanto que a biota do solo é um indicador de sua
qualidade, tendo efeito significativo na redução de pragas e doenças.

Selecionar datas de plantio com menor incidência de pragas


Não se deve desconsiderar as questões de mercado e abastecimento, mas dentro do
possível, deve-se fugir da época de incidência mais acentuada de determinadas pragas e
doenças.

Diferentemente do setor de grãos, em função da perecibilidade e das características de


sua comercialização, exigindo fornecimento contínuo, na cadeia produtiva de hortaliças,
a grande maioria dos produtores se sente pressionada a buscar melhores preços,
cultivando muitas vezes em épocas inadequadas ao plantio, com maior pressão de
doenças e pragas.

Uso de sementes e material biológico com baixa incidência de pragas


Dentro das possibilidades, considerando a disponibilidade de materiais adaptados às
condições climáticas locais, deve-se utilizar materiais resistentes ou tolerantes a doenças
e pragas. Entretanto, muitas vezes não se dispõe de cultivares resistentes.

81
Fertilização
A fertilização adequada é fundamental para o pleno desenvolvimento das plantas, o
que lhes proporciona maior tolerância a pragas e doenças, deixando-se claro que
fertilização adequada não é adubação excessiva, mas sim o fornecimento de nutrientes
na formulação e dosagem corretas, devendo-se perceber a necessidade de construção da
fertilidade e a constante melhoria do perfil do solo.

Seleção de áreas, rotação de cultivos


A escolha do local e a rotação de cultivos são práticas essenciais na agricultura. É outro
ponto fundamental do plantio direto, tecnologia proposta neste Projeto, a necessidade de
rotação de culturas, devendo-se escolher esquemas de rotação que atuem, além da
manutenção de bons níveis de palhada e de desenvolvimento radicular vigoroso, na
supressão ou redução de doenças.
Certamente, considerando as realidades socioeconômicas, climáticas e geográficas
locais, deve-se buscar áreas menos sujeitas à ocorrência de doenças e o mais distantes
possíveis de fontes de inóculos, seja no espaço ou no tempo.

Barreiras físicas
A utilização de barreiras é comprovadamente uma prática recomendada, apesar de
ainda ser muito pouco usada. É prática comum na olericutura somente entre produtores
orgânicos. O Projeto estimulará a adoção desta prática.

IV.2. Resistência Genética


Dentro das possibilidades, considerando a disponibilidade de materiais adaptados às
condições climáticas locais, deve-se utilizar materiais resistentes ou tolerantes a doenças
e pragas. Muitos cultivares de hortaliças apresentam múltipla resistência a doenças.
Entretanto, muitas vezes não se dispõe de cultivares resistentes. Tomando-se como
exemplo a traça-do-tomateiro (Tuta absoluta), encontram-se fontes de resistência
somente em materiais silvestres, com frutos sem características comerciais, ou a
antracnose em cebola, para as quais não existe material comercial resistente, apenas
com algum grau de tolerância.

IV.3. Conservação de Predadores naturais vivos


Deve-se buscar agroquímicos com ação seletiva, que atuem sobre as pragas, mas que
afetem o mínimo possível os inimigos naturais.

V. MANEJO CURATIVO

V.1. Eliminação Mecânica ou Física.


A prática de eliminação de plantas infectadas pode ser eficiente para algumas pragas
como ácaros e, especialmente, para doenças que, na maioria das vezes, ocorrem
inicialmente em reboleiras (forma de ocorrência de pragas agrícolas em que há um foco
central de disseminação para as plantas vizinhas). Essa prática só é eficiente quando se
dispõe de mão-de-obra qualificada e criteriosa, exigindo caminhamento freqüente na
lavoura para a localização precoce de plantas infectadas e sua retirada da área.

Outra prática viável é o plantio em bordadura de plantas iscas para sua posterior
destruição e, conseqüentemente, redução da incidência de pragas.

82
V.2. Pesticidas.

V.2.1. Pesticidas Biológicos.


Sempre que possível e viável, deve-se fazer uso de parasitóides, predadores e
herbívoros; pesticidas microbianos e pesticidas botânicos. Esta prática vem sendo
adotada por alguns horticultores. Na agricultura orgânica, vem se utilizando diversos
produtos a base de extratos vegetais, como alho, pimenta, fumo, entre outros.

V.2.2. Pesticidas Sintéticos.

Existe a preocupação de se utilizar agrotóxicos sintéticos apenas quando a população


de pragas atingir um nível de dano econômico (em que as perdas de produção gerem
prejuízos econômicos significativos), diminuindo a contaminação do ambiente com tais
produtos.
Além disso, será incentivado, apenas quando o uso de agrotóxicos se mostrar
imprescindível, o uso de produtos de classes menos tóxicas, alternativas das técnicas de
aplicação e demais aspectos necessários a tornar a operação de controle químico mais
eficiente, quando necessária.

Tabela 2. Sistema de classificação para os efeitos crônicos dos pesticidas


Classe Efeito Pesticidas *
I. A. Câncer Os cancerígenos atuam no tecido Provável
vivo para causar um crescimento cancerígeno
maligno. (USEPA)
captafolcaptan
mancozeb
tiodicarbtoxafeno
II. Dano Neurológico Dano ao tecido nervoso clorpirifos
metamidofos
III. Danos reprodutivos Esterilidade, infertilidade, defeitos DBCdinoseb
e defeitos congênitos congênitos. endrin mancozeb
IV. Interrupção Os pesticidas imitam os estrógenos DBCP mancozeb
endocrinal naturais, interrompendo o Taxafeno
funcionamento dos órgão
reprodutivos e causando abortos,
esterilidade masculina, infertilidade e
desequilíbrio dos hormônios sexuais.
V. Danos a órgãos Olhos, fígado, pulmões etc. são
prejudicados irreversivelmente.
A. Olhos brometo de metila
B. Fígado arsênico, DDT,
mirex
C. Pulmões paraquat
* Classificação de 2003, tal classificação é alterada constantemente e pode ser
revisada na página da USEPA na internet.

83
Tabela 3. Classes de pesticidas segundo o tipo de organismo que controlado
Classe Tipo de organismo alvo

Inseticida Insetos
Acaricida Ácaros e Carrapatos
Herbicida Ervas daninhas
Nematicida Nematóides
Rodendicida Roedores
Fungicida Fungos
Bactericida Bactérias
Molusquicida Moluscos (caramujos)

Tabela 4. Classificação, de acordo com a Portaria nº 03, de 16 de janeiro de 1992,


de pesticidas segundo sua toxicidade aguda
DL50 Oral DL50 Cutânea
Classificação Outros
Líquidos* Sólidos* Líquidos* Sólidos*
formulações que provocam
opacidade na córnea reversível
ou não dentro de sete dias ou
irritação persistente nas
mucosas oculares dos animais
testados; formulações que
provocam ulceração ou
I Extremamente 20 ou corrosão na pele dos animais
5 ou menos 40 ou menos 10 ou menos
tóxicos menos testados; produtos, ainda em
fase de desenvolvimento, a
serem pesquisados ou
experimentados no Brasil;
formulações que possuam CL
50 inalatória para ratos igual
ou inferior a 0,2 mg / l de ar
por uma hora de exposição
formulações que não
apresentam de modo algum,
opacidade na córnea, bem
como aquelas que apresentam
irritação reversível dentro de 7
(sete) dias nas mucosas
oculares de animais testados;
formulações que provocam
irritação severa, ou seja,
II Altamente
20-200 5-50 40-400 10-100 obtenham um escore igual ou
tóxicos
superior a 5 (cinco) segundos
o método de Draize e Cols na
pele de animais testados;
formulações que possuam CL
50 inalatória, para ratos,
superior a 0,2 mg / l de ar por
uma hora de exposição e até 2
mg / l de ar por uma hora de
exposição, inclusive
III formulações que não
Medianamente 200-2000 50-500 400-4000 100-1000 apresentam, de modo algum,
tóxicos opacidade na córnea e aquelas

84
que apresentam irritação
reversível dentro de 72
(setenta e duas) horas nas
mucosas oculares dos animais
testados; formulações que
provocam irritação moderada
ou um escore igual ou superior
a 3 (três) e até 5 (cinco),
segundo o método de Draize e
Cols, na pele dos animais
testados; formulações que
possuem CL 50 inalatória,
para ratos, superior a 2 mg / l
de ar por uma hora de
exposição e até 20 mg / l de ar
por uma hora de exposição,
inclusive
formulações que não
apresentam de modo algum,
opacidade na córnea e aquelas
que apresentam irritação leve,
reversível dentro de 24 (vinte
e quatro) horas, nas mucosas
oculares dos animais testados;
formulações que provocam
IV Pouco tóxicos >2000 >500 >4000 >1000
irritação leve ou um escore
inferior a 3 (três), segundo o
método de Draize e Cols, na
pele dos animais testados;
formulações que possuem CL
50 inalatória, para ratos,
superior a 20 mg / l de ar por
hora de exposição
*Estado físico do ingrediente ou formulação classificada.

85
ANEXO 3

MARCO DE FILTRAGEM

86
Os possíveis impactos das atividades a ser financiadas pelo projeto foram definidos
durante a fase de preparação do mesmo e encontram-se descritos no Plano de Mitigação de
Impactos, incluído na avaliação ambiental. O Plano de Mitigação de Impactos contêm as
medidas de mitigação desses impactos, custos, e responsabilidades. Porém, o projeto também
prevê a definição de algumas atividades durante o período de implementação do mesmo. Para
avaliar o impacto ambiental potencial dessas atividades e assegurar que medidas adequadas de
mitigação estão previstas, é necessário ter um sistema para analisar as atividades propostas.
Este marco de filtragem ambiental servirá como sistema para analisar as atividades
propostas durante a implementação do projeto de acordo com sua relevância para os objetivos
do projeto e ao grau de potencial impacto ambiental, e para proposição de medidas de mitigação
para qualquer potencial impacto negativo identificado.

Responsabilidades
Para as atividades propostas para os Componentes 1 e 3, o Marco de Filtragem será
aplicado pela entidade responsável pela implementação da atividade. O Comitê Coordenador do
Projeto terá a responsabilidade final de supervisionar a aplicação do Marco de Filtragem
Ambiental e a implementação das medidas de mitigação identificadas.
Para os subprojetos financiados no âmbito do Componente 2 o FUNBIO será
responsável por aplicar o Marco de Filtragem aos subprojetos propostos, previamente a sua
aceitação e apoio financeiro, no desenho de medidas de mitigação apropriadas. O Comitê
Coordenador do Projeto também terá a responsabilidade última de monitorar a implementação
dessas medidas de mitigação.

CATEGORIAS DE RISCOS

As categorias de impacto ambiental negativo são os seguintes:

• Categoria I: Probabilidade baixa.


• Categoria II: Probabilidade media a baixa.
• Categoria III: Probabilidade media a alta.
• Categoria IV: Probabilidade alta – atividade inviável.

O Quadro 1 apresenta as classificações de riscos para as atividades a serem financiadas


pelo Projeto segundo a localização e tipo de atividade.

87
Quadro 1. Categorias de Riscos segundo o local de implementação e tipo de
atividade proposta.

Localização Unidade de Unidade de Área Produtiva


Laboratório,
escritório, ou
Conservação de Conservação de ou
Habitat Não
Proteção Integral Uso Sustentável Transformada
Natural
Tipo de Atividade
Estudos, investigações,
modelos, capacitações e
n/a n/a n/a I
congressos (sem trabalho de
campo ou de laboratório)
Estudos, investigações,
capacitações e modelos (só n/a n/a n/a II
trabalho de laboratório)
Estudos, investigações,
capacitações e modelos
III III I II
(incluindo trabalho de
campo)
Ecoturismo IV III II n/a
Coleta sustentável de
IV II I n/a
espécies nativas
Melhora de agricultura
IV II II n/a
tradicional
Melhora de agricultura não
IV IV II n/a
tradicional
Estabelecimento de sistemas
IV III II n/a
agroflorestais
Estabelecimento de sistemas
IV III II n/a
silvopastoris
Melhora de práticas para
IV III II n/a
pecuária
Melhora de aproveitamento
IV III II n/a
florestal
Reflorestamento (espécies
IV II I n/a
nativas)
Infra-estrutura III (monitoramento
(Monitoramento, vigilância, e fiscalização III II n/a
aproveitamento sustentável) apenas)

Estas categorias são indicativas. No caso de que seja proposta uma atividade que não
esteja contemplada no Quadro 1, ou que uma avaliação preliminar sugira que sua categorização
deveria se diferenciar da categoria indicada no Quadro 1, a entidade responsável pela aplicação
do Marco de Filtragem determinará a categoria de risco apresentada pela atividade, segundo o
impacto ambiental possível e a localização em que se pretende desenvolver a atividade. Para a
determinação da categoria se deverá levar em conta questões como:
1. A atividade terá impactos de maneira negativa ou positiva em uma área mais extensa do
que a área de implementação da ação?
2. Há impactos negativos que são irreversíveis?
3. É uma zona especialmente frágil?
4. As atividades causarão menor impacto ambiental negativo do que os causados por
atividades anteriores?
5. É tradicional a atividade proposta?
6. Existe propriedade cultural na área em que a atividade será desenvolvida?
7. Qual é a dificuldade de aplicar os mecanismos de mitigação?
8. A atividade proposta é permitida no plano de manejo da unidade de conservação (se é
relevante)?

88
Quadra 2. Ficha para completar para atividades de categoria I, II ou III.
Medidas de Mitigacão e Temas
Tipo de Impacto Descrição de Impactos
para Consideração
Descrever o hábitat afetado, seu
Haverá perda de hábitat natural (ex.: tamanho e sua importância local. O que foi considerado para evitar
derrubada de florestas) São as mudanças reversíveis ou ou minimizar a perda de hábitat?
irreversíveis?
Qual seria o impacto? Causado Descrever atividades de
Impactos sobre a qualidade da água?
por qual atividade? mitigação.
Ver também as Políticas de
A área contem um sítio de Qual é o sitio? Poderia ser
Salvaguarda de Patrimônio
propriedade cultural? afetado pela atividade?
Cultural do Banco Mundial
Ver também a Política de
Para que fim os pesticidas serão
É previsto o uso de pesticidas? Salvaguardas de Manejo de
utilizados?
Pragas do Banco Mundial
O que se considerou para evitar
Há um impacto social sobre
ou para minimizar o impacto?
membros da comunidade
Qual é o impacto? Ver também as Políticas de
(deslocamento físico ou
Salvaguardas de Reassentamento
econômico?)
do Banco Mundial.
Há alternativas com espécies
Quais são as espécies? As
A atividade contempla a introdução nativas? Caso represente um
mesmas apresentam perigo de
de espécies que não sejam nativas? perigo, quais são as medidas para
escapar ou de propagar-se?
controlar as espécies exóticas?

QUESTÕES GERAIS
A atividade impactará de
Descreva o impacto e sua
maneira negativa ou positiva Descreva as atividades de
importância. Isto contribuirá para
uma área mais extensa do que a mitigação.
a um impacto cumulativo?
área da ação?
É uma zona especialmente Há outras áreas onde se pode
Por que é frágil?
frágil? implementar a atividade?
As atividades causarão menor É possível que, por ter impactos
impacto ambiental negativo do negativos menores, a situação
que as causadas pelas atividades final nova será melhor que a
anteriores? situação previa?
A atividade é permitida no plano Indicar como a atividade é
de manejo da unidade de permitida (ou não), fazendo
conservação (se é relevante)? referência ao plano de manejo.

89
Processo a Avaliar as Atividades e Determinar Mecanismos de Mitigação

Atividade
Proposta

Definir Categoria Categoría IV


de Risco – Não Viável

Categoria I, II,
o III -- Seguir

Categoria I Categoria II Categoria III

Visita Especial ao
Campo

Aplicação de Aplicação de medidas Desenvolvimento e


medidas de de mitigação Aplicação do Plano
mitigação padronizadas com de Manejo
padronizadas medidas especificas Especializado
adicionais

Monitoramento Monitoramento Monitoramento


Anual Anual Semestral

Figura 1. Mecanismos de mitigação de impactos ambientais.

IMPLEMENTAÇÃO DO MARCO DE FILTRAGEM AMBIENTAL

Depois de determinar uma categoria de risco, a entidade implementadora da atividade


(ou no caso do Componente 2 a entidade proponente do subprojeto em coordenação com o
FUNBIO) trabalhará para estabelecer mecanismos de mitigação de riscos apropriados para a
atividade. No caso de atividades classificadas como Categoria I, as quais têm uma probabilidade
mínima de provocar um impacto ambiental negativo, depois de completar a ficha de impactos
ambientais (ver acima) serão seguidas as medidas estabelecidas como melhores práticas para
mitigar impactos do tipo de atividade proposta. A entidade implementadora deveria assegurar
que a atividade foi corretamente categorizada durante o processo de monitoramento.

No caso de atividades classificadas como Categoria II, as quais têm mais probabilidade
de causar impactos ambientais negativos, a entidade implementadora deveria completar a ficha
de impactos ambientais e, além se seguir as melhores práticas, identificar medidas de mitigação
adicionais necessárias.

Para atividades da Categoria III, deve-se completar a ficha com um cuidado especial
dado que a atividade tem uma probabilidade media a alta de ter um impacto ambiental negativo.

90
Nesse caso será necessária uma visita a campo para investigar melhor os riscos e desenhar um
plano de manejo especializado para a atividade. (Quando relevante esse plano deveria incluir o
Plano de Manejo Integrado de Pragas).

As atividades enquadradas como Categoria IV não serão apoiadas pelo Projeto.

Monitoramento
A entidade responsável pela implementação da atividade monitorará a aplicação dos
mecanismos de mitigação pelo menos uma vez por ano (duas vezes por Categoria III). MMA e
FUNBIO serão responsáveis por monitorar uma amostra representativa de atividades para
assegurar a categorização correta do risco, o cumprimento com os mecanismos de mitigação
relevantes e o cumprimento com as Políticas de Salvaguardas. Em todo caso, os mecanismos de
mitigação e planos de manejo deverão estar de acordo com as Políticas de Salvaguardas do
Banco Mundial. MMA e FUNBIO também serão responsáveis por monitorar os impactos
cumulativos de todas as atividades implementadas pelo projeto. Para todas as atividades, os
custos associados com a implementação dos mecanismos de mitigação ou o plano de manejo
serão incluídos no orçamento da atividade.

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