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RESUMO
O objetivo deste trabalho é refletir sobre o entendimento do gênero
conto para o autor Mário de Andrade e como o mesmo evoluiu na sua
contística. Para tanto, é importante entender como Andrade estava
engajado ao movimento modernista e como desenvolveu a sua crítica
literária. Isso é fundamental para constatarmos se as afirmações marioan-
dradeanas da crítica estão presentes na sua produção literária.
PALAVRAS-CHAVE
Literatura; Conto; Modernismo; Mário de Andrade.
ABSTRACT
The objective of this paper is to ponder over how Mario de Andrade
understood the genre short story, and how he has evolved in his pro-
duction. Therefore, it is important to understand how Andrade was in-
volved in the Modernist movement, and how he developed his literary
criticism. This is of fundamental importance to check whether Mario
de Andrade´s criticism is present in his literary work.
KEY WORDS
Literature; Short story; Modernism; Mário de Andrade.
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A poética do conto marioandradeano
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onde tudo acontece é rural. Existe algo peculiar nessa narrativa que é
a presença de uma personagem alegórica, nomeado de “O desejo”, in-
dício da escola simbolista, como mencionamos. “O Desejo- Demônio
familiar. Nasce na comissura dos lábios das meninas. Divide-se em
dois mais tarde e sai pelo mundo para que uma de suas partes eleve
a dona ao altar enquanto a outra sacrifica os homens na ara” (AN-
DRADE, 1932, p. 107).
A obra Primeiro Andar (1926) em alguns contos enfatiza a lin-
guagem popular retratando a fala errada e cheia de vícios do interior,
bem longe do apuro da linguagem do segundo livro do autor, Contos
de Belazarte (1934). É neste que se percebe o uso da linguagem ob-
jetiva e um narrador próximo à oralidade, bem ao estilo modernista.
Isso já mostra uma evolução no modo de narrar.
Já na obra de contos publicada postumamente, Mário abandonou
tudo isso e deu lugar a um contista mais maduro, com uma prosa mais
cristalina. Ficam em evidência nesse livro personagens com grande
densidade psicológica à luz de relatos com traços autobiográficos.
Edgar Cavalheiro faz uma argumentação sobre a contística marioan-
dradeana:
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sua contística. O conto moderno para o autor deve ser breve, tema-
tizando os aspectos mais simples do cotidiano, com uma linguagem
informal, culminando com tensão e personagens bem elaborados.
Logo, é possível elucidar que, tendo em vista a teoria do conto
tradicional, a contística de Andrade se aproxima da ideia de produzir
um efeito, afirmação de Edgar Allan Poe. Também constatamos que
são incorporados nos contos marioandradeanos alguns outros elemen-
tos da teoria tradicional do conto como a brevidade, uma única esfera
de ação e poucas personagens.
Assim sendo, é viável assinalarmos que o conto inicialmente
propiciava uma discussão sobre o próprio gênero, uma vez que se
apresentava com uma estrutura de peça teatral. Isso também tinha in-
tenção de causar impacto no leitor. Não podemos deixar de mencionar
que a perspectiva de Andrade era o resgate da identidade e da cultura
nacional. Portanto, em Primeiro Andar (1926) temos narrativas que
criticavam as atitudes da sociedade brasileira que imitavam os modelos
europeus e se esqueciam de valorizar a tradição e a nossa cultura.
Com o tempo, o autor vai amadurecendo essas ideias e percebe
que a valorização da identidade e da cultura brasileira sem esquecer
a tradição pode estar relacionada ao povo. Os Contos de Belazarte
(1934) são uma reunião de histórias calcadas na oralidade, mas já com
a preocupação de enfocar pequenos dramas do subúrbio paulistano. A
visão do autor sobre identidade já vai mudando e passa a questionar a
valorização das expressões identitárias de uma parcela da população.
Para fazer isso Mário de Andrade utilizou uma linguagem extrema-
mente simples, com o abrasileiramento da língua brasileira.
O auge da técnica ocorreu com a publicação de Contos Novos
(1947), as histórias ali reunidas focalizaram o paulistano e seus proble-
mas, possibilitando que viesse à tona a interioridade das personagens.
Dessa forma, o aprimoramento da técnica do conto atingiu seu ápice
e se pode dizer que o conto marioandradeano manteve a brevidade,
o efeito e a esfera única de ação, características essas que retomam a
teoria tradicional do conto. A tudo isso foi incorporado à densidade
psicológica das personagens, em dramas e histórias corriqueiras e até
banais aliada a uma linguagem simples que expressava a fala do povo
brasileiro e fazia pensar sobre a nossa identidade e a nossa cultura.
Por conseguinte, Mário de Andrade contribuiu para um novo en-
tendimento do conto na Literatura Brasileira. A partir do autor
modernista, as narrativas passaram a valorizar mais as manifes-
tações populares, a cultura, dando voz também aos imigrantes. O
conto depois de Mário de Andrade ousamos afirmar, passou a focalizar
a cena mais simples, o acontecimento banal que rende reflexões pro-
fundas sobre o humano.
Dessa forma, encerramos dizendo que Mário de Andrade defendeu
o ideal modernista com direito a pesquisa estética, a valorização do
nacional e um novo entendimento do conto. A busca pela identidade
nacional e a valorização da cultura, em Mário, está muito ligada ao
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REFERÊNCIAS
______. A dimensão da noite. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2004.
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Recebido em 30/08/2012
Aceito em 30/11/2012
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