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Bunraku e Kabuki: a linguagem das animações

japonesas
Roberta Regalcce de Almeida∗

Índice O meio impresso, o mangá, antes restrito


a um grupo de admiradores e pesquisadores,
1 Introdução 1 começa a ser conhecido por um contingente
2 Kabuki e o Bunraku: as características maior de pessoas por meio do animê, que
da narrativa dos Animês 2 chega aos canais de TV de todo mundo e às
3 Conclusão 5 telas de cinema apoiado numa poderosa má-
4 Referências 7 quina de divulgação. Os mangás começam
a ser mais traduzidos, principalmente para o
Resumo inglês e o francês e, a partir daí, para outras
línguas ocidentais.
Este artigo visa traçar as relações que os Mangás são gibis ou história em quadri-
animês possuem em comum com os teatros nhos no Japão. Significa “desenhos irrespon-
Bunraku e Kabuki. Observando correspon- sáveis”, o termo foi usado pela primeira vez
dências de linguagem e de estética narra- em 1814 pelo ilustrador e cartunista Hoku-
tiva entre ambos. Atentando em que medida sai. Na década de 50 Osamu Tezuka esta-
o ocidente influenciou essas animações e o beleceu um padrão que acabou se tornando
que permanece como característica própria marca registrada: narrativa cinematográfica,
da cultura japonesa. traços estilizados, profundidade, uso de pers-
pectiva e personagens de olhos grandes.
1 Introdução O mercado é segmentado, com revistas
para crianças, adolescentes, jovens, adultos
É a partir da década 1990, que o Ocidente com mais de trinta anos (com direito a revis-
passa a ter um contato mais próximo com tas femininas e masculinas). As revistas são
essa comunicação midiática das animações e baratas, feitas em papel jornal, impressas em
histórias em quadrinhos japoneses, uma po- tinta preta, e tem em média 300 páginas.
derosíssima indústria assentada em uma base Os Animês são desenhos animados japo-
formada pelo mangá, pelo animê e pelo vide- neses, é, portanto, uma abreviação japonesa
ogame. para a palavra “animation” e ganhou força

Mestranda em Comunicação e Semiótica – PUC- nos anos 60. Muitos animês são adaptações
SP. E-mail: f_x@terra.com.br de mangás de sucesso. É um mercado mili-
2 Roberta Regalcce de Almeida

onário com centenas de séries de tv inéditas A origem da palavra kabuki está em ka-
a cada ano e dezenas de produções voltadas buku, que significa inclinação, ao que se
para o cinema e vídeo. A maioria é para o soma a conotação de ações e estilos estra-
público infanto-juvenil, mas os adultos tam- nhos. Nas origens, essa arte cênica gozava
bém têm muitos títulos disponíveis. de popularidade entre as pessoas comuns que
O Bunraku é o tradicional teatro de bone- expressava direta e corajosamente os seus
cos do Japão. Nele, os bonecos, manipula- sonhos e emoções.
dos com habilidade, representam uma his-
tória chamada djôoruri, acompanhados pelo
2 Kabuki e o Bunraku: as
shamissen. Os bonequeiros ficam em pé nas
partes rebaixadas do palco, chamadas hon- características da narrativa
butai ou funazokô, segurando os bonecos que dos Animês
ficam com os pés acima do hontê ou ninotê.
O Animê parece ter absorvido muitas carac-
Os bonecos são constituídos por uma ca-
terísticas do teatro Kabuki e Bunraku: a ên-
beça (kashira), ombros (kata-itá), tronco
fase aos personagens e sua visualidade; enre-
(dôo) e membros (te-ashi). Vários mecanis-
dos ilógicos e cheios de fantasia; ação frag-
mos contribuem para lhe conferir aparência
mentada; o clímax da história centralizado
extremamente realista em cena. Os bonecos
no conflito corporal dos personagens.
que representam mulheres, em geral não têm
pés, e o caminhar é indicado por um movi- “Enquanto o teatro clássico ocidental é um
mento da bainha da roupa. Há várias cabeças drama de palavras, com ênfase nos diálo-
de bonecos para diferentes papéis, com vari- gos e um enredo verossímil, portanto, um
ações de sexo, caráter, etc.; o seu penteado teatro centrado na lógica, os teatros bun-
pode mostrar qual a posição social da perso- raku e kabuki, ao contrário, apresentam um
nagem. O rosto de uma mulher bonita pode grande dinamismo no palco, com a genera-
ser feito de tal maneira que se transforma su- lização de diálogos, atuação e música, um
bitamente em um rosto demoníaco. enredo freqüentemente ilógico, ou com uma
O Kabuki é uma das artes teatrais tradicio- lógica apenas dramática, e caracterizando-
nais do Japão, ao lado do Noh, do Kyôoghen se sobretudo como teatros centrados na ima-
e do Bunraku. Consta que teve origem no sé- ginação fantasiosas e nas emoções.” (KU-
culo XVII, quando a primeira representação SANO, 1993, p. 345)
feita pela dançarina Izumo-no-Okuni e sua
O foco dramático se desloca para os per-
companhia, em Kyoto. O kabuki caracteriza-
sonagens, colocando a trama mais como um
se pela representação estilizada, pelos tra-
cenário ou ambiente do que como uma força
jes suntuosos e por seus efeitos espetacula-
maior em que os personagens são tragados
res. Contudo, as características logo lembra-
e envolvidos. Diferente, portanto, do teatro
das do kabuki são, provavelmente, o mawari-
grego que influenciou o Ocidente. Porém,
butai, ou palco giratório usado para trocar
para garantir a dramaticidade e o envolvi-
de cenário, a caracterização violenta do ator
mento do público à história, tanto o Bunraku
aragoto e os oyama, que são papéis femini-
nos representados por homens.

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quanto o Kabuki desenvolveram uma lingua- Essa estética visual da pose dos heróis e
gem narrativa com um forte apelo à visuali- vilões permeia muitos animês, em alguns
dade e identificação com os personagens, ex- casos o fundo do quadro pouco importa,
plorando os movimentos, expressões e ges- o efeito dessa forma narrativa é sobreleva-
tos através de uma dança cênica de intensa ção dos protagonistas em relação à trama,
beleza plástica. tornando-se o grande momento dramático o
confronto com os antagonistas. A linguagem
“Nas cenas cruciais, todas as falas e ações das dos animês se molda através da intenção de
figuras principais são dirigidas encarando-se maximizar a ação dramática, explorando a
o público, não apenas os companheiros de composição dos planos com as expressões e
cena; e, mesmo nos diálogos, favorece-se an- gestos das personagens e as formas e o movi-
tes o público do que os interlocutores. O
mento de objetos. “Todas as cenas de Kabuki
emprego da técnica shômen engui (“atuação
devem encerrar-se com uma cena que com-
frontal”) manifesta a procura deliberada do
efeito pictórico ou fotográfico, a cena como
ponha um quadro de beleza formal e equili-
quadro ou fotografia, e é bastante usada nas brada” (KUSANO, 1993, p. 340)
atuações estáticas de cenas interiores, com as Assim, os planos são regidos por quadros
personagens sentadas sobre o tatami.” (KU- que consigam trabalhar os pontos-de-fuga,
SANO, 1993, p. 319) seja do espaço físico em que se encontra os
personagens ou das linhas traçadas por luz
Essa atuação frontal envolve o público, e sombra. Sendo que numa mesma ação
encarando-o, e se relacionando diretamente, dramática pode-se ter de quatro a cinco pla-
permitindo com que haja uma interação en- nos diferentes que depois são encadeados na
tre personagem e espectador, através de efei- montagem, e, onde cada um desses planos
tos pictóricos que impressionem, deslocando possui o mesmo princípio, como se fossem
a atenção na busca de uma lógica do en- uma pintura ou fotografia estática onde o que
redo para uma contemplação da presença e se procura é o equilíbrio e a beleza.
da ação dos protagonistas. Além da estética visual, certos movimen-
tos cênicos do Kabuki parecem ter corres-
“Ao contrário da pose natural, espontânea, o pondentes com algumas seqüências encon-
sentido de movimentação, o sentido de mo- tradas nos animês: os confrontos cênicos en-
vimentação no kabuki é o da figura centrada tre protagonista e antagonista.
num gesto ou movimento padronizado como O tachimawari (literalmente, ‘de pé e gi-
o da dança: a pose pictórica ou fotográ- rando ao redor’), por exemplo, é o movi-
fica, portanto, altamente convencionalizada.
mento de luta e conflito.
Cada cena é composta por uma série de qua-
dros, onde o espaçamento e arranjo das fi-
“Há dois tipos característicos de cenas de
guras no palco obedecem ao mesmo princí-
luta. Um deles, o mais apreciado pelos ja-
pio de composição das pinturas ukiyoê, como
poneses, dá-se quando o herói ou heroína
se realmente visassem a serem captadas por
move-se através do palco, paralelamente às
um quadro ou uma fotografia.” (KUSANO,
luzes da ribalta, enquanto seu único ad-
1993, p. 339)
versário ou grupo de inimigos, vestido de

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forma semelhante e portando armas idên- épico, ora lírico, ora frenético, envolvendo
ticas, surge do lado oposto do palco para o espectador, colocando-o em relação direta
confrontá-lo, movendo-se em uníssono como com o ponto-de-vista do herói e o maximi-
num coro dançante, denominado yoten. Ao zando.
ocorrer o encontro, os inimigos espalham- Essas seqüências de tachimawari nos ani-
se ora à esquerda ora à direita do herói, mês lembram a uma dança coreografada que
desvencilhando-se de seus golpes de espada, potencializa exatamente o conflito e os per-
golpeiam ou saltam de lado. O outro tipo
sonagens envolvidos. Em alguns animês,
de tachimawari, não muito do agrado aos pa-
logo após o tachimawari há um plano fixo,
drões japoneses, trata-se de uma cena de as-
sassinato extremamente estilizada, efetuada
que poderia ser considerado uma pose mie,
em câmera lenta, para se acentuar a intensi- onde o personagem pára olhando o adversá-
dade do tempo enquanto duração, formando rio, culminando na valorização do desfecho
uma grotesca, mas bela dança da morte. Os do confronto e no ápice da seqüência.
movimentos dos atores durante as lutas são Outro movimento cênico do Kabuki que
estilizados e perfeitamente coordenados, no encontra correspondências nos animês é o
sentido de se atingir, maior beleza das for- Tate:
mas e são acompanhadas de música gueza,
especialmente os sons rítmicos dos tambo- “Tate é a denominação geral dessas técnicas
res, reforçados pelos sons das matracas. E de movimentação nas cenas de lutas grupais.
assemelham-se antes aos interlúdios de dança O acento na importância dos atores no ka-
do que às cenas reais, isto porque, tanto nas buki e a procura da realização do princípio de
cenas de luta quanto nas de assassinato, o beleza formalizada alcançam momentos sig-
herói expressa sua valentia derrotando fa- nificativos através dos tate, posto que, com-
cilmente seus oponentes, não havendo, por- postos de cenas de atuações grupais de lutas
tanto, quase contato físico real entre os cor- estilizadas, com cambalhotas, saltos e acro-
pos e nem mesmo entre as espadas, com du- bacias [...] No conjunto, os movimentos tate
elos transformando-se numa coreografia de transformam-se em danças grupais brilhante-
balé com acompanhamento musical. As se- mente coreografadas.” (KUSANO, p. 328)
ções dentro da tachimawari culminam em
impressivas poses mie. E quando as lutas Nos animês, existem seqüências de luta
ocorrem nos tetos, todos os truques circenses muito similares a essa coreografia do tate,
são empregados.” (KUSANO, 1993, p. 327 tendo como um potencializador dramático
e 328) a montagem de imagens em meio a uma
ação fragmentada, com planos explorando
Nos animês, não há apenas uma contem- vários ângulos, um tempo elástico, um ritmo
plação da luta, mas um movimento visual ora lento, ora acelerado, mostrando vários
de dentro da luta. Há uma supervalorização pontos-de-vista de todos os envolvidos no
dos movimentos cênicos do confronto, pau- confronto, em uma dança cênica a qual a
tados por imagens ricas em efeitos pictóri- seqüência de imagens está intimamente en-
cos, com ação fragmentada, em que o tempo volvida, há, portanto, um enlace e uma har-
dramático torna-se elástico e plasticamente monia entre planos e montagem com os mo-
belo, cadenciado em um ritmo, muitas vezes, vimentos dos personagens. O efeito no es-

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pectador é de êxtase, a realidade da luta não é lago, uma folha caída na floresta, um enfeite
questionada, o tempo dramático adquire uma em uma casa etc. que, na verdade, são metá-
intensidade valorizando o protagonista e os foras visuais que se relacionam com o drama
antagonistas. em destaque, essa composição narrativa lem-
Essa questão sobre a fragmentação e o bra a experiência teorizada e praticada por
ritmo da ação dos personagens é importante Pudovkin em seus filmes no cinema russo
tanto para os animês quanto para os teatros da década de 1920. Esses detalhes servem
Bunraku e Kabuki. Cada animê tem um traço para traçar e aprofundar a emoção e os sen-
diferente, assim como uma história diferente timentos dos personagens na história através
e um ritmo de encadeamento de cenas di- de imagens.
ferentes. Como os personagens são o foco Esse interesse pelo figurativo na cultura
das animações e, conseqüentemente, regem a oriental é uma característica que advém de
montagem/edição, pode-se dizer que o ritmo sua forma de se comunicar, isto é, a escrita
da justaposição das imagens e planos segue japonesa tem como objetivo principal a vi-
a dos seus personagens e da ação desempe- sualização, ao contrário da ocidental, que se
nhada por eles. Há, portanto, uma harmonia associa essencialmente ao som representado.
estética cadenciada e ritmada pelos protago- Entre a seqüência de imagens significativas
nistas. (escrita japonesa) e imagens sucessivas (his-
Porém, o ritmo nos animês não pode ser tórias em quadrinhos ou montagem dos pla-
encarado como algo subjetivo e sim objetivo. nos), há uma continuidade: o mesmo traço
Pois, depende deste a atenção do espectador, de tinta e o mesmo deslocamento linear do
e, principalmente, o seu não questionamento olhar à linha da narrativa. Dessa maneira,
sobre a realidade dos fatos ou da trama, as- os japoneses se acostumaram a abstrações de
sim, a cadência rítmica está diretamente as- figuras e figuras propriamente ditas, fluindo
sociada ao tempo dramático, e a sobreeleva- de um antigo costume de se fazer a junção
ção dos personagens em relação ao enredo. de ambas. Em relação aos ocidentais, por-
Com a fragmentação da ação e com a tanto, há uma maior predisposição dos japo-
plasticidade dos planos estáticos e/ou em neses ao visual. Isso explica por quais bases
movimento, a valorização dos personagens culturais o mangá e o animê erigiu sua lin-
acaba dependendo da qualidade da monta- guagem, e porque há correspondências com
gem/edição dos conflitos e confrontos, que, os teatros Bunraku e Kabuki.
geralmente, são recheados de justaposição
de planos seqüência, planos de detalhes, pla-
3 Conclusão
nos abertos e fechados, todos estes de vários
ângulos, explorando corpos, objetos cênicos Os animês, ao longo do tempo, sofreram in-
e ambiente, e, esteticamente belos. fluências ocidentais, todavia o interessante é
Outra característica dessa linguagem dos observar em que medida essa mistura esté-
animês (e também do Mangá) é o uso de uma tica e cultural tornou-se, não um delimita-
série de planos em close up que mostrem de- dor ou cerceador, mas um agregador de refe-
talhes fora do conflito e, muitas vezes, du- rências, não perdendo as características pró-
rante a ação dramática, como um peixe num

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prias da narrativa oriental, moldando essas de gangsters, westerns, ficção científica etc.,
influências à linguagem japonesa. e como a trama é utilizada como uma ambi-
Existem outros elementos importantes entação nos animês, essas citações são mais
com os quais os animês e os teatros tradi- homenagens que os diretores japoneses fa-
cionais japoneses se correspondem. Além zem aos artistas e diretores ocidentais do que
dos movimentos cênicos, cores e trajes dos adequação aos padrões americanos ou euro-
protagonistas e antagonistas fazem parte da peus.
construção e sobreelevação dos personagens Por outro lado, o que se observa, atu-
em relação à trama. almente, é a crescente influência que o
animê exerce no cinema ocidental, filmes
“As cores ofuscantes e os padrões usados nos como, “Matrix” de 1999, “Matrix-Reloaded”
trajes de kabuki não funcionam apenas como e “Matrix-Revolution” (ambos de 2003) dos
fonte de atração visual, com o propósito de Irmãos Wachowski, “5˚ Elemento” de 1997
se atingir um efeito dramático. Na realidade,
de Luc Besson e “Kill Bill vol.1” de 2003
obedecem a um código cromático e de pa-
de Quentin Tarantino, são exemplos dessa
drões, que leva à identificação da idade e con-
dição social das personagens, assim como à
estética e linguagem sendo absorvidas pelo
revelação de suas personalidades, e que se so- ocidente. Nestes filmes, há a mesma forma
lidificou através de convenções estabelecidas de utilização dos planos esteticamente bem
durante os quase quatro séculos de existência construídos, uma montagem ritmada e dinâ-
do kabuki.” (KUSANO, 1993, p.233 e 234) mica, ora lírica, ora frenética, tramas como
cenário e um drama focado nos personagens,
Assim, tornam-se necessárias pesquisas onde os confrontos com os antagonistas são
que se proponham a identificar e analisar o o ápice da narrativa, deixando claro que o ve-
que há na linguagem das animações japo- rossímil pouco importa.
nesas que seja de caráter próprio e de ori- Essa linguagem e estética oriental de nar-
gem oriental, e como isso se desenvolveu e rativa dramática começa a despontar e a cha-
se refinou, imerso a influências ocidentais mar a atenção do ocidente através de dire-
sem perder, com isto, sua identidade. Ani- tores de cinema chineses, japoneses e kore-
mações como “Akira” (1988) de Katsuhiro anos como Takeshi Kitano “Dolls” (2002),
Otomo, “Ghost in the Shell” (1995) de Ma- Wong Kar Wai “2046” (2004) e “My Blu-
moru Oshii, “Cowboy Bebop” (1998) e “Sa- eberry Nights” (2007), Zhang Yimou “He-
murai Champloo” (2004) de Shinichiro Wa- rói” (2002) e “O Clã das Adagas Voado-
tanabe e “Serial Experiments Lain” (1998) ras” (2004) e Chan-wook Park com “Old-
de Ryutaro Nakamura, são exemplos de re- boy” (2003). No ocidente, os animês ainda
finamento e estilização da linguagem orien- sofrem pelo estigma de, por serem anima-
tal, com misturas ocidentais que servem mais ções ou “desenhos animados”, logo se asso-
como citações do que uma marca prepon- cia a um gênero para público infantil, e com
derante nas histórias, geralmente, são refe- isso uma forma de comunicação de pouca
rências colocadas em cenários e objetos de importância, o que no caso dos animês não
cena, ou através de tramas que lembrem gê- corresponde com a realidade. Há mais rela-
neros consagrados no cinema, como filmes

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ções entre os animês e os filmes desses cine-


astas citados do que se imagina.
O que é fato, atualmente, é que esse estilo
oriental vem impressionando e influenciando
os realizadores ocidentais, em um claro ca-
minho inverso do que ocorreu durante as dé-
cadas de 1950 até 1980. Portanto, compre-
ender e analisar quais os fundamentos que
compõem essa linguagem e por quais prin-
cípios é tecida essa estética, é atentar para
esse contexto, que parece apontar para uma
tendência narrativa nas produções cinemato-
gráficas e audiovisuais.

4 Referências
EISENSTEIN, Sergei M. A Forma do Filme.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
2002;

EISENSTEIN, Sergei M. O Sentido do


Filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Edi-
tor, 2002;

LUYTEN, Sonia Bibe. Manga, O Poder


dos Quadrinhos Japoneses. São Paulo:
Editora Hedra, 2000;

KUSANO, Darci. Os Teatros Bunraku e Ka-


buki: Uma Visada Barroca. São Paulo:
Editora Perspectiva, 1993;

DANCYGER, Ken. Técnicas de Edição


para Cinema e Vídeo. 3a edição. Edi-
tora Campus, 2003. Rio de Janeiro.

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