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Biotecnologia Alimentar

Agentes probióticos em alimentos:


aspectos fisiológicos e terapêuticos, e aplicações tecnológicas

uma vez que a palavra ‘substância’


Ana M. P. Gomes e F. Xavier Malcata* poderia incluir suplementos tais
como antibióticos (cuja função é
Escola Superior de Biotecnologia,
virtualmente oposta).
Universidade Católica Portuguesa
Rua Dr. António Bernardino de Almeida, A definição de probiótico foi
4200-072 Porto alargada já na presente década, não
tendo até à data sofrido qualquer
* Autor a quem deverá ser enviada toda a correspondência
alteração (Havenaar e Huis in’t Veld,
1992): os agentes probióticos são
Palavras-chave: bifidobactérias, Lactobacillus acidophilus, probióticos, saúde, então definidos como
lacticínios
“microorganismos viáveis (o que
Introdução nutracêuticos e à produção de inclui bactérias lácticas e leveduras
culturas de arranque. na forma de células liofilizadas ou de
As culturas probióticas são Definição produto fermentado) que exibem um
suplementos microbianos que efeito benéfico sobre a saúde do
aumentam de maneira significativa o O termo ‘probiótico’, de origem hospedeiro após ingestão, devido à
valor nutritivo e terapêutico dos grega, significa ‘para a vida’, e tem melhoria das propriedades da
alimentos. De entre os diversos sido empregue das maneiras mais microflora indígena”.
géneros que integram este grupo, diversas ao longo dos últimos anos.
destacam-se o Bifidobacterium e o Tal termo foi inicialmente proposto
Lactobacillus, e, em particular, a como descritivo de compostos ou Aspectos fisiológicos
espécie Lactobacillus acidophilus. A extractos de tecidos capazes de
sua utilização como aditivo em estimular o crescimento microbiano
diversos produtos lácteos tem sofrido (Lilly e Stillwell, 1965); Género Bifidobacterium
enormes progressos durante a última posteriormente, Parker (1974)
década, na sequência de um conjunto definiu probiótico como relativo a As bifidobactérias foram isoladas
diversificado de trabalhos científicos organismos e substâncias que pela primeira vez no final do século
nas áreas de taxonomia, ecologia e contribuem para o equilíbrio XIX por Tissier, sendo, em geral,
terapêutica das referidas espécies em microbiano intestinal. Esta definição caracterizadas por serem
países tão variados como o Japão, a era, no entanto, pouco satisfatória microorganismos gram-positivos,
Dinamarca, a Alemanha, a Polónia, a não formadores de esporos,
Rússia, o RU e os EUA (Reuter,
1990). Para além dos benefícios em
termos de nutrição e de saúde que
proporcionam, as culturas probióticas
podem também contribuir para
melhorar o sabor do produto final,
possuindo a vantagem de promover
uma acidificação reduzida durante a
armazenagem pós-processamento.
As várias publicações e patentes
foram revistas pela primeira vez por
Rasic e Kurmann (1983), numa obra
que se tornou hoje uma referência
obrigatória. O número de patentes
têm entretanto aumentado
significativamente, incluindo hoje
em dia uma gama alargada de
aplicações relativas ao
desenvolvimento de novos produtos Figura 1. Fotomicrografia de Bifidobacterium lactis cultivado em MRS agar durante 24 horas a 37
ºC, que aparecem caracteristicamente como bacilos bifurcados ramificados.

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na ordem das actinomicetas, dentro


Tabela 1. Lista das espécies (por ordem alfabética) que integram os
do grupo das bactérias gram-
géneros Bifidobacterium e Lactobacillus. positivas (Sgorbati et al., 1995), e
são caracterizadas por um conteúdo
Lactobacillus Bifidobacterium elevado de guanina e citosina que
a varia, em termos molares, de 54 a 67
L. acetotolerans L. jensenii B. adolescentisa
% (Tabela 2); possuem também
L. acidophilusa L. johnsonii B. angulatum a algumas diferenças notáveis ao nível
L. agilis L. kandleri B. animalis das propriedades fisiológicas e
bioquímicas, incluindo os
L. alimentarius L. kefir B. asteroides constituintes da parede celular
L. amylophilus L. kefiranofaciens B. bifidum a (Tabela 2). São organismos
heterofermentativos, que produzem
L. amylovorus L. malefermentans B. boum
ácidos acético e láctico na proporção
L. avarius L. mali B. brevea molar de 3:2 a partir de 2 moles de
L. bifermentans L. minor B. catenulatum a hexose, sem produção de CO2 ,
excepto durante a degradação do
L. brevisa L. murinus B. choerinum
gluconato. A enzima chave desta via
a a
L. buchneri L. oris B. coryneforme metabólica fermentativa é a frutose-
L. casei subsp. casei a
L. parabuchneri a
B. cuniculi 6-fosfato fosfocetolase, a qual pode
a
por isso ser usada como marcador
L. collinoides L. paracasei B. dentium a taxonómico na identificação do
L. confusus L. pentosus B. gallicum género, mas que não permite a
diferenciação entre as espécies.
L. coryniformis L. pontis B. gallinarum
L. crispatus a
L. plantarum a
B. globosum a Além da glucose, todas as
bifidobactérias de origem humana
L. curvatus L. reuteria B. indicum são capazes de utilizar a galactose, a
a
L. delbrueckii L. rhamnosus B. infantisa lactose e a frutose como fontes de
carbono. Um estudo recente, que
L. farciminis L. ruminis B. lactis
avaliou 290 estirpes de 29 espécies
a
L. fermentum L. sake B. longum a de bifidobactérias de origem animal
L. fructivorans L. salivariusa B. magnum ou humana (Crociani et al., 1994),
apontou a possibilidade de algumas
L. fructosus L. sanfrancisco B. merycicum
espécies serem capazes de fermentar
L. gallinarum L. sharpeae B. minimum hidratos de carbono complexos. Os
L. gasseri a
L. suebicus B. pseudocatenulatum a substratos fermentados pela maior
parte das espécies foram D-
L. graminis L. vaccinostercus B. pseudolongum galactosamina, D-glucosamina,
a
L. halotolerans L. vaginalis B. pullorum amilose e amilopectina. A
Bifidobacterium infantis foi a única
L. hamsteri L. viridescens B. ruminantium
espécie capaz de fermentar o ácido
L. helveticus B. saeculare D-glucurónico, enquanto que estirpes
L. hilgardii B. subtile de B. longum fermentaram a
arabinogalactana, bem como as
L. homohiochii B. suis
gomas arábica, ghatti e tragacantha.
L. intestinalis B. thermophilum
A gama de temperaturas para a
a
espécies isoladas de fonte humana qual se regista crescimento óptimo
oscila entre os 37 e 41 ºC, ocorrendo
desprovidos de flagelos, catalase- 10 das quais são de origem humana máximos e mínimos de crescimento
negativos e anaeróbios (Sgorbati et (cáries dentárias, fezes e vagina), 17 a 43-45 ºC e 25-28 ºC,
al., 1995). No que diz respeito à sua de origem animal, 2 de águas respectivamente. Em relação ao pH,
morfologia, podem ter várias formas residuais e 1 de leite fermentado; esta o óptimo verifica-se a valores de pH
que incluem bacilos curtos e última tem a particularidade de entre 6 e 7, com ausência de
curvados, bacilos com a forma de apresentar uma boa tolerância ao crescimento a valores de pH ácidos
cacete e bacilos bifurcados (Figura oxigénio, ao contrário da maior parte de 4.5-5.0 ou a valores de pH
1). Actualmente, o género das outras do mesmo género (Tabela alcalinos de 8.0-8.5. Pormenores
Bifidobacterium incluí 30 espécies, 1). As bifidobactérias estão inseridas específicos acerca da sua fisiologia

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Tabela 2. Características fisiológicas e bioquímicas seleccionadas de Bifidobacterium spp. e


Lactobacillus acidophilus.

Característica Bifidobacterium spp. Lactobacillus acidophilus

Fisiologia Anaeróbio Microaerofílico


Composição da parede celular:

Tipo de peptidoglicano Amino ácido básico no tetrapeptídeo Lys-D Asp


variável, ou ornitina ou lisina, vários tipos de
transpeptidação

Composição fosfolípido/ Poliglicerolfosfolípido e seus liso-derivados, Glicerol


Ácido teicoico alanilfosfatidilglicerol, liso-derivados de
difosfatidilglicerol

Composição base DNA 55-67 34-37


Mol % guanina+citosina

Configuração ácido láctico L DL

Metabolismo de açúcares Heterofermentativo Homofermentativo

(Adaptado de: Kurmann e Rasic, 1991; Mital e Garg, 1992)

foram extensamente revistos nos em cadeias curtas (Figura 2), com anaerobiose ou pressão reduzida de
trabalhos de Rasic e Kurmann (1983) tamanho típico de 0.6-0.9 µm de oxigénio. As principais
e Sgorbati et al. (1995). largura e 1.5-6.0 µm de características fisiológicas e
comprimento. Esta espécie tem a bioquímicas desta espécie de
particularidade de ser pouco tolerante microorganismos constam da Tabela
Género Lactobacillus
à salinidade do meio, e ser 2. Uma grande parte das estirpes de
Outro dos géneros que integra o microaerofílico, com o crescimento L. acidophilus degradam amigdalina,
mundo dos agentes probióticos é o em meios sólidos favorecido por celobiose, frutose, galactose,
Lactobacillus, isolado pela primeira
vez por Moro (1900) a partir das
fezes de lactentes amamentados ao
peito materno; este investigador
atribuiu-lhes o nome de Bacillus
acidophilus, designação genérica dos
lactobacilos intestinais. Estes
microorganismos são geralmente
caracterizados como gram-positivos,
incapazes de formar esporos,
desprovidos de flagelos, possuindo
forma bacilar ou cocobacilar, e
aerotolerantes ou anaeróbios. O
género compreende, neste momento,
56 espécies oficialmente
reconhecidas (Tabela 1); as mais
utilizadas para fins de aditivo
dietético são L. acidophilus, L.
rhamnosus e L. casei. O L.
acidophilus, o mais comum, é um
bacilo gram-positivo com pontas
arredondadas, que se encontra na Figura 2. Fotomicrografia de Lactobacillus acidpohilus cultivado em TGV agar durante 24 horas
forma de células livres, aos pares ou a 37 ºC.

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glucose, lactose, maltose, manose, avanço da idade, acabando por estar na forma de amónia enquanto
sucrose e esculina (Nahaisi, 1986). estabilizar no terceiro lugar da lista para outras estirpes deverá ser uma
Os dados disponíveis apontam para dos géneros mais abundantes (o que fonte orgânica (Rasic e Kurmann,
uma melhor utilização da sucrose do corresponde a ca. 25% da flora 1983).
que da lactose por parte de L. intestinal total), depois dos géneros
No que diz respeito ao L.
acidophilus, um comportamento Bacteroides e Eubacterium (Finegold
acidophilus, os requisitos em
atribuído a diferenças nas actividades et al., 1983). Registam-se igualmente
nutrientes necessários para a exibição
da β-galactosidase (EC 3.2.1.23) e da alterações nos perfis das espécies
de taxas razoáveis de crescimento
β-fructofuranosidase (EC 3.2.1.26): constituintes ao longo da vida, uma
são semelhantes aos anteriormente
de facto, enquanto a primeira é uma vez que o B. infantis e o B. breve,
referidos para Bifidobacterium:
enzima constitutiva do L. típicos dos recém-nascidos, são
hidratos de carbono como fonte de
acidophilus, a segunda pode ser substituídos nos adultos pelo B.
energia, proteinas e respectivos
induzida (Nielsen e Gilliland, 1992). adolescentis. O B. longum é uma
produtos de degradação, vitaminas
Como microorganismo espécie que perdura ao longo de toda
do complexo B, derivados dos ácidos
heterofermentativo, produz quase a vida do hospedeiro: por esse facto,
nucleicos e minerais (p.ex. magnésio,
exclusivamente ácido láctico a partir esta espécie é a mais procurada para
manganésio e ferro) (Mital e Garg,
da degradação da glucose pela via de integrar alimentos funcionais
1992). A presença de um número
Embden-Meyerhof-Parnas (à taxa de (Mitsuoka, 1990). O referido perfil
elevado de grupos sulfidrilo em leites
1.8 mol por mol de glucose), embora depende também da composição da
enriquecidos com proteínas do soro
também possa produzir algum dieta alimentar em termos de factores
favorece o crescimento de L.
acetaldeído; este último também bifidogénicos (p.ex. fibras
acidophilus, enquanto que a peptona
pode ser proveniente do metabolismo bifidogénicas), conjugada com a
e a tripsina estimulam a produção de
de compostos azotados (p.ex. própria fisiologia do hospedeiro.
ácido (Kurmann, 1988). A adição de
treonina), uma vez que L.
Os lactobacilos estão distribuídos sumo de tomate (como fonte de
acidophilus exibe uma elevada
por vários nichos ecológicos açúcares simples, minerais e
actividade de treonina aldolase
espalhados pelos tractos vitaminas do complexo B) a leite
(Marshall e Cole, 1983).
gastrointestinal e genitourinário, magro revelou ser útil, tanto na
As condições óptimas para a sua constituindo, de forma semelhante às promoção de um melhor crescimento
multiplicação eficaz são bifidobactérias, uma fracção de L. acidophilus (i.e. contagens
temperaturas de 35-40 ºC e valores importante da microflora natural. Tal microbianas mais elevadas e tempos
de pH de 5.5-6.0. Deve salientar-se distribuição é afectada por vários de duplicação mais curtos) como na
que o crescimento de L. acidophilus factores ambientais, incluindo o pH, obtenção de uma maior actividade
pode ocorrer a 45 ºC, e que a sua a disponibilidade de oxigénio, o nível fermentativa (i.e. melhor degradação
tolerância em termos de acidez do de substratos específicos e a presença dos açúcares e valores de pH mais
meio varia entre 0.3 e 1.9 %(v/v) de de secreções e interacções baixos) (Babu et al., 1992).
acidez titulável. bacterianas (Salminen et al., 1996).
Embora o leite seja o meio de
Em qualquer um dos dois géneros cultura preferencial para o
(i.e. Bifidobacterium e crescimento destes microorganismos,
Ecologia Lactobacillus), as espécies com o objectivo de obter um produto
correntemente utilizadas ao nível de qualidade, em termos de textura e
As bifidobactérias são bactérias de
tecnológico são não-patogénicas, de viabilidade, é bem conhecido o
extrema importância no complexo
gozando do status GRAS (Generally fraco poder de propagação destas
ecossistema activo no tracto
Recognised As Safe). espécies naquela matriz. Apesar de
gastrointestinal do ser humano e de
ser um alimento altamente nutritivo,
outros mamíferos, e também em
que contém todos os nutrientes
abelhas (Sgorbati et al., 1995). Tais
bifidobactérias estão distribuídas por
Crescimento em leite essenciais, o leite não possui
aminoácidos livres nem peptídeos em
diversos nichos ecológicos, sendo a
As espécies que integram o género concentrações suficientes (i.e. ca. 0.1
razão em que eles se encontram
Bifidobacterium conseguem g/L) ou na forma correcta,
dependente da idade e da dieta
proliferar num meio semi-sintético susceptível de permitir o crescimento
alimentar.
contendo apenas lactose, alguns dos microorganismos em causa
As bifidobactérias dominam a aminoácidos (i.e. cisteína, glicina e (Rasic e Kurmann, 1983; Gomes et
microflora indígena dos recém- triptofano), vitaminas, nucleótidos e al., 1998a). Um estudo recente, que
nascidos, sendo a sua proliferação alguns minerais (Hassinen et al., envolveu a comparação entre
estimulada pelos componentes 1951). Um dos factores limitantes do diferentes tipos de leite (vaca, cabra
glicoproteicos da κ-caseína. A seu crescimento é a fonte de azoto, e ovelha) com o intuito de avaliar a
proporção numérica diminui com o que para algumas estirpes poderá influência do substrato sobre estirpes

Boletim de Biotecnologia 15
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probióticas seleccionadas, conceito de prebiótico, designação tem encontrado um sucesso


evidenciou que os teores proteico e utilizada para os ingredientes não significativo, bem como os xilo-
vitamínico mais elevados do leite de digeríveis, mas que afectam de modo oligossacáridos de origem natural e
ovelha não desempenharam papel benéfico o hospedeiro através do os transgalacto-oligossacáridos de
importante conducente a um desencadear de crescimento e/ou origem sintética.
crescimento adequado de B. lactis exibição de actividade selectiva em
No que diz respeito aos factores
(Gomes e Malcata, 1998b). Além relação a um número limitado de
de crescimento, os derivados do leite
disso, a presença de elevadas bactérias do intestino capazes de
bovino e humano são considerados
concentrações de ácidos gordos contribuir beneficamente para a
potenciais candidatos para assegurar
livres de cadeia média em leite de saúde (Gibson e Roberfroid, 1995).
um eficaz crescimento in vitro das
cabra conduziu à inibição do Em contrapartida, os factores de
bifidobactérias (Tabela 3). Os
crescimento de L. acidophilus. A crescimento promovem a
hidrolisados preparados a partir da
solução sugerida por diversos multiplicação das bifidobactérias in
caseína (Proulx et al., 1994) ou a
investigadores (Roy et al., 1990; vitro, mas não podem ser
partir do próprio leite (Gomes et al.,
Klaver et al., 1993; Ventling e transportados por vias naturais até ao
1998a) são bons exemplos, pois
Mistry, 1993; Gomes e Malcata, intestino onde poderiam promover a
representam uma flexível fonte de
1998b; Gomes et al., 1998a) foi a proliferação selectiva das
aminoácidos livres e peptídeos de
inclusão de determinados compostos bifidobactérias (Modler, 1994). A
diversos pesos moleculares,
no leite, p.ex. fontes específicas de Tabela 3 sumaria algumas das fontes
dependendo do grau de hidrólise
azoto, e que englobam, e aplicações mais comuns destes dois
providenciado.
fundamentalmente, dois grupos de grupos de compostos relevantes para
compostos distintos: factores as bifidobactérias.
bifidogénicos e factores de
Os factores bifidogénicos mais Valores nutritivo e
crescimento.
utilizados são os fruto- terapêutico
oligossacáridos (FOS) de ocorrência
natural (p.ex. na soja, trigo, milho, A constatação de efeitos
Factores bifidogénicos e cebola e espargos), ou produzidos probióticos de aditivos bacterianos
factores de crescimento industrialmente a partir de xarope de viáveis data de há muitos anos e tem
sucrose; trata-se de frutanos com variado, ao longo do tempo, em
Os factores bifidogénicos são
ligação β(2→1), tipicamente função do conhecimento em
compostos, geralmente hidratos de
polidispersos com graus de diferentes momentos. No princípio
carbono, susceptíveis de resistir ao
polimerização que podem variar do século XX, Tissier defendia que
metabolismo directo do hospedeiro, e
entre 2 e 35. De entre os diversos as bifidobactérias eram importantes
que por isso atingem o intestino onde
FOS estudados, a oligofrutose para a saúde e nutrição das crianças,
são metabolizados preferencialmente
mostrou o efeito bifidogénico mais incluindo os recém-nascidos
pelas bifidobactérias. Tais factores
intenso; no entanto, a inulina também afectados por diarreias; tal efeito era
podem ser incluídos no novo
atribuído à capacidade das
bifidobactérias removerem as
Tabela 3. Lista de possíveis factores bifidogénicos e factores de bactérias putrefactivas responsáveis
crescimento para Bifidobacterium spp. pelas desordens gástricas, e de se
restabelecerem ecologicamente como
microorganismos intestinais
Factores bifidogénicos Factores de crescimento dominantes. Pouco depois,
Metchnikoff atribuía propriedades
mágicas ao iogurte, capaz de
Oligossacáridos transgalactosilados, Hidrolisado de κ-caseína desencadear uma longevidade
(Galactosil galactose, galactosil duradoura, alegando que o consumo
glucose) regular de grandes quantidades de
Frutooligossacáridos Macropeptídeo de caseína iogurte contendo espécies de L.
(inulina, oligofrutose) acidophilus resultava numa
capacidade alargada de controlo de
Lactulose Factor bifido de caseína (hidrólise infecções por agentes patogénicos
por papaína) entéricos, associada ao controlo da
Glucosil-inositol Alginatos despolimerizados toxemia crónica natural, a qual tem
um papel fundamental no
Xiloologossacáridos (xilobiose) Hidrolisados de caseína envelhecimento e,
2-amino-3-carboxi-1,4-naftoquinona Hidrolisados de leite consequentemente, na mortalidade.

16 Boletim de Biotecnologia
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Durante as últimas décadas, as progressos e considerável empenho bifidobactérias. Tais produtos


propriedades nutritivas e terapêuticas na organização de estudos sobre contêm um elevado teor de
de alimentos funcionais bactérias probióticas, nomeadamente nutrientes, que variam com o tipo de
incorporando bactérias probióticas através de ensaios cuidadosamente leite utilizado, o tipo de
têm sido alvo de atenção planeados, randomizados e microorganismo adicionado e o
considerável; numerosas conclusões controlados por placebo (para assim processo de fabrico escolhido. A
relatadas na literatura científica poder converter pretensões em factos contribuição das bifidobactérias para
constam dos trabalhos de revisão de cientificamente comprovados) o aumento do valor nutritivo destes
Marteau e Rambaud (1993) e de (Saxelin et al., 1995). alimentos está sintetizada na Tabela
Yaeshima (1996), estando resumidos 4. De uma forma geral, tais efeitos,
na Tabela 4. No entanto, alguns dos i.e. o aumento da digestibilidade das
Valor nutritivo
resultados obtidos são altamente proteínas e gorduras, a redução do
variáveis e por vezes inconsistentes, Os alvos de estudo mais comuns conteúdo em lactose (a qual assume
o que dificulta o estabelecimento, de na avaliação do valor nutritivo de particular importância para os
forma clara e inequívoca, de um estirpes probióticas são os lacticínios indivíduos com intolerância à
determinado benefício para a saúde. fermentados por lactobacilos e lactose, devido a deficiência
Têm-se verificado grandes congénita em β-galactosidase ou a
redução da actividade daquela
durante desordens intestinais), a
Tabela 4. Potenciais valores, nutritivo e terapêutico, de alimentos
absorção acrescida de cálcio e ferro,
funcionais contendo agentes probióticos o equilíbrio de conteúdo em várias
vitaminas e a presença de alguns
Efeito benéfico Possíveis causas e mecanismos metabolitos secundários, acoplados à
presença de células probióticas
Melhor digestibilidade Degradação parcial de proteínas, lípidos e hidratos viáveis, fazem dos leites fermentados
de carbono um dos alimentos naturais mais
valiosos recomendados para o
Melhor valor nutritivo Níveis elevados das vitaminas do complexo B e de consumo humano (Rasic e Kurmann,
alguns aminoácidos, p.ex. metionina, lisina e 1983).
triptofano

Melhor utilização da Níveis reduzidos de lactose no produto e maior Valor terapêutico


lactose disponibilidade de lactase

Acção antagónica Distúrbios tais como diarreia, colite mucosa, colite Inibição de infecções intestinais
contra agentes ulcerosa, diverticulite e colite antibiótica controlada
patogénicos entéricos pela acidez, inibidores microbianos (i.e. H2O2, Um dos valores terapêuticos
bacteriocinas e sais biliares) e inibição da adesão atribuídos às bactérias probióticas, o
e activação dos patogénios (p.ex. consumo de qual está alicerçado em mecanismos
ferro) de acção bem estabelecidos e
sobejamente reconhecidos pela
Colonização do Sobrevivência no ácido gástrico, resistência à
comunidade científica, é o efeito
intestino lisozima e à tensão superficial baixa do intestino,
benéfico sobre distúrbios e infecções
adesão ao epitélio intestinal, multiplicação no trato
intestinais. O epitélio intestinal
gastrointestinal, modulação imunitária
desempenha um papel de fronteira e
Acção Conversão de potenciais précarcinogénicos em barreira imunológica, estabelecendo
anticarcinogénica compostos menos perniciosos a interface entre o conteúdo luminal
e as células imunológicas
Acção inibitória perante alguns tipos de cancro,
subepiteliais. Qualquer perturbação a
p.ex. cancro do trato gastrointestinal por
esta barreira, desencadeada por
degradação dos précarcinogénicos, redução das
antigénios dietéticos,
enzimas promotoras de carcinogénicos e
microorganismos patogénicos,
estimulação do sistema imunitário
agentes químicos ou radiações,
Acção Produção de inibidores da síntese de colesterol conduz a um aumento da
hipocolesterolémica permeabilidade intestinal e a
Utilização do colesterol por assimilação e
alterações estruturais no epitélio, as
precipitação com sais biliares desconjugados
quais podem ocasionar aumento do
Modulação imunitária Melhor produção de macrófagos, estimulação da fluxo de antigénios e provocar
produção de células supressoras e γ-interferão diversos tipos de inflamação. O uso

Boletim de Biotecnologia 17
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VÍRUS Outros efeitos benéficos de estirpes


PATOGÉNIO
probióticas, mas que estão
ANTIGÉNIO
RADIAÇÃO consubstanciados em estudos ainda
controversos, incluem o efeito
hipocolesterolémico, segundo
RESPOSTA IMUNITÁRIA
mecanismos descritos na Tabela 4
FUNÇÃO (Tahri et al., 1997). Alguns estudos
NORMAL
INTESTINAL referem também a ocorrência de uma
melhor resposta imunológica após
TERAPIA
TERAPIA
PROBIÓTICA administração de agentes
PROBIÓTICA
probióticos; tal efeito assenta no
aumento da produção de macrófagos
e anticorpos IgA, bem como em
MICROFLORA alterações substanciais na produção
INTESTINAL de citocinas (Marin et al., 1997).
DIARREIA PERTURBADA

Produtos lácteos
INVASÃO ACTIVAÇÃO DE enriquecidos com
BACTERIANA QUÍMICOS
agentes probióticos
ALTERAÇÃO DE Em tecnologia alimentar,
PERMEABILIDADE procura-se actualmente desenvolver
novos produtos com elevada
qualidade e possuindo grande valor
TERAPIA PROBIÓTICA acrescentado, i.e. alimentos
NORMALIZAÇÃO POR funcionais (ou nutracêuticos). No
PROBIÓTICOS ADERENTES
âmbito deste desiderato, o aumento
Figura 3 Alterações que ocorrem durante distúrbios intestinais, e alvos potenciais de tratamento e
prevenção (adaptado de Salminen et al., 1996). do valor nutritivo e terapêutico
trazido pelas bifidobactérias tornou-
eficaz dos agentes probióticos nestas carcinogénicos. Ensaios clínicos as alvo preferencial de uma série de
situações é justificado, não só no realizados por diversos programas de investigação aplicada;
tratamento mas também na investigadores (Kurmann e Rasic, gerou-se, então, um interesse
prevenção de tais alterações (ver 1991; Mital e Garg, 1992; Marteau e considerável no sentido da
Figura 3). São vários os trabalhos de Rambaud, 1993) em modelos incorporação das bifidobactérias em
revisão (Marteau e Rambaud, 1993; animais evidenciaram que algumas determinados alimentos, tendo sido
Salminen et al., 1996) que estirpes de L. acidophilus e muitos os produtos introduzidos no
documentam o uso destes agentes Bifidobacterium possuem a mercado como veículos para tais
para o tratamento de desordens capacidade de reduzir os níveis agentes probióticos. Os veículos
intestinais, p.ex. diarreia aguda por daquelas enzimas, diminuindo assim existentes hoje em dia integram três
rotavírus em crianças e doenças o risco de desenvovimento de grandes grupos: alimentos infantis,
inflamatórias intestinais, associados tumores. O efeito benéfico tem sido leites fermentados e outros produtos
em alguns casos, à existência de atribuído à mudança favorável que a lácteos, e preparações farmacêuticas
cancro do cólon. Os mecanismos ingestão de bactérias probióticas (Rasic e Kurmann, 1983). Destes, o
básicos desencadeados por estes desencadeia na composição da flora grupo que regista maior
agentes probióticos estão descritos na intestinal. Um estudo recente com desenvolvimento é o dos lacticínios;
Tabela 4 e representados na Figura 3. Lactobacillus casei (estirpe Shirota) estimativas apontam para a
permitiu tirar conclusões sobre o seu existência de cerca de 80 produtos
Outras propriedades potencial na área de ‘prevenção comerciais disponíveis no mercado
alimentar’ do cancro; Morotomi mundial, os quais são produzidos
Diversos estudos sugerem que os (1996) afirmou que a administração essencialmente no Japão (que lidera
agentes probióticos podem estar parenteral desta estirpe provocou o mercado com ca. 50 produtos), na
associados à carcinogénese intestinal. efeitos em termos do aumento da Comunidade Europeia (incluindo
Esta situação clínica é mediada por actividade imunológica e Portugal, que começa lentamente a
enzimas bacterianas fecais, que consequentes implicações na aderir a este novo segmento do
activam os compostos actividade antitumoral. mercado) e nos EUA (ver Tabela 5).
procarcinogénicos em compostos

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Tabela 5. Produtos comerciais que contêm Bifidobacterium spp. e Lactobacillus acidophilus.

Produto País de origem Microrganismos

A-38 Dinamarca Lactobacillus acidophilus, Bifidobacterium bifidum , Leuconostoc


mesenteroides ssp. cremoris, lactococos mesofilícos

A-B Iogurte França Lactobacillus acidophilus, Bifidobacterium bifidum

Biomild vários países Ibidem

Cultura Dinamarca Ibidem

Milky Itália Ibidem

Nu-Trish A/B Milk EUA Ibidem

Acidophilus buttermilk EUA Lactobacillus acidophilus, Leuconostoc mesenteroides ssp.


cremoris, lactococos mesofilícos

B-Active França Lactobacillus acidophilus, Bifidobacterium bifidum , Lactobacillus


delbrueckii subsp. bulgaricus, Streptococcus thermophilus

BA Fresco RU Ibidem

Kyr Itália Ibidem

Yoplus Austrália Ibidem

Bifighurt Alemanha Bifidobacterium bifidum , Streptococcus thermophilus

Biogarde Alemanha Lactobacillus acidophilus, Bifidobacterium bifidum , Streptococcus


thermophilus

Ofilus França Ibidem

Philus Noruega Ibidem

Biogurt Alemanha Lactobacillus acidophilus, Streptococcus thermophilus

Biokys Republica Bifidobacterium bifidum , Lactobacillus acidophilus, Pediococcus


Checa acidilactici

Iogurte Acidophilus vários países Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus delbrueckii subsp.


bulgaricus, Streptococcus thermophilus

Iogurte-ACO Suíça Ibidem

Leite Acidophilus vários países Lactobacillus acidophilus

Leite Bifidus vários países Bifidobacterium bifidum , Bifidobacterium longum

Leite de fermento ex-URSS Lactobacillus acidophilus, Saccharomyces fragilis,


Acidophilus Saccharomyces cerevisiae

Mil-Mil Japão Lactobacillus acidophilus, Bifidobacterium bifidum ,


Bifidobacterium breve

Progurt Bifidobacterium bifidum , Lactobacillus acidophilus, lactococos


mesofilícos

Yakult Japão Lactobacillus acidophilus, Bifidobacterium bifidum ,


Bifidobacterium breve, Lactobacillus casei subsp. casei

(Adaptado de: Kurmann, 1988; Hoier, 1992)

são adicionadas como aditivos para relativamente recente refere uma


Os produtos mais comuns incluem
além da cultura de arranque nova possibilidade, que consiste na
leites fermentados, iogurtes, gelados
convencional. Um estudo utilização de estirpes probióticas
e queijos, em que as bifidobactérias

Boletim de Biotecnologia 19
Biotecnologia Alimentar

como cultura de arranque, o que lactis, demonstra um bom potencial viáveis de Bifidobacterium spp. e L.
abre, do ponto de vista tecnológico e como aditivo alimentar: além do acidophilus é um desafio que se
bioquímico, perspectivas efeito benéfico desencadeado após a coloca à indústria alimentar, pois
interessantes para o fabrico de sua ingestão (Weerkamp et al., 1993, trata-se de microorganismos que se
queijos de leite de vaca (Gomes et 1996), tal espécie demonstra também multiplicam muito lentamente
al., 1995) e de cabra (Gomes e uma boa tolerância a ácidos e ao naquele meio líquido; tal implica
Malcata, 1998b). oxigénio molecular (Gomes et al., fermentações longas e
1998a, b). As estirpes probióticas invariavelmente exigência de
As espécies mais frequentemente
podem ser adicionadas como cultura anaerobiose (como consequência das
utilizadas para a obtenção destes
única, ou em conjunto com outras necessidades de potencial redox
produtos são de origem humana,
bactérias lácticas, durante a baixo na fase inicial de crescimento e
p.ex. Bifidobacterium adolescentis,
fermentação, ao produto final já da adição de factores de
B. bifidum, B. breve, B. infantis, B.
fermentado ou ainda ao produto crescimento). Adicionalmente, as
longum (a mais comum e com maior
fresco antes da respectiva bifidobactérias produzem ácidos
êxito), Lactobacillus acidophilus, L.
distribuição. acético e láctico (nas proporções
casei subsp. rhamnosus e
molares 3:2) durante a fermentação,
Enterococcus faecium (Kurmann, Além dos produtos alimentares
o que pode criar importantes
1988; Hoier 1992); considera-se que descritos, existem no mercado
restrições organolépticas: um
tais espécies reúnem as condições preparações farmacêuticas contendo
produto com sabor e aroma ‘a
mais adequadas para fazer face às agentes probióticos. Em geral, estas
vinagre’ terá obviamente uma
necessidades fisiológicas do consistem em cápsulas contendo
aceitação limitada por parte dos
hospedeiro pelo que, por isso, populações bacterianas liofilizadas,
consumidores (Hoier, 1992). À luz
poderão mais facilmente colonizar o sendo utilizadas no tratamento de
destes factos, recomenda-se uma
intestino. Outros estudos apontam distúrbios gastrointestinais,
selecção cuidadosa das estirpes a
para o uso de estirpes de origem obstipação e algumas doenças
utilizar e uma monitorização
animal: estas estirpes são mais fáceis hepáticas.
constante ao longo de todo o
de cultivar e mais resistentes às
processo de manufactura por forma a
condições adversas prevalecentes nos
assegurar um controlo mais eficaz
processos industriais, i.e. baixos Aspectos tecnológicos dos produtos de fermentação,
valores de pH e presença de níveis
A produção de leite fermentado de designadamente em termos do pH
não desprezáveis de oxigénio. Uma
elevada qualidade contendo células final. Muitas publicações referem
estirpe recentemente identificada, B.
como potencial alternativa, por um

Origem da estirpe
(humana)

Colonização do Resistência ao suco Proveniente de


trato intestinal gástrico e aos sais indivíduos
humano biliares saudáveis

Capacidades de cultura em
leite

Crescimento com Possível adição de Tolerância ao Coagulação do leite


1-10% inóculo em factores de oxigénio para em 24 h
24 h crescimento crescimento em leite (pH < 4.6)
8 9
(10 -10 ufc/ml)

Manutenção de viabilidade

Bom perfil ácido Manutenção de perfis de Boa estabilidade


(acídurico, pH 4.2 - 4.7) sabor e aroma durante Taxa decimal de morte > 3.5 d
Pós-acidificação reduzida armazenamento Baixa termoactividade

Figura 4 Critérios de selecção de Bifidobacterium spp. para utilização como aditivos alimentares.

20 Boletim de Biotecnologia
Biotecnologia Alimentar

lado, o uso de culturas de escala comercial (Hoier, 1992; sabor e aroma aceitáveis e possuía
Bifidobacterium spp. combinadas Blanchette et al., 1995). células viáveis de ambas as estirpes
com culturas de L. acidophilus ou probióticas bem acima de 106
Além dos aspectos tecnológicos
com culturas de outras bactérias ufc/gqueijo no momento de consumo
propriamente ditos, o controlo da
lácticas, p.ex. Lactobacillus (Gomes et al., 1995; Gomes e
viabilidade das estirpes no alimento
delbrueckii subsp. bulgaricus e Malcata, 1998b).
que serve de veículo no momento de
Streptococcus thermophilus (Hoier,
consumo é, igualmente, de elevada Finalmente, o progresso verificado
1992; Gomes et al., 1995, 1998a;
importância; para assegurarem um no conhecimento de efeitos
Samona et al., 1996); algumas das
efeito benéfico, os produtos probióticos, assim como a
vantagens oriundas desta solução
probióticos devem conter um mínimo identificação de estirpes resistentes a
incluem melhores taxas de
de 106 ufc/mL, o que assenta no factores ambientais e novos veículos
crescimento, redução do tempo de
pressuposto de que a dose diária alimentares com maior capacidade
fermentação, ausência de certos
recomendada é de 108 -109 células para assegurar a sobrevivência e
defeitos organolépticos e aumento do
viáveis, realizável pela ingestão de viabilidade, têm vindo a fortalecer a
valor nutritivo dos produtos finais.
ca. 100 g de produto fermentado sua importância na dieta alimentar.
Existe um elevado número de contendo 106 -107 células viáveis/mL Embora permaneçam ainda algumas
publicações relativas às (Rasic e Kurmann 1983). A perguntas por responder, pode
características desejáveis para um viabilidade depende de múltiplos afirmar-se existirem já as
bom agente probiótico (Fuller, 1989; factores, p.ex. o pH (e o seu efeito ferramentas necessárias para
Hoier, 1992) e aos critérios que tampão), a presença de identificar potenciais soluções e
devem presidir à correspondente microorganismos competitivos, a testar as hipóteses iniciais de Tissier
selecção (Kurmann e Rasic, 1991; temperatura de armazenagem e a e Methnikoff.
Salminen et al., 1996); estes estão presença de inibidores bacterianos na
condensados no fluxograma da matriz alimentar, como são o cloreto
Figura 4. Para além da necessidade de sódio e o peróxido de hidrogénio Bibliografia
de uma boa tolerância ao ácido e sais (Kurmann e Rasic, 1991). Com
Babu, V., Mital, B. K. e Garg, S. K.
biliares (para assegurar a manutenção efeito, dos vários estudos de
1992. Effect of tomato juice addition on
de um número elevado de células sobrevivência realizados por diversos
the growth and activity of Lactobacillus
viáveis durante o armazenamento e investigadores, existe um consenso acidophilus. International Journal of
passagem pelo tracto alargado de que produtos com acidez Food Microbiology 17, 67-70.
gastrointestinal), é igualmente elevada (p.ex. iogurte) conduzem a
Blanchette, L., Roy, D. e Gauthier, S. F.
conveniente que as estirpes uma maior perda de viabilidade do
1995. Protective effect of ultrafiltered
seleccionadas sejam capazes de gerar que produtos com baixa acidez (p.ex. retentate powder on stability of freeze-
um produto final com sabor e textura iogurte gelado, gelado tradicional e dried cultures of bifidobacteria during
aceitáveis. queijo), pelo que, e conforme atrás storage. Milchwissenschaft 50, 363-367.
mencionado, é necessário efectuar
Devido à propagação lenta das Crociani, F., Alessandrini, A., Mucci, M.
uma selecção cuidadosa das estirpes M. e Biavati, B. 1994. Degradation of
bifidobactérias em leite, que se
a utilizar. Na tentativa de melhorar a complex carbohydrates by
reflecte na falta de competitividade
viabilidade a longo prazo das estirpes Bifidobacterium spp. International
quando em presença de outros
probióticas, foram executados Journal of Food Microbiology 24, 199-
microorganismos, recomenda-se a
diversos estudos sobre novas 210.
produção das estirpes seleccionadas
metodologias, que englobam quer a Dinakar, P. e Mistry, V. V. 1994. Growth
em larga escala; tal produção deve
substituição do vector alimentar and viability of Bifidobacterium bifidum
decorrer sob condições processuais
(Dinakar e Mistry, 1994; Gomes et in Cheddar cheese. Journal of Dairy
pautadas por elevados padrões de
al., 1995; Gomes e Malcata, 1998a) Science 77, 2854-2864.
higiene e parâmetros nutritivos
quer a protecção de estirpes sensíveis Finegold, S. M., Sutter, V. L. e Mathisen,
óptimos. Diversos estudos apontam
ao ácido por microencapsulação com G. E. 1983. Normal indigenous intestinal
como conveniente a utilização de
acetatoftalato de celulose (Rao et al., flora. Em Hentges, D. J. (ed.), Human
culturas liofilizadas ou
1989) ou com alginato de cálcio Intestinal Microflora in Health and
ultracongeladas para inoculação
(Kim et al., 1996). O primeiro Disease, pp. 3-31, Academic Press, New
directa, com capacidades de York, EUA.
método apresenta-se como o melhor,
concentração até 1010 -1011 ufc/g, de
em termos tecnológicos e em termos Fuller, R. 1989. A review: Probiotics in
modo a permitir uma maior
comerciais: p.ex. uma cultura de man and animals. Journal of Applied
flexibilidade no controlo das
arranque composta unicamente pelas Bacteriology 66, 365-378.
qualidades organoléptica e
estirpes L. acidophilus e B. lactis foi Gibson, G. R. e Roberfroid, M. B. 1995.
microbiológica; tal é altamente
utilizada com sucesso no fabrico de Dietary modulation of the human colonic
desejável no fabrico de lacticínios à
queijo, o qual era caracterizado por microbiota: introducing the concept of

Boletim de Biotecnologia 21
Biotecnologia Alimentar

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22 Boletim de Biotecnologia

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