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Biology
by V
betareader: Cah (Kerouls)
Capítulo 01
Era mais um dia como todos os outros. As mesmas pessoas medíocres, os mesmos
ambientes entediantes, a mesma rotina de sempre. Como de costume, o professor
mal comido de geografia passava cinco páginas de lição de casa, e ai de quem não
trouxesse o dever feito no dia seguinte. Materiazinha detestável essa geografia. E
quando eu pensava que nada poderia tornála mais detestável ainda, eis que surge
na minha escola aquele ser repugnante com sua careca lustrada e suas calças no
umbigo. Resumindo, eu realmente odiava o sr. Hammings.
O sinal irritante tocava, anunciando o início de mais uma aula de biologia, e a
penúltima aula do dia. Pelo menos o sr. Langdon não sofria de falta de sexo como o
sr. Hammings. Não parecia nem devia sofrer, com aqueles ombros largos, aquele
sorriso experiente e sempre relaxado, como se nada pudesse tirar aquela
tranqüilidade dele. Fora aquele corte de cabelo que lhe dava um ar de 20 quando na
verdade ele era dez anos mais velho. Um belo rosto que arrancava suspiros por onde
passava, e uma voz confiante que prendia a atenção de todos os alunos e os fazia
entender a matéria mais complexa do mundo em um segundo eram os últimos
detalhes que faltavam para tornálo o professor perfeito.
Pra mim, ele era um ótimo educador. Desenvolto ao falar, paciente e muito bem
informado sobre tudo, sabia como eliminar todas as possíveis dúvidas de seus alunos
com um sorriso no rosto e palavras simples. Minha facilidade em biologia me dava
tempo de sobra para analisar seu jeito de falar, de andar, de gesticular e de agir, ao
invés de prestar atenção na matéria. O que eu adorava fazer, até mesmo sem querer.
Tipo agora.
Bom dia, professor – ouvi a voz da retardada da Kelly Smithers gemer assim que
pude ver a cabeleira do sr. Langdon entrar na classe. Bem daquele jeitinho ‘oi sou
puta quero dar pra você na sala dos professores’, enquanto mascava seu chiclete
daquele jeito vulgar que a maioria das pessoas daquele colégio estúpido costumava
fazer.
Você sabia, srta. Smithers, que uma pessoa que masca chiclete de boca aberta
engole muito mais bactérias do que uma pessoa que masca chiclete de boca
fechada? – Brian Langdon, meu professor de biologia falou, enquanto colocava seu
material sobre sua grande mesa – Além de ser algo extremamente desagradável de
se ver.
Contive minha gargalhada num sorriso de canto de boca, praticamente comendo
aquele homem com os olhos. Adorava o jeito com o qual ele simplesmente deixava
aquela piranha da Smithers no chão sem se rebaixar ao seu nível. E por incrível que
pareça, ela continuava com seu mesmo jeito fútil, mascando furiosamente seu
chiclete de morango, enquanto sua amiga fazia cara de (puta) chocada. Só não
continuei me divertindo com a cara de azulejo dela ao ser consolada por sua amiga
porque havia algo muito melhor pra ser observado naquela sala. Algo que tinha
nome, sobrenome, e um sorriso estonteante.
Você deve estar pensando que eu sou a maior pervertida da face da Terra. Mas você
só diz isso porque seu professor de biologia não é o cara mais lindo que você já viu
pessoalmente. Ter que agüentar 50 minutos semanais com um homem desses sem
ter pensamentos como os meus era impossível, vai por mim. Eu sabia que era
errado, que eu jamais poderia chamar a atenção de um homem como o professor
Langdon, mas eu me esforçava pra ser sua melhor aluna. E é claro que eu conseguia.
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Onde foi que eu parei, Dawson? – ouvi sua voz firme perguntar se aproximando da
minha carteira com um sorriso animado, enquanto apoiava uma das mãos no
encosto da carteira à minha frente e se curvava pra ler minhas anotações.
Na última aula o senhor começou a explicação sobre genética – respondi, inalando
aquele perfume de homem cheiroso que eu amava sentir toda vez que ele estava por
perto. Sempre me disseram que esses caras ligadões na natureza têm tendências
meio hippies, ou seja, não tomam banho e conseqüentemente fedem. Brian Langdon
era a prova viva de que aquilo era puro mito. Ou então, era uma linda exceção.
Alguma dúvida sobre o que eu já expliquei? – ele murmurou, com sua habitual
simpatia com relação a mim. Ele sempre fazia aquela mesma pergunta quando
começava um novo conteúdo, como se precisasse da minha opinião sobre a
qualidade de sua aula. E eu sempre respondia a mesma coisa, com um sorriso meigo
no rosto:
Nenhuma, professor.
Aliás, eu tenho uma: quando o senhor pretende virar pedófilo?
A aula de biologia se passou sem maiores novidades. O professor perfeito explicando
a matéria que eu já sabia de cor enquanto a Smithers ficava com cara de tacho, ainda
engolindo zilhões de bactérias. As coisas fluem tão bem durante a aula do sr.
Langdon que ele sempre faz tudo que precisa fazer e ainda sobram uns 10 minutos
pro pessoal conversar ou tirar alguma dúvida mais complicada. Se eu te dissesse que
nunca tinha nenhuma dúvida e detestava praticamente todas as pessoas da minha
classe, você provavelmente pensaria que eu não me encaixo em nenhuma das duas
opções. Mas se eu te dissesse que parte do corpo docente da escola simpatiza
comigo, você talvez entendesse como são os finais das minhas aulas de biologia.
Outra vez geografia? – ouvi aquela voz de homem mais velho perguntar atrás de
mim, num tom simpático, e tirei meus olhos do caderno onde eu terminava de copiar
a matéria do Hammings. Me deparei com aqueles dois olhos Castanhos brilhantes me
encarando, acompanhados daquele sorriso de quem ainda não se tocou de que é
lindo de qualquer jeito, e precisei de muito autocontrole pra apenas sorrir
normalmente.
Pois é, tá virando rotina – respondi, voltando a escrever pra evitar que minha baba
escorresse – Por mais que eu tente, não consigo ler esse garrancho.
Não posso falar muito, minha letra também não é das mais legíveis – ele riu,
sentandose na carteira agora desocupada à minha frente e ficando de lado pra
conversar comigo – Mas eu pelo menos tento poupar vocês de entender o que eu
escrevo.
O senhor nunca escreve nada na lousa – falei, rindo um pouco e olhando pra ele.
Sério, me diz como você consegue ficar rosadinho desse jeito 24h por dia?
Por isso mesmo – o sr. Langdon sorriu, me dando uma piscadinha que fez meu
coração ter um ataque epilético – E eu sei que mesmo que eu escrevesse alguma
coisa, você seria a última pessoa a copiar.
Por que o senhor acha isso? – perguntei, quase ofendida, e ele apenas respondeu
calmamente:
Porque você praticamente sabe tanto sobre biologia quanto eu, e copiar o que eu
escrevo seria desperdício de papel, de tinta e do seu tempo.
Fiquei com aquele sorrisinho de picolé de chuchu, super sem graça, e tudo que
consegui dizer algum tempo depois foi:
Vamos pensar positivo... Pelo menos eu estaria evitando o desmatamento de
algumas árvores ao economizar papel.
O sr. Langdon, que antes estava com o olhar perdido na dorminhoca da Amy
Houston, fechou os olhos e deu risada da minha péssima frase. Como se ele já não
tivesse besteiras piores pra agüentar, eu ainda falava uma merda daquelas.
Se eu não soubesse que você consegue formular frases melhores, ia te dar um
ponto de participação pela sua brilhante conclusão – ele ironizou, sorrindo de um
jeito divertido antes de se levantar e ir acordar a Houston pra que ela não começasse
a roncar mais alto. Preciso descrever o estado de profunda melancolia no qual eu me
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encontrava depois daquele momento? É, eu sabia que não precisaria.
Ainda frustrada comigo mesma, arrumei meu material rapidamente pra ir pra última
aula, que era no laboratório. Na minha escola, tínhamos duas frentes pra física,
química e biologia: as aulas teóricas, na classe, e as aulas práticas, nos laboratórios.
Como nas aulas práticas os alunos aplicam seu conhecimento teórico em
experimentos, você provavelmente deve ter deduzido que eu sou igualmente
inteligente em biologia laboratório. E eu sou mesmo. Mas eu gostaria muito que um
dia alguém me explicasse por que eu sempre, sempre ficava de recuperação nessa
matéria.
A explicação que eu via como a única possível era a de que o professor de laboratório
não ia com a minha cara. Infelizmente, o sr. Langdon não dava aulas práticas pra
minha turma, só as teóricas. Nosso professor de laboratório era o ser mais
detestável, ignorante, repugnante, metido e tudo de patético que um homem pode
ser. Mantinha sempre aquele ar superior em relação aos alunos, a não ser pra
piranha da Smithers, porque ele provavelmente já tinha comido ela. E três quartos
das garotas da escola. Dormir com professores era quase uma rotina na minha
escola.
Juro que não sei como essas meninas conseguem ver alguma qualidade naquele
cara. Sua risadinha de desprezo me irritava, aquela voz de quem está sempre zoando
da sua cara me deixava fula da vida, e eu realmente abominava suas piadinhas sem
graça com o povo idiota da minha classe. Resumindo, meu professor de biologia
laboratório era provavelmente o professor mais ridículo que você poderia encontrar
naquela escola.
Bom dia, professor – ouvi Kelly repetir, do mesmo jeitinho de 50 minutos atrás,
quando se sentou de frente pra bancada. A única diferença era que agora ela estava
mascando um chiclete de uva. Como uma pessoa consegue ser um déjavu vivo sem
querer explodir os próprios miolos?
Bom dia, Smithers – aquela voz arrastada de homem tarado respondeu, se
aproximando meio indecentemente da garota com uma expressão no mínimo
enojante – Eu ia perguntar como você vai, mas a sua saia já me deixou ver que você
continua muito bem como sempre.
Francamente, se fosse comigo eu já metia a mão na fuça daquele merda. Mas graças
a Deus, não era, então eu apenas ignorei as preliminares dos dois seres acéfalos
presentes no laboratório e comecei a copiar o relatório que já estava escrito na lousa.
Pelo menos esse professor tinha uma letra um pouco mais compreensível.
Provavelmente a única qualidade que ele tinha.
Professor, hoje o senhor vai entregar os relatórios das aulas passadas pra gente
poder estudar pra prova? – Amy Houston perguntou, parecendo sonolenta. Acho
que ela só não dormia nas aulas práticas porque as bancadas costumavam ter uma
limpeza reforçada com alguns produtos aos quais Amy era alérgica. Eu sei disso
porque um dia ela cochilou no meio da explicação e seu rosto ficou todo inchado e
empipocado só do lado que esteve em contato com a bancada. Esse dia foi bem
nojento, mas pelo menos agora a Amy descobriu que tem colegas de classe e que
pode se socializar com eles quando não estiver com tanto sono.
Tá com pressa, Houston? – Daniel Jones, meu professor de biologia laboratório,
zombou, com aquela rotineira voz de tédio – Se quiser, pode ir embora... E aproveita
pra levar a Dawson com você.
Ergui meu olhar do caderno pra ele, sentindo nojo só de olhálo sorrindo
zombeteiramente pra mim. Sem me mexer, apenas respirei fundo e perguntei,
juntando toda a educação que meus pais haviam me dado:
O que foi que eu fiz dessa vez?
O professor Jones, parado do lado da putamor, apenas continuou me olhando,
como se me comesse com os olhos. Que porra, por que ele tem que ficar me
olhando assim toda santa aula? Acho que ele devia ter algum tipo de fetiche por
pessoas que o odeiam.
Eu não mandei ninguém copiar o relatório da lousa – ele respondeu, calmamente,
caminhando devagar até mim com um sorriso maligno no rosto, e antes que eu
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pudesse ver o que tinha acontecido, a folha onde eu já tinha copiado metade da
lousa cheia estava amassada em suas mãos – Ainda.
Ele abaixou o rosto pra ficar na mesma altura do meu, e eu imediatamente me
afastei, concentrando toda a minha repulsa por ele somente no olhar. Meu Deus,
como aquele cara era insuportável! No meu último dia de aula naquela escola, jurei
pra mim mesma que meteria um tiro de bazuca na cabeça dele. E esse pensamento
estava ficando cada dia mais forte. Se bem que seria uma pena estragar aqueles
olhos tão intensamente Azuis que sabiam exatamente como chamar a atenção
naquele rosto. Mas quem liga pra isso mesmo? Ah, é, eu que não.
A classe toda observava o momento tenso em silêncio, e eu pude ver de rabo de
olho que a Smithers estava se divertindo com a minha tortura. O sr. Jones jogou a
bolinha de papel que antes era meu relatório por cima de seu ombro, fazendoa voar
longe sem precisar se esforçar muito, e murmurou debochadamente a frase que ele
sempre usava comigo antes de me deixar em paz enquanto não houvesse motivo
pra me ridicularizar:
Tudo de novo, Dawson.
Toda semana era o mesmo sofrimento. Ainda bem que só tínhamos uma aula de
biologia laboratório por semana, o que já era muito pra mim. Aturar o desprezível do
Jones tirando sarro da minha cara pelos motivos mais idiotas e o pior, fazer todos
rirem disso, era extremamente irritante. Só sendo quase santa pra ignorar aquele
retardado e conseguir terminar meus relatórios.
Na verdade, eu nem sei por que insistia tanto em fazer alguma coisa naquela aula
idiota. A dura realidade era: por mais que eu me concentrasse ao máximo e fizesse o
relatório perfeito, ele sempre me dava, no máximo, um terço da nota. Um terço da
nota, você sabe o quanto isso representa? Quase nada! E aquele puto nunca me
dava mais que C nos relatórios! Dá pra acreditar que uma pessoa que tira A+ em
biologia teoria tira C em biologia laboratório? Meio esquisito, não concorda? Pois é, a
diretora não. Aliás, discordava tanto que vivia chamando minha mãe na escola
porque eu não conseguia tirar uma nota igualmente boa em laboratório durante o
ano todo e sugeria que minha mãe me ajudasse e me encorajasse a estudar mais. Eu
vou encorajar essa diretora a tomar no cú, isso sim.
Enfim, logo a aula acabou, a tortura semanal tinha chegado ao fim, e eu alegremente
(por dentro, porque externamente eu continuava com minha cara de repugnância)
entreguei mais um dos meus relatórios perfeitos. Enquanto guardava minhas canetas
no estojo, percebi uma movimentação estranha atrás de mim e pulei de susto
quando ouvi alguém falar comigo de tão perto.
Vê se aprende a só fazer as coisas quando te mandam fazer, Amellie – o sr. Jones
sussurrou, por trás de mim, com sua habitual voz de maníaco. Recuperada do susto,
olhei pra ele com cara de nojo e respondi, com a voz mal educada:
Primeiro, nem o senhor nem ninguém me diz o que fazer. E segundo, eu não te dei
a liberdade de me chamar pelo nome, e nem pretendo dála ao senhor algum dia.
Voltei minha atenção pro zíper do meu estojo que tinha emperrado bem naquele
momento agradável, e só então percebi que o laboratório estava vazio a não ser por
nós dois. Fiquei mais alerta do que já estava, preparada pra enfiar o compasso no
olho dele caso me sentisse ameaçada ou coisa do tipo, mas tudo que ele disse, com
um risinho pervertido enquanto me olhava de cima a baixo, foi:
Um dia você ainda vai me dar muito mais que a liberdade de te chamar pelo
nome... Mell.
Paralisei quando o ouvi dizer aquela frase, ainda mais pronunciando meu apelido
daquele jeito sujo. Sem conseguir conter meu impulso, dei um tapa forte na cara
dele. Pego nem tão de surpresa assim, já que ele devia estar acostumado a apanhar
de algumas alunas mais resistentes, ele colocou uma das mãos sobre o lado atingido
do rosto e voltou a me olhar, com um risinho de deboche no rosto.
Não sabia que você era do tipo agressiva, Dawson – ele sorriu, me deixando com
mais raiva ainda – Vai ser mais gostoso ainda quando você vier fazer a recuperação
depois do almoço. Sozinha, como sempre, já que só você consegue a façanha de
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ficar de recuperação em laboratório.
Quase voei no pescoço daquele pedófilo safado nojento idiota. Recuperação de
novo? Pelo amor de Deus, por que ele simplesmente não conseguia me dar uma
nota justa? Só porque eu não queria dar pra ele? Que droga, é tão difícil entender
que ele consegue me deixar cada dia mais furiosa pelo simples fato de existir?
Por que o senhor não procura uma namorada, hein? – perguntei, no tom mais
educadamente irritado que consegui – Sei lá, quem sabe essa sua obsessão por
aluninhas não seja falta de mulheres da sua idade que te suportem sem receber uma
recompensa por isso.
Dei uma boa olhada na cara de bosta que ele fez e saí do laboratório, com um
sorrisinho triunfante no rosto. Ele pode até ser cheiroso e ter olhos bonitos, mas não
é nem nunca será nem metade do homem perfeito que o professor Langdon é.
Falando nele, olha só que bonitinho ele saindo da sala do primeiro ano, todo
rodeado de alunas com shorts mínimos e maquiagem pesada. Aspirantes a Kelly
Smithers? Isso mesmo.
Passei por ele, virando logo em seguida pra descer as escadas, e assim que me viu,
abriu um sorriso de orelha a orelha. Foi só impressão minha ou esquentou de
repente depois daquela demonstração linda de alegria?
Já ia passar sem me cumprimentar, é, Dawson? – o sr. Langdon brincou, descendo
rapidamente as escadas e se livrando das pirralhas com seus passos largos. Soltei um
risinho envergonhado, tentando não ferrar com tudo de novo.
Imagina, professor – respondi, na dúvida entre olhar pros degraus e não cair ou
olhar pra ele e ter uma arritmia – Tava distraída pensando em outras coisas, nem
tinha visto o senhor ali.
Acho que já sei qual é o seu defeito – ele disse, entortando a boca e cerrando os
olhos – Você vive pensando demais.
Como assim, professor? – perguntei, com o coração quicando dentro do peito, só
Deus sabe por quê. Tá, eu sei por que.
Talvez você devesse pensar menos e se arriscar mais – o sr. Langdon disse, com um
sorriso esperto, quando saímos do prédio – Quem sabe você não acaba se dando
bem?
Oi, foi só impressão minha ou ele tinha acabado de me cantar? Meu Deus do céu,
aquilo sim era homem! Sorri pra ele, envergonhada, e sem dizer mais nada, ele
apenas continuou andando em direção à saída já lotada da escola. Observei sua
cabecinha sumir em meio à multidão de alunos, com o coração disparado, até ouvir
uma voz falando comigo.
Caraca, Amellie, você realmente consegue me irritar quando resolve não ver nem
ouvir nada ao seu redor – Kimberlly, minha melhor amiga e única aluna decente
naquela escola, reclamou, parando bem à minha frente e me impedindo de ver o sr.
Langdon entrando em seu carro.
Foi mal, Kim – balbuciei, me esticando pra tentar vêlo, mas seu carro logo acelerou
e sumiu pela rua cheia de veículos de pais de alunos.
O que foi, tá olhando o quê? – ela perguntou, olhando por cima de seu ombro, e
eu apenas balancei a cabeça negativamente.
Tava procurando minha mãe – menti, o que agora não seria tão mentira já que eu
realmente comecei a procurála – Preciso ir embora logo hoje, senão vou ter que
fazer a prova de recuperação sem almoçar.
O Jones te deixou de recuperação outra vez? – ela adivinhou, revirando os olhos, e
eu assenti, com a maior cara de paisagem – Amellie, você já pensou em reclamar
com a diretora?
E você acha que eu nunca fiz isso? – bufei, irritada – Todo santo bimestre minha
mãe é obrigada a vir aqui graças àquele merda pra ver o que tem de errado comigo,
mas tudo que a diretora faz é me mandar estudar mais!
Kimberlly ficou sem saber o que dizer. Eu já tinha tentado de tudo, até mostrar meus
relatórios pro sr. Langdon, mas tudo que ele dizia era que os professores não
podiam influenciar nas notas das outras matérias, por mais absurdo que aquilo fosse.
Vamos combinar, biologia, seja teoria ou laboratório, era a mesma droga de matéria!
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Resumindo, o sr. Jones podia deitar, rolar e foder com a minha nota que ninguém
podia fazer nada contra ele. Por que eu ainda estudo nessa escola mesmo?
Se ainda tivesse um jeito de fazer essa cisma que ele tem contigo sumir... – ouvi
Kimberlly murmurar, me olhando vagamente como se estivesse pensando alto.
Até tem um jeito – falei, incomodada por ter que admitir aquilo – Você sabe que o
Jones vive dando em cima de mim.
Mas você não considera isso uma opção... Considera? – ela cochichou, assustada,
como se ninguém naquela escola tivesse pegado um professor pelo menos uma vez
na vida – Quer dizer, você odeia ele.
Eu jamais conseguiria me imaginar sequer num diálogo amigável com aquele idiota
– respondi, sendo muito sincera – Mas não custa nada considerar essa hipótese
como uma opção de emergência.
Vi o carro de minha mãe chegando e logo me despedi de Kimberlly com um beijinho
no rosto. Enquanto caminhava até o carro, pude ouvir a voz dela falar, num tom
preocupado:
Olha lá o que você vai fazer, hein!
Revirei os olhos e entrei no carro, ignorando o que ela tinha dito. O que ela tava
pensando? Que eu realmente ia me sujeitar a qualquer tipo de relação com o Jones
por causa de nota? Eu jamais faria uma coisa dessas, nem que fosse pra tirar A+ em
todas as matérias sem nem ter que pisar naquela escola. Um idiota embrulhado num
corpinho bem definido e perfumado não vale o sacrifício, pode apostar.
Capítulo 02
Parei em frente à porta do laboratório de biologia, recuperando o fôlego perdido ao
subir seis lances de escada em trinta segundos. E também respirando fundo pra
agüentar alguns minutos com aquele ignorante do Jones.
Tá enrolando aí por que, Dawson? – ouvi aquela voz irritantemente metida
perguntar, logo que soltei meu último suspiro derrotado – Não sei você, mas eu não
tenho o dia todo.
Não vou nem comentar de quantas maneiras e com quantas palavras diferentes eu o
xinguei mentalmente antes de girar a maçaneta de um jeito grosseiro e entrar na
sala. Sentei no banco mais afastado possível dele e coloquei meu estojo sobre a
bancada, sem nem olhar pro verme todo esparramado em sua cadeira. Enrolando
pra pegar minha caneta dentro do estojo, tudo pra não ter que encarálo, não pude
deixar de notar um sorrisinho ridículo em seu rosto.
Estudou? – aquela voz repugnante perguntou, se achando o maioral como sempre.
Como se eu precisasse, e como se eu tivesse tido tempo de estudar em quarenta
minutos.
Eu não sei o senhor, mas eu não tenho o dia todo – respondi, mal educada, ainda
sem encarálo – Então seria ótimo se o senhor me entregasse a prova de uma vez.
Sem nada pra responder, óbvio, e com a maior cara de macarrão sem molho, ele se
levantou e veio na minha direção com a prova nas mãos. Parou bem atrás de mim, e
apoiou seus braços no balcão, um de cada lado do meu corpo.
Você deve achar mesmo que eu não vou com a sua cara.
Ignorei aquela frase desnecessária, me encolhendo pra diminuir a proximidade entre
nós, e arranquei a prova que estava debaixo de sua mão. Comecei a preencher o
cabeçalho, e antes que pudesse fazer qualquer coisa, senti seu hálito quente bem
próximo ao meu ouvido.
E isso me deixa cada vez mais fissurado em você.
Parei de escrever, e uma onda de medo tomou conta de mim. Abri a boca pra falar
umas poucas e boas pra ele, mas fui impedida por seu braço, que logo me abraçou
pela cintura com firmeza e fez meu pânico aumentar.
Me solta! – exclamei, e sem pensar, enfiei minha caneta de ponta fina em seu
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braço. Na mesma hora, ele soltou o ar pesadamente, tentando não gritar de dor, e
se afastou. Peguei meu estojo, desesperada, e a última coisa que vi antes de sair do
laboratório, com as pernas bambas de pavor, foi ele arrancando a caneta que estava
fincada em seu braço.
Bom dia, classe – a professora Keaton disse, ao chegar na sala, e assim que passou
pela porta, deu uma boa olhada pro grupo de atletas da classe, que retribuíram seu
olhar da mesma forma. A srta. Keaton era nossa professora de inglês, consagrada na
escola por seu ótimo método de ensino e elaboração de atividades extracurriculares
bem sucedidas. Atividades essas que incluíam, claro, pegações com alunos. Não devia
ser fácil agüentar aquele monte de testosterona fresquinha provocandoa no auge de
seus 25 anos. Loira, alta e invejada da cabeça aos pés, ela parecia uma modelo, e
segundo as más línguas, um certo professor morria de amores por ela.
Ele mesmo. Brian Langdon. Eu nem tenho vontade de dar uma voadora nela quando
vejo os dois conversando pelos corredores, sabe.
Voltando aos fatos, a srta. Keaton logo começou a passar matéria, e como eu era
meio lerda pra copiar, já comecei a escrever. Após quinze minutos e uma lousa cheia
de matéria, a professora se sentou em sua cadeira e de lá ficou observando os idiotas
musculosos que sentavam no fundão e riam de alguma besteira que algum deles
tinha falado. Sobre futebol, claro, porque era o único assunto do qual eles entendiam
alguma coisa a ponto de rirem de alguma piada a respeito.
Eu particularmente não via nada de mais nessa srta. Keaton. Por mais que ela fosse
linda e aparentemente simpática, alguma coisa nela me incomodava. Fora o fato de
que ela podia ter o sr. Langdon ajoelhado aos seus pés quando quisesse. Não sei,
meu santo não batia muito com o dela, acho que era isso.
Com licença, Keaton – ouvi uma voz conhecida falar da porta, e quando ergui meu
olhar da folha, dei de cara com o último professor que queria ver.
Entra, Jones – ela sorriu, toda gentil, e ele logo caminhou até ela, ficando de frente
pra classe.
Eu tenho um recado pra dar – ele disse, e todos pararam de copiar pra ouvilo
(menos eu) – Os alunos que estão de recuperação em biologia laboratório farão a
prova na última aula de hoje. Procurem o professor Turner e façam a prova na classe
onde ele estiver.
Quando ergui meu olhar pra lousa, tentando continuar copiando sem ligar pra
ninguém ao meu redor, notei que todos me olhavam. Lancei olhares incomodados
pro lado, e encarei o professor Jones, que devolvia meu olhar de um jeito furioso.
Sua camiseta branca meio colada ao corpo me distraiu por alguns milésimos de
segundo, até que eu bati os olhos em seu antebraço. Havia um curativo nele, bem
onde eu o tinha machucado com a caneta ontem. Fiz aquela legítima cara disfarçada
de ‘se fodeu’, e comecei a balançar uma caneta entre meus dedos, num sinal claro de
que se ele resolvesse aprontar alguma, eu ainda tinha várias canetas de ponta fina
pra enfiar onde eu bem entendesse nele.
Captando a mensagem, ele logo tratou de sair da classe, agradecendo a professora
Keaton. Segurei muito uma gargalhada e continuei copiando, com um sorriso
maligno no rosto. Canetas de ponta fina eram ótimas aliadas na luta contra
professores desagradáveis, dica.
Naquele dia, fiz a prova de recuperação na aula do Turner, nosso professor de
história, sem problemas. Como a sala em que ele estava ficava no quinto andar,
resolvi chamar o elevador pra descer e ir embora. Pode me chamar de sedentária, eu
deixo. Assim que o elevador chegou e a porta se abriu, dei de cara com a cena mais
confusa do meu dia. O sr. Langdon conversava e ria animadamente com o professor
Jones dentro do elevador, e assim que me viram, pararam de falar. Cada um teve
uma reação diferente: o sr. Langdon sorriu, parecendo feliz em me ver; já o Jones
abaixou seu olhar de um jeito irritado pro chão e logo depois passou a fitar seu
relógio, fingindo interesse nele.
Bom dia, Dawson – o professor Langdon cumprimentou, e se não fosse por aquele
sorriso dele, eu não teria entrado naquele elevador. É meio perigoso entrar num
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cubículo com um professor que te adora e outro que te odeia, ainda mais quando
não se tem uma câmera filmando tudo.
Bom dia, professor – sorri, meio nervosa, parando entre os dois e notando que
havia dois botões iluminados no painel, um indicando o sétimo andar e o outro
indicando o térreo. Acho que nunca torci tanto pra ficar sozinha com o sr. Langdon,
e olha que superar todas as vezes em que desejei isso era muito. Agora que já estava
lá dentro, era esperar pra ver quem me acompanharia até o térreo. E talvez agüentar
alguns segundos a menos de um metro de distância de um certo professor idiota
durante o trajeto.
O elevador subiu, e quando as portas se abriram no sétimo andar, quase me agarrei
no braço dele quando o sr. Langdon deu um passo em direção à porta. E só pra
melhorar, não havia ninguém esperando pra entrar e me salvar daquele martírio.
O que o senhor vai fazer aqui, professor? – perguntei, tentando disfarçar meu
nervosismo.
Eu marquei uma reunião com a professora Keaton sobre um projeto interdisciplinar
pro segundo ano – ele sorriu, parecendo bastante empolgado e me deixando mais
brava ainda – Até mais, Dawson. E não esquece de me trazer aquele documentário
amanhã, Jones.
Pode deixar, Langdon – ouvi o professor Jones dizer, sem emoção na voz, e logo
depois a porta se fechou, me deixando sozinha com ele. Pensei em apertar um botão
qualquer e parar em algum andar pra fugir daquele ambiente perigoso, mas assim
que minha mão avançou na direção do painel, ele segurou meu braço com força e
me puxou num movimento brusco.
O que é isso? – quase gritei, quando ele segurou meu outro pulso e me prensou na
parede – Me larga!
Cala a boca – ele murmurou, e sem aviso, me beijou. Tentei me desvencilhar dele e
não o deixar aprofundar o beijo, mas a pressão que ele fazia contra meus lábios era
tão forte a ponto de fazer minha boca latejar. Mesmo me esforçando ao máximo pra
não deixar que aquilo passasse de um selinho indesejado, senti meus músculos
cederem à pressão que ele exercia e abrirem passagem pra sua língua.
Eu me debatia desesperadamente, tentando dar uma joelhada em suas partes ou
então mordendo seu lábio, mas ele estava tão colado em mim que eu mal conseguia
mexer qualquer músculo. Tentei gritar, mas abrir a boca pra emitir algum som só
piorou minha situação. Olhei pro painel do elevador e vi que ainda estávamos no
quarto andar. Sem nenhuma chance de defesa, o único jeito seria continuar me
debatendo até machucálo de alguma forma ou fazêlo desistir.
Lentamente, ele foi escorregando suas mãos, trazendo meus pulsos junto, até colar
meus braços ao lado do meu corpo. Continuou me segurando firme, e me beijando
intensamente. Seus músculos evidenciados pela blusa justa que ele usava se
contraíam, muito próximos do meu tronco, e por pior que a situação fosse, era
inegável concluir que ele estava em excelente forma física. Quando olhei para o painel
e vi que estávamos no segundo andar, ele abriu os olhos e encarou os meus, ainda
me beijando. Uma sensação esquisita percorreu meu corpo quando nossos olhares
tão próximos se encontraram, o que só me deixou mais trêmula.
Ele partiu o beijo, puxando meu lábio inferior devagar, e se afastou, ainda com
aquele olhar intenso fixo no meu. A porta do elevador se abriu, chegando ao térreo
lotado de gente, e sem dizer uma palavra, ele enxugou a boca com as costas de uma
mão e saiu andando, como se nada tivesse acontecido. Incapaz de me mexer por
algum motivo desconhecido, fiquei encostada na parede do elevador, tremendo da
cabeça aos pés e com o coração acelerado. De susto e indignação, é claro, afinal não
é todo dia que o professor que você mais odeia te beija no elevador.
Mell? – ouvi a voz de Kimberlly me chamar, não sei quanto tempo depois, e quando
olhei na direção da porta, a vi parada com um olhar preocupado – Você tá pálida, o
que houve?
Nnada, ssó uma tontura – gaguejei, com a voz falha, e torcendo pra que minhas
pernas bambas me agüentassem, saí do elevador – Vamos, minha mãe já deve estar
me esperando.
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Kimberlly não fez mais perguntas, apesar de não ter acreditado totalmente na minha
resposta, e me acompanhou até a saída. Durante o dia inteiro, a lembrança daquele
beijo e daquela sensação esquisita me assombrou, e à noite, o sono demorou a
chegar. Eu me revirava na cama, tentando afastar os olhos do professor Jones dos
meus pensamentos, até acabar pegando no sono.
Hoje você tem aula com o Langdon? – Kimberlly perguntou, enquanto subíamos as
escadas pra chegar às nossas classes.
Tenho, por quê? – perguntei, distraída ouvindo música, ou pelo menos tentando.
Só de me lembrar das aulas que eu teria hoje, meu estômago revirava. Fazia
exatamente seis dias que eu não via nem sombra do Jones, e hoje eu teria a última
aula com ele. Um calafrio percorreu minha espinha, mas eu fingi que nada tinha
acontecido e continuei cantarolando a música que tocava no meu iPod.
Por que você não fala com ele de novo sobre o professor Jones? – ela sugeriu,
solidária – Sei lá, de repente ele resolve te ajudar dessa vez.
Ele vai me ajudar como, falando pro Jones que eu fui lá pedir ajuda pra ele? –
retruquei, balançando negativamente a cabeça – Não vou falar nada, não quero
meter mais ninguém nisso. Vai que o Jones inventa alguma besteira sobre mim e até
o Langdon começa a me dar C de média.
Bom, você que sabe – Kimberlly encerrou, derrotada – Eu falaria com o Langdon de
novo depois de receber aquela prova de recuperação com um C gigante e injusto,
mas a decisão é sua.
Eu vou pensar no que vou fazer – suspirei, entrando na classe enquanto Kimberlly
entrava na classe ao lado. Até o ano passado, ela era da minha classe, mas nesse ano
a diretora aprontou alguma com as rematrículas e ela acabou caindo numa classe
separada. Estávamos tentando fazêla mudar de classe, mas aquela joça de diretora
de alguma maneira estava implicando com a gente. Pode parecer exagero, mas o
mundo parece conspirar contra mim às vezes.
Como nas três primeiras aulas os professores resolveram passar muita matéria, nem
tive muito tempo de pensar em nada. Durante o intervalo, eu e Kimberlly nem
conversamos direito, porque enquanto eu ouvia música no volume máximo, ela
estudava química. Perdida em pensamentos, logo voltei à realidade quando
novamente vi o sr. Langdon conversando com o professor Jones na porta da sala
dos professores, super empolgados. Os dois riam e gesticulavam, e o sr. Langdon
dava cada gargalhada divertida que me dava vontade de rir junto só de olhar.
Mas apesar de sentir meu coração acelerar ao ver o professor Langdon, olhar pro
Jones pela primeira vez depois do incidente no elevador me deu um aperto no peito.
Ele estava com uma blusa social roxa escura lisa, uma calça jeans preta justa e um All
Star da mesma cor. Enquanto ele caminhava lentamente em direção à cantina, ainda
conversando, uma pergunta passava pela minha cabeça. Como eu nunca tinha
reparado em como ele era bonito? Consideravelmente alto, corpo bem definido,
cabelos bagunçados de um jeito atraente... É, talvez eu estivesse ocupada demais
copiando relatórios ou então odiando seu jeito de ser pra prestar atenção em sua
aparência. Mas mesmo sendo lindo, nada me faria sentir algo bom por ele. Nada
mesmo.
Senti Kimberlly me cutucar, e tirei os fones do iPod, acordando pra vida.
– Vamos, o sinal já tocou e eu tenho prova agora – ela disse, fazendo uma careta
entediada.
E eu tenho aula do Hammings – resmunguei pra mim mesma enquanto me
levantava, tensa por causa das aulas de biologia que se aproximavam cada vez mais.
Por que todos os professores não podiam ser fisicamente iguais ao meu querido
professor de geografia, feios, balofos e calvos? Não ser obrigada a ver meu professor
infinitamente insuportável e igualmente sexy usando calças justas facilitaria muito a
minha vida.
Bom dia, classe – o sr. Langdon sorriu, parando na porta da classe enquanto eu
ainda terminava de copiar a matéria de geografia da lousa – Hoje nossa aula será um
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pouco diferente.
Na mesma hora, todas as cabecinhas que estavam na classe se viraram pra ele.
Quando algum professor dizia que a aula seria ‘diferente’, era porque sairíamos da
classe ou algo do tipo, o que era bem raro. Com um sorriso sapeca no rosto, o
professor Langdon continuou:
Nós iremos ao anfiteatro assistir a um documentário bem interessante que o
professor Jones me emprestou.
Sem precisar dizer mais nada, todos os alunos começaram a se amontoar ao redor
da porta, empolgados com a simples idéia de sair daquela classe monótona. Eu
apenas segui o fluxo calmamente, dando um tchauzinho ao passar pela classe de
Kimberlly e vêla tranqüila entregando a prova de química. Pra variar, ela parecia ter
ido bem.
Chegamos ao anfiteatro, que ficava no quarto andar, e logo todos ocuparam as
poltronas mais próximas da tela, que abrangia uma parede inteira. Pra evitar que os
retardados mentais da minha classe atrapalhassem minha concentração com seus
comentários desnecessários, me sentei mais pro fundo, literalmente excluída de
todos. Tudo que eu queria era tentar prestar atenção no documentário em paz,
afinal, eu já estava me sentindo bastante confusa sozinha e não precisava de mais
ninguém me perturbando.
O sr. Langdon colocou o documentário no DVD e apagou as luzes, nos deixando no
escuro quase total. Meus olhos, ainda desacostumados à escuridão, estavam fixos na
tela, então eu acho que dá pra entender porque eu quase morri de susto ao sentir
alguém sentar ao meu lado.
Posso me sentar aqui? – ouvi o professor Langdon sussurrar, já sentado. Até
parece que ele sabia que não precisava pedir permissão pra nada quando a pessoa
em questão era eu.
Claro – respondi baixinho, inspirando seu perfume gostoso.
– Não gosta de sentar mais pra frente? – ele perguntou, com o rosto parcialmente
iluminado pela luz do telão.
Não muito, eu acabo não conseguindo prestar atenção com muita gente falando
em volta – murmurei, com um sorrisinho simpático – E o senhor?
Ele soltou uma risadinha sem graça e fez uma careta, como se estivesse
desconcertado.
Nem é muito por isso... – ele respondeu, sorrindo de um jeito envergonhado Eu
vim sentar aqui pra fazer companhia pra você.
Companhia pra mim? – repeti, tentando disfarçar minha vontade de abraçálo até
cansar – Não precisa sentar aqui só por minha causa, professor. Eu tô acostumada a
ficar sozinha.
Observação: o homem inalcançável de quem eu era super a fim tava dizendo que
queria me fazer companhia, e o que eu fazia? Repelia o cara. Eu não mereço viver.
Mas não devia, Dawson – ele murmurou, com a voz um pouco chateada – Eu não
gosto de te ver sozinha na classe, sempre copiando a matéria de geografia. Às vezes
eu acho que as pessoas da sua classe não te dão o devido valor... Nunca tentaram
descobrir o quão interessante você pode ser.
A cada palavra, o professor Langdon me deixava mais encantada. Era sempre
comovente ouvir uma pessoa dizer algo tão bonito sobre você, daquele jeito sincero,
ainda mais se essa pessoa for tão especial como ele era pra mim.
O senhor acha isso mesmo? – sussurrei, sorrindo esperançosamente. Ele sorriu de
volta de um jeito fofo e assentiu.
Eu acho – ele disse, baixinho, e pegou minha mão que estava apoiada no braço da
poltrona – Você é uma garota incrível, Dawson. De verdade.
Abaixei meu olhar pras nossas mãos juntas, toda arrepiada. Era mesmo verdade? Ele
estava segurando minha mão? Ele olhou na mesma direção que eu, e colocou sua
mão por baixo da minha, com a palma pra cima, entrelaçando nossos dedos.
Obrigada, professor – eu gaguejei, com a voz quase inaudível, e ergui meu olhar
pra ele – Eu também acho o senhor um homem incrível.
Sua mão era quase o dobro da minha em tamanho, macia e quentinha. Talvez a mão
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mais gostosa de segurar no mundo. Com um sorrisinho adolescente, o sr. Langdon
voltou a me encarar, com seus olhos Castanhos brilhando muito em meio à
escuridão, e eu percebi que seu rosto se aproximava do meu devagar. Fiquei séria,
com medo de alguém olhar pra trás e nos ver, mas ele colocou uma mão em meu
rosto, como se me impedisse de virar e checar essa possibilidade.
Eu já tomei esse cuidado, pode ficar tranqüila – ele sorriu, acariciando minha
bochecha com seu polegar. Sorri também, com o coração acelerado. Milhares de
coisas passavam pela minha cabeça. Eu estava prestes a ser beijada pelo professor
que eu mais admirava nesse mundo. O cara mais perfeito que eu já tinha conhecido,
que nunca mostrou um defeito sequer durante os três anos em que me deu aula. E
que era treze anos mais velho que eu.
Mesmo com tantos conflitos, apenas fechei os olhos e deixei as preocupações de
lado. Nossos lábios se tocaram e eu logo permiti que ele aprofundasse o beijo,
brincando calma e intensamente com a minha língua. Deslizei minha mão pelo ombro
dele na direção da nuca, quase prensada entre o encosto da cadeira e seu rosto, e
embrenhei meus dedos naqueles cabelos macios. Brian (acho que agora tenho
intimidade suficiente pra chamálo pelo nome, certo?) apertou com mais força a
minha mão, me fazendo sorrir. Logo ele partiu o beijo, deixando seu rosto próximo
do meu e me encarando de um jeito bonitinho.
Acho melhor te emprestar esse documentário pra você ver em casa – ele riu
baixinho, e eu assenti, ainda assimilando tudo que tinha acontecido. Durante o filme
todo, nós ficamos de mãos dadas disfarçadamente, até que o documentário acabou
e ele se levantou para acender as luzes. Várias pessoas, incluindo Amy Houston,
acordaram assustadas com a claridade repentina.
Até mais, professor – sorri, tentando não dar bandeira do que tinha acontecido
quando ia passar pela porta, mas ele logo fez uma cara meio brava e disse:
Espera, Dawson, eu preciso conversar sobre um assunto sério com você.
Engoli em seco, nervosa, e esperei até que o anfiteatro estivesse vazio.
O que foi? – perguntei, confusa, enquanto ele nos fechava lá dentro, e recebi um
beijo como resposta. Brian me abraçou pela cintura, me puxando pra bem perto dele
com vontade, e eu passei meus braços por seu pescoço, ainda surpresa com aquela
atitude inesperada. Ele me levantou do chão, sorrindo durante o beijo, e eu segurei
firme em seus ombros deliciosos. Eu só podia estar sonhando, não era realmente
possível eu estar beijando Brian Langdon, o homem mais perfeito da face da Terra.
Ele desacelerou o beijo após alguns maravilhosos minutos, transformandoo em
vários selinhos, até que parou de me beijar e ficou me olhando, ainda sem me deixar
tocar o chão.
Desculpa, eu vou fazer você se atrasar pra próxima aula – ele disse, alarmado,
acordando do transe e parando de me segurar como se estivesse fazendo algo
proibido (e se formos pensar bem, estava mesmo).
Tudo bem, eu não me importo – sorri, ainda abraçandoo pelo pescoço – Não acho
que vá conseguir prestar atenção em alguma coisa hoje depois disso tudo.
Pelo menos você tem a opção de não prestar atenção – ele riu, com seus braços
firmes ao redor da minha cintura – E eu, que tenho que estar sempre concentrado
no que vou explicar? Tô ferrado hoje!
Imagina, o senhor sempre consegue explicar tudo direitinho – eu respondi, ainda
sorrindo de um jeito besta ao observálo – E além do mais, o senhor deve estar
acostumado com esse tipo de coisa.
Esse tipo de coisa? – ele repetiu, com um sorriso curioso no rosto – Você quer dizer
que eu tô acostumado a beijar alunas?
Fiquei séria, sem saber o que responder por alguns segundos, até acabar
confessando:
E não é verdade?
O sr. Langdon fez uma cara surpresa e riu, jogando a cabeça pra trás. Eu já disse que
adorava quando ele fazia isso? Pois é, descobri que essa risada conseguia ser ainda
melhor quando meus braços estavam ao redor do pescoço dele.
Quem tá acostumado a esse tipo de coisa é o Jones – ele falou, fazendo cara de
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quem não aprovava muito esse comportamento, e na mesma hora minha expressão
ficou séria – Que por sinal, já deve ter começado a aula sem você a uma hora dessas.
Só de lembrar que Daniel Jones existia, meu estômago deu uma fisgada. Revirei os
olhos, tentando parecer inconformada por ter que desfazer aquele abraço gostoso, e
não assustada por pensar em estar a menos de 50 metros de distância do Jones.
Ei, escuta – ele sussurrou, me puxando pra trás da porta que ele mesmo tinha
acabado de abrir – Vê se faz uma cara bem séria quando sair daqui, como se eu
tivesse te dado uma bronca ou algo do tipo. Vai parecer que eu realmente conversei
sobre algo sério com você quando seus amigos te virem.
Gente, pega só o sr. Langdon todo maroto! Que lindo, meu Deus, ele realmente
conseguia se superar com aquele sorrisinho danado no rosto.
Pode deixar – sorri, tentando não voar nele e fincar minhas unhas naqueles
ombrinhos divinos.
Eu te procuro amanhã pra gente... Conversar – ele murmurou, aumentando aquele
sorriso daqueles que iluminavam o meu dia, e me deu um selinho demorado antes
de me deixar sair do anfiteatro. Pra mais uma aula de sofrimento com o professor
Jones, que hoje não conseguiria tirar meu bom humor por nada nesse mundo.
Capítulo 03
Com licença, professor – eu falei, interrompendo a explicação do Jones ao abrir a
porta do laboratório. Ele apenas parou de falar e me olhou de cima a baixo, com
uma cara de desprezo, erguendo uma sobrancelha.
Como eu estava dizendo, o relatório de hoje deverá ser entregue na próxima aula,
porque a última parte dele deverá ser entregue em forma de pesquisa – ele
continuou, um pouco irritado. Nem preciso dizer que a Smithers ficou me medindo
desde que eu fechei a porta do laboratório até quando eu me sentei num dos
bancos. Tadinha, ela pensa que aquele canalha dá a mínima pra ela. Tenho pena
dessas pobres meninas iludidas.
O professor Jones logo terminou de explicar, sem dirigir um olhar sequer na minha
direção, e foi se sentar em sua cadeira. Geralmente ele colocava os pés sobre a mesa
e ficava de braços cruzados, apenas nos observando com seu risinho debochado,
mas hoje ele parecia preocupado com alguma coisa. Ele não deixou de se sentar
daquele seu jeito folgado, mas sua expressão estava fechada e o olhar perdido
vagamente entre os alunos. Não que eu estivesse reparando nele nem nada, eu só
notei esse comportamento estranho porque passei metade da aula sonhando
acordada com tudo que tinha acontecido entre eu e o sr. Langdon e
conseqüentemente acabava observando as pessoas ao meu redor mais do que de
costume. Meu coração ainda estava acelerado e minhas pernas estavam bambas só
de lembrar dele me levantando do chão e me abraçando tão apertado.
Durante mais uma de minhas viagens pelo interior do meu cérebro, me peguei
observando o professor Jones. Meus olhos viajavam pelo seu rosto, analisando cada
detalhe, até que ele retribuiu meu olhar de um jeito incomodado, como se tivesse
notado que eu o observava há algum tempo. Arregalei meus olhos, surpresa comigo
mesma, e continuei copiando o relatório da lousa evitando ao máximo aproximar
meu olhar dele. Por que toda vez que ele me olhava agora eu sentia um calafrio?
Assim que ele me olhou de volta, me lembrei do beijo no elevador, e do quão tenso
foi aquele último olhar. Talvez fosse medo de que ele pudesse me atacar de novo a
qualquer momento ou algo do tipo.
A aula rapidamente acabou, e como eu tinha chegado um pouco mais tarde ao
laboratório, estava igualmente atrasada na cópia da lousa em relação ao resto da
classe. Resumindo, enquanto todos iam embora, eu ainda estava copiando o
relatório, com as mãos trêmulas. Experimenta beijar seu professor lindo, maravilhoso
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e inalcançável e depois copiar uma folha inteira de lição pra você entender o que eu
passei.
Quando todos já tinham saído, vi de rabo de olho que o professor Jones me
encarava. Tentei me apressar, mas tudo que consegui foi pular uma palavra e ser
obrigada a passar corretivo na folha. Enquanto eu soprava o líquido pra que ele
secasse logo, pude ouvilo bufar e se levantar, caminhando lentamente até a janela e
observando o exterior do prédio com a testa franzida. E foi aí que eu percebi que
meu sopro ficou mais fraco quando meus olhos sem querer se fixaram na bunda
dele. O que estava acontecendo comigo? Por que esquentou de repente?
Perdeu alguma coisa, Dawson? – ouvi a voz dele reclamar, e rapidamente ergui
meu olhar até encontrar seu rosto, ainda virado pra janela. Com a maior cara de
ânus, abri a boca várias vezes na tentativa de dizer algo, mas como nada saiu,
apenas voltei a copiar. Ele soltou um risinho debochado e começou a balançar a
cabeça negativamente.
Num dia ela enfia uma caneta no meu braço, no outro ela fica secando a minha
bunda – ele disse, e eu voltei a copiar pra não deixálo ver minha cara roxa de
vergonha Afinal de contas, o que você quer?
O sr. Jones virou seu rosto na minha direção, e me encarou de um jeito impaciente.
Eu soube bem o que dizer, apesar de ter sido pega de surpresa por ele ter tocado no
assunto tão repentinamente.
O que eu quero? Engraçado, o senhor só menciona as partes que lhe convêm. Por
que não mencionou também o dia em que me agarrou dentro do elevador contra a
minha vontade? – respondi, frisando bem a última parte e olhandoo com raiva.
Não diga como se eu fosse o vilão da história, se não tivesse gostado teria dado um
jeito de me afastar – ele riu, vitorioso, cruzando os braços e exibindo uma pequena
cicatriz circular onde eu o havia machucado. Sem um pingo de pena, revirei os olhos
e comecei a copiar a última questão, doida pra sair dali e quem sabe encontrar o sr.
Langdon na saída.
Eu não vou discutir um absurdo desses – retruquei, possessa – Se o senhor prefere
achar que me ganhou com aquele abuso, não vou destruir seus sonhos.
Quem tá sonhando aqui é você, garota – ele falou, parecendo ainda mais bravo (o
que só me deixou mais satisfeita) – Se tá achando que eu vou ficar correndo atrás de
você, pode ir tirando o cavalinho da chuva. Eu já consegui o que queria, agora é só
te jogar fora e investir em outra.
Terminei de escrever a última palavra do relatório quando ele acabou de falar, e ergui
meu olhar da folha pra ele. Com a frase perfeita pronta e na ponta da língua, apenas
guardei minhas coisas e fui até ele, parando bem à sua frente. Sem mudar de
expressão, ele me encarava avidamente, com um misto de raiva e algo mais
brilhando em seus olhos. Dei mais um passo a frente, ficando perigosamente perto
dele, e quando faltava apenas um centímetro pra que nossos lábios se encostassem,
percebi que seus olhos não o obedeciam mais e fitavam meus lábios com um desejo
imenso.
Ótimo – sussurrei, sorrindo perversamente – Me jogar fora e investir em outra é
um favor que você me faz.
O olhar confuso do professor Jones se ergueu até encontrar o meu, e sem dizer mais
nada, me afastei dele e saí do laboratório, ainda mais feliz do que tinha entrado.
Por que você demorou tanto pra sair da escola ontem? – Kimberlly perguntou,
batendo o pé junto com a bateria da música enquanto ouvíamos música no volume
máximo do meu iPod.
Cheguei atrasada na aula do Jones e não consegui terminar de copiar o relatório
antes do sinal tocar – respondi, disfarçando um sorriso maligno – Você sabe que eu
tenho problemas pra decifrar a caligrafia dos professores.
Estávamos sentadas no chão do pátio do colégio, de frente pra porta por onde
entraríamos logo e começaríamos mais um dia de aula. Faltavam apenas dez minutos
pra que o sinal tocasse e as portas das classes fossem abertas, mas ainda assim a
escola estava praticamente deserta.
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Olhei na direção da rua, refletindo sobre o dia anterior enquanto Kimberlly falava
alguma coisa sobre a prova de química. Como duas pessoas podiam influenciar tanto
meu humor de formas tão diferentes? Primeiro o sr. Langdon, todo carinhoso,
perfeito e maravilhoso. Depois, o sr. Jones, totalmente idiota, ridículo e frouxo. E o
mais curioso de tudo, eles eram amigos! Essa vai pra minha lista de mistérios da
humanidade que eu adoraria desvendar.
Enquanto observava os poucos carros que passavam em frente à escola, um suéter
verde musgo ambulante chamou minha atenção. Ergui meu olhar na direção do
rosto da pessoa que caminhava escola adentro, e me deparei com um par de olhos
Castanhos me olhando. Sorri de leve, doida pra agarrálo ali mesmo como sempre.
Aquela blusa verde era um clássico no guardaroupa dele, todas as vezes que eu o
via usando aquele suéter, era tentação na certa. Deus, eu realmente amava cada
detalhe naquele homem.
Bom dia, meninas – o sr. Langdon sorriu ao passar por nós, carregando mil pastas
cheias de papéis e uma mochila que provavelmente continha mais pastas iguais às
outras. Tenho certeza de que Kimberlly não notou nada de especial naquele sorriso,
mas eu o vi de um jeito totalmente diferente.
Bom dia, professor – respondemos, em uníssono, o que só fez aquele sorriso
aumentar. O sr. Langdon continuou a andar normalmente em direção à sala dos
professores, e eu o segui com o olhar disfarçadamente. Oi, como você consegue ser
tão gostoso aos 30 anos de idade? Não posso esquecer de perguntar isso a ele um
dia.
Você tem razão – Kimberlly disse, e eu mais que depressa parei de secar o sr.
Langdon para olhála. Fiz cara de pastel de vento e ela completou a frase – Ele é
lindo demais.
Não deu pra não rir daquele comentário, ainda mais com os recentes
acontecimentos.
Pois é, minha cara – suspirei, assentindo devagar – Ele é simplesmente perfeito.
Kimberlly também suspirou e começou a observar a rua vagamente. Sem vergonha,
logo voltei a encarar o sr. Langdon, que havia parado em frente à sala dos
professores pra conversar com uma coisa loura, alta e magra que atendia pelo nome
de Miranda Keaton. Eu ainda acertava minhas contas com aquela lambisgóia
oxigenada um dia, pode apostar.
Segura a emoção aí, Mell – ouvi Kimberlly rir disfarçadamente, abaixando seu olhar
pra disfarçar ainda mais o riso – Sua alma gêmea tá chegando.
Franzi a testa, sem entender, e me virei na direção da saída do colégio. Dei de cara
com o professor Jones chegando, com a maior cara de sono e os cabelos
despenteados de um jeito proposital. E atraente, pro meu desgosto.
Não sei por que eu fui olhar, eu já devia saber que era ele – resmunguei, revirando
os olhos e olhando rapidamente pra porta da sala dos professores, agora sem
ninguém ao seu redor. Beleza, o sr. Langdon e a srta. Keaton já deviam estar no
banheiro mais próximo dando sua rapidinha matinal. E eu ali, perdendo meu tempo
observando o contorno dos ombros do sr. Jones, realçados pela blusa pólo azul
marinho que ele usava.
Espera aí. Credo, que nojo! Por que eu agora estava com a péssima mania de ficar
observando os detalhes daquele verme? Tudo bem que eu adoro ombros masculinos
(não só ombros, mas isso não vem ao caso), mas ficar olhando os do Jones já era
desespero demais! Nota mental: evitar encarar qualquer parte do corpo daquele exu.
Nem bom dia ele dá – Kimberlly comentou, medindoo de cima a baixo quando ele
já tinha passado por nós – Dá pra entender totalmente por que você o odeia tanto.
Eu odiálo tanto tá beleza, agora ele me odiar também é péssimo pra minha nota –
bufei, fazendo uma careta – Mas eu não ligo, prefiro ir mal a ter qualquer tipo de
simpatia com esse crápula.
Fala, Jones – ouvi uma voz conhecida dizer, e vi o sr. Langdon surgir do nada com
a srta. Keaton.
Oi, Brii – o sr. Jones resmungou, parecendo indisposto. Provavelmente tinha
comido alguma aluna do primeiro ano e como ela não devia saber nem beijar, não foi
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bom e ele ficou de mau humor. Idiota, quem ele pensava que era pra chamálo de
Brii? Ele não merecia aquela intimidade toda!
Não esqueceu o futebol com o terceiro ano depois da aula, né? – Brii (se o Jones
podia, eu também podia) perguntou, como se já previsse a careta que o amigo fez.
Totalmente – ele respondeu, batendo com a palma da mão na própria testa – Se
bem que eu não ia jogar de qualquer jeito, não dormi nada essa noite.
Os dois entraram na sala dos professores rindo, e não deu pra ouvir mais nada. O
sinal tocou, e logo eu e Kimberlly subimos, ainda comentando sobre o belo físico do
professor Langdon. Bem que eu quis contar tudo pra ela, mas fiquei com medo e
achei melhor as coisas se firmarem um pouco mais. Por mim, eu casava com ele sem
pensar duas vezes, mas eu acho que uma proposta de casamento seria um pouco
assustadora pra ele.
As duas primeiras aulas se arrastaram lentamente, sem muitas novidades. Dei graças
a Deus quando a professora de física saiu da classe. Aulas duplas me entediavam
demais, fato. Nosso professor de história logo chegou e como era dia de prova, já foi
entregando as avaliações para os alunos. Beleza, só questões de múltipla escolha, ia
ser fácil. O legal do sr. Turner era que ele facilitava as coisas no primeiro bimestre e ia
dificultando conforme o tempo passava, nos dando a oportunidade de já passarmos
de ano sem precisarmos estudar muito a parte mais difícil da matéria. Afinal, quem
em sã consciência leva os estudos a sério no quarto bimestre se já fechou no
terceiro? É, até que o sr. Turner era legalzinho, se não usasse tantas palavras difíceis
e transpirasse menos.
Em menos de dez minutos eu terminei a prova, com a certeza de que tinha ido bem.
Todo mundo ia bem nas provas dele, porque ele praticamente colocava as respostas
no enunciado da pergunta. Sem a mínima vontade de ficar sentada por mais de meia
hora naquela classe, pedi pra ir ao banheiro, pra ver se o tempo passava mais rápido,
e o professor apenas assentiu pra mim, atento aos alunos do fundo que não se
cansavam de pedir e passar cola. Bando de burros, francamente.
Caminhei lentamente pelo corredor na direção do banheiro, soltando um bocejo e
me espreguiçando preguiçosamente. Passei pela classe de Kim, que estava com a
porta fechada, e pela classe ao lado da dela, que estava aberta, mas vazia.
Ei, Dawson – ouvi alguém sussurrar assim que entrei no banheiro, e coloquei a
cabeça pra fora pra ver quem era. Uma coisa verde e sexy parada na porta do
banheiro masculino, que ficava logo ao lado do feminino, sorria pra mim, fazendo
meu coração acelerar. Homens como o sr. Langdon não podiam aparecer assim de
repente, era beleza demais pra se assimilar tão depressa.
Oi, professor – sorri de volta, tentando parecer menos promíscua do que eu
realmente era quando o cara em questão era ele.
Tem um minutinho? – Brii murmurou, com um sorriso perfeito no rosto. Ele devia
entrar no Guinness Book como o sorriso mais charmoso do mundo, dica. Assenti,
olhando pros lados pra ver se alguém estava vindo, mas o corredor estava realmente
deserto.
Brii me puxou pela mão até a sala vazia, e fechou a porta atrás de nós. Quando ele se
virou pra mim e me encarou, tudo que eu pensava em dizer simplesmente sumiu. Eu
sempre ficava meio retardada quando ele me olhava, ainda mais agora que seu olhar
parecia muito mais íntimo do que das outras vezes.
Eu te chamei aqui porque queria conversar sobre ontem – ele falou, se
aproximando com as mãos nos bolsos da calça jeans larga e uma expressão
misteriosa – Mas eu mudei de idéia.
Me assustei com o que ele disse. Mudou de idéia? O que ele quis dizer com aquilo?
Eu beijava tão mal pra fazêlo desistir de mim em um dia?
Ccomo assim? – gaguejei, numa tentativa desesperada de disfarçar meu pânico.
Totalmente em vão, claro, meu pavor tava na cara.
O sr. Langdon não disse nada, apenas continuou se aproximando cada vez mais.
Quando ele já estava bastante próximo, envolveu meu rosto com suas mãos, e
parou com o corpo bem pertinho do meu. Se ele não estivesse segurando meu
rosto, acho que teria desmaiado assim que seu perfume encheu meus pulmões.
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Eu descobri que te beijar é muito melhor que qualquer conversa – ele murmurou,
abrindo um sorriso lindo, e tudo que tive tempo de fazer foi também sorrir, aliviada,
antes de sentir seus lábios nos meus. Deslizei minhas mãos pelos ombros dele,
gravando cada toque na minha memória pra jamais esquecer, e o abracei pelo
pescoço, puxandoo pra mais perto. Brii embrenhou uma mão em meus cabelos e
escorregou a outra até meu quadril, fazendo qualquer espaço que ainda houvesse
entre nós sumir. Nossas línguas se acariciavam numa sintonia perfeita, como se já
fôssemos íntimos há muito tempo, fazendo meu corpo inteiro formigar.
Aquele sem dúvida foi o melhor beijo da minha vida, com o homem mais perfeito do
mundo. Ele conseguia ser firme e delicado ao mesmo tempo, me segurando perto
dele e me provocando sensações novas com o mais sutil dos toques, como nunca
ninguém havia conseguido. Fomos intensificando cada vez mais o beijo a cada
segundo, até meus lábios ficarem dormentes e meu fôlego acabar. Mesmo ofegante,
continuei beijandoo com a mesma avidez, sem querer desgrudar dele nunca mais.
Brii me abraçou pela cintura e me levantou do chão. Acho que ele fazia isso porque
eu era relativamente baixinha perto dele, e quando ele me levantava as coisas
ficavam mais fáceis pro seu lado. Sem pensar direito, envolvi sua cintura com minhas
pernas, e ele pareceu gostar da idéia. Cambaleando um pouco enquanto eu
bagunçava seu cabelo, ele me sentou sobre a mesa onde os professores colocavam
seu material, me fazendo ficar da sua altura.
Tirei minhas pernas de sua cintura, mas logo senti suas mãos apertarem minhas
coxas num pedido mudo pra que eu as colocasse de volta. Fiz o que ele pediu,
ficando perigosamente sem ar, mas sem ligar pra uma besteira como oxigênio numa
hora daquelas. Brii segurava minha cintura com força, me prensando contra seu
tronco sem ousar romper o beijo. Acho que todo aquele desejo reprimido durante
três anos estava se revelando ali, e não era só da minha parte.
Sem conseguir mais resistir, passei discretamente minhas mãos por debaixo da barra
de seu suéter, tocando a pele quente de sua barriga. Seus músculos se contraíam a
cada toque, assim como os meus reagiram aos toques dele em meus quadris por
debaixo do uniforme. Como se procurasse fôlego naquele beijo, ele me puxou pra
mais perto ainda, e eu fiz o mesmo com minhas pernas, sentindo um volume
assustador mais embaixo. Olha só, o homem que já era perfeito tinha acabado de
me mostrar a única qualidade que faltava comprovar.
Senti as mãos de Brii descerem um pouco, alcançando os bolsos de trás da minha
calça jeans. Nem liguei, afinal quem tinha começado com a mão boba fui eu. Mas
assim que ele fez menção de colocar as mãos por dentro dos bolsos, Brii partiu o
beijo e ficou me olhando com os olhos levemente arregalados, num misto de
surpresa e medo. Ficamos alguns segundos em silêncio, paralisados, enquanto eu
apenas o observava, totalmente confusa.
Eu acho melhor a gente ir com calma – ele balbuciou, parecendo um pouco
desconcertado – Alguém pode nos pegar aqui, e...
Brii desistiu de continuar falando, com o olhar fixo no meu. Minha vontade foi de
dizer que ele podia fazer o que quisesse comigo, mas ao invés disso, eu apenas falei,
com um sorriso compreensivo:
Tudo bem, professor.
Ele suspirou, olhando pro lado como se estivesse em dúvida. Logo voltou a me
olhar, mordendo discretamente seu lábio inferior, que estava bem vermelho, e disse:
É que eu nunca fiz isso antes, sabe... Nunca me envolvi tanto assim com uma aluna,
tenho medo de ir rápido demais e acabar te assustando... Entende?
Enquanto falava, Brii fazia carinho em meu rosto e observava cada detalhe dele com
insegurança no olhar. Sem reação diante daquele jeito cuidadoso, apenas assenti
devagar, com um sorriso besta no rosto. Ele afastou uma mecha de cabelo que
estava sobre meu olho e sorriu de volta, mais aliviado.
E agora? – falei, arrumando timidamente o cabelo dele que estava todo bagunçado
e fazendoo fechar os olhos com o carinho.
Não faço a menor idéia – ele respondeu, sorrindo de um jeitinho gostoso e
lentamente abrindo os olhos – A única coisa que eu sei é que quero você.
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Fiz uma cara involuntária de perplexidade após aquela declaração. Preciso dizer que
eu também queria demais aquele cara? Acho que eu nunca quis tanto alguém como
eu o queria, sem mudar nada em sua personalidade e em seu jeito de ser. Naquele
momento eu percebi que realmente amava Brian Langdon, e que seria capaz de
acordar todos os dias ao lado dele, ouvilo rir de qualquer coisa idiota que eu
dissesse, observálo enquanto ele estivesse distraído vendo TV ou lendo algum livro,
beijálo e abraçálo a qualquer momento... Resumindo, eu queria aquele homem só
pra mim, pra sempre, não importava se aquilo era errado. Abri um sorriso
encantado, com o olhar fixo no dele, e aproximei nossos rostos devagar até alcançar
sua boca e beijálo calmamente.
Não dá pra acreditar nisso tudo, sabia? – murmurei, partindo o beijo e unindo
nossas testas – Nunca pensei que um dia eu estaria beijando o senhor...
Me chame de ‘você’, pelo amor de Deus – ele interrompeu, erguendo as
sobrancelhas – Chega desse ‘senhor’, me sinto um vovô quando você me chama
assim.
Nunca pensei que um dia eu estaria beijando você – repeti, frisando a última
palavra – E te ouvindo dizer coisas assim pra mim.
Eu tentei ignorar esse meu interesse por você, eu juro que tentei – Brii falou,
acariciando minha cintura enquanto eu brincava com a gola de seu suéter – Mas
ontem eu não agüentei mais me segurar, não sei o que me deu... Tava tudo escuro,
e você totalmente sozinha lá atrás... Eu detesto te ver sozinha na classe, já falei isso.
Não liga pra essas coisas, eu não faço questão de ser amiga de ninguém daquela
classe – sorri, ao ver que ele estava ficando meio bravo. Brii entortou a boca e me
olhou, cedendo logo depois e sorrindo comigo.
Falando em classe, acho que te roubei de alguma aula – ele lembrou, fazendo uma
careta sapeca – Não é melhor você voltar?
Infelizmente é – suspirei, triste – O Turner deve estar estranhando minha demora
no banheiro.
É só falar que comeu waffles no cafédamanhã – ele riu, e eu franzi a testa, sem
entender – Ele sempre tem dor de barriga quando come waffles, vai se identificar
com o seu sofrimento.
Bom saber – gargalhei, e ele logo me calou com um beijo caloroso.
Amanhã eu dou um jeito pra gente se ver – Brii avisou, me abraçando pela cintura
e me colocando no chão – Vai lá, pequena.
Dei um sorriso fofo pra ele, e sem conseguir resistir, puxeio de novo pra outro beijo.
Brii não reclamou, pelo contrário, pareceu gostar da surpresa. Eu não queria me
afastar dos braços daquele homem nunca mais. Era tudo muito lindo pra ser verdade
e eu não queria acordar daquele sonho de jeito nenhum.
Até amanhã então – murmurei, quando partimos o beijo, e saí da sala
sorrateiramente, deixandoo com um sorriso de orelha a orelha em seu rosto. E no
meu também, claro.
Quando voltei pra sala de aula, todo mundo já tinha acabado a prova, e se
amontoava sobre a mesa do professor pra vêlo corrigir as avaliações. Sem um pingo
de interesse em minha nota naquele momento e feliz por conseguir entrar na sala
sem ser notada, apenas me sentei em minha carteira, com o olhar perdido na lousa
vazia. Eu ainda conseguia sentir o perfume dele ao meu redor, como se estivesse
impregnado em mim. Seria difícil acalmar meu coração e não pensar naqueles olhos
Castanhos, naqueles lábios maravilhosos, naquele corpo divino... Não tinha como
não pensar nele.
O sinal logo tocou, anunciando o intervalo, e eu me esforcei pra não sorrir demais
enquanto conversava com Kimberlly e descia as escadas rumo ao pátio. Não só pra
não dar muita bandeira, mas também porque Brii estava a poucos metros da gente,
descendo lentamente as escadas e conversando animadamente com um inspetor. Eu
e Kimberlly acabamos encontrando uma brecha logo à frente, e aceleramos a
descida, passando bem perto dele. Meu ombro acabou relando em seu braço sem
querer (tá, nem tão sem querer assim), e ele se virou pra pedir desculpas pelo
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esbarrão. Assim que nossos olhares se encontraram, abri um sorriso tímido,
enquanto ele apenas disfarçou, e continuamos andando cada um pro seu canto,
como se fôssemos apenas professor e aluna.
Hoje eu tenho aula com ele e você nãão! – Kimberlly murmurou, rindo assim que
nos afastamos dele – Chupa essa manga, meu bem.
Tudo bem, minha aula com ele ainda vai chegar – sorri, me controlando pra não
desembuchar tudo Pena que a aula do Jones venha logo depois da dele.
Também te amo, Dawson – ouvi uma voz masculina dizer bem atrás de mim, e logo
vi meu querido professor de biologia laboratório passar ao meu lado, com um
sorrisinho sedutor. Um calafrio percorreu minha espinha ao ouvir sua voz tão perto
de mim do nada, arrepiando meus cabelos da nuca. Tudo que consegui foi fazer uma
cara de tacho e continuar andando, tentando ignorar a presença daquele troglodita.
Legal, agora ele vai ficar achando que a gente só sabe falar de professores,
especialmente dele – Kimberlly resmungou, coberta de razão. Do jeito que o Jones
era, já devia estar se sentindo o rei da cocada preta.
Não ligo pro que ele acha ou deixa de achar – falei, revirando os olhos com uma
certa frustração por ele ter ouvido meu comentário – Ele é um merda mesmo.
Nos sentamos em qualquer canto da escola, sem muito assunto pra conversar. Na
verdade, Kimberlly até tentava puxar conversa, mas eu estava me sentindo tão
estranha que minhas respostas eram monossilábicas. Eu estava radiante por tudo
que estava acontecendo entre eu e Brii, mas percebi que bastava ouvir a voz do
Jones que um medo tomava conta de mim, como se ele pudesse de alguma forma
arruinar tudo. Sei lá, eles eram amigos, e essa amizade me perturbava um pouco. E
se ele resolvesse contar ao Brii sobre o beijo no elevador e inventar coisas ruins sobre
mim? Pior, e se Brii acreditasse nele? Pra ter uma relação mais íntima do que o
normal comigo, o sr. Langdon devia ter uma confiança considerável em mim, mas eu
não tinha certeza da proximidade dele com o professor Jones pra me sentir
realmente segura.
O que deu em você hoje, hein? – ouvi Kim perguntar, com a voz irritada – Tá tão
quieta, tão esquisita... Aconteceu alguma coisa?
Não – menti, sorrindo fraco – Tô com um pouco de sono, só isso.
Se você acha que eu acredito nisso, tudo bem – ela reclamou, erguendo uma
sobrancelha. Droga, às vezes eu esqueço que ela me conhece desde que nasci, ou
seja, bem até demais.
Caramba, já falei que é só sono – repeti, começando a ficar impaciente – Não posso
mais ter sono agora?
Kimberlly deu de ombros, desistindo, e eu suspirei profundamente. Era um saco ter
que mentir pra ela, afinal, a gente sempre contava tudo uma pra outra, mas eu
realmente preferia guardar aquele segredo. Tinha medo do que ela poderia pensar
de mim se soubesse que eu e o Brii estávamos, erm, nos relacionando intimamente.
Foi mal, tá? – bufei, vendo a tromba que ela tinha feito por causa da minha
resposta atravessada – Você sabe que eu com sono fico a maior grosseirona, ainda
mais com você me enchendo de perguntas.
Se eu não tivesse aula com o Langdon daqui a pouco, não te desculpava, mas
como hoje eu tô de bom humor por razões óbvias, tudo bem – ela sorriu, danada,
me fazendo empurrála de leve e rir. Sei lá por que eu ri, talvez eu seja estranha
mesmo e goste de ouvir minha melhor amiga dizer que o cara que eu tô pegando a
deixa de bom humor. Ou talvez pra tentar afastar a inútil existência de Daniel Jones
da minha memória.
Capítulo 04
Três semanas. Vinte e um dias se passaram desde então. E não houve um dia, fora
os fins de semana, em que eu e Brii não nos encontrássemos. Era incrível como
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éramos capazes de inventar desculpas tão convincentes pra nos vermos que
ninguém parecia sequer desconfiar do nosso envolvimento. Claro que contávamos
com muita sorte também, mas nossa veia teatral criativa era responsável pela maior
parte da discrição.
E o pior de tudo era que durante todos aqueles dias, não tivemos como, erm,
avançar o sinal. Não que fôssemos lerdos nem nada, mas é que ficava complicado
fazer alguma coisa além de uns bons amassos no curto tempo que tínhamos, e nos
lugares inapropriados dos quais dispúnhamos. A cada dia que se passava ele dava
sinais de que estava se segurando ao máximo pra não passar para o próximo nível
(adoro usar essas expressões, elas me fazem rir), tadinho. E eu também, afinal, eu
tinha 17 anos e estava com os hormônios descontrolados.
E quanto ao Jones? Graças a Deus, ele pareceu se esquecer de mim. Me tratava com
frieza, rispidamente, e não me dirigia a palavra desnecessariamente. Preciso dizer que
minha vida estava uma maravilha com o homem dos meus sonhos do meu lado,
mesmo que ninguém pudesse saber, e de quebra sem aquela peste do Jones me
infernizando?
Eu tava pensando outro dia – Brii disse, assim que nos cumprimentamos com um
caloroso beijo numa sala vazia do primeiro andar.
Você pensando? Mas que progresso, parabéns! – brinquei, com os braços ao redor
de seu pescoço, sentada de frente pra ele na mesa do professor.
Ah, é assim? Então tá bom, não vou mais dizer a coisa super importante que eu ia
dizer – ele falou, fazendo cara de indiferente e virando a cara pra mim.
Own, desculpa, vai – pedi, fazendo beicinho e tudo Conta logo, daqui a pouco eu
tenho que voltar pra aula senão o Hammings vai desconfiar.
Como você fez o milagre de fugir da aula do Hammings? – ele perguntou,
impressionado.
Simples – respondi, com um sorriso esperto Disse que não estava me sentindo
bem e o próprio Hammings sugeriu que eu fosse até a enfermaria pra ser examinada.
Sua carinha de dodói deve ter sido bem convincente pra comovêlo a esse ponto –
Brii comentou, ainda perplexo, me fazendo rir – Pelo visto, você tá virando uma
ótima atriz... Preciso começar a tomar cuidado com você.
Não teve graça – resmunguei, fazendo cara feia, mas não resisti quando ele se
aproximou sorrindo pra me dar um beijo rápido – Falando sério agora, o que você ia
contar de tão importante?
Brii suspirou, se preparando psicologicamente, o que me deixou com uma certa
ansiedade. Batucando com os dedos indicadores e médios nos meus quadris
enquanto minhas mãos estavam espalmadas em seu peito, ele logo começou a falar,
dizendo cada palavra com cuidado:
Eu queria te convidar pra ir conhecer o meu apartamento hoje à tarde.
Não sei dizer que cara fiz. Só sei que devo têlo assustado, porque vi sua expressão
disfarçadamente ansiosa se tornar séria ao mesmo tempo que meu queixo caiu até
meu umbigo.
Você quer que eu vá pra sua casa... Hoje? – gaguejei, com o coração a mil.
É – Brii confirmou, desembestando a falar logo depois Eu pensei que por ser
sextafeira, você não tivesse nada pra fazer, mas tudo bem se você não puder ou não
quiser, não tem problema nenhum, eu não quero te pressionar a fazer nada, foi só
um convite...
Que horas eu posso chegar? – perguntei, interrompendo seu monólogo com um
sorriso esperto. Apesar do nervosismo disparado pela surpresa, eu não tinha como
negar um convite daqueles. Talvez se eu o recusasse, Brii jamais repetiria a proposta
por medo de outro não. Ele me olhou de um jeito confuso, processando o que eu
tinha dito, mas logo deu um sorrisinho de canto.
Quanto mais cedo, melhor – ele respondeu, parecendo realmente surpreso com a
minha resposta – Eu tenho a tarde toda livre hoje.
Combinado então – assenti, deslizando minhas mãos pra cima até envolver seu
pescoço – É só me dar o endereço e eu vou.
Quer que eu vá te buscar na sua casa? – ele sugeriu, fazendo carinho em minha
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cintura como se fosse super típico um cara de 30 anos buscar a aluna de 17 na casa
dela pra levála ao seu apartamento.
Claro que não, minha mãe teria uma síncope se você aparecesse lá em casa – eu
disse, arregalando os olhos É só dizer que tô indo pra casa da Kimberlly e ela deixa
na hora. Nossas mães são amigas, e nós também, então eu vivo indo pra lá.
Você que sabe – Brii sorriu, e eu pude ver que seus olhos estavam brilhando de
animação – Quase desisti de te convidar com medo de que você não gostasse da
idéia.
E por que eu não gostaria? – falei, sorrindo também – Aliás, quem foi que me disse
uma vez que eu deveria pensar menos e me arriscar mais?
Acho que deu pra sacar que eu amava usar as frases dos outros contra eles mesmos,
né? Costumava dar muito certo com aquela mula do Jones.
Não faço idéia Brii mentiu, dando um sorriso culpado e me puxando pra mais
perto dele (se é que dava) – Mas seja quem for, esse cara merece muito um beijo
daqueles bem caprichados.
Ah, merece, é? – repeti, segurando o riso enquanto ele assentia – Vou pensar no
caso dele.
É, não deu tempo de pensar, porque quando vi já estava beijandoo daquele jeito
que fazia meu sangue formigar dentro das veias. Pode me chamar de frouxa, eu não
dou a mínima. Eu adorava ser frouxa quando os braços de Brian Langdon estavam
ao redor da minha cintura.
O que é, Amellie? Pra que essa afobação toda?
Pára de gordice e vem logo!
Kimberlly tinha ido almoçar em casa naquele dia porque a mãe dela tinha um
compromisso e não poderia ir buscála na escola. E pelo visto, ela parecia ter
adorado a torta de limão que mamãe fez, porque não queria sair da mesa até
mandar o último farelo pro estômago. Eu já estava no meu quarto, chamandoa da
porta, e precisei gritar seu nome umas vinte vezes pra finalmente ser atendida.
Não vem me chamar de gorda porque todas as suas roupas servem em mim, tá? –
ela reclamou, quando finalmente entrou no meu quarto e eu fechei a porta.
Então somos duas gordas – brinquei, sem muito tempo pra rir. Afinal, eu tinha um
compromisso importante hoje.
Que agonia é essa, hein, Mell? – Kimberlly perguntou, franzindo a testa enquanto
sentávamos na cama – Tá toda agitada, parece que sentou no formigueiro.
Eu já falei que o seu senso de humor me deprime? – eu disse, fazendoa revirar os
olhos – É, eu tô agoniada, sim. Preciso te contar uma coisa.
Tá esperando o que? – ela falou, curiosa – Desembucha logo!
É essa a hora em que vocês me batem por não ter contado nada a ela sobre Brii até
agora? É, acho que sim. Eu sei que prometi pra mim mesma que iria contar assim
que as coisas se firmassem um pouco mais, mas eu tive muito medo de que ela me
recriminasse. Por mais que eu soubesse que a reação típica de Kimberlly seria entrar
em estado de choque e depois dizer algo como ‘E aí, como é pegar o professor mais
gato da escola?’ com um sorriso de orelha a orelha, eu acabei adiando aquela
conversa até onde pude. E hoje seria o dia em que eu não podia mais esconder esse
segredo dela.
Presta atenção – suspirei, tensa – Você promete que não vai contar pra
absolutamente ninguém o que eu tenho pra te falar?
Eu sei guardar segredos, e você sabe disso – ela concordou, intrigada com a minha
seriedade – Você tá me assustando... O que aconteceu?
Suspirei novamente, apavorada, e decidi dizer tudo de uma vez, sem delongas.
Coisas assim tinham que ser feitas de uma vez, como se fosse pra arrancar a cera da
pele na depilação.
Eu e o professor Langdon estamos ficando.
Fiquei encarandoa, morrendo de medo da sua reação, mas tudo que Kimberlly fez
foi me encarar de volta, sem expressão por um bom tempo. Não falei que ela ia ficar
em estado de choque?
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Estava tudo certo. Kimberlly tinha feito minha mãe acreditar que eu iria dormir na
casa dela e que estaríamos nos divertindo tanto que ela não teria motivos pra me
ligar.
Se de repente você for passar a noite lá ou algo do tipo, me avisa – Kim sussurrou,
assim que deixamos minha casa. Ela ia a pé até a dela, que não ficava muito longe da
minha, e eu ia pra casa do sr. Langdon, que ficava um pouco mais distante.
Eu vou tentar – respondi, sem graça – Obrigada por me ajudar, Kim, de verdade.
Claro que eu vou te ajudar, eu ia gostar que você me ajudasse se estivesse no seu
lugar! – ela riu, me dando um abraço – Vai lá, garota, e vê se toma cuidado!
Não precisa nem pedir – falei, enquanto cada uma seguia pra um lado.
Eu caminhava nervosa pelas ruas, sem precisar me orientar muito. O prédio de Brii
ficava num lugar por onde eu vivia passando, e com a explicação dele, ficava ainda
mais fácil encontrálo. Após uns quinze minutos andando, finalmente cheguei ao
edifício, que tinha um belo jardim em seu pátio. Não pude deixar de sorrir. Tinha
lugar mais atraente pra um professor de biologia morar que um prédio com um
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jardim daqueles?
A porta interna do prédio estava aberta, revelando um balcão de onde um porteiro
deveria estar me observando, mas ele provavelmente estava ocupado com algum
outro problema e não estava ali justo naquela hora. Toquei o interfone, ansiosa, e
esperei por um bom tempo, sem receber resposta. Começando a ficar nervosa de
verdade, ainda mais com o sumiço insistente do porteiro, toquei novamente, e nada.
Suspirei profundamente, pensando no que fazer. Vai que eu tivesse chegado cedo
demais e ele não estivesse em casa ainda? Ou quem sabe ele estivesse tomando
banho? Me distraí imaginando Brii no chuveiro por alguns segundos, até ouvir uma
voz dizer atrás de mim:
Espero que você goste de sorvete de flocos, ou então eu te deixei esperando pra
nada.
Me virei, assustada, e dei de cara com Brii. Ele carregava uma sacola com um pote
retangular dentro, que eu logo reconheci como sendo sorvete, e sorria daquele seu
jeito despojado e lindo pra mim. Estava vestindo uma blusinha simples de algodão,
uma bermuda cinza e chinelos, típica roupa de quem estava em casa há dois minutos
atrás.
Claro que gosto – respondi, sorrindo de volta pra ele – Não me diga que você foi
comprar sorvete só por minha causa.
Eu não costumo receber adolescentes em casa, então pensei que ter um pote de
sorvete me faria parecer mais... Jovem, talvez? – ele riu, e eu revirei os olhos, ainda
sorrindo. Brii não precisava de mais nada pra parecer mais jovem, seu corpo e seu
jeito lhe davam a aparência de um cara de 20 anos. Um belo cara de 20 anos, por
sinal.
Ele abriu a porta e eu o segui até o interior do prédio, dando de cara com um rapaz
que pelo uniforme devia ser o porteiro, caminhando na direção do balcão.
Oi, Andy – Brii sorriu, enquanto o rapaz se sentava na cadeira que havia atrás do
balcão.
Olá, sr. Langdon – o porteiro respondeu, com um sorrisinho cordial, e logo depois
pousando seus olhos em mim – Boa tarde, senhorita.
Sorri fraco pra ele e respondi seu cumprimento com um aceno de cabeça, com medo
do que ele poderia pensar de mim. Não é normal um homem de 30 anos aparecer
acompanhado de uma garota de 17, ainda mais no prédio dele.
Esta é Amellie, aquela minha sobrinha de quem eu te falei – ouvi Brii dizer, na maior
cara de pau, me indicando com um gesto – Este é Andy, o porteiro, como você já
deve ter notado.
Muito prazer – Andy assentiu, aparentemente engolindo a mentira. Claro, a
semelhança entre nós era inegável. Quem dera ser tão bonita quanto o sr. Langdon.
Bom, até mais – Brii se despediu, me puxando pela mão até as escadarias do
prédio.
Bela desculpa, tio – sussurrei, rindo enquanto subíamos os degraus depressa. Ele
apenas me olhou, com um sorriso de canto e uma carinha de quem tinha aprontado.
Mais alguns degraus depois e chegamos ao seu apartamento, que ficava no primeiro
andar. Não era um imóvel muito grande, mas era mais que suficiente pra uma pessoa
só. Me surpreendi com a organização da casa, tudo estava arrumadinho demais pra
um cara que morava sozinho (o que só reforçou minha opinião de que Brii era todo
certinho).
Só deixa eu colocar esse sorvete no congelador pra gente tomar depois – ele pediu,
correndo até a cozinha e me deixando na sala. Dei uma olhada rápida pelo cômodo,
reparando nos detalhes básicos, tipo a decoração em tons de verde, e não demorei
muito a sentir os braços dele envolvendo minha cintura por trás de mim.
Gostei daqui – eu murmurei, arrepiada da cabeça aos pés ao sentilo cheirar e beijar
de leve meu pescoço.
Esse apartamento é novo – ele comentou, colocando o queixo em meu ombro –
Não faz nem dois anos que eu me mudei pra cá. É bem confortável, apesar de não
ser tão grande.
Me virei de frente pra ele, abraçandoo pelo pescoço, e sorri, entorpecida por aquele
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perfume masculino maravilhoso.
Fiquei muito feliz pelo convite – falei, recebendo um beijinho de esquimó dele –
Obrigada por me deixar conhecer sua casa.
Acredite, a felicidade é toda minha por você estar aqui – Brii sorriu, me encarando
profundamente – Só de saber que estamos seguros, sem termos que nos esconder
de ninguém, já é um alívio enorme.
Ele deslizou as mãos dos meus quadris até a lateral das minhas coxas, unindo nossas
testas. Me apoiei em seus ombros, e num movimento rápido, envolvi sua cintura
com minhas pernas, fazendo com que ele me carregasse. Sorrindo de um jeito
danado, eu o beijei, enquanto ele dava alguns passos até me prensar contra a
parede. Pressionando seu corpo contra o meu, Brii parecia estar muito mais solto do
que na escola, embrenhando suas mãos nos meus cabelos e agarrandoos com força.
Eu, em compensação, comecei a acariciar sua nuca com minhas unhas, e passei a
distribuir beijos e chupões em seu pescoço. Brii passou suas mãos por debaixo das
minhas pernas, apertando o interior das minhas coxas e me puxando pra mais perto
dele. Senti meu corpo todo arrepiado com a respiração quente dele tão perto do
meu ouvido, parecendo gostar bastante do agrado.
Se continuar caprichando assim eu vou cair, pequena – ele sussurrou, e eu me
afastei, recuperando o fôlego.
Quer que eu pare? – perguntei, com um sorriso safado e uma sobrancelha erguida.
Brii fez cara de derrotado e rapidamente passou os braços por debaixo de mim, me
carregando até chegar ao sofá.
Eu ia te levar pra conhecer o meu quarto, mas parece que você tá com um pouco
de pressa – ele falou todo maroto, me jogando no sofá. Pude ver seus olhos
brilhantes correndo pelo meu corpo estirado entre as almofadas, e um sorriso mal
intencionado surgiu naquele rosto lindo.
A gente vai ter bastante tempo pra conhecer o quarto mais tarde – sorri, sentindo
meu coração acelerar só de observar seus músculos realçados pela blusa branca justa
que ele usava – E depois o banheiro, a cozinha, o corredor...
Entendendo minhas verdadeiras intenções ao usar a palavra “conhecer”, Brii abriu a
boca, surpreso, e começou a rir, deixando seu corpo cair sobre mim devagar.
Você sabe me provocar direitinho, mocinha – ele murmurou, encaixando suas
pernas entre as minhas e passando suas mãos por debaixo de mim, segurando firme
em minha bunda. Ele me beijou profundamente, e eu deslizei minhas mãos pelos
ombros dele até alcançar suas costas. Comecei a puxar sua camisa pra cima, sentindo
aquele conhecido volume entre suas pernas, e Brii interrompeu o beijo por dois
segundos pra tirar a blusa.
Meu Deus do céu. Que físico maravilhoso. O que ele fazia pra ficar daquele jeito?
Devia malhar feito um condenado, porque ninguém é gostoso assim naturalmente.
Não que eu saiba. Como estamos falando de Brii, nada segue os padrões, tudo nele
parece ser anormalmente perfeito.
Eu deslizava minhas mãos por sua barriga, peito, ombros e braços durante o beijo,
sem saber de qual parte eu gostava mais. Brii escorregou suas mãos geladas até as
minhas costas, me arrepiando com cada toque, e respirava pesadamente. Não
passava de um amasso como qualquer outro, fora o fato de Brii estar sem blusa, mas
estávamos tão mais tranqüilos por estarmos totalmente sozinhos que cada
movimento parecia mais excitante, mais caloroso, mais intenso.
Ele partiu o beijo, ofegante, e tirou minha blusa, sem precisar pedir minha
permissão. Nem mil palavras descreveriam o jeito como ele observou minha barriga e
meus peitos, erguendo seu olhar pra mim logo depois e sorrindo pervertidamente.
Eu sorri de volta pra ele, do mesmo jeito danado, sentindoo acariciar minha barriga
de baixo pra cima e pousando suas mãos sobre meus seios, ainda parcialmente
cobertos pelo sutiã. Brii os envolveu com suas mãos suficientemente grandes e os
apertou devagar, como se fosse pra verificar se aquilo estava acontecendo mesmo.
Como você é linda – ele disse baixinho, com os olhos brilhando.
Só eu, né? – sorri, fazendo carinho em seus ombros. Ele sorriu de volta e me
beijou, quase alcançando o fundo de minha garganta com sua língua. Baguncei seus
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cabelos com vontade, correspondendo ao beijo com o mesmo desejo. Brii não tirou
suas mãos de meus seios, apertandoos com mais força e gemendo baixinho com a
boca colada à minha. Eu já começava a suar, arranhando as costas dele, quando o
senti investir no fecho do meu sutiã.
Ding dong.
Abri os olhos assim que ouvi o barulho da campainha, e me deparei com o olhar
assustado dele bem perto do meu. Paralisamos, alarmados, e Brii se afastou,
parecendo bastante incomodado.
Que porra é essa? – ele sussurrou, bufando e saindo de cima de mim logo depois.
Ele parecia ser o tipo de homem que só fala palavrão quando está realmente puto, o
que me faria rir se eu também não estivesse puta com a interrupção.
Você tá esperando alguém? – perguntei baixinho, pegando rapidamente minha
blusa e vestindoa enquanto ele fazia o mesmo.
Claro que não! – ele respondeu no mesmo volume, se ajeitando rapidamente
enquanto se dirigia à porta – Se esconde num dos quartos, eu vou dispensar quem
quer que seja.
Obedeci depressa, entrando no primeiro quarto que vi: o dele. Nem prestei atenção
direito em nada, apenas fiquei parada na porta, ouvindo.
Desculpa vir incomodálo, sr. Langdon, mas é que encontraram um molho de
chaves perdido no hall e eu queria saber se é do senhor – uma voz familiar disse, e se
seu dono não parecesse ser um cara legal, eu teria aparecido lá e dito umas poucas e
boas pra ele por interromper nossas preliminares.
Não é minha, Andy – ouvi a voz de Brii dizer calmamente, como se estivesse vendo
TV ou fazendo algo bem zen antes de abrir a porta – Mas obrigado por perguntar
mesmo assim.
O barulho de porta sendo trancada com pressa ecoou pelo apartamento, e em
menos de dois segundos já pude vêlo correr na minha direção.
“Obrigado por perguntar mesmo assim”? – perguntei, inconformada – Você tem
noção do que a pergunta dele interrompeu?
Eu tenho, mas é melhor ele não ter – Brii riu, me abraçando e afundando seu rosto
em meu pescoço – E se você quer saber, essa interrupção só serviu pra me deixar
com mais vontade.
Sorri inevitavelmente com aquela provocação, enquanto recebia beijos e leves
chupões atrás da orelha. Brii me pegou no colo, me fazendo rir e agarrar seu
pescoço, e me jogou na cama, logo caindo por cima de mim.
Quem mandou você colocar a blusa de novo? – ele perguntou, recuando e fazendo
uma cara chocada. Tirei a camiseta ainda rindo, enquanto ele tirava a dele, e puxeio
pelo cinto da calça fazendoo cair sobre mim pesadamente. Ele sorriu, satisfeito, e me
beijou com urgência, tirando meu sutiã rapidamente. Brii começou a descer seus
beijos languidamente pelo meu pescoço e colo enquanto apertava meus seios, até
alcançálos com a boca. Ele os chupava lenta e delicadamente com os olhos
fechados, concentrado em me dar prazer. E estava conseguindo até demais.
Eu acariciava seus braços e costas, incentivandoo, e ele continuou descendo seus
beijos pela minha barriga, segurando firmemente em minha cintura. Quando chegou
ao cós da minha calça, ele me lançou um olhar determinado, como se nada fosse
parálo mais. Sem querer que ele parasse mesmo, joguei minha cabeça pra trás ao
sentir suas mãos apertarem minhas coxas com força e logo subirem até o botão da
calça. Cinco segundos depois, tanto a calça como a calcinha já estavam longe dali.
Brii abriu minhas pernas com cuidado, me observando de cima a baixo com os olhos
ardendo de tesão.
Sem dizer uma palavra, ele deslizou suas mãos desde os meus seios até alcançar o
interior de minhas coxas, e inclinouse para alcançar minha intimidade com a boca.
Agarrei os lençóis da cama quando senti sua língua me tocar, devagar a princípio,
mas aumentando a velocidade e a intensidade aos poucos. Não agüentei e comecei a
gemer, arqueando minhas costas pra cima enquanto ele me lambia e sugava.
Quando eu estava a ponto de gozar, ele subiu até nossas bocas se encontrarem, e
calou meus gemidos com um beijo calmo e profundo. Ao mesmo tempo, ele
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começou a me masturbar com os dedos numa velocidade incrível. Eu agarrei seus
cabelos com força, sem parar de gemer nem durante o beijo, e pude sentilo sorrir.
Não demorou muito e eu gozei, fazendoo diminuir seus movimentos.
Extasiada, minhas mãos percorreram todo o seu tronco, desenhando seus músculos
do abdômen pelo trajeto, até alcançarem seu cinto. Arranqueio com facilidade, e o
empurrei, fazendoo cair ao meu lado. Abri o botão de sua calça e ele mesmo a tirou,
ficando apenas de boxer. Passei uma de minhas pernas por cima dele, sentada sobre
seus quadris, e comecei a acariciar seu peito e barriga, olhando fundo em seus olhos.
Ele havia me dado o melhor orgasmo da minha vida sem me penetrar, e eu
pretendia satisfazêlo com a mesma intensidade.
Comecei a beijar e lamber sua barriga, sentindo seus dedos se enterrarem em meus
cabelos. Fui descendo até alcançar sua boxer, e a tirei depressa. Deslizei minhas mãos
por suas coxas, sorrindo pra ele, e segurei seu membro já bastante enrijecido.
Demonstrando minha satisfação com o olhar, dei um beijinho em sua glande e o
lambi de baixo pra cima lentamente, fazendoo soltar um gemido rouco e fechar os
olhos com força. Coloqueio na boca até onde consegui, e novamente ele segurou
meus cabelos, orientando meus movimentos. Eu alternava a velocidade, fazendoo
gemer alto quando estava rápido e gemer mais alto ainda quando estava devagar,
como se estivesse reclamando.
Tireio da boca após um bom tempo provocandoo, e o observei nu deitado na
cama. Havia gotículas de suor por todo aquele corpo divino, e os cabelos dele
começavam a grudar na testa. Brii, com os olhos semi abertos, retribuiu meu olhar
com um sorriso desnorteado, o que só me motivou a continuar. Comecei a
masturbálo rapidamente, deslizando minha outra mão por sua coxa e bunda, e
mordendo meu lábio inferior ao vêlo se contorcer de prazer. As mãos de Brii
apertavam fortemente minhas coxas, e suas veias do pescoço saltavam a cada
gemido dele. Voltei a chupálo com força, sem resistir, e pude vêlo abrir a gaveta do
criadomudo pra pegar uma camisinha. Brii abriu a embalagem com os dentes e me
chamou, com a voz falha.
Chega, pelo amor de Deus.
Olhei pra ele, tirando seu membro da boca, e ele me deu o preservativo. Coloqueio
depressa, tomando os devidos cuidados, e assim que terminei, ele me virou, ficando
sobre mim novamente. Se posicionou entre minhas pernas, e me lançou um último
olhar radiante antes de me penetrar com força e de uma só vez. Nós dois gememos
alto, e eu finquei minhas unhas em seus ombros. Brii demorou alguns segundos
antes de investir novamente, ainda se recuperando da primeira investida, e aos
poucos aumentava a velocidade de seus movimentos. Ele tentava me beijar, mas
estávamos ocupados demais com outras coisas pra sermos bons nisso. O máximo
que conseguimos foi manter nossas testas unidas enquanto ele investia com cada
vez mais força e me fazia arranhar suas costas sem nem pensar se estava
machucando. Suados e ofegantes, logo o cansaço começou a tomar conta de nós,
mas não estávamos dispostos a parar. Brii jogou a cabeça pra trás, como se quisesse
se segurar por mais algum tempo, mas não demorou muito e eu gozei pela segunda
vez, fazendoo desistir e gozar junto.
Soltei um suspiro exausto e relaxei, sentindo cada centímetro do meu corpo suado.
Brii desmoronou sobre mim e envolveu minha cintura com seus braços, totalmente
esgotado. Eu o abracei pelo pescoço, dedilhando lentamente seus ombros, com um
sorriso cansado no rosto. Tudo que eu senti por alguns segundos foi a respiração
lenta de Brii em meu pescoço, me arrepiando inteira, até ouvir sua voz rouca
murmurar:
Pode ser um pouco cedo pra isso, mas... Eu acho que te amo, pequena.
Brii se ergueu um pouco e me olhou, com uma expressão calma e um sorriso
maravilhado. Tudo que consegui fazer foi encarar seus olhos brilhantes e sorrir de
volta, sentindo uma felicidade imensurável tomar conta de mim.
Eu amo você – falei, baixinho, enquanto fazia carinho em seu rosto rosado Tenho
certeza absoluta disso.
Vi o sorriso dele aumentar, e o abracei pelo pescoço ao receber um beijo tranqüilo.
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Ficamos mais um tempo deitados, abraçados, conhecendo cada pedaço um do
outro, até acabarmos dormindo. O sono mais feliz da minha vida, sem dúvida.
Capítulo 05
Abri meus olhos, sem lembrar por que já estava sorrindo. Pisquei algumas vezes,
tentando colocar minha visão em foco, e suspirei preguiçosamente. Um perfume
bom encheu meus pulmões, me fazendo alargar o sorriso. Minha mão estava ao lado
do meu rosto, espalmada sobre o peito dele, que subia e descia calmamente de
acordo com sua respiração. Seu cheiro estava por toda parte, me entorpecendo, e
seu braço envolvia meus ombros, me impedindo de me mexer.
Olhei pra cima e vi que Brii ainda dormia como um bebê, mesmo após umas duas
horas de sono. Sorrindo feito uma retardada, apenas fiquei observandoo dormir,
fazendo carinho devagar em seu peito e me lembrando de tudo que tínhamos feito
antes de apagarmos.
Você pretendia ficar me olhando por quanto tempo? ouvi a voz dele dizer
baixinho, me fazendo corar de leve. Brii abriu os olhos e me encarou, com um sorriso
desconfiado no rosto.
Não sei, talvez até você acordar e me fazer essa pergunta respondi, fazendo seu
sorriso aumentar. Sem dizer nada, Brii me beijou delicadamente, e virou de lado, nos
deixando de frente um pro outro na cama.
Pra sua informação, eu já tava acordado ele murmurou, deslizando sua mão pela
minha cintura devagar Você é que ficou dormindo feito pedra em cima de mim até
agora pouco.
Me desculpe se a instituição de ensino onde o senhor trabalha e eu estudo me faz
acordar às 6 da manhã todo santo dia falei, fingindo estar ofendida, e fazendoo rir.
Nossa, mas que menina mais brava que eu fui arranjar ele disse, me puxando pra
mais perto dele.
Sou mesmo confirmei, fazendo cara de irritada e me apoiando num cotovelo Se
não gostou, eu vou embora agora mesmo e não te incomodo mais.
Olha só, além de brava é independente! Brii riu, me segurando com mais firmeza
pelo quadril como se quisesse me prender ali Quero ver você continuar com essa
coragem toda pra levantar daqui.
Quando fui abrir minha boca pra retrucar, ele me calou com um beijo intenso e sua
mão subiu do meu quadril pro meu rosto, enquanto a outra me abraçou pela
cintura. Obviamente tudo que eu pensei em dizer sumiu da minha memória assim
que nossas línguas começaram a brincar uma com a outra, num misto de provocação
e tranqüilidade. Pude sentir Brii sorrir durante o beijo, vitorioso por ter conseguido
me calar, e não consegui não sorrir junto.
Ainda tá bravinha? ele murmurou, ainda sorridente, quando partiu o beijo.
Idiota resmunguei, fechando os olhos em sinal de derrota e vergonha. Brii riu
baixinho e me deu um selinho demorado, deitando sua cabeça bem próxima da
minha e fazendo com que as pontas de nossos narizes se tocassem.
Você fica linda demais com vergonha, sabia? ele disse, me abraçando pela cintura
suavemente Mais do que já é.
Você não se enxerga mesmo, né? falei baixinho, com um sorriso derretido
enquanto acariciava seu rosto, desenhando seus traços e fazendoo fechar os olhos
algumas vezes Não existe nada em você que não me agrade, nada que te estrague.
Você é simplesmente perfeito, não tem nem o que dizer. Esse rostinho de nenê, esse
sorriso lindo, seu corpo, seu jeito... Tudo.
Brii, que estava de olhos fechados quando comecei a falar, abriuos e me olhou
firmemente, ouvindo com atenção tudo que eu dizia e alargando seu sorriso a cada
palavra.
Incrível como uma garota de 17 anos pode dizer coisas que uma mulher de 30 não
teria sensibilidade nem pra sonhar em dizer ele sorriu com os olhos brilhando,
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fazendo carinho em minha bochecha com o polegar E que só te deixam mais linda
aos meus olhos.
Não faz isso comigo, por favor pedi, fechando os olhos e sentindo minhas
bochechas queimarem de timidez e euforia Eu fico com vergonha.
Ouvi Brii rir baixinho e senti seus braços me aproximando mais dele (eu achei que
não dava, mas não é que dava?).
Ter você grudadinha em mim é a melhor sensação do mundo ele murmurou
devagar, se debruçando delicadamente sobre mim e afundando seu rosto em meu
pescoço Seu perfume, o cheiro bom do seu cabelo, sua pele quentinha, seu coração
batendo... Sempre tão rápido que parece querer explodir a qualquer momento.
Fechei os olhos e envolvi seu pescoço com meus braços. Respirei fundo, deixando o
cheiro dele me intoxicar, e ri baixinho, sem conseguir acreditar no sonho que minha
vida tinha virado. Nem se eu quisesse conseguiria explicar como era ser a pessoa
mais feliz do mundo. Talvez por isso eu tenha ficado completamente sem palavras, e
apenas fiquei alisando seus ombros e costas devagar, sentindo a respiração calma
dele bater em meu ouvido.
Brii começou a beijar meu pescoço delicadamente, me fazendo fechar os olhos e ficar
toda arrepiada. Comecei a enroscar meus dedos em seus cabelos, e ele continuou
distribuindo beijos pela região, até alcançar minha boca. Ele me beijava calma e
profundamente, e eu senti como se choques elétricos percorressem meu corpo
inteiro e me arrepiassem toda. Não me lembro de ter recebido um beijo tão intenso
quanto aquele antes. Acabamos invertendo as posições sem nem perceber, me
deixando por cima dele, com uma mão de apoiada de cada lado de sua cabeça.
Aquilo foi se transformando numa coisa mais calorosa, e quando já estávamos
ofegantes, Brii sugou meu lábio inferior, quebrando o beijo. Encarei aqueles olhos
Castanhos, que retribuíam meu olhar com um brilho intenso em meio aos meus
cabelos caídos ao redor de seu rosto, e sorri, vendoo fazer o mesmo.
Voltei a beijálo, sem nem me importar por ainda estar ofegante, e senti suas mãos
viajarem por meus ombros e costas devagar, assim como também senti sua ereção
por debaixo da boxer que ele tinha vestido antes de dormir. Sorri quando ele abriu o
fecho do meu sutiã sem que eu percebesse (é, eu também vesti minhas roupas
íntimas antes de dormir, sou uma menina muito envergonhada como vocês já
devem ter reparado), e me sentei sobre seus quadris pra tirar a peça. As mãos de Brii
acariciavam as laterais de minhas coxas, e sem nem querer me esperar voltar, ele se
sentou e me abraçou pela cintura, voltando a unir nossos lábios. Envolvi seu pescoço
com meus braços, retribuindo o beijo com vontade e sentindoo apertar meus seios.
Não demorou muito e ele começou a me provocar, sugando caprichadamente o
lóbulo de minha orelha. Arrepiada da cabeça aos pés com a respiração quente e
rouca dele em meu ouvido, eu agarrava seus cabelos com força, até ouvilo
sussurrar:
Tá calor, não acha?
Assenti devagar, atordoada com aquela voz falha (e muito sexy) me dando falta de
ar, e ele disse:
Então se segura.
Voltei a abraçálo pelo pescoço e Brii passou seus braços por debaixo de mim. Ele se
levantou da cama, ainda me provocando num de meus pontos fracos de um jeito
muito bom (conseqüentemente sendo enforcado por mim), e me levou no colo pra
algum lugar que eu não soube o que era até ver azulejos brancos por toda a parede
e um box espaçoso de vidro.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele fechou a porta e me prensou contra
ela, já com os lábios colados nos meus. Suas mãos percorriam todo o meu corpo
depressa, enquanto as minhas transformavam seu cabelo numa bagunça sem fim. Eu
o puxava pela cintura pra mais perto de mim, deixando sua excitação ainda mais
evidente com a proximidade e destruindo minha sanidade mental. As mãos de Brii
pararam em minha bunda, com a mesma intenção que eu tinha ao puxálo com as
pernas, e seus polegares envolveram o elástico de minha calcinha, puxandoo pra
baixo. Ele continuou tirandoa, sem ousar partir o beijo, e eu fiquei de pé pra poder
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me livrar dela de uma vez. Ele foi descendo seus beijos conforme abaixava minha
calcinha, parando no umbigo e subindo novamente quando a peça já estava longe.
Conseguindo controlar um pouco mais as coisas por estar de pé, fui empurrandoo
como quem não quer nada até suas costas ficarem contra o vidro do box fechado.
Brii soltou um gemido rouco quando o prensei entre a superfície gelada e eu, que
agora acariciava seu tórax e barriga, e meio sem jeito, abriu a porta do cubículo
transparente, cambaleando comigo pra dentro dele. Respirando ruidosamente, deixei
que ele me prensasse contra a parede interna do box enquanto agarrava meus
cabelos da nuca com uma mão e tateava a parede até achar a válvula e ligar o
chuveiro com a outra. Assim que a água fria tocou nossa pele, automaticamente nos
abraçamos com mais força, como se fôssemos nos esquentar com o calor de nossos
corpos.
Nossas mãos corriam soltas por cada centímetro de pele alcançável um do outro, e
não demorei muito pra fazer a boxer ensopada dele deslizar até o chão. Passei meus
braços por seu pescoço, implorando pra que ele fizesse o que eu queria logo, e com
a testa franzida de prazer, Brii deu a entender que me obedeceria. Ergueu minhas
pernas, me fazendo envolver sua cintura com elas, e se posicionou em minha
entrada. Esperando que ele me invadisse de uma só vez, como antes, eu o senti
colocar apenas a metade de seu membro dentro de mim, me provocando e calando
um gemido baixo com um beijo. A cada investida ele ia colocando mais e mais, me
fazendo ser involuntariamente agressiva durante o beijo, até chegar ao fim e
começar a se movimentar com bastante força e velocidade. Eu acabei ficando um
pouco mais alta que ele por estar suspensa, o que fez o rosto de Brii ficar
praticamente entre meus seios. Obviamente gostando da situação, ele quase gritava,
me fazendo gemer no mesmo volume. A água fria que caía sobre nós parecia nos
deixar com mais calor ainda, e tornava minha mania de agarrar seus cabelos um
pouco mais escorregadia.
Durante quase meia hora ficamos naquela posição. Brii jogava sua cabeça pra trás
várias vezes, com os olhos fortemente fechados e os cabelos grudados na testa, e eu
os colocava pra trás com as mãos, agarrandoos novamente na nuca. Ele realmente
estava se segurando muito pra não ter que sair dali, enquanto eu já tinha gozado
duas vezes, com as unhas fincadas em seus ombros e urrando de prazer. Quando ele
jogou a cabeça pra trás pela última vez, exausto, eu o beijei de leve e ele finalmente
gozou, fechando os olhos devagar e gemendo perto do meu ouvido. Me deixei
escorregar com as costas prensadas contra a parede até ficar de pé, enquanto Brii
afastava as mechas ensopadas de cabelo grudadas no meu rosto, buscando meus
lábios com os seus. Pousei minhas mãos trêmulas em seus ombros, morta de
cansaço, e retribuí seu beijo suave com um sorriso.
Acho que eu tô ficando velho pra essas coisas Brii ofegou, respirando fundo logo
depois e me abraçando carinhosamente pela cintura.
Se for assim, me dá falta de ar só de imaginar como você fazia essas coisas quando
era mais novo sussurrei, beijando seu pescoço enquanto o abraçava e sentindo seu
tórax se contrair rapidamente num riso sem fôlego.
Eu sempre achei que camisas sociais masculinas ficam muito melhores nas mulheres
Brii sorriu, deitado no sofá, ao me ver surgir do corredor usando uma de suas
camisas brancas que me cobriam até metade da coxa Agora eu tenho certeza.
Pára de me deixar sem graça senão eu te molho ameacei, chacoalhando meu
cabelo molhado enquanto me aproximava e fazendoo se proteger com os braços,
rindo.
Também te amo, minha pequena invocada ele brincou, me puxando pela mão
coberta pela manga desproporcional da camisa que eu usava e me derrubando sobre
ele. Um cheiro ótimo de sabonete invadiu meus pulmões, e não tive como não sorrir
ao retribuir seu beijo.
Não vai parar mesmo? murmurei, mantendo nossos rostos próximos mesmo
depois de partir o beijo e apontando meu dedo indicador pra ele Olha que eu
mordo, hein.
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Brii soltou uma risada maliciosa, ficando ainda mais sensual do que de costume, e
sussurrou:
É, eu sei.
Brii! exclamei, envergonhada, afundando meu rosto em seu pescoço enquanto ele
ria mais alto.
Tá bom, agora eu parei ele falou, me abraçando com força, e rindo mais um
pouco antes de continuar a falar Falando em morder, tá com fome?
Assenti, ainda sem olhar pra ele. O cheiro daquele pescoço estava uma coisa
irresistível, fato. E ficava melhor ainda quando eu me lembrava de minhas mãos
deslizando por seus ombros, ensaboadas, há alguns minutos atrás enquanto
tomávamos banho.
É, eu logo imaginei ele disse, assentindo de leve Então o que você acha de irmos
lá na cozinha ver o que eu fiz pra gente?
Olhei pra ele, pasma, e recebi um sorrisinho sapeca. Me levantei depressa, e corri até
a cozinha, sendo acompanhada por ele. E quase voei naquele pescocinho
maravilhoso quando vi o que estava sobre a mesa da cozinha.
Não acredito! exclamei, com um sorriso enorme no rosto Macarronada!
Você gosta? Brii sorriu, todo fofinho, quando me virei pra ele, quase lacrimejando
de emoção.
Se eu gosto? repeti, rindo Eu adoro macarronada! Como você fez isso tão
rápido? Quer dizer, eu não demorei nem dez minutos!
Vinte e sete minutos, eu acabei contando sem querer ele respondeu, cruzando os
braços e encostando um de seus ombros na parede da porta Tudo isso pra se
arrumar e desembaraçar o cabelo que provavelmente fui eu quem bagunçou.
Eufórica, não consegui responder nada, apenas mordi meu lábio inferior e continuei
olhandoo sorrir pra mim de um jeito esperto.
Bem que eu estranhei você não ter aparecido lá no quarto murmurei, sem
conseguir parar de sorrir, e ele se aproximou de mim com a maior cara de criança
serelepe Você tem que parar de me surpreender assim, sabia? Não é só porque eu
sou novinha que agüento esses trancos.
Quem não vai agüentar mais um minuto sem devorar aquele macarrão ali sou eu
Brii sorriu, colocando as mãos em meus quadris Antes de começar a agradecer,
quero ver se você aprova meus dotes culinários.
Soltei uma risada baixa, e fiquei na ponta dos pés pra lhe dar um selinho rápido
antes de ir me sentar numa das cadeiras. Brii fez o mesmo, e me serviu, enchendo
seu prato logo depois. Peguei o garfo, inalando o cheiro ótimo que vinha do meu
prato, e o enrosquei no macarrão, sentindo um olhar meio apreensivo dele sobre
mim.
Hm, vamos ver se já pode casar brinquei, lançando um rápido olhar pra ele antes
de colocar o garfo na boca.
Nos vários dias em que tive que preparar meu próprio almoço em casa porque
mamãe estava trabalhando, eu costumava fazer macarrão, porque eu achava que era
mais prático e gostoso. Eu considerava meu macarrão uma obra prima, me sentia o
máximo por conseguir fazer um molho tão bom, mas tinha acabado de descobrir que
não era tão boa cozinheira assim. Brii conseguia ser melhor. Bem melhor.
E aí? ele perguntou, com o garfo pairando sobre seu prato ainda intocado e um
sorriso nervoso.
Ainda bem que você não cozinha pra viver respondi quando terminei de mastigar,
com uma expressão séria, e vi pânico nos olhos dele Porque se cozinhasse, eu já
teria virado uma coisa gorda e celulitosa de tanto comer seu macarrão.
É agora que eu jogo todo esse macarrão na sua cabeça ou deixo pra mais tarde?
Brii sorriu, parecendo transtornado e aliviado ao mesmo tempo, enquanto eu ria.
Isso aqui tá ótimo exclamei, quase passando mal de tanto rir da cara de horror
que ele tinha feito Não vai desperdiçar tudo na minha cabeça, por favor.
Da próxima vez tente ir direto ao ponto, pode ser? ele resmungou, sem conseguir
evitar um sorriso e finalmente comendo um pouco do macarrão.
Own, ele ficou chateado falei, com uma voz cuti cuti Desculpa, bebezão.
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Bebezão... Olha só quem fala Brii murmurou, me lançando um olhar brincalhão, e
eu senti meu rosto esquentar de vergonha. Às vezes eu esquecia que ele já tinha
treze anos quando eu nasci. Quer dizer, eu mal tinha dentes e ele já devia ter um
protótipo de bigode. Tá, melhor não continuar pensando no que ele tinha ou fazia
quando era pivete e eu chupava dedo. Ficamos alguns segundos em silêncio, apenas
mastigando, até que ele voltou a falar:
Por que você fez essa carinha e ficou quieta?
Nada, eu só tava pensando aqui respondi, sem olhar pra ele.
Pensando no que? ele insistiu, com a voz mais baixa e inclinando sua cabeça
tentando ver o meu rosto.
Sorri fraco e ergui meu olhar até o dele.
Isso tudo é muito doido... Não acha? falei, sem graça.
Isso tudo? ele repetiu, com a testa franzida. Lerdo. Mas tudo bem, ninguém
funciona direito com estômago vazio, principalmente homens.
É... A gente ficar junto expliquei, com o olhar fixo no dele. Brii ficou sério,
parecendo um pouco assustado por pensar no assunto.
Por que você tá dizendo isso agora? ele perguntou, com a voz igualmente séria e
me deixando nervosa Você tá pensando em desistir, ou sei lá, meu macarrão é tão
ruim assim...
Não, não, claro que não, seu macarrão é ótimo interrompi, aflita apesar de ainda
estar sorrindo, e ele continuou me encarando, esperando uma explicação melhor
Eu só tava pensando, sei lá... Em como isso foi acontecer entre a gente com toda
essa diferença de idade.
Brii sorriu fraco, e eu fiz o mesmo. Depois de quase um mês juntos, era a primeira
vez que eu tinha parado pra pensar naquilo, e quanto mais eu encarava aqueles
olhos brilhantes, menos eu conseguia encontrar uma resposta racional. Nós dois nos
gostarmos não era nada racional, era meio que uma feliz coincidência. Dentre tantas
alunas bonitas e inteligentes que eu sabia que ele tinha, ele foi escolher se envolver
justo comigo, que não tinha nada de especial ou diferente delas. Talvez eu só
estivesse me perguntando por que eu merecia tamanho presente.
Eu realmente não sei como isso foi acontecer ele suspirou, com o olhar vago no
meu Mas ainda bem que aconteceu... Eu já tava quase perdendo o jeito com
mulheres.
Meu sorriso se abriu involuntariamente, assim como o dele, e senti meu rosto
esquentar um pouco. Que lindo, era tudo que eu conseguia pensar enquanto recebia
aquele olhar carinhoso dele.
Deixa eu comer meu macarrão maravilhoso antes que eu acabe voando em cima de
você falei, fazendoo rir E agora que você sabe que eu mordo mesmo, toma
cuidado.
Pode me morder ele riu, enrolando o macarrão no garfo com um olhar malicioso
Eu gosto.
Brii! exclamei, incrédula e ficando roxa de vergonha de novo, fazendoo gargalhar.
Já eram oito e meia da noite quando terminamos de jantar. Mais rimos do que
comemos, aliás. Principalmente eu, que parecia uma retardada com um sorriso besta
no rosto só de olhar pra ele, de boxer jantando comigo. Cheios de fome (e com
razão) devoramos todo o macarrão e bebemos litros de suco de uva, e assim que o
ajudei a colocar a louça na pia contra a sua vontade, ele perguntou:
Boa hora pra atacar aquele pote de sorvete, não acha?
Se eu ficar gorda, a culpa é sua falei, entortando a boca numa tentativa fracassada
de segurar um sorriso e apontando meu dedo indicador pra ele.
A gente dá um jeito nisso depois ele sorriu, serelepe, mordendo o lábio inferior de
um jeito bem nenê. Super apropriado pra grande sujeira que ele tinha acabado de
dizer.
E eu vou dar um trato nessa sua linguinha afiada se você não parar com essas
coisas resmunguei, sem conseguir pensar direito diante daquela carinha fofa e só
notando que tinha falado merda quando ele riu alto.
Não acredito que você disse isso Brii falou, ainda rindo e me abraçando pela
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cintura. Ainda inconformada com a minha própria idiotice, apenas olhei pra ele,
sorrindo de um jeito envergonhado e enrugando o nariz.
Pára com essa vergonha toda, vai ele murmurou, com a voz carinhosa, e me deu
um beijinho de esquimó Você não precisa dela.
Eu, que observava minhas mãos encolhidas em seu peito, ergui meu olhar até o dele,
e automaticamente sorri. Não sei por que eu sentia tanta vergonha dele. Tá, talvez
fosse porque ele era meu professor de biologia e eu tivesse medo de ser tosca ou
algo do tipo, porque estava completamente apaixonada por ele e não queria receber
um pé na bunda.
Só porque eu falei que você fica uma gracinha assim, toda vermelhinha, não
significa que você tenha que ficar me torturando toda hora Brii sorriu, fingindo
estar um pouco irritado, e eu ri baixinho Você não sabe do que eu sou capaz
quando me provocam desse jeito.
Ah, é? perguntei, erguendo uma sobrancelha, e um segundo depois seu braço
passou por debaixo das minhas pernas, me erguendo no ar. Se ele continuasse me
carregando toda hora, eu ia me esquecer de como se anda.
É ele respondeu, com as sobrancelhas erguidas e um sorrisinho esperto Mas
como eu sou um ótimo professor de biologia, acho melhor a gente esperar nosso
estômago digerir o macarrão antes de ceder às suas provocações.
Concordo plenamente, professor Langdon falei, fazendo cara de inteligente, e
recebendo um selinho demorado Então enquanto a gente espera, eu quero
sorvete.
Fazer a digestão comendo mais ainda, quer coisa melhor? ele ironizou enquanto
andava até o congelador, me fazendo jogar a cabeça pra trás e rir alto Pega aí, tô
com as mãos meio ocupadas.
“Mãos ocupadas”, quem ouve até pensa falei, rindo feito uma idiota Acho que
estamos quites quanto a frases ambíguas agora.
Se quiser, eu desocupo minhas mãos agorinha mesmo ele sugeriu, e ameaçou me
botar no chão de novo.
Pode continuar me carregando, eu deixo sorri, forçando a expressão mais
excessivamente meiga do mundo enquanto fechava a porta do congelador com o
sorvete em mãos. Brii retribuiu meu sorriso exagerado, e me levou até a sala,
parando nas gavetas de talheres pra pegarmos duas colheres pelo caminho.
Vamos ver o que tá passando na TV ele disse, pegando o controle remoto que
estava no sofá e apertando um botão. Assim que a tela se acendeu, eu vi lagartos e
plantas por toda parte, e não pude deixar de sorrir.
Animal Planet? perguntei, abrindo o pote, sentada entre suas pernas Por que eu
já devia saber disso?
Pelo menos não é canal pornô Brii retrucou, mudando de canal e enchendo sua
colher de sorvete sem nem ver o que estava fazendo.
E daí se fosse? Não seria problema nenhum falei, sem nem prestar atenção no que
passava na TV e enchendo cuidadosamente minha colher Tem homens que
aprendem várias coisas com filmes pornôs, sabia?
Você quer mesmo falar disso? ele falou, erguendo as sobrancelhas com um sorriso
danado, enquanto voltava a engolir outra colherada monstruosa de sorvete. Me virei
pra encarálo, com uma sobrancelha erguida e um sorriso esperto:
Por quê? Tá com medo de alguma coisa?
Claro que não, eu até acho filmes pornôs interessantes Brii respondeu, tomando
mais sorvete, como se estivesse dizendo que gostava de azul É bem bacana ver
como alguém consegue ser tão elástico.
Não acredito que você vê filmes pornôs só por causa da elasticidade das mulheres
falei, rindo e dando um empurrãozinho safado em seu peito.
Vem cá, deixa eu te perguntar uma coisa ele disse, parando num canal qualquer e
me olhando com uma impaciência meio cômica Tá toda curiosa por causa de filme
pornô por quê? Já tá querendo mais, é?
Não foi essa a minha intenção inicial, mas se você tá sugerindo... respondi,
olhando pra ele e lambendo devagar a colher, com um sorriso provocante (me deixa
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ser puta, beijos). Brii ficou me encarando, parecendo meio atordoado, e entortou a
boca, derrotado.
Você gosta de beijo gelado? ele murmurou, baixinho, tirando o pote de sorvete
do meio das minhas pernas e colocandoo na mesinha que ficava do seu lado do
sofá.
Se eu gosto de quê? perguntei, sem ouvir direito o que ele tinha dito, mas
concordando em me virar de frente pra ele quando suas mãos demonstraram essa
intenção.
Disso ele sussurrou, e no segundo seguinte seus lábios estavam colados aos
meus. Um choque térmico percorreu meu corpo todo quando a língua gelada dele
tocou a minha, nem tão fria. Passei meus braços por seu pescoço, arrepiada da
cabeça aos pés, e ele me puxou pra mais perto dele pela cintura, fazendo minhas
pernas envolverem seus quadris. Ficamos nos amassando por algum tempo, até o
efeito gelado sumir, e delicadamente Brii me deitou no sofá e ficou por cima de mim.
Sorrindo, ele partiu o beijo, e murmurou:
Dorme aqui essa noite?
Não precisa nem pedir de novo respondi, com um sorriso de orelha a orelha, e ele
voltou a me beijar, igualmente feliz com a minha resposta. É, posso dizer que Brii me
beijando foi uma cena que se repetiu bastante naquela noite.
Capítulo 06
Um mês e meio se passou desde a primeira vez em que dormi na casa de Brii. E a
cada vez que eu voltava àquele apartamento, as coisas melhoravam, o que eu achava
ser impossível. Nunca pensei que pudesse me sentir tão feliz e completa com alguém
como eu me sentia com ele, e eu sorria até nas aulas do Jones, que agora me
ignorava total e completamente. Só me dirigia a palavra quando era estritamente
necessário falar comigo, e me tratava com indiferença, o que por mim, podia
continuar assim pelo resto dos meus dias.
Antes do fim da aula, eu quero lhes informar que houve uma pequena mudança
quanto a excursão à reserva ambiental de depois de amanhã – Brii disse, durante os
últimos minutos da aula de biologia, sendo fixamente observado por mim, claro –
Como vocês já sabem, a reserva fica a algumas horas daqui, então pode ser que a
excursão só acabe pouco antes do anoitecer, e como de costume aqui na escola,
vocês serão acompanhados por dois professores.
Como o final do bimestre estava próximo, os professores que já tinham dado todo o
conteúdo previsto para aquele espaço de tempo costumavam marcar excursões com
as classes, e pedir relatórios ou trabalhos sobre o que aprendíamos no passeio. Eu já
estava sabendo dessa excursão, portanto nem me alarmei muito, só não sabia que
pequena mudança era essa. E se eu soubesse que a resposta pra esse mistério me
renderia maus momentos, preferia continuar não sabendo.
Eu e a professora Keaton estávamos escalados para acompanhar a classe de vocês
– Brii prosseguiu, me lançando um breve olhar conformado, que eu devolvi com um
pouco de tensão – Mas a diretora resolveu fazer uma pequena alteração. De acordo
com a nova escala, eu e a srta. Keaton acompanharemos o primeiro ano na excursão
deles, que será amanhã, e quem irá acompanhálos na excursão de vocês serão os
professores Hammings e Jones.
Acho que é agora que eu rodo a baiana, não é? Que papo é esse de ‘vou com as
menininhas putinhas do primeiro ano amanhã enquanto vocês sofrem na mão do
pedófilo nojento e sem escrúpulos do Jones’? Se ele achava que eu ia deixar isso
passar em branco, estava muitíssimo enganado.
Podem ir para o laboratório, até semana que vem e boa excursão – Brii encerrou,
enquanto todos se levantavam com as mochilas nas costas rumo à aula do Jones. Eu
arrumava lentamente meu material, de cara fechada, esperando até o último aluno
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sair e me deixar sozinha com Brii. Assim que todos haviam saído, ele fechou a porta
da sala e já começou a falar:
Eu sei que você não gostou da notícia, mas...
Mas o que, Brii? cortei, inconformada, sem nem me mexer na cadeira enquanto
ele se aproximava – Por que você não me contou antes?
Eu não pude evitar, só fiquei sabendo disso hoje! – ele explicou, agachandose à
minha frente – Você acha que eu fiquei feliz de não poder mais ir com a sua classe?
Soltei um suspiro chateado e fechei os olhos. Ele realmente não tinha culpa, dava pra
ver que ele estava sendo sincero. Voltei a encarálo, me imaginando naquela reserva
ambiental tendo que respirar o mesmo ar de Daniel Jones por mais de uma hora. O
pior pesadelo que alguém poderia ter.
Me desculpa, acho que eu surtei um pouquinho – murmurei, sorrindo sem graça e
colocando as mãos em seus ombros – Mas é que ia ser simplesmente ótimo passar o
dia todo com você, e além do mais, você sabe que eu odeio o professor Jones.
É, eu já notei essa birra que você tem com ele – Brii riu, erguendo as sobrancelhas.
Essa birra que eu tenho com ele? – repeti, apontando pro meu próprio peito, um
tanto incrédula – Ele é que tem birra comigo e não é capaz de me dar uma nota
justa pelos meus relatórios, você sabe bem disso!
Eu também não entendo, mas não posso me meter no método de correção dele, já
te falei milhares de vezes – ele explicou, revirando os olhos – Mas você bem que
podia tentar ser gentil com ele... Quem sabe as coisas não melhoram, incluindo a sua
nota?
Você tá de brincadeira, né? – eu falei, rindo sarcasticamente – Eu ser mais gentil
com o Jones? Mas nem morta! Eu me recuso a tratar aquele imbecil como algo mais
além de um verme inútil!
Você não devia falar essas coisas dele – Brii retrucou, subitamente sério e
parecendo ofendido – O Danny é um dos meus melhores amigos e é um cara muito
legal. Não fale do que você não sabe.
Franzi minha testa, boquiaberta com aquela resposta, e assenti devagar.
Acho que se tem alguém aqui que não sabe do que tá falando, esse alguém é você,
Brian – murmurei, tentando conter minha raiva só de me lembrar de tudo que o
Jones já tinha me feito (ou tentado fazer) de mau – Mas se você quer tanto defender
seu amigo, não vou te impedir. Só não venha me dizer que não te avisei.
Mell, espera – Brii pediu, me impedindo de levantar quando eu tentei ficar de pé, já
com a mochila sobre um ombro – Não precisa ficar brava, eu não quis te chatear...
Me deixa levantar, por favor – pedi, sem olhálo, com um sentimento enorme de
injustiça dentro de mim. O cara que eu amava defendendo o canalha que vivia
atormentando a minha vida e ainda me destratando por causa dele? E o pior de
tudo, eu não podia simplesmente chegar contando tudo que o professor Jones já
tinha me feito sem ter como provar, Brii jamais acreditaria. Ele era cego pela imagem
de bom moço do amigo, já dava pra perceber isso há um bom tempo. Péssimo,
horrível, deplorável, humilhante.
Não, eu não vou te deixar ir embora brava comigo desse jeito, não sabendo que
amanhã não vou poder te ver! – ele negou, ficando irritado – Pára de ser infantil,
Amellie!
Infantil? – perguntei, ainda mais inconformada, sem nem conseguir raciocinar
direito – Se eu sou tão infantil, por que quis ficar comigo? Se você não acredita no
que eu digo, por que insiste em se desculpar? Se eu só falo mentiras sobre o que eu
não sei, me deixa ir embora, afinal, eu tô perdendo a aula do seu tão querido melhor
amigo, esqueceu?
Consegui levantar, apesar dos esforços dele pra que eu ficasse, e sem nem olhar pra
trás, deixei a sala de aula, trêmula da cabeça aos pés. Apesar do medo de acabar
ferrando tudo com aquela primeira briga, eu me sentia firme, agindo do jeito certo.
Brii não conhecia o amigo que tinha, e depois de tudo que aquele crápula me fez
passar, eu não seria capaz de ouvir todos aqueles absurdos calada. Engoli em seco,
levando a vontade de chorar e de voltar correndo pros braços de Brii pro fundo do
meu estômago, enquanto caminhava rapidamente em direção ao laboratório.
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Ih, que cara é essa? – Kimberlly perguntou, na hora da saída, quando se sentou ao
meu lado na mureta que ficava em frente ao colégio – O Jones aprontou alguma?
Neguei com a cabeça, encarando o nada com a expressão fechada. Os 50 minutos da
aula de laboratório tinham conseguido ser mil vezes mais tranqüilos que os poucos
minutos em que eu e Brii brigamos na aula de teoria, fora meus olhares carregados
de ódio pro Jones durante sua explicação. O olhar sério de Brii me censurando não
saía da minha cabeça, e aquele sentimento de injustiça continuava dançando dentro
de mim.
O que foi então? – ela insistiu, e eu nem precisei responder. Assim que ela terminou
de falar, Brii saiu do colégio, e logo nossos olhares se encontraram. Seus olhos
Castanhos estavam sérios, e eu sustentava seu olhar, igualmente chateada. Brii só
tirou seus olhos dos meus quando foi atravessar a rua, e não ousou olhar na minha
direção até arrancar com o carro e deixar a escola. Assim que ele sumiu de vista,
abaixei a cabeça e soltei um suspiro triste, de olhos fechados.
Acho que já entendi o que aconteceu por aqui – Kimberlly murmurou, ainda
olhando na direção pra onde Brii seguiu com o carro – Vocês brigaram.
Quando abri a boca pra começar a contar, minha mãe chegou pra me levar pra casa.
Apenas sorri fraco pra Kimberlly, tentando não parecer tão arrasada, e balancei a
cabeça negativamente.
Depois a gente conversa – murmurei, me despedindo dela e entrando no carro.
Eu não tenho nada contra excursões escolares. Só odeio o tipo de organização que a
minha escola usava. Nem pra ter um pouco de respeito por quem tá estudando nos
andares de cima, sabe. A diretora tem que ficar berrando os nomes dos alunos
naquele microfone ensurdecedor pra todo mundo ouvir, parece que é uma
necessidade vital pra ela. Como se eu me importasse em saber se Colin McPhearson
já estava na escola, francamente. Pra ser honesta, eu só me importava com uma
coisa. Brian Langdon.
Após um dia inteiro sem conseguir tirar aquele desentendimento da cabeça, refleti
muito sobre como devia agir dali em diante. Ele até que podia estar errado, mas não
era por maldade. Brii realmente acreditava que o professor Jones era um cara legal, e
eu não duvido nada que ele tenha seus meios de enganar os outros. Tava pra nascer
cara mais cafajeste que ele, fato. Soltei um suspiro arrependido, encarando
vagamente a janela ao meu lado, de onde eu podia observar o pátio lotado de
alunos do primeiro ano. Mal tinha começado a primeira aula e o professor de química
já estava escrevendo na lousa, mas eu não me importava com o sr. Brown naquele
momento. Outro professor estava prendendo minha atenção, e ele não parecia estar
tendo a menor dificuldade em organizar a fila de pirralhos do primeiro ano que logo
entrariam num dos enormes ônibus estacionados na frente da escola para passar um
dia inteiro em sua companhia na reserva ambiental.
Continuei observando Brii lá embaixo, ajudando o último aluno fora de sua fila a
achar seu lugar, e assim que terminou, colocou as mãos nos quadris e jogou a
cabeça pra trás, encarando o céu nublado. Estava doendo em mim vêlo pela
primeira vez depois da discussão de ontem, e tudo que eu queria fazer era pular por
aquela janela e me desculpar por tudo. Mas eu estava presa na aula de química, e ele
estava preso àquela excursão idiota. Brii lentamente se virou até ficar de frente para
o prédio de onde eu o olhava, e pra minha surpresa, seus olhos não hesitaram em se
cravar na janela da minha classe. A janela por onde ele podia me ver também,
mesmo que de uma certa distância. Seu olhar, apesar de distante, conseguiu me
deixar pior do que eu já estava. Sua expressão ao me encarar era séria, mas pelo
menos ele não parecia tão bravo quanto ontem. Por que eu tinha que deixar meu
orgulho ser maior que o que eu sentia por ele? Você gosta de uma idiota, Langdon,
fato.
Mais atrás, a srta. Keaton já encaminhava alguns alunos na direção da saída da
escola, e pude ver seus lábios chamarem o nome de Brii. Voltei a encarálo, me
odiando pra sempre, até que ele se virou na direção dela e a ajudou com a
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organização dos alunos. Merda. Essa piranha ia ter seu dia de sorte hoje, passando o
dia todo ao lado de um homem lindo, perfeito e insatisfeito com a garota infantil
com quem tinha escolhido se relacionar. Bela oportunidade de tirar uma lasquinha.
Fechei meus olhos quando ele sumiu do meu campo de visão, tentando afastar o
ciúme que ardia neles, e voltei a me concentrar na matéria de química.
Você vai mesmo amanhã? – ouvi Kimberlly perguntar, na hora da saída, e assenti
devagar, observando os carros que passavam. Não tinha como não encarar o carro
vazio de Brii, estacionado no lugar de sempre, e não querer que ele subitamente
saísse da escola, com seu sorriso habitual, e atravessasse a rua naquela direção.
Tem certeza de que não vai mesmo poder ir? – suspirei, olhando pra ela com cara
de nada – Ter alguém com quem conversar ia me fazer bem... Eu acho.
Não, minha mãe não quer que eu vá e acabe sendo atacada por mosquitos do
tamanho de azeitonas ou coisas do tipo – Kimberlly respondeu, cruzando os braços e
revirando os olhos – Você conhece minha mãe, super protetora até a medula.
Não deu pra não rir um pouquinho com aquele comentário mais do que verdadeiro.
A sra. Macarenhas costumava ser bem enérgica quando o assunto era proteger
Kimberlly.
Que exagero, mosquitos do tamanho de azeitonas só existem na África – chutei,
com um sorriso fraco no rosto.
Eu sei disso, mas minha mãe não sabe – Kim resmungou, um pouco irritada – Já
tentou dizer isso a ela? Vai entrar por um ouvido, ela até vai fingir pensar no seu
caso, e depois vai sair pelo outro lado.
Ri mais um pouco, e ela logo caiu no riso comigo. Só ela mesmo pra me fazer rir
naquele estado deplorável no qual eu me encontrava por dentro.
Você falou com o Langdon hoje? – ela murmurou, voltando a ficar séria, e senti
meu estômago revirar. Eu tinha telefonado pra ela na tarde anterior e tinha contado
tudo que tinha acontecido depois da aula de teoria. Kimberlly concordou comigo, e
disse que eu devia contar tudo que o Jones tinha aprontado, mesmo correndo o
risco de Brii não acreditar em mim. Durante o resto do dia, fiquei pensando no que
deveria fazer, e decidi que iria seguir o conselho dela. Só não tive a oportunidade de
conversar com ele ainda.
Não – respondi, sem olhar pra ela – Ele tá na excursão hoje, lembra?
E amanhã é a sua – Kim disse, e eu pude sentir seu olhar tristonho sobre mim –
Você vai à casa dele nessa sexta?
Só vou se ele me chamar – falei, dando de ombros tristemente Não vou
simplesmente aparecer sem ter sido convidada.
Desde a primeira vez em que fui à casa dele, não tinha deixado de passar as tardes
de sextafeira lá uma vez sequer, nem que fosse pra ajudálo com a correção de
algumas provas e trabalhos enquanto conversávamos. Talvez essa fosse ser a
primeira vez em que não nos veríamos, e era tudo culpa da minha imaturidade.
Palmas pra mim.
Eu acho que ele vai te chamar sim – Kimberlly me encorajou, deitando sua cabeça
em meu ombro de um jeito carinhoso e até um pouco engraçado – No mínimo pra
vocês se resolverem.
Assim espero – sorri fraco, olhando vagamente os carros que passavam pela rua,
com o pensamento a algumas horas de distância dali.
Amellie Dawson!
Ergui minha mão assim que a diretora berrou meu nome no microfone, entediada e
com todos os tipos de sentimentos negativos em relação àquela excursão idiota. Me
senti ainda pior quando o professor Hammings, com sua usual cara de quem tinha
estrume de vaca debaixo do nariz, indicou que eu já podia ir para o ônibus com um
aceno de mão. Ajeitando minha pequena mochila no ombro, andei vagarosamente
até o veículo, como se eu pudesse evitar aquela tortura se andasse devagar. Como
eu era tosca algumas vezes.
Eu já mandei você escolher um lugar e se sentar, Kelly – ouvi uma voz murmurar
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assim que me aproximei do ônibus, e quando cheguei à porta, vi o professor Jones e
a Smithers conversando a uma distância menor do que a recomendada. E pela cara
de dor de barriga dela, o clima não era dos melhores.
Tudo bem, professor – ela concordou, me lançando um olhar surpreso, e entrou no
ônibus. O professor Jones passou uma mão pelos cabelos, usando sua técnica mais
que aprovada de me tratar com indiferença, e eu apenas o ignorei, entrando no
ônibus logo depois.
Me sentei num dos primeiros assentos, evitando me misturar demais com o povo
fútil que provavelmente começaria uma bagunça no fundo do ônibus. Peguei meu
iPod de dentro da bolsa e coloquei a primeira música mal educada que achei no
volume máximo, com uma cara espontânea de poucos amigos. Talvez porque eu
realmente não quisesse estar ali, num ônibus cheio de gente que eu odeio, rumo a
um lugar distante, cheio de mato, terra e bichos. Talvez porque tudo que eu quisesse
era estar com Brii e resolver as coisas entre nós, pra exterminar o aperto em meu
peito que quase me sufocava.
Não demorou muito e o professor Hammings entrou no ônibus, acompanhado do
Jones. Contaram rapidamente o número de pessoas, pra ter certeza de que todos
estavam no ônibus, e assim que terminaram, fizeram sinal para que o motorista
começasse a dirigir. Tirei um dos fones, entediada, para (infelizmente) ouvir o que o
Jones estava dizendo enquanto o veículo andava os primeiros metros em direção à
reserva.
Tentem não se afastar do grupo, o local é enorme e bastante confuso, portanto
todo cuidado é pouco – ele avisou, sério, e eu notei que seus olhos estavam
especialmente Azuis hoje, talvez porque estivessem realçados pela blusa da mesma
cor Não se distraiam com os animais ou plantas exóticas que virem e prestem
atenção nas explicações que os guias lhes darão, informações como aquelas não
existem nos livros escolares. Qualquer problema, basta chamar o professor
Hammings ou eu.
Mudo, o sr. Hammings apenas assentiu devagar para todos que o observavam, e os
dois professores se encaminharam na direção de seus assentos. Que, por sinal,
ficavam bem à minha frente. Eu já devia saber que aquela excursão seria ainda pior
do que eu imaginava.
Coloquei os dois fones, batendo os pés de acordo com a bateria da música, e me
contive a observar o céu nublado. Sem ter que aturar ninguém sentado no assento
ao meu lado, silenciosamente ocupado pela minha mochila, não demorei muito
tempo pra me distrair com os prédios e árvores que passavam rapidamente pela
minha janela. Logo meu pensamento voou até Brii, e me peguei pensando no que
ele devia estar fazendo àquela hora. Dando aula, provavelmente. Tentei evitar que
minha mente criasse qualquer tipo de imagem da excursão do dia anterior, ou de Brii
sendo consolado pela srta. Keaton, mas foi impossível. Deus, por que raios eu tinha
que sentir ciúmes daquela mexerica desbotada? Ela ser bonita, atraente e um pouco
viciada demais em testosterona definitivamente não deveriam ser razões
preocupantes o suficiente.
Algum tempo depois, senti uma mão tocar meu ombro devagar, e pulei de susto.
Olhei na direção da pessoa, e dei de cara com Daniel Jones. Tirei um dos fones contra
a minha vontade e esperei ele falar.
Trouxe celular, Dawson?
Assenti, sentindo um gostoso perfume masculino invadir meus pulmões, e ignorei o
fato de que só podia ser o dele.
Pode me passar o número? – ele perguntou, parecendo um pouco decente pela
primeira vez na vida É pro caso de você se perder na reserva.
Eu não vou me perder – respondi, sem muita vontade de dar meu número de
celular pro Jones – Pode ter certeza.
Mesmo assim, são normas da escola – ele insistiu, com um sorrisinho cordial, e eu
tive que dar o número. Escolinha chata a minha, pelo amor de Deus. Assim que
terminou de gravar meu número em seu celular, ele agradeceu rapidamente e voltou
a se sentar ao lado do Hammings. Mas esqueceu de levar uma coisa com ele. A
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porcaria daquele perfume.
Odores a parte, continuei a ouvir música e pensar em qualquer coisa que passasse
pela minha cabeça (lêse: Brian Langdon) por todo o trajeto. Pouco tempo depois de
deixarmos a escola, uma chuva fina começou a cair, explicando o céu nublado que já
durava dois dias. E pelas nuvens negras que pairavam mais à frente, o tempo não
melhoraria tão cedo.
Pessoal, chegamos à reserva ambiental o professor Jones disse algumas horas
depois, enquanto o motorista entrava num grande estacionamento e eu guardava
meu iPod na mochila – Antes de sair, peguem as capas de chuva que trouxemos
devido ao tempo chuvoso que estava previsto pra hoje. Eu vou distribuílas na porta
do ônibus.
Legal, ia ter que fazer contato com aquele idiota mais uma vez, e mal tínhamos
chegado à reserva. Peguei minha mochila e a coloquei direito nas costas, com uma
alça em cada ombro (diferentemente do que eu costumava fazer), já de pé. Esperei
até que a aglomeração no corredor do ônibus diminuísse e me encaixei na primeira
brecha que encontrei.
Capa de chuva, Smithers – ouvi o professor Jones dizer assim que Kelly, que estava
bem à minha frente, passou por ele – Não vai querer que as horas arrumando o
cabelo sejam em vão, vai?
Eu sei que o odeio e já cansei de expressar meu desprezo por ele, mas não deu pra
não rir daquele comentário. Até que ele era engraçado quando tirava sarro das
pessoas certas. E tinha um perfume viciante também. Não que isso importe.
Ainda rindo disfarçadamente da cara de joelho da Smithers ao pegar sua capa,
peguei a minha, dobrada dentro de um pacote plástico, evitando contato visual com
o sr. Jones. Uma simples piadinha não o tornaria um cara aceitável no meu conceito.
Burocracias à parte, logo estávamos dentro da reserva, ridiculamente iguais com
nossas capas transparentes debaixo da chuva, que tinha aumentado
consideravelmente. Aquele lugar era enorme, fato. Acho que nunca estive num lugar
tão cheio de vegetação e terra na vida. O único cheiro que conseguia sentir era o de
terra molhada, tão forte que minha cabeça doía um pouco. Um dos guias começou a
nos levar reserva adentro, e eu apenas seguia o fluxo, já querendo que aquela
excursão terminasse logo.
Antes de começarmos a conhecer a reserva, vamos lhes mostrar um pequeno
documentário sobre os efeitos do aquecimento global e da exploração prejudicial do
homem à natureza, e também algumas medidas quem favorecem o desenvolvimento
sustentável – explicou o guia, quando chegamos a uma grande sala onde uma tela
de cinema ocupava uma parede que ficava de frente para várias poltronas
enfileiradas.
Eu realmente odiava vídeos assim, todo mundo já estava careca de saber de tudo
que passava neles. Com cara de nada, apenas me sentei numa poltrona qualquer,
numa das pontas mais próximas da porta de saída. Quanto menos eu tivesse que
gastar energia ali, melhor.
O filme logo começou, e eu nem me dei ao trabalho de ouvir e/ou ver o que estava
passando. Cutucando uma pele quase solta e dolorida que estava incomodando o
canto da minha unha, esparramada na poltrona e com cara de mau humor, eu
esperava ansiosamente até aquela porcaria acabar e podermos finalmente começar a
observar as espécies exóticas de plantas e animais que existiam na reserva. Tudo ia
relativamente bem, até que eu senti alguém se aproximar de pé ao meu lado. Não
precisei nem erguer meu olhar pra saber quem era: o perfume masculino (que não
era de se jogar fora mesmo) já denunciava sua identidade.
Dá pra parecer menos entediada? – ouvi o sr. Jones cochichar entre dentes,
abaixando um pouco seu tronco para ficar com a cabeça mais próxima de mim e se
fazer ouvir. Revirei os olhos, de saco cheio, e me virei lentamente pra ele, até
encontrar seus olhos.
Dá pra fingir que eu não existo? – sussurrei, com uma expressão de desprezo
sincera, e pude ouvilo suspirar antes de se afastar, em tom de derrota. Isso mesmo,
sai de perto. Seu perfume mais do que aceitável não vai me convencer.
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Quinze minutos depois, eu ainda me encontrava naquela mesma posição, com a
cabeça apoiada numa mão e quase dormindo. Olhei vagamente pra enorme tela à
minha frente, tentando não adormecer, e vendo que não ia agüentar ficar acordada
ali por muito mais tempo, resolvi tomar uma atitude drástica. Me levantei
sorrateiramente, trazendo minha mochila comigo, e caminhei até o professor
Hammings, que estava sentado na primeira fileira ao lado do professor Jones.
Professor, posso ir ao banheiro? – falei, baixinho, fazendo cara de cachorrinho sem
dono – É urgente.
Estamos na metade do documentário, Dawson – ele murmurou, com sua habitual
expressão afetada – Tem certeza de que precisa ir?
É realmente necessário – respondi, ignorando o olhar do sr. Jones praticamente me
queimando de tão intenso. O sr. Hammings ergueu uma sobrancelha, pensativo, e
logo resmungou, derrotado:
Saindo dessa sala, é a primeira porta à direita.
Obrigada – sorri, aliviada, e saí de fininho pela porta. A chuva tinha dado uma
trégua mínima, deixando apenas uma garoa fina cair, o que já me dava uma certa
liberdade pra respirar um pouco de ar fresco sem me molhar. Pelo amor de Deus,
nunca mais pretendia voltar àquela reserva se fosse pra assistir a documentários
como aquele. Fala sério, até uma criança de cinco anos sabe que a fumaça que sai
das chaminés das fábricas prejudica a qualidade do ar.
Mais entediada do que nunca, peguei meu celular do bolso da mochila pra ver as
horas, e meu tédio só aumentou quando vi que ainda faltava muito pra irmos
embora. Lógico, sua anta, acabamos de chegar. Aposto que se Brii tivesse vindo,
tudo estaria sendo muito melhor, e eu estaria nas nuvens, sorridente e cheia de
paciência pra agüentar qualquer chatice que aquele lugar me proporcionasse.
Suspirei tristemente, tão a fim de ir embora que toparia voltar a pé pra casa, e tive
uma idéia. Digitei rapidamente o número do celular de Kimberlly e apertei o botão
para chamar. Uns dois minutinhos de conversa ao telefone com alguém civilizado
seria no mínimo revigorante. Assim que ouvi uma gravação da operadora dizendo
que meu celular estava sem sinal, quase o deixei cair de susto por causa da segunda
voz que surgiu atrás de mim.
Não achou o banheiro, Dawson? – o sr. Jones perguntou, irônico. Me virei
depressa, cancelando a chamada, e logo seus olhos Azuis entraram em foco.
Que é, tá me seguindo agora? – rosnei, sem a menor paciência, e fazendo um
breve silêncio ocupar nossos ouvidos por alguns segundos.
Se eu não soubesse dessa sua... Simpatia com professores de biologia, suas
respostas atravessadas seriam desanimadoras – ele finalmente respondeu, com um
cinismo impressionante no rosto, típico de alguém que sabia demais. Meus olhos se
arregalaram um pouco sem que eu percebesse, minha garganta secou, meu coração
acelerou, tudo ao mesmo tempo. Ele não sabia. Ele não podia saber.
Do que você tá falando? – perguntei, usando toda a minha capacidade de mentir
para controlar meus músculos faciais e não me entregar. O professor Jones deu uma
risadinha irônica e cruzou os braços.
Ah... Você não sabe do que eu tô falando? – ele repetiu, com os olhos cravados nos
meus e dando um passo na minha direção – Então bastou uma briguinha pro Brii ser
carta fora do baralho? Rapidinha você, hein.
Senti uma raiva imensa subir pela minha garganta, por pouco me fazendo voar
naquele desgraçado. Merda, ele sabia. Provavelmente Brii tinha lhe contado tudo,
enganado por sua pose de bom moço. Até da nossa briga de dois dias atrás ele já
sabia! Respirei fundo, controlando a fúria engasgada em minha garganta, e com a
voz firme, retruquei:
Me deixa em paz.
Parece que agora você sabe bem do que eu tô falando – o sr. Jones sorriu, com um
olhar no mínimo divertido – Podemos conversar de igual pra igual.
Eu nunca vou ser igual a você – falei, quase esmagando meu celular em minha
mão, que agora estava fechada num punho – Preferiria me matar a viver tendo nojo
de mim mesma.
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Não venha se fazer de coitadinha, Dawson, eu sei muito bem as besteiras que você
tem falado sobre mim – ele disse, dando mais um passo na minha direção – O
Langdon me conta tudo sobre vocês, cada detalhe, cada palavra de cada conversa, e
eu não gostei nada de saber que você anda colocando as garrinhas de fora.
Garrinhas de fora? Eu? Tem certeza de que essa fala não era pra ser minha? – eu
reclamei, inconformada, com a testa franzida e a voz um pouco mais alta – Se
alguém aqui anda aprontando alguma, esse alguém é você!
Não sei se você sabe, mas é muito feio acusar alguém sem provas – ele falou, com a
expressão carregada e um olhar irritado – Então eu acho melhor você ficar quietinha
no seu canto se não quiser arcar com as conseqüências.
E que conseqüências seriam essas? Por acaso você tem provas contra mim? –
perguntei, erguendo as sobrancelhas num tom intimidador, e como ele não disse
nada, deixei todo o ódio reprimido transbordar – Na primeira tentativa de aprontar
qualquer coisa, Jones, eu simplesmente entro naquela porcaria de diretoria e conto
tudo que você já me fez, e que se danem as provas. Acho que a diretora não vai
gostar nada de saber das suas estripulias, e aí vai ser a palavra de uma aluna indefesa
contra a de um professor com fama de pedófilo. Mesmo que não te expulsem
daquela espelunca, sua imagem de bom moço não vai durar muito tempo.
Daniel ficou me encarando por alguns segundos, e eu senti em seu olhar ameaçador
que tinha conseguido o que queria: deixálo furioso. Após longos segundos com o
maxilar tenso, ele finalmente murmurou, cheio de raiva:
Pode me ferrar, mas pode ter certeza de que eu levo seu querido Langdon comigo.
Engoli em seco. Não, ele não teria como incriminar Brii, tomávamos todas as
precauções possíveis e imagináveis. Definitivamente ele estava blefando.
Sabe o que eu acho? – perguntei, com um sorrisinho debochado e as sobrancelhas
erguidas em tom de superioridade – Que você tem inveja do Langdon.
O professor Jones fez cara de incredulidade, como se Brii fosse um merda, o que só
me fez continuar:
É isso mesmo, você se morde de inveja dele. E sabe por quê? Porque você nunca
foi, não é e nunca vai ser nem metade do homem que ele é. E por ser tão mais
homem que você, ele não precisou nem suar pra conseguir a garota que você
sempre quis, mas nunca teve decência suficiente pra conseguir.
Como eu previa, Daniel ficou com cara de nada, enquanto eu sorria maleficamente.
Ele realmente era um tosco, era fácil demais deixálo sem resposta. Pra não ter que
ficar aturando aquele bosta nem o documentário insuportável que passava dentro da
sala, dei um passo em direção ao banheiro, mas assim que o fiz, senti sua mão firme
envolver meu braço e me puxar devagar em sua direção até sua respiração bater em
meu ouvido.
Você vai se arrepender de ter dito isso.
Ergui meu olhar até o dele, desdenhosa, e ele me soltou violentamente. Daniel deu
meia volta e entrou novamente na sala, me deixando trêmula de ódio. Até quando
eu teria que agüentar as ameaças daquele idiota?
Uma da tarde. A chuva tinha apertado ainda mais, e apesar das galochas que o
pessoal da reserva tinha nos emprestado, a sensação de meus pés afundando na
terra ensopada era a mais nojenta possível. Cada passo exigia um esforço
considerável pra não afundar naquela papa marrom na qual o chão tinha se
transformado. Quando meu estômago nervoso já começava a dar fracos sinais de
fome, os guias nos encaminharam até o grande refeitório que havia na reserva, onde
um almoço quase decente nos esperava. Comi um pouquinho de qualquer coisa, só
pra não acabar desmaiando naquele chão pastoso, e logo voltamos a explorar aquela
selva domada. Tudo que o guia explicava sobre as espécies de plantas e animais que
encontrávamos eu já sabia, só nunca tinha visto exemplares vivos de alguns deles, o
que não me interessava muito no momento. Por que eu paguei para vir a essa
excursão mesmo? Ah, sim, porque um certo professor estava escalado para me
acompanhar e eu definitivamente pretendia passar meu dia inteiro com ele, e não
com o palerma que o substituiu. Beleza, tudo estava indo de vento em popa na
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minha vida.
Enquanto caminhávamos por uma das vias de terra entre as árvores, eu, enjoada de
ver tanto verde e marrom ao meu redor, acabei ficando entre as últimas pessoas do
grupo, um pouco mais distante do guia e de sua voz irritante. Minha cabeça já estava
doendo o suficiente com aquele cheiro insuportavelmente forte de terra e as
preocupações que atordoavam minha mente, obrigada. Observando vagamente a
vegetação ao meu redor, encontrei um pássaro lindo pousado sobre um galho, e um
sorriso fraco surgiu em meu rosto sem que eu percebesse. Suas cores vibrantes não
conseguiam camuflálo em meio às folhas da árvore onde estava pousado, e apesar
da chuva fina, resolvi pegar meu celular na bolsa para fotografálo. Como se lesse
minha mente, a ave ficou paralisada, e somente após umas três fotos, o animal
finalmente levantou vôo. Seria interessante mostrar pra Brii o quão lindo aquele
pássaro era, caso ele não tivesse tido a oportunidade de vêlo quando veio. Isso se
eu voltasse a ter uma relação normal com ele, o que eu pretendia conseguir em
breve.
Quando fui guardar meu celular irritantemente sem sinal num dos bolsos externos da
mochila, percebi que meu chaveiro tinha sumido. Quem tinha me dado aquele
chaveiro tinha sido minha avó, que já tinha falecido. Era uma bailarina linda com uma
perna flexionada, e os pés firmemente curvados, numa ponta perfeita e postura
igualmente correta. Aquele chaveiro sempre tinha sido meu xodó, mesmo antes da
morte da vovó, e depois mais ainda. Me lembro bem de têlo visto quando peguei o
celular pra ver as horas no almoço, e agora ele não estava mais lá. Ou seja, eu o
tinha perdido pelo caminho. E eu não pretendia ir embora daquela reserva sem ele.
Dei meia volta, vasculhando aquele chão semi líquido em busca de algo rosa claro,
mas não achei nada por perto. Alguns passos depois e ainda assim nada. Olhei pra
trás e pude ver o grupo, distante, mas ainda visível, se afastando lentamente.
Tranqüila quanto a não me perder, continuei caminhando devagar na direção
oposta, preocupada com meu chaveiro, até olhar para trás outra vez um tempinho
depois e ver que o grupo tinha sumido. Legal, eles deviam ter virado em alguma
curva sem que eu visse. Sem a menor intenção de me perder naquela
pseudofloresta, mas sem a menor intenção de deixar meu chaveiro pra trás também,
hesitei por alguns segundos antes de voltar a seguir o grupo. Achandoos, seria só
uma questão de convencer alguém a me ajudar na busca pelo chaveiro.
Caminhei rapidamente na direção da minha turma, e logo pude ouvir a voz não
muito distante do guia. Virei numa curva um pouco a frente, desatenta por ainda
vasculhar o chão, e só deu tempo de frear bruscamente quando vi uma pessoa muito
próxima vindo na direção oposta. Caraca, ele realmente estava me perseguindo.
Eu falei pra não se afastar do grupo – o professor Jones rosnou entre dentes,
recuperandose rapidamente da quase trombada – Dá pra fazer esse favor?
Eu perdi meu chaveiro – falei, encarando minhas galochas sem a mínima intenção
de olhar pra ele, a pessoa menos adequada para me ajudar.
E eu com isso? – ele perguntou, e eu pude ver aquela típica expressão de deboche
em seu rosto – Compra outro.
Não dá, tem que ser aquele – exclamei, assim que ele fez menção de me dar as
costas e sair andando, e o vi voltar a me encarar, entediado – Tem valor sentimental.
O sr. Jones virou seu corpo totalmente na minha direção, e apenas me encarou por
alguns segundos com os olhos brilhando de desdenho.
Mil perdões, eu não sou o Langdon – ele sussurrou, cínico – E eu não dou a mínima
pros seus sentimentos.
Ergui meu olhar pra ele, sem saber direito que cara fiz. Só sei que não deve ter sido
das melhores, porque um sorrisinho vitorioso surgiu em seu rosto antes que ele se
virasse e começasse a caminhar na direção do grupo. Lancei um olhar triste pra trás,
tentando me conformar com a perda do chaveiro, e segui a mesma direção que ele,
sem ousar olhar na cara daquele cretino. Meu dia estava sendo realmente ótimo.
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Capítulo 07
Cinco e quarenta e dois. Esse era o horário que meu celular marcava quando pisei no
Starbucks, já de volta a Londres. Geralmente após as excursões, a turma era levada
até lá pra tomar um lanche e relaxar um pouco após um dia de aprendizado fora da
escola. Meu momento de relaxar baseouse em ficar sentada numa das mesas mais
isoladas de todos, com um frapuccino que minha garganta não queria engolir entre
meus dedos gelados e a cabeça pesada. Meu dia tinha sido um lixo, um dos piores da
minha vida, sem dúvida.
Encarando a paisagem cinza e chuvosa que havia do lado de fora pela janela de vidro
ao meu lado, eu brincava com o canudo do milkshake praticamente intocado,
sentindo um mau humor gigante urrando dentro de mim. Meu estômago
demonstrava fome, mas eu não tinha vontade nem capacidade de comer ou beber
alguma coisa. Com um cotovelo apoiado na mesa e a cabeça apoiada na mão,
enquanto a outra se distraía com o copo, eu mantinha meu maxilar tenso, sem nem
notar o ser que se aproximava devagar.
Vi alguém se sentar na cadeira à minha frente, e sem nem precisar mover meus
globos oculares, reconheci o indivíduo como sendo Daniel Jones. Falta de sexo dava
em perseguição desesperada, só podia ser. Sem dizer nada, ele ficou me encarando,
com as mãos no colo e um sorrisinho insuportável. Incomodada com a presença
dele, desviei meu olhar dos pingos de chuva que escorriam pelo vidro da janela até
encontrar o dele.
Perdeu alguma coisa? – resmunguei, sem mexer mais nada além dos meus
músculos faciais. Daniel continuou com seu sorrisinho divertido antes de erguer uma
de suas mãos sobre a mesa, fechada num punho, e responder:
Eu não, mas eu acho que você sim.
Franzi a testa, sem nem tentar entender, e ele abriu a mão, deixando uma coisa rosa
clara pender de uma pequena corrente prateada entre seus dedos polegar e
indicador unidos. O meu chaveiro.
Senti meus olhos se arregalarem e meu queixo cair na hora em que vi a bailarina
balançando de leve bem na minha frente. Imediatamente, arranqueia da mão dele,
segurandoa com firmeza enquanto a observava por alguns segundos, e logo depois
a coloquei dentro da bolsa.
Quer dizer que ela estava com você desde o começo – murmurei, morrendo de
raiva, quando voltei a encarálo – Por que você não me devolveu assim que soube de
quem era?
Sua criatividade me comove, Dawson – ele disse, rindo da minha cara – Pra que eu
ia querer ficar com o seu chaveiro? Foi o Hammings que o encontrou e só me deu
agora, por isso eu vim devolver.
Continuei encarandoo, sem saber se acreditava ou não. Preferi não ocupar minha
mente com aquele assunto, já estava tudo resolvido, meu chaveiro estava comigo de
novo e eu pouco me importava se ele estava dizendo a verdade ou não. Ele era um
imbecil de marca maior e estar sendo sincero não o faria menos desprezível.
Obrigada, se era isso que você queria – resmunguei, grossa, voltando a encarar a
paisagem lá fora. Que estado calamitoso eu havia atingido, era capaz até de
agradecêlo pra vêlo longe de mim.
Eu quero bem mais de você – ouvi o professor Jones murmurar, com os olhos
cravados em mim – Sei que minha vez vai chegar, e tenho paciência pra esperar.
Sem dizer mais nada, ele se levantou e voltou a se sentar em sua mesa junto com o
professor Hammings, finalmente me deixando sozinha com meus pensamentos, e
com um ódio cada vez maior dele. Se antes daquela excursão eu já estava decidida a
contar tudo sobre o Jones pra Brii, agora eu não perderia a chance de fazêlo o mais
breve possível.
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Mãe, cadê você?
Seis horas e cinqüenta e três minutos. Eu estava parada na porta da escola, quase
congelando de frio, falando com minha querida e pontual mãe ao celular. Por que
raios ela não estava parada na frente do colégio pra me levar pra casa se a porcaria
da excursão estava prevista pra acabar às seis e meia? Quase meia hora de atraso,
bem típico de mamãe mesmo.
Desculpe o atraso, filha, acabei cochilando e perdi a hora – ela respondeu,
parecendo um tanto afobada do outro lado da linha – Já estou indo te buscar,
querida, não demoro.
Não demore mesmo, por favor – murmurei, ao ver que não havia mais sombra de
nenhum aluno na porta da escola. Fechei o slide do celular lentamente, com frio
demais pra me mover mais rápido que aquilo. Depois de toda aquela chuvinha fraca
irritante e incessante, veio um frio que ninguém estava esperando, acompanhado de
uma escuridão precoce que dava a impressão de que já eram nove da noite. Todos
deixaram o ônibus encolhidos e buscando o ambiente agradável de dentro dos
carros dos pais. Só eu tinha que me conformar com mais alguns minutos de espera,
sentindo a ponta de meus dedos dos pés e das mãos perderem a sensibilidade, meu
nariz ficar gelado e ver minha respiração virar fumaça assim que entrava em contato
com o ambiente. Legal, mãe, obrigada por se lembrar de mim.
Distraída com os poucos carros que passavam pela rua, nem percebi quando uma
pessoa se aproximou de mim, e assim que notei sua presença, ergui meu olhar até o
dela.
Oi, gatinha – um garoto que eu não fazia a idéia de quem era disse, com um sorriso
nada agradável no rosto e me olhando de cima a baixo. Ele devia ter uns 19 anos,
alto, magro e com dentes muito amarelos. Usava um conjunto de moletom azul
marinho que parecia ser três vezes maior que ele, tênis de basquete e uma touca
cinza que fazia sua cabeça parecer deformada, junto com uma barba por fazer que só
aumentava a impressão de sujo que o bafo de cerveja já o dava.
Engoli em seco novamente, sentindo meu coração acelerar e a boca secar. Droga, ele
ia me roubar. Olhei em volta, e tudo que vi foi o sr. Hammings arrancando com seu
carro sem nem notar minha existência. Busquei desesperadamente algum sinal de
vida naquela rua fora nós dois, mas não encontrei. Legal, eu estava definitivamente
sozinha com aquele cara estranho enquanto minha mãe não chegasse. Fechei minha
mão discretamente, tentando esconder meu celular, o que foi em vão, já que ele
logo olhou naquela direção e aumentou seu sorriso pervertido.
Que foi, tá com medo, gata? – ele riu, voltando a me encarar com a voz arrastada
de quem tinha tomado um belo porre – Fica com medinho não, o papai aqui não vai
te fazer mal.
Dei um passo pra trás na direção da porta da escola, tentando não demonstrar meu
medo, mas o garoto me acompanhou, dando um passo na minha direção ao mesmo
tempo. Que merda, eu não queria ser assaltada, muito menos estuprada, hipótese
que me amedrontava mais que qualquer coisa só pelo simples fato de pensar nela.
Eu não te conheço – falei, com a voz trêmula de medo – Vai embora, por favor.
Não me conhece, mas pode conhecer – ele sorriu, dando mais um passo na minha
direção e ficando a uma distância muito desconfortável – Não vou deixar uma gata
dessas sozinha aqui a essa hora.
Pode ficar tranqüilo, ela não tá sozinha – ouvi uma voz firme atrás de mim, e logo
depois um braço envolveu meus ombros com a mesma firmeza – Eu tô com ela, não
precisa se preocupar.
Acho que nunca me senti tão bem por ter Daniel Jones por perto. O cara estranho
arregalou levemente os olhos ao vêlo sair do colégio e se aproximar de mim, e seu
sorrisinho simplesmente desapareceu de seu rosto, dando lugar a um certo pânico.
Ah... Não sabia que a moça tava acompanhada – ele balbuciou, dando discretos
passos pra trás.
Pois é, mas agora sabe o sr. Jones disse, sem perder a firmeza na voz – Pode ir
tomando seu rumo.
Sem dizer mais nada, o garoto assentiu depressa, um pouco assustado pela atitude
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intimidante do sr. Jones, e saiu andando sem nem olhar pra trás. Continuei
paralisada onde estava, seguindoo com o olhar até perdêlo de vista, e só então
consegui respirar novamente.
Você conhece esse rapaz? – Daniel perguntou, ainda me abraçando firmemente.
Ergui meu olhar até ele, que estava com a expressão fechada e os olhos fixos na
direção que o rapaz tomou, e respondi, inalando sem querer o perfume que eu tentei
evitar o dia inteiro:
Nunca o vi na vida.
Ele assentiu devagar e me olhou, sem mudar de expressão. Meu cérebro entrou em
conflito com meu coração assim que os traços do professor Jones, mal iluminados
pela luz fraca da rua, entraram no meu campo de visão, devido aos meus batimentos
cardíacos subitamente acelerados. Eu já sabia que ele era bonito, mas talvez a
gratidão por ele ter aparecido e afastado aquele cara o estavam tornando ainda mais
lindo naquele momento.
Aqui é muito perigoso quando escurece – ele falou, com a voz de um pai super
protetor dando sermão na filha – Cadê a sua mãe?
Jjá tá vindo – gaguejei, meio distraída com o rosto dele (me deixa, ele nunca tinha
feito aquela cara de preocupado pra mim antes, dá uma trégua) – O que o senhor
ainda tava fazendo aqui?
Fui até o meu armário buscar uns relatórios que tenho que corrigir pra amanhã
ele respondeu, voltando a olhar pra rua com certa impaciência – Sabe se sua mãe vai
demorar?
Ela já está no caminho, logo chega – eu disse, desviando meu olhar dele pra ponta
de meus tênis levemente sujos de terra.
É melhor ela não demorar mesmo, tô morrendo de frio aqui – o sr. Jones
comentou, com as sobrancelhas erguidas num tom autoritário. Ergui meu olhar pra
ele novamente após alguns segundos de silêncio, inconformada com a capacidade
que ele tinha de ser desagradável em todos os momentos.
Não pedi pra você ficar – falei, mesmo sabendo que era realmente perigoso ficar
sozinha ali àquela hora – Pode ir embora se quiser.
Daniel soltou um risinho debochado e me olhou, parecendo indignado com a minha
resposta atravessada.
Não sei por que eu ainda perco meu tempo com você, Dawson – ele riu, sem
humor algum, e tirou seu braço dos meus ombros com certa violência. Me encolhi
um pouco, sentindo o vento frio voltar a soprar na região onde antes o casaco
quentinho dele cobria, e o observei se afastar, indo em direção à sua moto,
estacionada perto de uma árvore que só deixava seu pneu dianteiro visível de onde
eu estava. Não acredito que ele estava mesmo indo embora. Cagão.
Ele colocou o capacete pelo caminho e não demorou a arrancar com a moto,
realmente me deixando sozinha naquela rua mal iluminada e fria. A simples hipótese
de agradecêlo por ter afastado aquele marginal, que tinha crescido um pouco,
tornouse totalmente inaceitável de novo. Idiota, bunda mole, grosso, sem
educação. Brii jamais me deixaria sozinha naquele lugar, tenho certeza.
Só de pensar em Brii, soltei um suspiro chateado, fazendo uma grande quantidade
de fumaça sair de minha boca. Abracei meu próprio corpo, tentando inutilmente
fazer aquele frio passar, mas isso seria impossível com apenas uma blusinha fina de
malha. Encarei a rua, desesperada para encontrar minha mãe, e assim fiquei por
alguns minutos, até ver os faróis do Land Rover dela surgirem em meio à quase
escuridão. Suspirei novamente, aliviada, e assim que me aproximei da rua, vi um
farol se acender bem ao meu lado, atrás daquela mesma árvore onde antes estava a
moto do sr. Jones. Olhei naquela direção, parando de andar ao reconhecer a mesma
moto que estava estacionada ali há minutos atrás, e vi um homem de capacete
olhando pra mim, com seus olhos Azuis refletindo intensamente a luminosidade do
farol. Franzi a testa, sem entender por que ele tinha voltado, e cerrei meus olhos,
reprimindo com todas as minhas forças os batimentos novamente acelerados de meu
coração e continuando o caminho até o carro de mamãe.
Desculpe a demora de novo – ouvi minha mãe dizer, enquanto eu entrava no
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veículo e sentia o alívio da temperatura agradável do seu interior Quem era aquele
na moto, querida?
Olhei na direção da moto do sr. Jones, que arrancava novamente à nossa frente e se
afastava depressa, e abaixei meu olhar pra colocar o cinto de segurança,
respondendo sua pergunta num murmúrio seco:
Ninguém, mãe.
Que bom ver que você sobreviveu aos mosquitosazeitona! – Kimberlly riu,
estirando seus braços na minha direção assim que cheguei à escola no dia seguinte.
Eu preferia ter que enfrentar mosquitos gigantes a passar pelo dia de ontem outra
vez – falei, rindo da minha própria desgraça ao retribuir o abraço carinhoso dela.
Credo, Amellie, vira essa boca pra lá – ela reclamou, espalmando uma mão em
minha bochecha e empurrando devagar meu rosto para o lado oposto como se fosse
um tapa, quando nos afastamos – Depois vira ela de volta pra cá e conta tudo. Como
é que foi ontem?
Relatei os (deploráveis) acontecimentos do dia anterior pra Kimberlly em alguns
minutos, e assim que terminei de contar, ela não demonstrou reação, apenas fixou
seu olhar em algum ponto atrás de mim.
Que foi, criatura? – perguntei, meio assustada, e me virei na direção de seu olhar.
Dei de cara com um suéter verde musgo se aproximando cada vez mais, e numa
fração de segundo, meu coração deu dois giros de 360 graus dentro do meu peito.
Tentei respirar à medida que nossos olhares se cruzaram e se fixaram um no outro,
mas por mais esforço que eu fizesse, não consegui oxigenar meus pulmões. Tudo
que fui capaz de fazer foi continuar encarando Brii, que se aproximava cada vez mais
com uma expressão tensa e olhinhos cansados, até me dar conta de que ele estava
parado na minha frente.
Erm... Bom dia, Macarenhas – ele murmurou, dirigindose à Kimberlly com um
sorrisinho nervoso, e abaixando mais ainda seu tom de voz quando se referiu a mim
Oi, Mell.
Oi, sr. Langdon – falei, sem emoção (só aparentemente), enquanto Kim apenas
sorriu fraco e respondeu seu cumprimento com um aceno de cabeça. Pude ver no
olhar de Brii que ele não tinha gostado muito do jeito pelo qual eu o chamei, mas
mantive a seriedade. Ainda não sabia onde estava pisando com ele, era melhor me
manter com um pé atrás.
Sem dizer mais nada, Brii apenas me entregou um pedaço pequeno de papel
dobrado com o qual ele estava brincando apreensivamente desde que tinha pisado
na escola, e assim que eu o peguei de sua mão, recebi um sorriso fraco antes de vê
lo se afastar em direção à sala dos professores. Fiquei observandoo entrar na sala,
com a expressão vazia, e se Kimberlly não tivesse me cutucado, acho que teria ficado
encarando a porta daquela sala pelo resto da vida.
Tá esperando o que pra ler o bilhete, Amellie? – ela sussurrou, com um sorriso
empolgado, e eu desdobrei o pedaço de papel pautado que estava em minhas mãos.
Te vejo lá em casa mais tarde? xx
O sinal tocou, iniciando mais uma sextafeira de aula, assim que eu bati os olhos
naquela frase, e em questão de segundos um sorriso aliviado surgiu em meu rosto.
Sei lá, acho que as frustrações da excursão de ontem e tudo que vinha dando errado
na minha vida de uns dias pra cá estavam me deixando sufocada, e agora que existia
uma pontinha de esperança nadando contra a maré de azar, foi impossível controlar
o alívio. Ergui meu olhar do papel para Kimberlly, que ostentava uma expressão
boba e maravilhada, e meu sorriso se abriu ainda mais.
Eu não falei que ele ia te chamar? – ela disse baixinho, e pela primeira vez em dois
dias inteiros, eu consegui rir de verdade. Uma sensação de leveza percorria meu
corpo, me fazendo querer rir e chorar ao mesmo tempo. Eu sabia que só porque ele
tinha me chamado pra ir à casa dele não significava que tudo estava bem entre nós
de novo, mas já era um começo, certo?
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Continuei sorrindo pra Kimberlly, que me abraçou de lado, e começamos a caminhar
lentamente até o portão de entrada da escola. Pelo visto hoje o dia seria um pouco
melhor do que os outros. Era tudo que eu queria e tudo que eu precisava.
Você vai, certo? – Kimberlly perguntou, com o olhar perdido, enquanto ouvíamos
música no intervalo.
Claro que vou, tudo que eu quero é acabar com isso de uma vez por todas –
respondi, observando um grupo de garotas do primeiro ano rirem escandalosamente
por algum motivo que eu não estava interessada em saber.
E você vai contar tudo sobre o Jones também, certo? – ela disse, virandose pra me
encarar com a expressão firme. Assenti devagar, engolindo em seco, mas não
consegui segurar as dúvidas que ocupavam minha mente.
Na verdade, eu não sei – falei, fechando os olhos e fazendo uma careta quando vi a
cara de pânico que ela fez – Quer dizer, se nós conversarmos e ficar tudo bem, não
vou nem querer lembrar que o Jones existe!
Eu realmente não queria tocar no assunto Daniel Jones se tudo se acertasse como eu
esperava. Ficar falando de outro homem, ainda mais de um que eu odiava e era
melhor amigo dele, não era o que eu mais gostaria de fazer com Brii. Além do mais, o
Jones tinha me feito um grande favor ontem, mesmo que daquele seu jeito idiota
lifestyle, ou seja, parecia que ele estava tentando ser menos estúpido comigo depois
que percebeu que eu também podia ser uma ameaça a ele. Seria mais fácil continuar
a travar aquela briga por debaixo dos lençóis com o sr. Jones do que chutar o pau da
barraca e talvez fazer Brii tomar alguma atitude precipitada ou arriscada. Eu
realmente morria de medo da reação dele quando descobrisse a verdade sobre
Daniel.
Amellie, deixa de ser idiota pelo menos uma vez na vida e me escuta! – ela
exclamou, até desligando o iPod pra ser ouvida com clareza – Até quando você
pretende continuar nessa de querer fingir que o Jones não existe e não significa
perigo pra vocês dois, hein? Porque eu não sei se você já reparou, mas o sr.
Langdon não age assim, e na primeira abobrinha que o Jones falar de você, tchau
romance perfeito!
Eu sei, Kimberlly – suspirei, erguendo as sobrancelhas ainda de olhos fechados –
Repetir isso não vai adiantar nada, eu pensei nesse assunto durante aquela maldita
excursão inteira.
É mesmo? Pois então perdeu seu tempo, porque se sabe o que tem que fazer e até
agora não tem certeza de que atitude vai tomar, não valeu a pena pensar tanto
assim – ela retrucou, desviando seu olhar do meu com irritação.
Um silêncio meio tenso tomou conta de nós, quebrado apenas pela música que
Kimberlly voltou a colocar pra tocar no iPod. Nós duas observávamos as pessoas que
andavam pelo pátio do colégio, e poucos minutos depois, reconheci o sr. Langdon e
o sr. Jones saindo da sala dos professores juntos. Fixei meu olhar neles, assim como
Kimberlly, e vi os dois caminharem até a saída da escola para tomar lanche numa
padaria que ficava na esquina, como sempre, sem nem sequer notar nossa existência
ali perto. Pareciam compenetrados em algum assunto sério, pois ambos tinham a
testa franzida e o olhar preocupado. Aquela preocupação que eu vi pela primeira vez
ontem nos olhos do sr. Jones, que deixava seus olhos ainda mais intensos. Tá, isso
não me interessa.
Sabe de uma coisa? – Kimberlly disse, quando eles sumiram de nossa visão, e eu
me virei pra ela – Mesmo ele sendo o péssimo exemplo de ser humano que ele é, eu
ainda acho que você devia agradecêlo por ter afastado aquele cara de você ontem.
Voltei a olhar na direção da rua, soltando o trilhonésimo suspiro preocupado em três
dias. E sabe o que era o pior de tudo? Ela estava certa. Por mais cachorro que ele
fosse, eu não podia negar que devia agradecimentos a Daniel Jones.
Belo relatório, Kristen.
Final da última aula. Passei pela porta do laboratório de biologia, sem realmente
acreditar no que estava prestes a fazer. Só de ouvir aquela voz constantemente
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metida, já me dava vontade de dar meia volta e ir embora. Mas já era tarde demais,
eu já estava dentro do laboratório, parada ao lado de um dos três grandes balcões
que haviam lá, esperando até que a tal Kristen fosse embora. Quanto menos gente
soubesse que eu tinha qualquer tipo de contato com Daniel Jones fora do horário
das aulas, melhor.
A tal garota deixou a classe com um sorrisinho malicioso, e me olhando de cima a
baixo ainda por cima, como se eu fosse como ela e topasse ir pra cama com aquele
cafajeste. Evitei olhar pra garota, sentindo que voaria no pescocinho dela se não me
controlasse, e logo ouvi a voz do sr. Jones dizer.
Você por aqui, Dawson? A que devo a honra?
Olhei pra ele, que estava sentado em sua cadeira organizando várias pilhas de papéis,
provavelmente relatórios, que estavam sobre sua mesa.
Não acredito que eu vou realmente dizer isso, mas... Eu vim te agradecer pelo que
você fez por mim ontem depois da excursão – falei, decidindo ser direta e objetiva
pra gastar menos do meu tempo me humilhando pra ele. Daniel nem ergueu o olhar
dos relatórios, apenas sorriu maliciosamente e disse:
Não precisava ficar sem graça, a maioria das garotas também costuma voltar pra
agradecer pelos grandes favores que eu faço por elas.
Entendendo o verdadeiro sentido da palavra “favores” sem dificuldade, cerrei meus
olhos fixos nele, com uma expressão que ficava entre a incredulidade e o desprezo.
Que homem ridículo. Nunca senti tanta raiva de mim mesma por ter ido atrás dele.
Devia ter sido tão inescrupulosa quanto ele e simplesmente ignorar o fato de que
uma vez na vida ele me fez um favor.
Eu realmente não sei por que fiquei surpresa com essa resposta – eu retruquei,
com um risinho inconformado no rosto – Só posso ser muito idiota mesmo.
Dei meia volta pra ir embora, mas assim que dei um passo na direção da porta, ouvi
a voz de Daniel voltar a falar, com um inesperado toque de sinceridade.
Foi muito educado da sua parte vir até aqui me agradecer, Dawson. Confesso que
você me surpreendeu... Mais uma vez.
Me virei novamente pra ele, e um certo arrepio percorreu minha espinha quando
meu olhar encontrou o dele, tão intenso sobre mim. De um jeito diferente do que eu
tinha descoberto ontem. Ainda mais invasivo, imponente, vidrado, como se eu fosse
a única coisa que houvesse pra se olhar na vida dele.
Por que você voltou ontem? – ouvi minha própria voz perguntar, com o olhar
grudado no dele por alguma razão que eu não sabia explicar. Aquela dúvida estava
entalada na minha garganta desde que o vi novamente estacionado atrás daquela
árvore, como se estivesse tomando conta de mim às escondidas. Os olhos de Daniel
continuaram fixos nos meus, ainda mais intensos que antes, até que um sorrisinho
de canto surgiu em seu rosto e ele respondeu:
Curiosidade.
Franzi a testa, sem entender, e ele explicou melhor:
Queria saber se sua mãe era tão bonita quanto você. E pra falar a verdade, seu pai
é um homem de sorte.
Cerrei novamente meus olhos, encarandoo sem acreditar no que tinha acabado de
ouvir. Eu sabia que ele era grosseiro, mas não achei que fosse capaz de usar
cantadas daquele tipo. Só havia um tipo de homem que podia usar cantadas como
aquelas no mundo: homens como Brian Langdon, por exemplo. Caras como Brii
eram capazes de transformar cantadas toscas como aquela em música para os
ouvidos de qualquer mulher apenas com seu olhar e jeito de falar.
Eu quase achei que você tava conseguindo falar sério pela primeira vez na vida –
murmurei, olhandoo com uma decepção irônica – Mas me lembrei de que milagres
não acontecem.
Pude ver o sorriso do professor Jones se alargar um pouquinho com a minha
resposta, realmente achando graça do que eu tinha dito. Me virei novamente na
direção da porta, e deixei o laboratório, descendo rapidamente os lances de escada
rumo à saída da escola. E por incrível que pareça, eu estava rindo. Uma coisa era
certa: Daniel Jones pode reunir todos os defeitos que alguém pode ter, mas sem
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dúvida, ele sabia se divertir. E me divertir também.
Capítulo 08
Respirei fundo, sentindo o aroma floral gostoso com o qual já estava acostumada.
Toda vez que pisava na guarita do prédio de Brii, o cheiro das flores do jardim
invadia meus pulmões, geralmente fazendo um sorrisinho surgir em meu rosto. Mas
hoje eu estava preocupada, ansiosa demais pra sorrir. Assim que me viu, Andy abriu
a porta para mim, como em toda sextafeira, e eu entrei, respirando fundo outra vez.
Trêmula, passei por ele, que me deu um sorrisinho amigável por detrás do balcão da
portaria, e subi pela escada, inquieta demais para esperar o elevador. Aquela poderia
ser a última vez que eu estaria naquele prédio. Meu estômago revirou de nervosismo
só de pensar.
Assim que o primeiro andar entrou no meu campo de visão, vi Brii me esperando
com a porta de seu apartamento aberta. Minha garganta ficou totalmente seca assim
que seus olhos Castanhos me encararam.
Me aproximei da porta, com a respiração discretamente ofegante, mas sem nenhuma
relação com os lances de escada que subi. Não soube como agir, até que ele abaixou
o olhar e me deu espaço para passar. Com sérias dificuldades pra respirar de tão
apreensiva, eu entrei e parei a alguns passos da porta, de costas pra ele, enquanto o
ouvia trancála. Tomando coragem, me virei em sua direção, e o observei encarar o
chão e prolongar aquele silêncio sepulcral por mais alguns segundos.
Como você tá? – ouvi Brii murmurar, com um pouco de cuidado na voz, e quase
não soube responder, porque seu olhar se fixou no meu.
Bem – respondi, com a voz falha, e pigarreei de leve para firmála – E você?
Já estive melhor – ele falou, assentindo devagar e voltando a encarar os próprios
pés. Mais silêncio.
Não quer se sentar? – ele disse, me olhando novamente após mais algum tempo
quieto, e indicou o sofá com um gesto de mão. Me sentindo uma visitante incômoda,
fiz que não com a cabeça e esbocei um sorriso cordial, evitando olhar em seus olhos.
Brii respirou fundo, colocando as mãos nos bolsos da bermuda bege, e perguntou,
com a voz baixa:
Como foi a excursão?
Soltei um discreto risinho miserável ao ouvir sua pergunta, me lembrando de todos
os péssimos momentos daquele dia. Nem que eu quisesse seria capaz de explicar o
quão torturante aquela excursão tinha sido.
O que você acha? – murmurei, encarando meus tênis com a expressão vazia – Não
podia ter sido pior.
Brii abaixou seu olhar, parecendo um pouco culpado pela minha resposta, e eu
continuei:
Ter que passar o dia inteiro com pessoas que eu não gosto e que também não
gostam de mim, quase perder o chaveiro que minha avó me deu de presente, e pra
encerrar com chave de ouro, quase ser assaltada enquanto esperava minha mãe ir
me buscar na escola. Grande dia, sem dúvida.
O que? Você quase foi assaltada? – Brii repetiu, com a voz um pouco sobressaltada,
e eu pude ver seu rosto demonstrar preocupação – Como assim?
Ergui meu olhar pra ele, e entortei a boca, balançando a cabeça negativamente.
Não foi nada de mais – respondi, sem querer citar o momento em que o professor
Jones apareceu e expulsou aquele cara estranho – Minha mãe chegou bem na hora e
ficou tudo bem.
Brii continuou me encarando, com o olhar meio aflito e a testa levemente franzida, e
eu sustentei seu olhar, séria por fora e desmoronando por dentro. Tudo que eu
queria naquele momento era abraçálo, só isso já me faria um bem enorme.
Eu devia ter dado um jeito de ir com você – ele disse delicadamente, como se
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tentasse enxergar meus pensamentos através dos meus olhos – Evitaria muita dor
de cabeça.
Pois é – suspirei, sentindo minhas entranhas se revirarem de ansiedade dentro de
mim ao ouvir seu tom de voz reconfortante. Se eu dissesse que estava lacrimejando,
seria muito ridículo?
Talvez se eu tivesse ido com a sua turma, nós não estivéssemos agindo como dois
estranhos nesse exato momento – Brii murmurou, com os olhos cravados nos meus
de um jeito tristonho – Tudo isso por uma discussão que já não tem a mínima
importância pra mim... Porque o que eu sinto por você é muito maior e mais especial
do que isso.
Um sorriso tímido surgiu no meu rosto, derrubando duas lágrimas fujonas dos meus
olhos. Alívio era pouco perto do que eu estava sentindo. Ele sorriu fraco pra mim, e
toda aquela seriedade que existia antes sumiu de seus olhos instantaneamente,
voltando a mostrar o Brii maravilhoso que eu conhecia. O meu Brii.
Me desculpa – eu falei, com a voz embargada, e cobri meu rosto com as mãos,
sentindo vergonha de mim mesma por estar chorando.
Esquece isso, já passou ouvi sua voz preocupada murmurar, bem perto do meu
ouvido, me abraçando carinhosamente e me obrigando a inalar seu perfume viciante
– Eu senti tanta saudade de você... Não conseguia te tirar da cabeça por um minuto
sequer, me odiando por não ter simplesmente corrido atrás de você sem nem ligar
pro que os outros iam pensar.
Àquela altura, eu já estava totalmente mole, ainda de pé somente porque ele me
segurava. Era como se aquilo fosse um sonho. Brii afundou seu rosto em meu
pescoço, respirando profundamente meu perfume, e me deu um beijo atrás da
orelha, provocando arrepios por todo o meu corpo. Logo depois, suas mãos
envolveram meu rosto e o ergueram até nossos olhares se encontrarem. Encostando
a ponta de seu nariz no meu, ele sussurrou, olhando fundo nos meus olhos com um
sorrisinho lindo:
Eu te amo, minha pequena.
Sorri novamente, fazendo com que duas últimas lágrimas teimosas, que ele logo
enxugou com os polegares, rolassem pelo meu rosto. Passei minhas mãos ao redor
de seu pescoço, com o sangue formigando dentro das veias, e venci a pouca
distância que separava nossos lábios. Senti Brii sorrir assim que nossas línguas se
encontraram, sem a menor pressa de se afastarem, e ele envolveu minha cintura com
seus braços. Deus, como era bom me sentir inteira novamente. Envolvi seu rosto
com minhas mãos, matando a saudade de cada centímetro daquela região, e
embrenhei meus dedos em seus cabelos, que estavam arrumados demais pro meu
gosto. Senti meus pés saírem do chão quando Brii me levantou, e dobrei minhas
pernas pra trás, partindo o beijo e afundando meu rosto em seu pescoço. Sorrindo
feito uma idiota, aproveitei a proximidade entre minha boca e seu ouvido para
sussurrar:
Você sabe que eu também te amo... Não sabe?
Brii me colocou no chão novamente, e quando voltamos a nos encarar, vi que ele
fingia pensar numa resposta, fazendo um biquinho fofo e olhando pra cima.
Hm, não sei... Que tal refrescar a minha memória?
Um sorrisinho danado surgiu em seu rosto, o que só me fez sorrir mais ainda. Quase
tinha me esquecido de como era bom estar com ele e de como ele me fazia rir com
uma facilidade impressionante.
Pode deixar que eu te faço lembrar direitinho, Langdon – sussurrei, com meus
lábios rentes aos dele num sorrisinho esperto e um olhar intenso em seus olhos
Castanhos radiantes. Brii colocou suas mãos em minha cintura e me puxou pra mais
perto bruscamente, me beijando na mesma hora com uma vontade assustadora.
Parecia que ele se lembrava muito bem, e estava mais do que disposto a me dar um
flashback.
Suas mãos logo desceram mais um pouco, parando espalmadas em minha bunda, e
as minhas deslizaram lentamente pelo seu tórax e abdômen, saboreando cada
milímetro do trajeto. Brii continuou descendo uma de suas mãos até a minha coxa, e
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a puxou pra cima, fazendo meu joelho ficar na altura de seu quadril. Entendendo o
que ele queria (me carregar pra algum lugar, como sempre), eu subi novamente
minhas mãos até seus ombros e me impulsionei pra cima, envolvendo sua cintura
com minhas pernas. Agradecendo com gemidos baixos enquanto me beijava, ele deu
alguns passos às cegas, segurando firme em minha bunda enquanto eu voltava a
agarrar seus cabelos da nuca. Mais alguns passos adiante e eu estava sentada sobre
algo plano. Tateei a superfície, enroscando meus dedos em alguns fios inesperados, e
percebendo minha curiosidade, Brii partiu o beijo e disse, com a boca avermelhada e
um olhar meio enfezado:
Quer fazer o favor de parar quieta?
Olhei pra baixo, e me vi sentada sobre a mesinha do telefone, que tinha sido
empurrado pro lado e caído no sofá, deixando sobre a mesa apenas sua fiação. Ah,
tá, agora eu entendi.
Foi mal – murmurei, sorrindo sem graça pra ele, que revirou os olhos com um
sorriso de canto e voltou a me beijar logo depois. Sem tempo a perder, enfiei minhas
mãos por debaixo de sua blusa branca, tocando sua pele quente, e as deslizei até
descobrir seu abdômen todo. Com uma das mãos, puxeio pra mais perto pelo cós
da bermuda, e ele resolveu tirar a blusa, puxandoa pra cima pela parte de trás e
jogandoa longe em dois segundos. Assim que se aproximou novamente, Brii
avançou em meu pescoço, dando beijos e leves chupões pela região. Agarrei com
mais força seus cabelos, enquanto fincava minhas unhas da outra mão em seus
ombros divinos.
Ele continuou descendo seus beijos até meu colo e desabotoou um dos dois botões
da minha camiseta preta, que só serviam pra regular o decote. Beijou de leve o local
onde o botão cobria, e fez o mesmo com o segundo botão. Ele ergueu o olhar na
minha direção, sorrindo pervertidamente, e depois suas mãos foram até o fecho do
meu sutiã por baixo da blusa, levandoa junto. Tireia na mesma hora, com a ajuda
desnecessária dele, e assim que ela voou pra algum lugar, sua boca estava grudada
na minha novamente. Já bastante ofegante, eu acariciava seus braços e peito,
sentindo seus dedinhos ágeis puxarem as alças de meu sutiã e fazendoas
escorregarem por meus ombros.
Com uma mão firme envolvendo sua nuca e mantendo seus lábios firmemente
colados nos meus, eu lutava contra o botão de sua bermuda, que não queria abrir de
jeito nenhum, com a outra mão. Pelo visto estávamos perdendo o jeito, porque Brii
também parecia estar com dificuldades com meu sutiã, mesmo usando as duas mãos
para tirálo, até que ele se irritou e me afastou de leve.
Resolve o meu problema que eu resolvo o seu, pode ser? – ele ofegou, atordoado,
e eu assenti na hora, tirando o sutiã com facilidade enquanto via a bermuda dele
descer até alcançar o chão. Achando graça do momento complicado, voltamos a nos
beijar com um sorriso, e eu senti seu queridinho dar sinais empolgantes de vida mais
embaixo. Abracei seu pescoço com mais força enquanto ele apertava meus seios e
soltava alguns gemidos roucos, e passei a mordiscar e sugar o lóbulo de sua orelha
com vontade.
Brii subiu uma de suas mãos até minha nuca, agarrando meus cabelos, e passou a
outra por debaixo da minha coxa, apertando seu interior e me puxando pra mais
perto. Desci uma de minhas mãos até encontrar o volume que procurava, e fiz
carinho de leve sobre a boxer, fazendoo inspirar ruidosamente e buscar meus lábios
com urgência. Ele podia ser bem exigente quando provocado. Assim que voltamos a
nos beijar, sua mão contornou minha coxa, ficando sobre sua parte superior, e subiu
até o botão da minha calça. Sem querer romper o beijo, mas com o mesmo
problema de antes, ele tentava em vão abrir o botão, até que eu segurei suas mãos e
o ajudei, com vontade de rir por vêlo tão destrambelhado. Obstáculos vencidos, não
demorou muito pra minha calça e calcinha estarem espalhadas pela sala.
Deslizando suas mãos desde o meu joelho até meu quadril, Brii segurou meu rosto
com uma delas, embrenhando as pontas de seus dedos em meus cabelos por trás da
orelha, e com a outra tocou minha intimidade devagar. Ele me beijou na mesma
hora, só pra me provocar mais ainda. Igualmente dedicado a me beijar e a mexer
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seus dedinhos mágicos, ele não demorou muito a me levar ao primeiro orgasmo do
dia, sorrindo orgulhosamente depois do feito. Incrível como ele sabia exatamente
onde investir pra me fazer pirar.
Sentindo algumas mechas de cabelo grudarem em minhas costas por estar suada, eu
voltei a espalhar beijos por seu pescoço, porque hoje aquela área parecia estar
especialmente perfumada. Me aproveitando da distração dele, minhas mãos foram
descendo até encontrarem o elástico de sua boxer, e nem preciso dizer que ela já
estava no chão em menos de dois segundos. Me afastei de seu pescoço e envolvi seu
membro com uma mão, mantendo nossas testas unidas. Comecei a masturbálo
rapidamente, sentindo Brii apertar minhas coxas com força e afundar seu rosto em
meu pescoço. Seus músculos do abdômen se contraíam enquanto eu acariciava sua
nuca com a mão livre e beijava seu ombro, que estava próximo da minha boca. A
respiração falha e quente dele no meu pescoço estava me arrepiando inteira, ainda
mais quando ele começou a gemer baixo bem ao pé do meu ouvido.
Quando já estava nítido que ele se segurava pra não acabar com a festa, ele segurou
seu pênis, me fazendo soltálo, e abriu a gaveta da mesinha, tirando um preservativo
dela. Ele mesmo colocou a camisinha em tempo recorde, considerandose que eu
beijava seu pescoço feito uma desvairada, e me pegando de surpresa por sua
rapidez, me penetrou de uma vez só e com força. Soltei um gemido alto, que logo foi
abafado pela boca dele, e finquei minhas unhas em seus braços. Brii continuou
investindo rápida e furiosamente, gemendo contra meus lábios, e segurava firme em
minha cintura, me puxando pra si a cada investida. Estávamos realmente urrando,
suados e com os músculos totalmente tensos de prazer, até que nossos gemidos
foram ficando cada vez mais cansados e ele finalmente gozou, agüentando até eu
atingir meu segundo orgasmo.
De olhos fechados e com a testa unida à dele, eu apenas tentava recuperar o fôlego
enquanto sentia sua respiração quente em meu rosto. Brii acariciou de leve minha
bochecha com uma mão, e eu abri os olhos, vendo um sorrisinho fofo surgir em seu
rosto.
Na mesinha do telefone, Brii? – cochichei, rindo baixinho e mordendo meu lábio
inferior dormente, fazendoo revelar seus olhos intensamente brilhantes – De novo?
Me desculpe, vou tentar me esforçar mais pra chegar ao sofá nas próximas vezes –
ele murmurou, dando uma piscadinha marota e me dando um selinho demorado
logo depois. É, acho que o dia ia ser bom.
Brii, eu tenho que ir.
Ah, Mell, só mais um pouquinho, vai.
Estávamos deitados no sofá da sala, após uma tarde bastante, erm, empolgante. O
corpo de Brii estava sobre o meu, e suas mãos percorriam confortavelmente minhas
coxas, quadris e cintura enquanto nos beijávamos. Já estávamos há um bom tempo
ali, a ponto de deixálo “alegre” pela milésima vez no dia, mas eu realmente tinha
que ir embora. Não que eu quisesse, por mim ficaria o resto da vida dando uns belos
amassos em Brii, mas se eu não chegasse em casa logo, minha mãe ficaria
desconfiada pela demora.
Eu tô falando sério – reforcei, tentando me sentar enquanto minhas mãos
empurravam inutilmente seu peito pra trás e ele beijava meu pescoço de um jeito
provocante – Eu preciso ir embora.
Ele soltou um suspiro derrotado, apoiando a testa em meu ombro, e eu quase voltei
atrás, se ele já não estivesse de pé no segundo seguinte.
Só você mesmo, Amellie – ele resmungou, de pé na minha frente enquanto eu me
sentava pra calçar meus tênis – Fica me atiçando e depois me dispensa? Não dá
certo.
Olhei pra ele, mas meus olhos inevitavelmente se fixaram no volume que havia pelo
caminho, mais especificamente em sua bermuda. Como eu já estava acostumada a
vêlo sem roupa, às vezes eu me esquecia de que aquilo podia chamar muita atenção
quando ele estava vestido... E muito bem provocado, claro.
Pelo amor de Deus, Langdon, hoje você não pode reclamar de carência – eu ri,
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voltando a amarrar meus cadarços com um sorriso divertido – Já liberamos
endorfinas suficientes pra uma semana só nessa tarde.
Engraçadinha – Brii falou, com a voz meio frustrada/irritada – Já vi que você
realmente vai me deixar assim, então eu vou me conformar e buscar meus tênis.
Pra que? – perguntei, quando o vi caminhar na direção de seu quarto – Vai me
levar até lá embaixo hoje?
Você acha mesmo que eu vou te deixar ir andando sozinha a essa hora? – ouvi sua
voz exclamar lá de dentro, como se andar até a minha casa lá pelas 8 da noite fosse
um absurdo – Eu vou te levar!
Claro que não, Brii! – neguei, ficando de pé quando terminei de calçar meus tênis e
seguindoo depois – Nem pensar, é arriscado demais! Imagina se minha mãe ou
alguém conhecido nos vê?
Não acho que ninguém vá nos ver, mas se acontecer, o que tem de mais nisso? –
ele disse enquanto calçava rapidamente os tênis, como se nossa relação fosse
totalmente permitida – Um professor não pode dar uma carona pra uma aluna que
encontrou totalmente por acaso na rua?
Revirei meus olhos, com um leve sorriso contrariado, e ele logo veio até mim com
uma expressão esperta.
Se você insiste... – murmurei, encarandoo com o olhar derrotado. Ele sempre me
convencia, sempre me fazia ceder ao seu jeito seguro e despreocupado, e o pior,
extremamente lindo.
Sim, eu insisto – Brii retrucou, cerrando os olhos e franzindo rapidamente o nariz
antes de me dar um beijo demorado. Os minutos foram passando (aliás, voando), a
gente continuou se beijando, e assim que ele me prensou contra a parede do
corredor, me dei conta de que aquilo estava durando demais e estava tomando um
rumo que não devia tomar.
Desculpa, eu me empolguei um pouquinho – ele sussurrou, abrindo devagar os
olhos e me fazendo sorrir feito uma idiota quando eu o afastei pelo peito. Mesmo
depois de quase dois meses juntos, ele ainda me fazia sorrir sem esforço.
É, eu percebi, você tá que tá hoje – brinquei, lançando um breve olhar pro retorno
do insistente volume em sua bermuda antes de dar as costas pra um Brii
desconcertado – Vamos?
Descemos as escadas rapidamente, sem esquecer de nos despedirmos de Andy, e
caminhamos até o carro de Brii, que estava estacionado bem em frente ao prédio.
Rezando pra ninguém nos ver, entrei no carro pela porta do carona enquanto ele
fazia o mesmo do outro lado, com um sorriso insistente de quem estava levando a
namorada (ou sei lá o que eu era dele) pra casa pela primeira vez. Ele lançou um
olhar de dúvida pra ignição do carro e subitamente começou a tatear os bolsos da
bermuda, procurando alguma coisa.
Droga – ele xingou, entortando a boca e desistindo de revirar seus bolsos – Esqueci
a chave.
Não acredito – falei, revirando os olhos e rindo de um jeito apreensivo por estar
aparecendo com ele em público. Olhava pra todas as direções, preocupada com as
poucas pessoas que passavam pela rua e o que elas poderiam pensar.
Viu o que você faz comigo? Me deixa todo desconcentrado – ele murmurou, com
sua típica cara brincalhona de insatisfação enquanto saía do carro – Já volto.
Assim que Brii sumiu pela portaria do prédio, eu me deixei escorregar no assento do
carro, praticamente sumindo de vista. Apesar de ter olhado pra todos os lados
possíveis e não ter visto quase ninguém na rua, eu não queria correr o risco de ser
vista por gente demais, ou pelas pessoas erradas.
Encarando vagamente a barra de minha blusa, com a qual eu brincava com a mesma
atenção, eu esperei, até ouvir leves batidas no vidro ao meu lado poucos segundos
depois. Pulei de susto com o barulho repentino, e senti todo o sangue do meu corpo
evaporar quando olhei na direção do som.
Meu olhar se fixou nos olhos irritantemente verdes de Kelly Smithers do outro lado
do vidro, que sorria pra mim com seu cinismo cotidiano. Não sei descrever o que se
passava dentro de mim naquele momento, só sei que foi um dos piores sentimentos
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que eu já tive, como se tudo dentro de mim estivesse desmoronando. Ela não podia
estar ali, ela não podia ter me visto, ela simplesmente não podia.
Quando eu pensei que ainda havia uma chance de driblar aquela situação, vi que
havia uma meia dúzia de garotas igualmente patricinhas do outro lado da rua
cochichando e rindo entre si enquanto nos observavam, algumas até fotografando a
cena com a câmera de seus celulares caríssimos. Amigas dela, que também me
conheciam de vista porque estudavam no mesmo colégio. Maravilha, eu realmente
estava encurralada.
Desce o vidro, quero falar com você – ouvi a voz de Kelly pedir, abafada pela porta
fechada entre nós. Tentei me mexer ou fazer algo básico como respirar, mas não
deu. Eu estava totalmente paralisada, dura de pavor. Ela era só fruto da minha
imaginação. Só podia ser.
Levei alguns segundos assimilando a situação, e como Kelly continuou parada do
meu lado e não sumiu como uma miragem normal, eu fiz a única coisa que podia
fazer: abaixei o vidro, com o olhar trêmulo. Já era, ferrou tudo. Ela e suas
amiguinhas iam mostrar fotos minhas no carro de Brii pra diretora, ela chamaria
minha mãe e aí minha vida estava acabada. Já dava até pra me ver mudando de
escola e sendo tachada de piranha pro resto da vida.
Ora, ora, vejam só o que temos aqui – Kelly sorriu maleficamente, apoiando
levemente um cotovelo no retrovisor do carro – Amellie Dawson no carro de Brian
Langdon... Por essa eu não esperava... Bom, talvez eu até já esperasse.
O grupinho de garotas a la Gossip Girl do outro lado da rua começou a rir, e eu senti
meu sangue voltar às veias, concentrandose especificamente em minhas bochechas
e deixandoas insuportavelmente quentes, chegando até a confundir meus
pensamentos.
O que você quer? – gaguejei, meio tonta por causa da pressão enorme que eu
sentia dentro da cabeça, que atendia pelo nome de pânico. Vi o sorriso de Kelly
alargar, como se tivesse gostado da pergunta, e seu olhar maldoso se tornou ainda
mais intenso.
Amanhã eu vou dar uma festinha na minha casa – ela murmurou, aproximando
mais um pouco seu rosto do meu para se fazer ouvir – Aparece lá e a gente
conversa.
Ela voltou a se afastar, mexendo em sua bolsa, e de lá tirou um cartão em branco e
uma caneta. Anotou rapidamente seu endereço no papel retangular e me deu.
Se eu fosse você, não deixava de ir – ela disse, piscando maliciosamente pra mim
enquanto se afastava e levava seu bandinho risonho consigo. Eu apenas a observei
se afastar, gargalhando e vendo alguma coisa nos celulares das amigas,
provavelmente fotos da minha cara horrorizada. Totalmente confusa e assustada,
abaixei meu olhar pro cartão, onde a caligrafia redondinha de Kelly reluzia graças à
tinta cintilante da caneta gel rosa dela. Eu precisava achar uma maneira de contornar
aquela situação, e eu tinha cerca de 24h pra pensar numa boa proposta.
Olhei desanimadamente na direção do prédio de Brii, e o vi passar depressa pelo
balcão e rir de alguma coisa com Andy. Rapidamente escondi o cartão de Kelly no
bolso da calça, e assim que ele entrou no carro, forcei um sorrisinho simpático. Não
queria que ele soubesse desse inconveniente, não por enquanto. Ele colocou a chave
na ignição e me olhou, provavelmente notando meu jeito estranho. Não era preciso
muito tempo de convivência comigo pra saber classificar meu estado de humor.
Que foi, Mell? – Brii murmurou, com a expressão e a voz levemente preocupada –
Você tá branca feito papel.
Não foi nada – respondi, balançando negativamente a cabeça e me esforçando ao
máximo pra parecer normal – Eu só tô meio cansada... Acho que preciso dormir um
pouco.
Ele continuou me encarando, com a testa franzida, e por um segundo pensei que ele
não cairia na minha mentira. Mas tudo que Brii fez foi dar de ombros e arrancar com
o carro, alheio a qualquer tipo de acontecimento perigoso. Como sempre.
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Capítulo 09
É aqui, mãe.
Encarei dolorosamente a enorme e iluminada casa de Kelly assim que mamãe parou
o carro rente ao meiofio. Eu estava com um vestido azul escuro xadrez que ia até os
joelhos, meus All Star azuis acinzentados de tão gastos e uma discreta bolsa preta,
vestida até demais pra uma festa na mansão dos Smithers. Casais sem roupa
aprontando pelos jardins era rotina em suas festinhas particulares, disso todo mundo
sabia.
Qualquer coisa me liga que eu venho te buscar ouvi mamãe dizer, ainda
desacostumada à idéia de me ver numa festa como aquelas. Ela sabia exatamente
que eu não gostava desse tipo de evento, mas concordou em me levar quando eu
fingi estar socialmente interessada naquela festa.
Assenti devagar, tirando o cinto e saindo do carro. Caminhei determinadamente na
direção da porta da casa, ouvindo os batimentos acelerados de meu coração apesar
da música alta que se tornava cada vez mais ensurdecedora a cada passo. Eu sentia
medo pulsando em minhas veias, um medo indescritível de toda aquela situação.
Toquei a campainha quando meus pés afundaram no tapete de boas vindas da casa,
e logo Kelly abriu a porta, revelando uma roupa totalmente promíscua. Assim que
me viu, o mesmo sorrisinho maligno do dia anterior surgiu em seu rosto, e umas
duas ou três garotas correram pra direções diferentes, provavelmente pra espalhar o
boato de que Amellie Dawson estava numa festa de Kelly Smithers. Torci pra que elas
não saíssem contando o motivo da minha presença também.
Você veio mesmo Kelly sorriu, erguendo as sobrancelhas em tom de surpresa
Pensei que não teria coragem.
Vamos logo com isso murmurei, tentando não demonstrar a insegurança que
urrava dentro de mim.
Ela me deu passagem e eu entrei, sentindo instantaneamente o cheiro de cigarro,
suor e álcool que dominava o ambiente. Muitas pessoas dançavam pelos cômodos,
virando copos de bebida e passando as mãos onde bem entendessem nos corpos
alheios. Com toda aquela gritaria bagunçando minha mente, eu podia jurar ter visto
um olhar intrigado conhecido no meio de várias garotas quando meus olhos
rapidamente percorreram o sofá da sala. Continuei seguindo Kelly até as escadas da
casa, onde já se podia caminhar normalmente, e rapidamente subimos para o andar
de cima. Ela abriu a porta de um dos quartos, interrompendo os amassos de um
casal, e não precisamos dizer nada pra que eles se tocassem e saíssem.
Como você percebeu, eu tenho uma festa animada pra aproveitar lá embaixo Kelly
sorriu, virandose pra mim depois de fechar a porta do quarto atrás de nós Então
não vou demorar muito com você.
Eu não pretendia passar muito tempo aqui mesmo falei, sem emoção na voz, e ela
ergueu uma sobrancelha, de um jeito que não me agradou muito.
Ah, mas você vai ela disse, cruzando os braços e sorrindo zombeteiramente da
minha cara Se realmente quiser manter seu caso com o sr. Langdon escondido,
você ainda vai freqüentar várias das minhas festinhas.
Como é que é? perguntei, rindo nervosamente com o olhar irritado fixo nela O
que exatamente você quer de mim, garota?
Não vou pedir muito, vou até ser bem boazinha com você, só porque estudamos
juntas desde que me conheço por gente Kelly respondeu, como se estivesse
fazendo um ato de caridade Se você não quiser ver suas fotos no carro do sr.
Langdon estampadas na primeira página do jornal da escola, terá que obedecer a
duas condições.
Ela fez uma pausa, só pra aproveitar mais um pouquinho a minha cara de enterro, e
continuou:
Primeiro, você vai ter que concordar em me fazer alguns favores de vez em quando,
por exemplo, a minha lição de casa... E a das minhas amigas também, claro. Eu sei
que isso é bem pouco perto da seriedade do seu segredinho, mas eu disse que ia ser
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boazinha.
E a outra condição? rosnei, tentando ignorar o fato de que teria de copiar no
mínimo umas sete vezes as respostas gigantes dos exercícios do Hammings até achar
um jeito de me livrar daquela chantagem barata. Kelly soltou um risinho satisfeito,
apesar de seu olhar fulminante, e respondeu:
Não ouse dirigir uma palavra ao Jones.
Franzi a testa em tom de desprezo, e não pude evitar uma risadinha baixa.
Peraí, deixa eu ver se entendi falei, segurando uma gargalhada Você quer que eu
faça a sua lição de casa e ignore o Jones em troca do seu silêncio?
Mais engraçada do que aquela situação toda foi a cara de tacho da Smithers,
totalmente sem resposta diante do meu divertimento. Nem pra chantagear alguém
ela prestava. Ignorar o Jones é algo que eu adoro fazer, só ela ainda não tinha se
tocado disso. Provavelmente ela sabia da cisma dele comigo, e estava se
aproveitando daquela situação pra me manter longe dele e garantir sua atenção só
pra ela, coitadinha.
Se quiser que eu piore, é só falar ela resmungou, totalmente desmoralizada, e eu
engoli o riso. O assunto era sério, apesar do fracasso de Kelly como chantagista.
Não, eu aceito essas condições assenti, colocando as mãos nos bolsos do vestido
Bom, se for só isso, eu já vou indo.
Mas já? Pra que a pressa? Kelly perguntou, franzindo a testa do seu jeito cínico
sem tirar um sorrisinho de canto do rosto Bebe alguma coisa, senta um pouquinho.
As meninas têm várias perguntas pra te fazer.
Perguntas? repeti, sem entender Sobre o que?
Oras, conquistar o professor mais desejado e intocado da escola não é motivo de
curiosidade? ela sorriu, encostandose na porta e me impedindo de sair. Que
absurdo, meu Deus do céu. Aquilo só podia ser uma piada. Como ela e as
amiguinhas conseguiam ser tão putas?
Você já conseguiu o que queria, agora me deixa ir embora rosnei, quase dando
um soco na fuça dela.
Acho que esqueci de te avisar que os favores que vai fazer pra mim começam hoje
ela disse, como se eu tivesse problemas mentais e só entendesse as palavras se
fossem ditas numa velocidade mais lenta que a normal E o primeiro deles é ficar até
o fim da festa. Quero ver como você se sai num ambiente completamente diferente
do qual você tá acostumada a ficar. Talvez não seja tão divertido pra você, mas
aposto que vou adorar a experiência.
Pude ver minha cara de perplexidade refletida nos olhos brilhantes de malícia de
Kelly, e soltei um suspiro derrotado ao pensar no que estava em jogo ali. Minha
relação com Brii, minha felicidade estava em risco, era um segredo perigoso demais
pra arriscar uma rebeldia contra as condições dela.
Que seja murmurei, evitando encarála e ver a alegria maldosa em seu rosto. Kelly
abriu a porta com um sorriso, finalmente me deixando sair, e eu a acompanhei até o
andar de baixo, sem acreditar na cilada na qual eu tinha acabado de cair.
A casa é sua, querida Kelly disse, cínica, quando descemos o último degrau da
grande escadaria de mármore Fique à vontade... Se conseguir.
Soltei um suspiro fúnebre enquanto me encaminhava pra qualquer lugar daquela
mansão, fazendo questão de seguir a direção oposta à de Kelly. Por onde eu
passava, via pessoas conhecidas da escola, e as poucas ainda sóbrias demonstravam
curiosidade por me ver naquele lugar. Encontrei um balcão onde um rapaz preparava
alguns drinques, e resolvi ficar por lá, já que a meia dúzia de pessoas sentadas ali
pareciam estar bêbadas demais pra sequer se mexer.
Cerveja, por favor rosnei ao barman, com a garganta coçando por álcool. Se era
pra encarar aquele martírio, que algo me ajudasse a passar o tempo mais rápido.
Não sei te dizer em quantas línguas diferentes eu xingava Kelly em pensamento por
me manter presa naquela festa horrorosa. Ela sabia muito bem que eu não
suportava ficar em lugares como aquele, e ainda me forçava a aturar aquele bando
de gente que eu já odiava quando estavam lúcidos, e conseguia odiar mais ainda
quando estavam bêbados.
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O barman logo me entregou uma latinha de cerveja, cuja metade do conteúdo eu
mandei garganta abaixo de uma vez só, sem hesitar. Sentindo o líquido gelado
descer dentro de mim, voltei a observar a bagunça na qual aquela casa tinha se
transformado. Nada parecia estar em seu lugar, ninguém parecia estar em seu juízo
perfeito... A não ser aqueles olhos.
Franzi a testa de leve, me perguntando se aquilo já era efeito da cerveja, mas era
impossível com apenas um gole. Eu ainda podia sentila descendo pela minha
garganta, eu ainda me sentia lúcida o suficiente pra saber bem o que estava vendo.
Aquilo era real, ele realmente estava ali, a poucos metros, me encarando como se
soubesse que eu estava precisando de ajuda, como se soubesse que eu não estava
ali por vontade própria. Seu olhar estava fincado no meu, extremamente sério,
intrigado, preocupado. Havia muito mais coisas naqueles olhos do que eu podia
descrever, me prendendo, me imobilizando, me retraindo.
Eu já devia imaginar que Daniel Jones estaria naquela festa.
Não sei por que fiquei tão surpresa, afinal, ele era praticamente fixo da Smithers,
todas as garotas de seu bandinho sabiam que ele era quase uma propriedade dela.
Mas parecia que naquela noite ele estava liberado de sua monogamia, porque três
garotas o rodeavam, uma mais descoberta que a outra. Daniel estava sentado num
sofá perto de onde eu estava, com os braços abertos e apoiados no encosto do
móvel, e tinha uma garota de cada lado seu, acariciando seu peito e sussurrando em
seu ouvido com sorrisos pervertidos. Fora a terceira, que tinha uma perna de cada
lado de seu quadril e estava sentada em seu colo, beijandolhe indecentemente o
pescoço. Mas apesar de tudo aquilo, era em mim que seu olhar repousava, como se
tentasse descobrir o motivo de minha presença.
Desviei meu olhar do dele, sentindo meu coração disparar. Não estava sendo nada
agradável estar sendo observada daquele jeito tão invasivo por uma pessoa como
ele, o que só aumentava minha vontade de cometer suicídio por estar ali. Dei mais
um grande gole na minha cerveja, encarando qualquer ponto ao meu redor que
estivesse distante dele, mas meus olhos se recusaram a me obedecer quando o
professor Jones se livrou das três garotas que o provocavam e caminhou
rapidamente na direção de Kelly, que passava por perto. Ele a segurou bruscamente
pelo braço, de cara fechada, e disse algo em seu ouvido, pra que a música
ensurdecedora não a impedisse de ouvilo. Afirmei pra mim mesma que aquela
conversa tensa que se desenrolava entre os dois não podia ter a mínima relação
comigo, mas ainda assim era impossível não observálos.
Pela repentina mudança de humor de Kelly, a conversa não estava sendo das
melhores. Daniel falava entusiasticamente em seu ouvido, gesticulando de leve com
uma lata de cerveja nas mãos e com a testa constantemente franzida, e Kelly o
respondia com incredulidade, com as mãos na cintura. Após um tempo de conversa,
ela, que estava de costas pra mim, virou o rosto na minha direção e me lançou um
olhar fuzilante. Daniel simplesmente disse mais algumas palavras, mantendo a
expressão séria, e se afastou rapidamente, encolhendo seus ombros largos para
poder passar pela multidão desvairada. Desviei meu olhar do dela, engolindo
depressa o resto da minha cerveja, já sem tanta certeza de que aquilo não era sobre
mim.
Os minutos foram se arrastando torturantemente, as cervejas foram descendo uma a
uma, e uns quarenta minutos depois, eu já tinha perdido a conta de quantas latinhas
tinha tomado. Tudo que eu sabia era que as coisas estavam meio confusas ao meu
redor. As pessoas pareciam se mexer em flashes de imagens, e não mais
continuamente, os sons se tornaram um pouco mais abafados, mas apesar dos
sintomas de embriaguez, eu me sentia lúcida o suficiente pra ouvir os urros de
depressão que ainda vinham de dentro de mim por ter que estar ali. Tomei um gole
da cerveja que tinha pedido, mas aquilo era como água pra mim agora, descia pela
minha garganta sem fazer a menor diferença. Só aquilo de álcool não estava
bastando pra abafar minha frustração.
Resolvi me levantar, com uma leve vertigem, e caminhei vagarosamente pelas
pessoas, tentando não deixar que a música abafada por um zunido estranho em meu
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ouvido estourasse meus tímpanos. Não demorou muito e eu encontrei uma grande
passagem para outro cômodo bem mais vazio e silencioso: a cozinha. Pouquíssimas
pessoas estavam ali, bebendo tequila com limão numa rodinha, entre elas um
menino de olhos verdes faiscantes e cabelos compridos queimados de sol. Assim que
avancei na direção de um armário, em busca de alguma bebida mais forte, notei que
seus olhos me acompanharam, brilhando de interesse. Bem que minha mãe dizia que
aquele vestido caía bem em mim.
Soltei um suspiro frustrado ao ver que naquele armário só havia louças, e enquanto
fechava suas portas, pensando no que fazer, senti alguém se aproximar de mim,
trazendo um cheiro de praia consigo. Sorri disfarçadamente e me virei na direção da
pessoa, dando de cara com aquele mesmo menino.
Tá procurando bebida? ele perguntou, com um sorriso galanteador nos lábios, e
eu assenti devagar, me perdendo sem querer naquele verde intenso Se gostar de
tequila, pode beber com a gente.
Com um leve aceno de cabeça que fez sua franja bagunçada se mexer, ele indicou o
grupo de amigos, todos meninos e igualmente bronzeados. Ergui as sobrancelhas, e
por fim assenti novamente. Tudo pela tequila, e não porque o garoto de olhos
verdes tinha um cheiro gostoso de protetor solar.
Senti o garoto me puxar pela mão até seus amigos, e sem nem fazer questão de
apresentálos, me estendeu uma dose de tequila e um gomo de limão. Nunca tinha
tomado aquilo na vida, mas me esforcei ao máximo pra parecer experiente. Espremi
o limão em meu pulso, e sem demora virei o copinho de bebida, sugando o líquido
amargo em minha pele logo em seguida. Com os olhos fortemente fechados, senti
aquela coisa arder e queimar dentro de mim, arranhando tudo por onde passava e
formando lágrimas em meus olhos. Pelo menos o forte efeito da tequila me manteria
entretida por mais algum tempo, ainda mais quando acompanhada de um par de
belos olhos esmeralda.
Mais uma pra garota aqui, Jimmy ouvi o menino pedir a um de seus amigos,
quando abri os olhos e vi tudo embaçado ao meu redor. O garoto sorriu pra mim
antes de tomar sua dose, e sem querer eu também estava sorrindo, com mais um
copinho cheio de tequila numa mão e um gomo de limão na outra.
De repente eu me sentia leve. As coisas já não me preocupavam mais, a pesada
responsabilidade sobre minhas costas tinha evaporado, e eu já nem me lembrava da
razão de estar naquela casa. Ninguém existia mais, só eu e os garotos estranhos que
riam alto e falavam besteiras ao meu lado. De repente tudo era extremamente
engraçado, de repente eu me vi rindo de qualquer coisa, mesmo quando não havia
motivo pra rir, com uma mão insistentemente apoiada no braço do garoto de olhos
verdes, que eu descobri que se chamava Paul. E desse mesmo jeito repentino,
estávamos nós dois sozinhos na cozinha: eu sentada sobre a bancada da pia, e ele
em pé ao meu lado, segurando vacilantemente a garrafa de tequila quase vazia entre
seus dedos.
Eu já não te conheço de algum lugar? ouvi ele perguntar, com a voz arrastada,
enquanto eu soltava mais uma de minhas risadas desconexas Sério, eu acho que já
te vi uma vez.
Ah, é? falei, erguendo uma sobrancelha sem tirar o sorriso débil do rosto e com a
certeza inconsciente de que tinha bebido muito mais que o aconselhável Onde?
Paul chegou mais perto, aproximando sua boca de meu ouvido, e respondeu num
sussurro:
Em algum dos meus sonhos.
Soltei uma gargalhada alta e mais lerda que o normal, demonstrando que eu ainda
tinha senso do ridículo e não tinha deixado de achar graça de cantadas baratas.
Então você deve estar sonhando agora, porque eu tenho certeza de que nunca te
vi na vida, muito menos em sonho respondi, com a voz levemente ácida de
desprezo Além do mais, eu sou comprometida.
Com quem? ele insistiu com um sorrisinho tonto, me segurando pelo braço com
um pouco mais de força que o necessário quando eu fiz menção de me levantar
Quem sabe eu não conheço o sortudo?
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Tenho certeza de que você não o conhece resmunguei, tentando me desvencilhar
dele, sem muito sucesso devido à minha fraqueza provocada pelo álcool Agora solta
meu braço, tá me machucando.
Relaxa, Amellie Paul pediu, sem me soltar, e eu já estava começando a me sentir
realmente incomodada com aquele contato físico indesejado Tá com medo de que
eu te force a fazer alguma coisa, é?
Me solta, por favor, Paul implorei, olhando firmemente em seus olhos verdes
semiabertos Eu quero ir embora.
Ir embora? Agora? Mas por quê? ele perguntou, ficando na minha frente e
fazendo pressão com seus quadris contra meus joelhos fechados pra se encaixar
entre minhas pernas Logo agora que a gente ia começar a se conhecer melhor.
Eu tô falando sério, me deixa sair daqui falei, com a voz séria e um pouco mais
alta que o normal, e quando minhas mãos foram na direção de seus ombros para
afastálo de mim, suas mãos agarraram meus pulsos, praticamente me imobilizando,
e fazendo com que a garrafa que ele segurava se espatifasse no chão Me solta!
Pára de resistir, eu sei que você também quer ele sussurrou, chegando com seu
rosto cada vez mais perto do meu apesar do meu recuo Seu namorado não precisa
saber.
Paul soltou meus pulsos e num milésimo de segundo suas duas mãos envolviam
minha nuca e me puxavam na direção dele, tornando um beijo cada vez mais
inevitável. Fechei os olhos, empurrandoo inutilmente pelo peito, e foi então que eu
me lembrei do ponto fraco dos homens, e de que ele estava perfeitamente ao
alcance dos meus joelhos.
Sem pensar duas vezes, dei uma joelhada caprichada em seus “documentos”,
imediatamente fazendoo cair ajoelhado na minha frente. Desci da bancada e
desesperadamente saí da cozinha, me afastando ao máximo daquele cômodo. Eu
sabia que não devia ter bebido tanto, era sensível demais a álcool. Pensei em explicar
minha situação à Kelly na intenção de conseguir ir embora, mas tinha certeza
absoluta de que ela faria questão de me entregar numa bandeja a Paul assim que
ficasse sabendo do acontecido. Cambaleando, acabei me trancando num cômodo do
andar de cima, e por sorte escolhi a porta certa: a do banheiro.
Me encarei no espelho, e soltei um suspiro tenso. Eu estava corada por causa do
calor e da adrenalina, levemente suada e um pouco descabelada. Lavei o rosto
calmamente com a água fria, ficando um pouco mais lúcida, e o enxuguei com a
toalha de mão, pensando em um jeito de sair daquele inferno. Minha única saída era
tentar convencer Kelly a me deixar ir embora, e determinada a fazer isso, respirei
fundo e abri a porta do banheiro, dando de cara com um garoto curvado e com cara
de dor que acabava de subir as escadas.
Você! Paul exclamou, andando depressa até mim com uma fúria repentina, e eu
voltei pra dentro do banheiro na hora. Tentei fechar a porta, mas ele se lançou
pesadamente contra ela, conseguindo entrar facilmente.
Pelo amor de Deus, pára com isso, me deixa sair! gritei, tremendo da cabeça aos
pés enquanto ele avançava na minha direção.
Agora você vai se ver comigo ele rosnou, totalmente fora de si, e me prendeu
violentamente contra a parede, forçando um beijo doloroso e segurando meus
pulsos com força. Dessa vez eu realmente não tinha como me mexer, estava
prensada entre seu corpo e o azulejo frio, e quanto mais eu me recusava a beijálo,
mais ele insistia.
Mantive meus olhos arregalados, esperando que alguém passasse pelo corredor e
ouvisse meus gritos abafados, e logo vi uma sombra passar, sem conseguir ver quem
era. O grito fino que não encontrava espaço em minha boca saía pelo meu nariz,
ainda mais alto agora que eu sabia que havia alguém ali, e me debati com mais
energia, até que subitamente o corpo de Paul não estava mais ali. Em um segundo,
ele tinha ido parar fora do banheiro, caído no chão com um baque surdo. Quando
finalmente assimilei o que tinha acontecido, vi que havia alguém me puxando pela
mão na direção do andar de baixo, e eu apenas segui, ofegante e apavorada demais
pra tomar conta de mim mesma.
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As imagens se passavam como fotos em minha mente: primeiro Kelly reclamando
vigorosamente com a pessoa que me guiava, depois a porta da mansão dos
Smithers se abrindo, a porta do carona de um carro que eu não conhecia aberta na
minha frente, e por último eu sentada dentro desse mesmo carro, enquanto a
pessoa que tinha me levado até lá entrava pela porta do motorista. Totalmente
desnorteada, franzi a testa quando vi quem estava sentado do meu lado.
Você está bem? Daniel perguntou, sem me olhar, enquanto colocava a chave na
ignição. Não respondi nada, apenas continuei observando aquela cena. Eu ainda não
acreditava que aquilo estava acontecendo, eu não acreditava que ele tinha realmente
feito aquilo tudo, só podia ser invenção da minha cabeça. Não podia ser real, não
fazia sentido ele ter me salvado.
Amellie, você tá me ouvindo? ele perguntou novamente, me encarando com
firmeza. Por um segundo, tudo ficou ainda mais confuso quando aqueles olhos Azuis
se cravaram nos meus, mas depois as coisas pareceram voltar um pouco ao seu
lugar, e eu consegui responder.
Tô murmurei, sentindo meu coração extremamente acelerado. Daniel ficou alguns
segundos em silêncio, apenas me encarando, e logo depois voltou a olhar pra frente,
balançando negativamente a cabeça em tom de desaprovação.
Você é doida de se meter num lugar desses ele disse, cerrando os olhos por causa
do farol alto de um carro que passou por nós As festas da Kelly são mais perigosas
do que parecem. Elas misturam as pessoas erradas e as desavisadas no mesmo
ambiente, fazem com que os desencaixados logo achem uma confusão da qual não
possam se livrar antes de se arrependerem.
Ele deu uma pausa, enquanto eu mantinha meus olhos bem abertos e fixos nele.
Como se quisesse reforçar mais ainda seu aviso, Daniel voltou a me encarar com uma
conclusão:
Aquela casa não é lugar pra você.
Sem esperar qualquer reação, ele arrancou com o carro, com a expressão fechada, e
logo estávamos nos afastando rapidamente da mansão. Meus olhos teimavam em
continuar presos a ele, tentando entender direito os últimos minutos. Por que ele
tinha me livrado de Paul? Por que ele discutiu com Kelly antes de sairmos? E o
principal...
Pra onde está me levando? ouvi minha própria voz perguntar, fraca, e só então
senti que minha garganta ainda ardia pelo excesso de tequila.
Eu pretendia te deixar na sua casa Daniel respondeu, sem me olhar, e sem saber
por que, eu quis que ele o fizesse Mas você é quem sabe onde prefere ficar.
Na minha casa está ótimo concordei, tentando não forçar muito minha voz, e
convenci meus olhos a se afastarem dele, pairando desatentamente sobre a barra de
meu vestido. Minha visão ficou embaçada subitamente, e em poucos segundos senti
lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Não sei por que comecei a chorar, talvez fosse
efeito da bebedeira exagerada e todos os recentes e horríveis acontecimentos.
Funguei baixinho, enxugando discretamente meu rosto com as costas das mãos e
virei meu rosto pra janela do carro.
As luzes da cidade passavam como borrões pela minha visão, e se tornaram imóveis
quando paramos num sinal vermelho. Mesmo sem poder vêlo, senti seu olhar sobre
mim, mas não o correspondi. Estava com vergonha por estar chorando, eu odiava
chorar na frente dos outros, me sentia ridícula.
Tem certeza de que está bem? ele murmurou, e eu fechei os olhos na tentativa de
parar de chorar Aquele garoto machucou você?
Senti uma lágrima insistente rolar rapidamente e passar pelo canto de minha boca,
fazendo o local arder um pouco. Passei a ponta da língua ali e senti gosto de sangue,
mas apenas fiz que não com a cabeça, respondendo à sua pergunta com um
sorrisinho miserável que ele não pôde ver. A ferida física mal podia ser comparada ao
trauma emocional que Paul tinha me causado naquela noite.
Se você não tivesse aparecido, ele teria conseguido me machucar falei baixinho, e
me virei lentamente em sua direção. Não sei por que, mas assim que meu olhar fraco
encontrou o dele, sempre tão sólido, eu me senti segura. Era como se tudo
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realmente fosse ficar bem, eu não precisava mais ter medo. Por mais ameaçador que
eu sabia que Daniel podia ser quanto à minha relação com Brii, eu também o via
como uma espécie de protetor disfarçado, sempre nos lugares certos e nas horas
certas pra me ajudar. Já era a segunda vez que ele me salvava de uma enrascada em
menos de uma semana.
Talvez não ele discordou, erguendo as sobrancelhas por um momento Você tem
muita sorte, duvido que ele conseguisse.
O sinal ficou verde e Daniel voltou a prestar atenção no trânsito. Abaixei meu olhar,
com uma minúscula sombra de um sorriso triste no rosto, e suspirei profundamente.
Aquele nem de longe parecia ser o mesmo Daniel que eu conhecia.
A sorte passa reto por mim há algum tempo eu disse, meio que pra mim mesma,
voltando a encarar meus joelhos com desânimo Tudo que tem acontecido comigo
são desastres, um atrás do outro... Um pior que o outro.
Daniel não disse nada, apenas continuou dirigindo com a expressão dura. Sucumbi
ao peso imaginário de minha cabeça, cuja dor eu ignorava há um bom tempo, e
deiteia no encosto do banco, fechando os olhos por um segundo.
E só voltei a abrilos quando a claridade do sol bateu em meu rosto, fazendo minha
visão demorar mais ainda a entrar em foco. Num quarto estranho, numa cama
estranha, e com uma voz conhecida.
Bom dia, Dawson.
Capítulo 10
Uma dor lancinante dominou minha cabeça por completo quando meu cérebro
finalmente se deu conta de que meus olhos estavam abertos. Voltei a fechálos com
força, tentando fazer com que aquela dor passasse ou pelo menos diminuísse, mas
parecia que só alguns comprimidos e o tempo a fariam regredir até sumir
completamente. Maldita tequila.
Me sentei na cama, com uma mão do lado esquerdo da cabeça, sentindo meus
cabelos levemente úmidos, e abri o olho direito para me localizar. Definitivamente eu
nunca estive naquele lugar antes, nunca tinha visto aquelas paredes e móveis
brancos, muito menos um quarto tão grande como o qual eu estava agora. Aquele
cômodo sozinho equivalia à metade da minha casa, e pelo extenso corredor que a
porta aberta revelava, o resto do apartamento era ainda maior.
E foi só então que eu vi a pessoa que havia me cumprimentado quando acordei.
Apesar de estar sentada na ponta da cama gigante e bem no meio do meu campo de
visão, eu demorei alguns segundos pra vêla, e mais alguns pra finalmente
reconhecêla. Os mesmos olhos que ontem me passavam segurança, hoje pareciam
cansados, sonolentos, e ostentavam leves olheiras arroxeadas de quem tinha
passado quase a noite toda em claro.
Abri o outro olho, já mais acostumada à claridade, e o encarei, tentando organizar
minha mente. O que eu estava fazendo naquele lugar estranho? Por que ele estava
ali?
Pensei que não fosse acordar mais – Daniel murmurou com a voz reservada,
piscando lentamente e desviando seu olhar do meu.
Que lugar é esse? – gaguejei com a testa franzida, sentindo minha voz falhar em
algumas sílabas – Você disse que ia me levar pra minha casa.
E eu ia – ele confirmou, enquanto olhava na direção da janela, e um leve sorriso
divertido surgiu em seus lábios – Mas você dormiu antes de me dizer o endereço.
Me lembrei rapidamente de alguns momentos da noite anterior. A festa de Kelly, as
doses de tequila, a brutalidade de Paul, a conversa com Daniel no carro... Tudo
parecia tão vago, tão distante, como se tivesse sido apenas um sonho muito real,
que eu me sentia estranha por ter passado por aqueles momentos de verdade.
Então por que não me acordou? – perguntei, com a testa levemente franzida em
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um tom defensivo – Por que me deixou dormir? E que lugar é esse afinal?
Você sempre acorda assim, disparando perguntas? – ele resmungou, fechando
pesadamente os olhos e mantendo um esboço de sorriso no rosto. Ele podia estar
achando graça, mas eu não.
Não, porque não costumo acordar num lugar totalmente estranho com uma pessoa
estranha me observando! – retruquei, irritada, e ele voltou a me encarar, novamente
daquele jeito firme apesar do cansaço aparente.
Ontem você acabou dormindo no carro, e eu não consegui te acordar de jeito
nenhum... E acredite, eu tentei de todas as maneiras que conheço – Daniel
respondeu, com um pouco de rispidez na voz Como não sabia seu endereço, resolvi
te trazer pra minha casa, mas tô vendo que devia ter te deixado na rua mesmo.
Meus olhos passaram rapidamente pelo quarto, analisando novamente todos os
detalhes e ignorando sua brutalidade. Então aquele era o apartamento dele. Olhei
pra baixo, e me vi enroscada num lençol, com roupas diferentes das que eu vestia
ontem. Quando finalmente a ficha caiu, soltei um grito horrorizado e me enrolei nas
cobertas, me cobrindo até o pescoço.
Eu estava de roupas íntimas. Na casa do professor Jones.
O QUE É ISSO? – berrei, em pânico, e vi que Daniel estava com os olhos
arregalados e um pouco encolhido de susto – POR QUE EU NÃO ESTOU VESTIDA?
Tá, agora você tem motivos pra disparar perguntas – ele respondeu, se
endireitando novamente, meio sem jeito – Essa parte da história foi culpa minha.
COMO É QUE É? – gritei, me abraçando firmemente – VOCÊ TIROU MINHA ROUPA
ENQUANTO EU TAVA DORMINDO?
Eu disse que tentei de várias maneiras te acordar ontem, e uma das minhas
tentativas foi te colocar debaixo do chuveiro gelado... O que não funcionou, pelo que
você pode perceber – ele explicou, um tanto encabulado – E pra isso, eu achei...
Conveniente tirar seu vestido.
CONVENIENTE? COMO VOCÊ TIRA MEU VESTIDO SEM O MEU CONSENTIMENTO E
TEM A CORAGEM DE DIZER QUE ACHOU CONVENIENTE? – exclamei, sentindo a dor
de cabeça quase explodir meus miolos, mas com raiva demais pra me acalmar.
Dá pra você falar baixo, por favor? – Daniel pediu, com a voz elevada e os olhos
fechados, acompanhados pela testa franzida de irritação – Se você tentasse ignorar
sua opinião sobre mim e não tirasse conclusões precipitadas sobre o que aconteceu
antes de me ouvir, as coisas seriam bem mais simples.
Fiquei em silêncio, mas não porque ele pediu, mas pelo choque de estar nas minhas
condições físicas atuais. Ainda me abraçando, com os músculos tensos, eu esperei até
que ele voltasse a falar, encarandoo com raiva.
Não vou dizer que não foi difícil pra mim resistir, porque foi. Eu sou homem, não
consigo evitar esse tipo de pensamento. Mas eu não fiz nada, acredite você ou não.
Acha que eu queria que você dormisse aqui? Acha que eu planejei isso, que eu fiz de
propósito pra poder dormir com você? Eu não sou santo, mas não me aproveito de
mulheres inconscientes pra conseguir o que quero. Não preciso disso.
Você não espera que eu acredite nessa sua versão fajuta dos fatos, espera? Porque
sinceramente, eu não engoli uma palavra do que você disse – rosnei, com vontade
de sair correndo dali, mas pra isso, eu precisava do meu vestido – Eu jamais devia ter
aceitado entrar num carro com você, onde eu estava com a cabeça?
Daniel desviou seu olhar do meu, olhando novamente pela janela com a expressão
derrotada. Ontem ele quase conseguiu me amolecer com sua atitude politicamente
correta, mas se agora ele queria o mesmo efeito, teria que ir muito mais além
daquela carinha de cachorro sem dono.
Nada do que eu diga ou faça vai te fazer mudar de idéia, não é? – ele murmurou,
com os olhos cerrados pela claridade e a testa pesadamente franzida sobre eles – Eu
devia ter feito tudo errado, só pra poder me sentir devidamente culpado pelas suas
acusações.
Sua voz estava carregada de frustração, demonstrando que ele estava num dos seus
raros momentos de sinceridade. Seus lábios estavam contraídos, seu maxilar estava
tenso, seus olhos estavam fixos em algum ponto lá fora, mas ainda assim eu podia
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enxergar ressentimento neles. E se ele realmente estivesse dizendo a verdade? Se ele
tinha sido capaz de fazer boas ações por mim, porque não acreditar em sua versão,
já que eu não estava consciente pra comprovar a minha?
Onde está meu vestido? – falei baixo algum tempo depois, sem conseguir esconder
meus pensamentos conflituosos na voz e na expressão confusas. Daniel se levantou,
sem olhar pra mim, e novamente eu senti falta de seu contato visual. Ele era uma
pessoa muito misteriosa pra mim, e sempre que ele me olhava, era como se eu
pudesse lêlo, decifrálo, entender o que ele estava pensando. Quando ele não me
olhava, eu ficava no escuro, sem saber onde estava pisando. Ele caminhou pra fora
do quarto e sumiu de vista por alguns segundos, até surgir novamente com meu
vestido nas mãos. Sem nem se aproximar muito e ainda evitando meu olhar, ele o
deixou sobre a beira da cama e saiu, fechando a porta atrás de si pra que eu me
trocasse. Como se ele já não tivesse me visto de calcinha e sutiã.
Continuei sentada por alguns minutos, encarando os lençóis bagunçados ao meu
redor. Meus sentimentos estavam remexidos, misturados, fundidos numa grande
bola de neve. Ainda meio em transe, fiquei de pé e peguei meu vestido, colocandoo
facilmente. Assim que o tecido deslizou pelo meu rosto, pude sentir o perfume
masculino dele impregnado na roupa. Provavelmente ele tinha ido parar ali quando
Daniel me carregou até o apartamento ontem.
Por um segundo, imaginei como teria sido pra ele ter me visto daquele jeito.
Vulnerável, indefesa, desmaiada, totalmente sob o comando dele. Me lembrei do que
ele tinha dito sobre resistir àquela situação, e estremeci de medo. Estranhamente,
não de medo dele, e sim pelo fato de não estar consciente e não ter noção do que se
passava ao meu redor. Eu odiava essa sensação. E por pior que aquilo pudesse
parecer, eu tive a intuição de que ele não tinha me feito nada de mal. Se tivesse,
estaria jogando na minha cara que conseguiu o que tanto queria, e não o contrário.
Me sentei novamente na beirada da cama e calcei meus tênis que estavam ao lado da
cama, ainda pensativa. Peguei minha bolsa, que estava sobre o criadomudo, e após
verificar rapidamente se tudo estava em seu devido lugar dentro dela, deixei o
quarto, procurando por Daniel, encontrandoo no cômodo ao lado.
Parei à porta aberta, me deparando com uma única parede azul em meio às outras
três brancas, uma cama tão grande quanto a que eu tinha dormido, já arrumada, e
um par de ombros nus e muito bem definidos. Sem querer, meu olhar se demorou
nessa última parte em especial. Daniel, que estava virado de costas pra mim
enquanto desvirava sua blusa do avesso, virou apenas a cabeça na minha direção, e
encarou meus olhos confusos com uma certa indiferença.
Se sente melhor agora que está vestida? – ele perguntou secamente, voltando sua
atenção pra blusa em suas mãos e vestindoa num segundo. Por um momento eu
quis responder que preferia estar de roupas íntimas, desde que ele também
estivesse.
Sim, muito – respondi enfatizando a última palavra, abafando a onda de calor que
subitamente percorreu meu corpo e tentando ignorar o fato de que meu vestido
cheirava maravilhosamente bem devido ao seu perfume e fazia questão de me
lembrar disso cada vez que eu respirava.
Ótimo – Daniel acrescentou com a mesma indiferença de antes, ficando de frente
pra mim – Então vamos.
Franzi a testa quando ele caminhou na minha direção, bagunçando de leve os
cabelos com as pontas dos dedos e novamente evitando meu olhar, e eu preferi não
continuar olhandoo e acabar demonstrando minha súbita hipnose na expressão.
Vamos? Pra onde? – questionei, enquanto ele passava por mim, aproximando
perigosamente seu abdômen sarado de meu corpo.
Eu vou te levar até a sua casa – ele respondeu, ainda daquele jeito duro, como se o
que ele dizia fosse totalmente óbvio Pelo que sua mãe me explicou, você mora um
pouco longe daqui, então eu pensei que uma carona de carro seria útil.
Arregalei meus olhos, sentindo minha garganta secar. Ele tinha falado com a minha
mãe? Como? Quando? Onde?
Antes que você comece com as suas perguntas, sim, eu falei com ela – ele leu
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minha mente, parecendo impaciente ao ver o choque em minha expressão – Não ia
deixála preocupada com o seu paradeiro, ela não parava de ligar pro seu celular e eu
resolvi atender. Mas fique tranqüila, eu expliquei tudo o que aconteceu e ela
acreditou na minha versão da história. Ficou bem mais calma sabendo que você está
em boas mãos.
Continuei encarandoo, sem saber o que pensar. Que versão da história seria aquela
que faria minha mãe se acalmar diante de meu sumiço? Se antes eu estava confusa,
agora meus neurônios pareciam ter dado vários nós cegos entre si. Daniel Jones
falando com a minha mãe... Dói só de tentar imaginar uma cena tão estranha. E
desde quando as mãos dele eram boas mãos? Minha mãe realmente não tinha noção
dos horrores que dizia.
Eu devo estar dentro de um sonho muito esquisito – falei, rindo da minha própria
bagunça mental – Não é possível que da noite pro dia tudo isso tenha acontecido,
que todas essas loucuras tenham se tornado realidade.
Desculpe te informar, mas essa é a mais pura verdade – Daniel disse, entediado –
Podemos ir agora? Eu ainda tenho muita coisa pra fazer hoje.
Suspirei, derrotada e com uma pontinha de irritação, e apenas assenti. Já que a casa
dele era realmente longe da minha, uma carona seria o mínimo que ele podia fazer
por mim depois de todos os misteriosos acontecimentos da noite anterior. Ele
caminhou em direção à porta, e eu apenas o segui, sem dizer uma palavra sequer e
observando discretamente a imensidão daquele apartamento. Descemos pelo
elevador, e vinte e três andares depois, estávamos na garagem. Todos os carros
estacionados ali eram incrivelmente lindos e caros, o que me fez pensar de que
mundo ele vinha. O carro mais barato ali era provavelmente a BMW preta de Daniel,
que não estava sozinha nas três vagas reservadas para seu apartamento. Uma Ferrari
vermelha e sua familiar moto amarela de todo dia ocupavam os outros dois espaços,
o que só me fez ficar ainda mais perdida.
Esses carros... São seus? – perguntei, apontando pra BMW e depois pra Ferrari,
com uma cara impagável de perplexidade.
São – Daniel respondeu, com uma normalidade deprimente – Pensei que já
conhecesse a Ferrari.
Virei minha cabeça devagar em sua direção até meus olhos incrédulos encontrarem
os dele, fingindo que eu não existia. É agora que eu descubro as câmeras ou isso
realmente não era uma pegadinha?
Daniel tirou uma chave de carro do bolso, caminhando até um dos veículos. Apertou
o botão do alarme e se dirigiu à BMW, abrindo a porta do motorista e voltando a me
olhar ao perceber que eu ainda estava imóvel. Ainda sem acreditar naquilo, caminhei
lentamente até a porta do carona, e entrei no carro em silêncio. Olhei pelo vidro para
a Ferrari estacionada ao meu lado e reconheci seu interior, me amaldiçoando
mentalmente por estar tão transtornada na noite anterior a ponto de entrar num
carro daqueles e não me lembrar disso.
Daniel deu ré e seguiu em direção à saída do estacionamento subterrâneo, logo
fazendo com que o forte sol invadisse as janelas sem piedade de meus globos
oculares. Cerrei meus olhos, incomodada, e ele estendeu uma mão até o portaluvas,
tirando lindos e visivelmente caríssimos óculos escuros de lá. Me senti tão
insignificante quanto o estofado do assento quando ele colocou os óculos, que se
ajustavam perfeitamente ao formato de seu rosto.
Onde mais você trabalha pra conseguir essas coisas todas? – perguntei, finalmente
falando após o que me pareceu uma eternidade de mudez, com a expressão
desconfiada. Foi bom saber que eu ainda não tinha me esquecido de como falar,
eram tantos acontecimentos inacreditáveis que eu provavelmente estava entrando
em estado de choque. Daniel não pareceu me ouvir, abrindo os vidros e deixando
que o vento bagunçasse nossos cabelos.
Sabia que gigolôs ganham muito bem por aqui? – ele respondeu, sem expressão
enquanto olhava pra frente, e eu gelei. Provavelmente vendo minha cara
horrorizada, já que eu não podia confirmar isso por causa de seus óculos, eu vi um
teimoso sorrisinho de canto surgir em seu rosto.
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O patrimônio de minha família me permite “conseguir essas coisas todas” – ele
disse, sendo sincero agora, e eu senti meus ombros relaxarem imediatamente com a
resposta aceitável – Sua cara de choque valeu meu dia.
Idiota – murmurei, revirando discretamente os olhos e virando meu rosto pra janela
ao meu lado.
Se você quase acreditou que eu era um gigolô, é porque eu sou muito pior que um
idiota pra você – ele falou, com um senso de humor mórbido na voz enquanto
parava num sinal vermelho.
Você nem imagina o quanto – rosnei, ficando mais irritada a cada segundo. Não
saber definir as pessoas era algo que me deixava profundamente incomodada, e
Daniel era exatamente o tipo de pessoa indefinível o suficiente pra me enfurecer. Ele
tinha várias faces, uma completamente diferente da outra, como se fossem várias
personalidades dentro de uma pessoa só. Eu conhecia bem seu jeito sujo e
desonesto, mas por vezes ele se mostrava alguém completamente oposto... Alguém
bom. Preferia me manter distante daquela encrenca, obrigada.
Eu até imagino – ele retrucou, hostil – Mas prefiro ouvir da sua boca.
Olhei pra ele com a testa franzida de deboche, e vi que ele também me encarava,
novamente com os lábios contraídos de raiva. Agora eu conseguia ver seus olhos
pelo ângulo em que a luz do sol batia nas lentes dos óculos, e vi que eles me fitavam
desafiadoramente.
Eu acho que você é um filho da puta de um pedófilo, safado, mal amado, nojento,
desprezível, broxa, ridículo, estúpido, grosso, pilantra e arrogante – eu disparei,
sustentando seu olhar com avidez. Definitivamente eu tinha feito uma descoberta:
falar mal das pessoas na cara delas era extremamente terapêutico.
Daniel continuou me encarando, parecendo não acreditar na quantidade de
xingamentos que eu tinha usado para definilo, e eu percebi que o sinal estava verde,
já que os carros à nossa frente começavam a andar. Ele pareceu não se dar conta
disso, estava inconformado demais com a minha resposta pra prestar atenção em
outra coisa. O silêncio tenso entre nós, junto com a expressão dele, de quem estava
prestes a triturar meus ossos, só aumentou a impressão de que se direitos humanos
não existissem e não dessem cadeia, eu estaria fodida.
Só quando os carros atrás de nós começaram a buzinar, Daniel suspirou lenta e
profundamente, contendose, e voltou a olhar pra frente, desfazendo nosso contato
visual intenso com dificuldade. Arrancou velozmente, fazendo os carros que
buzinavam atrás de nós comerem poeira, e passou a segurar o volante com força,
controlandose pra não me quebrar em pedacinhos. Ele podia estar querendo muito,
mas não era doido de tentar encostar um dedo em mim.
Chegamos sem demora à minha casa graças à direção acelerada dele, sem dizer mais
nenhuma palavra pelo caminho. Assim que ele estacionou na frente de minha casa,
abri a porta, sem ousar olhálo, e quando estava prestes a sair do carro, ouvi sua voz
dizer, extremamente trêmula de ódio:
Não precisa se preocupar, nunca mais vou olhar na sua cara.
Virei meu rosto na direção dele, e vi que ele encarava algum ponto à sua frente, com
os maxilares tensos e as veias do pescoço levemente saltadas. Suas mãos agarravam
o volante, perigosamente fortes, o que só tornava sua ira ainda mais visível. Parecia
que eu realmente tinha conseguido o que tanto queria, me livrar dele de uma vez
por todas.
Ótimo – murmurei, esperando a alegria imensa me dominar por aquele momento
tão perfeito, que curiosamente parecia não querer chegar. Engoli em seco, sentindo
meu olhar se tornar inseguro enquanto viajava por suas feições fechadas, e num
movimento brusco, saí do carro, batendo a porta com uma certa força. Nem bem eu
o fiz e Daniel já estava longe, acelerando assustadoramente depressa e fazendo meus
cabelos voarem na direção do vento.
Observei a BMW se afastar rapidamente, sentindo uma coisa esquisita dentro de
mim. Suspirei profundamente, agora com o olhar vago em meus pés, tentando
reprimir aquela coisa ruim que insistia em se alastrar pelo meu corpo, me
desanimando por completo.
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Eu não podia estar triste, ele finalmente estava fora do meu caminho! Aquilo era
tudo o que eu sempre quis desde a primeira vez em que o vi, e agora que tinha
finalmente acontecido, eu não podia admitir que meu único sentimento fosse de
remorso. Tudo que eu conseguia sentir era peso na consciência, decepção comigo
mesma por ter sido injusta com uma pessoa que talvez não merecesse tanta
crueldade. Afinal de contas, se não fosse por ele, os estragos de Paul teriam sido
imensuravelmente piores.
Fechei os olhos com força por um momento, desanuviando minha mente e me
esforçando para parecer despreocupada. Me virei na direção de minha casa, tentando
fingir que estava tudo bem, e a cada passo eu ficava mais convicta de uma coisa.
Não estava tudo bem.
Acordei no dia seguinte com a sensação de que tinha acabado de pegar no sono.
Após um longo dia de explicações e adaptações dos verdadeiros acontecimentos pra
minha mãe, que estava aflita me esperando chegar, eu passei a noite inteira rolando
na cama, inquieta. Nada parecia fazer sentido, nada parecia ser coerente, tudo estava
desconexo, bagunçado, confuso. Por mais que eu tentasse compreender a insistente
culpa dentro de mim, não conseguia encontrar uma explicação que prestasse.
Me levantei antes mesmo que o relógio despertasse, anunciando que eram 6 da
manhã de segundafeira, e fui tomar banho, com a falsa crença de que uma ducha
quente fosse melhorar meu humor. Uns trinta minutos depois, eu já estava me
vestindo desanimadamente, e logo depois penteando meus cabelos, de frente pro
espelho. Assim que terminei, encarei meus próprios olhos, cansados pela noite em
claro, e decidi que ia terminar com aquela angústia. Eu precisava pedir desculpas a
ele, precisava pelo menos tentar. Só assim eu conseguiria afastar aquele mal estar de
mim.
Tomei meu cafédamanhã em silêncio, só respondendo uma coisa ou outra quando
mamãe perguntava, e logo estávamos estacionando na frente da escola. Um arrepio
percorreu minha espinha enquanto caminhava pela entrada do colégio, e meus olhos
logo encontraram uma Kimberlly tensa me encarando de volta.
Oi, Mell – ela murmurou, com um sorriso triste, e me abraçou carinhosamente. Ela
sabia sobre a festa no sábado, eu tinha lhe contado tudo por telefone no dia
anterior. Bem, quase tudo, só preferi deixar de lado a parte que envolvia meu
comportamento estranhamente triste por causa do Jones.
Parece que eu não te vejo há anos – suspirei, abraçandoa com mais força.
É mesmo – ela concordou, se afastando alguns segundos depois pra poder me
olhar – Você tá tão abatida... Tem certeza de que está bem?
Tenho – menti, empurrando a verdade garganta abaixo – Só tô um pouco cansada.
Nos sentamos em nosso lugar de sempre, esperando até que o sinal tocasse, e senti
Kimberlly me cutucar discretamente enquanto conversávamos. Me virei na direção
que ela me indicou, e só quando meu olhar encontrou o dele, me lembrei de que Brii
existia. Me senti estranha quando ele sorriu pra mim, especialmente radiante como
em toda segundafeira, e tudo que consegui fazer foi esboçar um sorriso fraco de
volta. Senti como se não merecesse aquele sorriso dele.
Bom dia, Macarenhas ele cumprimentou quando passou por nós, como sempre
fazia, e logo depois se dirigindo a mim e abaixando seu tom de voz – Bom dia,
pequena.
Bom dia – gaguejei, mal conseguindo sustentar seu olhar alegre. Parecendo alheio
a qualquer sinal de tristeza meu, Brii seguiu até a sala dos professores, e assim que o
vi fechar a porta atrás de si e sumir, soltei o ar que estava preso em meus pulmões,
finalmente relaxando.
Você vai contar a ele? – ouvi a voz cuidadosa de Kimberlly perguntar, e apenas fiz
que não com a cabeça, sem olhála. Contar a Brii o que quer que fosse não estava
nos meus planos, ele não merecia saber das ameaças de Kelly, muito menos de nada
que se passava na minha mente. Não queria ser injustamente cruel com mais
alguém.
As três primeiras aulas se arrastaram morbidamente. Eu mal conseguia prestar
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atenção na matéria, minhas mãos estavam trêmulas pra copiar, um aperto na boca
do estômago me impedia de desviar meus pensamentos daquela tortura repentina.
Por mais que eu respirasse fundo e fechasse os olhos por alguns segundos, meu mal
estar só se ausentava momentaneamente, voltando ainda pior logo em seguida.
No intervalo, desci as escadas em silêncio com Kimberlly, querendo logo que aquele
dia acabasse. Ela parecia entender minha introversão e se manteve quieta, me
deixando pensar sem interrupções. Como se houvesse algum jeito de interromper
minha aflição infundada. Sentamos no mesmo canto de sempre, e enquanto ela
terminava uns exercícios de matemática, eu observava vagamente o fluxo de pessoas
pelo pátio, até meus olhos novamente encontrarem Brii.
Ele andava apressado em direção à saída da escola, falando energicamente ao celular
com a expressão pesadamente preocupada. Senti uma fisgada no peito, como se
fosse um súbito mau pressentimento, e ele logo sumiu de vista, me deixando ainda
mais agoniada. Pensei em comentar com Kimberlly, mas eu realmente não estava a
fim de falar hoje e preferi esperar até saber do que se tratava. Obviamente, eu
pretendia me inteirar da situação hoje mesmo, se ele voltasse ao colégio.
Vinte minutos depois, o sinal tocou, indicando o término do intervalo, e nós nos
levantamos devagar. Logo estávamos subindo as escadas lenta e silenciosamente, e
me surpreendi quando ouvi alguém sussurrar no meu ouvido, vindo por trás de
mim.
Vem comigo.
Não precisei olhar pra trás pra reconhecer a voz de Brii, e lancei um último sorriso
fraco pra Kimberlly antes de acompanhálo até uma sala vazia no segundo andar.
Ninguém parecia se dar conta de nossa existência, ocupados demais com suas
próprias vidas, por isso não hesitei em entrar naquela sala sozinha com ele.
Que saudade de você – ele murmurou, sorrindo de um jeito calmo e me dando um
beijo delicado, que fez meu sangue formigar daquele jeito de sempre nas veias. Estar
perto dele me trouxe uma sensação temporária de alívio, e me permitiu sorrir
sinceramente, mesmo que um sorriso tímido.
Também senti sua falta – menti, me sentindo novamente desmerecedora daquele
carinho por não ter pensado nele uma única vez desde que acordei no dia anterior.
Passei meus braços ao redor de seu pescoço, e Brii apenas me abraçou apertado,
sem me beijar novamente. Agradeci mentalmente a gentileza dele por não me forçar
a encarar seus olhos e ver minhas mentiras refletidas neles, e respirei profundamente
seu perfume, que hoje cheirava levemente a...
Formol? – indaguei, franzindo a testa e me afastando de leve pra poder ver seu
rosto.
Brii riu baixinho, fechando os olhos por um momento.
Desculpe, eu não imaginei que o cheiro estivesse tão forte a ponto de você notar –
ele disse, ainda sorrindo, mas me olhando calmamente – Talvez seja por isso que eu
não goste de dar aulas nos laboratórios.
Como assim? – perguntei, sentindo meu coração acelerar um pouquinho – Você
deu aulas práticas hoje?
É, o Jones não pôde vir pra escola e eu o substituí – ele suspirou, entortando a
boca – Aquele doido enfiou a BMW num poste ontem de manhã.
Mesmo sem poder me ver, soube que empalideci. Senti todo o meu sangue
simplesmente evaporar e meu coração congelar simultaneamente. Minha expressão
estava totalmente chocada, perplexa, apavorada. O mau pressentimento estava
explicado.
Ah... É? – gaguejei, tentando não parecer tão horrorizada quanto eu realmente
estava – E ccomo ele tá?
Brii pareceu não notar minha agonia e continuou sorrindo de um jeito divertido ao
responder:
Melhor do que nós, pode apostar. Ele não se machucou muito, apenas bateu a
cabeça com força no volante enquanto tentava frear e ficou desacordado por alguns
minutos. Acabei de voltar do hospital onde ele está em observação, falei com o
médico e com o próprio Jones, e ele me disse que amanhã mesmo poderá voltar a
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dar aulas.
A imagem de Daniel batendo com o carro surgiu em minha mente sem esforço,
seguida pela cena de vários paramédicos imobilizandoo na maca enquanto ainda
estava desacordado. Um desespero enorme subiu pela minha garganta, fazendo
lágrimas se formarem em meus olhos, mas eu fiz o máximo de força pra contêlas,
pelo menos enquanto estava na frente de Brii.
Eu... Tenho que ir... Me lembrei de que tenho uma prova agora – foi tudo que
consegui gaguejar, me afastando dele devagar e evitando seus olhos – Depois a
gente se vê.
Abri a porta da sala de aula, deixando Brii totalmente confuso, e subi correndo as
escadas, já mais vazias, até o meu andar. Mal conseguindo conter as lágrimas e com
as pernas perigosamente trêmulas, me enfiei num dos cubículos do banheiro
feminino, e só depois de trancada e sentada no vaso sanitário fechado, finalmente caí
num choro inexplicável.
Tudo que eu conseguia sentir era culpa. Nojo de mim mesma, repulsa, remorso, um
peso imenso me impedia de respirar, me afundando cada vez mais num choro que
parecia não ter fim. Sufocando meus soluços com as mãos cobrindo a boca, eu sentia
meu rosto lavado de lágrimas esquentar à medida que o ar me faltava, mas não
encontrava força pra respirar.
Quando pensei que fosse desmaiar por falta de oxigênio, meus pulmões entraram no
modo de emergência, puxando o ar pra dentro de si em inúmeras inspirações
rápidas. Meus olhos não paravam de liberar lágrimas, e meu nariz começava a ficar
congestionado, mas eu não me importava. As imagens daquele sábado vieram
imediatamente à tona: minhas palavras rudes, o olhar furioso de Daniel, seus dedos
apertando o volante com força, trêmulos de ódio, sua arrancada bruta quando foi
embora... Tudo estava muito claro. Todos os pensamentos que ocupavam minha
mente se resumiam a uma única frase, que meu cérebro insistia em repetir sem
parar.
Se Daniel estava numa cama de hospital nesse exato momento, por melhor que
fosse seu estado, era culpa minha.
Capítulo 11
A professora Sullivan falava entusiasticamente algo sobre Platão, mas sua voz parecia
distante de mim naquele momento. Meus olhos ainda estavam inchados e
avermelhados, assim como meu nariz, pelo choro de dez minutos atrás, mas a aula
de filosofia parecia estar sendo mais interessante para o resto da classe do que minha
cara de enterro. Felizmente.
Meu corpo estava jogado de qualquer jeito sobre a cadeira, e meu rosto descansava
pesadamente sobre um punho, apoiado por um cotovelo sobre a mesa. Com o olhar
vagando pelas linhas do caderno, eu ainda podia sentir a sensação de culpa presa em
minha garganta, como se minha dor de cabeça pulsante já não se encarregasse de
me castigar o suficiente.
Quando a srta. Sullivan deixou a classe após sua longa aula dupla, notei que uma
pessoa se aproximou da minha carteira, e ergui meu olhar pra ver quem era. Meus
parabéns ao filósofo que disse que as coisas sempre podiam piorar, se é que Murphy
era um. Filosofia não era meu forte mesmo.
Eu só queria te falar que nosso trato está desfeito – Kelly murmurou, parecendo
tão irritada por estar me dizendo aquilo que evitava me olhar – Pode ficar tranqüila,
aquelas fotos nem existem mais.
Franzi levemente a testa, sem entender por que ela estava fazendo aquilo, mas antes
que eu pudesse abrir a boca, ela já se afastava em direção à sua carteira. A única
possibilidade que me veio à cabeça me fez afundar ainda mais em minha própria
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depressão. Só podia ter dedo dele naquela história.
Durante a última aula, eu continuei mergulhada em meu desânimo, e mal conversei
com Kimberlly na hora da saída. Também não vi Brii, que provavelmente devia estar
atrapalhado no laboratório, e assim que avistei o carro de mamãe na saída da escola,
corri em sua direção. Eu precisava sair daquele lugar e ficar sozinha no meu quarto o
mais rápido possível.
Passei o dia naquele mesmo humor, só deixando meu quarto pra comer um pouco.
Quando deitei na cama após o jantar, o cansaço de uma noite mal dormida me
venceu, e eu dormi pesadamente, apesar dos insistentes pesadelos. Todos
previsíveis, envolvendo o acidente de Daniel.
Acordei no dia seguinte, um pouco menos cansada, e segui minha rotina matinal até
chegar à escola. Apreensiva pra saber se ele viria hoje, eu me sentei ao lado de
Kimberlly, como sempre, e não desgrudei meus olhos da entrada do colégio. Para
minha sorte, não demorou muito e Brii chegou, conversando animadamente com
alguém, que não era ninguém mais, ninguém menos que o professor Jones.
Meus olhos se cravaram nele, que parecia completamente saudável, fora o pequeno
curativo em sua testa. Não estava pálido, muito menos abatido. Parecia até bastante
animado, rindo enquanto conversava, e andava normalmente, sem sinais de lesões
ou fraqueza. Um alívio imenso me dominou, mas não consegui relaxar por completo,
porque logo os olhos de Brii estavam nos meus, e ele sorriu fraco, parecendo
ressentido com a desculpa brusca de ontem. Tudo que me faltava era ficar mal com
ele, sem dúvida.
O dia se passou tediosamente, fora minha inquietação. Depois do intervalo, arrastei
Brii para uma sala que sempre ficava vazia no térreo e me desculpei pela pressa do
dia anterior, restabelecendo a calma em nossa relação. Apesar de tudo estar se
endireitando novamente, eu ainda estava determinada a pedir desculpas a Daniel e
me ver livre daquela horrível sensação de culpa, mas só a hipótese de ter aquele
olhar enfurecido no meu já me fazia tremer da cabeça aos pés. Eu não tive coragem
de procurálo naquele dia, muito menos no dia seguinte, e só voltei a vêlo quando
minha aula de biologia laboratório chegou, mais rápido do que eu gostaria.
Entrei no laboratório, tensa apesar dos sempre agradáveis minutos sozinha com Brii
depois de sua aula, e vi o professor Jones cercado por Kelly e suas amigas. Ele estava
encostado na lousa, com os braços cruzados na altura do peito e um sorriso
charmoso, conversando amigavelmente com as meninas. Notei que ele já não usava
mais o curativo na testa, e fiquei feliz por saber que ele estava fisicamente
recuperado do acidente, que de certa forma, eu causara. Me sentei no lugar de
sempre, tentando em vão não observálo demais durante a aula, mas olhar pra ele
ou não era indiferente, já que seu rosto não se virou uma vez sequer na minha
direção. Daniel me fez sentir como se eu nem estivesse ali, coisa que ele sabia fazer e
muito bem. O que eu estava esperando dele afinal? Que ele viesse me agradecer por
têlo enfurecido tanto a ponto de fazêlo ferrar com sua BMW? Ele tinha dito que
nunca mais olharia na minha cara, e estava cumprindo com sua palavra.
Após o que me pareceu uma eternidade, o sinal tocou, anunciando o fim da aula, e
todos seguiram em direção à mesa dele para lhe entregar seus relatórios. Diante da
pressa do resto da classe para ir embora, eu apenas continuei sentada, encarando
meu relatório feito pela metade com muito esforço, até me encontrar sozinha com
Daniel no laboratório. Previsivelmente, ele apenas continuou sentado em sua cadeira,
organizando os relatórios recémentregues, com a expressão concentrada.
Respirei fundo, me enchendo de uma falsa coragem, e fiquei de pé para entregar
meu relatório. Senti a folha tremer de leve em minhas mãos, denunciando meu
nervosismo, mas continuei caminhando devagar até alcançar sua grande mesa. Assim
que parei à sua frente, notei seu olhar se desviar brevemente dos relatórios e se
erguer quase que imperceptivelmente até a altura de minha cintura, o bastante
apenas pra me reconhecer e voltar a ignorar minha presença. Respirei fundo
novamente, com o coração se debatendo dentro do peito.
Professor... – comecei com a voz fraca, encarando sua cabeça baixa, e não tive
coragem de terminar. Minhas lágrimas estavam lá, como no dia anterior, sem que eu
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sequer permitisse ou as quisesse ali e tornando minha voz embargada, mas ele não
pareceu se importar. Arrancou meu relatório de minhas mãos de um jeito brusco,
ainda sem me olhar, e o colocou de qualquer jeito em sua pasta. Fechoua, guardou
a em sua mochila e pôsse de pé, já com uma de suas alças sobre o ombro e
caminhando determinadamente até a saída do laboratório.
Me desculpe – ouvi minha voz dizer, num sussurro esganiçado, e o silêncio
substituiu o barulho de seus passos, denunciando que ele tinha parado de andar.
Mesmo sem vêlo, pude sentilo ainda presente, mas não tive coragem de me virar
para encarálo e apenas esperei alguma reação sua, que demorou eternos segundos
para finalmente vir.
Não perca seu tempo – a voz fria dele rosnou, ecoando pelas paredes do
laboratório, tão silencioso que me permitia ouvir os batimentos acelerados de meu
coração com nitidez. Fechei os olhos com força, tentando parar de chorar por uma
tristeza profunda que eu mal conseguia entender, enquanto seus passos revelavam
que ele tinha me deixado a sós com minha culpa esmagadora.
Naquela semana, eu não fui à casa de Brii. Segundo ele, Daniel o convidou para uma
viagem de fim de semana com alguns amigos no iate de sua família, para comemorar
a sorte dele por ter saído ileso de seu acidente. Brii mencionou o nome da cidade
litorânea para onde eles iriam, que era por sinal onde ficava a casa de praia dos
Jones, mas eu estava com a cabeça carregada demais pra prestar atenção nesse
detalhe. Estranhamente agradecida por não ter que ir à sua casa na sexta fingir que
estava tudo bem comigo, e com a promessa de que Brii me recompensaria
devidamente na semana seguinte, eu, já apresentada ao poder financeiro do
professor Jones, apenas o desejei boa viagem com um sorriso terno.
Os pesadelos culposos continuaram, me perturbando noite após noite. Eu ainda não
tinha contado a ninguém sobre esse meu complexo de culpa doentio, mas os sinais
de desânimo eram notáveis. Durante um passeio com Kimberlly naquele domingo,
ela perguntou o que estava me incomodando, e mesmo que por um momento eu
pensasse na hipótese de contar a ela, preferi dar a desculpa esfarrapada de que
estava com insônia. Não deixava de ser verdade, porque ultimamente o sono
passava reto por mim.
A semana começou outra vez, igualmente cinzenta e angustiante. Daniel continuou
fingindo que eu não existia, mas em compensação, Brii se tornava cada dia mais
grudento. Não sei se era porque estávamos num relativo jejum, ou se eu tinha sido
traída durante a viagem no fim de semana e ele também estava sofrendo de culpa,
querendo me recompensar com todo o seu carinho incondicional. A última hipótese
só me ajudava a ficar ainda mais deprimida, então eu preferia acreditar na primeira,
me fazia sentir necessária pra alguém. Mesmo que esse alguém estivesse me
sufocando inconscientemente.
Diferente da semana anterior, dessa vez a aula de biologia laboratório demorou a
chegar. E quando eu me dei conta de que ela finalmente havia chegado, já estava
caminhando na direção de uma das bancadas, com o olhar apreensivo nele. Daniel
usava uma camisa pólo listrada de azul marinho e branco, calças jeans num tom
escuro de azul, e tênis tão brancos que faziam os olhos doerem se eu os observasse
por muito tempo. Terrível, absurda e irrevogavelmente lindo.
Novamente, ele explicou como a aula procederia sem me olhar, e dessa vez eu já
estava mais preparada pra isso. Consegui responder todas as questões essa semana,
recuperando os velhos hábitos,e quando o sinal tocou, deixei meu relatório onde
todos os alunos colocaram os seus, numa pilha sobre a bancada mais próxima da
porta. O que eu interpretei como uma tentativa dele de bloquear qualquer tipo de
diálogo comigo. Mas aquilo não bastaria pra me afastar. Eu precisava continuar
tentando, até finalmente me ver livre daquele fardo que parecia me roer por dentro a
cada dia.
De início, pensei em não falar com ele. Apenas guardei meu material, ainda um pouco
indecisa, e fui uma das últimas a deixar o laboratório, com os braços firmemente
cruzados na altura do peito e andando devagar. Mas me forcei a parar apenas alguns
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passos depois, após ser facilmente ultrapassada por meus colegas de classe ainda
restantes, e juntando toda a minha coragem, dei meiavolta e andei na direção do
laboratório, dessa vez determinadamente.
Toda a minha bravura sumiu assim que parei à porta, e não tive coragem de entrar.
Dali eu podia ver o professor Jones em pé de costas pra mim, organizando e
colocando a pilha de relatórios recémentregues em sua pasta. Mordi o lábio inferior,
hesitante, mas antes que eu pudesse tomar alguma decisão, ele ergueu a cabeça pra
frente e viroua na minha direção, como se tivesse notado minha presença.
Bastou um segundo do olhar dele no meu pra que eu me lembrasse a razão de estar
ali, e assim que ele voltou a olhar pra bancada, resolvi ser realmente enérgica e
mudar aquela situação. Minha mente ainda estava um pouco embaralhada, mas eu
logo tratei de organizála.
Por quanto tempo você pretende continuar me evitando? – foi tudo que consegui
dizer, finalmente entrando no laboratório e parando ao lado dele. Daniel não me
olhou, continuou a organizar os relatórios dentro de sua pasta, fingindo interesse
neles. Mas eu podia ver que seu olhar era vago, talvez incomodado com a minha
observação. Continuei insistindo, apesar da coragem um pouco mais vacilante agora,
assim como a firmeza de minhas pernas.
Mesmo que você finja não me notar, eu vou dizer o que tenho pra dizer – comecei,
indo direto ao ponto e ficando ainda mais irritada pela permanente falta de
expressão no rosto dele – Você pode não querer me ouvir, mas pelo menos eu vou
estar com a consciência limpa por ter cumprido meu dever.
Bela escolha de palavras, Amellie. Realmente, não podia ser melhor. Em matéria de
maturidade, eu parecia uma criancinha banguela de cinco anos mal acostumada a
ouvir nãos, do tipo que faz escândalo nas lojas de brinquedo. Daniel não fez nada,
apenas continuou olhando na direção de sua pasta enquanto seus lábios se
contraíam cada vez mais, demonstrando o nível crescente de sua raiva. Eu o
observava atentamente, ansiosa por um sinal de derrota dele, mas como Daniel não
facilitou as coisas e se manteve quieto, eu prossegui.
Eu sei que duvidei de você e te acusei de coisas horríveis – recomecei, tentando
fazer com minha voz parecesse calma, e ele suspirou profundamente – E também
imagino que seu acidente tenha sido, em parte, minha culpa. Você não sabe o
quanto eu me arrependo por tudo isso, e sei que não mereço o que estou pedindo,
mas... Por favor, me desculpe.
Por alguns segundos, ele continuou me ignorando, e ficando cada vez mais nervosa,
não desisti. Eu não pretendia sair daquele laboratório sem pelo menos ouvir uma
palavra ou receber um olhar dele.
Parabéns, já pediu suas desculpas ridículas – Daniel suspirou, longos segundos
depois, ríspido – Pode ir embora agora.
Fechei os olhos por um instante, sentindo a breve dor de um fora, e voltei a encará
lo, tentando esconder o alívio por ter conseguido arrancar nem que fossem palavras
duras dele. Talvez não fosse dos melhores, mas definitivamente aquilo já era um
começo.
Eu entendo perfeitamente a sua grosseria e sei que até mereço ser tratada assim,
mas também quero que entenda que me arrependi e estou aqui me desculpando –
falei, com a voz ainda mais serena – Eu sei que não fui justa com você, sei que
peguei pesado.
Você já pegou pesado comigo antes – ele disse com a voz fria feito gelo, apoiando
um de seus braços sobre o balcão e propositalmente deixando à mostra a cicatriz
que minha caneta havia deixado há algum tempo atrás – Não pareceu tão
arrependida na época.
Senti uma pontada de culpa pela lembrança que ele havia trazido à tona, e de alegria
ao mesmo tempo por estar conseguindo fazêlo falar. Suspirei de leve, concluindo
mais firmemente a cada resposta que eu merecia ser visualmente ignorada por ele.
Ainda era inegável que ele tinha pedido por aquele golpe, mas a cicatriz agora me
causava um pouquinho de remorso.
Você também não parecia se preocupar comigo naquela época – eu retruquei,
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pensando alto, e notei que seus olhos se tornaram reflexivos e se ergueram um
pouco dos relatórios – Pelo menos não como agora.
Porque você não se metia em encrencas – ele rebateu, se recompondo e voltando a
fingir interesse em sua pasta – Definitivamente não como agora.
Você costumava ser a minha única encrenca – comentei, com um sorriso discreto e
encarandoo vagamente – Nunca pensei que você seria a pessoa que me tiraria delas.
O que você quer de mim afinal? – Daniel explodiu de repente, socando a superfície
da bancada e finalmente me olhando com a expressão conflituosa – Primeiro você diz
que me odeia mortalmente, depois vem me pedir desculpas toda arrependida e
nostálgica... Vê se me esquece, suas crises bipolares não me interessam!
Franzi a testa, incrédula com as acusações dele, enquanto o via voltar sua atenção
pros relatórios. Meu cérebro funcionava disparado, ecoando incessantemente as
palavras rudes dele. Quer saber? Já chega de ser boazinha, não estava adiantando
porcaria nenhuma bancar a psicóloga com um homem ignorante como Daniel.
Eu é que te pergunto, o que você quer de mim? – exclamei, tão furiosa quanto ele,
ou até mais – Vivia me humilhando, se fazendo de gostosão na frente dos outros,
mas na verdade você lambia o chão que eu pisava! Tudo que você sempre quis foi
que eu te desse bola, coisa que você nunca conseguiu!
Se enxerga, garota, o mundo não gira em torno da porra do seu umbigo! – ele
retrucou, com a voz alta – Você só liga pra si mesma, pros seus sentimentos, pras
suas vontades, pros seus interesses! Você se faz de santa, mas no fundo você não
passa de uma menininha fútil, metida e egoísta que só sabe reclamar e criticar os
outros!
Eu não admito que você fale desse jeito comigo! – quase berrei, sentindo lágrimas
involuntárias e inconvenientes se formarem em meus olhos ao ouvilo dizer tudo
aquilo de mim com a voz carregada de sinceridade e agressividade. Ergui minha mão
na direção de seu rosto pra lhe dar um tapa, mas na metade do caminho ele agarrou
meu pulso e me impediu de concluir a ação.
Estou cansado de você – ele rosnou, olhando fundo nos meus olhos, e de repente
sua expressão se tornou mais amena, com um toque de surpresa por me ver chorar.
Sua respiração quente batia em meu rosto, suavemente ofegante pela discussão, e
só então me dei conta de que tínhamos nos aproximado desconfortavelmente sem
perceber. Tentei não parecer tão submissa àquele olhar, tão próximo de mim que eu
podia ver as oscilações de tamanho de sua pupila, mas pelo visto não estava dando
certo. Seu perfume invadia meus pulmões sem pedir permissão, misturados ao seu
hálito que cheirava levemente a canela. Por mais estranho que possa parecer, a
combinação dos dois aromas era tão boa que eu me sentia entorpecida.
Continuamos por longos segundos nos encarando, assimilando nossa proximidade
física perigosa, ou pelo menos tentando.
Nitidamente derrotado, pelo que sua expressão facial demonstrava, Daniel
aproximou seu rosto ainda mais do meu, e sem conseguir pensar, eu não o impedi
de resumir a distância entre nós a pouquíssimos centímetros. Seus olhos estavam
baixos na direção de meus lábios, e sua testa estava um pouco franzida, tentando
encontrar algum vestígio de sua determinação a me evitar sem parecer ter muito
sucesso. Involuntariamente, eu também passei a encarar os lábios dele,
extremamente convidativos, me sentindo como se estivesse presa numa bolha com
ele, distantes da realidade. Era uma atmosfera totalmente surreal.
Senti a mão livre dele envolver meu rosto devagar, e completamente entregue ao
momento, permiti que ele vencesse a distância entre nós e me beijasse. Assim que
seus lábios tocaram os meus, inúmeras e pequenas explosões começaram a
acontecer dentro de mim, em cada centímetro do meu corpo, acelerando meu
coração e tornando meus sentidos ainda mais aguçados. Ele soltou meu pulso, e eu
deslizei minhas mãos por seus ombros devagar, sentindo um desejo incontrolável
arder por baixo de minha pele. Um desejo que havia sido como uma bombarelógio
dentro de mim durante todos aqueles últimos dias agoniantes, se escondendo atrás
de uma falsa culpa e apenas esperando o momento certo para explodir.
A outra mão de Daniel envolveu firmemente o outro lado do meu rosto, me
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Capítulo 12
Ei, acorda!
Pulei de susto, abrindo os olhos devagar e me deparando com Kimberlly de pé à
minha frente, me cutucando e rindo. Eu estava sentada no mesmo lugar onde
costumávamos esperar o sinal tocar e o período de aulas começar, mas naquele dia
eu milagrosamente tinha chegado mais cedo que ela.
Oi – suspirei, toda encolhida e abraçada às minhas pernas, sentindo minha
garganta arranhar e fazendo com que meu cumprimento não passasse de um
sussurro esganiçado. Minha voz costumava ficar uma merda de manhã.
Pelo visto, sua mãe tem sido cada vez mais pontual, conseguiu fazer você chegar
antes de mim – ela comentou, parecendo bem humorada como sempre, mas logo
franziu a testa, contagiada por minha expressão cansada Que foi, não dormiu
direito outra vez?
Estremeci de leve, ainda sonolenta, ao me lembrar da noite anterior. O dia anterior
em si tinha sido horripilante. Todo aquele... Acidente no laboratório se repetia como
um filme em minha cabeça, um disco arranhado. Não passou de um deslize, uma
falha, coisa de momento, disso eu tinha certeza absoluta. E não aconteceria de novo.
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Jamais. Brii não merecia aquilo, muito menos o safado do Daniel.
Acho que fui contaminada por um zumbi e não sei – murmurei desanimadamente,
apoiando meu queixo nos joelhos e observando vagamente o pátio vazio – Tô
ficando incapaz de dormir bem.
Kimberllysoltou um risinho divertido, que eu ignorei. Meu humor não estava macio o
suficiente pra esboçar qualquer tipo de alegria. Alguns minutos de silêncio depois,
nos quais eu não pude deixar de me sentir mal por ser involuntariamente ranzinza
com Kimberlly, ouvi vozes masculinas vindas da entrada da escola, e nem precisei
olhar pra saber a quem pertenciam. Às formas humanas de meu melhor sonho e
meu pior pesadelo, claro.
Bom dia, meninas – Brii sorriu ao passar por nós, parecendo bastante animado, o
que fez meu estômago revirar. Ninguém parecia notar o incômodo insuportável que
se alojara dentro de mim e parecia não querer mais me deixar.
Pelo menos eu não precisei encarar os olhos extremamente culposos de Daniel
quando sorri fraco para Brii, porque mesmo estando bem ao lado do amigo, ele
pareceu não querer me olhar também. Desviou sua atenção para algo em seus tênis,
que a julgar pela inexpressividade em seu rosto, deviam ser bastante
desinteressantes. Agradeci mentalmente por não notar nenhum sinal de que ele
tinha contado algo a Brii, e por ele parecer concordar como que telepaticamente com
meu plano de ignorarmos um ao outro. Bom, não custava nada tentar manter meu
corpo insanamente desejoso do dele longe do laboratório.
O dia se arrastou preguiçosamente, fermentando meus pensamentos com a falta de
concentração. Cada vez que eu piscava, a imagem dos olhos Azuis de Daniel vinha à
minha mente, penetrantes como adagas. Por várias vezes, senti meus pêlos da nuca
se arrepiarem só de lembrar daquela sensação viciante das mãos dele passeando pelo
meu corpo, firmes e determinadas, dos lábios dele me enfeitiçando, de sua respiração
entrecortada batendo rudemente em meu rosto e me provocando ainda mais. E
quando eu me dava conta de que alguns minutos de aula tinham se passado sem
que eu prestasse atenção, meu coração desenfreado custava a se acalmar.
Definitivamente, eu só podia estar enlouquecendo.
No intervalo, Brii não deu sinal de vida. Como nenhum outro professor apareceu (pra
minha alegria, já que havia um em especial que eu adoraria evitar) e a porta da sala
dos professores se manteve fechada, deduzi que eles estavam em alguma espécie de
reunião. Não estava dando pra reclamar muito da minha sorte, pelo menos, já que
todas as atitudes das pessoas ao meu redor pareciam conspirar ao meu favor.
Kimberlly teve uma crise forte de cólicas e foi embora na segunda aula, portanto eu
não precisei fingir que estava razoavelmente bem e puxar qualquer tipo de assunto
com ela. Nada contra minha melhor amiga, eu a adorava, mas em dias sombrios
como aquele, eu preferia ficar isolada de tudo e de todos.
Assisti às últimas aulas vagamente, me desligando quase que totalmente do mundo
real. Estava inerte, devaneando, sem realmente saber no que estava pensando, mas
com certeza pensando em alguma coisa. Minha mente estava se tornando bastante
confusa, até para mim mesma. Fui a primeira a deixar a classe quando o sinal
anunciou o fim da última aula, e apressadamente me sentei na mureta onde sempre
costumava esperar minha mãe. Nem bem o azulejo da mureta esquentou sob meu
corpo, meu celular vibrou. Era minha mãe, dizendo que se atrasaria um pouco, por
volta de meia hora, mas que eu devia esperála na escola. Foi só pensar em minha
súbita sorte, que até então ia bem, pra receber um evento azarado como resposta.
Suspirei profundamente, ainda observando a bagunça de alunos que se acumulavam
na frente do colégio, e de repente vi Brii um pouco mais à frente caminhando em
direção à rua, falando reservadamente ao celular e tão concentrado no que dizia que
mal olhava para os lados. Andava apressado, como se não quisesse ser visto, e
apesar de estranhar aquela atitude dele, preferi não chamálo. Podia ser algo sério, e
de qualquer maneira eu daria um jeito de descobrir o que era no dia seguinte. Sem
falar que, do jeito que eu estava, era melhor mesmo esperar até o dia seguinte para
falar com ele.
Voltei a encarar os carros que entupiam a rua, com a falsa esperança de encontrar
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logo o Land Rover de mamãe. Novamente, meu olhar se perdeu em meio aos
veículos barulhentos, viajando por algum lugar sombrio de meu subconsciente.
Novamente, eu me peguei pensando nele. Em como aquilo tudo parecia tão errado,
tão terrivelmente errado... Tão terrivelmente inevitável. Olhei na direção dos largos
portões da escola, com um impulso teimosamente crescente dentro de mim, e
quando me dei conta do que fazia, meus pés haviam me levado ao andar do
laboratório de biologia.
O que eu estava fazendo ali? Eu tinha prometido a mim mesma que nunca mais me
permitiria ficar sozinha com ele, nunca mais me deixaria levar por aqueles arrepios
que a mera lembrança dele me causava... Então por que meus pés não conseguiam
parar de me levar cada vez mais pra perto da porta do laboratório, impossíveis de
serem detidos? Que poder era esse que acelerava meu coração, aguçava meus
sentidos, me deixava doida pelo simples fato de têlo perto de mim?
Parei a alguns passos da primeira bancada, finalmente conseguindo controlar meus
movimentos. Pena que foi um pouco tarde demais. Meus olhos aflitos pousaram em
Daniel, sentado em sua cadeira. Como sempre, ele travava uma luta contra os
inúmeros relatórios que abarrotavam sua pasta, com um cotovelo apoiado na mesa e
a cabeça preguiçosamente apoiada na mão. Seus olhos inquietos estavam ainda mais
sobrecarregados devido às sobrancelhas franzidas sobre eles, o que só o tornava
ainda mais bonito. Os lábios levemente contraídos complementavam sua típica
expressão de concentração, ou pelo menos de uma tentativa muito forte de obtêla.
Minha respiração parou, a garganta secou, o coração acelerou, tudo ao mesmo
tempo, assim que o vi, tão lindo e tão... Próximo. Bastavam alguns passos e eu
podia tocálo, como eu tanto desejava desde o dia anterior. Minhas pernas tremiam
de leve, com a adrenalina correndo desenfreada pelas veias, e quando o choque por
vêlo se dissipou, um suspiro tenso se apoderou de meus pulmões. Faltava muito
pouco pra que eu perdesse a razão... Ou seja, estava mais do que na hora de sair
dali.
Infelizmente, também já era tarde demais para isso. Mal eu me dei conta de que
observálo estava ficando perigoso, e ele ergueu seu olhar pra mim, parecendo
surpreso em me ver. Foi impossível desgrudar meus olhos dos dele, tão Azuis e
faiscantes na minha direção. Meu sangue borbulhava dentro de mim, eu quase podia
sentir a euforia pinicando freneticamente nas paredes de minhas veias.
Daniel não disse nada, apenas semicerrou os olhos, tentando entender minha
presença ali. Me senti totalmente patética, parada ali com cara de nada, e após
alguns segundos buscando minha voz em algum lugar de minha garganta, gaguejei:
Ddesculpe, eu... Não sei o que vim fazer aqui.
Com a vergonha imensa que sentia transparecendo em minhas bochechas ferventes,
desviei meu olhar do dele com esforço, tentando em vão dar nem que fosse um
mísero passo na direção da porta. Mas antes que meus músculos rebeldes pudessem
ser convencidos a me obedecer, ouvi sua voz confiante perguntar:
Tem certeza de que não sabe?
Todos os meus esforços desceram pelo ralo, e minhas pernas se fincaram com ainda
mais força no chão com a resposta dele. Quando voltei a encarálo, vi que ele estava
de pé, caminhando calmamente até mim com a expressão transbordando malícia, e
gemi por dentro. Por que ele não podia simplesmente facilitar as coisas e me deixar ir
embora?
Não pensei que voltaria tão rápido, Dawson – Daniel disse enquanto andava, com a
voz mais cordial agora, e um sorriso torto preencheu seus traços – Realmente, você
não pára de me surpreender.
Perplexa com sua maneira de lidar com os fatos e sentindo uma certa raiva borbulhar
dentro de mim pelas palavras vitoriosas dele, continuei imóvel enquanto ele fechava
a porta do laboratório. Não satisfeito com aquele grau de privacidade, ele lentamente
girou a chave na fechadura, fazendo o barulho da tranca enferrujada ecoar pelas
paredes. Senti Daniel se virar para minhas costas, ficando praticamente colado em
mim, e seu perfume invadiu suavemente meus pulmões, numa intensidade bem mais
fraca do que a que eu gostaria. Bem mais fraco do que eu precisava.
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Eu acho que essa história de pedir desculpas toda hora tá ficando meio confusa –
ele começou, colocando meus cabelos para um lado só e beijando lentamente as
partes expostas de minha nuca e pescoço Então eu estava pensando... Que tal
arranjarmos um novo jeito de nos... Entendermos?
Meus olhos se fecharam pesadamente, como se os leves toques de seus lábios em
minha pele tivessem o mesmo efeito de soníferos, que de alguma maneira só
deixavam meu coração ainda mais acelerado. A respiração quente e fraca dele ao pé
do meu ouvido estava me dopando, arrancando meus pés do chão e me levando às
alturas. Ainda incapaz de dizer qualquer coisa, apenas o deixei continuar.
Você me causou vários danos... Não só morais, mas também materiais, já que a
minha BMW virou ferro velho por sua causa – Daniel sussurrou devagar,
interrompendose entre algumas palavras pra seguir sua trilha de beijos até a minha
orelha Mas quero que saiba que não me importo com nada disso. Não sou o tipo
de pessoa que guarda rancor.
A discreta rouquidão em sua voz ao pronunciar cada uma daquelas palavras, como se
estivesse tão entorpecido como eu, só ajudou meu coração a se debater com mais
força contra meus pulmões, provocando uma falta de ar ainda maior. Daniel
envolveu minha cintura com suas mãos, desenhando seu formato até alcançar meus
quadris num movimento tentador. Àquela altura eu já estava arrepiada da cabeça
aos pés, sem fazer questão de esconder. Era até bom mesmo que ele soubesse que
nada mais me importava naquele momento a não ser ele, e a inexplicável
necessidade que eu tinha de têlo o mais próximo possível de mim para que toda a
minha aflição sumisse.
Ele roçou a ponta de seu nariz no lóbulo de minha orelha, mordiscando a região
lenta e torturantemente logo depois, e em meu último instante de sanidade, pude
ouvilo soprar:
Sorte sua.
Sem conseguir mais resistir, com o corpo todo tremendo de luxúria, eu me virei pra
ele, agarrando seus cabelos com determinação e colando nossos lábios
desesperadamente. Já esperando essa reação, Daniel continuou segurando
firmemente meus quadris com uma mão e subindo a outra até minha nuca,
retribuindo mais intensamente as carícias furiosas de minha língua com a sua. Senti
que ele sorriu vitoriosamente durante o beijo, mas estava descontrolada demais pra
formar uma opinião sobre o assunto.
Uma superfície vertical e dura se chocou contra minha região lombar, e só então eu
percebi que ele tinha me prensado entre seu corpo e a bancada. Inconsciente de
meus movimentos, me vi pegando impulso com as mãos espalmadas sobre o balcão,
e logo em seguida sentando sobre ele. Sem perder tempo, Daniel se encaixou entre
minhas pernas, declarando nitidamente que não pretendia se afastar de mim.
As mãos dele corriam livremente pelas minhas coxas e barriga, assim como as minhas
exploravam seu tórax, abdômen e braços muito além de sarados. Vez ou outra ele
sorria discretamente, parecendo maravilhado com seu feito. Eu, Amellie Dawson,
totalmente entregue aos encantos de Daniel Jones. Há algumas semanas atrás, isso
me pareceria completamente insano. Hoje, a idéia parecia ainda mais absurda, mas
de alguma maneira, extremamente necessária.
Os dedos ágeis dele começaram a passar mais tempo do que deveriam brincando
com a barra da minha blusa, fazendo minha respiração falhar com ainda mais
freqüência. Sentindo ondas de calor cada vez mais fortes percorrerem meu corpo a
cada segundo, segurei suas mãos e as coloquei sobre meus seios sobre a blusa
mesmo, totalmente fora de mim. Talvez assim ele sentisse a arritmia crítica que regia
meu coração, e terminasse logo com aquela agonia insuportável urrando em meu
interior.
Visivelmente surpreso com minha atitude insana, ele não demorou a explorar meu
busto, fartando suas mãos em meus seios e demonstrando satisfação. Obrigada por
meus atributos físicos decentes, papai do céu. E muito mais que obrigada pelos dele
também. Meus movimentos involuntários e enlouquecidos continuaram, e só quando
senti a pele quente de seu tórax contra meu peito nu, percebi que eu tinha
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arrancado não só a minha blusa, mas também a dele.
Nossa falta de ar era tão gritante que já não ofegávamos mais, soltávamos espécies
de grunhidos desesperados por oxigênio, e ele pareceu decidir que era hora de
seguir adiante. Ótimo, porque eu também pensei a mesma coisa. Daniel afastou
apressadamente seus lábios dos meus e começou a se desfazer do resto das roupas
que ainda usava. Sem nem me dar ao trabalho de me levantar, fiz o mesmo, e em
tempo recorde, já estávamos grudados de novo, sem nenhum tecido nos
atrapalhando.
Daniel me beijou por alguns segundos, insanamente descontrolado por me ver nua,
mas logo deu um jeito de livrar seus lábios dos meus pra resolver um assunto
importantíssimo: abrir a embalagem do preservativo que ele tinha tirado da carteira,
guardada no bolso traseiro da calça. Enquanto eu agarrava a maior quantidade
possível de cabelo dele, suspeitando até de que tinha arrancado alguns fios, e beijava
seu pescoço cheiroso sem a menor vergonha, ele colocou a camisinha,
provavelmente acostumado a fazer isso com garotas penduradas nele. Mas eu não
me importava de estar sendo só mais uma dentre as várias alunas que ele já havia
pegado, seria a primeira e última vez mesmo. Era apenas uma irresistível e
momentânea atração física, e jamais passaria disso.
Precauções tomadas, ele voltou a me beijar, faminto graças aos meus talentos para
lidar com pescoços perfumados, e eu acariciei firmemente seus quadris, dedilhando
suas “entradas” deliciosas. Escorreguei minhas mãos um pouco mais para baixo e
para a parte de trás, e me surpreendi com o relevo que encontrei. Eu me lembrava
de ter observado aquela bunda (sem querer!) antes, mas não imaginei que no
quesito tato ela pudesse ser tão melhor.
Daniel apertou minha cintura com firmeza, e sem nem me dar tempo de assimilar o
que pretendia, ele me invadiu, me fazendo pensar por um momento que me rasgaria
por dentro. A força com a qual ele investiu, somada ao efeito único que seu corpo
tinha no meu e ao nítido tesão em sua expressão fechada, me causaram uma
sensação que eu jamais tive com nenhum outro homem. A maneira como ele
continuava investindo, incessantemente firme, enquanto soltava ruidosamente o ar
em meu ouvido, me faziam retorcer os dedinhos dos pés e agarrar seus ombros
como se eu dependesse daquela força pra viver. Meu corpo todo estava tenso,
sobrecarregado de prazer, e ainda assim ansioso por mais.
Ele dava leves selinhos na curva entre meu pescoço e meu ombro de vez em quando,
provocando choques elétricos a cada vez que seus lábios tocavam minha pele.
Qualquer contato entre nossos corpos provocava essa sensação, e agora eu podia
afirmar que a eletricidade entre nós poderia abastecer uma cidade inteira. Nunca na
minha vida eu pensei que fosse gostar tanto daquela maneira rude, quase dolorosa,
mas agora eu podia entender por que algumas pessoas não conseguiam viver sem
aquilo. Era sem dúvida a sensação mais viciante do mundo.
Após alguns minutos me adaptando à coisa mais prazerosa que eu já tinha
experimentado na vida, recuperei meus movimentos, e logo voltei a perder o
controle sobre eles. Meus lábios grudaram em seu pescoço úmido de suor como se
eu fosse uma sanguessuga, dando chupões que provavelmente deixariam marcas, e
minhas mãos trêmulas contornavam seus ombros tensos e maravilhosos, isso
quando não estavam percorrendo o resto de pele alcançável dele. É normal um cara
suar morango com champanhe ou seria uma alucinação da minha cabeça?
Quando já tinha perdido a conta de quantos orgasmos ele já tinha me causado, o
cansaço começou a me dominar. Lutando contra a exaustão que teimava em querer
interromper aquela sensação incrível que o corpo dele provocava em mim, joguei a
cabeça pra trás, segurando seus cabelos entre meus dedos enquanto ele beijava
intensamente meu pescoço e colo. Sem sucesso algum em me manter firme, voltei a
deixar minha cabeça na posição normal após algum tempo, procurando os lábios
dele na tentativa de afastar aquele cansaço mais do que inconveniente. Daniel
conseguiu me reanimar com seu beijo provocante, até soltar um gemido rouco rente
aos meus lábios e finalmente gozar, também esgotado.
Abracei seu pescoço devagar, me sentindo um pouco tonta, e apoiei minha testa em
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seu ombro. Respirei por alguns segundos, de olhos fechados, tentando colocar um
pouco de ar em meus pulmões, mas meus músculos ainda pareciam contraídos
demais pra permitir isso. Senti as mãos de Daniel acariciarem minha cintura e minhas
costas lentamente, e ele de leve depositou um selinho demorado e gostoso em meu
pescoço.
Quando eu apenas imaginava como seria te ter, você já era meu vício – ele
sussurrou, arrepiando meus cabelos da nuca com seu hálito quente – Agora que eu
realmente te tenho... Não vou conseguir te tirar da cabeça.
Abri os olhos com cuidado, e agradeci por não estar mais tonta. O oxigênio já fluía
mais tranquilamente por minhas vias respiratórias, e meu corpo parecia mais
relaxado. Ergui minha cabeça sem pressa até conseguir olhar pra ele, e sua expressão
demonstrava um deslumbre retraído, intrigado. Era como se eu fosse algo ainda a
ser desvendado, algo que ele não conseguia compreender. Apesar de meu rosto só
demonstrar cansaço, Daniel também tinha um significado incompreensível pra mim,
ainda mais depois de tudo aquilo.
Fechei meus olhos novamente, sem agüentar encarar aquele brilho ofuscante no
olhar dele por muito tempo. Meu coração precisaria de algum tempo pra se
recuperar, e olhálo tão de perto nos olhos era suicídio. Respirei fundo, e quando
estava prestes a abrir os olhos novamente, senti os lábios dele nos meus, daquele
jeito que não me dava outra escolha a não ser corresponder. Não porque ele não me
dava chance de escapar, mas porque meu corpo o correspondia sozinho, sem nem
pedir autorização. Uma de suas mãos envolveu um lado de meu rosto, e a outra me
abraçou pela cintura de um jeito reconfortante.
Alguns segundos perdida naquele beijo e um turbilhão de memórias passaram pela
minha cabeça.
Brii.
Por Deus, o que eu estava fazendo ali outra vez?
Pára, Jones – soprei, afastandoo com esforço pelo peito com a expressão
vagamente alarmada – Eu tenho que ir.
Daniel me encarou por pouco tempo, indo da confusão à resignação em poucos
segundos. Me deixou levantar, dando as costas para mim enquanto caçava suas
roupas, e eu não ousei olhálo outra vez, por mais que meus olhos teimosos
estivessem diante do fato de que ele sem roupa era ainda mais atraente do que
quando estava vestido. Fiz o mesmo que ele, me vestindo rapidamente e ainda
cambaleando algumas vezes. Quando terminei, me virei em sua direção, mas ainda
sem coragem de olhar diretamente em seus olhos.
Daniel já estava com sua blusa grafite, sua calça jeans escura e seus tênis
perfeitamente brancos. Com menos roupas pra vestir do que eu, ele já tinha tido
tempo pra arrumar o cabelo, despreocupadamente bagunçado do jeito de sempre,
enquanto eu ainda procurava um elástico nos bolsos de minha calça pra prender o
meu. Com o calor que eu ainda sentia, quanto menos coisas me abafando, melhor.
Quando meu cabelo já estava decentemente preso num rabo de cavalo alto, eu o
encarei, mordendo meu lábio inferior um pouco dormente. Daniel estava com as
mãos nos bolsos a poucos passos de mim, e seus olhos me instigavam a falar alguma
coisa, mesmo que ele não tivesse emitido um som sequer.
Isso... Isso foi... Isso foi extremamente... Errado – gaguejei, abrindo e fechando a
boca sem dizer nada por várias vezes entre as palavras – E não vai acontecer de
novo. Definitivamente não.
Ele continuou me encarando, sem expressão a não ser pela intensidade de seu olhar,
e alguns segundos depois, um sorriso se formou em seus lábios avermelhados. Um
sorriso convencido, nem um pouco preocupado com o ponto final taxativo que eu
havia dado naquela situação.
Que progresso – ele murmurou, erguendo as sobrancelhas por um momento em
tom de surpresa – Hoje você preferiu falar alguma coisa a sair correndo com cara de
horror. Isso aumenta bastante minhas esperanças.
Meu olhar estremeceu rapidamente quando ouvi sua voz carregada de prepotência.
Por algum motivo, ele tinha certeza de que aquilo aconteceria novamente. E de
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alguma forma, eu não me sentia totalmente firme para contrariálo. Minhas pernas
ainda não tinham parado de tremer, e as sensações que ele tinha me provocado
estavam bem frescas em minha memória.
Você não ouviu o que eu disse? – perguntei, tentando evitar que minha voz
falhasse, mas foi totalmente em vão – Não vai acontecer de novo. Eu odeio você.
Dizer as últimas três palavras não foi tão convincente como costumava ser antes. Eu
não sentia nenhum tipo de afeto por ele, mas odiar parecia não descrever
exatamente o que ele representava pra mim. Era algo mais... Indescritível, talvez.
Claro que ouvi – Daniel respondeu, irônico, assentindo uma vez e erguendo uma
sobrancelha de um jeito que o deixava ainda mais sensual – Pude ler essas mesmas
palavras escritas na sua testa ontem, com a mesma firmeza impressionante. E olha
só que coisa, você está aqui hoje. De novo.
Engoli em seco, com a respiração levemente ofegante. As contradições dentro de
mim estavam me deixando tonta novamente, mas eu me mantive firme, mesmo
quando ele deu um passo na minha direção. Tudo bem, quando ele deu o segundo
passo, eu comecei a ter leves vertigens, e só não caí quando ele resumiu a distância
entre nós a poucos centímetros porque ele me sustentava, com seus dedos fortes ao
redor de meus braços. Nossos olhares estavam magnetizados, conectados
invisivelmente, e só se desviaram um do outro quando ele acariciou minha bochecha
com a sua e murmurou em meu ouvido, com aquela voz irresistível:
Vou esperar ansiosamente pela sua próxima visita.
Daniel se afastou novamente, com um sorriso de canto nos lábios, e assim que suas
mãos me soltaram, pensei que fosse desmaiar. Mas após alguns segundos reunindo
forças pra me manter de pé, fiz a única coisa que me ocorreu: saí correndo do
laboratório, destrancando a porta com dificuldade, e quase caindo ao descer os
degraus das escadas.
Ele estava errado. Eu não voltaria mais. Eu nunca mais me permitiria voltar àquele
laboratório, mesmo que meu corpo gritasse pelo dele. Mesmo que meu corpo
implorasse pra ter o que só ele conseguia me dar.
Capítulo 13
Cheguei em casa com a mesma expressão lívida com a qual deixei o laboratório.
Podia sentir o suor frio em minha testa, podia sentir a palidez do meu rosto, a
instabilidade de minhas pernas e mãos, o puro pânico estampado em meus olhos
ainda arregalados.
Tá tudo bem mesmo com você, filha? – ouvi minha mãe dizer assim que entramos
em casa, e por mais que ela estivesse bem ao meu lado, sua voz estava distante,
como se houvesse vários metros entre nós.
Assenti vagamente, assim como fiz durante todo o trajeto no carro, sem sequer
tentar entender o que ela estava perguntando. Caminhei o mais rápido que pude até
meu quarto, quase tropeçando nas escadas, e me tranquei com pressa. Encostei
minhas costas na porta e lutei contra meus joelhos vacilantes, sem conseguir definir
exatamente o que estava acontecendo dentro de mim.
Eu me sentia em transe, numa dimensão completamente distante da realidade,
alheia a qualquer sentimento. Era como se eles estivessem presos numa caixa
minúscula, aprisionados, me transformando numa pessoa oca. Não conseguia sentir
remorso, nem dor, nem raiva, nada. Apenas o vazio. O mesmo vazio que mantinha
meus olhos arregalados e fixos no abajur de minha mesa de cabeceira, sem
realmente enxergar nada. Apenas via trechos dos recentes acontecimentos passando
como flashes em minha mente.
Quando me dei conta do que estava fazendo, me vi em meu banheiro, tirando a
roupa com agonia, como se houvessem formigas ou qualquer outra coisa indesejada
nelas. Coloquei todas as peças no cesto de roupa suja de um jeito rude, na inútil
ilusão de que aquilo me ajudaria em alguma coisa. Liguei o chuveiro até que um
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forte jato de água jorrasse dele, e entrei de cabeça debaixo daquela cachoeira gelada.
Meu corpo estremeceu pelo choque térmico, mas eu me mantive imóvel, deixando a
água escorrer ralo abaixo e levar consigo tudo que restava dele em mim.
Absorver o turbilhão de loucuras que tinham acontecido em tão pouco tempo
parecia impossível, mas quando a compreensão finalmente começou a aparecer e eu
consegui organizar meus pensamentos, as perguntas sem resposta me engoliram
como uma onda gigante. Como eu deixei isso acontecer? Por que eu deixei isso
acontecer? Eu amava Brii, podia sentir meu coração doer de culpa a cada batimento!
Mas ao mesmo tempo, podia sentir os leves tremores que percorriam minha espinha
a cada segundo gasto pensando em Daniel; apesar de estar debaixo do chuveiro,
ainda podia sentir o cheiro dele em minha pele, o cheiro do qual eu me tornei
inconscientemente dependente há algum tempo. Não era certo querer um cafajeste
daquele jeito, somente por pura atração física, enquanto eu tinha um príncipe
encantado me dando todo o amor que eu precisava.
Com os olhos fortemente fechados, eu permaneci naquela posição por incontáveis
minutos. Era extremamente doloroso, mas eu nem tentei me impedir de pensar em
Brii. A imagem de seu rosto sorridente, radiante, apaixonado, logo dominou minha
mente, a não ser quando os olhos Azuis do professor Jones teimavam em surgir, tão
hipnotizantes que tirariam do chão até a pessoa mais insensível. Como eu fui um dia
em relação a ele.
Me abracei, sentindo as pontas de meus dedos ficarem cada vez mais frias, e abri os
olhos, já que mantêlos fechados só piorava minha situação. Focalizei o vidro
molhado do box à minha frente, bem aonde havia uma pequena prateleira com meu
shampoo, sabonete e condicionador. Num cantinho da prateleira, estava uma
esponja praticamente intocada que mamãe havia me dado há algum tempo atrás,
esperando até seu próximo e raro uso. Não precisei pensar duas vezes.
Peguei a esponja, encharcandoa e esfregando meu sabonete nela até me certificar
de que a espuma era suficiente. Com o lado áspero, eu comecei a me esfregar por
inteiro num movimento frenético e masoquista, começando pelos braços e seguindo
pelo resto do corpo. Os vergões avermelhados que a esponja deixava em minha pele
mal apareciam, escondidos sob a grossa camada de espuma que os cobriam, mas eu
podia sentilos ardendo insistentemente. Desesperada, eu passei a esfregar com
ainda mais força, e cada lugar que a esponja percorria me trazia uma lembrança de
tudo que eu e Daniel tínhamos feito. Um nó enorme e doloroso se formou em minha
garganta, mas prometi pra mim mesma que não derramaria uma lágrima. Não por
ele. Não por Daniel.
Aquilo tinha sido só um momento de insanidade, nada mais. Nunca aconteceria de
novo, isso era certeza. Brii não precisaria saber, não houve sentimento nenhum,
nunca existiu e nunca vai existir. Eu odiava Daniel, e não sabia como viveria sem Brii.
E por todos os aspectos que os tornavam duas pessoas completamente diferentes,
eu guardei aquele erro dentro de mim, num canto deserto de minha memória, de
onde ninguém o tiraria. Era isso... Estava acabado.
Me deixei cair no chão do box, cansada e arfante pelo esforço com a esponja.
Encostei minha cabeça na parede atrás de mim, sentindo minha pele arder ainda
mais quando os respingos de água gelada me atingiam, e encarei o vazio por um
tempo. Totalmente entorpecida. Eu tinha tomado minha decisão. Eu sabia que não
seria capaz de encarar Brii novamente sem me lembrar de minha mentira, mas o
simples pensamento de contar a ele e ver a repulsa em seu olhar fazia meu corpo se
encolher involuntariamente. Brii não merecia ser enganado, e eu sabia que não o
merecia, mas eu era egoísta demais pra dizer a verdade e vêlo me abandonar.
Após um longo tempo que não consegui calcular, ouvi batidas na porta de meu
quarto. Ignoreias totalmente, sem condições de falar com ninguém. Eu me sentia
um pouco mais calma, mas ainda não totalmente de volta à realidade.
Foi quando eu ouvi uma voz inesperada do outro lado da porta.
Mell?
Olhei na direção da voz, como se fazendo isso pudesse ver se ela realmente pertencia
a quem eu estava pensando. Com cuidado pra não escorregar, me levantei do chão,
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me enxagüei rapidamente pra tirar o resto de espuma e saí do banheiro, com uma
toalha enrolada no corpo e a outra no cabelo.
Caminhei até a porta, e a voz novamente falou, como se fosse para confirmar minhas
dúvidas:
Mell? Tá tudo bem com você?
Engoli em seco, me perguntando se ela notaria meu jeito estranho e se alguma
desculpa idiota a convenceria, do jeito que ela me conhecia bem. Ignorei minhas
perguntas e destranquei a porta, abrindoa e dando de cara com Kimberlly.
O que você tá fazendo aqui? – murmurei, mas minha voz saiu falha e rouca,
destoando totalmente da minha tentativa de um sorriso casual.
Sua mãe ligou lá pra casa, disse que você tava estranha, e eu resolvi vir pra
investigar – ela respondeu, com a testa levemente franzida de preocupação.
Que besteira, não tem nada de errado comigo – menti, sentindo meus joelhos
vacilarem novamente, mas me mantive firme. Kimberlly entrou no quarto, e quando
fiz menção de fechar a porta atrás de nós, ela segurou meu pulso com uma
expressão intrigada.
O que exatamente é isso? – ela perguntou, de um jeito que beirava o horror, e eu
olhei na direção que ela encarava. Vergões avermelhados e irregulares coloriam meus
braços, desde os ombros até os pulsos. E nem assim eu estava conseguindo me
sentir limpa.
Eu... Eu não sei – gaguejei, me desvencilhando educadamente dela e fechando a
porta Acho que é... Alergia de alguma coisa.
Quando você vai se dar conta de que suas mentiras não me convencem? –
Kimberlly disse, com a voz grave, transbordando seriedade através de seus olhos –
Não está tudo bem com você, claro que não. O que aconteceu?
Não aconteceu nada! – exclamei, um pouco mais alto do que pretendia, porque
minha voz saiu esganiçada e trêmula. Esconder alguma coisa dela não era nada fácil,
muito menos uma coisa como aquela, que nem eu sabia como esconder de mim
mesma, apesar de tentar com todas as minhas forças.
Mell, pelo amor de Deus – ela chamou, levemente em choque pela minha reação,
quando eu caminhei energicamente na direção de meu armário – Você sabe que
pode confiar em mim, não precisa mentir!
Me escondi o máximo que pude atrás das portas de meu guardaroupa, sem deixála
ver meu rosto, e suspirei, irritada. Ela não devia estar ali, eu precisava de um tempo
sozinha pra pensar antes de falar com alguém. Mas agora que ela já estava, não
conseguiria expulsála sem criar suspeitas. Ela me seguiu, e sentouse na cama atrás
de mim, enquanto eu juntava forças para falar.
Já disse, eu estou bem, isso deve ser alguma alergia – murmurei, sem coragem de
olhála. Nem de continuar a falar. O que mais eu poderia dizer?
Ouvi Kimberlly bufar atrás de mim enquanto eu pegava algumas roupas, e já estava
começando a ficar realmente pressionada, quando ela piorou minha situação:
Não adianta continuar mentindo, eu só vou sair daqui quando você me contar
como esses arranhões foram parar aí.
Engoli em seco, sabendo que ela estava falando muito sério por causa de seu tom de
voz. Fechei meu armário, com roupas íntimas, uma blusinha e um shorts na mão, e
me virei pra ela, derrotada. Como eu sabia que aconteceria, a preocupação em seu
olhar fez uma onda de insegurança percorrer minha espinha, e antes que eu pudesse
deter as palavras, elas já haviam sido ditas.
Eu fiz isso.
Você? Mas por quê? – ela murmurou, com um tom ainda mais horrorizado, e eu
senti minha garganta fechar por completo. Agora que eu a encarava, dizer o que
tinha acontecido parecia impossível, mas ao mesmo tempo, mentir estava fora de
cogitação. Ela saberia ler através de minha expressão, sentir o nervosismo em minha
voz, não importava o quão convincente minha mentira fosse.
Eu não disse nada por alguns segundos, e a firmeza de meu olhar no dela não durou
muito. Precisando de um álibi para não encarála, fingi estar concentrada em me
vestir, quase caindo de nervoso ao passar minhas pernas pelos buracos do shorts.
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Se você não quer me contar, tudo bem – ela suspirou quando eu terminava de
vestir a blusa, e mesmo sem olhála, pude sentir seus olhos fixos nos vergões agora
rosados de minhas pernas – Mas pelo menos me diga como eu posso te ajudar.
Qualquer coisa.
Ninguém pode me ajudar – suspirei, andando até o banheiro para pentear o
cabelo, e ela me seguiu, me observando desviar meu olhar do dela pelo reflexo do
espelho.
Ficamos novamente num silêncio tenso, até que minhas ocupações acabaram e eu
me virei pra ela, cruzando os braços firmemente na altura do peito. Kimberlly me
encarava com súplica no olhar, e eu percebi que não adiantaria continuar enrolando.
Não havia como fugir de sua própria consciência, que no meu caso, atendia pelo
nome de Kimberlly Macarenhas. Respirei fundo antes de fazer o que teria de fazer
uma hora ou outra, e minha voz escapou por entre meus lábios como um sussurro
quase inaudível.
Eu... Traí o Brii.
Kimberlly arregalou os olhos, totalmente pega de surpresa, e esperei até que o
choque de minha revelação passasse e ela fosse capaz de falar. Encarei firmemente o
chão, tentando em vão parar de tremer.
Ccom quem? – ela gaguejou, alguns segundos depois, e pude sentir uma pontada
de suspeita em seu jeito de perguntar.
Fechei os olhos com força, ordenando que meu corpo não se arrepiasse só de pensar
nele, mas foi em vão. Quando as palavras saíram de minha boca, ainda mais baixas
que da outra vez, pude sentir meus cabelos da nuca se eriçarem de imediato.
Com o professor Jones.
Kimberlly não se mexeu. Não consegui devolver seu olhar, e por algum tempo
ficamos imóveis e caladas, cada uma ocupada demais com seus próprios
pensamentos.
Eu... Eu não sei o que dizer – ela sussurrou, parecendo finalmente vencer sua luta
com as palavras, e apesar de não vêla, percebi que ela soltou um risinho surpreso –
Talvez eu devesse começar com um “Eu sabia”.
Franzi minha testa e ergui o rosto pra olhála, sem entender. Ela me encarou de
volta, com os olhos admirados, e sorrindo de um jeito deslumbrado. Arregalei meus
olhos pra ela, totalmente confusa, e nem precisei dizer nada pra que ela continuasse:
Desde o começo, desde que você e o professor Langdon começaram essa história
toda, e que o Jones resolveu se meter nesse rolo... Eu sempre soube que isso ia
acabar acontecendo. Fala sério, Amellie, você sempre fica a fim do cara errado.
Juro que tentei abrir a boca pra falar algo, mas minha voz não saiu. Minha
indignação era maior que qualquer coisa. Como assim, eu sempre ficava a fim do cara
errado? Eu não estava a fim do Jones! Aquilo foi só um deslize, um impulso
indesejado!
Mas e aí, como foi? – ela sorriu, de repente adotando uma expressão curiosa – Não
precisa entrar em detalhes, dizer se foi bom ou não já é o suficiente.
Kimberlly! – exclamei, finalmente recuperando minha voz, e fazendoa pular de
susto com uma expressão retraída – Eu te digo que traí o Brii e tudo que você faz é
me perguntar se foi bom?
Ela ficou em silêncio por alguns segundos, assustada, até que voltou a falar,
timidamente e num tom baixo:
Não foi exatamente isso que eu perguntei, mas dá na mesma.
Kimberlly! – falei de novo, passando por ela e caminhando de volta para o quarto,
embrenhando meus dedos desesperadamente em meus cabelos – Você entendeu o
que eu disse ou vou ter que repetir outra vez? Eu traí o Brii com o Jones!
Tá, e daí? – ela retrucou, parecendo meio impaciente e sentandose pesadamente
em minha cama – Eu já entendi isso, você é que não pareceu entender minha
pergunta! Me diz, o que eu posso fazer agora que você já fez a besteira? Vai adiantar
eu ficar falando mil baboseiras inúteis, chorar pelo leite derramado com você?
Eu sei que não tem mais volta, foi um erro, mas você podia pelo menos fingir ser
uma pessoa normal e me dar a maior bronca ou algo do tipo, e não me perguntar
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como foi! – eu disse, encarandoa energicamente.
Achei que você já me conhecesse há tempo suficiente pra saber que eu não me
surpreendo assim tão fácil – Kimberlly murmurou, erguendo as sobrancelhas de um
jeito desafiador – Em momento nenhum eu fui ou pretendo ser falsa com você, e é
isso o que eu estaria sendo agora se estivesse te dando uma bronca. Atração física
acontece aos montes, Amellie, é mais normal do que se pensa. A única diferença
disso pra um relacionamento normal é que ninguém costuma sair contando pra todo
mundo, mantêm as coisas em segredo.
Fitei os olhos compreensivos de Kimberlly por alguns segundos, totalmente
desarmada. Me deixei cair sentada no chão, ainda encarandoa sem entender, e ela
subitamente riu de minha atitude. Por que eu tinha que ter uma amiga tão mente
aberta e liberal?
Não precisa se martirizar tanto só porque não resistiu às tentações da carne, Mell –
ela sorriu, sentandose no chão à minha frente – Se não teve sentimento, não foi
exatamente uma traição... Então, pra que se preocupar?
Abaixei meu olhar pro chão, refletindo sobre o que eu já sabia, mas que ela tinha
feito o favor de repetir. Tudo tinha sido tão rápido, tão inesperado, tão mecânico...
Não havia um pingo de sentimento ali, era puro tesão. Meu amor por Brii continuava
intocado, apesar do fato de que todas as transas com ele não equivaliam à única com
Daniel no quesito físico. Mas eu não devia nem queria comparar os dois. Pra mim, só
existia um homem, e ele se chamava Brian Langdon.
Suspirei, psicologicamente exausta pra continuar travando aquela luta interna, e
voltei a encarar Kimberlly, ainda sorrindo docemente.
Foi tudo tão... Confuso – foi tudo o que consegui sussurrar, pela primeira vez
conseguindo demonstrar alguma emoção sobre o assunto, e seu sorriso se alargou.
Ela dobrou as pernas contra seu tronco e abraçou os joelhos, carregando sua
expressão de curiosidade novamente.
Agora que você já está mais calminha... Pode me dizer como foi? – ela murmurou,
parecendo prevenida quanto aos meus súbitos acessos de desespero, e eu não pude
deixar de sorrir fraco. Um calor súbito passou por mim, e meu olhar se perdeu em
meio aos meus pensamentos, que dessa vez eu simplesmente deixei fluir, tornando
meu sorriso mais largo.
Foi o melhor erro que eu já cometi.
Tchau, meninas, boa aula!
Saí do carro de mamãe, mais trêmula que bambu em ventania, e Kimberlly fez o
mesmo do outro lado, cumprindo a parte simpática do relacionamento com mamãe,
a qual eu tinha desfalcado desde o dia anterior. Kimberlly tinha dormido em casa, me
dando todo o apoio que eu precisava pra não sair correndo quando a manhã
seguinte chegasse, mas tudo pareceu ter sido em vão quando me dei conta de que
estávamos paradas em frente ao colégio. Quer dizer, eu estava, porque ela me
arrastava escola adentro, como se carregasse uma estátua de mármore.
Quer fazer o favor de entrar? – ela resmungou, me puxando pelo braço com uma
careta mal educada – Lembra do que eu te falei? Você não tem motivos pra ter
medo!
Nem liguei pra frase totalmente clichê e equivocada de Kimberlly, que parecia estar
enxergando aquilo tudo como uma coisinha boba e não como mais um problema na
vida cada vez mais complicada de sua melhor amiga. Respirei fundo e comecei a
andar, contra meus próprios instintos, na direção do pátio da escola, rezando pra
que nenhum dos dois aparecesse. Hoje eu não tinha aula com nenhum deles, então
talvez pudesse fugir antes do intervalo, alegando fortes dores de cabeça. O que não
seria totalmente mentira.
Vamos subir de uma vez, eu não quero ficar aqui – sussurrei, segurando Kimberlly
pelo braço e puxandoa na direção das escadas. Mas ela cutucou minha mão, com o
olhar fixo em algum ponto à nossa frente, e meu estômago revirou quando meu
olhar seguiu o dela.
Bom dia, Macarenhas – ouvi a voz de Brii sorrir, alegre como sempre, e logo seus
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olhos Castanhos brilhantes se voltaram pra mim, provocando uma fisgada em meu
peito – Bom dia, flor do dia.
Tudo que fui capaz de fazer foi sorrir de leve, suando frio agarrada ao braço de
Kimberlly. Ele retirou um bilhete do bolso, sorridente, e me entregou, dando uma
piscadinha antes de se afastar novamente. Não pude deixar de acompanhálo com o
olhar, e me arrependi amargamente disso. Assim que ele chegou à porta da sala dos
professores, uma coisa vinho saiu de dentro dela, toda sorridente, e começou a
caminhar na direção das escadas, após cumprimentar Brii. Apertei o braço de
Kimberlly com mais força, mas ela não reclamou.
Daniel passou por nós, ainda mais sedutor do que nunca com sua nova e linda peça
de vestuário, e me lançou um breve olhar. Por mais rápido que tenha sido, aquele
olhar estava cheio de significados, dos quais eu estava plena e dolorosamente ciente.
Fato: ele era meu inferno particular na Terra.
Deixa o Jones pra lá e abre logo esse bilhete! – Kimberlly sussurrou, e só então eu
me lembrei do pequeno papel que Brii havia me entregado. Desdobreio
tremulamente, e minha respiração parou quando li o que estava escrito.
Tenho uma surpresa pra você nesse fim de semana. Pode ir se preparando, vou te
seqüestrar de sexta a domingo! Te amo. xx
Uma dor que eu nunca tinha sentido antes infestou cada célula do meu corpo, mas
eu nem tentei fazêla passar. Eu sabia que eu merecia aquilo. E a culpada por aquela
dor não era ninguém mais do que eu. Não havia mais ninguém para culpar... Só eu.
Ergui um pouco meu rosto, sentindo minha visão embaçar, mas Kimberlly logo
percebeu que eu estava prestes a desmoronar e começou a cochichar:
Amellie, você prometeu pra mim que não ia fazer isso!
Eu balançava a cabeça negativamente, contendo as lágrimas com esforço. O que eu
era exatamente? Um monstro? Uma destruidora de sentimentos, uma idiota
completa? Eu não conseguiria fingir que estava tudo bem com Brii, nem olhálo nos
olhos eu conseguia!
Kimberlly... – eu murmurei, olhando pra ela – Eu... Ele... Não... Eu não consigo...
Ela revirou os olhos, me arrastando na direção da escadaria, com uma expressão que
beirava o tédio.
Escuta aqui – ela rosnou baixinho, me puxando pelos degraus – Você não gosta do
Langdon, é isso? É pelo Jones que você tá apaixonada? É com ele que você quer
ficar, é por ele que você quer foder com a sua vida?
Neguei com a cabeça, me encolhendo com desespero. Cada pergunta dela era como
uma facada no peito de tão absurda.
Então pára de ser ridícula e engole esse choro! – ela ordenou, autoritária – Se
importe com quem realmente interessa, e joga o resto fora! Se as pessoas não se
forçassem a esquecer certas coisas, o mundo seria cheio de gente depressiva.
Respirei fundo, conseguindo retomar meu controle emocional. Ela estava certa, já
que o erro estava feito, eu só precisava esquecer aquilo e seguir em frente, me
esforçando mais do que nunca pra fazer Brii feliz. Agora que a possibilidade de perdê
lo havia se tornado menos remota, valia tudo pra mantêlo comigo.
Obrigada – sussurrei, subindo os últimos degraus, cabisbaixa, e ela sorriu,
afastandose de mim pra entrar em sua classe enquanto eu entrava na minha. Por
algum motivo, eu não consegui soltar o bilhete de Brii pelo resto das aulas, relendoo
discretamente de vez em quando ou segurandoo com toda a minha força dentro de
meu punho como se aquilo valesse a minha vida. Ou pelo menos a parte feliz dela.
Capítulo 14
Mãe?
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Oi, amor... Por que você tá me ligando a essa hora? Aconteceu alguma coisa?
É que... Eu não tô me sentindo muito bem.
Seria a desculpa perfeita, pelo menos pra mim era. Meu estômago revirava a cada
pessoa que entrava em meu campo de visão, num sinal físico de pânico. Eu não
estava em condições de ficar na escola por mais um minuto sequer, por isso estava
fingindo um mal estar dos brabos. A palidez e o suor frio, junto com as olheiras de
quem mal tinha dormido na noite anterior serviram pra alguma coisa que não fosse
me deixar ainda mais horrorosa do que eu já era. Enquanto eu falava com mamãe no
telefone da secretaria, a moça responsável pelas dispensas da escola me olhava com
aflição, como se eu estivesse a ponto de vomitar nela. O que não estava tão distante
da realidade, já que eu podia jurar que estava meio verde.
O que você tá sentindo? – mamãe perguntou, preocupada com o meu tom de voz
rouco, e eu engoli a vontade de gritar pra que ela parasse de fazer perguntas e
simplesmente viesse me buscar.
Não sei, tô meio tonta e enjoada... Vem me buscar – foi tudo que consegui
responder, e de repente, um ser vinho parou bem ao meu lado no balcão da
secretaria, colocando uma pasta cheia de papéis em cima dele sem a menor
delicadeza.
Por hoje é só, Lizzie – ele sorriu, todo moleque, para a moça à nossa frente, e
arrumou a mochila sobre um ombro, dando meia volta e passando por trás de mim
em direção à porta de saída. Pude jurar que ele levou o dobro de tempo necessário
pra fazer isso, já que seu perfume infestou em peso o ambiente, me deixando ainda
mais tonta.
Amellie? Você tá me ouvindo? – mamãe disse, como se não fosse a primeira vez
que perguntasse isso, e eu descobri que suas palavras foram apenas ruídos enquanto
Daniel estava perto. Prestar atenção em mais de uma coisa não estava sendo fácil pra
mim hoje.
Desculpe, mãe, o que você tava dizendo mesmo? – gaguejei, esfregando minha
testa energicamente com a mão livre.
Eu disse que não posso ir te buscar agora, estou na sala de espera pra fazer um
exame – ela repetiu, pausadamente – Se preferir esperar, dentro de mais ou menos
uma hora eu passo aí, mas se quiser ir embora, pegue um táxi e me ligue quando
chegar. Use aquele dinheirinho que eu te dei pra casos de emergência, tá bem?
Falou certo, mãe. Emergência.
Tá – respondi, desligando sem nem esperar resposta, e sorri fraco pra tal de Lizzie,
que devolveu meu sorriso com alívio enquanto pegava a pasta que o Jones tinha
deixado com ela. Deixei a secretaria às pressas e só parei quando cheguei à calçada
em frente ao colégio. Olhei em volta, pensando na maneira mais fácil e rápida de
encontrar um táxi, e vi alguém parar ao meu lado.
Lindo dia, não? – a voz sacana de Daniel murmurou, me fazendo quase pular de
susto com sua presença repentina. Não sei se já disse isso antes, mas eu me odeio.
Não existe ninguém que eu odeie mais nesse mundo que eu mesma, nem mesmo a
forte concorrência chega perto de mudar minha opinião.
Ignorei o comentário dele sobre o céu cinza e carregado, e respirei fundo, tentando
acalmar a tremedeira em minhas pernas para poder ir embora dali logo. Não preciso
nem dizer que ele recomeçou a falar, certo?
Dias assim me lembram você – ele suspirou num falso tom romântico, e eu fingi
que não estava ouvindo o urro de incômodo dentro de mim – Ranzinza, sombrio,
cheio de tempestades... Mas que depois dá lugar ao sol mais quente que existe.
Fechei os olhos, começando a ficar ofegante pela provocação descarada. A metáfora
estava claríssima, e eu não estava conseguindo mais respirar direito. Concentrada em
normalizar meus batimentos cardíacos, finalmente tomei coragem de revidar.
O que você quer? – rosnei entre dentes, encarando nervosamente o lado oposto ao
dele, que soltou um risinho de contentamento.
Eu? – ele respondeu, irônico – Eu não quero nada, já dei todas as aulas do dia... O
que mais um professor pode querer? Agora você tá doida pra ir embora, pelo que
me parece.
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Bufei, com os braços cruzados bem apertados na altura do peito e as mãos
fortemente fechadas em punhos.
Não te interessa – resmunguei, agoniada com minha incapacidade de mandar
oxigênio para meus pulmões – Ainda não deu pra notar que eu não quero falar com
você?
Tudo bem, eu não pretendia falar mesmo – Daniel retrucou, com humor na voz –
Existem coisas bem mais interessantes que falar.
Por mais freqüente que isso fosse, acho que eu nunca tive tanta vontade de socar
Daniel como naquele momento. Por isso, nem me importei por estar no meio da rua,
tão perto de pessoas que não deveriam ver aquela cena, e meti a mão na cara dele.
Bom, pelo menos eu tentei.
Droga, o que ele tinha feito ultimamente, treinado reflexos? Por que ele tinha que
estar tão mais rápido a ponto de eu não conseguir mais bater nele? Fechei os olhos,
frustrada, quando senti os dedos fortes dele se fecharem contra meu pulso, a poucos
centímetros de seu rosto.
Sabe qual é o seu problema? – ele sorriu calmamente pra mim, como se não
estivesse falando com alguém que pretendia arrancar dolorosamente todos os
dentes dele se tivesse a chance – Você tem pressa demais. Não sabe esperar.
Me solta – pedi, encarandoo com repulsa, e seus olhos penetrantes me deixaram
tonta por um momento – Eu quero ir embora.
Então me deixe terminar de falar, estressadinha – Daniel falou, erguendo as
sobrancelhas em tom de superioridade, e eu bufei novamente, sem poder fazer nada
a não ser ouvilo – Antes da sua tentativa inútil e infantil de me bater, eu ia te
oferecer uma carona, mas agora que eu percebi a sua empolgação pra ir embora, eu
retiro minha oferta...
Ótimo – grunhi, sorrindo sarcasticamente com a idéia de aceitar uma carona dele.
Mas meu sorriso logo desapareceu quando ele terminou a frase:
E a substituo por uma exigência.
Franzi a testa, inconformada com aquele absurdo. Quem ele pensava que era pra
exigir alguma coisa de mim?
Escuta aqui, seu idiota – comecei, sem nem ligar por estar falando mais alto que o
aconselhável – Eu não suporto que uma pessoa asquerosa como você me dirija a
palavra, ouviu bem? Vê se me esquece, eu te odeio! Só você não se tocou disso
ainda!
Se você não vier comigo agora, garota, eu entro nessa porra desse colégio e conto
tudo que aconteceu ontem pro Langdon – Daniel murmurou, com os olhos cravados
nos meus de um jeito intimidador – E ainda por cima, no mesmo volume que você tá
usando pra falar comigo, pra que não só ele, mas todo mundo ouça o que a gente
andou aprontando.
Esqueci como se respirava com aquela ameaça. Eu não conseguia suportar nem a
mera hipótese de Brii saber sobre meu deslize, e agora com Daniel me confrontando
daquele jeito, tudo parecia muito mais possível de acontecer. E eu sabia que não
podia me arriscar de maneira alguma, mas mesmo assim, tentei.
Ninguém acreditaria em você – gaguejei, esboçando um risinho desdenhoso, que
nem foi páreo para o dele, tranqüilo e seguro de si. Ele sabia o quanto Brii valia pra
mim, sabia que uma hora ou outra, eu desistiria e cairia em sua armadilha.
Bom... Isso é uma possibilidade – ele concordou, sem demonstrar um pingo de
preocupação quanto ao meu blefe – Quer pagar pra ver?
Continuei encarando os olhos Azuis dele, com os pensamentos a mil. Por mais que
eu me esforçasse pra pensar numa outra saída, nada me ocorria a não ser obedecê
lo. Havia coisas demais a perder naquela chantagem, e eu não podia depender de
possibilidades.
Desviei meu olhar dele pro chão, completamente derrotada, e soltei o ar preso em
meus pulmões, declarando minha desistência. Daniel não precisou de palavras pra
entender, e finalmente soltou meu pulso, transformando sua expressão maléfica em
um sorriso vitorioso.
Boa menina – ele sussurrou, virandose na direção da rua – Vamos.
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Olhei rapidamente para os lados, me certificando de que não havia ninguém que
pudesse nos flagrar, e não encontrei nada. Completamente contrariada, eu segui
Daniel até o outro lado da rua, e esperei até que ele colocasse sua mochila no
compartimento de bagagem de sua moto e retirasse dali um segundo capacete, já
que o primeiro estava numa de suas mãos desde o começo.
Tá esperando o que parada aí? – ele perguntou, rindo da minha cara, quando tudo
que faltava para irmos embora era eu subir na moto. Nem preciso dizer que cada
pedacinho de mim estava relutante a fazer isso (bom, pelo menos a maior parte).
Fora o fato de que eu odiava capacetes, eles me davam dor de cabeça. Não que eu já
tivesse usado capacetes várias vezes, nunca andei de moto na vida e nem pretendia.
Mas pra tudo havia uma primeira vez, certo? Eu que o diga.
Sentei na garupa bem atrás dele, e procurei alguma forma de me manter na moto
quando ela estivesse em movimento que não envolvesse contato físico com ele. Mas
com uma mochila cheia de livros nas costas, isso seria ainda mais complicado.
Melhor se segurar – ele avisou, ainda se divertindo com a minha desgraça, e
ameaçou acelerar com a moto, dando um leve tranco e me fazendo agarrálo na
hora. O que só o fez rir mais.
Assim está ótimo – foi a última coisa que o ouvi dizer, porque logo depois o ronco
ensurdecedor do motor preencheu meus ouvidos e ele arrancou furiosamente. Fechei
os olhos, assustada com a velocidade e a falta de proteção, e involuntariamente o
abracei com mais força, de alguma forma empurrando aquele perfume cada vez mais
pra dentro dos meus pulmões e me fazendo sentir intoxicada.
Abri meus olhos, num súbito ato de coragem, e tudo que vi foram borrões coloridos.
O vento forte me fazia piscar de meio em meio segundo, me deixando tonta e
enjoada novamente, e eu preferi fechar os olhos definitivamente. A cada curva, eu
esmagava as costelas de Daniel, que parecia não se importar, e até se divertir com a
minha insegurança. Definitivamente, ele era o cara mais sadomasoquista que existia
na Terra.
Não sei dizer exatamente por quantos minutos ficamos andando naquela coisa, até
que ele reduziu a velocidade e com uma curva, subiu na calçada. Mesmo sem olhálo,
percebi que ele virou a cabeça pro lado, o que era o máximo de movimento que ele
podia fazer pra falar comigo, e riu ao me ver toda tensa.
Você se acostuma à velocidade com o passar do tempo – ele sorriu, com aquele ar
divertido que estava me dando nos nervos, e apesar de estarmos parados, eu não
consegui desfazer o forte aperto de meus braços ao redor dele. E fiz bem, porque
logo ele acelerou novamente, me fazendo abrir os olhos e dar de cara com uma
garagem levemente familiar.
Onde estamos? – consegui perguntar, observando os vários carros importados
estacionados lado a lado passando rapidamente por nós, e senti uma pontada de
pânico. Por favor, Deus, ele não tinha feito isso.
Daniel não respondeu, apenas estacionou a moto numa vaga que ficava ao lado de
uma Ferrari vermelha e de um Porsche prata. Que antes dava lugar a uma BMW
preta, provavelmente situada num ferro velho a essa hora, após sua colisão com um
poste. Ele tinha mesmo feito isso.
Por que você me trouxe aqui? – exclamei, com a voz mais alta agora, enquanto ele
desligava a moto – Que tipo de problemático você é?
Eu falei que ia te dar uma carona – Daniel finalmente disse, tirando o capacete com
cara de tédio, e virou o rosto pra me olhar de lado – Mas não disse em momento
algum que te levaria pra sua casa.
Senti meu sangue esquentar dentro das veias, sem saber direito se era de pânico ou
de raiva. Onde eu estava com a cabeça pra me envolver com ele?
SEU IDIOTA! ME LEVA PRA CASA AGORA! AGORA! – gritei, me aproveitando de sua
posição desfavorecedora e estapeando suas costas sem dó – EU NUNCA MAIS
QUERO OLHAR NA SUA CARA, SEU SAFADO SEM VERGONHA!
Parecendo nem sentir os tapas e socos que eu lhe dava, ele se levantou, sem
cerimônia, e começou a caminhar calmamente até o elevador da garagem, ativando
o alarme da moto pelo caminho. Eu continuei imóvel, até me dar conta de que ele
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realmente não voltaria pra me levar pra casa, e sem a menor intenção de ficar presa
ali, eu corri atrás dele, me desfazendo de qualquer jeito do capacete no trajeto.
AH, É, NÃO VAI ME LEVAR? – urrei, andando energicamente atrás dele, que estava
a alguns passos de distância de mim, quase alcançando o elevador – ÓTIMO! EU
VOU ANDANDO!
Daniel soltou uma gargalhada e parou bem à porta do elevador, só então se virando
pra mim.
Você vai morrer antes de sequer chegar no seu bairro. Ou de cansaço, ou atingida
por um raio com a chuva que vai cair daqui a pouco.
EU NÃO LIGO! – berrei, parando de andar a poucos metros dele, totalmente irada –
QUALQUER COISA É MELHOR DO QUE FICAR MAIS UM SEGUNDO PERTO DE VOCÊ!
Continuei andando na direção da saída da garagem, e ignorei a trovoada monstruosa
que estremeceu o chão. Quando já estava a poucos passos da saída, que graças a
Deus não era muito longe do elevador, ouvi passos rápidos atrás de mim, e acelerei
meu ritmo. Totalmente em vão.
O QUE É ISSO? – gritei, quando senti os braços de Daniel envolverem minhas
pernas e me levantarem do chão – ME LARGA!
Eu estava praticamente pendurada em seu ombro, sentindoo segurar minhas
pernas com um braço só, e com meu tronco caindo pelas costas dele. Enquanto ele
voltava a andar na direção do elevador, como se estivesse carregando uma pluma e
não uma pessoa revoltada, eu voltei a espancálo, socandoo com toda a força que
eu consegui. Meus cabelos se enroscavam em meus braços, formando nós que eu
sabia que não conseguiria desfazer tão facilmente, mas aquilo pouco me importava.
Ignorando totalmente meus gritos e minhas agressões, Daniel continuou me levando
até o elevador, que nos esperava com a porta automática aberta. Assim que
passamos, ele apertou o botão do vigésimo terceiro andar, que nos levaria ao seu
apartamento. Mesmo dentro do elevador, ele não me soltou, e eu parti pras ameaças
concretas, desesperada.
ME LARGA OU ENTÃO EU GRITO PRA TODOS OS ANDARES OUVIREM!
Os apartamentos têm proteção acústica, mas vai ser engraçado te ouvir tentar – ele
sorriu, sem tremer na base nem um pouco. Mas tudo bem, eu ainda tinha
argumentos.
ENTÃO EU VOU TE PROCESSAR ASSIM QUE CONSEGUIR OS VÍDEOS DO CIRCUITO
INTERNO DAS CÂMERAS DESSE PRÉDIO!
Tudo bem, eu suborno quem tiver que subornar. Tenho dinheiro pra bancar todas
as suas tentativas baratas de me prejudicar.
AAAAAAAH! – berrei, socandoo com mais força e mais rápido – ME SOLTA SENÃO
EU VOU ARRANCAR PEDAÇO DE VOCÊ, SEU VERME!
E inesperadamente, ele me pôs no chão, com um sorriso esperto. Antes que eu
tivesse tempo de assimilar que estava com os pés no chão e já podia dar uma
voadora nele, Daniel me prensou contra a parede do elevador de um jeito que me
arrepiou inteira. Por que eu tive um déjavu naquele exato momento?
Agora parece que estamos entrando num acordo – ele murmurou, próximo o
suficiente de mim a ponto de me fazer sentir sua respiração quente bater em meu
rosto – Te deixo arrancar um pedaço meu se me deixar fazer o mesmo com você.
Levei alguns segundos pra compreender suas palavras, devido à proximidade
perigosa entre nós. O sorriso pervertido em seus lábios já não parecia mais tão
irritante, e os olhos dele, intensamente Azuis, não conseguiam se decidir entre os
meus olhos e minha boca.
Eu nunc... – comecei a protestar, com a voz falha, mas não consegui terminar.
Daniel grudou seus lábios macios nos meus, fazendo meu corpo inteiro formigar
descontroladamente. Soltei um gemido involuntário quando nossas línguas se
encontraram, e só então me lembrei de como era maravilhoso têlo tão perto de
mim, ter suas mãos viajando sem limites pelo meu corpo, ter seu hálito de quem
acabou de escovar os dentes misturado ao meu, sentir o calor de seus braços me
envolvendo... De como era bom beijálo, abraçálo, embrenhar meus dedos em seus
cabelos, deslizar minhas mãos por seus ombros sem a menor censura, sem o menor
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receio.
A cada segundo, aquele beijo se tornava mais profundo, como se estivéssemos
doentes de saudade um do outro. O que não era mentira no meu caso, mesmo que
inconscientemente. Quando ele se aproximava de mim daquele jeito, com aquelas
intenções, num lugar onde ninguém poderia nos ver, era como se tudo à nossa volta
sumisse. Só existia eu e ele. O resto era mero detalhe.
O elevador parou no 23º andar alguns segundos depois, mas nenhum de nós dois
pareceu notar isso logo de cara. Levou algum tempo pra que Daniel cambaleasse pra
fora do cubículo até cair deitado no espaçoso sofá, me puxando consigo. Ainda bem
que naquele prédio, cada apartamento ocupava um andar inteiro, e não tivemos que
passar por nenhum tipo de hall com várias portas de apartamentos ou algo do tipo.
Não acho que ele conseguiria encontrar a chave certa para abrir a porta, por falta de
concentração e porque eu não daria trégua pra que ele pensasse. Eu tinha plena
consciência de que se parasse agora, não haveria jeito de recomeçar, e cada
pedacinho de mim implorava pra que eu continuasse.
Totalmente ensandecida, eu encaixei uma perna de cada lado de seu quadril, sem
nem me lembrar de como eu tinha chegado ali sem minha mochila. Daniel alisava
desde minhas costas até minhas coxas, sem conseguir se fixar num lugar só. Eu
agarrava seus cabelos da nuca com uma mão, e com a outra, explorava seu
abdômen perfeitamente esculpido por debaixo de sua blusa vinho. Após alguns
minutos, eu desci meus beijos por seu pescoço cheiroso, enquanto puxava sua blusa
até a altura do peito. Não levei muito tempo pra vêlo se desfazer da peça com
rapidez, totalmente sob o meu comando.
Agora que ele estava sem camisa, o calor se tornava quase insuportável. Bastaram
poucos minutos nos beijando pra que eu me sentasse sobre seu quadril e tirasse a
blusa, vendoo sorrir de um jeito maligno. Com a consciência desligada, eu voltei a
avançar em seus lábios, enquanto ele trabalhava sorrateiramente em meu zíper.
Quando conseguiu cumprir sua parte, Daniel se sentou, puxando minhas coxas em
sua direção e me encaixando entre suas pernas, e tirou minha calça, isso tudo sem
interromper o beijo. Talvez o fato de que meus braços estavam agarrando seu
pescoço nesse momento o ajudou nesse feito.
As mãos firmes e habilidosas de Daniel me seguravam pelas laterais de meu tronco,
na altura do sutiã, e me puxavam pra mais perto dele, tornando o calor ainda maior.
Aquele homem realmente era quente, no sentido literal da palavra. E depois ele me
comparava ao sol. Mas eu não reclamei, pelo contrário, ajudeio a nos aproximar
ainda mais ao entrelaçar minhas pernas em seus quadris.
Me aproveitei do momento em que seus lábios grudaram feito ímãs em meu
pescoço, e me convenci de que tirar a calça dele seria bem mais agradável que
continuar bagunçando seu cabelo. Abri o botão e o zíper com relativa facilidade, e
puxei sua calça na minha direção, simultaneamente sendo erguida de leve por ele,
pra facilitar o processo de passar a calça por baixo de meu corpo. Impressionante
como as coisas fluíam entre nós, por mais trêmula que eu estivesse e mesmo sem
dizermos uma palavra sequer.
Quando ele me sentou sobre seu quadril novamente, senti seu significativo sinal de
excitação, ainda mais significativo agora que o jeans grosso de sua calça não estava
mais entre nós. Uma onda de calor percorreu minha espinha, e eu me tornei ainda
mais agressiva, sem perceber. Daniel me deu uma mordidinha quase dolorida no
lábio inferior, sorrindo com os olhos semi abertos, e logo depois eu senti meu sutiã
afrouxar. Eu realmente tinha que tomar cuidado com as mãos dele, mal tinha
percebido que elas se dirigiram para o fecho em minhas costas.
Joguei o sutiã longe, e Daniel voltou a colar nossos lábios com urgência, agarrando
meus cabelos com uma mão e apertando meu seio com a outra. Ele puxava meu
cabelo com cada vez mais força, conseguindo se controlar, mas eu já não era capaz
de me manter em silêncio, gemia baixo com certa freqüência. Seu jeito de me beijar
e me tocar eram torturantes, não dava pra agüentar por muito tempo.
Disposta a fazer o que estava se tornando inevitável, eu mesma tirei minha calcinha,
enquanto ele diminuía o ritmo do beijo com um sorriso convencido. Assim que eu
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me dirigi às suas boxers, ele se deitou novamente, e eu fiz uma cara meio tonta de
dúvida. Ele estava cansado ou algo do tipo?
Pode continuar – ele ofegou, com a voz rouca, acariciando minhas coxas e
provocando choques elétricos em minha pele – Faça o que quiser, tenho certeza de
que vou gostar.
Franzi de leve a testa, sem entender direito, mas não havia tempo nem sanidade
para discutir o significado daquela atitude, ainda mais com aquele corpo
simplesmente perfeito bem ao meu alcance. Apenas fiz o que ele disse, e tirei suas
boxers, olhandoo profundamente nos olhos. Daniel sorria pra mim de um jeito
diferente, inédito... Quase gentil.
Alisei seu abdômen e tórax ofegante por um instante, sentindo cada relevo
perfeitamente esculpido deslizar por baixo de minha pele, e ele continuou esperando,
ainda acariciando minhas coxas. Seu tronco forte contrastava nitidamente com a
fragilidade de minhas mãos espalmadas sobre ele.
Olhei pra Daniel rapidamente, sem muita vontade de sair dali, mas o fiz, por motivo
de força maior. Me levantei depressa e peguei um preservativo no bolso de sua calça,
enquanto ele se ajeitava no sofá, ficando mais confortável. Voltei ao meu lugar e
coloquei a camisinha, levando um pouco mais de tempo que de costume devido à
instabilidade de minhas mãos. Meu coração batia muito forte, ainda mais alto em
relação ao silêncio do apartamento.
Daniel continuava me observando com interesse, e eu devolvi seu olhar, sem saber
muito bem o que fazer. Quer dizer, eu sabia exatamente o que queria fazer, mas não
sabia como. Todos os outros caras com quem já havia transado (e foram só três,
contando com ele) sempre ficavam, erm, por cima, se é que você me entende. Eu
nunca realmente fiquei no controle de nada, não naquelas horas. Me senti
praticamente uma virgem.
Eu não disse nada, nem ele. Um sorriso de canto surgiu em seu rosto, e eu o senti
segurando meus quadris devagar, como se tivesse medo de minha reação.
Obviamente, apenas o deixei continuar, e ele nos encaixou com a mesma velocidade
de antes, acelerando um pouco quando se certificou de que não me machucaria. Me
apoiei em seus ombros, com o tronco tombado na horizontal acima do dele, e vi
bem de perto sua expressão de prazer quando me penetrou. Acho que se não
estivesse tão surpresa com o jeito dele, teria feito a mesma cara, porque foi difícil não
gritar com a sensação entorpecente que ele me causara.
Daniel, que tinha fechado os olhos por um momento, voltou a abrilos, encarando os
meus a uma distância de poucos centímetros. Eu ainda o olhava, dominada por um
turbilhão de sentimentos novos, e ele não pareceu nem um pouco incomodado com
isso. Pelo contrário, parecia estar contente por me deixar confusa daquele jeito.
Aquele homem não era o mesmo de poucos minutos atrás, totalmente rude e idiota.
Aquele homem era o Daniel de verdade, por baixo de todas as máscaras, todos os
escudos, todas as farsas. Era um homem que, com o tempo, poderia se tornar
alguém perigoso demais pro meu próprio bem... Se eu o deixasse se aproximar
demais e ultrapassar os limites.
Voltei à minha posição ereta, seguindo algum tipo de instinto que não sei explicar, e
o sorriso dele alargou, indicando que eu estava indo pelo caminho certo.
Timidamente, comecei a me movimentar em cima dele, sempre com a assistência de
suas mãos em meus quadris, e algum tempo depois, tudo já era muito natural. Nós
tínhamos recuperado a espontaneidade de antes, sem vergonha um do outro, sem
timidez. Não durou muito, porque nenhum de nós dois conseguiu se segurar por
muito tempo naquela posição (que eu deduzi que não favorecia só a mim pelo
volume dos gemidos dele), mas foi sem dúvida um dos momentos mais inesquecíveis
da minha vida.
Pela primeira vez, eu caí deitada sobre ele, respirando de um jeito quase bruto de tão
ofegante. Daniel acariciou minhas costas de uma maneira reconfortante, e sem nem
pensar no que estava fazendo, eu o abracei pelo pescoço, recebendo beijos perto da
nuca que me causaram calafrios. Ele não estava ajudando em nada na recuperação
de meu fôlego com aqueles agrados, ainda mais embrenhando seus dedos nos meus
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cabelos, mas nada que ele tenha feito naqueles minutos de descanso conseguiu fazer
minha respiração parar como o que eu ouvi alguns minutos depois.
No começo, me perguntei se Daniel não tinha escutado, porque não mexeu um fio
de cabelo, mas depois o som do ringtone de mamãe se tornou ensurdecedor,
emanando de minha mochila, que estava jogada pelo caminho. Olhei pra ele,
assustada, e ele lançou um breve olhar na direção do som.
Posso te levar pra casa em quinze minutos – foi tudo que ele disse, sugestivo, e eu
assenti, sem nem hesitar. Ele sorriu de um jeito esperto e fez um aceno de cabeça
pra que eu atendesse o celular. Me levantei, caçando minha calcinha pelo caminho, e
ele sumiu pelo apartamento.
Oi, mãe – atendi, segurando o celular no ombro enquanto corria pela sala
recolhendo minhas roupas – Desculpa não ter te ligado, esqueci de avisar que já
cheguei em casa.
Ah, tudo bem, era só pra avisar que a fila de espera está grande aqui, e eu ainda
não fiz o exame... Que bom que você já está em casa, fico mais tranqüila. Ainda se
sente mal?
Não, melhorei um pouco – menti, me sentindo a rainha da trapaça e terminando de
fechar o zíper de minha calça – Tomei um comprimido pra dor de cabeça e vou
tentar dormir.
Faça isso mesmo, querida, logo esse mal estar passa – ela sorriu, e eu mordi o lábio
inferior, arrependida por enganála – Chegarei em casa o mais rápido possível. Te
amo.
Eu também – murmurei, e desliguei logo em seguida.
Tudo certo? – ouvi Daniel perguntar, já vestido, surgindo do corredor, e eu assenti,
vestindo rapidamente minha blusa, que era a única peça que faltava. Nunca me vesti
tão rápido em toda a minha vida, me senti praticamente uma ninja.
Então vamos – ele disse, chamando o elevador, e eu parei ao seu lado, colocando a
mochila de um jeito desajeitado por causa de minha tremedeira persistente.
Durante a descida até a garagem, nenhum de nós disse uma palavra, nem sequer
nos olhamos. Toda a intimidade de antes pareceu evaporar, sendo substituída pela
frieza e vergonha. Ambos mostramos lados de nós mesmos que mal sabíamos que
podíamos mostrar, e o medo da reação do outro era maior que qualquer coisa
naquele momento.
Caminhamos ainda em silêncio pela garagem, e quando ele estava prestes a apertar
o botão do alarme de um dos três controles em seu chaveiro, eu escolhi como queria
ir pra casa, sem nem pedir permissão.
Você disse que as pessoas se acostumam à velocidade com o passar do tempo –
murmurei, sem muita coragem de olhálo, enquanto me sentava na moto – Eu
gostaria de testar a sua teoria.
Daniel piscou algumas vezes, sem entender, e logo depois deu um fraco sorriso
desconfiado. Eu não devolvi seu sorriso, tensa demais pra me mexer, e ele não me
contrariou. Sentouse na moto à minha frente, me dando um capacete e colocando o
outro, e antes de dar a partida, ele falou, num tom baixo:
Melhor se segurar.
Respirei fundo, soltando pesadamente o ar logo depois, e o abracei apertado, pronta
pra mais uma dose de seu perfume viciante, e mais uma jornada de curvas
aterrorizantes pelas ruas. Mas eu não me importava com o perigo. Porque, de uns
tempos pra cá, estar com Daniel era bastante seguro. Maravilhosamente seguro.
Capítulo 15
Dessa vez, eu consegui manter meus olhos abertos. Pude ver todos os borrões nos
quais os prédios, árvores, pedestres e carros tinham se transformado com a
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velocidade, contrastando com o cinza tempestuoso do céu. Pude aproveitar o vento
revigorante de cada metro velozmente percorrido pela moto de Daniel, que roncava
alto como se tivesse vida própria e gostasse da adrenalina. Pude sorrir com a
sensação gostosa de estar praticamente voando sem asas.
Diferente da ida, paramos em vários sinais vermelhos. E em nenhum deles, Daniel
sequer demonstrou se lembrar de que eu estava bem atrás dele, agarrada com
firmeza às suas costelas. Mesmo sem poder olhar em seus olhos, eu soube que
aquele era novamente o Daniel de sempre. Ele tinha voltado a se trancar em seu
casulo impenetrável, e eu sabia que eu talvez não voltasse a ver o que se escondia
dentro dele. Porque eu não pretendia me deixar cair na tentação novamente. Eu não
podia fazer isso com Brii, por mais difícil que fosse resistir à atração que Daniel exercia
sobre mim.
Não demoramos a chegar à minha casa. Assim que ele estacionou a moto, eu desci e
entreguei seu capacete, que ele colocou no bagageiro sem nem me olhar. Eu o
observei subir na moto outra vez, com sua expressão indecifrável, e finalmente tomei
coragem de dizer alguma coisa.
Hm, obriga...
Nem bem eu abri a boca, um ronco de motor ecoou e ele foi embora. Suspirei, sem
nem me dar ao trabalho de terminar a palavra. Eu já devia saber desde o início que
seria assim, Daniel não era o tipo de cara que se preocupava com os sentimentos dos
outros. Pelo menos não o Daniel que eu estava acostumada a ver.
Entrei em minha casa vazia e calmamente subi até meu quarto, sem saber direito o
que fazer nem o que pensar. Eu já não me sentia tão culpada como da primeira vez,
e algo me dizia que o motivo pra isso não era dos mais angelicais. Eu não tinha me
esquecido de que aquilo era errado e muito menos tinha deixado de amar Brii, mas
ficar com Daniel era melhor do que praticamente tudo. Poucas vezes eu me lembrei
de querer tanto alguma coisa como eu queria agora. Eu queria passar o tempo todo
sentindo os arrepios que as mãos dele provocavam em meu corpo, me sentindo tão
desejada apenas com um olhar, o olhar dele, sempre intenso em mim como se eu
fosse sumir num piscar de olhos.
Me perguntei por um momento se Daniel estaria arrependido por ter me levado até
sua casa, ou pelo que fizemos. Me perguntei se ele já havia se cansado de mim, se já
tinha realmente conseguido o que queria, como ele mesmo disse uma vez, mas não
consegui me convencer de que isso tenha sido a razão por trás de sua frieza. Se ele
havia esperado e insistido por tanto tempo para finalmente me fazer ceder, ele já
teria conseguido se entediar tão cedo? Talvez fosse algum motivo que eu não tivesse
como descobrir, ou talvez fosse o mesmo sentimento que eu carregava comigo:
culpa por Brii. Tudo bem, retiro o que disse, Daniel não sentia remorso nem culpa
por nada, isso estava mais do que claro.
Estava tão imersa em pensamentos que só voltei a prestar atenção no que estava
fazendo quando um trovão ecoou pelo apartamento, e eu me encontrei deitada em
minha cama, encarando o teto. Coloquei uma mão dentro do bolso da calça e de lá
tirei o bilhete que Brii havia me dado na escola. Fechei os olhos, apertando o
papelzinho em meu peito, que pulsava de acordo com meu coração acelerado. Por
menos culpada que eu me sentisse em relação a Brii, fato que continuava me fazendo
sentir um monstro, eu ainda estava refletindo sobre tudo que tinha feito com Daniel.
E por mais que eu tentasse pensar em Brii durante o resto do dia, meus
pensamentos voltavam a ser atraídos para o professor Jones, como um disco
irritantemente arranhado, ainda mais com o tempo chuvoso e cinzento, que só me
fazia lembrar da comparação que Daniel havia feito. Naquele dia, o tempo realmente
poderia ser comparado ao meu estado emocional.
Toda vez que eu me pegava sem nada pra fazer, aqueles olhos profundamente Azuis
voltavam a me perturbar, e quando isso acontecia, eu recorria ao bilhete de Brii. Sua
caligrafia esforçada para parecer legível não me fazia sorrir mais, e sim pensar em
uma única coisa, que mesmo que eu não quisesse, fazia meu corpo se queixar
involuntariamente: o fim de semana estava próximo, e se Brii cumprisse o que
ameaçava fazer no bilhete, nós o passaríamos juntos. Talvez ele me levasse para
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viajar, talvez ficássemos em seu apartamento, talvez ele me surpreendesse com
alguma outra alternativa. Mas não era isso que me agoniava.
Eu não podia mais pensar em Daniel. Por um momento, pude jurar que não
conseguiria. Se eu estava disposta a manter todos os meus podres em segredo, não
podia parecer pensativa, nervosa, ausente demais durante meu fim de semana com
Brii. Eu tinha que parecer íntegra, completamente feliz e plena, o que eram emoções
que se distanciavam um pouco da realidade. Mas por Brii, tudo valia a pena. Mesmo
que não fosse ele quem habitasse meus intermináveis sonhos naquela noite.
Você já falou pra sua mãe que vai ficar “lá em casa” esse fim de semana, né? –
Kimberlly perguntou, assim que o sinal tocou às 7 da manhã de sextafeira.
Apenas assenti, sem saber se realmente estava pronta pra surpresa de Brii. A
proximidade da descoberta fazia meu estômago revirar de curiosidade e tensão. Pelo
menos eu não tive que me preocupar com a desculpa para sumir de casa por dois
dias, já que a mãe de Kimberlly teria que viajar a trabalho justamente naquele fim de
semana. Bastou usar um pouco de minha lábia e do beicinho de Kimberlly pra que
mamãe me deixasse acompanhála durante aqueles dois dias solitários em sua casa.
Coitadinhas de nós, só nos faltavam asinhas de anjo.
Eu juro que não te entendo – Kimberlly bufou, subitamente parecendo irritada, e
eu franzi a testa, sem entender – O homem da sua vida te prepara uma surpresa e
tudo que você sabe fazer é ficar com essa cara deprimida o tempo todo! Parece que
não tá feliz com a maravilha que tem nas mãos, credo!
Me desculpe, Kimberlly, eu estou com sono – falei pausadamente num tom
ironicamente calmo, enquanto subíamos os degraus da escola rumo às nossas
classes – Não fiquei acordada quase a noite toda porque quis, sabe.
Tudo bem, eu confesso, existe um motivo além do sono atrasado, e que também
está por trás dele. Quer dizer, Kimberlly não precisava ficar sabendo que eu andava
sonhando demais com o professor Jones, certo? Ela nem sabia que eu tinha ido ao
seu apartamento! Pra que sair contando tudo quando eu podia praticar meu
controle emocional e mentir pra ela? Seria tão mais produtivo, e ainda me ajudaria
muito em futuras omissões. Já passou da hora de começar a pensar também no
futuro, e não só em aliviar os incômodos do presente.
Você e esse seu sono me estressam – ela disse simplesmente, revirando os olhos
assim que chegamos ao nosso andar – Vê se melhora essa cara, parece até que eu tô
mais empolgada que você!
Soltei um risinho espontâneo, surpresa com a capacidade sensitiva de Kimberlly. Pra
quem não sabia da pior parte, até que ela estava boa de chute.
As aulas antes do intervalo foram entediantes e superficiais. Não me lembro de
absolutamente nada que os professores disseram, mas não parecia ser nada de
importante. Pelo menos pra mim, não era nem um pouco importante no momento,
isso eu posso afirmar.
Mell! – ouvi uma voz cochichar quando eu estava saindo (lêse: me arrastando pra
fora) da sala, como sempre, após todos já terem corrido para a liberdade limitada do
pátio. Hesitei por um momento ao ouvir o chamado, e respirei fundo antes de me
virar na direção da sala ao lado, de onde Brii me encarava com um sorriso sapeca.
Vem cá, fujona – ele sussurrou, me pedindo pra entrar com um gesto de mão, e eu
me esgueirei pra dentro da sala deserta junto dele. Mal Brii fechou a porta atrás de
nós, suas mãos percorreram minha cintura e ele me abraçou, unindo nossos lábios
num beijo carinhoso. Eu tinha que admitir, ficar com ele jamais perderia a graça.
Bom, pelo menos não totalmente.
Espero que esteja preparada pra sumir de casa nesse fim de semana – ele sorriu
quando partiu o beijo, daquele seu jeito encantador, e eu me vi dando o sorriso mais
largo e espontâneo dos último cinco dias. Eu preferia não incluir os sorrisos
involuntários que surgiam em meu rosto quando me pegava pensando em Daniel
nessa conta.
O que você tá aprontando, hein? – perguntei, involuntariamente contagiada pela
atmosfera gostosa que o rodeava constantemente, e ele balançou negativamente a
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cabeça.
Logo você vai descobrir – foi só o que Brii disse, tocando a ponta de meu nariz com
o dedo indicador e me dando um selinho em seguida – Por enquanto, tudo o que
você precisa saber é que meu seqüestro começa hoje à tarde, algumas horas depois
da escola, e só termina na segundafeira.
Arregalei os olhos, surpresa, e o sorriso esperto dele aumentou.
Como assim? Começa hoje? Mas já? – indaguei, enquanto ele colocava meus
cabelos pra trás da orelha – Brii, dá pra parar de mistério?
Dá pra parar você de ser tão ansiosa e esperar? Falta pouco, pequena! – ele
retrucou, imitando meu jeito afobado e me fazendo rir – E aproveita essa agitação
toda pra se arrumar rapidinho depois da escola, porque eu quero você às três horas
lá em casa. Ah, e se eu fosse você, levaria uma mochila com algumas roupas.
Claro que eu vou levar uma malinha, não pretendia passar três dias usando as
mesmas roupas – falei, logo depois virando a cabeça pro lado em sinal de dúvida –
Mas que tipo de roupas?
Biquínis são obrigatórios, e algumas roupas bem leves – ele respondeu, olhando
pro teto como se estivesse pensando – Mas “leves” não significa “curtas”, muito
menos “indecentes”, ouviu bem? Estarei de olhos bem abertos.
Não gostei muito do rumo que a conversa estava tomando, alguns flashbacks de
fatos que eu preferia esquecer estavam dando o ar da graça em meus pensamentos.
Tentei fingir que estava tudo bem, e logo tratei de reprimir aquelas lembranças. A
empolgação pela surpresa tinha finalmente borbulhado dentro de mim, e eu não ia
deixar que meros detalhes estragassem tudo novamente.
Entendi, roupas leves – assenti uma vez, e ao ver Brii erguer autoritariamente as
sobrancelhas, quase tornando visíveis em sua testa as palavras “Não está
esquecendo nada?”, eu revirei os olhos e completei a revisão – Mas nada curto nem
indecente demais.
Agora sim – ele grunhiu, relaxando os ombros e fazendo uma carinha emburrada
que me fez sorrir feito idiota – Você é só minha e de mais ninguém, que isso fique
bem claro.
Brii apertou o abraço em minha cintura, e senti um nó se formar em minha garganta,
junto com o suor frio de pavor, que já dava suaves sinais de vida. Foi quando eu
decidi que estava na hora de desconversar.
Acho melhor irmos – balbuciei, fazendo a cara mais despreocupada possível e
olhando pra porta fechada – O inspetor vai começar a desconfiar.
É mesmo – ele sussurrou, com uma falsa expressão amedrontada, e me deu um
tapinha no bumbum, como se me mandasse ir – Até mais tarde, amor.
Mordi o lábio inferior ao ouvir do que ele tinha me chamado, e o nó na garganta
começou a latejar de remorso. Ele raramente me chamava assim, dizia que era
“brega, mas de vez em quando, parecia certo”. Porque eu era o amor dele. E doía
saber que eu não merecia aquele sentimento tão puro e transparente.
Ei, espera – cochichei, segurando o rosto dele carinhosamente e olhando fundo em
seus radiantes olhinhos Castanhos – Eu só queria dizer que... Eu te amo. Muito.
Mesmo com todos os recentes (e incríveis) acontecimentos com Daniel, eu não me
senti falsa ao dizer que o amava. Porque aquilo não tinha deixado de ser verdade.
Meu coração bombeou alívio para todos os cantos de meu corpo com o bom
resultado de meu teste. Nada tinha mudado. E se eu tivesse controle sobre a parte
devassa de minha mente, o que eu definitivamente não tinha, tudo continuaria igual.
Mas mesmo repetindo pra mim mesma que tudo estava intacto, havia uma voz
baixa, porém muito poderosa, que me dizia que eu estava errada, que tudo estava
mudado. A voz dele. Estremeci de leve, mas felizmente ele não percebeu. Meus
conflitos internos ainda me denunciariam, fato. Respirei fundo e me recompus,
deixando pra refletir sobre minha situação afetiva num outro momento.
Brii piscou algumas vezes, assimilando minhas palavras, e abriu um sorriso lindo de
orelha a orelha. Ele aproximou lentamente seu rosto do meu, fazendo carinho em
minhas bochechas com seus polegares, e quando estava prestes a me beijar, pude
ouvilo murmurar:
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Eu faria qualquer coisa... Só pra ouvir você me dizer isso.
Meus olhos, que miravam perdidamente os lábios dele, se ergueram até encontrar
seus olhos, intensamente ternos. Senti algumas lágrimas se formando, mas as
contive quando ele me beijou daquele jeito especial, só dele. Mas eu não era mais só
dele. E nunca mais seria.
Capítulo 16
Oi, Andy – falei, assim que cheguei ao balcão da recepção do prédio às três da
tarde.
Oi, Mell – ele respondeu vagamente, concentrandose em suas palavras cruzadas –
Seu tio pediu pra você subir logo, parece que ele tá com um pouco de pressa hoje.
Ahn... OK – gaguejei, segurando a vontade de rir enquanto dava as costas a Andy e
caminhava rumo às escadas. Eu nunca me acostumaria ao falso status de sobrinha
de Brii, talvez nem se ele realmente fosse meu tio. Comecei a subir os degraus
rapidamente, ouvindo alguns barulhos de chaves e trancas, e nem bem cheguei ao
primeiro andar, Brii já estava ao meu lado, ajeitando apressadamente uma mochila
nas costas.
Bem na hora – ele ofegou, me dando um selinho rápido e logo depois me puxando
de volta para o térreo. Mesmo estando totalmente confusa com a pressa dele, me
deixei levar por sua mão, cujos dedos estavam entrelaçados nos meus antes que eu
me desse conta.
Pra que essa correria toda? – falei, franzindo a testa, e Brii revirou os olhos, como
se a resposta fosse óbvia.
Todo o tempo que eu tenho com você nesse fim de semana tá cronometrado – ele
explicou baixinho, enquanto chegávamos ao térreo – Pra aproveitar ao máximo cada
minuto.
Brii sorriu pra mim, empolgado, e eu logo vi seu sorriso radiante refletido em meu
rosto involuntariamente. Aquele sorriso tinha poderes sobrenaturais, eu sempre
soube disso.
Passamos rapidamente por Andy, que nos cumprimentou com um aceno distraído de
cabeça, e logo chegamos ao carro. Deixamos nossas mochilas no banco traseiro e na
mesma pressa de antes, entramos no veículo, que não demorou a arrancar. Brii ainda
ostentava um sorriso, ainda mais largo que o anterior, e eu estava começando a ficar
ansiosa de verdade. O que ele estava aprontando afinal?
Essa é a sua última chance de me deixar menos ansiosa e me contar pra onde
estamos indo – suspirei educadamente, após alguns metros percorridos em silêncio.
Ele ergueu uma sobrancelha, sem me olhar, e um sorrisinho começou a brincar em
seus lábios. Parecia que meu poder de persuasão não adiantaria nada.
Tudo bem – voltei a falar, quando vi que ele não responderia – Essa viagem
poderia ser muito mais... Divertida, mas já que é assim... Você que sabe.
Brii alargou seu sorriso de canto, balançando negativamente a cabeça num falso tom
de desaprovação.
Então é assim que você acha que vai me convencer? – ele perguntou, finalmente
me olhando de um jeito esperto – Acha que eu não vim preparado pra resistir às
suas chantagens?
Confesso que aquele olhar dele me deixou um pouco fora dos eixos. Ele já tinha
olhado pra mim várias vezes daquele jeito convencido. Mas em nenhuma das outras
vezes, os olhos que eu vi nele pareciam pertencer a outra pessoa como naquele
momento. Senti meu corpo se arrepiar por inteiro, apesar de minha relutância.
Te odeio – revirei os olhos o mais naturalmente que pude, me encolhendo no
banco do carona e fazendo Brii rir. Ele sempre ria de tudo que eu fazia, fator que eu
sempre usava como vantagem em momentos nos quais eu precisava disfarçar
alguma coisa.
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Seu tarado – censureio, fingindo reprovação em minha expressão e voz, e ele me
olhou de canto, sorrindo timidamente.
Que tal entrarmos? – ele sugeriu, suspirando profundamente de um jeito dramático
e me fazendo rir.
Boa idéia – concordei, radiante – Preciso ver se a casa é tão linda por dentro
quanto é por fora.
É ainda melhor – Brii sorriu, saindo do carro logo depois. Fiz o mesmo, me
oferecendo em vão pra carregar alguma de nossas mochilas, e o acompanhei de
mãos dadas até a entrada da casa. Ele tirou a chave do bolso e abriu a porta,
lançando um breve olhar animado pra mim, que o retribuí com a mesma
empolgação. Me senti uma garotinha diante de uma casa da Barbie em tamanho real.
Brii me deu passagem para entrar primeiro, e eu o obedeci. Dei alguns passos dentro
da casa, deslumbrada com a beleza luxuosa e ao mesmo tempo simples dos móveis e
decoração. Era uma das casas mais lindas que eu já tinha visto, e se pudesse sonhar
com alguma, definitivamente seria como essa.
Linda, não é? – Brii murmurou, colocando as mochilas sobre o sofá e se
aproximando por trás de mim. Olhei pra ele, que logo parou de observar a casa para
retribuir meu olhar, e assenti, maravilhada.
É perfeita – sorri, com o coração acelerado. Brii me abraçou devagar pela cintura e
colocou o rosto na curva de meu pescoço, me arrepiando com sua respiração calma e
quente.
Como você – ele sussurrou, roçando carinhosamente a ponta de seu nariz em
minha pele. Fechei os olhos, sentindo meu coração acelerar ainda mais, e me virei
lentamente, até ficar de frente pra ele. Abracei seu pescoço sem pressa, observando
enquanto minhas mãos subiam por seu peito, e finalmente devolvi seu olhar, muito
mais feliz do que eu me lembrava que podia ser.
Como você – corrigi baixinho, aproximando nossos rostos e dando um beijinho de
esquimó nele, que sorriu com o agrado e fechou os olhos. Aproximei ainda mais meu
rosto do dele e toquei seus lábios com os meus, começando com alguns selinhos
demorados e logo aprofundando mais o beijo.
Brii espalmou suas mãos em minhas costas, alisando cada centímetro
cuidadosamente. Foi descendo até meus quadris e me apertou contra seu corpo,
automaticamente intensificando nossos movimentos. Nossas línguas se moviam em
sintonia, num beijo cheio de saudade e desejo. Não havia nada tão cheio de
sentimento quanto nossos momentos juntos.
Quando estávamos começando sufocar um ao outro sem a menor intenção de parar,
uma coisa começou a tremer entre nós, e eu pulei de susto. Brii não costumava
tremer por lá quando me beijava, se é que você me entende.
Mas que caralho – ele xingou baixo, suspirando e revirando os olhos enquanto
enfiava tremulamente a mão dentro do bolso da bermuda e tirava de lá seu celular.
Ah, tá, o celular. Ufa, meu namorado continua tendo ereções normais. E continua
falando palavrões quando interrompem nossos amassos. É, ele continua o mesmo
Brii de sempre.
Que é, sua bicha? – ele grunhiu, fazendo um biquinho espontâneo com seus lábios
vermelhos (o que só tornou meu riso ainda mais incontrolável e o fez rir junto
comigo, mesmo que contra sua própria vontade) – A gente já chegou sim. Tá, valeu.
Quem era? – perguntei, ainda rindo, quando ele desligou o celular com a expressão
entediada e voltou a enterrálo no bolso.
O proprietário da casa – ele respondeu, hesitando um pouco antes de falar, e eu
franzi levemente a testa, estranhando aquela pequena pausa.
Algum problema? – insisti, enquanto ele voltava a me puxar pra si pela cintura –
Talvez você não devesse têlo chamado de bicha.
Não, não tem problema nenhum – Brii riu, voltando ao normal – Ele é uma bicha
mesmo, não consegue viver sem mim.
E quem é esse meu concorrente? – gargalhei, quase chorando de rir do jeito dele
ao passar aquela boa impressão do cara. Estava tão entretida rindo que não
consegui frear minha gargalhada a tempo de ouvir o que ele respondeu, nem mesmo
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depois de sua mudança brusca de expressão, de alegre para séria.
Erm... É o Danny.
Uma sensação de ar sumindo de meus pulmões veio com força total, como se eu
tivesse sido esmagada por um lutador de sumô. Brii tinha me levado para passar o
fim de semana na casa de praia do Jones? Era informação demais pra assimilar tão
de repente. Minha expressão desmoronou, assim como toda a minha fortaleza anti
Daniel. Estar numa casa que pertencia a ele seria um fato difícil de digerir.
Eu sei que devia ter te falado antes, preferia até não te falar, mas... Me desculpe,
Mell – Brii murmurou, parecendo desconcertado – Já brigamos por causa dele, e sei
que vocês não se dão bem, mas... Foi o próprio Danny que ofereceu a casa, e como
eu adoro esse lugar e não tenho condições de conseguir nada igual a isso, aceitei a
idéia na hora.
Ttudo bem – gaguejei, forjando um sorriso que mais deve ter parecido uma careta
de dor do que outra coisa, mas que foi suficiente para aliviar a súbita tensão de Brii –
Ele é seu amigo, eu... Eu entendo.
Entender era uma coisa. Gostar da idéia, ou melhor, me acostumar com ela, não me
arrepiar com o simples fato de que aquela casa pertencia a Daniel e saber que eu
estava lá com outro cara? Ah, isso era uma coisa bem diferente. Mas eu tinha
prometido a mim mesma que não deixaria nada atrapalhar meu fim de semana com
Brii, e me apeguei a essa promessa.
Bom, vou aproveitar a interrupção desnecessária pra te mostrar o resto da casa –
Brii disse, me dando um breve selinho – Você vai adorar a vista do quarto, ainda
mais com o pôrdosol.
Me deixei ser guiada por ele em nosso tour pelos cômodos, totalmente absorta em
pensamentos. Por mais que eu conseguisse sorrir de vez em quando com as
descrições maravilhadas de Brii sobre cada móvel, meu pensamento continuava
distante dali, perigosamente próximo do proprietário daquela casa.
Imaginei por um momento se Daniel já havia levado mulheres pra lá. Com certeza
já... Mas quantas? Várias de uma só vez? Será que Kelly já teria passado um fim de
semana com ele naquela mesma casa? Definitivamente, eu teria um certo trabalho
pra afastar aqueles tipos de pensamento da minha mente. Imaginar Kelly passeando
pelos cômodos só de roupas íntimas (ou até mesmo sem elas), enquanto os olhos
dele a acompanhavam, me causou uma súbita queimação dentro do peito, que eu
logo reprimi furiosamente. Eu estava começando a me convencer de que tinha
alguma doença psicológica incurável.
Agora chegamos ao lugar mais lindo da casa – Brii avisou, empolgado, antes de
abrir a porta de um dos cômodos no andar de cima – Feche os olhos.
Suspirei, tentando relaxar, e obedeci. Ouvi a porta se abrir e logo as mãos de Brii me
guiaram pela cintura alguns passos pra dentro. O barulho do mar ali era bem mais
alto, e um vento agradavelmente fresco e com cheirinho de praia nos atingiu após
algumas passadas. Ele me mandou parar, e me abraçou por trás antes de sussurrar
ao pé do meu ouvido:
Pode abrir.
Fiz o que ele pediu devagar, e uma forte luz alaranjada infestou meus olhos.
Estávamos na sacada do quarto, de onde podíamos ver uma faixa relativamente
curta de areia estenderse até ser encoberta pelo mar sereno. O sol estava prestes a
“tocar” a água no horizonte, irradiando laranja sobre tudo que havia abaixo de si e
reinando solitário no céu, já que nenhuma nuvem ousara aparecer ao seu redor.
Aquela vista me tirou o fôlego. Pra mim, o pôrdosol era um dos espetáculos mais
lindos da natureza. Sempre que eu podia, costumava ficar observando as oscilações
de cores lindas e vibrantes no céu enquanto o sol se punha, refletindo sobre
qualquer coisa ou simplesmente ouvindo alguma música. Era extremamente
terapêutico, me deixava muito mais calma à noite e me fazia dormir melhor. Claro
que com as reviravoltas dos últimos dias, não havia pôrdosol que me acalmasse,
mas eu não deixava de tentar.
Brii... É lindo! – soprei, levando uma mão à boca em sinal de deslumbramento. Ele
não respondeu, apenas soltou um risinho mudo e acomodou melhor seu queixo em
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meu ombro, com a lateral de seu rosto colada ao meu.
Aquela vista me fez enxergar as coisas com muito mais clareza, analisar todas aquelas
preocupações que a lembrança de Daniel havia trazido com mais calma, e até mesmo
chegar a uma conclusão. Eu tinha que colocar em minha mente que eu amava Brii e
não precisava de mais nada. Tantas pessoas esperam a vida inteira para encontrar
sua alma gêmea, e eu com meus míseros 17 anos, tive a sorte de encontrar a minha.
Mas ainda assim, conseguia ser baixa ao ponto de pensar em outro homem... Ao
ponto de têlo traído com outro homem. Aquilo me sufocou. A culpa e a censura me
estrangularam, cruéis e dolorosamente justas. Daniel nunca seria capaz de fazer por
mim nem a metade do que Brii fazia.
Eu não podia continuar daquele jeito. Eu precisava acabar com aquilo.
Se eu te pedir uma coisa... Promete que vai fazer? – murmurei, encarando o
horizonte com os olhos apertados pelo vento.
O que você quiser – ele respondeu, também baixinho, como se tivesse medo de
interromper o silêncio, e também porque não havia necessidade de falar alto com
nossa proximidade.
Por favor, prometa que vai fazer – repeti, mordendo meu lábio inferior.
Prometo – ele falou, virando um pouco o rosto para poder me observar – Não
confia em mim?
Suspirei, sem conseguir não confiar nele, e assenti. Era impossível não confiar.
Então me prometa só mais uma coisa – gaguejei, sentindo minha voz falhar de
nervoso Se um dia eu te machucar... Prometa que vai fazer pior comigo.
Brii ergueu a cabeça, recuando com o pescoço pra trás até ficar com a coluna reta, e
eu hesitei antes de olhálo. Ele me observava com a expressão séria, confusa, e até
um pouco desconfiada.
Como assim, Mell? – ele perguntou, com a testa firmemente franzida – Como você
poderia me machucar?
Eu só quero que você me dê a certeza de que vou me arrepender amargamente do
dia em que te fizer sofrer – insisti, virando de frente pra ele, com o olhar triste –
Quero que prometa que não vai me deixar em paz sem me punir por uma injustiça
dessas.
Brii piscou algumas vezes, ainda sem entender, e eu esperei até que ele se
recuperasse da surpresa e me respondesse.
Você não me faria sofrer... Faria? – ele questionou, olhando nos meus olhos como
se procurasse uma resposta pra sua pergunta ali. Sua expressão resignadamente
assustada fez com que algumas lágrimas surgissem em meus olhos, num misto de
vários sentimentos. Remorso, pena, raiva de mim mesma, vontade de voltar no
tempo, vontade de me afogar naquele mar bem à nossa frente e me desfazer
daquela vida que eu definitivamente não merecia.
Nunca – sussurrei, fechando os olhos e tentando não chorar, mas foi um pouco
inútil. Dois segundos depois e minhas lágrimas estavam molhando a camiseta dele,
assim como meus braços estavam abraçandoo tão forte que considerei a hipótese
de estar machucandoo. Mas como ele me envolveu com seus braços quentinhos
num abraço quase tão apertado, eu presumi que estava tudo bem.
Tudo estaria sempre bem, desde que eu tivesse Brii ao meu lado.
E eu não precisava de mais nada.
Capítulo 17
opcional: baixem Muse – Time Is Running Out e dêem play quando a letra
começar
Posso te perguntar uma coisa?
Já tá perguntando, mas eu vou te dar um crédito.
Ah, obrigado. Hm... Eu não sei bem como perguntar isso. Vai parecer cafona, aliás,
é cafona, mas eu quero saber mesmo assim.
Então deixa de ser bobo e pergunta logo.
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Eu estava sentada na beira do mar, abraçada aos meus joelhos e sentindo a água
gelada tocar meus pés descalços. O barulho das ondas e o vento gostoso estavam
me deixando sonolenta, ainda mais com os braços de Brii envolvendo minha cintura,
me aproximando de seu peito e me abrigando ainda mais confortavelmente entre
suas pernas.
Você se imagina daqui a um bom tempo... Ainda comigo? – ele finalmente
perguntou, me fazendo virar a cabeça pra olhálo.
Brii não retribuiu meu olhar, apenas continuou a fitar pensativamente o horizonte à
nossa frente. Tínhamos perdido a noção da hora, mas já devia ser tarde, pela
escuridão, que só não era tão gritante sobre nós por causa das luzes acesas que
emanavam da casa. Levei algum tempo pra responder, com um sorriso tímido no
rosto.
Pra falar a verdade, eu imagino isso há uns três anos – falei, voltando a ficar de
frente e sentindo minhas bochechas queimarem. Aquela frase tinha soado mais
infantil do que eu pensei.
Jura? – ele exclamou, com a voz surpresa pela revelação – Desde que eu comecei a
te dar aulas?
Assenti, me sentindo a pirralha sonhadora, ainda mais com o riso satisfeito de Brii.
Hesitei por um momento, me perguntando se deveria fazer o que estava pensando,
mas antes de chegar a uma conclusão, ouvi minha própria voz me delatar:
E você? Se vê comigo daqui a um tempo?
Ele deu uma pequena pausa, assimilando a pergunta, e eu esperei sua resposta sem
me mexer, apenas observando a água do mar tocar meus pés novamente.
Na verdade, eu procuro não pensar nisso – ele murmurou, me abraçando mais
forte, e apesar de não ser aquela a resposta que eu esperava ouvir, continuei imóvel
– Prefiro me apegar a cada minuto como se fosse o último, como se você fosse fruto
da minha imaginação e pudesse sumir a qualquer momento... Pensar assim vai
tornar as coisas muito mais fáceis quando eu tiver que te deixar ir.
Franzi a testa de leve, sentindo melancolia na voz dele. Meu coração doeu com
aquelas palavras, e novamente me virei de lado, colocando minhas pernas sobre a
dele.
Me deixar ir? – soprei, sentindo minha garganta apertada, e fixei meu olhar no dele,
mesmo sem ser correspondida. Brii deu um sorriso triste, voltando a demonstrar
uma certa dor em sua expressão.
Encare os fatos, Mell – ele disse, finalmente me olhando, e por um momento eu
preferi que ele não o fizesse e me poupasse da agonia que seus olhos transpareciam
Você tem uma vida inteira pela frente, e o que eu tenho? Mais alguns anos até que
tudo que eu possa te oferecer seja o meu amor, coisa da qual você provavelmente
não vai mais precisar. E até lá, alguém muito melhor do que eu vai aparecer, e tudo
que passamos juntos será apenas parte do passado.
A cada palavra dele, eu ficava mais inconformada. Por que ele pensava daquela
forma? O fato de eu estar ali com ele, amandoo como nunca amei ninguém, não era
suficiente pra provar que eu o queria pra sempre? Por que ele ainda tinha dúvidas de
que ficaríamos juntos por muito tempo? Se nem eu, que tinha um motivo com nome
e sobrenome para pensar como ele, cogitava uma hipótese daquelas, por que ele
cogitava?
Eu não consigo acreditar que você tá me dizendo essas coisas – falei, com a voz
falha de tão incrédula – Retire o que disse, agora!
Mell... – ele insistiu, cabisbaixo e com um sorriso sem humor algum, mas eu não lhe
dei tempo pra continuar.
Retire o que disse! Agora! – repeti num volume um pouco mais alto, erguendo seu
rosto até seus olhos ficarem à altura dos meus – Eu nunca mais quero te ouvir
falando absurdos como esses, entendeu? Se você não quiser me magoar, é melhor
parar com isso! Você me ofende falando assim!
Brii demorou a devolver meu olhar, e quando o fez, seu sorriso doloroso se
transformou num sorriso leve, tímido. Mesmo com a seriedade do momento, me vi
lutando contra meus músculos faciais, com vontade de sorrir diante do jeito fofo
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dele.
Me sinto um garotinho de dois anos com você brigando assim comigo – ele
murmurou, com o sorriso levemente esmagado entre suas bochechas por causa de
minhas mãos, que ainda envolviam firmemente seu rosto.
Também não precisa exagerar, né? – sorri, ainda meio irritada, envolvendo seu
pescoço com meus braços – Uma hora acha que tá velho demais, depois me faz
sentir uma pedófila? Decidase, Langdon!
Dessa vez, Brii soltou uma gargalhada gostosa, que me fez sorrir ainda mais. Nem
parecia que estávamos num momento crítico há tão pouco tempo.
Acho que eu já me decidi – ele disse, olhando fixamente pra mim enquanto passava
um de seus braços por baixo de minhas pernas e envolvia minha cintura com o outro
– Decidi que está um pouco frio aqui, e é melhor entrarmos e nos aquecermos.
Hm – falei, fingindo analisar a decisão e fazendo o máximo para manter o clima
agradável que havia sido restabelecido tão depressa – Preciso mesmo dizer que
concordo?
Brii também fez cara de pensativo, e logo voltou a sorrir.
Acho que não – ele riu, levantandose comigo no colo com uma agilidade invejável.
Brii caminhou até a casa, rodopiando de vez em quando e me fazendo rir, abraçada
ao seu pescoço. Antes de entrarmos na casa, lavamos nossos pés no chuveiro que
havia perto da porta, e em momento nenhum Brii me colocou no chão. E
sinceramente, eu adorava ser carregada no colo. Resquícios da infância, talvez.
Ele me levou até o quarto, dando beijos estalados em minha bochecha a cada
degrau que subia, enquanto eu enrolava meus dedos nos cabelos de sua nuca
devagar e ria, como sempre. Assim que conseguimos abrir a porta do quarto com
certa dificuldade e mais algumas risadas, ele se dirigiu à cama e me deitou com
delicadeza, como se eu fosse uma boneca de porcelana. Ficou de pé me observando
por alguns segundos, e eu vi um sorriso iluminar seu rosto.
Sem a menor chance de resistir, sorri de volta, e ele se deitou devagar sobre mim,
distribuindo beijos pela minha barriga, pescoço e leves mordidas no queixo e
bochechas pelo caminho. De olhos fechados, eu não conseguia deixar de sorrir com
os carinhos em meu rosto, até que seus lábios se aproximaram do canto de minha
boca, e inevitavelmente nos beijamos.
Deslizei minhas mãos pelo peito e barriga dele, desabotoando lentamente sua blusa.
Estava morrendo de saudade daquilo, e não queria estragar o momento com
qualquer tipo de pressa. Ele, que estava apoiado em suas mãos pra não depositar
todo o seu peso sobre mim, soltava suspiros roucos quando eu me distraía e
acariciava seu tórax ao invés de desabotoar sua camisa. Não era só eu que estava
sentindo falta, ainda bem.
Quando cheguei ao último botão, subi minhas mãos até seus ombros e deslizei a
blusa até que ele a tirasse. Me impulsionei com esforço um pouco mais pra cima,
encostando minhas costas na parede atrás da cama e ficando quase sentada pra que
ele não precisasse se esforçar tanto, e Brii me acompanhou, sentandose ao meu
lado. Na mesma hora, ele passou uma de minhas pernas sobre ele e me sentou em
seu colo, encaixando meu tronco no seu confortavelmente.
Brii acariciou minha cintura lentamente, trazendo minha blusa pra cima com suas
mãos. Me desfiz dela, vendoo morder o lábio inferior discretamente, e comecei a
beijar caprichosamente seu pescoço, conseguindo excitálo sem vulgaridade. Ele
agarrou meus cabelos devagar, apertando minha coxa com certa força na tentativa
de se controlar e não acelerar muito as coisas. Voltei a beijálo logo, sentindoo bem
mais enérgico, e não demorou muito pra que meu shorts não estivesse mais onde eu
o tinha colocado antes de sair de casa.
Enquanto nos beijávamos intensamente, eu escorreguei minhas mãos até o cós de
sua calça, desabotoandoa com facilidade e puxandoa pra baixo devagar. Me afastei
de Brii conforme tirava a peça, e engatinhei sobre ele pra voltar à minha posição
anterior, sentindo seu olhar quase doer de tão desejoso sobre mim. Assim que me
aproximei o suficiente, ele me deitou ao seu lado, colocandose entre minhas pernas
e me beijando tão profundamente que eu pensei que quisesse me engolir.
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Senti as mãos dele tatearem minhas costas em vão buscando o fecho, e não pude
deixar de sorrir. Notando meu divertimento, ele se afastou um pouco, confuso e
ofegante, e eu sorri ainda mais, abrindo meu sutiã pelo único fecho frontal. A cara de
compreensão e deslumbramento dele foi impagável.
Após fazer meu sutiã voar longe até encontrar o chão, Brii foi descendo seus beijos
pelo meu corpo, demorandose um pouco mais em meu busto, e antes de voltar a
unir nossos lábios, senti seus olhos fitarem cada traço do meu rosto rapidamente,
admirados.
Passei as mãos sobre suas costas e cintura nuas, até alcançar o elástico de suas
boxers. Mordendo o lábio inferior dele de leve, eu ameacei tirála, mas antes disso,
minha calcinha já estava na metade do caminho sem que eu tivesse percebido. Nos
despimos por completo, agradando simultaneamente um ao outro, e quando ele
voltou a me beijar, tateei pela mesinha de cabeceira em busca de sua carteira,
encontrandoa sem dificuldade. Brii sempre deixava sua carteira o mais próximo
possível da cama, porque ambos sabíamos bem que era ali o lugar onde os
preservativos aguardavam até seu próximo uso.
Interrompi o beijo para colocar a camisinha nele, sentindoo ofegar tanto quanto eu,
apesar de não estarmos sendo tão agressivos como de costume. Parecia que nossas
últimas conversas desde a chegada a casa tinham provocado reflexões em nossas
mentes, e naquela noite em especial, nossos sentimentos estavam prevalecendo
sobre nossos instintos.
Assim que estávamos devidamente protegidos, eu busquei os lábios dele com os
meus, beijandolhe desde o pescoço até a boca com um pouco de urgência. Brii me
correspondia calmamente, mas com muita intensidade em cada movimento, até que
colocou sua boca perto de meu ouvido e sussurrou, com a voz rouca:
Eu te amo.
Ele se afastou para me olhar nos olhos por um segundo, e ao me ver sorrir, voltou a
me beijar, me penetrando logo depois. Mesmo com os movimentos dele, delicados e
maravilhosos, eu fitava seus olhos extremamente Castanhos, que pareciam brilhar
por conta própria em meio ao rosto rosado e úmido de suor dele, totalmente
conectada a Brii, não só física, mas também emocionalmente. Ele me beijava algumas
vezes enquanto se movimentava, parecendo deslumbrado por estar comigo, e por
vezes um sorriso sutil surgia em seus lábios avermelhados. Só quando ele se deixou
cair devagar sobre mim algum tempo depois, satisfeito e com seu dever igualmente
cumprido em relação a mim, eu consegui respirar, tamanho foi meu envolvimento
emocional com aquele momento. Brii beijou de leve a curva de meu pescoço, me
fazendo sorrir fraco, e eu relaxei de tal maneira que a próxima coisa que eu vi foi ele
se deitando ao meu lado, me cobrindo com o edredom e me aconchegando em seu
abraço após um último beijo em meu ombro.
Eu também te amo – foi tudo que consegui dizer, colocando meu braço sobre o
dele, que estava em minha cintura, e entrelaçando nossos dedos antes de adormecer
profunda e instantaneamente, tamanha era a minha paz de espírito. Porque meu
espírito agora estava completo. Ou pelo menos, quase completo.
Abri os olhos, sentindo meu corpo suar frio e o ar me faltar. Encarei o teto escuro,
semelhante ao céu lá fora, e olhei na direção do relógio do criadomudo: três e
quarenta e oito. Com os músculos retesados, voltei a deitar minha cabeça no
travesseiro, esfregando meu rosto úmido com a palma da mão. Tudo estava tão
bem, por que eu continuava tendo aqueles sonhos? Por que eu não conseguia tirálo
do meu subconsciente, nem mesmo após todos os momentos com Brii? Por que
nem dormir eu conseguia sem que a imagem de Daniel me assombrasse?
Olhei para o lado e me deparei com as costas largas de Brii, que dormia feito um
bebê. Aquele ali só acordaria de manhã, sem dúvida. Sorri fraco, sem conseguir
conter a onda de felicidade que ele me trazia, mas minha falta de ar e tremedeira
ainda eram mais fortes que seu efeito calmante.
Me levantei, caçando minha calcinha e pegando minha camisola de seda lilás que
estava na mochila, e as vesti para ir à cozinha beber um copo d’água. Talvez aquilo
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me ajudasse a dormir novamente. Dei um nó frouxo em meu cabelo, sentindo a brisa
que vinha da janela refrescar minhas costas enquanto eu me esgueirava pra fora do
quarto.
Após alguns minutos de busca, finalmente encontrei o armário de copos. Abri a
geladeira, sedenta, e tudo que encontrei foram duas garrafas de água em meio a
garrafas de champanhe. Muitas garrafas de champanhe. E no meio delas, uma
vasilha transparente transbordando morangos. Morangos extremamente enormes,
vermelhos e suculentos.
Mordi meu lábio inferior, sentindo minha saliva entrar em processo de
superprodução, e não resisti: roubei um dos morangos da vasilha e laveio
rapidamente antes de mordêlo. Não sei se era a fome, já que eu não comia nada
desde o almoço, ou se era fato, mas aquele era, sem dúvida, um dos melhores
morangos que eu já tinha provado. Nem parecia real. Aliás, nada naquela casa
parecia real, nem a própria casa me parecia real. Tudo era perfeito demais,
absurdamente lindo.
Não demorou muito e eu estava sentada sobre a pia, com a vasilha de morangos no
colo e um copo cheio d’água ao meu lado (que só não era champanhe porque se
começasse a beber, não conseguiria parar mais, e eu não pretendia ficar com dor de
cabeça no dia seguinte), observando vagamente os detalhes da cozinha. Se um dia
eu conseguisse enriquecer, pediria permissão ao Jones para fotografar aquela casa e
faria tudo igual na minha, sem tirar nem por. Durante meus devaneios sobre o futuro
(e infelizmente sobre o Jones também), um barulho desviou minha atenção. Virei a
cabeça muito mais depressa que o aconselhável na direção do barulho, que
continuou, e continuou, cada vez mais alto, e percebi que ele vinha da rua que Brii
pegou para chegarmos à casa.
Franzi a testa, sentindo meu coração acelerar de medo, e escorreguei de cima da pia
num salto, deixando os morangos sobre ela. Um ronco de motor cada vez mais
próximo a cada passo meu em direção à porta me fez quase correr para abrila logo.
Por um segundo, as batidas aceleradas de meu coração não foram movidas pelo
medo, e sim, pela euforia. Porque nesse mesmo segundo, pude jurar que conhecia
aquele ronco de motor.
Abri a grande porta de entrada, e quase caí pra trás quando vi o segundo carro
sendo estacionado ao lado do veículo de Brii na frente da casa. Uma Ferrari vermelha
contrastava com a escuridão da noite, reluzindo imponentemente mesmo com a falta
de iluminação. Meus olhos demoraram a aceitar que aquilo não era uma visão, muito
menos quando o dono daquele carro e também daquela casa saiu de dentro da
Ferrari, divinamente estiloso e maravilhoso com uma blusa pólo preta que realçava a
largura de seus ombros e calça jeans. Ele caminhou até a porta, observando o
exterior da casa com interesse, e assim que me viu, parou a alguns passos de mim.
Sinceramente, eu não esperava essa recepção, Dawson – Daniel sorriu, alguns
segundos depois, parecendo levemente surpreso. Ele lançou um significativo olhar
para as minhas pernas, e aquele sorriso pervertido que me perturbava apareceu em
seus lábios. Segui seu olhar com o meu, puxando rápida e inutilmente a camisola
mais pra baixo, enquanto a amaldiçoava por ser tão curta e mal cobrir a metade
superior de minhas coxas.
O que você veio fazer aqui? – perguntei, ainda com esperanças de que aquilo fosse
uma ilusão, e minha voz saiu um pouco mais alta que um sussurro. Eu suava frio,
sentia meu equilíbrio vacilar, e contínuos arrepios percorriam minha espinha a cada
segundo que se passava e ele não sumia, como uma alucinação normal deveria fazer.
Vim verificar se estão cuidando direito da minha casa – ele respondeu, erguendo as
sobrancelhas num tom divertido – Fiquei com medo de que você e o Langdon
acabassem me dando prejuízos materiais com toda a sua... Agressividade, se é que
você me entende.
Daniel deu um risinho desdenhoso, me encarando daquela forma invasiva, e eu
tentei retribuílo com firmeza. Em vão, óbvio.
Mentira – foi tudo que consegui rosnar, sentindo necessidade de dar um passo para
trás assim que ele avançou na minha direção, mas meus pés não se moveram. Assim
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como Brii me alegrava instantaneamente, Daniel parecia me paralisar.
Nossa, mas que falta de educação – ele murmurou, cínico, aproximandose cada
vez mais de mim – Eu cedo a minha própria casa pra você e seu namorado passarem
o fim de semana e tudo que eu recebo em troca são ofensas? Você é mesmo
surpreendente.
Daniel ameaçou acariciar meu rosto, mas eu fui mais rápida, e num impulso de
sanidade, dei um tapa em sua mão.
Você não vai tocar em mim – falei, tentando parecer ameaçadora, mas o máximo
que pareci foi frouxa. Nem eu tinha certeza das palavras que saíam de minha boca
quando ele estava tão próximo.
Desculpe te contrariar, mas... – ele sussurrou, aproximandose ainda mais de mim e
envolvendo meu quadril com uma de suas mãos, sem encontrar resistência de minha
parte devido à pane em meu cérebro – Eu vou sim.
Fugindo do olhar dele, abaixei meus olhos na direção de sua mão, que me puxava
sorrateiramente mais pra perto dele. Seu hálito já batia em meu rosto, quente e
extremamente convidativo, e sentindo meu sangue ferver dentro das veias, fechei os
olhos devagar, entorpecida. Senti a outra mão dele cobrir todo o lado de meu
pescoço, mantendo seu polegar em minha bochecha, e num último sopro de
resistência, implorei:
Por favor, não...
Eu não vou fazer nada que você não queira – ele sussurrou, roçando a ponta de
seu nariz no meu lentamente, e subitamente paralisou, soltando um risinho baixo –
Mas me provocar com morangos já é tentação demais.
Abri os olhos, me perguntando como ele sabia, e logo descobri: meu hálito. No
mesmo instante, senti um remorso enorme por ter encarado aqueles olhos Azuis tão
de perto, porque no segundo seguinte, a única palavra que passava pela minha
cabeça enquanto eu deixava que ele me beijasse era:
Droga.
I think I'm drowning
(Eu acho que estou afundando)
Asphyxiated
(Asfixiado)
I wanna break the spell
(Eu quero quebrar o feitiço)
That you've created
(Que você criou)
Assim que os lábios dele tocaram os meus, senti uma nova força surgir de dentro de
mim, uma voracidade incontrolável. Imediatamente agarrei os cabelos de sua nuca,
dando desajeitados passos pra trás quando ele fez o mesmo para a frente, entrando
de vez na casa e chutando levemente a porta atrás de si pra fechála. Suas mãos
desenharam o contorno das laterais de meu corpo, fazendoo soltar o ar
pesadamente em aprovação. Continuamos cambaleando casa adentro, intensificando
cada vez mais nosso beijo desesperado, até que ele se curvou um pouco e segurou a
parte de trás de minhas coxas, puxandoas para que envolvessem sua cintura.
Agarrei seu pescoço para não cair, e deixei que ele me conduzisse até me sentar
numa superfície gelada, que eu logo reconheci como sendo o balcão da cozinha.
You're something beautiful
(Você é algo lindo)
A contradiction
(Uma contradição)
I wanna play the game
(Eu quero jogar o jogo)
I want the friction
(Eu quero a fricção)
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Você não vai mais fugir de mim – ele murmurou ao pé do meu ouvido, mordendo o
lóbulo enquanto puxava meu cabelo com um pouco de força. Minhas mãos
agarravam e bagunçavam os cabelos dele, e minha respiração era quase nula.
Eu não consigo mais fugir de você – sussurrei, com o pouco de fôlego que me
restava, e ele voltou a me beijar sorrindo, satisfeito. Àquela altura, com as mãos dele
provocando formigamentos instantâneos em minha pele assim que me tocava, eu
nem me lembrava mais do significado da palavra orgulho. Desse eu já tinha me
desfeito há muito tempo, só não tinha coragem suficiente de admitir.
You will be
(Você será)
The death of me
(A minha morte)
Yeah, you will be
(Sim, você será)
The death of me
(A minha morte)
Você não precisa escolher entre nós dois... – Daniel ofegou, enquanto beijava
languidamente meu pescoço – Porque sabe que pode ter os dois.
Eu não conseguiria escolher – falei, com os olhos semiabertos e o corpo todo
arrepiado – Algo sempre ficaria faltando... Como se uma metade não fosse suficiente
sem a outra.
Como se uma metade não fosse suficiente sem a outra – ele repetiu, subindo seu
rosto até seus olhos ficarem da altura dos meus, e me encarou intensamente antes
de voltar a me beijar.
Bury it
(Enterrar isso)
I won't let you bury it
(Eu não vou deixar você enterrar isso)
I won't let you smother it
(Eu não vou deixar você manchar isso)
I won't let you murder it
(Eu não vou deixar você assassinar isso)
Desci minhas mãos por seu pescoço, sentindo meu coração quase explodindo, e
puxei a gola de sua camisa pra cima, demonstrando meu desejo de tirála.
Imediatamente, Daniel puxoua pela parte de trás da gola, separando nossos lábios
só para passar a blusa por sua cabeça, e quando voltou, suas mãos deslizaram por
minhas coxas, trazendo descaradamente minha camisola e me provocando uma nova
onda de arrepios.
Our time is running out
(Nosso tempo está acabando)
Our time is running out
(Nosso tempo está acabando)
You can't push it underground
(Você não pode fazer disso um segredo)
We can't stop it screaming out
(Nós não podemos impedir que isso grite)
Nossos movimentos tornavamse muito mais agressivos conforme a temperatura de
nossos corpos aumentava. Logo ele estava somente de boxers, desfazendose da
calça, meias e sapatos com certa ajuda de minha parte, e colocando a camisinha, que
estava em seu bolso, ao meu lado para ser usada em breve. Sinceramente, eu não
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sabia como ele conseguia se lembrar dela em momentos como aquele, mas ficava
infinitamente grata por isso. Daniel arrancou minha calcinha tão ferozmente que
quase a rasgou, e eu não fiquei muito atrás quando foi a vez de suas boxers.
I wanted freedom
(Eu queria liberdade)
Bound and restricted
(Limitada e restrita)
I tried to give you up
(Eu tentei desistir de você)
But I'm addicted
(Mas estou viciado)
Envolvi seu membro extremamente rígido com minha mão, masturbandoo o mais
rápido que consegui e fazendoo soltar gemidos dolorosamente contidos, com a
testa fortemente franzida e úmida de suor. Eu mordia e sugava seu lábio inferior com
os olhos abertos, observando o prazer que eu estava lhe proporcionando, até que
ele, cansado de se segurar, afastou seu rosto do meu e rasgou a embalagem do
preservativo com uma expressão que beirava a raiva.
Now that you know I'm trapped
(Agora que você sabe que estou encurralado)
Sense of elation
(Um sentimento de superioridade)
You'll never dream of breaking this fixation
(Você nunca vai sonhar em desfazer essa fixação)
You will squeeze the life out of me
(Você vai espremer a vida de mim)
Bury it
(Enterrar isso)
I won't let you bury it
(Eu não vou deixar você enterrar isso)
I won't let you smother it
(Eu não vou deixar você manchar isso)
I won't let you murder it
(Eu não vou deixar você assassinar isso)
Eu arranhava seus ombros, braços e costas incessantemente, ouvindoo segurar seus
gemidos e apertar firmemente minha cintura, até que cheguei ao clímax e ele
finalmente pôde parar de se segurar e atingir o seu. Abracei seu pescoço, levemente
tonta, e distribuí vários beijos sobre a pele suada daquela região, me sentindo
verdadeiramente plena, como não me sentia há algum tempo. A parte que faltava de
mim agora estava ali, e eu me sentia completa novamente.
Our time is running out
(Nosso tempo está acabando)
Our time is running out
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(Nosso tempo está acabando)
You can't push it underground
(Você não pode fazer disso um segredo)
We can't stop it screaming out
(Nós não podemos impedir que isso grite)
How did it come to this?
(Como isso chegou a esse ponto?)
Daniel respirava profundamente, com a cabeça apoiada em meu ombro, e acariciava
minhas costas devagar. Alguns minutos depois, me deu um beijo suave e se afastou,
arrumandose para ir embora. Fiquei parada onde estava, trêmula demais pra me
mover, e apesar de saber que ele não podia ficar, senti que se abrisse a boca, aquele
pedido simplesmente escaparia por entre meus lábios.
You will suck the life out of me
(Você vai sugar a vida de mim)
Após alguns segundos me conformando com a partida dele, me pus de pé e me vesti
lentamente. Assim que terminei, não tive coragem de encarálo, mas ele não me
deixou escolha: me puxou pelo braço e me virou pra si, erguendo meu rosto com
sutileza e me encarando fixamente com os olhos ilegíveis. Havia muita coisa implícita
naqueles olhos Azuis pra que eu pudesse entendêlo.
Bury it
(Enterrar isso)
I won't let you bury it
(Eu não vou deixar você enterrar isso)
I won't let you smother it
(Eu não vou deixar você manchar isso)
I won't let you murder it
(Eu não vou deixar você assassinar isso)
Ele me beijou uma última vez, profunda e calmamente, e se dirigiu à porta, sem dizer
uma palavra. Ao contrário de mim.
Our time is running out
(Nosso tempo está acabando)
Our time is running out
(Nosso tempo está acabando)
You can't push it underground
(Você não pode fazer disso um segredo)
We can't stop it screaming out
(Nós não podemos impedir que isso grite)
How did it come to this?
(Como isso chegou a esse ponto?)
Você volta amanhã? – murmurei, sem conseguir conter minha aflição, e ele, que
estava de frente pra porta, virouse na minha direção com a expressão misteriosa.
Me olhou significativamente, e deu um sorriso quase imperceptível antes de ir
embora. Não precisei de palavras pra que um sorriso esperançoso se abrisse em meu
rosto.
How did it come to this?
(Como isso chegou a esse ponto?)
Definitivamente, ele voltaria.
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Capítulos 18 ao 34
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