You are on page 1of 106

12/04/2015 Biology

Biology 
by V 
beta­reader: Cah (Kerouls)

Capítulo 01 

Era mais um dia como todos os outros. As mesmas pessoas medíocres, os mesmos
ambientes entediantes, a mesma rotina de sempre. Como de costume, o professor
mal comido de geografia passava cinco páginas de lição de casa, e ai de quem não
trouxesse  o  dever  feito  no  dia  seguinte.  Materiazinha  detestável  essa  geografia.  E
quando eu pensava que nada poderia torná­la mais detestável ainda, eis que surge
na  minha  escola  aquele  ser  repugnante  com  sua  careca  lustrada  e  suas  calças  no
umbigo. Resumindo, eu realmente odiava o sr. Hammings. 
O  sinal  irritante  tocava,  anunciando  o  início  de  mais  uma  aula  de  biologia,  e  a
penúltima aula do dia. Pelo menos o sr. Langdon não sofria de falta de sexo como o
sr.  Hammings.  Não  parecia  nem  devia  sofrer,  com  aqueles  ombros  largos,  aquele
sorriso  experiente  e  sempre  relaxado,  como  se  nada  pudesse  tirar  aquela
tranqüilidade dele. Fora aquele corte de cabelo que lhe dava um ar de 20 quando na
verdade ele era dez anos mais velho. Um belo rosto que arrancava suspiros por onde
passava, e uma voz confiante que prendia a atenção de todos os alunos e os fazia
entender  a  matéria  mais  complexa  do  mundo  em  um  segundo  eram  os  últimos
detalhes que faltavam para torná­lo o professor perfeito. 
Pra  mim,  ele  era  um  ótimo  educador.  Desenvolto  ao  falar,  paciente  e  muito  bem
informado sobre tudo, sabia como eliminar todas as possíveis dúvidas de seus alunos
com um sorriso no rosto e palavras simples. Minha facilidade em biologia me dava
tempo de sobra para analisar seu jeito de falar, de andar, de gesticular e de agir, ao
invés de prestar atenção na matéria. O que eu adorava fazer, até mesmo sem querer.
Tipo agora. 
­ Bom dia, professor – ouvi a voz da retardada da Kelly Smithers gemer assim que
pude ver a cabeleira do sr. Langdon entrar na classe. Bem daquele jeitinho ‘oi  sou
puta  quero  dar  pra  você  na  sala  dos  professores’,  enquanto  mascava  seu  chiclete
daquele jeito vulgar que a maioria das pessoas daquele colégio estúpido costumava
fazer. 
­  Você  sabia,  srta.  Smithers,  que  uma  pessoa  que  masca  chiclete  de  boca  aberta
engole  muito  mais  bactérias  do  que  uma  pessoa  que  masca  chiclete  de  boca
fechada? – Brian Langdon, meu professor de biologia falou, enquanto colocava seu
material sobre sua grande mesa – Além de ser algo extremamente desagradável de
se ver. 
Contive  minha  gargalhada  num  sorriso  de  canto  de  boca,  praticamente  comendo
aquele homem com os olhos. Adorava o jeito com o qual ele simplesmente deixava
aquela piranha da Smithers no chão sem se rebaixar ao seu nível. E por incrível que
pareça,  ela  continuava  com  seu  mesmo  jeito  fútil,  mascando  furiosamente  seu
chiclete  de  morango,  enquanto  sua  amiga  fazia  cara  de  (puta)  chocada.  Só  não
continuei me divertindo com a cara de azulejo dela ao ser consolada por sua amiga
porque  havia  algo  muito  melhor  pra  ser  observado  naquela  sala.  Algo  que  tinha
nome, sobrenome, e um sorriso estonteante. 
Você deve estar pensando que eu sou a maior pervertida da face da Terra. Mas você
só diz isso porque seu professor de biologia não é o cara mais lindo que você já viu
pessoalmente. Ter que agüentar 50 minutos semanais com um homem desses sem
ter  pensamentos  como  os  meus  era  impossível,  vai  por  mim.  Eu  sabia  que  era
errado, que eu jamais poderia chamar a atenção de um homem como o professor
Langdon, mas eu me esforçava pra ser sua melhor aluna. E é claro que eu conseguia.
http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 1/106
12/04/2015 Biology

­ Onde foi que eu parei, Dawson? – ouvi sua voz firme perguntar se aproximando da
minha  carteira  com  um  sorriso  animado,  enquanto  apoiava  uma  das  mãos  no
encosto da carteira à minha frente e se curvava pra ler minhas anotações. 
­ Na última aula o senhor começou a explicação sobre genética – respondi, inalando
aquele perfume de homem cheiroso que eu amava sentir toda vez que ele estava por
perto.  Sempre  me  disseram  que  esses  caras  ligadões  na  natureza  têm  tendências
meio hippies, ou seja, não tomam banho e conseqüentemente fedem. Brian Langdon
era a prova viva de que aquilo era puro mito. Ou então, era uma linda exceção. 
­  Alguma  dúvida  sobre  o  que  eu  já  expliquei?  –  ele  murmurou,  com  sua  habitual
simpatia  com  relação  a  mim.  Ele  sempre  fazia  aquela  mesma  pergunta  quando
começava  um  novo  conteúdo,  como  se  precisasse  da  minha  opinião  sobre  a
qualidade de sua aula. E eu sempre respondia a mesma coisa, com um sorriso meigo
no rosto: 
­ Nenhuma, professor. 
Aliás, eu tenho uma: quando o senhor pretende virar pedófilo? 

A aula de biologia se passou sem maiores novidades. O professor perfeito explicando
a matéria que eu já sabia de cor enquanto a Smithers ficava com cara de tacho, ainda
engolindo  zilhões  de  bactérias.  As  coisas  fluem  tão  bem  durante  a  aula  do  sr.
Langdon que ele sempre faz tudo que precisa fazer e ainda sobram uns 10 minutos
pro pessoal conversar ou tirar alguma dúvida mais complicada. Se eu te dissesse que
nunca tinha nenhuma dúvida e detestava praticamente todas as pessoas da minha
classe, você provavelmente pensaria que eu não me encaixo em nenhuma das duas
opções.  Mas  se  eu  te  dissesse  que  parte  do  corpo  docente  da  escola  simpatiza
comigo, você talvez entendesse como são os finais das minhas aulas de biologia. 
­ Outra vez geografia? – ouvi aquela voz de homem mais velho perguntar atrás de
mim, num tom simpático, e tirei meus olhos do caderno onde eu terminava de copiar
a matéria do Hammings. Me deparei com aqueles dois olhos Castanhos brilhantes me
encarando,  acompanhados  daquele  sorriso  de  quem  ainda  não  se  tocou  de  que  é
lindo  de  qualquer  jeito,  e  precisei  de  muito  autocontrole  pra  apenas  sorrir
normalmente. 
­ Pois é, tá virando rotina – respondi, voltando a escrever pra evitar que minha baba
escorresse – Por mais que eu tente, não consigo ler esse garrancho. 
­  Não  posso  falar  muito,  minha  letra  também  não  é  das  mais  legíveis  –  ele  riu,
sentando­se  na  carteira  agora  desocupada  à  minha  frente  e  ficando  de  lado  pra
conversar comigo – Mas eu pelo menos tento poupar vocês de entender o que eu
escrevo. 
­ O senhor nunca escreve nada na lousa – falei, rindo um pouco e olhando pra ele.
Sério, me diz como você consegue ficar rosadinho desse jeito 24h por dia? 
­  Por  isso  mesmo  –  o  sr.  Langdon  sorriu,  me  dando  uma  piscadinha  que  fez  meu
coração  ter  um  ataque  epilético  –  E  eu  sei  que  mesmo  que  eu  escrevesse  alguma
coisa, você seria a última pessoa a copiar. 
­ Por que o senhor acha isso? – perguntei, quase ofendida, e ele apenas respondeu
calmamente: 
­ Porque você praticamente sabe tanto sobre biologia quanto eu, e copiar o que eu
escrevo seria desperdício de papel, de tinta e do seu tempo. 
Fiquei  com  aquele  sorrisinho  de  picolé  de  chuchu,  super  sem  graça,  e  tudo  que
consegui dizer algum tempo depois foi: 
­  Vamos  pensar  positivo...  Pelo  menos  eu  estaria  evitando  o  desmatamento  de
algumas árvores ao economizar papel. 
O  sr.  Langdon,  que  antes  estava  com  o  olhar  perdido  na  dorminhoca  da  Amy
Houston, fechou os olhos e deu risada da minha péssima frase. Como se ele já não
tivesse besteiras piores pra agüentar, eu ainda falava uma merda daquelas. 
­  Se  eu  não  soubesse  que  você  consegue  formular  frases  melhores,  ia  te  dar  um
ponto  de  participação  pela  sua  brilhante  conclusão  –  ele  ironizou,  sorrindo  de  um
jeito divertido antes de se levantar e ir acordar a Houston pra que ela não começasse
a roncar mais alto. Preciso descrever o estado de profunda melancolia no qual eu me

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 2/106
12/04/2015 Biology

encontrava depois daquele momento? É, eu sabia que não precisaria. 
Ainda frustrada comigo mesma, arrumei meu material rapidamente pra ir pra última
aula,  que  era  no  laboratório.  Na  minha  escola,  tínhamos  duas  frentes  pra  física,
química e biologia: as aulas teóricas, na classe, e as aulas práticas, nos laboratórios.
Como  nas  aulas  práticas  os  alunos  aplicam  seu  conhecimento  teórico  em
experimentos,  você  provavelmente  deve  ter  deduzido  que  eu  sou  igualmente
inteligente em biologia laboratório. E eu sou mesmo. Mas eu gostaria muito que um
dia alguém me explicasse por que eu sempre, sempre  ficava  de  recuperação  nessa
matéria. 
A explicação que eu via como a única possível era a de que o professor de laboratório
não  ia  com  a  minha  cara.  Infelizmente,  o  sr.  Langdon  não  dava  aulas  práticas  pra
minha  turma,  só  as  teóricas.  Nosso  professor  de  laboratório  era  o  ser  mais
detestável, ignorante, repugnante, metido e tudo de patético que um homem pode
ser.  Mantinha  sempre  aquele  ar  superior  em  relação  aos  alunos,  a  não  ser  pra
piranha da Smithers, porque ele provavelmente já tinha comido ela. E três quartos
das  garotas  da  escola.  Dormir  com  professores  era  quase  uma  rotina  na  minha
escola. 
Juro  que  não  sei  como  essas  meninas  conseguem  ver  alguma  qualidade  naquele
cara. Sua risadinha de desprezo me irritava, aquela voz de quem está sempre zoando
da sua cara me deixava fula da vida, e eu realmente abominava suas piadinhas sem
graça  com  o  povo  idiota  da  minha  classe.  Resumindo,  meu  professor  de  biologia
laboratório era provavelmente o professor mais ridículo que você poderia encontrar
naquela escola. 
­  Bom  dia,  professor  –  ouvi  Kelly  repetir,  do  mesmo  jeitinho  de  50  minutos  atrás,
quando se sentou de frente pra bancada. A única diferença era que agora ela estava
mascando um chiclete de uva. Como uma pessoa consegue ser um déja­vu vivo sem
querer explodir os próprios miolos? 
­  Bom  dia,  Smithers  –  aquela  voz  arrastada  de  homem  tarado  respondeu,  se
aproximando  meio  indecentemente  da  garota  com  uma  expressão  no  mínimo
enojante – Eu ia perguntar como você vai, mas a sua saia já me deixou ver que você
continua muito bem como sempre. 
Francamente, se fosse comigo eu já metia a mão na fuça daquele merda. Mas graças
a  Deus,  não  era,  então  eu  apenas  ignorei  as  preliminares  dos  dois  seres  acéfalos
presentes no laboratório e comecei a copiar o relatório que já estava escrito na lousa.
Pelo  menos  esse  professor  tinha  uma  letra  um  pouco  mais  compreensível.
Provavelmente a única qualidade que ele tinha. 
­  Professor,  hoje  o  senhor  vai  entregar  os  relatórios  das  aulas  passadas  pra  gente
poder  estudar  pra  prova?  –  Amy  Houston  perguntou,  parecendo  sonolenta.  Acho
que ela só não dormia nas aulas práticas porque as bancadas costumavam ter uma
limpeza  reforçada  com  alguns  produtos  aos  quais  Amy  era  alérgica.  Eu  sei  disso
porque um dia ela cochilou no meio da explicação e seu rosto ficou todo inchado e
empipocado  só  do  lado  que  esteve  em  contato  com  a  bancada.  Esse  dia  foi  bem
nojento, mas pelo menos agora a Amy descobriu que tem colegas de classe e que
pode se socializar com eles quando não estiver com tanto sono. 
­  Tá  com  pressa,  Houston?  –  Daniel  Jones,  meu  professor  de  biologia  laboratório,
zombou, com aquela rotineira voz de tédio – Se quiser, pode ir embora... E aproveita
pra levar a Dawson com você. 
Ergui  meu  olhar  do  caderno  pra  ele,  sentindo  nojo  só  de  olhá­lo  sorrindo
zombeteiramente  pra  mim.  Sem  me  mexer,  apenas  respirei  fundo  e  perguntei,
juntando toda a educação que meus pais haviam me dado: 
­ O que foi que eu fiz dessa vez? 
O  professor  Jones,  parado  do  lado  da  puta­mor,  apenas  continuou  me  olhando,
como  se  me  comesse  com  os  olhos.  Que  porra,  por  que  ele  tem  que  ficar  me
olhando  assim  toda  santa  aula?  Acho  que  ele  devia  ter  algum  tipo  de  fetiche  por
pessoas que o odeiam. 
­ Eu não mandei ninguém copiar o relatório da lousa – ele respondeu, calmamente,
caminhando  devagar  até  mim  com  um  sorriso  maligno  no  rosto,  e  antes  que  eu

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 3/106
12/04/2015 Biology

pudesse  ver  o  que  tinha  acontecido,  a  folha  onde  eu  já  tinha  copiado  metade  da
lousa cheia estava amassada em suas mãos – Ainda. 
Ele  abaixou  o  rosto  pra  ficar  na  mesma  altura  do  meu,  e  eu  imediatamente  me
afastei,  concentrando  toda  a  minha  repulsa  por  ele  somente  no  olhar.  Meu  Deus,
como aquele cara era insuportável! No meu último dia de aula naquela escola, jurei
pra mim mesma que meteria um tiro de bazuca na cabeça dele. E esse pensamento
estava  ficando  cada  dia  mais  forte.  Se  bem  que  seria  uma  pena  estragar  aqueles
olhos  tão  intensamente  Azuis  que  sabiam  exatamente  como  chamar  a  atenção
naquele rosto. Mas quem liga pra isso mesmo? Ah, é, eu que não. 
A  classe  toda  observava  o  momento  tenso  em  silêncio,  e  eu  pude  ver  de  rabo  de
olho que a Smithers estava se divertindo com a minha tortura. O sr. Jones jogou a
bolinha de papel que antes era meu relatório por cima de seu ombro, fazendo­a voar
longe sem precisar se esforçar muito, e murmurou debochadamente a frase que ele
sempre  usava  comigo  antes  de  me  deixar  em  paz  enquanto  não  houvesse  motivo
pra me ridicularizar: 
­ Tudo de novo, Dawson. 

Toda  semana  era  o  mesmo  sofrimento.  Ainda  bem  que  só  tínhamos  uma  aula  de
biologia laboratório por semana, o que já era muito pra mim. Aturar o desprezível do
Jones tirando sarro da minha cara pelos motivos mais idiotas e o pior, fazer todos
rirem  disso,  era  extremamente  irritante.  Só  sendo  quase  santa  pra  ignorar  aquele
retardado e conseguir terminar meus relatórios. 
Na  verdade,  eu  nem  sei  por  que  insistia  tanto  em  fazer  alguma  coisa  naquela  aula
idiota. A dura realidade era: por mais que eu me concentrasse ao máximo e fizesse o
relatório perfeito, ele sempre me dava, no máximo, um terço da nota. Um terço da
nota,  você  sabe  o  quanto  isso  representa?  Quase  nada!  E  aquele  puto  nunca  me
dava  mais  que  C  nos  relatórios!  Dá  pra  acreditar  que  uma  pessoa  que  tira  A+  em
biologia teoria tira C em biologia laboratório? Meio esquisito, não concorda? Pois é, a
diretora  não.  Aliás,  discordava  tanto  que  vivia  chamando  minha  mãe  na  escola
porque eu não conseguia tirar uma nota igualmente boa em laboratório durante o
ano todo e sugeria que minha mãe me ajudasse e me encorajasse a estudar mais. Eu
vou encorajar essa diretora a tomar no cú, isso sim. 
Enfim, logo a aula acabou, a tortura semanal tinha chegado ao fim, e eu alegremente
(por dentro, porque externamente eu continuava com minha cara de repugnância)
entreguei mais um dos meus relatórios perfeitos. Enquanto guardava minhas canetas
no  estojo,  percebi  uma  movimentação  estranha  atrás  de  mim  e  pulei  de  susto
quando ouvi alguém falar comigo de tão perto. 
­ Vê se aprende a só fazer as coisas quando te mandam fazer, Amellie – o sr. Jones
sussurrou, por trás de mim, com sua habitual voz de maníaco. Recuperada do susto,
olhei pra ele com cara de nojo e respondi, com a voz mal educada: 
­ Primeiro, nem o senhor nem ninguém me diz o que fazer. E segundo, eu não te dei
a liberdade de me chamar pelo nome, e nem pretendo dá­la ao senhor algum dia. 
Voltei  minha  atenção  pro  zíper  do  meu  estojo  que  tinha  emperrado  bem  naquele
momento agradável, e só então percebi que o laboratório estava vazio a não ser por
nós dois. Fiquei mais alerta do que já estava, preparada pra enfiar o compasso no
olho dele caso me sentisse ameaçada ou coisa do tipo, mas tudo que ele disse, com
um risinho pervertido enquanto me olhava de cima a baixo, foi: 
­  Um  dia  você  ainda  vai  me  dar  muito  mais  que  a  liberdade  de  te  chamar  pelo
nome... Mell. 
Paralisei  quando  o  ouvi  dizer  aquela  frase,  ainda  mais  pronunciando  meu  apelido
daquele  jeito  sujo.  Sem  conseguir  conter  meu  impulso,  dei  um  tapa  forte  na  cara
dele. Pego nem tão de surpresa assim, já que ele devia estar acostumado a apanhar
de algumas alunas mais resistentes, ele colocou uma das mãos sobre o lado atingido
do rosto e voltou a me olhar, com um risinho de deboche no rosto. 
­ Não sabia que você era do tipo agressiva, Dawson – ele sorriu, me deixando com
mais raiva ainda – Vai ser mais gostoso ainda quando você vier fazer a recuperação
depois  do  almoço.  Sozinha,  como  sempre,  já  que  só  você  consegue  a  façanha  de

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 4/106
12/04/2015 Biology

ficar de recuperação em laboratório. 
Quase  voei  no  pescoço  daquele  pedófilo  safado  nojento  idiota.  Recuperação  de
novo?  Pelo  amor  de  Deus,  por  que  ele  simplesmente  não  conseguia  me  dar  uma
nota justa? Só porque eu não queria dar pra ele? Que droga, é tão difícil entender
que ele consegue me deixar cada dia mais furiosa pelo simples fato de existir? 
­  Por  que  o  senhor  não  procura  uma  namorada,  hein?  –  perguntei,  no  tom  mais
educadamente  irritado  que  consegui  –  Sei  lá,  quem  sabe  essa  sua  obsessão  por
aluninhas não seja falta de mulheres da sua idade que te suportem sem receber uma
recompensa por isso. 
Dei  uma  boa  olhada  na  cara  de  bosta  que  ele  fez  e  saí  do  laboratório,  com  um
sorrisinho triunfante no rosto. Ele pode até ser cheiroso e ter olhos bonitos, mas não
é nem nunca será nem metade do homem perfeito que o professor Langdon é. 
Falando  nele,  olha  só  que  bonitinho  ele  saindo  da  sala  do  primeiro  ano,  todo
rodeado  de  alunas  com  shorts  mínimos  e  maquiagem  pesada.  Aspirantes  a  Kelly
Smithers? Isso mesmo. 
Passei por ele, virando logo em seguida pra descer as escadas, e assim que me viu,
abriu  um  sorriso  de  orelha  a  orelha.  Foi  só  impressão  minha  ou  esquentou  de
repente depois daquela demonstração linda de alegria? 
­ Já ia passar sem me cumprimentar, é, Dawson? – o sr. Langdon brincou, descendo
rapidamente as escadas e se livrando das pirralhas com seus passos largos. Soltei um
risinho envergonhado, tentando não ferrar com tudo de novo. 
­ Imagina, professor – respondi, na dúvida entre olhar pros degraus e não cair ou
olhar  pra  ele  e  ter  uma  arritmia  –  Tava  distraída  pensando  em  outras  coisas,  nem
tinha visto o senhor ali. 
­ Acho que já sei qual é o seu defeito – ele disse, entortando a boca e cerrando os
olhos – Você vive pensando demais. 
­ Como assim, professor? – perguntei, com o coração quicando dentro do peito, só
Deus sabe por quê. Tá, eu sei por que. 
­ Talvez você devesse pensar menos e se arriscar mais – o sr. Langdon disse, com um
sorriso  esperto,  quando  saímos  do  prédio  –  Quem  sabe  você  não  acaba  se  dando
bem? 
Oi, foi só impressão minha ou ele tinha acabado de me cantar? Meu Deus do céu,
aquilo  sim  era  homem!  Sorri  pra  ele,  envergonhada,  e  sem  dizer  mais  nada,  ele
apenas  continuou  andando  em  direção  à  saída  já  lotada  da  escola.  Observei  sua
cabecinha sumir em meio à multidão de alunos, com o coração disparado, até ouvir
uma voz falando comigo. 
­ Caraca, Amellie, você realmente consegue me irritar quando resolve não ver nem
ouvir  nada  ao  seu  redor  –  Kimberlly,  minha  melhor  amiga  e  única  aluna  decente
naquela escola, reclamou, parando bem à minha frente e me impedindo de ver o sr.
Langdon entrando em seu carro. 
­ Foi mal, Kim – balbuciei, me esticando pra tentar vê­lo, mas seu carro logo acelerou
e sumiu pela rua cheia de veículos de pais de alunos. 
­ O que foi, tá olhando o quê? – ela perguntou, olhando por cima de seu ombro, e
eu apenas balancei a cabeça negativamente. 
­ Tava procurando minha mãe – menti, o que agora não seria tão mentira já que eu
realmente  comecei  a  procurá­la  –  Preciso  ir  embora  logo  hoje,  senão  vou  ter  que
fazer a prova de recuperação sem almoçar. 
­ O Jones te deixou de recuperação outra vez? – ela adivinhou, revirando os olhos, e
eu  assenti,  com  a  maior  cara  de  paisagem  –  Amellie,  você  já  pensou  em  reclamar
com a diretora? 
­ E você acha que eu nunca fiz isso? – bufei, irritada – Todo santo bimestre minha
mãe é obrigada a vir aqui graças àquele merda pra ver o que tem de errado comigo,
mas tudo que a diretora faz é me mandar estudar mais! 
Kimberlly ficou sem saber o que dizer. Eu já tinha tentado de tudo, até mostrar meus
relatórios  pro  sr.  Langdon,  mas  tudo  que  ele  dizia  era  que  os  professores  não
podiam influenciar nas notas das outras matérias, por mais absurdo que aquilo fosse.
Vamos combinar, biologia, seja teoria ou laboratório, era a mesma droga de matéria!

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 5/106
12/04/2015 Biology

Resumindo, o sr. Jones podia deitar, rolar e foder com a minha nota que ninguém
podia fazer nada contra ele. Por que eu ainda estudo nessa escola mesmo? 
­ Se ainda tivesse um jeito de fazer essa cisma que ele tem contigo sumir... – ouvi
Kimberlly murmurar, me olhando vagamente como se estivesse pensando alto. 
­ Até tem um jeito – falei, incomodada por ter que admitir aquilo – Você sabe que o
Jones vive dando em cima de mim. 
­ Mas você não considera isso uma opção... Considera? – ela cochichou, assustada,
como se ninguém naquela escola tivesse pegado um professor pelo menos uma vez
na vida – Quer dizer, você odeia ele. 
­ Eu jamais conseguiria me imaginar sequer num diálogo amigável com aquele idiota
–  respondi,  sendo  muito  sincera  –  Mas  não  custa  nada  considerar  essa  hipótese
como uma opção de emergência. 
Vi o carro de minha mãe chegando e logo me despedi de Kimberlly com um beijinho
no  rosto.  Enquanto  caminhava  até  o  carro,  pude  ouvir  a  voz  dela  falar,  num  tom
preocupado: 
­ Olha lá o que você vai fazer, hein! 
Revirei  os  olhos  e  entrei  no  carro,  ignorando  o  que  ela  tinha  dito.  O  que  ela  tava
pensando? Que eu realmente ia me sujeitar a qualquer tipo de relação com o Jones
por causa de nota? Eu jamais faria uma coisa dessas, nem que fosse pra tirar A+ em
todas as matérias sem nem ter que pisar naquela escola. Um idiota embrulhado num
corpinho bem definido e perfumado não vale o sacrifício, pode apostar. 

Capítulo 02

Parei em frente à porta do laboratório de biologia, recuperando o fôlego perdido ao
subir  seis  lances  de  escada  em  trinta  segundos.  E  também  respirando  fundo  pra
agüentar alguns minutos com aquele ignorante do Jones. 
­  Tá  enrolando  aí  por  que,  Dawson?  –  ouvi  aquela  voz  irritantemente  metida
perguntar, logo que soltei meu último suspiro derrotado – Não sei você, mas eu não
tenho o dia todo. 
Não vou nem comentar de quantas maneiras e com quantas palavras diferentes eu o
xinguei  mentalmente  antes  de  girar  a  maçaneta  de  um  jeito  grosseiro  e  entrar  na
sala.  Sentei  no  banco  mais  afastado  possível  dele  e  coloquei  meu  estojo  sobre  a
bancada,  sem  nem  olhar  pro  verme  todo  esparramado  em  sua  cadeira.  Enrolando
pra pegar minha caneta dentro do estojo, tudo pra não ter que encará­lo, não pude
deixar de notar um sorrisinho ridículo em seu rosto. 
­ Estudou? – aquela voz repugnante perguntou, se achando o maioral como sempre.
Como  se  eu  precisasse,  e  como  se  eu  tivesse  tido  tempo  de  estudar  em  quarenta
minutos. 
­ Eu não sei o senhor, mas eu não tenho o dia todo – respondi, mal educada, ainda
sem encará­lo – Então seria ótimo se o senhor me entregasse a prova de uma vez. 
Sem nada pra responder, óbvio, e com a maior cara de macarrão sem molho, ele se
levantou e veio na minha direção com a prova nas mãos. Parou bem atrás de mim, e
apoiou seus braços no balcão, um de cada lado do meu corpo. 
­ Você deve achar mesmo que eu não vou com a sua cara. 
Ignorei aquela frase desnecessária, me encolhendo pra diminuir a proximidade entre
nós,  e  arranquei  a  prova  que  estava  debaixo  de  sua  mão.  Comecei  a  preencher  o
cabeçalho,  e  antes  que  pudesse  fazer  qualquer  coisa,  senti  seu  hálito  quente  bem
próximo ao meu ouvido. 
­ E isso me deixa cada vez mais fissurado em você. 
Parei de escrever, e uma onda de medo tomou conta de mim. Abri a boca pra falar
umas poucas e boas pra ele, mas fui impedida por seu braço, que logo me abraçou
pela cintura com firmeza e fez meu pânico aumentar. 
­  Me  solta!  –  exclamei,  e  sem  pensar,  enfiei  minha  caneta  de  ponta  fina  em  seu

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 6/106
12/04/2015 Biology

braço. Na mesma hora, ele soltou o ar pesadamente, tentando não gritar de dor, e
se afastou. Peguei meu estojo, desesperada, e a última coisa que vi antes de sair do
laboratório, com as pernas bambas de pavor, foi ele arrancando a caneta que estava
fincada em seu braço. 

­ Bom dia, classe – a professora Keaton disse, ao chegar na sala, e assim que passou
pela porta, deu uma boa olhada pro grupo de atletas da classe, que retribuíram seu
olhar da mesma forma. A srta. Keaton era nossa professora de inglês, consagrada na
escola por seu ótimo método de ensino e elaboração de atividades extracurriculares
bem sucedidas. Atividades essas que incluíam, claro, pegações com alunos. Não devia
ser fácil agüentar aquele monte de testosterona fresquinha provocando­a no auge de
seus 25 anos. Loira, alta e invejada da cabeça aos pés, ela parecia uma modelo, e
segundo as más línguas, um certo professor morria de amores por ela. 
Ele mesmo. Brian Langdon. Eu nem tenho vontade de dar uma voadora nela quando
vejo os dois conversando pelos corredores, sabe. 
Voltando  aos  fatos,  a  srta.  Keaton  logo  começou  a  passar  matéria,  e  como  eu  era
meio lerda pra copiar, já comecei a escrever. Após quinze minutos e uma lousa cheia
de matéria, a professora se sentou em sua cadeira e de lá ficou observando os idiotas
musculosos  que  sentavam  no  fundão  e  riam  de  alguma  besteira  que  algum  deles
tinha falado. Sobre futebol, claro, porque era o único assunto do qual eles entendiam
alguma coisa a ponto de rirem de alguma piada a respeito. 
Eu particularmente não via nada de mais nessa srta. Keaton. Por mais que ela fosse
linda e aparentemente simpática, alguma coisa nela me incomodava. Fora o fato de
que ela podia ter o sr. Langdon ajoelhado aos seus pés quando quisesse. Não sei,
meu santo não batia muito com o dela, acho que era isso. 
­ Com licença, Keaton – ouvi uma voz conhecida falar da porta, e quando ergui meu
olhar da folha, dei de cara com o último professor que queria ver. 
­ Entra, Jones – ela sorriu, toda gentil, e ele logo caminhou até ela, ficando de frente
pra classe. 
­  Eu  tenho  um  recado  pra  dar  –  ele  disse,  e  todos  pararam  de  copiar  pra  ouvi­lo
(menos eu) – Os alunos que estão de recuperação em biologia laboratório farão a
prova na última aula de hoje. Procurem o professor Turner e façam a prova na classe
onde ele estiver. 
Quando  ergui  meu  olhar  pra  lousa,  tentando  continuar  copiando  sem  ligar  pra
ninguém ao meu redor, notei que todos me olhavam. Lancei olhares incomodados
pro lado, e encarei o professor Jones, que devolvia meu olhar de um jeito furioso.
Sua  camiseta  branca  meio  colada  ao  corpo  me  distraiu  por  alguns  milésimos  de
segundo, até que eu bati os olhos em seu antebraço. Havia um curativo nele, bem
onde eu o tinha machucado com a caneta ontem. Fiz aquela legítima cara disfarçada
de ‘se fodeu’, e comecei a balançar uma caneta entre meus dedos, num sinal claro de
que se ele resolvesse aprontar alguma, eu ainda tinha várias canetas de ponta fina
pra enfiar onde eu bem entendesse nele. 
Captando a mensagem, ele logo tratou de sair da classe, agradecendo a professora
Keaton.  Segurei  muito  uma  gargalhada  e  continuei  copiando,  com  um  sorriso
maligno  no  rosto.  Canetas  de  ponta  fina  eram  ótimas  aliadas  na  luta  contra
professores desagradáveis, dica. 
Naquele  dia,  fiz  a  prova  de  recuperação  na  aula  do  Turner,  nosso  professor  de
história,  sem  problemas.  Como  a  sala  em  que  ele  estava  ficava  no  quinto  andar,
resolvi chamar o elevador pra descer e ir embora. Pode me chamar de sedentária, eu
deixo. Assim que o elevador chegou e a porta se abriu, dei de cara com a cena mais
confusa do meu dia. O sr. Langdon conversava e ria animadamente com o professor
Jones  dentro  do  elevador,  e  assim  que  me  viram,  pararam  de  falar.  Cada  um  teve
uma reação diferente: o sr. Langdon sorriu, parecendo feliz em me ver; já o Jones
abaixou  seu  olhar  de  um  jeito  irritado  pro  chão  e  logo  depois  passou  a  fitar  seu
relógio, fingindo interesse nele. 
­ Bom dia, Dawson – o professor Langdon cumprimentou, e se não fosse por aquele
sorriso  dele,  eu  não  teria  entrado  naquele  elevador.  É  meio  perigoso  entrar  num

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 7/106
12/04/2015 Biology

cubículo com um professor que te adora e outro que te odeia, ainda mais quando
não se tem uma câmera filmando tudo. 
­  Bom  dia,  professor  –  sorri,  meio  nervosa,  parando  entre  os  dois  e  notando  que
havia  dois  botões  iluminados  no  painel,  um  indicando  o  sétimo  andar  e  o  outro
indicando o térreo. Acho que nunca torci tanto pra ficar sozinha com o sr. Langdon,
e olha que superar todas as vezes em que desejei isso era muito. Agora que já estava
lá dentro, era esperar pra ver quem me acompanharia até o térreo. E talvez agüentar
alguns  segundos  a  menos  de  um  metro  de  distância  de  um  certo  professor  idiota
durante o trajeto. 
O elevador subiu, e quando as portas se abriram no sétimo andar, quase me agarrei
no  braço  dele  quando  o  sr.  Langdon  deu  um  passo  em  direção  à  porta.  E  só  pra
melhorar, não havia ninguém esperando pra entrar e me salvar daquele martírio. 
­  O  que  o  senhor  vai  fazer  aqui,  professor?  –  perguntei,  tentando  disfarçar  meu
nervosismo. 
­ Eu marquei uma reunião com a professora Keaton sobre um projeto interdisciplinar
pro segundo ano – ele sorriu, parecendo bastante empolgado e me deixando mais
brava ainda – Até mais, Dawson. E não esquece de me trazer aquele documentário
amanhã, Jones. 
­ Pode deixar, Langdon – ouvi o professor Jones dizer, sem emoção na voz, e logo
depois a porta se fechou, me deixando sozinha com ele. Pensei em apertar um botão
qualquer e parar em algum andar pra fugir daquele ambiente perigoso, mas assim
que minha mão avançou na direção do painel, ele segurou meu braço com força e
me puxou num movimento brusco. 
­ O que é isso? – quase gritei, quando ele segurou meu outro pulso e me prensou na
parede – Me larga! 
­ Cala a boca – ele murmurou, e sem aviso, me beijou. Tentei me desvencilhar dele e
não o deixar aprofundar o beijo, mas a pressão que ele fazia contra meus lábios era
tão forte a ponto de fazer minha boca latejar. Mesmo me esforçando ao máximo pra
não  deixar  que  aquilo  passasse  de  um  selinho  indesejado,  senti  meus  músculos
cederem à pressão que ele exercia e abrirem passagem pra sua língua. 
Eu  me  debatia  desesperadamente,  tentando  dar  uma  joelhada  em  suas  partes  ou
então mordendo seu lábio, mas ele estava tão colado em mim que eu mal conseguia
mexer  qualquer  músculo.  Tentei  gritar,  mas  abrir  a  boca  pra  emitir  algum  som  só
piorou  minha  situação.  Olhei  pro  painel  do  elevador  e  vi  que  ainda  estávamos  no
quarto  andar.  Sem  nenhuma  chance  de  defesa,  o  único  jeito  seria  continuar  me
debatendo até machucá­lo de alguma forma ou fazê­lo desistir. 
Lentamente, ele foi escorregando suas mãos, trazendo meus pulsos junto, até colar
meus braços ao lado do meu corpo. Continuou me segurando firme, e me beijando
intensamente.  Seus  músculos  evidenciados  pela  blusa  justa  que  ele  usava  se
contraíam,  muito  próximos  do  meu  tronco,  e  por  pior  que  a  situação  fosse,  era
inegável concluir que ele estava em excelente forma física. Quando olhei para o painel
e vi que estávamos no segundo andar, ele abriu os olhos e encarou os meus, ainda
me beijando. Uma sensação esquisita percorreu meu corpo quando nossos olhares
tão próximos se encontraram, o que só me deixou mais trêmula. 
Ele  partiu  o  beijo,  puxando  meu  lábio  inferior  devagar,  e  se  afastou,  ainda  com
aquele olhar intenso fixo no meu. A porta do elevador se abriu, chegando ao térreo
lotado de gente, e sem dizer uma palavra, ele enxugou a boca com as costas de uma
mão  e  saiu  andando,  como  se  nada  tivesse  acontecido.  Incapaz  de  me  mexer  por
algum motivo desconhecido, fiquei encostada na parede do elevador, tremendo da
cabeça aos pés e com o coração acelerado. De susto e indignação, é claro, afinal não
é todo dia que o professor que você mais odeia te beija no elevador. 
­ Mell? – ouvi a voz de Kimberlly me chamar, não sei quanto tempo depois, e quando
olhei na direção da porta, a vi parada com um olhar preocupado – Você tá pálida, o
que houve? 
­ N­nada, s­só uma tontura – gaguejei, com a voz falha, e torcendo pra que minhas
pernas bambas me agüentassem, saí do elevador – Vamos, minha mãe já deve estar
me esperando. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 8/106
12/04/2015 Biology

Kimberlly não fez mais perguntas, apesar de não ter acreditado totalmente na minha
resposta, e me acompanhou até a saída. Durante o dia inteiro, a lembrança daquele
beijo  e  daquela  sensação  esquisita  me  assombrou,  e  à  noite,  o  sono  demorou  a
chegar. Eu me revirava na cama, tentando afastar os olhos do professor Jones dos
meus pensamentos, até acabar pegando no sono. 

­ Hoje você tem aula com o Langdon? – Kimberlly perguntou, enquanto subíamos as
escadas pra chegar às nossas classes. 
­ Tenho, por quê? – perguntei, distraída ouvindo música, ou pelo menos tentando.
Só  de  me  lembrar  das  aulas  que  eu  teria  hoje,  meu  estômago  revirava.  Fazia
exatamente seis dias que eu não via nem sombra do Jones, e hoje eu teria a última
aula  com  ele.  Um  calafrio  percorreu  minha  espinha,  mas  eu  fingi  que  nada  tinha
acontecido e continuei cantarolando a música que tocava no meu iPod. 
­  Por  que  você  não  fala  com  ele  de  novo  sobre  o  professor  Jones?  –  ela  sugeriu,
solidária – Sei lá, de repente ele resolve te ajudar dessa vez. 
­  Ele  vai  me  ajudar  como,  falando  pro  Jones  que  eu  fui  lá  pedir  ajuda  pra  ele?  –
retruquei,  balançando  negativamente  a  cabeça  –  Não  vou  falar  nada,  não  quero
meter mais ninguém nisso. Vai que o Jones inventa alguma besteira sobre mim e até
o Langdon começa a me dar C de média. 
­ Bom, você que sabe – Kimberlly encerrou, derrotada – Eu falaria com o Langdon de
novo depois de receber aquela prova de recuperação com um C gigante e injusto,
mas a decisão é sua. 
­ Eu vou pensar no que vou fazer – suspirei, entrando na classe enquanto Kimberlly
entrava na classe ao lado. Até o ano passado, ela era da minha classe, mas nesse ano
a diretora aprontou alguma com as re­matrículas e ela acabou caindo numa classe
separada. Estávamos tentando fazê­la mudar de classe, mas aquela joça de diretora
de  alguma  maneira  estava  implicando  com  a  gente.  Pode  parecer  exagero,  mas  o
mundo parece conspirar contra mim às vezes. 
Como nas três primeiras aulas os professores resolveram passar muita matéria, nem
tive  muito  tempo  de  pensar  em  nada.  Durante  o  intervalo,  eu  e  Kimberlly  nem
conversamos  direito,  porque  enquanto  eu  ouvia  música  no  volume  máximo,  ela
estudava  química.  Perdida  em  pensamentos,  logo  voltei  à  realidade  quando
novamente vi o sr. Langdon  conversando  com  o  professor  Jones  na  porta  da  sala
dos  professores,  super  empolgados.  Os  dois  riam  e  gesticulavam,  e  o  sr.  Langdon
dava cada gargalhada divertida que me dava vontade de rir junto só de olhar. 
Mas  apesar  de  sentir  meu  coração  acelerar  ao  ver  o  professor  Langdon,  olhar  pro
Jones pela primeira vez depois do incidente no elevador me deu um aperto no peito.
Ele estava com uma blusa social roxa escura lisa, uma calça jeans preta justa e um All
Star da mesma cor. Enquanto ele caminhava lentamente em direção à cantina, ainda
conversando,  uma  pergunta  passava  pela  minha  cabeça.  Como  eu  nunca  tinha
reparado  em  como  ele  era  bonito?  Consideravelmente  alto,  corpo  bem  definido,
cabelos  bagunçados  de  um  jeito  atraente...  É,  talvez  eu  estivesse  ocupada  demais
copiando  relatórios  ou  então  odiando  seu  jeito  de  ser  pra  prestar  atenção  em  sua
aparência.  Mas  mesmo  sendo  lindo,  nada  me  faria  sentir  algo  bom  por  ele.  Nada
mesmo. 
Senti Kimberlly me cutucar, e tirei os fones do iPod, acordando pra vida. 
– Vamos, o sinal já tocou e eu tenho prova agora – ela disse, fazendo uma careta
entediada. 
­  E  eu  tenho  aula  do  Hammings  –  resmunguei  pra  mim  mesma  enquanto  me
levantava, tensa por causa das aulas de biologia que se aproximavam cada vez mais.
Por  que  todos  os  professores  não  podiam  ser  fisicamente  iguais  ao  meu  querido
professor de geografia, feios, balofos e calvos? Não ser obrigada a ver meu professor
infinitamente insuportável e igualmente sexy usando calças justas facilitaria muito a
minha vida. 

­ Bom dia, classe – o sr. Langdon sorriu, parando na porta da classe enquanto eu
ainda terminava de copiar a matéria de geografia da lousa – Hoje nossa aula será um

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 9/106
12/04/2015 Biology

pouco diferente. 
Na  mesma  hora,  todas  as  cabecinhas  que  estavam  na  classe  se  viraram  pra  ele.
Quando algum professor dizia que a aula seria ‘diferente’, era porque sairíamos da
classe  ou  algo  do  tipo,  o  que  era  bem  raro.  Com  um  sorriso  sapeca  no  rosto,  o
professor Langdon continuou: 
­  Nós  iremos  ao  anfiteatro  assistir  a  um  documentário  bem  interessante  que  o
professor Jones me emprestou. 
Sem precisar dizer mais nada, todos os alunos começaram a se amontoar ao redor
da  porta,  empolgados  com  a  simples  idéia  de  sair  daquela  classe  monótona.  Eu
apenas  segui  o  fluxo  calmamente,  dando  um  tchauzinho  ao  passar  pela  classe  de
Kimberlly e vê­la tranqüila entregando a prova de química. Pra variar, ela parecia ter
ido bem. 
Chegamos  ao  anfiteatro,  que  ficava  no  quarto  andar,  e  logo  todos  ocuparam  as
poltronas mais próximas da tela, que abrangia uma parede inteira. Pra evitar que os
retardados  mentais  da  minha  classe  atrapalhassem  minha  concentração  com  seus
comentários  desnecessários,  me  sentei  mais  pro  fundo,  literalmente  excluída  de
todos.  Tudo  que  eu  queria  era  tentar  prestar  atenção  no  documentário  em  paz,
afinal, eu já estava me sentindo bastante confusa sozinha e não precisava de mais
ninguém me perturbando. 
O sr. Langdon colocou o documentário no DVD e apagou as luzes, nos deixando no
escuro quase total. Meus olhos, ainda desacostumados à escuridão, estavam fixos na
tela, então eu acho que dá pra entender porque eu quase morri de susto ao sentir
alguém sentar ao meu lado. 
­  Posso  me  sentar  aqui?  –  ouvi  o  professor  Langdon  sussurrar,  já  sentado.  Até
parece que ele sabia que não precisava pedir permissão pra nada quando a pessoa
em questão era eu. 
­ Claro – respondi baixinho, inspirando seu perfume gostoso. 
– Não gosta de sentar mais pra frente? – ele perguntou, com o rosto parcialmente
iluminado pela luz do telão. 
­ Não muito, eu acabo não conseguindo prestar atenção com muita gente falando
em volta – murmurei, com um sorrisinho simpático – E o senhor? 
Ele  soltou  uma  risadinha  sem  graça  e  fez  uma  careta,  como  se  estivesse
desconcertado. 
­ Nem é muito por isso... – ele respondeu, sorrindo de um jeito envergonhado ­ Eu
vim sentar aqui pra fazer companhia pra você. 
­ Companhia pra mim? – repeti, tentando disfarçar minha vontade de abraçá­lo até
cansar – Não precisa sentar aqui só por minha causa, professor. Eu tô acostumada a
ficar sozinha. 
Observação:  o  homem  inalcançável  de  quem  eu  era  super  a  fim  tava  dizendo  que
queria me fazer companhia, e o que eu fazia? Repelia o cara. Eu não mereço viver. 
­ Mas não devia, Dawson – ele murmurou, com a voz um pouco chateada – Eu não
gosto de te ver sozinha na classe, sempre copiando a matéria de geografia. Às vezes
eu acho que as pessoas da sua classe não te dão o devido valor... Nunca tentaram
descobrir o quão interessante você pode ser. 
A  cada  palavra,  o  professor  Langdon  me  deixava  mais  encantada.  Era  sempre
comovente ouvir uma pessoa dizer algo tão bonito sobre você, daquele jeito sincero,
ainda mais se essa pessoa for tão especial como ele era pra mim. 
­ O senhor acha isso mesmo? – sussurrei, sorrindo esperançosamente. Ele sorriu de
volta de um jeito fofo e assentiu. 
­ Eu acho – ele disse, baixinho, e pegou minha mão que estava apoiada no braço da
poltrona – Você é uma garota incrível, Dawson. De verdade. 
Abaixei meu olhar pras nossas mãos juntas, toda arrepiada. Era mesmo verdade? Ele
estava segurando minha mão? Ele olhou na mesma direção que eu, e colocou sua
mão por baixo da minha, com a palma pra cima, entrelaçando nossos dedos. 
­ Obrigada, professor – eu gaguejei, com a voz quase inaudível, e ergui meu olhar
pra ele – Eu também acho o senhor um homem incrível. 
Sua mão era quase o dobro da minha em tamanho, macia e quentinha. Talvez a mão

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 10/106
12/04/2015 Biology

mais gostosa de segurar no mundo. Com um sorrisinho adolescente, o sr. Langdon
voltou  a  me  encarar,  com  seus  olhos  Castanhos  brilhando  muito  em  meio  à
escuridão, e eu percebi que seu rosto se aproximava do meu devagar. Fiquei séria,
com medo de alguém olhar pra trás e nos ver, mas ele colocou uma mão em meu
rosto, como se me impedisse de virar e checar essa possibilidade. 
­  Eu  já  tomei  esse  cuidado,  pode  ficar  tranqüila  –  ele  sorriu,  acariciando  minha
bochecha  com  seu  polegar.  Sorri  também,  com  o  coração  acelerado.  Milhares  de
coisas passavam pela minha cabeça. Eu estava prestes a ser beijada pelo professor
que eu mais admirava nesse mundo. O cara mais perfeito que eu já tinha conhecido,
que nunca mostrou um defeito sequer durante os três anos em que me deu aula. E
que era treze anos mais velho que eu. 
Mesmo  com  tantos  conflitos,  apenas  fechei  os  olhos  e  deixei  as  preocupações  de
lado.  Nossos  lábios  se  tocaram  e  eu  logo  permiti  que  ele  aprofundasse  o  beijo,
brincando calma e intensamente com a minha língua. Deslizei minha mão pelo ombro
dele na direção da nuca, quase prensada entre o encosto da cadeira e seu rosto, e
embrenhei  meus  dedos  naqueles  cabelos  macios.  Brian  (acho  que  agora  tenho
intimidade  suficiente  pra  chamá­lo  pelo  nome,  certo?)  apertou  com  mais  força  a
minha mão, me fazendo sorrir. Logo ele partiu o beijo, deixando seu rosto próximo
do meu e me encarando de um jeito bonitinho. 
­  Acho  melhor  te  emprestar  esse  documentário  pra  você  ver  em  casa  –  ele  riu
baixinho, e eu assenti, ainda assimilando tudo que tinha acontecido. Durante o filme
todo, nós ficamos de mãos dadas disfarçadamente, até que o documentário acabou
e  ele  se  levantou  para  acender  as  luzes.  Várias  pessoas,  incluindo  Amy  Houston,
acordaram assustadas com a claridade repentina. 
­  Até  mais,  professor  –  sorri,  tentando  não  dar  bandeira  do  que  tinha  acontecido
quando ia passar pela porta, mas ele logo fez uma cara meio brava e disse: 
­ Espera, Dawson, eu preciso conversar sobre um assunto sério com você. 
Engoli em seco, nervosa, e esperei até que o anfiteatro estivesse vazio. 
­ O que foi? – perguntei, confusa, enquanto ele nos fechava lá dentro, e recebi um
beijo como resposta. Brian me abraçou pela cintura, me puxando pra bem perto dele
com vontade, e eu passei meus braços por seu pescoço, ainda surpresa com aquela
atitude inesperada. Ele me levantou do chão, sorrindo durante o beijo, e eu segurei
firme  em  seus  ombros  deliciosos.  Eu  só  podia  estar  sonhando,  não  era  realmente
possível eu estar beijando Brian Langdon, o homem mais perfeito da face da Terra.
Ele  desacelerou  o  beijo  após  alguns  maravilhosos  minutos,  transformando­o  em
vários selinhos, até que parou de me beijar e ficou me olhando, ainda sem me deixar
tocar o chão. 
­  Desculpa,  eu  vou  fazer  você  se  atrasar  pra  próxima  aula  –  ele  disse,  alarmado,
acordando  do  transe  e  parando  de  me  segurar  como  se  estivesse  fazendo  algo
proibido (e se formos pensar bem, estava mesmo). 
­ Tudo bem, eu não me importo – sorri, ainda abraçando­o pelo pescoço – Não acho
que vá conseguir prestar atenção em alguma coisa hoje depois disso tudo. 
­ Pelo menos você tem a opção de não prestar atenção – ele riu, com seus braços
firmes ao redor da minha cintura – E eu, que tenho que estar sempre concentrado
no que vou explicar? Tô ferrado hoje! 
­ Imagina, o senhor sempre consegue explicar tudo direitinho – eu respondi, ainda
sorrindo  de  um  jeito  besta  ao  observá­lo  –  E  além  do  mais,  o  senhor  deve  estar
acostumado com esse tipo de coisa. 
­ Esse tipo de coisa? – ele repetiu, com um sorriso curioso no rosto – Você quer dizer
que eu tô acostumado a beijar alunas? 
Fiquei  séria,  sem  saber  o  que  responder  por  alguns  segundos,  até  acabar
confessando: 
­ E não é verdade? 
O sr. Langdon fez uma cara surpresa e riu, jogando a cabeça pra trás. Eu já disse que
adorava quando ele fazia isso? Pois é, descobri que essa risada conseguia ser ainda
melhor quando meus braços estavam ao redor do pescoço dele. 
­ Quem tá acostumado a esse tipo de coisa é o Jones – ele falou, fazendo cara de

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 11/106
12/04/2015 Biology

quem não aprovava muito esse comportamento, e na mesma hora minha expressão
ficou séria – Que por sinal, já deve ter começado a aula sem você a uma hora dessas.
Só de lembrar que Daniel Jones existia, meu estômago deu uma fisgada. Revirei os
olhos, tentando parecer inconformada por ter que desfazer aquele abraço gostoso, e
não assustada por pensar em estar a menos de 50 metros de distância do Jones. 
­  Ei,  escuta  –  ele  sussurrou,  me  puxando  pra  trás  da  porta  que  ele  mesmo  tinha
acabado  de  abrir  –  Vê  se  faz  uma  cara  bem  séria  quando  sair  daqui,  como  se  eu
tivesse te dado uma bronca ou algo do tipo. Vai parecer que eu realmente conversei
sobre algo sério com você quando seus amigos te virem. 
Gente,  pega  só  o  sr.  Langdon  todo  maroto!  Que  lindo,  meu  Deus,  ele  realmente
conseguia se superar com aquele sorrisinho danado no rosto. 
­  Pode  deixar  –  sorri,  tentando  não  voar  nele  e  fincar  minhas  unhas  naqueles
ombrinhos divinos. 
­ Eu te procuro amanhã pra gente... Conversar – ele murmurou, aumentando aquele
sorriso daqueles que iluminavam o meu dia, e me deu um selinho demorado antes
de me deixar sair do anfiteatro. Pra mais uma aula de sofrimento com o professor
Jones, que hoje não conseguiria tirar meu bom humor por nada nesse mundo. 

Capítulo 03

­ Com licença, professor – eu falei, interrompendo a explicação do Jones ao abrir a
porta  do  laboratório.  Ele  apenas  parou  de  falar  e  me  olhou  de  cima  a  baixo,  com
uma cara de desprezo, erguendo uma sobrancelha. 
­ Como eu estava dizendo, o relatório de hoje deverá ser entregue na próxima aula,
porque  a  última  parte  dele  deverá  ser  entregue  em  forma  de  pesquisa  –  ele
continuou, um pouco irritado. Nem preciso dizer que a Smithers ficou me medindo
desde  que  eu  fechei  a  porta  do  laboratório  até  quando  eu  me  sentei  num  dos
bancos.  Tadinha,  ela  pensa  que  aquele  canalha  dá  a  mínima  pra  ela.  Tenho  pena
dessas pobres meninas iludidas. 
O professor Jones logo terminou de explicar, sem dirigir um olhar sequer na minha
direção, e foi se sentar em sua cadeira. Geralmente ele colocava os pés sobre a mesa
e  ficava  de  braços  cruzados,  apenas  nos  observando  com  seu  risinho  debochado,
mas  hoje  ele  parecia  preocupado  com  alguma  coisa.  Ele  não  deixou  de  se  sentar
daquele  seu  jeito  folgado,  mas  sua  expressão  estava  fechada  e  o  olhar  perdido
vagamente entre os alunos. Não que eu estivesse reparando nele nem nada, eu só
notei  esse  comportamento  estranho  porque  passei  metade  da  aula  sonhando
acordada  com  tudo  que  tinha  acontecido  entre  eu  e  o  sr.  Langdon  e
conseqüentemente  acabava  observando  as  pessoas  ao  meu  redor  mais  do  que  de
costume. Meu coração ainda estava acelerado e minhas pernas estavam bambas só
de lembrar dele me levantando do chão e me abraçando tão apertado. 
Durante  mais  uma  de  minhas  viagens  pelo  interior  do  meu  cérebro,  me  peguei
observando o professor Jones. Meus olhos viajavam pelo seu rosto, analisando cada
detalhe, até que ele retribuiu meu olhar de um jeito incomodado, como se tivesse
notado que eu o observava há algum tempo. Arregalei meus olhos, surpresa comigo
mesma,  e  continuei  copiando  o  relatório  da  lousa  evitando  ao  máximo  aproximar
meu  olhar  dele.  Por  que  toda  vez  que  ele  me  olhava  agora  eu  sentia  um  calafrio?
Assim que ele me olhou de volta, me lembrei do beijo no elevador, e do quão tenso
foi aquele último olhar. Talvez fosse medo de que ele pudesse me atacar de novo a
qualquer momento ou algo do tipo. 
A  aula  rapidamente  acabou,  e  como  eu  tinha  chegado  um  pouco  mais  tarde  ao
laboratório,  estava  igualmente  atrasada  na  cópia  da  lousa  em  relação  ao  resto  da
classe.  Resumindo,  enquanto  todos  iam  embora,  eu  ainda  estava  copiando  o
relatório, com as mãos trêmulas. Experimenta beijar seu professor lindo, maravilhoso
http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 12/106
12/04/2015 Biology

e inalcançável e depois copiar uma folha inteira de lição pra você entender o que eu
passei. 
Quando  todos  já  tinham  saído,  vi  de  rabo  de  olho  que  o  professor  Jones  me
encarava.  Tentei  me  apressar,  mas  tudo  que  consegui  foi  pular  uma  palavra  e  ser
obrigada  a  passar  corretivo  na  folha.  Enquanto  eu  soprava  o  líquido  pra  que  ele
secasse logo, pude ouvi­lo bufar e se levantar, caminhando lentamente até a janela e
observando  o  exterior  do  prédio  com  a  testa  franzida.  E  foi  aí  que  eu  percebi  que
meu  sopro  ficou  mais  fraco  quando  meus  olhos  sem  querer  se  fixaram  na  bunda
dele. O que estava acontecendo comigo? Por que esquentou de repente? 
­  Perdeu  alguma  coisa,  Dawson?  –  ouvi  a  voz  dele  reclamar,  e  rapidamente  ergui
meu  olhar  até  encontrar  seu  rosto,  ainda  virado  pra  janela.  Com  a  maior  cara  de
ânus,  abri  a  boca  várias  vezes  na  tentativa  de  dizer  algo,  mas  como  nada  saiu,
apenas  voltei  a  copiar.  Ele  soltou  um  risinho  debochado  e  começou  a  balançar  a
cabeça negativamente. 
­  Num  dia  ela  enfia  uma  caneta  no  meu  braço,  no  outro  ela  fica  secando  a  minha
bunda  –  ele  disse,  e  eu  voltei  a  copiar  pra  não  deixá­lo  ver  minha  cara  roxa  de
vergonha ­ Afinal de contas, o que você quer? 
O sr. Jones virou seu rosto na minha direção, e me encarou de um jeito impaciente.
Eu soube bem o que dizer, apesar de ter sido pega de surpresa por ele ter tocado no
assunto tão repentinamente. 
­ O que eu quero? Engraçado, o senhor só menciona as partes que lhe convêm. Por
que não mencionou também o dia em que me agarrou dentro do elevador contra a
minha vontade? – respondi, frisando bem a última parte e olhando­o com raiva. 
­ Não diga como se eu fosse o vilão da história, se não tivesse gostado teria dado um
jeito de me afastar – ele riu, vitorioso, cruzando os braços e exibindo uma pequena
cicatriz circular onde eu o havia machucado. Sem um pingo de pena, revirei os olhos
e comecei a copiar a última questão, doida pra sair dali e quem sabe encontrar o sr.
Langdon na saída. 
­ Eu não vou discutir um absurdo desses – retruquei, possessa – Se o senhor prefere
achar que me ganhou com aquele abuso, não vou destruir seus sonhos. 
­ Quem tá sonhando aqui é você, garota – ele falou, parecendo ainda mais bravo (o
que só me deixou mais satisfeita) – Se tá achando que eu vou ficar correndo atrás de
você, pode ir tirando o cavalinho da chuva. Eu já consegui o que queria, agora é só
te jogar fora e investir em outra. 
Terminei de escrever a última palavra do relatório quando ele acabou de falar, e ergui
meu olhar da folha pra ele. Com a frase perfeita pronta e na ponta da língua, apenas
guardei  minhas  coisas  e  fui  até  ele,  parando  bem  à  sua  frente.  Sem  mudar  de
expressão,  ele  me  encarava  avidamente,  com  um  misto  de  raiva  e  algo  mais
brilhando em seus olhos. Dei mais um passo a frente, ficando perigosamente perto
dele, e quando faltava apenas um centímetro pra que nossos lábios se encostassem,
percebi que seus olhos não o obedeciam mais e fitavam meus lábios com um desejo
imenso. 
­ Ótimo – sussurrei, sorrindo perversamente – Me jogar fora e investir em outra é
um favor que você me faz. 
O olhar confuso do professor Jones se ergueu até encontrar o meu, e sem dizer mais
nada, me afastei dele e saí do laboratório, ainda mais feliz do que tinha entrado. 

­  Por  que  você  demorou  tanto  pra  sair  da  escola  ontem?  –  Kimberlly  perguntou,
batendo o pé junto com a bateria da música enquanto ouvíamos música no volume
máximo do meu iPod. 
­ Cheguei atrasada na aula do Jones e não consegui terminar de copiar o relatório
antes do sinal tocar – respondi, disfarçando um sorriso maligno – Você sabe que eu
tenho problemas pra decifrar a caligrafia dos professores. 
Estávamos  sentadas  no  chão  do  pátio  do  colégio,  de  frente  pra  porta  por  onde
entraríamos logo e começaríamos mais um dia de aula. Faltavam apenas dez minutos
pra  que  o  sinal  tocasse  e  as  portas  das  classes  fossem  abertas,  mas  ainda  assim  a
escola estava praticamente deserta. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 13/106
12/04/2015 Biology

Olhei  na  direção  da  rua,  refletindo  sobre  o  dia  anterior  enquanto  Kimberlly  falava
alguma coisa sobre a prova de química. Como duas pessoas podiam influenciar tanto
meu  humor  de  formas  tão  diferentes?  Primeiro  o  sr.  Langdon,  todo  carinhoso,
perfeito e maravilhoso. Depois, o sr. Jones, totalmente idiota, ridículo e frouxo. E o
mais  curioso  de  tudo,  eles  eram  amigos!  Essa  vai  pra  minha  lista  de  mistérios  da
humanidade que eu adoraria desvendar. 
Enquanto observava os poucos carros que passavam em frente à escola, um suéter
verde  musgo  ambulante  chamou  minha  atenção.  Ergui  meu  olhar  na  direção  do
rosto da pessoa que caminhava escola adentro, e me deparei com um par de olhos
Castanhos me olhando. Sorri de leve, doida pra agarrá­lo ali mesmo como sempre.
Aquela blusa verde era um clássico no guarda­roupa dele, todas as vezes que eu o
via  usando  aquele  suéter,  era  tentação  na  certa.  Deus,  eu  realmente  amava  cada
detalhe naquele homem. 
­ Bom dia, meninas – o sr. Langdon sorriu ao passar por nós, carregando mil pastas
cheias de papéis e uma mochila que provavelmente continha mais pastas iguais às
outras. Tenho certeza de que Kimberlly não notou nada de especial naquele sorriso,
mas eu o vi de um jeito totalmente diferente. 
­  Bom  dia,  professor  –  respondemos,  em  uníssono,  o  que  só  fez  aquele  sorriso
aumentar.  O  sr.  Langdon  continuou  a  andar  normalmente  em  direção  à  sala  dos
professores, e eu o segui com o olhar disfarçadamente. Oi, como você consegue ser
tão gostoso aos 30 anos de idade? Não posso esquecer de perguntar isso a ele um
dia. 
­  Você  tem  razão  –  Kimberlly  disse,  e  eu  mais  que  depressa  parei  de  secar  o  sr.
Langdon  para  olhá­la.  Fiz  cara  de  pastel  de  vento  e  ela  completou  a  frase  –  Ele  é
lindo demais. 
Não  deu  pra  não  rir  daquele  comentário,  ainda  mais  com  os  recentes
acontecimentos. 
­ Pois é, minha cara – suspirei, assentindo devagar – Ele é simplesmente perfeito. 
Kimberlly também suspirou e começou a observar a rua vagamente. Sem vergonha,
logo  voltei  a  encarar  o  sr.  Langdon,  que  havia  parado  em  frente  à  sala  dos
professores pra conversar com uma coisa loura, alta e magra que atendia pelo nome
de  Miranda  Keaton.  Eu  ainda  acertava  minhas  contas  com  aquela  lambisgóia
oxigenada um dia, pode apostar. 
­ Segura a emoção aí, Mell – ouvi Kimberlly rir disfarçadamente, abaixando seu olhar
pra disfarçar ainda mais o riso – Sua alma gêmea tá chegando. 
Franzi a testa, sem entender, e me virei na direção da saída do colégio. Dei de cara
com  o  professor  Jones  chegando,  com  a  maior  cara  de  sono  e  os  cabelos
despenteados de um jeito proposital. E atraente, pro meu desgosto. 
­ Não sei por que eu fui olhar, eu já devia saber que era ele – resmunguei, revirando
os  olhos  e  olhando  rapidamente  pra  porta  da  sala  dos  professores,  agora  sem
ninguém  ao  seu  redor.  Beleza,  o  sr.  Langdon  e  a  srta.  Keaton  já  deviam  estar  no
banheiro mais próximo dando sua rapidinha matinal. E eu ali, perdendo meu tempo
observando  o  contorno  dos  ombros  do  sr.  Jones,  realçados  pela  blusa  pólo  azul
marinho que ele usava. 
Espera aí. Credo, que nojo! Por que eu agora estava com a péssima mania de ficar
observando os detalhes daquele verme? Tudo bem que eu adoro ombros masculinos
(não só ombros, mas isso não vem ao caso), mas ficar olhando os do Jones já era
desespero demais! Nota mental: evitar encarar qualquer parte do corpo daquele exu.
­ Nem bom dia ele dá – Kimberlly comentou, medindo­o de cima a baixo quando ele
já tinha passado por nós – Dá pra entender totalmente por que você o odeia tanto. 
­ Eu odiá­lo tanto tá beleza, agora ele me odiar também é péssimo pra minha nota –
bufei,  fazendo  uma  careta  –  Mas  eu  não  ligo,  prefiro  ir  mal  a  ter  qualquer  tipo  de
simpatia com esse crápula. 
­ Fala, Jones – ouvi uma voz conhecida dizer, e vi o sr. Langdon surgir do nada com
a srta. Keaton. 
­  Oi,  Brii  –  o  sr.  Jones  resmungou,  parecendo  indisposto.  Provavelmente  tinha
comido alguma aluna do primeiro ano e como ela não devia saber nem beijar, não foi

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 14/106
12/04/2015 Biology

bom e ele ficou de mau humor. Idiota, quem ele pensava que era pra chamá­lo de
Brii? Ele não merecia aquela intimidade toda! 
­ Não esqueceu o futebol com o terceiro ano depois da aula, né? – Brii (se o Jones
podia, eu também podia) perguntou, como se já previsse a careta que o amigo fez. 
­ Totalmente – ele respondeu, batendo com a palma da mão na própria testa – Se
bem que eu não ia jogar de qualquer jeito, não dormi nada essa noite. 
Os dois entraram na sala dos professores rindo, e não deu pra ouvir mais nada. O
sinal tocou, e logo eu e Kimberlly subimos, ainda comentando sobre o belo físico do
professor Langdon.  Bem  que  eu  quis  contar  tudo  pra  ela,  mas  fiquei  com  medo  e
achei melhor as coisas se firmarem um pouco mais. Por mim, eu casava com ele sem
pensar duas vezes, mas eu acho que uma proposta de casamento seria um pouco
assustadora pra ele. 
As duas primeiras aulas se arrastaram lentamente, sem muitas novidades. Dei graças
a  Deus  quando  a  professora  de  física  saiu  da  classe.  Aulas  duplas  me  entediavam
demais, fato. Nosso professor de história logo chegou e como era dia de prova, já foi
entregando as avaliações para os alunos. Beleza, só questões de múltipla escolha, ia
ser fácil. O legal do sr. Turner era que ele facilitava as coisas no primeiro bimestre e ia
dificultando conforme o tempo passava, nos dando a oportunidade de já passarmos
de ano sem precisarmos estudar muito a parte mais difícil da matéria. Afinal, quem
em  sã  consciência  leva  os  estudos  a  sério  no  quarto  bimestre  se  já  fechou  no
terceiro? É, até que o sr. Turner era legalzinho, se não usasse tantas palavras difíceis
e transpirasse menos. 
Em menos de dez minutos eu terminei a prova, com a certeza de que tinha ido bem.
Todo mundo ia bem nas provas dele, porque ele praticamente colocava as respostas
no enunciado da pergunta. Sem a mínima vontade de ficar sentada por mais de meia
hora naquela classe, pedi pra ir ao banheiro, pra ver se o tempo passava mais rápido,
e  o  professor  apenas  assentiu  pra  mim,  atento  aos  alunos  do  fundo  que  não  se
cansavam de pedir e passar cola. Bando de burros, francamente. 
Caminhei  lentamente  pelo  corredor  na  direção  do  banheiro,  soltando  um  bocejo  e
me  espreguiçando  preguiçosamente.  Passei  pela  classe  de  Kim,  que  estava  com  a
porta fechada, e pela classe ao lado da dela, que estava aberta, mas vazia. 
­  Ei,  Dawson  –  ouvi  alguém  sussurrar  assim  que  entrei  no  banheiro,  e  coloquei  a
cabeça  pra  fora  pra  ver  quem  era.  Uma  coisa  verde  e  sexy  parada  na  porta  do
banheiro  masculino,  que  ficava  logo  ao  lado  do  feminino,  sorria  pra  mim,  fazendo
meu coração acelerar. Homens como o sr. Langdon não podiam aparecer assim de
repente, era beleza demais pra se assimilar tão depressa. 
­  Oi,  professor  –  sorri  de  volta,  tentando  parecer  menos  promíscua  do  que  eu
realmente era quando o cara em questão era ele. 
­ Tem um minutinho? – Brii murmurou, com um sorriso perfeito no rosto. Ele devia
entrar  no  Guinness  Book  como  o  sorriso  mais  charmoso  do  mundo,  dica.  Assenti,
olhando pros lados pra ver se alguém estava vindo, mas o corredor estava realmente
deserto. 
Brii me puxou pela mão até a sala vazia, e fechou a porta atrás de nós. Quando ele se
virou pra mim e me encarou, tudo que eu pensava em dizer simplesmente sumiu. Eu
sempre ficava meio retardada quando ele me olhava, ainda mais agora que seu olhar
parecia muito mais íntimo do que das outras vezes. 
­  Eu  te  chamei  aqui  porque  queria  conversar  sobre  ontem  –  ele  falou,  se
aproximando  com  as  mãos  nos  bolsos  da  calça  jeans  larga  e  uma  expressão
misteriosa – Mas eu mudei de idéia. 
Me assustei com o que ele disse. Mudou de idéia? O que ele quis dizer com aquilo?
Eu beijava tão mal pra fazê­lo desistir de mim em um dia? 
­ C­como assim? – gaguejei, numa tentativa desesperada de disfarçar meu pânico.
Totalmente em vão, claro, meu pavor tava na cara. 
O  sr.  Langdon  não  disse  nada,  apenas  continuou  se  aproximando  cada  vez  mais.
Quando  ele  já  estava  bastante  próximo,  envolveu  meu  rosto  com  suas  mãos,  e
parou  com  o  corpo  bem  pertinho  do  meu.  Se  ele  não  estivesse  segurando  meu
rosto, acho que teria desmaiado assim que seu perfume encheu meus pulmões. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 15/106
12/04/2015 Biology

­ Eu descobri que te beijar é muito melhor que qualquer conversa – ele murmurou,
abrindo um sorriso lindo, e tudo que tive tempo de fazer foi também sorrir, aliviada,
antes  de  sentir  seus  lábios  nos  meus.  Deslizei  minhas  mãos  pelos  ombros  dele,
gravando  cada  toque  na  minha  memória  pra  jamais  esquecer,  e  o  abracei  pelo
pescoço, puxando­o pra mais perto. Brii  embrenhou  uma  mão  em  meus  cabelos  e
escorregou  a  outra  até  meu  quadril,  fazendo  qualquer  espaço  que  ainda  houvesse
entre  nós  sumir.  Nossas  línguas  se  acariciavam  numa  sintonia  perfeita,  como  se  já
fôssemos íntimos há muito tempo, fazendo meu corpo inteiro formigar. 
Aquele sem dúvida foi o melhor beijo da minha vida, com o homem mais perfeito do
mundo. Ele conseguia ser firme e delicado ao mesmo tempo, me segurando perto
dele e me provocando sensações novas com o mais sutil dos toques, como nunca
ninguém  havia  conseguido.  Fomos  intensificando  cada  vez  mais  o  beijo  a  cada
segundo, até meus lábios ficarem dormentes e meu fôlego acabar. Mesmo ofegante,
continuei beijando­o com a mesma avidez, sem querer desgrudar dele nunca mais. 
Brii me abraçou pela cintura e me levantou do chão. Acho que ele fazia isso porque
eu  era  relativamente  baixinha  perto  dele,  e  quando  ele  me  levantava  as  coisas
ficavam mais fáceis pro seu lado. Sem pensar direito, envolvi sua cintura com minhas
pernas,  e  ele  pareceu  gostar  da  idéia.  Cambaleando  um  pouco  enquanto  eu
bagunçava seu cabelo, ele me sentou sobre a mesa onde os professores colocavam
seu material, me fazendo ficar da sua altura. 
Tirei  minhas  pernas  de  sua  cintura,  mas  logo  senti  suas  mãos  apertarem  minhas
coxas  num  pedido  mudo  pra  que  eu  as  colocasse  de  volta.  Fiz  o  que  ele  pediu,
ficando perigosamente sem ar, mas sem ligar pra uma besteira como oxigênio numa
hora  daquelas.  Brii  segurava  minha  cintura  com  força,  me  prensando  contra  seu
tronco sem ousar romper o beijo. Acho que todo aquele desejo reprimido durante
três anos estava se revelando ali, e não era só da minha parte. 
Sem conseguir mais resistir, passei discretamente minhas mãos por debaixo da barra
de seu suéter, tocando a pele quente de sua barriga. Seus músculos se contraíam a
cada  toque,  assim  como  os  meus  reagiram  aos  toques  dele  em  meus  quadris  por
debaixo do uniforme. Como se procurasse fôlego naquele beijo, ele me puxou pra
mais  perto  ainda,  e  eu  fiz  o  mesmo  com  minhas  pernas,  sentindo  um  volume
assustador mais embaixo. Olha só, o homem que já era perfeito tinha acabado de
me mostrar a única qualidade que faltava comprovar. 
Senti as mãos de Brii descerem um pouco, alcançando os bolsos de trás da minha
calça  jeans.  Nem  liguei,  afinal  quem  tinha  começado  com  a  mão  boba  fui  eu.  Mas
assim  que  ele  fez  menção  de  colocar  as  mãos  por  dentro  dos  bolsos,  Brii  partiu  o
beijo  e  ficou  me  olhando  com  os  olhos  levemente  arregalados,  num  misto  de
surpresa  e  medo.  Ficamos  alguns  segundos  em  silêncio,  paralisados,  enquanto  eu
apenas o observava, totalmente confusa. 
­  Eu  acho  melhor  a  gente  ir  com  calma  –  ele  balbuciou,  parecendo  um  pouco
desconcertado – Alguém pode nos pegar aqui, e... 
Brii  desistiu  de  continuar  falando,  com  o  olhar  fixo  no  meu.  Minha  vontade  foi  de
dizer que ele podia fazer o que quisesse comigo, mas ao invés disso, eu apenas falei,
com um sorriso compreensivo: 
­ Tudo bem, professor. 
Ele  suspirou,  olhando  pro  lado  como  se  estivesse  em  dúvida.  Logo  voltou  a  me
olhar, mordendo discretamente seu lábio inferior, que estava bem vermelho, e disse: 
­ É que eu nunca fiz isso antes, sabe... Nunca me envolvi tanto assim com uma aluna,
tenho medo de ir rápido demais e acabar te assustando... Entende? 
Enquanto falava, Brii fazia carinho em meu rosto e observava cada detalhe dele com
insegurança  no  olhar.  Sem  reação  diante  daquele  jeito  cuidadoso,  apenas  assenti
devagar,  com  um  sorriso  besta  no  rosto.  Ele  afastou  uma  mecha  de  cabelo  que
estava sobre meu olho e sorriu de volta, mais aliviado. 
­ E agora? – falei, arrumando timidamente o cabelo dele que estava todo bagunçado
e fazendo­o fechar os olhos com o carinho. 
­  Não  faço  a  menor  idéia  –  ele  respondeu,  sorrindo  de  um  jeitinho  gostoso  e
lentamente abrindo os olhos – A única coisa que eu sei é que quero você. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 16/106
12/04/2015 Biology

Fiz uma cara involuntária de perplexidade após aquela declaração. Preciso dizer que
eu também queria demais aquele cara? Acho que eu nunca quis tanto alguém como
eu o queria, sem mudar nada em sua personalidade e em seu jeito de ser. Naquele
momento  eu  percebi  que  realmente  amava  Brian  Langdon,  e  que  seria  capaz  de
acordar  todos  os  dias  ao  lado  dele,  ouvi­lo  rir  de  qualquer  coisa  idiota  que  eu
dissesse, observá­lo enquanto ele estivesse distraído vendo TV ou lendo algum livro,
beijá­lo e abraçá­lo a qualquer momento... Resumindo, eu queria aquele homem só
pra  mim,  pra  sempre,  não  importava  se  aquilo  era  errado.  Abri  um  sorriso
encantado, com o olhar fixo no dele, e aproximei nossos rostos devagar até alcançar
sua boca e beijá­lo calmamente. 
­  Não  dá  pra  acreditar  nisso  tudo,  sabia?  –  murmurei,  partindo  o  beijo  e  unindo
nossas testas – Nunca pensei que um dia eu estaria beijando o senhor... 
­  Me  chame  de  ‘você’,  pelo  amor  de  Deus  –  ele  interrompeu,  erguendo  as
sobrancelhas  –  Chega  desse  ‘senhor’,  me  sinto  um  vovô  quando  você  me  chama
assim. 
­  Nunca  pensei  que  um  dia  eu  estaria  beijando  você  –  repeti,  frisando  a  última
palavra – E te ouvindo dizer coisas assim pra mim. 
­  Eu  tentei  ignorar  esse  meu  interesse  por  você,  eu  juro  que  tentei  –  Brii  falou,
acariciando  minha  cintura  enquanto  eu  brincava  com  a  gola  de  seu  suéter  –  Mas
ontem eu não agüentei mais me segurar, não sei o que me deu... Tava tudo escuro,
e você totalmente sozinha lá atrás... Eu detesto te ver sozinha na classe, já falei isso. 
­ Não liga pra essas coisas, eu não faço questão de ser amiga de ninguém daquela
classe – sorri, ao ver que ele estava ficando meio bravo. Brii entortou a boca e me
olhou, cedendo logo depois e sorrindo comigo. 
­ Falando em classe, acho que te roubei de alguma aula – ele lembrou, fazendo uma
careta sapeca – Não é melhor você voltar? 
­ Infelizmente é – suspirei, triste – O Turner deve estar estranhando minha demora
no banheiro. 
­ É só falar que comeu waffles no café­da­manhã – ele riu, e eu franzi a testa, sem
entender  –  Ele  sempre  tem  dor  de  barriga  quando  come  waffles,  vai  se  identificar
com o seu sofrimento. 
­ Bom saber – gargalhei, e ele logo me calou com um beijo caloroso. 
­ Amanhã eu dou um jeito pra gente se ver – Brii avisou, me abraçando pela cintura
e me colocando no chão – Vai lá, pequena. 
Dei um sorriso fofo pra ele, e sem conseguir resistir, puxei­o de novo pra outro beijo.
Brii  não  reclamou,  pelo  contrário,  pareceu  gostar  da  surpresa.  Eu  não  queria  me
afastar dos braços daquele homem nunca mais. Era tudo muito lindo pra ser verdade
e eu não queria acordar daquele sonho de jeito nenhum. 
­  Até  amanhã  então  –  murmurei,  quando  partimos  o  beijo,  e  saí  da  sala
sorrateiramente, deixando­o com um sorriso de orelha a orelha em seu rosto. E no
meu também, claro. 

Quando  voltei  pra  sala  de  aula,  todo  mundo  já  tinha  acabado  a  prova,  e  se
amontoava sobre a mesa do professor pra vê­lo corrigir as avaliações. Sem um pingo
de interesse em minha nota naquele momento e feliz por conseguir entrar na sala
sem ser notada, apenas me sentei em minha carteira, com o olhar perdido na lousa
vazia.  Eu  ainda  conseguia  sentir  o  perfume  dele  ao  meu  redor,  como  se  estivesse
impregnado em mim. Seria difícil acalmar meu coração e não pensar naqueles olhos
Castanhos,  naqueles  lábios  maravilhosos,  naquele  corpo  divino...  Não  tinha  como
não pensar nele. 
O sinal logo tocou, anunciando o intervalo, e eu me esforcei pra não sorrir demais
enquanto conversava com Kimberlly e descia as escadas rumo ao pátio. Não só pra
não dar muita bandeira, mas também porque Brii estava a poucos metros da gente,
descendo lentamente as escadas e conversando animadamente com um inspetor. Eu
e  Kimberlly  acabamos  encontrando  uma  brecha  logo  à  frente,  e  aceleramos  a
descida,  passando  bem  perto  dele.  Meu  ombro  acabou  relando  em  seu  braço  sem
querer  (tá,  nem  tão  sem  querer  assim),  e  ele  se  virou  pra  pedir  desculpas  pelo

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 17/106
12/04/2015 Biology

esbarrão.  Assim  que  nossos  olhares  se  encontraram,  abri  um  sorriso  tímido,
enquanto  ele  apenas  disfarçou,  e  continuamos  andando  cada  um  pro  seu  canto,
como se fôssemos apenas professor e aluna. 
­ Hoje eu tenho aula com ele e você nã­ão! – Kimberlly murmurou, rindo assim que
nos afastamos dele – Chupa essa manga, meu bem. 
­ Tudo bem, minha aula com ele ainda vai chegar – sorri, me controlando pra não
desembuchar tudo ­ Pena que a aula do Jones venha logo depois da dele. 
­ Também te amo, Dawson – ouvi uma voz masculina dizer bem atrás de mim, e logo
vi  meu  querido  professor  de  biologia  laboratório  passar  ao  meu  lado,  com  um
sorrisinho sedutor. Um calafrio percorreu minha espinha ao ouvir sua voz tão perto
de mim do nada, arrepiando meus cabelos da nuca. Tudo que consegui foi fazer uma
cara de tacho e continuar andando, tentando ignorar a presença daquele troglodita. 
­  Legal,  agora  ele  vai  ficar  achando  que  a  gente  só  sabe  falar  de  professores,
especialmente dele – Kimberlly resmungou, coberta de razão. Do jeito que o Jones
era, já devia estar se sentindo o rei da cocada preta. 
­ Não ligo pro que ele acha ou deixa de achar – falei, revirando os olhos com uma
certa frustração por ele ter ouvido meu comentário – Ele é um merda mesmo. 
Nos sentamos em qualquer canto da escola, sem muito assunto pra conversar. Na
verdade,  Kimberlly  até  tentava  puxar  conversa,  mas  eu  estava  me  sentindo  tão
estranha  que  minhas  respostas  eram  monossilábicas.  Eu  estava  radiante  por  tudo
que  estava  acontecendo  entre  eu  e  Brii,  mas  percebi  que  bastava  ouvir  a  voz  do
Jones que um medo tomava conta de mim, como se ele pudesse de alguma forma
arruinar tudo. Sei lá, eles eram amigos, e essa amizade me perturbava um pouco. E
se ele resolvesse contar ao Brii sobre o beijo no elevador e inventar coisas ruins sobre
mim?  Pior,  e  se  Brii  acreditasse  nele?  Pra  ter  uma  relação  mais  íntima  do  que  o
normal comigo, o sr. Langdon devia ter uma confiança considerável em mim, mas eu
não  tinha  certeza  da  proximidade  dele  com  o  professor  Jones  pra  me  sentir
realmente segura. 
­ O que deu em você hoje, hein? – ouvi Kim perguntar, com a voz irritada – Tá tão
quieta, tão esquisita... Aconteceu alguma coisa? 
­ Não – menti, sorrindo fraco – Tô com um pouco de sono, só isso. 
­  Se  você  acha  que  eu  acredito  nisso,  tudo  bem  –  ela  reclamou,  erguendo  uma
sobrancelha. Droga, às vezes eu esqueço que ela me conhece desde que nasci, ou
seja, bem até demais. 
­ Caramba, já falei que é só sono – repeti, começando a ficar impaciente – Não posso
mais ter sono agora? 
Kimberlly deu de ombros, desistindo, e eu suspirei profundamente. Era um saco ter
que  mentir  pra  ela,  afinal,  a  gente  sempre  contava  tudo  uma  pra  outra,  mas  eu
realmente preferia guardar aquele segredo. Tinha medo do que ela poderia pensar
de mim se soubesse que eu e o Brii estávamos, erm, nos relacionando intimamente. 
­  Foi  mal,  tá?  –  bufei,  vendo  a  tromba  que  ela  tinha  feito  por  causa  da  minha
resposta atravessada – Você sabe que eu com sono fico a maior grosseirona, ainda
mais com você me enchendo de perguntas. 
­  Se  eu  não  tivesse  aula  com  o  Langdon  daqui  a  pouco,  não  te  desculpava,  mas
como hoje eu tô de bom humor por razões óbvias, tudo bem – ela sorriu, danada,
me  fazendo  empurrá­la  de  leve  e  rir.  Sei  lá  por  que  eu  ri,  talvez  eu  seja  estranha
mesmo e goste de ouvir minha melhor amiga dizer que o cara que eu tô pegando a
deixa de bom humor. Ou talvez pra tentar afastar a inútil existência de Daniel Jones
da minha memória. 

Capítulo 04

Três semanas. Vinte e um dias se passaram desde então. E não houve um dia, fora
os  fins  de  semana,  em  que  eu  e  Brii  não  nos  encontrássemos.  Era  incrível  como

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 18/106
12/04/2015 Biology

éramos  capazes  de  inventar  desculpas  tão  convincentes  pra  nos  vermos  que
ninguém  parecia  sequer  desconfiar  do  nosso  envolvimento.  Claro  que  contávamos
com muita sorte também, mas nossa veia teatral criativa era responsável pela maior
parte da discrição. 
E  o  pior  de  tudo  era  que  durante  todos  aqueles  dias,  não  tivemos  como,  erm,
avançar o sinal.  Não  que  fôssemos  lerdos  nem  nada,  mas  é  que  ficava  complicado
fazer alguma coisa além de uns bons amassos no curto tempo que tínhamos, e nos
lugares  inapropriados  dos  quais  dispúnhamos.  A  cada  dia  que  se  passava  ele  dava
sinais de que estava se segurando ao máximo pra não passar para o próximo nível
(adoro usar essas expressões, elas me fazem rir), tadinho. E eu também, afinal, eu
tinha 17 anos e estava com os hormônios descontrolados. 
E quanto ao Jones? Graças a Deus, ele pareceu se esquecer de mim. Me tratava com
frieza, rispidamente, e não me dirigia a palavra desnecessariamente. Preciso dizer que
minha  vida  estava  uma  maravilha  com  o  homem  dos  meus  sonhos  do  meu  lado,
mesmo  que  ninguém  pudesse  saber,  e  de  quebra  sem  aquela  peste  do  Jones  me
infernizando? 
­ Eu tava pensando outro dia – Brii disse, assim que nos cumprimentamos com um
caloroso beijo numa sala vazia do primeiro andar. 
­ Você pensando? Mas que progresso, parabéns! – brinquei, com os braços ao redor
de seu pescoço, sentada de frente pra ele na mesa do professor. 
­ Ah, é assim? Então tá bom, não vou mais dizer a coisa super importante que eu ia
dizer – ele falou, fazendo cara de indiferente e virando a cara pra mim. 
­ Own, desculpa, vai – pedi, fazendo beicinho e tudo ­ Conta logo, daqui a pouco eu
tenho que voltar pra aula senão o Hammings vai desconfiar. 
­  Como  você  fez  o  milagre  de  fugir  da  aula  do  Hammings?  –  ele  perguntou,
impressionado. 
­ Simples – respondi, com um sorriso esperto ­ Disse que não estava me sentindo
bem e o próprio Hammings sugeriu que eu fosse até a enfermaria pra ser examinada.
­ Sua carinha de dodói deve ter sido bem convincente pra comovê­lo a esse ponto –
Brii  comentou,  ainda  perplexo,  me  fazendo  rir  –  Pelo  visto,  você  tá  virando  uma
ótima atriz... Preciso começar a tomar cuidado com você. 
­  Não  teve  graça  –  resmunguei,  fazendo  cara  feia,  mas  não  resisti  quando  ele  se
aproximou sorrindo pra me dar um beijo rápido – Falando sério agora, o que você ia
contar de tão importante? 
Brii  suspirou,  se  preparando  psicologicamente,  o  que  me  deixou  com  uma  certa
ansiedade.  Batucando  com  os  dedos  indicadores  e  médios  nos  meus  quadris
enquanto minhas mãos estavam espalmadas em seu peito, ele logo começou a falar,
dizendo cada palavra com cuidado: 
­ Eu queria te convidar pra ir conhecer o meu apartamento hoje à tarde. 
Não sei dizer que cara fiz. Só sei que devo tê­lo assustado, porque vi sua expressão
disfarçadamente ansiosa se tornar séria ao mesmo tempo que meu queixo caiu até
meu umbigo. 
­ Você quer que eu vá pra sua casa... Hoje? – gaguejei, com o coração a mil. 
­  É  –  Brii  confirmou,  desembestando  a  falar  logo  depois  ­  Eu  pensei  que  por  ser
sexta­feira, você não tivesse nada pra fazer, mas tudo bem se você não puder ou não
quiser, não tem problema nenhum, eu não quero te pressionar a fazer nada, foi só
um convite... 
­ Que horas eu posso chegar? – perguntei, interrompendo seu monólogo com um
sorriso esperto. Apesar do nervosismo disparado pela surpresa, eu não tinha como
negar um convite daqueles. Talvez se eu o recusasse, Brii jamais repetiria a proposta
por medo de outro não. Ele me olhou de um jeito confuso, processando o que eu
tinha dito, mas logo deu um sorrisinho de canto. 
­ Quanto mais cedo, melhor – ele respondeu, parecendo realmente surpreso com a
minha resposta – Eu tenho a tarde toda livre hoje. 
­  Combinado  então  –  assenti,  deslizando  minhas  mãos  pra  cima  até  envolver  seu
pescoço – É só me dar o endereço e eu vou. 
­ Quer que eu vá te buscar na sua casa? – ele sugeriu, fazendo carinho em minha

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 19/106
12/04/2015 Biology

cintura como se fosse super típico um cara de 30 anos buscar a aluna de 17 na casa
dela pra levá­la ao seu apartamento. 
­ Claro que não, minha mãe teria uma síncope se você aparecesse lá em casa – eu
disse, arregalando os olhos ­ É só dizer que tô indo pra casa da Kimberlly e ela deixa
na hora. Nossas mães são amigas, e nós também, então eu vivo indo pra lá. 
­ Você que sabe – Brii  sorriu,  e  eu  pude  ver  que  seus  olhos  estavam  brilhando  de
animação  –  Quase  desisti  de  te  convidar  com  medo  de  que  você  não  gostasse  da
idéia. 
­ E por que eu não gostaria? – falei, sorrindo também – Aliás, quem foi que me disse
uma vez que eu deveria pensar menos e me arriscar mais? 
Acho que deu pra sacar que eu amava usar as frases dos outros contra eles mesmos,
né? Costumava dar muito certo com aquela mula do Jones. 
­  Não  faço  idéia  ­  Brii  mentiu,  dando  um  sorriso  culpado  e  me  puxando  pra  mais
perto dele (se é que dava) – Mas seja quem for, esse cara merece muito um beijo
daqueles bem caprichados. 
­ Ah, merece, é? – repeti, segurando o riso enquanto ele assentia – Vou pensar no
caso dele. 
É, não deu tempo de pensar, porque quando vi já estava beijando­o daquele jeito
que fazia meu sangue formigar dentro das veias. Pode me chamar de frouxa, eu não
dou a mínima. Eu adorava ser frouxa quando os braços de Brian Langdon  estavam
ao redor da minha cintura. 

­ O que é, Amellie? Pra que essa afobação toda? 
­ Pára de gordice e vem logo! 
Kimberlly  tinha  ido  almoçar  em  casa  naquele  dia  porque  a  mãe  dela  tinha  um
compromisso  e  não  poderia  ir  buscá­la  na  escola.  E  pelo  visto,  ela  parecia  ter
adorado  a  torta  de  limão  que  mamãe  fez,  porque  não  queria  sair  da  mesa  até
mandar o último farelo pro estômago. Eu já estava no meu quarto, chamando­a da
porta, e precisei gritar seu nome umas vinte vezes pra finalmente ser atendida. 
­ Não vem me chamar de gorda porque todas as suas roupas servem em mim, tá? –
ela reclamou, quando finalmente entrou no meu quarto e eu fechei a porta. 
­ Então somos duas gordas – brinquei, sem muito tempo pra rir. Afinal, eu tinha um
compromisso importante hoje. 
­ Que agonia é essa, hein, Mell? – Kimberlly perguntou, franzindo a testa enquanto
sentávamos na cama – Tá toda agitada, parece que sentou no formigueiro. 
­ Eu já falei que o seu senso de humor me deprime? – eu disse, fazendo­a revirar os
olhos – É, eu tô agoniada, sim. Preciso te contar uma coisa. 
­ Tá esperando o que? – ela falou, curiosa – Desembucha logo! 
É essa a hora em que vocês me batem por não ter contado nada a ela sobre Brii até
agora? É, acho que sim. Eu sei que prometi pra mim mesma que iria contar assim
que as coisas se firmassem um pouco mais, mas eu tive muito medo de que ela me
recriminasse. Por mais que eu soubesse que a reação típica de Kimberlly seria entrar
em estado de choque e depois dizer algo como ‘E aí, como é pegar o professor mais
gato  da  escola?’  com  um  sorriso  de  orelha  a  orelha,  eu  acabei  adiando  aquela
conversa até onde pude. E hoje seria o dia em que eu não podia mais esconder esse
segredo dela. 
­  Presta  atenção  –  suspirei,  tensa  –  Você  promete  que  não  vai  contar  pra
absolutamente ninguém o que eu tenho pra te falar? 
­ Eu sei guardar segredos, e você sabe disso – ela concordou, intrigada com a minha
seriedade – Você tá me assustando... O que aconteceu? 
Suspirei  novamente,  apavorada,  e  decidi  dizer  tudo  de  uma  vez,  sem  delongas.
Coisas assim tinham que ser feitas de uma vez, como se fosse pra arrancar a cera da
pele na depilação. 
­ Eu e o professor Langdon estamos ficando. 
Fiquei encarando­a, morrendo de medo da sua reação, mas tudo que Kimberlly  fez
foi me encarar de volta, sem expressão por um bom tempo. Não falei que ela ia ficar
em estado de choque? 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 20/106
12/04/2015 Biology

­  Kimberlly?  –  chamei,  com  cuidado,  quando  já  estava  começando  a  ficar


preocupada.  Ela  piscou  umas  duas  vezes,  sem  mover  nenhum  outro  músculo,  até
que do nada, ela acordou do transe com um berro que fez os tímpanos dos surdos
do Pólo Sul doerem. 
­ COMO É QUE É?! 
Pulei  de  susto,  com  os  olhos  fechados,  e  assim  que  os  abri,  me  deparei  com  dois
olhos esbugalhados me encarando ansiosamente. 
­ É isso mesmo que você ouviu – confirmei, com mais medo dela que de qualquer
filme de terror que já tinha visto. Kimberlly levou mais alguns segundos absorvendo
aquela informação, e voltou a gritar: 
­ DESDE QUANDO ISSO?! 
­  Pára  de  gritar,  criatura!  –  pedi,  desesperada,  cobrindo  sua  boca  com  uma  das
mãos, e hesitei antes de responder – Há algum tempo. 
­ Quanto tempo? – ela insistiu, voltando a usar sua voz no volume normal, e eu tive
que falar, com uma careta: 
­ Umas três semanas. 
­ O QUE?! 
­ Cala a boca, pelo amor de Deus! – implorei, me jogando em cima dela com as duas
mãos tapando sua boca e impedindo­a de emitir qualquer som – Desculpa não ter te
contado antes, eu sei que não devia ter escondido uma coisa dessas de você... 
­ Não devia mesmo! – Kimberlly me interrompeu, dando um jeito de se livrar de mim
e  parecendo  muito  mais  do  que  bastante  chocada  –  Mas  já  que  só  resolveu  falar
agora, pode ir contando tudo! Como é que uma loucura dessas foi acontecer? 
Resumi  tudo  que  tinha  acontecido  entre  eu  e  Brii  pra  ela  em  uns  quinze  minutos,
desde o dia no anfiteatro até seu convite pra conhecer sua casa hoje. 
­ E eu preciso da sua ajuda – encerrei, aflita – Eu vou falar pra minha mãe que vou
sair com você pra dar uma volta hoje à tarde e preciso que você me dê cobertura. 
­ Mas você vai mesmo à casa dele? – ela perguntou, preocupada – Quer dizer, vai
que ele é um pedófilo assassino que tira fotos pornográficas pra colocar na Internet? 
­ Estamos falando do Langdon, não do Jones, esqueceu? – falei, revirando os olhos
– Por favor, Kimberlly, eu preciso muito da sua ajuda. 
­ Eu não ligo de te fazer esse favor, mas eu só quero que você tome cuidado, ouviu
bem? – ela concordou, e dois segundos depois eu estava agarrada em seu pescoço
agradecendo  de  todas  as  formas  que  eu  conhecia  –  E  tenha  juízo,  pelo  amor  de
Deus! Se você me aparecer grávida, eu mato você, a criança e o aparelho reprodutor
do sr. Langdon, tá escutando? 
­ Pode deixar, Kim – eu ri, me levantando depressa e abrindo meu guarda­roupa –
Agora me ajuda aqui, vai. Não faço idéia do que vestir. 
­ Qualquer coisa que te cubra direitinho tá ótimo – ela ordenou, se levantando com a
maior cara de mãe coruja e me fazendo rir mais – Se bem que te cobrir agora não vai
adiantar nada, provavelmente ele vai acabar descobrindo tudo depois. 

Estava tudo certo. Kimberlly  tinha  feito  minha  mãe  acreditar  que  eu  iria  dormir  na
casa dela e que estaríamos nos divertindo tanto que ela não teria motivos pra me
ligar. 
­ Se de repente você for passar a noite lá ou algo do tipo, me avisa – Kim sussurrou,
assim que deixamos minha casa. Ela ia a pé até a dela, que não ficava muito longe da
minha, e eu ia pra casa do sr. Langdon, que ficava um pouco mais distante. 
­ Eu vou tentar – respondi, sem graça – Obrigada por me ajudar, Kim, de verdade. 
­ Claro que eu vou te ajudar, eu ia gostar que você me ajudasse se estivesse no seu
lugar! – ela riu, me dando um abraço – Vai lá, garota, e vê se toma cuidado! 
­ Não precisa nem pedir – falei, enquanto cada uma seguia pra um lado. 
Eu caminhava nervosa pelas ruas, sem precisar me orientar muito. O prédio de Brii
ficava num lugar por onde eu vivia passando, e com a explicação dele, ficava ainda
mais  fácil  encontrá­lo.  Após  uns  quinze  minutos  andando,  finalmente  cheguei  ao
edifício,  que  tinha  um  belo  jardim  em  seu  pátio.  Não  pude  deixar  de  sorrir.  Tinha
lugar  mais  atraente  pra  um  professor  de  biologia  morar  que  um  prédio  com  um

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 21/106
12/04/2015 Biology

jardim daqueles? 
A porta interna do prédio estava aberta, revelando um balcão de onde um porteiro
deveria  estar  me  observando,  mas  ele  provavelmente  estava  ocupado  com  algum
outro problema e não estava ali justo naquela hora. Toquei o interfone, ansiosa, e
esperei  por  um  bom  tempo,  sem  receber  resposta.  Começando  a  ficar  nervosa  de
verdade, ainda mais com o sumiço insistente do porteiro, toquei novamente, e nada.
Suspirei  profundamente,  pensando  no  que  fazer.  Vai  que  eu  tivesse  chegado  cedo
demais  e  ele  não  estivesse  em  casa  ainda?  Ou  quem  sabe  ele  estivesse  tomando
banho? Me distraí imaginando Brii no chuveiro por alguns segundos, até ouvir uma
voz dizer atrás de mim: 
­ Espero que você goste de sorvete de flocos, ou então eu te deixei esperando pra
nada. 
Me virei, assustada, e dei de cara com Brii. Ele carregava uma sacola com um pote
retangular dentro, que eu logo reconheci como sendo sorvete, e sorria daquele seu
jeito despojado e lindo pra mim. Estava vestindo uma blusinha simples de algodão,
uma bermuda cinza e chinelos, típica roupa de quem estava em casa há dois minutos
atrás. 
­ Claro que gosto – respondi, sorrindo de volta pra ele – Não me diga que você foi
comprar sorvete só por minha causa. 
­ Eu não costumo receber adolescentes em casa, então pensei que ter um pote de
sorvete me faria parecer mais... Jovem, talvez? – ele riu, e eu revirei os olhos, ainda
sorrindo. Brii não precisava de mais nada pra parecer mais jovem, seu corpo e seu
jeito lhe davam a aparência de um cara de 20 anos. Um belo cara de 20 anos, por
sinal. 
Ele abriu a porta e eu o segui até o interior do prédio, dando de cara com um rapaz
que pelo uniforme devia ser o porteiro, caminhando na direção do balcão. 
­ Oi, Andy – Brii sorriu, enquanto o rapaz se sentava na cadeira que havia atrás do
balcão. 
­ Olá, sr. Langdon – o porteiro respondeu, com um sorrisinho cordial, e logo depois
pousando seus olhos em mim – Boa tarde, senhorita. 
Sorri fraco pra ele e respondi seu cumprimento com um aceno de cabeça, com medo
do que ele poderia pensar de mim. Não é normal um homem de 30 anos aparecer
acompanhado de uma garota de 17, ainda mais no prédio dele. 
­ Esta é Amellie, aquela minha sobrinha de quem eu te falei – ouvi Brii dizer, na maior
cara de pau, me indicando com um gesto – Este é Andy, o porteiro, como você já
deve ter notado. 
­  Muito  prazer  –  Andy  assentiu,  aparentemente  engolindo  a  mentira.  Claro,  a
semelhança entre nós era inegável. Quem dera ser tão bonita quanto o sr. Langdon. 
­  Bom,  até  mais  –  Brii  se  despediu,  me  puxando  pela  mão  até  as  escadarias  do
prédio. 
­ Bela desculpa, tio – sussurrei, rindo enquanto subíamos os degraus depressa. Ele
apenas me olhou, com um sorriso de canto e uma carinha de quem tinha aprontado.
Mais alguns degraus depois e chegamos ao seu apartamento, que ficava no primeiro
andar. Não era um imóvel muito grande, mas era mais que suficiente pra uma pessoa
só. Me surpreendi com a organização da casa, tudo estava arrumadinho demais pra
um cara que morava sozinho (o que só reforçou minha opinião de que Brii era todo
certinho). 
­ Só deixa eu colocar esse sorvete no congelador pra gente tomar depois – ele pediu,
correndo até a cozinha e me deixando na sala. Dei uma olhada rápida pelo cômodo,
reparando nos detalhes básicos, tipo a decoração em tons de verde, e não demorei
muito a sentir os braços dele envolvendo minha cintura por trás de mim. 
­ Gostei daqui – eu murmurei, arrepiada da cabeça aos pés ao senti­lo cheirar e beijar
de leve meu pescoço. 
­ Esse apartamento é novo – ele comentou, colocando o queixo em meu ombro –
Não faz nem dois anos que eu me mudei pra cá. É bem confortável, apesar de não
ser tão grande. 
Me virei de frente pra ele, abraçando­o pelo pescoço, e sorri, entorpecida por aquele

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 22/106
12/04/2015 Biology

perfume masculino maravilhoso. 
­  Fiquei  muito  feliz  pelo  convite  –  falei,  recebendo  um  beijinho  de  esquimó  dele  –
Obrigada por me deixar conhecer sua casa. 
­ Acredite, a felicidade é toda minha por você estar aqui – Brii sorriu, me encarando
profundamente – Só de saber que estamos seguros, sem termos que nos esconder
de ninguém, já é um alívio enorme. 
Ele deslizou as mãos dos meus quadris até a lateral das minhas coxas, unindo nossas
testas.  Me  apoiei  em  seus  ombros,  e  num  movimento  rápido,  envolvi  sua  cintura
com  minhas  pernas,  fazendo  com  que  ele  me  carregasse.  Sorrindo  de  um  jeito
danado,  eu  o  beijei,  enquanto  ele  dava  alguns  passos  até  me  prensar  contra  a
parede. Pressionando seu corpo contra o meu, Brii parecia estar muito mais solto do
que na escola, embrenhando suas mãos nos meus cabelos e agarrando­os com força.
Eu,  em  compensação,  comecei  a  acariciar  sua  nuca  com  minhas  unhas,  e  passei  a
distribuir beijos e chupões em seu pescoço. Brii passou suas mãos por debaixo das
minhas pernas, apertando o interior das minhas coxas e me puxando pra mais perto
dele.  Senti  meu  corpo  todo  arrepiado  com  a  respiração  quente  dele  tão  perto  do
meu ouvido, parecendo gostar bastante do agrado. 
­  Se  continuar  caprichando  assim  eu  vou  cair,  pequena  –  ele  sussurrou,  e  eu  me
afastei, recuperando o fôlego. 
­ Quer que eu pare? – perguntei, com um sorriso safado e uma sobrancelha erguida.
Brii fez cara de derrotado e rapidamente passou os braços por debaixo de mim, me
carregando até chegar ao sofá. 
­ Eu ia te levar pra conhecer o meu quarto, mas parece que você tá com um pouco
de  pressa  –  ele  falou  todo  maroto,  me  jogando  no  sofá.  Pude  ver  seus  olhos
brilhantes correndo pelo meu corpo estirado entre as almofadas, e um sorriso mal
intencionado surgiu naquele rosto lindo. 
­ A gente vai ter bastante tempo pra conhecer o quarto mais tarde – sorri, sentindo
meu coração acelerar só de observar seus músculos realçados pela blusa branca justa
que ele usava – E depois o banheiro, a cozinha, o corredor... 
Entendendo minhas verdadeiras intenções ao usar a palavra “conhecer”, Brii abriu a
boca, surpreso, e começou a rir, deixando seu corpo cair sobre mim devagar. 
­  Você  sabe  me  provocar  direitinho,  mocinha  –  ele  murmurou,  encaixando  suas
pernas entre as minhas e passando suas mãos por debaixo de mim, segurando firme
em  minha  bunda.  Ele  me  beijou  profundamente,  e  eu  deslizei  minhas  mãos  pelos
ombros dele até alcançar suas costas. Comecei a puxar sua camisa pra cima, sentindo
aquele  conhecido  volume  entre  suas  pernas,  e  Brii  interrompeu  o  beijo  por  dois
segundos pra tirar a blusa. 
Meu  Deus  do  céu.  Que  físico  maravilhoso.  O  que  ele  fazia  pra  ficar  daquele  jeito?
Devia malhar feito um condenado, porque ninguém é gostoso assim naturalmente.
Não que eu saiba. Como estamos falando de Brii, nada segue os padrões, tudo nele
parece ser anormalmente perfeito. 
Eu deslizava minhas mãos por sua barriga, peito, ombros e braços durante o beijo,
sem saber de qual parte eu gostava mais. Brii escorregou suas mãos geladas até as
minhas  costas,  me  arrepiando  com  cada  toque,  e  respirava  pesadamente.  Não
passava de um amasso como qualquer outro, fora o fato de Brii estar sem blusa, mas
estávamos  tão  mais  tranqüilos  por  estarmos  totalmente  sozinhos  que  cada
movimento parecia mais excitante, mais caloroso, mais intenso. 
Ele  partiu  o  beijo,  ofegante,  e  tirou  minha  blusa,  sem  precisar  pedir  minha
permissão. Nem mil palavras descreveriam o jeito como ele observou minha barriga e
meus peitos, erguendo seu olhar pra mim logo depois e sorrindo pervertidamente.
Eu sorri de volta pra ele, do mesmo jeito danado, sentindo­o acariciar minha barriga
de  baixo  pra  cima  e  pousando  suas  mãos  sobre  meus  seios,  ainda  parcialmente
cobertos pelo sutiã. Brii  os  envolveu  com  suas  mãos  suficientemente  grandes  e  os
apertou devagar, como se fosse pra verificar se aquilo estava acontecendo mesmo. 
­ Como você é linda – ele disse baixinho, com os olhos brilhando. 
­  Só  eu,  né?  –  sorri,  fazendo  carinho  em  seus  ombros.  Ele  sorriu  de  volta  e  me
beijou, quase alcançando o fundo de minha garganta com sua língua. Baguncei seus

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 23/106
12/04/2015 Biology

cabelos com vontade, correspondendo ao beijo com o mesmo desejo. Brii não tirou
suas mãos de meus seios, apertando­os com mais força e gemendo baixinho com a
boca colada à minha. Eu já começava a suar, arranhando as costas dele, quando o
senti investir no fecho do meu sutiã. 
Ding dong. 
Abri  os  olhos  assim  que  ouvi  o  barulho  da  campainha,  e  me  deparei  com  o  olhar
assustado  dele  bem  perto  do  meu.  Paralisamos,  alarmados,  e  Brii  se  afastou,
parecendo bastante incomodado. 
­ Que porra é essa? – ele sussurrou, bufando e saindo de cima de mim logo depois.
Ele parecia ser o tipo de homem que só fala palavrão quando está realmente puto, o
que me faria rir se eu também não estivesse puta com a interrupção. 
­  Você  tá  esperando  alguém?  –  perguntei  baixinho,  pegando  rapidamente  minha
blusa e vestindo­a enquanto ele fazia o mesmo. 
­  Claro  que  não!  –  ele  respondeu  no  mesmo  volume,  se  ajeitando  rapidamente
enquanto se dirigia à porta – Se esconde num dos quartos, eu vou dispensar quem
quer que seja. 
Obedeci depressa, entrando no primeiro quarto que vi: o dele. Nem prestei atenção
direito em nada, apenas fiquei parada na porta, ouvindo. 
­  Desculpa  vir  incomodá­lo,  sr.  Langdon,  mas  é  que  encontraram  um  molho  de
chaves perdido no hall e eu queria saber se é do senhor – uma voz familiar disse, e se
seu dono não parecesse ser um cara legal, eu teria aparecido lá e dito umas poucas e
boas pra ele por interromper nossas preliminares. 
­ Não é minha, Andy – ouvi a voz de Brii dizer calmamente, como se estivesse vendo
TV ou fazendo algo bem zen antes de abrir a porta – Mas obrigado por perguntar
mesmo assim. 
O  barulho  de  porta  sendo  trancada  com  pressa  ecoou  pelo  apartamento,  e  em
menos de dois segundos já pude vê­lo correr na minha direção. 
­  “Obrigado  por  perguntar  mesmo  assim”?  –  perguntei,  inconformada  –  Você  tem
noção do que a pergunta dele interrompeu? 
­ Eu tenho, mas é melhor ele não ter – Brii riu, me abraçando e afundando seu rosto
em meu pescoço – E se você quer saber, essa interrupção só serviu pra me deixar
com mais vontade. 
Sorri  inevitavelmente  com  aquela  provocação,  enquanto  recebia  beijos  e  leves
chupões  atrás  da  orelha.  Brii  me  pegou  no  colo,  me  fazendo  rir  e  agarrar  seu
pescoço, e me jogou na cama, logo caindo por cima de mim. 
­ Quem mandou você colocar a blusa de novo? – ele perguntou, recuando e fazendo
uma cara chocada. Tirei a camiseta ainda rindo, enquanto ele tirava a dele, e puxei­o
pelo cinto da calça fazendo­o cair sobre mim pesadamente. Ele sorriu, satisfeito, e me
beijou  com  urgência,  tirando  meu  sutiã  rapidamente.  Brii  começou  a  descer  seus
beijos languidamente pelo meu pescoço e colo enquanto apertava meus seios, até
alcançá­los  com  a  boca.  Ele  os  chupava  lenta  e  delicadamente  com  os  olhos
fechados, concentrado em me dar prazer. E estava conseguindo até demais. 
Eu  acariciava  seus  braços  e  costas,  incentivando­o,  e  ele  continuou  descendo  seus
beijos pela minha barriga, segurando firmemente em minha cintura. Quando chegou
ao  cós  da  minha  calça,  ele  me  lançou  um  olhar  determinado,  como  se  nada  fosse
pará­lo mais. Sem querer que ele parasse mesmo, joguei minha cabeça pra trás ao
sentir suas mãos apertarem minhas coxas com força e logo subirem até o botão da
calça. Cinco segundos depois, tanto a calça como a calcinha já estavam longe dali.
Brii abriu minhas pernas com cuidado, me observando de cima a baixo com os olhos
ardendo de tesão. 
Sem dizer uma palavra, ele deslizou suas mãos desde os meus seios até alcançar o
interior de minhas coxas, e inclinou­se para alcançar minha intimidade com a boca.
Agarrei  os  lençóis  da  cama  quando  senti  sua  língua  me  tocar,  devagar  a  princípio,
mas aumentando a velocidade e a intensidade aos poucos. Não agüentei e comecei a
gemer,  arqueando  minhas  costas  pra  cima  enquanto  ele  me  lambia  e  sugava.
Quando eu estava a ponto de gozar, ele subiu até nossas bocas se encontrarem, e
calou  meus  gemidos  com  um  beijo  calmo  e  profundo.  Ao  mesmo  tempo,  ele

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 24/106
12/04/2015 Biology

começou  a  me  masturbar  com  os  dedos  numa  velocidade  incrível.  Eu  agarrei  seus
cabelos com força, sem parar de gemer nem durante o beijo, e pude senti­lo sorrir.
Não demorou muito e eu gozei, fazendo­o diminuir seus movimentos. 
Extasiada, minhas mãos percorreram todo o seu tronco, desenhando seus músculos
do abdômen pelo trajeto, até alcançarem seu cinto. Arranquei­o com facilidade, e o
empurrei, fazendo­o cair ao meu lado. Abri o botão de sua calça e ele mesmo a tirou,
ficando apenas de boxer. Passei uma de minhas pernas por cima dele, sentada sobre
seus quadris, e comecei a acariciar seu peito e barriga, olhando fundo em seus olhos.
Ele  havia  me  dado  o  melhor  orgasmo  da  minha  vida  sem  me  penetrar,  e  eu
pretendia satisfazê­lo com a mesma intensidade. 
Comecei a beijar e lamber sua barriga, sentindo seus dedos se enterrarem em meus
cabelos. Fui descendo até alcançar sua boxer, e a tirei depressa. Deslizei minhas mãos
por  suas  coxas,  sorrindo  pra  ele,  e  segurei  seu  membro  já  bastante  enrijecido.
Demonstrando  minha  satisfação  com  o  olhar,  dei  um  beijinho  em  sua  glande  e  o
lambi de baixo pra cima lentamente, fazendo­o soltar um gemido rouco e fechar os
olhos com força. Coloquei­o na boca até onde consegui, e novamente ele segurou
meus  cabelos,  orientando  meus  movimentos.  Eu  alternava  a  velocidade,  fazendo­o
gemer alto quando estava rápido e gemer mais alto ainda quando estava devagar,
como se estivesse reclamando. 
Tirei­o  da  boca  após  um  bom  tempo  provocando­o,  e  o  observei  nu  deitado  na
cama.  Havia  gotículas  de  suor  por  todo  aquele  corpo  divino,  e  os  cabelos  dele
começavam a grudar na testa. Brii, com os olhos semi abertos, retribuiu meu olhar
com  um  sorriso  desnorteado,  o  que  só  me  motivou  a  continuar.  Comecei  a
masturbá­lo  rapidamente,  deslizando  minha  outra  mão  por  sua  coxa  e  bunda,  e
mordendo  meu  lábio  inferior  ao  vê­lo  se  contorcer  de  prazer.  As  mãos  de  Brii
apertavam  fortemente  minhas  coxas,  e  suas  veias  do  pescoço  saltavam  a  cada
gemido dele. Voltei a chupá­lo com força, sem resistir, e pude vê­lo abrir a gaveta do
criado­mudo pra pegar uma camisinha. Brii abriu a embalagem com os dentes e me
chamou, com a voz falha. 
­ Chega, pelo amor de Deus. 
Olhei pra ele, tirando seu membro da boca, e ele me deu o preservativo. Coloquei­o
depressa, tomando os devidos cuidados, e assim que terminei, ele me virou, ficando
sobre mim novamente. Se posicionou entre minhas pernas, e me lançou um último
olhar radiante antes de me penetrar com força e de uma só vez. Nós dois gememos
alto,  e  eu  finquei  minhas  unhas  em  seus  ombros.  Brii  demorou  alguns  segundos
antes  de  investir  novamente,  ainda  se  recuperando  da  primeira  investida,  e  aos
poucos  aumentava  a  velocidade  de  seus  movimentos.  Ele  tentava  me  beijar,  mas
estávamos  ocupados  demais  com  outras  coisas  pra  sermos  bons  nisso.  O  máximo
que  conseguimos  foi  manter  nossas  testas  unidas  enquanto  ele  investia  com  cada
vez  mais  força  e  me  fazia  arranhar  suas  costas  sem  nem  pensar  se  estava
machucando. Suados e ofegantes, logo o cansaço começou a tomar conta de nós,
mas não estávamos dispostos a parar. Brii jogou a cabeça pra trás, como se quisesse
se segurar por mais algum tempo, mas não demorou muito e eu gozei pela segunda
vez, fazendo­o desistir e gozar junto. 
Soltei um suspiro exausto e relaxei, sentindo cada centímetro do meu corpo suado.
Brii desmoronou sobre mim e envolveu minha cintura com seus braços, totalmente
esgotado. Eu o abracei pelo pescoço, dedilhando lentamente seus ombros, com um
sorriso  cansado  no  rosto.  Tudo  que  eu  senti  por  alguns  segundos  foi  a  respiração
lenta  de  Brii  em  meu  pescoço,  me  arrepiando  inteira,  até  ouvir  sua  voz  rouca
murmurar: 
­ Pode ser um pouco cedo pra isso, mas... Eu acho que te amo, pequena. 
Brii  se  ergueu  um  pouco  e  me  olhou,  com  uma  expressão  calma  e  um  sorriso
maravilhado.  Tudo  que  consegui  fazer  foi  encarar  seus  olhos  brilhantes  e  sorrir  de
volta, sentindo uma felicidade imensurável tomar conta de mim. 
­ Eu amo você – falei, baixinho, enquanto fazia carinho em seu rosto rosado ­ Tenho
certeza absoluta disso. 
Vi o sorriso dele aumentar, e o abracei pelo pescoço ao receber um beijo tranqüilo.

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 25/106
12/04/2015 Biology

Ficamos  mais  um  tempo  deitados,  abraçados,  conhecendo  cada  pedaço  um  do
outro, até acabarmos dormindo. O sono mais feliz da minha vida, sem dúvida. 

Capítulo 05 

Abri  meus  olhos,  sem  lembrar  por  que  já  estava  sorrindo.  Pisquei  algumas  vezes,
tentando  colocar  minha  visão  em  foco,  e  suspirei  preguiçosamente.  Um  perfume
bom encheu meus pulmões, me fazendo alargar o sorriso. Minha mão estava ao lado
do  meu  rosto,  espalmada  sobre  o  peito  dele,  que  subia  e  descia  calmamente  de
acordo com sua respiração. Seu cheiro estava por toda parte, me entorpecendo, e
seu braço envolvia meus ombros, me impedindo de me mexer. 
Olhei pra cima e vi que Brii ainda dormia como um bebê, mesmo após umas duas
horas  de  sono.  Sorrindo  feito  uma  retardada,  apenas  fiquei  observando­o  dormir,
fazendo carinho devagar em seu peito e me lembrando de tudo que tínhamos feito
antes de apagarmos. 
­  Você  pretendia  ficar  me  olhando  por  quanto  tempo?  ­  ouvi  a  voz  dele  dizer
baixinho, me fazendo corar de leve. Brii abriu os olhos e me encarou, com um sorriso
desconfiado no rosto. 
­ Não sei, talvez até você acordar e me fazer essa pergunta ­ respondi, fazendo seu
sorriso aumentar. Sem dizer nada, Brii me beijou delicadamente, e virou de lado, nos
deixando de frente um pro outro na cama. 
­ Pra sua informação, eu já tava acordado ­ ele murmurou, deslizando sua mão pela
minha cintura devagar ­ Você é que ficou dormindo feito pedra em cima de mim até
agora pouco. 
­ Me desculpe se a instituição de ensino onde o senhor trabalha e eu estudo me faz
acordar às 6 da manhã todo santo dia ­ falei, fingindo estar ofendida, e fazendo­o rir.
­ Nossa, mas que menina mais brava que eu fui arranjar ­ ele disse, me puxando pra
mais perto dele. 
­ Sou mesmo ­ confirmei, fazendo cara de irritada e me apoiando num cotovelo ­ Se
não gostou, eu vou embora agora mesmo e não te incomodo mais. 
­ Olha só, além de brava é independente! ­ Brii riu, me segurando com mais firmeza
pelo quadril como se quisesse me prender ali ­ Quero ver você continuar com essa
coragem toda pra levantar daqui. 
Quando fui abrir minha boca pra retrucar, ele me calou com um beijo intenso e sua
mão  subiu  do  meu  quadril  pro  meu  rosto,  enquanto  a  outra  me  abraçou  pela
cintura.  Obviamente  tudo  que  eu  pensei  em  dizer  sumiu  da  minha  memória  assim
que nossas línguas começaram a brincar uma com a outra, num misto de provocação
e tranqüilidade. Pude sentir Brii sorrir durante o beijo, vitorioso por ter conseguido
me calar, e não consegui não sorrir junto. 
­ Ainda tá bravinha? ­ ele murmurou, ainda sorridente, quando partiu o beijo. 
­  Idiota  ­  resmunguei,  fechando  os  olhos  em  sinal  de  derrota  e  vergonha.  Brii  riu
baixinho  e  me  deu  um  selinho  demorado,  deitando  sua  cabeça  bem  próxima  da
minha e fazendo com que as pontas de nossos narizes se tocassem. 
­ Você fica linda demais com vergonha, sabia? ­ ele disse, me abraçando pela cintura
suavemente ­ Mais do que já é. 
­  Você  não  se  enxerga  mesmo,  né?  ­  falei  baixinho,  com  um  sorriso  derretido
enquanto acariciava seu rosto, desenhando seus traços e fazendo­o fechar os olhos
algumas vezes ­ Não existe nada em você que não me agrade, nada que te estrague.
Você é simplesmente perfeito, não tem nem o que dizer. Esse rostinho de nenê, esse
sorriso lindo, seu corpo, seu jeito... Tudo. 
Brii,  que  estava  de  olhos  fechados  quando  comecei  a  falar,  abriu­os  e  me  olhou
firmemente, ouvindo com atenção tudo que eu dizia e alargando seu sorriso a cada
palavra. 
­ Incrível como uma garota de 17 anos pode dizer coisas que uma mulher de 30 não
teria  sensibilidade  nem  pra  sonhar  em  dizer  ­  ele  sorriu  com  os  olhos  brilhando,

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 26/106
12/04/2015 Biology

fazendo carinho em minha bochecha com o polegar ­ E que só te deixam mais linda
aos meus olhos. 
­  Não  faz  isso  comigo,  por  favor  ­  pedi,  fechando  os  olhos  e  sentindo  minhas
bochechas queimarem de timidez e euforia ­ Eu fico com vergonha. 
Ouvi Brii rir baixinho e senti seus braços me aproximando mais dele (eu achei que
não dava, mas não é que dava?). 
­  Ter  você  grudadinha  em  mim  é  a  melhor  sensação  do  mundo  ­  ele  murmurou
devagar, se debruçando delicadamente sobre mim e afundando seu rosto em meu
pescoço ­ Seu perfume, o cheiro bom do seu cabelo, sua pele quentinha, seu coração
batendo... Sempre tão rápido que parece querer explodir a qualquer momento. 
Fechei os olhos e envolvi seu pescoço com meus braços. Respirei fundo, deixando o
cheiro dele me intoxicar, e ri baixinho, sem conseguir acreditar no sonho que minha
vida  tinha  virado.  Nem  se  eu  quisesse  conseguiria  explicar  como  era  ser  a  pessoa
mais feliz do mundo. Talvez por isso eu tenha ficado completamente sem palavras, e
apenas  fiquei  alisando  seus  ombros  e  costas  devagar,  sentindo  a  respiração  calma
dele bater em meu ouvido. 
Brii começou a beijar meu pescoço delicadamente, me fazendo fechar os olhos e ficar
toda  arrepiada.  Comecei  a  enroscar  meus  dedos  em  seus  cabelos,  e  ele  continuou
distribuindo  beijos  pela  região,  até  alcançar  minha  boca.  Ele  me  beijava  calma  e
profundamente,  e  eu  senti  como  se  choques  elétricos  percorressem  meu  corpo
inteiro e me arrepiassem toda. Não me lembro de ter recebido um beijo tão intenso
quanto  aquele  antes.  Acabamos  invertendo  as  posições  sem  nem  perceber,  me
deixando  por  cima  dele,  com  uma  mão  de  apoiada  de  cada  lado  de  sua  cabeça.
Aquilo  foi  se  transformando  numa  coisa  mais  calorosa,  e  quando  já  estávamos
ofegantes,  Brii  sugou  meu  lábio  inferior,  quebrando  o  beijo.  Encarei  aqueles  olhos
Castanhos,  que  retribuíam  meu  olhar  com  um  brilho  intenso  em  meio  aos  meus
cabelos caídos ao redor de seu rosto, e sorri, vendo­o fazer o mesmo. 
Voltei a beijá­lo, sem nem me importar por ainda estar ofegante, e senti suas mãos
viajarem por meus ombros e costas devagar, assim como também senti sua ereção
por debaixo da boxer que ele tinha vestido antes de dormir. Sorri quando ele abriu o
fecho  do  meu  sutiã  sem  que  eu  percebesse  (é,  eu  também  vesti  minhas  roupas
íntimas  antes  de  dormir,  sou  uma  menina  muito  envergonhada  como  vocês  já
devem ter reparado), e me sentei sobre seus quadris pra tirar a peça. As mãos de Brii
acariciavam as laterais de minhas coxas, e sem nem querer me esperar voltar, ele se
sentou e me abraçou pela cintura, voltando a unir nossos lábios. Envolvi seu pescoço
com meus braços, retribuindo o beijo com vontade e sentindo­o apertar meus seios.
Não  demorou  muito  e  ele  começou  a  me  provocar,  sugando  caprichadamente  o
lóbulo  de  minha  orelha.  Arrepiada  da  cabeça  aos  pés  com  a  respiração  quente  e
rouca  dele  em  meu  ouvido,  eu  agarrava  seus  cabelos  com  força,  até  ouvi­lo
sussurrar: 
­ Tá calor, não acha? 
Assenti devagar, atordoada com aquela voz falha (e muito sexy) me dando falta de
ar, e ele disse: 
­ Então se segura. 
Voltei a abraçá­lo pelo pescoço e Brii passou seus braços por debaixo de mim. Ele se
levantou  da  cama,  ainda  me  provocando  num  de  meus  pontos  fracos  de  um  jeito
muito bom (conseqüentemente sendo enforcado por mim), e me levou no colo pra
algum lugar que eu não soube o que era até ver azulejos brancos por toda a parede
e um box espaçoso de vidro. 
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele fechou a porta e me prensou contra
ela,  já  com  os  lábios  colados  nos  meus.  Suas  mãos  percorriam  todo  o  meu  corpo
depressa, enquanto as minhas transformavam seu cabelo numa bagunça sem fim. Eu
o  puxava  pela  cintura  pra  mais  perto  de  mim,  deixando  sua  excitação  ainda  mais
evidente com a proximidade e destruindo minha sanidade mental. As mãos de Brii
pararam em minha bunda, com a mesma intenção que eu tinha ao puxá­lo com as
pernas,  e  seus  polegares  envolveram  o  elástico  de  minha  calcinha,  puxando­o  pra
baixo. Ele continuou tirando­a, sem ousar partir o beijo, e eu fiquei de pé pra poder

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 27/106
12/04/2015 Biology

me  livrar  dela  de  uma  vez.  Ele  foi  descendo  seus  beijos  conforme  abaixava  minha
calcinha, parando no umbigo e subindo novamente quando a peça já estava longe. 
Conseguindo controlar um pouco mais as coisas por estar de pé, fui empurrando­o
como quem não quer nada até suas costas ficarem contra o vidro do box fechado.
Brii soltou um gemido rouco quando o prensei entre a superfície gelada e eu, que
agora  acariciava  seu  tórax  e  barriga,  e  meio  sem  jeito,  abriu  a  porta  do  cubículo
transparente, cambaleando comigo pra dentro dele. Respirando ruidosamente, deixei
que  ele  me  prensasse  contra  a  parede  interna  do  box  enquanto  agarrava  meus
cabelos  da  nuca  com  uma  mão  e  tateava  a  parede  até  achar  a  válvula  e  ligar  o
chuveiro com a outra. Assim que a água fria tocou nossa pele, automaticamente nos
abraçamos com mais força, como se fôssemos nos esquentar com o calor de nossos
corpos. 
Nossas mãos corriam soltas por cada centímetro de pele alcançável um do outro, e
não demorei muito pra fazer a boxer ensopada dele deslizar até o chão. Passei meus
braços por seu pescoço, implorando pra que ele fizesse o que eu queria logo, e com
a  testa  franzida  de  prazer,  Brii  deu  a  entender  que  me  obedeceria.  Ergueu  minhas
pernas,  me  fazendo  envolver  sua  cintura  com  elas,  e  se  posicionou  em  minha
entrada.  Esperando  que  ele  me  invadisse  de  uma  só  vez,  como  antes,  eu  o  senti
colocar apenas a metade de seu membro dentro de mim, me provocando e calando
um gemido baixo com um beijo. A cada investida ele ia colocando mais e mais, me
fazendo  ser  involuntariamente  agressiva  durante  o  beijo,  até  chegar  ao  fim  e
começar  a  se  movimentar  com  bastante  força  e  velocidade.  Eu  acabei  ficando  um
pouco  mais  alta  que  ele  por  estar  suspensa,  o  que  fez  o  rosto  de  Brii  ficar
praticamente entre meus seios. Obviamente gostando da situação, ele quase gritava,
me  fazendo  gemer  no  mesmo  volume.  A  água  fria  que  caía  sobre  nós  parecia  nos
deixar  com  mais  calor  ainda,  e  tornava  minha  mania  de  agarrar  seus  cabelos  um
pouco mais escorregadia. 
Durante  quase  meia  hora  ficamos  naquela  posição.  Brii  jogava  sua  cabeça  pra  trás
várias vezes, com os olhos fortemente fechados e os cabelos grudados na testa, e eu
os colocava pra trás com as mãos, agarrando­os novamente na nuca. Ele realmente
estava se segurando muito pra não ter que sair dali, enquanto eu já tinha gozado
duas vezes, com as unhas fincadas em seus ombros e urrando de prazer. Quando ele
jogou a cabeça pra trás pela última vez, exausto, eu o beijei de leve e ele finalmente
gozou,  fechando  os  olhos  devagar  e  gemendo  perto  do  meu  ouvido.  Me  deixei
escorregar com as costas prensadas contra a parede até ficar de pé, enquanto Brii
afastava  as  mechas  ensopadas  de  cabelo  grudadas  no  meu  rosto,  buscando  meus
lábios  com  os  seus.  Pousei  minhas  mãos  trêmulas  em  seus  ombros,  morta  de
cansaço, e retribuí seu beijo suave com um sorriso. 
­ Acho que eu tô ficando velho pra essas coisas ­ Brii ofegou, respirando fundo logo
depois e me abraçando carinhosamente pela cintura. 
­ Se for assim, me dá falta de ar só de imaginar como você fazia essas coisas quando
era mais novo ­ sussurrei, beijando seu pescoço enquanto o abraçava e sentindo seu
tórax se contrair rapidamente num riso sem fôlego. 

­ Eu sempre achei que camisas sociais masculinas ficam muito melhores nas mulheres
­  Brii  sorriu,  deitado  no  sofá,  ao  me  ver  surgir  do  corredor  usando  uma  de  suas
camisas brancas que me cobriam até metade da coxa ­ Agora eu tenho certeza. 
­  Pára  de  me  deixar  sem  graça  senão  eu  te  molho  ­  ameacei,  chacoalhando  meu
cabelo molhado enquanto me aproximava e fazendo­o se proteger com os braços,
rindo. 
­  Também  te  amo,  minha  pequena  invocada  ­  ele  brincou,  me  puxando  pela  mão
coberta pela manga desproporcional da camisa que eu usava e me derrubando sobre
ele. Um cheiro ótimo de sabonete invadiu meus pulmões, e não tive como não sorrir
ao retribuir seu beijo. 
­  Não  vai  parar  mesmo?  ­  murmurei,  mantendo  nossos  rostos  próximos  mesmo
depois  de  partir  o  beijo  e  apontando  meu  dedo  indicador  pra  ele  ­  Olha  que  eu
mordo, hein. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 28/106
12/04/2015 Biology

Brii  soltou  uma  risada  maliciosa,  ficando  ainda  mais  sensual  do  que  de  costume,  e
sussurrou: 
­ É, eu sei. 
­ Brii! ­ exclamei, envergonhada, afundando meu rosto em seu pescoço enquanto ele
ria mais alto. 
­  Tá  bom,  agora  eu  parei  ­  ele  falou,  me  abraçando  com  força,  e  rindo  mais  um
pouco antes de continuar a falar ­ Falando em morder, tá com fome? 
Assenti,  ainda  sem  olhar  pra  ele.  O  cheiro  daquele  pescoço  estava  uma  coisa
irresistível,  fato.  E  ficava  melhor  ainda  quando  eu  me  lembrava  de  minhas  mãos
deslizando  por  seus  ombros,  ensaboadas,  há  alguns  minutos  atrás  enquanto
tomávamos banho. 
­ É, eu logo imaginei ­ ele disse, assentindo de leve ­ Então o que você acha de irmos
lá na cozinha ver o que eu fiz pra gente? 
Olhei pra ele, pasma, e recebi um sorrisinho sapeca. Me levantei depressa, e corri até
a  cozinha,  sendo  acompanhada  por  ele.  E  quase  voei  naquele  pescocinho
maravilhoso quando vi o que estava sobre a mesa da cozinha. 
­ Não acredito! ­ exclamei, com um sorriso enorme no rosto ­ Macarronada! 
­ Você gosta? ­ Brii sorriu, todo fofinho, quando me virei pra ele, quase lacrimejando
de emoção. 
­  Se  eu  gosto?  ­  repeti,  rindo  ­  Eu  adoro  macarronada!  Como  você  fez  isso  tão
rápido? Quer dizer, eu não demorei nem dez minutos! 
­ Vinte e sete minutos, eu acabei contando sem querer ­ ele respondeu, cruzando os
braços  e  encostando  um  de  seus  ombros  na  parede  da  porta  ­  Tudo  isso  pra  se
arrumar e desembaraçar o cabelo que provavelmente fui eu quem bagunçou. 
Eufórica, não consegui responder nada, apenas mordi meu lábio inferior e continuei
olhando­o sorrir pra mim de um jeito esperto. 
­  Bem  que  eu  estranhei  você  não  ter  aparecido  lá  no  quarto  ­  murmurei,  sem
conseguir parar de sorrir, e ele se aproximou de mim com a maior cara de criança
serelepe ­ Você tem que parar de me surpreender assim, sabia? Não é só porque eu
sou novinha que agüento esses trancos. 
­ Quem não vai agüentar mais um minuto sem devorar aquele macarrão ali sou eu ­
Brii  sorriu,  colocando  as  mãos  em  meus  quadris  ­  Antes  de  começar  a  agradecer,
quero ver se você aprova meus dotes culinários. 
Soltei  uma  risada  baixa,  e  fiquei  na  ponta  dos  pés  pra  lhe  dar  um  selinho  rápido
antes de ir me sentar numa das cadeiras. Brii fez o mesmo, e me serviu, enchendo
seu prato logo depois. Peguei o garfo, inalando o cheiro ótimo que vinha do meu
prato,  e  o  enrosquei  no  macarrão,  sentindo  um  olhar  meio  apreensivo  dele  sobre
mim. 
­ Hm, vamos ver se já pode casar ­ brinquei, lançando um rápido olhar pra ele antes
de colocar o garfo na boca. 
Nos  vários  dias  em  que  tive  que  preparar  meu  próprio  almoço  em  casa  porque
mamãe estava trabalhando, eu costumava fazer macarrão, porque eu achava que era
mais prático e gostoso. Eu considerava meu macarrão uma obra prima, me sentia o
máximo por conseguir fazer um molho tão bom, mas tinha acabado de descobrir que
não era tão boa cozinheira assim. Brii conseguia ser melhor. Bem melhor. 
­ E aí? ­ ele perguntou, com o garfo pairando sobre seu prato ainda intocado e um
sorriso nervoso. 
­ Ainda bem que você não cozinha pra viver ­ respondi quando terminei de mastigar,
com uma expressão séria, e vi pânico nos olhos dele ­ Porque se cozinhasse, eu já
teria virado uma coisa gorda e celulitosa de tanto comer seu macarrão. 
­ É agora que eu jogo todo esse macarrão na sua cabeça ou deixo pra mais tarde? ­
Brii sorriu, parecendo transtornado e aliviado ao mesmo tempo, enquanto eu ria. 
­ Isso aqui tá ótimo ­ exclamei, quase passando mal de tanto rir da cara de horror
que ele tinha feito ­ Não vai desperdiçar tudo na minha cabeça, por favor. 
­ Da próxima vez tente ir direto ao ponto, pode ser? ­ ele resmungou, sem conseguir
evitar um sorriso e finalmente comendo um pouco do macarrão. 
­ Own, ele ficou chateado ­ falei, com uma voz cuti cuti ­ Desculpa, bebezão. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 29/106
12/04/2015 Biology

­ Bebezão... Olha só quem fala ­ Brii murmurou, me lançando um olhar brincalhão, e
eu  senti  meu  rosto  esquentar  de  vergonha.  Às  vezes  eu  esquecia  que  ele  já  tinha
treze anos quando eu nasci. Quer dizer, eu mal tinha dentes e ele já devia ter um
protótipo de bigode. Tá, melhor não continuar pensando no que ele tinha ou fazia
quando era pivete e eu chupava dedo. Ficamos alguns segundos em silêncio, apenas
mastigando, até que ele voltou a falar: 
­ Por que você fez essa carinha e ficou quieta? 
­ Nada, eu só tava pensando aqui ­ respondi, sem olhar pra ele. 
­  Pensando  no  que?  ­  ele  insistiu,  com  a  voz  mais  baixa  e  inclinando  sua  cabeça
tentando ver o meu rosto. 
Sorri fraco e ergui meu olhar até o dele. 
­ Isso tudo é muito doido... Não acha? ­ falei, sem graça. 
­  Isso  tudo?  ­  ele  repetiu,  com  a  testa  franzida.  Lerdo.  Mas  tudo  bem,  ninguém
funciona direito com estômago vazio, principalmente homens. 
­  É...  A  gente  ficar  junto  ­  expliquei,  com  o  olhar  fixo  no  dele.  Brii  ficou  sério,
parecendo um pouco assustado por pensar no assunto. 
­ Por que você tá dizendo isso agora? ­ ele perguntou, com a voz igualmente séria e
me deixando nervosa ­ Você tá pensando em desistir, ou sei lá, meu macarrão é tão
ruim assim... 
­ Não, não, claro que não, seu macarrão é ótimo ­ interrompi, aflita apesar de ainda
estar sorrindo, e ele continuou me encarando, esperando uma explicação melhor ­
Eu só tava pensando, sei lá... Em como isso foi acontecer entre a gente com toda
essa diferença de idade. 
Brii sorriu fraco, e eu fiz o mesmo. Depois de quase um mês juntos, era a primeira
vez  que  eu  tinha  parado  pra  pensar  naquilo,  e  quanto  mais  eu  encarava  aqueles
olhos brilhantes, menos eu conseguia encontrar uma resposta racional. Nós dois nos
gostarmos não era nada racional, era meio que uma feliz coincidência. Dentre tantas
alunas bonitas e inteligentes que eu sabia que ele tinha, ele foi escolher se envolver
justo  comigo,  que  não  tinha  nada  de  especial  ou  diferente  delas.  Talvez  eu  só
estivesse me perguntando por que eu merecia tamanho presente. 
­ Eu realmente não sei como isso foi acontecer ­ ele suspirou, com o olhar vago no
meu  ­  Mas  ainda  bem  que  aconteceu...  Eu  já  tava  quase  perdendo  o  jeito  com
mulheres. 
Meu  sorriso  se  abriu  involuntariamente,  assim  como  o  dele,  e  senti  meu  rosto
esquentar um pouco. Que lindo, era tudo que eu conseguia pensar enquanto recebia
aquele olhar carinhoso dele. 
­ Deixa eu comer meu macarrão maravilhoso antes que eu acabe voando em cima de
você  ­  falei,  fazendo­o  rir  ­  E  agora  que  você  sabe  que  eu  mordo  mesmo,  toma
cuidado. 
­ Pode me morder ­ ele riu, enrolando o macarrão no garfo com um olhar malicioso ­
Eu gosto. 
­ Brii! ­ exclamei, incrédula e ficando roxa de vergonha de novo, fazendo­o gargalhar.
Já  eram  oito  e  meia  da  noite  quando  terminamos  de  jantar.  Mais  rimos  do  que
comemos, aliás. Principalmente eu, que parecia uma retardada com um sorriso besta
no  rosto  só  de  olhar  pra  ele,  de  boxer  jantando  comigo.  Cheios  de  fome  (e  com
razão) devoramos todo o macarrão e bebemos litros de suco de uva, e assim que o
ajudei a colocar a louça na pia contra a sua vontade, ele perguntou: 
­ Boa hora pra atacar aquele pote de sorvete, não acha? 
­ Se eu ficar gorda, a culpa é sua ­ falei, entortando a boca numa tentativa fracassada
de segurar um sorriso e apontando meu dedo indicador pra ele. 
­ A gente dá um jeito nisso depois ­ ele sorriu, serelepe, mordendo o lábio inferior de
um jeito bem nenê. Super apropriado pra grande sujeira que ele tinha acabado de
dizer. 
­  E  eu  vou  dar  um  trato  nessa  sua  linguinha  afiada  se  você  não  parar  com  essas
coisas ­ resmunguei, sem conseguir pensar direito diante daquela carinha fofa e só
notando que tinha falado merda quando ele riu alto. 
­  Não  acredito  que  você  disse  isso  ­  Brii  falou,  ainda  rindo  e  me  abraçando  pela

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 30/106
12/04/2015 Biology

cintura.  Ainda  inconformada  com  a  minha  própria  idiotice,  apenas  olhei  pra  ele,
sorrindo de um jeito envergonhado e enrugando o nariz. 
­ Pára com essa vergonha toda, vai ­ ele murmurou, com a voz carinhosa, e me deu
um beijinho de esquimó ­ Você não precisa dela. 
Eu, que observava minhas mãos encolhidas em seu peito, ergui meu olhar até o dele,
e automaticamente sorri. Não sei por que eu sentia tanta vergonha dele. Tá, talvez
fosse porque ele era meu professor de biologia e eu tivesse medo de ser tosca ou
algo do tipo, porque estava completamente apaixonada por ele e não queria receber
um pé na bunda. 
­  Só  porque  eu  falei  que  você  fica  uma  gracinha  assim,  toda  vermelhinha,  não
significa  que  você  tenha  que  ficar  me  torturando  toda  hora  ­  Brii  sorriu,  fingindo
estar  um  pouco  irritado,  e  eu  ri  baixinho  ­  Você  não  sabe  do  que  eu  sou  capaz
quando me provocam desse jeito. 
­  Ah,  é?  ­  perguntei,  erguendo  uma  sobrancelha,  e  um  segundo  depois  seu  braço
passou por debaixo das minhas pernas, me erguendo no ar. Se ele continuasse me
carregando toda hora, eu ia me esquecer de como se anda. 
­  É  ­  ele  respondeu,  com  as  sobrancelhas  erguidas  e  um  sorrisinho  esperto  ­  Mas
como  eu  sou  um  ótimo  professor  de  biologia,  acho  melhor  a  gente  esperar  nosso
estômago digerir o macarrão antes de ceder às suas provocações. 
­  Concordo  plenamente,  professor  Langdon  ­  falei,  fazendo  cara  de  inteligente,  e
recebendo  um  selinho  demorado  ­  Então  enquanto  a  gente  espera,  eu  quero
sorvete. 
­ Fazer a digestão comendo mais ainda, quer coisa melhor? ­ ele ironizou enquanto
andava até o congelador, me fazendo jogar a cabeça pra trás e rir alto ­ Pega aí, tô
com as mãos meio ocupadas. 
­ “Mãos ocupadas”, quem ouve até pensa ­ falei, rindo feito uma idiota ­ Acho que
estamos quites quanto a frases ambíguas agora. 
­ Se quiser, eu desocupo minhas mãos agorinha mesmo ­ ele sugeriu, e ameaçou me
botar no chão de novo. 
­  Pode  continuar  me  carregando,  eu  deixo  ­  sorri,  forçando  a  expressão  mais
excessivamente  meiga  do  mundo  enquanto  fechava  a  porta  do  congelador  com  o
sorvete  em  mãos.  Brii  retribuiu  meu  sorriso  exagerado,  e  me  levou  até  a  sala,
parando nas gavetas de talheres pra pegarmos duas colheres pelo caminho. 
­ Vamos ver o que tá passando na TV ­ ele disse, pegando o controle remoto que
estava no sofá e apertando um botão. Assim que a tela se acendeu, eu vi lagartos e
plantas por toda parte, e não pude deixar de sorrir. 
­ Animal Planet? ­ perguntei, abrindo o pote, sentada entre suas pernas ­ Por que eu
já devia saber disso? 
­ Pelo menos não é canal pornô ­ Brii retrucou, mudando de canal e enchendo sua
colher de sorvete sem nem ver o que estava fazendo. 
­ E daí se fosse? Não seria problema nenhum ­ falei, sem nem prestar atenção no que
passava  na  TV  e  enchendo  cuidadosamente  minha  colher  ­  Tem  homens  que
aprendem várias coisas com filmes pornôs, sabia? 
­ Você quer mesmo falar disso? ­ ele falou, erguendo as sobrancelhas com um sorriso
danado, enquanto voltava a engolir outra colherada monstruosa de sorvete. Me virei
pra encará­lo, com uma sobrancelha erguida e um sorriso esperto: 
­ Por quê? Tá com medo de alguma coisa? 
­ Claro que não, eu até acho filmes pornôs interessantes ­ Brii respondeu, tomando
mais  sorvete,  como  se  estivesse  dizendo  que  gostava  de  azul  ­  É  bem  bacana  ver
como alguém consegue ser tão elástico. 
­ Não acredito que você vê filmes pornôs só por causa da elasticidade das mulheres ­
falei, rindo e dando um empurrãozinho safado em seu peito. 
­ Vem cá, deixa eu te perguntar uma coisa ­ ele disse, parando num canal qualquer e
me olhando com uma impaciência meio cômica ­ Tá toda curiosa por causa de filme
pornô por quê? Já tá querendo mais, é? 
­  Não  foi  essa  a  minha  intenção  inicial,  mas  se  você  tá  sugerindo...  ­  respondi,
olhando pra ele e lambendo devagar a colher, com um sorriso provocante (me deixa

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 31/106
12/04/2015 Biology

ser puta, beijos). Brii ficou me encarando, parecendo meio atordoado, e entortou a
boca, derrotado. 
­ Você gosta de beijo gelado? ­ ele murmurou, baixinho, tirando o pote de sorvete
do  meio  das  minhas  pernas  e  colocando­o  na  mesinha  que  ficava  do  seu  lado  do
sofá. 
­  Se  eu  gosto  de  quê?  ­  perguntei,  sem  ouvir  direito  o  que  ele  tinha  dito,  mas
concordando em me virar de frente pra ele quando suas mãos demonstraram essa
intenção. 
­  Disso  ­  ele  sussurrou,  e  no  segundo  seguinte  seus  lábios  estavam  colados  aos
meus. Um choque térmico percorreu meu corpo todo quando a língua gelada dele
tocou  a  minha,  nem  tão  fria.  Passei  meus  braços  por  seu  pescoço,  arrepiada  da
cabeça  aos  pés,  e  ele  me  puxou  pra  mais  perto  dele  pela  cintura,  fazendo  minhas
pernas  envolverem  seus  quadris.  Ficamos  nos  amassando  por  algum  tempo,  até  o
efeito gelado sumir, e delicadamente Brii me deitou no sofá e ficou por cima de mim.
Sorrindo, ele partiu o beijo, e murmurou: 
­ Dorme aqui essa noite? 
­ Não precisa nem pedir de novo ­ respondi, com um sorriso de orelha a orelha, e ele
voltou a me beijar, igualmente feliz com a minha resposta. É, posso dizer que Brii me
beijando foi uma cena que se repetiu bastante naquela noite. 

Capítulo 06

Um mês e meio se passou desde a primeira vez em que dormi na casa de Brii. E a
cada vez que eu voltava àquele apartamento, as coisas melhoravam, o que eu achava
ser impossível. Nunca pensei que pudesse me sentir tão feliz e completa com alguém
como  eu  me  sentia  com  ele,  e  eu  sorria  até  nas  aulas  do  Jones,  que  agora  me
ignorava  total  e  completamente.  Só  me  dirigia  a  palavra  quando  era  estritamente
necessário  falar  comigo,  e  me  tratava  com  indiferença,  o  que  por  mim,  podia
continuar assim pelo resto dos meus dias. 
­ Antes do fim da aula, eu quero lhes informar que houve uma pequena mudança
quanto a excursão à reserva ambiental de depois de amanhã – Brii disse, durante os
últimos  minutos  da  aula  de  biologia,  sendo  fixamente  observado  por  mim,  claro  –
Como vocês já sabem, a reserva fica a algumas horas daqui, então pode ser que a
excursão  só  acabe  pouco  antes  do  anoitecer,  e  como  de  costume  aqui  na  escola,
vocês serão acompanhados por dois professores. 
Como o final do bimestre estava próximo, os professores que já tinham dado todo o
conteúdo previsto para aquele espaço de tempo costumavam marcar excursões com
as classes, e pedir relatórios ou trabalhos sobre o que aprendíamos no passeio. Eu já
estava sabendo dessa excursão, portanto nem me alarmei muito, só não sabia que
pequena mudança era essa. E se eu soubesse que a resposta pra esse mistério me
renderia maus momentos, preferia continuar não sabendo. 
­ Eu e a professora Keaton estávamos escalados para acompanhar a classe de vocês
– Brii prosseguiu, me lançando um breve olhar conformado, que eu devolvi com um
pouco de tensão – Mas a diretora resolveu fazer uma pequena alteração. De acordo
com a nova escala, eu e a srta. Keaton acompanharemos o primeiro ano na excursão
deles, que será amanhã, e quem irá acompanhá­los na excursão de vocês serão os
professores Hammings e Jones. 
Acho que é agora que eu rodo a baiana, não é? Que papo é esse de ‘vou com as
menininhas  putinhas  do  primeiro  ano  amanhã  enquanto  vocês  sofrem  na  mão  do
pedófilo  nojento  e  sem  escrúpulos  do  Jones’?  Se  ele  achava  que  eu  ia  deixar  isso
passar em branco, estava muitíssimo enganado. 
­ Podem ir para o laboratório, até semana que vem e boa excursão – Brii encerrou,
enquanto todos se levantavam com as mochilas nas costas rumo à aula do Jones. Eu
arrumava lentamente meu material, de cara fechada, esperando até o último aluno

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 32/106
12/04/2015 Biology

sair e me deixar sozinha com Brii. Assim que todos haviam saído, ele fechou a porta
da sala e já começou a falar: 
­ Eu sei que você não gostou da notícia, mas... 
­ Mas o que, Brii? ­ cortei, inconformada, sem nem me mexer na cadeira enquanto
ele se aproximava – Por que você não me contou antes? 
­ Eu não pude evitar, só fiquei sabendo disso hoje! – ele explicou, agachando­se à
minha frente – Você acha que eu fiquei feliz de não poder mais ir com a sua classe? 
Soltei um suspiro chateado e fechei os olhos. Ele realmente não tinha culpa, dava pra
ver que ele estava sendo sincero. Voltei a encará­lo, me imaginando naquela reserva
ambiental tendo que respirar o mesmo ar de Daniel Jones por mais de uma hora. O
pior pesadelo que alguém poderia ter. 
­ Me desculpa, acho que eu surtei um pouquinho – murmurei, sorrindo sem graça e
colocando as mãos em seus ombros – Mas é que ia ser simplesmente ótimo passar o
dia todo com você, e além do mais, você sabe que eu odeio o professor Jones. 
­ É, eu já notei essa birra que você tem com ele – Brii riu, erguendo as sobrancelhas. 
­ Essa birra que eu tenho com ele? – repeti, apontando pro meu próprio peito, um
tanto  incrédula  –  Ele  é  que  tem  birra  comigo  e  não  é  capaz  de  me  dar  uma  nota
justa pelos meus relatórios, você sabe bem disso! 
­ Eu também não entendo, mas não posso me meter no método de correção dele, já
te  falei  milhares  de  vezes  –  ele  explicou,  revirando  os  olhos  –  Mas  você  bem  que
podia tentar ser gentil com ele... Quem sabe as coisas não melhoram, incluindo a sua
nota? 
­ Você tá de brincadeira, né? – eu falei, rindo sarcasticamente – Eu ser mais gentil
com o Jones? Mas nem morta! Eu me recuso a tratar aquele imbecil como algo mais
além de um verme inútil! 
­  Você  não  devia  falar  essas  coisas  dele  –  Brii  retrucou,  subitamente  sério  e
parecendo ofendido – O Danny é um dos meus melhores amigos e é um cara muito
legal. Não fale do que você não sabe. 
Franzi minha testa, boquiaberta com aquela resposta, e assenti devagar. 
­ Acho que se tem alguém aqui que não sabe do que tá falando, esse alguém é você,
Brian  –  murmurei,  tentando  conter  minha  raiva  só  de  me  lembrar  de  tudo  que  o
Jones já tinha me feito (ou tentado fazer) de mau – Mas se você quer tanto defender
seu amigo, não vou te impedir. Só não venha me dizer que não te avisei. 
­ Mell, espera – Brii pediu, me impedindo de levantar quando eu tentei ficar de pé, já
com a mochila sobre um ombro – Não precisa ficar brava, eu não quis te chatear... 
­ Me deixa levantar, por favor – pedi, sem olhá­lo, com um sentimento enorme de
injustiça  dentro  de  mim.  O  cara  que  eu  amava  defendendo  o  canalha  que  vivia
atormentando  a  minha  vida  e  ainda  me  destratando  por  causa  dele?  E  o  pior  de
tudo,  eu  não  podia  simplesmente  chegar  contando  tudo  que  o  professor  Jones  já
tinha me feito sem ter como provar, Brii jamais acreditaria. Ele era cego pela imagem
de  bom  moço  do  amigo,  já  dava  pra  perceber  isso  há  um  bom  tempo.  Péssimo,
horrível, deplorável, humilhante. 
­ Não, eu não vou te deixar ir embora brava comigo desse jeito, não sabendo que
amanhã não vou poder te ver! – ele negou, ficando irritado – Pára de ser infantil,
Amellie! 
­  Infantil?  –  perguntei,  ainda  mais  inconformada,  sem  nem  conseguir  raciocinar
direito – Se eu sou tão infantil, por que quis ficar comigo? Se você não acredita no
que eu digo, por que insiste em se desculpar? Se eu só falo mentiras sobre o que eu
não sei, me deixa ir embora, afinal, eu tô perdendo a aula do seu tão querido melhor
amigo, esqueceu? 
Consegui levantar, apesar dos esforços dele pra que eu ficasse, e sem nem olhar pra
trás,  deixei  a  sala  de  aula,  trêmula  da  cabeça  aos  pés.  Apesar  do  medo  de  acabar
ferrando tudo com aquela primeira briga, eu me sentia firme, agindo do jeito certo.
Brii  não  conhecia  o  amigo  que  tinha,  e  depois  de  tudo  que  aquele  crápula  me  fez
passar, eu não seria capaz de ouvir todos aqueles absurdos calada. Engoli em seco,
levando a vontade de chorar e de voltar correndo pros braços de Brii pro fundo do
meu estômago, enquanto caminhava rapidamente em direção ao laboratório. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 33/106
12/04/2015 Biology

­ Ih, que cara é essa? – Kimberlly perguntou, na hora da saída, quando se sentou ao
meu lado na mureta que ficava em frente ao colégio – O Jones aprontou alguma? 
Neguei com a cabeça, encarando o nada com a expressão fechada. Os 50 minutos da
aula de laboratório tinham conseguido ser mil vezes mais tranqüilos que os poucos
minutos em que eu e Brii brigamos na aula de teoria, fora meus olhares carregados
de ódio pro Jones durante sua explicação. O olhar sério de Brii me censurando não
saía da minha cabeça, e aquele sentimento de injustiça continuava dançando dentro
de mim. 
­ O que foi então? – ela insistiu, e eu nem precisei responder. Assim que ela terminou
de  falar,  Brii  saiu  do  colégio,  e  logo  nossos  olhares  se  encontraram.  Seus  olhos
Castanhos  estavam  sérios,  e  eu  sustentava  seu  olhar,  igualmente  chateada.  Brii  só
tirou seus olhos dos meus quando foi atravessar a rua, e não ousou olhar na minha
direção  até  arrancar  com  o  carro  e  deixar  a  escola.  Assim  que  ele  sumiu  de  vista,
abaixei a cabeça e soltei um suspiro triste, de olhos fechados. 
­  Acho  que  já  entendi  o  que  aconteceu  por  aqui  –  Kimberlly  murmurou,  ainda
olhando na direção pra onde Brii seguiu com o carro – Vocês brigaram. 
Quando abri a boca pra começar a contar, minha mãe chegou pra me levar pra casa.
Apenas  sorri  fraco  pra  Kimberlly,  tentando  não  parecer  tão  arrasada,  e  balancei  a
cabeça negativamente. 
­ Depois a gente conversa – murmurei, me despedindo dela e entrando no carro. 

Eu não tenho nada contra excursões escolares. Só odeio o tipo de organização que a
minha escola usava. Nem pra ter um pouco de respeito por quem tá estudando nos
andares  de  cima,  sabe.  A  diretora  tem  que  ficar  berrando  os  nomes  dos  alunos
naquele  microfone  ensurdecedor  pra  todo  mundo  ouvir,  parece  que  é  uma
necessidade vital pra ela. Como se eu me importasse em saber se Colin McPhearson
já  estava  na  escola,  francamente.  Pra  ser  honesta,  eu  só  me  importava  com  uma
coisa. Brian Langdon. 
Após  um  dia  inteiro  sem  conseguir  tirar  aquele  desentendimento  da  cabeça,  refleti
muito sobre como devia agir dali em diante. Ele até que podia estar errado, mas não
era por maldade. Brii realmente acreditava que o professor Jones era um cara legal, e
eu não duvido nada que ele tenha seus meios de enganar os outros. Tava pra nascer
cara  mais  cafajeste  que  ele,  fato.  Soltei  um  suspiro  arrependido,  encarando
vagamente  a  janela  ao  meu  lado,  de  onde  eu  podia  observar  o  pátio  lotado  de
alunos do primeiro ano. Mal tinha começado a primeira aula e o professor de química
já estava escrevendo na lousa, mas eu não me importava com o sr. Brown naquele
momento. Outro professor estava prendendo minha atenção, e ele não parecia estar
tendo a menor dificuldade em organizar a fila de pirralhos do primeiro ano que logo
entrariam num dos enormes ônibus estacionados na frente da escola para passar um
dia inteiro em sua companhia na reserva ambiental. 
Continuei  observando  Brii  lá  embaixo,  ajudando  o  último  aluno  fora  de  sua  fila  a
achar  seu  lugar,  e  assim  que  terminou,  colocou  as  mãos  nos  quadris  e  jogou  a
cabeça  pra  trás,  encarando  o  céu  nublado.  Estava  doendo  em  mim  vê­lo  pela
primeira vez depois da discussão de ontem, e tudo que eu queria fazer era pular por
aquela janela e me desculpar por tudo. Mas eu estava presa na aula de química, e ele
estava preso àquela excursão idiota. Brii lentamente se virou até ficar de frente para
o prédio de onde eu o olhava, e pra minha surpresa, seus olhos não hesitaram em se
cravar  na  janela  da  minha  classe.  A  janela  por  onde  ele  podia  me  ver  também,
mesmo  que  de  uma  certa  distância.  Seu  olhar,  apesar  de  distante,  conseguiu  me
deixar  pior  do  que  eu  já  estava.  Sua  expressão  ao  me  encarar  era  séria,  mas  pelo
menos ele não parecia tão bravo quanto ontem. Por que eu tinha que deixar meu
orgulho ser maior que o que eu sentia por ele? Você gosta de uma idiota, Langdon,
fato. 
Mais  atrás,  a  srta.  Keaton  já  encaminhava  alguns  alunos  na  direção  da  saída  da
escola,  e  pude  ver  seus  lábios  chamarem  o  nome  de  Brii.  Voltei  a  encará­lo,  me
odiando  pra  sempre,  até  que  ele  se  virou  na  direção  dela  e  a  ajudou  com  a

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 34/106
12/04/2015 Biology

organização dos alunos. Merda. Essa piranha ia ter seu dia de sorte hoje, passando o
dia  todo  ao  lado  de  um  homem  lindo,  perfeito  e  insatisfeito  com  a  garota  infantil
com quem tinha escolhido se relacionar. Bela oportunidade de tirar uma lasquinha.
Fechei  meus  olhos  quando  ele  sumiu  do  meu  campo  de  visão,  tentando  afastar  o
ciúme que ardia neles, e voltei a me concentrar na matéria de química. 

­ Você vai mesmo amanhã? – ouvi Kimberlly perguntar, na hora da saída, e assenti
devagar, observando os carros que passavam. Não tinha como não encarar o carro
vazio  de  Brii,  estacionado  no  lugar  de  sempre,  e  não  querer  que  ele  subitamente
saísse da escola, com seu sorriso habitual, e atravessasse a rua naquela direção. 
­ Tem certeza de que não vai mesmo poder ir? – suspirei, olhando pra ela com cara
de nada – Ter alguém com quem conversar ia me fazer bem... Eu acho. 
­  Não,  minha  mãe  não  quer  que  eu  vá  e  acabe  sendo  atacada  por  mosquitos  do
tamanho de azeitonas ou coisas do tipo – Kimberlly respondeu, cruzando os braços e
revirando os olhos – Você conhece minha mãe, super protetora até a medula. 
Não deu pra não rir um pouquinho com aquele comentário mais do que verdadeiro.
A  sra.  Macarenhas  costumava  ser  bem  enérgica  quando  o  assunto  era  proteger
Kimberlly. 
­ Que exagero, mosquitos do tamanho de azeitonas só existem na África – chutei,
com um sorriso fraco no rosto. 
­ Eu sei disso, mas minha mãe não sabe – Kim resmungou, um pouco irritada – Já
tentou  dizer  isso  a  ela?  Vai  entrar  por  um  ouvido,  ela  até  vai  fingir  pensar  no  seu
caso, e depois vai sair pelo outro lado. 
Ri  mais  um  pouco,  e  ela  logo  caiu  no  riso  comigo.  Só  ela  mesmo  pra  me  fazer  rir
naquele estado deplorável no qual eu me encontrava por dentro. 
­  Você  falou  com  o  Langdon  hoje?  –  ela  murmurou,  voltando  a  ficar  séria,  e  senti
meu estômago revirar. Eu tinha telefonado pra ela na tarde anterior e tinha contado
tudo que tinha acontecido depois da aula de teoria. Kimberlly concordou comigo, e
disse  que  eu  devia  contar  tudo  que  o  Jones  tinha  aprontado,  mesmo  correndo  o
risco de Brii não acreditar em mim. Durante o resto do dia, fiquei pensando no que
deveria fazer, e decidi que iria seguir o conselho dela. Só não tive a oportunidade de
conversar com ele ainda. 
­ Não – respondi, sem olhar pra ela – Ele tá na excursão hoje, lembra? 
­ E amanhã é a sua – Kim disse, e eu pude sentir seu olhar tristonho sobre mim –
Você vai à casa dele nessa sexta? 
­  Só  vou  se  ele  me  chamar  –  falei,  dando  de  ombros  tristemente  ­  Não  vou
simplesmente aparecer sem ter sido convidada. 
Desde a primeira vez em que fui à casa dele, não tinha deixado de passar as tardes
de  sexta­feira  lá  uma  vez  sequer,  nem  que  fosse  pra  ajudá­lo  com  a  correção  de
algumas  provas  e  trabalhos  enquanto  conversávamos.  Talvez  essa  fosse  ser  a
primeira  vez  em  que  não  nos  veríamos,  e  era  tudo  culpa  da  minha  imaturidade.
Palmas pra mim. 
­ Eu acho que ele vai te chamar sim – Kimberlly me encorajou, deitando sua cabeça
em meu ombro de um jeito carinhoso e até um pouco engraçado – No mínimo pra
vocês se resolverem. 
­ Assim espero – sorri fraco, olhando vagamente os carros que passavam pela rua,
com o pensamento a algumas horas de distância dali. 

­ Amellie Dawson! 
Ergui minha mão assim que a diretora berrou meu nome no microfone, entediada e
com todos os tipos de sentimentos negativos em relação àquela excursão idiota. Me
senti ainda pior quando o professor Hammings, com sua usual cara de quem tinha
estrume de vaca debaixo do nariz, indicou que eu já podia ir para o ônibus com um
aceno de mão. Ajeitando minha pequena mochila no ombro, andei vagarosamente
até o veículo, como se eu pudesse evitar aquela tortura se andasse devagar. Como
eu era tosca algumas vezes. 
­ Eu já mandei você escolher um lugar e se sentar, Kelly – ouvi uma voz murmurar

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 35/106
12/04/2015 Biology

assim que me aproximei do ônibus, e quando cheguei à porta, vi o professor Jones e
a Smithers conversando a uma distância menor do que a recomendada. E pela cara
de dor de barriga dela, o clima não era dos melhores. 
­ Tudo bem, professor – ela concordou, me lançando um olhar surpreso, e entrou no
ônibus. O professor Jones passou uma mão pelos cabelos, usando sua técnica mais
que  aprovada  de  me  tratar  com  indiferença,  e  eu  apenas  o  ignorei,  entrando  no
ônibus logo depois. 
Me  sentei  num  dos  primeiros  assentos,  evitando  me  misturar  demais  com  o  povo
fútil  que  provavelmente  começaria  uma  bagunça  no  fundo  do  ônibus.  Peguei  meu
iPod  de  dentro  da  bolsa  e  coloquei  a  primeira  música  mal  educada  que  achei  no
volume  máximo,  com  uma  cara  espontânea  de  poucos  amigos.  Talvez  porque  eu
realmente não quisesse estar ali, num ônibus cheio de gente que eu odeio, rumo a
um lugar distante, cheio de mato, terra e bichos. Talvez porque tudo que eu quisesse
era estar com Brii e resolver as coisas entre nós, pra exterminar o aperto em meu
peito que quase me sufocava. 
Não  demorou  muito  e  o  professor  Hammings  entrou  no  ônibus,  acompanhado  do
Jones.  Contaram  rapidamente  o  número  de  pessoas,  pra  ter  certeza  de  que  todos
estavam  no  ônibus,  e  assim  que  terminaram,  fizeram  sinal  para  que  o  motorista
começasse a dirigir. Tirei um dos fones, entediada, para (infelizmente) ouvir o que o
Jones estava dizendo enquanto o veículo andava os primeiros metros em direção à
reserva. 
­  Tentem  não  se  afastar  do  grupo,  o  local  é  enorme  e  bastante  confuso,  portanto
todo  cuidado  é  pouco  –  ele  avisou,  sério,  e  eu  notei  que  seus  olhos  estavam
especialmente Azuis hoje, talvez porque estivessem realçados pela blusa da mesma
cor  ­  Não  se  distraiam  com  os  animais  ou  plantas  exóticas  que  virem  e  prestem
atenção  nas  explicações  que  os  guias  lhes  darão,  informações  como  aquelas  não
existem  nos  livros  escolares.  Qualquer  problema,  basta  chamar  o  professor
Hammings ou eu. 
Mudo, o sr. Hammings apenas assentiu devagar para todos que o observavam, e os
dois  professores  se  encaminharam  na  direção  de  seus  assentos.  Que,  por  sinal,
ficavam bem à minha frente. Eu já devia saber que aquela excursão seria ainda pior
do que eu imaginava. 
Coloquei  os  dois  fones,  batendo  os  pés  de  acordo  com  a  bateria  da  música,  e  me
contive a observar o céu nublado. Sem ter que aturar ninguém sentado no assento
ao  meu  lado,  silenciosamente  ocupado  pela  minha  mochila,  não  demorei  muito
tempo  pra  me  distrair  com  os  prédios  e  árvores  que  passavam  rapidamente  pela
minha janela. Logo meu pensamento voou até Brii, e me peguei pensando no que
ele  devia  estar  fazendo  àquela  hora.  Dando  aula,  provavelmente.  Tentei  evitar  que
minha mente criasse qualquer tipo de imagem da excursão do dia anterior, ou de Brii
sendo consolado pela srta. Keaton, mas foi impossível. Deus, por que raios eu tinha
que sentir ciúmes daquela mexerica desbotada? Ela ser bonita, atraente e um pouco
viciada  demais  em  testosterona  definitivamente  não  deveriam  ser  razões
preocupantes o suficiente. 
Algum  tempo  depois,  senti  uma  mão  tocar  meu  ombro  devagar,  e  pulei  de  susto.
Olhei na direção da pessoa, e dei de cara com Daniel Jones. Tirei um dos fones contra
a minha vontade e esperei ele falar. 
­ Trouxe celular, Dawson? 
Assenti, sentindo um gostoso perfume masculino invadir meus pulmões, e ignorei o
fato de que só podia ser o dele. 
­  Pode  me  passar  o  número?  –  ele  perguntou,  parecendo  um  pouco  decente  pela
primeira vez na vida ­ É pro caso de você se perder na reserva. 
­  Eu  não  vou  me  perder  –  respondi,  sem  muita  vontade  de  dar  meu  número  de
celular pro Jones – Pode ter certeza. 
­ Mesmo assim, são normas da escola – ele insistiu, com um sorrisinho cordial, e eu
tive  que  dar  o  número.  Escolinha  chata  a  minha,  pelo  amor  de  Deus.  Assim  que
terminou de gravar meu número em seu celular, ele agradeceu rapidamente e voltou
a  se  sentar  ao  lado  do  Hammings.  Mas  esqueceu  de  levar  uma  coisa  com  ele.  A

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 36/106
12/04/2015 Biology

porcaria daquele perfume. 
Odores a parte, continuei a ouvir música e pensar em qualquer coisa que passasse
pela minha cabeça (lê­se: Brian Langdon) por todo o trajeto. Pouco tempo depois de
deixarmos a escola, uma chuva fina começou a cair, explicando o céu nublado que já
durava dois dias. E pelas nuvens negras que pairavam mais à frente, o tempo não
melhoraria tão cedo. 
­  Pessoal,  chegamos  à  reserva  ambiental  ­  o  professor  Jones  disse  algumas  horas
depois,  enquanto  o  motorista  entrava  num  grande  estacionamento  e  eu  guardava
meu  iPod  na  mochila  –  Antes  de  sair,  peguem  as  capas  de  chuva  que  trouxemos
devido ao tempo chuvoso que estava previsto pra hoje. Eu vou distribuí­las na porta
do ônibus. 
Legal,  ia  ter  que  fazer  contato  com  aquele  idiota  mais  uma  vez,  e  mal  tínhamos
chegado à reserva. Peguei minha mochila e a coloquei direito nas costas, com uma
alça em cada ombro (diferentemente do que eu costumava fazer), já de pé. Esperei
até que a aglomeração no corredor do ônibus diminuísse e me encaixei na primeira
brecha que encontrei. 
­ Capa de chuva, Smithers – ouvi o professor Jones dizer assim que Kelly, que estava
bem  à  minha  frente,  passou  por  ele  –  Não  vai  querer  que  as  horas  arrumando  o
cabelo sejam em vão, vai? 
Eu sei que o odeio e já cansei de expressar meu desprezo por ele, mas não deu pra
não  rir  daquele  comentário.  Até  que  ele  era  engraçado  quando  tirava  sarro  das
pessoas certas. E tinha um perfume viciante também. Não que isso importe. 
Ainda  rindo  disfarçadamente  da  cara  de  joelho  da  Smithers  ao  pegar  sua  capa,
peguei a minha, dobrada dentro de um pacote plástico, evitando contato visual com
o sr. Jones. Uma simples piadinha não o tornaria um cara aceitável no meu conceito. 
Burocracias  à  parte,  logo  estávamos  dentro  da  reserva,  ridiculamente  iguais  com
nossas  capas  transparentes  debaixo  da  chuva,  que  tinha  aumentado
consideravelmente. Aquele lugar era enorme, fato. Acho que nunca estive num lugar
tão cheio de vegetação e terra na vida. O único cheiro que conseguia sentir era o de
terra molhada, tão forte que minha cabeça doía um pouco. Um dos guias começou a
nos  levar  reserva  adentro,  e  eu  apenas  seguia  o  fluxo,  já  querendo  que  aquela
excursão terminasse logo. 
­  Antes  de  começarmos  a  conhecer  a  reserva,  vamos  lhes  mostrar  um  pequeno
documentário sobre os efeitos do aquecimento global e da exploração prejudicial do
homem à natureza, e também algumas medidas quem favorecem o desenvolvimento
sustentável – explicou o guia, quando chegamos a uma grande sala onde uma tela
de  cinema  ocupava  uma  parede  que  ficava  de  frente  para  várias  poltronas
enfileiradas. 
Eu realmente odiava vídeos assim, todo mundo já estava careca de saber de tudo
que  passava  neles.  Com  cara  de  nada,  apenas  me  sentei  numa  poltrona  qualquer,
numa  das  pontas  mais  próximas  da  porta  de  saída.  Quanto  menos  eu  tivesse  que
gastar energia ali, melhor. 
O filme logo começou, e eu nem me dei ao trabalho de ouvir e/ou ver o que estava
passando.  Cutucando  uma  pele  quase  solta  e  dolorida  que  estava  incomodando  o
canto  da  minha  unha,  esparramada  na  poltrona  e  com  cara  de  mau  humor,  eu
esperava ansiosamente até aquela porcaria acabar e podermos finalmente começar a
observar as espécies exóticas de plantas e animais que existiam na reserva. Tudo ia
relativamente bem, até que eu senti alguém se aproximar de pé ao meu lado. Não
precisei nem erguer meu olhar pra saber quem era: o perfume masculino (que não
era de se jogar fora mesmo) já denunciava sua identidade. 
­  Dá  pra  parecer  menos  entediada?  –  ouvi  o  sr.  Jones  cochichar  entre  dentes,
abaixando um pouco seu tronco para ficar com a cabeça mais próxima de mim e se
fazer  ouvir.  Revirei  os  olhos,  de  saco  cheio,  e  me  virei  lentamente  pra  ele,  até
encontrar seus olhos. 
­  Dá  pra  fingir  que  eu  não  existo?  –  sussurrei,  com  uma  expressão  de  desprezo
sincera, e pude ouvi­lo suspirar antes de se afastar, em tom de derrota. Isso mesmo,
sai de perto. Seu perfume mais do que aceitável não vai me convencer. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 37/106
12/04/2015 Biology

Quinze  minutos  depois,  eu  ainda  me  encontrava  naquela  mesma  posição,  com  a
cabeça apoiada numa mão e quase dormindo. Olhei vagamente pra enorme tela à
minha frente, tentando não adormecer, e vendo que não ia agüentar ficar acordada
ali  por  muito  mais  tempo,  resolvi  tomar  uma  atitude  drástica.  Me  levantei
sorrateiramente,  trazendo  minha  mochila  comigo,  e  caminhei  até  o  professor
Hammings, que estava sentado na primeira fileira ao lado do professor Jones. 
­ Professor, posso ir ao banheiro? – falei, baixinho, fazendo cara de cachorrinho sem
dono – É urgente. 
­ Estamos na metade do documentário, Dawson – ele murmurou, com sua habitual
expressão afetada – Tem certeza de que precisa ir? 
­ É realmente necessário – respondi, ignorando o olhar do sr. Jones praticamente me
queimando de tão intenso. O sr. Hammings ergueu uma sobrancelha, pensativo, e
logo resmungou, derrotado: 
­ Saindo dessa sala, é a primeira porta à direita. 
­  Obrigada  –  sorri,  aliviada,  e  saí  de  fininho  pela  porta.  A  chuva  tinha  dado  uma
trégua mínima, deixando apenas uma garoa fina cair, o que já me dava uma certa
liberdade  pra  respirar  um  pouco  de  ar  fresco  sem  me  molhar.  Pelo  amor  de  Deus,
nunca  mais  pretendia  voltar  àquela  reserva  se  fosse  pra  assistir  a  documentários
como aquele. Fala sério, até uma criança de cinco anos sabe que a fumaça que sai
das chaminés das fábricas prejudica a qualidade do ar. 
Mais  entediada  do  que  nunca,  peguei  meu  celular  do  bolso  da  mochila  pra  ver  as
horas,  e  meu  tédio  só  aumentou  quando  vi  que  ainda  faltava  muito  pra  irmos
embora.  Lógico,  sua  anta,  acabamos  de  chegar.  Aposto  que  se  Brii  tivesse  vindo,
tudo  estaria  sendo  muito  melhor,  e  eu  estaria  nas  nuvens,  sorridente  e  cheia  de
paciência  pra  agüentar  qualquer  chatice  que  aquele  lugar  me  proporcionasse.
Suspirei tristemente, tão a fim de ir embora que toparia voltar a pé pra casa, e tive
uma idéia. Digitei rapidamente o número do celular de Kimberlly e apertei o botão
para  chamar.  Uns  dois  minutinhos  de  conversa  ao  telefone  com  alguém  civilizado
seria  no  mínimo  revigorante.  Assim  que  ouvi  uma  gravação  da  operadora  dizendo
que meu celular estava sem sinal, quase o deixei cair de susto por causa da segunda
voz que surgiu atrás de mim. 
­  Não  achou  o  banheiro,  Dawson?  –  o  sr.  Jones  perguntou,  irônico.  Me  virei
depressa, cancelando a chamada, e logo seus olhos Azuis entraram em foco. 
­  Que  é,  tá  me  seguindo  agora?  –  rosnei,  sem  a  menor  paciência,  e  fazendo  um
breve silêncio ocupar nossos ouvidos por alguns segundos. 
­  Se  eu  não  soubesse  dessa  sua...  Simpatia  com  professores  de  biologia,  suas
respostas atravessadas seriam desanimadoras – ele finalmente respondeu, com um
cinismo impressionante no rosto, típico de alguém que sabia demais. Meus olhos se
arregalaram um pouco sem que eu percebesse, minha garganta secou, meu coração
acelerou, tudo ao mesmo tempo. Ele não sabia. Ele não podia saber. 
­ Do que você tá falando? – perguntei, usando toda a minha capacidade de mentir
para controlar meus músculos faciais e não me entregar. O professor Jones deu uma
risadinha irônica e cruzou os braços. 
­ Ah... Você não sabe do que eu tô falando? – ele repetiu, com os olhos cravados nos
meus e dando um passo na minha direção – Então bastou uma briguinha pro Brii ser
carta fora do baralho? Rapidinha você, hein. 
Senti  uma  raiva  imensa  subir  pela  minha  garganta,  por  pouco  me  fazendo  voar
naquele  desgraçado.  Merda,  ele  sabia.  Provavelmente  Brii  tinha  lhe  contado  tudo,
enganado por sua pose de bom moço. Até da nossa briga de dois dias atrás ele já
sabia! Respirei fundo, controlando a fúria engasgada em minha garganta, e com a
voz firme, retruquei: 
­ Me deixa em paz. 
­ Parece que agora você sabe bem do que eu tô falando – o sr. Jones sorriu, com um
olhar no mínimo divertido – Podemos conversar de igual pra igual. 
­  Eu  nunca  vou  ser  igual  a  você  –  falei,  quase  esmagando  meu  celular  em  minha
mão, que agora estava fechada num punho – Preferiria me matar a viver tendo nojo
de mim mesma. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 38/106
12/04/2015 Biology

­ Não venha se fazer de coitadinha, Dawson, eu sei muito bem as besteiras que você
tem  falado  sobre  mim  –  ele  disse,  dando  mais  um  passo  na  minha  direção  –  O
Langdon me conta tudo sobre vocês, cada detalhe, cada palavra de cada conversa, e
eu não gostei nada de saber que você anda colocando as garrinhas de fora. 
­ Garrinhas de fora? Eu? Tem certeza de que essa fala não era pra ser minha? – eu
reclamei,  inconformada,  com  a  testa  franzida  e  a  voz  um  pouco  mais  alta  –  Se
alguém aqui anda aprontando alguma, esse alguém é você! 
­ Não sei se você sabe, mas é muito feio acusar alguém sem provas – ele falou, com a
expressão carregada e um olhar irritado – Então eu acho melhor você ficar quietinha
no seu canto se não quiser arcar com as conseqüências. 
­  E  que  conseqüências  seriam  essas?  Por  acaso  você  tem  provas  contra  mim?  –
perguntei,  erguendo  as  sobrancelhas  num  tom  intimidador,  e  como  ele  não  disse
nada, deixei todo o ódio reprimido transbordar – Na primeira tentativa de aprontar
qualquer coisa, Jones, eu simplesmente entro naquela porcaria de diretoria e conto
tudo  que  você  já  me  fez,  e  que  se  danem  as  provas.  Acho  que  a  diretora  não  vai
gostar nada de saber das suas estripulias, e aí vai ser a palavra de uma aluna indefesa
contra  a  de  um  professor  com  fama  de  pedófilo.  Mesmo  que  não  te  expulsem
daquela espelunca, sua imagem de bom moço não vai durar muito tempo. 
Daniel ficou me encarando por alguns segundos, e eu senti em seu olhar ameaçador
que tinha conseguido o que queria: deixá­lo furioso. Após longos segundos com o
maxilar tenso, ele finalmente murmurou, cheio de raiva: 
­ Pode me ferrar, mas pode ter certeza de que eu levo seu querido Langdon comigo. 
Engoli  em  seco.  Não,  ele  não  teria  como  incriminar  Brii,  tomávamos  todas  as
precauções possíveis e imagináveis. Definitivamente ele estava blefando. 
­ Sabe o que eu acho? – perguntei, com um sorrisinho debochado e as sobrancelhas
erguidas em tom de superioridade – Que você tem inveja do Langdon. 
O professor Jones fez cara de incredulidade, como se Brii fosse um merda, o que só
me fez continuar: 
­ É isso mesmo, você se morde de inveja dele. E sabe por quê? Porque você nunca
foi,  não  é  e  nunca  vai  ser  nem  metade  do  homem  que  ele  é.  E  por  ser  tão  mais
homem  que  você,  ele  não  precisou  nem  suar  pra  conseguir  a  garota  que  você
sempre quis, mas nunca teve decência suficiente pra conseguir. 
Como eu previa, Daniel ficou com cara de nada, enquanto eu sorria maleficamente.
Ele realmente era um tosco, era fácil demais deixá­lo sem resposta. Pra não ter que
ficar aturando aquele bosta nem o documentário insuportável que passava dentro da
sala, dei um passo em direção ao banheiro, mas assim que o fiz, senti sua mão firme
envolver meu braço e me puxar devagar em sua direção até sua respiração bater em
meu ouvido. 
­ Você vai se arrepender de ter dito isso. 
Ergui meu olhar até o dele, desdenhosa, e ele me soltou violentamente. Daniel deu
meia volta e entrou novamente na sala, me deixando trêmula de ódio. Até quando
eu teria que agüentar as ameaças daquele idiota? 

Uma  da  tarde.  A  chuva  tinha  apertado  ainda  mais,  e  apesar  das  galochas  que  o
pessoal  da  reserva  tinha  nos  emprestado,  a  sensação  de  meus  pés  afundando  na
terra  ensopada  era  a  mais  nojenta  possível.  Cada  passo  exigia  um  esforço
considerável  pra  não  afundar  naquela  papa  marrom  na  qual  o  chão  tinha  se
transformado.  Quando  meu  estômago  nervoso  já  começava  a  dar  fracos  sinais  de
fome, os guias nos encaminharam até o grande refeitório que havia na reserva, onde
um almoço quase decente nos esperava. Comi um pouquinho de qualquer coisa, só
pra não acabar desmaiando naquele chão pastoso, e logo voltamos a explorar aquela
selva domada. Tudo que o guia explicava sobre as espécies de plantas e animais que
encontrávamos eu já sabia, só nunca tinha visto exemplares vivos de alguns deles, o
que  não  me  interessava  muito  no  momento.  Por  que  eu  paguei  para  vir  a  essa
excursão  mesmo?  Ah,  sim,  porque  um  certo  professor  estava  escalado  para  me
acompanhar  e  eu  definitivamente  pretendia  passar  meu  dia  inteiro  com  ele,  e  não
com  o  palerma  que  o  substituiu.  Beleza,  tudo  estava  indo  de  vento  em  popa  na

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 39/106
12/04/2015 Biology

minha vida. 
Enquanto caminhávamos por uma das vias de terra entre as árvores, eu, enjoada de
ver tanto verde e marrom ao meu redor, acabei ficando entre as últimas pessoas do
grupo, um pouco mais distante do guia e de sua voz irritante. Minha cabeça já estava
doendo  o  suficiente  com  aquele  cheiro  insuportavelmente  forte  de  terra  e  as
preocupações  que  atordoavam  minha  mente,  obrigada.  Observando  vagamente  a
vegetação ao meu redor, encontrei um pássaro lindo pousado sobre um galho, e um
sorriso fraco surgiu em meu rosto sem que eu percebesse. Suas cores vibrantes não
conseguiam camuflá­lo em meio às folhas da árvore onde estava pousado, e apesar
da  chuva  fina,  resolvi  pegar  meu  celular  na  bolsa  para  fotografá­lo.  Como  se  lesse
minha  mente,  a  ave  ficou  paralisada,  e  somente  após  umas  três  fotos,  o  animal
finalmente  levantou  vôo.  Seria  interessante  mostrar  pra  Brii  o  quão  lindo  aquele
pássaro era, caso ele não tivesse tido a oportunidade de vê­lo quando veio. Isso se
eu  voltasse  a  ter  uma  relação  normal  com  ele,  o  que  eu  pretendia  conseguir  em
breve. 
Quando fui guardar meu celular irritantemente sem sinal num dos bolsos externos da
mochila,  percebi  que  meu  chaveiro  tinha  sumido.  Quem  tinha  me  dado  aquele
chaveiro tinha sido minha avó, que já tinha falecido. Era uma bailarina linda com uma
perna  flexionada,  e  os  pés  firmemente  curvados,  numa  ponta  perfeita  e  postura
igualmente correta. Aquele chaveiro sempre tinha sido meu xodó, mesmo antes da
morte da vovó, e depois mais ainda. Me lembro bem de tê­lo visto quando peguei o
celular  pra  ver  as  horas  no  almoço,  e  agora  ele  não  estava  mais  lá.  Ou  seja,  eu  o
tinha perdido pelo caminho. E eu não pretendia ir embora daquela reserva sem ele. 
Dei meia volta, vasculhando aquele chão semi líquido em busca de algo rosa claro,
mas não achei nada por perto. Alguns passos depois e ainda assim nada. Olhei pra
trás  e  pude  ver  o  grupo,  distante,  mas  ainda  visível,  se  afastando  lentamente.
Tranqüila  quanto  a  não  me  perder,  continuei  caminhando  devagar  na  direção
oposta, preocupada com meu chaveiro, até olhar para trás outra vez um tempinho
depois  e  ver  que  o  grupo  tinha  sumido.  Legal,  eles  deviam  ter  virado  em  alguma
curva  sem  que  eu  visse.  Sem  a  menor  intenção  de  me  perder  naquela
pseudofloresta, mas sem a menor intenção de deixar meu chaveiro pra trás também,
hesitei por alguns segundos antes de voltar a seguir o grupo. Achando­os, seria só
uma questão de convencer alguém a me ajudar na busca pelo chaveiro. 
Caminhei  rapidamente  na  direção  da  minha  turma,  e  logo  pude  ouvir  a  voz  não
muito  distante  do  guia.  Virei  numa  curva  um  pouco  a  frente,  desatenta  por  ainda
vasculhar o chão, e só deu tempo de frear bruscamente quando vi uma pessoa muito
próxima vindo na direção oposta. Caraca, ele realmente estava me perseguindo. 
­  Eu  falei  pra  não  se  afastar  do  grupo  –  o  professor  Jones  rosnou  entre  dentes,
recuperando­se rapidamente da quase trombada – Dá pra fazer esse favor? 
­ Eu perdi meu chaveiro – falei, encarando minhas galochas sem a mínima intenção
de olhar pra ele, a pessoa menos adequada para me ajudar. 
­ E eu com isso? – ele perguntou, e eu pude ver aquela típica expressão de deboche
em seu rosto – Compra outro. 
­  Não  dá,  tem  que  ser  aquele  –  exclamei,  assim  que  ele  fez  menção  de  me  dar  as
costas e sair andando, e o vi voltar a me encarar, entediado – Tem valor sentimental.
O sr. Jones virou seu corpo totalmente na minha direção, e apenas me encarou por
alguns segundos com os olhos brilhando de desdenho. 
­ Mil perdões, eu não sou o Langdon – ele sussurrou, cínico – E eu não dou a mínima
pros seus sentimentos. 
Ergui meu olhar pra ele, sem saber direito que cara fiz. Só sei que não deve ter sido
das melhores, porque um sorrisinho vitorioso surgiu em seu rosto antes que ele se
virasse e começasse a caminhar na direção do grupo. Lancei um olhar triste pra trás,
tentando me conformar com a perda do chaveiro, e segui a mesma direção que ele,
sem ousar olhar na cara daquele cretino. Meu dia estava sendo realmente ótimo. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 40/106
12/04/2015 Biology

Capítulo 07

Cinco e quarenta e dois. Esse era o horário que meu celular marcava quando pisei no
Starbucks, já de volta a Londres. Geralmente após as excursões, a turma era levada
até lá pra tomar um lanche e relaxar um pouco após um dia de aprendizado fora da
escola. Meu momento de relaxar baseou­se em ficar sentada numa das mesas mais
isoladas de todos, com um frapuccino que minha garganta não queria engolir entre
meus dedos gelados e a cabeça pesada. Meu dia tinha sido um lixo, um dos piores da
minha vida, sem dúvida. 
Encarando a paisagem cinza e chuvosa que havia do lado de fora pela janela de vidro
ao  meu  lado,  eu  brincava  com  o  canudo  do  milkshake  praticamente  intocado,
sentindo  um  mau  humor  gigante  urrando  dentro  de  mim.  Meu  estômago
demonstrava fome, mas eu não tinha vontade nem capacidade de comer ou beber
alguma  coisa.  Com  um  cotovelo  apoiado  na  mesa  e  a  cabeça  apoiada  na  mão,
enquanto a outra se distraía com o copo, eu mantinha meu maxilar tenso, sem nem
notar o ser que se aproximava devagar. 
Vi  alguém  se  sentar  na  cadeira  à  minha  frente,  e  sem  nem  precisar  mover  meus
globos oculares, reconheci o indivíduo como sendo Daniel Jones. Falta de sexo dava
em perseguição desesperada, só podia ser. Sem dizer nada, ele ficou me encarando,
com  as  mãos  no  colo  e  um  sorrisinho  insuportável.  Incomodada  com  a  presença
dele, desviei meu olhar dos pingos de chuva que escorriam pelo vidro da janela até
encontrar o dele. 
­  Perdeu  alguma  coisa?  –  resmunguei,  sem  mexer  mais  nada  além  dos  meus
músculos faciais. Daniel continuou com seu sorrisinho divertido antes de erguer uma
de suas mãos sobre a mesa, fechada num punho, e responder: 
­ Eu não, mas eu acho que você sim. 
Franzi a testa, sem nem tentar entender, e ele abriu a mão, deixando uma coisa rosa
clara  pender  de  uma  pequena  corrente  prateada  entre  seus  dedos  polegar  e
indicador unidos. O meu chaveiro. 
Senti  meus  olhos  se  arregalarem  e  meu  queixo  cair  na  hora  em  que  vi  a  bailarina
balançando de leve bem na minha frente. Imediatamente, arranquei­a da mão dele,
segurando­a com firmeza enquanto a observava por alguns segundos, e logo depois
a coloquei dentro da bolsa. 
­  Quer  dizer  que  ela  estava  com  você  desde  o  começo  –  murmurei,  morrendo  de
raiva, quando voltei a encará­lo – Por que você não me devolveu assim que soube de
quem era? 
­ Sua criatividade me comove, Dawson – ele disse, rindo da minha cara – Pra que eu
ia querer ficar com o seu chaveiro? Foi o Hammings que o encontrou e só me deu
agora, por isso eu vim devolver. 
Continuei  encarando­o,  sem  saber  se  acreditava  ou  não.  Preferi  não  ocupar  minha
mente com aquele assunto, já estava tudo resolvido, meu chaveiro estava comigo de
novo e eu pouco me importava se ele estava dizendo a verdade ou não. Ele era um
imbecil de marca maior e estar sendo sincero não o faria menos desprezível. 
­ Obrigada, se era isso que você queria – resmunguei, grossa, voltando a encarar a
paisagem  lá  fora.  Que  estado  calamitoso  eu  havia  atingido,  era  capaz  até  de
agradecê­lo pra vê­lo longe de mim. 
­  Eu  quero  bem  mais  de  você  –  ouvi  o  professor  Jones  murmurar,  com  os  olhos
cravados em mim – Sei que minha vez vai chegar, e tenho paciência pra esperar. 
Sem dizer mais nada, ele se levantou e voltou a se sentar em sua mesa junto com o
professor  Hammings,  finalmente  me  deixando  sozinha  com  meus  pensamentos,  e
com um ódio cada vez maior dele. Se antes daquela excursão eu já estava decidida a
contar tudo sobre o Jones pra Brii, agora eu não perderia a chance de fazê­lo o mais
breve possível. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 41/106
12/04/2015 Biology

­ Mãe, cadê você? 
Seis horas e cinqüenta e três minutos. Eu estava parada na porta da escola, quase
congelando de frio, falando com minha querida e pontual mãe ao celular. Por que
raios ela não estava parada na frente do colégio pra me levar pra casa se a porcaria
da excursão estava prevista pra acabar às seis e meia? Quase meia hora de atraso,
bem típico de mamãe mesmo. 
­  Desculpe  o  atraso,  filha,  acabei  cochilando  e  perdi  a  hora  –  ela  respondeu,
parecendo  um  tanto  afobada  do  outro  lado  da  linha  –  Já  estou  indo  te  buscar,
querida, não demoro. 
­ Não demore mesmo, por favor – murmurei, ao ver que não havia mais sombra de
nenhum  aluno  na  porta  da  escola.  Fechei  o  slide  do  celular  lentamente,  com  frio
demais pra me mover mais rápido que aquilo. Depois de toda aquela chuvinha fraca
irritante e incessante, veio um frio que ninguém estava esperando, acompanhado de
uma escuridão precoce que dava a impressão de que já eram nove da noite. Todos
deixaram  o  ônibus  encolhidos  e  buscando  o  ambiente  agradável  de  dentro  dos
carros dos pais. Só eu tinha que me conformar com mais alguns minutos de espera,
sentindo a ponta de meus dedos dos pés e das mãos perderem a sensibilidade, meu
nariz ficar gelado e ver minha respiração virar fumaça assim que entrava em contato
com o ambiente. Legal, mãe, obrigada por se lembrar de mim. 
Distraída  com  os  poucos  carros  que  passavam  pela  rua,  nem  percebi  quando  uma
pessoa se aproximou de mim, e assim que notei sua presença, ergui meu olhar até o
dela. 
­ Oi, gatinha – um garoto que eu não fazia a idéia de quem era disse, com um sorriso
nada agradável no rosto e me olhando de cima a baixo. Ele devia ter uns 19 anos,
alto,  magro  e  com  dentes  muito  amarelos.  Usava  um  conjunto  de  moletom  azul
marinho  que  parecia  ser  três  vezes  maior  que  ele,  tênis  de  basquete  e  uma  touca
cinza que fazia sua cabeça parecer deformada, junto com uma barba por fazer que só
aumentava a impressão de sujo que o bafo de cerveja já o dava. 
Engoli em seco novamente, sentindo meu coração acelerar e a boca secar. Droga, ele
ia me roubar. Olhei em volta, e tudo que vi foi o sr. Hammings arrancando com seu
carro  sem  nem  notar  minha  existência.  Busquei  desesperadamente  algum  sinal  de
vida naquela rua fora nós dois, mas não encontrei. Legal, eu estava definitivamente
sozinha com aquele cara estranho enquanto minha mãe não chegasse. Fechei minha
mão  discretamente,  tentando  esconder  meu  celular,  o  que  foi  em  vão,  já  que  ele
logo olhou naquela direção e aumentou seu sorriso pervertido. 
­ Que foi, tá com medo, gata? – ele riu, voltando a me encarar com a voz arrastada
de quem tinha tomado um belo porre – Fica com medinho não, o papai aqui não vai
te fazer mal. 
Dei um passo pra trás na direção da porta da escola, tentando não demonstrar meu
medo, mas o garoto me acompanhou, dando um passo na minha direção ao mesmo
tempo. Que merda, eu não queria ser assaltada, muito menos estuprada, hipótese
que me amedrontava mais que qualquer coisa só pelo simples fato de pensar nela. 
­ Eu não te conheço – falei, com a voz trêmula de medo – Vai embora, por favor. 
­ Não me conhece, mas pode conhecer – ele sorriu, dando mais um passo na minha
direção e ficando a uma distância muito desconfortável – Não vou deixar uma gata
dessas sozinha aqui a essa hora. 
­ Pode ficar tranqüilo, ela não tá sozinha – ouvi uma voz firme atrás de mim, e logo
depois um braço envolveu meus ombros com a mesma firmeza – Eu tô com ela, não
precisa se preocupar. 
Acho que nunca me senti tão bem por ter Daniel Jones por perto. O cara estranho
arregalou levemente os olhos ao vê­lo sair do colégio e se aproximar de mim, e seu
sorrisinho simplesmente desapareceu de seu rosto, dando lugar a um certo pânico. 
­  Ah...  Não  sabia  que  a  moça  tava  acompanhada  –  ele  balbuciou,  dando  discretos
passos pra trás. 
­ Pois é, mas agora sabe ­ o sr. Jones disse, sem perder a firmeza na voz – Pode ir
tomando seu rumo. 
Sem dizer mais nada, o garoto assentiu depressa, um pouco assustado pela atitude

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 42/106
12/04/2015 Biology

intimidante  do  sr.  Jones,  e  saiu  andando  sem  nem  olhar  pra  trás.  Continuei
paralisada  onde  estava,  seguindo­o  com  o  olhar  até  perdê­lo  de  vista,  e  só  então
consegui respirar novamente. 
­  Você  conhece  esse  rapaz?  –  Daniel  perguntou,  ainda  me  abraçando  firmemente.
Ergui  meu  olhar  até  ele,  que  estava  com  a  expressão  fechada  e  os  olhos  fixos  na
direção que o rapaz tomou, e respondi, inalando sem querer o perfume que eu tentei
evitar o dia inteiro: 
­ Nunca o vi na vida. 
Ele assentiu devagar e me olhou, sem mudar de expressão. Meu cérebro entrou em
conflito com meu coração assim que os traços do professor Jones,  mal  iluminados
pela luz fraca da rua, entraram no meu campo de visão, devido aos meus batimentos
cardíacos  subitamente  acelerados.  Eu  já  sabia  que  ele  era  bonito,  mas  talvez  a
gratidão por ele ter aparecido e afastado aquele cara o estavam tornando ainda mais
lindo naquele momento. 
­  Aqui  é  muito  perigoso  quando  escurece  –  ele  falou,  com  a  voz  de  um  pai  super
protetor dando sermão na filha – Cadê a sua mãe? 
­ J­já tá vindo – gaguejei, meio distraída com o rosto dele (me deixa, ele nunca tinha
feito aquela cara de preocupado pra mim antes, dá uma trégua) – O que o senhor
ainda tava fazendo aqui? 
­ Fui até o meu armário buscar uns relatórios que tenho que corrigir pra amanhã ­
ele respondeu, voltando a olhar pra rua com certa impaciência – Sabe se sua mãe vai
demorar? 
­ Ela já está no caminho, logo chega – eu disse, desviando meu olhar dele pra ponta
de meus tênis levemente sujos de terra. 
­  É  melhor  ela  não  demorar  mesmo,  tô  morrendo  de  frio  aqui  –  o  sr.  Jones
comentou, com as sobrancelhas erguidas num tom autoritário. Ergui meu olhar pra
ele  novamente  após  alguns  segundos  de  silêncio,  inconformada  com  a  capacidade
que ele tinha de ser desagradável em todos os momentos. 
­ Não pedi pra você ficar – falei, mesmo sabendo que era realmente perigoso ficar
sozinha ali àquela hora – Pode ir embora se quiser. 
Daniel soltou um risinho debochado e me olhou, parecendo indignado com a minha
resposta atravessada. 
­  Não  sei  por  que  eu  ainda  perco  meu  tempo  com  você,  Dawson  –  ele  riu,  sem
humor algum, e tirou seu braço dos meus ombros com certa violência. Me encolhi
um  pouco,  sentindo  o  vento  frio  voltar  a  soprar  na  região  onde  antes  o  casaco
quentinho  dele  cobria,  e  o  observei  se  afastar,  indo  em  direção  à  sua  moto,
estacionada perto de uma árvore que só deixava seu pneu dianteiro visível de onde
eu estava. Não acredito que ele estava mesmo indo embora. Cagão. 
Ele  colocou  o  capacete  pelo  caminho  e  não  demorou  a  arrancar  com  a  moto,
realmente me deixando sozinha naquela rua mal iluminada e fria. A simples hipótese
de  agradecê­lo  por  ter  afastado  aquele  marginal,  que  tinha  crescido  um  pouco,
tornou­se  totalmente  inaceitável  de  novo.  Idiota,  bunda  mole,  grosso,  sem
educação. Brii jamais me deixaria sozinha naquele lugar, tenho certeza. 
Só de pensar em Brii, soltei um suspiro chateado, fazendo uma grande quantidade
de  fumaça  sair  de  minha  boca.  Abracei  meu  próprio  corpo,  tentando  inutilmente
fazer aquele frio passar, mas isso seria impossível com apenas uma blusinha fina de
malha.  Encarei  a  rua,  desesperada  para  encontrar  minha  mãe,  e  assim  fiquei  por
alguns  minutos,  até  ver  os  faróis  do  Land  Rover  dela  surgirem  em  meio  à  quase
escuridão.  Suspirei  novamente,  aliviada,  e  assim  que  me  aproximei  da  rua,  vi  um
farol se acender bem ao meu lado, atrás daquela mesma árvore onde antes estava a
moto do sr. Jones. Olhei naquela direção, parando de andar ao reconhecer a mesma
moto  que  estava  estacionada  ali  há  minutos  atrás,  e  vi  um  homem  de  capacete
olhando pra mim, com seus olhos Azuis refletindo intensamente a luminosidade do
farol.  Franzi  a  testa,  sem  entender  por  que  ele  tinha  voltado,  e  cerrei  meus  olhos,
reprimindo com todas as minhas forças os batimentos novamente acelerados de meu
coração e continuando o caminho até o carro de mamãe. 
­  Desculpe  a  demora  de  novo  –  ouvi  minha  mãe  dizer,  enquanto  eu  entrava  no

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 43/106
12/04/2015 Biology

veículo e sentia o alívio da temperatura agradável do seu interior ­ Quem era aquele
na moto, querida? 
Olhei na direção da moto do sr. Jones, que arrancava novamente à nossa frente e se
afastava  depressa,  e  abaixei  meu  olhar  pra  colocar  o  cinto  de  segurança,
respondendo sua pergunta num murmúrio seco: 
­ Ninguém, mãe. 

­  Que  bom  ver  que  você  sobreviveu  aos  mosquitos­azeitona!  –  Kimberlly  riu,
estirando seus braços na minha direção assim que cheguei à escola no dia seguinte. 
­ Eu preferia ter que enfrentar mosquitos gigantes a passar pelo dia de ontem outra
vez – falei, rindo da minha própria desgraça ao retribuir o abraço carinhoso dela. 
­  Credo,  Amellie,  vira  essa  boca  pra  lá  –  ela  reclamou,  espalmando  uma  mão  em
minha bochecha e empurrando devagar meu rosto para o lado oposto como se fosse
um tapa, quando nos afastamos – Depois vira ela de volta pra cá e conta tudo. Como
é que foi ontem? 
Relatei  os  (deploráveis)  acontecimentos  do  dia  anterior  pra  Kimberlly  em  alguns
minutos, e assim que terminei de contar, ela não demonstrou reação, apenas fixou
seu olhar em algum ponto atrás de mim. 
­ Que foi, criatura? – perguntei, meio assustada, e me virei na direção de seu olhar.
Dei  de  cara  com  um  suéter  verde  musgo  se  aproximando  cada  vez  mais,  e  numa
fração de segundo, meu coração deu dois giros de 360 graus dentro do meu peito.
Tentei respirar à medida que nossos olhares se cruzaram e se fixaram um no outro,
mas  por  mais  esforço  que  eu  fizesse,  não  consegui  oxigenar  meus  pulmões.  Tudo
que fui capaz de fazer foi continuar encarando Brii, que se aproximava cada vez mais
com uma expressão tensa e olhinhos cansados, até me dar conta de que ele estava
parado na minha frente. 
­  Erm...  Bom  dia,  Macarenhas  –  ele  murmurou,  dirigindo­se  à  Kimberlly  com  um
sorrisinho nervoso, e abaixando mais ainda seu tom de voz quando se referiu a mim
­ Oi, Mell. 
­  Oi,  sr.  Langdon  –  falei,  sem  emoção  (só  aparentemente),  enquanto  Kim  apenas
sorriu fraco e respondeu seu cumprimento com um aceno de cabeça. Pude ver no
olhar de Brii que ele não tinha gostado muito do jeito pelo qual eu o chamei, mas
mantive a seriedade. Ainda não sabia onde estava pisando com ele, era melhor me
manter com um pé atrás. 
Sem  dizer  mais  nada,  Brii  apenas  me  entregou  um  pedaço  pequeno  de  papel
dobrado com o qual ele estava brincando apreensivamente desde que tinha pisado
na escola, e assim que eu o peguei de sua mão, recebi um sorriso fraco antes de vê­
lo se afastar em direção à sala dos professores. Fiquei observando­o entrar na sala,
com a expressão vazia, e se Kimberlly não tivesse me cutucado, acho que teria ficado
encarando a porta daquela sala pelo resto da vida. 
­  Tá  esperando  o  que  pra  ler  o  bilhete,  Amellie?  –  ela  sussurrou,  com  um  sorriso
empolgado, e eu desdobrei o pedaço de papel pautado que estava em minhas mãos.

Te vejo lá em casa mais tarde? xx 

O  sinal  tocou,  iniciando  mais  uma  sexta­feira  de  aula,  assim  que  eu  bati  os  olhos
naquela frase, e em questão de segundos um sorriso aliviado surgiu em meu rosto.
Sei lá, acho que as frustrações da excursão de ontem e tudo que vinha dando errado
na minha vida de uns dias pra cá estavam me deixando sufocada, e agora que existia
uma pontinha de esperança nadando contra a maré de azar, foi impossível controlar
o  alívio.  Ergui  meu  olhar  do  papel  para  Kimberlly,  que  ostentava  uma  expressão
boba e maravilhada, e meu sorriso se abriu ainda mais. 
­ Eu não falei que ele ia te chamar? – ela disse baixinho, e pela primeira vez em dois
dias  inteiros,  eu  consegui  rir  de  verdade.  Uma  sensação  de  leveza  percorria  meu
corpo, me fazendo querer rir e chorar ao mesmo tempo. Eu sabia que só porque ele
tinha me chamado pra ir à casa dele não significava que tudo estava bem entre nós
de novo, mas já era um começo, certo? 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 44/106
12/04/2015 Biology

Continuei sorrindo pra Kimberlly, que me abraçou de lado, e começamos a caminhar
lentamente até o portão de entrada da escola. Pelo visto hoje o dia seria um pouco
melhor do que os outros. Era tudo que eu queria e tudo que eu precisava. 

­ Você vai, certo? – Kimberlly perguntou, com o olhar perdido, enquanto ouvíamos
música no intervalo. 
­  Claro  que  vou,  tudo  que  eu  quero  é  acabar  com  isso  de  uma  vez  por  todas  –
respondi, observando um grupo de garotas do primeiro ano rirem escandalosamente
por algum motivo que eu não estava interessada em saber. 
­ E você vai contar tudo sobre o Jones também, certo? – ela disse, virando­se pra me
encarar  com  a  expressão  firme.  Assenti  devagar,  engolindo  em  seco,  mas  não
consegui segurar as dúvidas que ocupavam minha mente. 
­ Na verdade, eu não sei – falei, fechando os olhos e fazendo uma careta quando vi a
cara de pânico que ela fez – Quer dizer, se nós conversarmos e ficar tudo bem, não
vou nem querer lembrar que o Jones existe! 
Eu realmente não queria tocar no assunto Daniel Jones se tudo se acertasse como eu
esperava.  Ficar  falando  de  outro  homem,  ainda  mais  de  um  que  eu  odiava  e  era
melhor amigo dele, não era o que eu mais gostaria de fazer com Brii. Além do mais, o
Jones tinha me feito um grande favor ontem, mesmo que daquele seu jeito idiota
lifestyle, ou seja, parecia que ele estava tentando ser menos estúpido comigo depois
que percebeu que eu também podia ser uma ameaça a ele. Seria mais fácil continuar
a travar aquela briga por debaixo dos lençóis com o sr. Jones do que chutar o pau da
barraca  e  talvez  fazer  Brii  tomar  alguma  atitude  precipitada  ou  arriscada.  Eu
realmente  morria  de  medo  da  reação  dele  quando  descobrisse  a  verdade  sobre
Daniel. 
­  Amellie,  deixa  de  ser  idiota  pelo  menos  uma  vez  na  vida  e  me  escuta!  –  ela
exclamou,  até  desligando  o  iPod  pra  ser  ouvida  com  clareza  –  Até  quando  você
pretende  continuar  nessa  de  querer  fingir  que  o  Jones  não  existe  e  não  significa
perigo  pra  vocês  dois,  hein?  Porque  eu  não  sei  se  você  já  reparou,  mas  o  sr.
Langdon não age assim, e na primeira abobrinha que o Jones falar de você, tchau
romance perfeito! 
­ Eu sei, Kimberlly – suspirei, erguendo as sobrancelhas ainda de olhos fechados –
Repetir isso não vai adiantar nada, eu pensei nesse assunto durante aquela maldita
excursão inteira. 
­ É mesmo? Pois então perdeu seu tempo, porque se sabe o que tem que fazer e até
agora  não  tem  certeza  de  que  atitude  vai  tomar,  não  valeu  a  pena  pensar  tanto
assim – ela retrucou, desviando seu olhar do meu com irritação. 
Um  silêncio  meio  tenso  tomou  conta  de  nós,  quebrado  apenas  pela  música  que
Kimberlly voltou a colocar pra tocar no iPod. Nós duas observávamos as pessoas que
andavam pelo pátio do colégio, e poucos minutos depois, reconheci o sr. Langdon e
o sr. Jones saindo da sala dos professores juntos. Fixei meu olhar neles, assim como
Kimberlly,  e  vi  os  dois  caminharem  até  a  saída  da  escola  para  tomar  lanche  numa
padaria que ficava na esquina, como sempre, sem nem sequer notar nossa existência
ali  perto.  Pareciam  compenetrados  em  algum  assunto  sério,  pois  ambos  tinham  a
testa franzida e o olhar preocupado. Aquela preocupação que eu vi pela primeira vez
ontem nos olhos do sr. Jones, que deixava seus olhos ainda mais intensos. Tá, isso
não me interessa. 
­ Sabe de uma coisa? – Kimberlly disse, quando eles sumiram de nossa visão, e eu
me virei pra ela – Mesmo ele sendo o péssimo exemplo de ser humano que ele é, eu
ainda acho que você devia agradecê­lo por ter afastado aquele cara de você ontem. 
Voltei a olhar na direção da rua, soltando o trilhonésimo suspiro preocupado em três
dias. E sabe o que era o pior de tudo? Ela estava certa. Por mais cachorro que ele
fosse, eu não podia negar que devia agradecimentos a Daniel Jones. 

­ Belo relatório, Kristen. 
Final  da  última  aula.  Passei  pela  porta  do  laboratório  de  biologia,  sem  realmente
acreditar  no  que  estava  prestes  a  fazer.  Só  de  ouvir  aquela  voz  constantemente

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 45/106
12/04/2015 Biology

metida, já me dava vontade de dar meia volta e ir embora. Mas já era tarde demais,
eu já estava dentro do laboratório, parada ao lado de um dos três grandes balcões
que haviam lá, esperando até que a tal Kristen fosse embora. Quanto menos gente
soubesse  que  eu  tinha  qualquer  tipo  de  contato  com  Daniel Jones  fora  do  horário
das aulas, melhor. 
A tal garota deixou a classe com um sorrisinho malicioso, e me olhando de cima a
baixo ainda por cima, como se eu fosse como ela e topasse ir pra cama com aquele
cafajeste. Evitei olhar pra garota, sentindo que voaria no pescocinho dela se não me
controlasse, e logo ouvi a voz do sr. Jones dizer. 
­ Você por aqui, Dawson? A que devo a honra? 
Olhei pra ele, que estava sentado em sua cadeira organizando várias pilhas de papéis,
provavelmente relatórios, que estavam sobre sua mesa. 
­ Não acredito que eu vou realmente dizer isso, mas... Eu vim te agradecer pelo que
você fez por mim ontem depois da excursão – falei, decidindo ser direta e objetiva
pra gastar menos do meu tempo me humilhando pra ele. Daniel nem ergueu o olhar
dos relatórios, apenas sorriu maliciosamente e disse: 
­ Não precisava ficar sem graça, a maioria das garotas também costuma voltar pra
agradecer pelos grandes favores que eu faço por elas. 
Entendendo o verdadeiro sentido da palavra “favores” sem dificuldade, cerrei meus
olhos fixos nele, com uma expressão que ficava entre a incredulidade e o desprezo.
Que homem ridículo. Nunca senti tanta raiva de mim mesma por ter ido atrás dele.
Devia  ter  sido  tão  inescrupulosa  quanto  ele  e  simplesmente  ignorar  o  fato  de  que
uma vez na vida ele me fez um favor. 
­  Eu  realmente  não  sei  por  que  fiquei  surpresa  com  essa  resposta  –  eu  retruquei,
com um risinho inconformado no rosto – Só posso ser muito idiota mesmo. 
Dei meia volta pra ir embora, mas assim que dei um passo na direção da porta, ouvi
a voz de Daniel voltar a falar, com um inesperado toque de sinceridade. 
­ Foi muito educado da sua parte vir até aqui me agradecer, Dawson. Confesso que
você me surpreendeu... Mais uma vez. 
Me  virei  novamente  pra  ele,  e  um  certo  arrepio  percorreu  minha  espinha  quando
meu olhar encontrou o dele, tão intenso sobre mim. De um jeito diferente do que eu
tinha descoberto ontem. Ainda mais invasivo, imponente, vidrado, como se eu fosse
a única coisa que houvesse pra se olhar na vida dele. 
­  Por  que  você  voltou  ontem?  –  ouvi  minha  própria  voz  perguntar,  com  o  olhar
grudado no dele por alguma razão que eu não sabia explicar. Aquela dúvida estava
entalada  na  minha  garganta  desde  que  o  vi  novamente  estacionado  atrás  daquela
árvore, como se estivesse tomando conta de mim às escondidas. Os olhos de Daniel
continuaram fixos nos meus, ainda mais intensos que antes, até que um sorrisinho
de canto surgiu em seu rosto e ele respondeu: 
­ Curiosidade. 
Franzi a testa, sem entender, e ele explicou melhor: 
­ Queria saber se sua mãe era tão bonita quanto você. E pra falar a verdade, seu pai
é um homem de sorte. 
Cerrei novamente meus olhos, encarando­o sem acreditar no que tinha acabado de
ouvir.  Eu  sabia  que  ele  era  grosseiro,  mas  não  achei  que  fosse  capaz  de  usar
cantadas daquele tipo. Só havia um tipo de homem que podia usar cantadas como
aquelas  no  mundo:  homens  como  Brian  Langdon,  por  exemplo.  Caras  como  Brii
eram  capazes  de  transformar  cantadas  toscas  como  aquela  em  música  para  os
ouvidos de qualquer mulher apenas com seu olhar e jeito de falar. 
­ Eu quase achei que você tava conseguindo falar sério pela primeira vez na vida –
murmurei, olhando­o com uma decepção irônica – Mas me lembrei de que milagres
não acontecem. 
Pude  ver  o  sorriso  do  professor  Jones  se  alargar  um  pouquinho  com  a  minha
resposta,  realmente  achando  graça  do  que  eu  tinha  dito.  Me  virei  novamente  na
direção da porta, e deixei o laboratório, descendo rapidamente os lances de escada
rumo  à  saída  da  escola.  E  por  incrível  que  pareça,  eu  estava  rindo.  Uma  coisa  era
certa:  Daniel  Jones  pode  reunir  todos  os  defeitos  que  alguém  pode  ter,  mas  sem

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 46/106
12/04/2015 Biology

dúvida, ele sabia se divertir. E me divertir também. 

Capítulo 08

Respirei fundo, sentindo o aroma floral gostoso com o qual já estava acostumada.
Toda  vez  que  pisava  na  guarita  do  prédio  de  Brii,  o  cheiro  das  flores  do  jardim
invadia meus pulmões, geralmente fazendo um sorrisinho surgir em meu rosto. Mas
hoje eu estava preocupada, ansiosa demais pra sorrir. Assim que me viu, Andy abriu
a porta para mim, como em toda sexta­feira, e eu entrei, respirando fundo outra vez.
Trêmula, passei por ele, que me deu um sorrisinho amigável por detrás do balcão da
portaria, e subi pela escada, inquieta demais para esperar o elevador. Aquela poderia
ser a última vez que eu estaria naquele prédio. Meu estômago revirou de nervosismo
só de pensar. 
Assim  que  o  primeiro  andar  entrou  no  meu  campo  de  visão,  vi  Brii  me  esperando
com a porta de seu apartamento aberta. Minha garganta ficou totalmente seca assim
que seus olhos Castanhos me encararam. 
Me aproximei da porta, com a respiração discretamente ofegante, mas sem nenhuma
relação com os lances de escada que subi. Não soube como agir, até que ele abaixou
o  olhar  e  me  deu  espaço  para  passar.  Com  sérias  dificuldades  pra  respirar  de  tão
apreensiva, eu entrei e parei a alguns passos da porta, de costas pra ele, enquanto o
ouvia trancá­la. Tomando coragem, me virei em sua direção, e o observei encarar o
chão e prolongar aquele silêncio sepulcral por mais alguns segundos. 
­ Como você tá? – ouvi Brii murmurar, com um pouco de cuidado na voz, e quase
não soube responder, porque seu olhar se fixou no meu. 
­ Bem – respondi, com a voz falha, e pigarreei de leve para firmá­la – E você? 
­ Já estive melhor – ele falou, assentindo devagar e voltando a encarar os próprios
pés. Mais silêncio. 
­ Não quer se sentar? – ele disse, me olhando novamente após mais algum tempo
quieto, e indicou o sofá com um gesto de mão. Me sentindo uma visitante incômoda,
fiz que não com a cabeça e esbocei um sorriso cordial, evitando olhar em seus olhos.
Brii respirou fundo, colocando as mãos nos bolsos da bermuda bege, e perguntou,
com a voz baixa: 
­ Como foi a excursão? 
Soltei um discreto risinho miserável ao ouvir sua pergunta, me lembrando de todos
os péssimos momentos daquele dia. Nem que eu quisesse seria capaz de explicar o
quão torturante aquela excursão tinha sido. 
­ O que você acha? – murmurei, encarando meus tênis com a expressão vazia – Não
podia ter sido pior. 
Brii  abaixou  seu  olhar,  parecendo  um  pouco  culpado  pela  minha  resposta,  e  eu
continuei: 
­  Ter  que  passar  o  dia  inteiro  com  pessoas  que  eu  não  gosto  e  que  também  não
gostam de mim, quase perder o chaveiro que minha avó me deu de presente, e pra
encerrar com chave de ouro, quase ser assaltada enquanto esperava minha mãe ir
me buscar na escola. Grande dia, sem dúvida. 
­ O que? Você quase foi assaltada? – Brii repetiu, com a voz um pouco sobressaltada,
e eu pude ver seu rosto demonstrar preocupação – Como assim? 
Ergui meu olhar pra ele, e entortei a boca, balançando a cabeça negativamente. 
­ Não foi nada de mais – respondi, sem querer citar o momento em que o professor
Jones apareceu e expulsou aquele cara estranho – Minha mãe chegou bem na hora e
ficou tudo bem. 
Brii continuou me encarando, com o olhar meio aflito e a testa levemente franzida, e
eu  sustentei  seu  olhar,  séria  por  fora  e  desmoronando  por  dentro.  Tudo  que  eu
queria naquele momento era abraçá­lo, só isso já me faria um bem enorme. 
­  Eu  devia  ter  dado  um  jeito  de  ir  com  você  –  ele  disse  delicadamente,  como  se

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 47/106
12/04/2015 Biology

tentasse enxergar meus pensamentos através dos meus olhos – Evitaria muita dor
de cabeça. 
­ Pois é – suspirei, sentindo minhas entranhas se revirarem de ansiedade dentro de
mim ao ouvir seu tom de voz reconfortante. Se eu dissesse que estava lacrimejando,
seria muito ridículo? 
­ Talvez se eu tivesse ido com a sua turma, nós não estivéssemos agindo como dois
estranhos nesse exato momento – Brii murmurou, com os olhos cravados nos meus
de  um  jeito  tristonho  –  Tudo  isso  por  uma  discussão  que  já  não  tem  a  mínima
importância pra mim... Porque o que eu sinto por você é muito maior e mais especial
do que isso. 
Um sorriso tímido surgiu no meu rosto, derrubando duas lágrimas fujonas dos meus
olhos. Alívio era pouco perto do que eu estava sentindo. Ele sorriu fraco pra mim, e
toda  aquela  seriedade  que  existia  antes  sumiu  de  seus  olhos  instantaneamente,
voltando a mostrar o Brii maravilhoso que eu conhecia. O meu Brii. 
­  Me  desculpa  –  eu  falei,  com  a  voz  embargada,  e  cobri  meu  rosto  com  as  mãos,
sentindo vergonha de mim mesma por estar chorando. 
­ Esquece isso, já passou ­ ouvi sua voz preocupada murmurar, bem perto do meu
ouvido, me abraçando carinhosamente e me obrigando a inalar seu perfume viciante
– Eu senti tanta saudade de você... Não conseguia te tirar da cabeça por um minuto
sequer, me odiando por não ter simplesmente corrido atrás de você sem nem ligar
pro que os outros iam pensar. 
Àquela  altura,  eu  já  estava  totalmente  mole,  ainda  de  pé  somente  porque  ele  me
segurava.  Era  como  se  aquilo  fosse  um  sonho.  Brii  afundou  seu  rosto  em  meu
pescoço,  respirando  profundamente  meu  perfume,  e  me  deu  um  beijo  atrás  da
orelha,  provocando  arrepios  por  todo  o  meu  corpo.  Logo  depois,  suas  mãos
envolveram meu rosto e o ergueram até nossos olhares se encontrarem. Encostando
a ponta de seu nariz no meu, ele sussurrou, olhando fundo nos meus olhos com um
sorrisinho lindo: 
­ Eu te amo, minha pequena. 
Sorri  novamente,  fazendo  com  que  duas  últimas  lágrimas  teimosas,  que  ele  logo
enxugou com os polegares, rolassem pelo meu rosto. Passei minhas mãos ao redor
de  seu  pescoço,  com  o  sangue  formigando  dentro  das  veias,  e  venci  a  pouca
distância  que  separava  nossos  lábios.  Senti  Brii  sorrir  assim  que  nossas  línguas  se
encontraram, sem a menor pressa de se afastarem, e ele envolveu minha cintura com
seus  braços.  Deus,  como  era  bom  me  sentir  inteira  novamente.  Envolvi  seu  rosto
com  minhas  mãos,  matando  a  saudade  de  cada  centímetro  daquela  região,  e
embrenhei meus dedos em seus cabelos, que estavam arrumados demais pro meu
gosto.  Senti  meus  pés  saírem  do  chão  quando  Brii  me  levantou,  e  dobrei  minhas
pernas pra trás, partindo o beijo e afundando meu rosto em seu pescoço. Sorrindo
feito  uma  idiota,  aproveitei  a  proximidade  entre  minha  boca  e  seu  ouvido  para
sussurrar: 
­ Você sabe que eu também te amo... Não sabe? 
Brii  me  colocou  no  chão  novamente,  e  quando  voltamos  a  nos  encarar,  vi  que  ele
fingia pensar numa resposta, fazendo um biquinho fofo e olhando pra cima. 
­ Hm, não sei... Que tal refrescar a minha memória? 
Um sorrisinho danado surgiu em seu rosto, o que só me fez sorrir mais ainda. Quase
tinha me esquecido de como era bom estar com ele e de como ele me fazia rir com
uma facilidade impressionante. 
­  Pode  deixar  que  eu  te  faço  lembrar  direitinho,  Langdon  –  sussurrei,  com  meus
lábios  rentes  aos  dele  num  sorrisinho  esperto  e  um  olhar  intenso  em  seus  olhos
Castanhos radiantes. Brii colocou suas mãos em minha cintura e me puxou pra mais
perto  bruscamente,  me  beijando  na  mesma  hora  com  uma  vontade  assustadora.
Parecia que ele se lembrava muito bem, e estava mais do que disposto a me dar um
flashback. 
Suas mãos logo desceram mais um pouco, parando espalmadas em minha bunda, e
as  minhas  deslizaram  lentamente  pelo  seu  tórax  e  abdômen,  saboreando  cada
milímetro do trajeto. Brii continuou descendo uma de suas mãos até a minha coxa, e

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 48/106
12/04/2015 Biology

a puxou pra cima, fazendo meu joelho ficar na altura de seu quadril. Entendendo o
que  ele  queria  (me  carregar  pra  algum  lugar,  como  sempre),  eu  subi  novamente
minhas  mãos  até  seus  ombros  e  me  impulsionei  pra  cima,  envolvendo  sua  cintura
com minhas pernas. Agradecendo com gemidos baixos enquanto me beijava, ele deu
alguns  passos  às  cegas,  segurando  firme  em  minha  bunda  enquanto  eu  voltava  a
agarrar seus cabelos da nuca. Mais alguns passos adiante e eu estava sentada sobre
algo plano. Tateei a superfície, enroscando meus dedos em alguns fios inesperados, e
percebendo minha curiosidade, Brii partiu o beijo e disse, com a boca avermelhada e
um olhar meio enfezado: 
­ Quer fazer o favor de parar quieta? 
Olhei  pra  baixo,  e  me  vi  sentada  sobre  a  mesinha  do  telefone,  que  tinha  sido
empurrado pro lado e caído no sofá, deixando sobre a mesa apenas sua fiação. Ah,
tá, agora eu entendi. 
­  Foi  mal  –  murmurei,  sorrindo  sem  graça  pra  ele,  que  revirou  os  olhos  com  um
sorriso de canto e voltou a me beijar logo depois. Sem tempo a perder, enfiei minhas
mãos  por  debaixo  de  sua  blusa  branca,  tocando  sua  pele  quente,  e  as  deslizei  até
descobrir seu abdômen todo. Com uma das mãos, puxei­o pra mais perto pelo cós
da  bermuda,  e  ele  resolveu  tirar  a  blusa,  puxando­a  pra  cima  pela  parte  de  trás  e
jogando­a  longe  em  dois  segundos.  Assim  que  se  aproximou  novamente,  Brii
avançou  em  meu  pescoço,  dando  beijos  e  leves  chupões  pela  região.  Agarrei  com
mais  força  seus  cabelos,  enquanto  fincava  minhas  unhas  da  outra  mão  em  seus
ombros divinos. 
Ele continuou descendo seus beijos até meu colo e desabotoou um dos dois botões
da minha camiseta preta, que só serviam pra regular o decote. Beijou de leve o local
onde o botão cobria, e fez o mesmo com o segundo botão. Ele ergueu o olhar na
minha direção, sorrindo pervertidamente, e depois suas mãos foram até o fecho do
meu sutiã por baixo da blusa, levando­a junto. Tirei­a na mesma hora, com a ajuda
desnecessária dele, e assim que ela voou pra algum lugar, sua boca estava grudada
na  minha  novamente.  Já  bastante  ofegante,  eu  acariciava  seus  braços  e  peito,
sentindo  seus  dedinhos  ágeis  puxarem  as  alças  de  meu  sutiã  e  fazendo­as
escorregarem por meus ombros. 
Com  uma  mão  firme  envolvendo  sua  nuca  e  mantendo  seus  lábios  firmemente
colados nos meus, eu lutava contra o botão de sua bermuda, que não queria abrir de
jeito nenhum, com a outra mão. Pelo visto estávamos perdendo o jeito, porque Brii
também parecia estar com dificuldades com meu sutiã, mesmo usando as duas mãos
para tirá­lo, até que ele se irritou e me afastou de leve. 
­ Resolve o meu problema que eu resolvo o seu, pode ser? – ele ofegou, atordoado,
e  eu  assenti  na  hora,  tirando  o  sutiã  com  facilidade  enquanto  via  a  bermuda  dele
descer até alcançar o chão. Achando graça do momento complicado, voltamos a nos
beijar com um sorriso, e eu senti seu queridinho dar sinais empolgantes de vida mais
embaixo. Abracei seu pescoço com mais força enquanto ele apertava meus seios e
soltava alguns gemidos roucos, e passei a mordiscar e sugar o lóbulo de sua orelha
com vontade. 
Brii subiu uma de suas mãos até minha nuca, agarrando meus cabelos, e passou a
outra  por  debaixo  da  minha  coxa,  apertando  seu  interior  e  me  puxando  pra  mais
perto.  Desci  uma  de  minhas  mãos  até  encontrar  o  volume  que  procurava,  e  fiz
carinho de leve sobre a boxer, fazendo­o inspirar ruidosamente e buscar meus lábios
com urgência. Ele podia ser bem exigente quando provocado. Assim que voltamos a
nos beijar, sua mão contornou minha coxa, ficando sobre sua parte superior, e subiu
até  o  botão  da  minha  calça.  Sem  querer  romper  o  beijo,  mas  com  o  mesmo
problema de antes, ele tentava em vão abrir o botão, até que eu segurei suas mãos e
o ajudei, com vontade de rir por vê­lo tão destrambelhado. Obstáculos vencidos, não
demorou muito pra minha calça e calcinha estarem espalhadas pela sala. 
Deslizando suas mãos desde o meu joelho até meu quadril, Brii segurou meu rosto
com uma delas, embrenhando as pontas de seus dedos em meus cabelos por trás da
orelha,  e  com  a  outra  tocou  minha  intimidade  devagar.  Ele  me  beijou  na  mesma
hora,  só  pra  me  provocar  mais  ainda.  Igualmente  dedicado  a  me  beijar  e  a  mexer

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 49/106
12/04/2015 Biology

seus dedinhos mágicos, ele não demorou muito a me levar ao primeiro orgasmo do
dia,  sorrindo  orgulhosamente  depois  do  feito.  Incrível  como  ele  sabia  exatamente
onde investir pra me fazer pirar. 
Sentindo algumas mechas de cabelo grudarem em minhas costas por estar suada, eu
voltei  a  espalhar  beijos  por  seu  pescoço,  porque  hoje  aquela  área  parecia  estar
especialmente  perfumada.  Me  aproveitando  da  distração  dele,  minhas  mãos  foram
descendo  até  encontrarem  o  elástico  de  sua  boxer,  e  nem  preciso  dizer  que  ela  já
estava no chão em menos de dois segundos. Me afastei de seu pescoço e envolvi seu
membro  com  uma  mão,  mantendo  nossas  testas  unidas.  Comecei  a  masturbá­lo
rapidamente, sentindo Brii apertar minhas coxas com força e afundar seu rosto em
meu pescoço. Seus músculos do abdômen se contraíam enquanto eu acariciava sua
nuca com a mão livre e beijava seu ombro, que estava próximo da minha boca. A
respiração falha e quente dele no meu pescoço estava me arrepiando inteira, ainda
mais quando ele começou a gemer baixo bem ao pé do meu ouvido. 
Quando já estava nítido que ele se segurava pra não acabar com a festa, ele segurou
seu pênis, me fazendo soltá­lo, e abriu a gaveta da mesinha, tirando um preservativo
dela.  Ele  mesmo  colocou  a  camisinha  em  tempo  recorde,  considerando­se  que  eu
beijava  seu  pescoço  feito  uma  desvairada,  e  me  pegando  de  surpresa  por  sua
rapidez, me penetrou de uma vez só e com força. Soltei um gemido alto, que logo foi
abafado  pela  boca  dele,  e  finquei  minhas  unhas  em  seus  braços.  Brii  continuou
investindo rápida e furiosamente, gemendo contra meus lábios, e segurava firme em
minha cintura, me puxando pra si a cada investida. Estávamos realmente urrando,
suados  e  com  os  músculos  totalmente  tensos  de  prazer,  até  que  nossos  gemidos
foram  ficando  cada  vez  mais  cansados  e  ele  finalmente  gozou,  agüentando  até  eu
atingir meu segundo orgasmo. 
De olhos fechados e com a testa unida à dele, eu apenas tentava recuperar o fôlego
enquanto sentia sua respiração quente em meu rosto. Brii  acariciou  de  leve  minha
bochecha com uma mão, e eu abri os olhos, vendo um sorrisinho fofo surgir em seu
rosto. 
­  Na  mesinha  do  telefone,  Brii?  –  cochichei,  rindo  baixinho  e  mordendo  meu  lábio
inferior dormente, fazendo­o revelar seus olhos intensamente brilhantes – De novo? 
­ Me desculpe, vou tentar me esforçar mais pra chegar ao sofá nas próximas vezes –
ele  murmurou,  dando  uma  piscadinha  marota  e  me  dando  um  selinho  demorado
logo depois. É, acho que o dia ia ser bom. 

­ Brii, eu tenho que ir. 
­ Ah, Mell, só mais um pouquinho, vai. 
Estávamos deitados no sofá da sala, após uma tarde bastante, erm, empolgante. O
corpo de Brii estava sobre o meu, e suas mãos percorriam confortavelmente minhas
coxas, quadris e cintura enquanto nos beijávamos. Já estávamos há um bom tempo
ali,  a  ponto  de  deixá­lo  “alegre”  pela  milésima  vez  no  dia,  mas  eu  realmente  tinha
que ir embora. Não que eu quisesse, por mim ficaria o resto da vida dando uns belos
amassos  em  Brii,  mas  se  eu  não  chegasse  em  casa  logo,  minha  mãe  ficaria
desconfiada pela demora. 
­  Eu  tô  falando  sério  –  reforcei,  tentando  me  sentar  enquanto  minhas  mãos
empurravam inutilmente seu peito pra trás e ele beijava meu pescoço de um jeito
provocante – Eu preciso ir embora. 
Ele soltou um suspiro derrotado, apoiando a testa em meu ombro, e eu quase voltei
atrás, se ele já não estivesse de pé no segundo seguinte. 
­ Só você mesmo, Amellie – ele resmungou, de pé na minha frente enquanto eu me
sentava  pra  calçar  meus  tênis  –  Fica  me  atiçando  e  depois  me  dispensa?  Não  dá
certo. 
Olhei pra ele, mas meus olhos inevitavelmente se fixaram no volume que havia pelo
caminho, mais especificamente em sua bermuda. Como eu já estava acostumada a
vê­lo sem roupa, às vezes eu me esquecia de que aquilo podia chamar muita atenção
quando ele estava vestido... E muito bem provocado, claro. 
­  Pelo  amor  de  Deus,  Langdon,  hoje  você  não  pode  reclamar  de  carência  –  eu  ri,

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 50/106
12/04/2015 Biology

voltando  a  amarrar  meus  cadarços  com  um  sorriso  divertido  –  Já  liberamos
endorfinas suficientes pra uma semana só nessa tarde. 
­  Engraçadinha  –  Brii  falou,  com  a  voz  meio  frustrada/irritada  –  Já  vi  que  você
realmente vai me deixar assim, então eu vou me conformar e buscar meus tênis. 
­  Pra  que?  –  perguntei,  quando  o  vi  caminhar  na  direção  de  seu  quarto  –  Vai  me
levar até lá embaixo hoje? 
­ Você acha mesmo que eu vou te deixar ir andando sozinha a essa hora? – ouvi sua
voz exclamar lá de dentro, como se andar até a minha casa lá pelas 8 da noite fosse
um absurdo – Eu vou te levar! 
­ Claro que não, Brii! – neguei, ficando de pé quando terminei de calçar meus tênis e
seguindo­o  depois  –  Nem  pensar,  é  arriscado  demais!  Imagina  se  minha  mãe  ou
alguém conhecido nos vê? 
­ Não acho que ninguém vá nos ver, mas se acontecer, o que tem de mais nisso? –
ele  disse  enquanto  calçava  rapidamente  os  tênis,  como  se  nossa  relação  fosse
totalmente permitida – Um professor não pode dar uma carona pra uma aluna que
encontrou totalmente por acaso na rua? 
Revirei meus olhos, com um leve sorriso contrariado, e ele logo veio até mim com
uma expressão esperta. 
­ Se você insiste... – murmurei, encarando­o com o olhar derrotado. Ele sempre me
convencia,  sempre  me  fazia  ceder  ao  seu  jeito  seguro  e  despreocupado,  e  o  pior,
extremamente lindo. 
­ Sim, eu insisto – Brii retrucou, cerrando os olhos e franzindo rapidamente o nariz
antes de me dar um beijo demorado. Os minutos foram passando (aliás, voando), a
gente  continuou  se  beijando,  e  assim  que  ele  me  prensou  contra  a  parede  do
corredor, me dei conta de que aquilo estava durando demais e estava tomando um
rumo que não devia tomar. 
­  Desculpa,  eu  me  empolguei  um  pouquinho  –  ele  sussurrou,  abrindo  devagar  os
olhos  e  me  fazendo  sorrir  feito  uma  idiota  quando  eu  o  afastei  pelo  peito.  Mesmo
depois de quase dois meses juntos, ele ainda me fazia sorrir sem esforço. 
­ É, eu percebi, você tá que tá hoje – brinquei, lançando um breve olhar pro retorno
do  insistente  volume  em  sua  bermuda  antes  de  dar  as  costas  pra  um  Brii
desconcertado – Vamos? 
Descemos  as  escadas  rapidamente,  sem  esquecer  de  nos  despedirmos  de  Andy,  e
caminhamos até o carro de Brii, que estava estacionado bem em frente ao prédio.
Rezando  pra  ninguém  nos  ver,  entrei  no  carro  pela  porta  do  carona  enquanto  ele
fazia o mesmo do outro lado, com um sorriso insistente de quem estava levando a
namorada  (ou  sei  lá  o  que  eu  era  dele)  pra  casa  pela  primeira  vez.  Ele  lançou  um
olhar de dúvida pra ignição do carro e subitamente começou a tatear os bolsos da
bermuda, procurando alguma coisa. 
­ Droga – ele xingou, entortando a boca e desistindo de revirar seus bolsos – Esqueci
a chave. 
­ Não acredito – falei, revirando os olhos e rindo de um jeito apreensivo por estar
aparecendo com ele em público. Olhava pra todas as direções, preocupada com as
poucas pessoas que passavam pela rua e o que elas poderiam pensar. 
­ Viu o que você faz comigo? Me deixa todo desconcentrado – ele murmurou, com
sua típica cara brincalhona de insatisfação enquanto saía do carro – Já volto. 
Assim que Brii sumiu pela portaria do prédio, eu me deixei escorregar no assento do
carro,  praticamente  sumindo  de  vista.  Apesar  de  ter  olhado  pra  todos  os  lados
possíveis e não ter visto quase ninguém na rua, eu não queria correr o risco de ser
vista por gente demais, ou pelas pessoas erradas. 
Encarando vagamente a barra de minha blusa, com a qual eu brincava com a mesma
atenção, eu esperei, até ouvir leves batidas no vidro ao meu lado poucos segundos
depois. Pulei de susto com o barulho repentino, e senti todo o sangue do meu corpo
evaporar quando olhei na direção do som. 
Meu olhar se fixou nos olhos irritantemente verdes de Kelly Smithers do outro lado
do vidro, que sorria pra mim com seu cinismo cotidiano. Não sei descrever o que se
passava dentro de mim naquele momento, só sei que foi um dos piores sentimentos

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 51/106
12/04/2015 Biology

que eu já tive, como se tudo dentro de mim estivesse desmoronando. Ela não podia
estar ali, ela não podia ter me visto, ela simplesmente não podia. 
Quando  eu  pensei  que  ainda  havia  uma  chance  de  driblar  aquela  situação,  vi  que
havia  uma  meia  dúzia  de  garotas  igualmente  patricinhas  do  outro  lado  da  rua
cochichando e rindo entre si enquanto nos observavam, algumas até fotografando a
cena  com  a  câmera  de  seus  celulares  caríssimos.  Amigas  dela,  que  também  me
conheciam de vista porque estudavam no mesmo colégio. Maravilha, eu realmente
estava encurralada. 
­ Desce o vidro, quero falar com você – ouvi a voz de Kelly pedir, abafada pela porta
fechada  entre  nós.  Tentei  me  mexer  ou  fazer  algo  básico  como  respirar,  mas  não
deu.  Eu  estava  totalmente  paralisada,  dura  de  pavor.  Ela  era  só  fruto  da  minha
imaginação. Só podia ser. 
Levei  alguns  segundos  assimilando  a  situação,  e  como  Kelly  continuou  parada  do
meu lado e não sumiu como uma miragem normal, eu fiz a única coisa que podia
fazer:  abaixei  o  vidro,  com  o  olhar  trêmulo.  Já  era,  ferrou  tudo.  Ela  e  suas
amiguinhas  iam  mostrar  fotos  minhas  no  carro  de  Brii  pra  diretora,  ela  chamaria
minha  mãe  e  aí  minha  vida  estava  acabada.  Já  dava  até  pra  me  ver  mudando  de
escola e sendo tachada de piranha pro resto da vida. 
­  Ora,  ora,  vejam  só  o  que  temos  aqui  –  Kelly  sorriu  maleficamente,  apoiando
levemente um cotovelo no retrovisor do carro – Amellie Dawson no carro de Brian
Langdon... Por essa eu não esperava... Bom, talvez eu até já esperasse. 
O grupinho de garotas a la Gossip Girl do outro lado da rua começou a rir, e eu senti
meu sangue voltar às veias, concentrando­se especificamente em minhas bochechas
e  deixando­as  insuportavelmente  quentes,  chegando  até  a  confundir  meus
pensamentos. 
­  O  que  você  quer?  –  gaguejei,  meio  tonta  por  causa  da  pressão  enorme  que  eu
sentia  dentro  da  cabeça,  que  atendia  pelo  nome  de  pânico.  Vi  o  sorriso  de  Kelly
alargar, como se tivesse gostado da pergunta, e seu olhar maldoso se tornou ainda
mais intenso. 
­  Amanhã  eu  vou  dar  uma  festinha  na  minha  casa  –  ela  murmurou,  aproximando
mais  um  pouco  seu  rosto  do  meu  para  se  fazer  ouvir  –  Aparece  lá  e  a  gente
conversa. 
Ela voltou a se afastar, mexendo em sua bolsa, e de lá tirou um cartão em branco e
uma caneta. Anotou rapidamente seu endereço no papel retangular e me deu. 
­ Se eu fosse você, não deixava de ir – ela disse, piscando maliciosamente pra mim
enquanto se afastava e levava seu bandinho risonho consigo. Eu apenas a observei
se  afastar,  gargalhando  e  vendo  alguma  coisa  nos  celulares  das  amigas,
provavelmente  fotos  da  minha  cara  horrorizada.  Totalmente  confusa  e  assustada,
abaixei meu olhar pro cartão, onde a caligrafia redondinha de Kelly reluzia graças à
tinta cintilante da caneta gel rosa dela. Eu precisava achar uma maneira de contornar
aquela situação, e eu tinha cerca de 24h pra pensar numa boa proposta. 
Olhei  desanimadamente  na  direção  do  prédio  de  Brii,  e  o  vi  passar  depressa  pelo
balcão e rir de alguma coisa com Andy. Rapidamente escondi o cartão de Kelly no
bolso da calça, e assim que ele entrou no carro, forcei um sorrisinho simpático. Não
queria que ele soubesse desse inconveniente, não por enquanto. Ele colocou a chave
na ignição e me olhou, provavelmente notando meu jeito estranho. Não era preciso
muito tempo de convivência comigo pra saber classificar meu estado de humor. 
­ Que foi, Mell? – Brii murmurou, com a expressão e a voz levemente preocupada –
Você tá branca feito papel. 
­ Não foi nada – respondi, balançando negativamente a cabeça e me esforçando ao
máximo pra parecer normal – Eu só tô meio cansada... Acho que preciso dormir um
pouco. 
Ele continuou me encarando, com a testa franzida, e por um segundo pensei que ele
não cairia na minha mentira. Mas tudo que Brii fez foi dar de ombros e arrancar com
o carro, alheio a qualquer tipo de acontecimento perigoso. Como sempre. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 52/106
12/04/2015 Biology

Capítulo 09 

­ É aqui, mãe. 
Encarei dolorosamente a enorme e iluminada casa de Kelly assim que mamãe parou
o carro rente ao meio­fio. Eu estava com um vestido azul escuro xadrez que ia até os
joelhos, meus All Star azuis acinzentados de tão gastos e uma discreta bolsa preta,
vestida  até  demais  pra  uma  festa  na  mansão  dos  Smithers.  Casais  sem  roupa
aprontando pelos jardins era rotina em suas festinhas particulares, disso todo mundo
sabia. 
­  Qualquer  coisa  me  liga  que  eu  venho  te  buscar  ­  ouvi  mamãe  dizer,  ainda
desacostumada  à  idéia  de  me  ver  numa  festa  como  aquelas.  Ela  sabia  exatamente
que eu não gostava desse tipo de evento, mas concordou em me levar quando eu
fingi estar socialmente interessada naquela festa. 
Assenti devagar, tirando o cinto e saindo do carro. Caminhei determinadamente na
direção da porta da casa, ouvindo os batimentos acelerados de meu coração apesar
da música alta que se tornava cada vez mais ensurdecedora a cada passo. Eu sentia
medo pulsando em minhas veias, um medo indescritível de toda aquela situação. 
Toquei a campainha quando meus pés afundaram no tapete de boas vindas da casa,
e  logo  Kelly  abriu  a  porta,  revelando  uma  roupa  totalmente  promíscua.  Assim  que
me  viu,  o  mesmo  sorrisinho  maligno  do  dia  anterior  surgiu  em  seu  rosto,  e  umas
duas ou três garotas correram pra direções diferentes, provavelmente pra espalhar o
boato de que Amellie Dawson estava numa festa de Kelly Smithers. Torci pra que elas
não saíssem contando o motivo da minha presença também. 
­ Você veio mesmo ­ Kelly sorriu, erguendo as sobrancelhas em tom de surpresa ­
Pensei que não teria coragem. 
­  Vamos  logo  com  isso  ­  murmurei,  tentando  não  demonstrar  a  insegurança  que
urrava dentro de mim. 
Ela  me  deu  passagem  e  eu  entrei,  sentindo  instantaneamente  o  cheiro  de  cigarro,
suor e álcool que dominava o ambiente. Muitas pessoas dançavam pelos cômodos,
virando  copos  de  bebida  e  passando  as  mãos  onde  bem  entendessem  nos  corpos
alheios. Com toda aquela gritaria bagunçando minha mente, eu podia jurar ter visto
um  olhar  intrigado  conhecido  no  meio  de  várias  garotas  quando  meus  olhos
rapidamente percorreram o sofá da sala. Continuei seguindo Kelly até as escadas da
casa, onde já se podia caminhar normalmente, e rapidamente subimos para o andar
de  cima.  Ela  abriu  a  porta  de  um  dos  quartos,  interrompendo  os  amassos  de  um
casal, e não precisamos dizer nada pra que eles se tocassem e saíssem. 
­ Como você percebeu, eu tenho uma festa animada pra aproveitar lá embaixo ­ Kelly
sorriu, virando­se pra mim depois de fechar a porta do quarto atrás de nós ­ Então
não vou demorar muito com você. 
­ Eu não pretendia passar muito tempo aqui mesmo ­ falei, sem emoção na voz, e ela
ergueu uma sobrancelha, de um jeito que não me agradou muito. 
­  Ah,  mas  você  vai  ­  ela  disse,  cruzando  os  braços  e  sorrindo  zombeteiramente  da
minha  cara  ­  Se  realmente  quiser  manter  seu  caso  com  o  sr.  Langdon  escondido,
você ainda vai freqüentar várias das minhas festinhas. 
­ Como é que é? ­ perguntei, rindo nervosamente com o olhar irritado fixo nela ­ O
que exatamente você quer de mim, garota? 
­ Não vou pedir muito, vou até ser bem boazinha com você, só porque estudamos
juntas  desde  que  me  conheço  por  gente  ­  Kelly  respondeu,  como  se  estivesse
fazendo  um  ato  de  caridade  ­  Se  você  não  quiser  ver  suas  fotos  no  carro  do  sr.
Langdon  estampadas  na  primeira  página  do  jornal  da  escola,  terá  que  obedecer  a
duas condições. 
Ela fez uma pausa, só pra aproveitar mais um pouquinho a minha cara de enterro, e
continuou: 
­ Primeiro, você vai ter que concordar em me fazer alguns favores de vez em quando,
por exemplo, a minha lição de casa... E a das minhas amigas também, claro. Eu sei
que isso é bem pouco perto da seriedade do seu segredinho, mas eu disse que ia ser

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 53/106
12/04/2015 Biology

boazinha. 
­  E  a  outra  condição?  ­  rosnei,  tentando  ignorar  o  fato  de  que  teria  de  copiar  no
mínimo umas sete vezes as respostas gigantes dos exercícios do Hammings até achar
um jeito de me livrar daquela chantagem barata. Kelly soltou um risinho satisfeito,
apesar de seu olhar fulminante, e respondeu: 
­ Não ouse dirigir uma palavra ao Jones. 
Franzi a testa em tom de desprezo, e não pude evitar uma risadinha baixa. 
­ Peraí, deixa eu ver se entendi ­ falei, segurando uma gargalhada ­ Você quer que eu
faça a sua lição de casa e ignore o Jones em troca do seu silêncio? 
Mais  engraçada  do  que  aquela  situação  toda  foi  a  cara  de  tacho  da  Smithers,
totalmente sem resposta diante do meu divertimento. Nem pra chantagear alguém
ela prestava. Ignorar o Jones é algo que eu adoro fazer, só ela ainda não tinha se
tocado  disso.  Provavelmente  ela  sabia  da  cisma  dele  comigo,  e  estava  se
aproveitando daquela situação pra me manter longe dele e garantir sua atenção só
pra ela, coitadinha. 
­ Se quiser que eu piore, é só falar ­ ela resmungou, totalmente desmoralizada, e eu
engoli o riso. O assunto era sério, apesar do fracasso de Kelly como chantagista. 
­ Não, eu aceito essas condições ­ assenti, colocando as mãos nos bolsos do vestido ­
Bom, se for só isso, eu já vou indo. 
­ Mas já? Pra que a pressa? ­ Kelly perguntou, franzindo a testa do seu jeito cínico
sem tirar um sorrisinho de canto do rosto ­ Bebe alguma coisa, senta um pouquinho.
As meninas têm várias perguntas pra te fazer. 
­ Perguntas? ­ repeti, sem entender ­ Sobre o que? 
­ Oras, conquistar o professor mais desejado e intocado da escola não é motivo de
curiosidade?  ­  ela  sorriu,  encostando­se  na  porta  e  me  impedindo  de  sair.  Que
absurdo,  meu  Deus  do  céu.  Aquilo  só  podia  ser  uma  piada.  Como  ela  e  as
amiguinhas conseguiam ser tão putas? 
­ Você já conseguiu o que queria, agora me deixa ir embora ­ rosnei, quase dando
um soco na fuça dela. 
­ Acho que esqueci de te avisar que os favores que vai fazer pra mim começam hoje ­
ela  disse,  como  se  eu  tivesse  problemas  mentais  e  só  entendesse  as  palavras  se
fossem ditas numa velocidade mais lenta que a normal ­ E o primeiro deles é ficar até
o fim da festa. Quero ver como você se sai num ambiente completamente diferente
do  qual  você  tá  acostumada  a  ficar.  Talvez  não  seja  tão  divertido  pra  você,  mas
aposto que vou adorar a experiência. 
Pude  ver  minha  cara  de  perplexidade  refletida  nos  olhos  brilhantes  de  malícia  de
Kelly,  e  soltei  um  suspiro  derrotado  ao  pensar  no  que  estava  em  jogo  ali.  Minha
relação com Brii, minha felicidade estava em risco, era um segredo perigoso demais
pra arriscar uma rebeldia contra as condições dela. 
­ Que seja ­ murmurei, evitando encará­la e ver a alegria maldosa em seu rosto. Kelly
abriu a porta com um sorriso, finalmente me deixando sair, e eu a acompanhei até o
andar de baixo, sem acreditar na cilada na qual eu tinha acabado de cair. 
­  A  casa  é  sua,  querida  ­  Kelly  disse,  cínica,  quando  descemos  o  último  degrau  da
grande escadaria de mármore ­ Fique à vontade... Se conseguir. 
Soltei  um  suspiro  fúnebre  enquanto  me  encaminhava  pra  qualquer  lugar  daquela
mansão,  fazendo  questão  de  seguir  a  direção  oposta  à  de  Kelly.  Por  onde  eu
passava, via pessoas conhecidas da escola, e as poucas ainda sóbrias demonstravam
curiosidade por me ver naquele lugar. Encontrei um balcão onde um rapaz preparava
alguns  drinques,  e  resolvi  ficar  por  lá,  já  que  a  meia  dúzia  de  pessoas  sentadas  ali
pareciam estar bêbadas demais pra sequer se mexer. 
­ Cerveja, por favor ­ rosnei ao barman, com a garganta coçando por álcool. Se era
pra  encarar  aquele  martírio,  que  algo  me  ajudasse  a  passar  o  tempo  mais  rápido.
Não sei te dizer em quantas línguas diferentes eu xingava Kelly em pensamento por
me  manter  presa  naquela  festa  horrorosa.  Ela  sabia  muito  bem  que  eu  não
suportava ficar em lugares como aquele, e ainda me forçava a aturar aquele bando
de  gente  que  eu  já  odiava  quando  estavam  lúcidos,  e  conseguia  odiar  mais  ainda
quando estavam bêbados. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 54/106
12/04/2015 Biology

O barman logo me entregou uma latinha de cerveja, cuja metade do conteúdo eu
mandei  garganta  abaixo  de  uma  vez  só,  sem  hesitar.  Sentindo  o  líquido  gelado
descer  dentro  de  mim,  voltei  a  observar  a  bagunça  na  qual  aquela  casa  tinha  se
transformado. Nada parecia estar em seu lugar, ninguém parecia estar em seu juízo
perfeito... A não ser aqueles olhos. 
Franzi  a  testa  de  leve,  me  perguntando  se  aquilo  já  era  efeito  da  cerveja,  mas  era
impossível  com  apenas  um  gole.  Eu  ainda  podia  senti­la  descendo  pela  minha
garganta, eu ainda me sentia lúcida o suficiente pra saber bem o que estava vendo.
Aquilo  era  real,  ele  realmente  estava  ali,  a  poucos  metros,  me  encarando  como  se
soubesse que eu estava precisando de ajuda, como se soubesse que eu não estava
ali  por  vontade  própria.  Seu  olhar  estava  fincado  no  meu,  extremamente  sério,
intrigado,  preocupado.  Havia  muito  mais  coisas  naqueles  olhos  do  que  eu  podia
descrever, me prendendo, me imobilizando, me retraindo. 
Eu já devia imaginar que Daniel Jones estaria naquela festa. 
Não  sei  por  que  fiquei  tão  surpresa,  afinal,  ele  era  praticamente  fixo  da  Smithers,
todas as garotas de seu bandinho sabiam que ele era quase uma propriedade dela.
Mas parecia que naquela noite ele estava liberado de sua monogamia, porque três
garotas o rodeavam, uma mais descoberta que a outra. Daniel estava sentado num
sofá  perto  de  onde  eu  estava,  com  os  braços  abertos  e  apoiados  no  encosto  do
móvel, e tinha uma garota de cada lado seu, acariciando seu peito e sussurrando em
seu ouvido com sorrisos pervertidos. Fora a terceira, que tinha uma perna de cada
lado  de  seu  quadril  e  estava  sentada  em  seu  colo,  beijando­lhe  indecentemente  o
pescoço. Mas apesar de tudo aquilo, era em mim que seu olhar repousava, como se
tentasse descobrir o motivo de minha presença. 
Desviei meu olhar do dele, sentindo meu coração disparar. Não estava sendo nada
agradável  estar  sendo  observada  daquele  jeito  tão  invasivo  por  uma  pessoa  como
ele, o que só aumentava minha vontade de cometer suicídio por estar ali. Dei mais
um  grande  gole  na  minha  cerveja,  encarando  qualquer  ponto  ao  meu  redor  que
estivesse  distante  dele,  mas  meus  olhos  se  recusaram  a  me  obedecer  quando  o
professor  Jones  se  livrou  das  três  garotas  que  o  provocavam  e  caminhou
rapidamente na direção de Kelly, que passava por perto. Ele a segurou bruscamente
pelo  braço,  de  cara  fechada,  e  disse  algo  em  seu  ouvido,  pra  que  a  música
ensurdecedora  não  a  impedisse  de  ouvi­lo.  Afirmei  pra  mim  mesma  que  aquela
conversa  tensa  que  se  desenrolava  entre  os  dois  não  podia  ter  a  mínima  relação
comigo, mas ainda assim era impossível não observá­los. 
Pela  repentina  mudança  de  humor  de  Kelly,  a  conversa  não  estava  sendo  das
melhores. Daniel falava entusiasticamente em seu ouvido, gesticulando de leve com
uma  lata  de  cerveja  nas  mãos  e  com  a  testa  constantemente  franzida,  e  Kelly  o
respondia com incredulidade, com as mãos na cintura. Após um tempo de conversa,
ela, que estava de costas pra mim, virou o rosto na minha direção e me lançou um
olhar  fuzilante.  Daniel  simplesmente  disse  mais  algumas  palavras,  mantendo  a
expressão  séria,  e  se  afastou  rapidamente,  encolhendo  seus  ombros  largos  para
poder  passar  pela  multidão  desvairada.  Desviei  meu  olhar  do  dela,  engolindo
depressa o resto da minha cerveja, já sem tanta certeza de que aquilo não era sobre
mim. 
Os minutos foram se arrastando torturantemente, as cervejas foram descendo uma a
uma, e uns quarenta minutos depois, eu já tinha perdido a conta de quantas latinhas
tinha tomado. Tudo que eu sabia era que as coisas estavam meio confusas ao meu
redor.  As  pessoas  pareciam  se  mexer  em  flashes  de  imagens,  e  não  mais
continuamente,  os  sons  se  tornaram  um  pouco  mais  abafados,  mas  apesar  dos
sintomas  de  embriaguez,  eu  me  sentia  lúcida  o  suficiente  pra  ouvir  os  urros  de
depressão que ainda vinham de dentro de mim por ter que estar ali. Tomei um gole
da cerveja que tinha pedido, mas aquilo era como água pra mim agora, descia pela
minha  garganta  sem  fazer  a  menor  diferença.  Só  aquilo  de  álcool  não  estava
bastando pra abafar minha frustração. 
Resolvi  me  levantar,  com  uma  leve  vertigem,  e  caminhei  vagarosamente  pelas
pessoas, tentando não deixar que a música abafada por um zunido estranho em meu

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 55/106
12/04/2015 Biology

ouvido estourasse meus tímpanos. Não demorou muito e eu encontrei uma grande
passagem para outro cômodo bem mais vazio e silencioso: a cozinha. Pouquíssimas
pessoas  estavam  ali,  bebendo  tequila  com  limão  numa  rodinha,  entre  elas  um
menino de olhos verdes faiscantes e cabelos compridos queimados de sol. Assim que
avancei na direção de um armário, em busca de alguma bebida mais forte, notei que
seus olhos me acompanharam, brilhando de interesse. Bem que minha mãe dizia que
aquele vestido caía bem em mim. 
Soltei um suspiro frustrado ao ver que naquele armário só havia louças, e enquanto
fechava  suas  portas,  pensando  no  que  fazer,  senti  alguém  se  aproximar  de  mim,
trazendo um cheiro de praia consigo. Sorri disfarçadamente e me virei na direção da
pessoa, dando de cara com aquele mesmo menino. 
­ Tá procurando bebida? ­ ele perguntou, com um sorriso galanteador nos lábios, e
eu assenti devagar, me perdendo sem querer naquele verde intenso ­ Se gostar de
tequila, pode beber com a gente. 
Com um leve aceno de cabeça que fez sua franja bagunçada se mexer, ele indicou o
grupo de amigos, todos meninos e igualmente bronzeados. Ergui as sobrancelhas, e
por  fim  assenti  novamente.  Tudo  pela  tequila,  e  não  porque  o  garoto  de  olhos
verdes tinha um cheiro gostoso de protetor solar. 
Senti  o  garoto  me  puxar  pela  mão  até  seus  amigos,  e  sem  nem  fazer  questão  de
apresentá­los, me estendeu uma dose de tequila e um gomo de limão. Nunca tinha
tomado aquilo na vida, mas me esforcei ao máximo pra parecer experiente. Espremi
o limão em meu pulso, e sem demora virei o copinho de bebida, sugando o líquido
amargo em minha pele logo em seguida. Com os olhos fortemente fechados, senti
aquela coisa arder e queimar dentro de mim, arranhando tudo por onde passava e
formando lágrimas em meus olhos. Pelo menos o forte efeito da tequila me manteria
entretida  por  mais  algum  tempo,  ainda  mais  quando  acompanhada  de  um  par  de
belos olhos esmeralda. 
­  Mais  uma  pra  garota  aqui,  Jimmy  ­  ouvi  o  menino  pedir  a  um  de  seus  amigos,
quando abri os olhos e vi tudo embaçado ao meu redor. O garoto sorriu pra mim
antes de tomar sua dose, e sem querer eu também estava sorrindo, com mais um
copinho cheio de tequila numa mão e um gomo de limão na outra. 
De  repente  eu  me  sentia  leve.  As  coisas  já  não  me  preocupavam  mais,  a  pesada
responsabilidade sobre minhas costas tinha evaporado, e eu já nem me lembrava da
razão de estar naquela casa. Ninguém existia mais, só eu e os garotos estranhos que
riam  alto  e  falavam  besteiras  ao  meu  lado.  De  repente  tudo  era  extremamente
engraçado, de repente eu me vi rindo de qualquer coisa, mesmo quando não havia
motivo pra rir, com uma mão insistentemente apoiada no braço do garoto de olhos
verdes,  que  eu  descobri  que  se  chamava  Paul.  E  desse  mesmo  jeito  repentino,
estávamos nós dois sozinhos na cozinha: eu sentada sobre a bancada da pia, e ele
em pé ao meu lado, segurando vacilantemente a garrafa de tequila quase vazia entre
seus dedos. 
­ Eu já não te conheço de algum lugar? ­ ouvi ele perguntar, com a voz arrastada,
enquanto eu soltava mais uma de minhas risadas desconexas ­ Sério, eu acho que já
te vi uma vez. 
­ Ah, é? ­ falei, erguendo uma sobrancelha sem tirar o sorriso débil do rosto e com a
certeza inconsciente de que tinha bebido muito mais que o aconselhável ­ Onde? 
Paul chegou mais perto, aproximando sua boca de meu ouvido, e respondeu num
sussurro: 
­ Em algum dos meus sonhos. 
Soltei uma gargalhada alta e mais lerda que o normal, demonstrando que eu ainda
tinha senso do ridículo e não tinha deixado de achar graça de cantadas baratas. 
­ Então você deve estar sonhando agora, porque eu tenho certeza de que nunca te
vi  na  vida,  muito  menos  em  sonho  ­  respondi,  com  a  voz  levemente  ácida  de
desprezo ­ Além do mais, eu sou comprometida. 
­ Com quem? ­ ele insistiu com um sorrisinho tonto, me segurando pelo braço com
um pouco mais de força que o necessário quando eu fiz menção de me levantar ­
Quem sabe eu não conheço o sortudo? 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 56/106
12/04/2015 Biology

­ Tenho certeza de que você não o conhece ­ resmunguei, tentando me desvencilhar
dele, sem muito sucesso devido à minha fraqueza provocada pelo álcool ­ Agora solta
meu braço, tá me machucando. 
­ Relaxa, Amellie ­ Paul pediu, sem me soltar, e eu já estava começando a me sentir
realmente incomodada com aquele contato físico indesejado ­ Tá com medo de que
eu te force a fazer alguma coisa, é? 
­  Me  solta,  por  favor,  Paul  ­  implorei,  olhando  firmemente  em  seus  olhos  verdes
semi­abertos ­ Eu quero ir embora. 
­  Ir  embora?  Agora?  Mas  por  quê?  ­  ele  perguntou,  ficando  na  minha  frente  e
fazendo  pressão  com  seus  quadris  contra  meus  joelhos  fechados  pra  se  encaixar
entre minhas pernas ­ Logo agora que a gente ia começar a se conhecer melhor. 
­ Eu tô falando sério, me deixa sair daqui ­ falei, com a voz séria e um pouco mais
alta que o normal, e quando minhas mãos foram na direção de seus ombros para
afastá­lo de mim, suas mãos agarraram meus pulsos, praticamente me imobilizando,
e fazendo com que a garrafa que ele segurava se espatifasse no chão ­ Me solta! 
­ Pára de resistir, eu sei que você também quer ­ ele sussurrou, chegando com seu
rosto cada vez mais perto do meu apesar do meu recuo ­ Seu namorado não precisa
saber. 
Paul  soltou  meus  pulsos  e  num  milésimo  de  segundo  suas  duas  mãos  envolviam
minha  nuca  e  me  puxavam  na  direção  dele,  tornando  um  beijo  cada  vez  mais
inevitável. Fechei os olhos, empurrando­o inutilmente pelo peito, e foi então que eu
me  lembrei  do  ponto  fraco  dos  homens,  e  de  que  ele  estava  perfeitamente  ao
alcance dos meus joelhos. 
Sem  pensar  duas  vezes,  dei  uma  joelhada  caprichada  em  seus  “documentos”,
imediatamente  fazendo­o  cair  ajoelhado  na  minha  frente.  Desci  da  bancada  e
desesperadamente  saí  da  cozinha,  me  afastando  ao  máximo  daquele  cômodo.  Eu
sabia que não devia ter bebido tanto, era sensível demais a álcool. Pensei em explicar
minha  situação  à  Kelly  na  intenção  de  conseguir  ir  embora,  mas  tinha  certeza
absoluta de que ela faria questão de me entregar numa bandeja a Paul assim que
ficasse sabendo do acontecido. Cambaleando, acabei me trancando num cômodo do
andar de cima, e por sorte escolhi a porta certa: a do banheiro. 
Me  encarei  no  espelho,  e  soltei  um  suspiro  tenso.  Eu  estava  corada  por  causa  do
calor  e  da  adrenalina,  levemente  suada  e  um  pouco  descabelada.  Lavei  o  rosto
calmamente  com  a  água  fria,  ficando  um  pouco  mais  lúcida,  e  o  enxuguei  com  a
toalha de mão, pensando em um jeito de sair daquele inferno. Minha única saída era
tentar  convencer  Kelly  a  me  deixar  ir  embora,  e  determinada  a  fazer  isso,  respirei
fundo e abri a porta do banheiro, dando de cara com um garoto curvado e com cara
de dor que acabava de subir as escadas. 
­ Você! ­ Paul exclamou, andando depressa até mim com uma fúria repentina, e eu
voltei  pra  dentro  do  banheiro  na  hora.  Tentei  fechar  a  porta,  mas  ele  se  lançou
pesadamente contra ela, conseguindo entrar facilmente. 
­ Pelo amor de Deus, pára com isso, me deixa sair! ­ gritei, tremendo da cabeça aos
pés enquanto ele avançava na minha direção. 
­  Agora  você  vai  se  ver  comigo  ­  ele  rosnou,  totalmente  fora  de  si,  e  me  prendeu
violentamente  contra  a  parede,  forçando  um  beijo  doloroso  e  segurando  meus
pulsos  com  força.  Dessa  vez  eu  realmente  não  tinha  como  me  mexer,  estava
prensada entre seu corpo e o azulejo frio, e quanto mais eu me recusava a beijá­lo,
mais ele insistia. 
Mantive  meus  olhos  arregalados,  esperando  que  alguém  passasse  pelo  corredor  e
ouvisse meus gritos abafados, e logo vi uma sombra passar, sem conseguir ver quem
era.  O  grito  fino  que  não  encontrava  espaço  em  minha  boca  saía  pelo  meu  nariz,
ainda  mais  alto  agora  que  eu  sabia  que  havia  alguém  ali,  e  me  debati  com  mais
energia, até que subitamente o corpo de Paul não estava mais ali. Em um segundo,
ele tinha ido parar fora do banheiro, caído no chão com um baque surdo. Quando
finalmente assimilei o que tinha acontecido, vi que havia alguém me puxando pela
mão na direção do andar de baixo, e eu apenas segui, ofegante e apavorada demais
pra tomar conta de mim mesma. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 57/106
12/04/2015 Biology

As  imagens  se  passavam  como  fotos  em  minha  mente:  primeiro  Kelly  reclamando
vigorosamente  com  a  pessoa  que  me  guiava,  depois  a  porta  da  mansão  dos
Smithers se abrindo, a porta do carona de um carro que eu não conhecia aberta na
minha  frente,  e  por  último  eu  sentada  dentro  desse  mesmo  carro,  enquanto  a
pessoa  que  tinha  me  levado  até  lá  entrava  pela  porta  do  motorista.  Totalmente
desnorteada, franzi a testa quando vi quem estava sentado do meu lado. 
­ Você está bem? ­ Daniel perguntou, sem me olhar, enquanto colocava a chave na
ignição. Não respondi nada, apenas continuei observando aquela cena. Eu ainda não
acreditava que aquilo estava acontecendo, eu não acreditava que ele tinha realmente
feito  aquilo  tudo,  só  podia  ser  invenção  da  minha  cabeça.  Não  podia  ser  real,  não
fazia sentido ele ter me salvado. 
­  Amellie,  você  tá  me  ouvindo?  ­  ele  perguntou  novamente,  me  encarando  com
firmeza. Por um segundo, tudo ficou ainda mais confuso quando aqueles olhos Azuis
se  cravaram  nos  meus,  mas  depois  as  coisas  pareceram  voltar  um  pouco  ao  seu
lugar, e eu consegui responder. 
­ Tô ­ murmurei, sentindo meu coração extremamente acelerado. Daniel ficou alguns
segundos em silêncio, apenas me encarando, e logo depois voltou a olhar pra frente,
balançando negativamente a cabeça em tom de desaprovação. 
­ Você é doida de se meter num lugar desses ­ ele disse, cerrando os olhos por causa
do farol alto de um carro que passou por nós ­ As festas da Kelly são mais perigosas
do  que  parecem.  Elas  misturam  as  pessoas  erradas  e  as  desavisadas  no  mesmo
ambiente, fazem com que os desencaixados logo achem uma confusão da qual não
possam se livrar antes de se arrependerem. 
Ele  deu  uma  pausa,  enquanto  eu  mantinha  meus  olhos  bem  abertos  e  fixos  nele.
Como se quisesse reforçar mais ainda seu aviso, Daniel voltou a me encarar com uma
conclusão: 
­ Aquela casa não é lugar pra você. 
Sem esperar qualquer reação, ele arrancou com o carro, com a expressão fechada, e
logo  estávamos  nos  afastando  rapidamente  da  mansão.  Meus  olhos  teimavam  em
continuar  presos  a  ele,  tentando  entender  direito  os  últimos  minutos.  Por  que  ele
tinha  me  livrado  de  Paul?  Por  que  ele  discutiu  com  Kelly  antes  de  sairmos?  E  o
principal... 
­ Pra onde está me levando? ­ ouvi minha própria voz perguntar, fraca, e só então
senti que minha garganta ainda ardia pelo excesso de tequila. 
­ Eu pretendia te deixar na sua casa ­ Daniel respondeu, sem me olhar, e sem saber
por que, eu quis que ele o fizesse ­ Mas você é quem sabe onde prefere ficar. 
­  Na  minha  casa  está  ótimo  ­  concordei,  tentando  não  forçar  muito  minha  voz,  e
convenci meus olhos a se afastarem dele, pairando desatentamente sobre a barra de
meu vestido. Minha visão ficou embaçada subitamente, e em poucos segundos senti
lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Não sei por que comecei a chorar, talvez fosse
efeito  da  bebedeira  exagerada  e  todos  os  recentes  e  horríveis  acontecimentos.
Funguei  baixinho,  enxugando  discretamente  meu  rosto  com  as  costas  das  mãos  e
virei meu rosto pra janela do carro. 
As luzes da cidade passavam como borrões pela minha visão, e se tornaram imóveis
quando paramos num sinal vermelho. Mesmo sem poder vê­lo, senti seu olhar sobre
mim, mas não o correspondi. Estava com vergonha por estar chorando, eu odiava
chorar na frente dos outros, me sentia ridícula. 
­ Tem certeza de que está bem? ­ ele murmurou, e eu fechei os olhos na tentativa de
parar de chorar ­ Aquele garoto machucou você? 
Senti uma lágrima insistente rolar rapidamente e passar pelo canto de minha boca,
fazendo o local arder um pouco. Passei a ponta da língua ali e senti gosto de sangue,
mas  apenas  fiz  que  não  com  a  cabeça,  respondendo  à  sua  pergunta  com  um
sorrisinho miserável que ele não pôde ver. A ferida física mal podia ser comparada ao
trauma emocional que Paul tinha me causado naquela noite. 
­ Se você não tivesse aparecido, ele teria conseguido me machucar ­ falei baixinho, e
me virei lentamente em sua direção. Não sei por que, mas assim que meu olhar fraco
encontrou  o  dele,  sempre  tão  sólido,  eu  me  senti  segura.  Era  como  se  tudo

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 58/106
12/04/2015 Biology

realmente fosse ficar bem, eu não precisava mais ter medo. Por mais ameaçador que
eu  sabia  que  Daniel  podia  ser  quanto  à  minha  relação  com  Brii,  eu  também  o  via
como  uma  espécie  de  protetor  disfarçado,  sempre  nos  lugares  certos  e  nas  horas
certas pra me ajudar. Já era a segunda vez que ele me salvava de uma enrascada em
menos de uma semana. 
­ Talvez não ­ ele discordou, erguendo as sobrancelhas por um momento ­ Você tem
muita sorte, duvido que ele conseguisse. 
O sinal ficou verde e Daniel voltou a prestar atenção no trânsito. Abaixei meu olhar,
com uma minúscula sombra de um sorriso triste no rosto, e suspirei profundamente.
Aquele nem de longe parecia ser o mesmo Daniel que eu conhecia. 
­ A sorte passa reto por mim há algum tempo ­ eu disse, meio que pra mim mesma,
voltando a encarar meus joelhos com desânimo ­ Tudo que tem acontecido comigo
são desastres, um atrás do outro... Um pior que o outro. 
Daniel não disse nada, apenas continuou dirigindo com a expressão dura. Sucumbi
ao  peso  imaginário  de  minha  cabeça,  cuja  dor  eu  ignorava  há  um  bom  tempo,  e
deitei­a no encosto do banco, fechando os olhos por um segundo. 
E só voltei a abri­los quando a claridade do sol bateu em meu rosto, fazendo minha
visão  demorar  mais  ainda  a  entrar  em  foco.  Num  quarto  estranho,  numa  cama
estranha, e com uma voz conhecida. 
­ Bom dia, Dawson. 

Capítulo 10

Uma  dor  lancinante  dominou  minha  cabeça  por  completo  quando  meu  cérebro
finalmente se deu conta de que meus olhos estavam abertos. Voltei a fechá­los com
força, tentando fazer com que aquela dor passasse ou pelo menos diminuísse, mas
parecia  que  só  alguns  comprimidos  e  o  tempo  a  fariam  regredir  até  sumir
completamente. Maldita tequila. 
Me  sentei  na  cama,  com  uma  mão  do  lado  esquerdo  da  cabeça,  sentindo  meus
cabelos levemente úmidos, e abri o olho direito para me localizar. Definitivamente eu
nunca  estive  naquele  lugar  antes,  nunca  tinha  visto  aquelas  paredes  e  móveis
brancos, muito menos um quarto tão grande como o qual eu estava agora. Aquele
cômodo sozinho equivalia à metade da minha casa, e pelo extenso corredor que a
porta aberta revelava, o resto do apartamento era ainda maior. 
E  foi  só  então  que  eu  vi  a  pessoa  que  havia  me  cumprimentado  quando  acordei.
Apesar de estar sentada na ponta da cama gigante e bem no meio do meu campo de
visão,  eu  demorei  alguns  segundos  pra  vê­la,  e  mais  alguns  pra  finalmente
reconhecê­la. Os mesmos olhos que ontem me passavam segurança, hoje pareciam
cansados,  sonolentos,  e  ostentavam  leves  olheiras  arroxeadas  de  quem  tinha
passado quase a noite toda em claro. 
Abri o outro olho, já mais acostumada à claridade, e o encarei, tentando organizar
minha mente. O que eu estava fazendo naquele lugar estranho? Por que ele estava
ali? 
­  Pensei  que  não  fosse  acordar  mais  –  Daniel  murmurou  com  a  voz  reservada,
piscando lentamente e desviando seu olhar do meu. 
­ Que lugar é esse? – gaguejei com a testa franzida, sentindo minha voz falhar em
algumas sílabas – Você disse que ia me levar pra minha casa. 
­ E eu ia – ele confirmou, enquanto olhava na direção da janela, e um leve sorriso
divertido surgiu em seus lábios – Mas você dormiu antes de me dizer o endereço. 
Me lembrei rapidamente de alguns momentos da noite anterior. A festa de Kelly, as
doses  de  tequila,  a  brutalidade  de  Paul,  a  conversa  com  Daniel  no  carro...  Tudo
parecia  tão  vago,  tão  distante,  como  se  tivesse  sido  apenas  um  sonho  muito  real,
que eu me sentia estranha por ter passado por aqueles momentos de verdade. 
­ Então por que não me acordou? – perguntei, com a testa levemente franzida em

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 59/106
12/04/2015 Biology

um tom defensivo – Por que me deixou dormir? E que lugar é esse afinal? 
­  Você  sempre  acorda  assim,  disparando  perguntas?  –  ele  resmungou,  fechando
pesadamente os olhos e mantendo um esboço de sorriso no rosto. Ele podia estar
achando graça, mas eu não. 
­ Não, porque não costumo acordar num lugar totalmente estranho com uma pessoa
estranha me observando! – retruquei, irritada, e ele voltou a me encarar, novamente
daquele jeito firme apesar do cansaço aparente. 
­  Ontem  você  acabou  dormindo  no  carro,  e  eu  não  consegui  te  acordar  de  jeito
nenhum...  E  acredite,  eu  tentei  de  todas  as  maneiras  que  conheço  –  Daniel
respondeu, com um pouco de rispidez na voz ­ Como não sabia seu endereço, resolvi
te trazer pra minha casa, mas tô vendo que devia ter te deixado na rua mesmo. 
Meus  olhos  passaram  rapidamente  pelo  quarto,  analisando  novamente  todos  os
detalhes  e  ignorando  sua  brutalidade.  Então  aquele  era  o  apartamento  dele.  Olhei
pra baixo, e me vi enroscada num lençol, com roupas diferentes das que eu vestia
ontem. Quando finalmente a ficha caiu, soltei um grito horrorizado e me enrolei nas
cobertas, me cobrindo até o pescoço. 
Eu estava de roupas íntimas. Na casa do professor Jones. 
­  O  QUE  É  ISSO?  –  berrei,  em  pânico,  e  vi  que  Daniel  estava  com  os  olhos
arregalados e um pouco encolhido de susto – POR QUE EU NÃO ESTOU VESTIDA? 
­  Tá,  agora  você  tem  motivos  pra  disparar  perguntas  –  ele  respondeu,  se
endireitando novamente, meio sem jeito – Essa parte da história foi culpa minha. 
­ COMO É QUE É? – gritei, me abraçando firmemente – VOCÊ TIROU MINHA ROUPA
ENQUANTO EU TAVA DORMINDO? 
­  Eu  disse  que  tentei  de  várias  maneiras  te  acordar  ontem,  e  uma  das  minhas
tentativas foi te colocar debaixo do chuveiro gelado... O que não funcionou, pelo que
você  pode  perceber  –  ele  explicou,  um  tanto  encabulado  –  E  pra  isso,  eu  achei...
Conveniente tirar seu vestido. 
­ CONVENIENTE? COMO VOCÊ TIRA MEU VESTIDO SEM O MEU CONSENTIMENTO E
TEM A CORAGEM DE DIZER QUE ACHOU CONVENIENTE? – exclamei, sentindo a dor
de cabeça quase explodir meus miolos, mas com raiva demais pra me acalmar. 
­ Dá pra você falar baixo, por favor? – Daniel pediu, com a voz elevada e os olhos
fechados, acompanhados pela testa franzida de irritação – Se você tentasse ignorar
sua opinião sobre mim e não tirasse conclusões precipitadas sobre o que aconteceu
antes de me ouvir, as coisas seriam bem mais simples. 
Fiquei em silêncio, mas não porque ele pediu, mas pelo choque de estar nas minhas
condições físicas atuais. Ainda me abraçando, com os músculos tensos, eu esperei até
que ele voltasse a falar, encarando­o com raiva. 
­ Não vou dizer que não foi difícil pra mim resistir, porque foi. Eu sou homem, não
consigo evitar esse tipo de pensamento. Mas eu não fiz nada, acredite você ou não.
Acha que eu queria que você dormisse aqui? Acha que eu planejei isso, que eu fiz de
propósito pra poder dormir com você? Eu não sou santo, mas não me aproveito de
mulheres inconscientes pra conseguir o que quero. Não preciso disso. 
­ Você não espera que eu acredite nessa sua versão fajuta dos fatos, espera? Porque
sinceramente, eu não engoli uma palavra do que você disse – rosnei, com vontade
de sair correndo dali, mas pra isso, eu precisava do meu vestido – Eu jamais devia ter
aceitado entrar num carro com você, onde eu estava com a cabeça? 
Daniel desviou seu olhar do meu, olhando novamente pela janela com a expressão
derrotada. Ontem ele quase conseguiu me amolecer com sua atitude politicamente
correta,  mas  se  agora  ele  queria  o  mesmo  efeito,  teria  que  ir  muito  mais  além
daquela carinha de cachorro sem dono. 
­ Nada do que eu diga ou faça vai te fazer mudar de idéia, não é? – ele murmurou,
com os olhos cerrados pela claridade e a testa pesadamente franzida sobre eles – Eu
devia ter feito tudo errado, só pra poder me sentir devidamente culpado pelas suas
acusações. 
Sua voz estava carregada de frustração, demonstrando que ele estava num dos seus
raros momentos de sinceridade. Seus lábios estavam contraídos, seu maxilar estava
tenso, seus olhos estavam fixos em algum ponto lá fora, mas ainda assim eu podia

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 60/106
12/04/2015 Biology

enxergar ressentimento neles. E se ele realmente estivesse dizendo a verdade? Se ele
tinha sido capaz de fazer boas ações por mim, porque não acreditar em sua versão,
já que eu não estava consciente pra comprovar a minha? 
­ Onde está meu vestido? – falei baixo algum tempo depois, sem conseguir esconder
meus pensamentos conflituosos na voz e na expressão confusas. Daniel se levantou,
sem olhar pra mim, e novamente eu senti falta de seu contato visual. Ele era uma
pessoa  muito  misteriosa  pra  mim,  e  sempre  que  ele  me  olhava,  era  como  se  eu
pudesse lê­lo, decifrá­lo, entender o que ele estava pensando. Quando ele não me
olhava, eu ficava no escuro, sem saber onde estava pisando. Ele caminhou pra fora
do  quarto  e  sumiu  de  vista  por  alguns  segundos,  até  surgir  novamente  com  meu
vestido nas mãos. Sem nem se aproximar muito e ainda evitando meu olhar, ele o
deixou  sobre  a  beira  da  cama  e  saiu,  fechando  a  porta  atrás  de  si  pra  que  eu  me
trocasse. Como se ele já não tivesse me visto de calcinha e sutiã. 
Continuei  sentada  por  alguns  minutos,  encarando  os  lençóis  bagunçados  ao  meu
redor.  Meus  sentimentos  estavam  remexidos,  misturados,  fundidos  numa  grande
bola de neve. Ainda meio em transe, fiquei de pé e peguei meu vestido, colocando­o
facilmente.  Assim  que  o  tecido  deslizou  pelo  meu  rosto,  pude  sentir  o  perfume
masculino dele impregnado na roupa. Provavelmente ele tinha ido parar ali quando
Daniel me carregou até o apartamento ontem. 
Por  um  segundo,  imaginei  como  teria  sido  pra  ele  ter  me  visto  daquele  jeito.
Vulnerável, indefesa, desmaiada, totalmente sob o comando dele. Me lembrei do que
ele  tinha  dito  sobre  resistir  àquela  situação,  e  estremeci  de  medo.  Estranhamente,
não de medo dele, e sim pelo fato de não estar consciente e não ter noção do que se
passava  ao  meu  redor.  Eu  odiava  essa  sensação.  E  por  pior  que  aquilo  pudesse
parecer,  eu  tive  a  intuição  de  que  ele  não  tinha  me  feito  nada  de  mal.  Se  tivesse,
estaria jogando na minha cara que conseguiu o que tanto queria, e não o contrário.
Me sentei novamente na beirada da cama e calcei meus tênis que estavam ao lado da
cama, ainda pensativa. Peguei minha bolsa, que estava sobre o criado­mudo, e após
verificar  rapidamente  se  tudo  estava  em  seu  devido  lugar  dentro  dela,  deixei  o
quarto, procurando por Daniel, encontrando­o no cômodo ao lado. 
Parei à porta aberta, me deparando com uma única parede azul em meio às outras
três brancas, uma cama tão grande quanto a que eu tinha dormido, já arrumada, e
um par de ombros nus e muito bem definidos. Sem querer, meu olhar se demorou
nessa  última  parte  em  especial.  Daniel,  que  estava  virado  de  costas  pra  mim
enquanto desvirava sua blusa do avesso, virou apenas a cabeça na minha direção, e
encarou meus olhos confusos com uma certa indiferença. 
­ Se sente melhor agora que está vestida? – ele perguntou secamente, voltando sua
atenção pra blusa em suas mãos e vestindo­a num segundo. Por um momento eu
quis  responder  que  preferia  estar  de  roupas  íntimas,  desde  que  ele  também
estivesse. 
­ Sim, muito – respondi enfatizando a última palavra, abafando a onda de calor que
subitamente  percorreu  meu  corpo  e  tentando  ignorar  o  fato  de  que  meu  vestido
cheirava  maravilhosamente  bem  devido  ao  seu  perfume  e  fazia  questão  de  me
lembrar disso cada vez que eu respirava. 
­ Ótimo – Daniel acrescentou com a mesma indiferença de antes, ficando de frente
pra mim – Então vamos. 
Franzi  a  testa  quando  ele  caminhou  na  minha  direção,  bagunçando  de  leve  os
cabelos com as pontas dos dedos e novamente evitando meu olhar, e eu preferi não
continuar olhando­o e acabar demonstrando minha súbita hipnose na expressão. 
­  Vamos?  Pra  onde?  –  questionei,  enquanto  ele  passava  por  mim,  aproximando
perigosamente seu abdômen sarado de meu corpo. 
­ Eu vou te levar até a sua casa – ele respondeu, ainda daquele jeito duro, como se o
que ele dizia fosse totalmente óbvio ­ Pelo que sua mãe me explicou, você mora um
pouco longe daqui, então eu pensei que uma carona de carro seria útil. 
Arregalei meus olhos, sentindo minha garganta secar. Ele tinha falado com a minha
mãe? Como? Quando? Onde? 
­  Antes  que  você  comece  com  as  suas  perguntas,  sim,  eu  falei  com  ela  –  ele  leu

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 61/106
12/04/2015 Biology

minha mente, parecendo impaciente ao ver o choque em minha expressão – Não ia
deixá­la preocupada com o seu paradeiro, ela não parava de ligar pro seu celular e eu
resolvi  atender.  Mas  fique  tranqüila,  eu  expliquei  tudo  o  que  aconteceu  e  ela
acreditou na minha versão da história. Ficou bem mais calma sabendo que você está
em boas mãos. 
Continuei encarando­o, sem saber o que pensar. Que versão da história seria aquela
que faria minha mãe se acalmar diante de meu sumiço? Se antes eu estava confusa,
agora  meus  neurônios  pareciam  ter  dado  vários  nós  cegos  entre  si.  Daniel  Jones
falando  com  a  minha  mãe...  Dói  só  de  tentar  imaginar  uma  cena  tão  estranha.  E
desde quando as mãos dele eram boas mãos? Minha mãe realmente não tinha noção
dos horrores que dizia. 
­ Eu devo estar dentro de um sonho muito esquisito – falei, rindo da minha própria
bagunça mental – Não é possível que da noite pro dia tudo isso tenha acontecido,
que todas essas loucuras tenham se tornado realidade. 
­ Desculpe te informar, mas essa é a mais pura verdade – Daniel disse, entediado –
Podemos ir agora? Eu ainda tenho muita coisa pra fazer hoje. 
Suspirei, derrotada e com uma pontinha de irritação, e apenas assenti. Já que a casa
dele era realmente longe da minha, uma carona seria o mínimo que ele podia fazer
por  mim  depois  de  todos  os  misteriosos  acontecimentos  da  noite  anterior.  Ele
caminhou em direção à porta, e eu apenas o segui, sem dizer uma palavra sequer e
observando  discretamente  a  imensidão  daquele  apartamento.  Descemos  pelo
elevador,  e  vinte  e  três  andares  depois,  estávamos  na  garagem.  Todos  os  carros
estacionados  ali  eram  incrivelmente  lindos  e  caros,  o  que  me  fez  pensar  de  que
mundo ele vinha. O carro mais barato ali era provavelmente a BMW preta de Daniel,
que não estava sozinha nas três vagas reservadas para seu apartamento. Uma Ferrari
vermelha e sua familiar moto amarela de todo dia ocupavam os outros dois espaços,
o que só me fez ficar ainda mais perdida. 
­  Esses  carros...  São  seus?  –  perguntei,  apontando  pra  BMW  e  depois  pra  Ferrari,
com uma cara impagável de perplexidade. 
­  São  –  Daniel  respondeu,  com  uma  normalidade  deprimente  –  Pensei  que  já
conhecesse a Ferrari. 
Virei minha cabeça devagar em sua direção até meus olhos incrédulos encontrarem
os  dele,  fingindo  que  eu  não  existia.  É  agora  que  eu  descubro  as  câmeras  ou  isso
realmente não era uma pegadinha? 
Daniel tirou uma chave de carro do bolso, caminhando até um dos veículos. Apertou
o botão do alarme e se dirigiu à BMW, abrindo a porta do motorista e voltando a me
olhar ao perceber que eu ainda estava imóvel. Ainda sem acreditar naquilo, caminhei
lentamente até a porta do carona, e entrei no carro em silêncio. Olhei pelo vidro para
a  Ferrari  estacionada  ao  meu  lado  e  reconheci  seu  interior,  me  amaldiçoando
mentalmente  por  estar  tão  transtornada  na  noite  anterior  a  ponto  de  entrar  num
carro daqueles e não me lembrar disso. 
Daniel  deu  ré  e  seguiu  em  direção  à  saída  do  estacionamento  subterrâneo,  logo
fazendo  com  que  o  forte  sol  invadisse  as  janelas  sem  piedade  de  meus  globos
oculares. Cerrei meus olhos, incomodada, e ele estendeu uma mão até o porta­luvas,
tirando  lindos  e  visivelmente  caríssimos  óculos  escuros  de  lá.  Me  senti  tão
insignificante  quanto  o  estofado  do  assento  quando  ele  colocou  os  óculos,  que  se
ajustavam perfeitamente ao formato de seu rosto. 
­ Onde mais você trabalha pra conseguir essas coisas todas? – perguntei, finalmente
falando  após  o  que  me  pareceu  uma  eternidade  de  mudez,  com  a  expressão
desconfiada.  Foi  bom  saber  que  eu  ainda  não  tinha  me  esquecido  de  como  falar,
eram  tantos  acontecimentos  inacreditáveis  que  eu  provavelmente  estava  entrando
em estado de choque. Daniel  não  pareceu  me  ouvir,  abrindo  os  vidros  e  deixando
que o vento bagunçasse nossos cabelos. 
­ Sabia que gigolôs ganham muito bem por aqui? – ele respondeu, sem expressão
enquanto  olhava  pra  frente,  e  eu  gelei.  Provavelmente  vendo  minha  cara
horrorizada, já que eu não podia confirmar isso por causa de seus óculos, eu vi um
teimoso sorrisinho de canto surgir em seu rosto. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 62/106
12/04/2015 Biology

­  O  patrimônio  de  minha  família  me  permite  “conseguir  essas  coisas  todas”  –  ele
disse, sendo sincero agora, e eu senti meus ombros relaxarem imediatamente com a
resposta aceitável – Sua cara de choque valeu meu dia. 
­Idiota – murmurei, revirando discretamente os olhos e virando meu rosto pra janela
ao meu lado. 
­Se você quase acreditou que eu era um gigolô, é porque eu sou muito pior que um
idiota  pra  você  –  ele  falou,  com  um  senso  de  humor  mórbido  na  voz  enquanto
parava num sinal vermelho. 
­  Você  nem  imagina  o  quanto  –  rosnei,  ficando  mais  irritada  a  cada  segundo.  Não
saber  definir  as  pessoas  era  algo  que  me  deixava  profundamente  incomodada,  e
Daniel era exatamente o tipo de pessoa indefinível o suficiente pra me enfurecer. Ele
tinha  várias  faces,  uma  completamente  diferente  da  outra,  como  se  fossem  várias
personalidades  dentro  de  uma  pessoa  só.  Eu  conhecia  bem  seu  jeito  sujo  e
desonesto, mas por vezes ele se mostrava alguém completamente oposto... Alguém
bom. Preferia me manter distante daquela encrenca, obrigada. 
­ Eu até imagino – ele retrucou, hostil – Mas prefiro ouvir da sua boca. 
Olhei  pra  ele  com  a  testa  franzida  de  deboche,  e  vi  que  ele  também  me  encarava,
novamente  com  os  lábios  contraídos  de  raiva.  Agora  eu  conseguia  ver  seus  olhos
pelo ângulo em que a luz do sol batia nas lentes dos óculos, e vi que eles me fitavam
desafiadoramente. 
­ Eu acho que você é um filho da puta de um pedófilo, safado, mal amado, nojento,
desprezível,  broxa,  ridículo,  estúpido,  grosso,  pilantra  e  arrogante  –  eu  disparei,
sustentando  seu  olhar  com  avidez.  Definitivamente  eu  tinha  feito  uma  descoberta:
falar mal das pessoas na cara delas era extremamente terapêutico. 
Daniel  continuou  me  encarando,  parecendo  não  acreditar  na  quantidade  de
xingamentos que eu tinha usado para defini­lo, e eu percebi que o sinal estava verde,
já que os carros à nossa frente começavam a andar. Ele pareceu não se dar conta
disso,  estava  inconformado  demais  com  a  minha  resposta  pra  prestar  atenção  em
outra coisa. O silêncio tenso entre nós, junto com a expressão dele, de quem estava
prestes a triturar meus ossos, só aumentou a impressão de que se direitos humanos
não existissem e não dessem cadeia, eu estaria fodida. 
Só  quando  os  carros  atrás  de  nós  começaram  a  buzinar,  Daniel  suspirou  lenta  e
profundamente, contendo­se, e voltou a olhar pra frente, desfazendo nosso contato
visual  intenso  com  dificuldade.  Arrancou  velozmente,  fazendo  os  carros  que
buzinavam atrás de nós comerem poeira, e passou a segurar o volante com força,
controlando­se pra não me quebrar em pedacinhos. Ele podia estar querendo muito,
mas não era doido de tentar encostar um dedo em mim. 
Chegamos sem demora à minha casa graças à direção acelerada dele, sem dizer mais
nenhuma palavra pelo caminho. Assim que ele estacionou na frente de minha casa,
abri a porta, sem ousar olhá­lo, e quando estava prestes a sair do carro, ouvi sua voz
dizer, extremamente trêmula de ódio: 
­ Não precisa se preocupar, nunca mais vou olhar na sua cara. 
Virei meu rosto na direção dele, e vi que ele encarava algum ponto à sua frente, com
os maxilares tensos e as veias do pescoço levemente saltadas. Suas mãos agarravam
o volante, perigosamente fortes, o que só tornava sua ira ainda mais visível. Parecia
que eu realmente tinha conseguido o que tanto queria, me livrar dele de uma vez
por todas. 
­ Ótimo – murmurei, esperando a alegria imensa me dominar por aquele momento
tão perfeito, que curiosamente parecia não querer chegar. Engoli em seco, sentindo
meu  olhar  se  tornar  inseguro  enquanto  viajava  por  suas  feições  fechadas,  e  num
movimento brusco, saí do carro, batendo a porta com uma certa força. Nem bem eu
o fiz e Daniel já estava longe, acelerando assustadoramente depressa e fazendo meus
cabelos voarem na direção do vento. 
Observei  a  BMW  se  afastar  rapidamente,  sentindo  uma  coisa  esquisita  dentro  de
mim.  Suspirei  profundamente,  agora  com  o  olhar  vago  em  meus  pés,  tentando
reprimir  aquela  coisa  ruim  que  insistia  em  se  alastrar  pelo  meu  corpo,  me
desanimando por completo. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 63/106
12/04/2015 Biology

Eu  não  podia  estar  triste,  ele  finalmente  estava  fora  do  meu  caminho!  Aquilo  era
tudo  o  que  eu  sempre  quis  desde  a  primeira  vez  em  que  o  vi,  e  agora  que  tinha
finalmente  acontecido,  eu  não  podia  admitir  que  meu  único  sentimento  fosse  de
remorso.  Tudo  que  eu  conseguia  sentir  era  peso  na  consciência,  decepção  comigo
mesma  por  ter  sido  injusta  com  uma  pessoa  que  talvez  não  merecesse  tanta
crueldade.  Afinal  de  contas,  se  não  fosse  por  ele,  os  estragos  de  Paul  teriam  sido
imensuravelmente piores. 
Fechei  os  olhos  com  força  por  um  momento,  desanuviando  minha  mente  e  me
esforçando para parecer despreocupada. Me virei na direção de minha casa, tentando
fingir que estava tudo bem, e a cada passo eu ficava mais convicta de uma coisa. 
Não estava tudo bem. 

Acordei  no  dia  seguinte  com  a  sensação  de  que  tinha  acabado  de  pegar  no  sono.
Após um longo dia de explicações e adaptações dos verdadeiros acontecimentos pra
minha mãe, que estava aflita me esperando chegar, eu passei a noite inteira rolando
na cama, inquieta. Nada parecia fazer sentido, nada parecia ser coerente, tudo estava
desconexo, bagunçado, confuso. Por mais que eu tentasse compreender a insistente
culpa dentro de mim, não conseguia encontrar uma explicação que prestasse. 
Me  levantei  antes  mesmo  que  o  relógio  despertasse,  anunciando  que  eram  6  da
manhã de segunda­feira, e fui tomar banho, com a falsa crença de que uma ducha
quente  fosse  melhorar  meu  humor.  Uns  trinta  minutos  depois,  eu  já  estava  me
vestindo  desanimadamente,  e  logo  depois  penteando  meus  cabelos,  de  frente  pro
espelho.  Assim  que  terminei,  encarei  meus  próprios  olhos,  cansados  pela  noite  em
claro, e decidi que ia terminar com aquela angústia. Eu precisava pedir desculpas a
ele, precisava pelo menos tentar. Só assim eu conseguiria afastar aquele mal estar de
mim. 
Tomei meu café­da­manhã em silêncio, só respondendo uma coisa ou outra quando
mamãe perguntava, e logo estávamos estacionando na frente da escola. Um arrepio
percorreu minha espinha enquanto caminhava pela entrada do colégio, e meus olhos
logo encontraram uma Kimberlly tensa me encarando de volta. 
­ Oi, Mell – ela murmurou, com um sorriso triste, e me abraçou carinhosamente. Ela
sabia  sobre  a  festa  no  sábado,  eu  tinha  lhe  contado  tudo  por  telefone  no  dia
anterior.  Bem,  quase  tudo,  só  preferi  deixar  de  lado  a  parte  que  envolvia  meu
comportamento estranhamente triste por causa do Jones. 
­ Parece que eu não te vejo há anos – suspirei, abraçando­a com mais força. 
­  É  mesmo  –  ela  concordou,  se  afastando  alguns  segundos  depois  pra  poder  me
olhar – Você tá tão abatida... Tem certeza de que está bem? 
­ Tenho – menti, empurrando a verdade garganta abaixo – Só tô um pouco cansada.
Nos sentamos em nosso lugar de sempre, esperando até que o sinal tocasse, e senti
Kimberlly  me  cutucar  discretamente  enquanto  conversávamos.  Me  virei  na  direção
que ela me indicou, e só quando meu olhar encontrou o dele, me lembrei de que Brii
existia. Me senti estranha quando ele sorriu pra mim, especialmente radiante como
em  toda  segunda­feira,  e  tudo  que  consegui  fazer  foi  esboçar  um  sorriso  fraco  de
volta. Senti como se não merecesse aquele sorriso dele. 
­ Bom dia, Macarenhas ­ ele cumprimentou quando passou por nós, como sempre
fazia,  e  logo  depois  se  dirigindo  a  mim  e  abaixando  seu  tom  de  voz  –  Bom  dia,
pequena. 
­ Bom dia – gaguejei, mal conseguindo sustentar seu olhar alegre. Parecendo alheio
a qualquer sinal de tristeza meu, Brii seguiu até a sala dos professores, e assim que o
vi fechar a porta atrás de si e sumir, soltei o ar que estava preso em meus pulmões,
finalmente relaxando. 
­ Você vai contar a ele? – ouvi a voz cuidadosa de Kimberlly perguntar, e apenas fiz
que não com a cabeça, sem olhá­la. Contar a Brii o que quer que fosse não estava
nos meus planos, ele não merecia saber das ameaças de Kelly, muito menos de nada
que  se  passava  na  minha  mente.  Não  queria  ser  injustamente  cruel  com  mais
alguém. 
As  três  primeiras  aulas  se  arrastaram  morbidamente.  Eu  mal  conseguia  prestar

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 64/106
12/04/2015 Biology

atenção na matéria, minhas mãos estavam trêmulas pra copiar, um aperto na boca
do estômago me impedia de desviar meus pensamentos daquela tortura repentina.
Por mais que eu respirasse fundo e fechasse os olhos por alguns segundos, meu mal
estar só se ausentava momentaneamente, voltando ainda pior logo em seguida. 
No intervalo, desci as escadas em silêncio com Kimberlly, querendo logo que aquele
dia  acabasse.  Ela  parecia  entender  minha  introversão  e  se  manteve  quieta,  me
deixando  pensar  sem  interrupções.  Como  se  houvesse  algum  jeito  de  interromper
minha  aflição  infundada.  Sentamos  no  mesmo  canto  de  sempre,  e  enquanto  ela
terminava uns exercícios de matemática, eu observava vagamente o fluxo de pessoas
pelo pátio, até meus olhos novamente encontrarem Brii. 
Ele andava apressado em direção à saída da escola, falando energicamente ao celular
com  a  expressão  pesadamente  preocupada.  Senti  uma  fisgada  no  peito,  como  se
fosse um súbito mau pressentimento, e ele logo sumiu de vista, me deixando ainda
mais agoniada. Pensei em comentar com Kimberlly, mas eu realmente não estava a
fim  de  falar  hoje  e  preferi  esperar  até  saber  do  que  se  tratava.  Obviamente,  eu
pretendia me inteirar da situação hoje mesmo, se ele voltasse ao colégio. 
Vinte  minutos  depois,  o  sinal  tocou,  indicando  o  término  do  intervalo,  e  nós  nos
levantamos devagar. Logo estávamos subindo as escadas lenta e silenciosamente, e
me  surpreendi  quando  ouvi  alguém  sussurrar  no  meu  ouvido,  vindo  por  trás  de
mim. 
­ Vem comigo. 
Não precisei olhar pra trás pra reconhecer a voz de Brii,  e  lancei  um  último  sorriso
fraco  pra  Kimberlly  antes  de  acompanhá­lo  até  uma  sala  vazia  no  segundo  andar.
Ninguém  parecia  se  dar  conta  de  nossa  existência,  ocupados  demais  com  suas
próprias vidas, por isso não hesitei em entrar naquela sala sozinha com ele. 
­ Que saudade de você – ele murmurou, sorrindo de um jeito calmo e me dando um
beijo delicado, que fez meu sangue formigar daquele jeito de sempre nas veias. Estar
perto  dele  me  trouxe  uma  sensação  temporária  de  alívio,  e  me  permitiu  sorrir
sinceramente, mesmo que um sorriso tímido. 
­ Também senti sua falta – menti, me sentindo novamente desmerecedora daquele
carinho por não ter pensado nele uma única vez desde que acordei no dia anterior.
Passei  meus  braços  ao  redor  de  seu  pescoço,  e  Brii  apenas  me  abraçou  apertado,
sem me beijar novamente. Agradeci mentalmente a gentileza dele por não me forçar
a encarar seus olhos e ver minhas mentiras refletidas neles, e respirei profundamente
seu perfume, que hoje cheirava levemente a... 
­  Formol?  –  indaguei,  franzindo  a  testa  e  me  afastando  de  leve  pra  poder  ver  seu
rosto. 
Brii riu baixinho, fechando os olhos por um momento. 
­ Desculpe, eu não imaginei que o cheiro estivesse tão forte a ponto de você notar –
ele disse, ainda sorrindo, mas me olhando calmamente – Talvez seja por isso que eu
não goste de dar aulas nos laboratórios. 
­  Como  assim?  –  perguntei,  sentindo  meu  coração  acelerar  um  pouquinho  –  Você
deu aulas práticas hoje? 
­ É, o Jones não pôde vir pra escola e eu o substituí – ele suspirou, entortando a
boca – Aquele doido enfiou a BMW num poste ontem de manhã. 
Mesmo  sem  poder  me  ver,  soube  que  empalideci.  Senti  todo  o  meu  sangue
simplesmente evaporar e meu coração congelar simultaneamente. Minha expressão
estava  totalmente  chocada,  perplexa,  apavorada.  O  mau  pressentimento  estava
explicado. 
­  Ah...  É?  –  gaguejei,  tentando  não  parecer  tão  horrorizada  quanto  eu  realmente
estava – E c­como ele tá? 
Brii pareceu não notar minha agonia e continuou sorrindo de um jeito divertido ao
responder: 
­  Melhor  do  que  nós,  pode  apostar.  Ele  não  se  machucou  muito,  apenas  bateu  a
cabeça com força no volante enquanto tentava frear e ficou desacordado por alguns
minutos.  Acabei  de  voltar  do  hospital  onde  ele  está  em  observação,  falei  com  o
médico e com o próprio Jones, e ele me disse que amanhã mesmo poderá voltar a

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 65/106
12/04/2015 Biology

dar aulas. 
A  imagem  de  Daniel  batendo  com  o  carro  surgiu  em  minha  mente  sem  esforço,
seguida  pela  cena  de  vários  paramédicos  imobilizando­o  na  maca  enquanto  ainda
estava  desacordado.  Um  desespero  enorme  subiu  pela  minha  garganta,  fazendo
lágrimas se formarem em meus olhos, mas eu fiz o máximo de força pra contê­las,
pelo menos enquanto estava na frente de Brii. 
­  Eu...  Tenho  que  ir...  Me  lembrei  de  que  tenho  uma  prova  agora  –  foi  tudo  que
consegui  gaguejar,  me  afastando  dele  devagar  e  evitando  seus  olhos  –  Depois  a
gente se vê. 
Abri  a  porta  da  sala  de  aula,  deixando  Brii  totalmente  confuso,  e  subi  correndo  as
escadas, já mais vazias, até o meu andar. Mal conseguindo conter as lágrimas e com
as  pernas  perigosamente  trêmulas,  me  enfiei  num  dos  cubículos  do  banheiro
feminino, e só depois de trancada e sentada no vaso sanitário fechado, finalmente caí
num choro inexplicável. 
Tudo que eu conseguia sentir era culpa. Nojo de mim mesma, repulsa, remorso, um
peso imenso me impedia de respirar, me afundando cada vez mais num choro que
parecia não ter fim. Sufocando meus soluços com as mãos cobrindo a boca, eu sentia
meu  rosto  lavado  de  lágrimas  esquentar  à  medida  que  o  ar  me  faltava,  mas  não
encontrava força pra respirar. 
Quando pensei que fosse desmaiar por falta de oxigênio, meus pulmões entraram no
modo  de  emergência,  puxando  o  ar  pra  dentro  de  si  em  inúmeras  inspirações
rápidas. Meus olhos não paravam de liberar lágrimas, e meu nariz começava a ficar
congestionado,  mas  eu  não  me  importava.  As  imagens  daquele  sábado  vieram
imediatamente à tona: minhas palavras rudes, o olhar furioso de Daniel, seus dedos
apertando  o  volante  com  força,  trêmulos  de  ódio,  sua  arrancada  bruta  quando  foi
embora...  Tudo  estava  muito  claro.  Todos  os  pensamentos  que  ocupavam  minha
mente  se  resumiam  a  uma  única  frase,  que  meu  cérebro  insistia  em  repetir  sem
parar. 
Se  Daniel  estava  numa  cama  de  hospital  nesse  exato  momento,  por  melhor  que
fosse seu estado, era culpa minha. 

Capítulo 11

A professora Sullivan falava entusiasticamente algo sobre Platão, mas sua voz parecia
distante  de  mim  naquele  momento.  Meus  olhos  ainda  estavam  inchados  e
avermelhados, assim como meu nariz, pelo choro de dez minutos atrás, mas a aula
de filosofia parecia estar sendo mais interessante para o resto da classe do que minha
cara de enterro. Felizmente. 
Meu corpo estava jogado de qualquer jeito sobre a cadeira, e meu rosto descansava
pesadamente sobre um punho, apoiado por um cotovelo sobre a mesa. Com o olhar
vagando pelas linhas do caderno, eu ainda podia sentir a sensação de culpa presa em
minha garganta, como se minha dor de cabeça pulsante já não se encarregasse de
me castigar o suficiente. 
Quando  a  srta.  Sullivan  deixou  a  classe  após  sua  longa  aula  dupla,  notei  que  uma
pessoa se aproximou da minha carteira, e ergui meu olhar pra ver quem era. Meus
parabéns ao filósofo que disse que as coisas sempre podiam piorar, se é que Murphy
era um. Filosofia não era meu forte mesmo. 
­ Eu só queria te falar que nosso trato está desfeito – Kelly murmurou, parecendo
tão irritada por estar me dizendo aquilo que evitava me olhar – Pode ficar tranqüila,
aquelas fotos nem existem mais. 
Franzi levemente a testa, sem entender por que ela estava fazendo aquilo, mas antes
que  eu  pudesse  abrir  a  boca,  ela  já  se  afastava  em  direção  à  sua  carteira.  A  única
possibilidade  que  me  veio  à  cabeça  me  fez  afundar  ainda  mais  em  minha  própria
http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 66/106
12/04/2015 Biology

depressão. Só podia ter dedo dele naquela história. 
Durante a última aula, eu continuei mergulhada em meu desânimo, e mal conversei
com Kimberlly na hora da saída. Também não vi Brii, que provavelmente devia estar
atrapalhado no laboratório, e assim que avistei o carro de mamãe na saída da escola,
corri em sua direção. Eu precisava sair daquele lugar e ficar sozinha no meu quarto o
mais rápido possível. 
Passei o dia naquele mesmo humor, só deixando meu quarto pra comer um pouco.
Quando  deitei  na  cama  após  o  jantar,  o  cansaço  de  uma  noite  mal  dormida  me
venceu,  e  eu  dormi  pesadamente,  apesar  dos  insistentes  pesadelos.  Todos
previsíveis, envolvendo o acidente de Daniel. 
Acordei no dia seguinte, um pouco menos cansada, e segui minha rotina matinal até
chegar  à  escola.  Apreensiva  pra  saber  se  ele  viria  hoje,  eu  me  sentei  ao  lado  de
Kimberlly,  como  sempre,  e  não  desgrudei  meus  olhos  da  entrada  do  colégio.  Para
minha  sorte,  não  demorou  muito  e  Brii  chegou,  conversando  animadamente  com
alguém, que não era ninguém mais, ninguém menos que o professor Jones. 
Meus olhos se cravaram nele, que parecia completamente saudável, fora o pequeno
curativo em sua testa. Não estava pálido, muito menos abatido. Parecia até bastante
animado, rindo enquanto conversava, e andava normalmente, sem sinais de lesões
ou fraqueza. Um alívio imenso me dominou, mas não consegui relaxar por completo,
porque  logo  os  olhos  de  Brii  estavam  nos  meus,  e  ele  sorriu  fraco,  parecendo
ressentido com a desculpa brusca de ontem. Tudo que me faltava era ficar mal com
ele, sem dúvida. 
O dia se passou tediosamente, fora minha inquietação. Depois do intervalo, arrastei
Brii para uma sala que sempre ficava vazia no térreo e me desculpei pela pressa do
dia  anterior,  restabelecendo  a  calma  em  nossa  relação.  Apesar  de  tudo  estar  se
endireitando novamente, eu ainda estava determinada a pedir desculpas a Daniel  e
me  ver  livre  daquela  horrível  sensação  de  culpa,  mas  só  a  hipótese  de  ter  aquele
olhar enfurecido no meu já me fazia tremer da cabeça aos pés. Eu não tive coragem
de procurá­lo naquele dia, muito menos no dia seguinte, e só voltei a vê­lo quando
minha aula de biologia laboratório chegou, mais rápido do que eu gostaria. 
Entrei no laboratório, tensa apesar dos sempre agradáveis minutos sozinha com Brii
depois de sua aula, e vi o professor Jones cercado por Kelly e suas amigas. Ele estava
encostado  na  lousa,  com  os  braços  cruzados  na  altura  do  peito  e  um  sorriso
charmoso, conversando amigavelmente com as meninas. Notei que ele já não usava
mais  o  curativo  na  testa,  e  fiquei  feliz  por  saber  que  ele  estava  fisicamente
recuperado  do  acidente,  que  de  certa  forma,  eu  causara.  Me  sentei  no  lugar  de
sempre, tentando em vão não observá­lo demais durante a aula, mas olhar pra ele
ou  não  era  indiferente,  já  que  seu  rosto  não  se  virou  uma  vez  sequer  na  minha
direção. Daniel me fez sentir como se eu nem estivesse ali, coisa que ele sabia fazer e
muito bem. O que eu estava esperando dele afinal? Que ele viesse me agradecer por
tê­lo  enfurecido  tanto  a  ponto  de  fazê­lo  ferrar  com  sua  BMW?  Ele  tinha  dito  que
nunca mais olharia na minha cara, e estava cumprindo com sua palavra. 
Após o que me pareceu uma eternidade, o sinal tocou, anunciando o fim da aula, e
todos seguiram em direção à mesa dele para lhe entregar seus relatórios. Diante da
pressa  do  resto  da  classe  para  ir  embora,  eu  apenas  continuei  sentada,  encarando
meu relatório feito pela metade com muito esforço, até me encontrar sozinha com
Daniel no laboratório. Previsivelmente, ele apenas continuou sentado em sua cadeira,
organizando os relatórios recém­entregues, com a expressão concentrada. 
Respirei  fundo,  me  enchendo  de  uma  falsa  coragem,  e  fiquei  de  pé  para  entregar
meu  relatório.  Senti  a  folha  tremer  de  leve  em  minhas  mãos,  denunciando  meu
nervosismo, mas continuei caminhando devagar até alcançar sua grande mesa. Assim
que  parei  à  sua  frente,  notei  seu  olhar  se  desviar  brevemente  dos  relatórios  e  se
erguer  quase  que  imperceptivelmente  até  a  altura  de  minha  cintura,  o  bastante
apenas  pra  me  reconhecer  e  voltar  a  ignorar  minha  presença.  Respirei  fundo
novamente, com o coração se debatendo dentro do peito. 
­  Professor...  –  comecei  com  a  voz  fraca,  encarando  sua  cabeça  baixa,  e  não  tive
coragem de terminar. Minhas lágrimas estavam lá, como no dia anterior, sem que eu

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 67/106
12/04/2015 Biology

sequer permitisse ou as quisesse ali e tornando minha voz embargada, mas ele não
pareceu  se  importar.  Arrancou  meu  relatório  de  minhas  mãos  de  um  jeito  brusco,
ainda sem me olhar, e o colocou de qualquer jeito em sua pasta. Fechou­a, guardou­
a  em  sua  mochila  e  pôs­se  de  pé,  já  com  uma  de  suas  alças  sobre  o  ombro  e
caminhando determinadamente até a saída do laboratório. 
­  Me  desculpe  –  ouvi  minha  voz  dizer,  num  sussurro  esganiçado,  e  o  silêncio
substituiu  o  barulho  de  seus  passos,  denunciando  que  ele  tinha  parado  de  andar.
Mesmo sem vê­lo, pude senti­lo ainda presente, mas não tive coragem de me virar
para encará­lo e apenas esperei alguma reação sua, que demorou eternos segundos
para finalmente vir. 
­  Não  perca  seu  tempo  –  a  voz  fria  dele  rosnou,  ecoando  pelas  paredes  do
laboratório, tão silencioso que me permitia ouvir os batimentos acelerados de meu
coração com nitidez. Fechei os olhos com força, tentando parar de chorar por uma
tristeza profunda que eu mal conseguia entender, enquanto seus passos revelavam
que ele tinha me deixado a sós com minha culpa esmagadora. 

Naquela semana, eu não fui à casa de Brii. Segundo ele, Daniel o convidou para uma
viagem de fim de semana com alguns amigos no iate de sua família, para comemorar
a  sorte  dele  por  ter  saído  ileso  de  seu  acidente.  Brii  mencionou  o  nome  da  cidade
litorânea  para  onde  eles  iriam,  que  era  por  sinal  onde  ficava  a  casa  de  praia  dos
Jones,  mas  eu  estava  com  a  cabeça  carregada  demais  pra  prestar  atenção  nesse
detalhe. Estranhamente agradecida por não ter que ir à sua casa na sexta fingir que
estava  tudo  bem  comigo,  e  com  a  promessa  de  que  Brii  me  recompensaria
devidamente  na  semana  seguinte,  eu,  já  apresentada  ao  poder  financeiro  do
professor Jones, apenas o desejei boa viagem com um sorriso terno. 
Os pesadelos culposos continuaram, me perturbando noite após noite. Eu ainda não
tinha contado a ninguém sobre esse meu complexo de culpa doentio, mas os sinais
de  desânimo  eram  notáveis.  Durante  um  passeio  com  Kimberlly  naquele  domingo,
ela perguntou o que estava me incomodando, e mesmo que por um momento eu
pensasse  na  hipótese  de  contar  a  ela,  preferi  dar  a  desculpa  esfarrapada  de  que
estava  com  insônia.  Não  deixava  de  ser  verdade,  porque  ultimamente  o  sono
passava reto por mim. 
A semana começou outra vez, igualmente cinzenta e angustiante. Daniel  continuou
fingindo  que  eu  não  existia,  mas  em  compensação,  Brii  se  tornava  cada  dia  mais
grudento. Não sei se era porque estávamos num relativo jejum, ou se eu tinha sido
traída durante a viagem no fim de semana e ele também estava sofrendo de culpa,
querendo me recompensar com todo o seu carinho incondicional. A última hipótese
só me ajudava a ficar ainda mais deprimida, então eu preferia acreditar na primeira,
me  fazia  sentir  necessária  pra  alguém.  Mesmo  que  esse  alguém  estivesse  me
sufocando inconscientemente. 
Diferente  da  semana  anterior,  dessa  vez  a  aula  de  biologia  laboratório  demorou  a
chegar. E quando eu me dei conta de que ela finalmente havia chegado, já estava
caminhando na direção de uma das bancadas, com o olhar apreensivo nele. Daniel
usava  uma  camisa  pólo  listrada  de  azul  marinho  e  branco,  calças  jeans  num  tom
escuro de azul, e tênis tão brancos que faziam os olhos doerem se eu os observasse
por muito tempo. Terrível, absurda e irrevogavelmente lindo. 
Novamente,  ele  explicou  como  a  aula  procederia  sem  me  olhar,  e  dessa  vez  eu  já
estava mais preparada pra isso. Consegui responder todas as questões essa semana,
recuperando  os  velhos  hábitos,e  quando  o  sinal  tocou,  deixei  meu  relatório  onde
todos  os  alunos  colocaram  os  seus,  numa  pilha  sobre  a  bancada  mais  próxima  da
porta. O que eu interpretei como uma tentativa dele de bloquear qualquer tipo de
diálogo  comigo.  Mas  aquilo  não  bastaria  pra  me  afastar.  Eu  precisava  continuar
tentando, até finalmente me ver livre daquele fardo que parecia me roer por dentro a
cada dia. 
De início, pensei em não falar com ele. Apenas guardei meu material, ainda um pouco
indecisa,  e  fui  uma  das  últimas  a  deixar  o  laboratório,  com  os  braços  firmemente
cruzados na altura do peito e andando devagar. Mas me forcei a parar apenas alguns

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 68/106
12/04/2015 Biology

passos  depois,  após  ser  facilmente  ultrapassada  por  meus  colegas  de  classe  ainda
restantes, e juntando toda a minha coragem, dei meia­volta e andei na direção do
laboratório, dessa vez determinadamente. 
Toda a minha bravura sumiu assim que parei à porta, e não tive coragem de entrar.
Dali  eu  podia  ver  o  professor  Jones  em  pé  de  costas  pra  mim,  organizando  e
colocando a pilha de relatórios recém­entregues em sua pasta. Mordi o lábio inferior,
hesitante, mas antes que eu pudesse tomar alguma decisão, ele ergueu a cabeça pra
frente e virou­a na minha direção, como se tivesse notado minha presença. 
Bastou um segundo do olhar dele no meu pra que eu me lembrasse a razão de estar
ali,  e  assim  que  ele  voltou  a  olhar  pra  bancada,  resolvi  ser  realmente  enérgica  e
mudar aquela situação. Minha mente ainda estava um pouco embaralhada, mas eu
logo tratei de organizá­la. 
­ Por quanto tempo você pretende continuar me evitando? – foi tudo que consegui
dizer,  finalmente  entrando  no  laboratório  e  parando  ao  lado  dele.  Daniel  não  me
olhou,  continuou  a  organizar  os  relatórios  dentro  de  sua  pasta,  fingindo  interesse
neles.  Mas  eu  podia  ver  que  seu  olhar  era  vago,  talvez  incomodado  com  a  minha
observação. Continuei insistindo, apesar da coragem um pouco mais vacilante agora,
assim como a firmeza de minhas pernas. 
­ Mesmo que você finja não me notar, eu vou dizer o que tenho pra dizer – comecei,
indo  direto  ao  ponto  e  ficando  ainda  mais  irritada  pela  permanente  falta  de
expressão no rosto dele – Você pode não querer me ouvir, mas pelo menos eu vou
estar com a consciência limpa por ter cumprido meu dever. 
Bela escolha de palavras, Amellie. Realmente, não podia ser melhor. Em matéria de
maturidade,  eu  parecia  uma  criancinha  banguela  de  cinco  anos  mal  acostumada  a
ouvir nãos, do tipo que faz escândalo nas lojas de brinquedo. Daniel não fez nada,
apenas  continuou  olhando  na  direção  de  sua  pasta  enquanto  seus  lábios  se
contraíam  cada  vez  mais,  demonstrando  o  nível  crescente  de  sua  raiva.  Eu  o
observava atentamente, ansiosa por um sinal de derrota dele, mas como Daniel não
facilitou as coisas e se manteve quieto, eu prossegui. 
­  Eu  sei  que  duvidei  de  você  e  te  acusei  de  coisas  horríveis  –  recomecei,  tentando
fazer  com  minha  voz  parecesse  calma,  e  ele  suspirou  profundamente  –  E  também
imagino  que  seu  acidente  tenha  sido,  em  parte,  minha  culpa.  Você  não  sabe  o
quanto eu me arrependo por tudo isso, e sei que não mereço o que estou pedindo,
mas... Por favor, me desculpe. 
Por alguns segundos, ele continuou me ignorando, e ficando cada vez mais nervosa,
não  desisti.  Eu  não  pretendia  sair  daquele  laboratório  sem  pelo  menos  ouvir  uma
palavra ou receber um olhar dele. 
­  Parabéns,  já  pediu  suas  desculpas  ridículas  –  Daniel  suspirou,  longos  segundos
depois, ríspido – Pode ir embora agora. 
Fechei os olhos por um instante, sentindo a breve dor de um fora, e voltei a encará­
lo, tentando esconder o alívio por ter conseguido arrancar nem que fossem palavras
duras  dele.  Talvez  não  fosse  dos  melhores,  mas  definitivamente  aquilo  já  era  um
começo. 
­ Eu entendo perfeitamente a sua grosseria e sei que até mereço ser tratada assim,
mas também quero que entenda que me arrependi e estou aqui me desculpando –
falei,  com  a  voz  ainda  mais  serena  –  Eu  sei  que  não  fui  justa  com  você,  sei  que
peguei pesado. 
­ Você já pegou pesado comigo antes – ele disse com a voz fria feito gelo, apoiando
um  de  seus  braços  sobre  o  balcão  e  propositalmente  deixando  à  mostra  a  cicatriz
que  minha  caneta  havia  deixado  há  algum  tempo  atrás  –  Não  pareceu  tão
arrependida na época. 
Senti uma pontada de culpa pela lembrança que ele havia trazido à tona, e de alegria
ao  mesmo  tempo  por  estar  conseguindo  fazê­lo  falar.  Suspirei  de  leve,  concluindo
mais firmemente a cada resposta que eu merecia ser visualmente ignorada por ele.
Ainda era inegável que ele tinha pedido por aquele golpe, mas a cicatriz agora me
causava um pouquinho de remorso. 
­  Você  também  não  parecia  se  preocupar  comigo  naquela  época  –  eu  retruquei,

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 69/106
12/04/2015 Biology

pensando  alto,  e  notei  que  seus  olhos  se  tornaram  reflexivos  e  se  ergueram  um
pouco dos relatórios – Pelo menos não como agora. 
­ Porque você não se metia em encrencas – ele rebateu, se recompondo e voltando a
fingir interesse em sua pasta – Definitivamente não como agora. 
­ Você costumava ser a minha única encrenca – comentei, com um sorriso discreto e
encarando­o vagamente – Nunca pensei que você seria a pessoa que me tiraria delas.
­ O que você quer de mim afinal? – Daniel explodiu de repente, socando a superfície
da bancada e finalmente me olhando com a expressão conflituosa – Primeiro você diz
que  me  odeia  mortalmente,  depois  vem  me  pedir  desculpas  toda  arrependida  e
nostálgica... Vê se me esquece, suas crises bipolares não me interessam! 
Franzi a testa, incrédula com as acusações dele, enquanto o via voltar sua atenção
pros  relatórios.  Meu  cérebro  funcionava  disparado,  ecoando  incessantemente  as
palavras rudes dele. Quer saber? Já chega de ser boazinha, não estava adiantando
porcaria nenhuma bancar a psicóloga com um homem ignorante como Daniel. 
­ Eu é que te pergunto, o que você quer de mim? – exclamei, tão furiosa quanto ele,
ou até mais – Vivia me humilhando, se fazendo de gostosão na frente dos outros,
mas na verdade você lambia o chão que eu pisava! Tudo que você sempre quis foi
que eu te desse bola, coisa que você nunca conseguiu! 
­ Se enxerga, garota, o mundo não gira em torno da porra do seu umbigo! – ele
retrucou, com a voz alta – Você só liga pra si mesma, pros seus sentimentos, pras
suas vontades, pros seus interesses! Você se faz de santa, mas no fundo você não
passa  de  uma  menininha  fútil,  metida  e  egoísta  que  só  sabe  reclamar  e  criticar  os
outros! 
­ Eu não admito que você fale desse jeito comigo! – quase berrei, sentindo lágrimas
involuntárias  e  inconvenientes  se  formarem  em  meus  olhos  ao  ouvi­lo  dizer  tudo
aquilo de mim com a voz carregada de sinceridade e agressividade. Ergui minha mão
na direção de seu rosto pra lhe dar um tapa, mas na metade do caminho ele agarrou
meu pulso e me impediu de concluir a ação. 
­ Estou cansado de você – ele rosnou, olhando fundo nos meus olhos, e de repente
sua expressão se tornou mais amena, com um toque de surpresa por me ver chorar.
Sua respiração quente batia em meu rosto, suavemente ofegante pela discussão, e
só então me dei conta de que tínhamos nos aproximado desconfortavelmente sem
perceber. Tentei não parecer tão submissa àquele olhar, tão próximo de mim que eu
podia ver as oscilações de tamanho de sua pupila, mas pelo visto não estava dando
certo. Seu perfume invadia meus pulmões sem pedir permissão, misturados ao seu
hálito  que  cheirava  levemente  a  canela.  Por  mais  estranho  que  possa  parecer,  a
combinação  dos  dois  aromas  era  tão  boa  que  eu  me  sentia  entorpecida.
Continuamos  por  longos  segundos  nos  encarando,  assimilando  nossa  proximidade
física perigosa, ou pelo menos tentando. 
Nitidamente  derrotado,  pelo  que  sua  expressão  facial  demonstrava,  Daniel
aproximou seu rosto ainda mais do meu, e sem conseguir pensar, eu não o impedi
de  resumir  a  distância  entre  nós  a  pouquíssimos  centímetros.  Seus  olhos  estavam
baixos na direção de meus lábios, e sua testa estava um pouco franzida, tentando
encontrar  algum  vestígio  de  sua  determinação  a  me  evitar  sem  parecer  ter  muito
sucesso.  Involuntariamente,  eu  também  passei  a  encarar  os  lábios  dele,
extremamente convidativos, me sentindo como se estivesse presa numa bolha com
ele, distantes da realidade. Era uma atmosfera totalmente surreal. 
Senti  a  mão  livre  dele  envolver  meu  rosto  devagar,  e  completamente  entregue  ao
momento, permiti que ele vencesse a distância entre nós e me beijasse. Assim que
seus  lábios  tocaram  os  meus,  inúmeras  e  pequenas  explosões  começaram  a
acontecer  dentro  de  mim,  em  cada  centímetro  do  meu  corpo,  acelerando  meu
coração e tornando meus sentidos ainda mais aguçados. Ele soltou meu pulso, e eu
deslizei  minhas  mãos  por  seus  ombros  devagar,  sentindo  um  desejo  incontrolável
arder por baixo de minha pele. Um desejo que havia sido como uma bomba­relógio
dentro de mim durante todos aqueles últimos dias agoniantes, se escondendo atrás
de uma falsa culpa e apenas esperando o momento certo para explodir. 
A  outra  mão  de  Daniel  envolveu  firmemente  o  outro  lado  do  meu  rosto,  me

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 70/106
12/04/2015 Biology

mantendo  próxima  dele  e  intensificando  os  movimentos  determinados  de  nossas


línguas. Parecíamos famintos um pelo outro, buscando desesperadamente fazer com
que  toda  a  distância  entre  nós  sumisse  por  completo.  Abracei­o  pelo  pescoço,
tremendo da cabeça aos pés, e senti que ele se curvou de leve pra me abraçar pela
cintura. Seus braços fortes me envolveram, e suas mãos destemidas subiram até a
metade de minhas costas, me acariciando de um jeito estonteante. 
Eu  estava  tão  enlouquecida,  tão  fora  de  mim,  que  alguns  minutos  depois  me  vi
agarrando seus cabelos da nuca, já totalmente ofegante como ele, enquanto sentia
Daniel  soltar  pesadamente  o  ar  durante  o  beijo.  Num  impulso,  permiti  que  ele  me
erguesse pela cintura rapidamente e me sentasse na bancada, se encaixando entre
minhas pernas e derrubando sua pasta cheia de relatórios no chão. Sem nos darmos
conta desse pequeno desastre, continuamos nos beijando enfurecidamente, até que
toda a euforia daquele momento começou a se mostrar de sua cintura pra baixo. E
que euforia. 
Mesmo  impedida  de  me  afastar  dele  por  uma  força  invisível  e  extremamente
dominadora,  minha  consciência  aos  poucos  foi  voltando,  e  fui  me  dando  conta  do
que eu estava permitindo acontecer. Várias imagens passaram pela minha mente, a
maioria  envolvendo  Brii  e  sua  imensurável  adoração  por  mim,  e  o  sentimento  de
remorso foi se tornando ainda maior que o poder de toda aquela situação. Eu não
podia fazer isso com ele. Eu não podia nem queria fazê­lo sofrer, mesmo sem saber,
por um momento de impulso meu, do qual eu provavelmente me arrependeria no
dia seguinte. 
E foi pensando em Brii, em tudo que tínhamos, em tudo que eu sentia por ele, que
eu  afastei  Daniel  pelo  peito,  partindo  aquele  beijo  enlouquecido.  Meu  olhar  tonto
encontrou o dele, totalmente confuso, e eu não consegui nem começar a dizer tudo
que  se  passava  em  minha  mente  embaralhada.  Abri  e  fechei  a  boca  várias  vezes,
arfante,  mas  tudo  que  realmente  consegui  fazer  foi  descer  da  bancada,  com  as
pernas extremamente bambas, e deixar o laboratório, lançando a Daniel um último
olhar hesitante. 
Enquanto  eu  descia  tremulamente  as  escadas,  agradecendo  por  não  estar  sendo
seguida por ele, um único pensamento dominava minha cabeça, prevalecendo sobre
os  demais.  Naquele  momento,  eu  tive  a  confirmação  de  algo  que  vinha  crescendo
sorrateira  e  traiçoeiramente  dentro  de  mim,  como  uma  doença  que  se  alastra  aos
poucos, e que só se torna notável quando já é irreversível. 
Eu estava completamente atraída por Daniel Jones. 

Capítulo 12

­ Ei, acorda! 
Pulei  de  susto,  abrindo  os  olhos  devagar  e  me  deparando  com  Kimberlly  de  pé  à
minha  frente,  me  cutucando  e  rindo.  Eu  estava  sentada  no  mesmo  lugar  onde
costumávamos esperar o sinal tocar e o período de aulas começar, mas naquele dia
eu milagrosamente tinha chegado mais cedo que ela. 
­  Oi  –  suspirei,  toda  encolhida  e  abraçada  às  minhas  pernas,  sentindo  minha
garganta  arranhar  e  fazendo  com  que  meu  cumprimento  não  passasse  de  um
sussurro esganiçado. Minha voz costumava ficar uma merda de manhã. 
­ Pelo visto, sua mãe tem sido cada vez mais pontual, conseguiu fazer você chegar
antes de mim – ela comentou, parecendo bem humorada como sempre, mas logo
franziu  a  testa,  contagiada  por  minha  expressão  cansada  ­  Que  foi,  não  dormiu
direito outra vez? 
Estremeci de leve, ainda sonolenta, ao me lembrar da noite anterior. O dia anterior
em si tinha sido horripilante. Todo aquele... Acidente no laboratório se repetia como
um  filme  em  minha  cabeça,  um  disco  arranhado.  Não  passou  de  um  deslize,  uma
falha, coisa de momento, disso eu tinha certeza absoluta. E não aconteceria de novo.

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 71/106
12/04/2015 Biology

Jamais. Brii não merecia aquilo, muito menos o safado do Daniel. 
­ Acho que fui contaminada por um zumbi e não sei – murmurei desanimadamente,
apoiando  meu  queixo  nos  joelhos  e  observando  vagamente  o  pátio  vazio  –  Tô
ficando incapaz de dormir bem. 
Kimberllysoltou um risinho divertido, que eu ignorei. Meu humor não estava macio o
suficiente  pra  esboçar  qualquer  tipo  de  alegria.  Alguns  minutos  de  silêncio  depois,
nos quais eu não pude deixar de me sentir mal por ser involuntariamente ranzinza
com  Kimberlly,  ouvi  vozes  masculinas  vindas  da  entrada  da  escola,  e  nem  precisei
olhar  pra  saber  a  quem  pertenciam.  Às  formas  humanas  de  meu  melhor  sonho  e
meu pior pesadelo, claro. 
­ Bom dia, meninas – Brii sorriu ao passar por nós, parecendo bastante animado, o
que fez meu estômago revirar. Ninguém parecia notar o incômodo insuportável que
se alojara dentro de mim e parecia não querer mais me deixar. 
Pelo  menos  eu  não  precisei  encarar  os  olhos  extremamente  culposos  de  Daniel
quando  sorri  fraco  para  Brii,  porque  mesmo  estando  bem  ao  lado  do  amigo,  ele
pareceu não querer me olhar também. Desviou sua atenção para algo em seus tênis,
que  a  julgar  pela  inexpressividade  em  seu  rosto,  deviam  ser  bastante
desinteressantes.  Agradeci  mentalmente  por  não  notar  nenhum  sinal  de  que  ele
tinha contado algo a Brii, e por ele parecer concordar como que telepaticamente com
meu plano de ignorarmos um ao outro. Bom, não custava nada tentar manter meu
corpo insanamente desejoso do dele longe do laboratório. 
O dia se arrastou preguiçosamente, fermentando meus pensamentos com a falta de
concentração. Cada vez que eu piscava, a imagem dos olhos Azuis de Daniel vinha à
minha mente, penetrantes como adagas. Por várias vezes, senti meus pêlos da nuca
se arrepiarem só de lembrar daquela sensação viciante das mãos dele passeando pelo
meu corpo, firmes e determinadas, dos lábios dele me enfeitiçando, de sua respiração
entrecortada  batendo  rudemente  em  meu  rosto  e  me  provocando  ainda  mais.  E
quando eu me dava conta de que alguns minutos de aula tinham se passado sem
que  eu  prestasse  atenção,  meu  coração  desenfreado  custava  a  se  acalmar.
Definitivamente, eu só podia estar enlouquecendo. 
No intervalo, Brii não deu sinal de vida. Como nenhum outro professor apareceu (pra
minha alegria, já que havia um em especial que eu adoraria evitar) e a porta da sala
dos professores se manteve fechada, deduzi que eles estavam em alguma espécie de
reunião. Não estava dando pra reclamar muito da minha sorte, pelo menos, já que
todas  as  atitudes  das  pessoas  ao  meu  redor  pareciam  conspirar  ao  meu  favor.
Kimberlly teve uma crise forte de cólicas e foi embora na segunda aula, portanto eu
não precisei fingir que estava razoavelmente bem e puxar qualquer tipo de assunto
com  ela.  Nada  contra  minha  melhor  amiga,  eu  a  adorava,  mas  em  dias  sombrios
como aquele, eu preferia ficar isolada de tudo e de todos. 
Assisti às últimas aulas vagamente, me desligando quase que totalmente do mundo
real. Estava inerte, devaneando, sem realmente saber no que estava pensando, mas
com certeza pensando em alguma coisa. Minha mente estava se tornando bastante
confusa,  até  para  mim  mesma.  Fui  a  primeira  a  deixar  a  classe  quando  o  sinal
anunciou o fim da última aula, e apressadamente me sentei na mureta onde sempre
costumava esperar minha mãe. Nem bem o azulejo da mureta esquentou sob meu
corpo, meu celular vibrou. Era minha mãe, dizendo que se atrasaria um pouco, por
volta de meia hora, mas que eu devia esperá­la na escola. Foi só pensar em minha
súbita sorte, que até então ia bem, pra receber um evento azarado como resposta. 
Suspirei profundamente, ainda observando a bagunça de alunos que se acumulavam
na frente do colégio, e de repente vi Brii  um  pouco  mais  à  frente  caminhando  em
direção à rua, falando reservadamente ao celular e tão concentrado no que dizia que
mal  olhava  para  os  lados.  Andava  apressado,  como  se  não  quisesse  ser  visto,  e
apesar de estranhar aquela atitude dele, preferi não chamá­lo. Podia ser algo sério, e
de qualquer maneira eu daria um jeito de descobrir o que era no dia seguinte. Sem
falar que, do jeito que eu estava, era melhor mesmo esperar até o dia seguinte para
falar com ele. 
Voltei a encarar os carros que entupiam a rua, com a falsa esperança de encontrar

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 72/106
12/04/2015 Biology

logo  o  Land  Rover  de  mamãe.  Novamente,  meu  olhar  se  perdeu  em  meio  aos
veículos  barulhentos,  viajando  por  algum  lugar  sombrio  de  meu  subconsciente.
Novamente, eu me peguei pensando nele. Em como aquilo tudo parecia tão errado,
tão terrivelmente errado... Tão terrivelmente inevitável. Olhei na direção dos largos
portões  da  escola,  com  um  impulso  teimosamente  crescente  dentro  de  mim,  e
quando  me  dei  conta  do  que  fazia,  meus  pés  haviam  me  levado  ao  andar  do
laboratório de biologia. 
O que eu estava fazendo ali? Eu tinha prometido a mim mesma que nunca mais me
permitiria  ficar  sozinha  com  ele,  nunca  mais  me  deixaria  levar  por  aqueles  arrepios
que a mera lembrança dele me causava... Então por que meus pés não conseguiam
parar de me levar cada vez mais pra perto da porta do laboratório, impossíveis de
serem  detidos?  Que  poder  era  esse  que  acelerava  meu  coração,  aguçava  meus
sentidos, me deixava doida pelo simples fato de tê­lo perto de mim? 
Parei a alguns passos da primeira bancada, finalmente conseguindo controlar meus
movimentos. Pena que foi um pouco tarde demais. Meus olhos aflitos pousaram em
Daniel,  sentado  em  sua  cadeira.  Como  sempre,  ele  travava  uma  luta  contra  os
inúmeros relatórios que abarrotavam sua pasta, com um cotovelo apoiado na mesa e
a cabeça preguiçosamente apoiada na mão. Seus olhos inquietos estavam ainda mais
sobrecarregados  devido  às  sobrancelhas  franzidas  sobre  eles,  o  que  só  o  tornava
ainda  mais  bonito.  Os  lábios  levemente  contraídos  complementavam  sua  típica
expressão de concentração, ou pelo menos de uma tentativa muito forte de obtê­la. 
Minha  respiração  parou,  a  garganta  secou,  o  coração  acelerou,  tudo  ao  mesmo
tempo,  assim  que  o  vi,  tão  lindo  e  tão...  Próximo.  Bastavam  alguns  passos  e  eu
podia tocá­lo, como eu tanto desejava desde o dia anterior. Minhas pernas tremiam
de leve, com a adrenalina correndo desenfreada pelas veias, e quando o choque por
vê­lo  se  dissipou,  um  suspiro  tenso  se  apoderou  de  meus  pulmões.  Faltava  muito
pouco pra que eu perdesse a razão... Ou seja, estava mais do que na hora de sair
dali. 
Infelizmente,  também  já  era  tarde  demais  para  isso.  Mal  eu  me  dei  conta  de  que
observá­lo  estava  ficando  perigoso,  e  ele  ergueu  seu  olhar  pra  mim,  parecendo
surpreso  em  me  ver.  Foi  impossível  desgrudar  meus  olhos  dos  dele,  tão  Azuis  e
faiscantes na minha direção. Meu sangue borbulhava dentro de mim, eu quase podia
sentir a euforia pinicando freneticamente nas paredes de minhas veias. 
Daniel  não  disse  nada,  apenas  semicerrou  os  olhos,  tentando  entender  minha
presença  ali.  Me  senti  totalmente  patética,  parada  ali  com  cara  de  nada,  e  após
alguns segundos buscando minha voz em algum lugar de minha garganta, gaguejei: 
­ D­desculpe, eu... Não sei o que vim fazer aqui. 
Com a vergonha imensa que sentia transparecendo em minhas bochechas ferventes,
desviei  meu  olhar  do  dele  com  esforço,  tentando  em  vão  dar  nem  que  fosse  um
mísero passo na direção da porta. Mas antes que meus músculos rebeldes pudessem
ser convencidos a me obedecer, ouvi sua voz confiante perguntar: 
­ Tem certeza de que não sabe? 
Todos os meus esforços desceram pelo ralo, e minhas pernas se fincaram com ainda
mais força no chão com a resposta dele. Quando voltei a encará­lo, vi que ele estava
de pé, caminhando calmamente até mim com a expressão transbordando malícia, e
gemi por dentro. Por que ele não podia simplesmente facilitar as coisas e me deixar ir
embora? 
­ Não pensei que voltaria tão rápido, Dawson – Daniel disse enquanto andava, com a
voz mais cordial agora, e um sorriso torto preencheu seus traços – Realmente, você
não pára de me surpreender. 
Perplexa com sua maneira de lidar com os fatos e sentindo uma certa raiva borbulhar
dentro de mim pelas palavras vitoriosas dele, continuei imóvel enquanto ele fechava
a porta do laboratório. Não satisfeito com aquele grau de privacidade, ele lentamente
girou  a  chave  na  fechadura,  fazendo  o  barulho  da  tranca  enferrujada  ecoar  pelas
paredes.  Senti  Daniel  se  virar  para  minhas  costas,  ficando  praticamente  colado  em
mim, e seu perfume invadiu suavemente meus pulmões, numa intensidade bem mais
fraca do que a que eu gostaria. Bem mais fraco do que eu precisava. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 73/106
12/04/2015 Biology

­ Eu acho que essa história de pedir desculpas toda hora tá ficando meio confusa –
ele  começou,  colocando  meus  cabelos  para  um  lado  só  e  beijando  lentamente  as
partes  expostas  de  minha  nuca  e  pescoço  ­  Então  eu  estava  pensando...  Que  tal
arranjarmos um novo jeito de nos... Entendermos? 
Meus olhos se fecharam pesadamente, como se os leves toques de seus lábios em
minha  pele  tivessem  o  mesmo  efeito  de  soníferos,  que  de  alguma  maneira  só
deixavam meu coração ainda mais acelerado. A respiração quente e fraca dele ao pé
do meu ouvido estava me dopando, arrancando meus pés do chão e me levando às
alturas. Ainda incapaz de dizer qualquer coisa, apenas o deixei continuar. 
­  Você  me  causou  vários  danos...  Não  só  morais,  mas  também  materiais,  já  que  a
minha  BMW  virou  ferro  velho  por  sua  causa  –  Daniel  sussurrou  devagar,
interrompendo­se entre algumas palavras pra seguir sua trilha de beijos até a minha
orelha ­ Mas quero que saiba que não me importo com nada disso. Não sou o tipo
de pessoa que guarda rancor. 
A discreta rouquidão em sua voz ao pronunciar cada uma daquelas palavras, como se
estivesse tão entorpecido como eu, só ajudou meu coração a se debater com mais
força  contra  meus  pulmões,  provocando  uma  falta  de  ar  ainda  maior.  Daniel
envolveu minha cintura com suas mãos, desenhando seu formato até alcançar meus
quadris  num  movimento  tentador.  Àquela  altura  eu  já  estava  arrepiada  da  cabeça
aos pés, sem fazer questão de esconder. Era até bom mesmo que ele soubesse que
nada  mais  me  importava  naquele  momento  a  não  ser  ele,  e  a  inexplicável
necessidade que eu tinha de tê­lo o mais próximo possível de mim para que toda a
minha aflição sumisse. 
Ele  roçou  a  ponta  de  seu  nariz  no  lóbulo  de  minha  orelha,  mordiscando  a  região
lenta e torturantemente logo depois, e em meu último instante de sanidade, pude
ouvi­lo soprar: 
­ Sorte sua. 
Sem conseguir mais resistir, com o corpo todo tremendo de luxúria, eu me virei pra
ele,  agarrando  seus  cabelos  com  determinação  e  colando  nossos  lábios
desesperadamente.  Já  esperando  essa  reação,  Daniel  continuou  segurando
firmemente  meus  quadris  com  uma  mão  e  subindo  a  outra  até  minha  nuca,
retribuindo mais intensamente as carícias furiosas de minha língua com a sua. Senti
que ele sorriu vitoriosamente durante o beijo, mas estava descontrolada demais pra
formar uma opinião sobre o assunto. 
Uma superfície vertical e dura se chocou contra minha região lombar, e só então eu
percebi  que  ele  tinha  me  prensado  entre  seu  corpo  e  a  bancada.  Inconsciente  de
meus movimentos, me vi pegando impulso com as mãos espalmadas sobre o balcão,
e logo em seguida sentando sobre ele. Sem perder tempo, Daniel se encaixou entre
minhas pernas, declarando nitidamente que não pretendia se afastar de mim. 
As mãos dele corriam livremente pelas minhas coxas e barriga, assim como as minhas
exploravam seu tórax, abdômen e braços muito além de sarados. Vez ou outra ele
sorria  discretamente,  parecendo  maravilhado  com  seu  feito.  Eu,  Amellie  Dawson,
totalmente entregue aos encantos de Daniel Jones. Há algumas semanas atrás, isso
me pareceria completamente insano. Hoje, a idéia parecia ainda mais absurda, mas
de alguma maneira, extremamente necessária. 
Os  dedos  ágeis  dele  começaram  a  passar  mais  tempo  do  que  deveriam  brincando
com  a  barra  da  minha  blusa,  fazendo  minha  respiração  falhar  com  ainda  mais
freqüência. Sentindo ondas de calor cada vez mais fortes percorrerem meu corpo a
cada  segundo,  segurei  suas  mãos  e  as  coloquei  sobre  meus  seios  sobre  a  blusa
mesmo, totalmente fora de mim. Talvez assim ele sentisse a arritmia crítica que regia
meu  coração,  e  terminasse  logo  com  aquela  agonia  insuportável  urrando  em  meu
interior. 
Visivelmente surpreso com minha atitude insana, ele não demorou a explorar meu
busto, fartando suas mãos em meus seios e demonstrando satisfação. Obrigada por
meus atributos físicos decentes, papai do céu. E muito mais que obrigada pelos dele
também. Meus movimentos involuntários e enlouquecidos continuaram, e só quando
senti  a  pele  quente  de  seu  tórax  contra  meu  peito  nu,  percebi  que  eu  tinha

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 74/106
12/04/2015 Biology

arrancado não só a minha blusa, mas também a dele. 
Nossa falta de ar era tão gritante que já não ofegávamos mais, soltávamos espécies
de  grunhidos  desesperados  por  oxigênio,  e  ele  pareceu  decidir  que  era  hora  de
seguir  adiante.  Ótimo,  porque  eu  também  pensei  a  mesma  coisa.  Daniel  afastou
apressadamente seus lábios dos meus e começou a se desfazer do resto das roupas
que ainda usava. Sem nem me dar ao trabalho de me levantar, fiz o mesmo, e em
tempo  recorde,  já  estávamos  grudados  de  novo,  sem  nenhum  tecido  nos
atrapalhando. 
Daniel me beijou por alguns segundos, insanamente descontrolado por me ver nua,
mas  logo  deu  um  jeito  de  livrar  seus  lábios  dos  meus  pra  resolver  um  assunto
importantíssimo: abrir a embalagem do preservativo que ele tinha tirado da carteira,
guardada  no  bolso  traseiro  da  calça.  Enquanto  eu  agarrava  a  maior  quantidade
possível de cabelo dele, suspeitando até de que tinha arrancado alguns fios, e beijava
seu  pescoço  cheiroso  sem  a  menor  vergonha,  ele  colocou  a  camisinha,
provavelmente acostumado a fazer isso com garotas penduradas nele. Mas eu não
me importava de estar sendo só mais uma dentre as várias alunas que ele já havia
pegado,  seria  a  primeira  e  última  vez  mesmo.  Era  apenas  uma  irresistível  e
momentânea atração física, e jamais passaria disso. 
Precauções tomadas, ele voltou a me beijar, faminto graças aos meus talentos para
lidar com pescoços perfumados, e eu acariciei firmemente seus quadris, dedilhando
suas  “entradas”  deliciosas.  Escorreguei  minhas  mãos  um  pouco  mais  para  baixo  e
para a parte de trás, e me surpreendi com o relevo que encontrei. Eu me lembrava
de  ter  observado  aquela  bunda  (sem  querer!)  antes,  mas  não  imaginei  que  no
quesito tato ela pudesse ser tão melhor. 
Daniel apertou minha cintura com firmeza, e sem nem me dar tempo de assimilar o
que pretendia, ele me invadiu, me fazendo pensar por um momento que me rasgaria
por dentro. A força com a qual ele investiu, somada ao efeito único que seu corpo
tinha  no  meu  e  ao  nítido  tesão  em  sua  expressão  fechada,  me  causaram  uma
sensação  que  eu  jamais  tive  com  nenhum  outro  homem.  A  maneira  como  ele
continuava investindo, incessantemente firme, enquanto soltava ruidosamente o ar
em  meu  ouvido,  me  faziam  retorcer  os  dedinhos  dos  pés  e  agarrar  seus  ombros
como  se  eu  dependesse  daquela  força  pra  viver.  Meu  corpo  todo  estava  tenso,
sobrecarregado de prazer, e ainda assim ansioso por mais. 
Ele dava leves selinhos na curva entre meu pescoço e meu ombro de vez em quando,
provocando  choques  elétricos  a  cada  vez  que  seus  lábios  tocavam  minha  pele.
Qualquer  contato  entre  nossos  corpos  provocava  essa  sensação,  e  agora  eu  podia
afirmar que a eletricidade entre nós poderia abastecer uma cidade inteira. Nunca na
minha vida eu pensei que fosse gostar tanto daquela maneira rude, quase dolorosa,
mas agora eu podia entender por que algumas pessoas não conseguiam viver sem
aquilo. Era sem dúvida a sensação mais viciante do mundo. 
Após  alguns  minutos  me  adaptando  à  coisa  mais  prazerosa  que  eu  já  tinha
experimentado  na  vida,  recuperei  meus  movimentos,  e  logo  voltei  a  perder  o
controle sobre eles. Meus lábios grudaram em seu pescoço úmido de suor como se
eu fosse uma sanguessuga, dando chupões que provavelmente deixariam marcas, e
minhas  mãos  trêmulas  contornavam  seus  ombros  tensos  e  maravilhosos,  isso
quando não estavam percorrendo o resto de pele alcançável dele. É normal um cara
suar morango com champanhe ou seria uma alucinação da minha cabeça? 
Quando já tinha perdido a conta de quantos orgasmos ele já tinha me causado, o
cansaço começou a me dominar. Lutando contra a exaustão que teimava em querer
interromper aquela sensação incrível que o corpo dele provocava em mim, joguei a
cabeça  pra  trás,  segurando  seus  cabelos  entre  meus  dedos  enquanto  ele  beijava
intensamente meu pescoço e colo. Sem sucesso algum em me manter firme, voltei a
deixar  minha  cabeça  na  posição  normal  após  algum  tempo,  procurando  os  lábios
dele  na  tentativa  de  afastar  aquele  cansaço  mais  do  que  inconveniente.  Daniel
conseguiu me reanimar com seu beijo provocante, até soltar um gemido rouco rente
aos meus lábios e finalmente gozar, também esgotado. 
Abracei seu pescoço devagar, me sentindo um pouco tonta, e apoiei minha testa em

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 75/106
12/04/2015 Biology

seu ombro. Respirei por alguns segundos, de olhos fechados, tentando colocar um
pouco  de  ar  em  meus  pulmões,  mas  meus  músculos  ainda  pareciam  contraídos
demais pra permitir isso. Senti as mãos de Daniel acariciarem minha cintura e minhas
costas lentamente, e ele de leve depositou um selinho demorado e gostoso em meu
pescoço. 
­  Quando  eu  apenas  imaginava  como  seria  te  ter,  você  já  era  meu  vício  –  ele
sussurrou, arrepiando meus cabelos da nuca com seu hálito quente – Agora que eu
realmente te tenho... Não vou conseguir te tirar da cabeça. 
Abri os olhos com cuidado, e agradeci por não estar mais tonta. O oxigênio já fluía
mais  tranquilamente  por  minhas  vias  respiratórias,  e  meu  corpo  parecia  mais
relaxado. Ergui minha cabeça sem pressa até conseguir olhar pra ele, e sua expressão
demonstrava um deslumbre retraído, intrigado. Era como se eu fosse algo ainda a
ser desvendado, algo que ele não conseguia compreender. Apesar de meu rosto só
demonstrar cansaço, Daniel também tinha um significado incompreensível pra mim,
ainda mais depois de tudo aquilo. 
Fechei  meus  olhos  novamente,  sem  agüentar  encarar  aquele  brilho  ofuscante  no
olhar  dele  por  muito  tempo.  Meu  coração  precisaria  de  algum  tempo  pra  se
recuperar,  e  olhá­lo  tão  de  perto  nos  olhos  era  suicídio.  Respirei  fundo,  e  quando
estava prestes a abrir os olhos novamente, senti os lábios dele nos meus, daquele
jeito que não me dava outra escolha a não ser corresponder. Não porque ele não me
dava chance de escapar, mas porque meu corpo o correspondia sozinho, sem nem
pedir autorização. Uma de suas mãos envolveu um lado de meu rosto, e a outra me
abraçou pela cintura de um jeito reconfortante. 
Alguns segundos perdida naquele beijo e um turbilhão de memórias passaram pela
minha cabeça. 
Brii. 
Por Deus, o que eu estava fazendo ali outra vez? 
­  Pára,  Jones  –  soprei,  afastando­o  com  esforço  pelo  peito  com  a  expressão
vagamente alarmada – Eu tenho que ir. 
Daniel  me  encarou  por  pouco  tempo,  indo  da  confusão  à  resignação  em  poucos
segundos.  Me  deixou  levantar,  dando  as  costas  para  mim  enquanto  caçava  suas
roupas,  e  eu  não  ousei  olhá­lo  outra  vez,  por  mais  que  meus  olhos  teimosos
estivessem  diante  do  fato  de  que  ele  sem  roupa  era  ainda  mais  atraente  do  que
quando  estava  vestido.  Fiz  o  mesmo  que  ele,  me  vestindo  rapidamente  e  ainda
cambaleando algumas vezes. Quando terminei, me virei em sua direção, mas ainda
sem coragem de olhar diretamente em seus olhos. 
Daniel  já  estava  com  sua  blusa  grafite,  sua  calça  jeans  escura  e  seus  tênis
perfeitamente  brancos.  Com  menos  roupas  pra  vestir  do  que  eu,  ele  já  tinha  tido
tempo pra arrumar o cabelo, despreocupadamente bagunçado do jeito de sempre,
enquanto eu ainda procurava um elástico nos bolsos de minha calça pra prender o
meu. Com o calor que eu ainda sentia, quanto menos coisas me abafando, melhor. 
Quando  meu  cabelo  já  estava  decentemente  preso  num  rabo  de  cavalo  alto,  eu  o
encarei,  mordendo  meu  lábio  inferior  um  pouco  dormente.  Daniel  estava  com  as
mãos nos bolsos a poucos passos de mim, e seus olhos me instigavam a falar alguma
coisa, mesmo que ele não tivesse emitido um som sequer. 
­ Isso... Isso foi... Isso foi extremamente... Errado – gaguejei, abrindo e fechando a
boca  sem  dizer  nada  por  várias  vezes  entre  as  palavras  –  E  não  vai  acontecer  de
novo. Definitivamente não. 
Ele continuou me encarando, sem expressão a não ser pela intensidade de seu olhar,
e alguns segundos depois, um sorriso se formou em seus lábios avermelhados. Um
sorriso convencido, nem um pouco preocupado com o ponto final taxativo que eu
havia dado naquela situação. 
­ Que progresso – ele murmurou, erguendo as sobrancelhas por um momento em
tom de surpresa – Hoje você preferiu falar alguma coisa a sair correndo com cara de
horror. Isso aumenta bastante minhas esperanças. 
Meu olhar estremeceu rapidamente quando ouvi sua voz carregada de prepotência.
Por  algum  motivo,  ele  tinha  certeza  de  que  aquilo  aconteceria  novamente.  E  de

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 76/106
12/04/2015 Biology

alguma forma, eu não me sentia totalmente firme para contrariá­lo. Minhas pernas
ainda  não  tinham  parado  de  tremer,  e  as  sensações  que  ele  tinha  me  provocado
estavam bem frescas em minha memória. 
­  Você  não  ouviu  o  que  eu  disse?  –  perguntei,  tentando  evitar  que  minha  voz
falhasse, mas foi totalmente em vão – Não vai acontecer de novo. Eu odeio você. 
Dizer as últimas três palavras não foi tão convincente como costumava ser antes. Eu
não  sentia  nenhum  tipo  de  afeto  por  ele,  mas  odiar  parecia  não  descrever
exatamente o que ele representava pra mim. Era algo mais... Indescritível, talvez. 
­ Claro que ouvi – Daniel respondeu, irônico, assentindo uma vez e erguendo uma
sobrancelha de um jeito que o deixava ainda mais sensual – Pude ler essas mesmas
palavras escritas na sua testa ontem, com a mesma firmeza impressionante. E olha
só que coisa, você está aqui hoje. De novo. 
Engoli  em  seco,  com  a  respiração  levemente  ofegante.  As  contradições  dentro  de
mim  estavam  me  deixando  tonta  novamente,  mas  eu  me  mantive  firme,  mesmo
quando ele deu um passo na minha direção. Tudo bem, quando ele deu o segundo
passo, eu comecei a ter leves vertigens, e só não caí quando ele resumiu a distância
entre nós a poucos centímetros porque ele me sustentava, com seus dedos fortes ao
redor  de  meus  braços.  Nossos  olhares  estavam  magnetizados,  conectados
invisivelmente, e só se desviaram um do outro quando ele acariciou minha bochecha
com a sua e murmurou em meu ouvido, com aquela voz irresistível: 
­ Vou esperar ansiosamente pela sua próxima visita. 
Daniel se afastou novamente, com um sorriso de canto nos lábios, e assim que suas
mãos me soltaram, pensei que fosse desmaiar. Mas após alguns segundos reunindo
forças  pra  me  manter  de  pé,  fiz  a  única  coisa  que  me  ocorreu:  saí  correndo  do
laboratório,  destrancando  a  porta  com  dificuldade,  e  quase  caindo  ao  descer  os
degraus das escadas. 
Ele estava errado. Eu não voltaria mais. Eu nunca mais me permitiria voltar àquele
laboratório,  mesmo  que  meu  corpo  gritasse  pelo  dele.  Mesmo  que  meu  corpo
implorasse pra ter o que só ele conseguia me dar. 

Capítulo 13 

Cheguei  em  casa  com  a  mesma  expressão  lívida  com  a  qual  deixei  o  laboratório.
Podia  sentir  o  suor  frio  em  minha  testa,  podia  sentir  a  palidez  do  meu  rosto,  a
instabilidade  de  minhas  pernas  e  mãos,  o  puro  pânico  estampado  em  meus  olhos
ainda arregalados. 
­ Tá tudo bem mesmo com você, filha? – ouvi minha mãe dizer assim que entramos
em  casa,  e  por  mais  que  ela  estivesse  bem  ao  meu  lado,  sua  voz  estava  distante,
como se houvesse vários metros entre nós. 
Assenti  vagamente,  assim  como  fiz  durante  todo  o  trajeto  no  carro,  sem  sequer
tentar entender o que ela estava perguntando. Caminhei o mais rápido que pude até
meu  quarto,  quase  tropeçando  nas  escadas,  e  me  tranquei  com  pressa.  Encostei
minhas costas na porta e lutei contra meus joelhos vacilantes, sem conseguir definir
exatamente o que estava acontecendo dentro de mim. 
Eu  me  sentia  em  transe,  numa  dimensão  completamente  distante  da  realidade,
alheia  a  qualquer  sentimento.  Era  como  se  eles  estivessem  presos  numa  caixa
minúscula, aprisionados, me transformando numa pessoa oca. Não conseguia sentir
remorso, nem dor, nem raiva, nada. Apenas o vazio. O mesmo vazio que mantinha
meus  olhos  arregalados  e  fixos  no  abajur  de  minha  mesa  de  cabeceira,  sem
realmente enxergar nada. Apenas via trechos dos recentes acontecimentos passando
como flashes em minha mente. 
Quando  me  dei  conta  do  que  estava  fazendo,  me  vi  em  meu  banheiro,  tirando  a
roupa com agonia, como se houvessem formigas ou qualquer outra coisa indesejada
nelas.  Coloquei  todas  as  peças  no  cesto  de  roupa  suja  de  um  jeito  rude,  na  inútil
ilusão  de  que  aquilo  me  ajudaria  em  alguma  coisa.  Liguei  o  chuveiro  até  que  um

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 77/106
12/04/2015 Biology

forte jato de água jorrasse dele, e entrei de cabeça debaixo daquela cachoeira gelada.
Meu corpo estremeceu pelo choque térmico, mas eu me mantive imóvel, deixando a
água escorrer ralo abaixo e levar consigo tudo que restava dele em mim. 
Absorver  o  turbilhão  de  loucuras  que  tinham  acontecido  em  tão  pouco  tempo
parecia impossível, mas quando a compreensão finalmente começou a aparecer e eu
consegui  organizar  meus  pensamentos,  as  perguntas  sem  resposta  me  engoliram
como  uma  onda  gigante.  Como  eu  deixei  isso  acontecer?  Por  que  eu  deixei  isso
acontecer? Eu amava Brii, podia sentir meu coração doer de culpa a cada batimento! 
Mas ao mesmo tempo, podia sentir os leves tremores que percorriam minha espinha
a  cada  segundo  gasto  pensando  em  Daniel;  apesar  de  estar  debaixo  do  chuveiro,
ainda  podia  sentir  o  cheiro  dele  em  minha  pele,  o  cheiro  do  qual  eu  me  tornei
inconscientemente dependente há algum tempo. Não era certo querer um cafajeste
daquele  jeito,  somente  por  pura  atração  física,  enquanto  eu  tinha  um  príncipe
encantado me dando todo o amor que eu precisava. 
Com  os  olhos  fortemente  fechados,  eu  permaneci  naquela  posição  por  incontáveis
minutos. Era extremamente doloroso, mas eu nem tentei me impedir de pensar em
Brii. A imagem de seu rosto sorridente, radiante, apaixonado, logo dominou minha
mente, a não ser quando os olhos Azuis do professor Jones teimavam em surgir, tão
hipnotizantes que tirariam do chão até a pessoa mais insensível. Como eu fui um dia
em relação a ele. 
Me abracei, sentindo as pontas de meus dedos ficarem cada vez mais frias, e abri os
olhos,  já  que  mantê­los  fechados  só  piorava  minha  situação.  Focalizei  o  vidro
molhado do box à minha frente, bem aonde havia uma pequena prateleira com meu
shampoo,  sabonete  e  condicionador.  Num  cantinho  da  prateleira,  estava  uma
esponja  praticamente  intocada  que  mamãe  havia  me  dado  há  algum  tempo  atrás,
esperando até seu próximo e raro uso. Não precisei pensar duas vezes. 
Peguei a esponja, encharcando­a e esfregando meu sabonete nela até me certificar
de que a espuma era suficiente. Com o lado áspero, eu comecei a me esfregar por
inteiro num movimento frenético e masoquista, começando pelos braços e seguindo
pelo resto do corpo. Os vergões avermelhados que a esponja deixava em minha pele
mal apareciam, escondidos sob a grossa camada de espuma que os cobriam, mas eu
podia  senti­los  ardendo  insistentemente.  Desesperada,  eu  passei  a  esfregar  com
ainda mais força, e cada lugar que a esponja percorria me trazia uma lembrança de
tudo que eu e Daniel tínhamos feito. Um nó enorme e doloroso se formou em minha
garganta, mas prometi pra mim mesma que não derramaria uma lágrima. Não por
ele. Não por Daniel. 
Aquilo tinha sido só um momento de insanidade, nada mais. Nunca aconteceria de
novo,  isso  era  certeza.  Brii  não  precisaria  saber,  não  houve  sentimento  nenhum,
nunca existiu e nunca vai existir. Eu odiava Daniel, e não sabia como viveria sem Brii.
E por todos os aspectos que os tornavam duas pessoas completamente diferentes,
eu guardei aquele erro dentro de mim, num canto deserto de minha memória, de
onde ninguém o tiraria. Era isso... Estava acabado. 
Me  deixei  cair  no  chão  do  box,  cansada  e  arfante  pelo  esforço  com  a  esponja.
Encostei  minha  cabeça  na  parede  atrás  de  mim,  sentindo  minha  pele  arder  ainda
mais  quando  os  respingos  de  água  gelada  me  atingiam,  e  encarei  o  vazio  por  um
tempo. Totalmente entorpecida. Eu tinha tomado minha decisão. Eu sabia que não
seria  capaz  de  encarar  Brii  novamente  sem  me  lembrar  de  minha  mentira,  mas  o
simples pensamento de contar a ele e ver a repulsa em seu olhar fazia meu corpo se
encolher  involuntariamente.  Brii  não  merecia  ser  enganado,  e  eu  sabia  que  não  o
merecia, mas eu era egoísta demais pra dizer a verdade e vê­lo me abandonar. 
Após  um  longo  tempo  que  não  consegui  calcular,  ouvi  batidas  na  porta  de  meu
quarto. Ignorei­as totalmente, sem condições de falar com ninguém. Eu me sentia
um pouco mais calma, mas ainda não totalmente de volta à realidade. 
Foi quando eu ouvi uma voz inesperada do outro lado da porta. 
­ Mell? 
Olhei na direção da voz, como se fazendo isso pudesse ver se ela realmente pertencia
a quem eu estava pensando. Com cuidado pra não escorregar, me levantei do chão,

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 78/106
12/04/2015 Biology

me enxagüei rapidamente pra tirar o resto de espuma e saí do banheiro, com uma
toalha enrolada no corpo e a outra no cabelo. 
Caminhei até a porta, e a voz novamente falou, como se fosse para confirmar minhas
dúvidas: 
­ Mell? Tá tudo bem com você? 
Engoli  em  seco,  me  perguntando  se  ela  notaria  meu  jeito  estranho  e  se  alguma
desculpa  idiota  a  convenceria,  do  jeito  que  ela  me  conhecia  bem.  Ignorei  minhas
perguntas e destranquei a porta, abrindo­a e dando de cara com Kimberlly. 
­  O  que  você  tá  fazendo  aqui?  –  murmurei,  mas  minha  voz  saiu  falha  e  rouca,
destoando totalmente da minha tentativa de um sorriso casual. 
­  Sua  mãe  ligou  lá  pra  casa,  disse  que  você  tava  estranha,  e  eu  resolvi  vir  pra
investigar – ela respondeu, com a testa levemente franzida de preocupação. 
­  Que  besteira,  não  tem  nada  de  errado  comigo  –  menti,  sentindo  meus  joelhos
vacilarem novamente, mas me mantive firme. Kimberlly entrou no quarto, e quando
fiz  menção  de  fechar  a  porta  atrás  de  nós,  ela  segurou  meu  pulso  com  uma
expressão intrigada. 
­ O que exatamente é isso? – ela perguntou, de um jeito que beirava o horror, e eu
olhei na direção que ela encarava. Vergões avermelhados e irregulares coloriam meus
braços,  desde  os  ombros  até  os  pulsos.  E  nem  assim  eu  estava  conseguindo  me
sentir limpa. 
­ Eu... Eu não sei – gaguejei, me desvencilhando educadamente dela e fechando a
porta ­ Acho que é... Alergia de alguma coisa. 
­  Quando  você  vai  se  dar  conta  de  que  suas  mentiras  não  me  convencem?  –
Kimberlly disse, com a voz grave, transbordando seriedade através de seus olhos –
Não está tudo bem com você, claro que não. O que aconteceu? 
­  Não  aconteceu  nada!  –  exclamei,  um  pouco  mais  alto  do  que  pretendia,  porque
minha voz saiu esganiçada e trêmula. Esconder alguma coisa dela não era nada fácil,
muito  menos  uma  coisa  como  aquela,  que  nem  eu  sabia  como  esconder  de  mim
mesma, apesar de tentar com todas as minhas forças. 
­ Mell, pelo amor de Deus – ela chamou, levemente em choque pela minha reação,
quando  eu  caminhei  energicamente  na  direção  de  meu  armário  –  Você  sabe  que
pode confiar em mim, não precisa mentir! 
Me escondi o máximo que pude atrás das portas de meu guarda­roupa, sem deixá­la
ver meu rosto, e suspirei, irritada. Ela não devia estar ali, eu precisava de um tempo
sozinha  pra  pensar  antes  de  falar  com  alguém.  Mas  agora  que  ela  já  estava,  não
conseguiria expulsá­la sem criar suspeitas. Ela me seguiu, e sentou­se na cama atrás
de mim, enquanto eu juntava forças para falar. 
­ Já disse, eu estou bem, isso deve ser alguma alergia – murmurei, sem coragem de
olhá­la. Nem de continuar a falar. O que mais eu poderia dizer? 
Ouvi Kimberlly bufar atrás de mim enquanto eu pegava algumas roupas, e já estava
começando a ficar realmente pressionada, quando ela piorou minha situação: 
­  Não  adianta  continuar  mentindo,  eu  só  vou  sair  daqui  quando  você  me  contar
como esses arranhões foram parar aí. 
Engoli em seco, sabendo que ela estava falando muito sério por causa de seu tom de
voz. Fechei meu armário, com roupas íntimas, uma blusinha e um shorts na mão, e
me virei pra ela, derrotada. Como eu sabia que aconteceria, a preocupação em seu
olhar fez uma onda de insegurança percorrer minha espinha, e antes que eu pudesse
deter as palavras, elas já haviam sido ditas. 
­ Eu fiz isso. 
­ Você? Mas por quê? – ela murmurou, com um tom ainda mais horrorizado, e eu
senti  minha  garganta  fechar  por  completo.  Agora  que  eu  a  encarava,  dizer  o  que
tinha  acontecido  parecia  impossível,  mas  ao  mesmo  tempo,  mentir  estava  fora  de
cogitação. Ela saberia ler através de minha expressão, sentir o nervosismo em minha
voz, não importava o quão convincente minha mentira fosse. 
Eu não disse nada por alguns segundos, e a firmeza de meu olhar no dela não durou
muito.  Precisando  de  um  álibi  para  não  encará­la,  fingi  estar  concentrada  em  me
vestir, quase caindo de nervoso ao passar minhas pernas pelos buracos do shorts. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 79/106
12/04/2015 Biology

­  Se  você  não  quer  me  contar,  tudo  bem  –  ela  suspirou  quando  eu  terminava  de
vestir a blusa, e mesmo sem olhá­la, pude sentir seus olhos fixos nos vergões agora
rosados  de  minhas  pernas  –  Mas  pelo  menos  me  diga  como  eu  posso  te  ajudar.
Qualquer coisa. 
­  Ninguém  pode  me  ajudar  –  suspirei,  andando  até  o  banheiro  para  pentear  o
cabelo, e ela me seguiu, me observando desviar meu olhar do dela pelo reflexo do
espelho. 
Ficamos novamente num silêncio tenso, até que minhas ocupações acabaram e eu
me  virei  pra  ela,  cruzando  os  braços  firmemente  na  altura  do  peito.  Kimberlly  me
encarava com súplica no olhar, e eu percebi que não adiantaria continuar enrolando.
Não  havia  como  fugir  de  sua  própria  consciência,  que  no  meu  caso,  atendia  pelo
nome de Kimberlly  Macarenhas.  Respirei  fundo  antes  de  fazer  o  que  teria  de  fazer
uma hora ou outra, e minha voz escapou por entre meus lábios como um sussurro
quase inaudível. 
­ Eu... Traí o Brii. 
Kimberlly  arregalou  os  olhos,  totalmente  pega  de  surpresa,  e  esperei  até  que  o
choque de minha revelação passasse e ela fosse capaz de falar. Encarei firmemente o
chão, tentando em vão parar de tremer. 
­ C­com quem? – ela gaguejou, alguns segundos depois, e pude sentir uma pontada
de suspeita em seu jeito de perguntar. 
Fechei os olhos com força, ordenando que meu corpo não se arrepiasse só de pensar
nele, mas foi em vão. Quando as palavras saíram de minha boca, ainda mais baixas
que da outra vez, pude sentir meus cabelos da nuca se eriçarem de imediato. 
­ Com o professor Jones. 
Kimberlly  não  se  mexeu.  Não  consegui  devolver  seu  olhar,  e  por  algum  tempo
ficamos  imóveis  e  caladas,  cada  uma  ocupada  demais  com  seus  próprios
pensamentos. 
­ Eu... Eu não sei o que dizer – ela sussurrou, parecendo finalmente vencer sua luta
com as palavras, e apesar de não vê­la, percebi que ela soltou um risinho surpreso –
Talvez eu devesse começar com um “Eu sabia”. 
Franzi  minha  testa  e  ergui  o  rosto  pra  olhá­la,  sem  entender.  Ela  me  encarou  de
volta, com os olhos admirados, e sorrindo de um jeito deslumbrado. Arregalei meus
olhos pra ela, totalmente confusa, e nem precisei dizer nada pra que ela continuasse:
­ Desde o começo, desde que você e o professor Langdon começaram essa história
toda,  e  que  o  Jones  resolveu  se  meter  nesse  rolo...  Eu  sempre  soube  que  isso  ia
acabar acontecendo. Fala sério, Amellie, você sempre fica a fim do cara errado. 
Juro  que  tentei  abrir  a  boca  pra  falar  algo,  mas  minha  voz  não  saiu.  Minha
indignação era maior que qualquer coisa. Como assim, eu sempre ficava a fim do cara
errado?  Eu  não  estava  a  fim  do  Jones!  Aquilo  foi  só  um  deslize,  um  impulso
indesejado! 
­ Mas e aí, como foi? – ela sorriu, de repente adotando uma expressão curiosa – Não
precisa entrar em detalhes, dizer se foi bom ou não já é o suficiente. 
­  Kimberlly!  –  exclamei,  finalmente  recuperando  minha  voz,  e  fazendo­a  pular  de
susto com uma expressão retraída – Eu te digo que traí o Brii e tudo que você faz é
me perguntar se foi bom? 
Ela  ficou  em  silêncio  por  alguns  segundos,  assustada,  até  que  voltou  a  falar,
timidamente e num tom baixo: 
­ Não foi exatamente isso que eu perguntei, mas dá na mesma. 
­ Kimberlly! – falei de novo, passando por ela e caminhando de volta para o quarto,
embrenhando meus dedos desesperadamente em meus cabelos – Você entendeu o
que eu disse ou vou ter que repetir outra vez? Eu traí o Brii com o Jones! 
­ Tá, e daí? – ela retrucou, parecendo meio impaciente e sentando­se pesadamente
em  minha  cama  –  Eu  já  entendi  isso,  você  é  que  não  pareceu  entender  minha
pergunta! Me diz, o que eu posso fazer agora que você já fez a besteira? Vai adiantar
eu ficar falando mil baboseiras inúteis, chorar pelo leite derramado com você? 
­ Eu sei que não tem mais volta, foi um erro, mas você podia pelo menos fingir ser
uma pessoa normal e me dar a maior bronca ou algo do tipo, e não me perguntar

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 80/106
12/04/2015 Biology

como foi! – eu disse, encarando­a energicamente. 
­  Achei  que  você  já  me  conhecesse  há  tempo  suficiente  pra  saber  que  eu  não  me
surpreendo assim tão fácil – Kimberlly murmurou, erguendo as sobrancelhas de um
jeito desafiador – Em momento nenhum eu fui ou pretendo ser falsa com você, e é
isso o que eu estaria sendo agora se estivesse te dando uma bronca. Atração física
acontece  aos  montes,  Amellie,  é  mais  normal  do  que  se  pensa.  A  única  diferença
disso pra um relacionamento normal é que ninguém costuma sair contando pra todo
mundo, mantêm as coisas em segredo. 
Fitei  os  olhos  compreensivos  de  Kimberlly  por  alguns  segundos,  totalmente
desarmada. Me deixei cair sentada no chão, ainda encarando­a sem entender, e ela
subitamente riu de minha atitude. Por que eu tinha que ter uma amiga tão mente
aberta e liberal? 
­ Não precisa se martirizar tanto só porque não resistiu às tentações da carne, Mell –
ela  sorriu,  sentando­se  no  chão  à  minha  frente  –  Se  não  teve  sentimento,  não  foi
exatamente uma traição... Então, pra que se preocupar? 
Abaixei  meu  olhar  pro  chão,  refletindo  sobre  o  que  eu  já  sabia,  mas  que  ela  tinha
feito o favor de repetir. Tudo tinha sido tão rápido, tão inesperado, tão mecânico...
Não havia um pingo de sentimento ali, era puro tesão. Meu amor por Brii continuava
intocado, apesar do fato de que todas as transas com ele não equivaliam à única com
Daniel no quesito físico. Mas eu não devia nem queria comparar os dois. Pra mim, só
existia um homem, e ele se chamava Brian Langdon. 
Suspirei,  psicologicamente  exausta  pra  continuar  travando  aquela  luta  interna,  e
voltei a encarar Kimberlly, ainda sorrindo docemente. 
­  Foi  tudo  tão...  Confuso  –  foi  tudo  o  que  consegui  sussurrar,  pela  primeira  vez
conseguindo demonstrar alguma emoção sobre o assunto, e seu sorriso se alargou.
Ela  dobrou  as  pernas  contra  seu  tronco  e  abraçou  os  joelhos,  carregando  sua
expressão de curiosidade novamente. 
­ Agora que você já está mais calminha... Pode me dizer como foi? – ela murmurou,
parecendo prevenida quanto aos meus súbitos acessos de desespero, e eu não pude
deixar de sorrir fraco. Um calor súbito passou por mim, e meu olhar se perdeu em
meio aos meus pensamentos, que dessa vez eu simplesmente deixei fluir, tornando
meu sorriso mais largo. 
­ Foi o melhor erro que eu já cometi. 

­ Tchau, meninas, boa aula! 
Saí  do  carro  de  mamãe,  mais  trêmula  que  bambu  em  ventania,  e  Kimberlly  fez  o
mesmo do outro lado, cumprindo a parte simpática do relacionamento com mamãe,
a qual eu tinha desfalcado desde o dia anterior. Kimberlly tinha dormido em casa, me
dando  todo  o  apoio  que  eu  precisava  pra  não  sair  correndo  quando  a  manhã
seguinte chegasse, mas tudo pareceu ter sido em vão quando me dei conta de que
estávamos  paradas  em  frente  ao  colégio.  Quer  dizer,  eu  estava,  porque  ela  me
arrastava escola adentro, como se carregasse uma estátua de mármore. 
­ Quer fazer o favor de entrar? – ela resmungou, me puxando pelo braço com uma
careta  mal  educada  –  Lembra  do  que  eu  te  falei?  Você  não  tem  motivos  pra  ter
medo! 
Nem liguei pra frase totalmente clichê e equivocada de Kimberlly, que parecia estar
enxergando aquilo tudo como uma coisinha boba e não como mais um problema na
vida  cada  vez  mais  complicada  de  sua  melhor  amiga.  Respirei  fundo  e  comecei  a
andar,  contra  meus  próprios  instintos,  na  direção  do  pátio  da  escola,  rezando  pra
que nenhum dos dois aparecesse. Hoje eu não tinha aula com nenhum deles, então
talvez pudesse fugir antes do intervalo, alegando fortes dores de cabeça. O que não
seria totalmente mentira. 
­ Vamos subir de uma vez, eu não quero ficar aqui – sussurrei, segurando Kimberlly
pelo braço e puxando­a na direção das escadas. Mas ela cutucou minha mão, com o
olhar  fixo  em  algum  ponto  à  nossa  frente,  e  meu  estômago  revirou  quando  meu
olhar seguiu o dela. 
­ Bom dia, Macarenhas – ouvi a voz de Brii sorrir, alegre como sempre, e logo seus

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 81/106
12/04/2015 Biology

olhos Castanhos brilhantes se voltaram pra mim, provocando uma fisgada em meu
peito – Bom dia, flor do dia. 
Tudo  que  fui  capaz  de  fazer  foi  sorrir  de  leve,  suando  frio  agarrada  ao  braço  de
Kimberlly.  Ele  retirou  um  bilhete  do  bolso,  sorridente,  e  me  entregou,  dando  uma
piscadinha antes de se afastar novamente. Não pude deixar de acompanhá­lo com o
olhar, e me arrependi amargamente disso. Assim que ele chegou à porta da sala dos
professores,  uma  coisa  vinho  saiu  de  dentro  dela,  toda  sorridente,  e  começou  a
caminhar  na  direção  das  escadas,  após  cumprimentar  Brii.  Apertei  o  braço  de
Kimberlly com mais força, mas ela não reclamou. 
Daniel passou por nós, ainda mais sedutor do que nunca com sua nova e linda peça
de vestuário, e me lançou um breve olhar. Por mais rápido que tenha sido, aquele
olhar estava cheio de significados, dos quais eu estava plena e dolorosamente ciente.
Fato: ele era meu inferno particular na Terra. 
­ Deixa o Jones pra lá e abre logo esse bilhete! – Kimberlly sussurrou, e só então eu
me  lembrei  do  pequeno  papel  que  Brii  havia  me  entregado.  Desdobrei­o
tremulamente, e minha respiração parou quando li o que estava escrito. 

Tenho uma surpresa pra você nesse fim de semana. Pode ir se preparando, vou te
seqüestrar de sexta a domingo! Te amo. xx 

Uma dor que eu nunca tinha sentido antes infestou cada célula do meu corpo, mas
eu nem tentei fazê­la passar. Eu sabia que eu merecia aquilo. E a culpada por aquela
dor não era ninguém mais do que eu. Não havia mais ninguém para culpar... Só eu. 
Ergui  um  pouco  meu  rosto,  sentindo  minha  visão  embaçar,  mas  Kimberlly  logo
percebeu que eu estava prestes a desmoronar e começou a cochichar: 
­ Amellie, você prometeu pra mim que não ia fazer isso! 
Eu balançava a cabeça negativamente, contendo as lágrimas com esforço. O que eu
era  exatamente?  Um  monstro?  Uma  destruidora  de  sentimentos,  uma  idiota
completa? Eu não conseguiria fingir que estava tudo bem com Brii, nem olhá­lo nos
olhos eu conseguia! 
­ Kimberlly... – eu murmurei, olhando pra ela – Eu... Ele... Não... Eu não consigo... 
Ela revirou os olhos, me arrastando na direção da escadaria, com uma expressão que
beirava o tédio. 
­ Escuta aqui – ela rosnou baixinho, me puxando pelos degraus – Você não gosta do
Langdon,  é  isso?  É  pelo  Jones  que  você  tá  apaixonada?  É  com  ele  que  você  quer
ficar, é por ele que você quer foder com a sua vida? 
Neguei com a cabeça, me encolhendo com desespero. Cada pergunta dela era como
uma facada no peito de tão absurda. 
­  Então  pára  de  ser  ridícula  e  engole  esse  choro!  –  ela  ordenou,  autoritária  –  Se
importe com quem realmente interessa, e joga o resto fora! Se as pessoas não se
forçassem a esquecer certas coisas, o mundo seria cheio de gente depressiva. 
Respirei  fundo,  conseguindo  retomar  meu  controle  emocional.  Ela  estava  certa,  já
que  o  erro  estava  feito,  eu  só  precisava  esquecer  aquilo  e  seguir  em  frente,  me
esforçando mais do que nunca pra fazer Brii feliz. Agora que a possibilidade de perdê­
lo havia se tornado menos remota, valia tudo pra mantê­lo comigo. 
­  Obrigada  –  sussurrei,  subindo  os  últimos  degraus,  cabisbaixa,  e  ela  sorriu,
afastando­se de mim pra entrar em sua classe enquanto eu entrava na minha. Por
algum motivo, eu não consegui soltar o bilhete de Brii pelo resto das aulas, relendo­o
discretamente de vez em quando ou segurando­o com toda a minha força dentro de
meu punho como se aquilo valesse a minha vida. Ou pelo menos a parte feliz dela. 

Capítulo 14

­ Mãe? 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 82/106
12/04/2015 Biology

­ Oi, amor... Por que você tá me ligando a essa hora? Aconteceu alguma coisa? 
­ É que... Eu não tô me sentindo muito bem. 
Seria a desculpa perfeita, pelo menos pra mim era. Meu estômago revirava a cada
pessoa  que  entrava  em  meu  campo  de  visão,  num  sinal  físico  de  pânico.  Eu  não
estava em condições de ficar na escola por mais um minuto sequer, por isso estava
fingindo um mal estar dos brabos. A palidez e o suor frio, junto com as olheiras de
quem mal tinha dormido na noite anterior serviram pra alguma coisa que não fosse
me deixar ainda mais horrorosa do que eu já era. Enquanto eu falava com mamãe no
telefone da secretaria, a moça responsável pelas dispensas da escola me olhava com
aflição, como se eu estivesse a ponto de vomitar nela. O que não estava tão distante
da realidade, já que eu podia jurar que estava meio verde. 
­ O que você tá sentindo? – mamãe perguntou, preocupada com o meu tom de voz
rouco,  e  eu  engoli  a  vontade  de  gritar  pra  que  ela  parasse  de  fazer  perguntas  e
simplesmente viesse me buscar. 
­  Não  sei,  tô  meio  tonta  e  enjoada...  Vem  me  buscar  –  foi  tudo  que  consegui
responder,  e  de  repente,  um  ser  vinho  parou  bem  ao  meu  lado  no  balcão  da
secretaria,  colocando  uma  pasta  cheia  de  papéis  em  cima  dele  sem  a  menor
delicadeza. 
­  Por  hoje  é  só,  Lizzie  –  ele  sorriu,  todo  moleque,  para  a  moça  à  nossa  frente,  e
arrumou a mochila sobre um ombro, dando meia volta e passando por trás de mim
em direção à porta de saída. Pude jurar que ele levou o dobro de tempo necessário
pra fazer isso, já que seu perfume infestou em peso o ambiente, me deixando ainda
mais tonta. 
­ Amellie? Você tá me ouvindo? – mamãe disse, como se não fosse a primeira vez
que perguntasse isso, e eu descobri que suas palavras foram apenas ruídos enquanto
Daniel estava perto. Prestar atenção em mais de uma coisa não estava sendo fácil pra
mim hoje. 
­  Desculpe,  mãe,  o  que  você  tava  dizendo  mesmo?  –  gaguejei,  esfregando  minha
testa energicamente com a mão livre. 
­ Eu disse que não posso ir te buscar agora, estou na sala de espera pra fazer um
exame – ela repetiu, pausadamente – Se preferir esperar, dentro de mais ou menos
uma hora eu passo aí, mas se quiser ir embora, pegue um táxi e me ligue quando
chegar. Use aquele dinheirinho que eu te dei pra casos de emergência, tá bem? 
Falou certo, mãe. Emergência. 
­ Tá – respondi, desligando sem nem esperar resposta, e sorri fraco pra tal de Lizzie,
que  devolveu  meu  sorriso  com  alívio  enquanto  pegava  a  pasta  que  o  Jones  tinha
deixado com ela. Deixei a secretaria às pressas e só parei quando cheguei à calçada
em  frente  ao  colégio.  Olhei  em  volta,  pensando  na  maneira  mais  fácil  e  rápida  de
encontrar um táxi, e vi alguém parar ao meu lado. 
­ Lindo dia, não? – a voz sacana de Daniel murmurou, me fazendo quase pular de
susto com sua presença repentina. Não sei se já disse isso antes, mas eu me odeio.
Não existe ninguém que eu odeie mais nesse mundo que eu mesma, nem mesmo a
forte concorrência chega perto de mudar minha opinião. 
Ignorei o comentário dele sobre o céu cinza e carregado, e respirei fundo, tentando
acalmar a tremedeira em minhas pernas para poder ir embora dali logo. Não preciso
nem dizer que ele recomeçou a falar, certo? 
­ Dias assim me lembram você – ele suspirou num falso tom romântico, e eu fingi
que não estava ouvindo o urro de incômodo dentro de mim – Ranzinza, sombrio,
cheio de tempestades... Mas que depois dá lugar ao sol mais quente que existe. 
Fechei os olhos, começando a ficar ofegante pela provocação descarada. A metáfora
estava claríssima, e eu não estava conseguindo mais respirar direito. Concentrada em
normalizar meus batimentos cardíacos, finalmente tomei coragem de revidar. 
­ O que você quer? – rosnei entre dentes, encarando nervosamente o lado oposto ao
dele, que soltou um risinho de contentamento. 
­ Eu? – ele respondeu, irônico – Eu não quero nada, já dei todas as aulas do dia... O
que mais um professor pode querer? Agora você tá doida pra ir embora, pelo que
me parece. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 83/106
12/04/2015 Biology

Bufei,  com  os  braços  cruzados  bem  apertados  na  altura  do  peito  e  as  mãos
fortemente fechadas em punhos. 
­  Não  te  interessa  –  resmunguei,  agoniada  com  minha  incapacidade  de  mandar
oxigênio para meus pulmões – Ainda não deu pra notar que eu não quero falar com
você? 
­ Tudo bem, eu não pretendia falar mesmo – Daniel retrucou, com humor na voz –
Existem coisas bem mais interessantes que falar. 
Por mais freqüente que isso fosse, acho que eu nunca tive tanta vontade de socar
Daniel como naquele momento. Por isso, nem me importei por estar no meio da rua,
tão perto de pessoas que não deveriam ver aquela cena, e meti a mão na cara dele.
Bom, pelo menos eu tentei. 
Droga, o que ele tinha feito ultimamente, treinado reflexos? Por que ele tinha que
estar tão mais rápido a ponto de eu não conseguir mais bater nele? Fechei os olhos,
frustrada, quando senti os dedos fortes dele se fecharem contra meu pulso, a poucos
centímetros de seu rosto. 
­  Sabe  qual  é  o  seu  problema?  –  ele  sorriu  calmamente  pra  mim,  como  se  não
estivesse  falando  com  alguém  que  pretendia  arrancar  dolorosamente  todos  os
dentes dele se tivesse a chance – Você tem pressa demais. Não sabe esperar. 
­ Me solta – pedi, encarando­o com repulsa, e seus olhos penetrantes me deixaram
tonta por um momento – Eu quero ir embora. 
­  Então  me  deixe  terminar  de  falar,  estressadinha  –  Daniel  falou,  erguendo  as
sobrancelhas em tom de superioridade, e eu bufei novamente, sem poder fazer nada
a  não  ser  ouvi­lo  –  Antes  da  sua  tentativa  inútil  e  infantil  de  me  bater,  eu  ia  te
oferecer uma carona, mas agora que eu percebi a sua empolgação pra ir embora, eu
retiro minha oferta... 
­ Ótimo – grunhi, sorrindo sarcasticamente com a idéia de aceitar uma carona dele.
Mas meu sorriso logo desapareceu quando ele terminou a frase: 
­ E a substituo por uma exigência. 
Franzi  a  testa,  inconformada  com  aquele  absurdo.  Quem  ele  pensava  que  era  pra
exigir alguma coisa de mim? 
­ Escuta aqui, seu idiota – comecei, sem nem ligar por estar falando mais alto que o
aconselhável  –  Eu  não  suporto  que  uma  pessoa  asquerosa  como  você  me  dirija  a
palavra,  ouviu  bem?  Vê  se  me  esquece,  eu  te  odeio!  Só  você  não  se  tocou  disso
ainda! 
­ Se você não vier comigo agora, garota, eu entro nessa porra desse colégio e conto
tudo que aconteceu ontem pro Langdon – Daniel murmurou, com os olhos cravados
nos meus de um jeito intimidador – E ainda por cima, no mesmo volume que você tá
usando pra falar comigo, pra que não só ele, mas todo mundo ouça o que a gente
andou aprontando. 
Esqueci  como  se  respirava  com  aquela  ameaça.  Eu  não  conseguia  suportar  nem  a
mera hipótese de Brii saber sobre meu deslize, e agora com Daniel me confrontando
daquele  jeito,  tudo  parecia  muito  mais  possível  de  acontecer.  E  eu  sabia  que  não
podia me arriscar de maneira alguma, mas mesmo assim, tentei. 
­ Ninguém acreditaria em você – gaguejei, esboçando um risinho desdenhoso, que
nem foi páreo para o dele, tranqüilo e seguro de si. Ele sabia o quanto Brii valia pra
mim, sabia que uma hora ou outra, eu desistiria e cairia em sua armadilha. 
­  Bom...  Isso  é  uma  possibilidade  –  ele  concordou,  sem  demonstrar  um  pingo  de
preocupação quanto ao meu blefe – Quer pagar pra ver? 
Continuei encarando os olhos Azuis dele, com os pensamentos a mil. Por mais que
eu me esforçasse pra pensar numa outra saída, nada me ocorria a não ser obedecê­
lo.  Havia  coisas  demais  a  perder  naquela  chantagem,  e  eu  não  podia  depender  de
possibilidades. 
Desviei meu olhar dele pro chão, completamente derrotada, e soltei o ar preso em
meus  pulmões,  declarando  minha  desistência.  Daniel  não  precisou  de  palavras  pra
entender, e finalmente soltou meu pulso, transformando sua expressão maléfica em
um sorriso vitorioso. 
­ Boa menina – ele sussurrou, virando­se na direção da rua – Vamos. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 84/106
12/04/2015 Biology

Olhei  rapidamente  para  os  lados,  me  certificando  de  que  não  havia  ninguém  que
pudesse  nos  flagrar,  e  não  encontrei  nada.  Completamente  contrariada,  eu  segui
Daniel  até  o  outro  lado  da  rua,  e  esperei  até  que  ele  colocasse  sua  mochila  no
compartimento de bagagem de sua moto e retirasse dali um segundo capacete, já
que o primeiro estava numa de suas mãos desde o começo. 
­ Tá esperando o que parada aí? – ele perguntou, rindo da minha cara, quando tudo
que  faltava  para  irmos  embora  era  eu  subir  na  moto.  Nem  preciso  dizer  que  cada
pedacinho  de  mim  estava  relutante  a  fazer  isso  (bom,  pelo  menos  a  maior  parte).
Fora o fato de que eu odiava capacetes, eles me davam dor de cabeça. Não que eu já
tivesse usado capacetes várias vezes, nunca andei de moto na vida e nem pretendia.
Mas pra tudo havia uma primeira vez, certo? Eu que o diga. 
Sentei na garupa bem atrás dele, e procurei alguma forma de me manter na moto
quando ela estivesse em movimento que não envolvesse contato físico com ele. Mas
com uma mochila cheia de livros nas costas, isso seria ainda mais complicado. 
­  Melhor  se  segurar  –  ele  avisou,  ainda  se  divertindo  com  a  minha  desgraça,  e
ameaçou  acelerar  com  a  moto,  dando  um  leve  tranco  e  me  fazendo  agarrá­lo  na
hora. O que só o fez rir mais. 
­ Assim está ótimo – foi a última coisa que o ouvi dizer, porque logo depois o ronco
ensurdecedor do motor preencheu meus ouvidos e ele arrancou furiosamente. Fechei
os olhos, assustada com a velocidade e a falta de proteção, e involuntariamente o
abracei com mais força, de alguma forma empurrando aquele perfume cada vez mais
pra dentro dos meus pulmões e me fazendo sentir intoxicada. 
Abri meus olhos, num súbito ato de coragem, e tudo que vi foram borrões coloridos.
O  vento  forte  me  fazia  piscar  de  meio  em  meio  segundo,  me  deixando  tonta  e
enjoada novamente, e eu preferi fechar os olhos definitivamente. A cada curva, eu
esmagava as costelas de Daniel, que parecia não se importar, e até se divertir com a
minha insegurança. Definitivamente, ele era o cara mais sadomasoquista que existia
na Terra. 
Não sei dizer exatamente por quantos minutos ficamos andando naquela coisa, até
que ele reduziu a velocidade e com uma curva, subiu na calçada. Mesmo sem olhá­lo,
percebi que ele virou a cabeça pro lado, o que era o máximo de movimento que ele
podia fazer pra falar comigo, e riu ao me ver toda tensa. 
­ Você se acostuma à velocidade com o passar do tempo – ele sorriu, com aquele ar
divertido que estava me dando nos nervos, e apesar de estarmos parados, eu não
consegui desfazer o forte aperto de meus braços ao redor dele. E fiz bem, porque
logo  ele  acelerou  novamente,  me  fazendo  abrir  os  olhos  e  dar  de  cara  com  uma
garagem levemente familiar. 
­  Onde  estamos?  –  consegui  perguntar,  observando  os  vários  carros  importados
estacionados  lado  a  lado  passando  rapidamente  por  nós,  e  senti  uma  pontada  de
pânico. Por favor, Deus, ele não tinha feito isso. 
Daniel não respondeu, apenas estacionou a moto numa vaga que ficava ao lado de
uma  Ferrari  vermelha  e  de  um  Porsche  prata.  Que  antes  dava  lugar  a  uma  BMW
preta, provavelmente situada num ferro velho a essa hora, após sua colisão com um
poste. Ele tinha mesmo feito isso. 
­ Por que você me trouxe aqui? – exclamei, com a voz mais alta agora, enquanto ele
desligava a moto – Que tipo de problemático você é? 
­ Eu falei que ia te dar uma carona – Daniel finalmente disse, tirando o capacete com
cara de tédio, e virou o rosto pra me olhar de lado – Mas não disse em momento
algum que te levaria pra sua casa. 
Senti meu sangue esquentar dentro das veias, sem saber direito se era de pânico ou
de raiva. Onde eu estava com a cabeça pra me envolver com ele? 
­ SEU IDIOTA! ME LEVA PRA CASA AGORA! AGORA! – gritei, me aproveitando de sua
posição  desfavorecedora  e  estapeando  suas  costas  sem  dó  –  EU  NUNCA  MAIS
QUERO OLHAR NA SUA CARA, SEU SAFADO SEM VERGONHA! 
Parecendo  nem  sentir  os  tapas  e  socos  que  eu  lhe  dava,  ele  se  levantou,  sem
cerimônia, e começou a caminhar calmamente até o elevador da garagem, ativando
o alarme da moto pelo caminho. Eu continuei imóvel, até me dar conta de que ele

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 85/106
12/04/2015 Biology

realmente não voltaria pra me levar pra casa, e sem a menor intenção de ficar presa
ali, eu corri atrás dele, me desfazendo de qualquer jeito do capacete no trajeto. 
­ AH, É, NÃO VAI ME LEVAR? – urrei, andando energicamente atrás dele, que estava
a  alguns  passos  de  distância  de  mim,  quase  alcançando  o  elevador  –  ÓTIMO!  EU
VOU ANDANDO! 
Daniel soltou uma gargalhada e parou bem à porta do elevador, só então se virando
pra mim. 
­ Você vai morrer antes de sequer chegar no seu bairro. Ou de cansaço, ou atingida
por um raio com a chuva que vai cair daqui a pouco. 
­ EU NÃO LIGO! – berrei, parando de andar a poucos metros dele, totalmente irada –
QUALQUER COISA É MELHOR DO QUE FICAR MAIS UM SEGUNDO PERTO DE VOCÊ! 
Continuei andando na direção da saída da garagem, e ignorei a trovoada monstruosa
que estremeceu o chão. Quando já estava a poucos passos da saída, que graças a
Deus não era muito longe do elevador, ouvi passos rápidos atrás de mim, e acelerei
meu ritmo. Totalmente em vão. 
­  O  QUE  É  ISSO?  –  gritei,  quando  senti  os  braços  de  Daniel  envolverem  minhas
pernas e me levantarem do chão – ME LARGA! 
Eu  estava  praticamente  pendurada  em  seu  ombro,  sentindo­o  segurar  minhas
pernas com um braço só, e com meu tronco caindo pelas costas dele. Enquanto ele
voltava a andar na direção do elevador, como se estivesse carregando uma pluma e
não uma pessoa revoltada, eu voltei a espancá­lo, socando­o com toda a força que
eu  consegui.  Meus  cabelos  se  enroscavam  em  meus  braços,  formando  nós  que  eu
sabia que não conseguiria desfazer tão facilmente, mas aquilo pouco me importava. 
Ignorando totalmente meus gritos e minhas agressões, Daniel continuou me levando
até  o  elevador,  que  nos  esperava  com  a  porta  automática  aberta.  Assim  que
passamos, ele apertou o botão do vigésimo terceiro andar, que nos levaria ao seu
apartamento. Mesmo dentro do elevador, ele não me soltou, e eu parti pras ameaças
concretas, desesperada. 
­ ME LARGA OU ENTÃO EU GRITO PRA TODOS OS ANDARES OUVIREM! 
­ Os apartamentos têm proteção acústica, mas vai ser engraçado te ouvir tentar – ele
sorriu,  sem  tremer  na  base  nem  um  pouco.  Mas  tudo  bem,  eu  ainda  tinha
argumentos. 
­ ENTÃO EU VOU TE PROCESSAR ASSIM QUE CONSEGUIR OS VÍDEOS DO CIRCUITO
INTERNO DAS CÂMERAS DESSE PRÉDIO! 
­ Tudo bem, eu suborno quem tiver que subornar. Tenho dinheiro pra bancar todas
as suas tentativas baratas de me prejudicar. 
­ AAAAAAAH! – berrei, socando­o com mais força e mais rápido – ME SOLTA SENÃO
EU VOU ARRANCAR PEDAÇO DE VOCÊ, SEU VERME! 
E  inesperadamente,  ele  me  pôs  no  chão,  com  um  sorriso  esperto.  Antes  que  eu
tivesse  tempo  de  assimilar  que  estava  com  os  pés  no  chão  e  já  podia  dar  uma
voadora nele, Daniel me prensou contra a parede do elevador de um jeito que me
arrepiou inteira. Por que eu tive um déja­vu naquele exato momento? 
­  Agora  parece  que  estamos  entrando  num  acordo  –  ele  murmurou,  próximo  o
suficiente de mim a ponto de me fazer sentir sua respiração quente bater em meu
rosto – Te deixo arrancar um pedaço meu se me deixar fazer o mesmo com você. 
Levei  alguns  segundos  pra  compreender  suas  palavras,  devido  à  proximidade
perigosa  entre  nós.  O  sorriso  pervertido  em  seus  lábios  já  não  parecia  mais  tão
irritante,  e  os  olhos  dele,  intensamente  Azuis,  não  conseguiam  se  decidir  entre  os
meus olhos e minha boca. 
­  Eu  nunc...  –  comecei  a  protestar,  com  a  voz  falha,  mas  não  consegui  terminar.
Daniel  grudou  seus  lábios  macios  nos  meus,  fazendo  meu  corpo  inteiro  formigar
descontroladamente.  Soltei  um  gemido  involuntário  quando  nossas  línguas  se
encontraram,  e  só  então  me  lembrei  de  como  era  maravilhoso  tê­lo  tão  perto  de
mim,  ter  suas  mãos  viajando  sem  limites  pelo  meu  corpo,  ter  seu  hálito  de  quem
acabou  de  escovar  os  dentes  misturado  ao  meu,  sentir  o  calor  de  seus  braços  me
envolvendo... De como era bom beijá­lo, abraçá­lo, embrenhar meus dedos em seus
cabelos, deslizar minhas mãos por seus ombros sem a menor censura, sem o menor

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 86/106
12/04/2015 Biology

receio. 
A  cada  segundo,  aquele  beijo  se  tornava  mais  profundo,  como  se  estivéssemos
doentes de saudade um do outro. O que não era mentira no meu caso, mesmo que
inconscientemente.  Quando  ele  se  aproximava  de  mim  daquele  jeito,  com  aquelas
intenções, num lugar onde ninguém poderia nos ver, era como se tudo à nossa volta
sumisse. Só existia eu e ele. O resto era mero detalhe. 
O elevador parou no 23º andar alguns segundos depois, mas nenhum de nós dois
pareceu notar isso logo de cara. Levou algum tempo pra que Daniel cambaleasse pra
fora do cubículo até cair deitado no espaçoso sofá, me puxando consigo. Ainda bem
que naquele prédio, cada apartamento ocupava um andar inteiro, e não tivemos que
passar por nenhum tipo de hall com várias portas de apartamentos ou algo do tipo.
Não acho que ele conseguiria encontrar a chave certa para abrir a porta, por falta de
concentração  e  porque  eu  não  daria  trégua  pra  que  ele  pensasse.  Eu  tinha  plena
consciência  de  que  se  parasse  agora,  não  haveria  jeito  de  recomeçar,  e  cada
pedacinho de mim implorava pra que eu continuasse. 
Totalmente  ensandecida,  eu  encaixei  uma  perna  de  cada  lado  de  seu  quadril,  sem
nem  me  lembrar  de  como  eu  tinha  chegado  ali  sem  minha  mochila.  Daniel  alisava
desde  minhas  costas  até  minhas  coxas,  sem  conseguir  se  fixar  num  lugar  só.  Eu
agarrava  seus  cabelos  da  nuca  com  uma  mão,  e  com  a  outra,  explorava  seu
abdômen  perfeitamente  esculpido  por  debaixo  de  sua  blusa  vinho.  Após  alguns
minutos, eu desci meus beijos por seu pescoço cheiroso, enquanto puxava sua blusa
até  a  altura  do  peito.  Não  levei  muito  tempo  pra  vê­lo  se  desfazer  da  peça  com
rapidez, totalmente sob o meu comando. 
Agora que ele estava sem camisa, o calor se tornava quase insuportável. Bastaram
poucos minutos nos beijando pra que eu me sentasse sobre seu quadril e tirasse a
blusa, vendo­o sorrir de um jeito maligno. Com a consciência desligada, eu voltei a
avançar  em  seus  lábios,  enquanto  ele  trabalhava  sorrateiramente  em  meu  zíper.
Quando conseguiu cumprir sua parte, Daniel se sentou, puxando minhas coxas em
sua direção e me encaixando entre suas pernas, e tirou minha calça, isso tudo sem
interromper  o  beijo.  Talvez  o  fato  de  que  meus  braços  estavam  agarrando  seu
pescoço nesse momento o ajudou nesse feito. 
As mãos firmes e habilidosas de Daniel me seguravam pelas laterais de meu tronco,
na altura do sutiã, e me puxavam pra mais perto dele, tornando o calor ainda maior.
Aquele homem realmente era quente, no sentido literal da palavra. E depois ele me
comparava  ao  sol.  Mas  eu  não  reclamei,  pelo  contrário,  ajudei­o  a  nos  aproximar
ainda mais ao entrelaçar minhas pernas em seus quadris. 
Me  aproveitei  do  momento  em  que  seus  lábios  grudaram  feito  ímãs  em  meu
pescoço,  e  me  convenci  de  que  tirar  a  calça  dele  seria  bem  mais  agradável  que
continuar bagunçando seu cabelo. Abri o botão e o zíper com relativa facilidade, e
puxei sua calça na minha direção, simultaneamente sendo erguida de leve por ele,
pra  facilitar  o  processo  de  passar  a  calça  por  baixo  de  meu  corpo.  Impressionante
como as coisas fluíam entre nós, por mais trêmula que eu estivesse e mesmo sem
dizermos uma palavra sequer. 
Quando ele me sentou sobre seu quadril novamente, senti seu significativo sinal de
excitação, ainda mais significativo agora que o jeans grosso de sua calça não estava
mais entre nós. Uma onda de calor percorreu minha espinha, e eu me tornei ainda
mais  agressiva,  sem  perceber.  Daniel  me  deu  uma  mordidinha  quase  dolorida  no
lábio inferior, sorrindo com os olhos semi abertos, e logo depois eu senti meu sutiã
afrouxar.  Eu  realmente  tinha  que  tomar  cuidado  com  as  mãos  dele,  mal  tinha
percebido que elas se dirigiram para o fecho em minhas costas. 
Joguei o sutiã longe, e Daniel voltou a colar nossos lábios com urgência, agarrando
meus  cabelos  com  uma  mão  e  apertando  meu  seio  com  a  outra.  Ele  puxava  meu
cabelo com cada vez mais força, conseguindo se controlar, mas eu já não era capaz
de me manter em silêncio, gemia baixo com certa freqüência. Seu jeito de me beijar
e me tocar eram torturantes, não dava pra agüentar por muito tempo. 
Disposta a fazer o que estava se tornando inevitável, eu mesma tirei minha calcinha,
enquanto ele diminuía o ritmo do beijo com um sorriso convencido. Assim que eu

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 87/106
12/04/2015 Biology

me dirigi às suas boxers, ele se deitou novamente, e eu fiz uma cara meio tonta de
dúvida. Ele estava cansado ou algo do tipo? 
­  Pode  continuar  –  ele  ofegou,  com  a  voz  rouca,  acariciando  minhas  coxas  e
provocando choques elétricos em minha pele – Faça o que quiser, tenho certeza de
que vou gostar. 
Franzi  de  leve  a  testa,  sem  entender  direito,  mas  não  havia  tempo  nem  sanidade
para  discutir  o  significado  daquela  atitude,  ainda  mais  com  aquele  corpo
simplesmente perfeito bem ao meu alcance. Apenas fiz o que ele disse, e tirei suas
boxers,  olhando­o  profundamente  nos  olhos.  Daniel  sorria  pra  mim  de  um  jeito
diferente, inédito... Quase gentil. 
Alisei  seu  abdômen  e  tórax  ofegante  por  um  instante,  sentindo  cada  relevo
perfeitamente esculpido deslizar por baixo de minha pele, e ele continuou esperando,
ainda  acariciando  minhas  coxas.  Seu  tronco  forte  contrastava  nitidamente  com  a
fragilidade de minhas mãos espalmadas sobre ele. 
Olhei pra Daniel rapidamente, sem muita vontade de sair dali, mas o fiz, por motivo
de força maior. Me levantei depressa e peguei um preservativo no bolso de sua calça,
enquanto  ele  se  ajeitava  no  sofá,  ficando  mais  confortável.  Voltei  ao  meu  lugar  e
coloquei a camisinha, levando um pouco mais de tempo que de costume devido à
instabilidade  de  minhas  mãos.  Meu  coração  batia  muito  forte,  ainda  mais  alto  em
relação ao silêncio do apartamento. 
Daniel continuava me observando com interesse, e eu devolvi seu olhar, sem saber
muito bem o que fazer. Quer dizer, eu sabia exatamente o que queria fazer, mas não
sabia como.  Todos  os  outros  caras  com  quem  já  havia  transado  (e  foram  só  três,
contando com ele) sempre ficavam, erm, por cima, se é que você me entende. Eu
nunca  realmente  fiquei  no  controle  de  nada,  não  naquelas  horas.  Me  senti
praticamente uma virgem. 
Eu não disse nada, nem ele. Um sorriso de canto surgiu em seu rosto, e eu o senti
segurando  meus  quadris  devagar,  como  se  tivesse  medo  de  minha  reação.
Obviamente, apenas o deixei continuar, e ele nos encaixou com a mesma velocidade
de antes, acelerando um pouco quando se certificou de que não me machucaria. Me
apoiei  em  seus  ombros,  com  o  tronco  tombado  na  horizontal  acima  do  dele,  e  vi
bem  de  perto  sua  expressão  de  prazer  quando  me  penetrou.  Acho  que  se  não
estivesse tão surpresa com o jeito dele, teria feito a mesma cara, porque foi difícil não
gritar com a sensação entorpecente que ele me causara. 
Daniel, que tinha fechado os olhos por um momento, voltou a abri­los, encarando os
meus a uma distância de poucos centímetros. Eu ainda o olhava, dominada por um
turbilhão de sentimentos novos, e ele não pareceu nem um pouco incomodado com
isso.  Pelo  contrário,  parecia  estar  contente  por  me  deixar  confusa  daquele  jeito.
Aquele homem não era o mesmo de poucos minutos atrás, totalmente rude e idiota.
Aquele homem era o Daniel de verdade, por baixo de todas as máscaras, todos os
escudos,  todas  as  farsas.  Era  um  homem  que,  com  o  tempo,  poderia  se  tornar
alguém  perigoso  demais  pro  meu  próprio  bem...  Se  eu  o  deixasse  se  aproximar
demais e ultrapassar os limites. 
Voltei à minha posição ereta, seguindo algum tipo de instinto que não sei explicar, e
o  sorriso  dele  alargou,  indicando  que  eu  estava  indo  pelo  caminho  certo.
Timidamente, comecei a me movimentar em cima dele, sempre com a assistência de
suas mãos em meus quadris, e algum tempo depois, tudo já era muito natural. Nós
tínhamos recuperado a espontaneidade de antes, sem vergonha um do outro, sem
timidez.  Não  durou  muito,  porque  nenhum  de  nós  dois  conseguiu  se  segurar  por
muito  tempo  naquela  posição  (que  eu  deduzi  que  não  favorecia  só  a  mim  pelo
volume dos gemidos dele), mas foi sem dúvida um dos momentos mais inesquecíveis
da minha vida. 
Pela primeira vez, eu caí deitada sobre ele, respirando de um jeito quase bruto de tão
ofegante. Daniel acariciou minhas costas de uma maneira reconfortante, e sem nem
pensar no que estava fazendo, eu o abracei pelo pescoço, recebendo beijos perto da
nuca que me causaram calafrios. Ele não estava ajudando em nada na recuperação
de meu fôlego com aqueles agrados, ainda mais embrenhando seus dedos nos meus

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 88/106
12/04/2015 Biology

cabelos, mas nada que ele tenha feito naqueles minutos de descanso conseguiu fazer
minha respiração parar como o que eu ouvi alguns minutos depois. 
No começo, me perguntei se Daniel não tinha escutado, porque não mexeu um fio
de  cabelo,  mas  depois  o  som  do  ringtone  de  mamãe  se  tornou  ensurdecedor,
emanando  de  minha  mochila,  que  estava  jogada  pelo  caminho.  Olhei  pra  ele,
assustada, e ele lançou um breve olhar na direção do som. 
­ Posso te levar pra casa em quinze minutos – foi tudo que ele disse, sugestivo, e eu
assenti, sem nem hesitar. Ele sorriu de um jeito esperto e fez um aceno de cabeça
pra que eu atendesse o celular. Me levantei, caçando minha calcinha pelo caminho, e
ele sumiu pelo apartamento. 
­  Oi,  mãe  –  atendi,  segurando  o  celular  no  ombro  enquanto  corria  pela  sala
recolhendo  minhas  roupas  –  Desculpa  não  ter  te  ligado,  esqueci  de  avisar  que  já
cheguei em casa. 
­ Ah, tudo bem, era só pra avisar que a fila de espera está grande aqui, e eu ainda
não fiz o exame... Que bom que você já está em casa, fico mais tranqüila. Ainda se
sente mal? 
­ Não, melhorei um pouco – menti, me sentindo a rainha da trapaça e terminando de
fechar  o  zíper  de  minha  calça  –  Tomei  um  comprimido  pra  dor  de  cabeça  e  vou
tentar dormir. 
­ Faça isso mesmo, querida, logo esse mal estar passa – ela sorriu, e eu mordi o lábio
inferior,  arrependida  por  enganá­la  –  Chegarei  em  casa  o  mais  rápido  possível.  Te
amo. 
­ Eu também – murmurei, e desliguei logo em seguida. 
­ Tudo certo? – ouvi Daniel perguntar, já vestido, surgindo do corredor, e eu assenti,
vestindo rapidamente minha blusa, que era a única peça que faltava. Nunca me vesti
tão rápido em toda a minha vida, me senti praticamente uma ninja. 
­ Então vamos – ele disse, chamando o elevador, e eu parei ao seu lado, colocando a
mochila de um jeito desajeitado por causa de minha tremedeira persistente. 
Durante  a  descida  até  a  garagem,  nenhum  de  nós  disse  uma  palavra,  nem  sequer
nos olhamos. Toda a intimidade de antes pareceu evaporar, sendo substituída pela
frieza e vergonha. Ambos mostramos lados de nós mesmos que mal sabíamos que
podíamos  mostrar,  e  o  medo  da  reação  do  outro  era  maior  que  qualquer  coisa
naquele momento. 
Caminhamos ainda em silêncio pela garagem, e quando ele estava prestes a apertar
o botão do alarme de um dos três controles em seu chaveiro, eu escolhi como queria
ir pra casa, sem nem pedir permissão. 
­ Você disse que as pessoas se acostumam à velocidade com o passar do tempo –
murmurei,  sem  muita  coragem  de  olhá­lo,  enquanto  me  sentava  na  moto  –  Eu
gostaria de testar a sua teoria. 
Daniel  piscou  algumas  vezes,  sem  entender,  e  logo  depois  deu  um  fraco  sorriso
desconfiado. Eu não devolvi seu sorriso, tensa demais pra me mexer, e ele não me
contrariou. Sentou­se na moto à minha frente, me dando um capacete e colocando o
outro, e antes de dar a partida, ele falou, num tom baixo: 
­ Melhor se segurar. 
Respirei fundo, soltando pesadamente o ar logo depois, e o abracei apertado, pronta
pra  mais  uma  dose  de  seu  perfume  viciante,  e  mais  uma  jornada  de  curvas
aterrorizantes pelas ruas. Mas eu não me importava com o perigo. Porque, de uns
tempos pra cá, estar com Daniel era bastante seguro. Maravilhosamente seguro. 

Capítulo 15

Dessa vez, eu consegui manter meus olhos abertos. Pude ver todos os borrões nos
quais  os  prédios,  árvores,  pedestres  e  carros  tinham  se  transformado  com  a
http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 89/106
12/04/2015 Biology

velocidade, contrastando com o cinza tempestuoso do céu. Pude aproveitar o vento
revigorante de cada metro velozmente percorrido pela moto de Daniel, que roncava
alto  como  se  tivesse  vida  própria  e  gostasse  da  adrenalina.  Pude  sorrir  com  a
sensação gostosa de estar praticamente voando sem asas. 
Diferente  da  ida,  paramos  em  vários  sinais  vermelhos.  E  em  nenhum  deles,  Daniel
sequer  demonstrou  se  lembrar  de  que  eu  estava  bem  atrás  dele,  agarrada  com
firmeza  às  suas  costelas.  Mesmo  sem  poder  olhar  em  seus  olhos,  eu  soube  que
aquele  era  novamente  o  Daniel  de  sempre.  Ele  tinha  voltado  a  se  trancar  em  seu
casulo impenetrável, e eu sabia que eu talvez não voltasse a ver o que se escondia
dentro dele. Porque eu não pretendia me deixar cair na tentação novamente. Eu não
podia fazer isso com Brii, por mais difícil que fosse resistir à atração que Daniel exercia
sobre mim. 
Não demoramos a chegar à minha casa. Assim que ele estacionou a moto, eu desci e
entreguei  seu  capacete,  que  ele  colocou  no  bagageiro  sem  nem  me  olhar.  Eu  o
observei subir na moto outra vez, com sua expressão indecifrável, e finalmente tomei
coragem de dizer alguma coisa. 
­ Hm, obriga... 
Nem bem eu abri a boca, um ronco de motor ecoou e ele foi embora. Suspirei, sem
nem me dar ao trabalho de terminar a palavra. Eu já devia saber desde o início que
seria assim, Daniel não era o tipo de cara que se preocupava com os sentimentos dos
outros. Pelo menos não o Daniel que eu estava acostumada a ver. 
Entrei em minha casa vazia e calmamente subi até meu quarto, sem saber direito o
que fazer nem o que pensar. Eu já não me sentia tão culpada como da primeira vez,
e algo me dizia que o motivo pra isso não era dos mais angelicais. Eu não tinha me
esquecido de que aquilo era errado e muito menos tinha deixado de amar Brii, mas
ficar com Daniel era melhor do que praticamente tudo. Poucas vezes eu me lembrei
de querer tanto alguma coisa como eu queria agora. Eu queria passar o tempo todo
sentindo os arrepios que as mãos dele provocavam em meu corpo, me sentindo tão
desejada apenas com um olhar, o olhar dele, sempre intenso em mim como se eu
fosse sumir num piscar de olhos. 
Me perguntei por um momento se Daniel estaria arrependido por ter me levado até
sua casa, ou pelo que fizemos. Me perguntei se ele já havia se cansado de mim, se já
tinha realmente conseguido o que queria, como ele mesmo disse uma vez, mas não
consegui me convencer de que isso tenha sido a razão por trás de sua frieza. Se ele
havia  esperado  e  insistido  por  tanto  tempo  para  finalmente  me  fazer  ceder,  ele  já
teria conseguido se entediar tão cedo? Talvez fosse algum motivo que eu não tivesse
como  descobrir,  ou  talvez  fosse  o  mesmo  sentimento  que  eu  carregava  comigo:
culpa por Brii. Tudo bem, retiro o que disse, Daniel  não  sentia  remorso  nem  culpa
por nada, isso estava mais do que claro. 
Estava tão imersa em pensamentos que só voltei a prestar atenção no que estava
fazendo quando um trovão ecoou pelo apartamento, e eu me encontrei deitada em
minha cama, encarando o teto. Coloquei uma mão dentro do bolso da calça e de lá
tirei  o  bilhete  que  Brii  havia  me  dado  na  escola.  Fechei  os  olhos,  apertando  o
papelzinho em meu peito, que pulsava de acordo com meu coração acelerado. Por
menos culpada que eu me sentisse em relação a Brii, fato que continuava me fazendo
sentir um monstro, eu ainda estava refletindo sobre tudo que tinha feito com Daniel.
E  por  mais  que  eu  tentasse  pensar  em  Brii  durante  o  resto  do  dia,  meus
pensamentos  voltavam  a  ser  atraídos  para  o  professor  Jones,  como  um  disco
irritantemente arranhado, ainda mais com o tempo chuvoso e cinzento, que só me
fazia lembrar da comparação que Daniel havia feito. Naquele dia, o tempo realmente
poderia ser comparado ao meu estado emocional. 
Toda vez que eu me pegava sem nada pra fazer, aqueles olhos profundamente Azuis
voltavam a me perturbar, e quando isso acontecia, eu recorria ao bilhete de Brii. Sua
caligrafia  esforçada  para  parecer  legível  não  me  fazia  sorrir  mais,  e  sim  pensar  em
uma  única  coisa,  que  mesmo  que  eu  não  quisesse,  fazia  meu  corpo  se  queixar
involuntariamente:  o  fim  de  semana  estava  próximo,  e  se  Brii  cumprisse  o  que
ameaçava  fazer  no  bilhete,  nós  o  passaríamos  juntos.  Talvez  ele  me  levasse  para

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 90/106
12/04/2015 Biology

viajar,  talvez  ficássemos  em  seu  apartamento,  talvez  ele  me  surpreendesse  com
alguma outra alternativa. Mas não era isso que me agoniava. 
Eu  não  podia  mais  pensar  em  Daniel.  Por  um  momento,  pude  jurar  que  não
conseguiria. Se eu estava disposta a manter todos os meus podres em segredo, não
podia parecer pensativa, nervosa, ausente demais durante meu fim de semana com
Brii. Eu tinha que parecer íntegra, completamente feliz e plena, o que eram emoções
que se distanciavam um pouco da realidade. Mas por Brii, tudo valia a pena. Mesmo
que não fosse ele quem habitasse meus intermináveis sonhos naquela noite. 

­  Você  já  falou  pra  sua  mãe  que  vai  ficar  “lá  em  casa”  esse  fim  de  semana,  né?  –
Kimberlly perguntou, assim que o sinal tocou às 7 da manhã de sexta­feira. 
Apenas  assenti,  sem  saber  se  realmente  estava  pronta  pra  surpresa  de  Brii.  A
proximidade da descoberta fazia meu estômago revirar de curiosidade e tensão. Pelo
menos eu não tive que me preocupar com a desculpa para sumir de casa por dois
dias, já que a mãe de Kimberlly teria que viajar a trabalho justamente naquele fim de
semana. Bastou usar um pouco de minha lábia e do beicinho de Kimberlly pra que
mamãe me deixasse acompanhá­la durante aqueles dois dias solitários em sua casa.
Coitadinhas de nós, só nos faltavam asinhas de anjo. 
­ Eu juro que não te entendo – Kimberlly bufou, subitamente parecendo irritada, e
eu franzi a testa, sem entender – O homem da sua vida te prepara uma surpresa e
tudo que você sabe fazer é ficar com essa cara deprimida o tempo todo! Parece que
não tá feliz com a maravilha que tem nas mãos, credo! 
­  Me  desculpe,  Kimberlly,  eu  estou  com  sono  –  falei  pausadamente  num  tom
ironicamente  calmo,  enquanto  subíamos  os  degraus  da  escola  rumo  às  nossas
classes – Não fiquei acordada quase a noite toda porque quis, sabe. 
Tudo  bem,  eu  confesso,  existe  um  motivo  além  do  sono  atrasado,  e  que  também
está por trás dele. Quer dizer, Kimberlly não precisava ficar sabendo que eu andava
sonhando demais com o professor Jones, certo? Ela nem sabia que eu tinha ido ao
seu  apartamento!  Pra  que  sair  contando  tudo  quando  eu  podia  praticar  meu
controle emocional e mentir pra ela? Seria tão mais produtivo, e ainda me ajudaria
muito  em  futuras  omissões.  Já  passou  da  hora  de  começar  a  pensar  também  no
futuro, e não só em aliviar os incômodos do presente. 
­ Você e esse seu sono me estressam – ela disse simplesmente, revirando os olhos
assim que chegamos ao nosso andar – Vê se melhora essa cara, parece até que eu tô
mais empolgada que você! 
Soltei um risinho espontâneo, surpresa com a capacidade sensitiva de Kimberlly. Pra
quem não sabia da pior parte, até que ela estava boa de chute. 
As  aulas  antes  do  intervalo  foram  entediantes  e  superficiais.  Não  me  lembro  de
absolutamente  nada  que  os  professores  disseram,  mas  não  parecia  ser  nada  de
importante. Pelo menos pra mim, não era nem um pouco importante no momento,
isso eu posso afirmar. 
­ Mell! – ouvi uma voz cochichar quando eu estava saindo (lê­se: me arrastando pra
fora) da sala, como sempre, após todos já terem corrido para a liberdade limitada do
pátio. Hesitei por um momento ao ouvir o chamado, e respirei fundo antes de me
virar na direção da sala ao lado, de onde Brii me encarava com um sorriso sapeca. 
­ Vem cá, fujona – ele sussurrou, me pedindo pra entrar com um gesto de mão, e eu
me esgueirei pra dentro da sala deserta junto dele. Mal Brii fechou a porta atrás de
nós, suas mãos percorreram minha cintura e ele me abraçou, unindo nossos lábios
num  beijo  carinhoso.  Eu  tinha  que  admitir,  ficar  com  ele  jamais  perderia  a  graça.
Bom, pelo menos não totalmente. 
­ Espero que esteja preparada pra sumir de casa nesse fim de semana – ele sorriu
quando partiu o beijo, daquele seu jeito encantador, e eu me vi dando o sorriso mais
largo  e  espontâneo  dos  último  cinco  dias.  Eu  preferia  não  incluir  os  sorrisos
involuntários  que  surgiam  em  meu  rosto  quando  me  pegava  pensando  em  Daniel
nessa conta. 
­ O que você tá aprontando, hein? – perguntei, involuntariamente contagiada pela
atmosfera gostosa que o rodeava constantemente, e ele balançou negativamente a

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 91/106
12/04/2015 Biology

cabeça. 
­ Logo você vai descobrir – foi só o que Brii disse, tocando a ponta de meu nariz com
o dedo indicador e me dando um selinho em seguida – Por enquanto, tudo o que
você precisa saber é que meu seqüestro começa hoje à tarde, algumas horas depois
da escola, e só termina na segunda­feira. 
Arregalei os olhos, surpresa, e o sorriso esperto dele aumentou. 
­  Como  assim?  Começa  hoje?  Mas  já?  –  indaguei,  enquanto  ele  colocava  meus
cabelos pra trás da orelha – Brii, dá pra parar de mistério? 
­  Dá  pra  parar  você  de  ser  tão  ansiosa  e  esperar?  Falta  pouco,  pequena!  –  ele
retrucou, imitando meu jeito afobado e me fazendo rir – E aproveita essa agitação
toda pra se arrumar rapidinho depois da escola, porque eu quero você às três horas
lá em casa. Ah, e se eu fosse você, levaria uma mochila com algumas roupas. 
­  Claro  que  eu  vou  levar  uma  malinha,  não  pretendia  passar  três  dias  usando  as
mesmas roupas – falei, logo depois virando a cabeça pro lado em sinal de dúvida –
Mas que tipo de roupas? 
­  Biquínis  são  obrigatórios,  e  algumas  roupas  bem  leves  –  ele  respondeu,  olhando
pro  teto  como  se  estivesse  pensando  –  Mas  “leves”  não  significa  “curtas”,  muito
menos “indecentes”, ouviu bem? Estarei de olhos bem abertos. 
Não  gostei  muito  do  rumo  que  a  conversa  estava  tomando,  alguns  flashbacks  de
fatos que eu preferia esquecer estavam dando o ar da graça em meus pensamentos.
Tentei fingir que estava tudo bem, e logo tratei de reprimir aquelas lembranças. A
empolgação pela surpresa tinha finalmente borbulhado dentro de mim, e eu não ia
deixar que meros detalhes estragassem tudo novamente. 
­ Entendi, roupas leves – assenti uma vez, e ao ver Brii erguer autoritariamente as
sobrancelhas,  quase  tornando  visíveis  em  sua  testa  as  palavras  “Não  está
esquecendo nada?”, eu revirei os olhos e completei a revisão – Mas nada curto nem
indecente demais. 
­ Agora sim – ele grunhiu, relaxando os ombros e fazendo uma carinha emburrada
que me fez sorrir feito idiota – Você é só minha e de mais ninguém, que isso fique
bem claro. 
Brii apertou o abraço em minha cintura, e senti um nó se formar em minha garganta,
junto  com  o  suor  frio  de  pavor,  que  já  dava  suaves  sinais  de  vida.  Foi  quando  eu
decidi que estava na hora de desconversar. 
­  Acho  melhor  irmos  –  balbuciei,  fazendo  a  cara  mais  despreocupada  possível  e
olhando pra porta fechada – O inspetor vai começar a desconfiar. 
­ É mesmo – ele sussurrou, com uma falsa expressão amedrontada, e me deu um
tapinha no bumbum, como se me mandasse ir – Até mais tarde, amor. 
Mordi  o  lábio  inferior  ao  ouvir  do  que  ele  tinha  me  chamado,  e  o  nó  na  garganta
começou  a  latejar  de  remorso.  Ele  raramente  me  chamava  assim,  dizia  que  era
“brega, mas de vez em quando, parecia certo”. Porque eu era o amor dele. E doía
saber que eu não merecia aquele sentimento tão puro e transparente. 
­ Ei, espera – cochichei, segurando o rosto dele carinhosamente e olhando fundo em
seus radiantes olhinhos Castanhos – Eu só queria dizer que... Eu te amo. Muito. 
Mesmo com todos os recentes (e incríveis) acontecimentos com Daniel, eu não me
senti falsa ao dizer que o amava. Porque aquilo não tinha deixado de ser verdade.
Meu  coração  bombeou  alívio  para  todos  os  cantos  de  meu  corpo  com  o  bom
resultado de meu teste. Nada tinha mudado. E se eu tivesse controle sobre a parte
devassa de minha mente, o que eu definitivamente não tinha, tudo continuaria igual.
Mas  mesmo  repetindo  pra  mim  mesma  que  tudo  estava  intacto,  havia  uma  voz
baixa, porém muito poderosa, que me dizia que eu estava errada, que tudo estava
mudado.  A  voz  dele.  Estremeci  de  leve,  mas  felizmente  ele  não  percebeu.  Meus
conflitos  internos  ainda  me  denunciariam,  fato.  Respirei  fundo  e  me  recompus,
deixando pra refletir sobre minha situação afetiva num outro momento. 
Brii piscou algumas vezes, assimilando minhas palavras, e abriu um sorriso lindo de
orelha  a  orelha.  Ele  aproximou  lentamente  seu  rosto  do  meu,  fazendo  carinho  em
minhas bochechas com seus polegares, e quando estava prestes a me beijar, pude
ouvi­lo murmurar: 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 92/106
12/04/2015 Biology

­ Eu faria qualquer coisa... Só pra ouvir você me dizer isso. 
Meus  olhos,  que  miravam  perdidamente  os  lábios  dele,  se  ergueram  até  encontrar
seus  olhos,  intensamente  ternos.  Senti  algumas  lágrimas  se  formando,  mas  as
contive quando ele me beijou daquele jeito especial, só dele. Mas eu não era mais só
dele. E nunca mais seria. 

Capítulo 16

­  Oi,  Andy  –  falei,  assim  que  cheguei  ao  balcão  da  recepção  do  prédio  às  três  da
tarde. 
­ Oi, Mell – ele respondeu vagamente, concentrando­se em suas palavras cruzadas –
Seu tio pediu pra você subir logo, parece que ele tá com um pouco de pressa hoje. 
­ Ahn... OK – gaguejei, segurando a vontade de rir enquanto dava as costas a Andy e
caminhava rumo às escadas. Eu nunca me acostumaria ao falso status de sobrinha
de  Brii,  talvez  nem  se  ele  realmente  fosse  meu  tio.  Comecei  a  subir  os  degraus
rapidamente, ouvindo alguns barulhos de chaves e trancas, e nem bem cheguei ao
primeiro andar, Brii já estava ao meu lado, ajeitando apressadamente uma mochila
nas costas. 
­ Bem na hora – ele ofegou, me dando um selinho rápido e logo depois me puxando
de volta para o térreo. Mesmo estando totalmente confusa com a pressa dele, me
deixei levar por sua mão, cujos dedos estavam entrelaçados nos meus antes que eu
me desse conta. 
­ Pra que essa correria toda? – falei, franzindo a testa, e Brii revirou os olhos, como
se a resposta fosse óbvia. 
­ Todo o tempo que eu tenho com você nesse fim de semana tá cronometrado – ele
explicou baixinho, enquanto chegávamos ao térreo – Pra aproveitar ao máximo cada
minuto. 
Brii sorriu pra mim, empolgado, e eu logo vi seu sorriso radiante refletido em meu
rosto  involuntariamente.  Aquele  sorriso  tinha  poderes  sobrenaturais,  eu  sempre
soube disso. 
Passamos rapidamente por Andy, que nos cumprimentou com um aceno distraído de
cabeça, e logo chegamos ao carro. Deixamos nossas mochilas no banco traseiro e na
mesma pressa de antes, entramos no veículo, que não demorou a arrancar. Brii ainda
ostentava um sorriso, ainda mais largo que o anterior, e eu estava começando a ficar
ansiosa de verdade. O que ele estava aprontando afinal? 
­  Essa  é  a  sua  última  chance  de  me  deixar  menos  ansiosa  e  me  contar  pra  onde
estamos indo – suspirei educadamente, após alguns metros percorridos em silêncio. 
Ele ergueu uma sobrancelha, sem me olhar, e um sorrisinho começou a brincar em
seus lábios. Parecia que meu poder de persuasão não adiantaria nada. 
­  Tudo  bem  –  voltei  a  falar,  quando  vi  que  ele  não  responderia  –  Essa  viagem
poderia ser muito mais... Divertida, mas já que é assim... Você que sabe. 
Brii alargou seu sorriso de canto, balançando negativamente a cabeça num falso tom
de desaprovação. 
­ Então é assim que você acha que vai me convencer? – ele perguntou, finalmente
me  olhando  de  um  jeito  esperto  –  Acha  que  eu  não  vim  preparado  pra  resistir  às
suas chantagens? 
Confesso  que  aquele  olhar  dele  me  deixou  um  pouco  fora  dos  eixos.  Ele  já  tinha
olhado pra mim várias vezes daquele jeito convencido. Mas em nenhuma das outras
vezes,  os  olhos  que  eu  vi  nele  pareciam  pertencer  a  outra  pessoa  como  naquele
momento. Senti meu corpo se arrepiar por inteiro, apesar de minha relutância. 
­  Te  odeio  –  revirei  os  olhos  o  mais  naturalmente  que  pude,  me  encolhendo  no
banco do carona e fazendo Brii rir. Ele sempre ria de tudo que eu fazia, fator que eu
sempre  usava  como  vantagem  em  momentos  nos  quais  eu  precisava  disfarçar
alguma coisa. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 93/106
12/04/2015 Biology

Continuamos  nossa  viagem,  conversando  de  vez  em  quando,  cantarolando  as


músicas que tocavam na rádio e fazendo coisas agradáveis que se podem fazer num
carro  (nada  das  coisas  que  você  deve  estar  pensando).  Eu  sabia  que  estávamos
saindo de Londres, mas como eu desconhecia os caminhos para outras cidades, até
mesmo  as  mais  próximas,  nem  tentei  me  localizar.  Pelo  contrário,  após  uma  hora
rindo feito louca das besteiras que Brii falava, acabei ficando meio grogue e caí no
sono. Só acordei por volta de uma hora depois, quando o sol já começava a baixar
ao leste. 
Me ajeitei no banco do carona, piscando algumas vezes pra por minha visão em foco.
Olhei em volta, tentando descobrir onde estávamos, mas nada me parecia familiar.
Definitivamente, eu nunca tinha pisado naquele lugar antes. 
­ Bom dia, bela adormecida – Brii brincou, colocando uma mão sobre a minha coxa e
fazendo carinho de leve – Eu e você sozinhos dentro de um carro e tudo que você
faz é dormir? Que decepção. 
­  Você  escolheu  assim,  não  se  esqueça  disso  –  lembrei,  me  virando  pra  ele  sem
conseguir conter um risinho, e ele retribuiu rapidamente meu olhar com um sorriso
danado. 
­ Já estamos quase lá, só mais alguns minutos – ele disse, passando as costas dos
dedos em minha bochecha e voltando a se concentrar no trânsito. 
Aproveitei o vento favorável que vinha da janela e o retrovisor do carro pra arrumar
meu  cabelo  e  dar  um  jeito  na  minha  cara  amassada,  sem  conseguir  não  sorrir
quando ele insistia que eu era linda de qualquer jeito. Eu nunca me acostumaria ao
cavalheirismo de Brii. 
Minha  ansiedade  aumentava  a  cada  curva,  até  que  ele  virou  numa  rua  deserta  e
estacionou  seu  carro  na  frente  de  uma  bela  casa  de  praia.  Brii  desligou  o  carro,
suspirando  satisfeito  e  virando­se  pra  mim  com  a  expressão  ansiosa.  Eu  mal
conseguia ter controle sobre meus músculos faciais, de tão impressionada com toda
aquela beleza arquitetônica bem diante dos meus olhos. 
­ Então... – ouvi Brii perguntar, estudando minha reação ­ O que acha? 
­ C­chegamos? – perguntei, atônita, e ele apenas sorriu significativamente. Olhei pra
ele, boquiaberta, e logo um sorriso de orelha a orelha se abriu em meu rosto. Aquele
lugar era lindo, e agora que o motor do carro não fazia barulho, era possível ouvir as
ondas do mar quebrando em algum lugar perto dali. Simplesmente perfeito. 
­  Brii,  eu...  Eu  não  sei  o  que  dizer  –  balbuciei,  olhando  pra  casa  e  pra  ele,  sem
conseguir me decidir em qual dos dois repousar meu olhar – É linda! 
­ Eu sei – ele assentiu uma vez, carinhoso – E é nossa por esse fim de semana. 
Encarei seus olhinhos felizes e comecei a rir sozinha, maravilhada com aquilo tudo.
Brian Langdon só podia ser fruto da minha imaginação, era perfeição demais pra um
simples e único ser humano. Onde eu estava com a cabeça ao pensar que alguém
poderia estremecer todo o amor que eu sentia por ele, tão sólido, tão concreto que
parecia uma diamante dentro do meu peito? 
­ Você não existe – falei, mordendo o lábio inferior, e ele soltou um risinho divertido. 
­ Hm, eu existo sim – ele discordou, fingindo pensar no assunto antes de voltar a
sorrir pra mim com segundas intenções – Posso até provar que sou bem real. 
­ Ah, é? – murmurei, aproximando minha boca de seu ouvido e escorregando a mão
perigosamente pelo lado interno de sua coxa, próxima à virilha – Então prove. 
Brii fechou os olhos lentamente, deixando­se arrepiar com meus carinhos, e acariciou
meu rosto com sua mão, agarrando meus cabelos atrás da orelha. 
­  Comporte­se,  mocinha  –  ele  sussurrou,  enquanto  distribuía  beijos  demorados  e
macios em meu pescoço – Guarde um pouco disso pro resto do fim de semana. 
Sorri,  arrepiada  com  os  beijos  dele,  e  mordi  o  lóbulo  de  sua  orelha,  fazendo­o
escorregar por entre meus dentes enquanto me afastava e voltava à minha postura
inicial. Brii me olhava, meio ausente devido à provocação descarada, e logo depois
soltou um suspiro contido. 
­ Pensando bem, eu acho que devia ter te contado antes – ele refletiu, assentindo de
leve com as sobrancelhas erguidas – Tenho certeza de que nossa viagem seria bem
mais divertida. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 94/106
12/04/2015 Biology

­ Seu tarado – censurei­o, fingindo reprovação em minha expressão e voz, e ele me
olhou de canto, sorrindo timidamente. 
­ Que tal entrarmos? – ele sugeriu, suspirando profundamente de um jeito dramático
e me fazendo rir. 
­  Boa  idéia  –  concordei,  radiante  –  Preciso  ver  se  a  casa  é  tão  linda  por  dentro
quanto é por fora. 
­  É  ainda  melhor  –  Brii  sorriu,  saindo  do  carro  logo  depois.  Fiz  o  mesmo,  me
oferecendo  em  vão  pra  carregar  alguma  de  nossas  mochilas,  e  o  acompanhei  de
mãos  dadas  até  a  entrada  da  casa.  Ele  tirou  a  chave  do  bolso  e  abriu  a  porta,
lançando  um  breve  olhar  animado  pra  mim,  que  o  retribuí  com  a  mesma
empolgação. Me senti uma garotinha diante de uma casa da Barbie em tamanho real.
Brii me deu passagem para entrar primeiro, e eu o obedeci. Dei alguns passos dentro
da casa, deslumbrada com a beleza luxuosa e ao mesmo tempo simples dos móveis e
decoração. Era uma das casas mais lindas que eu já tinha visto, e se pudesse sonhar
com alguma, definitivamente seria como essa. 
­  Linda,  não  é?  –  Brii  murmurou,  colocando  as  mochilas  sobre  o  sofá  e  se
aproximando por trás de mim. Olhei pra ele, que logo parou de observar a casa para
retribuir meu olhar, e assenti, maravilhada. 
­ É perfeita – sorri, com o coração acelerado. Brii me abraçou devagar pela cintura e
colocou o rosto na curva de meu pescoço, me arrepiando com sua respiração calma e
quente. 
­  Como  você  –  ele  sussurrou,  roçando  carinhosamente  a  ponta  de  seu  nariz  em
minha  pele.  Fechei  os  olhos,  sentindo  meu  coração  acelerar  ainda  mais,  e  me  virei
lentamente, até ficar de frente pra ele. Abracei seu pescoço sem pressa, observando
enquanto minhas mãos subiam por seu peito, e finalmente devolvi seu olhar, muito
mais feliz do que eu me lembrava que podia ser. 
­ Como você – corrigi baixinho, aproximando nossos rostos e dando um beijinho de
esquimó nele, que sorriu com o agrado e fechou os olhos. Aproximei ainda mais meu
rosto  do  dele  e  toquei  seus  lábios  com  os  meus,  começando  com  alguns  selinhos
demorados e logo aprofundando mais o beijo. 
Brii  espalmou  suas  mãos  em  minhas  costas,  alisando  cada  centímetro
cuidadosamente.  Foi  descendo  até  meus  quadris  e  me  apertou  contra  seu  corpo,
automaticamente intensificando nossos movimentos. Nossas línguas se moviam em
sintonia,  num  beijo  cheio  de  saudade  e  desejo.  Não  havia  nada  tão  cheio  de
sentimento quanto nossos momentos juntos. 
Quando estávamos começando sufocar um ao outro sem a menor intenção de parar,
uma  coisa  começou  a  tremer  entre  nós,  e  eu  pulei  de  susto.  Brii  não  costumava
tremer por lá quando me beijava, se é que você me entende. 
­  Mas  que  caralho  –  ele  xingou  baixo,  suspirando  e  revirando  os  olhos  enquanto
enfiava tremulamente a mão dentro do bolso da bermuda e tirava de lá seu celular. 
Ah,  tá,  o  celular.  Ufa,  meu  namorado  continua  tendo  ereções  normais.  E  continua
falando  palavrões  quando  interrompem  nossos  amassos.  É,  ele  continua  o  mesmo
Brii de sempre. 
­ Que é, sua bicha? – ele grunhiu, fazendo um biquinho espontâneo com seus lábios
vermelhos  (o  que  só  tornou  meu  riso  ainda  mais  incontrolável  e  o  fez  rir  junto
comigo, mesmo que contra sua própria vontade) – A gente já chegou sim. Tá, valeu.
­ Quem era? – perguntei, ainda rindo, quando ele desligou o celular com a expressão
entediada e voltou a enterrá­lo no bolso. 
­ O proprietário da casa – ele respondeu, hesitando um pouco antes de falar, e eu
franzi levemente a testa, estranhando aquela pequena pausa. 
­ Algum problema? – insisti, enquanto ele voltava a me puxar pra si pela cintura –
Talvez você não devesse tê­lo chamado de bicha. 
­ Não, não tem problema nenhum – Brii riu, voltando ao normal – Ele é uma bicha
mesmo, não consegue viver sem mim. 
­ E quem é esse meu concorrente? – gargalhei, quase chorando de rir do jeito dele
ao  passar  aquela  boa  impressão  do  cara.  Estava  tão  entretida  rindo  que  não
consegui frear minha gargalhada a tempo de ouvir o que ele respondeu, nem mesmo

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 95/106
12/04/2015 Biology

depois de sua mudança brusca de expressão, de alegre para séria. 
­ Erm... É o Danny. 
Uma  sensação  de  ar  sumindo  de  meus  pulmões  veio  com  força  total,  como  se  eu
tivesse sido esmagada por um lutador de sumô. Brii tinha me levado para passar o
fim de semana na casa de praia do Jones? Era informação demais pra assimilar tão
de repente. Minha expressão desmoronou, assim como toda a minha fortaleza anti­
Daniel. Estar numa casa que pertencia a ele seria um fato difícil de digerir. 
­ Eu sei que devia ter te falado antes, preferia até não te falar, mas... Me desculpe,
Mell – Brii murmurou, parecendo desconcertado – Já brigamos por causa dele, e sei
que vocês não se dão bem, mas... Foi o próprio Danny que ofereceu a casa, e como
eu adoro esse lugar e não tenho condições de conseguir nada igual a isso, aceitei a
idéia na hora. 
­ T­tudo bem – gaguejei, forjando um sorriso que mais deve ter parecido uma careta
de dor do que outra coisa, mas que foi suficiente para aliviar a súbita tensão de Brii –
Ele é seu amigo, eu... Eu entendo. 
Entender era uma coisa. Gostar da idéia, ou melhor, me acostumar com ela, não me
arrepiar  com  o  simples  fato  de  que  aquela  casa  pertencia  a  Daniel  e  saber  que  eu
estava  lá  com  outro  cara?  Ah,  isso  era  uma  coisa  bem  diferente.  Mas  eu  tinha
prometido a mim mesma que não deixaria nada atrapalhar meu fim de semana com
Brii, e me apeguei a essa promessa. 
­ Bom, vou aproveitar a interrupção desnecessária pra te mostrar o resto da casa –
Brii  disse,  me  dando  um  breve  selinho  –  Você  vai  adorar  a  vista  do  quarto,  ainda
mais com o pôr­do­sol. 
Me deixei ser guiada por ele em nosso tour pelos cômodos, totalmente absorta em
pensamentos.  Por  mais  que  eu  conseguisse  sorrir  de  vez  em  quando  com  as
descrições  maravilhadas  de  Brii  sobre  cada  móvel,  meu  pensamento  continuava
distante dali, perigosamente próximo do proprietário daquela casa. 
Imaginei por um momento se Daniel já havia levado mulheres pra lá. Com certeza
já... Mas quantas? Várias de uma só vez? Será que Kelly já teria passado um fim de
semana  com  ele  naquela  mesma  casa?  Definitivamente,  eu  teria  um  certo  trabalho
pra afastar aqueles tipos de pensamento da minha mente. Imaginar Kelly passeando
pelos cômodos só de roupas íntimas (ou até mesmo sem elas), enquanto os olhos
dele a acompanhavam, me causou uma súbita queimação dentro do peito, que eu
logo  reprimi  furiosamente.  Eu  estava  começando  a  me  convencer  de  que  tinha
alguma doença psicológica incurável. 
­  Agora  chegamos  ao  lugar  mais  lindo  da  casa  –  Brii  avisou,  empolgado,  antes  de
abrir a porta de um dos cômodos no andar de cima – Feche os olhos. 
Suspirei, tentando relaxar, e obedeci. Ouvi a porta se abrir e logo as mãos de Brii me
guiaram pela cintura alguns passos pra dentro. O barulho do mar ali era bem mais
alto, e um vento agradavelmente fresco e com cheirinho de praia nos atingiu após
algumas passadas. Ele me mandou parar, e me abraçou por trás antes de sussurrar
ao pé do meu ouvido: 
­ Pode abrir. 
Fiz  o  que  ele  pediu  devagar,  e  uma  forte  luz  alaranjada  infestou  meus  olhos.
Estávamos  na  sacada  do  quarto,  de  onde  podíamos  ver  uma  faixa  relativamente
curta de areia estender­se até ser encoberta pelo mar sereno. O sol estava prestes a
“tocar” a água no horizonte, irradiando laranja sobre tudo que havia abaixo de si e
reinando solitário no céu, já que nenhuma nuvem ousara aparecer ao seu redor. 
Aquela vista me tirou o fôlego. Pra mim, o pôr­do­sol era um dos espetáculos mais
lindos da natureza. Sempre que eu podia, costumava ficar observando as oscilações
de  cores  lindas  e  vibrantes  no  céu  enquanto  o  sol  se  punha,  refletindo  sobre
qualquer  coisa  ou  simplesmente  ouvindo  alguma  música.  Era  extremamente
terapêutico, me deixava muito mais calma à noite e me fazia dormir melhor. Claro
que com as reviravoltas dos últimos dias, não havia pôr­do­sol que me acalmasse,
mas eu não deixava de tentar. 
­ Brii... É lindo! – soprei, levando uma mão à boca em sinal de deslumbramento. Ele
não respondeu, apenas soltou um risinho mudo e acomodou melhor seu queixo em

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 96/106
12/04/2015 Biology

meu ombro, com a lateral de seu rosto colada ao meu. 
Aquela vista me fez enxergar as coisas com muito mais clareza, analisar todas aquelas
preocupações que a lembrança de Daniel havia trazido com mais calma, e até mesmo
chegar a uma conclusão. Eu tinha que colocar em minha mente que eu amava Brii e
não precisava de mais nada.  Tantas  pessoas  esperam  a  vida  inteira  para  encontrar
sua alma gêmea, e eu com meus míseros 17 anos, tive a sorte de encontrar a minha.
Mas  ainda  assim,  conseguia  ser  baixa  ao  ponto  de  pensar  em  outro  homem...  Ao
ponto de tê­lo traído com outro homem. Aquilo me sufocou. A culpa e a censura me
estrangularam, cruéis e dolorosamente justas. Daniel nunca seria capaz de fazer por
mim nem a metade do que Brii fazia. 
Eu não podia continuar daquele jeito. Eu precisava acabar com aquilo. 
­  Se  eu  te  pedir  uma  coisa...  Promete  que  vai  fazer?  –  murmurei,  encarando  o
horizonte com os olhos apertados pelo vento. 
­ O que você quiser – ele respondeu, também baixinho, como se tivesse medo de
interromper  o  silêncio,  e  também  porque  não  havia  necessidade  de  falar  alto  com
nossa proximidade. 
­ Por favor, prometa que vai fazer – repeti, mordendo meu lábio inferior. 
­  Prometo  –  ele  falou,  virando  um  pouco  o  rosto  para  poder  me  observar  –  Não
confia em mim? 
Suspirei, sem conseguir não confiar nele, e assenti. Era impossível não confiar. 
­  Então  me  prometa  só  mais  uma  coisa  –  gaguejei,  sentindo  minha  voz  falhar  de
nervoso ­ Se um dia eu te machucar... Prometa que vai fazer pior comigo. 
Brii ergueu a cabeça, recuando com o pescoço pra trás até ficar com a coluna reta, e
eu hesitei antes de olhá­lo. Ele me observava com a expressão séria, confusa, e até
um pouco desconfiada. 
­ Como assim, Mell? – ele perguntou, com a testa firmemente franzida – Como você
poderia me machucar? 
­ Eu só quero que você me dê a certeza de que vou me arrepender amargamente do
dia  em  que  te  fizer  sofrer  –  insisti,  virando  de  frente  pra  ele,  com  o  olhar  triste  –
Quero que prometa que não vai me deixar em paz sem me punir por uma injustiça
dessas. 
Brii  piscou  algumas  vezes,  ainda  sem  entender,  e  eu  esperei  até  que  ele  se
recuperasse da surpresa e me respondesse. 
­ Você não me faria sofrer... Faria? – ele questionou, olhando nos meus olhos como
se  procurasse  uma  resposta  pra  sua  pergunta  ali.  Sua  expressão  resignadamente
assustada fez com que algumas lágrimas surgissem em meus olhos, num misto de
vários  sentimentos.  Remorso,  pena,  raiva  de  mim  mesma,  vontade  de  voltar  no
tempo,  vontade  de  me  afogar  naquele  mar  bem  à  nossa  frente  e  me  desfazer
daquela vida que eu definitivamente não merecia. 
­  Nunca  –  sussurrei,  fechando  os  olhos  e  tentando  não  chorar,  mas  foi  um  pouco
inútil. Dois segundos depois e minhas lágrimas estavam molhando a camiseta dele,
assim como meus braços estavam abraçando­o tão forte que considerei a hipótese
de  estar  machucando­o.  Mas  como  ele  me  envolveu  com  seus  braços  quentinhos
num abraço quase tão apertado, eu presumi que estava tudo bem. 
Tudo estaria sempre bem, desde que eu tivesse Brii ao meu lado. 
E eu não precisava de mais nada. 

Capítulo 17 
opcional:  baixem  Muse  –  Time  Is  Running  Out  e  dêem  play  quando  a  letra
começar  

­ Posso te perguntar uma coisa? 
­ Já tá perguntando, mas eu vou te dar um crédito. 
­ Ah, obrigado. Hm... Eu não sei bem como perguntar isso. Vai parecer cafona, aliás,
é cafona, mas eu quero saber mesmo assim. 
­ Então deixa de ser bobo e pergunta logo. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 97/106
12/04/2015 Biology

Eu estava sentada na beira do mar, abraçada aos meus joelhos e sentindo a água
gelada tocar meus pés descalços. O barulho das ondas e o vento gostoso estavam
me deixando sonolenta, ainda mais com os braços de Brii envolvendo minha cintura,
me  aproximando  de  seu  peito  e  me  abrigando  ainda  mais  confortavelmente  entre
suas pernas. 
­  Você  se  imagina  daqui  a  um  bom  tempo...  Ainda  comigo?  –  ele  finalmente
perguntou, me fazendo virar a cabeça pra olhá­lo. 
Brii não retribuiu meu olhar, apenas continuou a fitar pensativamente o horizonte à
nossa  frente.  Tínhamos  perdido  a  noção  da  hora,  mas  já  devia  ser  tarde,  pela
escuridão,  que  só  não  era  tão  gritante  sobre  nós  por  causa  das  luzes  acesas  que
emanavam  da  casa.  Levei  algum  tempo  pra  responder,  com  um  sorriso  tímido  no
rosto. 
­ Pra falar a verdade, eu imagino isso há uns três anos – falei, voltando a ficar de
frente  e  sentindo  minhas  bochechas  queimarem.  Aquela  frase  tinha  soado  mais
infantil do que eu pensei. 
­ Jura? – ele exclamou, com a voz surpresa pela revelação – Desde que eu comecei a
te dar aulas? 
Assenti, me sentindo a pirralha sonhadora, ainda mais com o riso satisfeito de Brii.
Hesitei por um momento, me perguntando se deveria fazer o que estava pensando,
mas antes de chegar a uma conclusão, ouvi minha própria voz me delatar: 
­ E você? Se vê comigo daqui a um tempo? 
Ele deu uma pequena pausa, assimilando a pergunta, e eu esperei sua resposta sem
me mexer, apenas observando a água do mar tocar meus pés novamente. 
­  Na  verdade,  eu  procuro  não  pensar  nisso  –  ele  murmurou,  me  abraçando  mais
forte, e apesar de não ser aquela a resposta que eu esperava ouvir, continuei imóvel
– Prefiro me apegar a cada minuto como se fosse o último, como se você fosse fruto
da  minha  imaginação  e  pudesse  sumir  a  qualquer  momento...  Pensar  assim  vai
tornar as coisas muito mais fáceis quando eu tiver que te deixar ir. 
Franzi  a  testa  de  leve,  sentindo  melancolia  na  voz  dele.  Meu  coração  doeu  com
aquelas palavras, e novamente me virei de lado, colocando minhas pernas sobre a
dele. 
­ Me deixar ir? – soprei, sentindo minha garganta apertada, e fixei meu olhar no dele,
mesmo  sem  ser  correspondida.  Brii  deu  um  sorriso  triste,  voltando  a  demonstrar
uma certa dor em sua expressão. 
­ Encare os fatos, Mell – ele disse, finalmente me olhando, e por um momento eu
preferi que ele não o fizesse e me poupasse da agonia que seus olhos transpareciam
­ Você tem uma vida inteira pela frente, e o que eu tenho? Mais alguns anos até que
tudo que eu possa te oferecer seja o meu amor, coisa da qual você provavelmente
não vai mais precisar. E até lá, alguém muito melhor do que eu vai aparecer, e tudo
que passamos juntos será apenas parte do passado. 
A  cada  palavra  dele,  eu  ficava  mais  inconformada.  Por  que  ele  pensava  daquela
forma? O fato de eu estar ali com ele, amando­o como nunca amei ninguém, não era
suficiente pra provar que eu o queria pra sempre? Por que ele ainda tinha dúvidas de
que ficaríamos juntos por muito tempo? Se nem eu, que tinha um motivo com nome
e  sobrenome  para  pensar  como  ele,  cogitava  uma  hipótese  daquelas,  por  que  ele
cogitava? 
­ Eu não consigo acreditar que você tá me dizendo essas coisas – falei, com a voz
falha de tão incrédula – Retire o que disse, agora! 
­ Mell... – ele insistiu, cabisbaixo e com um sorriso sem humor algum, mas eu não lhe
dei tempo pra continuar. 
­ Retire o que disse! Agora! – repeti num volume um pouco mais alto, erguendo seu
rosto  até  seus  olhos  ficarem  à  altura  dos  meus  –  Eu  nunca  mais  quero  te  ouvir
falando absurdos como esses, entendeu? Se você não quiser me magoar, é melhor
parar com isso! Você me ofende falando assim! 
Brii  demorou  a  devolver  meu  olhar,  e  quando  o  fez,  seu  sorriso  doloroso  se
transformou num sorriso leve, tímido. Mesmo com a seriedade do momento, me vi
lutando  contra  meus  músculos  faciais,  com  vontade  de  sorrir  diante  do  jeito  fofo

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 98/106
12/04/2015 Biology

dele. 
­  Me  sinto  um  garotinho  de  dois  anos  com  você  brigando  assim  comigo  –  ele
murmurou, com o sorriso levemente esmagado entre suas bochechas por causa de
minhas mãos, que ainda envolviam firmemente seu rosto. 
­  Também  não  precisa  exagerar,  né?  –  sorri,  ainda  meio  irritada,  envolvendo  seu
pescoço  com  meus  braços  –  Uma  hora  acha  que  tá  velho  demais,  depois  me  faz
sentir uma pedófila? Decida­se, Langdon! 
Dessa vez, Brii  soltou  uma  gargalhada  gostosa,  que  me  fez  sorrir  ainda  mais.  Nem
parecia que estávamos num momento crítico há tão pouco tempo. 
­ Acho que eu já me decidi – ele disse, olhando fixamente pra mim enquanto passava
um de seus braços por baixo de minhas pernas e envolvia minha cintura com o outro
– Decidi que está um pouco frio aqui, e é melhor entrarmos e nos aquecermos. 
­  Hm  –  falei,  fingindo  analisar  a  decisão  e  fazendo  o  máximo  para  manter  o  clima
agradável  que  havia  sido  restabelecido  tão  depressa  –  Preciso  mesmo  dizer  que
concordo? 
Brii também fez cara de pensativo, e logo voltou a sorrir. 
­ Acho que não – ele riu, levantando­se comigo no colo com uma agilidade invejável.
Brii caminhou até a casa, rodopiando de vez em quando e me fazendo rir, abraçada
ao seu pescoço. Antes de entrarmos na casa, lavamos nossos pés no chuveiro que
havia  perto  da  porta,  e  em  momento  nenhum  Brii  me  colocou  no  chão.  E
sinceramente, eu adorava ser carregada no colo. Resquícios da infância, talvez. 
Ele  me  levou  até  o  quarto,  dando  beijos  estalados  em  minha  bochecha  a  cada
degrau  que  subia,  enquanto  eu  enrolava  meus  dedos  nos  cabelos  de  sua  nuca
devagar e ria, como sempre. Assim que conseguimos abrir a porta do quarto com
certa  dificuldade  e  mais  algumas  risadas,  ele  se  dirigiu  à  cama  e  me  deitou  com
delicadeza, como se eu fosse uma boneca de porcelana. Ficou de pé me observando
por alguns segundos, e eu vi um sorriso iluminar seu rosto. 
Sem a menor chance de resistir, sorri de volta, e ele se deitou devagar sobre mim,
distribuindo  beijos  pela  minha  barriga,  pescoço  e  leves  mordidas  no  queixo  e
bochechas pelo caminho. De olhos fechados, eu não conseguia deixar de sorrir com
os carinhos em meu rosto, até que seus lábios se aproximaram do canto de minha
boca, e inevitavelmente nos beijamos. 
Deslizei minhas mãos pelo peito e barriga dele, desabotoando lentamente sua blusa.
Estava  morrendo  de  saudade  daquilo,  e  não  queria  estragar  o  momento  com
qualquer tipo de pressa. Ele, que estava apoiado em suas mãos pra não depositar
todo  o  seu  peso  sobre  mim,  soltava  suspiros  roucos  quando  eu  me  distraía  e
acariciava  seu  tórax  ao  invés  de  desabotoar  sua  camisa.  Não  era  só  eu  que  estava
sentindo falta, ainda bem. 
Quando  cheguei  ao  último  botão,  subi  minhas  mãos  até  seus  ombros  e  deslizei  a
blusa  até  que  ele  a  tirasse.  Me  impulsionei  com  esforço  um  pouco  mais  pra  cima,
encostando minhas costas na parede atrás da cama e ficando quase sentada pra que
ele  não  precisasse  se  esforçar  tanto,  e  Brii  me  acompanhou,  sentando­se  ao  meu
lado. Na mesma hora, ele passou uma de minhas pernas sobre ele e me sentou em
seu colo, encaixando meu tronco no seu confortavelmente. 
Brii  acariciou  minha  cintura  lentamente,  trazendo  minha  blusa  pra  cima  com  suas
mãos.  Me  desfiz  dela,  vendo­o  morder  o  lábio  inferior  discretamente,  e  comecei  a
beijar  caprichosamente  seu  pescoço,  conseguindo  excitá­lo  sem  vulgaridade.  Ele
agarrou meus cabelos devagar, apertando minha coxa com certa força na tentativa
de se controlar e não acelerar muito as coisas. Voltei a beijá­lo logo, sentindo­o bem
mais enérgico, e não demorou muito pra que meu shorts não estivesse mais onde eu
o tinha colocado antes de sair de casa. 
Enquanto nos beijávamos intensamente, eu escorreguei minhas mãos até o cós de
sua calça, desabotoando­a com facilidade e puxando­a pra baixo devagar. Me afastei
de  Brii  conforme  tirava  a  peça,  e  engatinhei  sobre  ele  pra  voltar  à  minha  posição
anterior, sentindo seu olhar quase doer de tão desejoso sobre mim. Assim que me
aproximei o suficiente, ele me deitou ao seu lado, colocando­se entre minhas pernas
e me beijando tão profundamente que eu pensei que quisesse me engolir. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 99/106
12/04/2015 Biology

Senti as mãos dele tatearem minhas costas em vão buscando o fecho, e não pude
deixar  de  sorrir.  Notando  meu  divertimento,  ele  se  afastou  um  pouco,  confuso  e
ofegante, e eu sorri ainda mais, abrindo meu sutiã pelo único fecho frontal. A cara de
compreensão e deslumbramento dele foi impagável. 
Após fazer meu sutiã voar longe até encontrar o chão, Brii foi descendo seus beijos
pelo meu corpo, demorando­se um pouco mais em meu busto, e antes de voltar a
unir  nossos  lábios,  senti  seus  olhos  fitarem  cada  traço  do  meu  rosto  rapidamente,
admirados. 
Passei  as  mãos  sobre  suas  costas  e  cintura  nuas,  até  alcançar  o  elástico  de  suas
boxers. Mordendo o lábio inferior dele de leve, eu ameacei tirá­la, mas antes disso,
minha calcinha já estava na metade do caminho sem que eu tivesse percebido. Nos
despimos  por  completo,  agradando  simultaneamente  um  ao  outro,  e  quando  ele
voltou  a  me  beijar,  tateei  pela  mesinha  de  cabeceira  em  busca  de  sua  carteira,
encontrando­a  sem  dificuldade.  Brii  sempre  deixava  sua  carteira  o  mais  próximo
possível  da  cama,  porque  ambos  sabíamos  bem  que  era  ali  o  lugar  onde  os
preservativos aguardavam até seu próximo uso. 
Interrompi o beijo para colocar a camisinha nele, sentindo­o ofegar tanto quanto eu,
apesar de não estarmos sendo tão agressivos como de costume. Parecia que nossas
últimas  conversas  desde  a  chegada  a  casa  tinham  provocado  reflexões  em  nossas
mentes,  e  naquela  noite  em  especial,  nossos  sentimentos  estavam  prevalecendo
sobre nossos instintos. 
Assim  que  estávamos  devidamente  protegidos,  eu  busquei  os  lábios  dele  com  os
meus, beijando­lhe desde o pescoço até a boca com um pouco de urgência. Brii me
correspondia calmamente, mas com muita intensidade em cada movimento, até que
colocou sua boca perto de meu ouvido e sussurrou, com a voz rouca: 
­ Eu te amo. 
Ele se afastou para me olhar nos olhos por um segundo, e ao me ver sorrir, voltou a
me beijar, me penetrando logo depois. Mesmo com os movimentos dele, delicados e
maravilhosos,  eu  fitava  seus  olhos  extremamente  Castanhos,  que  pareciam  brilhar
por  conta  própria  em  meio  ao  rosto  rosado  e  úmido  de  suor  dele,  totalmente
conectada a Brii, não só física, mas também emocionalmente. Ele me beijava algumas
vezes  enquanto  se  movimentava,  parecendo  deslumbrado  por  estar  comigo,  e  por
vezes um sorriso sutil surgia em seus lábios avermelhados. Só quando ele se deixou
cair devagar sobre mim algum tempo depois, satisfeito e com seu dever igualmente
cumprido  em  relação  a  mim,  eu  consegui  respirar,  tamanho  foi  meu  envolvimento
emocional  com  aquele  momento.  Brii  beijou  de  leve  a  curva  de  meu  pescoço,  me
fazendo sorrir fraco, e eu relaxei de tal maneira que a próxima coisa que eu vi foi ele
se deitando ao meu lado, me cobrindo com o edredom e me aconchegando em seu
abraço após um último beijo em meu ombro. 
­ Eu também te amo – foi tudo que consegui dizer, colocando meu braço sobre o
dele, que estava em minha cintura, e entrelaçando nossos dedos antes de adormecer
profunda  e  instantaneamente,  tamanha  era  a  minha  paz  de  espírito.  Porque  meu
espírito agora estava completo. Ou pelo menos, quase completo. 

Abri os olhos, sentindo meu corpo suar frio e o ar me faltar. Encarei o teto escuro,
semelhante  ao  céu  lá  fora,  e  olhei  na  direção  do  relógio  do  criado­mudo:  três  e
quarenta  e  oito.  Com  os  músculos  retesados,  voltei  a  deitar  minha  cabeça  no
travesseiro,  esfregando  meu  rosto  úmido  com  a  palma  da  mão.  Tudo  estava  tão
bem, por que eu continuava tendo aqueles sonhos? Por que eu não conseguia tirá­lo
do  meu  subconsciente,  nem  mesmo  após  todos  os  momentos  com  Brii?  Por  que
nem dormir eu conseguia sem que a imagem de Daniel me assombrasse? 
Olhei  para  o  lado  e  me  deparei  com  as  costas  largas  de  Brii,  que  dormia  feito  um
bebê.  Aquele  ali  só  acordaria  de  manhã,  sem  dúvida.  Sorri  fraco,  sem  conseguir
conter  a  onda  de  felicidade  que  ele  me  trazia,  mas  minha  falta  de  ar  e  tremedeira
ainda eram mais fortes que seu efeito calmante. 
Me  levantei,  caçando  minha  calcinha  e  pegando  minha  camisola  de  seda  lilás  que
estava na mochila, e as vesti para ir à cozinha beber um copo d’água. Talvez aquilo

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 100/106
12/04/2015 Biology

me ajudasse a dormir novamente. Dei um nó frouxo em meu cabelo, sentindo a brisa
que vinha da janela refrescar minhas costas enquanto eu me esgueirava pra fora do
quarto. 
Após  alguns  minutos  de  busca,  finalmente  encontrei  o  armário  de  copos.  Abri  a
geladeira,  sedenta,  e  tudo  que  encontrei  foram  duas  garrafas  de  água  em  meio  a
garrafas  de  champanhe.  Muitas  garrafas  de  champanhe.  E  no  meio  delas,  uma
vasilha  transparente  transbordando  morangos.  Morangos  extremamente  enormes,
vermelhos e suculentos. 
Mordi  meu  lábio  inferior,  sentindo  minha  saliva  entrar  em  processo  de
superprodução,  e  não  resisti:  roubei  um  dos  morangos  da  vasilha  e  lavei­o
rapidamente antes de mordê­lo. Não sei se era a fome, já que eu não comia nada
desde  o  almoço,  ou  se  era  fato,  mas  aquele  era,  sem  dúvida,  um  dos  melhores
morangos  que  eu  já  tinha  provado.  Nem  parecia  real.  Aliás,  nada  naquela  casa
parecia  real,  nem  a  própria  casa  me  parecia  real.  Tudo  era  perfeito  demais,
absurdamente lindo. 
Não demorou muito e eu estava sentada sobre a pia, com a vasilha de morangos no
colo  e  um  copo  cheio  d’água  ao  meu  lado  (que  só  não  era  champanhe  porque  se
começasse a beber, não conseguiria parar mais, e eu não pretendia ficar com dor de
cabeça no dia seguinte), observando vagamente os detalhes da cozinha. Se um dia
eu conseguisse enriquecer, pediria permissão ao Jones para fotografar aquela casa e
faria tudo igual na minha, sem tirar nem por. Durante meus devaneios sobre o futuro
(e infelizmente sobre o Jones também), um barulho desviou minha atenção. Virei a
cabeça  muito  mais  depressa  que  o  aconselhável  na  direção  do  barulho,  que
continuou, e continuou, cada vez mais alto, e percebi que ele vinha da rua que Brii
pegou para chegarmos à casa. 
Franzi a testa, sentindo meu coração acelerar de medo, e escorreguei de cima da pia
num  salto,  deixando  os  morangos  sobre  ela.  Um  ronco  de  motor  cada  vez  mais
próximo a cada passo meu em direção à porta me fez quase correr para abri­la logo.
Por  um  segundo,  as  batidas  aceleradas  de  meu  coração  não  foram  movidas  pelo
medo, e sim, pela euforia. Porque nesse mesmo segundo, pude jurar que conhecia
aquele ronco de motor. 
Abri  a  grande  porta  de  entrada,  e  quase  caí  pra  trás  quando  vi  o  segundo  carro
sendo estacionado ao lado do veículo de Brii na frente da casa. Uma Ferrari vermelha
contrastava com a escuridão da noite, reluzindo imponentemente mesmo com a falta
de iluminação. Meus olhos demoraram a aceitar que aquilo não era uma visão, muito
menos  quando  o  dono  daquele  carro  e  também  daquela  casa  saiu  de  dentro  da
Ferrari, divinamente estiloso e maravilhoso com uma blusa pólo preta que realçava a
largura  de  seus  ombros  e  calça  jeans.  Ele  caminhou  até  a  porta,  observando  o
exterior da casa com interesse, e assim que me viu, parou a alguns passos de mim. 
­  Sinceramente,  eu  não  esperava  essa  recepção,  Dawson  –  Daniel  sorriu,  alguns
segundos  depois,  parecendo  levemente  surpreso.  Ele  lançou  um  significativo  olhar
para as minhas pernas, e aquele sorriso pervertido que me perturbava apareceu em
seus  lábios.  Segui  seu  olhar  com  o  meu,  puxando  rápida  e  inutilmente  a  camisola
mais  pra  baixo,  enquanto  a  amaldiçoava  por  ser  tão  curta  e  mal  cobrir  a  metade
superior de minhas coxas. 
­ O que você veio fazer aqui? – perguntei, ainda com esperanças de que aquilo fosse
uma ilusão, e minha voz saiu um pouco mais alta que um sussurro. Eu suava frio,
sentia meu equilíbrio vacilar, e contínuos arrepios percorriam minha espinha a cada
segundo que se passava e ele não sumia, como uma alucinação normal deveria fazer.
­ Vim verificar se estão cuidando direito da minha casa – ele respondeu, erguendo as
sobrancelhas  num  tom  divertido  –  Fiquei  com  medo  de  que  você  e  o  Langdon
acabassem me dando prejuízos materiais com toda a sua... Agressividade, se é que
você me entende. 
Daniel  deu  um  risinho  desdenhoso,  me  encarando  daquela  forma  invasiva,  e  eu
tentei retribuí­lo com firmeza. Em vão, óbvio. 
­ Mentira – foi tudo que consegui rosnar, sentindo necessidade de dar um passo para
trás assim que ele avançou na minha direção, mas meus pés não se moveram. Assim

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 101/106
12/04/2015 Biology

como Brii me alegrava instantaneamente, Daniel parecia me paralisar. 
­  Nossa,  mas  que  falta  de  educação  –  ele  murmurou,  cínico,  aproximando­se  cada
vez mais de mim – Eu cedo a minha própria casa pra você e seu namorado passarem
o  fim  de  semana  e  tudo  que  eu  recebo  em  troca  são  ofensas?  Você  é  mesmo
surpreendente. 
Daniel  ameaçou  acariciar  meu  rosto,  mas  eu  fui  mais  rápida,  e  num  impulso  de
sanidade, dei um tapa em sua mão. 
­ Você não vai tocar em mim – falei, tentando parecer ameaçadora, mas o máximo
que pareci foi frouxa. Nem eu tinha certeza das palavras que saíam de minha boca
quando ele estava tão próximo. 
­ Desculpe te contrariar, mas... – ele sussurrou, aproximando­se ainda mais de mim e
envolvendo meu quadril com uma de suas mãos, sem encontrar resistência de minha
parte devido à pane em meu cérebro – Eu vou sim. 
Fugindo do olhar dele, abaixei meus olhos na direção de sua mão, que me puxava
sorrateiramente  mais  pra  perto  dele.  Seu  hálito  já  batia  em  meu  rosto,  quente  e
extremamente convidativo, e sentindo meu sangue ferver dentro das veias, fechei os
olhos  devagar,  entorpecida.  Senti  a  outra  mão  dele  cobrir  todo  o  lado  de  meu
pescoço,  mantendo  seu  polegar  em  minha  bochecha,  e  num  último  sopro  de
resistência, implorei: 
­ Por favor, não... 
­ Eu não vou fazer nada que você não queira – ele sussurrou, roçando a ponta de
seu nariz no meu lentamente, e subitamente paralisou, soltando um risinho baixo –
Mas me provocar com morangos já é tentação demais. 
Abri  os  olhos,  me  perguntando  como  ele  sabia,  e  logo  descobri:  meu  hálito.  No
mesmo instante, senti um remorso enorme por ter encarado aqueles olhos Azuis tão
de  perto,  porque  no  segundo  seguinte,  a  única  palavra  que  passava  pela  minha
cabeça enquanto eu deixava que ele me beijasse era: 
Droga. 

I think I'm drowning 
(Eu acho que estou afundando) 
Asphyxiated 
(Asfixiado) 
I wanna break the spell 
(Eu quero quebrar o feitiço) 
That you've created 
(Que você criou) 

Assim que os lábios dele tocaram os meus, senti uma nova força surgir de dentro de
mim, uma voracidade incontrolável. Imediatamente agarrei os cabelos de sua nuca,
dando desajeitados passos pra trás quando ele fez o mesmo para a frente, entrando
de  vez  na  casa  e  chutando  levemente  a  porta  atrás  de  si  pra  fechá­la.  Suas  mãos
desenharam  o  contorno  das  laterais  de  meu  corpo,  fazendo­o  soltar  o  ar
pesadamente em aprovação. Continuamos cambaleando casa adentro, intensificando
cada vez mais nosso beijo desesperado, até que ele se curvou um pouco e segurou a
parte  de  trás  de  minhas  coxas,  puxando­as  para  que  envolvessem  sua  cintura.
Agarrei  seu  pescoço  para  não  cair,  e  deixei  que  ele  me  conduzisse  até  me  sentar
numa superfície gelada, que eu logo reconheci como sendo o balcão da cozinha. 

You're something beautiful 
(Você é algo lindo) 
A contradiction 
(Uma contradição) 
I wanna play the game 
(Eu quero jogar o jogo) 
I want the friction 
(Eu quero a fricção) 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 102/106
12/04/2015 Biology

­ Você não vai mais fugir de mim – ele murmurou ao pé do meu ouvido, mordendo o
lóbulo  enquanto  puxava  meu  cabelo  com  um  pouco  de  força.  Minhas  mãos
agarravam e bagunçavam os cabelos dele, e minha respiração era quase nula. 
­  Eu  não  consigo  mais  fugir  de  você  –  sussurrei,  com  o  pouco  de  fôlego  que  me
restava, e ele voltou a me beijar sorrindo, satisfeito. Àquela altura, com as mãos dele
provocando  formigamentos  instantâneos  em  minha  pele  assim  que  me  tocava,  eu
nem  me  lembrava  mais  do  significado  da  palavra  orgulho.  Desse  eu  já  tinha  me
desfeito há muito tempo, só não tinha coragem suficiente de admitir. 

You will be 
(Você será) 
The death of me 
(A minha morte) 
Yeah, you will be 
(Sim, você será) 
The death of me 
(A minha morte) 

­  Você  não  precisa  escolher  entre  nós  dois...  –  Daniel  ofegou,  enquanto  beijava
languidamente meu pescoço – Porque sabe que pode ter os dois. 
­  Eu  não  conseguiria  escolher  –  falei,  com  os  olhos  semiabertos  e  o  corpo  todo
arrepiado – Algo sempre ficaria faltando... Como se uma metade não fosse suficiente
sem a outra. 
­ Como se uma metade não fosse suficiente sem a outra – ele repetiu, subindo seu
rosto até seus olhos ficarem da altura dos meus, e me encarou intensamente antes
de voltar a me beijar. 

Bury it 
(Enterrar isso) 
I won't let you bury it 
(Eu não vou deixar você enterrar isso) 
I won't let you smother it 
(Eu não vou deixar você manchar isso) 
I won't let you murder it 
(Eu não vou deixar você assassinar isso) 

Desci  minhas  mãos  por  seu  pescoço,  sentindo  meu  coração  quase  explodindo,  e
puxei  a  gola  de  sua  camisa  pra  cima,  demonstrando  meu  desejo  de  tirá­la.
Imediatamente, Daniel puxou­a pela parte de trás da gola, separando nossos lábios
só para passar a blusa por sua cabeça, e quando voltou, suas mãos deslizaram por
minhas coxas, trazendo descaradamente minha camisola e me provocando uma nova
onda de arrepios. 

Our time is running out 
(Nosso tempo está acabando) 
Our time is running out 
(Nosso tempo está acabando) 
You can't push it underground 
(Você não pode fazer disso um segredo) 
We can't stop it screaming out 
(Nós não podemos impedir que isso grite) 

Nossos movimentos tornavam­se muito mais agressivos conforme a temperatura de
nossos  corpos  aumentava.  Logo  ele  estava  somente  de  boxers,  desfazendo­se  da
calça, meias e sapatos com certa ajuda de minha parte, e colocando a camisinha, que
estava em seu bolso, ao meu lado para ser usada em breve. Sinceramente, eu não

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 103/106
12/04/2015 Biology

sabia  como  ele  conseguia  se  lembrar  dela  em  momentos  como  aquele,  mas  ficava
infinitamente  grata  por  isso.  Daniel  arrancou  minha  calcinha  tão  ferozmente  que
quase a rasgou, e eu não fiquei muito atrás quando foi a vez de suas boxers. 

I wanted freedom 
(Eu queria liberdade) 
Bound and restricted 
(Limitada e restrita) 
I tried to give you up 
(Eu tentei desistir de você) 
But I'm addicted 
(Mas estou viciado) 

Envolvi seu membro extremamente rígido com minha mão, masturbando­o o mais
rápido  que  consegui  e  fazendo­o  soltar  gemidos  dolorosamente  contidos,  com  a
testa fortemente franzida e úmida de suor. Eu mordia e sugava seu lábio inferior com
os olhos abertos, observando o prazer que eu estava lhe proporcionando, até que
ele,  cansado  de  se  segurar,  afastou  seu  rosto  do  meu  e  rasgou  a  embalagem  do
preservativo com uma expressão que beirava a raiva. 

Now that you know I'm trapped 
(Agora que você sabe que estou encurralado) 
Sense of elation 
(Um sentimento de superioridade) 
You'll never dream of breaking this fixation 
(Você nunca vai sonhar em desfazer essa fixação) 

You will squeeze the life out of me 
(Você vai espremer a vida de mim) 

Daniel  colocou  a  camisinha  sem  demora,  me  beijando  desajeitada  e


desesperadamente enquanto o fazia, e assim que terminou, não esperou mais. Me
invadiu com força, me fazendo quase cortar meu lábio inferior, tamanho foi o esforço
que fiz para mordê­lo e conter um grito. Ele soltava rudemente o ar em meu ouvido,
investindo  cada  vez  mais  forte  e  até  me  machucando  um  pouco.  Nada  que  se
comparasse  à  sensação  inexplicável  que  dominava  meu  corpo  quando  estávamos
juntos. 

Bury it 
(Enterrar isso) 
I won't let you bury it 
(Eu não vou deixar você enterrar isso) 
I won't let you smother it 
(Eu não vou deixar você manchar isso) 
I won't let you murder it 
(Eu não vou deixar você assassinar isso) 

Eu arranhava seus ombros, braços e costas incessantemente, ouvindo­o segurar seus
gemidos  e  apertar  firmemente  minha  cintura,  até  que  cheguei  ao  clímax  e  ele
finalmente pôde parar de se segurar e atingir o seu. Abracei seu pescoço, levemente
tonta,  e  distribuí  vários  beijos  sobre  a  pele  suada  daquela  região,  me  sentindo
verdadeiramente plena, como não me sentia há algum tempo. A parte que faltava de
mim agora estava ali, e eu me sentia completa novamente. 

Our time is running out 
(Nosso tempo está acabando) 
Our time is running out 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 104/106
12/04/2015 Biology

(Nosso tempo está acabando) 
You can't push it underground 
(Você não pode fazer disso um segredo) 
We can't stop it screaming out 
(Nós não podemos impedir que isso grite) 
How did it come to this? 
(Como isso chegou a esse ponto?) 

Daniel respirava profundamente, com a cabeça apoiada em meu ombro, e acariciava
minhas costas devagar. Alguns minutos depois, me deu um beijo suave e se afastou,
arrumando­se  para  ir  embora.  Fiquei  parada  onde  estava,  trêmula  demais  pra  me
mover, e apesar de saber que ele não podia ficar, senti que se abrisse a boca, aquele
pedido simplesmente escaparia por entre meus lábios. 

You will suck the life out of me 
(Você vai sugar a vida de mim) 

Após alguns segundos me conformando com a partida dele, me pus de pé e me vesti
lentamente.  Assim  que  terminei,  não  tive  coragem  de  encará­lo,  mas  ele  não  me
deixou escolha: me puxou pelo braço e me virou pra si, erguendo meu rosto com
sutileza e me encarando fixamente com os olhos ilegíveis. Havia muita coisa implícita
naqueles olhos Azuis pra que eu pudesse entendê­lo. 

Bury it 
(Enterrar isso) 
I won't let you bury it 
(Eu não vou deixar você enterrar isso) 
I won't let you smother it 
(Eu não vou deixar você manchar isso) 
I won't let you murder it 
(Eu não vou deixar você assassinar isso) 

Ele me beijou uma última vez, profunda e calmamente, e se dirigiu à porta, sem dizer
uma palavra. Ao contrário de mim. 

Our time is running out 
(Nosso tempo está acabando) 
Our time is running out 
(Nosso tempo está acabando) 
You can't push it underground 
(Você não pode fazer disso um segredo) 
We can't stop it screaming out 
(Nós não podemos impedir que isso grite) 
How did it come to this? 
(Como isso chegou a esse ponto?) 

­  Você  volta  amanhã?  –  murmurei,  sem  conseguir  conter  minha  aflição,  e  ele,  que
estava de frente pra porta, virou­se na minha direção com a expressão misteriosa.
Me  olhou  significativamente,  e  deu  um  sorriso  quase  imperceptível  antes  de  ir
embora. Não precisei de palavras pra que um sorriso esperançoso se abrisse em meu
rosto. 

How did it come to this? 
(Como isso chegou a esse ponto?) 

Definitivamente, ele voltaria. 

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 105/106
12/04/2015 Biology

Capítulos 18 ao 34

http://fanficobsession.com.br/fanfics/f/ficbiology1.html 106/106

You might also like