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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

Instituto de Ciência e Tecnologia

Amanda Tibães Lopes

Luana Elisa Siqueira

RECENTES DESENVOLVIMENTOS DA BIOTECNOLOGIA NA INDÚSTRIA DE


CAROTENOIDES

Docente: Prof. Gustavo Molina

Diamantina
2018
RESUMO

Os carotenoides, grupo de pigmentos naturais responsáveis por conferir a coloração do

amarelo ao vermelho de frutas, flores, vegetais, fungos e animais, tem se destacado nos

últimos anos devido às suas propriedades que possibilitam sua aplicação nas mais diversas

indústrias. Além de sua ampla utilização como corantes na indústria alimentícia, farmacêutica e

têxtil, estudos demonstram propriedades antioxidantes, provitamina A, anticarcinogênicas e

imunomodulatórias associadas a esses compostos, tornando-os interessantes para aplicação

como suplementos nutricionais. Por possuir diversas funções, a demanda por novas fontes

destes pigmentos tem aumentado consideravelmente fazendo com que sua produção

industrial, que ainda é majoritariamente química, migre para a extração biotecnológica a partir

de microalgas e microrganismos. Os processos de síntese química tendem a apresentar

dificuldades ao se trabalhar com compostos complexos e com propriedades específicas,

enquanto a produção biotecnológica dos mesmos apresenta como vantagem a possibilidade de

produzir compostos naturais de estrutura complexa a partir de substratos de baixo custo. O

presente estudo tem o objetivo de analisar os principais aspectos associados à produção de

pigmentos carotenoides por via biotecnológica utilizando leveduras, fungos filamentosos e

microalgas.

Palavras-chave: Corantes naturais; provitamina A; antioxidante.


1 INTRODUÇÃO

Os carotenoides são pigmentos naturais, lipofílicos, insolúveis em água e solúveis em

solventes como a acetona, responsáveis pelas cores amarelo, laranja e vermelho de muitos

alimentos, tais como frutas, vegetais, gema de ovo, alguns peixes, como salmão e truta, e

crustáceos (DAMODARAN, et al. 2010; MALDONADE, et al. 2008).

Devido às suas propriedades os carotenoides são amplamente utilizados nas indústrias

alimentícia, farmacêutica, de cosméticos e ração. A indústria alimentícia faz uso destes,

principalmente como corantes, com os objetivos de repor a cor perdida durante o

processamento e armazenamento, colorir os alimentos incolores e uniformizar a coloração de

alguns produtos alimentícios. Recentemente, com o crescente interesse pela saúde, os

carotenoides também têm sido adicionados aos alimentos a fim de enriquecer o produto

(NIIZU, 2003; VALDUGA, et al. 2009).

Além de seu amplo uso como corantes e no enriquecimento de alimentos, os

carotenoides também são utilizados como suplementos nutricionais, pelas suas funções

biológicas como precursores de vitamina A e suas propriedades antioxidantes, que resultam

em possíveis benefícios à saúde, tais como o fortalecimento do sistema imunológico e a

diminuição do risco de doenças onde os radicais livres apresentam papel fundamental, como

certos tipos de câncer, doenças cardiovasculares, arteriosclerose, esclerose múltipla,

degeneração macular e catarata (MALDONADE, et al. 2008; NIIZU, 2003).

Além dos benefícios à saúde, o uso de carotenoides como corantes alimentícios se

torna interessante, pois os mesmos são estáveis na faixa de pH da maioria dos alimentos, não

são corrosivos e nem são afetados por substâncias redutoras. As desvantagens estão

relacionadas à limitada faixa de coloração oferecida pelos mesmos, sua susceptibilidade à

degradação oxidativa, limitada solubilidade em óleo e insolubilidade em água. Sendo que os

dois últimos, já foram solucionados tecnologicamente (SILVA, 2004).

Os carotenoides utilizados industrialmente em formulações podem ser obtidos por duas

vias: extração natural (a partir de plantas, algas e microrganismos) e química (corantes

sintéticos idênticos aos naturais). A demanda gerada pelos consumidores e a crescente

procura por aditivos e produtos de origem natural, aumenta o interesse das indústrias em

utilizar esses produtos e impulsiona as pesquisas referentes à produção de carotenoides via


processos biotecnológicos. Além da conotação “natural”, os produtos obtidos por produção

microbiana podem ser obtidos em curto prazo, em qualquer época do ano (TATSCH, 2008;

VALDUGA, et al. 2009).

A obtenção de carotenoides naturais por processos biotecnológicos é vantajosa em

relação à síntese química e a extração a partir de plantas, devido a fatores como: possibilidade

de utilização de substratos de baixo custo; necessidade de menor espaço para produção não

estando sujeita às mudanças climáticas ou sazonais; controle das condições de cultivo para

garantir obtenção do composto de interesse (SILVA, 2004).

A produção por via biotecnológica pode ser realizada a partir de microrganismos

fotossintetizantes como, por exemplo, algas e cianobactérias (azuis e verdes), e por

microrganismos não fotossintetizantes, como bactérias, fungos e leveduras (JOHNSON;

SCHROEDER, 1995). Esta pode ser afetada por diferentes fatores, com destaque para a fonte

de carbono, a qual não apenas influencia o desenvolvimento do microrganismo e a síntese de

carotenoides, mas também interfere diretamente nos custos de produção (AKSU; EREN,

2005).

As fontes de carbono mais comumente empregadas para a bioprodução de

carotenoides são a glicose e sacarose e encontrar fontes alternativas de carbono que elevem a

produtividade do processo e reduzam custos é extremamente necessário (AKSU; EREN,

2005). Alguns estudos vêm avaliando a utilização de produtos agrícolas de baixo custo e

resíduos como soro de queijo (AKSU; EREN, 2005), mosto de uva (BUZZINI; MARTINI, 1999),

subprodutos do processamento de cana-de-açúcar e água de maceração de milho (VALDUGA

et al., 2007) e da produção de biodiesel (SAENGE et al., 2011) como forma de reduzir os

custos de produção e a emissão destes subprodutos industriais e agroindustriais no meio

ambiente, por serem ricos em açúcares e matéria orgânica viáveis.

Diante do exposto, o presente estudo tem o objetivo de revisar os principais aspectos

associados à produção de pigmentos carotenoides por via biotecnológica utilizando leveduras,

fungos filamentosos e microalgas.


2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Carotenoides

Os carotenoides são compostos isoprenóides, tetraterpenos de quarenta carbonos

formados por oito unidades de isoprenos ao longo de um sistema de ligação dupla conjugada,

unidas num padrão cabeça-cauda que forma a “espinha dorsal” da molécula, em que a ordem

de ligação dupla é invertida no centro da molécula, influenciando em suas propriedades

químicas, físicas e bioquímicas. Esta cadeia pode apresentar grupos terminais cíclicos, que

apresentam substituintes contendo oxigênio (GÓMEZ-GARCÍA; OCHOA-ALEJO, 2013).

As plantas são a maior fonte de carotenoides, os quais são responsáveis por conferir

as cores características de frutas, como morango, laranja e maracujá, respondendo ainda pelas

cores de alguns pássaros, como o flamingo e o canário, alguns insetos e animais marinhos

(camarão, lagosta e salmão) (UENOJO et. al, 2007).

Os carotenoides acumulam-se em cloroplastos de todas as plantas verdes como uma

mistura de α e β-carotenos, β-criptoxantina, luteína, zeaxantina, violaxantina e neoxantina,

estando complexados não covalentemente com proteínas. Os carotenoides também se

encontram em microrganismos, nos quais são sintetizados pela rota metabólica dos

isoprenóides. Aproximadamente 80 carotenoides diferentes são sintetizados por bactérias

fotossintéticas e em alguns fungos filamentosos (MALDONADE, et al. 2008).

A característica de absorção de luz dos carotenoides se dá devido à cadeia de duplas

ligações conjugadas que atua como cromóforo, sendo necessário, aproximadamente, sete

ligações duplas conjugadas para que o carotenoide apresente coloração. As duplas ligações

presentes nesse sistema provocam a sua possível oxidação e isomerização, principalmente

quando submetidos a condições não controladas de processamento e/ou estocagem, mais

especificamente em produtos naturais (frutas). Além disso, o calor, a luz, o oxigênio e enzimas

como lipoxigenase e/ou ácidos presentes em frutas levam a alterações ou parcial destruição

dos pigmentos. A exposição destes as tais agentes resulta na formação de isômeros cis,

epóxidos, diminuição da cor, perda da atividade provitamínica A e quebra da cadeia

(VALDUGA et al., 2009).


2.2 Mercado de carotenoides

Os pigmentos produzidos por métodos biológicos têm surgido como um crescente

segmento do mercado industrial. Desde o início dos anos 80, várias companhias

biotecnológicas têm desenvolvido métodos para produzir pigmentos em culturas bacterianas,

de algas e fungos. Para se consolidar, materiais biotecnológicos devem oferecer vantagens em

seu emprego e custo. As três principais categorias emergentes de biopigmentos deste mercado

são carotenoides, xantofilas e melanina (PASSOS, 2007).

A produção industrial de β-caroteno começou em 1954 e, desde então, a síntese

comercial de carotenoides vem sendo desenvolvida. Atualmente, são vendidos por ano cerca

de US$ 300 milhões em carotenoides sintéticos, dentre os quais os principais são β-caroteno,

licopeno e astaxantina. O preço de mercado, por grama, é em torno de R$ 57 para o β-

caroteno, e R$ 633 para a astaxantina, já um miligrama de zeastaxantina chega a custar R$

1690 (VALDUGA et al., 2009).

Em 2003, o mercado europeu de carotenoides contabilizou um total de US$ 348,5

milhões, com um mercado global estimado de US$ 935 milhões/ano. O mercado de

astaxantina, embora menor que o de licopeno e β-caroteno, tem crescido rapidamente,

chegando a um aumento da sua participação no mercado de 26% entre 2000 e 2010

(PASSOS, 2007).

2.3 Produção biotecnológica

A maioria dos carotenoides usados na indústria são produzidos através de síntese

química ou extração de plantas, pois os sistemas biológicos podem gerar produtos mais difíceis

de serem tratados e/ou produzir compostos em níveis tais que isolamento em escala comercial

não se torna praticável. Apesar disso, a produção comercial por via biotecnológica, vem

ganhando espaço e é altamente eficiente, pela possibilidade dos processos serem facilmente

adaptados para diferentes esquemas de tratamento. De acordo com Sentanin (2012), a

produção biotecnológica de carotenoides para a aplicação industrial através de

microrganismos, apresenta como principais vantagens:


❖ Os microrganismos têm a capacidade de utilizar substratos de baixo custo para seu

crescimento;

❖ Os carotenoides produzidos são considerados naturais;

❖ A produção ocorre em pequenos espaços e a exposição às condições ambientais

como clima, estação do ano ou composição do solo é evitada;

❖ Há a possibilidade de controle das condições de cultivo para induzir a síntese de um

carotenoide específico.

Devido a isso, é crescente o uso de processos fermentativos que visam a produção de

carotenoides naturais. Contudo, por possuírem natureza intracelular, os custos de produção

aparecem como fator significante os quais podem ser minimizados através da utilização de

subprodutos de baixo custo industrial como fontes de nutrientes (AKSU; EREN, 2005). Os

resíduos agroindustriais têm sido alvos de grande interesse, isto porque, como consequência

do desenvolvimento industrial, enormes quantidades destes resíduos são geradas anualmente

e por sua vez podem ser usados como material para outro processo, agregando valor

econômico a eles (CONTRERAS et al, 2012).

Uma variedade de carotenoides, com estruturas específicas, pode ser obtida a partir da

exploração do reino microbiano. A produção de carotenoides através de microrganismos

constitui uma alternativa interessante devido à possibilidade da obtenção de pigmentos de

origem natural em escala industrial (AUSICH, 1997).

As microalgas, bactérias e fungos são os principais microrganismos utilizados para os

processos tecnológicos relacionados à obtenção de carotenoides. A maioria dos estudos

encontrados destaca a produção de carotenoides pelos microrganismos Rhodotorula, Phaffia

rhodozyma, Sporobolomyces, Blakeslea trispora, Dunaliella salina, Haematococcus pluvialis

entre outros, sendo que os carotenoides naturais mais investigados são a astaxantina, β-

caroteno, cantaxantina, toruleno e licopeno (VALDUGA et al., 2009). O β-caroteno e a

astaxantina são os de maior interesse, visto que são utilizados na indústria de alimentos como

aditivos naturais (MENDONÇA et al., 2013).

Muitos microrganismos produzem carotenoides, porém nem todos são industrialmente

interessantes. A produção de carotenoides por microalgas é viável, pois os pigmentos são

produzidos naturalmente pelas mesmas. A Dunaliella sp é a principal microalga utilizada nos


processos de extração de carotenoides, devido ao fato desta acumular aproximadamente 10%

de β-caroteno em sua biomassa, além de ser considerada uma das microalgas mais bem

sucedidas em escala comercial, já que pode ser cultivada em altas e baixas temperaturas, alta

salinidade e vários tipos de água (AZEREDO, 2012; DERNER et al. 2006; GUEDES et al.

2011).

Além das microalgas, microrganismos como leveduras possuem potencial para a

produção de carotenoides, destacando-se pelo seu uso como fonte proteica, capacidade de

crescimento em substratos de baixo custo e alto teor de açúcar (VALDUGA et al., 2007).

Os microrganismos do gênero Rhodotorula são conhecidos por produzir quantidades

consideráveis de carotenoides. Este gênero tem sido estudado devido ao seu potencial para

produção industrial, uma vez que oferecem vantagens sobre os outros gêneros em termos de

taxa de crescimento elevada e uso de substratos de baixo custo. O seu crescimento pode

ocorrer através da utilização de matéria-prima barata, como caldo ou melaço de cana-de-

açúcar, soro do leite, mosto, farinha de feijão hidrolisada, extratos de soja e farinha de milho

(BRANCO, 2010).

Barbato (2014) analisou a obtenção de carotenoides por fermentação utilizando melaço

e caldo de cana de açúcar como meio de cultivo e a levedura Rhodotorula sp. como

biocatalisador do processo. O melaço nas concentrações 25%, 50% e 75%, caldo de cana e

um meio sintético foram utilizados como substrato, para a inoculação da levedura. Dos

resultados obtidos destacou-se a possibilidade do uso de caldo de cana e melaço diluído como

meio de cultivo para obtenção de carotenoides e que dentre as metodologias de extração

empregadas, a com acetona/éter de petróleo se mostrou mais eficiente.

Na Tabela 1 estão apresentados alguns dos microrganismos com potencial para serem

empregados na bioprodução dos principais carotenoides de interesse.


Tabela 1 - Microrganismos com potencial para produção de carotenoides

Espécies Carotenoides Fonte

Cianobactérias
Anabaena variabilis Cantaxantina JOHNSON; SCHROEDER, 1995

Aphanizomenon flos-aqua Cantaxantina JOHNSON; SCHROEDER, 1995

Nostoc commune Cantaxantina JOHNSON; SCHROEDER, 1995

Algas
Chlorela pyrenoidosa Luteína JOHNSON; SCHROEDER, 1995

Dictycoccus cinnabarinus Cantaxantina JOHNSON; SCHROEDER, 1995

Dunaliella salina β-caroteno FAZELI et. al., 2006

Dunaliella tertiolecta β-caroteno FAZELI et. al., 2006

Haematococcus pluvialis Astaxantina JONHSON; GIL-HWAN, 1990

Spongiococcum excetricum Luteína JOHNSON; SCHROEDER, 1995

Fungos e Leveduras
Blakeslea trispora β-caroteno e licopeno JOHNSON; SCHROEDER, 1995

Dacrymyces deliquescens Luteína JOHNSON; SCHROEDER, 1995

Rhodosporidium sp Toruleno, β-caroteno JOHNSON; SCHROEDER, 1995

Torularrodina, β-caroteno,
Rhodotorula glutinis SHIH; HANG, 1996
toruleno

Toruleno, torularrodina e β-
Rhodotorula mucilaginosa BUZZINI; MARTINI, 1999
caroteno

Rhodotorula rubra β-caroteno SHIH; HANG, 1996

Sporidiobolus salmonicolor β-caroteno UENOJO; JUNIOR, 2007

Toruleno, torularrodina, β-
Sporidiobolus sp JOHNSON; SCHROEDER, 1995
caroteno

Torularrodina, β-caroteno,
Sporobolomyces roseus DAVOLI; MIERAU; WEBER, 2004
toruleno

Bactérias
Mycobacterium brevicaie Cantaxantina JOHNSON; SCHROEDER, 1995

Mycobacterium lacticola Astaxantina JOHNSON; SCHROEDER, 1995


Rhodococcus maris Cantaxantina JOHNSON; SCHROEDER, 1995

Streptomyces chrestomyceticus Xantofilas JOHNSON; SCHROEDER, 1995

* Fonte: Adaptado de VALDUGA et al., 2009.

2.3.1 Requisitos do processo biotecnológico

As condições ambientais e os fatores estimulantes da carotenogênese vêm sendo

examinados, a fim de melhorar a produção de carotenoides e avaliar os microrganismos

produtores de pigmento (microalgas, fungos e bactérias). Os tipos de carotenoides e a

quantidade relativa destes podem variar dependendo da composição do meio de cultivo e das

condições de crescimento do organismo produtor, tais como fonte de carbono e nitrogênio,

presença de metais e sais, agentes químicos, condições ambientais como a luminosidade,

temperatura, agitação, taxa de aeração e pH (VALDUGA et al., 2007).

A eficiência da biossíntese de carotenoides quando melhorada pode aumentar a

produção. Juntamente com as condições de cultivo, a biossíntese de carotenoides é conduzida

pelo nível e atividade das enzimas biossintéticas e o fluxo total de carbono do sistema

sintetizante. Assim, uma alta produção pode ser alcançada alterando-se o nível e a atividade

destas enzimas ou a via biossintética, pela utilização de uma abordagem molecular, utilizando

estimulantes no meio e ajustando as condições externas do cultivo (BHOSALE, 2004).

A Figura 1 mostra resultados de pesquisadores ao variar características do meio de

crescimento dos biocatalisadores de um processo, para produzir diferentes produtos.


Figura 1- Produção de diferentes produtos a partir de mudanças em características do meio de

cultivo

Davoli, Mierau e Weber (2004), cultivaram Sporobolomyces roseus em meio YED (30

g/L de glicose, 4 g/L de extrato de levedura, 1 g/L de KH2PO4 e 0,5 g/L de MgSO4.7H2O),

tendo glicose como fonte de carbono e obteveram majoritariamente toruleno e β–caroteno.

A biossíntese de carotenoides ocasiona mudanças do pH do meio, como consequência

do crescimento de biocatalisadores. O pH do meio decresce nas primeiras 72 h de

bioprodução, seguido de uma elevação durante a fase mais intensa de carotenogênese.

Posteriormente, o pH permanece constante indicando o final da bioprodução (VALDUGA et. al,

2007). O pH é um dos parâmetros ambientais mais importantes que exercem influência no

crescimento celular e formação de produto. Desta forma, o pH inicial é objeto de estudo na

produção de carotenoides.

Além do pH, a temperatura é um dos fatores ambientais mais importantes que

influenciam o crescimento e o desenvolvimento dos microrganismos, causando alterações em

muitas vias biossintéticas, inclusive na carotenogênese. Segundo Hayman e colaboradores

(1974), a temperatura controla a concentração de enzimas envolvidas na produção de ca-

rotenoides e mudanças na concentração enzimática, definitivamente controlam o nível de

carotenoides gerados pelos biocatalisadores.

A irradiação de luz branca, ou foto indução, influencia positivamente a produção e

acúmulo de carotenoides em algas, fungos e bactérias. Assim como microrganismos aeróbicos


necessitam de definição das melhores condições de aeração e agitação para aumento de

rendimento. (BHOSALE, 2004).

2.3.2 Biossíntese de carotenoides

O primeiro precursor específico na biossíntese dos terpenóides é o ácido mevalônico.

O ácido mevalônico, após uma série de reações, forma geranil difosfato (10 C), farnesil

difosfato (15 C) e geranil-geranil difosfato (20 C). A dimerização de duas moléculas de geranil-

geranil difosfato forma o fitoeno, sendo este o primeiro composto de quarenta carbonos,

embora ainda sem coloração. Segue-se uma série de desnaturações a partir do fitoeno para

formar fitoflueno, caroteno, neurosporeno e, finalmente licopeno. A ciclização pode ocorrer a

partir do neurosporeno ou licopeno. O neurosporeno sofre ciclização em uma das

extremidades, formando o anel β de β-zeacaroteno ou o anel α de α-caroteno. Estes dois

carotenoides são transformados em γ-caroteno e δ–caroteno, respectivamente, pela introdução

de uma dupla ligação, estendendo o sistema de dupla ligação conjugadas. O licopeno pode

também ser ciclizado em uma das extremidades, gerando γ-caroteno e δ–caroteno. Estes

carotenos monocíclicos sofrem ciclização na outra extremidade, resultando em β-caroteno e α-

caroteno, respectivamente. Após a formação dos carotenoides cíclicos, tem-se a introdução de

substituintes, como a hidroxila, gerando xantofilas (VALDUGA et al., 2009).

. A Figura 2 apresenta estágios intermediários para obtenção dos carotenoides através

da biossíntese.
Figura 2 - Fluxograma dos estágios da biossíntese de carotenoides. Fonte: VALDUGA,

2009.

3 CONCLUSÕES

Os estudos voltados à aplicação da biotecnologia para a produção de carotenoides são

de grande importância para a ampliação desse processo industrialmente, visto que o principal

impedimento para que isso ocorra se da através dos custos, que ainda não conseguem

competir com a produção de carotenoides por via sintética. Como foi discutido, a procura

mercadológica por este tipo de produto demonstrou ser de grande expressão, demonstrando o

seu potencial de vendas. As pesquisas voltadas para esta área são determinantes para a

possível aplicação industrial, visando, portanto, a diminuição de custos tanto através dos

substratos utilizados quanto na purificação destes pigmentos.

A produção de corantes naturais utilizando microrganismos vem sendo estudada com o

objetivo não somente de seleção de linhagens produtoras de uma variedade de carotenoides,

mas também a otimização das metodologias de cultivo para um aumento na produção de

corante, redução de custos com a bioprodução e posterior aplicação em escala industrial. Além
disso, trabalhos envolvendo engenharia genética visando a obtenção de carotenoides de maior

interesse e em maiores quantidades, estão sendo desenvolvidos. Por ser um produto de alto

valor agregado e com boa aplicabilidade, a tendência é o aumento nas pesquisas em relação à

produção desses corantes biotecnologicamente, pois se tem a necessidade de redução de

custos de produção e aumento no rendimento, tornando assim a bioprodução competitiva com

a síntese química.
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