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Manual de Tronco Comum

Sociologia Geral
Código: A0017

Universidade Católica de Moçambique (UCM)


Centro de Ensino à Distância (CED)
Direitos de autor (copyright)
Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique (UCM), Centro de Ensino à
Distância (CED) e contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação e/ou reprodução deste
manual, no seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos,
mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Universidade
Católica de Moçambique – Centro de Ensino à Distância). O não cumprimento desta advertência é
passível a processos judiciais.

Elaborado Por: Alamba Feliciano Napulula


Licenciado em Antropologia pela FLCS (Faculdade de Letras e Ciências Sociais) da UEM
(Universidade Eduardo Mondlane) de Moçambique
Bacharel em Ciências Sociais: orientação em Sociologia pela ex-UFICS (Unidade de Formação e
Investigação em Ciências Sociais) da UEM.

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Agradecimentos
A Universidade Católica de Moçambique (UCM) – Centro de Ensino à Distância (CED) e o autor do
presente manual, Alamba Feliciano Napulula, agradecem a colaboração de todos que directa ou
indirectamente participaram na elaboração deste manual. À todos sinceros agradecimentos.
Sociologia Geral Código: A0017 i

Índice
Visão geral 1
Benvindo a Sociologia Geral ......................................................................................... 1
Objectivos do curso ....................................................................................................... 1
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................ 2
Como está estruturado este módulo................................................................................ 2
Habilidades de estudo .................................................................................................... 3
Precisa de apoio? ........................................................................................................... 3
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .............................................................................. 4
Avaliação ...................................................................................................................... 4

Unidade N0 01-A0017 7
Tema: Senso Comum e Conhecimento Científico .......................................................... 7
Introdução ............................................................................................................ 7
Sumário ......................................................................................................................... 7
Obstáculos ao Conhecimento Científico…………………………………………………………….......8
Exercícios...................................................................................................................... 9

Unidade N0 02-A0017 10
Tema: Surgimento da Sociologia ................................................................................. 10
Introdução .......................................................................................................... 10
Sumário ....................................................................................................................... 10
Precursores da Sociologia ............................................. Erro! Marcador não definido.
Nicolau Maquiavel………………………………………………………………………………11
Thomas Hobbes…........................................................................................................................12
John Locke...................................................................................................................................12
Jean Jacques Rosseau...................................................................................................................13
Charles de Montesquieu………………………………………………………………………...14
Exercícios.................................................................................................................... 15

Unidade N0 03-A0017 17
Tema: Definição da Sociologia e seus Fundadores....................................................... 17
Introdução .......................................................................................................... 17
Sumário ....................................................................................................................... 17
Definição………………………………………………………………………………………...17
Objecto de Estudo……………………………………………………………………………….18
Fundadores da Sociologia.............................................................................................................19
Comte............................................................................................................................................19
Durkheim......................................................................................................................................20
Sociologia Geral Código: A0017 ii

Weber............................................................................................................................................21
Marx..............................................................................................................................................22
Exercícios.................................................................................................................... 23

Unidade N0 04-A0017 24
Tema: Teorias Sociológicas Contemporâneas .............................................................. 24
Introdução .......................................................................................................... 24
Sumário ....................................................................................................................... 24
Teoria Funcionalista…………………………………………………………………………….24
Teoria Voluntarista da Acção…………………………………………………………………...25
Exercícios.................................................................................................................... 26

Unidade N0 05-A0017 28
Tema: Teorias Sociológicas de Interacção Social. ........................................................ 28
Introdução .......................................................................................................... 28
Sumário ....................................................................................................................... 28
Teoria de Interaccionismo Simbólico de George
Mead………………………………………….28
Teoria Dramatúrgica do Quotidiano de Erving Goffman.............................................................29
Exercícios.................................................................................................................... 32

Unidade N0 06-A0017 33
Tema: Desigualdades Sociais....................................................................................... 33
Introdução .......................................................................................................... 34
Sumário ....................................................................................................................... 34
Definição ..................................................................................................................... 34
Tipos de Desigualdades Sociais ................................................................................... 34
Exercícios.................................................................................................................... 35

Unidade N0 07-A0017 36
Tema: Teoria de Classes Sociais e Estratificação. ........................................................ 36
Introdução .......................................................................................................... 36
Sumário ....................................................................................................................... 36
Teoria Marxista………………………………………………………………………………….36
Teoria Neomarxista.......................................................................................................................37
Teoria Funcionalista da Estratificação..........................................................................................38
Exercícios.................................................................................................................... 38

Unidade N0 08-A0017 39
Tema: Processo de Mobilidade Social. ........................................................................ 39
Introdução .......................................................................................................... 39
Sociologia Geral Código: A0017 iii

Sumário ....................................................................................................................... 39
Conceito de Mobilidade Social………………………………………………………………….39
Conceitos Auxiliares de Mobilidade Social..................................................................................40
Exercícios.................................................................................................................... 41

Unidade N0 09-A0017 42
Tema: Teorias Sobre Mobilidade Social. ..................................................................... 42
Introdução .......................................................................................................... 42
Sumário ....................................................................................................................... 42
Teoria Marxista e da Reprodução Social….…………………………………………………….42
Teoria Funcionalista.....................................................................................................................43
Exercícios.................................................................................................................... 44

Unidade N0 10-A0017 45
Tema: Desigualdades Sociais nas Sociedades Contemporâneas. .................................. 45
Introdução .......................................................................................................... 45
Sumário ....................................................................................................................... 45
Novos Eixos de Diferenciação de Classes……...……………………………………………….45
Exercícios.................................................................................................................... 47

Unidade N0 11-A0017 48
Tema: Mudança Social. ............................................................................................... 48
Introdução .......................................................................................................... 48
Sumário ....................................................................................................................... 48
Precursores da Teorias de Mudança Social.…………………………………………………….48
Auguste Comte….........................................................................................................................49
Herbert Spencer……………………............................................................................................50
Karl Marx………………………………………………………………………………………..51
Teorias Mudança Social…………………………………………………………………………52
Evolucionismo de Talcott Parsons……………………………………………………………...52
Grupos de Interesse, Conflitos Sociais e Mudança Social em Ralf Dahrendorf…..…………..53
Teorias Endógenas e Exógenas de Mudança Social……………………………………………54
Exercícios.................................................................................................................... 55

Unidade N0 12-A0017 56
Tema: Desvio e Controlo Social. ................................................................................. 56
Introdução .......................................................................................................... 56
Sumário ....................................................................................................................... 56
Desvio e Controlo Social………………………………………………………….…………….56
Sociologia Geral Código: A0017 iv

Émile Durkheim e a Génese da Teoria do Desvio e Controlo Social...........................................57


Desvio e Controlo Social na Escola de Chicago...........................................................................58
Anomia, Desvio e Controlo Social em Robert Merton………………………………………….59
Teoria da Rotulagem…………………………………………………………………………….59
Teoria de Análise Estratégica…………………………………………………………………...60
Exercícios.................................................................................................................... 61

Unidade N0 13-A0017 62
Tema: Movimentos Sociais ......................................................................................... 62
Introdução .......................................................................................................... 62
Sumário ....................................................................................................................... 62
Abordagens sobre Movimentos Sociais…………………………………………………………63
Gustave Le Bon: Comportamento das Multidões.........................................................................63
Robert Park e as Bases Sociais do Comportamento Colectivo....................................................64
Herbert Blumer: Uma Visão Interaccionista do Comportamento Colectivo……………………64
Exercícios........................................................................................................................66

Unidade N0 14-A0017 67
Tema: O Processo de Socialização ............................................................................... 67
Introdução .......................................................................................................... 67
Sumário ....................................................................................................................... 67
Socialização..........................................…………………………………………………………67
Tipos e Instituições de Socialização.............................................................................................68
Socialização Primária e Secundária .............................................................................................68
Exercícios......................................................................................................................................69

Unidade N0 15-A0017 70
Tema: O Processo de Globalização e as Desigualdades Sociais ................................... 70
Introdução .......................................................................................................... 70
Sumário ....................................................................................................................... 70
A Globalização.....................................…………………………………………………………70
Impacto da Globalização nas Desigualdades Sociais.. ................................................................71
Exercícios......................................................................................................................................72

Unidade N0 16-A0017 73
Tema: Crime Como Facto Social ................................................................................. 73
Introdução .......................................................................................................... 73
Sumário ....................................................................................................................... 73
Crime....................................................…………………………………………………………73
Exercícios............................................................................................................................75
Sociologia Geral Código: A0017 v

Unidade N0 17-A0017 76
Tema: Determinantes da Criminalidade ....................................................................... 76
Introdução .......................................................................................................... 76
Sumário ....................................................................................................................... 76
Determinantes da Criminalidade.. .......…………………………………………………………76
Teoria das Patologias Individuais......................,......................................................................... 77
Teoria de Desorganização Social..................................................................................................77
Teoria de Estilos de Vida..............................................................................……………………77
Teoria de Diferenciação Social ou Aprendizado Social...............................................................78
Teoria de Controlo Social.............................................................................................................78
Teoria de Auto Controle...............................................................................................................78
Teoria de Anomia............................................................................................................79
Teoria de Escolha Racional.............................................................................................79
Exercícios........................................................................................................................80

Unidade N0 18-A0017 81
Tema: Pobreza Como Facto Social .............................................................................. 81
Introdução .......................................................................................................... 81
Sumário ....................................................................................................................... 81
Fenómeno da Pobreza...........................…………………………………………………………81
Pobreza como Facto Social...........................................................................................................82
Exercícios......................................................................................................................................84

Unidade N0 19-A0017 85
Tema: O Problema da Prostituição ............................................................................... 85
Introdução .......................................................................................................... 85
Sumário ....................................................................................................................... 85
A Prostituição.......................................…………………………………………………………85
Exercícios.....................................................................................................................................87

Unidade N0 20-A0017 89
Tema: Abordagem Sociológica á Educação ................................................................. 89
Introdução .......................................................................................................... 89
Sumário ....................................................................................................................... 89
A Educação...........................................…………………………………………………………89
Exercícios......................................................................................................................................90
Exercícios a Resolver .................................................................................................. 73
Referências Bibliográficas ........................................................................................... 74
Sociologia Geral Código: A0017 1

Visão geral
Benvindo a Sociologia Geral
É um facto que como conhecimento científico, a Sociologia é uma
disciplina que busca analisar os factos sociais, isto é, fenómenos que
ocorrem na nossa sociedade e que sejam dotados de um
sentido/significado para os indivíduos dentro de uma sociedade. Mais do
que simples contemplação dos fenómenos, a Sociologia busca analisar e
explicar cientificamente os mesmos, isto é, o sentido que os indivíduos
atribuem para os seus actos, considerando estes como sendo
significativos em cada época e sociedade. Assim, ela aparece como sendo
o estudo da realidade social.

Ela é uma ciência em construção desde início e meados do século XIX,


buscando sempre explicar as estruturas sociais, os processos sociais,
políticos, económicos e culturais da sociedade moderna. A partir dos
conhecimentos teóricos e científicos da Sociologia, estamos em melhores
condições de compreender os acontecimentos sociais, da organização
social e da vida humana em sociedade.

Objectivos do curso
Ao fim deste módulo, o estudante deverá capaz de:

 Explicar o processo de construção do conhecimento científico em


Objectivos Ciências Sociais, da qual a Sociologia é parte integrante.
 Explicar o advento da Sociologia como ramo de conhecimento
científico.
 Indicar os precursores e fundadores da Sociologia.
 As grandes teorias sociológicas.
 Perceber e explicar alguns dos fenómenos sociais presentes na
sociedade tais como: classes sociais, desigualdades sociais, desvio
social, mobilidade social, entre outros.
Sociologia Geral Código: A0017 2

Quem deveria estudar este


módulo
Este módulo foi concebido para todos aqueles que frequentam os cursos à
distância, oferecidos pela Universidade Católica de Moçambique (UCM),
através do seu Centro de Ensino à Distância (CED).

Como está estruturado este


módulo
Todos os módulos dos cursos produzidos por UCM - CED encontram-se
estruturados da seguinte maneira:

Páginas introdutórias
 Um índice completo.
 Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os
aspectos-chave que você precisa conhecer para completar o estudo.
Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de
começar o seu estudo.

Conteúdo do curso / módulo


O curso está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma
introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo
actividades de aprendizagem, um resumo da unidade e uma ou mais
actividades para auto-avaliação.

Outros recursos
Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista
de recursos adicionais para você explorar. Estes recursos podem incluir
livros, artigos ou sites na internet.

Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação


Tarefas de avaliação para este módulo encontram-se no final de cada
unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para
desenvolver as tarefas, assim como instruções para as completar. Estes
elementos encontram-se no final do modulo.

Comentários e sugestões
Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários
sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os seus comentários
serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este curso / módulo.
Sociologia Geral Código: A0017 3

Habilidades de estudo
Caro estudante, procure olhar para você em três dimensões
nomeadamente: o lado social, profissional e estudante, daí ser importante
planificar muito bem o seu tempo.
Procure reservar no mínimo 2 (duas) horas de estudo por dia e use ao
máximo o tempo disponível nos finais de semana. Lembre-se que é
necessário elaborar um plano de estudo individual, que inclui, a data, o
dia, a hora, o que estudar, como estudar e com quem estudar (sozinho,
com colegas, outros).
Evite o estudo baseado em memorização, pois é cansativo e não produz
bons resultados, use métodos mais activos, procure desenvolver suas
competências mediante a resolução de problemas específicos, estudos de
caso, reflexão, etc.
O manual contém muita informação, algumas chaves, outras
complementares, daí ser importante saber filtrar e apresentar a
informação mais relevante. Use estas informações para a resolução dos
exercícios, problemas e desenvolvimento de actividades. A tomada de
notas desempenha um papel muito importante.
Um aspecto importante a ter em conta é a elaboração de um plano de
desenvolvimento pessoal (PDP), onde você reflecte sobre os seus pontos
fracos e fortes e perspectivas o seu desenvolvimento.
Lembre-se que o teu sucesso depende da sua entrega, você é o
responsável pela sua própria aprendizagem e cabe a ti planificar,
organizar, gerir, controlar e avaliar o seu próprio progresso.

Precisa de apoio?
Caro estudante, temos a certeza de que por uma ou por outra situação, o
material impresso, lhe pode suscitar alguma dúvida (falta de clareza,
alguns erros de natureza frásica, prováveis erros ortográficos, falta de
clareza conteudística, etc.). Nestes casos, contacte o tutor, via telefone,
escreva uma carta participando a situação e se estiver próximo do tutor,
contacte-o pessoalmente.
Os tutores têm por obrigação, monitorar a sua aprendizagem, dai o
estudante ter a oportunidade de interagir objectivamente com o tutor,
usando para o efeito os mecanismos apresentados acima.
Todos os tutores têm por obrigação facilitar a interacção, em caso de
problemas específicos ele deve ser o primeiro a ser contactado, numa fase
posterior contacte o coordenador do curso e se o problema for da natureza
geral, contacte a direcção do CED, pelo número 825018440.
Os contactos só se podem efectuar, nos dias úteis e nas horas normais de
expediente.
As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem
a oportunidade de interagir com todo o staff do CED, neste período pode
apresentar dúvidas, tratar questões administrativas, entre outras.
Sociologia Geral Código: A0017 4

O estudo em grupo, com os colegas é uma forma a ter em conta, busque


apoio com os colegas, discutam juntos, apoiem-me mutuamente,
reflictam sobre estratégias de superação, mas produza de forma
independente o seu próprio saber e desenvolva suas competências.
Juntos na Educação à Distância, vencendo a distância.

Tarefas (avaliação e auto-


avaliação)
O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e auto-
avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante
que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues antes do período
presencial.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante.
Os trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem ser
dirigidos ao tutor/docentes.

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os


mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do
autor.
O plagiarismo deve ser evitado, a transcrição fiel de mais de 8 (oito)
palavras de um autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade,
humildade científica e o respeito pelos direitos autorais devem marcar a
realização dos trabalhos.

Avaliação
Você será avaliado durante o estudo independente (80% do curso) e o
período presencial (20%). A avaliação do estudante é regulamentada com
base no chamado regulamento de avaliação.
Os trabalhos de campo por si desenvolvidos, durante o estudo individual,
concorrem para os 25% do cálculo da média de frequência da cadeira.
Os testes são realizados durante as sessões presenciais e concorrem para
os 75% do cálculo da média de frequência da cadeira.
Os exames são realizados no final da cadeira e durante as sessões
presenciais, eles representam 60%, o que adicionado aos 40% da média
de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a
cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de: (a) admissão ao exame,
(b) nota de exame e, (c) conclusão do módulo.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar: 3 (três) trabalhos; 2 (dois)
testes escritos e 1 (um) exame escrito.
Sociologia Geral Código: A0017 5

Não estão previstas quaisquer avaliações orais.


Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizadas como
ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração: a apresentação; a coerência textual; o grau de
cientificidade; a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a
indicação das referências utilizadas, o respeito pelos direitos do autor,
entre outros.
Os objectivos e critérios de avaliação estão indicados no manual.
Consulte-os.
Alguns feedbacks imediatos estão apresentados no manual.
Sociologia Geral Código: A0017 7

Unidade N0 01-A0017
Tema: Senso Comum versus
Conhecimento Científico
Introdução
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Distinguir o senso comum do conhecimento científico.


Objectivos  Perceber quais os obstáculos a construção do conhecimento científico
e a importância desta ruptura.

Sumário
A vida em sociedade está de alguma forma dependente do conhecimento
que os grupos sociais possam produzir no tempo para se perpetuar
entanto que grupo social, ou seja, uma comunidade de pessoas que vivam
juntas e de modo organizado. Existe em toda e qualquer sociedade duas
(2) formas de conhecimento, sendo por um lado o chamado senso comum
e o conhecimento científico por outro lado. Representam formas de
tentativa de explicação da realidade social, mais tendo como base
premissas completamente diferentes; daí que resultado destas análises
será em princípio sempre diferente, apesar de incidir sobre a mesma
realidade social.

Senso Comum, é uma forma de conhecimento popular, que se refere a


um conjunto vasto de opiniões, conselhos, práticas e normas relativas a
vida social, ou seja, ele diz respeito aos princípios populares normativos
que se baseia na tradição e costumes quotidianos. Esta forma de
conhecimento não se justifica nunca pelo discurso coerente e estruturado
que seja possível confirmar a partir de métodos científicos, mais pelo
contrário é a vivência que o fundamenta sempre as suas recomendações.
Nesta forma de conhecimento, a realidade social surge aos olhos da
maioria das pessoas como facilmente explicável e compreensível.

Apesar de não ser um conhecimento metódico, este representa uma forma


válida para explicação da realidade social a um certo nível, pois
representa uma resposta do homem ao seu contexto, além de servir de
ponto de partida para construção do próprio conhecimento científico, que
a partir de métodos científicos busca analisar a regularidade dos factos
observados na sociedade e a partir daqui criar-se um conhecimento
passível de confirmação pela testagem dado que o mesmo é regular.
Sociologia Geral Código: A0017 8

O Conhecimento Científico é uma forma de construção de saberes sobre


a realidade social a partir do processo de investigação, obedecendo a
certos princípios metodológicos. É um processo que se dá através de uma
relação entre teoria, observação e interpretação dos factos observados. É
um conhecimento que resulta duma produção ou construção que o
pesquisador faz a volta realidade social a partir de um conjunto de
preposições articuladas sistematicamente.

Obstáculos ao Conhecimento Científico

O conhecimento científico representa uma leitura da realidade social


numa base não valorativa e desapaixonada, em que prevalece acima de
tudo a busca da verdade científica dos factos observados, ou seja, tentasse
aproximar cada vez mais da realidade em si, uma vez que em ciência o
alcance da verdade é quase que impossível. Assim, o pesquisador deve na
análise da realidade não deixar que as suas opiniões pessoais possam
interferir na sua análise, pois que assim procedendo estaria a interferir no
resultado, isto é, distorção dos factos e falta de objectividade que deve
marcar a ciência.

Os obstáculos mais comuns a construção do conhecimento científico são:


naturalismo, individualismo e etnocentrismo. Naturalismo, é a tendência
de se explicar os factos sociais invocando causas metasociais, ou seja, é a
descrição e interpretação da sociedade a partir de elementos
naturais/físicos e biológicos. A partir do naturalismo, buscasse explicar o
comportamento de certos grupos sociais, considerando que estes
comportamentos são naturais a determinado grupo social, área
geográfica, etc. Assim, tais características acabam sendo inquestionáveis
por si considerar que são “naturais”. Por exemplo: quando se diz que os
homens ou mulheres pensam assim. Não se percebe que o comportamento
de homens e mulheres nada tem de natural, mais que pelo contrário
resulta da socialização.

Individualismo, contrariamente ao naturalismo podemos ver o este como


sendo uma abordagem que considera que a sociedade é a simples soma de
indivíduos e que cada um destes agem apenas tendo em vista a
prossecução dos seus objectivos singulares, e não vendo que o indivíduo
é produto da própria sociedade, inclusive as suas escolhas são
socialmente determinadas. Assim, pensar que as acções individuais
resultam pura e simplesmente das vontades singulares, é não perceber o
funcionamento da própria sociedade em que cada um se encontra, e nem
que estas são realidades inseparáveis.

Etnocentrismo, este obstáculo ao conhecimento científico pode ser visto


como a tendência ou atitude de se sobrevalorizar a cultura de grupo social
a que pertençam os sujeitos, e a consequente desvalorização ou
depreciação dos outros grupos sociais diferentes. Os valores do grupo
sujeito é que são considerados como norma ou universais para análise da
estrutura e práticas sociais de outros povos. Por conseguinte, o
pesquisador de forma implícita acaba reproduzindo esta realidade o que
lhe impede de buscar o conhecimento sobre funcionamento de certa
realidade social, em resultado dos preconceitos que possui.
Sociologia Geral Código: A0017 9

Assim, de forma a nos livrarmos destes obstáculos a produção do


conhecimento científico é importante seguir certos passos que em geral
podem-se resumir a chamada dúvida metódica que consiste em
questionar todo conhecimento e não assumir estes como verdade já dada
e absoluta. Esta permite que as ideias do senso comum não influenciem o
nosso pensamento, daí que deve ser uma atitude constante, ou seja, a
ruptura com senso comum não se dá de uma única vez, mais pelo
contrário constantemente.

A primeira condição é a ruptura com senso comum, em que nos


colocamos de lado as evidências aparentes que nos são dadas pelo
conhecimento do senso comum, pois expressam meras opiniões. A
segunda é construção do objecto de análise, após a ruptura com senso
comum investigador procura construir o seu objecto de análise a partir de
teorias explicativas sobre determinado facto. A terceira tem a ver com a
verificação, em que faz-se o confronto entre as teorias e com o facto
observado de forma a determinar se de facto aquilo que diz a teoria pode
explicar o facto observado e em que medida.

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Estabelece a diferença entre senso comum e conhecimento científico?

Resposta: Senso comum, é um conhecimento popular, que se baseia num


conjunto de opiniões, conselhos, práticas e normas relativas a vida social,
baseado na tradição e costumes quotidianos. Enquanto Conhecimento
Científico é uma forma de conhecimento que se baseia na construção de
saberes sobre a realidade social a partir do processo de investigação,
obedecendo a princípios metodológicos.

2- Indique e explique os obstáculos a produção de conhecimento


científico que conhece?

Resposta: os obstáculos são: naturalismo que tem a ver com a tendência


de explicar a realidade social a partir de elementos naturais, físicos e
biológicos. Individualismo considera que indivíduo é uma entidade que se
sobrepõe a sociedade, para além de serem realidades completamente
distintas. Etnocentrismo, a tendência de se sobrevalorizar a cultura de
grupo social, e a consequente desvalorização dos grupos diferentes.

3- Aponte as condições para se livrar dos obstáculos ao conhecimento


científico?

Resposta: as condições são: ruptura com senso comum que é por de lado
as ideias do senso comum e não aceitar como verdades dadas, construção
do conhecimento científico e a verificação dos factos da teoria.
Sociologia Geral Código: A0017 10

Unidade N0 02-A0017
Tema: Surgimento da Sociologia
Introdução
O surgimento da Sociologia entanto que ciência autónoma é processo que
ser buscada no contexto do surgimento de outras ciências sociais. Neste
sentido, como ciência autónoma esta surge por volta de 1839, altura em
que Auguste Comte no IV volume do seu livro Curso de Filosofia
Positiva forjou este termo. É assim que ele é considerado o pai, por ter
sido o primeiro a usar este termo. Contudo, foi com Emilé Durkheim que
esta passou a ser vista como ciência entanto que tal, ao defender que esta
estudava os factos sociais, que é o seu objecto de estudo e possui
características próprias que são diferentes dos estudados pelas ciências
ditas naturais.

Ao completar esta unidade, o estudante deverá ser capaz de:

 Explicar o surgimento da Sociologia até sua constituição como


disciplina académica.
Objectivos
 Identificar os precursores

Sumário
Falar do surgimento da Sociologia, mostra-se como um exercício não só
bastante complexo, mais também interdependente, pois que esta se
encontra directa e indirectamente ligada a outras disciplinas e
acontecimentos sócio-históricos diversos. Assim, é impossível falar do
surgimento da Sociologia sem recorrer ao passado e aos clássicos que em
termos históricos podemos situar fora desta disciplina, mais cujo
pensamento estruturante pode aqui ser enquadrado.

A Sociologia surge por volta de meados do século XIX após revolução


burguesa na Inglaterra no século XVII, e iniciada a revolução francesa no
final do século XVIII. Foram estes 2 movimentos revolucionários que
implantaram o processo liberal que deu sustentação ao desenvolvimento
de modo de produção capitalista e Estado Burguês no ocidente. A
complexidade da sociedade moderna é resultado de um processo histórico
que inclui sujeitos, objectivos e resultados por vezes não esperados, que
produzem fenómenos sociais complexos.

Com as revoltas populares na Europa por estas alturas, desenvolve-se


também a Sociologia, pelas “mãos” da modernidade, ou seja, do mundo
moderno na tentativa de analisar e explicar então os factos que ocorrem
Sociologia Geral Código: A0017 11

por esta altura. Porque os pensadores desta época eram mais orientados
para acção e não uma simples compreensão dos fenómenos sociais que
ocorriam nesta altura, vemos que precursores desta vão ser buscados na
filosofia, política, entre outras áreas. Estes consideravam que os
fenómenos novos deveriam ser percebidos, para se poder analisar o
funcionamento da própria sociedade e introduzir mudanças consideradas
necessárias.

Por conseguinte, entende-se que esta surge como resultado de uma


tentativa de intervenção objectiva e directa sobre a sociedade e não a
simples compreensão de situações sociais radicalmente novas da
sociedade capitalista. Assim, pode-se entender a seu crescimento
suscitado pelo seu aparente papel na correcção da sociedade, quando na
verdade a ela não tem como agir directamente sobre a realidade social e
indivíduos, sim explicar a razão de certos comportamentos manifestados.

Podemos afirmar que a trajectória desta disciplina está directamente


ligada ao diálogo constante que estabelece com a sociedade capitalista.
Ela não se contenta em observar, mais antes questionar a razão da
ocorrência de certos fenómenos sociais e as consequências destes na
estruturação da própria sociedade.

Precursores da Sociologia
Para se afirmar como tal, esta surge a partir da contribuição de vários
autores que são situados quer seja na filosofia, política, economia, etc;
visto que estes fenómenos ocorrem necessariamente dentro da sociedade.
Assim, iremos apresentar alguns destes pensadores, que mesmo estando
ligeiramente fora da Sociologia deram um grande contributo e suas
abordagens fazem deles verdadeiros precursores por estudarem os
fenómenos sociais.

Nicolau Maquiavel
Pensador sobejamente conhecido pelo sua importante obra o príncipe que
representa uma espécie de tratado para os governantes, pois que nele
buscava aconselhar ao príncipe como adquirir e conservar o poder
quando o adquirisse, daí que fim último da política era a conquista e
manutenção do poder. Um dos seus objectivos era o de conseguir criar
regras de acção para os dirigentes/governantes, por considerar que a
natureza humana era algo imutável daí que se poderia prever situações
futuras e estabelecer regras ou leis da política.
Outro aspecto que inquietava este autor e que ses ligava a política era
perceber os factores que levam um Estado a ser forte ou fraco, os
elementos que fomentam a liberdade, como se obtêm, mantém e se exerce
o poder. Portanto seu interesse é o homem social e político, ou seja, em
sua palavras o bom cidadão. Para ele, o Estado era uma entidade política
soberana interna e externamente, que se caracterizava por ser um Estado
monárquico onde predominava o poder real, isto é, o principado.
Contrariamente aos demais pensadores, ele tem uma visão bipartida dos
regimes políticos em que existia República e a Monarquia/Principado,
sendo que a Monarquia era governada segundo vontades de um único
indivíduo (soberano singular) e enquanto que a República era dirigida
Sociologia Geral Código: A0017 12

segundo vontade colectiva de muitas ou poucas pessoas (soberano


colectivo). Maquiavel contrariamente aos demais, não considerava a
existência de governos bons ou maus, são ou degenerados, pelo contrário
dizia que não havia governos ilegítimos, mais apenas que uns eram mais
convenientes do que os outros diante de certas circunstâncias sociais.
Um aspecto igualmente importante nele tem a ver com a separação clara
entre a Igreja e Política, por serem incompatíveis, daí defender que actos
considerados imorais pela religião podiam ser usados a bem do próprio
Estado, pois fins justificam os meios.

Thomas Hobbes
O contexto sócio-histórico em que vive que foi marcado por inúmeros
conflitos e guerras religiosas marcaram em grande medida sua forma de
pensar e analisar a sociedade, razão pela qual ele se interessa bastante em
manter a paz. Seu ponto de partida é que o homem antes da formação da
sociedade vivia num estado de luta permanente de todos contra os todos
para aquisição de poder. Assim, a única saída era estabelecimento do
contrato social em que cada indivíduo se abstinha de usar o poder contra
o outro, como forma de garantir a ordem social.
Para Hobbes, para se garantir o cumprimento deste acordo era entregue a
uma entidade superior e soberana fora deste contrato que é o Estado. Este
tinha o poder legítimo de usar a força para cada indivíduo que não
cumprisse ou com o contrato. O Estado tinha por conseguinte como tarefa
fundamental a garantia da defesa nacional e a segurança interna, ou seja,
defender os seus cidadãos contra ataques externos e garantir que nenhum
deles violasse o contrato social internamente. O Leviatã representava uma
autoridade superior, isto é, o Estado e que detém o monopólio da força
física para impor a ordem sempre que necessário.
Na sua visão, o Estado era um órgão de poder que tinha em vista manter
o respeito e dirigir acções no sentido de garantir benefício comum. Era
um poder soberano que resultava dum acordo entre os indivíduos em que
cada um cedia o seu direito de governar-se a si mesmo, autorizando todas
as acções deste em troca da garantia da paz e segurança.
Sua definição de Estado é: uma pessoa cujo os actos uma grande
multidão, mediante pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída
por cada um como autora, de modo a poder usar a força e todos os
recursos de maneira que usar conveniente para assegurar a paz e defesa
comum.

John Locke
É considerado como pai fundador da moderna ciência política, ideologias
liberais e bem como filosofia empiricista, apesar de ter escrito sobre
vários assuntos tais como a filosofia da mente e política, metafísica,
epistemologia e educação. Locke, considerava que o homem possuía
direitos naturais tais como a vida, a liberdade, a propriedade, e que para
garantir estes os homens criaram então os governos. Por conseguinte,
caso os governos não assegurassem estes direitos as pessoas podiam
obviamente se rebelar, contestar e derrubar o governo que era definido
como “um consentimento dos governados em relação a uma autoridade
Sociologia Geral Código: A0017 13

constituída e ao direito natural do ser humano”. (Locke, op cit. in:


Ferreira; 1995; pp. 35-36).
Sua teoria política tem como questão central Os Tratados sobre o
Governo Civil, em que refuta de forma clara a ideia de Filmer que
defendia que o poder dos reis era absoluto e divino, por advir de Adão
que é o pai da humanidade. Para ele, o poder paternal que supostamente
advinha de Adão não devia pois ser confundido com o poder político,
visto que o primeiro tem sempre um carácter temporário ou transitório e é
anterior a constituição da sociedade, pelo que não se submete a lei
positiva, mais sim a lei natural.
Para que um governo fosse verdadeiro no sentido por si defendido,
deveria basear-se na legitimidade, consentimento dos próprios cidadãos
que adivinha de um contracto social. Assim, a legitimidade era aspecto
fundamental que justificava o poder e diferenciava um príncipe legítimo e
um usurpador. Por conseguinte o consentimento expresso, a constituição
e suas regras eram aspectos que garantiam a própria legitimidade, e que
por sua vez esta pressupunha limites ao poder político.
O poder de Estado deveria necessariamente estar confiado em 3 mãos:
Legislativo em que a faculdade do poder consiste na capacidade de fazer
leis, Executivo que consiste na capacidade de aplicar as leis aos casos
concretos quer seja através da administração pública e tribunais, e
Federativo que consiste na condução do Estado nas suas relações com
exterior. Neste sentido, o poder absoluto era totalmente incompatível com
a sociedade civil, visto que o soberano acumula todos os poderes e
impede o apelo ou arbitragem independente.

Jean Jacques Rosseau


É um dos defensores do contracto social como elemento fundador da
sociedade, mais que contrariamente a Hobbes, diz que o homem no
estado natureza era virtuoso e a vida em sociedade é que criava estes
vícios tais como: avareza, honra e cupidez; daí que o progresso da
sociedade levava a degeneração e corrupção do homem, uma vez que
realização destes vícios era feita a custa da humilhação e dominação dos
outros. A sociedade resulta de um contracto social em que a partir de um
Estado justo, se busca defender o indivíduo e seus bens, através de
normas e regras sociais bem claras.
Em Rousseau não temos o problema de conflito de poder e muito menos
a sua arbitragem, pois tal seria absurdo na medida em que as partes
contratantes são idênticas. Pelo contrato social, o indivíduo põe a sua
pessoa e poder sob comando da vontade geral (que representa a soma das
vontades individuais e nunca a vontade de todos) e o corpo político é
formado de vários indivíduos tal quanto o número de votantes na
assembleia. Vontade geral tem um sentido duplo, pelo facto de ser
conjunto de decisões tomadas numa assembleia de iguais e em que todos
participam activamente, sem quaisquer compromissos e limites por um
lado, e por outro lado pela agregação de opiniões de cada um dos
indivíduos.
Deste modo o indivíduo submete-se não a assembleia e sim a lógica do
próprio modelo de contrato social. Por conseguinte, a Assembleia
representa o soberano e se ela decide de modo errado põe em causa a si
mesma, pelo que cada indivíduo tinha o dever de ter e manifestar a sua
Sociologia Geral Código: A0017 14

própria opinião. Assim, a soberania não era e nem podia nunca ser
representada, pois que a delegação do poder era incompatível com a
igualdade entre os indivíduos. De modo sucinto, isto representa uma
democracia directa e não representativa.

Charles de Montesquieu
Ele pode ser enquadrado na corrente iluminista, tendo a particularidade
de ser o autor que procurou definir de forma rigorosa a sociedade,
tentando apresentar causas concretas para certos fenómenos particulares,
ou seja, ele buscou estabelecer as leis da coisas, dos factos ou fenómenos
observados. Portanto esta análise representa um pensamento sociológico
puro e só não foi assim classificado pois que nesta altura ainda não existia
tal termo. As leis que Montesquieu analisa são leis científicas e com clara
intenção de estabelecer relações de causalidade entre fenómenos sociais.
Neste sentido, vemos que ele procura relacionar as leis de uma sociedade
e a estrutura da própria sociedade, como forma para analisar e poder
explicar o seu funcionamento e perspectivar futuro. Sua teoria política
defendia o princípio da divisão de poderes e foi bastante influente na
redacção de grande parte das constituições liberais. Seu ideal de
pensamento resulta da sua oposição e recusa as práticas das instituições
políticas, abusos da Igreja católica e Estado Absolutista da França.
Assim, o poder legislativo, executivo e judicial deveriam estar
necessariamente separados, por forma a que cada um pudesse controlar a
acção dos outros poderes em caso de abuso.
Para Montesquieu, haviam dois aspectos fundamentais a considerar
quando se fala dos governos sendo o princípio que é o que põe os
governos em movimento (o princípio motor em linguagem
filosófica) constituído pelas paixões e necessidades dos homens, e a
natureza que é aquilo que faz um governo ser o que é, determinado
pela quantidade daqueles que detêm a soberania.

Assim, ele distingue formas de governo com base no princípio e natureza


tendo a seguinte tipologia: Monarquia - soberania nas mãos de uma
só pessoa (o monarca) segundo leis positivas e o seu princípio é a
honra; Despotismo - soberania nas mãos de uma só pessoa (o
déspota) segundo a vontade deste e o seu princípio é o medo;
República - a soberania está nas mãos de muitos (de todos =
democracia, ou de alguns = aristocracia) e o seu princípio motor é a
virtude.

É igualmente importante notar que existiam formas puras de


governo que eram Monarquia que é governo de um só,
Aristocracia que é governo de vários e a Democracia que é
governo do povo. E em contraposição existiriam formas impuras
tais como a Tirania que representa a degeneração ou corrupção da
Monarquia; Oligarquia que é a degeneração da Aristocracia e a
Demagogia que é a corrupção da Democracia.
Sociologia Geral Código: A0017 15

Por último, convém assinalar que Montesquieu não defendia a


igualdade entre os indivíduos e sim a eliminação ou redução dos
poderes absolutos do rei, para salvaguardar os interesses da sua
classe que era a nobreza.

Exercícios

1 – Quais os acontecimentos históricos que explicam o surgimento da


Sociologia?
Auto-avaliação
Resposta: foram dois os acontecimentos que levaram surgimento da
Sociologia nomeadamente a Revolução Burguesa na Inglaterra no
século XVII, e a Revolução Francesa no final do século XVIII, em que
dada a complexidade dos fenómenos sociais surgidos, houve necessidade
de perceber e explicar dentro da sociedade moderna, para se fazerem as
mudanças julgadas necessárias.

2- Indique os precursores da Sociologia que conhece?

Resposta: os precursores da Sociologia que conheço são: Maquiavel,


Hobbes, Locke, Rousseau e Montesquieu.
Sociologia Geral Código: A0017 17

Unidade N0 03-A0017
Tema: Definição da Sociologia e
seus Fundadores
Introdução
Como já dissemos antes a Sociologia resulta de um processo
histórico bastante complexo que tem a ver com as mudanças
profundas na sociedade moderna ligadas a revolução Francesa e a
Burguesa na Inglaterra, pelo que podemos afirmar em certa medida
que ela “é uma ciência da crise”. Mais do que conhecermos o
historial desta, é necessário termos conhecimento objectivo desta
em termos de definição e bem como os fundadores entanto que
ciência e não mero conhecimento.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos  Definir a Sociologia.


 Identificar de forma clara o objecto de estudo da Sociologia e
suas características.
 Identificar os pensadores considerados fundadores da
Sociologia.

Sumário
Definição

A sociologia propriamente dita é fruto da Revolução Industrial, e


nesse sentido é chamada de “ciência da crise” – crise que essa
revolução gerou em toda a sociedade europeia. Ela é fruto de toda
uma forma de conhecer e pensar a natureza e a sociedade, que se
desenvolveram a partir do século XV, quando ocorreram
transformações significativas como a expansão marítima, reformas
protestantes, a formação dos Estados nacionais, as grandes
navegações e o comércio ultramarino, bem como o
desenvolvimento científico e tecnológico que desagregaram a
sociedade feudal, dando origem à sociedade capitalista.

Conceptualmente, podemos entender a Sociologia como o estudo


científico das relações sociais, das formas de associação,
Sociologia Geral Código: A0017 18

destacando-se os caracteres gerais comuns a todas as classes de


fenómenos sociais, fenómenos que se produzem nas relações de
grupos entre seres humanos. Estuda o homem e o meio ambiente
em suas interacções recíprocas.

Ela se baseia em estudos objectivos que melhor podem revelar a


verdadeira natureza dos fenómenos sociais. Ela é desta forma, o
estudo e o conhecimento objectivo da realidade social. Como
exemplos, podemos citar a formação e desintegração de grupos, a
divisão da sociedade em camadas ou classes sociais, a mobilidade
de indivíduos e grupos nas camadas sociais, processos de
competição e cooperação, exclusão social e desigualdades sociais,
entre outros aspectos.

Objecto de Estudo

A definição de toda e qualquer disciplina é dependente se não


mesmo correlativa da definição do seu objecto de estudo, ou seja,
indicação clara daquele aspecto que ela procura analisar dentro da
sociedade a partir de métodos e técnicas que lhe sejam específicas.

Assim, a Sociologia quando se definiu como ciência indicou como


seu objecto de estudo o chamado facto social que pode ser definido
objectivamente como sendo: toda maneira de sentir ou agir, fixa
ou não que seja susceptível de exercer sobre o indivíduo uma
coerção exterior que seja geral numa determinada sociedade,
tendo uma existência própria independetemente das manifestações
individuais que possa ter.

De forma simples ou elementar facto social refere-se a fenómenos


que ocorrem dentro de uma sociedade e que sejam gerais e com
interesse social. Foi um termo introduzido por Émile Durkheim,
considerado um dos fundadores da Sociologia. O facto social para
assim poder ser considerado possui determinadas características
tais como: generalidade, exterioridade, e coerção. Generalidade:
quer dizer que o acto é praticado por todos os membros daquela
sociedade em concreto, Exterioridade: o acto existe fora do
indivíduo, pois não depende deste, Coercibilidade: o acto se impõe
ao indivíduo de modo que este é obrigado a fazer sem questionar.

Existem actos que assim podem ser considerados e outros não


mesmo que ocorram na sociedade, tal como dormir, beber água,
chorar que apesar de acontecerem na sociedade não podem ser
assim classificados. Um exemplo de facto social que podemos dar é
prostar-se sentido e em pé a quando da entoação do hino nacional
dum país, este acto é geral (generalidade) porque todos os membros
de tal sociedade assim o fazem, é exterior (exterioridade) porque
está fora do indivíduo e não depende da sua vontade e por fim é
Sociologia Geral Código: A0017 19

coercivo (coercibilidade) por obrigar ou levar com que o indivíduo


proceda de um modo que do contrário não seria possível e portanto
o obriga.

Fundadores da Sociologia

Ao falar-se de fundadores da Sociologia que regra geral aparecem


durante o século XIX, temos a assinalar diferenças fundamentais
entre pensadores alemães, franceses e britânicos no que se refere as
suas abordagens, marcados obviamente pelos acontecimentos tanto
anteriores e bem como os da época.

Augusto Comte

É um pensador que deixou um legado importante para a Sociologia


contemporânea, e que apesar de tal feito as opiniões a este respeito
são relativamente divergentes, havendo quem considere como pai
da Sociologia ao lado de outras figuras sonantes tais como Marx,
Durkheim, e Weber; e outros que lhe conferem um papel
secundário neste processo. Ele teve a particularidade de ser
pioneiro na aplicação do método positivo no estudo das ciências
sociais, tentando aplicar o estatuto e idoneidade das ciências
naturais as c.sociais.

Assim, foi dele quem passou a chamar a Sociologia de “ciência da


sociedade”, exactamente por usar métodos científicos iguais aos
das c.naturais. Ele igualmente traçou modelos de explicação
sociológica e bem como estabelecer a relação da religião com a
ciência, que são factos que vieram a ser aprofundados
posteriormente pela mão de outros pensadores. O método
positivista proposto por este autor implicava que se estudasse os
factos a partir de uma observação sistemática e verificação dos
postulados/preposições; o que representa uma clara ruptura com a
simples especulação que caracteriza a filosofia e religião por
exemplo.

O seu pensamento pode ser resumido no princípio da lei de 3


Estados por ele proposto, que diz que pensamento humano passa
necessariamente por 3 fases ligadas a evolução das sociedades
assim ordenadas crescentemente: 1ª fase Pensamento Não-
Científico ou Estado Teológico em que a explicação dos fenómenos
é atribuída aos seres sobrenaturais que intervêm de forma arbitrária
sobre o universo. O pensamento baseia-se exactamente na
especulação, e estado teológico é típico de sociedades militares.

2ª Fase Estado Metafísico ou Abstracto, é uma etapa de transição


em que são criados entidades abstractas tais como a natureza para
poderem explicar os fenómenos observados (fazia-se culto da
natureza), deixando de lado os seres sobrenaturais do estado
teológico. As especulações ainda persistem, mais que são
Sociologia Geral Código: A0017 20

aproveitadas como ponto de partida para desenvolvimento de


teorias. A 3ª fase Estado Positivo ou Real, em que o homem
observa os fenómenos e procura estabelecer entre eles relações
regulares, sem contudo buscar as causas primordiais dos
acontecimentos. O objectivo fundamental nesta fase é o de criar
leis ou regularidades que regem o comportamento dos indivíduos.

Émile Durkheim

É considerado pela maioria dos autores e pensadores como sendo o


verdadeiro “Pai da Sociologia”pelo seu contributo na fundação da
uma nova ciência que é a chamada ciência dos factos sociais,
através da criação de um método e constituição de um corpo
teórico próprio da Sociologia, distanciando-se da “tutela” a
Filosofia. Seu pensamento tenta estabelecer a relação fundamental
entre indivíduo e sociedade e a partir daqui olhar as oposições
binárias entre por exemplo a consciência colectiva e consciência
individual, etc. visto que este é simultaneamente um ser individual
e um ser social.

Este seu pensamento teve várias influências dentre as quais de


Fustes Coulanges, Boutroux e obviamente Auguste Comte. Em seu
entender os fenómenos da sociedade todos poderiam ser explicados
cientificamente, o que permitiria que a Sociologia encontrar neles
causalidade e formular regras de acção futura. Para tal, indicou que
o objecto dela seria o facto social, que possui 3 características
(generalidade, exterioridade e coercibilidade) fundamentais que
fazem dele objecto de estudo científico.

Outra questão fundamental em Durkheim é que o facto de


considerar que para observação sociológica eram necessárias
algumas regras sendo a 1ª ver os factos como coisas: por estarem
fora dos indivíduos e não dependerem da vontade deste e serem
objectivos, 2ª Sistematicamente de lado as Pré-Noções: implica
não se deixar induzir pelos preconceitos ou ideias do senso comum
na análise científica dos fenómenos.

3ª Ter em Conta o Conjunto dos Fenómenos: não olhar apenas o


fenómeno em si, mais dentro de um conjunto de relações com
outros fenómenos do mesmo grupo ou classe, pois que na realidade
social os factos não se encontram isolados ou fechados em si; mais
pelo contrário em relação directa ou não com outros da mesma
espécie. A 4ª Separar os fenómenos das Manifestações Individuais:
esta regra está de algum modo ligada a primeira, diz que na análise
dos factos sociais, deve-se esforçar em analisá-los sobre um ângulo
separado das manifestações dos próprios indivíduos.

Por último, este autor diz que na sociedade existem factos normais
e os patológicos, cada um destes é definido em cada sociedade e
época específica. Normais são os que ocorrem sempre em qualquer
Sociologia Geral Código: A0017 21

tipo de sociedade ao longo do tempo, sendo então percebidos pelos


actores sociais deste contexto. Contrariamente os patológicos são
factos não gerais que também ocorrem na sociedade, sendo
praticadas por uma parte da sociedade e representa um desvio em
relação ao padrão de comportamento social.

Max Weber

A linha de pensamento deste autor representa uma tentativa de


conciliação de posições divergentes no debate de reflexão social.
Ele estava interessado essencialmente em perceber o sentido da
acção dos indivíduos em sociedade, ou seja, isto porque a
sociedade é para ele “um conjunto de indivíduos em que cada um
pratica a sua acção a partir dos outros, ou seja, a acção social”. A
acção social significa que as escolhas ou atitudes dos indivíduos,
são sempre influenciadas pelos outros, no sentido de que cada
indivíduo antes de agir pensa no outro e é este pensar no outro que
acaba definindo a sua decisão.

No seu entender e contrariamente a outros autores do seu tempo


considera que era impossível o estabelecimento de leis ou regras
gerais nas ciências sociais, visto que a história da sociedade é dada
pela dinâmica das relações entre indivíduos e a sua compreensão
implica analisarmos estes indivíduos, através de métodos que se
mostrem eficazes para tal análise. Assim, nega que a Sociologia
deveria estabelecer leis gerais, mais pelo contrário buscar a
compreensão da própria sociedade. Igualmente diz que ao
compreendermos cada sociedade não devemos ter excesso de
particularismo.

Seu pensamento é enquadrado na chamada Sociologia


Compreensiva, no sentido de buscar a compreensão interpretativa
da acção social e seus sentidos, pois que cada indivíduo atribui
sentido as suas acções. Portanto tal sentido da acção não seria
atribuído pelo observador (sociólogo), mais sim pelo indivíduo que
protagoniza esta. Deste modo, a Sociologia faria uma compreensão
interpretativa da acção social e chegar a explicações causais e
possíveis efeitos da mesma.

Ainda segundo o autor, na acção social existe um elemento social


importante que é o poder não como um aspecto de autoridade, mais
sim no sentido que o indivíduo pode impor a sua vontade numa
acção. Os indivíduos a partir de métodos próprios vão adquirindo
uns mais do que os outros, o que faz com que surja então o
capitalismo e consequente transformação da sociedade.

Ao colocar o trabalho como actividade acima de tudo e todos, os


homens assumem necessariamente que devem servir a alguém e
daqui resulta que o trabalho será elemento de alienação e
consequente divisão destes em classes sociais; em que uma será
Sociologia Geral Código: A0017 22

detentora de tudo e outra de nada, que levará esta última a servir a


primeira.

Karl Marx

Destaca-se por ter vivido no século XIX e ser considerado como


sendo economista e sociólogo do regime capitalista, tendo uma
teoria sobre este regime, situação em que colocava os indivíduos e
bem como o seu destino/fim último. Em seus textos podemos
encontrar abordagens sociológicas interessantes, sobre questões
que caracterizam a sociedade de seu tempo. Em seu entender, no
processo de produção social da própria existência, os homens
entram em determinadas relações necessárias, independentemente
da sua vontade.

Estas relações de produção correspondem a determinado


desenvolvimento das forças produtivas materiais. A totalidade das
relações produtivas correspondem a estrutura económica da
sociedade e é a base a partir da qual se eleva a superstrutura
jurídica e política que representam formas sociais específicas de
consciência. Portanto, no pensamento deste autor o modo de
produção material condiciona o processo de vida social, político e
intelectual de uma sociedade. Quer dizer, não é a consciência dos
indivíduos que determina o seu ser, mais pelo contrário é o ser
social que determina a sua consciência.

Assim, a dada altura de desenvolvimento social as forças


produtivas da sociedade se contradizem com as relações de
propriedade existentes e onde elas se desenvolveram, surgindo a
partir daqui entraves nestas relações. Ele concebe então que a
história de toda e qualquer sociedade é a história de luta de classes,
e que desta luta resulta numa transformação revolucionária de toda
sociedade ou pela destruição de ambas classes.
Sociologia Geral Código: A0017 23

Exercícios

1 – Define a Sociologia?
Auto-avaliação Resposta: Sociologia como o estudo científico das relações sociais,
das formas de associação, destacando-se os caracteres gerais
comuns a todas as classes de fenómenos sociais, fenómenos que se
produzem nas relações de grupos entre seres humanos.
2- Define o objecto de estudo da Sociologia e aponte suas
características principais?
Resposta: facto social é toda maneira de sentir ou agir, fixa ou não
que seja susceptível de exercer sobre o indivíduo uma coerção
exterior que seja geral numa determinada sociedade, tendo uma
existência própria independemente das manifestações individuais
que possa ter. As características são: generalidade (acontece com
todos membros da sociedade), exterioridade (está fora do indivíduo
e não depende deste) e coercibilidade (é obrigatório que o
indivíduo o faça independetemente da sua vontade).
3- Indique os fundadores da Sociologia?
Resposta: os fundadores da Sociologia são: Augusto Comte, Émile
Durkheim, Max Weber e Karl Marx.
Sociologia Geral Código: A0017 24

Unidade N0 04-A0017
Tema: Teorias Sociológicas
Contemporâneas
Introdução
Existem diferentes teorias que marcam a Sociologia entanto que ciência
social, sendo que parte destas encontram-se directamente ligadas a parte
dos pensadores que foram anteriormente estudados por nós tais como:
Marx, Weber, Durkheim, entre outros. Assim, falar das teorias
sociológicas contemporâneas implica contextualizar as linhas ou
tendência de debate que marcam esta na actualidade. São abordagens
actuais que nos ajudam a ler os factos sociais das sociedades
contemporâneas a luz de novos fenómenos que vão ocorrendo nestas e
que as anteriores teorias teriam de certo modo dificuldades em explicar,
pelo que estas se mostram como uma alternativa ao fenómeno.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos  Indicar algumas das abordagens contemporâneas da Sociologia.

Sumário
A Teoria Funcionalista

O que caracteriza as teorias funcionalistas na análise da sociedade, é o


facto de considerarem que quer conscientemente ou não as instituições e
fenómenos sociais desempenham uma determinada função na própria
sociedade ou contexto do qual provém, e que só pode m ser devidamente
entendidos se tivermos em conta este contexto de emergência. Para
alguns autores, este conceito de função elaborado por esta teoria é
considerado problemático em dois sentidos, visto que por um lado
quando se fala de função tem-se a ideia que todo e qualquer elemento e
instituição neste meio é útil, necessário e indispensável a sobrevivência
ou manutenção da sociedade como um todo.

Por outro lado, a noção de função leva em conta o facto de determinado


elemento ou instituição pode aparentar não desempenhar nenhuma função
por não servir os interesses de ninguém, pois não serve os interesses de
nenhum agente ou grupo social, mas contudo este elemento ou instituição
possui sim uma utilidade oculta, mais que acaba contribuindo em grande
Sociologia Geral Código: A0017 25

medida para a preservação, harmonia e funcionamento da própria


sociedade.
Neste sentido, o funcionalismo admite por hipótese que os diferentes
elementos da sociedade encontram-se em relação uns com os outros e que
cada um destes quer de modo consciente ou não desempenha uma função
para a sobrevivência da própria sociedade, ou seja, cada elemento pode
parcialmente ajudar a explicar os outros e simultaneamente ser explicados
por estes.
Por conseguinte, seguindo este argumento funcionalista percebemos que
qualquer mudança num dos elementos do sistema social, leva
invariavelmente a alteração de toda sociedade, visto que este elemento
desempenha uma função que pode ser manifesta ou oculta e contribui
para subsistência da totalidade.

Teoria Voluntarista da Acção


Esta teoria foi exposta por Talcott Parsons em forma de comentários as
obras de pensadores economistas e sociólogos tais como: Marshall,
Durkheim, Pareto e Weber. Parsons, analisou criticamente os
pensamentos destes autores e a partir daqui formulou a sua teoria
voluntarista da acção, considerando que toda acção humana não se
resume a uma resposta a um determinado estímulo (tal como defendiam
os behavioristas) mais pelo contrário como uma acção dotada de sentido
para o próprio indivíduo, e que este sentido pode ser diferente daquele
atribuído por quem observa.

Assim, cada acto está ligado a outros actos em forma de rede, pelo que
dá-nos a noção de sistema concebida como uma rede de relações. Os
sistemas teriam duas propriedades nomeadamente por um lado o facto de
criarem relações sociais a partir de expectativas que se impõem aos
actores sociais nas relações mútuas que estabelecem, e por outro o grupo
em si, olhando a maneira como é instituída e preservada a própria coesão
do grupo. A sociedade era para este autor um sistema que se estrutura a
partir da diferenciação e interdependência simultaneamente. Como
sistema, a sociedade teria uma estrutura que seria a parte estável, que
permanece além das mudanças; e a função seria o aspecto integrador e
dinâmico do próprio sistema.
Sociologia Geral Código: A0017 26

Exercícios

1 – Dentre as teorias sociológicas contemporâneas diferencie a


Funcionalista da Voluntarista da Acção?
Auto-avaliação
Resposta: A teoria Funcionalista está baseada no conceito de função,
considerando que quer conscientemente ou não as instituições e
fenómenos sociais desempenham uma determinada função na própria
sociedade ou contexto do qual provém, e que só pode ser devidamente
entendidos se tivermos em conta este contexto de emergência, pois que
estes se encontram em relação com outros elementos desta sociedade.
Enquanto que a teoria Voluntarista da Acção considera que a sociedade é
um sistema e que toda e qualquer acção humana é dotada de sentido tanto
para o próprio indivíduo e bem como aos demais, pois que a sociedade é
simultaneamente um meio de diferenciação e interdependência entre os
indivíduos.
Sociologia Geral Código: A0017 27

Unidade N0 05-A0017
Tema: Teorias Sociológicas da
Interacção Social
Introdução
Falar sobre a interacção social é no fundo definir aquilo que é a vida em
sociedade, que se resume a um processo eminentemente social, na
medida para podermos conviver com os nossos semelhantes temos que
estabelecer normas de conduta para cada um dos membros. Isto implica
dizer que cada um de nós deve ser capaz de atribuir sentido tanto as suas
acções e bem como as dos demais, por forma que se possa comunicar.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Perceber o conceito de interacção social e a sua importância no


Objectivos dia á dia nas relações entre os indivíduos.
(a)

Sumário
As acções humanas sempre guiadas pela necessidade dos
indivíduos poderem se relacionar entre si, por forma a garantir a
sua reprodução tanto social e como biológica. Para que tal seja
possível, é necessário que os membros de uma sociedade partilhem
os mesmos valores e crenças, por forma a que possa orientar suas
acções tendo em conta as expectativas dos demais. As teorias
interaccionistas, aparecem por volta dos anos 50 nos EUA, e tem a
particularidade de colocarem o indivíduo como referência da
problemática da relação sociedade e indivíduo.

TEORIA INTERACIONISMO SIMBÓLICO DE GEORGE


MEAD

Este pensador tem a particularidade de começar a sua teoria se


opondo ao behaviorismo e para tal faz uma clara distinção entre
formas de comportamento dos infra-humanos (que se refere aos
animais irracionais e crianças) e formas de comportamento
humanos. O elemento fundamental e determinante para esta
distinção está na linguagem, que é vista como expressão da
Sociologia Geral Código: A0017 28

capacidade reflexiva dos indivíduos. Nas palavras do autor “a


pessoa tem um carácter distinto do organismo fisiológico
propriamente dito. A pessoa é algo que possui desenvolvimento:
não está inicialmente presente no nascimento, mas surge nos
processos da experiência e das actividades sociais, quer dizer,
desenvolve-se na sequência das suas relações…” (Mead; 1934:
135, op cit. in: Ferreira et al, 1995: 297)

Mead opera a partir de três conceitos fundamentais nomeadamente:


Mind, Self e Society. Self seria o próprio indivíduo, enquanto que
mind a consciência reflexiva e society seria o contexto em que
acção se desenvolve, ou seja, society era a actividade social. Sua
questão fundamental era a de perceber como é que se forma e se
desenvolve o self, pelo qual os indivíduos adquirem a consciência
reflexiva e de que modo é que actividade social é determinante
nesta construção.

A resposta a esta questão seria segundo Mead estaria na


singularidade da actividade social, que radica na existência de
símbolos, ou seja, é partir dos símbolos e com os símbolos que os
indivíduos interagem e atribuem sentido a sua própria experiência
com os demais. Mais a aquisição de símbolos não seria uma coisa
natural como parece, mais pelo contrário resultaria do processo de
socialização em que pela linguagem as pessoas adquirem as
normas, crenças, valores, etc; o que lhes permite por conseguinte
viver na sociedade.

A socialização dava-se na perspectiva de Mead em três fases


distintas sendo a primeira fase a mais primitiva da construção do
self e caracteriza pela imitação de papéis sociais, em que a criança
busca imitar as pessoas que lhes são próxima e normalmente são os
pais. Segunda fase é a chamada fase de jogo, em que a criança
adquire a capacidade interpretativa, em que a partir da
aprendizagem das diferentes expressões da linguagem ele é capaz
de diferenciar os objectos a sua volta rotulando-os, e ao fazer
partilha com os demais o significado e sentido destes objectos.

A última fase é a da representação em que se caracteriza pela


necessidade de organizar e assumir dentro da experiência
individual a perspectiva dos outros. Quer isto dizer que o indivíduo
deve saber qual é o seu papel social e que este deve ser reconhecido
em si pelos demais membros da sociedade. A sociedade não
passaria de um processo comunicacional desenvolvido pela
interacção simbólica dos indivíduos. É aqui onde os indivíduos
partilham significados comuns (pois ela é uma actividade
cooperativa).
Sociologia Geral Código: A0017 29

Teoria Dramatúrgica do Quotidiano de Erving Goffman

Este pensador apresenta uma perspectiva relativamente diferente de


Mead, pois que ele busca ver como é que se organiza a experiência
do quotidiano, ou seja, o modo como um actor social pode colocar
na sua mente em termos de experiência e não da organização da
sociedade. Isto não implica dizer de modo algum que Goffman
ignore as dimensões macroestruturas da sociedade, mais pelo
contrário, que seu objectivo era pura e simplesmente analisar a
estrutura de relação entre dois ou mais indivíduos numa situação de
co-presença física.

Portanto, seu objectivo é tornar analiticamente viável o estudo dos


fenómenos de interacção face a face, por serem questões reais e não
abstractas e tal como qualquer fenómeno social merecia ser
estudado cientificamente. Goffman considerava que na interacção
social em situações de co-presença física os aspectos tidos como do
domínio meramente íntimo, privado e de natureza singular do
indivíduo, é algo que é regulado socialmente.

Goffman considera que a interacção social não é necessariamente


uma simples actividade cooperativa entre os indivíduos, que
garante a adaptação do indivíduo a sociedade, mais pelo contrário é
a representação pela qual o eu (o indivíduo singular) se transforma
em vários eu (outros indivíduos). Segundo ele, a vida em sociedade
era equiparada ao teatro em que os indivíduos quando actuam
desempenham determinados papéis de várias personagens; pelo que
estes usariam diferentes estratégias e técnicas de actuação.

Assim, ele diz que existem níveis do palco onde decorre a


fachada/encenação, nomeadamente o front que é conjunto de
elementos que permite a quem assiste a peça/cena identificar
concretamente a acção, que dependem dos adereços pessoais
(personal front) para identificação da personagem, a aparência
(appearence) que tem a ver com postura, tipo de roupa, etc. que
indica claramente o estatuto social da personagem e os modos
(manners) que mostram o tipo de papel que actor irá desempenhar.

Em segundo lugar encontramos settings que são as características


físicas do cenário que serve para sustentar a credibilidade dos
adereços pessoais. Quer dizer, se o cenário de encenação sugere
uma igreja, é suposto que pelo modo de estarem vestidos e agir, se
possa reconhecer nos actores um padre, acólito, e crentes. E por
último o backstage que é o local em que o público não tem acesso e
personagem pode agir a seu belo prazer, pois já não tem que usar
máscara por se encontrar longe do olhar do público.
Sociologia Geral Código: A0017 30

Neste sentido, para Goffman, a interacção social para além de ser


essencialmente um processo de acção comunicativa, depende do
modo como o indivíduo interpreta o universo simbólico por forma
a preservar a sua própria identidade. Pode-se então resumir a
perspectiva deste autor mostrando que:
a) A sociedade organiza-se segundo o princípio de que todo
indivíduo que possui certas categorias sociais, tem o direito
moral de esperar que os outros o valorizem e o tratem de
modo adequado.

b) O indivíduo que implícita ou explicitamente pretende ter


certas categorias sociais deverá comportar-se na realidade
de acordo com aquilo que diz ser.

c) O indivíduo tem sempre um conhecimento tácito das


normas e das regras que regem uma determinada situação
social.

d) O indivíduo interage consigo e com os outros através de um


processo comunicativo mediatizado pela sua capacidade
interpretativa do seu universo simbólico em que se insere.”
(Ferreira et al., idem; 305).

Assim, para este autor a cada situação de co-presença física


poderíamos encontrar diferentes tipos de interacção social que
podem ser ocasião social que é um acontecimento que se percebe
como uma unidade que se dá no momento e lugar específico, tal
como num espectáculo. Situação social que é o controlo recíproco
que surge no momento em que dois ou mais indivíduos se
encontram em co-presença física tal como durante uma reunião de
trabalho ou aula.

E por último o encontro social que resulta de uma situação em que


sem que os indivíduos a tenham previsto se reparam mutuamente,
tal como acontece num autocarro. O que faz a interacção social
para este autor vai ser portanto a necessidade de interagir com os
demais em sociedade por um lado e por outro a de se distinguir e
singularizar dos demais, ou seja, é um processo de gestão da
própria identidade social, através da adequação da imagem
virtual/ideal á imagem real/efectiva (que é aquilo que o indivíduo
acredita ter de diferente em relação e que o diferencia dos outros).

Daqui resulta um aspecto importante também abordado por


Goffman e também pela Sociologia em grande medida que é o
estigma, que corresponde a um atributo que para além de pessoal é
igualmente uma forma de designação social, na medida em que
corresponde a uma relação entre um atributo e um estereótipo
social que permite estabelecer diferenças entre indivíduos.
Portanto, o autor considera que a sociedade é que estabelece meios
Sociologia Geral Código: A0017 31

de categorizar as pessoas, a partir de certos meios considerados


comuns e naturais para os membros destas categorias.

É a partir do estigma que algumas pessoas são ou não consideradas


normais ou patológicas, quer seja pelo tipo de comportamentos (ser
homossexual, alcoólatra, drogado, maluco etc.), traços físicos (ser
cego, anão, deficiente físico, etc.) e aspectos sociais como a
religião, nacionalidade, etc; que servem de condição para que as
pessoas sejam ou não aceites em determinados meios sociais. Isto
acontece não porque o estigma (o traço em si) seja ou tenha algo de
errado, mais sim pelo facto de que a socialmente ele é assim visto
em cada sociedade.

Deste modo, um estigma pode servir para juntar os indivíduos


portadores deste traço por se considerarem excluídos em relação a
uma outra maioria numa certa sociedade.
É assim que o estigma pode então ser manipulado pelo próprio
indivíduo em função do contexto em que se encontra a interagir,
pois que ele pode ou não fazer corresponder a imagem real e a
ideal.
Sociologia Geral Código: A0017 32

Exercícios

1 – Mead no seu estudo da interacção social centrou-se na relação entre


indivíduo e sociedade. Como é que se dava a socialização segundo este?
Auto-avaliação
Resposta: Para este autor, a socialização dava-se em três fases
distintas sendo a construção do self que se caracteriza pela
imitação de papéis sociais (a criança busca imitar as pessoas que
lhes são próxima e normalmente são os pais), segue-se a fase de
jogo, em que a criança adquire a capacidade interpretativa, isto a
partir da aprendizagem das diferentes expressões da linguagem ele
é capaz de diferenciar os objectos a sua volta rotulando-os, e ao
fazer partilha com os demais o significado e sentido destes
objectos. Por último, a da representação que se caracteriza pela
necessidade de organizar e assumir dentro da experiência
individual a perspectiva dos outros, quer isto dizer que o indivíduo
deve saber qual é o seu papel social e que este deve ser reconhecido
em si pelos demais membros da sociedade.

2- Qual a razão de Goffman apelidar a sua teoria de dramatúrgica?

Resposta: Goffman assim apelidou a sua teoria pelo facto de que a


interacção no seu entender se assemelhar a uma peça de teatro, em
que pelo facto de decorrer num palco os actores apenas
representam um determinado papel, e que este papel deve pelos
seus traços e local em que decorre permitir distinguir o actor a
situação ou seja o papel, e que este personagem quando fora do
palco volta ser ele mesmo.
Sociologia Geral Código: A0017 33

Unidade N0 06-A0017
Tema: As Desigualdades Sociais
Introdução
É absolutamente impossível falarmos da Sociologia sem fazer alusão a
questão das desigualdades sociais, uma vez que este fenómeno para além
de ser tratado em profundidade por esta disciplina é algo presente em
toda e qualquer sociedade, para além de constituir preocupação dos
governos, havendo medida políticas próprias para se combater este mal
social.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos  Definir o conceito de desigualdade social.


 Identificar os tipos de desigualdades sociais.

Sumário
Falar sobre desigualdades sociais implica antes de mais a sua correcta
definição desta entanto que conceito, uma vez que esta pode ser vista em
diferentes dimensões, o que dificulta ainda mais a sua conceptualização.
Em geral devemos perceber que a desigualdade social não se refere a uma
simples diferença entre indivíduos, uma vez que certas diferenças entre
indivíduos de uma sociedade podem se mostrar irrelevantes em termos
sociológicos, visto que elas podem não influenciar de modo algum as
posições sociais que estes ocupam na estrutura da sociedade. Assim, para
se falar de desigualdades sociais no sentido sociológico é necessário que
tais diferenças entre indivíduos impliquem de algum modo desigual
acesso aos bens, serviços e oportunidades, e que cuja causa explicativa se
encontre nos mecanismos da própria sociedade.

Na literatura a desigualdade social tem diferentes asserções,


dependendo do ponto de vista de cada autor. Por exemplo, Roger
Girod diz que desigualdade social “consiste na repartição não
uniforme, na população de um país ou de uma região, de todos os
tipos de vantagens e desvantagens sobre as quais a sociedade
exerce uma qualquer influência.” (Girod, 1984: 3; op cit. In:
Ferreira, idem: 325). Numa perspectiva semelhante, Anthony
Giddens olha esta como “um conjunto de desigualdades
Sociologia Geral Código: A0017 34

estruturadas entre diferentes grupos de indivíduos.” (Giddens,


1993: 212; op cit. In: Ferreira, ibidem).

Olhando para estas abordagens destes autores pode-se então


perceber que é a sociedade quem cria e estabelece esta e por
conseguinte ela não seria algo natural. Assim, pode-se definir então
a desigualdade social como sendo uma diferença socialmente
criada e condicionada aos bens e serviços, ou seja, aos recursos
dentro de uma sociedade. Quer isto dizer que a possibilidade dos
indivíduos dentro de uma sociedade poderem ter mais ou menos
riqueza, ocuparem posições de direcção e chefia, etc., é por vezes
já condicionada pela própria sociedade. Ela pode ser analisada
tanto sob ponto de vista individualista (centrada no sujeito) e
colectivista (ao nível do grupo).

Tipos de Desigualdades Sociais


As desigualdades sociais podem ser analisadas olhando para as
tipologias que a constituem em diferentes tipos, podendo estas ser
as desigualdades Socioeconómicas em que o aspecto desigualitário
entre indivíduos ou grupos tem a ver com o acesso que estes tem
aos bens e serviços na sociedade, que é condicionado pela riqueza,
rendimentos e bem como o nível de vida.

Também encontramos as desigualdades Socioprofissionais que tem


a ver com o tipo de profissão que os sujeitos desempenham,
posição destes perante a propriedade (ser dono ou trabalhador),
poder de decisão na empresa, diferença de nível de escolaridade e
qualificação profissional. Podemos identificar outro tipo de
desigualdades que escapa a esta lógica económica e profissional
que é a de Género que está directamente ligada ao facto dos
indivíduos pertencerem a determinado sexo biológico que tanto
pode ser masculino ou feminino.

Neste sentido, as vantagens e desvantagens que possam ocorrer na


sociedade, resultam necessariamente do facto de existirem direitos
e oportunidades específicas a cada um destes grupos. Encontramos
ainda as desigualdades de Idade em que o factor estruturante são as
idades, ou seja, o facto de ser jovem ou idoso pode conferir
determinados privilégios aos sujeitos. Temos ainda a desigualdade
de Raça e Etnia em que como já diz o próprio nome, a raça de cada
indivíduo e bem o grupo étnico a que este pertence é elemento
fundamental para ceder ou não privilégios a estes.
É importante notar que estes tipos de desigualdades aqui
apresentados não se encontram objectivamente separados, mais
pelo contrário estes regra geral operam em estreita ligação, ou seja,
Sociologia Geral Código: A0017 35

é possível num determinado momento para um indivíduos de uma


certa idade, raça, condição económica, profissão e sexo serem
restringidos aos bens e serviços na sociedade em que se encontrem.

Exercícios

Auto-avaliação 1 – De acordo com seus conhecimentos, define desigualdades sociais ?


Resposta: De acordo com os conhecimentos adquiridos posso
definir a desigualdade social como sendo uma diferença
socialmente criada e condicionada aos bens e serviços, ou seja, aos
recursos dentro de uma sociedade.
2- Indique e explique os tipos de desigualdades sociais que
conhece?
Resposta: existem vários tipos de desigualdades sociais
nomeadamente: a Socioeconómica que tem a ver com diferenças
entre indivíduos ou grupos no acesso aos bens e serviços na
sociedade. Socioprofissionais tem a ver com o tipo de profissão que
os sujeitos desempenham, posição destes perante a propriedade (ser
dono ou trabalhador), poder de decisão na empresa, diferença de
nível de escolaridade e qualificação profissional. De género está
ligada ao facto dos indivíduos serem do sexo masculino ou
feminino. Idade a idade é factor de desigualdades, isto é, ser jovem
ou idoso confere certos privilégios aos sujeitos. E por último a de
Raça e Etnia tem a ver com a raça de cada indivíduo e o grupo
étnico de cada indivíduo.
Sociologia Geral Código: A0017 36

Unidade N0 07-A0017
Tema: Teoria de Classes Sociais e
Estratificação Social
Introdução
A questão das classes sociais e bem como estratificação social não
se modo algum novas na sociologia entanto que abordagens
teóricas e muito menos como fenómenos com manifesta presença e
visibilidade social ao longo dos tempos. Regra geral, esta questão
tem sido de algum modo incluída na discussão a volta das
desigualdades sociais, quando no fundo são questões distintas
apesar de intimamente ligadas entre si.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos  Identificar as principais teorias sociológicas sobre classes sociais e


estratificação social.

Sumário
Existem inúmeras teorias sobre as classes sociais e estratificação,
sendo que estas vem desde já há bastante tempo, tendo como traço
comum o facto de inspiram-se em Marx, que como sabemos é uma
das referências incontornáveis na Sociologia, que na sua
abordagem a volta da sociedade defendia que esta se encontrava
dividida em classes sociais. Assim, em maior ou menor grau as
teorias sobre classes sociais ligam-se a Marx, e outras estão ligadas
a outro influente na Sociologia que é Weber com a sua teoria de
estratificação social; e por fim temos as chamadas teorias mistas
por juntarem elementos quer sejam de Marx e de Weber.

A Teoria Marxista

Para Marx, as classes sociais como tendo uma realidade na


sociedade que resulta naturalmente do processo produtivo, em que
os indivíduos estabelecem entre si relações sociais de produção,
que se encontram enraizadas na infra-estrutura económica. A
Sociologia Geral Código: A0017 37

definição de classe é relacional na medida em que estas


encontravam-se inter-relacionadas no seu processo produtivo e por
conseguinte a definição de uma classe e bem como a consciência
de pertencer a esta por parte dos indivíduos era feita na relação com
a outra.
Estas classes apesar de se relacionar entre si, possuíam uma relação
eminentemente conflituosa, visto que os interesses que cada uma
deles defende e almeja eram antagónicos. Nesta processo de
produção em que estas classes se relacionavam havia uma que
explorava e domina a outra, e que esta domínio resultava da posse
dos meios de produção. A burguesia era a classe que possuía meios
de produção e por conseguinte explorava o proletariado que apenas
detinha a mão-de-obra. Assim, a burguesia era a classe dominante e
o proletariado a dominada.

Teoria Neomarxista
Tal como nome já sugere, esta teoria tem seu fundamento em
Marx, com a particularidade de possuir dois grandes objectivos
nomeadamente resolver algumas das lacunas contidas na
abordagem de Marx que tem a ver como dificuldades resultantes
dos critérios objectivos de identificação de classes sociais por um
lado, e por outro trazer e situar teoricamente alguns dos aspectos
novos trazidos pelo século XX para identificação de classes nas
sociedades contemporâneas.
Segundo esta teoria, relativamente aos pontos difíceis da obra de
Marx para indicação de classes, consideram que os mesmos tem a
ver com o inacabamento da obra deste autor, ou seja, Marx não
chegou a concluir esta questão na sua obra o que abre espaço para
diferentes interpretações. Contudo, esta teoria diz que para o autor
não era apenas a posse dos meios de produção que permitiam a
identificação de classes, mais também aspectos tais como a
ideologia e política ajudam a identificar as classes sociais. Apesar
de existirem outros aspectos que interferem na determinação de
classes sociais, era efectivamente a economia o factor
determinante.
Neomarxista consideram que nas sociedades contemporâneas a
determinação de classes sociais tem a ver com factores mistos tais
como a economia (processo de produção), os aspectos políticos e
ideológicos que perfazem a chamada super estrutura. Portanto,
segundo estes autores por vezes o aspecto político e ideológico
isoladamente permitiam por si só determinar a existência de classes
sociais. Um outro ponto relevante trazido por estes autores e que
não estava previsto pela abordagem marxista tem a ver com a
classe média, que para além de ser um fenómeno novo na época
contemporânea, passou a ter visibilidade e importância social.
Igualmente temos segundo os neomarxistas grupos sociais que não
são nem burgueses e nem proletários, tendo em conta as
Sociologia Geral Código: A0017 38

características que apresentam tal como o facto de serem gestores


de empresas, possuírem formações académicas que lhes conferem
algumas vantagens na sociedade, entre outros aspectos.

Teoria Funcionalista da Estratificação


Esta teoria tem como seu pressuposto básico que a desigualdade
social é algo que se encontra enraizado na sociedade, de tal modo
que não existe uma sociedade que possa sobreviver em perfeitas
condições de igualdade entre os seus membros. Assim, as
desigualdades sociais seriam úteis e necessárias uma vez que
permitiam uma interdependência entre os indivíduos e por
conseguinte esta garantiria o dinamismo e integração dos
indivíduos. Portanto, ao invés de ser um mal a desigualdade social
era útil e necessária.
A sociedade comporta profissões com uma importância funcional
diferente, sendo que existem profissões mais e menos importantes,
para além de que só determinadas pessoas possuíam aptidões para
desempenhar certas actividades. Assim, é no seu funcionamento
normal que a sociedade vai se estratificando ou criando
desigualdades sociais, uma vez que ela confere importância
diferencial aos indivíduos que ocupam determinados cargos e assim
criam-se desigualdades. É exactamente isto que faz a sociedade
sobreviver e integrar os seus membros, pois que passam a existir
pessoas para ocupar todas as profissões na sociedade.
Estes autores definem então a estratificação social como sendo um
“conjunto de recompensas diferenciais. São os diferentes recursos,
materiais ou simbólicos que as sociedades atribuem aos indivíduos
em função da posição que ocupam , que os vai situar na escala de
estratificação e configurar o mecanismo de desigualdades.”
(Ferreira, ibidem; 354). Ainda segundo esta teoria, a estratificação
social em diferentes sociedades e épocas não são de modo algum
equivalentes, pois que cada uma delas atribui importância diferente
a cada profissão, o que explica o prestígio que cada uma destas
possa ter em cada sociedade ao longo do tempo.

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Quais as teorias de desigualdade e estratificação que conhece?


Resposta: as teorias de desigualdade e estratificação que conheço são:
Marxista, Neomarxista e a Funcionalista de Estratificação.
Sociologia Geral Código: A0017 39

Unidade N0 08-A0017
Tema: Processo de Mobilidade
Social
Introdução
Mobilidade social é um dos aspectos que igualmente caracteriza o
debate sociológico a semelhança de questões tais como a
desigualdades sociais, interacção social, classes sociais, entre
outros aspectos. É indubitavelmente um dos aspectos que pese
embora não seja perceptível a todos no dia-a-dia ou tenha
tratamento por parte de todos os teóricos, existe em toda e qualquer
sociedade
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos  Definir o conceito de mobilidade social.


 Identificar os conceitos a ele relacionados.

Sumário
Conceito de Mobilidade Social

A discussão a volta da mobilidade social entanto que fenómeno


observável em toda e qualquer sociedade é antigo e não recebe a
mesma conceitualização por parte dos diferentes pensadores em
épocas e contextos diferentes. Existe autores que consideram que
este é um processo que depende apenas do esforço do próprio
indivíduo, outros consideram que esta varia de acordo com o tipo
de organização ou grupo social e finalmente os que consideram que
esta não ocorre sendo que a regra é a manutenção nos lugares
sociais em que já se encontram, devido a um mecanismo poderoso
de reprodução dos grupos.

Esta diferenciação nas abordagens, é explicada em parte pela


percepção sobre o próprio conceito de mobilidade social. De forma
bastante simplista podemos ver este como sendo uma mudança de
posição social, isto quer dizer, como os indivíduos fazem parte de
grupos, classes ou estratos na sociedade eles podem passar de uma
posição ascendente para uma descendente ou o inverso. Tal
Sociologia Geral Código: A0017 40

mudança ocorre durante a vida de um indivíduo ou em várias


gerações, podendo representar um acto biográfico isolado ou
organizado a partir da acção de um grupo de indivíduos, tendo
como resultado o melhoramento (ascendência) ou agravamento
(descendência) das condições de vida.

A mobilidade também pode ser realizada de uma zona geográfica


(migrações) a outra, ser algo fortuito ou uma realidade constante,
sendo que apesar destas circunstâncias ela invariavelmente tem a
ver com mudança de lugar, posição, estatuto socioeconómico, etc.
Se não delinearmos claramente este conceito, corremos o risco de
classificar todo e qualquer processo como sendo de mobilidade
social. Outro aspecto importante aos que os teóricos chamam
atenção é que a mobilidade tem a ver com tipo de sociedade, sendo
que existem contextos ditos fechados em que as possibilidades
desta ocorrer já estão a priori limitadas.

São sociedades em que o nascimento do indivíduo num certo


grupo, equivale a um destino pré traçado, os valores culturais dos
grupos que constituem esta sociedade são claramente diferenciados
o que dificulta ainda mais a sua assimilação por parte dos outros.
Inversamente temos sociedades ditas abertas em que as chances de
mobilidade existem tanto para os grupos e bem como aos
indivíduos dada a estrutura da própria sociedade, os traços culturais
se assemelham, as desigualdades são de facto e não de direito, entre
outros aspectos. Isto mostra que existem sociedades mais móveis
do que outras tendo em conta as suas especificidades.

Por tudo quanto foi aqui dito a volta da mobilidade entanto que
processo social, convém então definir este, podendo ser visto como
a passagem de um indivíduo ou grupo de uma posição social para
outra, dentro de uma constelação de grupos e estratos sociais, e
que tanto pode ser ascendente ou descendente na sociedade.

Conceitos Auxiliares da Mobilidade Social

Fora dos conceitos teóricos sobre mobilidade social, existem vários


termos operatórios que ajudam a explicar e perceber o fenómeno a
vários níveis. Assim, temos a mobilidade vertical e a horizontal,
que pressupõem uma escala hierárquica na sociedade. Vertical
pressupõe uma mudança na classe ou estrato que seja vista como
subida ou descida/ascendente ou descendente dentro da escala
social. Enquanto que a Horizontal é a mudança de localização que
não implica qualquer tipo de alteração social, tal como uma
mudança de profissão ou de região/habitação.
Encontramos a mobilidade Intrageracional e a Intergeracional, que
tal como o próprios nomes dizem apontam para uma mudança que
Sociologia Geral Código: A0017 41

indivíduo ou grupos fazem ao longo do seu ciclo de vida e bem


como transmissão de estatuto entre diferentes gerações.
Intrageracional é a mobilidade que um único indivíduo realiza,
enquanto que Intergeracional é a mobilidade que um indivíduo
realiza na relação com outro ou grupo de indivíduos.
Podemos falar de mobilidade Estrutural que é quando há uma
evolução geral da sociedade como um todo (exemplo a mudança do
sistema produtivo na sociedade) e mudança não tem a ver com
vontade de um único sujeito e sim com mecanismos estruturais da
sociedade. Mobilidade Líquida representa o oposto da anterior,
pelo que existem indivíduos que por vontade própria mudam de
posições devido a sua iniciativa individual. Temos ainda a
mobilidade Bruta ou Total que é no fundo a junção das duas
anteriores, sendo que ela ocorre tanto por mudanças ou mobilidades
que acontecem por factores ou razões estruturais e bem como por
iniciativa individual.

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Define o conceito de mobilidade social?


Resposta: Existem diferentes asserções a volta deste conceito, sendo que
objectivamente este é definido como sendo uma passagem de um
indivíduo ou grupo de uma posição social a outra, dentro de uma
constelação de grupos e estratos sociais, podendo esta ser ascendente ou
descendente na sociedade.
Sociologia Geral Código: A0017 42

Unidade N0 09-A0017
Tema: Teorias sobre Mobilidade
Social
Introdução
Apesar de ser uma questão antiga e com presença na sociedade ao
longo dos tempos, a explicação em termos teóricos da mobilidade
social entanto que processo não tem sido tão simples o seu
enquadramento nas teorias sociológicas. Isto decorre em parte do
facto dela não estar no centro das atenções dos clássicos debates
do século XIX, visto que pensadores tais como Marx, Durkheim,
Weber, Pareto, entre outros terem se debruçado a volta de outros
temas tidos como de maior impacto.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos  Identificar as principais teorias de mobilidade social.

Sumário
Dentre as teorias existentes sobre a mobilidade social temos a
destacar em primeiro plano a marxistas e da reprodução e a
funcionalistas.

A Teoria Marxista e da Reprodução

Segundo esta teoria que tem fundamento na sociedade classista


dividida entre os detentores dos meios de produção e não
detentores vemos que os modos de produção para poderem se
reproduzirem dependem dos mecanismos de dominação de classe,
ligados aos interesses das classes dominantes capitalistas ou não.
Podem ser instrumentos de dominação económica, política e
ideológica.
Uma vez que a sociedade está estruturada em classes sociais com
interesses claramente contraditórios, as relações entre estas classes
são caracterizadas como relações baseados no poder, e assim para
se poder manter na situação de domínio os burgueses devem
Sociologia Geral Código: A0017 43

obviamente desenvolver estratégias que garantam o seu domínio de


forma contínua ao longo do tempo por forma a perpetuar o sistema.
Ainda segundo Marx, entre as classes haviam um grau de
mobilidade social que acabava criando uma dinâmica na própria
sociedade. Na classe dominada os indivíduos tendiam a investir
individualmente na ascensão social criando deste modo uma
fragilidade dentro do grupo com redução da consciência colectiva;
pelo que era a classe dominante que aproveitando-se deste factor
acabava por reforçar cada vez mais ainda o seu domínio, pois que
indivíduos da classe dominada passavam a fazer parte da classe
dominante reforçando este grupo.
Outro autor que igualmente usa o pensamento de Marx na linha da
reprodução de classes é Pierre Bordieu que considera que para além
da reprodução da classe dominante ao nível económico pela
herança dos meios de produção, também temos a reprodução sócio
cultural que é garantida pela escola, entanto que instrumento desta
reprodução.
No essencial as teorias de reprodução social põem de lado a
questão da mobilidade social, uma vez que esta é vista como um
factor que para além de limitado por se dar numa escala baixa, tem
a ver com indivíduos isoladamente e não acaba com a estrutura de
desigualdade social existente num determinado contexto.

Teorias Funcionalistas
Esta teoria assenta na ideia de que a sociedade é feita por estratos
sociais distintos, sendo que cada um destes de algum modo
desempenha uma função dentro do sistema de forma relacional
com os demais grupos.
Segundo Sorokin um dos defensores desta corrente, diz que em
primeiro lugar a estratificação era algo inevitável, pois que por um
lado a sociedade necessitava de um conjunto de ocupações cuja
importância colectiva era diversa conforme fossem tarefas de
coordenação ou não, e por outro lado o desempenho de certa
ocupação exigia competências particulares. Por conseguinte, era
aceitável que para certos cargos sociais de destaque houvesse mais
privilégios e poder.
Em segundo lugar, a reprodução da sociedade era garantida através
dos “mecanismos de orientação”, em que se avaliam as
necessidades da estrutura social e seleccionam-se indivíduos para
ocuparem tais lugares. Este mecanismo era funcional para a
estabilidade do sistema.
Daqui resulta uma elevada mobilidade social individual e a
consequente composição fluida dos grupos ocupacionais. Ele
considera ainda que se numa determinada sociedade a classe
dominante não canaliza parte dos privilégios e paralise a circulação
Sociologia Geral Código: A0017 44

social/mobilidade social, poderá por em causa a dinâmica da


própria sociedade.
Era necessário que houvesse a mobilidade para permitir que
alocação apropriada de talentos para certas posições sociais.

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Diferencie a teoria marxista ou de reprodução de mobilidade e a


teoria funcionalista?
Resposta: a teoria marxista ou de reprodução considera que a mobilidade
era um fenómeno insignificante, uma vez que era vista como factor
limitado por se dar numa escala baixa, e ter a ver com indivíduos
isoladamente. Ele não acabava com a estrutura de desigualdade
social existente num determinado contexto, pelo contrário
reforçava o domínio e reprodução da classe dominante.
Teoria funcionalista considera que a estratificação era algo
inevitável, e por conseguinte a mobilidade social era útil e
necessária pois que permitia que indivíduos dotados e capacitados
pudessem ocupar posições fundamentais e que equivalem
igualmente aos melhores privilégios. Assim, parar a mobilidade
social era por em causa a dinâmica da própria sociedade e seu
funcionamento normal pois não teria quadros capacitados para
ocupar certas posições.
Sociologia Geral Código: A0017 45

Unidade N0 10-A0017
Tema: Desigualdades Sociais nas
Sociedades Contemporâneas
Introdução
Em contextos contemporâneos é difícil falar-se de desigualdades sociais
tendo em conta apenas os elementos teóricos trazidos pelas abordagens
marxistas e outras que punham a tónica na questão da diferenciação
classista tida como que fundamental. Dada a dinâmica do mundo actual,
estes elementos tornam-se de difícil visualização e classificação de tais
classes em si, pois que existem novos valores que são usados e que
definem situações de classe.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos  Identificar alguns dos eixos explicativos da questão da diferenciação


social de classes nas sociedades contemporâneas.

Sumário
As alterações ocorridas na estrutura da sociedade como um todo no
século XX originaram novos debates a volta da questão da
desigualdade social, uma vez que houve mudança do tipo de
actividades económicas predominantes (tal como a passagem duma
economia industrial para uma de serviços), mudança na
composição dos grupos sociais (redução de pessoas ligadas a
indústria para uma nova classe média), e aumento da intervenção
do Estado como regulador económico e social, etc.

Novos Eixos de Diferenciação de Classes

A sociedade contemporânea é marcada por um dinamismo peculiar


que faz dela uma realidade diferente sob de vista analítico, pois que
novos fenómenos implicam novas estratégias de abordagem.
1º Nível de Inserção Socioeconómica
É importante darmos atenção a questão económica ou a posição
dos indivíduos nas relações de produção. Neste sentido, deve-se ter
Sociologia Geral Código: A0017 46

em conta a profissão que indivíduo desempenha e bem como o


nível salarial por forma a se ter noção da classe em que enquadrar.
2º Nível de Autoridade na Profissão
Deve-se ter em atenção o nível de autoridade incorporado na
situação socioprofissional dos indivíduos, em que o indivíduo
dirige, faz o controlo de uma organização ou não. É comum vermos
pessoas que dirigem mesmo não sendo proprietário das empresas.
3º Nível Educacional ou Qualificação dos Indivíduos
Este elemento é fundamental para que os indivíduos possam em
certo momento aceder a um nível de autoridade na profissão e
inserções em vários meios e bem como acesso a formas de
propriedade. Os diplomas académicos são elementos importantes
nas sociedades contemporâneas na medida abrem espaço para
várias chances aos indivíduos.
4º Nível das Empresas e Organizações
Neste ponto é necessário saber a dimensão da própria instituição,
sabendo se tratasse de uma empresa de pequena, média ou grande
dimensão a partir do número de empregados nível de envolvimento
do proprietário, rendimentos.
5º Nível de Protecção ou Vulnerabilidade em Relação ao Mercado
O elemento fundamental neste nível tem a ver com o tipo de
vínculo existente entre o proprietário e trabalhador, ou seja,
existência de contracto ou não, durabilidade dos contractos,
categorias salariais.
6º Nível de Género, Raça, e Idade
A desigualdade não é estruturada tal como as demais em aspectos
mensuráveis tais como o económico mais pelo contrário a partir de
outros altamente subjectivos tais como a raça, etnia, região, idade e
género (sexo) dos indivíduos, e nacionalidade. Contudo, é
importante ter em conta que apesar de estar fora da esfera
económica estes aspectos normalmente acabam por estar ligado ao
meio económico, contribuindo deste modo para que os indivíduos
possam ou não pertencer a certas classes.
Sociologia Geral Código: A0017 47

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Enuncie os novos eixos de diferenciação de classes sociais?


Resposta: nas sociedades contemporâneas encontramos 6 eixos de
diferenciação de classes nomeadamente: nível de inserção
socioeconómica, autoridade na profissão, qualificação ou educação dos
indivíduos, nível das empresas ou organizações, protecção ou
vulnerabilidade em relação ao mercado, e nível de género e raça.
Sociologia Geral Código: A0017 48

Unidade N0 11-A0017
Tema: A Mudança Social
Introdução
A Sociologia sempre se interessou pelo estudo do fenómeno de mudança
social entanto que processo presente na sociedade, e este interesse
resultou em grande medida a revolução industrial e seus efeitos. Ao longo
da história a mudança social vai tendo uma dinâmica peculiar o que faz
com que a análise deste fenómeno não seja a mesma em épocas diferentes
dada a complexidade desta.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Objectivos  Definir conceito de mudança social.


 Indicar os precursores da teoria de mudança social.
 Identificar algumas das teorias de mudança social.

Sumário
Mudança social entanto que fenómeno social sempre esteve
presente na sociedade, e só mais tarde é que passou a ser analisada
cientificamente. Regra geral falar de mudança social, é referir-se a
um processo de alteração das estrutura básicas que compõem um
grupo social ou a sociedade como um todo. Dentre os vários
pensadores que se interessaram por esta temática, adoptaram
posturas completamente diferentes na análise e explicação deste
fenómeno, o que levou ao surgimento de diferentes perspectivas de
análise deste.

Podemos encontrar autores que adoptam uma postura evolucionista


(século XIX), em que esta é concebida em fases ou estados
estruturais, saindo da simples a complexa, da inferior a superior.
Igualmente temos autores funcionalistas (século XX) que olham a
mudança social como processo de mudança estruturante e
funcional, em que temos substituição de grupos sociais simples por
mais complexos.

Tendo em conta a sociedade contemporânea, vemos que uma


análise puramente evolucionista ou funcionalista estaria condenada
Sociologia Geral Código: A0017 49

ao fracasso, uma vez que dinâmica actual implica ter em conta a


complexidade dos elementos que afectam e ditam a mudança social
em cada sociedade e época concreta.

Precursores da Teoria da Mudança Social

O fenómeno da revolução industrial na Inglaterra e da revolução


Francesa criaram grandes transformações nas sociedades europeias
dotadas de alto significado, e que levaram ao surgimento de
perspectivas analíticas deste fenómeno. As mudanças culturais
económicas, políticas e sociais ocorridas fizeram das sociedades
objecto de análise privilegiado, em que elementos demográficos,
ideológicos, culturais e económicos eram a base de explicação da
mudança social.

Auguste Comte
Foi um dos autores que durante o século XIX se debruçou
profundamente a volta da mudança social. Este considerava que as
sociedades evoluíam numa linha unilinear, e que a função social da
dinâmica social era a de estruturar o progresso da sociedade
através do desenvolvimento espiritual dos seres humanos. Para
entendermos uma sociedade em diferentes fases da sua evolução,
era necessário olharmos não apenas para um aspecto mais sim a
totalidade desta, uma vez que impossível percebermos esta quando
separada das outras partes, visto serem interdependentes a
semelhança dos organismos vivos.
As sociedades passam necessariamente por 3 fases ou estados de
desenvolvimento da ordem social, sendo o teológico-militar,
metafísico-crítico e o científico-industrial. No primeiro momento
os conhecimentos que seres humanos possuíam e os
acontecimentos eram explicados por forças sobrenaturais. É a fase
do conhecimento que possibilita a constituição da família, da
propriedade privada e do Estado. Os conflitos ou guerras entre
Estados era característica marcante deste período e as sociedades
caracterizavam-se por relações sociais do tipo esclavagista.
Na segunda fase o conhecimento humano recorre as ideias
abstractas para explicação de coisas e acontecimentos da vida
diária da sociedade. É o momento da institucionalização da igreja e
tentativa de distinção clara desta com o Estado. O poder político se
circunscrevia aos poderes particulares de reis, príncipes e senhores,
sendo que as relações sociais eram do tipo feudal. No último
estágio o conhecimento baseia-se na observação e raciocínio
científico, pelo que os acontecimentos são explicados a partir de
leis universais.
É nesta fase em que há uma separação entre igreja e Estado, as
indústrias são aperfeiçoadas, aumenta progresso científico e a
civilização do tipo militar é substituída pela do tipo industrial.
Sociologia Geral Código: A0017 50

Herbert Spencer
A partir do pensamento de Darwin sobre a evolução das
sociedades, ele estruturou seu pensamento admitindo que os
processos sociais e consequentemente a mudança social eram
moldados a partir da selecção natural, em que prevalecia a lei do
mais forte entanto que factor estruturante. Assim, ele defende a
virtualidade do mercado, do individualismo e do liberalismo como
aspectos definidores da interacção constituinte da realidade social.
As diferentes unidades sociais orgânicas se sujeitavam a
determinado tipo de interacção quer seja adaptativo e selectivo,
sendo que só selectivamente é que se poderia construir a ordem
social.
Embora apologista da evolução das sociedades de estádio militar
para industrial, considerava que as funções de regulação política e
económica do Estado se mostrava entrave para criação e
desenvolvimento das sociedades industriais. As sociedades
evoluíam a semelhança dos organismos vivos, indo das formas
mais elementares a formas mais complexas. Este autor identifica as
etapas de desenvolvimento social que se articulam com a crescente
complexidade de funções e estruturas do organismo social. A
primeira fase era sociedade simples, segunda fase sociedade
compostas, terceira fase sociedade duplamente compostas e quarta
fase sociedade triplamente composta.
A primeira corresponde a formas de autoridade formadas por uma
autoridade política diversificada, tais como as sociedades nómadas,
seminómadas ou sedentárias em que algumas possuem autoridade
política permanente e outras não. A segunda possuem um poder
político centrado numa autoridade hierárquica. Aqui o poder de
chefes de famílias, clãs, tribos, religiosos e militares tem como
consequência uma desigual e hierárquica distribuição e exercício
do poder. A coesão social é menor relativamente as sociedades
simples, tendo em conta a os grupos sociais distintos existentes.
A terceira, de tipo sedentário é composta por vários grupos sociais
e possuem uma função de integração extremamente importante.
Encontramos o Estado, a política está presente em várias
instituições de forma estável, há um relativo desenvolvimento das
técnicas e meios de transporte. A quarta corresponde as nações
modernas, em que é notório um alto nível de desenvolvimento
industrial. Para Spencer, havia um modelo de evolução das
sociedades que podia ser definida pela sua natureza contrastante,
pelo grau de complexidade, diferenciação e heterogeneidade das
funções e estruturas do organismo social que as permitia distinguir
dois tipos de sociedades as militares e industriais.
Assim, as sociedades militares correspondem ao estádio inicial da
evolução social, em que a estrutura e funções existentes são
elementares, e as instituições em si de uma dimensão reduzida e há
Sociologia Geral Código: A0017 51

divisão elementar do trabalho. A guerra surge como uma


necessidade de defesa do território e conquista de novos, para além
de servir como meio de produção, consumo e distribuição de
riqueza. Nas sociedade industriais vemos que estrutura e funções
existentes e bem como as próprias instituições são mais complexas.
Nota-se o aparecimento de novas instituições ligadas a questões
económicas, de produção, distribuição e consumo de bens e
serviços.
Os grupos e indivíduos tornam-se mais autónomos, e a componente
militar se submete aos domínios económicos e políticos, surgem
instituições ligadas a religião, cultura e política. Portanto seu
pressuposto básico é que a sociedade evolui de forma harmoniosa
através do aumento e desenvolvimento de estruturas e funções na
sociedade industrial.

Karl Marx
Sendo uma das referências da Sociologia, este autor pode ser
enquadrado nas teorias evolucionista da mudança social. Com
sentido unilinear da evolução dos modos de produção por si
defendidos, revela que para ele há um pressuposto histórico de que
diferentes estágios de desenvolvimento das forças produtivas se
relacionam a certo tipo de relações sociais de produção. Sua ideia
era que a passagem de um modo de produção a outro implicava
necessariamente um progresso da humanidade.
E seu entender mudança social resultava das contradições que
existia em cada sistema social, sempre que houvesse um desajuste
enorme entre desenvolvimento das forças produtivas e relações
sociais de produção. Em seu entender as forças produtivas eram
compostas pelos meios de produção e pela força de trabalho, sendo
que estas é que produziam a riqueza, que é algo imprescindível
para subsistência de qualquer organização social. Além de que a
produção de riqueza material exige necessariamente que esta seja
sustentada pelas relações sociais de produção.
E porque em cada modo de produção há uma oposição entre classes
sociais antagónicas, vemos que as mudanças sociais surgem sempre
que se agudizam as contradições entre as forças produtivas. A
partir daqui pode-se apreender o pensamento estruturante de Marx
sobre mudança social que é: a) as contradições resultam de
questões internas aos modos de produção e se encontram ao nível
da estrutura socioeconómica, b) o conflito é algo real estrutural e
tem a ver com os interesses de classe antagónicos e c) é a luta de
classes o factor motor da história e por conseguinte da mudança
social.
Sociologia Geral Código: A0017 52

Teorias de Mudança Social


Entanto que processo social, a mudança social não mereceu apenas
a atenção de autores isoladamente mais pelo contrário de grupo de
autores que podem ser enquadrados em determinadas perspectivas
teóricas de abordagem, tendo em conta a conscidência na exposição
de argumentos explicativos sobre este processo.

Evolucionismo de Talcott Parsons


Esta corrente de pensamento buscou perceber este fenómeno numa
perspectiva histórica evolucionista complexa e pluricausal, ou seja,
a evolução social nas sociedades dava-se através de trajectórias
diferentes e bem como conteúdos e formas sociais diferentes, e que
por sua vez possuíam uma origem diferenciada. Havia na sociedade
uma diferenciação estrutural e funcional dos órgãos, que explicava
a mudança dos seus componentes e consequente passagem dos
sistemas sociais simples para mais complexos.
O sistema social era em seu entender um sistema dinâmico, aberto
e interacção constante com outros sistemas nomeadamente
organismo biológico, personalidade e cultura; sendo estes
interdependentes na sua evolução, reagindo, ajustando e adaptando-
se sempre as mudanças. A evolução social dependia de 4 elementos
fundamentais nomeadamente: aumento da capacidade adaptativa,
diferenciação, integração e universalização dos padrões
valorativos.
Parsons considera que existem 3 estádios de evolução social
designadamente o primitivo, intermediário e moderno. Assim, a
passagem de Primitivo ao Intermediário dava-se pela função de
linguagem e bem como as funções de estabilidade normativa
exercidas pelo subsistema social do sistema geral de acção.
Passagem da sociedade Intermédia para Moderna deu-se através da
institucionalização do direito privado de incidência universal e a
consequente redução da influência da religião sobre os outros
domínios sociais.
Encontramos ainda no pensamento deste autor mudanças em
equilíbrio e mudanças de estrutura. A primeira tem a ver com
surgimento de alterações pontuais e localizadas nos subsistemas do
próprio sistema social que apesar destas se mantém intacto;
enquanto que as mudanças de estrutura ocorre quando as forças de
pressão interna e externa do sistema social dão-se de modo radical
e conflitual levando a ruptura do equilíbrio entre as unidades
estruturais. Ela tem como efeito visível não apenas a mudança da
das estruturas mais também e acima de tudo da totalidade do
sistema social.
Neste sentido, a mudança da estrutura resulta da acumulação de
tensões enormes entre duas ou mais estruturas do sistema social, e
pode ter várias dimensões.
Sociologia Geral Código: A0017 53

Grupos de Interesse, Conflitos Sociais e Mudança Social em


Ralf Dahrendorf
Este pensador busca o pensamento de Marx para fazer uma leitura
crítica da realidade social da sua época a partir de postulados
marxistas. Sua oposição a Marx tem a ver com excessiva
generalização que este fazia sobre sentido linear da história. Para
Ralf, os conflitos sociais são uma realidade presente em toda e
qualquer sociedade, ao invés de causarem mudança social servia
como elemento de identidade e integração social. Em seu entender
a luta de classes revelam-se um meio de distribuição hierárquica e
estratificada de funções inerentes á autoridade e não de
antagonismos irredutíveis as classes sociais.
Este autor distingue as sociedades industriais e sociedades
capitalistas, de modos que em sua opinião as primeiras
correspondiam a uma realidade estrutural global e segundas uma
parte deste todo. As mudanças operadas na sociedade industrial
durante o século XIX foram significativas, sendo que a posse
privada dos meios de produção é objecto da transformação na
medida em que seu controlo passa a ser feito pelos capitalistas e
quadros dirigentes das empresas. Assim, houve uma reestruturação
tanto da qualificação e estruturação do trabalho, que levou ao
surgimento de uma nova classe média dada a decomposição do
trabalho e do capital.
Há maior mobilidade social ao nível económico, social, cultural, e
política, na mesma medida os conflitos de classe se
institucionalizam, criam-se e desenvolvem-se instituições com
vários interesses opostos tal como sindicatos, associações
profissionais, instituições de arbitragem de conflitos, etc. De
acordo com autor, em toda organização social existem funções e
tarefas de controlo que explicam o exercício da coerção, pelo que
estaria-se diante duma distribuição diferencial de autoridade entre
indivíduos e grupos sociais. Por conseguinte, os actores e grupos
sociais que integram as instituições surgem como detentores de
autoridade diferencial observável nas relações sociais, baseadas na
relação dominação-sujeição.
Portanto, mesmo nas sociedades industriais temos conflitos dado
interesses opostos existentes entre indivíduos e grupos de interesse,
a partir de papéis e posições que os integra em estruturas
determinadas. O conflito de interesse mostram luta entre os que
detém autoridade e os que não a tem, entre quem quer manter seu
status quo e quem deseja transformar este. Deste modo, a mudança
social encontra-se polarizada nas estruturas sociais que comportam
ou implicam relações de autoridade em diferentes organizações
sociais.
Sociologia Geral Código: A0017 54

Teorias Endógenas e Exógenas de Mudança Social


Os defensores destas abordagens defendem o mesmo processo mais
a partir de pontos de vistas relativamente opostos, sendo que para
os defensores da teoria endógenas, a mudança social resultaria de
factores internos ao meio social, enquanto que os da teoria exógena
a mudança resultaria de elementos externos a determinado meio
social.
Os defensores de cada uma destas teorias através de argumentos
diversos buscam provar as suas concepções a volta dos elementos
que explicam o processo de mudança social ao longo dos tempos
em cada contexto a partir de elementos meramente internos ou
externos. A partir de pensamento marxista e de outros correntes,
este grupo de autores busca a partir de elementos desta teoria
enquadrar na linha endógena ou exógena.

Teoria do Individualismo Metodológico sobre Mudança Social


Esta corrente considera que para um entendimento da mudança
social temos que deixar de lado a postura marcadamente macro-
sociológica que olham esta a um nível mais amplo do grupo ou da
sociedade, deixando de lado o indivíduo entanto que actor activo
neste processo; e considerado apenas a racionalidade colectiva dos
indivíduos.
A perspectiva individualista metodológica desenvolvida por
Raymond Boudon considera é necessário olhar a mudança social,
tendo em conta um estudo exaustivo de realidades micro-sociais.
Olhando para aquilo que eram os processos de interacção social
que se conjugam singularmente na construção da realidade social, e
deste modo da mudança social em si. Esta teoria destaca o papel
estratégico da racionalidade dos indivíduos em processos de
interacção social micro.
Através desta teoria, vemos que há uma interdependência entre
várias realidades micro-sociais, de tal modo que o processo de
adaptação e interacção daqui resultante cria de forma agregada
micro-mudanças que trespassam a própria sociedade como um
todo. Assim, para entender a mudança social é necessário centrar-
se na interacção que os indivíduos estabelecem entre si e não em
aspectos tais como a economia, política, etc; visto que acção
individual coexiste com a colectiva interactuando sobre a sociedade
toda.
Sociologia Geral Código: A0017 55

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Define o conceito de mudança social ?


Resposta: podemos definir a mudança social como sendo um processo de
alteração das estrutura básicas que compõem um grupo social ou a
sociedade como um todo.
2- Indique os precursores da mudança social que estudou?
Resposta: os precursores da mudança social que estudamos são: Auguste
Comte, Herbert Spencer e Karl Marx.
3- Quais as teorias sobre mudança social que conhece?
Resposta: as teorias sobre mudança social que conheço são:
evolucionismo de Talcott Parsons, teoria de Grupos de Interesse,
Conflitos Sociais e Mudança Social, teoria Endogenistas e Exogenistas; e
a teoria de Individualismo Metodológico sobre mudança social.
Sociologia Geral Código: A0017 56

Unidade N0 12-A0017
Tema: Desvio e Controlo Social
Introdução
Falar de desvio social, é essencialmente fazer referência a determinadas
práticas sociais que se manifestam em toda e qualquer sociedade,
representando comportamento contrário as normas sociais.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Perceber o conceito de Desvio Social e Controlo Social.


Objectivos  Identificar algumas teorias sobre o Desvio Social e Controlo Social

Sumário

Desvio Social e Controlo Social

O estudo sobre o fenómeno do desvio social, historicamente tem o


seu início no século XIX na Europa e América, sobretudo em
grandes centros urbanos em que se manifestavam problemas tais
como o da marginalidade e pobreza urbana. Foram estas questões
que despertaram o interesse súbito de vários investigadores por
forma a melhor entender e explicar esta problemática e acima de
tudo tentar sugerir formas de atenuação, eliminação e controle do
mesmo.
Em geral é impossível falar-se de desvio sem fazer referência ao
controlo social, visto serem estes termos indissociáveis. Desvio
social refere-se a condutas individuais ou colectivas que vão
contra/transgridem as normas de determinada sociedade ou grupo
social. Portanto, tem a ver com não cumprimento ou falha na
conformidade com as normas sociais, que obviamente representam
obrigações sociais, que tem por fim último regrar a sociedade e
garantir o controlo social; por forma a que cada um dos indivíduos
actue dentro de um quadro previamente delineado.
Neste sentido, um comportamento só pode ser tido como desviante
em relação a uma sociedade, pois que é esta que dita as normas de
comportamento aceitáveis e bem como os comportamentos não
aceitáveis para indivíduos e grupos sociais. O desvio social que é
Sociologia Geral Código: A0017 57

correlativo do controlo social, é um fenómeno que resulta de uma


situação de definição e classificação social, visto ser a sociedade
que em cada momento vai ditar os comportamentos aceites ou não,
cabendo aos indivíduos e grupos portarem-se segundo a norma
social em cada contexto.
Um aspecto interessante a ter em conta no desvio social é que ele é
paradoxalmente uma questão de conformidade, pois que os
comportamentos são adquiridos em sociedade numa base
interactiva, pelo que um comportamento desviante na sociedade
pode equivaler a um comportamento normal num grupo social em
que o indivíduo queira fazer parte ou pertença. Por exemplo o
consumo de drogas é um comportamento desviante na sociedade
moçambicana, mais entre os drogados este acto corresponde a
normalidade dentro do próprio grupo.
Por sua vez o controlo social pode ser definido em duas
perspectivas diferentes, sendo no sentido restrito e alargado. No
Restrito podemos ver como sendo um conjunto de mecanismos de
monitoria da acção do indivíduo e as sanções boas e más que
servem para reforçar o comportamento individual; ou seja, é
conjunto de mecanismos normativos que asseguram a
conformidade de comportamento as normas sociais. O sentido
Alargado é completar do anterior e se mostra como um meio de
socialização e internalização das normas e valores socioculturais.
Portanto, o controlo tem a dimensão interna e antecipadora, visto
ser junção de meios de socialização, monitoria e sanção de
comportamento.
Assim, o desvio e controlo social são práticas universais no sentido
de estarem existir em toda e qualquer sociedade. Contudo, o
comportamento desviante não o mesmo em todas sociedades e
nem mesmo dentro da mesma sociedade em tempos diferentes,
visto que este resulta de um processo de classificação social. Ele
varia de conteúdo e de forma de acordo com cada sociedade.

Teorias sobre Desvio e Controlo Social

Émile Durkheim e a Génese da Teoria do Desvio e Controlo


Social
Foi um dos pioneiros no estudo desta problemática social, isto
pode-se depreender a partir dos seus inúmeros estudos
sociológicos. Um dos pensamentos trazidos por Durkheim era que
o crime era algo universal, sendo que estava presente em toda e
qualquer sociedade, para além de que era algo útil e necessário. A
partir do seu pensamento vemos que o crime representa uma forma
de desvio social, cuja sua classificação como tal varia segundo tipo
de sociedade e época. De igual modo é uma forma de controlo
social, pois que quando atingisse certa taxa o mesmo era
Sociologia Geral Código: A0017 58

sancionado e este acto sancionatório representa a forma como a


consciência colectiva exerce uma pressão no sentido de ditar as
regras de conduta a consciência individual e por esta via controlar
indivíduo e a sociedade.
Na sua obra a Divisão do Trabalho Social, o autor realça o facto do
desvio social ser classificado de acordo com tipo de solidariedade
existente em cada sociedade. Nas de solidariedade mecânica, a
consciência colectiva exerce um controlo directo e total sobre a
consciência individual, pelo que todo desvio era automaticamente
sancionado por uma força constrangedora, sendo o direito
repreensivo a forma concreta de controlo social. A solidariedade
orgânica por sua vez através do direito restitutivo persuadia os
indivíduos a reparem os seus desvios, por forma a não colocar em
causa a funcionamento e estabilidade da sociedade através da
divisão do trabalho.

Desvio e Controlo Social na perspectiva da Escola de Chicago


Esta escola buscou analisar fenómeno da marginalidade,
criminalidade, exclusão social, entre outros que surgiram nos
principais centros urbanos em resultado das migrações dado nível
de desenvolvimento industrial nessas cidades. Um dos maiores
preponentes desta teoria Robert Park defendia que era útil
investigar formas de erradicação da delinquência, pobreza,
alcoolismo, segregação social e crime que afectavam Chicago.
Seu pressuposto era que o desvio social resultava
fundamentalmente da socialização, que nas cidades assentava numa
base secundária e não primária (que de facto são mais eficientes no
controlo social, garantem boa socialização e a coesão social).
Assim, era necessário que esta socialização secundária evoluísse
para uma acção organizada e acima de tudo comunicacional que
garantisse integração dos indivíduos.
Ernest Burgess, igualmente influente nesta escola considerava que
desenvolvimento industrial criava uma distribuição social e
espacial que por sua vez degenerava em profundos problemas
sociais. As cidades criavam áreas urbanas ecologicamente
diferentes, e era na zona reservada aos operários em que surgiam os
fenómenos sociais mais negativos. Era a segregação social que
gerava o desvio, pois que este grupo social não podia se constituir
num nicho de identidade comunicacional com outros grupos
vizinhos. Os efeitos perversos da mobilidade social originavam
necessariamente comportamentos desviantes. Assim, o desvio
resultava da expansão e diferenciação do processo de socialização
entre indivíduos e grupos nas cidades.
Sociologia Geral Código: A0017 59

Anomia, Desvio e Controlo Social em Robert Merton


Pode-se enquadrar seu pensamento numa perspectiva funcionalista.
Busca o conceito de anomia de Durkheim e reformula o mesmo na
sua análise da sociedade, considerando que anomia gerava um
problema interminável nas aspirações individuais, e que esta
resultava das contradições existentes entre aspirações individuais
inscritas na matriz cultural e as desigualdades na própria estrutura
social. Portanto, Merton diz que são as aspirações individuais que
criam a desregulação social e nunca o contrário, sendo que tais
aspirações eram dadas pela matriz cultural.
Analisando a sociedade americana, Merton diz que o desvio social
resulta duma contradição básica entre o ideal de vida que esta dita
para todos indivíduos e as possibilidades de realização destes
legalmente só existia para alguns, daí que os indivíduos acabam
tendo condutas desviantes, como forma de alcançar o ideal de vida
defendido pela sociedade sem se preocupar com os meios usados
para tal.
A transgressão dos meios institucionais de controlo social dos
comportamentos, teria a ver com a necessidade de se alcançar as
metas de vida para cada indivíduo defendida pela sociedade como
sendo a melhor. Quer isto dizer que o indivíduo escapava ao
controlo social para poder cumprir com a norma criada pela própria
sociedade.

Teoria da Rotulagem
Esta abordagem apresenta uma perspectiva diferente, em que
inverte claramente a relação de causa e efeito do desvio e controlo
social, considerando que era o controlo social a causa fundamental
do comportamento desviante e não o contrário. O desvio nesta
perspectiva resulta de um processo de interacção social entre
indivíduos considerados desviantes e não desviantes, em que cada
um destes atribui sentido a sua acção a dos demais participando
juntamente na construção do mundo social desviante. Diante de
uma situação de controlo social que os estigmatiza e rotula
negativamente, os ditos desviantes acabam criando espaços sociais
de identidade tanto pessoal como colectiva.
São os meios de controlo social que tem a capacidade fazer com
que os indivíduos mudem, levando-os a assumirem uma identidade
tida como desviante. Um dos maiores preponentes desta teoria é
certamente Erving Goffman que considera que é o controlo social é
causa do desvio social, a partir do estudo que fez em instituições
sociais totais tais como prisões, asilos, etc, onde o autor observa
que dado o controlo existente num asilo gera-se necessariamente
um comportamento desviante estereotipado. A separação que estes
estabelecimentos fazem dos desviantes aos retirar da sociedade
global, acaba reprimindo e degradando os indivíduos, ao invés de
os reabilitar.
Sociologia Geral Código: A0017 60

Assim, o desvio acaba resultando das regras de controlo social


então impostas e resultantes da interacção entre controladores e
controlados em que os últimos são obrigados a ajustarem-se a uma
diversidade de circunstâncias negativas criadas nesta interacção. A
mesma percepção este autor usou para falar do estigma como um
dos aspectos que cria o desvio, tendo em conta o rótulo que se cria
a volta de pessoas tais como deficientes na relação com os ditos
normais.

Teoria de Análise Estratégica


Tal como nome sugere, o desvio social é visto como um fenómeno
que resulta de um processo de ponderação relativamente aos
vantagens e desvantagens deste acto. Neste sentido, o desvio
resulta de uma avaliação que os indivíduos fazem sobre a lógica
custos de oportunidade. Por exemplo, para poder praticar o furto, o
ladrão avalia as vantagens do que irá furtar e meios necessários
para tal, sendo que no fim do acto os fins deverão superar os meios
usados. Quer isto dizer que o desvio é puramente um acto racional,
em que se equacionam os meios e fins.
Um aspecto importante a ter em conta segundo os preponentes
desta teoria, é o facto de que esta racionalidade do desviante não
pode ser vista como sendo absoluta, uma vez que nem todo
indivíduo ou grupo tem inteligência suficiente para fazer esta
equação nos moldes ideais, sendo que é possível um desviante
incorrer em actos em que cujos meios sejam maiores em relação
aos benefícios; além do elemento incerteza que está presente em
toda e qualquer situação e que desviante não tem sobre ela qualquer
controle.
Portanto, esta teoria mostra que essencialmente o desviante detém a
capacidade de pensar de modo racional por forma a avaliar,
adaptar-se a situações em que sua acção tem lugar, seleccionando
os meios que lhe permitam alcançar os seus objectivos sem grandes
riscos.
Sociologia Geral Código: A0017 61

Exercícios

Auto-avaliação 1 – De forma clara define o conceito de desvio social?


Resposta: pode-se definir o Desvio social como sendo condutas
individuais ou colectivas que vão contra/transgridem as normas de
determinada sociedade ou grupo social.
2- Indique as teorias sobre desvio e controlo social que estudou?
Resposta: as teorias sobre desvio e controlo social são: teoria de
rotulagem, análise estratégica, anomia, desvio e controlo de Merton,
desvio e controlo social da Escola de Chicago, e a de Émile Durkheim
sobre a génese do Desvio e Controlo Social.
Sociologia Geral Código: A0017 62

Unidade N0 13-A0017
Tema: Movimentos Sociais
Introdução
Apesar de ser uma realidade com uma existência secular na sociedade, só
nos últimos tempos é que esta questão passou a fazer parte dos estudos
sociológicos e não só. Regra geral, os estudos sobre esta problemática
limitavam-se a questão dos movimentos operários que historicamente
tiveram uma grande visibilidade relativamente aos demais movimentos
com um impacto social enorme que despertasse este interesse.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Definir o conceito de movimento social


Objectivos  Perceber posições de alguns autores sobre esta problemática.

Sumário

Movimentos Sociais

Após a segunda Guerra Mundial, agudizaram-se os conflitos


sociais, criando deste modo espaço para o advento de grupos
sociais e bem como a reestruturação dos já existentes a partir de
novos valores e ideologias dos mesmos, pelo que houve uma
necessidade de se alargar o campo de análise destes movimentos
para outros campos que não fossem somente o dos operários.

As dinâmicas ou factores que explicam a constituição e


funcionamento dos movimentos sociais, tende obviamente a ser
diferente ao longo dos tempos e sociedades, pelo que a sua
compreensão implica uma incursão no interior destes e da
sociedade em geral (tendo em conta que eles se estruturam em
função da dinâmica social) para a partir daqui podermos
caracterizá-lo objectivamente. As mudanças socioestruturais e
socioculturais e sociopolíticas igualmente afectam a composição
destes grupos, formas de actuação, objectivos perseguidos ao longo
dos tempos; entre outras questões.
Sociologia Geral Código: A0017 63

De forma geral, podemos ver o movimento social como sendo a


expressão conjugada de esforços individuais que visam o usufruto
de bens colectivos, pelo que normalmente existe uma suposta
racionalização na sua utilização. Podemos então definir
objectivamente estes como sendo uma “acção ou agitação
concentrada, com algum grau de continuidade de um grupo, que
plena ou vagamente organizado, está unido por aspirações mais ou
menos concretas, segue um plano traçado, orienta-se para uma
mudança das formas ou instituições da sociedade existentes (ou um
contra ataque em defesas dessas instituições”. (Neuman, op cit In:
Osborne, pp. 34)

Abordagens Sobre Movimentos Sociais

Tal como vimos anteriormente os movimentos sociais representam


um grupo que age de forma organizada ou não visando a busca de
satisfação de certos objectivos colectivos. As suas acções podem
ser dirigidas a determinadas instituições e bem como a própria
sociedade como um todo, o que pode levar a alteração da estrutura
social em si. Sendo assim, estes vão ter motivações, formas de
composição e actuações diferentes ao longo dos tempos, tendo em
conta a própria dinâmica social; daí que mostra pertinente buscar
algumas das abordagens dos vários autores a volta desta questão.

Gustave Le Bon: O Comportamento das Multidões

Segundo este autor, a análise dos movimentos sociais durante a


evolução da sociedade industrial teve como conceito explicativo
chave o de comportamento colectivo, e só mais tarde é que se
percebeu que estes representavam a expressão de uma acção
puramente social. Este autor receava que as acções dos movimentos
sociais que surgiam repentinamente e de forma violenta, criando
instabilidade das estruturas e instituições punham em causa a
própria civilização.

No seu entender as multidões movem-se por uma moral destrutiva


e ânsia de poder, sendo que seu modo de pensar resultava de um
contágio de uma força psicológica irracional. Assim, o
comportamento colectivo tinha características específicas, diferindo
das acções das instituições e indivíduos que seguem padrões da
civilização. Os movimentos sociais faziam com que os indivíduos
deixassem de lado a razão e a personalidade nas suas acções, pelo
que via-se homens e mulheres, adultos e jovens, ricos e pobres
agindo de mesmo modo.

Sua forma de pensar revela uma oposição a mudança e ascensão


social por parte dos operários a favor de uma aristocracia
tradicional.
Sociologia Geral Código: A0017 64

Robert Park e As Bases Sociais do Comportamento Colectivo

Sempre buscou entender os fenómenos sociais resultantes da


industrialização e urbanização nas cidades, daí considerar que os
conflitos eram então como normais (dado estilo de vida nas cidades
que se baseiam em laços impessoais e racionais), e originavam
formas comportamentais peculiares. Os comportamentos colectivos
resultavam infalivelmente na criação de sínteses sociais
integradores, resumindo-se a um processo social que se dá em 3
fases interdependentes: agitação social, estruturação do
movimento e adaptação e transformação das instituições.

Park diz que acção colectiva começa sempre por agitação social em
que os processos de mudança social são caracterizados pelo
conflito, sendo que o papel das instituições sociais é o de regular
estes; e na incapacidade de o fazerem surgem formas alternativas
de comportamento social. Posteriormente temos a estruturação, em
que o comportamento alternativo passa a ser um movimentos de
massa, que tanto pode circunscrever-se a um grupo ou quase
totalidade da sociedade; cuja contestação pode ser violenta ou
pacífica.

Segue-se a fase de adaptação e transformação em que os


movimentos estão sujeitos a duas situações, sendo uma em que o
conflito se institucionaliza e a segunda em que integra-se e
controla-se o comportamento colectivo por forma a estar em
consonância com as razões que ditaram o conflito; pelo que o
comportamento colectivo passa a estar de acordo com parâmetros
do grupo. Portanto, o comportamento colectivo seria algo com
motivações racionais e naturais, por ser criado dentro de um
contexto por autores sociais que se organizam e estruturam sua
acção de modo consequente e tendo em conta certos objectivos.

Herbert Blumer: Uma Visão Interaccionista do


Comportamento Colectivo

Este autor considera que a acção colectiva tem em vista o


estabelecimento de uma nova ordem de vida e da realidade social,
que tem a ver com formas de pensar e sentir dos indivíduos, dando
sentido as condutas colectivas. Ele diz que as sociedades industriais
eram marcadas por lutas de interesses que geravam conflitos pelo
poder. Que a indústria deveria ser vista a partir destas lutas e as
manifestações industriais assemelhavam-se a uma estrutura neutral
a partir da qual os grupos atribuíam sentido as relações industriais.

Um ponto trazido pelo autor tem a ver com facto de localizar o


conflito de interesses na industrialização como circunscrito a nove
áreas concretas nomeadamente: estrutura de ocupações e posições,
preenchimento de ocupações, emprego e posições, novo arranjo
ecológico, regime de trabalho industrial, nova estrutura de relações
Sociologia Geral Código: A0017 65

sociais, novos interesses e os novos grupos de interesse, relações


monetárias e contratuais, produção de mercadorias e modelo de
rendimento do pessoal industrial.

A partir da estrutura de ocupações e posições surgiam novas


modalidades de acção pelo que empresários, quadros técnicos,
empregados de escritórios e operários enquadravam-se em
estruturas profissionais diferentes e hierárquicas. Por conseguinte
cada uma das classes originava rendimentos, autoridade, poder e
prestígio desiguais; o que tinha como resultado óbvio a
estratificação social.

Embora haja uma estrutura de ocupações e posições, seu


preenchimento como tal depende de requisitos impostos pela
sociedade. Assim, nem todos podem obter o trabalho e posição que
desejam, visto que os níveis de autoridade e prestígio hierárquico
são obviamente desiguais, existindo factores que levam os
indivíduos a competirem e defenderem os seus interesses próprios.
De acordo com o autor, a estrutura industrial faz com que os
actores sociais detenham uma grande mobilidade social.

A mobilidade social dos indivíduos fazia com que os actores


sociais pudessem deter uma mobilidade social que levasse a uma
distribuição espacial da população nas cidades e obviamente novos
arranjos ecológicos. O novo regime de trabalho e a nova estrutura
de relações sociais surgem intimamente ligados aos novos grupos
de interesse que criam imagens e atitudes específicas, dando
origem a uma rede de relações sociais. Para o autor, é a
multiplicidade de elementos estruturais resultantes do processo de
industrialização que surgem diferentes formas de comportamento
colectivo, pois que estando diante de múltiplas situações de
interacção e interpretação os indivíduos criam formas de acção
colectiva.
Sociologia Geral Código: A0017 66

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Define conceito de movimento sociais?


Resposta: pode-se definir movimento social como sendo a acção ou
agitação concentrada, com algum grau de continuidade de um grupo, que
plena ou vagamente organizado, está unido por aspirações mais ou menos
concretas, segue um plano traçado, orienta-se para uma mudança das
formas ou instituições da sociedade existentes (ou um contra ataque em
defesas dessas instituições.
2- Indique as teorias principais sobre movimentos sociais.
Resposta: as principais teorias sobre movimentos sociais são: visão
interaccionista do comportamento colectivo, Bases sociais do
comportamento colectivo e Comportamento das multidões.
Sociologia Geral Código: A0017 67

Unidade N0 14-A0017
Tema: O Processo de
Socialização
Introdução
Falar da socialização, significa ter em conta uma das práticas sociais
presentes em toda e qualquer sociedade e dotada de uma importância
peculiar, por quanto ela representa o processo através do qual os
membros de uma sociedade se constituem como tal. Simboliza um
mecanismo de divisão de papéis sociais e formas de comportamento
específicas entre os seus membros.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Definir o conceito de Socialização,


Objectivos  Identificar as principais formas ou tipos de Socialização e as
instituições responsáveis por estas.

Sumário
Socialização

Existem diferentes definições a volta deste conceito, quer seja nas


ciências sociais e outras ciências, pelo que quando o abordamos devemos
ter o cuidado de olhar o contexto em causa. Assim, na Sociologia e outras
ciências sociais o termo encontra-se bastante interligado a relação entre
individuo e sociedade, uma vez ser este um processo considerado
fundamental e determinante em qualquer sociedade, por esta considerar
que os seus devem necessariamente passar por este processo por forma a
adquirirem uma identidade social e bem como pessoal do individuo.
Por ser um processo social de extrema importância para a sociedade, ao
qual todo e qualquer indivíduo deve necessariamente passar por ele ao
longo da sua vida, a mesma ocorrem em diferentes instituições sociais,
possuindo formas diferentes. Este termo tem sido definido como
sinonimo de educação por alguns autores, tendo em conta os seus
objectivos, tais como Durkheim entre outros que dizem que através deste
processo a sociedade exerce uma acção sobre os seus membros mais
novos, que consideram ainda não terem desenvolvido um conjunto de
estágios físicos, intelectuais e morais considerados necessários pela
sociedade.
Rocher, diz que a socialização pode ser vista como sendo “um
processo pelo qual ao longo da vida a pessoa humana aprende e
Sociologia Geral Código: A0017 68

interioriza os elementos sócio-culturais do seu meio, integrando-os


na estrutura da sua personalidade sob a influência de experiências
de agentes sociais significativos, adaptando-se assim ao ambiente
social em que deve viver.”(Rocher; op cit In: Osborne; 2006; pp-
44). a partir desta definicao de abordagens de outros autores vemos
que este processo implica assimilacao de habitos caracteristicos do
seu grupo social, em que o individuo passa a membro funcional de
sua comunidade, adoptando conduta da sua cultura.

Assim, podemos definir a socializacao como sendo um processo


atraves do qual o individuo se intergra no seu grupo de pertenca,
adoptando habitos e costumes proprios deste, por forma a
desenvolver a sua personalidade e ser aceite como membro de
facto do grupo. Ele inicia com nascimento e termina com a morte,
posto que durante a vida como actores sociais estamos constantemente a
aprendendo. Inicialmente ele depende da imitação de papéis junto de
pessoas significativas e próximas, para mais tarde implicar uma
assimilação voluntaria.

Tipos e Instituições de Socialização


A socialização por ser um processo que se da em fazes ou etapas, tendo
em vista a integração dos sujeitos nos grupos de pertença, esta realiza-se
em instituições especificas, que a sociedade reconhece como tendo um
papel efectivo ao longo deste processo. Assim, encontramos dois grandes
tipos de socialização, sendo a primaria e a secundaria. Socialização
Primaria aquela em que a criança aprende e interioriza as regras básicas
e modelos comportamentais do seu grupo social. É a partir desta que o
sujeito faz a construção primeira do mundo a sua volta. Esta forma surge
como bastante significativa para o indivíduo e realiza-se normalmente na
família e outras instituições próximas desta.

Socialização Secundaria, como nome diz, esta surge como um processo


subsequente ao primário, em que o indivíduo já socializado é integrado
em outros espaços na sua sociedade ou não. Ela ocorre na escola, igreja,
grupo de amigos, local de trabalho, entre outros do qual o indivíduo não
seja parte integrante objectivamente, pois que o grupo tem determinadas
expectativas sobre os seus membros em cada um destes espaços, em
função do papel social que ele desempenha nestes.

Portanto, a partir dos tipos ou formas de socialização encontramos


igualmente diferentes instituições responsáveis por esta tais como a
família, a escola, igreja, grupos de amigos, local de trabalho, entre outros.
Sociologia Geral Código: A0017 69

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Define conceito de socialização?


Resposta: definimos a socialização como um processo atraves do qual
o individuo se intergra no seu grupo de pertenca, adoptando habitos
e costumes proprios deste, por forma a desenvolver a sua
personalidade e ser aceite como membro de facto do grupo.
2- Define os tipos de socialização e respectivas instituições responsáveis?
Resposta: S. Primaria em que a criança aprende e interioriza as regras
básicas e modelos comportamentais do seu grupo social, e a partir desta
faz a construção primeira do mundo a sua volta. Ela ocorre na família. S.
Secundaria, processo em que o indivíduo já socializado é integrado em
outros espaços na sua sociedade ou não. Ela ocorre na escola, igreja,
grupo de amigos, local de trabalho, entre outros.
Sociologia Geral Código: A0017 70

Unidade N0 15-A0017
Tema: O Processo de
Globalização e Desigualdades
Sociais
Introdução
Um dos fenómenos característicos das sociedades contemporâneas é sem
dúvidas a globalização, que como sabemos tem suscitado diferentes
debates a sua volta, tendo em conta o entendimento que os indivíduos e
sociedades possuem. Neste sentido, encontramos abordagens que
defendem que este processo representa uma mais-valia dado o facto de
ligar indivíduos de países diferentes, integrar as economias e mercados
nacionais num único mercado e daqui as vantagens no processo de trocas,
etc. Igualmente, temos autores que consideram que como algo nefasto
pelos enormes impactos negativos que trás, sobretudo para as pequenas
nações, acelerando ainda mais o hiato entre países e grupos sociais e
indivíduos.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Definir o conceito de Globalização,


Objectivos  Articular este processo ao fenómeno de desigualdade social.

Sumário

Globalização

No actualidade não encontramos uma sociedade que seja fechada


em si sob ponto de vista social, cultural, politico, economico, etc.
Portanto, esta nova realidade serviu e serve para aproximar as
nacoes nos mais diferentes aspectos contrariamente ao que era
pratica num passado recente. Por ser um processo aparentemente
novo e bastante dinamico, tem criado alteracoes rapidas em
determinadas estruturas, que por sua vez se fazem sentir em
diferentes campos e com amplitudes diferentes, apesar da origem
poder ser exterior a este.
Sociologia Geral Código: A0017 71

Em termos historicos este iniciou-se há já algum tempo, sendo que


so por volta dos anos 90 é que se impos como algo de dimensao
mundial, devido ao impacto dos meios tecnologicos de informatica
e de telecomunicacoes em paises como Inglaterra e EUA.

Não existe uma definição única deste processo, podendo variar em função
da abordagem de cada autor, havendo quem enfatiza a componente
monetária/financeira que em grande medida marca este, enquanto que
outros olham para a questão da quase uniformização dos padrões
culturais que vem ocorrendo um pouco por toda a parte, e bem como
rápida difusão de um volume enorme de informação pelos meios de
comunicação.

Portanto, grande parte dos autores prefere ver a globalização não como
um conceito em si, mais sim olhando para aquilo que são os traços
característicos deste processo. Assim, esta surge como “um processo de
aprofundamento da integração económica, social, cultural, política e
espacial que transforma o mundo numa aldeia global com ganhos para
as nações. Caracteriza-se por: homogeneização dos centros urbanos,
revolução tecnológica nas comunicações, reorganização geopolítica do
mundo em blocos comerciais e não ideológicos, hibridação entre
culturas populares locais e uma cultura de massas supostamente
universal”. (Negri; sem data; pp. 2)

Tendo em conta a abordagem sociológica que marca este trabalho,


optamos em adoptar a abordagem de Giddens que olha a globalização
como sendo “intensificação das relações sociais em escala mundial, que
ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são
modelados por eventos ocorrendo muitas milhas de distância e vice-
versa.” (Giddens, 1990; 60)

Impacto da Globalização nas Desigualdades Sociais

É facto que o processo de globalização tem um grande impacto em vários


domínios da vida quer seja político, económico, religioso, cultural e
social tanto sobre os países e bem como indivíduos. Tais impacto tanto
podem ser positivos e negativos dependendo da situação concreta, pois
trata-se de um fenómeno complexo e multifacetado. As várias abordagens
a volta deste processo tem se centrado na vertente económica, ou seja,
olhando apenas o mesmo sobre ponto de vista das trocas comerciais entre
nações e indivíduos se esquecendo do facto de que a economia está
directamente ligada a outros campos da vida e que por conseguinte acaba
tendo impacto forte sobre tais campos.

Este representa interesses específicos de grupos sociais ou indivíduos,


que obviamente são opostos e criam conflitos de vária natureza,
estruturando os grupos em dominantes e dominados. Assim, uma das
consequências negativas deste processo e que tem sido discutido por
vários pensadores tem a ver com desigualdades sociais que tendem a
agudizar-se cada vez mais, sobretudo em países subdesenvolvidos que
não possuem capacidades de disputar em pé de igualdade com países
economicamente mais fortes.
Sociologia Geral Código: A0017 72

O desenvolvimento económico de determinadas empresas sobretudo as


multinacionais, tem servido para formar grupos ou classes sociais ou
mesmo diferenciações sociais entre indivíduos e estratificar cada vez as
sociedades. A heterogeneização social torna-se uma característica social
marcante das sociedades, sobretudo em países subdesenvolvidos. Grosso
dos países subdesenvolvidos são constituídos maioritariamente por uma
população de muito pobres e poucos ricos, o que de algum modo explica
o surgimento de convulsões sociais, pois as expectativas de um bem-estar
social são restringidas a maioria.

A expansão dos mercados globais tem servido para que um grupo restrito
possa aceder a mais mercados e por conseguinte adquirir mais riqueza. A
liberalização da economia por parte dos governos em países
subdesenvolvidos contribui para aumento das desigualdades sociais, visto
que nem todos tem poder de compra. A redução de postos de emprego em
alguns países tem servido para criar cada vez mais pobres e por esta via a
diferenciação social entre ricos e pobres.

A par deste processo observamos também a exclusão social e a


segmentação social e cultural, tendo em conta que existe tendência de
assimilar-se hábitos e costumes de outros contextos, que só podem ser
adquiridos por uma parte da população dado seu poder de conta.
Portanto, as possibilidades reais de consumo dos indivíduos e grupos
contribui para aumento da desigualdade social. A disparidade entre os
países desenvolvidos e subdesenvolvidos é tal que nos dias actuais
notamos um maior fosso entre ricos e pobres, agudizando cada vez mais
as desigualdades sociais.

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Define conceito de globalização?


Resposta: definimos a globalização como a intensificação das relações
sociais em escala mundial, ligando localidades distantes de modo que
acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo muitas
milhas de distância e vice-versa.
2- Aponte algumas dos impactos da globalização sobre as desigualdades
sociais?
Resposta: podemos apontar como alguns dos impactos da globalização
sobre as desigualdades sociais tem a ver com aumento da diferenciação
social entre ricos e pobres, a exclusão de indivíduos e grupos no acesso a
bens e serviços, surgimento de focos de tensão social entre os pobres pelo
acesso limitado as vantagens sociais.
Sociologia Geral Código: A0017 73

Unidade N0 16-A0017
Tema: Crime como Facto Social
Introdução
Não existe sociedade no mundo em que a questão do crime não seja tema
de debate pelos mais variados motivos ao longo do tempo. Entanto que
facto o crime tem um historial de surgimento que transcende as mais
variadas abordagens, e dado seu impacto o crime tem merecido atenções
de governos e população em geral.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Perceber historial do estudo do crime


Objectivos  Definir o conceito de crime,

Sumário
Crime

O crime é algo que podemos encontrar em toda e qualquer sociedade no


mundo, sendo que a diferença está no facto de que o mesmo apresenta
uma morfologia que varia segundo a sociedade e tempo concreto.
Vários são os pensadores que se tem debruçado a volta desta questão
tanto dentro e fora da Sociologia. Efectivamente, as abordagens sobre o
crime iniciaram a já bastante tempo o que deu origem a criminologia que
é vista como sendo a ciência que se ocupa do estudo científico do crime,
buscando perceber aspectos tais como suas causas, as vítimas, controle
social sobre o acto considerado criminoso, a personalidade criminosa e
bem como as formas de ressocializar o criminoso.

Entanto que área de conhecimento a criminologia é uma disciplina


interdisciplinar, visto que se apoia em outras disciplinas tais como
Biologia, Sociologia, Antropologia, Política, Direito, entre outras que lhe
sejam úteis. A criminologia pode então ser dividida em escolas tais como
a Clássica que figurou durante o século XVIII tendo como um dos
expoentes máximos Beccaria, escola Positiva no séc. XIX tendo
Lombroso como expoente máximo e escola Sociológica já no final do
séc. XIX. Portanto, estas escolas tem sido divididas em dois grandes
grupos sendo a criminologia Tradicional que abarca as duas primeiras
escolas, e criminologia Nova ou Crítica.

A Tradicional nas suas abordagens sobre o crime apenas se interessava


sobre as suas eventuais causas, sendo que regra geral essas eram
identificadas como estando apenas ligadas ao próprio indivíduo, tal como
Sociologia Geral Código: A0017 74

considerava Lombroso que criminoso era um ser delinquente por natureza


e a partir de certos traços físicos tais como: formato da testa, tamanho das
mãos, ombros, orelhas, etc. podia-se identificar o criminoso. Assim, a
pena era algo ineficaz, porque crime era congénito aos criminosos que
eram pessoas doentes/delinquentes que necessitavam de tratamento.
Deste modo, crime era visto como um problema biológico e individual.

A Crítica ou Nova, olha que crime numa perspectiva relativamente


diferente, considerando que este não é algo intrínseco ao indivíduo, mais
pelo contrário como ligado a vários elementos tais como o meio social
em que ele se encontra inserido e por outro lado o próprio indivíduo.
“...por sua vez, busca as causas do crime na sociedade. O crime é
analisado como um fenómeno colectivo, sujeito às leis do determinismo
sociológico e, por isso, previsível. A sociedade contém em si os germes
de todos os crimes. O criminoso é mero instrumento no comportamento
criminoso. A solução para o problema do crime está na reforma das
estruturas sociais.”(Filho; 2000, pp. 2).

Etimologicamente a palavra crime deriva do latim crimino que significa


crime, que por sua vez seria uma transgressão de algo prescrito pela lei
ou na moral de uma sociedade ou grupo social; ou seja, seria não
cumprimento de um dever. Durkheim, um dos sociólogos mais
proeminente considerava o crime como um facto social e algo universal,
pois existia em toda e qualquer sociedade independentemente da sua
dimensão (pequena ou grande). Para o autor, existem sociedades de
solidariedade mecânica e de solidariedade orgânica, perfazendo tipos
distintos. Numa os indivíduos tendem a ser semelhantes e quase não há
divisão social do trabalho, enquanto que na outra é exactamente o oposto.

Nas sociedades de solidariedade mecânica a coesão social tende a ser


maior pois que os indivíduos se identificam a partir da família,
vizinhança, religião, etc.; pois perfazem sociedades pré capitalistas. Aqui
a consciência colectiva é bastante forte e extremamente coerciva,
havendo por conseguinte maior controlo sobre o indivíduo directamente.
Em contraposição nas sociedades de solidariedade orgânica há divisão e
especialização do trabalho e independência dos indivíduos. A coesão
social é mantida exactamente pela divisão do trabalho e não pela
imposição ou coesão da consciência colectiva que já não bastante forte.

O autor faz uma analogia com organismos vivos em que cada órgão
desempenha uma função específica e deste modo contribui para o pleno
funcionamento do todo.
Crime, é para o autor todo e qualquer acto que ofende os estados fortes e
definidos da consciência colectiva. É algo útil e necessário pois que
mostra que consciência colectiva se sobreponha a consciência individual
e que mesmo assim, a individual consegue escapar a este controle e
praticar o crime.

Quando assim acontece, a sociedade penaliza o infractor como forma de


mostrar que ninguém deve se opor a consciência colectiva por esta
representar a vontade de toda sociedade que não deve ser violada. É
necessário para alterar os valores morais e sociais existentes na
sociedade. “...Podemos resumindo a análise que precede dizer que um
Sociologia Geral Código: A0017 75

acto é criminoso quando ofende os estados fortes e definidos da


consciência colectiva.,...ou seja, uma acção é considerada criminosa
porque ofende a consciência colectiva e não que a consciência colectiva
se sinta ofendida pelo acto ser criminoso,...o crime é portanto necessário,
está ligado as condições fundamentais de qualquer vida social e
precisamente por isso, é útil porque estas condições a que está ligado são
indispensáveis para evolução normal da moral e do direito.” (Durkheim,
op.Cit. IN: Fabreti; 2002 pp- 17-20)

Este ponto de Durkheim é importante por nos mostrar que não existe
crime em si, e muito menos que crime seja mesmo em toda e qualquer
sociedade e tempo, porque todo acto é assim considerado quando a
própria sociedade assim categorizar. Portanto, tendo em conta os pontos
apresentados acima podemos então definir o crime como sendo todo e
qualquer acto que implica violação normas ou deveres existentes numa
sociedade, ou seja, é toda e qualquer acção contrária ao valores
definidos por um grupo social como prática a seguir pelos seus
membros. O crime não é definido como tal tendo em conta cada
sociedade concreta, daí que embora exista em toda e qualquer sociedade
não é categorizado da mesma forma para os mesmos actos.

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Define conceito de crime?


Resposta: podemos então definir o crime como sendo todo e qualquer
acto que implica violação normas ou deveres existentes numa sociedade,
ou seja, é toda e qualquer acção contrária ao valores definidos por um
grupo social como prática a seguir pelos seus membros.
2- Identifica e explique as abordagens sobre criminologia?
Resposta: encontramos duas abordagens fundamentais sendo a
criminologia Tradicional que nas suas abordagens ao crime apenas se
interessava sobre as suas eventuais causas, sendo que regra geral tais
causas eram identificadas como estando apenas ligadas ao próprio
indivíduo. Criminologia Nova ou Crítica olha crime numa perspectiva
relativamente diferente, considerando que este não é algo intrínseco ao
indivíduo, mais pelo contrário está ligado a vários elementos tais como o
meio social em que ele se encontra inserido e por outro lado o próprio
indivíduo.
Sociologia Geral Código: A0017 76

Unidade N0 17-A0017
Tema: Determinantes da
Criminalidade
Introdução
Já vimos em Durkheim e outros pensadores que o crime é um fenómeno
em toda e qualquer sociedade, embora os actos considerados como tal
variem de uma sociedade a outra, pois que um acto considerado crime
num contexto pode não o ser num outro. Deste modo, na análise do crime
em cada contexto as causas do mesmo não podem de modo algum serem
as mesmas, visto que a sociedade é dinâmica. Portanto, dentro de uma
mesma sociedade um acto hoje considerado crime poderá não o ser
transcorrido um certo período.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Identificar as determinantes da criminalidade e algumas das teorias


explicativas sobre estas.
Objectivos

Sumário
Determinantes da Criminalidade

Desde advento científico da criminologia entanto que uma disciplina


científica e mesmo antes desta a sociedade sempre se preocupou em
perceber e explicar o crime destacando as suas causas explicativas ao
longo dos tempos. É deste modo que surgem a mais variadas teorias sobre
o crime, que essencialmente tentam explicar este fenómeno a partir de
elementos que consideram ser causas do mesmo. Estes estudos tiveram e
tem uma grande importância quer seja sob de vista sociológico e bem
como de intervenção social no que se refere ao delineamento de políticas
públicas para combate a este fenómeno social.

Neste ponto importa referir que as teorias ou abordagens sobre causas do


crime não devem ser tomadas em si mesmas como acabadas e muito
menos fonte de verdades absolutas, visto que elas representam
essencialmente uma tentativa ou forma de explicação de um facto social.
Assim, estas devem ser tomadas de forma recorrente ou interligada, pois
que na análise do crime não se deve adoptar uma perspectiva mono
causal, pois que este normalmente tem por detrás várias causas associadas
entre si, embora que dentre estas uma se destaque mais relativamente as
outras em dado momento.
Sociologia Geral Código: A0017 77

Segundo alguns autores, podemos distinguir as teorias sobre as causas da


criminalidade em: a) teorias de explicação do crime como patologia
individual, b) teorias centradas no homem económico segundo a qual o
crime resulta de acção tendo em vista a maximização do lucro, c) teorias
de crime como subproduto de um sistema social perverso ou deficiente,
d) teorias de crime como resultado de perda de controlo e
desorganização social na sociedade moderna, e e) teoria de crime como
resultado de factores situacionais ou oportunidades.

Teoria de Patologias Individuais

Estas subdividem-se em 3 grupos distintos nomeadamente as


psicológicas, biológicas e psiquiátricas. Estas tem a particularidade de
associarem a criminalidade a determinados aspectos tais como a
fisiologia dos indivíduos (forma óssea, formato das orelhas, etc.), psique
dos indivíduos em que os criminosos devido aos problemas de neuroses,
distúrbios mentais, etc. eram vistos como inferiores aos não criminosos.
Portanto, os aspectos considerados patológicos do indivíduo eram
apontadas como causas explicativas do crime, ou seja, o comportamento
criminoso não dependia da vontade deste e sim de distúrbios mentais ou
traços psicológicos específicos de um demente ou ser inferior.

Teoria de Desorganização Social

Representa uma abordagem sistémica tendo como enfoque as


comunidades que constituem uma rede de relações várias entre indivíduos
e que contribuem para o processo de socialização dos seus membros.
Assim, a organização e desorganização social contribuíam para inibir ou
facilitar o controlo social. Nesta perspectiva, o crime resultaria da
ocorrência de situações indesejáveis na organização das relações sociais,
que podiam ser por exemplo: baixa supervisão dos adultos aos
adolescentes e jovens, relações de vizinhanças fracas e dispersas, a
desagregação familiar entre outros aspectos.

Teoria de Estilo de Vida

Esta tem como pressuposto base a ideia de que existem 3 elementos


essenciais que explicam o crime designadamente: um agressor potencial,
vítima potencial e um mecanismo de defesa ditado pelo estilo de vida da
potencial vítima. Assim, nesta perspectiva o estilo de vida do indivíduo
era fundamental para explicar a ocorrência do crime, de tal modo que
pouco importava criminoso, ou seja, a racionalidade do criminoso em si
que decide quando, onde e quem atacar.

Um indivíduo que passa maior parte do seu tempo fora do seu local de
residência, que trabalha durante período nocturno, reside num ponto
distante e sozinho, teria maiores chances de ser atacado por um outro que
não estivesse nessas condições. De igual modo consideram que um
indivíduo abastado que vivesse num bairro periférico, não tivesse um
sistema de segurança, ostentasse bens luxuosos, saí-se nas noites, fosse de
idade avançada ou mulher, estava exposta ao crime dado seu estilo de
vida. Portanto, era tarefa sua dada sua condição ou situação concreta criar
todas as condições de segurança para escapar ao crime. Vão mais longe
ao afirmarem que a causa do crime era culpa da vítima, que tendo
Sociologia Geral Código: A0017 78

conhecimento do seu estilo de vida deveria criar condições de evitar a


ocorrência deste.

Teoria de Diferenciação Social ou Aprendizado Social

A corrente considera que o crime tem a ver com o processo de


aprendizagem por parte dos adolescente de comportamos que sejam ou
não favoráveis ao crime, mediante um processo de interacção social com
os demais. Neste sentido, a família, grupo de amigos e bem como a
comunidade desempenhariam um papel importante neste processo, no
sentido de poder facilitar ou inibir a participação no crime.

São apontadas como variáveis que influenciam envolvimento crime as


seguintes: nível de supervisão familiar, grau de coesão no grupo de
amigos, ter amigos ex-presidiários e a representação sobre outros que já
foram presos, viver ou não com os pais, para além de contacto e
aprendizado de práticas e técnicas criminais.

Teoria de Controlo Social

Contrariamente as demais teorias, esta centra sua análise não nas causas
do crime e sim nas razões que levam os indivíduos a se absterem de
cometer crime. Seu pressuposto é que os indivíduos não praticam o crime
devido a sua ligação e integração social no seu meio, o que faz com que
ele age de acordo com as normas e valores existentes.
Portanto, a decisão de não praticar crime não tem a ver com a escolha
racional do indivíduo e sim pelo contrário com o sentido de ligação e
concordância que ele tem com a sua comunidade.

Teoria de Auto Controle Social

Essa abordagem olha o crime como sendo resultante do facto de


que o indivíduo não deter um autocontrole e muito menos
capacidade de analisar e censurar seus actos. Isto acontece pelo
facto deste não ter desenvolvido mecanismos psicológicos de
autocontrolo durante a infância e a de adolescência, em resultado
de deficiências e anormalidades no processo de socialização
decorrente da ineficácia na educação dos filhos pelos pais, que não
foram capazes de impor limites a criança, negligenciaram possível
mau comportamento do filho e sequer chegaram a sancionar este
por qualquer falha, daí que alimentaram comportamento egoísta
deste.

Deste modo, o indivíduo vai crescendo considerando que os seus


desejos se sobrepõem aos dos outros e age apenas para satisfação
desses sem respeitar as regras sociais.
Sociologia Geral Código: A0017 79

Teoria da Anomia

Representa uma das mais propaladas na Sociologia e foi da autoria


de Merton, para quem crime ou delinquência era resultado de uma
situação de desajuste entre as expectativas individuais e os valores
ideais impostos pela sociedade. Quer isto dizer que cada sociedade
dava aos seus membros um ideal de vida tal como o sucesso
económico por exemplo, mais as chances reais de alcance deste
objecto não eram possíveis a todos os seus membros pela via
correcta, daí que o indivíduo enveredava por vias não legais tais
como crime, apenas para alcançar o ideal da sua sociedade.

Outro aspecto que explica crime nesta teoria são as chances


bloqueadas em que o indivíduo considera que o seu insucesso no
alcance do ideal social resulta de factores externos a sua vontade tal
como o facto de não pertencer a uma certa rede social ou mesmo
ser impedido de tal. De mesmo modo temos a questão da privação
relativa em que o indivíduo considera que só alguns é que vivem o
ideal social, enquanto que ele nem sequer tem o suficiente para si.

Teoria da Escolha Racional

Tal como o próprio nome sugere, o crime tem a sua explicação


num processo de escolha racional em que o criminoso avalia as
vantagens e desvantagens de praticar crime em comparação com o
facto de não o praticar e se envolver num trabalho formal e legal.
Portanto, a decisão de crime é essencialmente individual em que o
sujeito compara as vantagens e desvantagens de cometer crime tais
como prisão, reputação, produto a furtar, etc., comparativamente ao
salário que recebe enquanto trabalha ou se pudesse trabalhar.

Neste sentido, a teoria de escolhas racionais tem como pressuposto


uma ponderação por parte do indivíduo que avalia os ganhos que
poderá obter com o crime por um lado, e por outro as
consequências do mesmo que tem a ver com detenção e outros
riscos associados que podem fazer com que este não se envolva no
crime.
Podemos então afirmar que dentre estas teorias nenhuma delas é
melhor que a outra, mais pelo contrário representam pontos de vista
diferentes sobre um mesmo assunto e por conseguinte
interdependentes e complementares, visto que cada um deles da
importância a único aspecto, quando na verdade o crime é algo
complexo e pluricausal.
Sociologia Geral Código: A0017 80

Exercícios

Auto-avaliação 1 – O que entende por determinantes da criminalidade?


Resposta: podemos entender por determinantes da criminalidade, um
conjunto de elementos ou causas que podem explicar a razão da
ocorrência ou prática do crime, quer seja por parte do praticante ou da
vítima.
2- Explique a teoria de anomia do crime?
Resposta: a teoria de anomia, considera que crime é resultado de um
desajuste ou desencontro entre o ideal de vida imposto pela sociedade e
as possibilidades reais dos seus membros em alcançar este, o que leva a
prática do crime como forma de alcançar este ideal mesmo que seja por
vias ilícitas uma vez que é fundamental alcançar o ideal da sociedade.
Sociologia Geral Código: A0017 81

Unidade N0 18-A0017
Tema: Pobreza como Facto Social
Introdução
A pobreza é um facto existente desde a muitos anos, podendo se
encontrar em quase todas as sociedades humanas, com características
distintas ao longo do tempo. Se olharmos para a organização do mundo
em blocos, vemos que por detrás desta distinção está a noção de países
pobres e não pobres, ou dito de outro modo “suave” sub
desenvolvidos/em vias de desenvolvimento e
desenvolvidos/industrializados. Portanto, é elemento distintivo de grupos
humanos e da humanidade em geral.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Identificar alguns dos conceitos de pobreza,


Objectivos  Perceber a razão do estudo da pobreza sociologicamente.

Sumário

Fenómeno da Pobreza

È facto que grande parte das pessoas não tem a definição exacta daquilo
que seja a pobreza, e contrariamente são capazes de identificar e
exemplificar situações concretas que consideram de pobreza, chegando
mesmo a avanças as causas, consequência e bem como estratégias de
combate a este fenómeno social. A pobreza, é por excelência um facto
social, não apenas por ser um fenómeno que ocorre em sociedade, mais
tendo em conta as suas características que vão de encontro as do facto
social; tal como sejam a generalidade, exterioridade coercibilidade.

Em termos históricos e etimológicos a palavra a semelhanças das demais


advém do latim pauper, sendo pau = pequeno, e pario = dou á luz,
querendo isso significar terrenos agrícolas ou gado que reproduziam
abaixo do esperado.

Existem diferentes acepções do termo pobreza, sendo que no essencial


quase todas elas olham este como sendo algo meramente económico, ou
seja, é a posse de determinados meios económicos tais como renda
específica, poder de aquisição, etc.
Sociologia Geral Código: A0017 82

Ela pode ser vista como “Carência Material: tipicamente envolvendo as


necessidades da vida quotidiana como alimentação, vestuário,
alojamento e cuidados de saúde. Pobreza neste sentido pode ser
entendida como carência de bens e serviços essenciais.

Falta de Recursos Económicos: nomeadamente a carência de rendimento


ou riqueza (não necessariamente apenas em termos monetários). As
medições do nível económico são baseadas em níveis de suficiência de
recursos ou em rendimento relativo.

Carência Social: como a exclusão social, a dependência e a


incapacidade de participar na sociedade. Isto inclui a educação e a
informação. As relações sociais são elementos chaves para compreender
a pobreza pelas organizações internacionais, as quais consideram o
problema da pobreza para lá da economia.”1

Olhando para as mais diferentes visões a volta deste termo podemos


entender a pobreza como sendo um processo complexo de carências
várias que os indivíduos sentem de satisfação das suas necessidades
para sua sobrevivência e dos seus dependentes, e que como tal ela
abarca obviamente os níveis avançados acima que são interligados para
ocorrência desta.

Pobreza como Facto Social

A pobreza é um fenómeno que existe há já séculos em quase todas as


sociedades possuindo marcas distintas ao longo dos tempos e causas
igualmente diferentes. Existem vários debates a volta desta sendo que a
partir daqui se faz uma distinção entre países desenvolvidos e os
subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvidos, ou ainda primeiro mundo
e segundo mundo. Igualmente esta tem sido visto como factor distintivo
do meio urbano e o rural, ou seja, cidade e campo.

Nesta perspectiva de distinção dicotómica entre espaços físicos, notamos


que esta é considera como algo específico a países considerados sub
desenvolvidos ou vias de desenvolvidos, e quando a sua ocorrência se faz
sentir nos ditos desenvolvidos então é um traço ou marca dos meios
suburbanos, ou seja, as periferias e quando ocorre em cidades é resultado
da migração da população do meio rural para as cidades.

Apesar destas distinções, a pobreza é um fenómeno que ocorre em toda e


qualquer sociedade em maior ou menor amplitude, afectando
negativamente cada indivíduo tomado isoladamente e a sociedade como
um todo. Ela pode ter as mais variadas causas (e nunca uma única) tais
como “Factores Políticos Legais: corrupção e inexistência ou mau
funcionamento de um sistema democrático, fraca igualdade de
oportunidades, Factores Económicos: sistema fiscal inadequado,
representando um peso excessivo sobre a economia o sendo socialmente
injusto, a própria pobreza que prejudica o investimento e
desenvolvimento, Factores Naturais: desastres naturais, climas ou

1
www.wikipédia.com. Acedido em 22 de Outubro de 2011.
Sociologia Geral Código: A0017 83

relevos extremos, doenças. Problemas de Saúde: adição de drogas ou


alcoolismo, doenças mentais, doenças da pobreza como a SIDA e a
malária, deficiências físicas. Factores Históricos: colonialismo, passado
de autoritarismo político. Insegurança: guerra, genocídio e crime.”2

Estes e outros factores aqui destacados são responsáveis por outros


factores que podemos designar por consequências lógicas da própria
pobreza que geralmente tem efeitos não só ao nível da sua sociedade de
origem mais também e acima de tudo em outros espaços ou contextos,
interferindo ou afectando a própria estrutura social por um lado a
interacção social entre os indivíduos.

É assim que já num passado a Escola de Chicago que é precursora da


Sociologia Urbana se interessou pelo estudo deste fenómeno na cidade de
Chicago, exactamente por perceber que este fenómeno por entender que a
vida na cidade implicava uma complexa rede de relações sociais, pelo
que aspectos aparentemente fúteis deveriam ser investigado pois que de
algum modo interferiam na vida da sociedade como um todo.

Daí seu interesse pelo estudo dos guetos a volta de Chicago, por ser onde
se concentravam o grosso dos emigrantes que trabalhavam nas fábricas e
desenvolviam uma forma de organização própria que permitia-lhes
integrarem-se na vida urbana, apesar das suas péssimas condições de
vida.

Olhando para o contexto actual, vemos que esta faz-se sentir com maior
impacto em países sub- desenvolvidos como Moçambique, quer seja no
meio rural ou urbano. Estudos recentes mostram que de facto no país, ela
tende a aumentar cada vez mais nos centros urbanos em decorrência da
migração de parte da população, que como sabemos está em maior
número no meio rural e com a guerra, calamidades e atractivo das
próprias cidades aqui se concentrou resultando não só no aumento da
pobreza, mais acima de tudo alterações profundo na estrutura social e
morfologia das próprias cidades.

O alargamento de bairros suburbanos com condições deploráveis é


exemplo disso, além do aumento dos casos de mendicidade,
criminalidade, prostituição, desemprego, entre outros. Existem
determinados elementos tais como esperança de vida, mortalidade
infantil, PIB, etc. que servem como indicadores da pobreza.
Portanto, embora aparentemente isolado a pobreza é um fenómeno que
afecta a sociedade como um todo, exactamente por ocorrer dentro de um
espaço determinado e poder se alastrar a outros espaços por diversas
formas e razões.

Daí a preocupação enorme por parte dos governos com esta questão visto
que a partir desta podemos ter como consequência fenómenos como
revoltas populares, aumento da exclusão e discriminação social,
emigrações, violência e instabilidade política, sem abrigos, redução da
esperança de vida, desemprego, etc. uma vez que a pobreza representa
uma situação de luta entre indivíduos ou grupos sociais no acesso aos

2
www.wikipédia.com. Idem.
Sociologia Geral Código: A0017 84

recursos que regra geral são escassos para satisfação das necessidades
individuais e colectivas.

Exercícios

Auto-avaliação 1 – O que entende por pobreza?


Resposta: existem várias asserções do termo pobreza, mas podemos ver
esta como sendo um processo complexo de carências várias que os
indivíduos sentem de satisfação das suas necessidades para sua
sobrevivência e dos seus dependentes, e que como tal ela abarca
obviamente os níveis avançados acima que são interligados para
ocorrência desta.

2- Aponte algumas das causas da pobreza?


Resposta: dentre várias podemos citar como consequências da pobreza as
revoltas populares, aumento da exclusão e discriminação social,
emigrações, violência e instabilidade política, sem abrigos, redução da
esperança de vida, desemprego, etc.
Sociologia Geral Código: A0017 85

Unidade N0 19-A0017
Tema: O Problema da Prostituição
Introdução
A questão da prostituição tem sido bastante abordada quer sob ponto de
vista teórico, quer sobre ponto de vista de problema social, entanto que
algo que afecta negativamente toda e qualquer sociedade, havendo
diferentes interpretações e representações desta ao longo dos tempos.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Perceber a questão da prostituição e as representações sociais a volta


deste fenómeno.
Objectivos
 Identificar algumas das possíveis causas deste.

Sumário

Prostituição

Tem sido denominada como sendo a “profissão mais antiga do mundo”,


exactamente por ser uma prática secular, visto que formalmente esta não
é reconhecida como sendo uma actividade formal ou profissão. Embora
prática antiga e que ocorra em quase todos os países sob diferentes
perspectivas, esta tem sido reprovada social e moralmente, pelo facto de
representar a degradação que representa para os indivíduos que a
praticam e outros próximos a estes.

Conceptualmente, é uma actividade que consiste em oferecer satisfação


sexual em troca de remuneração, de forma habitual e promíscua. É
uma conceptualização que baseia-se em valores sociais e culturais de
cada sociedade e época concreta. Regra geral, esta é vista como sendo
uma prática eminentemente feminina, visto que historicamente as
mulheres foram concebidas como “objectos” de prazer dos homens, ou
seja, era função da mulher garantir a satisfação sexual dos homens. Isto
não quer dizer que esta não seja também masculina, em que os homens
satisfazem sexualmente as mulheres em troca de valores monetários, mais
sim que é mais praticada pelas mulheres e percebida como tal.

Existem contextos em que a prática desta por homens acaba recebendo


uma designação diferente de prostituição pese embora, a mesma prática
quando feita pelas mulheres receba este nome. A prostituição além de
mudar de intensidade de uma sociedade á outra, muda dentro de uma
mesma sociedade, envolvendo diferentes autores sociais tais como
Sociologia Geral Código: A0017 86

adolescentes ou menores de idade (a chamada prostituição infantil), tendo


por detrás várias motivações e podendo ou não ser permitida segundo os
valores de cada sociedade.

Embora não exista um marco histórico sobre seu início, podemos


entender que já no passado em algumas comunidades havia prática dos
homens incitarem as mulheres a relações sexuais em troca de bens
materiais por elas apreciados tais como jóias, ouro, etc. Em outras
sociedades no passado a prostituição de meninas era uma espécie de rito
de iniciação da puberdade. De igual modo que durante algum período
esta estava ligada a cultos religiosos.

“Em sociedades como Roma e Grécia, a prostituição propriamente dita,


era controlada pelo Estado, que cobrava elevados impostos das
prostitutas e as obrigava a usar roupas que identificassem a profissão.
As heretas ou hetairas gregas, cortesãs cultas e refinadas que
frequentavam reuniões e festas de intelectuais e políticos, exerciam um
tipo de prostituição respeitada... durante a idade média, a igreja cristã
tentou sem sucesso eliminar a prostituição.”3

A partir do exposto acima, ve-se que de facto esta actividade está


presente na história da humanidade há muito tempo, com formas
diferentes, podendo conferir ou não para além de benefícios materiais,
prestígio ou não aos seus praticantes; daí que se fale da alta e baixa
prostituição. Fazendo um percursso histórico, percebemos que esta
prática tem sido moralmente sancionada ou reprimida, devido aos valores
sociais, fazendo com que este grupo represente uma classe a margem da
própria sociedade.

Existem diferentes motivações ou factores explicativos desta, com maior


incidência a questão da pobreza, que leva a que estes (sobretudo
mulheres) como forma de garantir a sua sobreviência se envolvam na
prostituição. Há abordagens que discordam desta teoria alegando que a
pobreza em si não constitui de modo algum o móbil explicativo da
prostituição, pelo contrário existem outros elementos que interferem em
grande medida nesta decisão. Outro aspecto que tem sido apontado como
causa explicativa também consta o tráfico ou exploração sexual em que
as mulheres são raptadas e comercializadas, e obrigadas a prostituirem-se.

Encontramos as motivações individuais também como explicação em que


o indivíduo avalia as vantagens e desvantagens do seu envolvimento
nesta prática, sendo que regra geral a sua adesão é justificada pela
facilidade na obtenção de bens materiais e consequente alcance de bem
estar, pese embora por uma via rejeitada socialmente.

Pode-se avançar como uma das possíveis consequências a degradação do


tecido social, rápida disseminação de doenças sexualmente
transmissíveis, impacto negativo na estrutura familiar, envolvimento de
menores de idade e bem como tráfico de seres humanos para este fim,
entre outros aspectos. Estes e outros factores é que levam a interdição por
parte de alguns organismos internacionais.

3
www.wikipédia.com. Acedido em 23 de Outubro de 2011.
Sociologia Geral Código: A0017 87

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Define prostituição?


Resposta: prostituição, é uma actividade que consiste em oferecer
satisfação sexual em troca de remuneração, de forma habitual e
promíscua.

2- Aponte algumas das causas da prostituição?


Resposta: dentre várias podemos citar como causas a pobreza, desejo de
bem estar individual, obrigação através do tráfico e exploração sexual,
entre outras.
Sociologia Geral Código: A0017 88

Unidade N0 20-A0017
Tema: Abordagem Sociológica a
Educação
Introdução
Entanto que disciplina que se dedica ao estudo da sociedade, a Sociologia
é elemento importante que nos ajuda perceber os processos sociais, ou
seja, as nossas práticas diárias enquanto membros de facto de uma
determinada sociedade. É assim, que ela se interessa pela educação por
ser algo de fundamental importância para toda e qualquer sociedade,
tendo conteúdos específicos em épocas e espaços.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Definir a educação como processo social,


Objectivos  Identificar as perspectivas sobre educação

Sumário

A Educação

Entanto que ciência social, a Sociologia sempre se preocupou não só em


definir o conceito de educação, mais acima de tudo perceber a luz de cada
sociedade e de seus membros, o que esta efectivamente representava,
olhando para os seus aspectos objectivos e subjectivos. Portanto, é uma
abordagem que olha a educação como sendo um processo, e neste sentido
dotado de um significado tanto para o indivíduo e grupo em si. Fazendo
uma abordagem aos estudos sociológicos da educação, destacam-se 3
linhas de debate nomeadamente: “1- Filosófica Sociológica: é uma
reflexão sobre o carácter social do processo educativo, seu significado
como sistema de valores sociais, sua relação com as concepções e
teorias do homem.

2- Pedagógica Sociológica: desenvolveu-se nos Estados Unidos onde se


procurou efectuar o estudo dos aspectos sociais da educação a fim de
obter bom funcionamento da escola.
3- Sociológica:...beneficiada pelo desenvolvimento das duas linhas
anteriores, delas herdou a tendência filosófica e a tendência prática, ou
seja, a preocupação com a função social da educação e com a solução
dos problemas educacionais.” (Cândido, 1955, pp- 117-125)
Sociologia Geral Código: A0017 89

Olhando para estas abordagens expostas acima, percebemos que elas


consideram a educação entanto que algo meramente formal, daí que suas
análises consideram como espaço de realização desta a escola. Embora
represente uma abordagem muito válida e interessante, esta acaba de
certo modo limitando que esta é entanto que processo social, que se dá
tanto dentro como fora da escola, daí a distinção educação formal e
informal.

A educação pode ser definida como sendo “a acção exercida pelas


gerações adultas sobre as que ainda não estão maduras para a vida
social, tendo por objecto suscitar e desenvolver na criança um certo
número de estados físicos, intelectuais e morais dela exigidos pela
sociedade política no seu conjunto e o meio especial a que se destina
particularmente.” (Durkheim; op cit. In: Cândido, idem). Esta citação
mostra que efectivamente a educação é um processo e que os conteúdos e
actores nele envolvidos e pressupostos são dados pela sociedade.

A educação pressupõe que haja um indivíduo que se considera ainda não


possuir determinados conhecimentos julgados úteis e necessários pela
sociedade para cada um dos seus membros efectivos, e que para tal
existem outros indivíduos a quem a sociedade considera possuir tais
conhecimentos e detém autoridade para garantir a sua transmissão aos
demais.

É a partir deste processo que o “imaturo” adquire as normas, valores e


crenças do seu grupo de pertença, o “maturo” deverá reconhecer nesta a
aquisição destes conhecimentos julgados necessários.
A educação, é no fundo um processo de socialização e que serve para
homogeneizar os comportamentos e conhecimentos dos indivíduos dentro
da sociedade e bem como diferenciar estes entre si, no que se refere aos
transmissores e receptores, marcando deste modo relações de poder
específicas.

Sobre ponto de vista formal, a educação também pode ser vista como um
processo social, na medida em que alunos e professores representam
personagens com papéis sociais distintos, sendo que um é transmissor de
conhecimentos específicos úteis e necessários para o desempenho de
determinada profissão no futuro, e outro receptor dos mesmos. A
sociedade reconhece o papel que cada um destes deve desempenhar para
que possa considerar como educação. Além de que estas figuras, mesmo
que em sala de aula interagem entre si e representam 2 grupos distintos.

A escola é no fundo um subsistema, dentro de um sistema amplo que é a


sociedade no seu todo. De certo modo, esta acaba sendo responsável pela
diferenciação social na medida em que os indivíduos são selecionados
pelas suas capacidades para desempenho de certas actividades e deste
modo vão se diferenciando socialmente.

Como processo social, a educação formal e informal é um processo


interactivo de transmissão da memória do grupo, isto é, a história da
sociedade. Ela visa a integração e conservação da sociedade, fazendo
com que a sociedade renove as condições de sua existência. Pode-se
concluir assim, que a educação é um processo de regulação social.
Sociologia Geral Código: A0017 90

Exercícios

Auto-avaliação 1 – Define educação?


Resposta: pode-se definir a educação como sendo uma acção exercida
pelas gerações adultas sobre as que ainda não estão maduras para a vida
social, tendo por objecto suscitar e desenvolver na criança um certo
número de estados físicos, intelectuais e morais dela exigidos pela
sociedade política no seu conjunto e o meio especial a que se destina
particularmente.
Sociologia Geral Código: A0017 91

EXERCÍCIOS A RESOLVER

Desenvolva os seguintes temas em cinco (5) linhas no máximo:

 Trabalho1 para primeira sessão presencial – Código: T-S.G-01


Importância do Senso Comum sobre o Conhecimento Científico no dia-a-
dia, tendo em conta a natureza de cada forma de conhecimento.

 Trabalho2 para segunda sessão presencial – Código: T-S.G-02

Considerando que a Sociologia tem como objecto de estudo o facto


social, indique na sociedade Moçambicana um fenómeno objectivo que
porte em si as três características do mesmo.

 Trabalho3 para terceira sessão presencial – Código: T-S.G-03

Considerando que as teorias têm uma importância na leitura da realidade


social envolvente, objective casos em que o funcionalismo e marxismo
servem na leitura da sociedade.

 Trabalho4 para terceira sessão presencial – Código: T-S.G-04

Discorra a volta da possibilidade da sociedade moçambicana ser


classificada como estratificada em classes sociais.
Sociologia Geral Código: A0017 92

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 Almeida, João Ferreira (1998) “Introdução a Sociologia”;


Universidade Aberta.
 ARON, Raymond. “As Etapas do pensamento
sociológico”. Publicações Dom Quixote.
 Azevedo, Fernando de; “Princípios de Sociologia”, 9ª
edição, edições Melhoramento; São Paulo.
 Cruz, Manuel Braga da (1995) “Teorias Sociológicas: Os
fundadores e clássicos. Antologia de Textos”; 2ª edição,
fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
 Cândido, António, (1950) “O Papel do Estudo Sociológico
da Escola na Sociologia”; edições Sociedade Brasileira de
Sociologia; São Paulo
 Fabreti, Humberto B., (2002) “A Teoria de Crime e da
Pena em Durkheim: Uma Concepção Peculiar do Delito”;
Universidade Presbiteriana Mackenzie.
 Ferreira, J.M. Carvalho et al (1995) “Sociologia”;
McGraw-Hill Portugal
 Filho, José Barroso (2000) “Teorias Científicas Sobre o
Problema de Crime”; Universidade Federal de Brasília.
 GIDDENS, Anthony (1994) “Capitalismo e a Moderna
Teoria Social: Uma Analise das obras de Marx, Durkheim
e Weber”; Editorial Presença.
 Giddens, Anthony (1990) “As Consequências da
Modernidade”, Editora Unesp; 5ª edição; São Paulo-Brasil
 Negri, António, “Teorias da Globalização”; sem data; texto
extraído da Internet.
 Osborne, Richard (2006) “Dicionário de Sociologia”; Rio
de Janeiro.
 Pinto, José Madureira et Augusto Santos Silva (1999)
“Metodologia das Ciências Sociais”; edições Afrontamento
 Xiberras, Martine (1996) “As Teorias da Exclusão
Social”; Instituto Piaget, Lisboa.

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