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Conceitos preliminares sobre a teoria dos conjuntos [set theory]

Textos compilados e traduzidos por Antenor Ferreira.


A maior parte dos textos a seguir foram retirados dos livros Materials and Techniques of Twentieth-
Century Music (1999) de Stefan Kostka e Analytic Approaches to Twentieth-Century Music (1989) de Joel
Lester. Ambos autores tem por base o trabalho pioneiro The Structure of Atonal Music (1973) de Allen
Forte.

Atonalidade não-serial

Atonalidade é um dos aspectos mais importantes da música do século XX, além de ser o
fator maior de distinção entre a música deste século e qualquer outra da tradição ocidental.
Atonalismo não-serial ou atonalismo livre [free atonality] conduziu, na década de 20, a um
método atonal mais organizado chamado serialismo ou dodecafonismo [twelve-tone music]. A
música atonal não-serial, porém, continuou a ser composta, e ainda o é até os dias de hoje.
Não é surpresa que a análise da música atonal demandasse o desenvolvimento de nova
terminologia e novas abordagens teóricas. A linguagem da tonalidade funcional é comum a todas
as peças tonais. Na música não-tonal, em que não há uma linguagem de alturas passível de ser
compartilhada por todas as obras, as estruturas melódicas e harmônicas surgem motivicamente. A
estrutura motívica é a base de todos os grupos de alturas e da condução melódica (no sentido de
alturas adjacentes derivadas dos motivos). Assim, houve a necessidade da criação de um termo
diferente de motivo para descrever as estruturas de alturas. O termo usado é conjunto [set],
significando um grupo de alturas.
Alturas e classes de alturas
Existem 12 notas diferentes em uma oitava. O termo altura [pitch] refere-se a qualquer
nota individual dessas 12 notas em um registro único, não importando enarmonias. O C central,
por exemplo, é considerado como a mesma altura do B# ou Dbb. O termo classe de altura [pitch-
class] (isso é, uma classe ou categoria de alturas) refere-se a todas as alturas que são duplicações
de oitavas de uma outra. O C central é uma altura, mas todas as outras notas denominadas C, B# e
Dbb, em quaisquer oitavas, pertencem à mesma classe de alturas. Embora existam muitas alturas
diferentes (88 notas de um piano, por exemplo), há somente 12 classes de alturas.
No repertório não-tonal, ao contrário do sistema tonal, inexistem quaisquer diferenciações
sistemáticas entre classes de alturas enarmônicas. Assim, C e B# ou C# e Db não possuem
implicações harmônicas, sendo, portanto, considerados equivalentes. Do mesmo modo, são
também equivalentes intervalos enarmônicos como C – E e C# - F , ambos distando de quatro
semitons, não sendo relevante o fato do primeiro ser classificado como terça maior e o segundo
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como quarta diminuta. Em vista disso, com a intenção de evitar relações tonais, foi proposto o
sistema de notação por números.
Numeração das classes de alturas
Os números de 0 a 11 são usados para referir as 12 classes de alturas. Pode-se adotar a
classe de alturas C como nº. 0 (sistema zero fixo) ou qualquer outra classe de alturas significativa
para a análise em questão (sistema zero móvel). Algumas vezes é conveniente usar 0 (zero) para a
classe de alturas C, desconsiderando se C é particularmente importante ao trecho em questão. Isso
também permite uma rápida memorização das alturas. Outras vezes, é mais vantajoso designar 0
para qualquer outra classe de alturas significativa da passagem, o que facilita a análise.
Geralmente se usa 0 para a primeira altura ocorrente na peça. Observe-se o Exemplo 1.
Exemplo 1: Schoenberg, Quarteto de Cordas Nº. 4, Op. 37, I, parte do violino I (comp. 1-5).

No Exemplo 1, as alturas foram nomeadas de acordo com os dois tipos de notação, zero
fixo e móvel. É possível notar que nenhum número de alturas foi repetido no decurso da melodia.
Isso indica que nenhuma classe de alturas recorre antes do aparecimento de uma nova classe de
alturas. Além disso, todas as classes de alturas estão presentes nesta melodia (todo número de 0 a
11 aparece). Existem várias ocorrências de números adjacentes: 2-1, 9-10, 3-4, 8-7 e 7-6 (zero
fixo), o que aponta para uma melodia construída basicamente por semitons.
O excerto seguinte (Exercício 1) apresenta outras duas frases que dão continuidade à
melodia do Quarteto nº 4 de Schoenberg. Numere as classes de alturas restantes e considere:
quantas classes de alturas existem em cada frase? Essas três frases projetam uma estrutura do tipo
ABA’, em que cada frase corresponde a uma seção. Como o ritmo e o registro auxiliam esse
efeito?

Exercício 1: Schoenberg, Quarteto de Cordas Nº. 4, Op. 37, I, parte do violino I, (comp. 1-14).
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Intervalos
O tamanho de um intervalo é o resultado da subtração do número da altura superior pelo
número inferior, o número resultante é o tamanho do intervalo em semitons (Ex. 2a). Quando o
número da altura superior for menor que o inferior o resultado será negativo. Porém, para evitar a
operação com números negativos basta adicionar 12 (n.º de semitons de uma oitava) ao número
da altura superior (Ex. 2b). Os intervalos compostos (maiores que uma oitava) são reduzidos a
intervalos simples (entre 0 e 11) subtraindo-se 12 ou múltiplos de 12 (24, 32, etc.), no caso do
tamanho dos intervalos sobrepassarem duas ou mais oitavas. Esse processo desloca um intervalo
entre alturas para o interior de sua classe de alturas equivalente (Exemplo 2c). Determina-se o
complemento de um intervalo subtraindo-se 12 do intervalo inicial (Ex. 2d).

Exemplo 2: Determinação do tamanho dos intervalos pela notação numérica

Classe Intervalar
Assim como uma classe de alturas é o agrupamento de todas as alturas do mesmo tipo
(todos os C# ou Db, todos D# ou Eb, assim por diante), classe intervalar [interval-class] é o
agrupamento de todos os intervalos de mesmo tipo. Cada classe intervalar inclui o próprio
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intervalo, seu complemento e todos os compostos do intervalo e de seu complemento. Ex.:


Intervalo de 2ª menor (1), seu complemento (11), 2ª menor composta (13), composto do
complemento (23). Classes intervalares são conceitos especialmente úteis para o estudo de grupos
de alturas. Existem seis classes intervalares distintas:
Classe Membros
intervalar
1,11 Intervalos 1,11,13,23, etc.
2,10 Intervalos 2,10,14,22, etc.
3,9 Intervalos 3,9,15,21, etc.
4,8 Intervalos 4,8,16,20, etc.
5,7 Intervalos 5,7,17,19, etc.
6 Intervalos 6,18,30, etc.

Pontos para revisão:

1. O termo altura refere-se a uma única nota em um único registro, sem importar enarmonias. O
termo classe de alturas (uma classe ou categoria de alturas) refere-se a todas as alturas que
são duplicações em oitavas de outras alturas;

2. Os números de 0 a 11 referem-se as 12 diferentes classes de alturas em semitons ascendentes;

3. O número 0 pode ser designado para C (notação zero fixo) ou para qualquer classe de alturas
(zero móvel);

4. Intervalos harmônicos são calculados subtraindo-se o número da altura superior (do intervalo)
da inferior. Se o número da altura superior for menor que o da inferior adiciona-se 12 ao
número superior antes de se efetuar subtração;

5. O complemento de um intervalo é conseguido subtraindo de 12 o número do intervalo;

6. Para reduzir um intervalo composto (intervalos que sobrepassam o registro de uma oitava)
subtrai-se 12 ou múltiplos de 12 do n.º do intervalo até que o resultado esteja entre 0 e 11;

7. Uma classe intervalar contém o intervalo, seu complemento e todos os intervalos compostos
do intervalo e do complemento. Existem seis classes intervalares (vide tabela).
Exercício
O fragmento seguinte é extraído do sexto movimento do Quarteto para o fim dos tempos de
Messiaen. Esse movimento inteiro é monofônico e homo-rítmico, com duplicações em oitavas
usadas como reforço. Classifique todas as alturas e intervalos desta abertura. Quais são as alturas
predominantes? Quais alturas parecem ter sido adicionadas à coleção básica de alturas? Sobre
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quais alturas as frases terminam? Por quais intervalos são feitas as aproximações para essas
alturas de fim de frase?

Conjuntos de classe de altura


Rapidamente, tornou-se claro aos músicos que o aspecto altura da música atonal
reivindicava um novo vocabulário se a análise dessa música desejasse ser mais do que descritiva.
Reconhecia-se que a música atonal geralmente conseguia um certo grau de unidade pelo uso
recorrente de novos tipos de motivos. A esses novos motivos foram dados vários nomes,
incluindo célula, célula básica, conjunto, conjunto de alturas, conjunto de classe de altura [pitch-
class set] e sonoridade referencial. Um conjunto de classe de altura é, então, um grupo de classes
de alturas distintas. Esses conjuntos podem aparecer melodicamente, harmonicamente ou como
uma combinação de ambos. Um conjunto também pode ser transposto e/ou invertido e suas
alturas podem surgir em qualquer ordem. Na música não-tonal cada obra cria uma característica
própria e única de interação entre melodia e harmonia, assim, o contexto é de suma importância.
Um conjunto de classe de altura fornece uma ferramenta analítica para o estudo dessa interação,
funcionando de modo análogo às escalas na música tonal.
Em princípio, um conjunto pode conter de 1 a 12 classes de alturas. Esse aspecto revela-se
como um sério problema, visto que um fragmento de melodia ou acorde atonal pode conter
quaisquer combinações de alturas, seria possível a formação de milhares de conjuntos distintos. É
nesse ponto que reside uma das principais contribuições de Allen Forte. O sistema de conjuntos
de classes de alturas de Forte reduz consideravelmente esse número. Pela adoção de conceitos de
simetria transposicional e inversional, as milhares de combinações possíveis foram reduzidas para
um número manuseável de tipos de conjuntos. Abaixo estão listados os números permitidos de
conjuntos constituídos de duas a dez classes de alturas:
6 díades (2 classes de alturas)
12 tricordes (3 classes de alturas)
29 tetracordes (4 classes de alturas)
38 pentacordes (5 classes de alturas)
50 hexacordes (6 classes de alturas)
38 heptacordes (7 classes de alturas)
29 octacordes (8 classes de alturas)
12 nonacordes (9 classes de alturas)
6 decacordes (10 classes de alturas
_________________________________
220 total
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A maioria das peças empregam um vasto número de diferentes conjuntos de alturas,


embora somente alguns podem ser relevantes para a unidade da obra. A análise da música não-
tonal tem se tornado um processo de identificação e rotulação desses conjuntos importantes, um
processo conhecido como segmentação. Quando se inicia a análise de uma obra é difícil saber
quais serão os conjuntos mais significativos para a peça. Isso faz com que várias segmentações
musicalmente convincentes sejam descartadas no processo analítico.
Ordem normal
Na análise de uma música tonal, rotineiramente é feita a redução de sonoridades à sua
forma básica. Pela equivalência da oitava e pela consideração das fundamentais dos acordes é
possível analisar como semelhantes os seguintes acordes:
C – E –G; E – G – C; C – G – C – E – C.
Se essas tríades fossem transpostas uma quarta acima, por exemplo, continuariam a ser
consideradas como pertencentes a uma mesma classe de sonoridades, que integram o coletivo
mais amplo das tríades maiores. Esses conceitos são tão óbvios que parece até trivial mencioná-
los, no entanto, a teoria que classifica esses tipos de sonoridades em um acorde específico dista
apenas de alguns séculos.
De modo a analisar e comparar os conjuntos de classes de alturas na música não-tonal,
necessita-se, também, de um processo que reduza qualquer conjunto a uma forma básica
semelhante àquela realizada na música tonal. Essa forma básica na análise de conjuntos de alturas
é chamada de ordem normal [normal order], melhor ordem normal [best normal order] ou forma
normal [normal form]. A ordem normal de um conjunto de alturas é aquela que contém a menor
configuração intervalar possível. É a forma mais compacta de se escrever um conjunto. É um
procedimento similar ao de colocar um acorde tonal em posição fundamental. Para encontrar a
ordem normal de um conjunto os autores sugerem os seguintes passos:
1. escrever as alturas do conjunto em ordem ascendente na tessitura de uma oitava. Pode-se
começar em qualquer nota. As notas podem ser enarmonizadas. Notas duplicadas são
deixadas de fora;
2. Encontrar o maior intervalo entre duas notas adjacentes. Deve-se considerar, também, o
intervalo formado entre a última e a primeira notas da “escala”. Reordenar os intervalos
iniciando com a nota superior do maior intervalo encontrado. Esta nota receberá o número 0.
Disso resulta o menor número entre a primeira e a última classe de alturas;
3. Se o último intervalo do passo 2 resultar maior que o primeiro intervalo, esta será a ordem
normal. Porém, se o último intervalo for menor ou igual ao primeiro intervalo será necessário
reescrever as alturas da direita para a esquerda, depois escrever o complemento de cada
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número e, a seguir, transportar os números para iniciar com 0. Compara-se, então, o resultado
com aquele obtido no passo 2, de modo a identificar a melhor ordem normal do conjunto.
Considere-se o exemplo a seguir:
Exemplo 3: Schoenberg, Three Piano Pieces (1909), Op. 11, nº 2, comp. 1-5.

Para encontrar a ordem normal do conjunto n.º 1 do Exemplo 3, de Schoenberg:


1. Escrever as alturas em ordem ascendente;
2. O maior intervalo entre alturas consecutivas encontrado é de 4ª aumentada (Eb – A);

3. Reordenar o conjunto iniciando com a nota A:

4. O intervalo formado entre as primeiras alturas (A – Db) é maior que aquele formado entre as
duas últimas (Db – Eb). Assim deve-se: (a) escrever os números da esquerda para direita e (b)
depois seus complementos. A seguir, (c) transportar estes números por um número de
semitons de modo a iniciar em 0.
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(a) 6 4 0
(b) 6 8 0 a ordem normal do conjunto A, Db, Eb é:
(c) 0 2 6 [0,2,6]

Colocando-se o conjunto número 2 do Ex. 3 em sua ordem normal teremos:

Novamente o intervalo formado entre as últimas notas é menor que aquele entre as duas
primeiras. Procede-se então segundo as regras do passo 3:
(a) 6 4 0
(b) 6 8 0 Ordem normal é: [0,2,6]
(c) 0 2 6
A ordem normal dos conjuntos 3 e 4 do exemplo de Schoenberg será:

No conjunto 3 o intervalo formado entre as duas últimas notas (F#, Bb) é maior que o intervalo
formado entre as duas primeiras (E,F#), portanto esse conjunto já está em sua ordem normal. O
conjunto 4, no entanto, recai no mesmo esquema que o executado para os conjuntos 1 e 2.
Colocando-se esses conjuntos em ordem normal torna-se claro o uso predominante dessa
sonoridade nesse fragmento. O conjunto 2 é transposicionalmente equivalente ao conjunto 1, já
que distam de um semitom. O conjunto 4 também relaciona-se por transposição com os conjuntos
1 e 2 (distando destes 6 e 5 semitons, respectivamente). O conjunto 3, todavia, está relacionado
por inversão, já que a ordem interna dos intervalos 3M – 2M foi invertida para 2M – 3M, embora
possua a mesma ordem normal que os outros três conjuntos.
Transposição
Transportar um conjunto de classes de alturas significa movê-lo por meio da adição de um
intervalo qualquer. Para transportar um conjunto basta somar à cada altura do conjunto o
intervalo referente à transposição desejada. Se a soma resultante for superior a 11 basta subtraí-la
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de 12 para que o novo número seja situado dentro de uma oitava. Tomando o conjunto 1 do Ex. 3
(A – Db – Eb) cuja seqüência numérica é [0,4,6]. Adicionando-se 6 a cada membro do conjunto
teremos: 0+6=6
4 + 6 = 10
6 + 6 = 12 (12 – 12 = 0)
Portanto o novo conjunto transposto por 6 semitons (T6) será: 6,10,0. Lembrando que no
conjunto inicial 0 corresponde à nota A, teremos: Eb – G – A, ou seja, o conjunto número 4.
Inversão
Inverter um conjunto de classes de alturas significa substituir cada intervalo do conjunto pelo seu
complemento (ver também Ex. 2d). Ao ser invertido, um conjunto terá sua ordenação de
intervalos revertida, isto é, os intervalos ascendentes resultarão descendentes e vice-versa. Um
conjunto invertido pode ser transportado para qualquer intervalo. Essa operação pode não ser de
muita utilidade na música tonal, porque as tríades maior e menor, por exemplo, são relacionadas
por inversão, assim como os acordes de dominante e de sétima diminuta, e há a necessidade de
distinguí-los em uma análise tonal. Na música atonal, todavia, um conjunto e sua inversão são
considerados como sendo representações de um mesmo tipo de conjunto.
O conjunto 3 do Ex. 3 de Schoenberg (E – F# - Bb) cuja ordem normal é [0,2,6]. Para
invertermos esse conjunto devemos substituir cada intervalo pelo seu complemento:
12 12 12 O conjunto invertido é 0 (pois 12 = 0), 10, 6
-0 -2 - 6 notado por cifras é: E – D – Bb [0,10,6]
12 10 6 (lembrando que o sentido é descendente)
Nota-se que a configuração interna desse conjunto é 2M – 3M, diferente das configurações dos
conjuntos 1,2 e 4 do Ex. 3 de Schoenberg. Se esse conjunto, no entanto, for retrogradado (escrito
da direita para esquerda) teremos: Bb – D – E, cuja configuração intervalar interna será 3M – 2M,
ou seja, idêntica aos conjuntos 1,2 e 4. Desse modo, diz-se que o conjunto 3 está relacionado aos
demais conjuntos por inversão, retrogradação e transposição (Bb – D – E transportado 1 semitom
abaixo será igual ao conjunto 1).
Os conjuntos 5, 6 e 7 contém 4 elementos e a seguinte ordem normal:
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No procedimento de estabelecimento da ordem normal, uma complicação ocasionalmente


ocorre quando o maior intervalo do conjunto não for único, ou seja, quando existirem dois ou
mais intervalos de mesmo tamanho na seqüência. Observe-se o Exemplo 4, essa seqüência
corresponde ao conjunto de número 8 do Ex. 3. Neste, existem dois intervalos de terça maior.
Como saber, então, qual das notas deve ser a primeira para determinar a ordem normal do
conjunto? Quando isso ocorre deve-se comparar os intervalos entre as primeiras notas das
seqüências. A ordem normal será aquela que contiver o menor intervalo.
Exemplo 4: determinação da ordem normal do conjunto 8 do Ex. 3

Se o intervalo entre as duas primeiras notas forem iguais a ambas formações, considera-se
o intervalo formado entre a segunda e terceira notas, e assim sucessivamente, até estabelecer a
menor estruturação intervalar interna do conjunto. Contudo, em alguns casos, pode ocorrer uma
seqüência similar entre conjuntos, são os chamados conjuntos transposicionalmente simétricos.
Estes, reproduzem seu próprio conteúdo intervalar sob uma ou mais transposições.
Exemplo 5: conjunto transposicionalmente simétrico

Nos dois casos, iniciando-se com as notas A# ou E, a ordem normal será a mesma [0,1,3,6,7,9].
Pontos para revisão:
1. Um conjunto de classe de altura é um grupo de classes de alturas diferentes entre si. Os tipos
de conjuntos de classe de altura encontrados com maior freqüência são tricordes (conjunto
contendo três classes de alturas), tetracordes (quatro classes de alturas), pentacordes (com
cinco), hexacordes (com seis), heptacordes (com sete) e octacordes (com oito);
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2. O nome de um conjunto de classe de altura inclui todos os seus membros em ordem numérica
ascendente no interior de uma oitava. Os nomes dos conjuntos de classes de alturas são
escritos dentro de colchetes separados por vírgulas, como [0,2,4,7,9]. A ordem normal de um
conjunto de classe de altura é seu nome formal. Para encontrar a ordem normal de um
conjunto reveja os passos mencionados anteriormente (pg. 6-8);
3. Transposição de um conjunto de classe de altura significa mover o conjunto por um número
qualquer de intervalos. A transposição de um conjunto de classe de alturas é feita somando-se
o intervalo de transposição à cada número do conjunto, subtraindo 12 para qualquer resultado
superior a 11. Transposições são indicadas pela letra T mais o número do intervalo de
transposição (T6 significa que o conjunto em questão é resultado da transposição por seis
semitons de um conjunto inicial);
4. Inverter um conjunto de classe de altura significa substituir cada intervalo do conjunto pelo
seu complemento. Para inverter um conjunto de classe de altura escreva o nome do conjunto
iniciando em 0. Subtraia cada número de 12 e reduza 12 para 0. Um conjunto invertido pode
ser transposto por qualquer intervalo. Inversões são indicadas pela letra I mais o número do
intervalo de transposição (I4 significa: conjunto invertido e transposto quatro semitons). A
forma original de um conjunto de classe de alturas chama-se forma primária, distinguindo-a
da forma invertida.

Vetor Intervalar
Um vetor intervalar é uma seqüência numérica que fornece o conteúdo das classes intervalares de
um conjunto, ou seja, o número de ocorrência de cada uma das seis classes intervalares (ver pg.
3-4). É representado por uma série de seis dígitos. O conjunto 9 do Ex. 3 de Schoenberg, por
exemplo, G# - A – C – C#, cuja forma normal é [0,1,4,5] possui o vetor intervalar {201210}
significando que ao considerar todos os intervalos entre todas as alturas que compõem o
conjunto, assumindo a equivalência de oitava, em qualquer inversão desse conjunto serão
encontradas duas segundas menores, nenhuma segunda maior, uma terça menor, duas terças
maiores, uma quarta justa e nenhuma quarta aumentada. Dos 220 conjuntos de classes de alturas
(ver pg. 5) apenas 23 pares compartilham o mesmo vetor intervalar. Allen Forte denomina-os de
conjuntos Z-relacionados [Z-related sets] e coloca o Z em seus nomes (por exemplo 4-Z15) para
identificá-los; assim, quando se encontra um destes conjuntos em uma peça, deve-se atentar para
a possibilidade dos vetores intervalares virem a desempenhar uma importante função no decurso
da análise. A relação Z é, portanto, a propriedade de um conjunto compartilhar o mesmo vetor
intervalar.
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Exercícios
1. Analise o inicio do primeiro Tableau da Petrushka e identifique o conjunto de classe de altura
das linhas de clarinetes e trompas (corresponde, na redução, à parte do segundo piano). Escreva
sua ordem normal. Qual a relação entre esse conjunto e a melodia das flautas, compassos 1-5
(mão direita do primeiro piano, na redução)? Quando um novo conjunto de classe de altura é
adicionado à melodia da flauta (compasso 9 até primeira nota do 11, mão direita do 1º. piano na
redução), qual forma nova do conjunto de classe de altura previamente estabelecido é criada?

2. Identifique os quatro tetracordes formados nos dois primeiros compassos do Prelúdio da ópera
Tristão e Isolda de Wagner. Quais destes são formas pelo mesmo conjunto de classes de alturas?
Como o ritmo da frase relaciona-se com os conjuntos de classes de alturas identificados?

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