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1Bracharel em Direito pela Universidade do Estado do Amazonas. Especialista em Direito Público pela Universidade do
Estado do Amazonas. Mestrando em Direito Ambiental pelo Programa de Pós-Graduação em Direito Ambiental da
Universidade do Estado do Amazonas – PPGDA/UEA.
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chega-se a conclusão de que esta minoria qualitativa ainda não é privilegiada pelo Poder Público,
embora seja fundamental para a manutenção do meio ambiente.
INTRODUÇÃO
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1. CONCEPÇÃO DA CIDADANIA
Nestes casos, podemos admitir que a aquisição dos direitos polítivos se opera por graus,
apenas para denotar o fato de que a plenitude de sua titularidade se processa por etapas:
(1) aos 16 anos de idade, o nacional já pode alistar-se tornando-se titular do direito de
votar; (2) aos 18 anos, é obrigado a alistar-se, tornando-se titular do direito de votar, se
não o fizera aos 16 , e do direito de ser eleito para vereador; (3) aos 21anos, o cidadão
(nacional eleitor) incorpora o direito de ser votado para Deputado Federal, Deputado
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Ressalta-se o valor que uma constitutição tem em relação a limitação do poder de quem
governa uma nação: além disso, reforça a ideia de cidadania, como um instrumento seguro de
desenvolvimento da sociedade.
A compreensão da cidadania está ligada com o desenvolvimento do capitalismo, pois
segundo Manzini-Covre (2005, p.24) aquela está ligada elevação da burguesia, com a
valorização do trabalho e ao desenvolvimento da vida urbana.
Neste sentido, “ a ideologia capitalista parece haver acenado com aspectos da cidadania,
sempre atravessados pela sua dubiedade característica: apontando para a melhoria nas condições
de vida dos trabalhadores, mas explorando-os”. (MANZINI-COVRE, 2005, p. 43).
Esclarecendo: o capitalismo trouxe a ascensão da classe burguesa, e esta, por sua vez,
utilizou-se da mão de obra dos trabalhadores para lucrar. Neste embate, a necessidade de uma
sociedade impregnada por práticas sociais mereceu destaque, na qual visou melhores condições
de vida para a classe operária.
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Tudo isso valoriza a categoria cidadania como estratégia de luta para uma nova
sociedade. Os trabalhadores devem estar sempre em pugna por seus interesses e direitos
– a primeira exigência para isso é a manutenção de condições democráticas mínimas,
acompanhadas de uma boa Constituição e de governantes que a respeitem. Luta que
inclui pressões, graves e desobediência civil, se necessário, mas com o fim de manter o
processo civilizatório contra um processo anárquico e bárbaro, que pode pôr abaixo
conquistas anteriores. (MANZINI-COVRE, 2005, p. 44).
Alguns deles têm acesso a quase todos os bens e direitos; outros não, em virtude do
baixo salário e do não-direito à expressão, à saúde, à educação etc. O que é cidadania
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para uns e o que é para outros? É importante apreender de que cidadania se fala.
(MANZINI-COVRE, 1995, p. 8).
Sua proposta mais funda de cidadania é a de que todos os homens são iguais ainda que
perante a lei, sem discriminação de raça, credo ou cor. E ainda: a todos cabem o dominio
sobre o seu corpo e sua vida, o acesso a um salário condizente para promover a própria
vida, o direito à educação, à saúde, à habitação, ao lazer. E mais: é direito de todos poder
expressar-se livremente, militar em partidos políticos e sindicatos, fomentar movimentos
sociais, lutar por seus valores. Enfim, o direito de ter uma vida digna, de ser homem
(MANZINI-COVRE, 1995, p. 9).
Ainda, a cidadania diz mais do que apenas um direito do homem, ela é impregnada de
deveres, de responsabilidade do indivído para com a sociedade.
A cidadania como direitos e deveres é algo possivel, que pode ser conquistado, segundo
Manzini-Covre (2005, p.10), através do enfrentamento político, através de reivindicações de
direitos, de apropriação dos espaços, respeito ao próximo – questões que visam uma sociedade
melhor. Podendo, inclusive, falar da cidadania como o próprio direito a vida, no sentido pleno.
Com fins didáticos, a autora Manzini-Covre (2005, p. 11) classifica a cidadania em três
aspectos – civil, político e social.
Pelo aspecto civil, a cidadania refere-se ao direito de locomoção, de segurança, e de
possibilidade de dispor do próprio corpo, diz respeito a liberdade do indivíduo. Como exemplo,
Manzini-Covre (2005, p.13), remete as décadas em que foi instaurada a ditadutra militar, período
marcado pela tortura, pela não liberdade de expressão, pela morte de pessoas que eram contra a
forma de pensar do Estado. Ressalta-se que até mesmo após o período militar, algumas ações
estatais são consideradas anticidadãs, como grupos armados que executam pessoas de locais
periféricos, trabalhadores rurais que são feitos de escravos, etc.
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O quadro torna-se mais grave quando refletivmos quem são esses marginais – na maioria
a população advinda da classe trabalhadora, levada à marginalidade devido à própria
exclusão (e, portanto, repressão) a que foi submetida pelo regime tecnocrático-militar,
cuja estrutura subjacente ainda não se desfez. (MANZINI-COVRE, 2005, p. 13)
Neste mesmo sentido aponta Marshall (1967, p.63). Segundo o autor, o elemento civil diz
rsespeito a liberdade de ir e vir, de imprensa, o direito de propriedade, direito a justiça etc.
A cidadania pelo aspecto social diz respeito as necessidades básicas do indivíduo. Ligados
ao labor do homem (salário proporcional ao trabalho, direito a saude, educação, habitação,
saneamento básico).
O elemento social se refere a tudo o que vai desde o direito a um mínimo de bem-estar
econômico e segurança ao direito de participar, por completo na herança social e levar a
vida de um ser civilizado de acordo com os padrões que prevalecem na sociedade. As
instituições mais intimamente ligadas com ele são o sistema educacional e os serviços
sociais. (MARSHALL, 1967, p. 64).
Por fim, a cidadania como um direito político é aquela voltada para a prática política,
através de institutos de organização que representam a população em questões que deliberam
outros direitos – sociais e civis – ou “o direito de participar no exercício do poder político, como
membro de um organismo investindo da autoridade política ou como um eleitor dos membros de
tal organismo”. (MARSHALL, 1967, p. 63).
Assim, a efetiva realização da cidadania depende desses três aspectos, que vai além da
idéia de votar e ser votado.
Em suma, esses três conjuntos de direitos, que comporiam os direitos do cidadão, não
podem ser desvinculados, pois sua efetiva realização depende de sua relação recíproca.
Esses direitos, por sua vez, são dependentes da co-relação de forças econômicas e
políticas para se efetivar. Nesse contexto está a dificil reflexão: os direitos de uns
precisam condizer com os direitos dos outros, permitindo a todos direito à vida no
sentido pleno – traço básico da cidadania que procuro delinear. (MANZINI-COVRE,
2005, p. 17).
qual o sucesso pode ser medido e em relação à qual a aspiração pode ser dirigida
(MARSHAL, 1967, p. 76).
Assim, o viés ambiental ganhou força por parte do Poder Estatal e o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado passa a ser considerado um direito fundamental, conforme
ensina Silva (2007).
Neste contexto novas formas de expressão da cidadania foram surgindo, com fulcro de
determinar obrigações de cunho ambiental através deveres aos cidadãos, na busca de um meio
ambiente sadio para as presentes e futuras gerações.
O Direito Ambiental passa ser determinante que agrega princípios da participação
popular, da cooperação ambinetal, do não retrocesso, e da cidadania.
No entanto, a construção de uma cidadania participativa pode ter uma dupla face. Se por
um lado o exercício e a promoção de uma cidadania participativa e pluralista convida (e
necessita que) outros segmentos da sociedade participem e se integrem ao movimento de
mudanças a fim de preservarem o bem ambiental ou diminuírem os impactos já
causados. Por outro lado, esta universalidade e generalidade admitida pela cidadania
participativa pode apagar anos de lutas que determinados segmentos sociais vem
construindo para que sejam reconhecidos como diferentes, como por exemplo os povos
indígenas. (OLIVEIRA, 2012, p.12).
Neste sentido, Oliveira (2012, p. 21) apresenta várias denominações que são dadas ao
Estado Democrátivo de Direito influenciado pela condição ambiental:
O novo projeto da comunidade estatal pode ser encontrado sob diversos nomes no
campo de debate estudado: Estado Mundial Ambiental, Estado Pós-social, Estado
Constitucional Ecológico, Estado de Direito Ambiental, Estado do Ambiente, Estado de
Bem-Estar ambiental, entre outros. Pela leitura das obras observa-se que a nomenclatura
mais usual, inclusive pelos autores brasileiros, é Estado de Direito Ambiental.
(OLIVEIRA 2012, p. 21).
Por esta perspectiva a cidadania também passou a ter uma nova roupagem. Segundo
Oliveira (2012, p. 26), busca-se a valorização da vida em meio a crise ambiental, através do
fortalecimento da ideia de dignidade humana e dos princípios fundamentais. Além disso, o
cidadão passa a ter deveres em relação ao meio ambiente, sendo um deles a necessidade de
compreensão da posição ecológica do ser humano e das possibilidades decorrentes da sua
atividade predatória.
Ressalta-se o dispositivo do art. 225 da Constituição Federal a respeito do meio ambiente
ecologicamente equilibrado, segundo o qual “todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
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Como observamos nos tópicos anteriores, as relações entre cidadania e o Estado nacional
são regidas pelo contexto histórico predominante à época. Em nossos dias, observamos
que, diante da implantação de um desequilíbrio ambiental constatado como crise que
enseja modificações no Estado nacional, por conseguinte, observaremos mudanças nas
relações de cidadania, em especial àquela proposta pelo Estado de Direito Ambiental.
(OLIVEIRA, 2005, p. 38).
Ainda, segundo Oliveira (2005, p. 40), existem meios para a consecução de uma
cidadania ambiental: a participação de criação de normas ambientais, a formulação de políticas
ambientais e a participação via acesso ao Poder Judiciário. Tais instrumentos podem ser
agregados ao cidadãos através da educação ambiental.
sentido as comunidades tradicionais são grupos familiares que se utilizam de recursos naturais,
atraves do uso comum de florestas, recursos hidricos, campos e pastagens e exercem atividades
produtivas como extrativismo, agricultura, pesca, caça, artesanato, etc.
Tais grupos ainda são caracterizados pela invisibilidade social, deixando-os a margem de
decisões do Poder Público que pouco se preocupa com sua existência.
Exemplos disso são as comunidades ribeirinhas que habitam a unidade de conservação
Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro. Silva, G. (2013) mostra que ao criar as
áreas de conservação, o Estado estabelece um caráter impositivo diante dos moradores destes
locais, o que redireciona sua práticas de vida em relação àquele meio. Isso afeta diretamente as
possibilidades de sobrevivência da comunidade, que não encontra viabilidade para reprodução
dos seus núcleos familiares.
Assim, necessário o fortalecimento da cidadania de tais grupos, como forma de integrá-los
ao Estado Democrático de Direito, dando a eles vez e voz no que tange tomadas de decisões
sobre seus territórios, sobre a incidência de unidades de conservação em suas áresa, sobre a
necessidade de votarem e escolherem seu melhor representante, de não delimitarem suas
atividades por meio leis.
O art. 3 da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades
Tradicionais – regulamentado pelo Decreto nº 6.040 de 2007 conceitua da seguinte forma:
O exercicio da cidadania, neste caso, pode se dar através da adoção e políticas e ações
governamentais e da população que influenciam a consciência ética e o respeito.
A não-cidadania neste caso pode causar a falta de integridade do bem–estar da população,
por meio de ameaças a reprodução cultural devido a restrição ao acesso de recursos naturais,
violênia e coerção por parte de órgãos fiscalizatórios que detêm o poder.
A proteção jurídica dada a diversidade cultural no que diz respeito as populações
tradicionais garante a cidadania ambiental planetária. Exemplo disso é o Decreto nº 4.339/2002
que institui a Política Nacional da Biodiversidade, no qual informa a importância das populações
tradicionais na conservação e na utilização da biodiversidade brasileira.
A Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais,
art. 2º, informa a diversidade cultural como grande riqueza para os indivíduos e para a
sociedades, sendo a proteção, promoção e manutenção da diversidade cultural condição essencial
para o desenvolvimento sustentável em benefício das gerações atuais e futuras.
O art. 8 da Convenção da Diversidade Biológica estebelece como obrigação o respeito a
preservação e a manutenção do conhecimento, as inovações e praticas das comunidades locais e
populações indígenas como estilo de vida tradicional relevante à conservação e à utilização
sustentável da diversidade biológica
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa perspectiva
é o patamar que propicia a possibilidade de se instaurar os acordos mútuos, através da
participação, do diálogo, do exercício da cidadania, da construção da democracia.
a resistência tanto do Poder Público como das elites, que se apropriaram do poder em
abrir
mão do privilegiado espaço conquistado;
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REFERÊNCIAS
COVRE, Maria de Louders Manzini. O que é cidadania. São Paulo: Brasiliense, 2001.
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro – 14ª ed. rev., atual. e
ampl. e atual. Em face da Rio + 20 e do novo “Código” Florestal – São Paulo, 2013.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 17. ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2009.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25ª ed. São Paulo: Malheiros:
São Paulo, 2015.
SILVA, Gimima Beatriz Melo da. Guardiões da Floresta, retóricas e formas de controle da gestão
ambiental e territorial – Niterói: 209 f.; il. Tese (Doutorado – Programa de Pós-Graduação em
Antropologia – PPGA) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal
Fluminense, 2013.