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A CIDADANIA DOS POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS

Allex Jordan Oliveira Mendonça1

Sumário: Introdução. 1. Concepção da Cidadania. 2. Cidadania e Meio Ambiente 3. Povos e


Comunidades Tradicionais. Considerações Finais. Referências.

Resumo: A partir da análise do conceito de cidadania, da Constituição federal de 1988, além de


estudos sociologicos e do Direito Ambiental, o presente trabalho expõe um estudo sobre a
efetivação da cidadania dos povos e comunidades Tradicionais. Mostrando em um primeiro
momento os conceitos, além da convergência do Direito Ambiental com o instituto da cidadania e
por fim, como as comunidades e povos tradicionais legitimam a ideia de cidadania ambiental,
destacando normas legais que visam a proteção e manutenção meio ambiente. Neste sentido, o
objetivo do estudo, que diz respeito ao tratamento constitucional dado a diversidade cultural, é
mostrar o histórico, conceito, trajetória e inovação da cidadania feita pelo Direito Ambiental. A
preocupação com o tema é mostrado ao longo do trabalho, quando é verificada que estas
comunidades são deixadas de lado, causando sua invisibilidade social, ocasinando na sua não-
cidadania. Entretanto, há vasta legislação que assegura a proteção e o prestigio dessas
comunidades como protetores do meio ambiente, conduzindo a ideia de cidadania ambiental.
Neste estudo, além de conceitos jurídicos, foi abordado questões sociologicas a respeito da
cidadania, que vai muito além do direito de votar e ser votado. O método adotado para a
realização desta pesquisa foi o dedutivo, utilizando fatos e dados extraídos de livros e textos de
lei que mostrem, comprovem e forneçam informações válidas. Ressalta-se que o estudo constitui-
se no campo da ciência social. Por fim, chega-se a conclusão de que embora haja legislação que
ampare a existência dos povos e comunidades tradicionais, há a falta de participação, diálogo, e
informação entre estes o Poder Estatal, o que inviabiliza a sua plena cidadania. Além disso,

1Bracharel em Direito pela Universidade do Estado do Amazonas. Especialista em Direito Público pela Universidade do
Estado do Amazonas. Mestrando em Direito Ambiental pelo Programa de Pós-Graduação em Direito Ambiental da
Universidade do Estado do Amazonas – PPGDA/UEA.
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chega-se a conclusão de que esta minoria qualitativa ainda não é privilegiada pelo Poder Público,
embora seja fundamental para a manutenção do meio ambiente.

Palavras-Chave: cidadania; meio-ambiente; povos e comunidades tradicionais.

Abstract: A partir da análise do conceito de cidadania, da Constituição federal de 1988, além de


estudos sociologicos e do Direito Ambiental, o presente trabalho expõe um estudo sobre a
efetivação da cidadania dos povos e comunidades Tradicionais. Mostrando em um primeiro
momento os conceitos, além da convergência do Direito Ambiental com o instituto da cidadania e
por fim, como as comunidades e povos tradicionais legitimam a ideia de cidadania ambiental,
destacando normas legais que visam a proteção e manutenção meio ambiente. Neste sentido, o
objetivo do estudo, que diz respeito ao tratamento constitucional dado a diversidade cultural, é
mostrar o histórico, conceito, trajetória e inovação da cidadania feita pelo Direito Ambiental. A
preocupação com o tema é mostrado ao longo do trabalho, quando é verificada que estas
comunidades são deixadas de lado, causando sua invisibilidade social, ocasinando na sua não-
cidadania. Entretanto, há vasta legislação que assegura a proteção e o prestigio dessas
comunidades como protetores do meio ambiente, conduzindo a ideia de cidadania ambiental.
Neste estudo, além de conceitos jurídicos, foi abordado questões sociologicas a respeito da
cidadania, que vai muito além do direito de votar e ser votado. O método adotado para a
realização desta pesquisa foi o dedutivo, utilizando fatos e dados extraídos de livros e textos de
lei que mostrem, comprovem e forneçam informações válidas. Ressalta-se que o estudo constitui-
se no campo da ciência social. Por fim, chega-se a conclusão de que embora haja legislação que
ampare a existência dos povos e comunidades tradicionais, há a falta de participação, diálogo, e
informação entre estes o Poder Estatal, o que inviabiliza a sua plena cidadania. Além disso,
chega-se a conclusão de que esta minoria qualitativa ainda não é privilegiada pelo Poder Público,
embora seja fundamental para a manutenção do meio ambiente.

Key-words: Meio ambiente, unidades de conservação, uso sustentável, proteção integral.


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INTRODUÇÃO
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1. CONCEPÇÃO DA CIDADANIA

Da análise da cidadania a partir do Direito Constitucional, é possível identificá-la como


sendo um dos direitos políticos do Estado Democrático de Direito. Segundo Silva (2005, p. 344),
a Constituição Federal de 1988 disciplina os direitos políticos, em um de seus capítulos.
A idéia dos direitos políticos baseia-se no sistema representativo democrático brasileiro,
através da participação do povo no governo, através de representantes eleitos ou diretamente.
A cidadania, neste contexto, se insere como um status ligado aos direitos políticos, que
qualifica aqueles que participam na dinâmica do Estado, ou como afirma Silva (2005, p. 345) “é
atributo das pessoas integradas na sociedade estatal, atributo político decorrente do direito de
participar no governo e direito de ser ouvido pela representação política”.
Assim, o cidadão é a pessoa titular de direitos políticos que possui a capacidade de votar
e de ser votada. A qualidade de cidadão é conquistada a partir do alistamento eleitoral, sendo
obrigatório para pessoas maiores de dezoito anos, e facultativo para analfabetos, maiores de
setenta anos, maiores de dezesseis e menores de dezoito anos, conforme art. 14 da Constituição
Federal.

O alistamento eleitoral depende de iniciativa da pessoa, mediante requerimento, em


fórmula que obedece ao modelo aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral, que
apresentará instruído com comprovante de sua qualificação e de idade, dezesseis anos,
no mínimo, até à data de eleição marcada; essa última circunstância não consta na
Constituição mas é razoável admití-la como no Direito Constitucional revogado. As
providências para o alistamento hão de efetivar-se, para o brasileiro nato, até os
dezenove anos de idade e, para o naturalizado, até um ano depois de adquirida a
nacionalidade brasileira, sob pena de incorrerem em multa. (SILVA, 2005, p. 347).

Assim, percebe-se que a cidadania é adquirida a partir da obtenção da qualidade de


eleitor, que é cidadão. Ressalta-se que Silva (2005, p. 347) afirma que o cidadão nem sempre
pode exercer todos os direitos políticos – estes se encontram em alguns graus, que são
conquistados em sucessivas etapas.

Nestes casos, podemos admitir que a aquisição dos direitos polítivos se opera por graus,
apenas para denotar o fato de que a plenitude de sua titularidade se processa por etapas:
(1) aos 16 anos de idade, o nacional já pode alistar-se tornando-se titular do direito de
votar; (2) aos 18 anos, é obrigado a alistar-se, tornando-se titular do direito de votar, se
não o fizera aos 16 , e do direito de ser eleito para vereador; (3) aos 21anos, o cidadão
(nacional eleitor) incorpora o direito de ser votado para Deputado Federal, Deputado
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Estadual ou Deputado Distrital (Distrito Federal), Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;


(4) aos 30 anos, obtém a possibilidade de ser eleito para Governador e Vice-Governador
de Estado e do Ditrito Federal; (5) finalmente, aos 35 anos o cidadão chega ao ápice da
cidadania formal com o direito de ser votado para Presidente e Vice-Presidente da
República e para Senador Federal (art. 14 §3º). (SILVA, 2005, p. 347).

Manzini-Covre (2005, p. 18) remete a origem da cidadania à Grécia antiga. Onde a


sociedade era composta de homens livres, que participavam de uma democracia direta, na qual a
coletividade e suas atividades eram debatidas constantemente, promovendo o exercício de ser
cidadão.
Durante o período feudal não houve grande desenvolvimento da ideia de cidadania, que
voltou a ter espaço apenas com a ascensão da sociedade capitalista, através de revoluções que
touxeram a tona documentos constitucionais que indicavam o estabelecimento de direitos de
igualdade.

Para uma primeira aproximação, vale a pena retroceder às revoluções burguesas,


particularmente à revolução Francesa. Com elas, estabelecem-se as Cartas
Constitucionais, que se opõem ao processo de normas difusas e indiscriminadas da
sociedade feudal e às normas arbitrárias do regime monárquico ditatorial, anunciando
uma relação jurídica centralizada, o chamado Estado de Direito. Este surge para
estabelecer direitos iguais a todos os homens, ainda que perante a lei, e acenar com o fim
da desigualdade a que os homens sempre foram relegados. (MANZINI-COVRE 2005, p.
20).

Ressalta-se o valor que uma constitutição tem em relação a limitação do poder de quem
governa uma nação: além disso, reforça a ideia de cidadania, como um instrumento seguro de
desenvolvimento da sociedade.
A compreensão da cidadania está ligada com o desenvolvimento do capitalismo, pois
segundo Manzini-Covre (2005, p.24) aquela está ligada elevação da burguesia, com a
valorização do trabalho e ao desenvolvimento da vida urbana.
Neste sentido, “ a ideologia capitalista parece haver acenado com aspectos da cidadania,
sempre atravessados pela sua dubiedade característica: apontando para a melhoria nas condições
de vida dos trabalhadores, mas explorando-os”. (MANZINI-COVRE, 2005, p. 43).
Esclarecendo: o capitalismo trouxe a ascensão da classe burguesa, e esta, por sua vez,
utilizou-se da mão de obra dos trabalhadores para lucrar. Neste embate, a necessidade de uma
sociedade impregnada por práticas sociais mereceu destaque, na qual visou melhores condições
de vida para a classe operária.
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Tudo isso valoriza a categoria cidadania como estratégia de luta para uma nova
sociedade. Os trabalhadores devem estar sempre em pugna por seus interesses e direitos
– a primeira exigência para isso é a manutenção de condições democráticas mínimas,
acompanhadas de uma boa Constituição e de governantes que a respeitem. Luta que
inclui pressões, graves e desobediência civil, se necessário, mas com o fim de manter o
processo civilizatório contra um processo anárquico e bárbaro, que pode pôr abaixo
conquistas anteriores. (MANZINI-COVRE, 2005, p. 44).

Em todos os periodos históricos, percebe-se que a cidadania se constitui como um


verdadeiro princípio da igualdade, através da idéia de liberdade dos homens, que possuem a
capacidade de parcitipar de forma individual na sociedade.

A cidadania exige um elo de natureza diferente, um sentimento direto de participação


numa comunidade baseado numa lealdade a uma civilização que é um patrimônio
comum. Compreende a lealdade de homens livres, imbuídos de direitos e protegidos por
uma lei comum. Seu desenvolvimento é estimulado tanto pela luta para adquirir tais
direitos quanto pelo gôzo dos mesmo uma vez adquiridos. (MARSHALL, 1967, p. 84).

Embora para o Direito Constitucional a cidadania se consubstancia em um direito político,


para a sociologia este instito se reveste de características mais complexas, que vão além do
direito de votar e de ser votado.
Para Marshall (1967, p. 96) não é possivel definir precisamente os direitos do cidadão:
deve-se ter em mente o elemento qualitativo dos indivíduos que são tutelados. Entretanto,
necessário é um mínimo de direitos reconhecidos legalmente. É um direito a igualdade de
oportunidade (de direitos), através da eliminação de privilégios de parcela de indivíduos, com o
reconhecimento da desigualdade de outros.
Segundo Manzini-Covre (1995, p. 8) a cidadania passou a ser assunto de destaque
atualmente, aparecendo nas falas de quem detêm o poder político, através dos meios de
comunicação, nas produções intelectuais, e na pauta de diversos movimentos de minorias sociais,
que fundamentam-se na cidadania para reivindicar saneamento básico, educação, fim da
discriminação sexual e racial.
Neste diapasão, a autora em destaque afirma que é preciso analisar a cidadania de cada
um desses grupos sociais, pois estes se encontram em diversas posições na sosiedade.

Alguns deles têm acesso a quase todos os bens e direitos; outros não, em virtude do
baixo salário e do não-direito à expressão, à saúde, à educação etc. O que é cidadania
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para uns e o que é para outros? É importante apreender de que cidadania se fala.
(MANZINI-COVRE, 1995, p. 8).

Percebe-se, assim, que a cidadania não é um dispositivo estanque, é um “processo


dialético em incessante percurso em nossa sociedade” (MANZINI-COVRE, 1995, p. 8).
Cidadania é mais que o direito de votar e ser votado – ela demonstra condições de nivel
econômico, social, político e cultural – instituto que se fundamenta na ideia de que todos os
homens são iguais.

Sua proposta mais funda de cidadania é a de que todos os homens são iguais ainda que
perante a lei, sem discriminação de raça, credo ou cor. E ainda: a todos cabem o dominio
sobre o seu corpo e sua vida, o acesso a um salário condizente para promover a própria
vida, o direito à educação, à saúde, à habitação, ao lazer. E mais: é direito de todos poder
expressar-se livremente, militar em partidos políticos e sindicatos, fomentar movimentos
sociais, lutar por seus valores. Enfim, o direito de ter uma vida digna, de ser homem
(MANZINI-COVRE, 1995, p. 9).

Ainda, a cidadania diz mais do que apenas um direito do homem, ela é impregnada de
deveres, de responsabilidade do indivído para com a sociedade.
A cidadania como direitos e deveres é algo possivel, que pode ser conquistado, segundo
Manzini-Covre (2005, p.10), através do enfrentamento político, através de reivindicações de
direitos, de apropriação dos espaços, respeito ao próximo – questões que visam uma sociedade
melhor. Podendo, inclusive, falar da cidadania como o próprio direito a vida, no sentido pleno.
Com fins didáticos, a autora Manzini-Covre (2005, p. 11) classifica a cidadania em três
aspectos – civil, político e social.
Pelo aspecto civil, a cidadania refere-se ao direito de locomoção, de segurança, e de
possibilidade de dispor do próprio corpo, diz respeito a liberdade do indivíduo. Como exemplo,
Manzini-Covre (2005, p.13), remete as décadas em que foi instaurada a ditadutra militar, período
marcado pela tortura, pela não liberdade de expressão, pela morte de pessoas que eram contra a
forma de pensar do Estado. Ressalta-se que até mesmo após o período militar, algumas ações
estatais são consideradas anticidadãs, como grupos armados que executam pessoas de locais
periféricos, trabalhadores rurais que são feitos de escravos, etc.
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O quadro torna-se mais grave quando refletivmos quem são esses marginais – na maioria
a população advinda da classe trabalhadora, levada à marginalidade devido à própria
exclusão (e, portanto, repressão) a que foi submetida pelo regime tecnocrático-militar,
cuja estrutura subjacente ainda não se desfez. (MANZINI-COVRE, 2005, p. 13)

Neste mesmo sentido aponta Marshall (1967, p.63). Segundo o autor, o elemento civil diz
rsespeito a liberdade de ir e vir, de imprensa, o direito de propriedade, direito a justiça etc.
A cidadania pelo aspecto social diz respeito as necessidades básicas do indivíduo. Ligados
ao labor do homem (salário proporcional ao trabalho, direito a saude, educação, habitação,
saneamento básico).

O elemento social se refere a tudo o que vai desde o direito a um mínimo de bem-estar
econômico e segurança ao direito de participar, por completo na herança social e levar a
vida de um ser civilizado de acordo com os padrões que prevalecem na sociedade. As
instituições mais intimamente ligadas com ele são o sistema educacional e os serviços
sociais. (MARSHALL, 1967, p. 64).

Por fim, a cidadania como um direito político é aquela voltada para a prática política,
através de institutos de organização que representam a população em questões que deliberam
outros direitos – sociais e civis – ou “o direito de participar no exercício do poder político, como
membro de um organismo investindo da autoridade política ou como um eleitor dos membros de
tal organismo”. (MARSHALL, 1967, p. 63).
Assim, a efetiva realização da cidadania depende desses três aspectos, que vai além da
idéia de votar e ser votado.

Em suma, esses três conjuntos de direitos, que comporiam os direitos do cidadão, não
podem ser desvinculados, pois sua efetiva realização depende de sua relação recíproca.
Esses direitos, por sua vez, são dependentes da co-relação de forças econômicas e
políticas para se efetivar. Nesse contexto está a dificil reflexão: os direitos de uns
precisam condizer com os direitos dos outros, permitindo a todos direito à vida no
sentido pleno – traço básico da cidadania que procuro delinear. (MANZINI-COVRE,
2005, p. 17).

Através destes três elementos, Marshall conceitua a cidadania da seguinte forma:

A cidadania é um status concedido àqueles que são membros integrais de uma


comunidade. Todos aqueles que possuem o status são iguais com respeito aos direitos e
obrigações pertinentes ao status. Não há nenhum princípio universal que determine o que
estes direitos e obrigações serão, mas as sociedades nas quais a cidadania é uma
instituição em desenvolvimento criam uma imagem de uma cidadania ideal em relação à
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qual o sucesso pode ser medido e em relação à qual a aspiração pode ser dirigida
(MARSHAL, 1967, p. 76).

2. CIDADANIA E MEIO AMBIENTE

O homem e a sociedade evoluíram, e na busca de progresso, estes se utilizaram dos meios


naturais de forma predatória visando desenolvimento industrial e tecnológico. A partir da
Revolução industrial o homem domina a natureza, apoderando-se de seus recursos – que são
finitos – de forma irracional.
Com isso impactos ambientais foram vistos de forma cada vez mais frequente: devastação
do meio ambiente natural com a extinção de animais, desmatamento e problemas e poluição
foram pauta durante o século XIX.
Segundo Araujo (2012 p. 26) o crescimento desarazoado das cidades, durante o a
Revolução Industrial, fortificou a revalorização do meio ambiente natural. Neste sentido assevera
que “ o adensamento demográfico e a proliferação de ambientes insalubres, promíscuos e “feios”
contribuíram para gerar um sentimento antiagregativo, induzindo uma atitude de contemplação
dos espaços naturais, lugar de reflexão e de isolamento espiritual”. (ARAUJO, 2012, p. 26).
A delicada situação dos recursos naturais gerou um estado de alerta para a humanidade na
qual se viu diante de um a crise ambiental.
Tendo em vista esta problemática, passou-se a revalorizar a questão ambiental como
pauta política. Com isso, novos conceitos de cunho protecionista foram desenvolvidos – no ano
de 1992, por exemplo, realizou-se a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e
Meio Ambiente, a Rio – 92, na qual buscou conceituar o que vem a ser o desenvolvimento
sustentável.
Inclusive a Constituição brasileira vigente passou a se preocupar também com questões de
proteção ambiental.
A Constituição Federal de 1988, ao tratar sobre o meio ambiente, também abordou o
princípio do desenvolvimento sustentável: o art. 225 da Carta Magna dispõe sobre a observância
da coletividade e do Poder Público de preservarem o meio ambiente para as presentes e futuras
gerações,
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Assim, o viés ambiental ganhou força por parte do Poder Estatal e o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado passa a ser considerado um direito fundamental, conforme
ensina Silva (2007).
Neste contexto novas formas de expressão da cidadania foram surgindo, com fulcro de
determinar obrigações de cunho ambiental através deveres aos cidadãos, na busca de um meio
ambiente sadio para as presentes e futuras gerações.
O Direito Ambiental passa ser determinante que agrega princípios da participação
popular, da cooperação ambinetal, do não retrocesso, e da cidadania.

No entanto, a construção de uma cidadania participativa pode ter uma dupla face. Se por
um lado o exercício e a promoção de uma cidadania participativa e pluralista convida (e
necessita que) outros segmentos da sociedade participem e se integrem ao movimento de
mudanças a fim de preservarem o bem ambiental ou diminuírem os impactos já
causados. Por outro lado, esta universalidade e generalidade admitida pela cidadania
participativa pode apagar anos de lutas que determinados segmentos sociais vem
construindo para que sejam reconhecidos como diferentes, como por exemplo os povos
indígenas. (OLIVEIRA, 2012, p.12).

Neste sentido, Oliveira (2012, p. 21) apresenta várias denominações que são dadas ao
Estado Democrátivo de Direito influenciado pela condição ambiental:

O novo projeto da comunidade estatal pode ser encontrado sob diversos nomes no
campo de debate estudado: Estado Mundial Ambiental, Estado Pós-social, Estado
Constitucional Ecológico, Estado de Direito Ambiental, Estado do Ambiente, Estado de
Bem-Estar ambiental, entre outros. Pela leitura das obras observa-se que a nomenclatura
mais usual, inclusive pelos autores brasileiros, é Estado de Direito Ambiental.
(OLIVEIRA 2012, p. 21).

Por esta perspectiva a cidadania também passou a ter uma nova roupagem. Segundo
Oliveira (2012, p. 26), busca-se a valorização da vida em meio a crise ambiental, através do
fortalecimento da ideia de dignidade humana e dos princípios fundamentais. Além disso, o
cidadão passa a ter deveres em relação ao meio ambiente, sendo um deles a necessidade de
compreensão da posição ecológica do ser humano e das possibilidades decorrentes da sua
atividade predatória.
Ressalta-se o dispositivo do art. 225 da Constituição Federal a respeito do meio ambiente
ecologicamente equilibrado, segundo o qual “todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
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impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as


presentes e futuras gerações” .
Percebe-se que o bem ambiental é de uso comum do povo. O Estado e a coletividade
devem viabilizar a sua proteção, através de mundanças de comportamento social, por meio da
participação e informação.

Como observamos nos tópicos anteriores, as relações entre cidadania e o Estado nacional
são regidas pelo contexto histórico predominante à época. Em nossos dias, observamos
que, diante da implantação de um desequilíbrio ambiental constatado como crise que
enseja modificações no Estado nacional, por conseguinte, observaremos mudanças nas
relações de cidadania, em especial àquela proposta pelo Estado de Direito Ambiental.
(OLIVEIRA, 2005, p. 38).

Ainda, segundo Oliveira (2005, p. 40), existem meios para a consecução de uma
cidadania ambiental: a participação de criação de normas ambientais, a formulação de políticas
ambientais e a participação via acesso ao Poder Judiciário. Tais instrumentos podem ser
agregados ao cidadãos através da educação ambiental.

A norma constitucional prevê mecanismos de participação popular, no entanto, é letra


morta se a participação não for orientada pela informação e educação ambiental. No
sistema normativo brasileiro, a informação ambiental é um direito de todos previsto no
art. 5º, XIV, XXXIII e XXXIV da Constituição cidadã e art. 8º da Lei 7.347/85, bem
como é dever do poder público informar a população sobre o estado do meio ambiente e
sobre as ocorrências ambientais importantes (arts. 4º, V, e 9º, X e XI da Lei 6.938/8134,
e art. 6º da Lei 7.347/8535). No que tange à educação ambiental, cabe ao Poder público
promovê-la em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a devida
preservação do meio ambiente, como preceitua o art. 225, § 1º, VI da Carta Magna
brasileira. (OLIVEIRA, 2005, p. 40-41).

Estes dizerem se consubstanciam em uma concepção mais ampla da cidadania, através da


participação ativa e pluralista, reverberando uma cidadania não apenas local, mas preocupada
também com a crise ambiental de forma planetária.
Segundo a Agenda 21, feita pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
e Desenvolvimento – Resolução n2 44/228 da Assembléia Geral da ONU,de·22-12-89 – a
Cidadania é mais do que garantia de direitos: é instituto de responsabilidade pelos denstinos da
comunidade planetária.

3. POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS


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As comunidades tradicionais fazem parte da sociedade brasileira e enccontram amparo na


Constituição Federal de 1988. São consideradas minorias qualitativas e por isso merecem
tratamento constitucional.
Destaca-se que também são consideras institos tutelados pelo Direito Ambiental, pois a
diversidade cultural também é um dos aspectos do meio ambiente.
Neste sentido, o art. 216 da Carta Magna informa que constituem o patrimônio cultural
brasileiro os bens de natureza material e imaterial de diferentes grupos fomadores da sociedade,
incluindo as forma de expressão, modos de criar, fazer e viver, criações científicas, artisticas e
tecnologicas, além de obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados a
manifestações artísticos-culutrais e obras, objetos, documentos e edificações destinadas às
manifestações artístico-culturais.
Segundo Machado (2009, p. 1094) o patrimonio cultural é conceito dinâmico,
caracterizado de difetentes formas – de uma forma ampla é conceituado como patrimônio cultural
social nacional.
Já Silva (2013), conceitua o meio ambiente cultural como obra do homem, identificado
pela sua história, arte, arqueologia e cultura que foram adquiridas ao longo das gerações,
consolidando em um valor especial.
As comunidades tradicionais dizem muito da diversidade cultural de cada pais,
traduzindo, conforme aponta Fiorillo (2013), na identidicação da formação do povo e de sua
cultura – considerada um dos elementos indentificadores da cidadania.
O artigos 215 e 220 da Constituição Federal também disciplinam a tutela ao direito
cultural, determinando a garantia ao pleno exercício dos direitos culutrais e do acesso às fontes da
cultura nacional, devendo o Estado proteger as manifestações de populares, indígrnas e afro-
brasileiras.
Os povos e comunidades tradicionais fazem parte da diversidade cultural do Brasil, por
isso merece destaque a analise sua cidadania, tais grupos apresentam formas peculiares de viver e
de se expressar.
Quanto ao conceito de comunidades tradicionais, Almeida (2008) evidencia que são
formas de associação, intimamente ligadas com o processo de territorialização de determinada
área, incoporados por fatores étnicos, de autodefinição coletiva e de consciência ecológica. Neste
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sentido as comunidades tradicionais são grupos familiares que se utilizam de recursos naturais,
atraves do uso comum de florestas, recursos hidricos, campos e pastagens e exercem atividades
produtivas como extrativismo, agricultura, pesca, caça, artesanato, etc.
Tais grupos ainda são caracterizados pela invisibilidade social, deixando-os a margem de
decisões do Poder Público que pouco se preocupa com sua existência.
Exemplos disso são as comunidades ribeirinhas que habitam a unidade de conservação
Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro. Silva, G. (2013) mostra que ao criar as
áreas de conservação, o Estado estabelece um caráter impositivo diante dos moradores destes
locais, o que redireciona sua práticas de vida em relação àquele meio. Isso afeta diretamente as
possibilidades de sobrevivência da comunidade, que não encontra viabilidade para reprodução
dos seus núcleos familiares.
Assim, necessário o fortalecimento da cidadania de tais grupos, como forma de integrá-los
ao Estado Democrático de Direito, dando a eles vez e voz no que tange tomadas de decisões
sobre seus territórios, sobre a incidência de unidades de conservação em suas áresa, sobre a
necessidade de votarem e escolherem seu melhor representante, de não delimitarem suas
atividades por meio leis.
O art. 3 da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades
Tradicionais – regulamentado pelo Decreto nº 6.040 de 2007 conceitua da seguinte forma:

Art. 3o Para os fins deste Decreto e do seu Anexo compreende-se por:


I - Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que se
reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam
e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural,
social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas
gerados e transmitidos pela tradição.

A Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, que e institui o Sistema Nacional de Unidades de


Conservação da Natureza, também menciona, em seu art. 17 e art. 18, as populações tradicionais.
Ressalta-se que o termo “comunidades tradicionais” engloba vários movimentos sociais,
tornando-se conceito complexo, integrando nele os seringueiros, as quebradeiras de coco babaçu,
os quilombolas, ribeirinhos, entre outros.
Isso mostra a riqueza da diversidade cultural do país, podendo se falar, inclusive, como
aponta Almeida (2013) em um Estado Pluriético.
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O exercicio da cidadania, neste caso, pode se dar através da adoção e políticas e ações
governamentais e da população que influenciam a consciência ética e o respeito.
A não-cidadania neste caso pode causar a falta de integridade do bem–estar da população,
por meio de ameaças a reprodução cultural devido a restrição ao acesso de recursos naturais,
violênia e coerção por parte de órgãos fiscalizatórios que detêm o poder.
A proteção jurídica dada a diversidade cultural no que diz respeito as populações
tradicionais garante a cidadania ambiental planetária. Exemplo disso é o Decreto nº 4.339/2002
que institui a Política Nacional da Biodiversidade, no qual informa a importância das populações
tradicionais na conservação e na utilização da biodiversidade brasileira.
A Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais,
art. 2º, informa a diversidade cultural como grande riqueza para os indivíduos e para a
sociedades, sendo a proteção, promoção e manutenção da diversidade cultural condição essencial
para o desenvolvimento sustentável em benefício das gerações atuais e futuras.
O art. 8 da Convenção da Diversidade Biológica estebelece como obrigação o respeito a
preservação e a manutenção do conhecimento, as inovações e praticas das comunidades locais e
populações indígenas como estilo de vida tradicional relevante à conservação e à utilização
sustentável da diversidade biológica

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa perspectiva
é o patamar que propicia a possibilidade de se instaurar os acordos mútuos, através da
participação, do diálogo, do exercício da cidadania, da construção da democracia.

a resistência tanto do Poder Público como das elites, que se apropriaram do poder em
abrir
mão do privilegiado espaço conquistado;
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REFERÊNCIAS

ARAUJO, Marcos Antônio Reis. Unidades de Conservação: Importância E História No Mundo.


In: Unidades de conservação no Brasil: o caminho da Gestão para Resultados. Organizado por
NEXUCS – São Carlos: RiMa Editora, 2012. p. 25-50.

BRASIL. Constituição da República Federativa do. Brasília, DF, Senado, 1998.

___________________. Decreto nº 4.339, de 22 de agosto de 2002. Institui princípios e diretrizes


para a implementação da Política Nacional da Biodiversidade.

___________________. Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007. Institui a Política Nacional


de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. Brasília: Diário Ofi cial
da República Federativa do Brasil.

___________________. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional


do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.

___________________. Decreto Legislativo nº 2, de 1994. de Convenção da Diversidade


Biologica. Aprova o texto do Convenção sobre Diversidade Biológica, assinada durante a
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimeto, realizada na Cidade do
Rio de Janeiro, no período de 5 a 14 de junho de 1992.

COVRE, Maria de Louders Manzini. O que é cidadania. São Paulo: Brasiliense, 2001.

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro – 14ª ed. rev., atual. e
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MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 17. ed. São Paulo: Malheiros
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