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LÍNGUA
BRASILEIRA
DE SINAIS
Andréia Mendiola Marcon
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
Monique Giusti Reveilleau
Tatiane de Souza da Anhaia
c o l e ç ã o
didática
UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
UPF Editora
Carme Regina Schons
Editora
CONSELHO EDITORIAL
Altair Alberto Fávero
Alvaro Della Bona
Ana Carolina Bertoletti de Marchi
Andrea Poleto Oltramari
Carme Regina Schons
Cleiton Chiamonti Bona
Elci Lotar Dickel
Fernando Fornari
Graciela René Ormezzano
João Carlos Tedesco
Renata Holzbach Tagliari
Rosimar Serena Siqueira Esquinsani
Sergio Machado Porto
Zacarias Martin Chamberlain Pravia
ESTUDOS DA
LÍNGUA
BRASILEIRA
DE SINAIS
Andréia Mendiola Marcon
Andréia Mendiola Ângela
MarconMara Berlando Soares
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
Cristine Fátima Pereira Luna
Monique Giusti Reveilleau
Monique Giusti Reveilleau
Tatiane de Souza da Anhaia
Tatiane de Souza da Anhaia
2011
c o l e ç ã o
didática
Copyright © Editora Universitária
Sabino Gallon
Revisão de Emendas
Este livro no todo ou em parte, conforme determinação legal, não pode ser reproduzido por
qualquer meio sem autorização expressa e por escrito do autor ou da editora. A exatidão das
informações e dos conceitos e opiniões emitidos, as imagens, tabelas, quadros e figuras são de
exclusiva responsabilidade dos autores.
ISBN – 978-85-7515-463-2
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Fone/Fax: (54) 3316-8373
CEP 99001-970 - Passo Fundo - RS - Brasil
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Associação Brasileira
das Editoras Universitárias
À comunidade surda
pela trajetória da aprendizagem...
Sumário
Apresentação..................................................................................................8
1
Conhecer e reconhecer a diferença nas relações de aprendizagem..........10
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
2
Indagações iniciais........................................................................................12
Andréia Mendiola Marcon
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
Monique Giusti Reveilleau
Tatiane de Souza da Anhaia
3
“Ser surdo”...................................................................................................14
Ângela Mara Berlando Soares
Monique Giusti Reveilleau
4
Retrospectiva histórica da educação e da cultura surda.............................18
Andréia Mendiola Marcon
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
5
Língua de sinais............................................................................................22
Cristine Fátima Pereira Luna
Monique Giusti Reveilleau
6
Sinais básicos das libras................................................................................29
Andréia Mendiola Marcon
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
Monique Giusti Reveilleau
Tatiane de Souza da Anhaia
7
Perspectivas da educação de surdos ao longo da história
Andréia Mendiola Marcon
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
Tatiane de Souza da Anhaia
8
Aquisição da linguagem pela criança surda................................................ 67
Andréia Mendiola Marcon
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
9
O tradutor/intérprete de língua de sinais...................................................74
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
10
Alteridade: constituição subjetiva do ser humano..................................... 77
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
Referências...................................................................................................79
Sobre os autores........................................................................................... 81
Apresentação
Q
uando uma instituição como a UPF determina o cumprimen-
to de sua excelência na formação docente, busca contemplar
todos os espaços possíveis no eixo ensino-aprendizagem. Para
isso, a Divisão de Graduação lançou o edital para participação no pro-
jeto Série de Livros Didáticos. Nesse sentido, o colegiado da discipli-
na de Libras do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), e
profissionais vinculados ao Setor de Atenção ao Estudante (SAEs)1
dedicaram-se à produção desta obra, processo que se fez com muito
entusiasmo e enorme afinco.
Como toda língua, a língua brasileira de sinais (libras) é dinâ-
mica, reformula-se constantemente, possui estrutura gramatical. Por
8
esse motivo, a organização deste material teve o cuidado de propor um
desenvolvimento gradual em contexto, dirigido aos alunos e futuros
professores, em formato atual, acessível e prático. A equipe elaborou
com propriedade textos pertinentes e ilustrações detalhadas, conju-
gando suas performáticas, características, crenças e verdades.
Para aprender toda e qualquer língua, além de conhecer seus as-
pectos sintáticos, morfológicos ou fonológicos, é relevante integrar-se
à cultura inerente à mesma, pois só assim é possível assimilar a capa-
cidade de comunicação, a qual justifica a sua existência.
O resultado não poderia ser diferente, porque desde o início hou-
ve clareza no objetivo: desenvolver uma obra que preencha a lacu-
na no processo de formação dos futuros professores, ora acadêmicos
dos cursos de licenciatura, configurando-se como importante subsídio
para sua aprendizagem sobre as temáticas da surdez e da libras. Na
mesma medida, estende-se aos estudantes e professores dos demais
cursos de graduação e pessoas interessadas, que, com o acesso às in-
formações contidas na obra, têm a oportunidade de ampliar os conhe-
P
ara que a aprendizagem aconteça, a relação entre os protago-
nistas é de grande relevância. Se partirmos da premissa de que
os sujeitos ora aprendem, ora ensinam, estabelecemos uma re-
lação de complementaridade, de troca, de interação. Entretanto, como
atingir esse ideal se os alunos são diferentes entre si, com muitas
10 peculiaridades? A heterogeneidade é característica das sociedades
porque o sujeito é, por natureza, singular, e nesse contexto nos depa-
ramos com a diversidade de modos de ser, de aprender, de construir o
conhecimento.
Nas relações de aprendizagem entre surdos e ouvintes, é fun-
damental conhecer a diferença, pois a partir dela compreendemos os
processos de ensinar e aprender. Noutros tempos nos contentávamos
com uma relação de ensino linear, como se as pessoas aprendessem no
mesmo tempo e de igual maneira, e insistíamos fortemente neste pa-
radigma, no qual prevalecia a padronização. Ao conhecer e reconhecer
a diferença, compreendendo-a como algo natural, não como déficit ou
desvantagem, abre-se espaço para novas concepções acerca da apren-
dizagem. Pozo (2002), na sua obra Aprendizes e mestres, enfatiza que
há novos cenários de aprendizagem, constituídos por novos perfis e
modalidades de aprender, tornando-se emergencial um novo perfil de
quem ensina e distintas possibilidades que viabilizem a aprendiza-
gem.
12
• Surdez é doença?
Não. A surdez priva o surdo de ouvir, porém não o impede de se co-
municar. A surdez pode ter causa congênita ou ser adquirida ao longo
da vida.
• Todo surdo é mudo?
São muito raros os casos em que o surdo é mudo. Mudez nem sempre
tem conexão com a surdez. “Surdo-mudo” é, provavelmente, a deno-
minação mais arcaica e incorreta sobre a surdez.
• O surdo consegue falar?
O surdo tem capacidade de oralizar, que é fazer uso de sua capacidade
fonadora por meio de exercícios fonoaudiológicos. Ao ser oralizado, o
surdo não passa a “ouvir”, mas tem na oralização uma estratégia de
comunicação com os ouvintes.
• O uso de aparelho auditivo é indicado para surdos?
Cada caso tem suas peculiaridades. Por isso, é essencial uma investi-
gação detalhada e a opção do surdo deve ser respeitada.
• É possível o surdo fazer leitura labial?
A
presentamos algumas cenas para posterior análise e discus-
são. Os comentários partem da experiência de surdos e ou-
vintes ao se depararem com a condição da surdez:
14
É importante que a sociedade conheça o modo de vida dos surdos, que pos-
sui algumas peculiaridades, relacionadas a sua cultura e identidade. No entanto,
é preciso aceitar a diferença do sujeito surdo, assim como é importante aceitar a
diferença do ouvinte, compreendendo que todos têm capacidade de aprender, de
emitir sua opinião, de expressar seus desejos e se comunicar.
15
Neste contexto, falar significa oralizar, que é a tentativa de reabilitação da fala por meio de
1
exercícios fonoaudiológicos
“Não sabia nada sobre surdez... Aos 13 anos, descobri que a língua de si-
nais existia e era a língua natural de surdos... Fiquei encantada e maravilhada.
Quando vi pela primeira vez a língua de sinais, percebi que existiam pessoas
iguais a mim. Era como outro mundo e a partir desse momento mudei minha
vida completamente... Meus olhos brilharam muito ao ver as mãos lindas se
comunicando.”
17
P
retende-se, a partir da retrospectiva histórica sobre a educação
e cultura surda, buscar elementos para a compreensão do con-
texto da surdez, os quais permitirão analisar os processos de
inclusão social e o desenvolvimento educacional dos surdos na atuali-
18 dade. Para tanto, tomamos como base a pesquisa “Para uma cronolo-
gia da educação dos surdos”, realizada por Cabral (2001), professor de
educação especial de Portugal, que apresenta, em ordem cronológica,
os registros encontrados a respeito da história dos surdos no mundo.
Os termos ouvintista, ouvintismo etc. são derivações de “ouvintização”, que, segundo a concepção
3
de Skliar, sugere “uma forma particular e específica de colonização dos ouvintes sobre os surdos.
Supõe representações práticas designificação, dispositivos pedagógicos, etc., em que os surdos
são vistos como sujeitos inferiores” (1999, p. 7).
A
língua de sinais utiliza a comunicação visuoespacial. Por
esse motivo, quase não se encontram registros da sua
historicidade,sendo difícil localizar e comprovar sua origem.
Os estudos linguísticos das línguas de sinais têm como marco
os trabalhos realizados pelo linguista escocês William C. Stokoe em
1957, docente do Departamento de Inglês do Gallaudet College, em
Washington, nos Estados Unidos.
22 Quando iniciou na Gallaudet, Stokoe desconhecia a língua de si-
nais americana (ASL). Nessa época os professores da instituição eram
ouvintes e ensinavam inglês aos alunos surdos; não havia aulas de
ASL, porque era desconsiderada como língua. Ao observar a diferença
entre a sinalização das palavras em inglês durante as aulas e a sina-
lização quando os surdos se comunicavam entre si, Stokoe percebeu
uma autonomia na comunicação sinalizada. Ao conseguir um finan-
ciamento do governo norte-americano, teve a possibilidade de desen-
volver pesquisas acerca das sinalizações produzidas pelos surdos fora
das aulas.
As conclusões de sua pesquisa demonstraram que a sinalização
não dependia de uma língua falada, no caso o inglês, e que seguia uma
gramática própria. Assim Stokoe publicou em 1960 seus estudos na
obra Language structure: an outline of the visual communication syste-
ms of the american deaf. A divulgação e a disseminação de seus estudos
revolucionaram a visão linguística, pois, ao mostrar que as línguas de
sinais são línguas naturais, concedeu-lhes o status de língua.
A - Alfabeto manual
São representações do alfabeto latino produzido com as mãos escrevendo no
ar, por meio da digitação manual chamada de “datilologia”, as quais juntando as
letras, formam uma palavra. É usado como empréstimo da língua nacional para
sinais que ainda não existem, como, por exemplo, de cidades, nomes de pessoas,
conceitos, entre outros. Por exemplo: Passo Fundo [P-A-S-S-O_F-U-N-D-O].
24
26
Aprender Amar
C - Ponto de articulação
São sinais produzidos no espaço (à frente, acima, abaixo, à esquerda e/ou à
direita do corpo), podendo tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço
neutro. Os sinais TRABALHAR e BRINCAR localizam-se no espaço neutro e os
sinais ESQUECER e APRENDER, na testa
27
D - Movimento
Os sinais podem ter um movimento ou não. O sinal cachorro-quente
não tem movimento, e os sinais FALAR e BRINCAR têm.
28
Pronomes
29
EU TU/VOCÊ ELE/ELA
COM/JUNTO JUNTO/PESSOAS
34
MENINA MENINO MAMÃE
35
PRIMO (a) VOVÓ/VOVÔ TIO (a)
37
39
irmão (ã)
Dias da semana
40
SÁBADO
PRIMAVERA
42
VERBOS
43
44
Agosto
47
48
LARANJA ROSA VERDE
CEBOLA CERVEJA
TOMATE 53
Contexto acadêmico
55
INTERVALO
58
ENFERMAGEM FARMÁCIA
63
A
trajetória educacional do surdo no âmbito mundial passou por
vários momentos históricos, que gradativamente ressignifica- 65
ram as concepções sobre surdez e educação de surdos. As dis-
tintas modalidades colaboraram nos processos de ensinar e aprender,
de modo que temos subsídios para implementar propostas educacio-
nais condizentes com a especificidade do surdo.
Os modelos que ao longo da história foram mais significativos são
descritos na sequência.
7.1 Oralismo
O oralismo é uma perspectiva educacional direcionada à reabili-
tação da fala. Dentre as várias metodologias desenvolvidas, a leitura
labial é a principal técnica aplicada. Os sons e palavras emitidas pelo
interlocutor são captadas pela leitura (interpretação) dos movimentos
de seus lábios. Recentes estudos comprovaram que mesmo o leitor la-
bial mais experiente consegue captar apenas em torno de 50% do que
a outra pessoa pronuncia.
7.3 Bilinguismo
A modalidade bilíngue é uma perspectiva de ensino recente, que propõe a
aquisição da linguagem dos surdos por meio das duas línguas no contexto esco-
lar, tendo como pressuposto que o aluno surdo seja bilíngue, adquirindo a língua
materna, ou seja, língua de sinais como primeira língua, comprovadamente a
língua natural do surdo, e a língua oral oficial do país como segunda língua.
66 Nesta ideologia sugere-se que as crianças surdas tenham contato o mais cedo
possível com pessoas fluentes na língua de sinais.
1
Leitura da articulação dos lábios.
A
aquisição da linguagem no ser humano constitui-se a partir
da interação, primeiramente com o grupo familiar e depois no
âmbito social. A criança constrói sua identidade interagindo e
se expressando por meio da língua.
De modo similar, a aquisição da linguagem pelo surdo também 67
se realiza por meio da interação com as pessoas e o meio do qual faz
parte. É essencial que essa interação aconteça na primeira língua da
criança surda (libras), a partir da qual os estímulos para a aquisição
da linguagem devem ocorrer. É importante que a estimulação para
a aquisição da linguagem ocorra desde a detecção da surdez, pois,
quanto mais cedo, maiores serão as possibilidades de desenvolver a
linguagem adequadamente. Nisso a família tem um papel de suma
importância.
Segundo Pettito e Marantette (1991, apud Quadros, 1997), “as
vocalizações são interrompidas nos bebês surdos assim como as pro-
duções manuais são interrompidas nos bebês ouvintes, pois o input
favorece o desenvolvimento de um dos modos de balbucia” (1997 p.
70). Nesse sentido, podemos compreender que tanto bebês ouvintes
quanto bebês surdos apresentam balbucio oral e manual até um de-
terminado tempo.
Para melhor compreensão do exposto apresento um quadro com-
parativo sobre a aquisição da língua entre crianças surdas e ouvintes:
b) Contexto familiar
No mesmo sentido, é importante que a criança surda tenha clareza real do
seu contexto familiar, ou seja, que saiba de fato quais são os papéis exercidos
pelas pessoas que a rodeiam. Como exemplo, o papel do pai, da mãe, dos irmãos
e assim por diante.
f) Fotos da família
Ajudam a criança a associar quem faz parte de seu grupo familiar - mãe,
pai, irmãos, avô, avó, tio, tia, primos, padrinhos.
É fundamental compreender a importância de viabilizar essas situações
para a criança surda, pois, quanto mais informações claras e consistentes tiver,
maiores serão as possibilidades de construir o sentido do mundo. Com isso, a
criança começa a compreender o que de fato é significado (compreensão) em
relação ao significante (objeto ou algo). Neste viés a criança surda passa por um
período de transição, no qual o que antes tinha caráter lúdico – formas, tama-
nhos, cores – adquire um status de compreensão; assim, começa a estabelecer
relações acerca dos objetos e situações, que, à medida que se internalizam, ge-
ram valores cognitivos.
73
O
74 tradutor/intérprete de língua de sinais (TILS) é um profissio-
nal que faz a mediação linguística entre a língua de sinais e a
língua oral e vice-versa. De acordo com o decreto no 5.626, de
dezembro de 2005, no capítulo V, artigo 18:
Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste decreto, a
formação de tradutor e intérprete de libras - língua portuguesa, em
nível médio, deve ser realizada por meio de:
I - cursos de educação profissional;
II - cursos de extensão universitária; e
III - cursos de formação continuada promovidos por instituições
de ensino superior e instituições credenciadas por secreta-
rias de educação [...].
Entretanto, pelo fato de ser uma atividade em processo de lega-
lização, é comum pensar que pessoas bilíngues em língua de sinais e
língua oral são intérpretes, pois este profissional atua em diferentes
esferas, dentre as quais educação, saúde, justiça, religião, recreações,
eventos culturais, educacionais e esportivos, mercado de trabalho e
também no contexto familiar. No entanto, esse é um grande equívo-
76
A
s redes de relacionamentos virtuais – blogs, Orkut, Facebook,
Myspace, Twitter, Messenger, dentre outros – contêm a dilemáti-
ca indagação: “Quem sou?”. A pergunta nesses veículos de comu-
nicação é feita claramente ou aparece nas entrelinhas, com a sutil tentati-
77
va de esboçar um perfil, um pouco do que se é ou se pretende ser. O sujeito
que protagoniza a rede de comunicação virtual elabora um perfil pessoal,
social e profissional, que pode ser real ou apenas virtual, construindo uma
espécie de identidade. Os estilos escolhidos para a apresentação do perfil
são variados: dos poéticos aos filosóficos, dos mais jocosos e ousados aos
comuns, ao passo que outros são restritos apenas a uma interrogação“?”
A questão subjetiva das descrições que cada membro apresenta na
tentativa de responder a “Quem sou?” é de grande relevância, porque evi-
dencia a necessidade que o indivíduo possui de se mostrar ao outro como
único, diferente, verdadeiro, evidenciando a singularidade. A intenção
também pode ser demonstrar algo de si, “explicar-se” e causar algum im-
pacto que irá acionar no outro sua aceitação ou rejeição.
Com esse breve exemplo, pretendemos elucidar a seguinte questão: a
constituição do sujeito se dá a partir da relação que se estabelece com os
pares – os outros –, que são todas as pessoas do meio de relacionamento
ou com as quais nos deparamos no decorrer de nossas vidas. O outro, que
naturalmente é diferente, inscreve algo e interfere na formação da iden-
tidade e personalidade – que ocorre desde o nascimento –, provocando
emoções e sentimentos diversos, como admiração, indiferença, empatia,
Bakhtin (1895-1975) linguista com reconhecimento a partir da década de 90, quando alcançou
1