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ONLeiSH é o acrónimo para Observatório Nacional das Leishmanioses. este organismo, recentemente criado,
pretende alertar para uma realidade que ainda não é do conhecimento de muitos proprietários de cães.
a VeTeriNÁria aCTUaL falou com a Prof.ª Lenea Campino, presidente do ONLeiSH e directora da Unidade
de Leishmanioses do instituto de Higiene e Medicina Tropical.
presidente do ONLEISH
e directora da Unidade
de Leishmanioses do Instituto
– E é contagiosa? dos cães que recebem são suspeitas de leishmanio- por uma empresa farmacêutica – a Intervet. Enquanto
– Não é contagiosa. Não é como a tuberculose. Tem se e, dessa parte, 40% tem mesmo a doença. Come- eu antes tinha muitos problemas e dizia que não que-
que haver, em princípio, a transmissão por vector. E faz çámos a fazer estudos no terreno, com o Dr. Pedro ria nada da indústria, agora juntou-se o útil ao agra-
parte do grupo das doenças transmitidas por vector. Abranches nos anos 80, que foi a primeira pessoa com dável, porque encontrei uma empresa que tem gen-
– Qual a causa normalmente atribuída para o faleci- estudos epidemiológicos no terreno da leishmanio- te muito trabalhadora e dinâmica. Como trabalho na
mento de um animal com leishmaniose canina? se canina, e verificámos, de facto, que a prevalência leishmaniose em exclusivo já há muitos anos, a cria-
– Morre devido à falha dos órgãos vitais. Não só pela é muito alta. ção do ONLEISH foi por gosto. E acho que vale mui-
doença, mas também muitas vezes pelo tratamento. Os primeiros trabalhos que fiz foram no final dos to a pena para o país que haja uma rede de vigilância
O tratamento tem efeitos secundários muito nocivos, anos 80. Já voltei a esses sítios onde fui e, com as mes- que, por exemplo, se houver uma alteração climática
sendo prolongado e bastante agressivo, seja para o mas técnicas e com a mesma metodologia, verifiquei que interrompa o equilíbrio ambiental, que o país es-
Homem ou para o cão. Só que no caso do Homem o que a prevalência aumentou muito. Por isso, não é só teja preparado. É a medicina de prevenção.
tratamento é curto e com sucesso. No cão é prolon- uma questão de dizer que agora procura-se e é mais – Que acções vão pautar a actividade do Observató-
gado. conhecida entre os veterinários e a comunidade cien- rio?
– Porque existe essa diferença? tífica. Resolvemos fazer o Observatório, que gostaría- – Primeiro está o site – www.onleish.org – onde se po-
– Na minha opinião pessoal acho que o sistema imu- mos muito que fosse já focado para a medicina huma- dem esclarecer dúvidas e colocar perguntas. Muita
nitário do cão é muito mais debilitado, não tem tanta na, mas não tivemos tempo, e as coisas têm que ser gente telefonava para mim porque, por exemplo, saiu
resistência e tem menos eficácia. A imunidade inata faladas e temos que ter grupos de trabalho. E para isto uma notícia no jornal e queriam saber onde fazer os
e adquirida que todos temos, quando somos imuno- dar resultado temos que envolver as pessoas que fa- exames e colocavam questões que teria que ser o ve-
competentes, é algo que penso que o cão não conse- zem clínica, seja clínica dos cães ou dos humanos. terinário a decidir. Neste momento temos um grupo
gue atingir. Devo dizer que o Observatório está a ser subsidiado de veterinários, e outros especialistas, que entre to-
– Porque surgiu a necessidade de criar o ONLEISH?
– Há muito tempo que a leishmaniose humana é co-
nhecida em Trás-os-Montes, e a zona de Alijó foi um
foco endémico dos anos 50/60. Íamos para lá traba-
lhar muitas vezes e não havia família que não tives-
se tido um bebé internado com leishmaniose. E co-
meçou-se a perceber que a leishmaniose canina tem
prevalências altíssimas no nosso país. Felizmente não
há proporção directa entre a prevalência no cão e no
ser humano, mas também não sabemos quando isto
muda. Não é pelo contacto directo, mas se nós tiver-
mos o Homem, o cão que é o reservatório e o vector ali
por perto, num jardim bonito... Porque nestas doenças
só precisamos que existam os três pontos no mesmo
espaço. É melhor que se esteja prevenido.
Cada vez se via mais cães com leishmaniose. Os ve-
terinários de certas zonas dizem que quase um terço
mesmo a doença»