You are on page 1of 3

A Invenção da Liberdade, Jean Starobinski

(Resumo)
Neste texto, Jean Starobinski analisa e discute a trajetória da arte do
século XVIII e as influências absorvidas pela contextualização de uma
sociedade que passava por transformações e movimentos libertários. O autor
inicia o texto caracterizando um paradoxo existente na maneira da sociedade
do século XIX em julgar como “corrupção moral” e visão superficial o modelo
de vida do século anterior e, ainda assim, fazer uso de seus signos e imagens
como se fossem fantasias estéticas para encarnar uma liberdade ilusória e
ignorar moralidades repressivas da época.
Um dos motivos a que se devia chamar de frívolo/superficial o século
XVIII foi a manifestação de movimentos que valorizavam os sentidos, as
experiências sensíveis e existenciais: a libertinagem foi trazida à luz como uma
das exigências por liberdade. Isso ocorreu devido ao choque entre
pensamentos que caminhavam pela razão (René Descartes) e julgavam
desnecessárias e tolas as expressões guiadas pelas paixões e pelos sentidos
(John Locke).
Em contrapartida, tais movimentos supracitados passam a ser
reconhecidos como, na verdade, manifestações de um outro tipo de
autenticidade, diferente do século seguinte, mas nem por isso menos válida. A
paixão, os sentimentos da existência e a percepção do sensível passam a ser
utilizados na arte, pela consciência racionalista, como uma ferramenta de
domínio do comportamento e sentimentos humanos, para que o homem não
mais sinta a necessidade de se rebelar para se sentir livre.
A seguir, diante às expressões da liberdade, Starobinski aborda o fato
de o ideário de liberdade confundir-se, pelo seu furor, entre o capricho abusivo
de seus reivindicadores e ao mesmo tempo como sendo um protesto contra os
abusos. Ainda há os casos em que essas duas manifestações se confundem
num mesmo raciocínio ou caso.
Os homens do iluminismo não admitem mais um controle e domínio por
parte de forças externas, querem agora perceber e reconhecer esse poder em
si mesmos. A exigência libertária experiencia a revolta ao perceber
desigualdades sociais e abusos de poder de uma classe mais abastada em
detrimento de outra. A extrema liberdade e impunidade dos detentores de tal
poder começam a atentar contra a liberdade e direitos de toda a população.
Mesmo o homem tendo nascido livre, como bem afirma Rousseau, o
problema está em se inserir num sistema social que o escraviza e onde as
definições de ordem e liberdade sejam contraditórias e o aprisione ao invés de
libertar de fato. Para esta problemática é apresentada como solução a
chamada “nova arte social” que é assim denominada pelo fato de até então o
conceito de arte ainda não ter sido bem definido, estreitado. Sendo
reconhecido por arte todo processo de aperfeiçoar algo natural de maneira a
introduzir nele uma ordem e utilidade maior. O autor aponta também que ao
assegurar a transformação da independência natural, aquele que todo homem
tem ao nascer, em liberdade social, o governo estaria praticando uma arte
suprema.
Por tais fatores de desigualdade econômica e de poder, passa-se a
pensar se não haveria, então, grupos sociais excluídos do circuito de produção
e de contemplação da arte. Observa-se também o privilégio cultural que
pessoas de maior poder e riqueza apresentarão sobre a arte, enquanto outros
permanecem à mercê de fragmentos de conhecimento no consumo da arte.
Ao abordar sobre o “Fausto e o Luxo”, o autor aponta as demonstrações
de ostentação e soberania por parte dos monarcas através de necessidades
ilimitadas e vontades insaciáveis: construção de palácios, avenidas, teatros,
manufaturas, igrejas... Os soberanos querem ler nas construções a sua
imagem esperando que tudo reflita o seu poder para demonstrar que suas
vontades foram obedecidas, caracterizando certa reprodução barroca na
maneira de reinar.
Tal comportamento é rompido no século XVIII através de escândalos e
sobrecarga dos direitos do povo em prol do gozo e vontades infantis dos
soberanos. O esplendor real passa a ser reconhecido como luxo abusivo onde
o rei parece apenas fazer uso das riquezas para seu bel prazer, esquecendo-
se dos interesses do povo.
Assim, o barroco renuncia à retórica da persuasão devido aos impactos
da vida narcisista de ostentação dos reis; tal discurso passa a ser reconhecido
como manifestação das banalidades da nobreza mascarada de discurso
persuasivo das vontades e interesses para a organização do povo.
Desde então, nota-se uma maior atenção às artes decorativas,
demonstrando o sentimento de imediatismo, despreocupação, com o futuro
longínquo. Desta maneira, a arquitetura permanece relacionada aos
descuidados dos soberanos que não mais se importam tanto com as
materialidades perenes.
Por fim, enquanto retrata o “Barroco Jubilante”, Starobinski caracteriza
uma arte em que tudo confere sentimento na tentativa de se aproximar ou
resgatar fiéis – no caso da igreja na Contra Reforma, todas as ações
intencionam atingir diretamente, sensibilizando quem assiste.

You might also like