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Perguntas/
Objetivos Conteúdos Estrutura e Percentagem (%)
cotação
Educação Literária Parte A Parte A A.
Ler e interpretar textos Texto literário: 3 itens de resposta 1. 20 pontos
literários (EL11; 14) excerto de Frei Luís curta 2. 20 pontos
de Sousa, de 3. 20 pontos
Almeida Garrett Grupo I
Parte B 50% Parte B B.
Texto literário: 2 itens de resposta 4. 20 pontos
excerto de Farsa de curta 5. 20 pontos
Inês Pereira, de Gil
Vicente Total – 100 pontos
Escrita
a) Planificar a escrita de textos a) Planificação
(E10; 10)
b) Escrever textos de b) Texto de opinião
diferentes géneros e 1 item de resposta
Grupo III Item
finalidades (E10; 11) extensa
30% único 60 pontos
c) Redigir textos com (200 a 300 palavras)
coerência e correção c) Redação /
linguística (E10; 12) textualização
d) Rever os textos escritos
(E10; 13) d) Revisão
GRUPO I
A
Lê o texto.
- MADALENA – Pois está bem. Digo que mal sei dar-vos conselhos, e não queria dar-vos ordens...
- Mas, meu amigo, tu tomaste – e com muito gosto meu e de seu pai – um ascendente no espírito
- de Maria... tal que não ouve, não crê, não sabe senão o que lhe dizes. Quase que és tu a sua
- dona, a sua aia de criação. Parece-me... eu sei... não fales com ela desse modo, nessas coisas….
5 TELMO – O quê? No que me disse o inglês sobre a Sagrada Escritura que eles lá têm em sua língua,
- e que...
- MADALENA – Sim... nisso decerto... e em tantas outras coisas tão altas, tão fora de sua idade, e
- muitas de seu sexo também, que aquela criança está sempre a querer saber, a perguntar. É a
- minha única filha: não tenho... nunca tivemos outra... e, além de tudo o mais, bem vês que não
10 é uma criança... muito... muito forte.
- TELMO – É... delgadinha1, é. Há de enrijar2. É tê-la por aqui, fora daqueles ares apestados3 de
- Lisboa; e deixai, que se há de pôr outra.
- MADALENA – Filha do meu coração!
- TELMO – E do meu. Pois não se lembra, minha senhora, que, ao princípio, era uma criança que não
15 podia... – é a verdade, não a podia ver: já sabereis porquê… mas vê-la, era ver... Deus me
- perdoe!... nem eu sei... E daí começou-me a crescer, a olhar para mim com aqueles olhos... a
- fazer-me tais meiguices, e a fazer-se-me um anjo tal de formosura e de bondade, que – vedes-
- me aqui agora, que lhe quero mais do que seu pai.
- MADALENA (sorrindo) – Isso agora!...
20 TELMO – Do que vós.
- MADALENA (rindo) – Ora, meu Telmo!
- TELMO – Mais, muito mais. E veremos: tenho cá uma coisa que me diz que antes de muito se há
- de ver quem é que quer mais à nossa menina nesta casa.
- MADALENA (assustada) – Está bom; não entremos com os teus agouros e profecias do costume:
25 são sempre de aterrar... Deixemo-nos de futuros...
- TELMO – Deixemos, que não são bons.
- MADALENA – E de passados também...
- TELMO – Também.
- MADALENA – E vamos ao que importa agora. Maria tem uma compreensão...
30 TELMO – Compreende tudo!
- MADALENA – Mais do que convém...
- TELMO – Às vezes.
- MADALENA – É preciso moderá-la.
- TELMO – É o que eu faço.
35 MADALENA – Não lhe dizer...
Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, prefácio de Annabela Rita, Porto, Edições Caixotim, 2004, pp. 64-66
1 magrinha; 2 fortalecer-se; 3 referência à peste que grassava
1. Explicita a relação entre Telmo e Maria, tal como apresentada por D. Madalena.
2. Atenta nas palavras de Telmo referindo-se a Maria: «é a verdade, não a podia ver:» (linha 15).
Explica esta atitude de Telmo com base no conhecimento que tens da obra.
3. No texto podem detetar-se sugestões de um futuro trágico. Justifica esta afirmação recorrendo a
dois exemplos pertinentes.
Lê o texto.
- INÊS Renego deste lavrar1 - Antes o darei ao Diabo
- e do primeiro que o usou! 20 Que lavrar mais nem pontada8.
- Ó Diabo que o eu dou, - Já tenho a vida cansada
- Que tão mao é d’aturar! - de jazer sempre dum cabo9.
5 Ó Jesu! Que enfadamento2, - Todas folgam e eu não
- e que raiva, e que tormento, - todas vêm e todas vão
que cegueira, e que canseira3 25 onde querem, senão eu.
- - Hui! e que pecado é o meu,
- - ou que dôr de coração?
-
10 - Esta vida é mais que morta.
- - São eu coruja ou corujo
- 30 ou são algum caramujo10
que não sai senão à porta?
- - E quando me dão algum dia
15 - licença, como a bugia11,
- - que possa estar à janela
- 35 é já mais que a Madanela
- - quando achou a aleluia12.
Gil Vicente, «Auto de Inês Pereira», in Teatro de Gil Vicente, apresentação e leitura de António José Saraiva,
6.a edição, Lisboa, Portugália Editora, s/d, pp. 159-161
1 v. 1 – recuso este trabalho; 2 aborrecimento; 3 desgraça; 4 vv. 8-9 – hei de encontrar uma solução para este problema; 5 panela que não
era usada; 6 vividos; 7 v. 18 – sempre a trabalhar nos panos; 8 bocado; 9 no mesmo sítio; 10 espécie de lapa, molusco marinho; 11 macaca,
12 alusão à alegria de Maria Madalena quando soube da Ressurreição de Cristo: a de Inês é idêntica, quando se põe à janela
5. Transcreve os versos nos quais Inês afirma ser um caso único entre as jovens da sua geração.
GRUPO II
Lê o texto.
- É assustador assistir à rapidez com que os valores europeus são atirados ao mar devido à
- pressão da crise dos refugiados na União Europeia (UE). A maneira de lidar com o fluxo crescente
- de refugiados, requerentes de asilo e migrantes que vêm dos países vizinhos à Europa, tornar-se-
- á, numa velocidade vertiginosa, uma prova de fogo para a UE, caso nenhuma medida seja
5 tomada rapidamente.
- Já não há garantias de que um tratamento humanitário será dado aos refugiados. Alojamen-
- tos abarrotados, quadrilhas de traficantes de pessoas, atos de xenofobia, acampamentos
- desumanos em estações ferroviárias, no túnel do Canal da Mancha ou no meio de Bruxelas: tudo
- isto é uma realidade amarga e não tem mais nada a ver com a tão evocada Europa da
10 solidariedade e da justiça.
- Até mesmo a chanceler federal alemã, Angela Merkel, não parece ter um plano. Por um lado,
- diz em entrevistas que a chamada Convenção de Dublin da UE já não funciona. Por outro, insiste
- que a Hungria, a Grécia e a Itália cumpram a legislação disfuncional. Segundo a convenção, o
- requerente de asilo é responsabilidade do país pelo qual entrou na Europa.
15 Assim não pode continuar. A Alemanha, a Áustria e outros países que recebem a maior parte
- dos requerentes de asilo exigem uma divisão "justa" dos refugiados por todos os 28 países-
- membros da União Europeia. A maior parte deles, porém, não está a ser atingida pela atual crise
- e, por isso, não tem interesse nenhum numa reforma. Enquanto os requerentes de asilo tiverem
- como destino a Alemanha, a Suécia e a Áustria, está tudo tranquilo, pensam polacos, espanhóis,
20 irlandeses, finlandeses e muitos outros. Solidariedade? Nem pensar!
- Assim, conflitos entre países da União Europeia podem eclodir rapidamente e resultar na
- restrição da livre circulação no chamado espaço Schengen, com controlos nas fronteiras. Se não é
- possível confiar no cumprimento das regras por parte de outros países da UE, é preciso proteger
- as próprias fronteiras – uma lógica que compromete as conquistas europeias.
25 Há anos, Atenas já deixou de ter decência na política de refugiados: não há alojamentos nem
- processos para asilo. A Grécia simplesmente leva as pessoas, pelas quais se deveria respon-
- sabilizar, para a fronteira, ao norte, e coloca-as na rota dos Balcãs. Da Sérvia, essas pessoas
- voltam à União Europeia pela Hungria, apesar de já terem estado na UE ao chegarem à Grécia.
- Assim, é possível entender até certo ponto por que Budapeste não pretende tolerar isso. A Itália
30 age moderadamente de forma parecida. O Reino Unido tenta isolar-se e entra em conflito com a
- França pela proteção do Eurotúnel e do porto de Calais. Há um estigma no meio da Europa.
- Ninguém no continente se preparou para o previsível aumento do número de refugiados, nem
- a Alemanha. A capacidade de alojamento no país tem vindo a ser reduzida. O governo alemão
- tem poucos funcionários em órgãos públicos encarregados de conceder ou negar asilo.
35 Se os ministros do Interior da União Europeia, que se reunirão dentro de 13 dias, não
- entrarem em acordo rapidamente sobre uma reforma vigorosa da Convenção de Dublin, sobre
- centros comuns de asilados e sobre a distribuição dos migrantes, a UE retornará à era das
- barreiras, das cercas e dos muros. Além do péssimo destino para os refugiados, isso colocaria o
- projeto europeu em estado de emergência.
Bernd Riegert, correspondente da DW em Bruxelas, in www.dw.com.pt, publicado a 1 de setembro de 2015
(texto adaptado, consultado em 10 de novembro de 2015)
1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1 a 1.5, seleciona a única opção que permite obter
uma afirmação correta.
1.1 No segundo parágrafo, o exemplo apresentado por L. K. Christian tem como função
(A) A tese defendida pelo autor relativamente à entrada de refugiados em massa na
Europa é sintetizada pela frase
(B) É importante que se reflita sobre a entrada massiva dos refugiados na Europa para
que princípios fundamentais da União Europeia não sejam abandonados.
(C) É necessário agir para controlar a entrada massiva de refugiados na Europa, uma vez
que esta entrada conduzirá necessariamente ao abandono de princípios
fundamentais da União Europeia.
(D) É imperioso impedir a entrada massiva de refugiados na Europa pois ela conduzirá ao
abandono de princípios fundamentais da União Europeia.
1.3 Com a expressão «Até mesmo» (linha 9) o autor do texto pretende chamar a atenção para
(A) a importância política de Angela Merkel.
(B) a responsabilidade política de Angela Merkel.
(C) incongruências de Angela Merkel.
(D) o facto de Angela Merkel parecer desorientada.
1.4 A utilização do conector «porém» (linha 15) contribui para a construção da coesão textual a
nível
(A) frásico.
(B) interfrásico.
(C) lexical.
(D) referencial.
1.5 No último parágrafo do texto, a coesão referencial está presente, por exemplo, na
(A) utilização do pronome demonstrativo «isso» (linha 36).
(B) utilização da conjunção subordinativa condicional «Se» (linha 33).
(C) repetição da preposição «sobre» (linha 35).
(D) sequência de nomes «barreiras», «cercas» e «muros» (linhas 35 e 36).
2.3 Classifica a oração subordinada «caso nenhuma medida seja tomada rapidamente.» (linha 4)
GRUPO III
Num texto bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 300 palavras, apresenta
uma opinião sobre este fenómeno, refletindo sobre a importância de a Europa ser solidária neste
contexto.
Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustra cada um
deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
Explicita, adequadamente, a relação entre Telmo e Maria tal como apresentada dor
4 12
D. Madalena.
Explicita, de modo não totalmente completo ou com pequenas imprecisões, a relação
3 9
entre Telmo e Maria tal como apresentada dor D. Madalena.
Explicita, de modo não totalmente completo e com pequenas imprecisões, a relação
2 6
entre Telmo e Maria tal como apresentada dor D. Madalena.
Explicita, de modo incompleto e impreciso, a relação entre Telmo e Maria tal como
1 3
apresentada dor D. Madalena.
Cenário de resposta:
D. Madalena entende que Telmo tem grande influência em Maria («[…] um ascendente no espírito de Maria…», (linhas
2 e 3)), de tal modo que Maria só nele confia em absoluto.
4 Explica adequadamente a atitude de Telmo com base no conhecimento que tem da obra. 12
Cenário de resposta:
O nascimento de Maria em nada agradou a Telmo, daí ele fazer esta afirmação, já que ele era absolutamente contra o
casamento de D. Madalena com o segundo marido, pai de Maria. Telmo acreditava que o primeiro marido estava vivo
e que não deveria ter ocorrido o segundo casamento. Maria, fruto desta união, era-lhe intolerável.
Cenário de resposta:
É nas palavras de Telmo que se podem detetar essas sugestões. Assim, ele começa por dizer que tem, que sente «uma
coisa» que lhe faz pensar que algo de extraordinário vai suceder na família, assustando D. Madalena. Pouco depois
intensifica essa sugestão ao afirmar que algo de mau vai suceder no futuro.
B
Pergunta 4 ........................................................................................................................ 20 pontos
Aspetos de conteúdo (C) ..................................................................................................... 12 pontos
Indica, de modo não totalmente completo ou com pequenas imprecisões, pelo menos
3 9
dois motivos do descontentamento de Inês.
Indica, de modo não totalmente completo e com pequenas imprecisões, pelo menos três
motivos do descontentamento de Inês.
2 6
ou
Indica adequadamente dois motivos do descontentamento de Inês.
Indica, de modo incompleto e com imprecisões, dois motivos do descontentamento de
Inês.
1 3
ou
Indica adequadamente um motivo do descontentamento de Inês.
Cenário de resposta:
Inês considera ter demasiado trabalho (versos 1 a 4), considera estar como prisioneira em casa (versos 10 a 13) e não
poder divertir-se como fazem as outras jovens (versos 23 a 25).
Indica, de modo não totalmente completo ou com pequenas imprecisões, pelo menos
3 9
dois motivos do descontentamento de Inês.
Indica, de modo não totalmente completo e com pequenas imprecisões, pelo menos três
motivos do descontentamento de Inês.
2 6
ou
Indica adequadamente dois motivos do descontentamento de Inês.
Indica, de modo incompleto e com imprecisões, dois motivos do descontentamento de
Inês.
1 3
ou
Indica adequadamente um motivo do descontentamento de Inês.
Cenário de resposta:
«Todas folgam e eu não / todas vêm e todas vão / onde querem, senão eu.» (versos 23 a 25).
1.1 A 5
1.2 D 5
1.3 B 5
1.4 B 5
1.5 A 5
«Alojamentos abarrotados, quadrilhas de traficantes de pessoas, atos de xenofobia,
2.1 acampamentos desumanos em estações ferroviárias, no túnel do Canal da Mancha ou no 5
meio de Bruxelas:» (linhas 5 a 7)
2.2 Complemento do nome 5
2.3 Oração subordinada adverbial condicional 5
Pontuação
17 14 11 8 5
Parâmetro
(A) Trata, sem desvios, o tema Trata o tema proposto, Aborda lateralmente o tema
Tema e proposto. embora com alguns desvios. proposto.
tipologia Mobiliza informação ampla e Mobiliza informação Mobiliza muito pouca
diversificada relativamente à suficiente, relativamente à informação relativamente à
tipologia textual solicitada: tipologia textual solicitada: tipologia textual solicitada:
produz um discurso coerente produz um discurso produz um discurso
e sem qualquer tipo de globalmente coerente, geralmente inconsistente e,
ambiguidade. apesar de algumas por vezes, ininteligível.
ambiguidades.
Pontuação
12 11 9 5 3
Parâmetro
(B) Redige um texto bem Redige um texto Redige um texto com
Estrutura e estruturado, constituído por satisfatoriamente estruturação muito
coesão três partes (introdução, estruturado nas três partes deficiente, em que não se
desenvolvimento, conclusão), habituais, nem sempre conseguem identificar
proporcionadas e articuladas devidamente articuladas claramente três partes
entre si de modo consistente; entre si ou com (introdução,
•• marca corretamente os desequilíbrios de proporção desenvolvimento e
parágrafos; mais ou menos notórios; conclusão) ou em que estas
•• utiliza, adequadamente, •• marca parágrafos, mas com estão insuficientemente
conectores diversificados e algumas falhas; articuladas;
outros mecanismos de coesão •• utiliza apenas os conectores •• raramente marca parágrafos
textual. e os mecanismos de coesão de forma correta;
textual mais comuns, •• raramente utiliza conectores
embora sem incorreções e mecanismos de coesão
graves. textual ou utiliza-os de forma
inadequada.
Pontuação
6 4 3 2 1
Parâmetro
(C) Mobiliza, com Mobiliza um repertório Mobiliza um repertório
Léxico e intencionalidade, recursos da lexical adequado, mas pouco lexical adequado, mas pouco
adequação língua expressivos e variado. variado.
discursiva adequados. Utiliza, em geral, o registo de Utiliza, em geral, o registo de
Utiliza o registo de língua língua adequado ao texto, língua adequado ao texto,
adequado ao texto, mas apresentando alguns mas apresentando alguns
eventualmente com afastamentos que afetam afastamentos que afetam
esporádicos afastamentos, pontualmente a adequação pontualmente a adequação
que se encontram, no global. global.
entanto, justificados pela
intencionalidade do discurso
e assinalados graficamente
(com aspas ou sublinhados).
Perguntas/
Objetivos Conteúdos Estrutura e Percentagem (%)
cotação
Educação Literária Parte A Parte A A.
Ler e interpretar textos Texto literário: 3 itens de resposta 1. 20 pontos
literários (EL11; 14) excerto de Frei Luís curta 2. 20 pontos
de Sousa, de 3. 20 pontos
Almeida Garrett Grupo I
Parte B 50% Parte B B.
Texto literário: 2 itens de resposta 4. 20 pontos
excerto de curta 5. 20 pontos
Os Lusíadas,
de Camões Total – 100 pontos
Total – 50 pontos
Escrita
a) Planificar a escrita de textos a) Planificação
(E10; 10)
b) Escrever textos de b) Texto de opinião
diferentes géneros e 1 item de resposta
Grupo III Item
finalidades (E10; 11) extensa
25% único 50 pontos
c) Redigir textos com c) Redação / (200 a 300 palavras)
coerência e correção textualização
linguística (E10; 12)
d) Rever os textos escritos d) Revisão
(E10; 13)
GRUPO I
Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.
A
Lê o texto.
- MARIA – «Menina e moça me levaram de casa de meu pai» – é o princípio daquele livro1 tão
- bonito que minha mãe diz que não entende; entendo-o eu. – Mas aqui não há menina nem
- moça; e vós, senhor Telmo Pais, meu fiel escudeiro, "faredes o que mandado vos é". – E não me
- repliques, que então altercamos2, faz-se bulha, e acorda minha mãe, que é o que eu não quero.
5 Coitada! Há oito dias que aqui estamos nesta casa, e é a primeira noite que dorme com
- sossego. Aquele palácio a arder, aquele povo a gritar, o rebate dos sinos, aquela cena toda...
- oh! tão grandiosa e sublime, que a mim me encheu de maravilha, que foi um espetáculo como
- nunca vi outro de igual majestade!... À minha pobre mãe aterrou-a, não se lhe tira dos olhos:
- vai a fechá-los para dormir e diz que vê aquelas chamas enoveladas em fumo a rodear-lhe a
10 casa, a crescer para o ar e a devorar tudo com fúria infernal... O retrato de meu pai, aquele do
- quarto de lavor3 tão seu favorito, em que ele estava tão gentil-homem, vestido de cavaleiro de
- Malta com a sua cruz branca no peito – aquele retrato não se pode consolar de que lho não
- salvassem, que se queimasse ali. Vês tu? Ela que não cria em agouros, que sempre me estava a
- repreender pelas minhas cismas, agora não lhe sai da cabeça que a perda do retrato é
15 prognóstico fatal de outra perda maior, que está perto, de alguma desgraça inesperada, mas
- certa, que a tem de separar de meu pai. – E eu agora é que faço de forte e assisada, que zombo
- de agouros e de sinas... para a animar, coitada!... que aqui entre nós, Telmo, nunca tive tanta fé
- neles. Creio, oh, se creio! que são avisos que Deus nos manda para nos preparar. – E há... oh!
- há grande desgraça a cair sobre meu pai... de certo! e sobre minha mãe também, que é o
20 mesmo.
- TELMO (disfarçando o terror de que está tomado) – Não digais isso... Deus há de fazê-lo por
- melhor, que lho merecem ambos. (Cobrando ânimo e exaltando-se) Vosso pai, D. Maria, é um
- português às direitas. Eu sempre o tive em boa conta; mas agora, depois que lhe vi fazer aquela
- ação, que o vi, com aquela alma de português velho4, deitar as mãos às tochas, e lançar ele
25 mesmo o fogo à sua própria casa; queimar e destruir numa hora tanto do seu haver, tanta coisa
- de seu gosto, para dar um exemplo de liberdade, uma lição tremenda a estes nossos tiranos...
- oh, minha querida filha, aquilo é um homem! A minha vida, que ele queira, é sua. E a minha
- pena, toda a minha pena é que o não conheci, que o não estimei sempre no que ele valia.
- MARIA (com lágrimas nos olhos e tomando-lhe as mãos) – Meu Telmo, meu bom Telmo!... é uma
30 glória ser filha de tal pai, não é? Dize.
- TELMO – Sim, é: Deus o defenda!
- MARIA – Deus o defenda! Ámen. – E eles, os tiranos governadores, ainda estarão muito contra
- meu pai? Já soubeste hoje alguma cousa das diligências do tio Frei Jorge?
Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, prefácio de Annabela Rita, Porto, Edições Caixotim, 2004, pp. 93-95
1sentimental de Bernardino Ribeiro (século XVI), que relata uma série de amores infelizes; 2 discutimos; 3 de trabalhos femininos; 4
português de antigamente
1. Nas suas palavras, Maria deixa transparecer sentimentos diferentes dos de sua mãe em relação
ao incêndio do palácio onde ambas habitavam. Justifica esta afirmação.
2. Atenta na primeira didascália do texto. Recorrendo ao teu conhecimento da obra, indica que
motivos teria Telmo para se comportar do modo indicado.
3. Telmo confessa ter ocorrido nele determinada mudança relativamente ao modo como
considerava Manuel de Sousa Coutinho. Explicita a natureza dessa alteração.
Lê o texto.
- E, enquanto eu estes canto, e a vós não posso,
- Sublime Rei, que não me atrevo a tanto,
- Tomai as rédeas1 vós do Reino vosso:
- Dareis matéria a nunca ouvido canto.
5 Comecem a sentir o peso grosso
- (Que polo mundo todo faça espanto)
- De exércitos e feitos singulares
- De África as terras e do Oriente os mares2.
1
D. Sebastião começou a governar com 14 anos, em 1568; 2 vv. 5-8: as terras de África e os mares do Oriente comecem a sentir a força dos
exércitos portugueses e das suas façanhas únicas, de tal modo que o mundo se espante; 3 cheio de medo; 4 extermínio, destruição; 5
populações não civilizadas e pagas; 6 deusa marítima; 7 o mar; 8 riquezas que eram levadas para o casamento pela mulher; 9 preparado; 10
Tétis pretende casar uma filha com D. Sebastião, levando a filha o mar como dote; 11 as almas de D. João III, famoso pela paz, e de Carlos V,
famoso pela guerra; ambos eram avôs de D. Sebastiao; 12 vv. 22 e 17: «lá», no céu; «cá», na terra; 13 vv. 23: no Paraíso, que no v. 16 é a
«Olímpica morada»
GRUPO II
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.
Lê o texto.
Sobre os refugiados
- Bem sei que este tema é complicado e muita gente tem ideias e visões diferentes. Esta é a
- minha opinião. Certa ou errada, antes de mais, merece ser respeitada, assim como eu respeito a
- dos outros. Podem concordar ou discordar, mas devem respeitar.
- Para mim, o termo migrantes tem vindo a ser mal usado. Se bem que a definição de migrante
5 seja aquele «que ou o que muda de país ou de região», não acho que se deva classificar pessoas
- que fogem da guerra de simples migrantes. Quando o enorme Aristides de Sousa Mendes
- desobedeceu a Salazar para salvar milhares de pessoas da morte certa se caíssem nas mãos dos
- nazis, não estava a ajudar migrantes, mas sim refugiados (da definição «que procuram refúgio»).
- Da mesma forma, pessoas que fogem de tiroteios e bombardeamentos nas suas cidades,
10 deveriam, a meu ver, ser chamados também de refugiados e não de migrantes. Até porque estas
- pessoas fogem de uma morte quase certa, arriscando a vida na travessia do Mediterrâneo em
- condições muito precárias, muitas vezes aplicando todo o dinheiro que possuem para esse efeito
- (quem ganha com isso são aqueles que cobram para transportar estas pessoas, deixando-as depois
- à sua sorte no alto mar).
15 Porque são refugiados, porque é uma obrigação legal – porque Portugal é um dos subscritores
- dos vários tratados internacionais que afirmam a necessidade de proteger e apoiar os refugiados –
- mas, antes disso, uma obrigação moral, porque não há valores mais altos do que a vida e a
- dignidade humanas, sou claramente a favor do apoio e da receção de refugiados em Portugal.
- Mas, dito isto, tem de haver condições.
20 A maioria foge de países em guerra, cujos intervenientes já por várias vezes ameaçaram os
- países europeus, por isso, deve, a meu ver, toda a Europa recensear todos aqueles que chegam
- por essa via. Todos os refugiados, seja qual for o país pelo qual entrem na Europa, devem ser
- registados, com todos os dados possíveis (dados pessoais como nome, proveniência, altura, peso,
- impressão digital, etc., etc.), de forma a, por um lado, captar a possibilidade de haver membros
25 com histórico de criminalidade e, por outro lado, para existirem dados reais de quantas pessoas
- nestas condições entram no velho continente e, com esses dados, organizar e canalizar as mesmas
- para onde for possível abrigá-las.
- Outra condição será o trabalho. Numa Europa a braços com uma crise económica, estas
- pessoas devem ter consciência de que devem contribuir para a comunidade onde se vão inserir. E
30 muitos dirão «mas há tanto desemprego na Europa, que ocupação vamos dar a estas pessoas?»
- Por muito desemprego que exista, há sempre, por exemplo, as tarefas que os naturais dos países
- não querem fazer. Neste sentido, não me parece tão descabida a sugestão de António Costa de
- propor algumas destas pessoas para a limpeza das matas. Mas sem tornar isso uma obrigação
- inevitável, pois os refugiados não são pessoas condenadas a trabalho comunitário. Há que, ainda
35 assim, sensibilizá-los para que a comunidade que os recebe o faz de braços abertos, mas não tem
- condições de os sustentar sem retribuição da parte deles.
- Os refugiados não são os culpados nem da guerra que assola os seus países, nem da pobreza
- em que muitos vivem no nosso. E se a situação fosse inversa, nós gostaríamos certamente de ser
- bem recebidos noutros países. Temos todos de trabalhar para ajudar quem mais precisa, sejam os
40 nossos compatriotas, seja quem, em situação de desespero e emergência, nos pede ajuda. Porque
- hoje são eles, amanhã podemos ser nós.
João Cerveira, in http://www.maisopiniao.com, publicado a 12 de setembro de 2015 (texto adaptado, consultado em 14 de outubro de 2015)
1. ponto de vista apresentado pelo autor, no segundo parágrafo, consiste em afirmar que
(A) a palavra migrante não tem sido usada com propriedade, pois tem sido aplicada a
pessoas que se limitam a mudar de país ou de região.
(B) o uso da palavra migrante para referir pessoas que se deslocam para encontrar refúgio é
correto.
(C) a palavra migrante deve usar-se exclusivamente para referir pessoas que procuram
refúgio.
(D) o uso da palavra migrante só se aplica a quem arrisca a vida atravessando o Mediterrâneo.
4. Com a utilização, no terceiro parágrafo, dos marcadores textuais «por um lado» (linha 23) e «por
outro lado» (linha 24), o autor
(A) organiza a informação.
(B) apresenta duas causas.
(C) insere dois exemplos.
(D) distingue duas atitudes.
5. As medidas que o autor propõe no final do terceiro parágrafo (linhas 23 a 25) destinam-se a
(A) saber com exatidão quem entra na Europa.
(B) perceber a origem e o historial de cada refugiado.
(C) verificar os registos criminais de quem entra na Europa.
(D) conhecer quem entra na Europa e a preparar o seu futuro.
«Temos todos de trabalhar para ajudar quem mais precisa, sejam os nossos compatriotas, seja quem,
em situação de desespero e emergência, nos pede ajuda. Porque hoje são eles, amanhã podemos ser
nós.» (linhas 38 a 40).
10. Transcreve, do penúltimo parágrafo do texto, a oração coordenada explicativa nele presente.
GRUPO III
O mundo moderno apresenta hoje, bem mais do que no passado, um conjunto de características
que podem provocar medos, receios e incertezas nos adolescentes.
Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras,
apresenta uma opinião sobre a importância e o modo de se combaterem aspetos negativos visíveis
na nossa sociedade.
Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustra cada um
deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
Cenário de resposta:
Enquanto Maria diz ter-se sentido empolgada com o incêndio, que considera ter sido um espetáculo grandioso e
«sublime», D. Madalena, segundo a filha, viveu o acontecimento aterrada, pois entende que a destruição do palácio e
do retrato do marido é sinal ou agouro de uma outra destruição que ocorrerá brevemente.
Cenário de resposta:
Na primeira didascália do texto, Telmo disfarça «o terror de que está tomado». O terror que o ataca funda-se nas
palavras de Maria ditas anteriormente, segundo as quais algo de funesto está prestes a acontecer. Ele acredita na
mesma coisa, daí o «terror»; contudo, ele disfarça o seu estado de espírito para que Maria não se sinta
mais aflita e comece a fazer perguntas embaraçosas sobre o passado.
Pergunta 3 ........................................................................................................................ 20 pontos
Aspetos de conteúdo (C) ..................................................................................................... 12 pontos
Cenário de resposta:
Trata-se de uma evolução no sentido positivo: Telmo não gostava de Manuel de Sousa Coutinho por ele ter vindo
ocupar o lugar de D. João de Portugal, a quem Telmo venerava acima de tudo e de todos; contudo, ao ver o lado
patriótico de Manuel de Sousa, Telmo curva-se perante a sua personalidade viril.
B
Pergunta 4 ........................................................................................................................ 20 pontos
Aspetos de conteúdo (C) ..................................................................................................... 12 pontos
Cenário de resposta:
O destinatário das palavras do Poeta é o rei D. Sebastião. O texto pertence à Dedicatória de Os Lusíadas, poema
dedicado a este rei, a quem o Poeta se dirige: «vós» (verso 1), «Sublime Rei» (verso 2), «Em vós» (verso 9), etc.
Cenário de resposta:
A matéria épica, grandiosa, guerreira, concretiza-se, por exemplo, na referência ao passado (versos 17 a 20): nestes
versos, o Poeta refere-se a um antepassado de D. Sebastião famoso «pelas batalhas sanguinosas»; mas esta matéria
concretiza-se também no presente próximo, pois o Poeta incita o rei a combater com «o Mouro frio» (verso 9) e a
cometer grandes feitos tanto em terra como no mar (versos 5 a 8).
1. A 5
2. C 5
3. C 5
4. A 5
5. D 5
6. B 5
7. A 5
8. «hoje» refere a atualidade; «amanhã» refere um tempo futuro, posterior ao referido «hoje» 5
9. Complemento indireto – «nos» (linha 38) – [quem pede ajuda pede ajuda a alguém] 5
10. «pois os refugiados não são pessoas condenadas a trabalho comunitário.». (linhas 31 e 32) 5
Pontuação
15 12 9 6 3
Parâmetro
(A) Trata, sem desvios, o tema Trata o tema proposto, Aborda lateralmente o tema
Tema e proposto. embora com alguns desvios. proposto.
tipologia Mobiliza informação ampla e Mobiliza informação Mobiliza muito pouca
diversificada relativamente à suficiente, relativamente à informação relativamente à
tipologia textual solicitada: tipologia textual solicitada: tipologia textual solicitada:
produz um discurso coerente produz um discurso produz um discurso
e sem qualquer tipo de globalmente coerente, geralmente inconsistente e,
ambiguidade. apesar de algumas por vezes, ininteligível.
ambiguidades.
Pontuação
10 8 6 4 2
Parâmetro
(B) Redige um texto bem Redige um texto Redige um texto com
Estrutura e estruturado, constituído por satisfatoriamente estruturação muito
coesão três partes (introdução, estruturado nas três partes deficiente, em que não se
desenvolvimento, conclusão), habituais, nem sempre conseguem identificar
proporcionadas e articuladas devidamente articuladas claramente três partes
entre si de modo consistente; entre si ou com (introdução,
•• marca corretamente os desequilíbrios de proporção desenvolvimento e
parágrafos; mais ou menos notórios; conclusão) ou em que estas
•• utiliza, adequadamente, •• marca parágrafos, mas com estão insuficientemente
conectores diversificados e algumas falhas; articuladas;
outros mecanismos de coesão •• utiliza apenas os conectores •• raramente marca parágrafos
textual. e os mecanismos de coesão de forma correta;
textual mais comuns, •• raramente utiliza conectores
embora sem incorreções e mecanismos de coesão
graves. textual ou utiliza-os de forma
inadequada.
Pontuação
5 4 3 2 1
Parâmetro
(C) Mobiliza, com Mobiliza um repertório Mobiliza um repertório
Léxico e intencionalidade, recursos da lexical adequado, mas pouco lexical adequado, mas pouco
adequação língua expressivos e variado. variado.
discursiva adequados. Utiliza, em geral, o registo de Utiliza, em geral, o registo de
Utiliza o registo de língua língua adequado ao texto, língua adequado ao texto,
adequado ao texto, mas apresentando alguns mas apresentando alguns
eventualmente com afastamentos que afetam afastamentos que afetam
esporádicos afastamentos, pontualmente a adequação pontualmente a adequação
que se encontram, no global. global.
entanto, justificados pela
intencionalidade do discurso
e assinalados graficamente
(com aspas ou sublinhados).