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UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA

FACULDADE GESTÃO DE NEGÓCIOS

RELAÇÕES INTERNACIONAIS

PROFº. LINEU C. MAFFEZOLI

VALÉRIA NASCIMENTO DE JESUS

FICHAMENTO: SERRA, José. Ciclos e Mudanças Estruturais na Economia


Brasileira no Pós-Guerra: A crise recente. Revista de Economia Política. Vol.
2/3, junho/setembro 1982.

A INFLEXÃO DO CRESCIMENTO E A DESACELERAÇÃO (1973/1980)

Serra aponta que o aumento da taxa de inflação começou a crescer desde


de 1973, (quando houve o primeiro choque do petróleo). E os impactos foram
possíveis perceber nas taxas do crescimento do PIB, que foi diminuindo desde
1973, que a taxa era 14%, em 1974 era 9,8 % e em 1975 chegara a 5,6%. Além
do setor industrial que também foi decrescendo no mesmo ritma para baixa.

Serra afirma que o declino de crescimento não fora por falta de


investimentos, pois as taxa de investimento nesse período foi de enorme (II PND),
mais altas que a própria taxa de crescimento, no entanto, o que se identificou
como problema fora a dificuldade de pelo lado da “demanda corrente de bens
consumo não duráveis e duráveis”.

No caso dos não duráveis, se verificou, como afirma Serra, pelo peso da
na produção industrial, na qual a condição dos salários refletiu muito a
desaceleração do crescimento, que se desestabilizou pela aceleração da
inflação e os ajuste de salários feitos pelo governo.

Por outro lado como explica Serra, que a contenção dos salários seguiu
até 1974, comprometendo desse forma a disposição e capacidade de
endividamento das famílias, afetando consequentemente os bens de consumo
não duráveis comercializados que eram feitos por meios de credito pessoal.

Outro feito que Serra ressalta, que teve a ver com uma política de restrição
monetária e de crédito, fora o próprio encarecimento do crédito, numa tentativa
de frear a inflação que ainda mantinha um crescimento constante. Portanto, a
inflexão do clico parecia ter sido determinado de modo geral pela aceleração de
inflação e seus efeitos sobre os salários e a política de crédito.

O II PND

A partir da identificação dos problemas que surgiram no fim de 1973, foi


o criado Segundo Programa Nacional de Desenvolvimento, que consistia
basicamente, como aponta Serra, no atraso do setor de bens de produção e
alimentos, na forte dependência de petróleo e na tendência elevada de
desiquilíbrio externo. A partir disto, então foram propostas algumas metas
como:

i) metas de crescimento do PIB em 10%, no setor industrial 12%, na agricultura


7% e aumentar o volume de exportações em 250%;

ii) terminar de cumprir a substituições de importações de bens de produção e


insumos básicos (química pesada, siderurgia, metais não ferros e minerais não
metálicos);

iii) desenvolver grandes projetos de exportação de matérias-primas (celulose,


ferro, alumínio e aço);

iv) aumentar a capacidade de produção interna de petróleo e a capacidade de


geração de energia hidrelétrica, desenvolver transporte ferroviário e o sistema
de telecomunicações, realizar um amplo projeto de eletrificação rural, irrigação
e construção e armazéns e centros de abastecimento.

O instrumentos utilizados para alcançar essas metas pelo governo foram:

i) promover transferência de parte da poupança privada, para financiar a


investimentos;

ii) buscar financiamento externo e atrair investimentos externos para promover


exportação;

iii) redirecionar a poupança compulsória (PIS, PASEP), por meio do BNDE, para
fomentar a produção de bens de capital;
iv) facilitar e estimular a importação de maquinas e equipamentos;

v) mobilizar as empresas estatais, que seriam responsáveis por cumprir os


programas.

Em 1976 o II PND foi parcialmente desativado devido a fundamental


decisão de adotar políticas anti-inflacionárias. Outro apontamento de Serra fora
em questão da poupança privada que não se efetivou, o que limitou os
investimentos ao capital estatal e empréstimos estrangeiro a juros subsidiados.

De qualquer modo, Serra ressalta a relevância do II PND, que teve


sucesso no projeto de substituição de importação que facilitou a indústria
doméstica e afetou positivamente vários setores da economia.

Principais características da desaceleração

Para Serra, num ângulo estrutural, o crescimento da economia e 1973 a


1980 teve as seguintes características:

1. Os setores líderes da expansão foram a construção civil e os serviços de


utilidade pública financiados pelo estado. O setor da construção civil era um dos
setores que sustentavam o ritmo das atividades econômicas.

2. A indústria manufatureira crescia a taxas próxima ao PIB. Sendo um dos


setores que também eram impulsionadores da economia, também foi um setor
que sofreu durante a recessão, e somente manteve ritmo atrativo até 1976.

3. Houve também a partir de 1973 um “fechamento” da economia brasileira,


tendo como resultado diminuição de importações.

4. Em relação as exportações, manteve crescimento abaixo do PIB, no entanto,


fora se sustentou por conta da exportação uma diversidades de produtos
manufaturados.

5. Sobre a agricultura, também manteve um crescimento razoável, mesmo


contando com fatores fluentes como o clima. Somente o mercado interno sofreu
com a questão de inflação e o nível de renda que diminuiu nesse período.

Fatores da desaceleração
Nesse tópico Serra afirma que a inflexão de 1973-74 não foi somente
“uma flutuação efêmera”, mas sim ligada a problemas de investimentos, do setor
externo e de inflação.

1. É necessário considerar a priori, que o dinamismo do período de 1974-75


impediu o desaceleração pelo lado da demanda. Sustentado principalmente pelo
governo, com os investimento em empresas estatais, oferecendo a base
industrial energia elétrica, insumos básicos e prospecção do petróleo.

O crescimento dos investimentos em 1974-75 deveu-se as decisões


tomadas sob impacto do auge do ciclo expansivo como também do II PND. A
desaceleração após 1975 é explicada por:

i) superinvestimento feitos no setores de bens de consumo duráveis e têxtil,


durante o auge do ciclo.

ii) a aposta alta no sucesso do II PND, sem calcular os impactos que poderiam
vir externamente, foram sentidos no número de exportações.

iii) em função de uma política de contenção de gastos públicos, foram alguns


projetos foram abandonados.

Outro problema também foi o alto investimento em atividades relação


capital-produto mais elevado ou implementação mais demorada. ( ex:
Hidrelétrica de Itaipu). Com isso, o houve como resultado foi a taxa de
investimento diminuiu entre 1974-75, por outro lado, a relação capital-produto e
os prazos de maturação aumentaram significativamente.

2. No setor externo, não houve problemas somente em decorrência do choque


do petróleo, outros dois problemas também trouxeram impactos na questão
externa.

I) a tendência por elevada demanda de importações de bens de produção,


criando desse modo uma tendência estrutural a um crescente déficit comercial.

II) a não adoção de controles de importações nos anos 1972-73. E Serra


acrescenta a questão de compra de natureza especulativa.
Serra ressalta que o efeito combinado da dívida externa mais o excesso
de importações dos anos 1974-75, explicava mais da metade da dívida externa
liquida no fim de 1978.

Então o setor externo acabou sendo um fator de restrição do crescimento,


pois mesmo não havendo restrições “físicas”, ou seja, havia abastecimento de
produtos e até mesmo de divisas. Mas Serra explica que a tentativa de conter
importações impactou no aumento dos preços relativos, logo elevando a inflação
de modo mais generalizado, ao passo que desse modo houve ainda mais
contenção das políticas econômicas. O mesmo poderia dizer a tentativa de atrair
recursos externos elevando as taxas de juros.

3. Serra afirma que o fato da sociedade brasileira estar habituada a instabilidade


inflacionário e a um sistema de indexação formal e generalizado, a taxa de juros
tendência a sofrer elevações e baixas rapidamente, e mesmo que o nível de
preços diminua devido a determinado fator, por exemplo, na agricultura o clima
foi favorável então produziu-se mais, ainda assim os preços não retroagiam com
a situação. E o mesmo se aplicava as taxas de exportação.

Esse fenômeno foi bastante relevante para explicar no período pós-73


para explicar o salto inflacionário, que era de 20% até 1973 chegando até 40%
até meados de 1978, então:

i) se explica pela contenção de preços em 73, que culminou em maior inflação


em 74.

ii) O aumento da inflação a nível mundial, que impactou nos preços de


exportação e importação doméstico, como também os encarecimento de
importações que se utilizavam de depósitos prévios;

iii) problemas na com a disponibilidade de alimentos;

iv) um esquema que foi denominado “ciranda financeira”, que era obsevado no
crescimento do custo do dinheiro.

Houve fatores de resistência a atenuação do processo inflacionários


como:
i) o crescimento mais lento que o produto, tende a gerar efeitos de sinal contrário
sobre a inflação;

ii) a modificação salarial de 1974-75, pois os salários cresciam proporcional ao


ritmo da produtividade;

A política inflacionária desse período se explica basicamente pelo reflexo


do aumento de demanda que fora criado para conter o crescimento do PIB, mas
fora ineficiente para barrar o crescimento dos preços.

Aspectos da Política de Produção

Serra para complementar a análise sobre o período de desaceleração,


acrescenta questões relacionadas a política de produção entre 1973-79:

i) Na pratica pouca atenção foi dada a produção de alimentos, então, com o leve
crescimento da economia global e o aumento de exportação desses alimentos,
o que ocorreu foi um aumento de importação do mesmo, o que freava a
disponibilidade de alimentos por habitante;

ii) Faltou atenção também ao programa energético do período. Do ponto de dista


da demanda, pouca coisa se fez em relação ao petróleo. Os investimentos nas
rodovias continuaram no ranking de prioridades. Pelo lado da oferta, na produção
de combustíveis alternativos, em 1979 foi inercial.

3. Com a expectativa de melhora no cenário internacional, houve um alto


investimento nos projetos de insumos básicos, energia elétrica, exportações e
bens de capital. Devido ao superdimensionamento desses projetos, alguns não
chegaram a acontecer. Nos quais chegaram a acontecer tenderam a alguns
desdobramentos:

a) o cronograma de investimentos foram atrasados, desse modo postergando a


atualização dos rendimentos desses investimentos;

b) formaram-se margens significativas de capacidade ociosa;

Então, como a economia não acompanhou as expectativas houve muitos


impactos negativos, desde dos indicativos de crescimentos, balança de
pagamentos e captação de recursos para implantação desses projetos
diminuíram.
Bens de Capital

Segundo Serra, os resultados positivos do auge do ciclo expansivo mais


os investimentos do II PND, impulsionaram os investimentos no setor de bens
de capital. O que resultou posteriormente a diminuição de importação dos
mesmo.

Porém Serra apresenta três problemas de desperdício desse potencial


produtivo:

a) houve excesso de investimentos em projetos de algumas linhas de produção,


devido a entrada de empresas estrangeiras em áreas já atendidas. Além também,
de que as expectativas de um cenário positivo nunca se materializou;

b) houve também importação de itens que poderiam ser produzidos pela


indústria interna, devido a facilidade de credito até mesmo externo;

c) e por último, a instabilidade de compra desses bens de capital domestico,


devido a essa facilidade de credito.

O Biênio 1979- 1980

Depois de cinco anos após a crise do petróleo, a economia brasileira ainda


apresenta bastante vulnerabilidade a um conseguinte choque externo nos
preços de petróleo:

i) a taxa de inflação era o dobro de 1973;

ii) o nível de reserva de divisas era elevado, porem a dívida liquida era 2,5 vezes
maior que as exportações e o preço desse serviço era de quase dois terços do
valor das exportações. No entanto, Serra ressalta que o crescimento da dívida
era predominantemente financeira.

iii) o consumo de petróleo não diminuiu e portando, a importação continuou


crescendo. E não havia programas significativos para substituição do mesmo.

iv) persistia o atraso na agricultura para o mercado interno;


v) a economia havia ampliado a capacidade produtiva, no entanto, os
investimentos não haviam sido concluídos e ainda precisavam de mais recurso
para conclusão. E desse modo a demanda de importados se mantinha.

No biênio de 1979-80 o cenário de instabilidade se mantinha no Brasil, e


grande parte disso se devia ao aumento da inflação internacional, sob liderança
do petróleo, que deteriorava desse modo as relações de troca do Brasil. Também
a taxa de juros da dívida externa aumentava e com isso prejudicava as políticas
monetárias domesticas, além do desempenho negativo do setor agrícola.

A adoção de políticas influenciadas pela comunidade financeira externa


induziram a implementação de políticas ortodoxas para combater os
desiquilíbrios externos e a inflação, cujos principais ingredientes foram: limitação
quantitativa da disponibilidade de crédito tanto bancário quanto ao consumidor,
liberação das taxas de juros, maiores cortes de subsídios, compreensão dos
gastos e investimentos públicos, limitação dos ajustes salariais para quem
recebe até 20 salários, e aumento no IRPF.

As consequência dessa estratégia teve como resultado o crescimento


negativo do produto e emprego industrial, o PIB declinou em 3,5 %. Outro fator
que desfavoreceu a economia doméstica, foi queao tentar diminuir os impactos
da economia internacional, que também era instável nesse período, Serra
ressalta aponta a desvalorização cambial, como uma tentativa de incentivo às
exportações, e ao mesmo tempo não desestimular os investimentos externos, o
que por outro lado, tendeu a aumentar os juros domésticos, até superar os custos
do credito externo em cruzeiros – sem considerar uma possível política
monetária mais adequada.

Considerações Finais:

Em termos resumidos, Serra explica a situação econômica dos 1980:

1, “Existe um forte desequilíbrio estrutural com relação ao setor externo,


caracterizado por compromissos financeiros de grande magnitude que, por um
lado, freiam o crescimento da capacidade para importar. Por sua vez, o
coeficiente de importações é muito reduzido, sendo difícil sua compreensão a
curto prazo e em condições de um certo crescimento do PIB”.
2.” O quadro adverso anterior é tanto maia grave na medida em que a espiral
inflacionária e acelerada e seu retrocesso é extremamente custoso em termos
de produção e empregos, no contexto de una terapia ortodoxa.”

3. “O potencial de expansão da economia, medido pela capacidade produtiva


disponível e pelas oportunidades de investimentos existentes, é amplamente
satisfatório.”

4.” Da mesma forma, no que a refere aos recursos naturais, o país conta com
uma dotação capaz de permitir a superação de três dos principais
estrangulamentos no caminho da economia: a questão energética, o problema
agrícola (energia, exportação d consumo interno) e a insuficiência de ofertas de
minerais não ferrosos.”

É dentro desta perspectiva que Serra coloca como o “desafio de uma


alternativa de política económica heterodoxa, capaz de compatibilizar uma
retomada do crescimento sustentado a médio e longo prazo com uma atenuação
das desigualdades sociais, no contexto de uma regime político em processo de
abertos e de uma atuação econômica internacional adversa”.

Essa alternativa, além de precisar ser cumprida a curto prazo, precisaria


também de:

a) uma política cambial, que conseguisse garantir certa proteção aos possíveis
efeitos da economia externa;

b) a definição de um projeto de expansão mais adequado aos investimentos


públicos e utilizasse minimamente os recurso privados e obtivesse condições
mais adequadas dos financiamentos internacionais;

c) investimentos sólidos em desenvolvimento de novas tecnologias, para gerar


menos dependência externa;

d) realização de uma reforma tributária e financeira, a fim de garantir sustentação


de financiamentos quanto de conter propagação inflacionaria.

Serra afirma que há tendência de crescimento, pois existia condições


´potencias de oferta e demanda para um novo ciclo expansivo, desde que
continuasse a obedecer o dinamismo econômico com o atendimento de grandes
demandas sociais da população.

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