Professional Documents
Culture Documents
1
O IDH é um indicador rápido do estado de desenvolvimento humano. Foi introduzido pelo Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento (PNUD, ou UNDP em inglês), em 1990, a partir de indicadores de educação: alfabetização e taxa de
matrícula, longevidade: esperança de vida ao nascer, e renda: PIB per capita. (United Nations Development Programme, 2003)
Sanare. Revista Técnica da Sanepar, Curitiba, v.20, n.20, p. 18-27, jul./dez. 2003 19
conceitos de ética e ética nos negócios são o tos a favor da responsabilidade social
fundamento da atuação responsável de uma em- corporativa dividem-se em conceitos éticos e
presa. São a base do comportamento moral, do instrumentais. Os conceitos éticos se referem
julgamento do que é certo e o que é errado, e ao comportamento segundo normas existentes
dos padrões de conduta em uma sociedade. e preceitos religiosos, sobre o que é uma ação
Uma definição de ética, segundo MANK- correta e moral. Na linha instrumental, os ar-
KALATHIL e RUDOLF (1995), poderia ser o gumentos a favor da responsabilidade social
perfeito entendimento do que é o bem comum e da empresa se baseiam na avaliação positiva
quais os padrões de conduta necessários para que existe do desempenho econômico da em-
alcançá-lo. O termo “padrões éticos” é usado presa como conseqüência de sua atuação soci-
pelos autores para estabelecer a conformidade al. Para a autora, são muitas as interpretações
com padrões aceitáveis de conduta. Deve-se ter da expressão responsabilidade social, e para
em mente que os padrões aceitáveis de conduta alguns o aspecto legal é o mais relevante e re-
são diferentes em cada sociedade, em função presenta um dever fiduciário; para outros é uma
principalmente dos valores e costumes adotados função social da empresa, e há quem conside-
por essa sociedade, e seria impossível criar um re responsabilidade social um comportamento
único padrão de procedimento ético para as em- eticamente responsável.
presas em todo o mundo. No entanto, algumas Estabelecer os valores éticos de uma em-
normas de ética são comuns à grande maioria, presa pode ajudá-la a criar relações sólidas com
como honestidade, integridade e lealdade. os seus acionistas, fornecedores, clientes, en-
Sobre a ética, escreveu HUMBERTO ECO fim, todos os seus parceiros, além de ajudá-la a
“que o fundamento para o comportamento éti- cumprir a lei, a reduzir os conflitos internos e o
co, produto de crescimento milenar, é o reco- número de processos legais. A declaração dos
a declaração nhecimento do papel das outras pessoas e da valores éticos da organização dá o suporte ne-
dos valores necessidade de respeitar nelas aquelas exigên- cessário para que os empregados tomem deci-
éticos da cias que para nós são inabdicáveis”. (INSTI- sões alinhadas com os valores com que estão
TUTO ETHOS, 2002b). comprometidos.
organização dá
Por outro lado, para DUBRIN (1998, p.
o suporte 34) ética nos negócios é um conceito estrito, Filantropia e Responsabilidade Social
necessário para relativo a comportamento e moralidade. Define Filantropia é uma ação de caridade dirigida
que os ético como “o resultado da obrigação moral, ou à comunidade, desvinculada do planejamento es-
empregados da separação do que é certo e do que é errado”. tratégico da empresa.
tomem Cita como exemplo de atitude antiética uma Para MAIA (2002), a filantropia difere de
decisões empresa usar de suborno para obter um contra- responsabilidade social basicamente porque
alinhadas com to junto ao governo. filantropia é uma ação social, seja praticada iso-
os valores com As discussões sobre a ética das corpo- ladamente ou sistematicamente, e nada diz sobre
que estão rações traz aos executivos em todo o mundo a a visão da empresa e sobre o planejamento es-
comprometidos antiga pergunta: “Se é legal, isso quer dizer que tratégico de sua atuação social. MAIA enfatiza
é ético?” O foco acaba caindo no julgamento do o que não é responsabilidade social: ações espo-
que é certo ou moral e o que é errado e imoral. rádicas, doações e outros gestos de caridade não
No entanto, o aspecto legal, segundo vinculados à estratégia empresarial.
MANKKALATHIL e RUDOLF (1995), é ape- Diferem também quanto à divulgação,
nas uma subcategoria da questão ética, e, uma porque na filantropia não se procura associar a
das mais inferiores no contexto das teorias de imagem da empresa com a ação social, e nos
ética predominantes no ocidente nos dias de hoje. compromissos de responsabilidade social exis-
Afirmam que a dificuldade de se discutir pa- te transparência na atuação da empresa para
drões de ética vem da falta de um padrão uni- multiplicar as iniciativas sociais. (MOROSINI;
versal para definir uma ação social. ARAUJO, 2002)
Segundo ASHLEY (2002) os argumen- Segundo GRAJEW (2001), o conceito de
20 Sanare. Revista Técnica da Sanepar, Curitiba, v.20, n.20, p. 18-27, jul./dez. 2003
responsabilidade social está se ampliando, pas- promovam os interesses da organização junta-
sando de filantropia, a relação socialmente mente com o bem-estar da sociedade como um
compromissada da empresa com a comunida- todo”, e complementam: “reconhecer que tais
de, para abranger todas as relações da empresa: obrigações existem, tem necessariamente, um
com seus funcionários, clientes, fornecedores, impacto sobre o processo de administração es-
acionistas, concorrentes, meio ambiente e orga- tratégica”.
nizações públicas e estatais. Da mesma forma REA e KERZNER (1997) afirmam que a
ASHLEY (2002) acredita que responsabilida- responsabilidade social é um ativo intangível,
de social é um conceito ainda em construção. embora seja considerada um ativo tangível por
O Instituto Ethos de Empresas e Responsa- alguns, e que pode incluir temas desde a prote-
bilidade Social (2002a), reconhecida instituição ção ambiental até a defesa do consumidor. Fa-
brasileira que se dedica à disseminação da práti- zendo uma alusão aos impactos que a respon-
ca da responsabilidade social empresarial, expli- sabilidade social traz a uma empresa, afirmam
ca a diferença entre responsabilidade social e que a responsabilidade social pode transformar
filantropia: “A filantropia trata basicamente da um desastre em uma vantagem competitiva para
ação social externa da empresa, tendo como a organização. Entretanto, a imagem da empre-
beneficiário principal a comunidade em suas di- sa pode ficar arranhada se não souber agir com
versas formas (conselhos comunitários, organi- responsabilidade social.
zações não-governamentais, associações comu- MELO NETO e FROES (2001), por sua
nitárias etc.)”. Sobre a responsabilidade social, vez, sugerem que a responsabilidade social pode
explica, esta faz parte do planejamento estratégi- ser vista como uma prestação de contas da em-
co da empresa, é instrumento de gestão: “A res- presa para com a sociedade, uma vez que os
ponsabilidade social foca a cadeia de negócios recursos que a organização consome fazem parte
da empresa e engloba preocupações com o pú- do “patrimônio da humanidade”, ao utilizá-los,
blico maior (acionistas, funcionários, prestadores a empresa contrai uma dívida para com a soci-
de serviço, fornecedores, consumidores, comu- edade.
nidade, governo e meio ambiente), cujas deman- CERTO e PETER (1993) descrevem as
das e necessidades a empresa deve buscar enten- partes interessadas em um negócio, para quem
der e incorporar em seu negócio. Assim, a res- a empresa tem obrigações e responsabilidades:
ponsabilidade social trata diretamente dos negó- - os acionistas ou proprietários, para quem de- a
cios da empresa e como ela os conduz”. vem aumentar o valor da empresa; responsabilidade
Segundo DUBRIN (1998), está surgindo - os fornecedores de materiais e revendedores social
uma nova concepção de empresa, a empresa de produtos; preconiza que
socialmente responsável, que tem como objeti- - os emprestadores de capital, para reembolsá-los; as empresas
vo atender a uma demanda da sociedade, e a - as agências do governo e a sociedades, para possuem
atuação social das organizações torna-se o ele- obedecer as leis; deveres para
mento propulsor do desenvolvimento sustentá- - os grupos políticos, para considerar seus ar- com a
vel da nação. Para o autor, a responsabilidade gumentos; sociedade
social é um conceito mais amplo, que vai além - os empregados e sindicatos, para garantir am-
da ética e se refere a todo o impacto que a atu- bientes seguros de trabalho e reconhecer seus
ação da empresa tem sobre a sociedade e o meio direitos;
ambiente. A responsabilidade social preconiza - os consumidores, para fornecer e comercializar
que as empresas possuem deveres para com a eficientemente produtos seguros;
sociedade, além de suas obrigações econômicas - os concorrentes, para evitar práticas que des-
junto aos proprietários e acionistas, e também virtuem o comércio;
além das obrigações legais ou contratuais. - a comunidade local e a sociedade como um
Para CERTO E PETER (1993, p. 21) todo, para evitar práticas que prejudiquem o
“responsabilidade social é a obrigação admi- ambiente.
nistrativa de tomar atitudes que protejam e MELO NETO e FROES (2001, p.100) pro-
Sanare. Revista Técnica da Sanepar, Curitiba, v.20, n.20, p. 18-27, jul./dez. 2003 21
puseram o seguinte conceito de empresa- cidadã: CECÍLIA COUTINHO ARRUDA, citada por
“Uma empresa-cidadã tem no seu compromisso ASHLEY (2002), acredita que é incoerente a
com a promoção da cidadania e o desenvolvi- empresa desenvolver grandes projetos
mento da comunidade os seus diferenciais com- assistenciais para a comunidade e não tratar bem
petitivos. Busca, desta forma, diferenciar-se dos seus funcionários.
seus concorrentes assumindo uma nova postura Uma empresa responsável é aquela que
empresarial – uma empresa que investe recursos ouve os interesses de todos o segmentos da so-
financeiros, tecnológicos e de mão-de-obra em ciedade, como acionistas, funcionários, forne-
projetos comunitários de interesse público”. A cedores, prestadores de serviços, consumidores,
empresa-cidadã cria uma imagem de excelência comunidade, governo e meio ambiente, e busca
por sua atuação junto à sociedade, que se reflete atendê-los. A empresa socialmente responsável
em aumento da confiança, do respeito e da admi- não atende somente as demandas de seus acio-
ração de seus consumidores. nistas ou proprietários, mas de todos os agentes
Segundo a Business for Social Respon- com quem interage.
sibility (BSR), organização sediada nos Esta- A responsabilidade social utilizada
dos Unidos que forma parcerias com empresas como ferramenta de gestão pode ser ainda
para o sucesso comercial com responsabilidade um elemento motivador do corpo funcional.
social, a responsabilidade corporativa ajuda A imagem de empresa-cidadã está sendo cada
empresas nos seguintes aspectos: vez mais percebida e valorizada pelos clien-
- facilita o acesso ao capital de investidores; tes e consumidores, e ainda está sendo im-
- aumenta as vendas e reforça a visibilidade da portante para atrair e manter uma força de
marca; trabalho produtiva. ROCHA, no artigo Por
- atrai e mantém uma força de trabalho produtiva; uma boa causa: Quer trabalhar bem e ain-
- ajuda a gerenciar riscos; da cuidar de sua carreira? O caminho é tra-
- facilita a tomada de decisões. balhar em uma empresa socialmente respon-
A gestão da responsabilidade social ocor- sável, aborda o aspecto de motivação dos
re em duas dimensões, basicamente, segundo próprios funcionários em conseqüência da
MELO NETO e FROES (2001): a responsabi- atuação responsável da empresa. Rocha afir-
a lidade social interna e a responsabilidade social ma que muitos profissionais hoje buscam
responsabilidade externa à empresa. Enquanto a responsabilida- fazer alguma diferença na vida das pessoas,
social utilizada de interna tem como foco os funcionários da além de obter o sucesso na carreira (RO-
como empresa e suas famílias, a dimensão externa está CHA, 2001).
ferramenta de relacionada com a responsabilidade da empre-
gestão pode ser sa para com a comunidade onde está inserida e Como medir a Responsabilidade
ainda um a sociedade como um todo. Atuando em ambas Social Corporativa
elemento as dimensões a empresa exerce a sua cidadania Segundo CERTO e PETER (1993) não
motivador do empresarial e torna-se uma empresa-cidadã. existe consenso sobre o significado exato de res-
corpo funcional Todas as partes interessadas no negócio, que ponsabilidade social e do grau ideal, ou míni-
são a interface da empresa com a sociedade, mo, da responsabilidade de uma empresa.
estão presentes em uma das dimensões. Para ASHLEY (2002), as empresas estão
A responsabilidade social interna é consi- sentindo a necessidade de utilizar um modelo
derada por MELO NETO e FROES (id.) como conceitual e analítico para avaliar a sua respon-
uma prioridade inquestionável sobre a atuação sabilidade social, e evidentemente, diversas
de responsabilidade externa. Justificam sua po- abordagens conceituais levam a um grande nú-
sição afirmando que ao privilegiar ações exter- mero de metodologias operacionais.
nas em detrimento de benefícios ao quadro fun- Dentre elas, MELO NETO e FROES
cional cria-se descontentamento, ansiedade e (2001) propõem uma matriz para avaliar o ní-
desmotivação. vel de responsabilidade social de uma empresa.
Da mesma forma, a professora MARIA Utiliza-se uma escala de 0 a 3 para avaliar cada
22 Sanare. Revista Técnica da Sanepar, Curitiba, v.20, n.20, p. 18-27, jul./dez. 2003
um dos seguintes vetores de responsabilidade Para avaliar as atividades sociais com re-
social: lação ao custo e ao valor social agregado,
- grau de apoio ao desenvolvimento da comuni- MELO NETO e FROES (2001) estabelecem
dade; uma metodologia que permite medir o valor do
- grau de investimento na preservação do meio benefício social gerado e o custo/benefício de
ambiente; um determinado projeto ou atividade. Sugerem
- grau de investimento no bem-estar dos funcio- que sejam avaliados os valores sociais agrega-
nários e de seus dependentes; dos em todas as etapas do projeto, com a utili-
- grau de investimento na criação de um ambi- zação da “cadeia de valor” que propõem. Rea-
ente de trabalho agradável; lizada a análise, a empresa pode definir sua es-
- grau de transparência das comunicações den- tratégia de atuação privilegiando as atividades
tro e fora da empresa; de maior nível de agregação de valor social e
- grau de retorno aos acionistas; eliminando aquelas de maior custo/ benefício e
- grau de sinergia com os parceiros, grau de sa- que geram menor valor social.
tisfação dos clientes e/ou consumidores. Dentre as ferramentas anteriormente cita-
Com referência à gestão de uma organiza- das, e outras tantas existentes, para medir o grau
ção que cumpre todos os requisitos legais, é de responsabilidade social de uma organização,
oportuno lembrar que segundo ARRUDA, ci- destaca-se o balanço social. O balanço social
tada por ASHLEY (id.), a lei tem brechas que surgiu nos anos 60, quando parte da população
permitem injustiças sociais. da Europa e Estados Unidos realizou um movi-
ASHLEY (2002) apresenta ainda outros mento de boicote às empresas ligadas à guerra
modelos existentes para analisar a responsabi- do Vietnã. A sociedade estava exigindo uma
lidade social corporativa. Entre eles, o modelo prestação de contas por parte dessa empresas.
proposto por Ederle e Tavis propõe três níveis Muitas organizações em diversos países passa-
de desafios éticos a serem enfrentados pela em- ram então a divulgar suas ações no campo soci-
presa: al, o que resultou na criação de um instrumento
- nível 1, a empresa atende aos requisitos éticos chamado balanço social (IBASE, 2002). No
mínimos; Brasil, a Revista de Estudos de Administração
- nível 2, a organização atende além do nível n.º 10, da FAAP (1978), apresentou na década
ético mínimo; de 70 um artigo sobre o balanço social e sua a empresa pode
- nível 3, a empresa tem aspirações de atender a iminente utilização no Brasil. Entretanto, a idéia definir sua
ideais éticos. do balanço social foi se consolidar somente no estratégia de
início da década de 80 em nosso País. Um de atuação
MARTIN (2002) traz mais uma proposta seus defensores foi o sociólogo Herbert de Sou- privilegiando as
para medir o grau de responsabilidade social de za, através do Instituto Brasileiro de Análises atividades de
uma empresa. Trata dos obstáculos que os exe- Sociais e Econômicas (Ibase), que presidia. O maior nível de
cutivos que desejam transformar suas empre- Ibase, desde a sua criação, incentiva as empre- agregação de
sas em empresas-cidadãs enfrentam. Se inves- sas a se tornarem empresas responsáveis, com- valor social
tem pesado em iniciativas que seus rivais não prometidas com a qualidade de vida da comuni-
adotam, podem ser derrotados pela concorrên- dade, com o meio ambiente e com o bem-estar
cia; caso adotem uma política de recursos hu- da população em geral, e também a divulgarem
manos digna de uma democracia, podem estar seus investimentos em ações sociais através da
dirigindo empregos para países com leis traba- publicação anual do balanço social.
lhistas menos rígidas e custos de produção infe- Segundo NEVES (1998), o balanço soci-
riores. Com o nome de “A Matriz da Virtude: al é o conjunto de despesas feitas pela empresa,
Calculando o Retorno da Responsabilidade exigidas ou não por lei, que afetam positiva-
Corporativa”, o autor apresenta uma ferramen- mente a qualidade de vida da comunidade e da
ta para ajudar os executivos nessa difícil tarefa sociedade em geral. Exemplifica as ações: saú-
(MARTIN, 2002). de, alimentação, transporte, creches, ecologia,
Sanare. Revista Técnica da Sanepar, Curitiba, v.20, n.20, p. 18-27, jul./dez. 2003 23
educação, treinamento, etc. presa brasileira a publicar seu balanço social
O balanço social reúne informações sobre do ano 2000, no modelo GRI, composto por
ações, projetos e benefícios voltados ao público 95 indicadores econômicos, sociais e
interno, seus empregados e colaboradores, in- ambientais. (INSTITUTO ETHOS, 2001)
vestidores, acionistas, analistas financeiros de O modelo sugerido por SOUZA em 1977,
mercado e a própria comunidade. Representa citado por HERZOG (2001), para as empresas
um grande passo em direção à transparência de brasileiras, conhecido como o balanço social
gestão e à valorização da atuação social de uma modelo Ibase, é quantitativo e é composto por
empresa, conciliada com seus objetivos econô- dados de investimentos em creches, alimenta-
micos. Como fundamento desse movimento es- ção, salários, capacitação dos funcionários, par-
tão a ética corporativa, o conceito de desenvol- ticipação nos lucros, entre outros.
vimento sustentável e a expectativa de que as O Instituto Ethos criou um modelo basea-
empresas possam atender as necessidades da do nos modelos existentes: Ibase, GRI, e nos
sociedade, no exercício de sua responsabilidade preceitos do Institute of Social and Ethical
social. O balanço social fornece dados impor- Accountability – ISEA2 .
tantes para tomada de decisões estratégicas pe- O relatório de responsabilidade social do
los dirigentes, estimula e motiva os funcionári- Instituto Ethos possibilita a todas as empresas
os a se integrarem no esforço pelo bem-estar e a busca das melhores práticas sociais, exercidas
desenvolvimento da comunidade, e mostra aos pelas empresas com os melhores indicadores.
clientes, fornecedores e investidores a maneira Este relatório enfoca a gestão de uma em-
como a empresa é administrada. presa sob os seguintes aspectos:
Existem, basicamente, duas correntes • Econômico: valor adicionado, produtivi-
quanto à elaboração do balanço social empre- dade, investimento
sarial. A primeira é a corrente francesa, que • Social: bem-estar da força de trabalho,
surgiu com a “Le Bilan Social” de 1977, volta- direitos do trabalhador e direitos humanos, pro-
da para o bem-estar do empregado, sua família moção da diversidade, investimentos na comu-
e o ambiente de trabalho. A segunda corrente, nidade, entre outros
que prevalece em nosso País, é a corrente ame- • Ambiental: impactos dos processos, pro-
ricana. Esta defende uma abordagem mais am- dutos e serviços no ar, água, terra, biodiver-
pla quanto à atuação da empresa em todos os sidade e saúde. (INSTITUTO ETHOS, 2001,
o balanço aspectos e atores envolvidos em seu negócio: p.15)
social fornece geração de emprego e renda, meio ambiente, in- Herbert de Souza dizia que o balanço soci-
dados vestimentos em tecnologia, ambiente de traba- al não tem donos, mas tem muitos beneficiários,
importantes lho, bem-estar dos funcionários, apoio ao de- pois todos os grupos que interagem com a em-
para tomada de senvolvimento tecnológico e também quanto ao presa são beneficiados com sua publicação. Seja
decisões ambiente de trabalho e assistência médica. qual for o modelo utilizado, o importante é que o
estratégicas (MELO NETO e FROES, 2001). balanço social seja utilizado para mostrar à soci-
pelos dirigentes O Global Reporting Initiative (GRI), em- edade quais são as empresa responsáveis, e para
preendimento de abrangência internacional que conscientizar as empresas do quanto elas ainda
se propõe a desenvolver e disseminar diretri- podem fazer pela comunidade.
zes para o desenvolvimento do relatório soci-
al, elaborou um modelo de balanço social ba- A Certificação Social
seado no conceito de sustentabilidade de ges-
tão. Enfoca os aspectos econômicos e social A primeira norma de certificação social, a
do negócio. A Natura, empresa brasileira de “Social Accountability 8000” (SA 8000) foi
perfumaria de cosmética, foi a primeira em- criada em 1977 pelo Council on Economic
2
O ISEA é responsável pela Accountability 1000 (AA 1000), uma norma básica em responsabilidade social e ética,
com enfoque de auditoria e relato.
24 Sanare. Revista Técnica da Sanepar, Curitiba, v.20, n.20, p. 18-27, jul./dez. 2003
Priorities Accreditation Agency (CEPAA), fun- Estudiosos, especialistas e empresários
damentada nas normas da Organização Inter- têm proposto definições para o conceito res-
nacional do Trabalho, na Declaração Universal ponsabilidade social, com diferentes aborda-
dos Direitos Humanos e na Declaração Univer- gens, diferentes enfoques, mas que se
sal dos Direitos da Criança. A SA 8000 funcio- complementam. Pode-se entender a responsa-
na como um verificador dos princípios éticos bilidade social corporativa como a capacidade
das relações da empresa com todos os agentes desenvolvida pelas organizações de ouvir, com-
com quem interage. São avaliados os processos preender e satisfazer expectativas e interesses
produtivos, relações com a comunidade e rela- legítimos de seus diversos públicos. Ações de
ções com os empregados e seus dependentes. filantropia são motivadas por razões humani-
Seus principais pontos de análise são o traba- tárias, e na responsabilidade social impera o
lho infantil, constrangimento no trabalho, saú- sentimento de responsabilidade. As ações de
de e segurança, liberdade de associação e direi- filantropia são isoladas e reativas, e na maio-
to de negociação coletiva, discriminação, práti- ria das vezes trata-se de opção pessoal do diri-
cas disciplinares, horas de trabalho, remunera- gente, enquanto os compromissos de respon-
ção justa e a administração de sua aplicação sabilidade social compreendem ações pró-ati-
(PACHECO, 2001). vas, integradas, inseridas no planejamento es-
A SA 8000 segue os moldes dos esquemas tratégico e na cultura da organização e envol-
internacionais de avaliação de conformidade da vem todos os colaboradores.
International Organization for Standardization O conceito de responsabilidade social é
(ISO)3 , e, da mesma forma, tem a validade de bastante amplo, e como conseqüência, a avalia-
um ano, com auditorias semestrais, e também ção do grau de responsabilidade social de uma
prevê ações corretivas e preventivas. O proces- organização não é uma tarefa simples. O balan-
so de certificação é igualmente lento e trabalho- ço social é hoje uma ferramenta de gestão utili-
so, mas hoje já tem-se dezenas de projetos de zada por empresas, em todos os países, para
certificação sendo realizados no Brasil. Avon avaliar o nível da responsabilidade corporativa.
do Brasil, ALF do Brasil, BRINOX, De Nadai É o instrumento que permite à empresa demons-
são algumas empresas que já possuem a trar todas as ações sociais de cidadania desen-
certificação SA 8000. (BALANÇO SOCIAL, volvidas em um determinado período. Já exis- ações de
2003) tem, e estão começando a ser utilizadas pelas filantropia são
Outra norma que busca assegurar padrões empresas brasileiras, normas de Certificação motivadas por
de conduta éticos das empresas, a AA 1000, quanto à sua atuação socialmente responsável. razões
que foi criada em 1999 pelo ISEA, é uma nor- A SA 8000 e a AA 1000 certificam que uma humanitárias,
ma de contabilidade e auditoria baseada em prin- empresa possui produtos ou serviços executa- e na
cípios éticos e sociais, que enfatiza o diálogo dos de forma socialmente correta. Podem ser responsabilidade
entre empresas e partes interessadas e o comparadas à ISO 9000, de certificação de qua- social impera o
engajamento dos stakeholderes 4 . (MELO lidade, e à ISO 14000, de certificação ambiental. sentimento de
NETO; FROES, 2001). Ao assumir um efetivo compromisso com responsabilidade
a ética e a sustentabilidade social e ambiental
Conclusão do planeta, as empresas estão exercendo plena-
mente sua responsabilidade social e ajudando a
A filantropia foi o passo inicial em dire- construir um mundo melhor para todos. E estão
ção à responsabilidade social. lucrando com isso!
3
Rede de institutos de padronização de 145 países, que trabalham em parceria com organizações internacionais,
governos, indústrias e representantes de consumidores. A SA 8000 pode ser vista como um sistema de verificação de
condições dignas de trabalho. Também pode ser utilizada pela comunidade e pela sociedade em geral para monitorar
esse aspecto da gestão da empresa.
4
Stakeholders são os públicos interno e externo da empresa; representam todos os envolvidos e interessados no negócio.
Sanare. Revista Técnica da Sanepar, Curitiba, v.20, n.20, p. 18-27, jul./dez. 2003 25
Referências prespostas/index.asp> Acesso em: 21 mar.
2002a.
ASHLEY, P. A. (Coord.). Ética e responsa-
bilidade social nos negócios. São Paulo: Sa- _____. Reflexão: diálogo sobre a ética. São
raiva, 2002. 205 p. Paulo, v.3, n. 6, fev. 2002b.
a SA 8000 e a
AA 1000
certificam que
uma empresa
possui produtos
ou serviços
executados de
forma
socialmente
correta
Autora