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Psico-USF, Bragança Paulista, v. 21, n. 2, p. 423-425, mai./ago.

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Saúde Mental na Escola: O que os Educadores Devem Saber

Estanislau, G. M., & Bressan, R. A. (Orgs.). 2014. Saúde Mental na Escola: o que os educadores devem saber.
São Paulo: Artmed.

As doenças mentais são compreendidas como como protagonista no contexto de disseminação de


transtornos da trajetória da vida, que evoluem a par- saúde e define o termo “aprendizagem socioemocio-
tir de alterações do neurodesenvolvimento e que nal”, referindo-se a um processo fundamental que
manifestam seus primeiros sinais na infância. Tal auxilia o relacionamento interpessoal e introspectivo do
perspectiva enfatiza o papel da escola, pois longe de indivíduo, ressaltando cinco processos dessa aprendi-
tratar apenas da questão do aprendizado, os profes- zagem: autoconhecimento, consciência social, tomadas
sores e a família possuem condição privilegiada, pois de decisão responsável, habilidades de relacionamento
desde que se tornou obrigatória para todas as crianças e autocontrole. Essas habilidades, se bem desenvolvidas
e jovens brasileiros, esse ambiente passou a ser um e trabalhadas, poderão resultar em fatores de proteção
local privilegiado de grande concentração de estimu- contra um possível TM.
lação longitudinal e de grande impacto sobre todos os O capítulo 7 trata do neurodesenvolvimento e
aspectos da vida. suas principais etapas. Os autores mostram dados sobre
Nesse sentido, o livro Saúde Mental na Escola: o como a maturação cerebral está relacionada com o
que os educadores devem saber é publicado com o objetivo desenvolvimento de habilidades cognitivas, emocionais
de esclarecer melhor o modo como os educadores e e sociais. Esse desenvolvimento concomitante depende
os familiares dos alunos podem atuar para prevenção da interação entre fatores biológicos, como carga gené-
e promoção da saúde mental no contexto escolar. O tica e o ambiente, que pode ser um facilitador ou um
primeiro capítulo evidencia a falta de conhecimento inibidor para do desabrochar das habilidades humanas.
sobre saúde mental nas escolas brasileiras, o que resulta Todos esses processos estão associados a períodos de
tanto nas tendências sobre a supervalorização de doen- reorganização do cérebro, que podem consistir em
ças, discriminação e de medicalização. Essa falta de grandes aquisições de desenvolvimento.
conhecimento também impede a articulação de proje- Os transtornos psiquiátricos são descritos entre os
tos sobre o desenvolvimento de habilidades não apenas capítulos 8 e 9, ressaltando a transtorno de ansiedade
intelectuais, mas também emocionais e sociais, que generalizada, o transtorno de ansiedade social e a fobia
contribuirão para o desenvolvimento integral do aluno social como as mais relevantes na infância e adolescên-
e constituirá um fator de proteção para problemas cia. A estimativa é que entre 5% e 13% da população
mentais no futuro. Porém, isso exige a aproximação apresentem esse problema. Já o transtorno obsessivo
de diferentes setores e áreas do conhecimento, por compulsivo, que afeta entre 1% e 3% da população, tem
exemplo, educação, saúde e saúde mental, bem como seu tratamento postergado pela falta de conhecimento
de políticas públicas, para elaboração de novas práticas de suas características.
que atendam a esse objetivo. Há também os transtornos relacionados ao
Os capítulos de 2 a 6 abordam a diferença entre humor, como depressão e transtorno bipolar, em que
transtorno e problema mental, definindo o que seriam a criança pode apresentar dificuldades para controlar
quadros de transtornos mentais (TM) já instalados e as emoções, conforme o capítulo 10. Os capítulos de
dificuldades mentais intermediárias e/ou mais amenas 11 a 14 tratam dos critérios diagnósticos do TDAH e
em que não se configura um TM. A falta de informação seus subtipos. Em casos que apresentem persistência
confiável e orientação especializada sobre essa condição de sinais de irritabilidade, oposição e agressividade,
patológica levam ao estigma, que é um dos problemas podem sugerir quadros definidos como do transtorno
de maior impacto na saúde mental, devido à influên- de oposição desafiante e do transtorno comporta-
cia negativa que causa no indivíduo. Ao decorrer dos mental. Para todos esses casos, o diagnóstico deve
capítulos os temas família e escola são correlacionados, considerar a manifestação dos sintomas dentro de
evidenciando a importância de ambos se relacionarem, um contexto, levando em consideração dados cole-
pois essa aproximação é de grande relevância na promo- tados em uma anamnese e troca de informações
ção da saúde mental. O sistema educacional é destacado com familiares, educadores e outros profissionais de
Disponível em www.scielo.br http://dx.doi.org/10.1590/1413-82712016210217
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saúde que possam estar acompanhando a criança. Seu compulsão alimentar. Não existe causa única para esse
tratamento pode ser baseado em modalidades de psi- tipo de transtorno, e sim fatores de vulnerabilidade,
coterapia cognitiva comportamental e medicamentos precipitantes e de reforço ao quadro. O tratamento tem
quando necessário. por objetivo o restabelecimento do estado nutricional
No capitulo 15, os autores descrevem a esqui- e interrupção dos sintomas comportamentais, pois é
zofrenia como um transtorno com forte componente comum que outros quadros psiquiátricos estejam asso-
genético, associado a alterações do desenvolvimento ciados a esse transtorno.
do cérebro. A prevalência da esquizofrenia é de 1% Por fim, o capítulo 19 aborda os aspectos jurídi-
na população. Suas características estão relacionadas cos que estão relacionados aos diferentes transtornos,
a diversas apresentações, como um isolamento social, visando o amparo a indivíduos com deficiências e/
alterações cognitivas, sintomas psicóticos e proble- ou limitações e também aqueles que apresentem con-
mas funcionais. O diagnóstico é feito clinicamente dições que dificultem sua aprendizagem de forma
e buscam excluir outras possibilidades que expli- significativa. O objetivo desse capítulo é ampliar as
quem os sintomas (problemas neurológicos e drogas, necessidades educacionais especiais, considerando
por exemplo). Quanto antes o início do tratamento esses indivíduos com grande potencial para ser
(ação medicamentosa e início de terapias), melhor o explorado na escola, por meio de um processo
prognóstico. baseado na interação e na diversidade, propiciando um
Os transtornos de Espectro Autista (TEAs) e o processo mais rico de construção coletiva de conheci-
uso de drogas na adolescência são tratados no capitulo mento. Para que essa etapa seja realizada, é necessário
16 e 17. A causa do TEA é complexa e tem associação que o sistema educacional se aproxime do setor de
com diversos fatores, dentre eles influências genéticas serviços especializados, como escolas especiais, cen-
e ambientais. Não há tratamento específico, pois é pre- tros especializados, serviços de saúde e trabalhos de
ciso avaliar as habilidades e dificuldades de cada criança assistência social, sem que não haja a sobrevalorização
dentro de seu contexto. Apesar do tratamento farma- de nenhuma das partes. Nesse contexto, são expostos
cológico não ser obrigatório no TEAs, o é importante alguns aspectos jurídicos contempladas nesse livro, a
no controle dos sintomas periféricos, como agitação, fim de que o leitor raciocine de forma crítica e adote
impulsividade e agressividade. posicionamentos mais seguros no que tange a assun-
O capítulo 17 aborda os transtornos relacionados tos dessa natureza.
ao uso de drogas. As drogas, como qualquer substância, Essa obra é de conteúdo altamente relevante para
é capaz de atravessar as barreiras de proteção do cére- o cenário nacional, pois os autores abordam temas
bro causando inúmeras alterações no comportamento complexos, ressaltando a extrema importância de se
de um indivíduo e podem reforçar o prazer daquela avaliar um quadro clínico de transtorno dentro do
experiência. Em vista disso, o autor traz alternativas a ambiente escolar. O livro mostra estratégias de preven-
prevenção, classificada em três estágios (prevenção pri- ção, resguardando-se, porém, do estigma que faz com
mária, secundária e terciária), em que o sistema escolar que muitos pais ou jovens distanciem-se do tratamento
apresenta um papel colaborativo, veiculando estratégias por medo de serem ridicularizados. O papel dos pais
que permitam o desenvolvimento e capacitação dos e dos professores é fundamental para o diagnóstico
jovens, já que o impacto na população adolescente é precoce e observação do tratamento, com a aplicação
bastante alto. de novos hábitos no indivíduo a fim de que os efeitos
O excesso na preocupação com a imagem cor- do transtorno sejam minimizados junto ao tratamento
poral e questões referentes ao peso justificam a medicamentoso, quando necessário.
preocupação com os adolescentes quanto aos transtor- Recebido em: 09/12/2015
nos alimentares (TA). O capítulo 18 aborda o TA e suas Reformulado em: 06/04/2015
subdivisões (anorexia nervosa, bulimia nervosa, trans- Aprovado em: 04/05/2016
tornos alimentares não especificados e transtorno de

Psico-USF, Bragança Paulista, v. 21, n. 2, p. 423-425, mai./ago. 2016


Garcia, J. M. Saúde Mental na Escola 425

Sobre a autora:

Janaína Mandra Garcia é discente em Psicopedagogia e de Iniciação Científica do Programa Stricto Sensu em Psico-
logia Educacional do Centro Universitário FIEO (UNIFIEO), Osasco-SP.
E-mail: janaina.mandra@gmail.com

Contato com a autora:

Av. Franz Voegeli, 300, Continental


CEP: 06020-190
Osasco-SP, Brasil
Psico-USF, Bragança Paulista, v. 21, n. 2, p. 423-425, mai./ago. 2016

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