Professional Documents
Culture Documents
net/publication/281441526
CITATIONS READS
0 148
1 author:
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
All content following this page was uploaded by Breno Battistin Sebastiani on 02 September 2015.
1
O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Brasil. Agradeço a Christian Werner
pela releitura e sugestões. Todas as opiniões, naturalmente, são de minha
exclusiva responsabilidade.
2
A expressão foi emprestada de AGAMBEN, G. Ideia da prosa. Lisboa: Cotovia,
tradução, prefácio e notas de J. Barrento, 1999. p. 46-8 e de LOEWY, M. Walter
Benjamin: aviso de incêndio. São Paulo: Boitempo, tradução de W. N. C. Brant,
2005. p. 147-159.
3
Löwy, n. 2, p. 147: “uma concepção do processo histórico que dá acesso a um
vertiginoso campo dos possíveis, uma vasta arborescência de alternativas, sem
no entanto cair na ilusão de uma liberdade absoluta: as condições ‘objetivas’ são
também condições de possibilidade”.
4
Agamben, n. 2, p. 47: “[é] precisamente a ausência de um objecto último do
conhecimento que nos salva da tristeza sem remédio das coisas. Toda a verdade
última formulável num discurso objectivante, ainda que na aparência feliz, teria
necessariamente um carácter destinal de condenação, de um ser condenado à
verdade”.
5
Todas as traduções são de minha autoria; o texto de Tucídides que utilizei foi:
THUCYDIDIS. Historiae, 2 vols. Oxford: Clarendon Press, ed. Jones & Powell,
1967-70.
202
II
“Tal o passado qual o descobri, difícil de crer por todo e qualquer
indício: as pessoas acatam umas das outras as tradições ancestrais
do mesmo modo, sem teste, ainda que lhes sejam nativas. A maioria
dos atenienses pensa que Hiparco morreu às mãos de Harmódio e
Aristogitão quando era tirano e não sabe que Hípias, porque filho
mais velho de Pisístrato, governava, e que Hiparco e Téssalo eram
seus irmãos. Após suspeitarem, precisamente no dia fatídico, de
que alguns dos conjurados os houvessem denunciado a Hípias,
Harmódio e Aristogitão dele se afastaram por julgá-lo prevenido; de-
sejando, porém, agir e arriscar-se antes de serem presos, toparam com
Hiparco perto do chamado Leocório, enquanto organizava a procissão
Panatenaica, e o mataram. Muitos outros fatos, ainda que correntes e
não obliterados pelo tempo, também os demais helenos não julgam
com acerto, como que os reis lacedemônios teriam direito não a um
voto cada, mas a dois, e que entre eles haveria um batalhão de Pitana,
que jamais existiu: tão descuidada é a busca da verdade para a maioria,
mais inclinada ao que está à mão. Dentre os indícios mencionados,
contudo, quem os tomasse à risca tais quais os arrolei não erraria (sem
dar muito crédito a poetas, que os cantam adornando e amplificando,
nem a cronistas, que os compilaram mais para serem agradáveis à
audiência que verídicos, já que os fatos são inverificáveis e muitos se
tornaram mitos incredíveis com o tempo) mas julgando que foram
descobertos a partir dos sinais mais evidentes, por serem bastante
antigos. E a presente guerra, muito embora os homens costumem
sempre considerar como a maior aquela em que porventura estejam
combatendo e, quando a concluem, mais se espantem com as antigas,
a quem observe os fatos em si, mostrará, todavia, que foi maior do
que essas. Quanto pronunciou cada um que estava na iminência de
combater ou já nela engajado, foi-me difícil recordar a exatidão mesma
do que foi dito e que eu mesmo ouvi, ou quando me foi reportado por
terceiros. Tal qual me pareceu próprio do que cada um tenha falado
em cada circunstância, a mim que me mantinha o mais próximo do
conteúdo global do que foi realmente proferido, assim está dito. Decidi
relatar as ações praticadas na guerra não porque me informasse junto
a qualquer um, nem como bem me parecessem, mas examinando
uma a uma, em toda precisão possível, aquelas às quais eu mesmo
203
6
Th.1.20-22: Τὰ μὲν οὖν παλαιὰ τοιαῦτα ηὗρον, χαλεπὰ ὄντα παντὶ ἑξῆς τεκμηρίῳ
πιστεῦσαι. οἱ γὰρ ἄνθρωποι τὰς ἀκοὰς τῶν προγεγενημένων, καὶ ἢν ἐπιχώρια
σφίσιν ᾖ, ὁμοίως ἀβασανίστως παρ’ ἀλλήλων δέχονται. Ἀθηναίων γοῦν τὸ
πλῆθος Ἵππαρχον οἴονται ὑφ’ Ἁρμοδίου καὶ Ἀριστογείτονος τύραννον ὄντα
ἀποθανεῖν, καὶ οὐκ ἴσασιν ὅτι Ἱππίας μὲν πρεσβύτατος ὢν ἦρχε τῶν Πεισιστράτου
υἱέων, Ἵππαρχος δὲ καὶ Θεσσαλὸς ἀδελφοὶ ἦσαν αὐτοῦ, ὑποτοπήσαντες δέ τι
ἐκείνῃ τῇ ἡμέρᾳ καὶ παραχρῆμα Ἁρμόδιος καὶ Ἀριστογείτων ἐκ τῶν ξυνειδότων
σφίσιν Ἱππίᾳ μεμηνῦσθαι τοῦ μὲν ἀπέσχοντο ὡς προειδότος, βουλόμενοι δὲ πρὶν
ξυλληφθῆναι δράσαντές τι καὶ κινδυνεῦσαι, τῷ Ἱππάρχῳ περιτυχόντες περὶ τὸ
Λεωκόρειον καλούμενον τὴν Παναθηναϊκὴν πομπὴν διακοσμοῦντι ἀπέκτειναν.
πολλὰ δὲ καὶ ἄλλα ἔτι καὶ νῦν ὄντα καὶ οὐ χρόνῳ ἀμνηστούμενα καὶ οἱ ἄλλοι
Ἕλληνες οὐκ ὀρθῶς οἴονται, ὥσπερ τούς τε Λακεδαιμονίων βασιλέας μὴ μιᾷ
ψήφῳ προστίθεσθαι ἑκάτερον, ἀλλὰ δυοῖν, καὶ τὸν Πιτανάτην λόχον αὐτοῖς
εἶναι, ὃς οὐδ’ ἐγένετο πώποτε. οὕτως ἀταλαίπωρος τοῖς πολλοῖς ἡ ζήτησις τῆς
ἀληθείας, καὶ ἐπὶ τὰ ἑτοῖμα μᾶλλον τρέπονται. ἐκ δὲ τῶν εἰρημένων τεκμηρίων
ὅμως τοιαῦτα ἄν τις νομίζων μάλιστα ἃ διῆλθον οὐχ ἁμαρτάνοι, καὶ οὔτε ὡς
ποιηταὶ ὑμνήκασι περὶ αὐτῶν ἐπὶ τὸ μεῖζον κοσμοῦντες μᾶλλον πιστεύων, οὔτε
ὡς λογογράφοι ξυνέθεσαν ἐπὶ τὸ προσαγωγότερον τῇ ἀκροάσει ἢ ἀληθέστερον,
ὄντα ἀνεξέλεγκτα καὶ τὰ πολλὰ ὑπὸ χρόνου αὐτῶν ἀπίστως ἐπὶ τὸ μυθῶδες
ἐκνενικηκότα, ηὑρῆσθαι δὲ ἡγησάμενος ἐκ τῶν ἐπιφανεστάτων σημείων ὡς
παλαιὰ εἶναι ἀποχρώντως. καὶ ὁ πόλεμος οὗτος, καίπερ τῶν ἀνθρώπων ἐν ᾧ
μὲν ἂν πολεμῶσι τὸν παρόντα αἰεὶ μέγιστον κρινόντων, παυσαμένων δὲ τὰ
ἀρχαῖα μᾶλλον θαυμαζόντων, ἀπ’ αὐτῶν τῶν ἔργων σκοποῦσι δηλώσει ὅμως
μείζων γεγενημένος αὐτῶν. Καὶ ὅσα μὲν λόγῳ εἶπον ἕκαστοι ἢ μέλλοντες
πολεμήσειν ἢ ἐν αὐτῷ ἤδη ὄντες, χαλεπὸν τὴν ἀκρίβειαν αὐτὴν τῶν λεχθέντων
διαμνημονεῦσαι ἦν ἐμοί τε ὧν αὐτὸς ἤκουσα καὶ τοῖς ἄλλοθέν ποθεν ἐμοὶ
ἀπαγγέλλουσιν· ὡς δ’ ἂν ἐδόκουν ἐμοὶ ἕκαστοι περὶ τῶν αἰεὶ παρόντων τὰ
δέοντα μάλιστ’ εἰπεῖν, ἐχομένῳ ὅτι ἐγγύτατα τῆς ξυμπάσης γνώμης τῶν ἀληθῶς
λεχθέντων, οὕτως εἴρηται. τὰ δ’ ἔργα τῶν πραχθέντων ἐν τῷ πολέμῳ οὐκ ἐκ
τοῦ παρατυχόντος πυνθανόμενος ἠξίωσα γράφειν, οὐδ’ ὡς ἐμοὶ ἐδόκει, ἀλλ’
οἷς τε αὐτὸς παρῆν καὶ παρὰ τῶν ἄλλων ὅσον δυνατὸν ἀκριβείᾳ περὶ ἑκάστου
ἐπεξελθών. ἐπιπόνως δὲ ηὑρίσκετο, διότι οἱ παρόντες τοῖς ἔργοις ἑκάστοις οὐ
ταὐτὰ περὶ τῶν αὐτῶν ἔλεγον, ἀλλ’ ὡς ἑκατέρων τις εὐνοίας ἢ μνήμης ἔχοι. καὶ
204
205
7
Cf. JAY, M. “Historical explanation and the event: reflections on the limits of
contextualization”, New Literary History 42 (2011) p. 566: “[t]o the extent that an
event is irreducible to its enabling context, intellectual or artistic events are also
best grasped in terms of what they make possible rather than what makes them
possible”. O argumento radica no trabalho de C. Romano: “[f ]or the historian, the
upshot of all this is that for the class of extraordinary happenings that justify the
label ‘event’—and it seems likely they are a small, if significant, minority—con-
textual explanation, however we construe it, is never sufficient. As Romano puts
it, ‘understanding events is always apprehending them on a horizon of meaning
that they have opened themselves, in that they are strictly nonunderstandable in
the light of their explanatory context’ (EW 152). If this is true for events in general,
it is perhaps more so for those we might call events in intellectual history” (idem,
p. 567).
8
ROSA, J. G. “A terceira margem do rio”, in: Idem. Ficção completa. v.2. Rio de
Janeiro: Nova Aguilar, 2009. p. 421.
9
Cf. Th.1.22 (n. 6): διαμνημονεῦσαι ἦν ἐμοί e ἐδόκουν ἐμοὶ, relativos a discursos;
ηὑρίσκετο, relativamente aos fatos.
206
10
Em 424/3 a.C. Tucídides é derrotado pelo espartano Brásidas em Anfípolis, na
Trácia, e exilado de Atenas. O episódio é narrado em Th.4.104-107; discuto-o em
“O olhar sobre si mesmo, ou fracasso e lucidez nos textos de Tucídides e Políbio”,
Aletria 24 (2014) 243-255. Disponível em: <http://www.periodicos.letras.ufmg.
br/index.php/aletria/article/view/6954/5950>.
11
O exame ora sugerido e desenvolvido ao longo deste texto radica na proposta de
“mediação recriadora”, de JAY, M. “Intention and irony: the missed encounter
between Hayden White and Quentin Skinner”, H&T 52 (2013) p. 44 e, sobretudo,
no capítulo de ROMANO, C. “De la compréhension. Quelques parallèles entre
Wittgenstein et la tradition herméneutique”, in C. Romano (ed.), Wittgenstein.
Paris: CERF, 2013. p. 547-598.
207
12
Cf. n. 6: recordação e constatação precisas (ἀκρίβεια – “sem obscuridade”) tanto
de discursos ouvidos quanto de fatos testemunhados de modo autóptico (παρῆν),
descoberta penosa (ἐπιπόνως δὲ ηὑρίσκετο) (Th.1.22).
208
des (de narrador e leitor) totaliza uma unidade. Antes que algo paradoxal
ou metafórico (o que pressuporia descontinuidade e segmentação, norma
e desvio, além do necessário critério-garantia, e assim ao infinito), tal
unidade é mais apropriadamente pensada como dialética pendular entre
movimentos multidirecionais13 (convergentes ou divergentes) operada
pelo leitor empenhado em reconstruir o modo segundo o qual Tucídides
organizou tal unidade. E a mediação, porque abertura a todo tempo dis-
ponível, forma o centro onde se convertem realidades em narrativa dos
ditos movimentos, antes que ponte de no máximo dois sentidos opostos.
A água em repouso no aquífero é a mesma que rasga cursos na crosta
após cruzar o limiar da nascente: entre contiguidade e necessidade, por
um lado, ruptura e liberdade, por outro, há antes harmonia que mútua
exclusão. Os passos para a (re)criação transformadora podem ser dados
a qualquer tempo e por qualquer investigador bem disposto. Se ἀλήθεια
é abertura e mediação, a contradição fundamental a ser dialeticamente
superada é sua eventual restrição a elemento tão somente textual. É no
texto que a abertura começa a ser rasgada, mas não é nele que o processo
se conclui: ao mesmo tempo em que tomava distância, Tucídides retomava
Homero para entrever o passado grego arcaico, por exemplo.
Atentar para o que há de imanente à narrativa é, enfim, perceber
que a convergência entre ἀλήθεια e humanidade implica, se já não deriva
de, uma leitura específica do passo Th.1.22.414: a transformação fomen-
tada na abertura de ἀλήθεια pelo agir perene independe da segmenta-
ção temporal, porque unifica a tripartição sem destruir suas distinções
intrínsecas. A unidade resultante é a própria transformação perene dos
homens em si mesmos e ao longo de sua sucessão epocal, o que sugere
que a obra de Tucídides seja, de fato, “aquisição para sempre” passível
de se comunicar com toda e qualquer época, dada a permanente trans-
formação. E a utilidade consequentemente reclamada se desloca, porque
também inerente à mesma dialética, entre os âmbitos intelectual e prático,
13
Jay, n. 7, p. 562.
14
Cf. n. 6: ὅσοι δὲ βουλήσονται τῶν τε γενομένων τὸ σαφὲς σκοπεῖν καὶ τῶν
μελλόντων ποτὲ αὖθις κατὰ τὸ ἀνθρώπινον τοιούτων καὶ παραπλησίων ἔσεσθαι,
ὠφέλιμα κρίνειν αὐτὰ ἀρκούντως ἕξει.
209
15
Carta de Marx a Lassalle (29 de maio de 1861) transcrita em LASSALLE, F.
Nachgelassene Briefe und Schriften. Bd. III, p. 364, disponível em <http://www.
historische-kommission-muenchen-editionen.de/lassalle/anzeige/seite.
php?id=L-003-0407>: “Um meine große Verstimmung über mein in every
respect unsettled situation [em inglês no original], lese ich Thucydidies. Diese Alten
bleiben wenigstens immer neu”.
16
1996, dir. M. Makhmalbaf.
17
Fr. 50 (D-K): οὐκ ἐμοῦ, ἀλλὰ τοῦ λόγου ἀκούσαντας ὁμολογεῖν σοφόν ἐστιν ἓν
πάντα εἶναι: “ouvindo não a mim, mas à fala, é sábio condizer ser tudo um”.
210
III
18
ROSA, J. G. “A hora e a vez de Augusto Matraga”, in: Idem. Ficção completa. v.1.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2009. p. 250.
19
Sobre o problema do gap entre realidade e discurso, ou entre verdade e ficção, e a
possibilidade de superá-lo, cf. Jay, n. 11, p. 32-48.
211
212
20
Th.2.43: Καὶ οἵδε μὲν προσηκόντως τῇ πόλει τοιοίδε ἐγένοντο· τοὺς δὲ λοιποὺς
χρὴ ἀσφαλεστέραν μὲν εὔχεσθαι, ἀτολμοτέραν δὲ μηδὲν ἀξιοῦν τὴν ἐς τοὺς
πολεμίους διάνοιαν ἔχειν, σκοποῦντας μὴ λόγῳ μόνῳ τὴν ὠφελίαν, ἣν ἄν
τις πρὸς οὐδὲν χεῖρον αὐτοὺς ὑμᾶς εἰδότας μηκύνοι, λέγων ὅσα ἐν τῷ τοὺς
πολεμίους ἀμύνεσθαι ἀγαθὰ ἔνεστιν, ἀλλὰ μᾶλλον τὴν τῆς πόλεως δύναμιν
καθ’ ἡμέραν ἔργῳ θεωμένους καὶ ἐραστὰς γιγνομένους αὐτῆς, καὶ ὅταν ὑμῖν
μεγάλη δόξῃ εἶναι, ἐνθυμουμένους ὅτι τολμῶντες καὶ γιγνώσκοντες τὰ δέοντα
καὶ ἐν τοῖς ἔργοις αἰσχυνόμενοι ἄνδρες αὐτὰ ἐκτήσαντο, καὶ ὁπότε καὶ πείρᾳ του
σφαλεῖεν, οὐκ οὖν καὶ τὴν πόλιν γε τῆς σφετέρας ἀρετῆς ἀξιοῦντες στερίσκειν,
κάλλιστον δὲ ἔρανον αὐτῇ προϊέμενοι. κοινῇ γὰρ τὰ σώματα διδόντες ἰδίᾳ τὸν
ἀγήρων ἔπαινον ἐλάμβανον καὶ τὸν τάφον ἐπισημότατον, οὐκ ἐν ᾧ κεῖνται
μᾶλλον, ἀλλ’ ἐν ᾧ ἡ δόξα αὐτῶν παρὰ τῷ ἐντυχόντι αἰεὶ καὶ λόγου καὶ ἔργου
καιρῷ αἰείμνηστος καταλείπεται. ἀνδρῶν γὰρ ἐπιφανῶν πᾶσα γῆ τάφος, καὶ οὐ
στηλῶν μόνον ἐν τῇ οἰκείᾳ σημαίνει ἐπιγραφή, ἀλλὰ καὶ ἐν τῇ μὴ προσηκούσῃ
ἄγραφος μνήμη παρ’ ἑκάστῳ τῆς γνώμης μᾶλλον ἢ τοῦ ἔργου ἐνδιαιτᾶται.
οὓς νῦν ὑμεῖς ζηλώσαντες καὶ τὸ εὔδαιμον τὸ ἐλεύθερον, τὸ δ’ ἐλεύθερον
τὸ εὔψυχον κρίναντες μὴ περιορᾶσθε τοὺς πολεμικοὺς κινδύνους. οὐ γὰρ οἱ
κακοπραγοῦντες δικαιότερον ἀφειδοῖεν ἂν τοῦ βίου, οἷς ἐλπὶς οὐκ ἔστιν ἀγαθοῦ,
ἀλλ’ οἷς ἡ ἐναντία μεταβολὴ ἐν τῷ ζῆν ἔτι κινδυνεύεται καὶ ἐν οἷς μάλιστα
μεγάλα τὰ διαφέροντα, ἤν τι πταίσωσιν. ἀλγεινοτέρα γὰρ ἀνδρί γε φρόνημα
ἔχοντι ἡ μετὰ τοῦ [ἐν τῷ] μαλακισθῆναι κάκωσις ἢ ὁ μετὰ ῥώμης καὶ κοινῆς
ἐλπίδος ἅμα γιγνόμενος ἀναίσθητος θάνατος.
213
214
21
Th.3.83: Οὕτω πᾶσα ἰδέα κατέστη κακοτροπίας διὰ τὰς στάσεις τῷ Ἑλληνικῷ,
καὶ τὸ εὔηθες, οὗ τὸ γενναῖον πλεῖστον μετέχει, καταγελασθὲν ἠφανίσθη, τὸ
δὲ ἀντιτετάχθαι ἀλλήλοις τῇ γνώμῃ ἀπίστως ἐπὶ πολὺ διήνεγκεν· οὐ γὰρ ἦν ὁ
διαλύσων οὔτε λόγος ἐχυρὸς οὔτε ὅρκος φοβερός, κρείσσους δὲ ὄντες ἅπαντες
λογισμῷ ἐς τὸ ἀνέλπιστον τοῦ βεβαίου μὴ παθεῖν μᾶλλον προυσκόπουν ἢ
πιστεῦσαι ἐδύναντο. καὶ οἱ φαυλότεροι γνώμην ὡς τὰ πλείω περιεγίγνοντο· τῷ
γὰρ δεδιέναι τό τε αὑτῶν ἐνδεὲς καὶ τὸ τῶν ἐναντίων ξυνετόν, μὴ λόγοις τε ἥσσους
215
216
217
23
Para tais distinções, cf. BOSI, A. Machado de Assis. O enigma do olhar. São Paulo:
Ática, 3ª reimp., 2003. p. 10-12 e 37.
24
MACHADO DE ASSIS, “A causa secreta”, disponível em: <http://www.
dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000182.pdf>.
218
IV
25
A data em que Tucídides começou a escrever é controversa: embora tenha afirmado
que “começou a escrever tão logo a guerra eclodiu” (1.1.1), um biógrafo anônimo
reporta que “dizem que redigiu o proêmio (i.e., Th.1.1-23) depois da história” (Vit.
Thuc.Anon.8), justificando a alegação com as menções à purificação de Delos
ocorrida durante a guerra (1.8.1), ao fim da guerra (1.13.1) e à caracterização da
guerra como o maior dos conflitos até então ocorridos (1.1.2).
219
220
26
Há muito tipificado pela crítica incisiva de G. Lukács, “Narrare o descrivere?”, in
Idem. Il marxismo e la critica letteraria. Torino: Einaudi, traduzione di C. Cases,
1964. p. 269-323 (o ensaio é de 1936). Cf. ainda ROMANO, C., Compréhension
d’un texte et intention d’auteur, in M. Ouelbani (a cura di), L’intention. Tunis:
Université de Tunis, 2010. p. 77-8; Jay, n. 7, p. 557.
27
Th.1.71.3: ἀνάγκη δὲ ὥσπερ τέχνης αἰεὶ τὰ ἐπιγιγνόμενα κρατεῖν.
221