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Equivalência Patrimonial
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utilizarem (no balanço conso- Na justificativa para a realização desse projeto, são
apontadas diversas críticas realizadas ao método.
lidado para os investimentos Comentando o já citado artigo de Nobes, na apre-
sentação do escopo do projeto em tela o IASB reco-
em coligadas e joint ventu- nhece a utilização da equivalência patrimonial para,
res) por força da norma. ao menos, aquelas quatro diferentes circunstâncias.
Ainda, afirma o IASB que, possivelmente por ter
demonstrações contábeis não estavam de acordo tantas utilizações visando solucionar diferentes pro-
com as normas internacionais do IASB no que diz blemas de divulgação é que existem tantas visões di-
respeito a esse assunto. ferentes sobre o quê efetivamente deve ser o método
da equivalência patrimonial.
Sendo assim, o Brasil, juntamente com outras juris-
dições, especialmente da América Latina e Ásia, que Tendo em vista o projeto do IASB, o EFRAG, em
tinham o mesmo problema, solicitou que o IASB janeiro de 2014, emitiu o primeiro de suas Short
alterasse a norma IAS 27, permitindo que nas de- Discussions Series, uma série dedicada à discussão de
monstrações separadas os investimentos em parti- assuntos problemáticos com o objetivo de auxiliar o
cipações societárias também fossem avaliados pela IASB a tratar tais questões, voltado especificamente
equivalência patrimonial. para a equivalência patrimonial4. O KASB (Coreia),
em junho de 2014, também emitiu um documento
Após essa solicitação, o IASB emitiu uma revisão da dedicado à discussão da equivalência patrimonial5.
norma IAS 27, acatando a solicitação, passando a in-
cluir também o método da equivalência patrimonial E mais, o assunto vem sendo discutido no âmbito do
como aceito na avaliação dos investimentos socie- ASAF, órgão que assessora diretamente o presidente
tários nas demonstrações separadas. Dessa forma, do IASB, e em vários outros fóruns.
após o ajuste da IAS 27 e, por consequência, do CPC
A seguir, passaremos a abordar questões especifica-
36, as demonstrações individuais das entidades pas-
saram a estar plenamente de acordo com as normas mente voltadas para as principais dessas críticas à
do IASB; a divergência foi encerrada e as ressalvas equivalência patrimonial.
não mais se fazem necessárias. 3 Vide: http://www.ifrs.org/Current-Projects/IASB-Projects/equity-
method-accounting/Pages/Discussion-and-papers-stage-1.aspx.
Discussões Atuais sobre Equivalência Patrimonial 4 Vide: http://www.efrag.org/Front/n1-1256/EFRAG-Short-
Discussion-Series---The-Equity-Method--a-measurement-basis-or-
one-line-consolidation-.aspx
Mas aí percebeu-se algo não detectado pela grande 5 Vide: http://mipa.mu/wp-content/uploads/files/Discussion-Paper-
maioria de nós, brasileiros, até então: os “inimigo da TheEquityMethod-by-KASB.pdf
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Note-se que não há nenhuma variação no valor do ativo, mesmo tendo ocorrido alteração tanto no valor pa-
trimonial quanto no valor de mercado do investimento até que surja a receita de dividendos. Todavia, essa
receita não representa o efetivo desempenho do investimento, mas meramente a parcela do desempenho
que resultou em dividendo e que foi distribuído à investida.
Ou seja, o método do custo histórico não representa o valor do investimento, tampouco o patrimônio
líquido contábil da investida. Ele simplesmente reconhece os dividendos recebidos. E tais dividendos não
representam nem o lucro auferido pela investida, nem o ganho de capital ocorrido pela variação do preço
de mercado do investimento. E também não evidencia o pagamento por conta de um ágio por expectativa
de rentabilidade futura.
Equivalência Patrimonial
Vejamos, então, como seriam as demonstrações com base no método da equivalência patrimonial:
O que se verifica é que, no momento da aquisição, dos investimentos registrados, mas o valor justo
é apresentada uma informação de que foi adquirido da parcela do patrimônio líquido da investida na
uma parcela de um patrimônio líquido contábil de data de sua aquisição e mais sua parcela nas varia-
R$ 6.000 pelo preço total de $9.000, tendo sido a di- ções contábeis do patrimônio líquido da investi-
ferença entre esses valores pagos devida a ágio. da. Esse fato é obvio e notório, mas importante de
ser frisado.
No momento da aquisição, o valor do investimento
adquirido é exatamente o seu valor justo (em con- O CPC 18, ao avaliar a natureza da equivalência pa-
dições normais de negociação). Mas isso somente trimonial, comparando-a com o método do custo,
ocorre no exato instante da aquisição, tal qual no assim conclui:
custo histórico. 11. O reconhecimento do resultado com base nas
distribuições recebidas sobre o mesmo [método
No segundo exercício, a informação evidenciada é
do custo histórico] pode não ser uma mensuração
que o patrimônio líquido contábil da investida cres- adequada da receita auferida pelo investidor no
ceu, na parcela detida pela investidora, em R$ 300 investimento em coligada, em controlada e em
(referente a 30% do lucro da investida), representa- empreendimento controlado em conjunto, em
do pelo resultado de equivalência patrimonial, e caiu função de as distribuições recebidas terem pouca
relação com o desempenho da investida. Em
R$ 150 pela distribuição do dividendo (30% de R$
decorrência de o investidor possuir o controle
500). Assim, o desempenho evidenciado do investi- individual ou conjunto, ou exercer influencia
mento é de um lucro muito pequeno, mas o que foi significativa sobre a investida, ele tem interesse
reconhecido pela entidade investida. no desempenho da investida e, como resultado,
interesse no retorno de seu investimento. O
E no segundo exercício o valor do investimento investidor deve reconhecer contabilmente esse
nada mais tem a ver com o seu valor de mercado. interesse por meio da extensão do alcance de suas
demonstrações contábeis com a inclusão de sua
Apesar de contabilmente o investimento ter aumen-
participação nos lucros ou prejuízos da investida.
tado muito pouco, o seu desempenho, em termos de Como resultado, a aplicação do método da
valor de mercado, foi completamente diferente: ele equivalência patrimonial proporciona relatórios
aumentou de R$ 9.000 (30% de R$ 30 milhões) para com maior grau de informação acerca dos ativos
R$ 13.500 (30% de R$ 45 milhões). líquidos do investidor e acerca de suas receitas e
despesas. (sublinhados adicionados)
Assim pode-se concluir, inicialmente, que equiva-
lência patrimonial não representa o valor justo
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Veja-se que a norma parte do pressuposto de que o investidor possui interesse no desempenho da investi-
da (coligada ou controlada). Portanto, manter o investimento pelo método do custo somente iria levar ao
reconhecimento dos dividendos efetivamente distribuídos ao investidor. Todavia, não somente tais parce-
las de lucro efetivamente distribuídas formam o desempenho integral da investida: lucros retidos e outras
variações patrimoniais também. Assim, segundo o CPC, o uso da equivalência patrimonial permite que o
investidor registre não somente os ativos líquidos a que tem direito, mas também todas as variações patri-
moniais, inclusive aquelas diretamente decorrentes do desempenho que não tenham sido distribuídas aos
sócios. Mas não captura as variações no valor justo do investimento como um todo.
Valor Justo
No momento inicial, assim como no custo histórico, participação da investidora no patrimônio líquido
não há segregação entre patrimônio líquido e ágio. contábil conforme esse varia, as amortizações e bai-
Mas o total do investimento é igual em todos os três xas da mais valia e eventuais impairments do ágio.
balanços patrimoniais e todos representam o valor
justo do investimento adquirido. Em contraposição, o ativo evidenciado pelo método
do valor justo representa o investimento na entida-
No segundo exercício, as demonstrações acima re- de, desconsiderando as “subdivisões” de PL, ágio e
presentam o desempenho do investimento, mas não mais valia, muito mais vinculadas à representação
pelo ponto de vista do patrimônio contábil da enti-
da realidade do patrimônio contábil da entidade in-
dade investida, mas sim, pelo aspecto do quanto o
vestida. Em suma, a equivalência patrimonial foca
investimento efetivamente vale no mercado, prin-
no patrimônio da investida, e o valor justo foca no
cipalmente em termos de potencial de geração de
caixa futuro. E mostra que, nesse caso, houve dois valor de mercado desse patrimônio: um olha para
ganhos: dividendo recebido e mais a variação do va- dentro da entidade e o outro olha para fora.
lor justo do investimento.
Qual é Melhor?
Assim, ao se comparar as demonstrações com base
na equivalência patrimonial e com base no valor
justo percebe-se, resumidamente, a existência de Obviamente se está mensurando o mesmo ativo; o
enormes diferenças no objetivo de cada informação. investimento é o mesmo em todos os casos, mas a
A equivalência patrimonial registra o custo históri- ótica aplicada para a representação da realidade é
co inicial de aquisição devidamente segregado em diferente, e os eventos registrados contabilmente,
patrimônio líquido contábil, ágio e mais valia na apesar de serem sobre exatamente o mesmo ativo,
aquisição. Posteriormente, continua registrando a são distintos em cada caso.
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Mas, afinal, qual é a informação mais relevante e Seguindo a linha de mais atrapalhar do que ajudar,
mais correta? Qual das duas, ou melhor, qual das não só deixamos no ar todas essas questões como
três demonstrações representa mais adequadamente pioraremos no item seguinte.
a realidade econômica e o desempenho da investida?
Ora, isso depende...
Se a investidora é uma empresa de investimentos Para Quê Balanço Individual
propriamente dita, se o seu interesse é vender o in-
vestimento no futuro, a adoção do valor justo é mais Como já anteriormente apresentado, as demonstra-
representativo da intenção da administração e do ções separadas, na sua versão antiga do IASB, eram
desempenho efetivo do investimento. A equivalên- aquelas cujos investimentos societários eram, obri-
cia patrimonial não possui a intenção de mensurar o gatoriamente, avaliados ou pelo custo ou pelo va-
valor do investimento; não é metodologia adequada lor justo (através do resultado). Posteriormente, foi
para isso. Assim, nesse caso específico, a sua utili- acrescentada a permissão da avaliação pela equiva-
zação não representa adequadamente a realidade, lência patrimonial.
uma vez que não demonstra os ganhos de capital em
potencial que podem vir a ser realizados em uma Ainda, a IAS 27 dispõe que as demonstrações sepa-
radas são normatizadas para aquelas entidades que
eventual venda. O desempenho, nesse caso, no qual
são obrigadas a divulgá-las por exigências de suas
está o investidor interessado é muito mais a variação
jurisdições específicas, para aquelas isentas de apli-
de preço do investimento com base na perspectiva
carem a equivalência patrimonial e, também, para as
de longo prazo do que eventuais lucros ou prejuízos
empresas que optarem por fazê-lo. Assim, deixando
temporários da investida.
de lado, por ora, a questão da obrigatoriedade de di-
Por outro lado, imagine-se que a investidora seja vulgação, como é o caso brasileiro, observemos as
uma empresa aérea e que sua investida seja uma em- entidades que possam eleger publicá-las: o que faria
presa de pontos que irá gerir todo o programa de com que uma entidade, sem ser obrigada, divulgasse
milhagem da investida. Ela não possui a intenção demonstrações separadas?
de vender esse investimento, mas de manter a sua Apesar de não estar explicitado na norma, a lógica
posição de investidor em um fornecedor estratégico. leva a crer que somente irão apresentar demonstra-
Uma vez que não há a intenção de vender o inves- ções separadas aquelas entidades que entenderem
timento, o desempenho no qual a investidora está que a consolidação das suas controladas pode não
interessada, segundo premissa do CPC 18, é nos re- representar a real posição patrimonial e o desempe-
sultados auferidos pela entidade, e não na variação nho da entidade. Nesse sentido, apesar de não ser
do seu preço de mercado. isenta de apresentar suas demonstrações consolida-
Mas... essa premissa é correta, sempre? Ou seja, será das, a entidade poderia apresentar adicionalmente
que em casos de controle e/ou influência significa- suas demonstrações individuais divulgando seus
tiva o desempenho do investimento divulgado deve investimentos com base em outra sistemática de
avaliação que não a consolidação (controladas) e/ou
sempre ser o dado pela variação do patrimônio lí-
equivalência (coligadas).
quido ou a variação de valor de mercado também
é relevante? Será que nesses casos, mesmo que o Por exemplo, entidades (que não sejam entidades
desempenho do valor de mercado seja ruim, a in- exclusivamente de investimentos) podem controlar
vestidora irá continuar mantendo seu investimento ou ter influência significativa sobre investidas e efe-
em virtude de perdas de capital potenciais? O gan- tivamente exercer tais direitos, mas podem fazê-lo
ho/perda de capital não faz parte do desempenho do com a intenção de potencializar o ganho de capital
investimentos em controlada ou coligadas? Como se na alienação. Assim, seriam obrigadas (como na
deve tratar diferentes entendimentos de diferentes nossa legislação) a consolidar ou adotar a equivalên-
gestões, em diferentes tipos de investimento? cia patrimonial mas, nas demonstrações separadas,
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poderiam divulgar tais investimentos com base no demonstrações individuais das entidades. Impostos
seu valor justo, evidenciando mais adequadamente também são apurados e devidos com base nas de-
o valor justo dos investimentos, que é exatamente o monstrações individuais.
que pretende maximizar. Nesses casos específicos, o
resultado advindo da valorização do investimento é Todavia, nada impede que contratos privados se-
mais representativo da realidade econômica do que jam desenvolvidos com base nas demonstrações
a evidenciação da performance das investidas. consolidadas. Covenants de dívida, aquisições com
earn-out e até mesmo contratos de garantias podem
Vejamos talvez o maior exemplo disso no Brasil: a ser realizados com base em indicadores obtidos nas
BNDESPAR. Essa controlada do BNDES investe em demonstrações consolidadas.
empresas com o objetivo de fomentá-las, fazê-las
crescer, recuperá-las etc., mas não com o objetivo de Por outro lado, uma vez que a maioria das relações
ficar eternamente sócia delas e viver dos seus lucros. jurídicas é feita com base no CNPJ e diz-se necessá-
O objetivo é sempre o de uma participação temporá- ria a divulgação de suas demonstrações individuais,
ria. E normalmente nem participa de sua gestão no o que está essa equivalência patrimonial de contro-
dia a dia. Do que vale então o balanço consolidado ladas informando?
do BNDESPAR incluindo suas controladas que es- Retira-se tudo aquilo que a empresa controla, que
tão lá por um certo tempo? Do que vale seu balanço são 100% dos ativos e passivos das controladas, e in-
individual com mensuração do desempenho de suas clui-se somente a parcela de propriedade da contro-
investidas medido pela equivalência patrimonial? ladora sobre a diferença entre tais ativos e passivos. E
Será que não seria muito mais rica a informação so- isso é feito sem considerar que tal procedimento afe-
bre qual a variação do valor justo de cada um desses ta diretamente quaisquer análises de endividamento,
investimentos todos? imobilização, liquidez etc. Até mesmo a análise de
Note-se que as demonstrações separadas possuem, rentabilidade fica prejudicada, uma vez que também
sim, um objetivo que não é necessariamente aten- são retiradas linhas de receitas e despesas para se-
der à obrigatoriedade de divulgação de demons- rem substituídas por uma única linha de resultado
trações individuais que, frisamos, são opção das de equivalência patrimonial.
jurisdições e não exigência das IFRS. Ou seja, ao substituir a consolidação pela equivalên-
Todavia, o IASB optou por atender às necessidades cia patrimonial, há uma distorção na representação
das jurisdições com exigência legal de demonstra- da realidade econômica das controladoras. Não se
ções individuais na mesma norma de demonstração sabe quais os ativos e passivos que ela efetivamen-
separadas e não em um pronunciamento específico te controla, e também não se sabe como esses efeti-
para esses casos. Misturou-se, então, uma norma vamente geram retornos. Somente se sabe que uma
para suprir certas necessidades informacionais com determinada proporção de um patrimônio líquido
o que entendemos que deveria ser outra norma, gera um determinado retorno, mas sem o necessário
para suprir necessidades legais específicas de
certas jurisdições.
Covenants de dívida,
Passemos a analisar, então, a obrigatoriedade da
divulgação das demonstrações individuais, que aquisições com earn-out e até
como já mencionado anteriormente, seguem a
IAS 27 (CPC 36). Afinal, qual a sua utilidade? mesmo contratos de garantias
Sabe-se que, no Brasil, muitas relações jurídi- podem ser realizados com base
cas são realizadas com base nos balanços in-
dividuais, ou como se diz informalmente, com em indicadores obtidos nas
o “CNPJ”. Os dividendos e outros direitos so-
cietários, por exemplo, não são apurados com demonstrações consolidadas.
base nas demonstrações consolidadas, mas nas
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detalhamento destas informações. em separado, com uma menor ênfase (tais como
nos sites das empresas)? Não teriam mais utilidade
E essa é a razão das IFRS não exigirem demonstra- as demonstrações individuais se elas seguissem as
ções individuais: elas distorcem a realidade econô- antigas definições do IASB, ou seja, demonstrações
mica representada, são informações enganosas, mis- separadas, serem aquelas em que os investimentos
leading. Assim, esse tipo de demonstração somente são avaliados ou pelo custo ou pelo valor justo? Não
deve ser publicada caso elas sejam mais bem repre- se poderia utilizar as demonstrações separadas so-
sentativas, como no caso específico visto anterior- mente em casos específicos para “corrigir” eventuais
mente. Daí a opção de divulgá-las. distorções ou incompletudes que a equivalência pa-
Veja-se que, inclusive, em diversas jurisdições, tais trimonial gera nos balanços individuais?
como nos EUA, a divulgação das demonstrações in- A questão da divulgação da demonstração indivi-
dividuais é proibida! dual, apesar de importantíssima, está também rela-
Bem, por outro lado todos poderemos pensar o se- cionada com questões legais, informacionais, estru-
guinte: mas alguns credores emprestam ou fornecem turais do sistema de informação pública da CVM/
sob crédito bens e serviços a uma pessoa jurídica de- BOVESPA, custos de publicação e implicações fis-
terminada e só podem dela cobrar, e não do conso- cais. Tais aspectos não são foco do presente texto.
lidado. Ou então um determinado sindicato abrange Mas, como este assunto está intrinsecamente vincu-
apenas os empregados de uma ou de algumas das lada à utilização da equivalência patrimonial não se
empresas do conglomerado econômico, e não de to- pode deixar de considerá-lo.
dos, e quer conhecer o desempenho individual des- Somente como um teaser sobre o assunto: estão as
sa(s) empresa(s) (o que também pode ser muito en- empresas brasileiras considerando o exposto na
ganoso quando há transações entre essas entidades). ICPC 09?
Por isso a prática norte-americana: quem precisar
das informações das entidades individuais que as 7. A obrigação de “divulgar, juntamente com
leve, mas só para seu próprio uso, não se permitindo suas demonstrações financeiras, demonstrações
consolidadas...”, conforme preconizado pelo art.
a sua divulgação ao público em geral. 249 da Lei das Sociedades por Ações, não implica,
necessariamente, divulgação em colunas lado a
Outro ponto: do que vale a informação sobre o va- lado, podendo ser uma demonstração contábil
lor por equivalência patrimonial numa controlada a seguir da outra. Cumprido o mínimo exigido
ou coligada constante no ativo de uma empresa para legalmente em termos de divulgação, a entidade
seus credores? Qual a relevância desse montante pode divulgar somente suas demonstrações
para as necessidades do credor? Ou do sindicato? consolidadas como um conjunto próprio, o
que é desejável ou até mesmo necessário se
Ou outros interessados? Ou seja, mesmo que se te- existirem praticas contábeis nas demonstrações
nha a necessidade do balanço individual para certas consolidadas diferentes das utilizadas nas
finalidades específicas, não se sustenta, aparente- demonstrações individuais por autorização
mente, mesmo nesses casos, o uso da equivalência do órgão regulador ou por conterem efeitos de
patrimonial! práticas anteriores à introdução das Leis nos
11.638/07 e 11.941/09.
Esse contexto leva à necessidade de (re)avaliação da
validade e utilidade da exigência legal da divulgação
das informações individuais. A possível confusão
que a utilização da equivalência patrimonial pode le- Ausência de Definições Conceituais
var é efetivamente muito prejudicial ou só é real em
termos teóricos e acadêmicos? O mercado utiliza as Um ponto bastante criticado, conforme o próprio
informações individuais para algo, sem confundi-las IASB na já citada justificativa do IASB da implan-
com as consolidadas? Se o mercado não as utiliza, a tação do projeto Equity Method, é a ausência de de-
não ser para questões específicas de direitos societá- finições conceituais mais profundas sobre o tema,
rios, deveriam elas ser divulgadas juntamente com ou seja, de algo que sirva como uma estrutura con-
as consolidadas? Não seria possível uma divulgação ceitual que auxilie na solução de problemas práticos
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específicos. Assim sendo, em situações de falta de às obrigações que a investida possui sobre tais per-
normatização para situações práticas específicas, das. Caso o conceito fosse voltado à consolidação
como não há uma linha mestra, uma orientação em uma linha só, todas as perdas nas investidas de-
conceitual própria, cada elaborador e cada firma de veriam ser sempre registradas, independentemente
auditoria tende a buscar uma solução particular que das circunstâncias.
supra suas necessidades.
O mesmo IAS 28 menciona que muitos procedimen-
O aspecto conceitual mais frequentemente questio- tos para a aplicação da equivalência patrimonial são
nado quando se fala de equivalência patrimonial é se similares aos da consolidação, incluindo-se nestes os
esse método é uma base de avaliação de ativo ou se de aquisição de investimentos. Tal visão indica uma
é uma consolidação em uma linha só. Tal questiona- proximidade ao conceito de consolidação em uma
mento se dá pois as normas do IASB não são claras a linha só.
esse respeito. Tanto o citado texto do EFRAG quanto
o do KASB mencionam que as normas do IASB são Ainda, ao exigir que haja a eliminação de transações
contraditórias entre si quando observadas à luz des- entre investida e investidora, o IAS 28 indica, tam-
sa questão. bém, para uma visão mais voltada para a consolida-
ção em uma linha só. Caso o conceito fosse o da base
de mensuração, o resultado integral da investida de-
veria ser base para a equivalência patrimonial, sem
Os problemas da ausência qualquer eliminação.
Conclusão
A conclusão deste texto é que não há conclusão, mas confusão! Cumprindo o proposto
inicialmente, foram apontadas diversas questões sobre a aplicação do método da
equivalência patrimonial: desde uma investigação superficial sobre a sua natureza
passando por algumas falhas conceituais e demonstrando algumas dificuldades práticas.
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