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O GLOBO ● PROSA & VERSO ● PÁGINA 5 - Edição: 26/02/2011 - Impresso: 24/02/2011 — 23: 56 h AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

Sábado, 26 de fevereiro de 2011 O GLOBO PROSA & VERSO ●


5

[ESPECIAL][ESPECIAL][ESPECIAL][ESPECIAL]

NO PRELO
Leonardo Aversa/18-11-2008

Uma questão de sentido


Hans Ulrich Gumbrecht responde crítica de Andrea Daher a seu novo livro
Cruz
Hans Ulrich Gumbrecht evito usar muitas vezes exem-

N
plos de minha (por certo ba-
a última edição do Pro- nal) vida cotidiana. O tom da
sa & Verso, Andrea resenha torna-se um tanto
Daher, uma colega da mais agressivo e levemente
UFRJ, resenhou a tra- problemático quando Andrea
dução para o português de meu Daher parece insinuar que tal
livro “Produção de presença” (para ela) devastadora teoria
(Contraponto/PUC-Rio, tradu- só poderia surgir e encontrar
ção de Ana Isabel Soares), e che- aceitação na Califórnia (onde
gou a uma conclusão devasta- tenho de fato ensinado por
dora: “é uma teoria em pleno de- mais de 20 anos; e nos Estados
JOÃO UBALDO: autor disse sim à festa, da qual desistiu em 2004 sastre”. Bem, tais palavras só Unidos, de que sou cidadão).
poderiam ferir um autor que, co- Se a resenhista sente tal afini-

Ubaldo na Flip mo haveria de ser, leva seus li-


vros a sério, se bem que, como
quero insistir, a resenhista tenha
dade, assim como muitos cole-
gas no Brasil, penso que seria
necessário transformar sua
● O escritor João Ubaldo Ri- tei do jeito como meu nome o direito de fazê-lo, sendo esse impressão em um argumento
beiro confirmou participa- estava incluído, mas não um sintoma do bom funciona- explícito (de minha parte, pos-
ção na Festa Literária Inter- briguei nem coisa nenhuma, mento do espaço público. Não so com certeza não ver tais afi-
nacional de Paraty (Flip). não tenho qualquer inimiza- respondo portanto porque quei- nidades entre certas teorias e
Depois de cancelar sua ida de ou pé atrás com a festa. ra discutir o direito de Andrea certos contextos nacionais). A
em 2004, reclamando que a Ganhador em 2008 do Ca- Daher de achar e descrever meu resenhista segue adiante suge-
divulgação favorecia auto- mões, o mais importante livro como tão “devastador”. rindo que minha cara apare-
res da Companhia das Le- prêmio da literatura em lín- Mas seria interessante para os cer na página de rosto do livro
tras, e de permanecer pelos gua portuguesa, João Ubal- leitores de sua resenha, e de é um ato agressivo que, pensa,
anos seguintes como uma do é autor de clássicos co- meu livro, mesmo para os leito- se ajusta com o que julga a fi-
das mais ilustres ausências mo “Viva o povo brasileiro” res de O GLOBO que não este- nalidade de minha teoria. É
nacionais do evento, João e “Sargento Getúlio”. Seu li- jam interessados nem no meu li- verdade que tenho a cara que
Ubaldo disse “sim” ao con- vro mais recente, “O alba- vro, nem na resenha, compreen- naturais; e, ao mesmo tempo, nária história, têm confundido tenho e que não resisti à pro-
vite para a 9 a- edição da fes- troz azul” (Nova Fronteira), der que a base em que se funda sabemos que tais fenômenos sua autodescrição como disci- posta das editoras americana
ta, que vai de 6 a 10 de julho foi lançado em 2009. sua crítica tem um duplo senti- (pense-se na física nuclear ou na plinas cujo centro é ocupado pe- e brasileira de que minha foto
em Paraty. Com curadoria do críti- do, de que a resenhista não pa- química orgânica) não são fun- la “interpretação”, com a tarefa aparecesse na capa de um li-
— Vou porque me quise- co literário Manuel da rece consciente. damentalmente constituídos de de focarem exclusivamente os vro chamado “Produção de
ram — diz o autor, negando Costa Pinto, a Flip 2011 já Articulada com o fim da rese- significação. Só por nossos es- fenômenos dotados de significa- presença”. Talvez isso tenha
que tenha sido convidado confirmou também a pre- nha, essa base diz que “toda teo- forços em extrair teorias, eles se ção. Creio que isso é um erro; as sido um erro, mas não creio
outras vezes depois de sença de David Remnick, ria serve à lógica da significa- tornam descritos e expressos humanidades e a as artes não que, mesmo tendo sido, tenha
2004, como a direção da Andrés Neuman, Valter ção”. De fato, as teorias são ne- por conceitos. De fato, contudo, devem encerrar-se aí, embora, algum valor sintomatológico
Flip afirmou ano passado. Hugo Mãe, Pola Oloixarac, cessariamente constitutivas de os fenômenos naturais não con- por outro lado, seria de um com- para minha teoria.
— Não me lembro de ne- Joe Sacco, Franco Moretti, significação — isso é incontestá- têm primariamente significa- pleto ridículo argumentar que Acabo com um tom concilia-
nhum outro convite, só do Emmanuel Carrère e Clau- vel para aquelas articuladas por ções. Essa é a razão mesma por as humanidades não lidam com tório. A resenhista começa por
primeiro. Na época não gos- de Lanzmann. palavras (por exemplo, nas ciên- que, em primeiro lugar, tentei ar- fenômenos de significação. caracterizar meu livro como um
cias sociais, nas humanidades e ticular meu ponto de vista por Estou consciente que essa é “panfleto neossubstancialista”.
■■■■■■ nas artes); mas é igualmente palavras e significações, em vez uma resposta muita seca e me Posso, na verdade, simpatizar
verdadeiro para as que se arti- de, por exemplo, dançar (!!), ou desculpo por isso. Mas, tendo com os dois termos. Se um pan-
Vozes aos 110 Como publicar-se culam por números e equações
(nas ciências naturais, por
exclusivamente “personifican-
do” minha posição. É, portanto,
a honra de vir com frequência
ao Brasil e aí dar cursos, não
fleto é um texto abstrato com al-
guma força polêmica, fui bem
● Uma das mais tradicionais ● O recém-lançado site PerSe exemplo), pois números e equa- verdade que, ao nível do que es- poderia deixar esse equívoco compreendido. E, embora nun-
editoras brasileiras, a Vozes (www.perse.com.br) prome- ções também são significantes tou descrevendo, defendo que sem uma réplica pública. ca tenha tido a intenção progra-
chega sábado que vem aos te ajudar aspirantes a autor a de significações. Creio que, nes- as humanidades e as artes não Há outras passagens na re- mática de ser chamado de
110 anos de existência. A tirarem seus originais da ga- te sentido, mesmo o meu livro se concentram tão-só nos fenô- senha referida que me parece- “neossubstancialista”, é verda-
empresa sediada em Petró- veta sem desembolsar os tem o status de uma “teoria”, menos constituídos de significa- ram estranhas. Em vez de lhes de que quero trazer de volta
polis, responsável pela pu- custos da edição. Explorando pois, natural e inevitavelmente, ção senão que incluem certos dedicar uma resposta detalha- conceitos como o de “substân-
blicação no Brasil de obras o nicho crescente da auto-pu- desenvolve um argumento e fenômenos que (acredito) per- da, as assinalo de passagem. A cia” para as discussões filosófi-
fundamentais da filosofia e blicação, a empresa permite uma descrição com palavras, ou tencem ao que chamamos “cul- resenhista parece ressentir-se cas e culturais. Pois, insisto, é
das ciência humanas (seu que autores escolham forma- seja, com conceitos. É contudo, tura”, sem que eles mesmos se- de uma certa (e deliberada) um equívoco crer que as huma-
catálogo inclui Hegel, Gada- to, acabamento e papel do li- um erro terrível — erro em que jam constituídos de significação “facilidade” em meu estilo in- nidades e as artes devam lidar
mer, Heidegger entre ou- vro, cobrando depois um não só Andrea Daher cai — pen- (exemplo: a qualidade central telectual, que, embora eu seja exclusivamente com fenômenos
tros), comemora a data com percentual sobre cada exem- sar que, em consequência, as das vozes ao recitar um poema professor há mais de 40 anos, constituídos de significação e
uma nova edição das obras plar vendido no sistema de teorias só possam lidar com fe- ou na apresentação de uma ópe- procura não ser rigidamente não com fenômenos baseados
completas de Carl Gustav impressão sob demanda. nômenos que são “constituídos ra). Essa pode ser uma alegação acadêmico. Essa é a razão por na substância. ■
Jung, que chega às livrarias Também é possível comer- de significação”. Obviamente, relativamente inofensiva, mas que refiro-me a certos autores
em junho com novo projeto cializar e-books e converter não é assim porque, por um la- penso que era (e ainda é) neces- como “amigos” (quando de fa- HANS ULRICH GUMBRECHT é
gráfico e revisão do texto. blogs em livros pelo site. do, reconhecemos como “teo- sária porque, não à diferença da to o são). Eis por que, para filósofo, autor de “Produção de
rias” muitas descrições abstra- própria resenhista, as humani- efeito de clareza, enfatizo cer- presença”, entre outros. Tradução
■■■■■■ tas de fenômenos das ciências dades e as artes, em sua cente- tas diferenças; e porque não de Luiz Costa Lima

Duas vezes Hatoum


● Escolhido o melhor livro de ficção brasileira dos anos “... as crises históricas do povo judeu servem de matéria-prima
2000, em eleição realizada no final de 2009 pelo Prosa & Ver- para um bem tramado enredo de suspense.”
so, o romance “Dois irmãos” (Companhia das Letras) será
comentado no próximo dia 14 pelo próprio autor, Milton Ha- Folha de S. Paulo
toum, num encontro da série Rodas de Leitura às 18h na “... um poderoso romance cujo narrador é
Fundação Biblioteca Nacional. O escritor estará também no um homem morto.” IstoÉ
episódio de amanhã da série Autor por Autor, na TV Cultura
(canal 16 da NET). No programa, que vai ao ar às 19h30m,
Hatoum fala entre outras coisas sobre a infância na Ama-
zônia e a ascendência árabe, temas de seus livros.
— Misturamos o depoimento com dramaturgia, ilustran-
do as lembranças do autor — diz o diretor Ricardo Elias.
Os anagramas de Varsóvia
■■■■■■
o novo livro do autor de
●CAMÕES: O Real Gabinete Português de Leitura O último cabalista de Lisboa
organiza a partir do próximo dia 14 um curso sobre “Os
Lusíadas”, de Camões. Com coordenação da professora
Gilda Santos, os encontros vão até dia 20 de abril
abordando temas como “Mitologia, erotismo e censura”
e “Camões e seus contemporâneos”. Informações: 2221
3138 ou no site <www.realgabinete.com.br>.

● CASTELLO E FIRMO: Estão abertas as inscrições para www.record.com.br


os dois encontros do crítico e escritor José Castello,
colunista do Prosa & Verso, com o consagrado
fotógrafo Walter Firmo nos dias 23 e 24 de março no
POP (Conde Afonso Celso 103 ). Os dois vão conversar
sobre a relação entre imagem e palavra, a partir da PARA LER DE UM FÔLEGO SÓ ATÉ O XEQUE-MATE
obra de autores e fotógrafos. Informações: 2286-3299.

● MIRANDÃO NA ALEMANHA: O escritor e jornalista


Fernando Molica vai para a Alemanha em agosto falar
sobre seu romance “Notícias do Mirandão” (Record).
Molica foi convidado para o festival “Metropolitan:
The narrated city”, que reúne autores de obras
ligadas à vida urbana, e fará palestras sobre seu livro
em Frankfurt e em Darmstadt.

Mànya Millen e Miguel Conde

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