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CORPO NEGRO
O fim do século XIX foi marcado pelo estudo de um conjunto de fenômenos para os quais a
teoria clássica inferia um resultado diferente do observado experimentalmente. Dentre esses
fenômenos os que tiveram grande relevância para a elaboração da teoria, hoje, conhecida como antiga
mecânica quântica foram:
(1) a emissão de luz por objetos quentes, chamada radiação de corpo negro;
(2) o efeito foto elétrico, definido como a emissão de elétrons a partir de uma superfície metálica
sobre a qual se incide luz;
(3) espectros de emissão dos gases que evidenciam a luz por eles emitida ao serem
eletronicamente excitados.
O físico alemão Max Planck é considerado o pai física quântica por, em 14 de dezembro de
1900, ter publicado o artigo “Sobre a Teoria da Lei de Distribuição de Energia do Espectro Normal”
que revolucionou as ideias vigentes, auxiliando a explicação coerente dos fenômenos citados. Um
quarto de século mais tarde a mecânica quântica moderna, base da concepção humana atual da
natureza, é desenvolvida por Schroedinger e outros cientistas.
2. TEORIA
Radiação térmica é a radiação emitida por qualquer corpo devido à sua temperatura. Todos
os corpos emitem e absorvem esse tipo de radiação para o meio em que se inserem. Quando o corpo
está a maior temperatura ele absorve menos radiação do que emite, quando o meio está a maior
temperatura a taxa de absorção do corpo é maior que a de emissão e quando ambos estão a mesma
temperatura taxa de absorção e emissão são iguais.
O espectro de emissão dos corpos nos estados líquido e sólido é continuo tendo variações
mínimas para diferentes corpos, independentemente de sua constituição, mas variando
consideravelmente com a temperatura dos mesmos. Majoritariamente, para qualquer temperatura, a
radiação térmica está na frequência do infravermelho. Quanto maior a temperatura corpórea mais
radiação térmica é emitida e maior é a frequência na qual essa radiação é mais intensa. Graças a essa
característica do espectro é possível estimar a temperatura de um corpo ao observar sua cor ou a faixa
de frequência por ele emitida.
Corpos negros são aqueles que absorvem toda a radiação térmica incidente sobre eles.
Independente de sua composição, a uma mesma temperatura, o espectro de emissão de qualquer corpo
negro é igual. Essa universalidade do espectro dos corpos negros confere grande interesse sobre as
propriedades da radiação por eles emitida.
1
A radiância espectral, RT(ν), é o parâmetro que mostra a distribuição de energia irradiada por
um corpo negro em função da frequência dessa energia. Ela é uma função definida de forma que
RT(ν)dν seja igual à energia emitida por unidade de tempo, em radiação de frequência expressa na
faixa de ν e ν + dν, por unidade de área de uma superfície a determinada temperatura T.
∞
𝑅𝑇 = ∫ 𝑅(𝜈)𝑑𝜈
0
Equação 3
2
Na equação 3, RT cresce rapidamente com o aumento da temperatura. Esse resultado foi obtido
experimentalmente por Joseph Stefan em 1879:
𝑅𝑇 = 𝜎𝑇 4
Equação 4
Onde σ = 5,67 x 10-8 W/m2K4 é a chamada constante de Stefan-Boltzmann. Essa constante recebe
esse nome pois, em 1884, Boltzmann deduziu teoricamente o resultado se Stefan.
O gráfico da Figura 1 também evidência o deslocamento do espectro de corpo negro para
maiores frequências à medida que a temperatura aumenta. Essa é a chamada lei de deslocamento de
Wien que, escrita em função do comprimento de onda, λ, é:
𝜆𝑚𝑎𝑥 𝑇 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒
Equação 5
Onde λmax é o comprimento de onda para o qual a radiância espectral atinge seu valor máximo em
dada temperatura T. O valor experimental da constante de Wien é 2,898x10-3 mK.
O CUBO DE LESLIE
Equipamento criado no final do século XIX pelo físico escocês
John Leslie, é utilizado para pesquisa da radicação térmica emitida por
um corpo em função de sua temperatura, cor e propriedades de seus
compostos. Cada face do cubo é constituída por um material e em seu
interior há uma fonte de calor. Como diferentes substâncias reagem de
maneira distinta à radiação sobre ele incidente, emitido diferentes
frequências sob as mesmas condições, um termo detector é posicionado
a uma distância fixa de cada uma das faces fornecendo a medida da
Figura 2 - Cubo de Leslie
radiação emitida por cada substância por meio de um valor de
voltagem.
A lei do inverso do quadrado está presente em vários fenómenos físicos, como na atração
gravitacional, nas interações elétricas entre cargas pontuais ou na atenuação da radiação e do som no
espaço a partir de fontes pontuais. Ela afirma, por exemplo, que a intensidade da radiação emitida por
uma fonte de luz, ou seja, sua potência gerada por unidade de área, é inversamente proporcional ao
quadrado da distância até a fonte.
3
Considere um meio no qual a radiação se
propaga com a mesma velocidade em todas as direções e,
consequentemente, terá uma frente de onda de forma
esférica a cada instante. A área da superfície esférica que
representa a frente de onda aumenta quadraticamente com
o aumento da distância à fonte, essa propriedade é
𝑃
𝐼=
4𝜋𝑟²
Equação 6
Essa relação pode ser verificada em uma experiência com uma lâmpada incandescente sendo
considerada fonte pontual de radiação para distâncias maiores que as dimensões do seu filamento. A
medida da intensidade da radiação é feita por uma termo-pilha.
3. OBJETIVOS
Os experimentos realizados têm como objetivo:
Estudar a radiação de corpo negro;
Verificar a lei do inverso do quadrado da distância para a radiação;
Verificar a validade da lei de Stefan-Boltzmann para altas temperaturas.
4. MATERIAIS
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5. PROCEDIMENTOS
RADIAÇÃO DE CORPO NEGRO
1) Monte o aparato experimental como na Figura 4;
2) Verificar se o zero da régua ou da escala está alinhado com o centro do filamento. Este
procedimento define a posição de uma fonte emissora “pontual” equivalente;
3) Verificar se o sensor de radiação térmica está alinhado, ou seja, se a altura do elemento sensor
(termo-pilha) está no mesmo nível do filamento da lâmpada de Stefan-Boltzmann. Estes devem
permanecer alinhados durante todo o deslocamento do sensor. Os cuidados neste procedimento são
essenciais para a minimização dos erros experimentais na verificação da lei do inverso do quadrado
da distância;
4) Conectar o sensor de radiação ao milivoltímetro;
5) Medir a temperatura ambiente;
6) Com a lâmpada desligada deslizar o sensor de radiação térmica e anotar os valores da radiação
térmica ambiente para as posições 10, 20, 30, ..., 100 cm. Calcular o valor médio da radiação térmica
ambiente;
7) Conectar a lâmpada de Stefan-Boltzmann a uma fonte de tensão estabilizada. Ao ligar a
lâmpada em hipótese alguma ultrapasse o valor da tensão de alimentação de 13 V. Valores maiores
que 13 V danificam o filamento da lâmpada de Stefan-Boltzmann.
8) Ligar a lâmpada de Stefan-Boltzmann e ajustar a tensão de alimentação da mesma em
aproximadamente 10 V;
9) Efetuar as medidas da radiação térmica emitida pela lâmpada;
10) Calcular os valores e anotar.
1
LEI DE STEFAN-BOLTZMANN PARA ALTAS TEMPERATURAS
1) Monte o aparato experimental como a Figura 6;
2) Antes de ligar a lâmpada efetuar a medição da temperatura ambiente 𝑇𝑟𝑒𝑓 em graus Kelvin
bem como da resistência da lâmpada 𝑅𝑟𝑒𝑓 , i.e., a resistência do filamento a temperatura ambiente.
Conecte o voltímetro diretamente nos contatos da lâmpada de Stefan-Boltzmann a fim de minimizar
a resistência de contato;
3) Colocar o sensor de radiação alinhado com o filamento da lâmpada com a face frontal do
mesmo localizada a aproximadamente 6 cm do filamento (veja Figura acima). O ângulo de entrada
da radiação da termo-pilha não deve permitir a medida da radiação térmica proveniente de nenhum
outro objeto radiante além da lâmpada de Stefan-Boltzmann;
4) Ligar a fonte de tensão e variar a tensão aplicada sobre a lâmpada de 1 V em 1 V até o valor
de 12 V;
5) Para cada valor de tensão ajustado medir simultaneamente os valores da corrente sobre o
filamento e a tensão fornecida pelo milivoltímetro conectado na termo-pilha;
6) Utilizar a relação 𝑅𝑇 = 𝑉/𝑖 para determinar o valor da resistência do filamento para cada
valor aplicado de tensão. Para altas temperaturas, 𝑅𝑇 é o valor da resistência do filamento para cada
temperatura;
7) Calcular os valores da temperatura do filamento utilizando a fórmula:
𝑅𝑇 − 𝑅𝑟𝑒𝑓
𝑇= + 𝑇𝑟𝑒𝑓
𝛼𝑅𝑟𝑒𝑓
8) Calcular o valor de 𝑇 4 ;
9) Anotar os valores da tensão aplicada sobre o filamento da lâmpada, a corrente, o valor da
tensão fornecida pela termo-pilha, o valor calculado de 𝑅𝑇 , o valor da razão 𝑅𝑇 /𝑅𝑟𝑒𝑓 , o valor de T e
o valor de 𝑇 4 .
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6. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS OBTIDOS
Tabela 1 – Radiação de corpo negro. Sensor encostado nas paredes do cubo de Leslie.
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Potência do Resistência Temperatura Potência do Resistência Temperatura
cubo de cubo de
Leslie Leslie
8,0 (2,8 ±0,1) kΩ ( 122 ±1º)C 10,0 (1,9 ±0,1) kΩ ( 135±1º)C
Superfície Leitura do sensor Superfície Leitura do sensor
Preta (19,0 ±0,1)mV Preta (20,2 ±0,1)mV
Branca (18,7 ±0,1)mV Branca (20,1 ±0,1)mV
Alumínio polido (0,9 ±0,1)mV Alumínio polido (1,3 ±0,1)mV
Alumínio poroso (2,8 ±0,1)mV Alumínio poroso (3,1 ±0,1)mV
Por fim, colocou-se o sensor de radiação térmica a uma distância de aproximadamente 5cm
da face preta do cubo de Leslie. Ajustou-se a potência do cubo em 6,5 e mediu-se a radiação sem
nenhum material entre a face preta do cubo e o sensor, logo após, posicionou-se diferentes materiais
entre o sensor e o cubo de Leslie. Os dados obtidos foram dispostos na Tabela 2.
Tabela 2- Radiação de corpo negro, Sensor térmico a 5cm da parede preta do cubo de Leslie
Analisando a Tabela 1 nota-se que para as superfícies de alumínio preta e branca os valores
de radiância são muito próximos. Esse fato se justifica devido às superfícies branca e preta irradiarem
termicamente em maiores comprimentos de onda, ou seja, mais próximos do infravermelho, com
radiações de intensidades semelhantes. Superfícies brancas e p/retas emitem radiação infravermelha
da mesma forma, seu comportamento só difere se a radiação for na região do visível. Quando são
comparados os valores das faces de alumínio polido e poroso observa-se menor emissão para a face
polida que para a porosa. Por suas características físicas, o alumínio polido é mais reflexivo a radiação
que o opaco. Superfícies metálicas irradiam, consideravelmente, menos.
Ao analisar a Tabela 2, verifica-se que a leitura da termo-pilha varia de acordo com o material
posicionado entre a fonte de radiação e a mesma. Cada material tem uma característica óptica para
determinada radiação que incide sobre ele. Como considerado anteriormente a radiação emitida pela
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face preta está principalmente na faixa do infravermelho. Os valores para o plástico e o vidro foram
baixos por esses materiais absorvem radiação nesse comprimento de onda, enquanto o papel transmite
melhor essa radiação.
Figura 8 – A esquerda: fonte de tensão, ao centro: fonte pontual emissora de radiação térmica, a direita:
termo-pilha ligada ao multímetro e a régua.
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Tabela 3 - Medida da radiação em função da distância
Distância (D) Radiação (𝑅1 ) 1/𝐷2 (𝑅1 − 〈𝑅2 〉)
( 2,50 ± 0,05)cm (59,4 ± 0,1)mV (0,1600) cm-2 (59,4 ± 0,1)mV
( 3,00 ± 0,05)cm (47,7 ± 0,1)mV (0,1111) cm-2 (47,7 ± 0,1)mV
( 3,50 ± 0,05)cm (44,7 ± 0,1)mV (0,0816) cm-2 (44,7 ± 0,1)mV
( 4,00 ± 0,05)cm (27,3 ± 0,1)mV (0,0625) cm-2 (27,3 ± 0,1)mV
( 4,50 ± 0,05)cm (22,0 ± 0,1)mV (0,0494) cm-2 (22,0 ± 0,1)mV
( 5,00 ± 0,05)cm (17,6 ± 0,1)mV (0,0400) cm-2 (17,6 ± 0,1)mV
( 6,00 ± 0,05)cm (12,9 ± 0,1)mV (0,0278) cm-2 (12,9 ± 0,1)mV
(7,00 ± 0,05)cm (9,7 ± 0,1)mV (0,0204) cm-2 (9,7 ± 0,1)mV
( 8,00 ± 0,05)cm (7,5 ± 0,1)mV (0,0156) cm-2 (7,5 ± 0,1)mV
( 9,00 ± 0,05)cm (5,8 ± 0,1)mV (0,0123) cm-2 (5,8 ± 0,1)mV
( 10,00 ± 0,05)cm (4,7 ± 0,1)mV (0,0100) cm-2 (4,7 ± 0,1)mV
( 12,0 ± 0,05)cm (3,8 ± 0,1)mV (0,0069) cm-2 (3,8 ± 0,1)mV
( 14,0 ± 0,05)cm (2,3 ± 0,1)mV (0,0051) cm-2 (2,3 ± 0,1)mV
( 16,0 ± 0,05)cm (1,8 ± 0,1)mV (0,0039) cm-2 (1,8 ± 0,1)mV
( 18,0 ± 0,05)cm (1,3 ± 0,1)mV (0,0031) cm-2 (1,3 ± 0,1)mV
( 20,0 ± 0,05)cm (1,1 ± 0,1)mV (0,0025) cm-2 (1,1 ± 0,1)mV
( 25,0 ± 0,05)cm (0,5 ± 0,1)mV (0,0016) cm-2 (0,5 ± 0,1)mV
( 30,0 ± 0,1)cm (0,2 ± 0,1)mV (0,0011) cm-2 (0,2 ± 0,1)mV
( 35,0 ± 0,1)cm (0,0 ± 0,1)mV (0,0008) cm-2 (0,0 ± 0,1)mV
Utilizando os dados da
Tabela 3, foi montado
60
o Gráfico 1 da
Intensidade da Radição (mV)
50 intensidade da
40 radiação em função da
30
distância, D, do sensor
à fonte.
20
10
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Distância (cm)
Gráfico 1 - Intensidade da radiação em função da distância.
6
Ao observar o Gráfico 1 nota-se um comportamento em que a intensidade cai com 1/𝐷2 . Partindo
disso montou-se o Gráfico 2, onde temos a intensidade da radiação em função de 1/𝐷2 , verificando
a proporcionalidade esperada.
70
R² = 0.9913
Intensidade da radiação (mV)
60
50
40
30
20
10
0
0.0000 0.0200 0.0400 0.0600 0.0800 0.1000 0.1200 0.1400 0.1600 0.1800
1/𝐷² (cm-2)
6
y = 0.005x - 0.5754
5
4
𝑅/𝑅_300K
0
0 200 400 600 800 1000 1200
Temperatura em K
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Obteve-se a seguinte equação: 𝑦 = 0,005𝑥 − 0,5754. Associando a temperatura ambiente
medida foi possivel obter a resistência de referência. Os dados obtidos foram:
𝑇 4 . Os erros para cada medida foram feitos usando a propação de erros. Os dados obtidos foram
dispostos na Tabela 4.
multiplicar o valor da radiância pelo valor de 0,16mV, para converter grandezas volts em
watts,
8
uma vez que a radiância é dada por:
𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑒𝑚𝑖𝑡𝑖𝑑𝑎 𝑝𝑜𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑒𝑚𝑖𝑡𝑖𝑑𝑎
𝑅𝑇 (ν)dν = =
𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑥 á𝑟𝑒𝑎 á𝑟𝑒𝑎
Dessa forma foi montada a Tabela 5 onde encontram-se os dados da 𝑇 4 e da radiância. E
posteriormente montando o Gráfico 4.
Radiância (W/m²) 𝑇4
20000.00
213,5 ± 0,1)W/m² 1,30E+10
Radiância -(W/m²)
925,3 ± 0,1)W/m² 5,56E+10 15000.00
7. CONCLUSÃO
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] BROWN, Theodore L.; LeMAY, Eugene H.; BRUSTEN, Jr. Bruce E.; Química a ciência central,
9ª edição, São Paulo: Pearson Pretice Hall, 2005.
[2] EISBERG, Robert; RESNICK, Robert; Física quântica, Rio de Janeiro: Campos,1979.
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