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A ETNOMUSICOLOGIA NO CONTEXTO ACADÊMICO

BRASILEIRO: UMA REVISÃO ATUALIZADA

Richard Edward Rautmann


Universidade Federal do Paraná

Resumo: Este artigo tem como objetivo promover um panorama histórico atualizado
acerca da produção acadêmica da Etnomusicologia no Brasil através do levantamento
de referências bibliográficas. Passando por um breve relato do surgimento da
Etnomusicologia Brasileira, seus principais promotores e expoentes do pensamento
etnomusicológico no país. A fim de colaborar para a reflexão, alguns conceitos e
comparações acerca da definição do seu campo de abordagem foram utilizados. As
descrições dos principais encontros de caráter acadêmico também compõe este trabalho,
bem como as tentativas e da formação de uma entidade de fomento e promoção da
crescente produção iniciada em diversas universidades pelo Brasil. Tais iniciativas
colaboram para o estabelecimento da Etnomusicologia e o contato entre profissionais de
diferentes áreas do conhecimento. Também a criação de laboratórios de pesquisa na
área, ampliando e diversificando significativamente a pesquisa.

Palavras chaves:
Etnomusicologia Brasileira; Institucionalização da Etnomusicologia; Etnomusicologia
na Academia.

Abstract: This article aims to promote a historical overview updated about the
academic production of Ethnomusicology in Brazil by surveying references. Going
through a brief account of the Brazilian Ethnomusicology’s beginning. Also, its main
promoters and exponents of ethno musicological thought in the country. In order to
contribute to the reflection, were used some concepts and comparisons about the
definition of this exponents. The descriptions of the main academic nature of meetings
also make up this project, as well as attempts and the formation of a development
organization and promotion of increased production started in several universities in
Brazil. Such initiatives collaborate to establish the Ethnomusicology and the contact
between professionals from different areas of knowledge. Besides of that, the creation
of research laboratories in the area, expanding and diversifying the research
significantly.

Keywords:
Brazilian Ethnomusicology; Institutionalization of Ethnomusicology, Ethnomusicology
in Academy.

A etnomusicologia nos ensina a desconfiar da universalidade daquilo que o senso comum


ocidental chama de música há algum tempo. Assim como exercita continuamente a
relativização dos hábitos de escuta e dos critérios de valoração em nome da necessidade
de compreender outras escalas de valor, o etnomusicólogo costuma dessubstancializar a
ideia de música. (TRAVASSOS, 2003, p.79)
Devido ao crescimento da área de Etnomusicologia no Brasil, existe a
necessidade de atualizações constantes e uma reorganização dos dados já obtidos, mas
que se encontram muito dispersos, em diversas fontes. Assim, percebe-se que estes
fatores não têm sido colocados em prática, e este artigo tem como objetivo dar um passo
para uma consolidação da história da Etnomusicologia no Brasil.
A história dela no Brasil é recente se comparada com a história da
Etnomusicologia mundial, que este ano completa de 130 anos.
Apesar de formalmente a Etnomusicologia ter se instalado somente na década de
1980 no Brasil, ela já era realizada por aqui, apesar de não utilizar esse nome, mas com
pesquisadores que tinham seu foco em música brasileira, particularmente no folclore.
Antes mesmo da etnomusicologia possuir essa nomenclatura, concebida por Jaap
Kunst nos anos 1950, ela era chamada de Musicologia Comparativa. E é nesse
momento, no início do século XX que pode ser considerado como nascimento da
Etnomusicologia Brasileira.
Segundo Gerard Béhague (1989) o primeiro “etnomusicólogo” brasileiro foi
Mário de Andrade.
“Em termos de conceituação de uma possível etnomusicologia brasileira, não resta
dúvida de que Mário de Andrade foi o verdadeiro pioneiro. Seu Ensaio [com quase
sessenta anos] foi a primeira tentativa inteligente de delinear e analisar de uma forma
não-convencional os vários elementos estruturais dos fenômenos sonoros da música
brasileira de tradição oral.” (1989, p. 2)

Reforçando esta afirmação Tiago de Oliveira Pinto (2008) lembra que:


“Basta recordar que, sem dúvida, foi Mário de Andrade quem deu importância às
múltiplas tradições orais de música no país de forma mais sistemática, como professor
de história da música e pesquisador da cultura brasileira. Mário não só reconheceu a
riqueza da diversidade musical brasileira, como também a sua fragilidade.”
(OLIVEIRA PINTO, 2008, p. 8)

Mário de Andrade, no ano de 1938, enquanto estava à frente do Departamento


de Cultura de São Paulo, idealizou e organizou um projeto chamado “Missão de
Pesquisas Folclóricas” no Norte e Nordeste Brasileiro, registrando em áudio e filme
manifestações culturais, especialmente a música e a dança, dos mais diversos povos da
região1. Segundo Oliveira Pinto (2008), foi um exemplo eloquente da pesquisa
etnomusicológica brasileira daquele tempo. Esses materiais foram organizados por sua

1
A equipe que foi à campo realizar as pesquisas era formada por: Luíz Saia, Martin Braunwieser,
Benedicto Pacheco e Antonio Ladeira.
aluna, e depois assistente, Oneyda Alvarenga e estão disponíveis no Centro Cultural São
Paulo.
Juntamente com Mário de Andrade, outros estudiosos também se debruçavam a
estudar a música brasileira. Rafael José de Menezes Bastos escreve que
”a etnomusicologia é uma área em franca consolidação, fortemente ancorada na
tradição intelectual do País, especialmente do folclore. Neste campo, ela tem
ancestrais de porte comparável aos dos melhores do mundo, como Mário de Andrade,
Guerra Peixe, Luiz Heitor Corrêa de Azevedo e outros”, (MENEZES BASTOS, 2004,
p.4)

Sendo ainda, por Béhague acrescentado à esta lista, Mello Morais Filho e Alceu
Maynard de Araújo
O Sistema teórico e metodológico do folclore musical, segundo Béhague (1989),
não era sistematizado e assim acrescenta
“O método de estudo não considera nem o contexto sócio-cultural do fazer musical
nem o seu processo dinâmico, e, por conseguinte, o seu verdadeiro sentido. E aí está a
diferença fundamental entre os conceitos do folclore musical e da etnomusicologia.”
(BEHÁGUE, 1989, p.200)

O etnomusicólogo Paulo Dias, em entrevista ao programa Veredas afirma que


“Os folcloristas foram acusados por alguns cientistas sociais como diletantes e
pretenciosos ao arrogarem à sua disciplina status de ciência. Suas analises de práticas
culturais, a que denominam fatos folclóricos, teriam pouca consistência quando
considerados sobre um prisma de ciências sociais. Uma vez que abstraem essas
mesmas práticas do contexto social em que elas são atualizadas. Os folcloristas
seriam então, meros colecionadores de dados da cultura material e espiritual do povo,
musicas, contos, provérbios, artefatos, etc e incapazes de interpretações de rigor
cientifico. Suas análises estariam limitadas a observações sobre a forma das
manifestações estudadas.” (DIAS, 2003)

E continua:
“Ao meu ver, os folcloristas têm sido injustiçados nos meios acadêmicos. Pra
começar eles foram os primeiros a valorizarem a produção cultural popular, que
trataram com grande amor e dedicação. Foram os grades divulgadores da arte do
povo. Elaboraram projetos educacionais. Promoveram registros e fundaram museus,
como ocorreu no Brasil no chamado Movimento Folclórico nos anos 40 à 60. No
Brasil atuaram como primeiros etnomusicólogos inclusive, recolhendo importantes
cancioneiros que até hoje interessam a diferentes campos sociais e das artes. Alias,
temos entre os folcloristas, pensadores do porte de Amadeu Amaral e Mário de
Andrade e mesmo cientistas de renome como Roger Bastide e Florestan Fernandes”
(Idem)

Nos anos seguintes houveram pontos importantes para o desenvolvimento da


Etnomusicologia no Brasil. No período de 1971-82 Anthony Seeger, neto de um dos
pioneiros da Etnomusicologia mundial Charles Seeger, viveu no Brasil, realizando suas
pesquisas de doutorado em meio aos índios Suiás no Mato Grosso e logo após
lecionando no Museu Nacional no Rio de Janeiro. Tiago de Oliveira Pinto, acrescenta
juntamente com Seeger, foi “Gerhard Kubik, que, em meados dos anos 1970, pela
primeira vez apontou para as origens conceituais e sonoras do samba e de outras
manifestações afro-brasileiras” e o etnomusicólogo Gerard Béhauge, professor na
Universidade do Texas entre os principais parceiros e estimuladores da área, que
residiam fora do Brasil.
No ano de 1972, o professor Antônio Alexandre Bispo desenvolveu o primeiro
curso de Etnomusicologia no Brasil, “que pelas suas características, amplas dimensões e
organização é pioneiro no Brasil e, talvez, até mesmo em outras nações da América
Latina e de outros continentes, com exceção, naturalmente, dos Estados Unidos e de
alguns países europeus.” (BISPO, 1972, p.1). O interessante observar que Bispo
descreve todo o processo e metodologia deste curso, e toda a dificuldade em poder
coloca-lo em prática.
Oliveira Pinto menciona o ano de 1978 como marco na Etnomusicologia
Brasileira, pois neste ano foram publicados dois livros que são importantes “A
Musicologica Kamayura” do professor Rafael José de Menezes Bastos, que trata sobre a
música indígena e outro do austríaco Gerard Kubik “Heranças angolanas na musica
popular brasileira”. Em ambos temos dois enfoques fundamentais para se entender, para
se pensar a musica aqui no Brasil.
No ano de 1979 quando o professor Anthony Seeger realizava suas pesquisas de
doutorado, foi oferecido por ele um Curso de Pós-graduação, Lato Senso no Museu da
Quinta de Boa Vista do Rio de Janeiro de Introdução a Etnomusicologia, do qual
participaram: Rosa Maria Zamith, Edwin Pitre Vásquez entre outros.
Com o retorno do professor Manuel Vicente Ribeiro Veiga Junior para o Brasil
após seu doutorado em 1981 na Universidade da Califórnia, dá-se uma nova etapa para
a Etnomusicologia Brasileira. No fim da década de 80 e inicio de 90, foram realizadas
cinco Jornadas Nacionais de Etnomusicologia, dentro da UFBA, sob organização do
Prof. Veiga, “reunindo brasileiros e não-brasileiros. No último desses encontros, já nos
anos 1990, aconteceu inclusive a fundação de uma associação, que não chegou no
entanto a vingar, entre outras razões, por fatores ligados a problemas de legalização
administrativa” (SANDRONI, 2008, p.71)
Estas Jornadas Nacionais de Etnomusicologia ocorreram de dois em dois anos,
sendo a quinta e última no ano de 1993. Elas aconteciam juntamente com os Simpósios
de Música na UFBA. Veiga em entrevista à revista Cultura e Musica explicou:
“O primeiro de todos foi uma coisa muito familiar, Pedro Agostinho, Thalles de
Azevedo, eu próprio, aquele americano que estudou samba de roda, Ralph Waddy. E
mais uma meia dúzia de pessoas por aí. Isso foi no primeiro de todos.
Subsequentemente eu já consegui reunir aqui muita gente. E esses Encontros de
Etnomusicologia, as Jornadas de Etnomusicologia, passavam a fazer parte dos grandes
simpósios de música brasileira, aqui na UFBA, de dois em dois anos”. (RIBEIRO,
2005, p.7-8)

Durante estas Jornadas houve a tentativa de criar um órgão responsável pela


Etnomusicologia Brasileira juntamente com Ricardo Canzio, Kilza Setti, Elizabeth
Lucas, Elizabeth Travassos, e vários outros segundo Veiga, mas não entrou em
funcionamento por problemas de legalização administrativa.
Carlos Sandroni (2008) mostra uma visão desta institucionalização acadêmica do
inicio da Etnomusicologia no Brasil com doze pessoas, as quais tiveram sua formação
como etnomusicólogos no exterior, Manuel Veiga já citado; José Jorge de Carvalho e
Rita Laura Segata; Marcos Branda Lacerda, Angela Lühning, Tiago de Oliveira Pinto;
Elizabeth Lucas; Martha Ulhôa; Samuel Araújo; Rafael José de Menezes Bastos;
Elizabeth Travassos. Kilza Setti formou-se na USP em Ciências Sociais. Assim, como
toda a colonização brasileira, cuja cultura local foi muito influenciada por ideias
distintas, a Etnomusicologia no Brasil foi formada, também, inicialmente através de um
olhar de fora, com uma bagagem extensa de conceitos e vivências já bem consolidadas.
O primeiro mestrado em Etnomusicologia foi criado em 1990 e o primeiro
doutorado, em 1997, ambos na Universidade Federal da Bahia. Assim, completa
Elizabeth Travassos (2003):
“Do ponto de vista da institucionalização e, consequentemente, da legitimação da
disciplina no ambiente universitário, houve um crescimento importante da
etnomusicologia. E mais, “A institucionalização da etnomusicologia no Brasil ocorre, pois,
ao fim da hegemonia estética do nacional-popular e – num outro registro – como um dos
frutos de uma redefinição do panorama dos saberes sobre a música, mais especializados e
mais independentes entre si”. (TRAVASSOS, 2003, p.74;76)

Com um grupo de etnomusicólogos já formados, bastava o momento certo para


que o antigo desejo de organização etnomusicológica fosse retomado e colocado em
pratica. Esse momento oportuno surgiu no início dos anos 2000, com a previsão de dois
eventos importantes da Etnomusicologia no Brasil, sendo o primeiro no ano de 2000 na
cidade de Belo Horizonte “Encontro Internacional de Músicas Africanas e Indígenas no
Brasil”, “que reuniu grande número de interessados em etnomusicologia e mostrou que
as condições estariam maduras para uma nova tentativa de organização nacional” e o
36º International Concil for Traditional Music (ICTM), no ano de 2001 realizado no Rio
de Janeiro, com explica Sandroni (2008). Assim, a Associação Brasileira de
Etnomusicologia foi registrada durante o I Encontro Nacional da ABET em 2002, com
mais de cem associados em assembleia.
No ano de 1997 foi oferecido um Curso no Departamento de Antropologia da
USP, pelo professor Kazadi wa Mukuna, Metodologia em Etnomusicologia, do qual
participaram músicos e pesquisadores, funcionou como um ponta-pé inicial para os
interessados na área.
Este primeiro Encontro Nacional de Etnomusicologia foi realizado nos dias 19 a
22 de novembro de 2002 e teve como tema “100 anos do disco no Brasil: músicos,
públicos, pesquisadores e registros fonográficos”. Ao fim do encontro, ficou definido
que um segundo encontro seria realizado no primeiro semestre de 2003.
Desde 2002 foram realizados seis encontros nacionais.
O segundo encontro, com o tema “Etnomusicologia: Lugares e caminhos,
fronteiras e diálogos” acabou sendo realizado em Salvador durante os dias 9 a 12 de
novembro de 2004. Dois anos depois aconteceu o terceiro encontro, com o tema
“Universos na Música: Cultura, sociabilidade e a política de práticas musicais” nos dias
21 a 24 de Novembro. O quarto encontro ocorreu em Maceió com o tema “A
Etnomusicologia e a produção de conhecimento” no ano de 2008. Somente em 2011 foi
organizado o quinto encontro na cidade de Belém e cujo tema foi “Modos de pensar,
modos de fazer Etnomusicologia”. O último ENABET foi realizado em João Pessoa no
ano de 2013 e teve como tema “Música e sustentabilidade”. O sétimo e corrente
encontro se deu em Florianópolis no ano de 2015.
Além destes encontros nacionais promovidos pela ABET, ocorreram encontros
regionais. Dois encontros regionais Sudeste no Rio de Janeiro nos anos de 2007 e 2010.
Um encontro regional Sul em Pelotas no ano de 2009 e três encontros regionais
Nordestes, sendo o primeiro um Fórum: Paraíba, 2005; Maranhão, 2010 e Salvador
2012, sendo este último também o I Encontro regional Norte. O I Fórum Norte Mineiro
de Etnomusicologia ocorreu na UNIMONTES no ano de 2012. O I Colóquio
Amazônico de Etnomusicologia aconteceu no Pará em 2011 enquanto o I Colóquio de
Etnomusicologia da UNESPAR/FAP foi realizado em Curitiba no ano de 2013.
Estes encontros abriram um enorme contato entre os profissionais, o que
possibilitou a troca de experiências e que acrescentou novas parcerias com outras áreas
afins. Outro ponto positivo para o fortalecimento da Etnomusicologia além dos
encontros, são os laboratórios dentro das instituições. O primeiro laboratório criado foi
na Universidade do Rio de Janeiro pelo professor Samuel Araújo, e é responsável pelo
acervo do Centro de Pesquisas Folclóricas organizado por Luiz Heitor Corrêa de
Azevedo no ano de 1943, cuja sucessora foi a profa. Dulce Lamas Martins, no qual
desenvolveu trabalho de pesquisa a professora Rosa Maria Zamith. Na UNIRIO foi
criado o Centro de Pesquisa que este ano recebeu o nome Elizabeth Travassos, em
homenagem a professora e etnomusicóloga que faleceu em outubro de 2013. O
Laboratório de Etnomusicologia da Universidade Federal de Minas Gerais foi criado
pela professora Rosângela de Tugny no início dos anos 2000, onde realiza trabalhos a
professora Glaura Lucas. Um novo Laboratório de Etnomusicologia foi criado, na
Universidade do Pará sob responsabilidade da professora Sonia Chada e da professora
Liliam Barros, no último dia 6 de março. Na Universidade Federal do Paraná, em
Curitiba, foi criado o Laboratório e Grupo de Pesquisa em Etnomusicologia no ano de
2010, pelo professor Edwin Pitre-Vásquez, e no Programa de Pós-graduação a linha de
pesquisa em Etnomusicologia já consta com oito mestres formados. A linha de pesquisa
em Etnomusicologia foi criada na UNESP pelo professor Alberto Ikeda e atualmente é
coordenada pelo professor Carlos Stasi.
No Estado do Paraná, também é observado que a UNESPAR/EMBAP e a PUC-
PR, já oferecem as disciplinas de Introdução em Etnomusicologia. A Universidade
Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) já realizou um concurso para
contratar um professor na área de Etnomusicologia.
A Etnomusicologia esta presente em todas as regiões do Brasil. É importante
enfatizar, como diz Lühning (2013) que existem diversos núcleos da Etnomusicologia
no Brasil. Os mais importantes estão em Salvador (Universidade Federal da Bahia),
Belo Horizonte (Universidade Federal de Minas Gerais), João Pessoa (Universidade
Federal da Paraíba), Rio de Janeiro (Universidade Federal do Rio de Janeiro), São Paulo
(Universidade de São Paulo) e Florianópolis (Universidade Federal de Santa Catarina),
além desses acrescento Belém (Universidade Federal do Pará). Assim temos muitas
linhas de pesquisa que se tornam complementares.
Desde a institucionalização da Etnomusicologia no Brasil tem-se buscado
organizá-la através de uma identidade própria onde existem alguns apontamentos,
muitas vezes divergentes e que são gerados uma série de problema, listados por
Béhague, Veiga, Setti, Lühning, mas que ao mesmo tempo abrem novos horizontes na
busca de métodos para as pesquisas.
Um ponto de tendência da Etnomusicologia Brasileira tem sido a
“Etnomusicologia Aplicada” ou “Etnomusicologia Participativa”, como explica Júlia
Zanlorenzi Tygel (2008), que como retribuição do Etnomusicólogo às comunidades
pesquisadas houvesse ações em benefício àqueles que contribuíram, com o objetivo de
se sentirem reconhecidos e valorizados.
Um diálogo concreto entre o pesquisador e o grupo pesquisado, cada um com
suas especificidades e sua práxis, nos termos de Paulo Freire, a união de “ação” e
“reflexão”, pode representar um caminho fundamental na busca de um conhecimento
integrador e, por isso mesmo, mais significativo. (CAMBRIA, 2005,p.5)
Outro aspecto que tem sido muito enfatizado é o olhar a sí próprio, como relata
Chada (2011) também faz uma análise sobre a Etnomusicologia no Brasil dizendo que
ela “tem-se caracterizado pelo enfoque da Musica do próprio pais”. Este é um ponto que
tem sido corrente nos discursos dos etnomusicólogos.
E continua
“Fóruns etnomusicológicos têm-se mostrado receptivos ao diálogo com outras áreas.
Isso pode indicar uma tendência da Etnomusicologia Brasileira a comportar-se, do
ponto de vista institucional, como agregadora de especialistas em musica brasileira,
oriundos dos mais diversos horizontes e não apenas de etnomusicologia –
caracterizando uma institucionalização. Por assim dizer, mais ‘temática’ que
‘metodológica’”. (CHADA, 2011, p.20)

Sandroni já havia dito isto em 2008 “Por contraste com as etnomusicologias


norte-americana e europeia, predominantemente ‘extrovertidas’, a etnomusicologia no
Brasil tem se caracterizado por estar voltada para a música do próprio país.”
E Elizabeth Travassos em 2003:
Apesar dos aspectos inovadores com relação à bibliografia em português, a
etnomusicologia produzida no Brasil continua dedicada às músicas pensadas como
brasileiras. Esse confinamento temático traduz a posição subordinada do país na
divisão do trabalho intelectual internacional e, talvez, resíduos do comprometimento
com o processo de construção nacional. A limitação temática, aliada à posição
marginal da língua portuguesa no quadro internacional da bibliografia científica e
acadêmica, tem como decorrência a restrição do número de leitores potenciais.
(TRAVASSOS, 2003, p.80)

Sandroni (2008) enfatiza que “A consolidação de uma área de estudos se mede


em grande parte pelo nível do seu debate interno, pela sua capacidade de submeter a
crivo crítico a produção própria, e a alheia que lhe diga respeito”, assim, podemos
tornar a Etnomusicologia Brasileira uma referência de metodologia e teoria à todas as
demais pelo mundo.
A pesquisa de atualização e acompanhamento do desenvolvimento da
Etnomusicologia no Brasil continua em processo de reorganização, coleta dos dados e
atualização dos mesmos, devido a diversidade cultural o pais e a vitalidade dos seus
atores músicos e pesquisadores, existindo assim, muitas lacunas a serem preenchidas
ainda.

Referências
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