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Selección de pasajes del corpus de Fernando Pessoa sobre el Esoterismo:

Textos fechados

Pacto entre Alexander Search y Satanás (2/10/1907)

Teosofía (1915)

Poema “Eu sou o disfarçado, a máscara insuspeita” (13/03/1918)

El himno a Pan (1931)

Poema “Fausto” (9-11-1932)

Ocultismo en la “carta sobre el origen de los heterónimos” (1935)

Nota biográfica (Lisboa, 30 de Março de 1935)

Selección de pasajes del corpus de Fernando Pessoa sobre el Esoterismo:


Textos sin fechar
Alquimia
Analogía (Bandarra)
Bandarra
Ensayo sobre la Iniciación
Iniciación I
Iniciación II
Masonería
Misterios. Subsolo (or the like).
Mundo visible e ilusión
Platonismo
Principios de metafísica esotérica
Profecías
Sebastianismo
Tratado de Astrología de Raphael Baldaya
Tres maneras de enseñar una cosa a alguien
Rosea Cruz

1
Estudios sobre el Esoterismo en Fernando Pessoa I :
Nacionalismo místico: Sebastianismo y Quinto Imperio
Estudios sobre el Esoterismo en Fernando Pessoa II :
Diccionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Portugués
Alma
Alquimia
Anica
Astrología
Bandarra
Annie Besant
Aleister Crowley
Blavatsky
Rafael Baldaya (heterónimo)
Cabala
Caeiro

Esoterismo
Heteronimia
Maçonaria
Mediunidade
Mesagem
Messianismo
Mendes (Eça de Queirós) Maria Monica Teixeira
Mestre Pedro Teixeira da Mota
Modernidad y Modernismo Oswaldo Silvestre Helena Carvalhão Buescu
Nacionalismo cosmopolita Luísa Mendeiros
Napoleón Madalena Dine
Almada Negreiros Rui Mário Gonçalves
Neopaganismo Steffen Dix
Neo-Romantismo
Max Nordau Jerónimo Pizarro

2
Nova Poesía Portuguesa Madalena Dine+
Ocultismo Pedro Teixeira da Mota
Opiário
Orpheu
Palabra Perdida
Pantelão
Romantismo
Henrique Rosa
Rosa-Cruz
Sá-Carneiro
Alexander Search
Sebastianismo
Sensacionismo
Simbolismo
Sexualidad
Simbolismo
Vitalismo
Trascendentalismo panteísta
Último Sortilégio
Viagem
Vitalismo
Yeats
Zen

***

3
Pacto entre Alexander Search y Satanás (2/10/1907) 1

Compromisso entre Alexander Search, residente no Inferno, Nenhures, e Jacob Satanás, senhor,
embora não rei, do mesmo lugar:

1. Nunca esmorecer nem recuar no propósito de fazer bem à humanidade.

2. Nunca escrever coisas sensuais, ou más a qualquer outro respeito, que possam lesar e prejudicar
quem as ler.

3. Nunca esquecer, ao atacar a religião em nome da verdade, que a religião dificilmente pode ser
substituída e que o pobre ser humano chora nas trevas.

4. Nunca esquecer o sofrimento e o padecimento dos homens. + A marca de Satanás.

2 de Outubro de 1907 Alexander Search

***

Teosofía (1915) 2

Lisboa, 6 de Dezembro de 1915


Meu querido Sá-Carneiro:
Como lhe escrevo esta carta, antes de tudo, por ter a necessidade psíquica absoluta de lha
escrever, V. desculpará que eu deixe para o fim a resposta à sua carta e postal hoje recebidos, e entre
imediatamente naquilo que ficará o assunto desta carta.

1
Pessoa, Fernando. Páginas Í ntimas e de Auto-Interpretaç ão. Lisboa: Ática, 1966, p. 10.

2
Pessoa, Fernando. Escritos Íntimos, Cartas e Páginas Autobiográficas Mem Martins: Publ. Europa-América,
1986. p. 122. Ed. António Quadros; 1ª publ. Vida e Obra de Fernando Pessoa - História de uma Geração.
Lisboa: Bertrand, 1951. Ed. João Gaspar Simões. Disponible en Arquivo Pessoa.

4
Estou outra vez presa de todas as crises imagináveis, mas agora o assalto é total. Numa
coincidência trágica, desabaram sobre mim crises de várias ordens. Estou psiquicamente cercado.
Renasceu a minha crise intelectual, aquela de que lhe falei mas agora renasceu mais complicada,
porque, à parte ter renascido nas condições antigas, novos factores vieram emaranhá-la de todo. Estou
por isso num desvairamento e numa angústia intelectuais que V. mal imagina. Não estou senhor da
lucidez suficiente para lhe contar as cousas. Mas, como tenho necessidade de lhas contar, irei
explicando conforme posso.
A primeira parte da crise intelectual, já V. sabe o que é; a que apareceu agora deriva da
circunstância de eu ter tomado conhecimento com as doutrinas teosóficas. O modo como as conheci
foi, como V. sabe, banalíssimo. Tive de traduzir livros teosóficos. Eu nada, absolutamente nada,
conhecia do assunto. Agora, como é natural, conheço a essência do sistema. Abalou-me a um ponto
que eu julgaria hoje impossível, tratando-se de qualquer sistema religioso. O carácter
extraordinariamente vasto desta religião-filosofia; a noção de forca, de domínio, de conhecimento
superior e extra-humano que ressumam as obras teosóficas, perturbaram-me muito. Cousa idêntica
me acontecera há muito tempo com a leitura de um livro inglês sobre Os Ritos e os Mistérios dos
Rosa-Cruz. A possibilidade de que ali, na Teosofia, esteja a verdade real me «hante». Não me julgue
V. a caminho da loucura creio que não estou. Isto é uma crise grave de um espírito felizmente capaz
de ter crises desta. Ora, se V. meditar que a Teosofia é um sistema ultracristão—no sentido de conter
os princípios cristãos elevados a um ponto onde se fundem não sei em que além-Deus — e pensar no
que há de fundamentalmente incompatível com o meu paganismo essencial, V. terá o primeiro
elemento grave que se acrescentou à minha crise. Se, depois, reparar em que a Teosofia, porque
admite todas as religiões, tem um carácter inteiramente parecido com o do paganismo, que admite no
seu Panteão todos os deuses, V. terá o segundo elemento da minha grave crise de alma. A Teosofia
apavora-me pelo seu mistério e pela sua grandeza ocultista, repugna-me pelo seu humanitarismo e
apostolismo (V. compreende?) essenciais, atrai-me por se parecer tanto com um «paganismo
transcendental» (é este o nome que eu dou ao modo de pensar a que havia chegado), repugna-me por
se parecer tanto com o cristianismo, que não admito. E o horror e a atracção do abismo realizados no
além-alma. Um pavor metafísico, meu querido Sá-Carneiro!
V. seguiu bem todo este labirinto intelectual? Pois bem. Repare que há outros dois elementos
que ainda mais vêm complicar o assunto. Quero ver se consigo explicar-lhos lucidamente...
(...)

***

Poema “Eu sou o disfarçado, a máscara insuspeita” (13/03/1918) 3

3
Pessoa, Fernando. Pessoa por Conhecer — Textos para um Novo Mapa . Lisboa: Estampa, 1990. Ed. Teresa
Rita Lopes. p. 92. Disponible en Arquivo Pessoa.

5
Eu sou o disfarçado, a máscara insuspeita.
Entre o trivial e o vil m[inha] alma insatisfeita
Indescoberta passa, e para eles tem
Um outro aspecto, porque, vendo-o, não a vêem,
Porque adopto o seu gesto, afim que [. . .]
Julga o vil que sou vil, e, porque não me
No meandro interior por onde é vil quem é
Julga-me o inábil na vileza que me vê.
Assim postiço igual dos inferiores meus,
Passo, priń cipe oculto, alheio aos próprios véus,
Porque os véus que me impõe a urgência de viver,
São outro modo, e outra (. . .), e outro ser:
Porque não tenho a veste e a púrpura visível
Como régio meu ser não é aceite ou crível;
Mas como qualquer em meu gesto se trai
Da grandeza nativa que irreprimiv́ el sai
Um momento de si e assoma ao meu ser falso,
Isso, porque desmancha a inferioridade a que me alço,
Em vez de grande, surge aos outros inferior.
E aí no que me cerca o desconhecedor
Que me sente diferente e naõ me pode ver.
Superior, julga-me abaixo do seu ser.

Mas eu guardo secreto e indiferente o vulto


Do meu régio futuro, o meu destino oculto
Aos olhos do Presente, o Futuro o escreveu
No Destino Essencial que fez meu ser ser eu.

Por isso indiferente entre os triviais e os vis


Passo, guardado em mim. Os olhares subtis
Apenas decompõem em postiças verdades
O que de mim se vê nas exterioridades.
Os que mais me conhecem ignoram-me de todo.

***

6
El himno a Pan (1931) 4
O Hino a Pã
Apartado 147.
Lisboa, 4 de Janeiro de 1931.
Meu querido Gaspar Simões:
Muito obrigado pela sua carta, pelos dois exemplares da Presença e, mais ainda, pelo seu
artigo, que muito me agradou. Há pontos que acho certos, outros que não acho certos, outros, ainda,
sobre os quais eu mesmo estou incerto. Mas, à parte o facto honroso e agradável da própria existência
do artigo, ele agradou-me, deveras, em seu conteúdo. Mais tarde, e mais demoradamente, lhe reduzirei
a pormenores o que aí vai sumariamente dito.
Calculei que lhe agradasse o Oitavo Poema do "Guardador de Rebanhos", mas verifico, com
novo prazer, que de facto lhe agradou. Vão juntas as cinco notas escolhidas das Notas para a
Recordação do Meu Mestre Caeiro, do Álvaro de Campos; espero que lhe agradem também. Só
ontem tive tempo para fazer a escolha e a cópia.
O Mestre Therion não é heterónimo meu; é simplesmente o «nome supremo» do poeta, mago,
astrólogo e «mistério» inglês que em vulgar se chama (ou chamava) Aleister Crowley, que também
se designava por «A Besta 666». O Hino a Pã é uma espécie de prefácio ao trabalho
intitulado Magick (Magia), que foi publicado em Paris, em quatro tomos. Crowley mandou vir de
Inglaterra um tratado desses para mim; recebi-o, por sinal, já depois de o Crowley ter desaparecido
de Lisboa em circunstâncias misteriosas.
Lembrei-me um dia de traduzir o Hino a Pã, o que fiz, conforme o meu critério de traduzir
verso, em absoluta conformidade rítmica com o original. Mandei a v. o poema para, como lhe disse,
v. ver o que é propriamente um «poema mágico», em comparação com um simples «poema a respeito
de magia», como é o meu Último Sortilégio.
Reflecti, depois de lhe escrever, sobre o que lhe havia dito de o poema não dever ser publicado.
Não vejo, afinal, inconveniente nisso, se v. achar interessante publicálo. Tem, pelo menos, a vantagem
de ser singular: não creio que haja em português (natural ou traduzido) outro poema precisamente
dessa ordem. Pode, pois, v. publicá-lo se quiser. Para esse fim lhe envio uma nova cópia, em que
ajustei (creio) a ortografia, e fiz umas pequenas modificações.
Um abraço do amigo e admirador muito grato,
Fernando Pessoa

4
Pessoa, Fernando. Cartas de Fernando Pessoa a João Gaspar Simões. Lisboa: Europa-América, 1957 (2.ª ed.
Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1982. Ed. João Gaspar Simões. p. 60. Disponible en Arquivo
Pessoa.

7
***

Poema “Fausto” (09/11/1932) 5

Ah, tudo é símbolo e analogia!


O vento que passa, a noite que esfria
São outra cousa que a noite e o vento —
Sombras de vida e de pensamento.
Tudo que vemos é outra cousa.
A maré vasta, a maré ansiosa,
É o eco de outra maré que está
Onde é real o mundo que há.
Tudo que temos é esquecimento.
A noite fria, o passar do vento
São sombras de mãos cujos gestos são
A ilusão mãe desta ilusão.

5
Pessoa, Fernando. “Primeiro Fausto” in Poemas Dramáticos. Lisboa, Ática, 1952 (imp.1966). p. 76.
Disponible en Arquivo Pessoa.

8
Ocultismo en la “carta sobre el origen de los heterónimos” (1935)

[Carta a Adolfo Casais Monteiro - 13 Jan. 1935]


Caixa Postal 147
Lisboa, 13 de Janeiro de 1935.

Falta responder à sua pergunta quanto ao ocultismo (escreveu o poeta). Pergunta-me se creio no
ocultismo. Feita assim, a pergunta não é bem clara; compreendo porém a intenção e a ela
respondo. Creio na existência de mundos superiores ao nosso e de habitantes desses mundos,
em experiências de diversos graus de espiritualidade, subtilizando até se chegar a um Ente
Supremo, que presumivelmente criou este mundo. Pode ser que haja outros Entes, igualmente
Supremos, que hajam criado outros universos, e que esses universos coexistam com o nosso,
interpenetradamente ou não. Por estas razões, e ainda outras, a Ordem Extrema do Ocultismo,
ou seja, a Maçonaria, evita (excepto a Maçonaria anglo-saxónica) a expressão «Deus», dadas as
suas implicações teológicas e populares, e prefere dizer «Grande Arquitecto do Universo»,
expressão que deixa em branco o problema de se Ele é criador, ou simples Governador do
mundo. Dadas estas escalas de seres, não creio na comunicação directa com Deus, mas, segundo
a nossa afinação espiritual, poderemos ir comunicando com seres cada vez mais altos. Há três
caminhos para o oculto: o caminho mágico (incluindo práticas como as do espiritismo,
intelectualmente ao nível da bruxaria, que é magia também), caminho místico, que não tem
propriamente perigos, mas é incerto e lento; e o que se chama o caminho alquímico, o mais
difícil e o mais perfeiro de todos, porque envolve uma transmutação da própria personalidade
que a prepara, sem grandes riscos, antes com defesas que os outros caminhos não têm. Quanto
a «iniciação» ou não, posso dizer-lhe só isto, que não sei se responde à sua pergunta: naõ
pertenço a Ordem Iniciática nenhuma. A citaçaõ , epiǵ rafe ao meu poema Eros e Psique, de um
trecho (traduzido, pois o Ritual é em latim) do Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de
Portugal, indica simplesmente — o que é facto — que me foi permitido folhear os Rituais dos três
primeiros graus dessa Ordem, extinta, ou em dormência desde cerca de 1881. Se naõ estivesse em
dormência, eu nao
̃ citaria o trecho do Ritual, pois se naõ devem citar (indicando a ordem) trechos de
Rituais que estão em trabalho. 6

6
Pessoa, Fernando. Escritos Í ntimos, Cartas e Páginas Autobiográficas . Lisboa: Publ. Europa-América, 1986:
p. 199; 1ª publ. inc. in Presenç a , no 49. Coimbra: Jun. 1937. Disponible en Arquivo Pessoa.

9
Nota biográfica (Lisboa, 30 de Março de 1935) 7

Nome completo: Fernando António Nogueira Pessoa.

Idade e naturalidade: Nasceu em Lisboa, freguesia dos Mártires, no prédio n.° 4 do Largo de S.
Carlos (hoje do Directório) em 13 de Junho de 1888.

Filiação: Filho legítimo de Joaquim de Seabra Pessoa e de D. Maria Madalena Pinheiro Nogueira.
Neto paterno do general Joaquim António de Araújo Pessoa, combatente das campanhas liberais, e
de D. Dionísia Seabra; neto materno do conselheiro Luís António Nogueira, jurisconsulto e que foi
director-geral do Ministério do Reino, e de D. Madalena Xavier Pinheiro. Ascendência geral — misto
de fidalgos e de judeus.

Estado : Solteiro.

Profissão : A designação mais própria será «tradutor», a mais exacta a de «correspondente estrangeiro
em casas comerciais». O ser poeta e escritor não constitui profissão mas vocação.

Morada: Rua Coelho da Rocha,16,1.° dt.°, Lisboa.

(Endereço postal — Caixa Postal 147, Lisboa).

Funções sociais que tem desempenhado: Se por isso se entende cargos públicos, ou funções de
destaque, nenhumas.

Obras que tem publicado: A obra está essencialmente dispersa, por enquanto, por várias revistas e
publicações ocasionais. O que, de livros ou folhetos, considera como válido, é o seguinte: «35
Sonnets» (em inglês), 1918; «English Poems III» e «English Poems III» (em inglês também), 1922,
e o livro «Mensagem»,1934, premiado pelo Secretariado de Propaganda Nacional, na categoria
«Poemas». O folheto «O Interregno», publicado em 1928, e constituindo uma defesa da Ditadura
Militar em Portugal, deve ser considerado como não existente. Há que rever tudo isso e talvez que
repudiar muito.

Educação: Em virtude de, falecido seu pai em 1893, sua mãe ter casado, em 1895, em segundas
núpcias, com o comandante João Miguel Rosa, cônsul de Portugal em Durban, Natal, foi ali ducado.

7
Pessoa, Fernando. Escritos Íntimos, Cartas e Páginas Autobiográficas. Mem Martins: Publ. Europa América,
1986. Ed. António Quadros. p. 252.

10
Ganhou o prémio Rainha Vitória de estilo inglês na Universidade do Cabo da Boa Esperança em
1903, no exame de admissão, aos 15 anos.

Ideologia política: Considera que o sistema monárquico seria o mais próprio para uma nação
organicamente imperial como é Portugal. Considera, ao mesmo tempo, a Monarquia completamente
inviável em Portugal. Por isso, a haver um plebiscito entre regimes, votaria, com pena, pela
República. Conservador do estilo inglês, isto é, liberal dentro do conservantismo, e absolutamente
anti-reaccionário.

Posição religiosa: Cristão gnóstico, e portanto inteiramente oposto a todas as Igrejas organizadas, e
sobretudo à Igreja de Roma. Fiel, por motivos que mais diante estão implícitos, à Tradição Secreta
do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição Secreta em Israel (a Santa Kabbalah) e
com a essência oculta da Maçonaria.

Posição iniciática: Iniciado, por comunicação directa de Mestre a Discípulo, nos três graus menores
da (aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal.

Posição patriótica: Partidário de um nacionalismo mítico, de onde seja abolida toda infiltração
católica-romana, criando-se, se possível for, um sebastianismo novo, que a substitua espiritualmente,
se é que no catolicismo português houve alguma vez espiritualidade. Nacionalista que se guia por
este lema: «Tudo pela Humanidade; nada contra a Nação».

Posição social: Anticomunista e anti-socialista. O mais deduz-se do que vai dito acima.

Resumo de estas últimas considerações: Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, grão-
mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos—a Ignorância,
o Fanatismo e a Tirania.

***

11
Textos de Fernando Pessoa sobre el esoterismo sin fechar

Alquimia 8

A química oculta, ou alquimia, difere da química vulgar ou normal, apenas quanto à teoria da
constituição da matéria; os processos de operação não diferem exteriormente, nem os aparelhos que
se empregam. É o sentido, com que os aparelhos se empregam, e com que as operações são feitas,
que estabelece a diferença entre a química e a alquimia.
A matéria do mundo físico é constituída de três modos, todos eles simultaneamente reais: só
dois desses modos interessam a um nível conceitual diferente, e não é atingível por operações,
aparelhos ou processos que sequer se parecem com os que se empregam em qualquer cousa que se
chame «química» ou «física» «ocultas» ou não.
A matéria é na verdade, e como crêem o físico e o químico normais, constituída por um sistema
de forças em equilíbrio instável, formando corpos dinâmicos a que se pode chamar «átomos» Porque
isto é real, e a matéria, considerada fisicamente, é na verdade assim constituída, são possíveis as
experiências e os resultados dos homens de ciência, e a matéria é manipulável por meios materiais,
por processos apenas físicos ou químicos, e para fins tangíveis e imediatamente reais.
Mas, ao mesmo tempo, os elementos que compõem a matéria têm um outro sentido: existem
não só como matéria, mas também como símbolo. Há, por exemplo, um ferro-matéria; há, porém, e
ao mesmo tempo, o mesmo ferro, um ferro-símbolo. Cada elemento simboliza determinada linha de
força supermaterial e pode, portanto, ser realizada sobre ele uma operação, ou acção, que o atinja e o
altere, não só no que elemento, mas também no que símbolo. E, feita essa operação, o efeito produzido
excede trancendentalmente o efeito material que fica visível, sensível, mensurável no vaso ou
aparelho em que a experiência se realizou.
É esta a operação alquímica.
E isto no seu aspecto externo: porque, na sua realidade intima, é mais alguma cousa do que isto.
Como o físico (incluindo no termo o químico também), ao operar materialmente sobre a matéria, visa
a transformar a matéria e a dominá-la, para fins materiais; assim o alquímico, ao operar materialmente
quanto aos processos mas transcendentemente quanto às operações, sobre a matéria, visa a
transformar o que a matéria simboliza, e a dominar o que a matéria simboliza, para fins que não são
materiais.

8
Pessoa, Fernando: O Amor, A Morte, A Iniciação. Lisboa. Regra do Jogo, 1985. Ed. Yvette K. Centeno. p.
125.

12
A semelhança, porém, pára aqui. O resultado da experiência física é um produto externo, com
que o operador não tem nada, excepto vê-lo, ou ser dono dele, se o é. Mas na experiência alquímica
a «força», que o corpo trabalhado simboliza, está em contacto directo com o espírito do operador, e
não só do operador, como também de quantos conscientemente o auxiliam (embora sem
conhecimento alquímico) na suas experiências. O resultado da experiência, portanto, afecta o
operador e os seus «adjuntos» (como se diz) de uma forma diversa e diversamente importante.

***

Analogía 9

Bandarra

Assim como a inteligência dialéctica, que tem nome razão, domina e compõe todos os elementos,
com que se forma o conhecimento científico, assim também a inteligência analógica, que não tem
nome especial, domina e compõe todos os elementos de que se forma o conhecimento oculto. A
perfeição da obra material é um todo perfeitamente ordenado, em que cada parte tenha seu lugar e em
seus modo e grau concorra para a formação do todo; a perfeição da obra espiritual é a correspondência
exacta entre o interior e o exterior, entre a “alma” e o “ corpo”, de sorte que o conhecimento de um
envolva necessariamente o conhecimento completo do outro. A Grande Obra é aquela em que o
“metal” , sendo composto, segundo a razão, de modo a ser o “ouro”, material perfeito, seja, no mesmo
acto, composto, segundo a analogia, de modo a ser o “ouro” espiritual simbolizado. Nestas palavras
vai a distinção íntima entre a produção artificial do “ouro” segundo a alquimia, e essa mesma
produção segundo a ciência. Em ambos casos o “ouro” material será idêntico como matéria, mas o
ouro que a ciência produzir não será mais que ouro pois que, ao fabricá-lo, ela não buscou produzir
senão ouro, e o “ouro” que a alquimia produzir será mais que ouro, pois que, ao fabricá-lo, ela buscou
produzir, não só o ouro, senão também o segredo do ouro, ou o segredo áureo. O ouro da ciência será
igual ao ouro da Natureza como efeito; o ouro da alquimia igual ao ouro da Natureza não só como
efeito, senão também como causa.

***

9
Pessoa, Fernando. Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Lisboa: Ática, 1979. Ed. Maria Isabel
Rocheta y Maria Paula Morão. p. 57.

13
Bandarra 10

Aquilo a que se chama « iniciação » é de três espécies: Há, primeiro, e no nível ínfimo, a
iniciação exotérica, análoga à iniciação maçónica, e de que esta é o tipo mais baixo: é a iniciação
dada a quem propriamente se não encaminhou para ela, nem para ela se preparou (porque sugestão
de outrem, o impulso externo, e a simples curiosidade não são preparações), e que serve para pôr o
indivíduo em condições de poder dar se o caminho esotérico, de poder buscar, pelo contacto, embora
esotérico, com símbolos e emblemas, o verdadeiro caminho. O mais exterior e nulo dos sistemas
iniciáticos — como o é hoje a maçonaria — serve este fim, logo que tenha conservado os símbolos
pelos quais em nós se infiltra o primeiro conhecimento do oculto. O único fim com que os Rosa-Cruz
instituíram a maçonaria exotérica é o de pôr muita gente em contacto com, por assim dizer, o aspecto
externo da verdade oculta, podendo assim aqueles, que se sintam aptos, ascender a ela lentamente.
Há, depois, a iniciação esotérica. Difere da primeira em que tem que ser buscada pelo discípulo,
e por ele desejada e preparada em si mesmo. «Quando o discípulo está pronto», diz o velho lema dos
ocultistas, «o mestre está pronto também.»
Há, por fim, a iniciação divina. Esta, não a dão nem exotéricos ou esotéricos menores, como a
exotérica, nem até Mestres ou Esotéricos Maiores, como a esotérica; vem directamente, e por cima
destes todos, das mesmas mãos, do que chamamos Deus. O tipo supremo desta iniciação é o de Jesus,
a quem Deus, de nascença, converteu em sua mesma Essência, tornando-o Cristo.
Iniciado exotérico é, por exemplo, qualquer mação, ou qualquer discípulo menor de uma
sociedade teosófica ou antroposófica. Iniciado esotérico é ,por exemplo, um Rosa-Cruz, um Francis
Bacon, seja. Iniciado Divino é, por exemplo, um Shakespeare. A este tipo de iniciação vulgarmente
se chama génio.
Quando Shakespeare disse, «uns nascem grandes, outros chegam à grandeza, a outros é a
grandeza imposta» deu, talvez sem querer e julgando ser simplesmente irónico, a chave das três
iniciações, na ordem descendente. Outro sentido não tem a mesma frase do Cristo que diz o mesmo
pela «a uns fazem eunucos desde o ventre materno», em que, por uma expressão simbólica que a
intuição facilmente compreende, se exprime pelo eunuquismo o afastamento dos outros que
caracteriza a iniciação.

10
Pessoa, Fernando. A Procura da Verdade Oculta. Textos filosóficos e esotéricos . Mem Martins: Publ.
Europa-América, 1989. Ed. António Quadros. p. 168. (s.d.)

14
Ensayo sobre la Iniciación 11
O ensaio sobre a Iniciação.

Havia três razões pelas quais nas religiões pagãs certas verdades, ou coisas supostas serem
verdades, eram transmitidas só em segredo e reclusão, por iniciação. A primeira era uma razão social:
pensava-se que essas tais verdades eram impróprias para transmissão a qualquer homem, a nau ser
que ele estivesse em certa medida preparado para as receber, e que elas teriam resultados sociais
desastrosos se fossem tornadas públicas, pois isso significaria que seriam mal compreendidas.
«Etiamsi revelare destruere est...» A segunda era uma razão filosófica: supunha-se que, em si
próprias, essas verdades não eram de um género que o homem comum pudesse compreender e que
lhe poderia advir confusão mental e desequilíbrio na conduta se lhe fossem inutilmente comunicadas.
A terceira era, por assim dizer, uma razão espiritual: pensava-se que, por serem verdades da vida
interior, essas verdades não deviam ser comunicadas, mas sugeridas, e que a sugestão devia ser
impressiva, rodeada de secretismo, para que pudesse ser sentida como de valor; de ritual, para que
pudesse impressionar e surpreender; de símbolos, para que o candidato fosse forçado a abrir o seu
próprio caminho, lutando por interpretar os símbolos, em vez de se julgar cheio de conhecimento se
a comunicação tivesse sido feita por ensinamento dogmático ou filosófico.
Não digo que estas três razões se apresentassem claras ou em separado ou em conjunto, embora
assim divididas, nos espíritos dos antigos, sacerdotes ou leigos das suas religiões. Mas digo que,
quando não por inteligência directa, ao menos por intuição, eles basearam as suas religiões neste
esquema divisional.
As religiões dos Antigos, e sobretudo as religiões pagãs da Grécia e Roma, que são as que mais
nos interessam, uma vez que os nossos espíritos são seus filhos, estavam divididas em três formas.
Havia uma forma social, o culto, que era o do homem como cidadão. Havia uma forma individual, a
poesia, que era do homem como não-cidadão; cumprido o culto devidamente, ele podia interpretar
para si os deuses como entendesse e elaborar as suas lendas como lhe parecesse mais adequado. E
havia uma forma secreta, a iniciação, que participava em segredo das características de ambas: era
individual porque, mesmo quando a iniciação era colectiva como nos grandes Mistérios pagãos, era
sempre o indivíduo o iniciado e não o grupo; era social, porque a iniciação era comunicada em ritual
e o ritual é social.
O que com os Cristãos raramente está associado ou fundido com a poesia como acontecia com
os pagãos. (Não compreenderemos a Idade Média até que compreendamos que a teologia era a sua
poesia, que a ausência de poesia então mais não era que a presença da poesia sob outra forma).

11
Pessoa, Fernando. Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética - Fragmentos do espólio. Lisboa: Presença,
1985. Ed. Yvette K. Centeno. (s.d.)

15
Todas as religiões, porém, estão no mesmo estado que as grandes religiões pagãs. As três formas
de religião serão encontradas de uma forma ou de outra em todas. Nas religiões cristas, por exemplo,
temos o culto público, quer seja altamente cerimonial como na Igreja Romana, quer pobre até à nudez
como nas seitas protestantes extremistas; temos a religião individual significando a reflexão pessoal
sobre os dogmas e fórmulas de fé, e isto é teologia onde (com os pagãos), era antes poesia; e temos a
vida interior do cristão, que é a sua iniciação, porque nas religiões cristãs a iniciação é considerada
como dada por Cristo, só, misticamente, e não por qualquer sacerdote ou hierofante ritualmente ou
ceremonialmente. Por outras palavras — cujo sentido mais exacto será compreendido mais tarde —
a iniciação pagã encaminhou-se para a Magia, como fazem todas as iniciações rituais, e a iniciação
cristã encaminhou-se para o Misticismo, como fazem todas as iniciações meditativas.
Qualquer que seja o número de graus, exteriores ou interiores, na escala de ascensão para a
verdade, eles podem ser considerados como três — Neófito, Adepto e Mestre. Na realidade, os graus
são dez — quatro para o Neófito, três para o Adepto e três, por assim dizer, para o Mestre. Há
realmente também dois intergraus que ficam entre o primeiro e o segundo, e entre o segundo e o
terceiro há ordens, estas também não numeradas. Os graus não numerados são graus de noviciado,
enquanto os outros são, cada um na sua medida, graus de realização.
O Neófito, ao longo dos graus que esta expressão descreve, é essencialmente um aprendiz; o
seu caminho é em direcção à realização do conhecimento na esfera exterior. No Adepto, ao longo dos
seus três passos, há um progresso na unificação do conhecimento com a vida. No Mestre há, ou diz-
se que há, uma distribuição da unidade assim atingida em virtude de uma unidade mais elevada.
Uma comparação com coisas mais simples tornará isto mais claro, creio. Suponhamos que o
escrever grande poesia é o fim da iniciação. O grau de Neófito será a aquisição dos elementos culturais
com que o poeta terá de tratar ao escrever poesia e que são, grau a grau e no que se afigura ser uma
analogia exacta: 0) gramática, 1) cultura geral, 2) cultura literária particular, 3) [incompleto no
original, e a numeração salta] O grau de Adepto será, extraindo a analogia da mesma maneira 5) o
escrever poesia lírica simples como num poema lírico comum, 6) o escrever poesia lírica complexa
como em, 7) o escrever poesia lírica ordenada ou filosófica como na ode.
O grau de Mestre será, da mesma maneira: 8) o escrever poesia épica, 9) o escrever poesia
dramática, 10) a fusão de toda a poesia, lírica, épica e dramática em algo para lá de todas elas.
Ao leitor desta analogia literária ocorrerão três observações. A primeira é que se pode ser poeta
sem os graus de Neófito, Adepto do primeiro grau de Adepto sem sequer se «tomar» o primeiro grau
de neófito. A segunda é que a progressão descrita não corresponde à que habitualmente acontece na
vida, seja ela a de um poeta ou a de qualquer outro homem. A terceira é que a função de toda a poesia,
lírica, épica e dramática, em algo que fica para além das três, é uma realização que excede a
compreensão.

16
Levei o leitor a fazer estas observações para que eu pudesse, replicando-lhes, completar a
analogia com uma explicação.
Quanto à primeira observação: O primeiro grau de Adepto é, na verdade, o primeiro grau real
da iniciação real. Um místico simples, que funde a sua fé e a sua vida, atingiu o começo da iniciação
real, enquanto o neófito aperfeiçoado, no qual a fé (ou conhecimento) e a vida ainda estão separados,
não a atingiu. Mas se o Adepto espontâneo tiver atingido o Quinto Grau sem ter passado pelos cinco
primeiros (que incluem o grau Zero), terá de permanecer largo tempo à entrada da Câmara do Meio,
onde se pode adequadamente dizer estar «colocado» o primeiro grau de Adepto. Para passar ao Sexto
Grau ele terá, em certo sentido, de voltar ao princípio.

Iniciación I 12

Iniciação.
Há muitas Cabalas, e é difícil acreditar que não possamos atingir a união com Deus, seja o que
for que se entenda por isso, a não ser que estejamos familiarizados com o alfabeto hebraico.
Há Erros do Caminho, Erros da Estalagem e Erros da Caverna. São Erros do Caminho aqueles
em que o próprio caminho é tomado pela sua finalidade. Erros da Estalagem são aqueles em que
metade do caminho é tomado pelo todo. São Erros da Caverna aqueles em que a caverna, que é a base
do Castelo, é tomada pelo próprio Castelo. (é tomada pela entrada do Castelo).
Estes erros são comuns a todos os caminhos e o da Gnose não está mais isento deles do que os
caminhos místicos e mágicos.
Posso passar sem o ascetismo, mas não sem a verdade, nem creio que Deus se me não manifeste
a não ser que eu fique sentado, imóvel, durante cinco horas, ou que seja capaz de respirar naturalmente
por qualquer das narinas à escolha.
O facto, porém, é que, qualquer que seja o caminho que tomemos, não o devemos fazer antes
de termos percorrido os graus preparatórios, os graus de neófito. O Misticismo procura transcender o
intelecto (pela intuição), a Magia aspira a transcender o intelecto pelo poder; a Gnose, a transcender
o intelecto por um intelecto superior. Mas para transcender uma coisa devidamente, é preciso primeiro
passar por essa coisa. A vantagem do caminho gnóstico é que há menos tentação de alcançar o
intelecto superior sem passar pelo inferior — uma vez que ambos são intelecto e há uma diferença de

12
Pessoa, Fernando. Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética - Fragmentos do espólio. Lisboa: Presença,
1985. Ed. Yvette K. Centeno. p. 59.

17
quantidade entre um e outro — do que nas vias mística e mágica, onde há uma diferença de qualidade,
não de quantidade, entre emoção e intelecto, entre a vontade e o intelecto.

Iniciación II 13

Iniciação

Os caminhos do Misticismo e da Magia são muitas vezes caminhos de engano e de erro. O


Misticismo significa essencialmente confiança na intuição; a Magia significa essencialmente
confiança no poder. A intuição é uma operação da mente pela qual os resultados da inteligência são
obtidos sem o uso da inteligência. O poder, no sentido do poder mágico, é uma operação da mente
pela qual os resultados do esforço contínuo são obtidos sem o uso do esforço contínuo. Ambos,
porém, por mais tempo que levem a operar, são atalhos para o conhecimento. Em certo sentido, tanto
o Misticismo como a Magia são confissões de impotência. O místico é um homem que sente que não
tem em si a força do pensamento para atingir a verdade pelo pensamento. O mágico é um homem que
sente que não tem em si a força de vontade para atingir a verdade (ou o poder) pela força de vontade.
A rapariga ociosa que adivinha ou que se deita a adivinhar coisas é uma mística dentro do seu campo
superficial; é demasiado preguiçosa para tentar saber. A camponesa que tenta reter o amor do marido
por meio de encantamentos e poções é um mágico dentro das suas fronteiras estreitas; ela é demasiado
ignorante e demasiado fraca para intentar atingir o seu fim por encantamento directo, por sedução
permanente. Em ambos os casos há uma evasão.
Isto não quer dizer — ou, pelo menos, não precisa de querer dizer — que os resultados do
Misticismo e da Magia estejam necessariamente errados. Quer dizer, contudo, que não há nenhum
critério pelo qual possamos distinguir entre um resultado errado e um resultado certo num caminho
ou noutro. Na Gnose, onde empregamos o intelecto, temos, pelo menos, o lastro do raciocínio;
podemos, pelo menos, comparar um «resultado» com outro, examinar se eles são contraditórios, quer
cada um em si, quer em referência um ao outro. Podemos não raciocinar bem, mas raciocinamos. Se
errarmos, é porque nos enganamos e não porque estejamos errados, como nos outros dois caminhos.
É como quando se soma mal; a falha não está em somar, mas em não somar bem; somar é, porém, o
sistema correcto para obter um total.
Isto ficará claro, se formos buscar exemplos simples, podíamos dizer correntes, ao Misticismo
e à Magia. Um caso simples de Misticismo é o tipo comum de intuição a que se chama «palpite» em
linguagem vulgar.

13
Pessoa, Fernando. Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética - Fragmentos do espólio. Lisboa: Presença,
1985. Ed. Yvette K. Centeno. p. 63.

18
Uma pessoa tem um palpite de que em certo número terá o primeiro prémio da lotaria. De vez
em quando o palpite sai certo, mas todos sabemos que, por cada vez que sai certo, há milhares de
vezes em que sai errado. Se assim não fosse, um clube de apostas não seria o grande negócio que
sempre é. Neste caso, na verdade, há um caminho fácil para verificar a exactidão do palpite: a lotaria,
uma vez extraída, mostrá-lo-á. Mas como é que se há-de provar ou refutar o palpite do místico de que
atingiu a unidade com Cristo? Ele diz que sabe, que sente... Mas o louco que se julga Cristo ou rei de
certo país está tão seguro disso como o místico da sua intuição.
Tomemos, de novo, um caso simples de Magia — o espiritismo. O espiritismo é magia, porque
é evocação dos espíritos dos mortos a esta vida. Faz-se uma sessão, evoca-se o espírito do falecido
X, a voz do médium, a mesa pé de galo ou a prancheta anuncia que ele apareceu. Como é que sabemos
que sim? A comunicação de coisas conhecidas somente de um dos presentes pode ser uma projecção
da mente desse que está presente. A comunicação de coisas somente conhecidas do falecido e depois
verificadas pode ser uma comunicação de alguma força ou mesmo espírito, outro que não o do
falecido. E quando o espírito dá informação da sua morada presente, por que método nos
asseguraremos se essa informação é certa ou errada? Não digo que tudo o que emerge numa sessão
ou que emergiu em sessões esteja errado. Nem digo que esteja certo: digo que não há meio de
conhecermos a origem da informação assim recebida, e quando a informação diz respeito a outros
mundos ou a coisas de outro modo não verificáveis neste, não há meio de conhecermos a sua origem
ou a sua verdade.

***

19
Masonería 14

Os argumentos contidos no meu artigo eram os seguintes:


1. "Tudo quanto de sério ou de importante se faz, faz-se em segredo; e, se as associações secretas
são más por serem secretas, todos quantos decidem qualquer coisa sem ser em público, ou com plena
publicidade ulterior, estão em igual estado de perversidade.
2. Aparentemente dirigido contra "associações secretas" em geral, o projecto de lei era realmente
dirigido contra a Maçonaria.
3. A Maçonaria não é uma simples associação secreta mas uma ordem iniciática, e o seu segredo
é o comum a todas as ordens iniciáticas, a todos os chamados Mistérios e a todas as iniciações, ainda
que fora de Templo, isto é, directamente de Mestre a Discípulo.
4. Da conversão do projecto em lei adviriam três consequências: (a) coisa nenhuma, porque as
ordens iniciáticas não se destroem de fora, nem há exemplo de haver vingado qualquer tentativa (e
citei três) de as extinguir; (b) perseguição aos melhores maçons; (c) criação de uma corrente hostil
contra nós no estrangeiro — e citei exemplos de idêntica hostilidade em casos de perseguição à
Maçonaria —, no que nunca há vantagem, sobretudo para um país como o nosso — pequeno, fraco,
com ambições constantes sobre as suas colónias.
5. À parte tudo isto, a Maçonaria não é maléfica nem daninha, e erros ou até "crimes" que
porventura provadamente se lhe apresentem são ou: (a) provenientes da falibilidade humana, pois
que a Maçonaria é composta de homens; ou (b) de circunstâncias de meio e época que a Maçonaria
não criou e que nela influem, ou em certos sectores dela, como influem sobre toda a gente; e
que (c) nas mesmas circunstâncias está qualquer outra instituição, secreta ou pública, que exista no
mundo, como, por exemplo. a Igreja de Roma, cujos erros e crimes provados são quase sem número.
Fora da linha do argumento fiz também incidentalmente, e a um outro propósito, as seguintes
afirmações, que não constituem argumento
6. O Sr. José Cabral e os anti-maçons são completamente ignorantes de assuntos maçónicos.
7. (a) Não sou maçon, nem pertenço a qualquer Ordem; (b) sou suficientemente conhecedor de
assuntos maçónicos para deles poder confiadamente ocupar-me; (c) os meus conhecimentos
maçónicos derivam-se, não da simples leitura de livros mas de certa "preparação especial", cuja
natureza me não propunha, nem agora me proponho, indicar; (d) não sou anti-maçon; antes, através
do meu estudo da Maçonaria, adquiri um conceito favorável dessa Ordem; (e) em virtude disso —
não foi realmente só em virtude disso — vim defender a Maçonaria.

14
Pessoa, Fernando. Da República (1910 - 1935) . Lisboa: Ática, 1979. Ed. Joel Serrão. p. 135.

20
Finalmente:
8. Citei vários nomes de autoridades maçónicas e de maçons proeminentes ou célebres.
Os pontos numerados 6, 7 e 8 nada têm, evidentemente, que ver com o argumento. Se os
menciono é porque sobre eles, ainda que nada tivessem para o caso, incidiram reparos vário s, aos
quais desejo fazer referê ncia.
Tem o leitor diante de si, em forma que creio clara e precisa, o resumo do conteúdo do meu
artigo, despido de incidentes de redacção e de estilo. Vejamos como se lhe respondeu.
Ao ponto (1) ninguém respondeu nem poderia responder: é, por assim dizer, automaticamente
irrespondível.
Ao ponto (2), por geralmente admitido de parte a parte, ninguém opôs ou poderia opor a mais
pequena observação. Bastava a origem do projecto — isto é, o seu autor, católico-romano e
reaccionário, para ninguém supor que fosse um ódio abstracto ao secreto [,] um amor místico do pleno
dia, que movesse o Sr. José Cabral a escrever e a apresentar o seu projecto de lei. O conteúdo deste,
e do seu relatório, coincide aliás perfeitamente com o teor de uma moção votada em (...), em Braga
em um congresso católico-romano. Em todo o caso, tive o cuidado de raciocinador de dizer no artigo
que o projecto de lei era dirigido "total ou principalmente" contra a Maçonaria.
Para responder ao ponto 3 era mister provar qualquer das várias posições seguintes: (a) a
Maçonaria não é uma Ordem iniciática; isto, que é falso, ninguém provou nem pode provar; (b) há
Ordens iniciáticas que não são secretas; isto, que é falso, ninguém provou nem pode provar, pois não
há iniciação, individual ou templar, que não seja secreta, visto que o ser ela secreta está na essência
do mesmo conceito de iniciação; (c) a Maçonaria é secreta por outros motivos que o iniciático; isto,
que é falso, seria ainda absurdo, pois, se a Maçonaria é já secreta por ser iniciática, escusa de ir buscar
a outra parte o segredo que já tem; (d) as ordens iniciáticas são maléficas e ilegítimas, por serem
iniciáticas, porque é maléfica e ilegítima toda a iniciação. — Este conceito, dogmático e gratuito, é
exclusiva pertença da Igreja de Roma. Este argumento teria, porém, no trajecto, os seguintes desastres
de viação. Atingiria os primitivos cristãos, pelo motivo já citado no meu artigo; e a Igreja de Roma
declarar-se-ia implicitamente assente em bases de malefício e de ilegitimidade. Os opositores dos
iniciados e dos herméticos nunca definiram, nem tentaram definir, o que é iniciação, não podendo
declarar maléfico ou ilegítimo o que não sabem o que é. O que a Igreja de Roma pensa ou deixa de
pensar não interessa ao Estado português, pois que está ainda em vigor a Lei de Separação, e as bulas
ou encíclicas do Papa não são leis do País.

***

21
Misterios 15

Subsolo (or the like).

Afinal o conteúdo dos mistérios resume-se em ensinamentos, sobre três ordens de coisas, que sempre
se julgou que não devem ser reveladas ao geral dos homens. Sempre se julgou que aqueles
ensinamentos, que as religiões ministram, deveriam ser adaptados à mente dos que a os recebem, e,
como muitos deles — tal é a opinião dos iniciados — são de ordem que o povo em geral os não
compreenderia e que portanto, compreendendo os pervertidamente, se perturbaria com ele, segue que
se pensou que esses ensinamentos se deveriam dividir em duas ordens: exotéricos ou profanos os que
são expostos de modo a que todos possam ser ministrados; esotéricos ou ocultos os que, sendo mais
verdadeiros, ou inteiramente verdadeiros, não convém que se ministrem senão a indivíduos
previamente preparados, gradualmente preparados, para os receber. A esta preparação se chamava, e
chama, iniciação. E esta iniciação é ela mesma gradual em todos os mistérios, e de tal modo disposta
que o indivíduo inapto para receber esses ensinamentos ocultos se revela tal antes que eles lhe sejam
inteiramente dados.

Se esses ensinamentos ocultos são verdadeiros, ou apenas especulações abstrusas, é outro problema.
Se os hierofantes do oculto têm, na verdade, maior conhecimento da verdade pura do que nós
profanos, que a buscamos, se a buscamos, com a leitura; ou a meditação, ou a inteligência discursiva
e dialéctica — não o podemos nós saber. Tudo isso pode ser sinceramente crido pelos iniciados, e ser
falso. O oculto pode ter alucinações próprias, enganos seus.

Seja como for, o certo é que os ensinamentos ministrados nos mistérios abrangem três ordens
de coisas: (1) a verdadeira natureza da alma humana, da vida e da morte, (2) a verdadeira
maneira de entrar em contacto com as forças secretas da natureza e manipulá-las, e (3) a
verdadeira natureza de Deus ou dos Deuses e da criação do mundo. São, respectivamente, o
segredo alquímico, o segredo mágico, e o segredo místico. Ao primeiro chama se alquímico
porque os ensinamentos relativos a ele são em geral ministrados através de símbolos da
chamada alquimia, que não é mais, como hoje claramente se sabe, do que uma linguagem
simbólica.

15
Pessoa, Fernando. Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética - Fragmentos do espólio. Lisboa, Presença,
1985. Ed. Yvette K. p. 45.

22
Mundo visible e ilusión 16

Oc.
Mas o significado real da iniciação é que este mundo visível em que vivemos é um símbolo e
uma sombra, que esta vida que conhecemos através dos sentidos é uma morte e um sono, ou, por
outras palavras, que o que vemos é uma ilusão. A iniciação é o dissipar — um dissipar gradual, parcial
— dessa ilusão. A razão do seu segredo é que a maior parte dos homens não está adaptada a
compreendê-lo e, portanto, compreendê-lo-á mal e confundi-lo-á, se for tornado público. A razão de
ele ser simbólico é que a iniciação não é um conhecimento, mas uma vida, e o homem deve, portanto,
descobrir por si o que mostram os símbolos, porque, assim, viverá a vida deles, não se limitando a
aprender as palavras em que são mostrados.
Dizer que Cristo é um símbolo do Sol é pôr o processo iniciatório ao invés. É o Sol que é o
símbolo de Cristo. Por outras palavras, Cristo é a realidade e o Sol a ilusão, Cristo é a luz, e o Sol a
sombra. (O Inefável é a luz; o GA, corpo; o mundo, sombra — a sombra projectada pelo denso quando
iluminado pelo subtil. A luz está na circunferência e a sombra lançada para o centro. Isto tem alguma
coisa a ver com o pt. dentro do c.?) (Cf. a ideia cabalística do En Soph retirando-se para dentro,
manifestando-se dentro e não fora).
Iniciar um homem por um ritual complicado e mais ou menos impressivo e depois confiar-lhe,
sob promessas de segredo e juras mais ou menos terríveis, que a Primavera vem depois do Inverno
— isto nunca podia ter sido o plano de qualquer corpo ou sistema iniciático. Mas tê-lo-ia sido ensinar
o contrário — que a Primavera, seguindo-se ao Inverno, é um símbolo de coisas maiores, que o natural
é uma figuração do sobrenatural.
Isto, feito com mais ou menos pormenor, em símbolo, depois em doutrina, depois em revelação,
é a essência de todas as verdadeiras iniciações, de Eleusis a Kilwinning.
Ordens de inic.: (I) através de símbolos e (mais tarde) explicações em si próprias simbólicas—
cf. Pike; (2) através de doutrina simbólica, verdadeira ao seu nível, e explicações, já não simbólicas;
(3) através de comunicação directa, embora não necessariamente falada ou expressa.
Não digo que estas coisas representem uma verdade e não digo que o não façam. Digo que este
é o significado da iniciação, que é assim que a iniciação existe e que é para estes fins que ela existe.

***

16
Pessoa, Fernando. Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética - Fragmentos do espólio. Lisboa: Presença,
1985. Ed. Yvette K. Centeno. p. 60.

23
Platonismo 17

O mundo visível em que vivemos é sombra, ou símbolo, de um outro mundo superior. Oc.

Mas o significado real da iniciação é que este mundo visível em que vivemos é um símbolo e uma
sombra, que esta vida que conhecemos através dos sentidos é uma morte e um sono, ou, por outras
palavras, que o que vemos é uma ilusão. A iniciação é o dissipar — um dissipar gradual, parcial —
dessa ilusão. A razão do seu segredo é que a maior parte dos homens não está adaptada a compreendê-
lo e, portanto, compreendê-lo-á mal e confundi-lo-á, se for tornado público. A razão de ele ser
simbólico é que a iniciação não é um conhecimento, mas uma vida, e o homem deve, portanto,
descobrir por si o que mostram os símbolos, porque, assim, viverá a vida deles, não se limitando a
aprender as palavras em que são mostrados.

Dizer que Cristo é um símbolo do Sol é pôr o processo iniciatório ao invés. É o Sol que é o símbolo
de Cristo. Por outras palavras, Cristo é a realidade e o Sol a ilusão, Cristo é a luz, e o Sol a sombra.
(O Inefável é a luz; o GA, corpo; o mundo, sombra — a sombra projectada pelo denso quando
iluminado pelo subtil. A luz está na circunferência e a sombra lançada para o centro. Isto tem alguma
coisa a ver com o pt. dentro do c.?) (Cf. a ideia cabalística do En Soph retirando-se para dentro,
manifestando-se dentro e não fora).

Iniciar um homem por um ritual complicado e mais ou menos impressivo e depois confiar-lhe, sob
promessas de segredo e juras mais ou menos terríveis, que a Primavera vem depois do Inverno —
isto nunca podia ter sido o plano de qualquer corpo ou sistema iniciático. Mas tê-lo-ia sido ensinar o
contrário — que a Primavera, seguindo-se ao Inverno, é um símbolo de coisas maiores, que o natural
é uma figuração do sobrenatural.

Isto, feito com mais ou menos pormenor, em símbolo, depois em doutrina, depois em revelação, é a
essência de todas as verdadeiras iniciações, de Eleusis a Kilwinning. Ordens de inic.: (I) através de
símbolos e (mais tarde) explicações em si próprias simbólicas—cf. Pike; (2) através de doutrina
simbólica, verdadeira ao seu nível, e explicações, já não simbólicas; (3) através de comunicação
directa, embora não necessariamente falada ou expressa.

17
Pessoa, Fernando. Fernando Pessoa. e a Filosofia Hermética. Fragmentos do espólio. Lisboa: Presença,
1985. p. 60. Ed. Yvette K. Centeno.

24
Não digo que estas coisas representem uma verdade e não digo que o não façam. Digo que este é o
significado da iniciação, que é assim que a iniciação existe e que é para estes fins que ela existe.

Principios de metafísica esotérica 18

Recentemente tem tomado um grande relevo pelo mundo a propaganda da religião chamada Teosofia.
Essa religião pretende ser a da Verdade; se não tivesse essa pretensão não seria uma religião. Pretende
estar por detrás de todas as religiões. Pretende ser a depositária das antigas doutrinas ocultas; pretende
representaruma comunicação para o exterior feita pelos chamados «Mestres».
Urge expor do modo mais claro e preciso qual é, segundo a ciência esotérica verdadeira, a
constituição real do Universo. Não importa ao leitor como estas verdades se determinaram, de onde
elas partem. A sua aceitação não é necessária para ninguém. Mas elas expõem-se, porque chegou a
hora de se exporem, porque é preciso que elas sejam dadas ao mundo. O resto não tem importância.
Compêndio de Hiperciência.
Compêndio de Cosmologia oculta.
Este trabalho, de que fui encarregado, procuro fazê-lo o melhor que possa, sendo preciso, lúcido
e esquemático, quanto possível, na minha exposição.
Uma última pergunta poderá ocorrer aos leitores: qual a razão porque este tratado sai primeiro
em português do que em outra lingua qualquer, porque em uma das línguas, não talvez menos faladas,
mas por certo menos lidas, do mundo? Porque isso tem de ser assim, dado o grande Destino oculto
que Portugal tem de cumprir, continuando o que já cumpriu, aquele destino que o Senhor da Ciência
segredou ao Infante D. Henrique em Sagres, para que ele o pusesse em prática.
Portugal é um Ente. Esse ente tem que cumprir um destino. Esse destino envolve que as verdades
que este livro revela sejam dadas primeiro em português do que em outra língua qualquer.
Este sistema não será exposto como um sistema metafísico, que se prove; mas sim como um
sistema religioso, dogmaticamente. Mas ele tal é, que, uma vez lido, a sua verdade será vista por
aqueles que está destinado que a vejam.
Invocam os teosofistas a íntima continuidade da tradição hermética ou esotérica. Segundo Mrs.
Besant (quote here the due part of the Ideals of Theosophy).
Infelizmente o estudo da literatura ligada à exposição, propositadamente confusa, das teorias
que formavam a base metafísica das sociedades secretas como os Rosa-Cruz — infelizmente esse

18
Rita Lopes, Maria Teresa. Fernando Pessoa et le Drame Symboliste: Héritage et création. Paris: F. C.
Gulbenkian, 1977. p. 510. (s.d.)

25
estudo revela princípios fundamentais que, qualquer que seja o seu sentido simbólico, se não casam
de modo algum com as teorizações teosóficas.
Assim, se há coisa que resulta clara da confusa doutrina dos esotéricos europeus, é que o sexo
feminino é, por várias razões de ordem simbólica, considerado por ele como inferior e quase mau.
Escusamos de rebuscar muito na literatura hermética. (Q from Hargrave Jennings).
Como é que isto se concilia com a tese teosofista que o que há de principal é a Fraternidade
humana, esta sem olhar a sexo, raça ou casta?
Além disso os herméticos europeus não se propunham trabalhar pela humanidade. Nada disso
se conclui dos seus escritos, e estes, embora nos não revelem o seu sistema como conjunto, não
deixam de, fragmento a fragmento, nos revelar de que elementos ele se compõe.
A teosofia, como é próprio e de esperar da nossa época, é apenas uma democratização do
hermetismo. Se se quiser, é uma cristianização dele. Mais nada. Cristianização ou Democratização
feita com a ideia de Fraternidade, por sinal a mais baixa das três que compõem a trindade francesa.
Os herméticos europeus constituíam sociedades secretas para fazer determinadas investigações
científicas. Até que ponto essas investigações foram é hoje impossível, talvez, de determinar. Se essas
investigações representam uma tradição remota, é possível julgá-lo. Para que o faziam é simples.
As castas sacerdotais e outras perderiam certo poder sobre o povo se divulgassem certos
princípios científicos, os quais, aliás, permitiam, na baixa dos sentimentos religiosos, o recurso a
fraudes religiosas, por meio de aplicações científicas não muito diversas dos hodiernos processos de
alta prestidigitação, de prestidigitação científica.
O vagar que as classes superiores tinham nos tempos da escravatura torna possível uma extensa
investigação científica.
Suponha-se que um padre egípcio descobria a lei da propagação do som, pelo que respeita às
câmaras sonantes. A utilização religiosa, fraudulenta (ainda que, talvez, sem má intenção) desse
princípio inibiria totalmente que pensasse em divulgá-lo.

***

26
Profecías 19

INTRODUÇÃO GERAL

São três os pontos essenciais da profética do Bandarra: o Quinto Império, a ida e regresso de El-
Rei D. Sebastião, e os destinos de Portugal. O primeiro ponto preocupa-o em comum com toda a
profética europeia, e, em certo modo, a hebraica; o segundo ponto preocupa-o mais que a outros
profetas, estranhos A nossa nação; como, porém, em um dos seus sentidos, o “regresso” de D.
Sebastião se prende com a mesma ideia do Quinto Império, não faltam em profetas estranhos, e
nomeadamente em Nostradamus, alusões inequívocas — que veremos — a este “regresso”. E só no
que diz especialmente respeito aos destinos mais particulares de Portugal — isto é, aos destinos de
Portugal naqueles pormenores que só episodicamente se prendem com o “regresso” de D. Sebastião,
ou de todo com ele se não prendem, que, como é natural, o Bandarra é o único a preocupar-se, ou,
antes, ele e os outros poucos profetas nacionais, pois é matéria que não interessa aos estrangeiros.
O que nos cumpre, pois, explicar nesta Introdução Geral, é o que seja esta ideia do Quinto
Império, ilustrando-a com os exemplos da profética estranha; o que seja esse “regresso”, ou, antes,
como veremos, os “regressos” de El-Rei D. Sebastião; e também que linha geral segue a profética do
Bandarra no que se refere aos destinos gerais da nação, estejam, ou não estejam, ligados aos da
simbólica figura do último Rei da dinastia de Avis.
Seguiremos, nesta explanação, a ordem que apontámos, sendo que ela é a ordem de
importância decrescente, para a civilização em geral, da matéria profetizada.

***

19
Pessoa, Fernando. Sobre Portugal. Introdução ao Problema Nacional. Lisboa: Ática, 1979. Ed. Joel Serrão.
p. 39.

27
Sebastianismo 20

QUANDO VOLTA D. SEBASTIÃO?


Em 1924, segundo profecia de [...]
O sebastianismo tem sido incompreendido. Tomado por uns como sendo uma mera superstição
popular, por outros como um devaneio imperialista da decadência, o facto é que ele tem sido, em
geral, tido por assunto desprezível e obscuro. Obscuro com certeza que é, para aqueles que não têm
o fio condutor que os leve seguramente através do labirinto das profecias sebásticas. Desprezível está
longe de ser — tanto pela razão, estritamente exotérica e sociológica, de que o sebastianismo é o
único movimento profundamente nacional que tem havido entre nós, tendo toda a força de um
movimento religioso, que é, e todo aquele cunho nacional que falta a todos os movimentos políticos
entre nós, quer se trate do mimetismo da Grande França absolutista feito pelo Marquês de Pombal,
quer da servil cópia do constitucionalismo inglês realizada esterilmente pelos nossos “liberais”, quer
da reles subserviência aos ideais da Revolução Francesa, estrangeiros para nós, que são uma das
coroas da inglória e do antipatriotismo dos nossos pseudo republicanos de hoje em dia.
O que seja propriamente o sebastianismo — hoje mais vigoroso do que nunca, na assombrosa
sociedade secreta que o transmite cada vez mais ocultamente de geração em geração, guardado
religiosamente o segredo do seu alto sentido simbólico e português, que pouco tem que ver com o D.
Sebastião que se diz ter morrido em África, e muito com o D. Sebastião que tem o número cabalístico
da Pátria Portuguesa —, eis o que não é talvez permitido desvendar. Mas, para interesse dos leitores,
não é talvez mal cabido explicar qual a data marcada para o Grande Regresso, em que a Alma da
Pátria se reanimará, se reconstituirá a íntima unidade da Ibéria, através de Portugal, se derrotará
finalmente o catolicismo (outro dos elementos estrangeiros entre nós existentes e inimigo radical da
Pátria) e se começará a realizar aquela antemanhã ao Quinto Império.
Essa data consta ocultamente da chamada profecia de [...], que é objecto dos esperados
sarcasmos de José Agostinho de Macedo no seu livro Os Sebastianistas.
Diz a profecia:
transcribe
A interpretação tradicional, de que José Agostinho se serviu, dava este regresso para 1693,
porque partia da hipótese que os números citados no princípio da profecia eram números realmente e
não sinais planetares, como com efeito são.
Eles faziam assim o cálculo:

20
Pessoa, Fernando. Sobre Portugal. Introdução ao Problema Nacional. Lisboa: Ática, 1979. Ed. Joel Serrão.
p. 63.

28
Depois de nove 900
Junta um 100
soma 1000
Três a 300
quatro 400
soma 1700
Tira sete de barato 1693
Aos outros versos do profeta dava se uma interpretação consentânea com o regresso em 1963.
A verdade, porém, é que tudo isto está errado.
O número nove, na cabalística, representa o planeta Marte, e o número um o Sol. A indicação
constante dos primeiros versos da profecia é portanto de que o regresso se dará num período de Marte
e num subperíodo do Sol. Ora, segundo a Astrologia Cabalística, que é a empregada, por exemplo,
por Nostradamo, nas suas previsões veladas e, mesmo, pelo nosso pseudo Bandarra, nas profecias
que se lhe atribuem, o período de Marte abrange de 1909 a 1944. Durante este período há cinco
subperíodos do Sol, isto é, cinco anos regidos pelo Sol, cabalisticamente falando. São 1910, 1917,
1924, 1931 e 1938.
Três a quatro — continua a profecia. Trata se do terceiro período, cujo número final é com efeito
4 — 1924.
Tira sete de barato. Por isto entende se que a prova dará sete. Ora a chamada prova dos noves é
um dos processos ocultos mais empregados para explicação final de qualquer tema profético. E com
efeito, feita esta prova ao número 1924, ele dará noves fora 7. É este o ano, portanto, do Regresso do
Encoberto.
Será por coincidência que, examinando astrologicamente as possibilidades de esse ano, vemos
que é o ano em que a conjunção de Marte e de Saturno cai em cheio sobre a conjunção de Urano e de
Neptuno que rege os destinos de Portugal, visto estar situada no meridiano do horóscopo nacional?
Será por coincidência que o esmagamento total se revela no horóscopo do rei de Espanha para esse
período? Será por coincidência que é nesse ano que o planeta Urano transitando desde 1920 o signo
de Portugal (Pisces) atinge o lugar da cabeça de Dragão, cuja importância na astrologia nacional é de
primeiro plano? Tantas são as coincidências que apontam como importante para nós, e, através de
nós, para a Ibéria esse ano estranho de 1924.
Mas que quer dizer esse Grande Regresso? O que é que regressa? O que significa, ao certo, essa
Vinda de D. Sebastião? O próprio D. Sebastião o que significa? Perguntas são estas a que se não pode
responder senão com o texto velado do Tertuliano: Aquelas coisas que estão veladas, descobertas,
ficam destruídas ( em latim ).

29
***

« Tratado de Astrologia » de Raphael Baldaya 21

A DOUTRINA DOS TRÂNSITOS

O horóscopo não relata o que há antes do nascimento, nem o que há depois da morte, embora
se possa admitir que aspectos (direcções) em retrocesso, e em sucessão da morte, possam indicar
certos fenómenos externos relativos à vida, por assim dizer, pré-natal e pós-mortal do indivíduo. Isto,
porém, é duvidoso.
A vida é essencialmente acção, e o que o horóscopo indica é a acção que há na vida do nativo.
Três coisas não há que buscar no horóscopo: (1) as qualidades fundamentais do indivíduo, quanto ao
seu grau íntimo; (2) o ponto de partida social da sua vida; (3) o que resulta dele, e da vida que teve,
depois da morte. Tudo, menos isto, o horóscopo inclui e define.
Não pasmemos de que seja apagado e fruste o horóscopo de tal grande artista que foi célebre
só depois de morto: o horóscopo indicará qualidades artísticas (em grau que não podemos medir) e
indicará obscuridade. Tudo será indicado em abstracto; só uma vidência nossa o poderá concretizar.
(Tal é o sentido do primeiro apótema de Ptolomeu.)
Exemplificando melhor: um horóscopo de poeta dramático poderá ser determinado como tal
poderá, adentro desse horóscopo, ser indicada uma certa fama e um certo proveito. À parte isso, o
horóscopo pode ser o de Shakespeare ou o de um poeta dramático de inferior nota, que, na época em
que viveu, tenha tido uma vida, quanto a fama e proveito, idêntica ou semelhante à de Shakespeare.
O horóscopo revela, pouco mais ou menos, o que o mundo vê. Nunca devemos esquecer este
pormenor importantíssimo. Sem ele nada faremos da astrologia.

21
Pessoa, Fernando. A Procura da Verdade Oculta - Textos filosóficos e esotéricos. Mem Martins: Publ.
Europa-América, 1989 (2ª ed.). António Quadros. p.158. Ed.

30
Tres maneras de enseñar uma cosa a alguien 22

Há três maneiras de ensinar uma coisa a alguém: dizer-lhe essa coisa, provar-lhe essa coisa, sugerir-
lhe essa coisa. O primeiro processo é o processo dogmático; emprega-se legitimamente ao ensinar
coisas sabidas e provadas a criaturas incapazes, por infância ou ignorância, de compreender as provas,
se se apresentassem. Assim se ensina gramática às crianças ou aos pouco instruídos, sem entrar em
explicações, que seriam inúteis e resultariam frustes, sobre os fundamentos lógicos ou filológicos da
gramática.

O segundo processo é o processo filosófico; emprega-se legitimamente para transmitir a pessoas com
plena formação mental certos ensinamentos, ou cientificamente assentes mas desconhecidos do
discípulo, ou puramente teóricos e que portanto ele tem que compreender em seus fundamentos, para
os poder criticar.

O terceiro processo é o processo simbólico; emprega-se legitimamente para transmitir a pessoas com
plena formação mental ensinamentos que exigem a posse de qualidades mentais superiores ao simples
raciocínio, e o símbolo é dado para que essa pessoa, recorrendo ao que nela haja de embrionário
dessas qualidades, ao mesmo tempo as desenvolva em si e vá compreendendo, por esse mesmo
desenvolvimento, o sentido do símbolo que lhe foi dado.

O primeiro processo dirige-se à memória e chama-se ensino; o segundo à inteligencia e chama-se


demonstração; o terceiro à intuição. A este terceiro processo chama-se iniciação.

Um símbolo é uma coisa exposta em termos de outra coisa, entendendo-se que a segunda (meio de
expressão) é por natureza inferior à primeira (coisa expressa).

22
Pessoa, Fernando. Pessoa por Conhecer — Textos para um Novo Mapa. Lisboa: Estampa, 1990. Ed. Teresa
Rita Lopes p. 84. Disponible en Arquivo Pessoa.

31
Rosea Cruz 23
Uma causa Infinita necessariamente produzirá um efeito infinito. Como o efeito, porém, se
opõe à causa, será infinito de outra maneira.
O nosso universo, porém, é-nos dado como finito e temporal, pois, se o víssemos infinito e
eterno, não o poderíamos ver. O mundo externo, pois, como nós o temos e nele vivemos, não pode
ser efeito de uma Causa Infinita, mas, tão somente, de uma das manifestações ou criações finitas da
Causa Infinita. Temos, pois, que a Causa Infinita é criadora da Realidade, que é infinita, e que uma
Causa Finita é criadora do Universo. O Criador do Mundo não é o Criador da Realidade: em outras
palavras, não é o Deus inefável, mas um Deus-homem ou Homem-Deus, análogo a nós mas a nós
superior.
Gradação infinita dos seres...
O universo não pode ser infinito, porque infinito é só a infinidade. O universo não pode ser
eterno, porque eterna é só a eternidade.
Não pode haver espaço infinito e tempo infinito pois não pode haver dois infinitos. Espaço e
tempo são dois atributos ou manifestações do infinito, que o simulasse sem o ser. Parecem-nos
infinitos, parece-nos que são infinitos — são porém somente indefinidos. (As duas Colunas do Átrio.)
No tempo e no espaço decorre a Matéria só no tempo a Alma; no infinito puro, Deus.
Este Infinito é, porém, só Deus manifesto — não manifesto como mundos senão como Deus.
Para além, Supremo deveras, está o Deus Imanifesto — a ausência até do Infinito. E isto representa-
se: o Deus Manifesto por um Círculo; o Deus Imanifesto por um ponto no centro do Círculo e isto é,
em astrologia escrita, o símbolo do sol, que é a sombra de Deus.
A dupla essência, masculina e feminina, de Deus — a Cruz. O mundo gerado, a Rosa,
crucificada em Deus.
A criação não é uma emanação, mas mais propriamente, uma limitação, uma negação de Deus
por si mesmo.
Mais certo será dizer que o universo é a negação de Deus, ou a morte de Deus Como porém a
negação ou morte de Deus é necessariamente divina, o universo contém um elemento divino que [é?]
a Lei — elemento ausente, por assim dizer, em abstracto.
O único milagre que Deus fez é o universo.

23
Pessoa, Fernando. A Procura da Verdade Oculta - Textos filosóficos e esotéricos . Mem Martins: Publ.
Europa-América, 1989 (2ª ed.). Ed. António Quadros. p. 197.

32
À Lei, Fatum, elemento abstracto de Deus e pelo qual Deus está desencarnadamente manifesto
do mundo, se opõe o Cristo que é o desejo do Regresso a Deus, o desejo de Liberdade, de não haver
Fatum.

***

Estudios sobre el esoterismo en Fernando Pessoa


(Resumen en español)

Nacionalismo místico: Sebastianismo y Quinto Imperio


Estudio de Jorge Uribe UNL, Portugal (portugués)

El esoterismo adquiere en Pessoa ortónimo, un nacionalismo místico a la luz del


Sebastianismo y el Quinto Imperio. Este aspecto ha sido recientemente abordado por los
profesores Jorge Uribe y Pedro Sepúlveda, quienes a partir de los materiales disponibles en
la edición Sebastianismo y Quinto Imperio (Lisboa: Ática, 2011) nos proponen justamente
una lectura de los elementos del nacionalismo místico de Mensagem.

Sebastianismo y Quinto Imperio (2011), reedita veintitrés de los textos que fueron publicados
por primera vez en 1979, otros treinta y cinco publicados de forma dispersa en diferentes
ediciones, mientras que tres se transcriben y se organizan cuarenta y tres textos inéditos. Situa
los textos cronologicamente y reserva un lugar muy especial a Mesagem, único poema que
Pessoa publicó en vida en su lengua materna, portugués.

Las lecturas esotéricas de Pessoa se revelan en sus textos sobre el Sebastianismo y el Quinto
Imperio. En 1912, menos de una década después de su regreso a Lisboa, “la poética de Pessoa
se vierte hacia un nacionalismo místico”. Los autores refieren que Pessoa tuvo en ese año el
proyecto de publicar material y escribir una crítica sobre una de las figuras centrales del
imaginario del sebastianismo: Gonçalo Annes Bandarra: Trovas do Bandarra y um
Comentário Maior às Profecias do Bandarra. Esta fecha coincide con la teorización sobre la
nueva poesía portuguesa. “La profecía de un supra-Camões o Super Camões, siguiendo una
noción de literatura que se define en términos de relación con la tradición que lo acompañaría

33
a lo largo de toda la vida.” 24 En la carta de 8 de septiembre de 1914 dirigida a José Pereira
de Sampaio, más conocido como Sampaio Bruno y reputado erudito republicano, próximo a
la masonería: Pessoa escribe:

[...] sinto que me atrai o misterioso, e porventura importantíssimo, fenómeno nacional chamado

o Sebastianismo.
 Os livros de V. Ex.a, – que conheço, são bússola que me manda a fazer de

V. Ex.a o meu norte nisto em perguntar em que livros poderei estudar esse fenómeno. Refiro-
me não só à história do seu aparecimento e vida, como à sua íntima feição religiosa. Finalmente
gostaria de saber se esse fenómeno tem análogos na história de outras nações.

El 19 de enero de 1915, confiesa:

Passou de mim a ambição grosseira de brilhar por brilhar, e ess’outra, grosseirissima, e de um


plebeismo artistico insupportavel, de querer épater. [...] Porque a idéa patriotica, sempre mais
ou menos presente nos meus propositos, avulta agora em mim; e não penso em fazer arte que
não medite fazel-o para erguer alto o nome portuguez atravez do que eu consiga realizar.
É uma consequencia de encarar a serio a arte e a vida. Outra attitude não pode ter para
com a sua propria noção-do-dever quem olha religiosamente para o espectaculo triste e
mysterioso do Mundo.

Sensacionismo e Outros Ismos, 2009, p. 355.


Pessoa encuentra en el Sebastianismo y el Quinto Imperio los motivos de su misión poética


en un contexto de turbulencia política nacional y del pasaje de formas políticas desgastas
hacia la nueva conciencia política, nacional y cosmopolita. Entre 1914 y 1918, el poeta
inventó el sensacionismo, el paulismo, el interseccionismo, el atlantismo y un nuevo
sebastianismo como discurso mesiánico nacional. El nacionalismo místico de Pessoa

24
Cf. “A Nova Poesia Portuguesa Sociologicamente Considerada” en A Águia, 4, Abril de 1912, y “A Nova
Poesia Portuguesa No Seu Aspecto Psicológico” en A Águia n. 9, sept. de 1912.


34
adquiere forma bajo el Quinto Imperio, un imperio definitivo y universal a ser alcanzado
después del regreso de D. Sebastián.

Existe un texto inédito titulado «La Phase Mystica de Sidonio Paes», asociado a un conjunto
de textos que Pessoa dedicó al Presidente Rey en los años posteriores a su muerte:

[...] No terceiro periodo, que vae d’esse ponto vago á sua morte, elle não é já o Presidente Rei: é já, em
esboço e adivinhamento, o preludio de qualquer outra cousa. Cahiu já sobre elle a antemanhã do
Encoberto. Até alli elle fôra, primeiro, o concentrador das forças de reacção contra a tyrannia dos
democraticos, forças, porém, nem sempre nobres, nem sempre altas, raras vezes patrioticas — mistura
de indignação verdadeira, com baixa raiva, com germanophilia, com traição e insidia. [...]

En este texto, Sidónio Pais se caracteriza como el “concentrador de las fuerzas”, el individuo
que materializa la voluntad de un pueblo e encarna el misterio que le subyace. Pessoa
describe a D. Sebastián en forma similar, en un texto que se publica en la nueva edición:

É dentro de nós, em nós e por nosso esforço, que tem de vir, e virá, D. Sebastião. O
Sebastianismo só é infecundo e estiolante quando o interpreto litteralmente, como a sperança
da vinda exterior do Rei ido, vinda que, sem nosso exforço, milagrosamente nos haja de salvar.
[...]

Para Pessoa la figura mitológica de D. Sebastián trasciende su dimensión individual,


adquiriendo la posición de figura simbólica de una historia universal, en un procedimiento
que va al encuentro de su creciente interés por el pensamiento teosófico y esotérico, desde la
segunda mitad de los años 10 hasta el final de su vida en 1935. No sorprende entonces que
el rey surja como miembro de una misma familia espiritual a la que pertenecen Sócrates,
Júlio César, Jesús de Nazaret y Jacques de Molay:

35
Socrates — 1. Denouncer 2. People 3. Justicers


J[ulio] Caesar — 1. Friends 2. Popular enemies. 3. Executors

J[esus] of N[azareth] — 1. Judas 2. Jews 3. Romans


J[acques] de M[olay] — 1. Sq[uinn] of Fl[oyran] 2. Clement 3. Philip

D. Seb[astião] — 1. Ignorancia 2. Fanatis[mo] 3. Ambição

En un texto Pessoa hace referencia a la Compañía de Jesús (Societatis Jesus) como una
asociación ligada a otras asociaciones secretas fuera de la visión oficial de la historia:

[Os mações] Reconhecem, de mais a mais, que, tendo a S[ocietatis] J[esus] sido fundada por
uma Alta Ordem mais perfeita, tem uma organização mais perfeita, e uma outra disciplina

superior ás da Maçonaria.
 Fundados pela O[rdem] [de] C[hristo] para a transmutação

alchimica da Eg[reja] Catholica, os Jesuitas □

La Orden de Cristo, que fundó la Compañía de Jesús, fue fundada por el rey D. Dinis para
proteger a los miembros de la Orden del Templo en Portugal, perseguidos después de la
condena de su maestro Jacques de Molay. Pessoa se declaró en 1930 defensor de la memoria
de Molay, mientras llamó a António Vieira “Gran Maestro de la Orden Templaria de
Portugal”. (cf. t. 36). Pessoa junto a Vieira y Bandarra asume la tarea profética del
nacionalismo poético y místico. Pessoa manifestó en varias ocasiones su profunda
admiración por la poética de Vieira. En un texto autobiográfico escrito en el último año de
su vida, Pessoa se autodenomina “iniciado, por comunicación directa de Maestro a Discípulo,
en los trece grados menores, en la (aparentemente extinta) Orden Templaria de Portugal” (. t
37)”. Pessoa se identifica con Vieira al llamarle Maestro de la Orden Templaria quien se ha
iniciado en la misma orden que el autor, un compañero en la aventura mesiánica del poeta,
ahí junto a Bandarra y a Vieira.

36
El Quinto Imperio como lugar de la resolución profética

Pessoa exploró la constelación mitológica que va del Sebastianismo hacia el mito del Quinto
Imperio. Vieira quien inventó el Quinto Imperio, no fue un sebastianista, pero sí un crítico
que cuestionaba los intereses de la casa de Braganza, protectora de los Jesuitas. Sus dos textos
sobre el destino de Portugal - Esperanças de Portugal. Quinto Império do Mundo, así como
los esbozos de la História do Futuro, tratan ampliamente la cuestión de cómo el rey D. Juan
IV había de ser fundamental para la concreción del Quinto Imperio, aunque para hacerlo
debía ser resucitado de entre los muertos. A pesar de no ser D. Sebastián el protagonista de
la historia de Vieira, el objeto principal de História do Futuro consiste en exponer la
progresión de los cuatro imperios anteriores (Babilonia / Asirio, Medo / Persa, Grecia /
Roma), anunciando las razones por las cuales el Quinto Imperio sólo puede corresponder a
Portugal, más que a la España de Felipe VI o Carlos II. Pessoa retoma esta tarea de
interpretación profética en los mismos términos que Vieira, con el cambio sustancial de no
ser España su competidor directo en la atribución de las glorias futuras, sino el Imperio
británico. En el Quinto Imperio habrá la reunión de dos fuerzas: el lado izquierdo de la
sabiduría - o sea la ciencia, el razonamiento, la especificidad del Islam; y su lado derecho - o
sea el conocimiento oculto, la intuición, la especulación mística y kabbalística. Por ello, el
Quinto Imperio es presentado como resolución armoniosa de la historia de las oposiciones
nacionales. La nación, pensada analógicamente como un individuo ampliado, ocupa su papel
esencial en una escritura personal que pretende liberarse de su individualidad para inscribirse
en una historia universal por medio del lenguaje profético:

“A vida humana é feita de esperança, e porisso a vida das nações, que é a vida humana maior,
é feita de prophecias.”

Un volumen: El Quinto Imperio.

Creação do sentido mystico da nacionalidade (isto os Homens de Genio é que podem fazer)

1. (a) Creação do sentido mystico da nacionalidade (directamente) (b) Creação do orgulho nacional

(indirectamente)
 (c) Creação da cultura propriamente portugueza (ambos)

37
(t. 60)

Fig. 7. BNP/E3, 125B-61r (pormenor)

Pessoa escribió múltiples textos sobre el Quinto Imperio que deseaba organizar hacia el final de su
vida y que se encontraban entre sus publicaciones y sus inéditos.

Quinto Imperio. Primer Aviso.

1. Entrevista com Antonio Alves Martins.


2. Resposta ao Inquerito de Augusto da Costa.


3. Prefacio ao Q[uinto] I[mperio], de Ferreira Gomes.

4. O Quinto Imperio.


5. O Imperio Portuguez.

Com um breve prefacio Publico neste livro cinco

Omitto neste os commentarios de Augusto da Costa, poisque são d‘elle e não meus.

38
1. Resposta a um pequeno inquerito.

2. Resposta a um grande inquerito.

3. Prefacio a um livro prophetico.


4. O Quinto Imperio.

5. O Imperio Portuguez.

En un plan de publicación, de 1934 o 1935, Pessoa proyecta un libro, bajo el título de Quinto
Imperio, que reúne tres textos que había publicado dispersamente en un espectro temporal de
casi doce años. El primero es la entrevista con António Alves Martins publicada en 1923 (t.
82), el segundo responde a Portugal, Vasto Império publicado por primera vez en 1926 (t.
83) y el tercero es el prefacio al libro de Augusto Ferreira Gomes, publicado en 1934 (t 84).
A estos textos, Pessoa añadiría otros dos conjuntos de textos que seguramente serían
reelaboraciones de los bosquejos que durante años había archivado en su arca. A este
producto final añadiría el subtítulo Primer aviso, posiblemente con la humildad de quien
acepta que su sueño no vendría a realizarse en tiempo de vida y se conforma en haber
contribuido como heraldo profético.

39
Consideraciones finales

El Sebastianismo y el Quinto Imperio nos muestran dos aspectos de la problemática esotérica


en Pessoa, la cual descansa sobre el imaginario de un nacionalismo místico, triangulado por
la figura mesiánica de un rey “por venir”, el cual regresará no de forma encarnada, sino de
una forma más alta que es la simbólica, “no seu alto sentido simbólico, que é o verdadeiro”,
y así consumar la historia mesiánica de Portugal.

Por otra parte y con vistas proféticas, el Quinto Imperio también se encuentra asociado al
imaginario del futuro de Portugal en el marco de un cosmopolitismo que inaugura la nueva
era de la humanidad. En una de las Cartas a Adolfo Casais Monteiro, Pessoa se auto define
como un “nacionalista mystico” y un “sebastianista racional.” Por esta vía de unión de
contrarios y harmonización, Pessoa se identifica con el papel místico de la proeza de D.
Sebastião. Junto a éste, y a Bandarra y Vieira, Pessoa se incluye en la tradición de profetas
del Quinto Imperio para la consagración del espíritu portugués.

Cf. Carta a Adolfo Casais Monteiro de 13/1/1935, en Cartas entre Fernando Pessoa e os directores da
Presença, 1998, p. 251.

“Centrando o seu pensamento sobre a nacionalidade no domínio do mito, Pessoa é plenamente


consciente do seu cunho ficcional e que transcende uma factualidade histórica e sociopolítica.”
(p. 158).

Pessoa recrea el Quinto Imperio en poemas como Mensagem. Pessoa deseó y logró
convertirse en un creador de mitos, el misterio más alto: « [...] ser um criador de mytos, o
mysterio mais alto que pode obrar alguém da humanidade ». Para los « homens de genio »,
hombres históricos y poetas, la tarea consiste en la creación del sentido místico de
nacionalidad. « Mi patria es la lengua portuguesa », ( )

***

40
Estudios sobre el Esoterismo en Fernando Pessoa II :
Diccionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Portugués

Alma
(Yvette Centeno)
En la poética de Pessoa resalta la contradicción entre pensar y sentir, entre el espíritu y el
alma, la cual resulta irremediable. Para Alberto Caeiro, pensar es enfermar el alma. El rebaño
que Caeiro cuida es el de sus pensamientos. El poema XXX del Guardador de Rebanhos.
“Se quiserem que eu tenha um misticismo, está bem, tenho-o. / Sou místico, más só com o
corpo. / A minha alma é simples e não pensa.” Caeiro se manifiesta como el alter ego de
Pessoa, quien piensa para existir. Ricardo Reis, como Pessoa y los otros heterónimos piensa
en tener muchas almas:“Vivem em nós inúmeros / Se penso ou sinto, ignoro. Quem é quem
pensa ou sente. / Sou somente o lugar / Onde se sente o pensa. // Tenho mas almas que uma.
/ A mais eus do que eu mesmo. // Existo todavia / indiferente a todos. / Faço-os calar: eu
falo. // Os impulsos cruzados. // Do que sinto ou não sinto. // Disputam em quem sou. /
Ignoro-os. Nada ditam. / A quem me sei: eu ‘screvo.”

Biblio.
Dictionnaire des Symboles. Paris, Robert Laffont, 1969.
Servier, Jean. Dictionnaire Critique de l’Esoterisme. Paris, PUF, 1998.

El alma figura a través de símbolos femeninos y maternales: la madre ausente, la amada


invisible e intocable.

Alquimia
(Yvette Centeno)
La filosofia hermética estructura la obra y vida de Fernando Pessoa. La alquimia espiritual
interesó a Pessoa a través de su conocimiento de la alquimia que floreció em el siglo XVIII
a través de los ritos masónicos y Rosa Cruz de Alemania, Inglaterra y Francia. Jacob Böhme,
teósofo y cabalística cristiano, Kirchwegen, con la célebre Aurea Catena que influenció a

41
Goethe; Martinez de Pascually (1727-1774), fundador del rito masónico de los Elus-Cöens,
combinando elementos teosóficos y alquímicos; Louis Claude de Saint-Martin (1743-1768)
y su doctrina del “Hombre-Dios” (L’homme de Désir) que influenció a Goethe, Crowley y
otros. Pessoa nunca se definió como alquimista, sino como lector atento de la alquimia. Es
en su poesia donde se puede estudiar la estructura simbólica-alquímica del “juego de
contrarios”. Jakobson escribió un clásico al respecto : “Los oximorones de Fernando Pessoa”.
El más importante estudioso del esoterismo que Pessoa leyó atentamente fue E. A. Waite
(1857-1942). La colección de sus libros sobre esoterismo está integrada por uma mayoría de
volúmenes en francês, provenientes de los círculos intelectuales y espirituales

Águia
(Paulo Motta Oliveira)
Revista, lanzada en diciembre de 1910 en Porto por Teixeira de Pascoaes y del grupo de
Renascença Portuguesa. Pessoa colaboró tempranamente com un estudio sociológico y outro
psicológico sobre la “nueva poesia portuguesa”, la cual se define por su dimensión esotérica,
al concebirla como parte de um movimento cuasi-religioso y publicada dos meses después
de la Proclamación de la República.

Arca
(Fernando Cabral Martins)
La obra de Pessoa constituye un arca, tesoro nacional de Portugal. Consta de 27543 hojas y
seis documentos distribuidos em 105 cajas.

Sociedades Secretas
(Fernando Cabral Martins)
Pessoa escribió un artículo titulado “Associações Secretas” en el Diário de Lisboa el 4 de
febrero de 1935 en el que defiende la masonería de prohibición presentado por a la Asamblea
Nacional por el diputado José Cabral.

42
Astrología
(Fernando Cabral Martins)
Pessoa escribió textos de teoria astrológica y de interpretación de horóscopos que pensó
publicar bajo el título Tratado de Astrologia. Existen cerca de 482 fragmentos de esta
filosofia astrológica que data de 1908 y que constata el interés temprano del poeta por la
astrología, muy anterior a 1915, año en el que expresa su interés por el esoterismo o crea las
cartas astrológicas de sus heterónimos y otros poetas. Estos fragmentos constituyen una
especie de “biografia astrológica.” Los textos se titulan “Duration of my life”, “What in my
horoscope can be considered as the lethal aspect?”. Pessoa apuntó la fecha de fines de mayo
de 1935 como el ocaso de su vida, día en que el sol como “astro-rey” alcanzaría el “medio
cielo” (cfr. “Carta do Céu”). Pessoa murió el 30 de noviembre de esse año.
A nível práctico, el interés de Pessoa por la astrologia se expressa como estrategia
textual. Mensagem, por ejemplo, es el poema esotérico de Pessoa, el único premiado en vida,
que consta de doce poemas relacionados formal y simbolicamente con los signos del zodíaco.
A nível estructural, el interés de Pessoa en la astrologia se funda en una estructura
filosófica y un medio de auto-conocimiento. Su conocimiento astrológico funcionó como una
estructura de organización dentro de su proceso heteronímico. Pessoa, Caeiro, Reis y Campos
se corresponden con los cuatro elementos: Agua, Fuego, Aire y Tierra, respectivamente.
Visión de la naturaleza única y a su vez múltiple. Caeiro escribió “O Guardador de
Rebanhos”, su obra maestra, en el punto más alto de su signo, donde el astrólogo asocia el
Sol, con Venus, con el “medio cielo.”

Bandarra
(Pedro Teixeira da Mota)
Zapatero de Troncoso, uno de los tres profetas del Quinto Imperio, junto con el Padre Vieira
y Fernando Pessoa. Gonçalo Anes Bandarra (1500-1545, 56 o 60) escribió sus Trovas que
fueron prohibidas en 1581. El Padre Vieira fue influenciado por Bandarra en História do
Futuro. Pessoa creia que las Trovas fueron creadas por um grupo de hermanos del mismo
grado de Bandarra. El interés de Pessoa por Bandarra y Vieira se vincula con su interés por
otros profetas y escritores visionarios como Sampaio Bruno (O Encoberto).

43
Existe un proyecto de Pessoa sobre el Quinto Imperio, resaltando la creación del sentido
místico de nacionalidad, el cual ya se encuentra en las profecías de Bandarra, cuando Europa
se convierta en universal, con la abolición de las diferencias religiosas y donde un sólo Dios
será conocido. El Quinto Imperio trata de una fusión material y espiritual, en cristianismo
nuevo y no católico, con fraternidad de lenguas, universalización de la civilización europea
y el regreso del rey: nacional deseado y oculto, “un cielo nuevo y una tierra nueva”, como
predijo San Juan, el representante de este cristianismo alterno. Para Pessoa, en este y otros
proyectos y poemas, Bandarra es un autor mítico, un guía espiritual, voz del pueblo portugués
y maestro de la Orden Templaria de Portugal. Según Pessoa, Bandarra es um profeta que
alcanzó el nivel de maestro junto al rey D. Dinis. “Abandonemos Fátima por Troncoso.” Las
Para Pessoa, las Trovas de Bandarra se asemejan en valor al Apocalypse de San Juan, el
discípulo más cercano a Jesús, iniciado en los mistérios del cristianismo por el gran maestro,
síntesis entre Oriente y Occidente. Hacia el final de su vida, Pessoa confesó ser un “cristiano
gnóstico, fiel a la Tradición Secreta del Cristianismo. Iniciado en la Orden del Templo o de
Cristo.

Annie Besant
(Pedro Teixeira da Mota)
Annie Wood Besant (1847-1933). Libre pensadora que apoyó la lucha socialista de los
irlandeses. Conoció a Bernard Shaw, quien la consideraba la mejor oradora de Europa. Se
convirtió en la discípula de Blavatsky, después de hacer una crítica a The Secret Doctrine.
Annie fue defensora de los derechos humanos, de las mujeres, el secularismo y el ateísmo.
Viajó y vivió en la India desde 1893, publicó 330 libros y folletos en vida e impartió cientos
de conferencias por el mundo. En 1915 Pessoa tradujo su libro Os Ideais da Teosofia, un
texto que le impactó de acuerdo al testimonio del proprio Pessoa en una carta a Sá-Carneiro.

Aleister Crowley
(Ana María Freitas)
Aleister Crowley (1875-1947) se interesó por lo oculto a partir también de las lecturas de A.
E. Waite. Este membro de la Orden Hermética de la Golden Dawn y fundador de su propiá
orden, Argentium Astrum. Este personaje, heredero según su propia interpretación de los

44
dioses egipcios viajo por el mundo y practicó la magia sexual. Fue uno de los primeiros
estudiosos del Budismo y del Yoga en Occidente. También fue pintor y creó su propio Tarot.
El encuentro de Pessoa con Crowley es una pieza clave en la celebridad que Pessoa
sufrió en vida. Crowley decidió fingir su suicidio a raíz de un rompimiento con su compañera
Hanni Jaeger, esto en complicidad con Pessoa y Augusto Ferreira Gomes. Pessoa transforma
este suicidio en un relato policial, The Bouth of Hell, es decir, Boca do Inferno.

Blavatsky
(Pedro Teixeira da Mota)
Helena Blavatsky (1831-1891) de origen rusa, apoyó a Garibaldi en 1866 y de 1870 a 1872
trabajó con espiritistas en el Cairo. En 1873 fundó la Sociedad Teosófica, dedicándose al
estudio de la ciencia oculta y esotérica, teórica y práctica. Publica Ísis sem Véu en 1877 junto
con Olcott y otros y en 1879 parte a la India. En 1881, Olcott escribe Catecismo budista,
obraen la que vaticina la religión del futuro en una armonía con la naturaleza y la ley. Ese
año Blavatsky publicó o Mundo Oculto y Budismo Esotérico en 1883. Éste último aparece
como una referencia de Pessoa para la división de los cuerpos sutiles. Para Pessoa los libros
de Blavatsky y el budismo esotérico muestran es una revivencia de los sistemas ocultistas en
una Europa que yace en los restos de la tradición oculta de la Gnosis. Aunque tradujo a
Blavatsky, Pessoa criticó más de una vez la confusión mental e indisciplina de los teósofos
reflejadas en sus obras. Cuando en 1915, Pessoa escribe una carta a su amigo en Paris, Mario
de Sá-Carneiro, sobre su contacto con la teosofía, también escribe sobre esoterismo y teosofía
bajo el heteróninmo de Rafael Baldaya (Fragmentos de metafísica esotérica). Dice Pessoa
que si bien es cierto que la personalidad de Blavatsky era dudosa, también queda fuera de
cuestión el hecho de que Blavatsky recibía mensaje de los “Superiores Incógnitos.”

Rafael Baldaya (heterónimo)


(Paulo Cardoso)
Heterónimo astrólogo creado porque sola autor del texto sobre la astrología. Su nombre
figura en textos sobre teoría astrológica e interpretación zodiacal. También aparece en otros
proyectos editoriales (e. g. Tratado de Astrología). Sá-Carneiro hace referencia a Baldaya en

45
su carta para Pessoa escrita desde París el 24 de diciembre de 1915: “A sua incarnação em
Rafael Baldaya, astrólogo de longas barbas é puramente de morrer a rir.”

Cábala
(Luisa Medeiros)
El interés de Pessoa por los símbolos lo llevó a estudiar la ciencia de la cábala, mística judaica
condenada pobre el judaísmo ortodoxo. La cábala funciona para Pessoa como una matriz
para la interpretación de los símbolos. La triplicidad del símbolo, por ejemplo, se consuma
en la tríada de los heterónimos. En la nota biográfica que escribió en 1935, Pessoa se definió
como cristiano gnóstico, enteramente opuesto a todas las iglesias organizadas, pero sobretodo
a la Iglesia de Roma. Fiel a la tradición secreta del cristianismo que guarda relaciones íntimas
con la tradición secreta de Israel (la Santa Kabbalah) y con la esencia oculta de la masonería.
Con la cábala, Pessoa descifra la naturaleza interior de los objetos a través de su aspecto
exterior: el símbolo y el lenguaje simbólico de los rituales esotéricos. Pessoa se declaró
iniciado por comunicación directa de Maestro a Discípulo, siempre fiel a la memoria de
Jacques de Molay.

Caeiro
(Pedro Teixeira da Mota)

Esoterismo

Heteronimia
Maçonaria
Mediunidade
Mesagem
Messianismo
Mendes (Eça de Queirós) Maria Monica Teixeira
Mestre Pedro Teixeira da Mota
Modernidad y Modernismo Oswaldo Silvestre Helena Carvalhão Buescu

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Nacionalismo cosmopolita Luísa Mendeiros
Napoleón Madalena Dine
Almada Negreiros Rui Mário Gonçalves
Neopaganismo Steffen Dix
Neo-Romantismo
Max Nordau Jerónimo Pizarro
Nova Poesía Portuguesa Madalena Dine+
Ocultismo Pedro Teixeira da Mota
Opiário
Orpheu
Palabra Perdida
Pantelão
Romantismo
Henrique Rosa
Rosa-Cruz
Sá-Carneiro
Alexander Search
Sebastianismo
Sensacionismo
Simbolismo
Sexualidad
Simbolismo
Vitalismo
Trascendentalismo panteísta
Último Sortilégio
Viagem
Vitalismo
Yeats
Zen

Prefacio a la edición en francés de Gallimard, Oeuvres Complètes.

47
PESSOA, Fernando, “Portugal, Vasto Imperio”, em Jornal de Commercio e das Colonias,
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Semanal do Diario de Noticias. Lisboa: 14 de Abril de 1929.

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Rocheta e Maria Paula Morão; Introdução e Organização de Joel Serrão. Lisboa: Ática,
1980. ____ A Grande Alma Portuguesa: A Carta ao Conde Keyserling e Outros Dois
Textos Inéditos, Textos

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 CENTENO,

Yvette K., Fernando Pessoa: Os Trezentos e Outros Ensaios. Lisboa: Presença, 1988.


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Apresentados por Pedro Teixeira da Mota. Lisboa: Manuel Lencastre, 1989.
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Sebastianismo e Quinto Império. Edição, introdução e notas de Jorge Uribe e Pedro

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Livro do Desasocego, Edição crítica de Jerónimo Pizarro. Lisboa: Imprensa


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ZENITH, Richard, “António Vieira, Imperador do Portugal pessoano”, em Pessoa,

Revista de Ideias. No 3. Casa Fernando Pessoa, Junho de 2011. 


Persona Plural: 1 (P./Spr. 2012) 154

Uribe / Sepúlveda Sebastianismo y Quinto Imperio

el signo de ese alto fin que el mismo reconocía como la «creación del sentido mystico de la nacionalidad»:

Quinto Imperio. Primer aviso.

1. Entrevista con Antonio Alves Martins.

2. Respuesta al Inquerito de Augusto da Costa.

3. Prefacio al Q [uinto] I [mperio], de Ferreira Gomes. 4. El Quinto Imperio.

5. El Imperio Portuguez.

Con un breve prefacio Publico en este libro cinco

Omitto en este los comentarios de Augusto da Costa, pues que son de él y no los míos.

52
1. Respuesta a un pequeño inquilino. 2. Respuesta a un gran inquisito. 3. Prefacio a un libro profético.

4. El Quinto Imperio.

5. El Imperio Portuguez.

Persona Plural: 1 (P./Spr. 2012)

155

Fig. 8. BNP / E3, 125B-9r

(t 81)

Uribe / Sepúlveda Sebastianismo y Quinto Imperio

En este plan de publicación, datable de 1934 o 1935, Persona proyecta un libro, bajo el título de Quinto Imperio,
que reúne tres textos que había publicado dispersamente en un espectro temporal de casi doce años. La primera
es la entrevista con Antonio Alves Martins publicado en 1923 (t. 82), el segundo para responder a la encuesta
Portugal, vasto imperio publicado por primera vez en 1926 (t. 83) y la tercera el prefacio al libro de Augusto
Ferreira Gomes , publicado en 1934 (t 84). A estos textos, Persona añadiría otros dos conjuntos que
seguramente serían reelaboraciones de los bosquejos que durante años había archivado en su arca. A este
producto final añadiría el subtítulo Primer aviso, posiblemente con la humildad de quien acepta que su sueño
no vendría a realizarse en tiempo de vida y se conforma en haber contribuido como heraldo profético de lo que
se empeñó en realizar. En una interpretación más ambiciosa, sin embargo, diríamos que la palabra advertencia
debe interpretarse a la luz de otro momento en que la utiliza y que esta ocurrencia es una referencia directa a
su propia obra, que no deja de ser un modo de fortalecer los términos en el que redacta la relación entre ellos
y la nación Portugal en su camino común codiciado en busca de la inmortalidad.

11 Cf. los textos reunidos en Da República (1910-1935), 1978, pp. 229-267
 Pessoa Plural: 1 (P./Spr. 2012)

p. 145

Uribe/Sepúlveda Sebastianismo e Quinto Império

53
A phase final, porém, por qualquer razão que não podemos medir, pol-o em contacto
com cousas desconhecidas para o conhecimento exacto, cousas que pairam,
indistinctas na alma da raça e são, na verdade, aquelle nevoeiro symbolico atravez
do qual deve raiar o Encoberto.

La Biblioteca Particular de Fernando Pessoa fue digitalizada entre 2008 y 2010 por un equipo
internacional y multidisciplinario coordinado por Jerónimo Pizarro, Patricio Ferrari y
Antonio Cardiello. La mayor parte del material digitalizado se puede encontrar en el sitio
http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt

Alma
Alquimia
Anica
Astrología
Bandarra
Annie Besant
Aleister Crowley
Anjo
Blavatsky
Rafael Baldaya (heterónimo)
Cabala
Caeiro

Esoterismo
Heteronimia
Maçonaria
Mediunidade

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Mesagem
Messianismo
Mendes (Eça de Queirós) Maria Monica Teixeira
Mestre Pedro Teixeira da Mota
Modernidad y Modernismo Oswaldo Silvestre Helena Carvalhão Buescu
Nacionalismo cosmopolita Luísa Mendeiros
Napoleón Madalena Dine
Almada Negreiros Rui Mário Gonçalves
Neopaganismo Steffen Dix
Neo-Romantismo
Max Nordau Jerónimo Pizarro
Nova Poesía Portuguesa Madalena Dine+
Ocultismo Pedro Teixeira da Mota
Opiário
Orpheu
Palabra Perdida
Pantelão
Romantismo
Henrique Rosa
Rosa-Cruz
Sá-Carneiro
Alexander Search
Sebastianismo
Sensacionismo
Simbolismo
Sexualidad
Simbolismo
Vitalismo
Trascendentalismo panteísta
Último Sortilégio
Viagem
Vitalismo

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Yeats
Zen

Prefacio a la edición en francés de Gallimard, Oeuvres Complètes.

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