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Juiz de Fora
2016
1
Título provisório
“A representação do modelo de masculinidade pentecostal no jornal ‘Mensageiro
da paz’ da convenção geral das Assembleias de Deus”.
2
Delimitação do tema
O desenvolvimento de pesquisas feministas sobre gênero, ao questionar o
patriarcado, contribuiu para início dos estudos1 sobre a masculinidade. Segundo Paulo
Oliveira, os estudos feministas ao elegerem o gênero como uma categoria de análise
permitiu o início de estudos sobre a constituição da masculinidade (OLIVEIRA, 1998,
p.91). Os primeiros estudos, entretanto, carregaram em maioria das abordagens uma
perspectiva negativa sobre os homens, ou, como afirma Jorge Lyra, as primeiras
pesquisas enfatizavam a “face maldita” dos homens e da masculinidade (LYRA;
MADRADO, 2008, p. 809).
1
Segundo Giffin, antes do início das pesquisas desenvolvidas por feministas, outros estudos que abordavam
questões relacionados ao homem e à masculinidade já haviam sido realizados, mas ainda careciam de
maiores aprofundamentos. (GIFFIN, 2005, p. 50) ver, também, (CONNEL; MESSERSCHMIDT, 2013, p.
243)
2
Entre os principais pesquisados que contribuíram para o avanço dos estudos destacamos Robert Connel e
John Lee.
na política (CONNEL; MESSERSCHMIDT, 2013, p 242). A partir disso, a sociologia e
antropologia utilizam a expressão em suas pesquisas sobre masculinidade. Identificando
diferenças entre o modelo de “masculinidade hegemônica”3 e a representação de
masculinidade de diferentes grupos sociais, os pesquisadores começaram a desenvolver
estudos sobre os outros modelos de masculinidade4 que, apensar de utilizarem elementos
normativos5 encontrados no modelo hegemônico como referência, possui diferenças que
não poderiam deixar de serem notadas.
3
A masculinidade hegemônica, segundo CONNEL, “não se assumiu normal num sentido estatístico; apenas
uma minoria dos homens talvez a adote. Mas certamente ela é normativa. Ela incorpora a forma mais
honrada de ser um homem, ela exige que outros homens se posicionem em relação a ela e legitima
ideologicamente a subordinação global das mulheres” (CONNEL; MESSERSCHMIDT, 2013, p 245)
4
As expressões utilizadas para expressar esses modelos são “masculinidades subordinadas” ou
“masculinidade subalternas”.
5
As características do modelo normatizo, hegemônico, de masculinidade – segundo KEIJZER - são:
“parecer duro, agressivo, seguro de si em qualquer circunstância e por meio de diferentes sinais, do trabalho
da roupa, do automóvel e etc” (KEIJZER apud MUSSKOPF, 2015, p. 85) Além destas características, não
podemos deixar de evidenciar que a sexualidade, para o padrão normativo da sociedade e para algumas
outros modelos de masculinidade, é um traço importante na constituição do que realmente seja masculino.
6
Existe um grande estudo sobre a masculinidade exercida por corpos femininos. Conferir, por exemplo, a
obra “Female Masculinity” de Jack Halberstam.
7
O próprio modelo de masculinidade hegemônica pode sofrer mudanças dependendo do contexto e época,
adotando características diferentes de modelos anteriores. Para um exemplo dessas mudanças, ver a
pesquisa sobre masculinidade irlandesa (FURGUNSON, 2001).
8
Essa pergunta é contestada por Lyra, ao questionar a utilização da pergunta aplicada aos homens como
um todo. Em dos seus artigos ele pergunta: “seria a crise da masculinidade ou tão somente alguns homens
em crise?” (LYRA; MADRADO, 2008, p. 829).
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O “novo homem” surge com características diferentes daquelas que são esperadas do modelo tradicional,
hegemônico, de masculinidade já salientado. Esse modelo, principalmente no Brasil, é retratado pelos
grandes veículos midiáticos. Essa “nova fase” do conceito de masculinidade lança luz sobre a fluidez das
fronteiras existentes entre os diferentes modelos de masculinidade que ao longo do tempo surgiram com o
avanço da modernidade. Diversos aspectos da masculinidade, portanto, estão constantemente em mutação
– preservando, ou não, os padrões normativos. Em alguns casos, opor-se ao padrão normativo de outras
culturas, ou grupos, é um dos elementos que constituí o modelo de masculinidade de um determinado grupo.
da masculinidade emerge da necessidade do homem de se adaptar às mutações que
ocorrem na cultura ocidental.10
Posto isto, a presente pesquisa deseja desenvolver um estudo sobre a relação entre
religião e a construção da masculinidade. Além disso, sabendo que cada grupo social pode
desenvolver aspectos únicos dentro dos modelos de masculinidade exercido,
observaremos como o homem pentecostal11 possui características que, em vários
momentos, será diferente do modelo normativo de masculinidade. Segundo Couto, o
homem convertido a uma tradição cristã evangélica rompe com o principal ethos de sua
cultura (COUTO,2002, p.22). Existe, portanto, um afastamento do modelo de
masculinidade esperado pela sociedade a partir do momento que o homem inserido dentro
da tradição pentecostal, evangélica, reconfigure alguns elementos da sua identidade
masculina (COUTO, 2002, pp. 21-23). É possível dizer que: “o homem pentecostal
distingue-se do homem "comum" por se projetar como sensível, comunicativo e
10
Entre essas novas configurações, destacam-se: 1) aumento das mulheres em diferentes setores que antes
eram preenchidos apenas por homens; 2) aumento dos divórcios; 3) mudanças nos papeis desempenhados
dentro do contexto familiar e, 4) mudança na concepção de família nuclear.
11
Escolhemos o grupo pentecostal para desenvolver nossa pesquisa levando em consideração pesquisas
realizas no cenário nacional e internacional que evidenciam aspectos peculiares na reconfiguração da
masculinidade de homens que aderiram à uma igreja de tradição pentecostal. Entre essas pesquisas,
detacamos:1) A pesquisa se dedicará em analisar as representações do modelo masculino construído por
membros do sexo masculino da Assembleia de Deus e divulgados em formato de artigo, estudos e
entrevistas pelo jornal “O mensageiro da paz”.
responsável, pai exemplar, cujas preocupações se concentram no bem-estar de sua
família”12 (MASKENS, 2015, p. 331).
3
Justificativa
As relações entre gênero e religião é um tema que veem se consolidando dentro do
cenário nacional com a divulgação de artigos, dissertações, teses e livros com o propósito
de investigar a influência da religião sobre os gêneros, identidade e sexualidade. A
pesquisas voltaram-se, todavia, para uma ênfase ao tema da mulher dentro de contextos
pentecostais, provocando uma lacuna – justificável do ponto levando em consideração
que as pesquisas sobre masculinidade também estão em crescimento – sobre a
configuração da masculinidade evangélica – sobretudo aquela que emerge de
denominações de tradição pentecostal – e como ela se relaciona com as mulheres,
evangélicas ou não, e a masculinidade hegemônica – normativa. Além disso, percebe-se
um crescimento de movimentos organizados por evangélicos conservadores com a
finalidade de defender o modelo de masculinidade evangélica na esfera pública – leis,
protestos e etc. – ressaltando, sobretudo, a heterossexualidade como característica
fundamental da identidade masculina.
Portanto, é possível dizer que existe um campo de estudo a ser explorado não apenas
por programas de sociologia ou antropologia, evidenciando a emergência de divulgação
de um número maior de trabalhos realizados dentro de programas de ciência da religião.
12
Tradução pessoal do texto em inglês: “the Pentecostal man distinguishes himself from the “ordinary”
man because he is projecting himself as sensitive, communicative and responsible, an exemplary father,
whose concerns are concentrated on the well-being of his family. Collectively such attributes are for “men
of heart”.
A presente pesquisa, então, justifica-se pois deseja abordar a influência que a
religião tem sobre o modelo de masculinidade brasileiro. E, de modo especifico,
investigar a construção da masculinidade evangélica e suas representações.
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Objetivos
4.1
Objetivo geral
5
Problematização
O papel social dos homens é exigido pela sociedade. Isso provoca uma constante
preocupação entre os homens ao respeito de sua virilidade14, capacidade de ser
responsável por sua família15 e, para dar um último exemplo, a necessidade de reafirmar
13
O Jornal possui uma edição mensal na versão digital e impressa.
14
Segundo Grossi a virilidade é uma maca fundamental da masculinidade da cultura ocidental (GROSSI,
2006, p. 22).
15
Conforme explicita Clovis, a responsabilidade na condução e manutenção do lar, família, é outra
característica do modelo de masculinidade adotado por uma parcela expressiva de homens (CLOVIS,2007,
pp. 39-40).
e expressar a heterossexualidade16. Diante do padrão de masculinidade brasileira17, o
modelo evangélico de matriz pentecostal emerge trazendo contribuições para a
manutenção do patriarcado e, ao mesmo tempo, fazendo críticas ao modelo de
masculinidade adotado por uma maior parcela dos homens brasileiros. Surge, então, duas
perguntas fundamentais: 1) Qual é a função da religião na construção da masculinidade
brasileira? e, 2) Quais são as diferenças que o modelo de masculinidade desenvolvido por
homens pentecostais expressa?
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Metodologia
Desse modo, deverá ser possível fazer um estudo sobre as diferenças entre o modelo
de masculinidade pentecostal e aquele que se expressa como o modelo esperado do
homem brasileiro. Analisando, como locus da pesquisa, a representação de identidade
masculina que a convenção geral das assembleias de Deus divulga por meio de
publicações periódicas do jornal “o mensageiro da paz”.
16
Segundo FLY, A heterossexualidade é uma característica fundamental masculinidade na cultura de países
europeus. Entretanto, no mesmo texto, o autor salienta que no Brasil existe um modelo de masculinidade
que consegue articular preserva a heterossexualidade masculina mesmo diante do fato de um homem
penetrar o órgão sexual em outro dentro de um contexto de atividade sexual. (FLY, 1982, p. 135)
17
Ao adotarmos a expressão “padrão de masculinidade brasileira” não desejamos dizer que existe um
modelo imutável, antes, todavia, salientamos o fato de que existe elementos mínimos que são adotados por
um maior número de homens.
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Cronograma de execução
Ano 2017 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Cumprir
créditos de x x x x x X X X X
disciplinas
Leituras,
Relatórios e
x x x x x x x x x x
Revisões
Bibliográficas
Revisão do
x x x x x x x x x x
Projeto
Ano 2018 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Redação da
primeira parte
x x x
da tese
dissertação
Leituras,
Relatórios e
Revisões
Bibliográficas e x x x x
redação da
segunda parte
da dissertação
Revisão do
Projeto, leituras
obrigatórias e
entrega da
última parte da x x x
dissertação,
incluindo
introdução e
conclusão
Preparação para
a defesa e
x x x x
revisão
necessária
8
Bibliografia básica
8.1
Livros
BOUDIEU, P. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Betrand, 1999.
BEAUVOUIR, S. O segundo sexo: fatos e mitos. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 1980.
FERGUSON, H. “Men and Masculinities in Late-modern Ireland.” In: PEASE, B.;
PRINGLE, K. (Ed.). A Man’s World? Changing Men’s Practices in a Globalized
World. London: Zed Books, 2001.
FLY, P. Para inglês ver. Identidade e política na cultura brasileira. Rio de Janeiro: Zahar,
1982.
FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. Tradução de
Maria Thereza da Costa Albuquerque; J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro:
Graal, 1993.
HEARN, J. “Is Masculinity Dead? A Critique of the Concept of
Masculinity/Masculinities.” In: MAC AN GHAILL, M. (Ed.). Understanding
Masculinities: Social Relations and Cultural Arenas. Buckingham, UK: Open
University Press,1996.
GARRARD-BURNETT, V; STOLL, D. (editores). Rethinking Protestantism in Latin
America. Philadelphia: Temple University Press, 1993.