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Roteiro de Estudo Semiologia - GESEP

geralmente se manifesta com dispnéia (que


piora com o exercício), tosse (seca ou
1 ASMA produtiva), desconforto respiratório e sibilos.
Fora da crise, no entanto, o paciente é
totalmente assintomático.
Dr. Ivan Paredes
O paciente pode entrar em uma crise devido a
exercícios físicos, frio, infecções de vias aéreas
superiores (IVAS), rinite, contato com penas e
Objetivos pêlos de animais, pólen, poeira domiciliar
(ácaros), tabaco, uso de betabloqueadores, ou
1.Saber o que é asma.
anti-inflamatórios e ácido acetil salicílico.
2.Identificar os principais sintomas e sinais
3.Saber como diagnosticar Muitas vezes pacientes com asma também tem
4.Diferenciar outras doenças com manifestações refluxo gastroesofágico (40-60%) e seu
semelhantes tratamento pode melhorar a doença.

O que posso encontrar no exame físico?


Como defino asma?
Os sibilos polifônicos (com timbre variado) no
Asma vem do termo grego asthma que final da expiração são característicos. Também
significa “sufocante”. Deve-se entender asma podemos encontrar um tórax hiperinsuflado,
como uma doença crônica caracterizada fase expiratória da respiração prolongada,
fisiopatologicamente por inflamação, além de diminuição da expansibilidade
obstrução (hiper-reatividade) e acúmulo de pulmonar, hiperssonoridade à percussão e
secreções nas vias aéreas. Isto ocorre em crises diminuição do frêmito tóraco vocal (FTV) e do
e tem a característica de ser reversível. murmúrio vesicular (mv).
O termo bronquite asmática ou asma Graus variáveis de dispnéia e taquipnéia até
brônquica são sinônimos. Alguns autores sinais francos de insuficiência respiratória com
consideram bronquite asmática quando o tiragem intercostal, respiração paradoxal,
paciente está em crise e asma brônquica cianose central, confusão mental e perda da
quando fora da crise, mas na prática é a consciência por hipóxia severa, podem estar
mesma coisa. Para evitar esta confusão hoje presentes.
em dia se diz apenas asma. O leigo às vezes diz
“quando eu era criança tinha crises de Vale a pena lembrar que quando a obstrução
bronquite”, o que provavelmente significa: “na das vias aéreas é muito intensa, durante a
infância tive crises de asma”. ausculta pulmonar pode-se não auscultar
nada, situação esta conhecida como “tórax
silencioso”. Portanto, a quantidade de sibilos
Quem tem a doença? não é parâmetro de gravidade.
A asma atinge entre até 10% da população. Outra observação prática nas crises mais
Geralmente se manifesta antes dos 6 anos de intensas é perceber que o paciente fica
idade, podendo desaparecer na adolescência. “monossilábico”, ou seja, a dificuldade
Já quando a asma se manifesta primariamente respiratória é tão intensa que não consegue
na fase adulta deve-se pensar em asma completar uma palavra.
ocupacional. Embora difícil de verificar devido à intensa
É comum o paciente ou a família terem dispnéia, a presença do pulso paradoxal (ou
história de atopia, de maneira que deve-se de Kusmaul denota uma grave obstrução das
questionar sobre eczema e alergias sazonais. vias aéreas) e caracteriza-se por uma queda da
Quando um parente de 1º grau tem asma, a pressão arterial diastólica ≥ 15 mmHg no final
chance de ter a doença é de até 40%, já se dois da expiração.
parentes a tiverem, a chance é de 80%. A Por último, nunca é demais salientar que
história familiar pela parte materna é mais quando o paciente está entre as crises, não
forte. apresenta nenhuma alteração no exame físico.

Quais são seus sintomas?


Como faço o diagnóstico?
Os sintomas são variáveis e intermitentes,
sendo piores pela manhã. Na crise, o paciente Normalmente a história clínica norteia bem o
diagnóstico (uma história de intervalos
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assintomáticos e gatilhos precipitantes,
documentado por sibilos expiratórios na
ausculta pulmonar), mas de vez em quando
temos que recorrer para a espirometria
(avaliação dos volumes pulmonares), a qual
mostrará um padrão obstrutivo (a relação do
volume expiratório forçado no primeiro
segundo pela capacidade vital forçadamenor
que 70 - VEF1/CVF < 70%) com uma melhora
importante após o uso de broncodilatador (>
12% ou 200ml tanto no VEF1 ou na CVF).
O volume expiratório forçado no primeiro Volumes pulmonares na espirometria
segundo (VEF1) é a medida de função
pulmonar mais útil clinicamente e é verificada
na espirometria. O VEF1 nada mais é do que a
quantidade máxima de ar que se pode exalar
com força em um segundo (em litros). A seguir
é convertido em uma porcentagem do normal,
variando conforme sexo, altura, peso e raça.
Assim podemos ter:
VEF1 ≥ 80% do previsto = normal
VEF1 60% a 79% do previsto = obst. leve
VEF1 40% - 59% do previsto = obst. moderada
VEF1 < 40% do previsto = obstrução grave
No entanto, lembrar que a espirometria pode
ser perfeitamente normal se o paciente estiver
entre uma crise e outra. Nestes casos, pode-se E o peak-flow?
recorrer ao teste de broncoprovocação com A avaliação do pico de fluxo expiratório (PFE)
metacolina (agonista muscarínico que ou do inglês “peak flow” realizado pelo próprio
ocasiona contração da musculatura lisa do paciente (realizada soprando com toda força
brônquio ocasionando broncoconstrição). Uma através de um pequeno aparelho plástico
queda do VEF1 de 20% do valor basal é portátil, que apresenta uma escala para
considerada positiva. Como este teste tem um registrar a força do sopro), pode também
elevado valor preditivo negativo, devemos auxiliar no diagnóstico de asma. O valor ideal
formular diagnósticos alternativos quando for do pico de fluxo também vai variar de acordo
negativo. com a idade, sexo, altura e raça do paciente.
Uma variação de > 20% entre os peak-flows
verificados em momentos aleatórios (com o
paciente sintomático e assintomático) sugere o
diagnóstico.
Quando o PFE cai 20% ou mais após um
exercício físico de 30 minutos sugere a doença.
A melhora de 20% ou mais após o uso de
broncodilatador também é sugestivo. No
entanto, depende muito do operador e,
portanto, é mais utilizado na monitorização da
doença já estabelecida.

Espirometria
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pneumonia. Por outro lado uma gasometria
arterial mostrará grau variáveis de hipóxia
(↓PO2), dependendo da severidade da crise,
bem como diminuição do gás carbônico
(↓P C O 2 ) c o m c o n s e q u e n t e a l c a l o s e
respiratória devido a hiperventilação. No
entanto, a gasometria deve ser seriada pois se
houver piora da boncoconstrição poderá
ocorrer normalização do gás carbônico ou até
mesmo hipercapnia (↑PCO2) com consequente
acidose respiratória, agravando a crise.

Severidade da Crise

Ataque severo:
• Monosilábico
• FR > 25/min
• Pulso > 110bpm
• PFE < 50% do previsto

Ataque grave:
• PFE < 33% do previsto
• Tórax silencioso, cianose, esforço respiratório
• Bradicardia, ↓PA, exaustão, confusão e coma
• PCO2 normal ou alto (32mmHg)
• PO2 < 60mmHg ou SO2 < 92%
• pH < 7.35

Quais outras doenças podem simular


asma?
“Nem tudo que sibila é asma”. A asma é uma
doença que ocasiona sibilos bilaterais, pois o
processo inflamatório ocorre por igual em
ambos pulmões, no entanto existem doenças
que podem provocar sibilos unilaterais em
decorrência de uma problema mecânico
localizado em um segmento pulmonar como
no casos dos corpos estranhos nas vias aéreas e
neoplasias.
Por outro lado, também existem doenças que
Que outros exames podem ser úteis? podem mimetizar muito a asma já que
também ocasionam sibilos bilaterais como
Existem outros exames que podem ser úteis síndrome da angústia respiratória do adulto
quando atendemos um paciente em crise (geralmente secundário a sepse), edema de
asmática, porém não com intuito de pulmão (conhecido como “asma cardíaca”),
diagnosticar a doença e sim para afastar outras embolia pulmonar, pneumonites ou
doenças ou verificar o impacto da crise no pneumonias intersticiais, bronquiectasias,
paciente. Assim, temos por exemplo o raio x de bronquiolite obliterante, aspergilose,
tórax que ajuda a afastar pneumotórax e
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anafilaxia e doença pulmonar obstrutiva 1. MUSHLIN, S.B. and GREENE, H.L.
crônica. Decision Making in Medicine. Thirth
A chave para diferenciá-la com estas doenças Edition. Mosby - Elsevier, 2009
está no fato da asma ter a característica de ter 2. LONGMORE, M . et al. Oxford Handbook of
intervalos sem sintomas e fatores Clinical Medicine. Oxford University Press,
precipitantes. 2010
3. LeBLOND, R. F. BROWN, D. D. DeGOWIN,
Bibliografia: R. L. DeGowin’s Diagnostic Examination.
Mc Graw Hill. 9th Edition, 2008
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Leitura Complementar
Classificação da asma

A asma pode ser classificada em: intermitente e persistente (esta por sua vez em leve,
moderada e grave). Deve-se sempre classificar pelo pior parâmetro encontrado. Esta
classificação é útil para planejar um tratamento. Veja o quadro a seguir.

Gasometria Arterial:

A gasometria arterial serve para verificar basicamente duas coisas: se existe distúrbio
ácido-básico (visto pelo pH, HCO3 e CO2, nessa ordem) e o grau de oxigenação (PO2 e
SO2). São apresentados abaixo os valores normais de uma gasometria bem como a
equação de Hasselbach para auxiliar na interpretação.

VALORES NORMAIS
pH 7,40 ± 0,05
HCO3 (mEq/L) 24 ± 2
PCO2 (mmHg) 40 ± 2
PO2 (mmHg) 90 ± 10
SO2 (%) > 95

H + HCO3 ↔ CO2 + H2O


CLÍNICA: várias são as alterações clínicas que podem ser encontradas em pacientes com
distúrbio ácido básico. As repercussões podem ocorrer em vários aparelhos e sistemas
como verificado a seguir:
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SNC: alterações da consciência, distúrbios comportamentais, alteração dos reflexos


profundos,convulsões

Pulmão: hiperventilação

Coração: arritmias

Músculo-esquelético: astenia, tetania, câimbras

ACIDOSE METABÓLICA: Podemos ter acidose metabólica por “ganhar” hidrogênio (H) ou
perder bicarbonato (HCO3). Para auxiliar no raciocínio clínico devemos calcular a ânion
GAP.

ANION GAP = Na – (Cl + HCO3)


Normal =12 ± 4

GAP NORMAL (há “perda” de HCO3): ATR (defeito de acidificação); Drogas; Diarréia;
Drenagem do intestino delgado.

GAP AUMENTADO (há “ganho” de H): ↑ Ácidos orgânicos; Cetoacidose (diabética,


alcoólica); Acidose lática; Insuficiência renal; Drogas: AAS, álcoois.

ALKALOSE METABÓLICA: (há “perda” de K): Vômitos; Drenagem gástrica; Diuréticos;


Adenoma viloso do cólon; ↑ Aldosterona; Depleção de K grave; Correção abrupta de
hiperventilação.

ACIDOSE RESPIRATÓRIA: (há “ganho” de gás carbônico, ou seja, retenção de PCO2):


Trauma; TEP; EAP; Pneumonia; SARA; Broncoespasmo; Aspiração; Pneumotórax /
Hemotórax; Fibrose pulmonar; Esclerose múltipla; Miastenia; G. Barre; Poliomielite;
Esclerose lateral amiotrófica (ELA); Distrofia muscular; Hipotireoidismo grave (mixedema);
Obesidade mórbida; Drogas: sedativos, anestesia.

ALCALOSE RESPIRATÓRIA: (há “perda” de gás carbônico, ou seja, eliminação de PCO2):


Hipóxia aguda ou crônica; Exercício físico vigoroso; Insuficiência hepática; Ansiedade;
Febre; Hiperventilação mecânica; Trauma.

Ao ocorrer o distúrbio ácido básico primário, o organismo lança mão de mecanismos


compensatórios (às vezes chamado de distúrbio ácido básico secundário).

A seguir serão apresentados exemplos reais de gasometrias arteriais para você treinar o
seu diagnóstico. Qual é o distúrbio ácido básico? Qual é mecanismo secundário de
compensação?
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RESPOSTAS

1 = Distúrbio primário: alcalose respiratória, tentando compensar com uma acidose


metabólica (distúrbio secundário).
2 = Distúrbio primário: acidose metabólica, tentando compensar com uma alcalose
respiratória (distúrbio secundário).
3 = Distúrbio primário: acidose respiratória descompensada.
4 = Distúrbio primário: alcalose metabólica, tentando compensar com uma alcalose
respiratória (distúrbio secundário).

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