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C. 2.

A reflexão exterior

§1: Diferença entre reflexão absoluta e reflexão real.

A reflexão absoluta é o movimento infinito, circular, da negatividade pura, sem substratos. A


reflexão real é a relação com a pura positividade de um substrato ôntico, de modo que nela
parece excluída toda negatividade autorrelacional.

Por que é preciso passar da reflexão absoluta (unidade de reflexão ponente e reflexão
pressuponente) para a reflexão real?

Porque na reflexão absoluta, desapareceu e ficou não elaborado o momento da diferença e da


alteridade de reflexão e imediatidade. Portanto, para a reflexão ser autenticamente absoluta,
ela tinha de passar através da relação de diferença entre reflexão e imediatidade pressuposta.
Assim, do movimento sem substratos da reflexão pura resulta a relação de alteridade entre a
imediatidade determinada como substrato e a reflexão. A reflexão absoluta pressupõe
necessariamente um substrato que é e se torna reflexão real no sentido da categoria da
realidade da Lógica do ser, na medida em que ela se suprassume no pressupor do próprio
negativo. O subsistir da imediatidade pressuposta frente à essência é certamente uma
aparência, mas tal imediatidade adquire independência em sua função de substrato contraposto
à essência.

Colocar a questão sobre como a duplicação (Verdoppelung) da reflexão se realiza e qual forma
ela assume (uma vez é o pressuposto...outra vez é a reflexão que se relaciona consigo como
negativa).

O status lógico da reflexão externa é caracterizado por dois momentos.

Em primeiro lugar, a reflexão exterior se relaciona ao imediato pressuposto de modo que este
aparece como o não-ser dela. A diferença entre reflexão e imediatidade pressuposta é
constitutiva da reflexão exterior. (ver §2).

Em segundo lugar, essa diferença, se considerada de perto, não é uma diferença absoluta, pois
a reflexão absoluta produz, em sua autossuprassunção, essa relação externa entre reflexão e
imediatidade pressuposta. A reflexão exterior é o produto do tornar-se externo a si da reflexão
absoluta. (ver §4).

§2: A lógica da pressuposição da reflexão exterior

O pressupor é uma implicação do pôr, enquanto esse suprassume a si mesmo. A passagem da


reflexão ponente para a reflexão exterior se produz pelo fato de que o pôr abstrai de si mesmo
no próprio ato do pôr. A abstração é uma negação. A reflexão exterior, enquanto negação
duplicada autorrelacional, nega sua estrutura negativa autorrelacional. A reflexão exterior é
caracterizada pelo fato de que ela não põe o imediato, mas o pressupõe. A abstração da
atividade posicional significa que a reflexão exterior não é mais totalmente o pôr de sua
determinidade, mas o pressuposto se subtrai de sua potência, de seu pôr. Assim é apagado o
fato de que o pressuposto é um posto, ou seja, um produto da própria reflexão. Na
pressuposição, a reflexão ponente abstrai do fato de que ela pressupõe a si mesma no ato de
pôr o imediato. Nisso está a transição do pressupor (Voraussetzen), que ainda é um momento
da reflexão ponente, para a pressuposição (Voraussetzung), no qual a imediatidade pressuposta
se despojou da aparência de ser apenas momento da própria reflexão.
A reflexão toma seu início no imediato pressuposto (determinado como substrato, como ser
real, positivo, independente da mediação). Mas esse início da reflexão exterior é apenas um
início aparente.

A aparência do início com a imediatidade pressuposta consiste na absoluta ausência de


mediação dessa pressuposição. No curso da reflexão exterior, mostra-se que a aparência do
início com a pressuposição é destruída enquanto se torna claro que como a pressuposição,
enquanto reflexão, surge pela reflexão, é um momento da reflexão. O objetivo da lógica da
reflexão exterior é apresentar como a reflexão se reencontra no outro de si mesma.

A composição dos conceitos de “iniciar” e de “retornar a si” aparece contraditória em relação


ao conceito especulativo de reflexão, segundo o qual o início só pode ser encontrado no retorno.
O verbo “vorfinden” (encontrar) indica um ser, que tem subsistência sem a reflexão que o
encontra aí. Assim esse verbo ressalta o aspecto de estranheza do início com respeito à reflexão.
A reflexão exterior é um movimento que tem seu início em um negativo dado, no ser, que
aparentemente não é constituído pela reflexão. Somente a partir daí ela é movimento do
retornar a si e “o negar desse seu negativo”. Mas como a reflexão que encontra algo pode, a
partir do que encontra, ser retorno a si, se o retornar é, na verdade, a metáfora para um
movimento dobrado sobre si mesmo, que nega a aparência do início na medida em que ele
unicamente o produz. Pois, se a reflexão é retorno, então o início do movimento tem de ser
igualmente reflexão, apesar do início primeiramente encontrado no outro. Portanto, a
pressuposição peculiar à reflexão exterior tem de comprovar, em última instância, como
reflexão.

A pressuposição permanece uma forma estável do outro. A reflexão exterior pode retornar a si
somente de tal maneira que ela inicia de um outro, que, apesar do retorno a si da reflexão,
permanece conservado como pressuposição. Enquanto retorno para dentro de si, a reflexão é,
decerto, “o negar desse seu negativo”, mas a determinação da alteridade e exterioridade da
pressuposição não é tocada por esse negar. Com isso, produz-se uma situação da negação
duplicada autorrelacional, mas no contexto da reflexão exterior e no terreno da relação de
alteridade. A reflexão exterior, enquanto retornar a si, preenche ambas as condições do
conceito de reflexão, o repelir-se de si e o retornar a si. Além disso, ela é pôr, mas seu pôr
acontece sob as condições do subsistir de uma pressuposição (aparentemente) ineliminável.

A contraposição entre reflexão exterior e imediatidade pressuposta tem uma estrutura análoga
à contraposição conforme o entendimento entre infinito e finito na “esfera do ser”.

Os §§3-4 produzem a passagem da reflexão exterior para a reflexão determinante.

§3: O silogismo da reflexão exterior

O significado da aplicação do silogismo à categoria da reflexão exterior não é o recurso ilegítimo


à lógica (dialético-especulativa), mas o uso da figura tradicional de silogismo (que valia antes e
ao lado da teoria hegeliana do silogismo) para o esclarecimento da situação lógica da reflexão
exterior. Mais precisamente o silogismo contém seus momentos conceituais (seus termos) como
separados e os medeia na unidade do silogismo. A unificação dos diferentes se atua
fundamentalmente ao mesmo tempo que se mantém ou se conserva a diferença. Dois termos,
que para nós normalmente pertencem um ao outro, podem logicamente ser postos e m unidade
somente por meio da relação, a qual implica a separação, a exterioridade dos extremos. O papel
do termo médio se esgota na instauração da unidade de discretos.
O “termo maior” corresponde à “reflexão”. O “termo menor” corresponde ao “imediato”. O
termo médio corresponde à “relação de ambos, o imediato determinado”. O sentido do silogizar
(Zusammenschließen) é sintetizar, sem tornar homogêneos os extremos.

§4: Passagem da reflexão exterior para a reflexão determinante

Enquanto o §2 tematiza “primeiramente” a reflexão exterior enquanto reflexão que tem uma
pressuposição e lida com ela, o §4, “em segundo lugar”, faz com que “o atuar da reflexão
exterior” se desenrole a partir da perspectiva do pôr. Assim, contra a exterioridade, Hegel faz
valer o fato de que a reflexão exteriormente pressuponente é, de igual modo, essencialmente
pôr.

A análise do “pôr” no contexto do §4 se desenvolve em três fases:

a) O que significa que a reflexão externa, “considerada mais de perto”, é o “pôr do


imediato”, o qual “nesse aspecto, torna-se o negativo, ou seja, o determinado”?
b) No que se segue, Hegel fornece as condições lógicas que o “pôr” precisa preencher para
se tornar pôr da reflexão determinante: 1. Setzen des Unmittelbaren, das insofern das
negative oder Bestimmte wird” e 2. Unmittelbar auch das Aufheben dieses ihres
Setzens”. O pôr implica o pressupor.
c) Contudo, a essência do imediato pressuposto brota, simultaneamente, do próprio atuar
da reflexão. Com esse estágio, Hegel frisa o fato de que o pressupor implica o pôr.

O pôr implicado pelo pressupor é um pôr específico. Nele, a reflexão exterior se despoja de sua
própria exterioridade, isto é, de si mesma. O “pôr que nega a si mesmo” é um pôr excelente,
pelo qual a reflexão determina a si mesma como idêntica ao negativo, ao imediato, que ela
pressupunha. O pôr se torna o juntar-se consigo com seu negativo e no negativo. Esse juntar-se
constitui a “imediatidade essencial’. Portanto, a reflexão que nega a si mesma e a imediatidade
são ambas postas como idênticas no lado da imediatidade. A reflexão se relaciona não mais
exteriormente com sua pressuposição, mas está posta como a “reflexão imanente’ da própria
imediatidade.

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