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“Emotions during live music performance: links with individual differences in

empathy, visual imagery, and mood”

BALTES, Felicia R.; MIU, Andrei C. Emotions during live music performance: links
with individual differences in empathy, visual imagery, and mood. Psychomusicology:
Music, Mind, and Brain, v. 24, n. 1, p.58-65, 2014.

Recentemente as pesquisas acadêmicas em música se voltaram a um estudo específico


das performances ao vivo. No campo das “práticas interpretativas” já há diversas
pesquisas focadas no intérprete e nas diferentes interações entre o intérprete,
instrumento, outros intérpretes e o público; por outro lado também é uma grande
preocupação da área entender o que o público da performance ao vivo pensa, sente e
escuta.
O texto de Baltes e Miu propõe estudar as diferenças individuais de cada ouvinte,
especificamente em três aspectos da experiência musical: empatia, imagens visuais, e
humor, e se esses aspectos influenciam a experiência de uma ópera ao vivo.
O texto é permeado de referências, oferecendo amplo embasamento teórico para as
afirmações e alinhando as propostas e resultados da pesquisa com o cenário acadêmico
da área. Para situar o leitor os autores introduzem o texto com um panorama acadêmico
das pesquisas em empatia, imagens visuais e humor (p.58-59) de maneira resumida e
eficiente, como pode ser visto nos parágrafos sobre humor1 e a situação da escuta
musical2.
O experimento contou com 120 participantes que observaram uma ópera ao vivo3 em
uma língua estrangeira (a ópera foi cantada em italiano com legendas projetadas em
romeno, língua falada pelos participantes). Vale notar que os participantes também
conviveram ao longo da ópera com ouvintes “leigos” que não participaram da pesquisa
em um ambiente de pouco controle como os autores concordarão mais tarde.
As medidas foram auto-reportadas através de quatro formulários diferentes: emoções
induzidas pela música foram avaliadas usando a versão longa de GEMS, um formulário
de 45 rótulos emocionais, depois agrupados em 9 emoções, e finalmente definidos em 3
grandes grupos de emoção: sublimidade, vitalidade e desconforto 4; o traço de empatia
foi avaliado com o Questionário de Empatia de Toronto (TEQ); as imagens visuais
foram avaliadas com o Questionário de Vividez de Imagens Visuais (VVIQ); e a
influência do humor foi avaliada com escalas de afeto geral do formulário expandido do
Formulário de Afeto Positivo e Negativo (PANAS). O TEQ e VVIQ foi preenchido
antes da ópera para contextualizar as capacidades de empatia e imagens visuais dos

1
“humor negativo elimina a preferência típica de músicas felizes sobre músicas tristes e faz ouvintes
perceberem mais tristeza em músicas emocionalmente ambíguas” (p.59)
2
“reatividade emocional à música pode ser também influenciada por pelo menos dois aspectos da
situação de escuta musical: a presença de outros e a ambientação da localização” (p.59)
3
A ópera em questão era “Madama Butterfly” de Giacomo Puccini.
4
Respectivamente “sublimity”, “vitality” e “unease” na língua original.
participante; o PANAS foi preenchido uma hora antes da ópera para examinar o humor
dos participantes e o GEMS foi preenchido logo após cada ato da ópera (p.60).
O texto expõe os resultados do experimento com três tabelas: a tabela 1 mostra as
emoções e “calafrios” mais marcados no GEMS a cada ato da ópera; a tabela 2
correlaciona as variáveis analizadas (empatia, imagens visuais, influência de humor
positivo e negativo, idade e sexo dos participantes); e a tabela 3 relaciona as mesmas
variáveis da tabela 2 com a tabela 1 de sublimidade, vitalidade, desconforto e calafrios
(p.61-62).
Na seção de resultados dos experimentos, os autores descrevem detalhadamente as
relações mais proeminentes entre as variáveis e conclui que “os resultados suportam a
hipótese sobre as relações entre diferenças individuais em empatia, imagens visuais, e
humor de um lado, e reatividade emocional à ópera por outro lado” (p.63).
É importante mencionar que o texto reconhece a falta de controle sobre variáveis do
experimento, ocorrido em uma ópera com distrações diversas aos participantes, ao
mencionar:
Especulações das contribuições relativas de expressões musicais e não
musicais para a experiência emocional de espectadores de ópera devem ser
tratados com cuidado até forem propriamente testados em estudos em
laboratórios, aonde a exposição a diversos tipos de informação podem ser
controlados. (BALTES e MIU, 2014, p.63).

O texto também não se propõe a estudar com precisão quanto cada aspecto definido
influencia na escuta musical (seja ele empatia, imagens visuais, ou humor), ao invés
disso ele estuda quais aspectos influenciam e quais aspectos não influenciam. É uma
nova perspectiva no estudo de emoções na experiência musical de óperas e talvez da
experiência musical em geral.
Outra lacuna no texto é a separação entre o aspecto teatral e musical da experiência,
visto que uma ópera inclui performance musical e cênica, contando ainda com cenários
e diversas outras informações visuais muito além da música, além do texto e do caráter
narrativo do libreto da ópera. O texto descreve o caráter narrativo e “emocional” de
cada ato da ópera com um breve resumo de cada ato, porém o quanto dos resultados
provém da experiência narrativa e não da experiência musical é incerto.
Assim, é uma importante contribuição para o estudo psicológico e cognitivo de emoções
em música, porém o grande número de variáveis envolvidos no estudo confunde um
pouco o leitor. Os autores concluem: “Nós esperamos que esses resultados darão um
novo ímpeto a futuros estudos do campo de emoções em música, incluindo ópera.”
(p.64).

João Gabriel Caldeira Pires Ferrari é mestrando em Música pela Universidade


Federal do Rio de Janeiro.

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