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UTILIZAÇÃO DE CONCRETO PRODUZIDO A PARTIR DE CINZA NA

CONSTRUÇÃO DE CANAIS PARA TRANSPORTE DE VINHAÇA NA INDÚSTRIA


DE CANA DE AÇÚCAR.

Maria Aparecida Tommaselli Chuba Machado¹; João Carlos Borges Carmona²


UFGD-FAEN, C. Postal 533, 79.804-970 Dourados-MS, E-mail: mariatomaseli@gmail.com
¹Professora Adjunta IV FAEN/UFGD. ²PIVIC/UFGD/CNPq

RESUMO
Nos últimos anos o setor sucroalcooleiro nos tem passado por uma grande expansão gerando
uma produção desordenada de subprodutos, o que preocupa o setor, porém também é setor
admirado pelo alto nível de aproveitamento e agregação e valor aos seus subprodutos. A
geração de energia através da queima do bagaço cana-de-açúcar se tornou de grande
importância para setor sucroalcooleiro, mas causa problemas ambientais com o uso incorreto
das cinzas, resíduo gerado por ela. As cinzas possuem características pozolânica, podendo ter
uso na produção de cimento e concreto. A vinhaça é outro subproduto da produção de açúcar
e etanol, gerado em maior quantidade e que apresentou durante muito tempo fortes ameaças
ambientais devido seu alto potencial poluente e nutricional, o qual viabilizou sua maior
aplicação atual na fertirrigação.

Palavras-Chave: Resíduos, Vinhaça, Bagaço, Cana-de-açúcar, Cinzas

INTRODUÇÃO

O setor sucroalcooleiro faz do Brasil o principal produtor de cana-de-açúcar e de


álcool e um dos principais produtores de açúcar, proporcionando portanto ao Brasil
colocações prestigiáveis na produção mundial. Devido à expansão da produção da cana-de-
açúcar aumentando a área cultivada, a indústria canavieira gera atualmente um grande volume
de resíduos, destacando o bagaço, água de lavagem da cana, torta de filtro, levedura, palha,
cinza e vinhaça. Com a importância da geração de energia através da queima do bagaço da
cana-de-açúcar, passou-se a buscar outras alternativas para as cinzas geradas nas usinas
(SANTOS, 2013).
Diante do grande aumento da produção de resíduos agrícolas, várias pesquisas e
estudos buscam alternativas de emprego como matéria prima para outros setores produtivos
proporcionando uma destinação ambientalmente adequada do resíduo além de agregar valor.
Para caso da cinza do bagaço da cana estuda-se diminuir o volume de cimento com a sua
adição parcial na produção de cimento e concreto, uma vez que possui características
pozolônicas (material utilizado na construção civil), possibilitando a formação de compostos
aglomerantes (DAFICO et al., 2003 apud FREITAS, 2005).
Outro importante resíduo da produção de açúcar e álcool é a vinhaça, gerada em
grande quantidade. Grande também é a preocupação quanto sua destinação visto os impactos
negativos que esta pode ocasionar quando descartada inadequadamente no meio por ser
altamente poluente e corrosivo. Por essas razões são estudados alternativas de uso e transporte
desse efluente de forma a eliminar os riscos ambientais e gerar economia (MARQUES, 2010).
Segundo MARQUES (2010) atualmente a fertirrigação com a vinhaça é a prática mais
utilizada pelas usinas brasileiras como destinação deste efluente conferindo resultados
positivos no que diz respeito à produtividade agrícola além de gerar economia e uma série de
outros benefícios, porém ainda pode causar impactos negativos quando realizada sem
controle.
Este trabalho tem como objetivo fazer uma revisão bibliográfica para verificar a
utilização da cinza do bagaço da cana-de-açúcar na produção de concreto a partir da
substituição parcial da areia como agregado miúdo, assim como uma nova aplicação para a
vinhaça visando a diminuição dos problemas ambientais causados pelo descarte inadequado
desses resíduos além de gerar economia.

SETOR SUCROALCOOLEIRO

O setor agroindustrial da cana-de-açúcar apresenta grande importância para a


economia do Brasil, sendo o responsável por cerca de 60% da produção de etanol do mundo,
estando entre os maiores produtores de açúcar e o maior produtor mundial de
Em 2013 foram produzidas aproximadamente 600 milhões de toneladas de cana, os quais
resultou em um montante de 22 bilhões de litros de etanol. (OLIVEIRA, 2013)
Na década de 70, com o Proálcool (Programa Nacional do Álcool), que tinha como
objetivo a mistura do álcool anidro na gasolina, houve uma grande expansão do setor com
aumento da área de plantio da cana de açúcar e da produção de etanol e açúcar. Espera-se
ainda que a produção dobre de volume na próxima década, contribuindo cada vez mais com a
economia brasileira e o prestigio do Brasil na produção mundial. As regiões produtoras são
Sudeste, Centro-Oeste, Sul e Nordeste, possuindo duas safras anual, proporciona a produção
de açúcar e etanol durante todo o ano colocando o Brasil em destaque mundial (SILVA, 2011)
De acordo com SANTOS (2013) atualmente a área destinada ao cultivo de cana-de-
açúcar no Brasil ultrapassa os 8 milhões de hectares, aproximadamente 2,5% de toda a terra
cultivável do Brasil, sendo o estado de São Paulo o principal produtor de açúcar e etanol, com
cerca de 51,82% da produção brasileira ultrapassando os 4 milhões de hectares destinado ao
cultivo da cana-de-açúcar, seguido por Goiás com 740 mil hectares (9%), Minas Gerais com
720 mil hectares (8%)), Paraná com 600 mil hectares (7%), Mato Grosso do Sul com 555 mil
hectares (6,5%), Alagoas com 448 mil hectares (5%) e Pernambuco com 309 mil hectares
(3%), nos demais estados produtores, as áreas de cultivo de cana-de-açúcar representam
menos de 3% da área nacional.

RESÍDUOS GERADOS PELO PROCESSO PRODUTIVO DA CANA-DE-AÇÚCAR

O processo de transformação da cana em açúcar e álcool se dá pelas etapas de


lavagem, moagem, extração do caldo, clarificação, concentração e centrifugação do caldo
obtendo o açúcar comercial e o mel, o mel passa por uma etapa de cozimento a vácuo a fim de
se obter o açúcar restante resultando no mel final ou melaço, o mosto de melaço segue para a
fermentação nas dornas o qual forma o vinho, que é centrifugado para recuperação das
leveduras e enviado para as colunas de destilação para produção do etanol (SANTOS, 2013).
Segundo SANTOS (2013), são geradas grandes quantidade de resíduos ou
subprodutos durante as etapa do processamento da cana, os principais são a água de lavagem
obtida na etapa de lavagem dos colmos de cana, o bagaço obtido durante a extração do caldo
na moagem da cana-de-açúcar, a torta de filtro resultante da etapa de clarificação do caldo, as
leveduras utilizadas na fermentação do caldo e a vinhaça obtida no processo de destilação do
vinho (caldo fermentado).
A maioria desses resíduos são novamente empregados dentro do processo produtivo,
como subprodutos. A água de lavagem é reutilizada na fertirrigação das lavouras e para a
produção de biogás, a torta de filtro é reaproveitada como fertilizante, a levedura pode ser
recuperada e novamente utilizada no processo de fermentação ou pode ser utilizada como
ração animal, o bagaço pode ser empregado na produção de energia (vapor/eletricidade),
combustível (natural, briquetado, peletizado, enfardado), hidrólise (rações, furfural, lignina),
polpa de papel, celulose e aglomerados e a vinhaça é utilizada como fertilizante na adubação
dos canaviais (SANTOS, 2013).

VINHAÇA

A vinhaça constitui o principal subproduto da agroindústria canavieira, sendo o


subproduto gerado em maior quantidade. Apresenta um alto potencial poluidor e fertilizante
devido a presença de diversos nutrientes em sua composição que varia conforme a cana
processada e o processo de geração, mas em geral é composta em grande parte por matéria
orgânica e em nutrientes minerais como o potássio (mais abundante) o cálcio, magnésio,
enxofre (MARQUES, 2010).
Segundo dados da ÚNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), a produção atual
de etanol é de aproximadamente 27 bilhões de litros e estatísticas apontam que são gerados
cerca de 13 litros de vinhaça para cada litro de álcool produzido indicando portanto um
montante de aproximadamente 300 bilhões de litros de vinhaça.

APLICAÇÕES DA VINHAÇA

Até a década de 1970 a vinhaça era despejada diretamente nos corpos hídricos,
causando impactos ambientais e colocando em risco a saúde humana o que gerou preocupação
que foi intensificada a partir do grande aumento da produção sucroalcooleira nesta mesma
década, preocupação que impulsionou, em 1978 a proibição legal por meio de uma portaria do
Ministério do Interior do lançamento direto ou indireto da vinhaça e em qualquer corpo
hídrico (SILVA, 2011).
Com a proibição do lançamento deste resíduo em rios e mananciais, outros destinos
tiveram que ser encontrados para a disposição da vinhaça, utilizando inicialmente as
chamadas áreas de sacrifício, que eram áreas de inundação, despejando a vinhaça para
permitir sua infiltração no solo, sem nenhum controle, sendo também inviável do ponto de
vista ambiental uma vez que tornava o solo inutilizável para uso agrícola futuro além de
causar a poluição das águas subterrâneas. Diante desses fatos e do enorme volume de vinhaça
produzido, os esforços se concentraram na busca por novas possibilidades tecnológicas para
uma destinação adequada da vinhaça e então durante a década de 80 a fertirrigação se
apresentava como a alternativa mais promissora e amplamente difundida, trazendo diversos
benefícios quando utilizada de forma racional, sendo atualmente utilizada por praticamente
todas usinas (OLIVEIRA, 2013).
Atualmente outras tecnologias já estão sendo utilizadas pelos grandes grupos do setor
sucroenergético, seja substituindo as técnicas anteriormente expostas ou complementando-as.
As duas principais alternativas à fertirrigação já usadas em escala industrial no setor são a
biodigestão e a concentração (CRUZ, 2011).
De acordo com CRUZ (2011) através da biodigestão anaeróbia pode-se obter também
biogás a partir da vinhaça. A principal vantagem dessa tecnologia é o baixo consumo de
energia, a pequena produção de lodo (descarte), a grande eficiência na diminuição da carga
orgânica, baixo potencial poluidor, sendo que o biogás produzido poderá ser empregado no
processo de produção de energia, o qual possui grandes benefícios dentre os quais geração
descentralizada e próxima aos pontos de carga, a partir de uma fonte renovável que vem
sendo tratada como resíduo; possibilidade de receita extra, proveniente da energia gerada com
biogás e vendida às concessionárias; redução na quantidade de eletricidade comprada da
concessionária; possibilidade de uso de processos de cogeração; redução das emissões de
metano para a atmosfera, pois este também é um importante gás de efeito estufa; créditos de
carbono; redução de odores dentre outras. Porém existem alguns desafios a serem superados
que impedem a ampla utilização do biogás como a não disponibilidade de tecnologias
estabelecidas de geração a partir de vinhaça; limpeza do biogás; viabilidade econômica; falta
de fiscalização; e penalidades por possíveis danos ambientais.
Ainda segundo CRUZ (2011) A concentração da vinhaça é a tecnologia que reduz a
quantidade de água presente neste subproduto, reduzindo portanto consideravelmente o seu
volume e consequentemente os custos relacionados a transporte e aplicação na fertirrigação.
Essa tecnologia proporciona uma maior flexibilização na logística para aplicação através da
fertirrigação, possibilita a aplicação da vinhaça sob outras formas como ração animal,
combustível para caldeiras especiais e posterior geração de energia, e pode proporcionar
também redução do potencial de captação de água pela usina, ao utilizar o condensado
retirado da vinhaça no sistema produtivo.

VANTAGENS E DESVANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DA VINHAÇA

De acordo com KYOTOKU (2011), na fertirrigação a aplicação da vinhaça é feita in


natura diretamente no solo. Os benefícios trazidos por ela podem ser tanto diretos, através da
redução no custo com a adubação, quanto indiretos, uma vez que contendo os nutrientes
essenciais para o desenvolvimento das lavouras aumentam a fertilidade natural dos solos onde
é aplicado, repondo estes nutrientes ao solo, aumentando a produtividade agrícola e
substituindo o uso de adubos minerais. Ainda eleva o pH do solo, aumenta a disponibilidade
de alguns nutrientes e imobiliza outros, eleva a população microbiana, o poder de retenção de
água e melhora a estrutura física do solo. A vinhaça tem origem orgânica, sem a presença de
metais ou outros contaminantes não havendo portanto restrição quanto ao seu uso agrícola.
Porém CRUZ (2011) ressalta que a utilização indiscriminada, continua, sem controle e
em excesso da vinhaça pode trazer efeitos negativos para o ambiente no qual é aplicado. Pode
ocorrer uma elevação na concentração de sais no solo e potencial risco de salinização com a
aplicação ao longo dos anos. O fosfato e o nitrato, existentes em grandes concentrações na
vinhaça, se destacam como possíveis contaminantes de águas superficiais e subterrâneas.
Agrega-se a este potencial poluidor, as altas concentrações de potássio existentes na vinhaça
que, apesar de não ser um poluente direto, favorece a formação de complexos químicos com
compostos potencialmente poluidores das águas, como é o caso do nitrato, sendo facilmente
lixiviado para as águas subterrâneas, provocando contaminação tanto do solo quanto do lençol
freático.
O alto poder poluente da vinhaça, cerca de 100 vezes maior que o esgoto doméstico, é
em decorrência da grande quantidade de matéria orgânica, alta demanda bioquímica de
oxigênio (DBO), baixo pH, elevada corrosividade e elevada temperatura na saída dos
destiladores, sendo portanto considerada altamente nociva ao meio ambiente (PEREIRA,
ALQUINI e GUNTHER, 2009).

TRANSPORTE DA VINHAÇA ATÉ A LAVOURA

Segundo CRUZ (2011) a vinhaça é transportada das usinas até a lavoura por meio de
sistemas dutoviários (tubulações), canais ou caminhões tanque. De início a aplicação de
vinhaça era realizada por sulcos de infiltração, posteriormente passou a se usar um carretel,
onde a mangueira é enrolada no mesmo. Nos sistemas dutoviários a vinhaça é transportada
por tubulações com estações de bombeamento. Este tipo de transporte possui alto custo para
implantação e dificuldade de encontrar espaço, em contrapartida apresenta baixo custo de
operação e seu transporte não é prejudicado pelas chuvas. O transporte por caminhões tanques
requer estradas em bom estado, frotas de veículos, sistematização dos talhões sem barrancos e
obstáculos para viabilizar a entrada dos veículos, possui elevado custo de operação com custo
de combustíveis devido às longas distancias para o transporte, apresentando como vantagem a
facilidade de deslocamento no canavial, conseguindo passagem de modo mais fáceis entre o
mesmo.

LEGISLAÇÃO AMBIENTAL SOBRE A UTILIZAÇÃO DA VINHAÇA

Segundo PEREIRA et al (2009), o Brasil não possui política nacional específica à


disposição de resíduos, que inclua os resíduos agrícolas, mas possui um conjunto de leis e
normas tanto no âmbito estadual como Federal que cuidam da manutenção do meio ambiente
assim como da integridade dos recursos naturais, sendo aplicadas também para a disposição
da vinhaça.
Neste sentido tem-se as Leis Federais 9.605, de 12/02/98 e a 7.960, de 21/12/89 que
discorre sobre condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, a lei n° 6.938, de 31/08/1981,
conhecida como Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) fiscaliza o uso dos recursos
ambientais, a lei n°9.433 de 08/01/1997 que estabeleceu a Política Nacional de Recursos
Hídricos (OLIVEIRA, 2013), e a lei 4.771 de 15/09/65 (código florestal), estabelece o limite
mínimo de cobertura vegetal natural e das larguras mínimas das faixas de mata ciliar, não
permitindo que grandes plantações cheguem próximos às margens de rios, córregos,
mananciais ou qualquer corpo d’agua, limitando assim o plantio de canaviais e, indiretamente,
a aplicação da vinhaça nessas áreas (PEREIRA et al, 2009).
Segundo OLIVEIRA (2013), criou-se a política de recursos hídricos no estado do
Mato Grosso do Sul em 2002 através da lei n° 2.406, de 29/01/2002, instituindo o Sistema
Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídricos. Mato Grosso do Sul não dispõe de
nenhuma legislação que exija a existência de poços de monitoramento em áreas de
fertirrigação para acompanhamento das aguas subterrâneas e do solo porém em 2012 foi
lançado um Termo de Referência para elaboração de estudo de impacto ambiental (EIA),
relatório de impacto ambiental (RIMA) e análise de risco de usina sucroalcooleira.
Especificamente em relação à vinhaça de acordo com PEREIRA et al (2009), estão em
vigor duas portarias do Ministério do Interior: a Portaria nº 323, de 29/11/78 e a Portaria nº
158 de 03/11/80. A primeira proíbe o lançamento direto ou indireto da vinhaça em qualquer
corpo hídrico e a segunda dispõe sobre o lançamento de vinhaça em cursos d’águas
especificamente por indústrias instaladas antes do estabelecimento da Portaria 323 que
comprovem não possuir áreas para aplicação e disposição deste resíduo.
São Paulo é o estado que possui um melhor aparato legal no que diz respeito ao uso da
vinhaça, sendo estabelecido uma norma específica para fertirrigação com vinhaça, a norma
P4.231: Vinhaça - Critérios e Procedimentos para Aplicação no Solo Agrícola, estabelecida
pela CETESB em 2005 orienta a aplicação, o transporte e o armazenamento de vinhaça,
padronizando a sua aplicação, sendo o documento mais completo e detalhado da aplicação
desse resíduo é obrigatória e por isso utilizada por vários outros estados além de São Paulo
onde é obrigatória. (PEREIRA et al, 2009).

CINZAS DO BAGAÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR

Segundo MANSANEIRA (2010), o bagaço é atualmente o subproduto de maior valor


agregado, sendo totalmente reaproveitado em diversas atividades desde a produção de
energia, biocombustível, papel, madeira, plástico até a indústria de cosméticos. Atualmente a
maior parte do bagaço é utilizado para produção de energia elétrica pelas usinas, cerca de
90% de todo o bagaço gerado no Brasil são utilizados como combustíveis nas caldeiras para a
geração de energia, respondendo pelas necessidades energéticas do setor sucroalcooleiro e
ainda gerando um excedente passível de ser comercializado para concessionárias de energia
ou outros setores.
Proveniente da extração de caldo pela moenda, tanto no processo de fabricação de
açúcar ou de etanol, o bagaço é produzido em grande escala pelo setor, estimando-se uma
razão de 250 kg para cada tonelada de cana moída, cerca de 30% da cana se resulta no bagaço
(SANTOS, 2013).
De acordo com SESSA (2013), o bagaço de cana atualmente representa o recurso com
maior potencial energético do país, estando previsto pela Agência Nacional de Energia
Elétrica (ANEEL) o desenvolvimento de vários projetos para produção de energia elétrica a
partir do processo de pirólise do bagaço de cana- de- açúcar.
Com a queima do bagaço há o surgimento de outro subproduto, as cinzas residuais.
Estima-se que são gerados cerca de 25 kg de cinzas para cada tonelada de bagaço queimado,
sendo portanto a produção atual de cana-de-açúcar aproximadamente 700 bilhões de
toneladas, são gerados anualmente em torno de 4 milhões de toneladas de cinza residual
(SESSA, 2013).

APLICAÇÕES DAS CINZAS DO BAGAÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR

Segundo SESSA (2013) atualmente grande parte das cinzas são descartadas em aterros
sanitários e outra parte é utilizada como fertilizante nas lavouras, mas não possuem nutrientes
minerais adequados para essa finalidade, além de possuir difícil degradação permanecendo
por um maior tempo sobre a superfície do solo.
De acordo com SANTOS (2013) as cinzas do bagaço da cana apresenta em sua
composição grande quantidade de dióxido de silício (SiO2), assemelhando-se à areia extraída
de rios. Este fato e a disposição de grandes quantidades deste resíduo sem nenhuma aplicação
útil tem incentivado a busca por soluções que possam agregar valor a este resíduo, dentre as
quais se destaca o emprego como aditivo mineral em sistemas cimentícios, substituição
parcial do cimento ou ainda em substituição do agregado miúdo. Os estudos ainda são
incipientes a cerca dessas aplicações para a cinza do bagaço, porém demonstram um grande
potencial, principalmente pela sua composição química contendo sílica como principal
composto, atribuindo características pozolânicas, podendo ter um vasto campo de aplicação
deixando de ser um resíduo e se tornando um subproduto com valor agregado.

VANTAGENS E DESVANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DAS CINZAS RESIDUAIS DO


BAGAÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR

Segundo SANTOS (2013) a cinza pode ser agregada ao concreto na obra, substituindo
parte do cimento ou da areia ou pode ser misturado a matérias primas na fabricação do
cimento, substituindo a argila ou moída juntamente com o clínquer. As vantagens são redução
do custo de produção, diminuição do valor de hidratação, resistências mecânicas finais
elevadas, maior resistências aos agentes agressivos.
A partir de estudos foi verificado que a substituição de até 20% de cinza do bagaço em
relação ao cimento Portland, resulta em uma alta resistência inicial, e melhoria na
durabilidade das estruturas de concreto. No caso das argamassas a substituição parcial da
cinza proporciona uma maior porosidade e uma maior absorção de agua quanto maiores os
teores de cinza adicionados. E a substituição parcial de 10% ao cimento, apresenta maiores
valores de resistência à compressão, maior resistência a ataques químicos de H2SO4 e menor
permeabilidade (MANSANEIRA, 2010).
Os benefícios da aplicação das cinzas residuais do bagaço da cana-de-açúcar no setor
de construção civil podem ser muitos, tanto técnicos como econômico e ambiental,
diminuindo a extração da areia dos leitos dos rios e a diminuição da necessidade de aterros
sanitários para dispor as cinzas. Atualmente são retiradas por ano cerca de 100 milhões de
toneladas de areia dos rios brasileiros e aproximadamente 4 milhões de toneladas de cinza são
produzidas a partir do bagaço da cana, correspondente a 4% do total de areia, aumentando
cada vez mais esse número com a crescente expansão das industrias sucroalcooleiras
(SOUTO, 2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente com o aumento da produção o setor sucroalcooleiro gera grandes


quantidades de resíduos fazendo com que haja uma busca incessante no tocante à reutilização
destes de forma a comtemplar uma correta destinação que elimine os riscos de impactos
ambientais além de gerar economia ao introduzi-los em outras atividades de setores
produtivos. Ao mesmo tempo busca-se otimizar o consumo dos recursos naturais como é o
caso do setor de construção civil na produção de concreto, visando reduzir a extração destes
recursos do meio ambiente.
Desta maneira, procurou-se estudar a viabilidade do uso da cinza do bagaço de cana-
de-açúcar como agregado miúdo na produção de concreto, em substituição parcial da areia,
verificando sua resistência quando exposto à vinhaça, subproduto com poder corrosivo, a fim
de constatar o potencial deste concreto na construção de canais para o transporte da vinhaça
até o campo. A partir dos estudos considerados é notório certos benefícios como melhorias
das propriedades físicas do concreto ao conferir plasticidade e trabalhabilidade no estado
fresco e das propriedades mecânicas no tocante à resistência à compressão e elasticidade,
além de também combinar grandes ganhos para o meio ambiente e redução de custos.

REFERÊNCIAS

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quanto ao aspecto de desenvolvimento ambiental e econômico. Tese (Doutorado) – Escola
de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2011.

MARQUES, F.J.A. Estudo de viabilidade econômica da implantação e operação de uma


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Hídricos e Saneamento – PPGRHS, UFAL, Maceió, 2010.

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KYOTOKU, A.C.B.C. APLICAÇÃO DO VINHOTO EM PROCESSOS DE


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CRUZ, L. F. L. S. Viabilidade técnica/econômica/ambiental das atuais formas de


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Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo,
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CIMENTO PORTLAND. Dissertação (Mestrado) - Pós-Graduação em Engenharia de
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TRANSPORTE DE VINHAÇA EM FERTIRRIGAÇÃO NA CANA-DE-AÇÚCAR.
Tese (Mestrado) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Unesp, Jaboticabal, 2009.

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