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Diocles Igor Castro Pires Alves

Liliane Pereira Barbosa

LINGUÍSTICA

LETRAS/PORTUGUÊS

3º PERÍODO
Diocles Igor Castro Pires Alves
Liliane Pereira Barbosa

LINGUÍSTICA

Montes Claros - MG, 2010


Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES

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2010
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Chefe do Departamento de Comunicação e Letras


Coordenadora do Curso de Letras/Português a Distância
Ana Cristina Santos Peixoto
AUTORES

Diocles Igor Castro Pires Alves


Especialista em Linguística Aplicada ao Ensino da Língua Materna.
Atualmente é professor do Departamento de Comunicação e Letras da
Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes.

Liliane Pereira Barbosa


Mestre em Linguística pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG.
Atualmente é professora do Departamento de Comunicação e Letras da
Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes.
SUMÁRIO

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
Unidade 1: Linguística Pré-Saussuriana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1 Na Antiguidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.2 Da Idade Média ao século XVI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.3 Do século XVII ao século XIX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.4 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Unidade 2: Movimentos Linguísticos do Século XX: polo
formalista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.1 Polo formalista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Unidade 3: Movimentos Linguísticos do Século XX: polo
pragmático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.1 Polo pragmático. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.2 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Referências básica, complementar e suplementar . . . . . . . . . . . . . . 55
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
APRESENTAÇÃO

Olá! Nesse semestre ocorre a segunda disciplina de estudos


linguísticos do curso, intitulada Linguística , e nosso propósito, agora, a partir
dos conhecimentos básicos adquiridos na disciplina anterior, é suscitar
discussão a respeito dos movimentos linguísticos que corroboraram para o
delineamento do objeto língua/linguagem.
Para tanto, refletiremos sobre as abordagens socio-históricas da
linguagem e seus efeitos no modo de o homem compreendê-la, enfocando
as correntes linguísticas, propostas a partir do século XX, e confrontaremos as
diversas tomadas de posicionamentos de estudiosos/pesquisadores da
língua ao longo da história.
É interessante já ressaltar que assim como a língua traz em si germes
de mudança, visto que ela é dinâmica, também o modo de entendê-la e/ou
de investigá-la é dado a mudanças. Dessa forma, várias foram as perspectivas
através das quais se tentou explicar e analisar o fenômeno da linguagem,
ainda que elas instaurem uma relação de confronto, de reforço e/ou de
complementação. Obviamente, cada prisma investigativo é,
inevitavelmente, marcado por fatores históricos, culturais, ideológicos,
sociais, entre outros, que acabam orientando o olhar do sujeito na atividade
analítica.
Ora, saber em que consistem tais correntes e identificar as possíveis
variações entre elas tornam-se imprescindíveis para aqueles que se
interessam pelos estudos linguísticos. Acreditamos que o quadro
configurado por tais movimentos linguísticos nos permite compreender a
língua de uma maneira mais engajada, coerente e aprofundada. Portanto,
mais adequada à demanda educacional da atualidade.
A nossa proposta, então, é apresentar os movimentos linguísticos,
buscando levar o leitor a perceber o objeto língua/linguagem de maneira
crítica e global, compreendendo-o não só por um viés, mas pela
multiplicidade de ângulos que lhe é peculiar.
Por fim, pretendemos cooperar para a sua formação, profissionais e
futuros profissionais da educação, elucidando conceitos, teorias e reflexões
que estejam focados no objeto língua/linguagem. Desejamos que tais
estudos possam de fato auxiliá-los nos trabalhos a serem empreendidos na
prática docente.

07
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

Objetivamos:

Ÿ realizar um levantamento crítico das ideias que dominaram e/ou


dominam a ciência Linguística;
Ÿ confrontar as circunstâncias socio-históricas com a emergência
de uma determinada corrente linguística;
Ÿ discutir os efeitos de uma dada corrente linguística para a
compreensão da atividade comunicativa;
Ÿ elucidar questões epistemológicas relacionadas aos movimentos
linguísticos do século XX.

A disciplina foi dividida em três unidades, as quais contêm


subunidades.

UNIDADE 1 – Linguística Pré-Saussuriana


1.1 Na Antiguidade
1.1.1 Na Índia
1.1.2 Na Grécia Antiga
1.1.2.1 No Período Alexandrino
1.1.3 Em Roma
1.2 da Idade Média ao século XVI
1.3 Do século XVII ao século XIX

UNIDADE 2 – Movimentos Linguísticos do Século XX: pólo formalista


2.1 Polo formalista
2.1.1 Estruturalismo
2.1.1.1 Estruturalismo europeu
2.1.1.2 Estruturalismo funcionalista
2.1.1.3 Estruturalismo norte-americano
2.1.2 Gerativismo

UNIDADE 3 – Movimentos Linguísticos do Século XX: pólo pragmático


3.1 Polo pragmático
3.1.1 Funcionalismo
3.1.2 Teoria dos atos de fala
3.1.3 Pragmática
3.1.4 Linguística textual
3.1.5 Análise da conversação
3.1.6 Análise do discurso
3.1.7 Sociolinguística
3.1.8 Neurolinguística
3.1.9 Psicolinguística

08
Linguística UAB/Unimontes

O texto está estruturado a partir do desenvolvimento das unidades e


subunidades. Você deverá perceber que as questões para discussão e
reflexão que acompanham os textos são muito importantes, bem como as
sugestões para ir ao ambiente de aprendizagem, ao fórum, acessar
bibliotecas virtuais na web, etc. As sugestões, informações, atividades e dicas
estão localizadas nos textos, aparecendo com os seguintes ícones:

B GC
ATIVIDADES GLOSSÁRIO E
A F
DICAS PARA REFLETIR

A leitura dos textos também é importante, pois eles indicam os


possíveis desenvolvimentos e ampliações para o estudo e a discussão, além
de, em determinadas ocasiões, serem os textos a que nos remeteremos
durante nossa abordagem nesse caderno. São recursos que podem ser
explorados por você de maneira eficaz, pois buscam promover atividades de
observação e de investigação que permitam desenvolver habilidades
próprias da análise linguística e exercitar a leitura e a interpretação de
fenômenos linguísticos e culturais. Ao planejar esse material, consideramos
que você se familiarizaria, paulatinamente, com a visão e os procedimentos
próprios da disciplina.

Agora é com você. Explore tudo, abra espaços para a interação


comunicativa com os colegas, para o questionamento, para a leitura crítica
dos textos, bem como para as atividades e leituras.

Boa viagem ao mundo da Linguística!

09
1
UNIDADE 1
LINGUÍSTICA PRÉ-SAUSSURIANA

A curiosidade faz parte da natureza humana; é intrínseca ao


homem. E, em relação à linguagem, não é diferente. Assim, questões como
“ por que falamos?”, “ como e para que falamos?”, “ como a língua é
estruturada?”, “ por que se fala de maneiras diferentes uma mesma língua?”
etc. são de interesse daqueles que se atraem pelo funcionamento da
língua(gem).
A partir de questionamentos como estes, elaboramos este Caderno
Didático, cujo objetivo principal é oferecer uma visão panorâmica dos
movimentos linguísticos a partir do século XX. Porém, para tanto, torna-se
necessário, antes de tudo, colocar as investigações linguísticas no seu
contexto histórico, a fim de que saibamos quais motivos e intuições do
passado serviram de bases a teorias e orientações atuais e possamos formular
uma série de propostas satisfatórias a respeito do que seja linguagem.
Em razão disso, nosso enfoque, nesta primeira Unidade, são as
investigações linguísticas no Ocidente, de Platão às propostas do século XIX.
Faremos referência a poucas investigações linguísticas ocorridas no Oriente,
apenas àquelas que interferiram no pensamento ocidental.
Essa primeira unidade, Linguística Pré-Saussuriana, foi organizada
com as seguintes subunidades:
1.1 Na Antiguidade
1.1.1 Na Índia
1.1.2 Na Grécia Antiga
1.1.2.1 No Período Alexandrino
1.1.3 Em Roma
1.2 Da Idade Média ao século XVI
1.3 Do século XVII ao século XIX

Mergulhemos nesse assunto tão instigante!

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Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

1.1 NA ANTIGUIDADE
DICAS

1.1.1 Na Índia
A Panini é creditado a
descoberta dos conceitos de Os hindus – povos da civilização oriental –, por razões religiosas,
fonemas, morfemas e raiz,
foram os primeiros povos levados a estudar sua língua - o sânscrito.
conceitos apenas entendido
por alguns linguistas ocidentais Preocuparam-se com os textos sagrados, reunidos nos Vedas, pois não
no século XVIII: fonema - queriam que sofressem alteração alguma no momento de serem cantados
unidade estrutural da língua
ou recitados durante os rituais religiosos. Acreditavam que essas alterações
falada, a sua mudança em uma
palavra conduz a um constituíam sacrilégios.
significado diferente; morfema Depois, os gramáticos – dos quais o mais célebre é Panini (século IV
- menor unidade estrutural da
língua que tem significado e
a.C) – dedicaram-se ao estudo do valor e do empréstimo das palavras do
raiz - forma mais simples de sânscrito e fizeram descrições fonéticas que são consideradas modelo no
uma palavra, que transmite a gênero. Por muito tempo esquecidas, foram elas descobertas pelos sábios
maior parte das informações
sobre o significado. Na
ocidentais nos fins do século XVIII e constituíram, como veremos ainda nessa
descrição da gramática unidade, o ponto de partida indispensável à criação da gramática
sânscrita, cuja visão era comparada.
normativa, Panini também
utilizou conceitos de A descoberta do sânscrito, no século XVIII, possibilitou aos
transformações e recursividade estudiosos ocidentais reconhecer a estrutura interna das palavras,
(conceitos utilizados por depreendendo suas unidades mínimas. Porém, cumpre ressaltar que os
Chomsky no século XX).
Fonte: http://pt.wikipedia.org estudos hindus eram puramente estáticos, relativos apenas ao sânscrito,
efetuados por homens totalmente destituídos de senso histórico, os quais se
limitavam a classificar os fatos sem procurar-lhes a explicação.

B GC 1.1.2 Na Grécia Antiga


GLOSSÁRIO E
A F
Os primeiros questionamentos no mundo ocidental feitos sobre a
lógos: palavra ou enunciado
visto como uma entidade lingua(gem) tentavam determinar se ela
significativa dirigida pelo era fonte de conhecimento ou a
pensamento racional. lingua(gem) era, simplesmente, um
léxis: palavra vista como forma.
Fonte: WEEDWOOD, Bárbara. meio de comunicação convencionado
História concisa da linguística. pelo homem.
São Paulo: Parábola, 2002.
E foi Platão (século V a. C.), o
primeiro estudioso da lingua(gem), em
seu livro Crátilo, quem escreveu sobre
essas indagações: Qual seria a origem
das palavras? Elas provinham da Figura 1: resquícios de arquitetura da
Grécia Antiga
natureza ou da convenção? Fonte: http://www.saberweb.com.br
Nesse diálogo Crátilo, três
personagens debatiam a questão: Crátilo (a língua espelha exatamente o
mundo), Hermógenes (a língua é arbitrária) e Sócrates (conciliador das duas
propostas anteriores). Estabeleceu-se, com isso, que a relação das palavras

12
Linguística UAB/Unimontes

com as coisas não era direta, mas indireta, entretanto, faltava ainda
determinar a natureza delas.
Aristóteles, um seguidor de Platão, propôs três etapas para a
descrição da relação palavras e coisas: “os signos escrito representam os
signos falados; os signos falados representam impressões na alma, e as
impressões na alma são a aparência das coisas reais“ (WEEDWOOD, 2002,
p. 27). Os estudiosos estoicos acrescentaram à sua pesquisa mais uma etapa
entre a fala e a impressão, o conceito (lógos), como sendo uma noção que
pode ser expressa por meio da língua.
Também surgiu o léxis, que não tinha que obrigatoriamente ter
significados. Com as pesquisas se aprofundando, os enunciados foram sendo
estudados cada vez mais em partes menores.
Platão foi o primeiro a classificar essas partes, numa perspectiva
funcional (sintática) e semântica, e não formal. Ele delimitou a ónoma
(nome) correspondente ao sujeito, e a rhema (palavra, frase), ao predicado
(verbo mais adjetivo).
Posteriormente, Aristóteles e os estóicos identificaram mais
algumas classes, porém pelo aspecto formal, como partes do discurso: o
sýndesmo (conjunção), unidade não possuidora de caso e que une o texto,
e o arthron (artigo), unidade possuidora de caso que distingue os nomes
em número e gênero.
Com os sucessivos estudos e pesquisas, essas classes foram ainda
mais refinadas: metoché (particípio), parte do discurso que recebe artigos,
casos (nominais) e flexões de tempo (verbais); antonomasía ou antonymia
(pronome), usada em substituição ao nome; próthesis (preposição) e
epírrhema (advérbio).
Todas as definições dessas nomenclaturas gramaticais, propostas
pelos gregos, foram pautadas nos aspectos de significado do enunciado
(caráter semântico).
Após essa fase da “nomenclatura”, o estudioso Apolônio Díscolo
(séc. II d. C.) fez um estudo mais profundo da sintaxe grega e propôs
diferentes níveis de linguagem: as mesmas regras de organização aplicam-se
“às unidades sonoras mínimas, às sílabas, às palavras e, de fato, aos
enunciados completos” (WEEDWOOD, 2002, p. 32). As suas ideias tiveram
uma participação indireta nos autores pré-modernos ocidentais em razão de
o grego ter sido ignorado pelo Ocidente entre os séculos VI e XV e o acesso a
seus estudos ter se dado por meio de traduções ou adaptações ao latim.
E uma das ideias gramaticais gregas filtrada pelos romanos nesse
período é a da “teoria da frase autosuficiente”, cujo problema de
interpretação/tradução fez com se limitassem a estudar a frase isoladamente.
E essa ideia distorcida permanece até os dias de hoje, quando nas gramáticas
tradicionais a sintaxe é estudada em frases soltas.

13
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

1.1.2.1 Período Alexandrino


DICAS
Os alexandrinos (séc. III a. C.) desenvolveram ainda mais as
contribuições oferecidas pelos estoicos. Os estudos alexandrinos
constituíram a base para as análises linguísticas dos romanos que, mais tarde,
A noção de lógos como um
chegaram à Europa.
todo que se compõe de
partes, iniciada por Platão, foi Na região da Alexandria, era prática a publicação de comentários
completada especificamente sobre textos e tratados de gramática, visando minimizar as possíveis
por Aristóteles, adquirindo um dificuldades de leitura que poderiam prejudicar a compreensão dos antigos
novo significado quando passa poetas gregos.
“a nomear o discurso que Assim, as gramáticas escritas pelos filósofos tinham como propósito
expressa os juízos” (NEVES,
estabelecer e explicar a língua dos autores clássicos com o desejo de
1987, p. 62).
preservar o grego das possíveis imperfeições, desvios dos iletrados.
Entretanto, esse posicionamento desencadeou duas inadequações
no que diz respeito aos estudos linguísticos:
a cultura grega valorizou a escrita em
detrimento da fala e avaliou a língua dos
escritores do século V a. C. como mais
adequada e mais elaborada do que a fala
DICAS
coloquial. Dessa forma, para os
alexandrinos, apenas as pessoas ditas cultas
usavam adequadamente a língua.
A partir das contribuições
aristotélicas, os estoicos (séc. III Dionísio da Trácia (séc. II-I a. C.), o
a. C) propuseram uma primeiro autor a descrever explicitamente a
organização da gramática vista língua grega, destacou-se entre os
como a sistematização da
língua. Eles ofereceram obras alexandrinos. Na sua obra Téchne
Figura 2: Dionísio de Trácia
que tratavam da fonética, Grammatiké (A arte da gramática), propôs (séc. II-I a. C.
morfologia e sintaxe. No oito classes gramaticais: nome, verbo, Fonte:http://viatgeixarxa.blogspot.
entanto, continuavam a com
analisar a língua sob o prisma particípio, artigo, pronome, preposição,
da sua relação com o advérbio e conjunção.
pensamento, com a lógica. Esse estudioso recorreu ao critério formal (flexão) para elencar
essa categorização. Daí resultou a cisão entre a gramática e a Filosofia.
Salienta-se que sua obra inspirou a produção e organização das gramáticas
latinas até o século XIII, as quais, por sua vez, influenciaram as gramáticas de
várias línguas modernas da Europa.

1.1.3 Em Roma

Em Roma, os estudos gramaticais se basearam, em grande parte, na


adequação da terminologia grega à língua latina. Destacou-se o gramático
Terêncio Varrão (séc. I a. C.), em cuja obra, intitulada de Língua Latina, se
pode identificar uma teoria gramatical dialogada com os autores gregos que
o precederam. Apesar de aceitar as irregularidades da língua, o referidoautor

14
Linguística UAB/Unimontes

propôs uma teoria normativa. Varrão inovou quanto à distinção entre


palavras variáveis e invariáveis; além disso, ainda apresentou um estudo
sobre flexão do nome, as vozes e os tempos verbais.
Outro autor que merece destaque é Prisciano, séc. V e VI d. C., por
ter apresentado, em sua obra Institutiones Grammaticae, classes gramaticais
(verbo, particípio, pronome, advérbio, preposição, interjeição e
conjunção)seguidas até hoje pelos gramáticos tradicionais. Em sua obra,
considerada um marco linguístico na transição da Antiguidade para a Idade
Média, Prisciano abordou primeiramente a fonética, depois a morfologia e,
por último, a sintaxe.

1.2 DA IDADE MÉDIA AO SÉCULO XVI

No início da Idade Média, as gramáticas foram pouco originais,


meramente didáticas, e objetivaram apenas ensinar o latim. A partir do séc. B GC
XII, sob forte influência do pensamento aristotélico, ganhou destaque São GLOSSÁRIO E
Tomás de Aquino com a filosofia escolástica. Nesse contexto, surgiu a A F
chamada Gramática Especulativa (Alta Idade Média) que se caracterizou Gramática especulativa:
pela incorporação à filosofia escolástica da descrição gramatical do latim, gramática que procura
anteriormente proposta por Prisciano. Os gramáticos especulativos encontrar as razões filosóficas
das regras gramaticais.
buscaram dar validade universal às regras da gramática latina, isto é, O termo especulativo não deve
buscaram sustentar a tese de que a gramática é essencialmente a mesma ser compreendido no seu
para todas as línguas, e, ainda, criaram uma variedade de termos técnicos sentido moderno, mas num
sentido particular, derivado da
(taxionomia) para formalizar suas teorias. O problema dessa gramática foi concepção de que a língua é
seu excesso de teoria cujos dados eram formulados pelos próprios como um espelho que reflete a
gramáticos especulativos e não retirados de textos clássicos. realidade subjacente aos
fenômenos do mundo físico
Um pouco mais adiante na história, tivemos (LYONS, p.15, 1979).
a nossa gramática da Língua Portuguesa que se
originou em Portugal e, portanto, seguiu os Filosofia escolástica: corrente
filosófica que dominou o
parâmetros latinos. A primeira obra foi a Grammatica pensamento cristão entre os
da Lingoagem Portuguesa, cujo autor é Fernão de séc. XI e XIV em que se tentava
Oliveyra. Essa obra se restringiu aos estudos sobre conciliar fé e razão,
acreditando que não eram
ortografia, acento, etimologia e analogia, sendo que contraditórias por serem
essa última se pautava nas flexões, sobretudo, de ambas de Deus. São Tomás de
Figura 3:Grammatica da Aquino fez uma releitura da
gênero e número. Lingoagem Portuguesa, obra de Aristóteles numa
Outro gramático da Língua Portuguesa, João de Fernão de Oliveyra.
perspectiva cristã e dividiu em
Fonte: http://purl.pt
de Barros, sempre sob os moldes da gramática latina, dois o conhecimento humano:
o conhecimento sobrenatural
dividiu sua obra em quatro partes: ortografia,
seria o ensinado pela fé e o
prosódia, etimologia e sintaxe. Segundo ele, a conhecimento natural viria à
gramática é “um modo certo e justo de falar e escrever, colhido do uso e luz da razão (como os
teoremas matemáticos).
autoridade dos barões doutos” (1557, p. 1).
Fonte:
http://mundoestranho.abril.co
m.br

15
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

Opondo-se aos gramáticos especulativos da Idade Média, os


renascentistas estudaram o latim e o grego, bem como as línguas vernáculas,
com base na literatura, na língua escrita das classes cultas, mais do que na
lógica. Defendiam o estudo da língua através da literatura e não do
aristotelismo escolástico.

1.3 DO SÉCULO XVII AO SÉCULO XIX

No séc. XVII, houve uma retomada à postura logicista, ao redor da


abadia francesa de Port-Royal. Destacaram-se, nesse período, os estudiosos
Antonie Arnauld e Claude Lancelot, sobretudo, pelo lançamento da
Grammaire Générale et Raisonée (1660), reapresentando os pressupostos da
gramática especulativa. As propostas desses estudiosos consistiam na
existência de uma estrutura universal do pensamento (em referência aos
precursores logicistas), portanto, de universais linguísticos, e na adoção das
tradicionais nove classes gramaticais, nesse caso, incluindo o artigo, antes,
excluído por Prisciano, e a interjeição.
Em vários pontos, os estudos de Port-Royal se aproximaram da visão
aristotélica sobre a linguagem, sobretudo, quanto ao fato de defender que a
função das línguas consiste em comunicar o pensamento. Esses autores
avançaram particularmente quando procuraram identificar a unidade
linguística subjacente às diferentes línguas e construir esse universalismo
com base na razão.
No fim do séc. XVIII e início do séc. XIX, alguns estudiosos da
linguagem contestaram os estudos baseados na gramática greco-latina, ou
seja, na língua vista como objeto reflexo do pensamento e da lógica e não
como objeto de uma ciência independente.
Iniciada pelo movimento de ruptura com esse passado, o século XIX
viu esboçar uma nova etapa nos estudos linguísticos, pois viu surgir o estudo
científico da língua no mundo ocidental. Tal afirmativa será verdadeira se
dermos ao termo científico o sentido que ele geralmente tem hoje; foi no
século XIX que os fatos da língua começaram a ser investigados com cuidado
e objetividade e depois explicados por hipóteses indutivas.
O ponto de partida dessa nova fase de investigações linguísticas foi a
redescoberta do sânscrito pelos sábios ocidentais (século XVIII): o
conhecimento dessa língua – além de possibilitar facilmente, pelo menos em
certos casos, a análise da palavra em seus elementos constituintes – dava
acesso à obra dos gramáticos hindus, tesouro de observações preciosas,
particularmente instrutivas no tocante à classificação dos fonemas e à teoria
da raiz da formação das palavras. Aí podemos reconhecer as sementes das
futuras pesquisas estruturalistas nos domínios da ciência da linguagem.
E o estabelecimento do parentesco do sânscrito com o latim, o
grego e as línguas germânicas, pelo inglês William Jones, constituiu o

16
Linguística UAB/Unimontes

primeiro impulso ao desenvolvimento do estudo comparativo e histórico das B GC


GLOSSÁRIO E
línguas.
Jones declarou que o sânscrito mostrava em relação ao latim e ao
A F
grego, tanto nas raízes dos verbos como nas formas gramaticais, uma Universais linguísticos:
afinidade tão grande que não seria possível considerá-la casual: tão forte, em similaridades existentes em
todas as línguas do mundo
verdade, que nenhum linguista poderia examiná-la sem crer que se tinham
(DUBOIS et al, 2001).
originado de uma fonte comum que talvez não mais exista.
Outro grande nome desse período foi Bopp, que publicou em 1816
o seu Sistema de conjugação do sânscrito em comparação com o grego,
latim, persa e germânico, reunindo as provas indiscutíveis do parentesco de
tais línguas e fundando ao mesmo tempo a gramática comparada das línguas DICAS
indo-européias.
Partindo, geralmente, do sânscrito, Bopp segmentou as palavras e
mostrou sua variedade de combinações, expôs suas transformações sofridas
e esforçou-se por buscar-lhes a origem. Seu objetivo básico era chegar à O linguista Wilhelm von
Humboldt, além de realizar
origem, não por especulações filosóficas, mas pela comparação dessas
investigações histórico-
formas em seu arranjo histórico. Vê-se, assim, que o seu método foi o comparativas, é reconhecido
indutivo. Com isso, Bopp compreendeu que as relações entre as línguas de como sendo o primeiro
linguista europeu a identificar a
uma mesma família podiam converter-se em matéria de uma ciência
linguagem humana como um
autônoma e, ainda mais, que o estudo do desenvolvimento histórico de uma sistema governado por regras, e
língua e seu parentesco com outras não podia ser feito pela mera não simplesmente uma coleção
de palavras e frases
coincidência de alguns termos isolados, mas pela observação metódica da
acompanhadas de significados
constituição gramatical da(s) língua(s) em questão. (língua como atividade
Jacob Grimm, outro nome a ser acrescentado ao dos promotores da dinâmica e mental). Essa ideia
é uma das bases da teoria da
gramática comparada, dedicou-se ao estudo dos dialetos germânicos e Linguagem de Noam Chomsky.
publicou pesquisas pormenorizadas sobre a história fonética dos falares
germânicos. Fonte: http://pt.wikipedia.org
Grimm observou, por exemplo, que as línguas germânicas tinham
frequentemente:

Ÿ t onde outras línguas indo-europeias (o latim ou o grego, por


exemplo) tinham p;
Ÿ p onde outras línguas tinham b;
Ÿ th onde outras línguas tinham t; e
Ÿ t onde outras línguas tinham d.

Tal descoberta denominada mutação consonântica foi importante,


pois constituiu o primeiro modelo das leis fonéticas, que traduziu a
regularidade das transformações fonéticas da linguagem.
Assim, a gramática passou a ser estudada como um conjunto de
fatos e fundamentada em uma visão empírica; não atrelada a uma base
lógica.

17
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

Nessa nova dinâmica instalada, surgiram muitos estudos sob o


DICAS fulcro da gramática histórico-comparativa que alavancaram a investigação
da língua agora entendida como objeto científico. Porém, apesar de
prevalecer nessa época a abordagem histórico-comparativa, alguns
No período histórico- linguistas defendiam a ideia de que, paralelamente ao estudo evolutivo da
comparativo as investigações
linguísticas pautavam-se na língua, deveria se estabelecer um estudo descritivo da língua.
história das línguas Assim, Saussure (1916), com a obra Cours de Linguistique
(diacrônicas), ou seja,
Générale, impôs uma visão menos estática e diacrônica (histórica), portanto,
analisavam as relações entre os
termos sucessivos que se mais sincrônica da língua. Surgiu, então, a Escola Estruturalista, focada no
substituem uns aos outros no estudo descritivo do sistema linguístico, a qual abordaremos na próxima
tempo e os comparavam entre
Unidade 2. A partir daí, os estudos linguísticos afastaram-se da trilha aberta
as línguas.
Além disso, na última parte do por Aristóteles.
século XIX, alguns jovens
linguistas, os Neogramáticos,
decidiram que dispunham de
evidência suficiente para
declarar que a mudança
fonética é invariavelmente
regular – isto é, que um
determinado som, em um
determinado ambiente numa
determinada língua sempre
muda da mesma forma (leis
fonéticas regulares - fixas). Para
as mudanças sonoras que
constituíam exceções às leis
fonéticas regulares (analogias),
propuseram que se davam em
razão de associações
estabelecidas pelo homem
entre formas distintas que
interfeririam no
desenvolvimento natural do
sistema sonoro, contrariando
uma lei fonética regular.

Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/L
ingu%C3%ADstica_hist%C3%B3ric
o-comparativa

18
Linguística UAB/Unimontes

REFERÊNCIAS
ARNAULD e LANCELOT. Gramática de Port-Royal. 2 ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2001.

BARROS, João de. Grammatica da lingua portuguesa. Organizada por José


Pedro Machado, em cima da 3 ed. Rio de Janeiro: s/d, 1557.

DUBOIS, Jean et al.Dicionário de linguística. 8 ed. São Paulo: Cultrix,


2001.

LYONS, John. Linguagem e linguística: uma introdução. Rio de janeiro:


LTC, 1979.

NEVES, Maria Helena Moura. A vertente grega da gramática tradicional.


São Paulo: Hucitec, 1987.

SAUSSURE, Ferdinand. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix,


2001.

WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da linguística. Trad. Marcos


Bagno. São Paulo: Parábola, 2002.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Lingu%C3%ADstica_hist%C3%B3rico-
comparativa Acesso em: 20 de nov. de 2008.

http://purl.pt Acesso em: 20 de nov. de 2008.

http://viatgeixarxa.blogspot.com Acesso em: 20 de nov. de 2008.

http://www.saberweb.com.br Acesso em: 20 de nov. de 2008.

http://mundoestranho.abril.com.br Acesso em: 20 de nov. de 2008.

19
2 UNIDADE 2
MOVIMENTOS LINGUÍSTICOS DO SÉCULO XX:
POLO FORMALISTA

Na segunda unidade deste Caderno Didático, continuaremos a


discussão sobre a linguagem, porém na visão da Linguística Moderna,
ciência que investiga a linguagem verbal humana/língua, e seus efeitos para a
compreensão da prática comunicativa.
Como, no século XX, houve dois grandes polos de propostas de
investigação linguística: o polo formalista, que analisa a linguagem
verbal/língua em si mesma, desvinculada de fatores não linguísticos, e o polo
pragmático, que considera as condições de uso da linguagem verbal em
situações reais de uso, nesta Unidade 2, abordaremos, especificamente, os
movimentos linguísticos entendidos como Estruturalismo e Gerativismo, os
quais constituem o polo formalista de investigações da linguagem.
DICAS Evidenciaremos tanto em que consistem suas propostas, como os pontos
divergentes/convergentes e os posicionamentos tomados.
Essa segunda unidade foi estruturada a partir das seguintes
A ciência que investiga os subunidades:
signos em geral (linguagem 2.1 Polo formalista
verbal e não verbal) é
denominada de Semiologia 2.1.1 Estruturalismo
(segundo Saussure) ou 2.1.1.1 Estruturalismo europeu
Semiótica (segundo Sanders
2.1.1.2 Estruturalismo funcionalista
Pierce).
Daí a Linguística ser parte 2.1.1.3 Estruturalismo norte-americano
dessa ciência mais abrangente, 2.1.2 Gerativismo
já que se propõe a investigar
apenas a linguagem verbal oral
ou escrita. 2.1 POLO FORMALISTA

A Linguística do século XIX, em suas pesquisas de ordem


eminentemente histórico-comparativa, deixou um importante legado
teórico, sobretudo por intermédio dos neogramáticos e dos linguistas como,
por exemplo, Humboldt. Entretanto, a partir do século XX, a denominamos
de Linguística Moderna, período que é normalmente identificado com o
aparecimento do Cours de Linguistique Générale de Saussure, cuja obra
privilegia o aspecto formal da linguagem.
O polo formalista de investigações da linguagem é constituído pelos
movimentos linguísticos Estruturalismo e Gerativismo, os quais têm em
comum a tendência em analisar a língua como um objeto autônomo,
desvinculado do processo comunicativo e sociointeracional, ou seja,
estudam a língua sob o ponto de vista abstrato (psíquico), fora do contexto
de uso. Os expoentes deste polo são os estruturalistas Saussure, Hjelmslev,
Jakobson, Troubetzkoy, Bloomfield, Sapir e o gerativista Chomsky.
Apresentada essa questão , passemos ao Estruturalismo.

20
Linguística UAB/Unimontes

2.1.1 Estruturalismo

2.1.1.1 Estruturalismo europeu

A publicação do Cours de Linguistique Générale (1916), de


Ferdinand Saussure, marcou o início da corrente linguística do
Estruturalismo. São três as noções básicas que caracterizaram o
Estruturalismo: sistema, estrutura e função.
A noção de sistema deve-se a Saussure, pois, para ele, a linguagem
verbal é constituída de língua e fala, em que a língua é um sistema, ou seja,
um conjunto de unidades que obedecem a certos princípios de
funcionamento, constituindo um todo coerente.
Considerando a linguagem verbal como um fenômeno unitário no
qual os elementos se inter-relacionam, Saussure estabeleceu, do ponto de
vista metodológico, dicotomias básicas: língua-fala, sincronia-diacronia,
sintagma-paradigma, significado-significante (PIETROFORTE in FIORIN,
2002). A partir de agora vamos observar algumas delas:

Língua versus fala

Segundo Saussure, a língua (langue)


é ao mesmo tempo um sistema de valores que
se opõem uns aos outros e um conjunto de
convenções necessárias adotadas por uma
comunidade linguística para se comunicar.
Ela está depositada como produto social na
mente de cada falante de uma comunidade,
que não pode criá-la, nem modificá-la; é,
pois, de natureza homogênea.
A fala (parole) é a realização, por
parte do indivíduo, das possibilidades que lhe
Figura 4: Ferdinand Saussure
são oferecidas pela língua. É, pois, um ato Fonte: http://en.wikipedia.org
individual e momentâneo em que interferem muitos fatores extralinguísticos
e se fazem sentir a vontade e a liberdade individuais, portanto, heterogênea.

Langue Linguística da língua


Saussure

Parole Linguística da fala

Mesmo que tenha reconhecido a interdependência entre língua e


fala, Saussure considerou como objeto da Linguística a língua – por seu

21
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

caráter homogêneo – procurando não só entender, mas também descrevê-la


do ponto de vista de sua estrutura interna.
Segundo Alkimim (2001, p. 23),

É Saussure quem define a língua, por oposição à fala como o


objeto central da Linguística. Na visão do autor, a língua é o
sistema subjacente à atividade da fala, mais concretamente,
é o sistema invariante que pode ser abstraído das múltiplas
variações observáveis da fala. Da fala, se ocupará a estilística
ou, mais amplamente, a Linguística Externa. A Linguística,
propriamente dita, terá como tarefa descrever o sistema
formal, a língua. Inaugura-se, assim, a chamada abordagem
imanente da língua, que, em termos saussurianos, significa
afastar 'tudo o que lhe seja estranho ao organismo, ao seu
sistema'.

Sincronia versus diacronia

Para Saussure (2001, p. 96), “é sincrônico tudo quanto se relacione


com o aspecto estático da nossa ciência”, ou seja, esse ponto de vista vê a
língua como uma estrutura cujos elementos constitutivos se opõem; “diacrô-
nico tudo o que diz respeito às evoluções”, ou seja, analisa as mudanças que
ocorrem nas línguas através do tempo. “Do mesmo modo, sincronia e
diacronia designarão, respectivamente, um estado de língua e uma fase de
evolução.”
Nessa perspectiva, o estruturalismo proposto por Saussure não
apenas apontou as diferenças entre essas duas formas de investigação, mas,
sobretudo, priorizou o estudo sincrônico. Ou seja, para Saussure, o linguista
deve estudar principalmente o sistema da língua, observando como se
configuram as relações internas entre seus elementos em um determinado
momento do tempo. Esse tipo de estudo é possível porque os falantes não
possuem informações acerca da história de sua língua e não precisam ter
informações etimológicas a respeito dos termos que utilizam no dia-a-dia:
para os falantes, a realidade da língua é seu estado sincrônico.

Paradigma versus sintagma

As relações entre os elementos linguísticos, segundo Saussure,


podem ocorrer em dois domínios distintos, mas que se completam. Essas
relações dependem de uma seleção (escolhe-se um elemento em detrimen-
to de outros que poderiam ocupar um mesmo ponto do enunciado) desses
elementos e, ao mesmo tempo, de uma combinação entre os elementos
selecionados. Dessa maneira, podemos dizer que a linguagem possui dois
eixos: um eixo paradigmático (seleção) e um eixo sintagmático (combina-
ção).

22
Linguística UAB/Unimontes

Nesse exemplo, temos, na vertical, o eixo paradigmático (com as


palavras que poderíamos selecionar para ocupar as posições indicadas) e, na
horizontal, o eixo sintagmático (com as combinações estabelecidas entre as
palavras selecionadas):

Significante versus significado

Saussure definiu como objeto de estudo do Estruturalismo a língua


– um conjunto de signos linguísticos convencionado por uma dada
sociedade. E foi nessa última dicotomia que se estudou o conceito de signo
linguístico.
O signo linguístico, uma entidade abstrata e psíquica, é constituído
de significante e significado. Mas a que essas palavras equivalem?
Se o signo linguístico é uma unidade abstrata, as partes que o
compõem também o são, mas a que correspondem?
O significante é a imagem acústica de um signo, isto é, som
psíquico (mentalizado) e não som articulado (aspecto físico). Para identificá-
lo, pense em uma palavra. Esses sons combinados que mentalizou
correspondem ao significante desse signo linguístico.
E o significado? O significado é a imagem conceitual de um signo
linguístico, isto é, é a imagem da coisa, arquivada em nossa memória; seu
todo significativo.
Por exemplo:
significante = /'kaza/

significado =

Com base nisso, podemos questionar: um signo é uma palavra?


Como o signo linguístico é uma entidade constituída de significante
e significado, não apenas as palavras são tidas como signo linguístico, mas
também os morfemas (unidades mínimas significativas recorrentes de uma
língua).
Saussure também propôs dois princípios para os signos linguísticos:
a sua arbitrariedade e a linearidade do significante. O que querem dizer?

23
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

Saussure afirmou que o signo linguístico é arbitrário, ou seja, não há


relação necessária (natural) entre o seu significante e o seu significado, pois é
convencionado por um grupo social, não cabendo a um indivíduo alterá-lo.
Isso é comprovado pela diversidade das línguas (em português, temos o
significante casa e, em inglês, house para o significado moradia), isto é, em
sociedades diferentes, as convenções linguísticas dos grupos sociais são,
também, diferentes.
Propôs, além disso, que o significante é linear, uma vez que os sons
(psíquicos) ocorrem um após o outro, sucessivamente, em forma de linha.
Entre outros, esses são pressupostos linguísticos do pensamento
saussuriano, os quais figuram como alicerce da linguística estrutural.
A propensão a analisar a língua do ponto de vista de uma unidade
B GC
GLOSSÁRIO E encerrada em si mesma, como uma estrutura sui generis, também esteve
A F presente no Grupo Copenhague que teve Hjelmslev à frente. Assim
considerado, a língua apresenta um caráter abstrato e estático, já que é
dissociada do ato comunicativo.
Glossemática: designa a teoria A Escola de Copenhague focalizou o aspecto formal das línguas,
linguística proposta por
deixando sua função num plano secundário. Ou seja, essa escola adotou a
Hjelmslev que considera a
língua como fim em si e não concepção saussuriana de língua como um sistema autônomo e, através de
como meio. Essa teoria, em Hjelmslev, desenvolveu uma teoria chamada de Glossemática,
razão de seguir os pressupostos
aprofundando principalmente os conceitos de forma e substância (expressão
básicos de Saussure, pertence
ao Estruturalismo europeu. e conteúdo).
Forma: segundo Hjelmslev, Hjelmslev, partindo do princípio de que a língua é uma estrutura,
equivale à estrutura da língua,
isto é, uma entidade de dependências internas, construiu uma teoria que se
oriunda do sistema de signos
linguísticos, a qual se exprime realiza numa rede abstrata de inter-relações. O expediente de análise
pelas relações que as unidades utilizado é o da comutação aplicável tanto ao plano da expressão (substância
linguísticas mantêm entre si no
fônica) como ao plano do conteúdo (substância semântica), admitindo-se
plano de expressão
(significante) e no plano de que há o mesmo tipo de relações operando nesses dois planos. As unidades
conteúdo (significado). são isoláveis pela comutação, mas são definidas formalmente, isto é, por
Substância: para esse
meio de relações combinatórias. Nesse ponto, o tratamento é puramente
estudioso, corresponde à
realidade fônica ou semântica dedutivo.
(massa não estruturada) da Sabe-se que durante a primeira metade do século XX, privilegiando
língua.
diferentes aspectos das ideias de Saussure, surgiram na Europa, não apenas a
Escola de Copenhague, mas também a Escola de Genebra e a Escola de
Londres, as quais não se limitaram ao estudo meramente formal, adotando a
visão de que a língua devia ser vista como um sistema funcional, no sentido
que é utilizada para um determinado fim: a comunicação; ao contrário da
Escola de Copenhague.

24
Linguística UAB/Unimontes

2.1.1.2 Estruturalismo funcionalista

O conceito de funcionalismo surgiu no Círculo Linguístico de Praga,


um dos grupos mais importantes para as investigações da Linguística teórica
e o desenvolvimento da filologia das línguas eslavas.
Assim, podemos afirmar que a abordagem da Escola de Praga foi
caracterizada como um Estruturalismo Funcional, pois alguns linguistas DICAS
europeus, a partir dos pressupostos saussurianos, desenvolveram uma
concepção de comunicação mais rica que Saussure, ao proporem o aspecto
funcional da sentença.
Escola Linguística de Praga é a
A visão funcional da Escola de Praga esteve na definição de língua, designação que se dá a um
vista como “um sistema de meios apropriados a um fim e um sistema de grupo de estudiosos que
começou a atuar antes de
sistemas” (apud ILARI, 1992, p. 24-25), já que a cada função corresponde
1930, para os quais a
um subsistema. Diferentemente do que se postulou nas concepções linguagem, acima de tudo,
estruturalistas em geral, para eles, todos os subsistemas dizem respeito à possibilita ao homem a reação
e a referência à realidade
mesma unidade, a frase. Distinguem-se níveis sintáticos de organização da
extralinguística. As frases são
frase, abrigando-se neles a semântica e a pragmática. vistas como unidades
As ideias básicas do Círculo envolveram campos diversos de comunicativas que veiculam
informações, ao mesmo tempo
interesse linguístico: problemas gerais das línguas, questões ligadas à
em que estabelecem ligação
poética e ao estudo sociolinguístico e o estudo de particularidades das com a situação de fala e com o
línguas eslavas. Caracterizando-se por enfatizar sobremaneira o estudo das próprio texto linguístico. Nesse
sentido, o que se analisa são as
funções da linguagem, os estudiosos de Praga vão abordar a função da
frases efetivamente realizadas,
linguagem no ato de comunicação e o papel desta na sociedade, a função para cuja interpretação atribui-
da linguagem na literatura e o problema dos diferentes aspectos e níveis de se especial atenção ao contexto
tanto verbal como não-verbal.
linguagem do ponto de vista funcional.
Concebe-se que, mesmo no
Coube a Jakobson, juntamente com Trubetzkoy e Karcevsky, a nível do enunciado, podem
criação de uma nova disciplina, a Fonologia, diferenciando-a encontrar-se regularidades que
admitem tentativas de
cientificamente da Fonética. Conforme afirmou Trubetzkoy, “a Fonética é a organização e descrição
ciência da face material dos sons da linguagem humana. [...] A Fonologia tem (NEVES, 2001, p. 17).
por objeto o som que preenche uma determinada função na língua” (apud
CARVALHO, 2000, p. 118).
Assim, enquanto esta tem como objeto o som ideal (som da língua),
abstrato, acima das diferenças individuais de pronúncia e capaz de distinguir
significados (fonema), aquela deve estudar o som real (som da fala), aquele
que é efetivamente pronunciado pelo falante (fone), sem qualquer valor
significativo. Sem dúvida, foi na Fonologia que a noção de contraste
funcional causou seu primeiro grande impacto. Contudo, o funcionalismo
da Escola de Praga foi aplicado a diversos outros aspectos do estudo
linguístico.
Por exemplo, foi o psicólogo Karl Buhler quem discutiu
aprofundadamente a teoria funcional e propôs três funções gerais
desempenhadas pela linguagem, a partir da concepção de que a linguagem
é um sistema de sinais que funciona como um instrumento por meio do qual

25
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

os indivíduos se comunicam:: (i) função cognitiva, consiste no emprego da


linguagem, objetivando a transmissão de informação factual; (ii) função
expressiva, relaciona-se à disposição de ânimo (vontade) ou atitude do
locutor (ou escritor); (iii) função conativa (ou instrumental), voltada para o
uso calcado em influenciar a pessoa a quem se dirige a fala ou quais as
estratégias linguísticas a serem empreendidas para provocar determinado
efeito de sentido.
Essas funções foram repensadas por Jakobson que ampliou o
quadro para seis funções: emotiva, conativa, referencial, fática,
metalinguística e poética, apresentando um inter-relacionamento entre as
funções da linguagem e os elementos de comunicação. Essa sua proposta
tornou-se o mais divulgado esquema do processo de comunicação
linguística.
Outra colaboração importante da Escola de Praga foi, sob seu ponto
de vista funcional, distinguir Gramática e Estilística, destacando-se, neste
aspecto, Vilem Mathesius, que desenvolveu o estudo da perspectiva
oracional funcional, mostrando maneiras diferentes pelas quais uma língua é
capaz de manifestar suas funções: por meio de uma estruturação dada pelo
padrão gramatical (estrutura formal) ou de uma estruturação portadora de
informação do enunciado.
Nesse período, temos, ainda, André Martinet (1970), linguista
que, com interesse em uma linguística mais prática e fácil de ser
compreendida, formulou a dupla articulação da linguagem. Segundo ele,
toda língua natural possui dos níveis de oposição – a uma primeira
articulação, representada por unidades significativas (morfemas),
acrescenta-se uma segunda articulação, de unidades distintivas (fonemas).

2.1.1.3 Estruturalismo norte-americano

B GC A partir do Estruturalismo europeu, a linguística norte-americana foi


GLOSSÁRIO E dominada por uma tendência formalista que se enraizou com Leonard
A F Bloomfield e se mantém até hoje com a linguística gerativa. A teoria da
Teoria distribucionalista: linguagem de Bloomfield, dominante nos Estados Unidos até aproximada-
teoria que propõe que os mente 1950, é apresentada de maneira independente, apesar de estar
enunciados de uma língua são
ancorada nos pressupostos linguísticos básicos do pensamento de Saussure.
constituídos de elementos que
se acham em posições Isso se dá em razão de, ao lado de algumas diferenças, muitos serem os
particulares com relação aos pontos em comum – ou pelo menos convergentes –, de modo que nos
outros.
permitem conceber a teoria distribucionalista como uma vertente do
estruturalismo.
Essa teoria constitui-se por um esquema de processos que
conduzem à descoberta da gramática de uma língua ou, então, uma técnica
experimental de coleta de dados brutos. Seu critério básico é a distribuição
ou soma de contextos em que uma unidade pode aparecer em contraste

26
Linguística UAB/Unimontes

com aqueles em que não aparece. Tem natureza mecanicista porque se


restringe à liberdade de ocorrências das partes do enunciado comparando-
as umas com as outras quanto ao seu contexto linguístico sem levar em conta
o sentido. As formas se identificam exclusivamente por sua posição.
Bloomfield não adotou a distinção entre forma e substância em
concordância com o sentido da Glossemática, pois, para ele, há formas (=
sequências de fonemas; expressão) e significação (= conteúdo): toda forma
exprime um conteúdo.
Segundo Bloomfield, a língua, como forma de comportamento, é
uma entidade autônoma, que pode ser descrita por si mesma através de
técnicas aplicáveis mecanicamente; isto é, para se estudar uma língua,
fazem-se necessárias a constituição de um corpus
– reunião de um conjunto, o mais variado possível,
de enunciados efetivamente emitidos por usuários
de uma determinada língua em uma determinada
época; a elaboração de um inventário, a partir
desse corpus, que permita determinar as unidades
elementares em cada nível de análise, assim com
as classes que agrupam tais unidades; a verificação
das leis de combinação de elementos de diferentes
classes; e a exclusão do significado dos enunciados Figura 5: Leonard
que compõem o corpus. Bloomfield (1887- 1949)
Fonte: http://www.glotto
Desse modo, Bloomfield (1933) adotou pedia.de/images/
explicitamente uma abordagem behaviorista do
estudo da língua, eliminando, em nome da objetividade científica, toda
referência a categorias mentais ou conceituais. Assim, esse teórico preferiu
evitar considerações semânticas em sua análise linguística; em outras
palavras, o estruturalismo bloomfieldiano desconsiderou a semântica sob a
inspiração do behaviorismo.
Ao lado de Bloomfield, e em posição diferente, esteve Sapir, para
quem a língua é uma forma autossuficiente que fornece ao pensamento e à
cultura seus canais expressivos adaptando ambos a ela. Segundo ele, se a
forma linguística é pré-racional e nasce da intuição, então os fatos
linguísticos devem ser interpretados e complementados com referência a
fatos psíquicos, ou seja, fundamentam-se no sistema psicológico.
Assim, temos, por um lado, o mecanismo de Bloomfield que se
apóia na psicologia behaviorista a qual vê o comportamento humano como
explicável e, portanto, previsível, a partir das situações em que aparece; e,
por outro, o mentalismo de Sapir, que vê na variedade do comportamento
linguístico o efeito da ação de fatores psicológicos (vontade, emoção,
reflexão, percepção etc.), ou seja, a fala deveria ser explicada como um
efeito dos pensamentos (intenções, crenças, sentimentos) do sujeito falante.
Dessa maneira, os estudos de Sapir romperam os limites do

27
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

estruturalismo saussuriano, adotando o postulado de que os resultados de


análise de uma língua devem ser confrontados com os resultados da análise
DICAS
estrutural de toda cultura material e espiritual do povo que fala tal língua.
Segundo Weedwood (2002, p. 129-130), nesse período, havia
centenas de línguas indígenas americanas – o equivalente a
Hipótese Sapir-Worf: aproximadamente mil línguas – apresentadas sob a forma de material
formulada pelos linguistas linguístico oral ainda não descrito e faladas por somente uma parcela de
Edward Sapir e Benjamin Lee
seus falantes que, caso não fossem registradas, poderiam se extinguir; o que
Worf, essa hipótese postula que
cada língua segmenta sua representava um grande problema para os administradores e etnólogos da
realidade e impõe tal época. Em razão disso, muitos estudiosos estavam mais preocupados com a
segmentação a quem a fala;
descrição dos princípios metodológicos para análise dessas línguas pouco
dessa forma, pessoas que falam
diferentes línguas veem o familiares do que com a construção de uma teoria geral da estrutura da
mundo de maneira diferente. linguagem. Além disso, temiam que a descrição das línguas indígenas ficasse
Além disso, postula que os
distorcida se fossem analisadas à luz das análises propostas para as línguas
modelos linguísticos estão
relacionados aos modelos indo-europeias mais familiares.
socioculturais; assim, distinções Vale ressaltar que tanto a teoria Sapir-Worf como a bloomfieldiana,
gramaticais e lexicais,
obrigatórias numa dada língua, no tocante à análise distribucionalista, inserem-se nessa situação linguística
correspondem às distinções de específica dos Estados Unidos naquele início de século.
comportamento, obrigatórias Assim, nesse contexto específico, a ideia antropológica presente
numa dada cultura
(MARTELOTTA et al, 2008, p. nos estudos de Sapir-Whorf e a psicologia comportamental que influenciou
125). as ideias de Bloomfield são férteis, marcando o estruturalismo norte-
americano e diferenciando-o do estruturalismo europeu. Pode-se dizer que,
enquanto Sapir foi o pioneiro, Bloomfield foi o consolidador da linguística
naquele país, criando uma teoria mais bem definida do que os linguistas
anteriores.

2.1.2 Gerativismo

As ideias de Saussure tiveram grande repercussão e marcaram uma


nova fase da história da Linguística. Entretanto, já na segunda metade do
século XX, iniciou-se nos Estados Unidos uma reação ao estruturalismo
tradicional, visto como essencialmente limitado à análise de dados
observáveis e de objetivos quase sempre taxionômicos. Essa reação ganhou
força e foi encabeçada por Chomsky com a publicação da obra intitulada
Syntactic Structures (1957).
Chomsky se posicionou contra o Estruturalismo em razão de a
gramática estrutural se pautar na fragmentação dos enunciados,
restringindo-se à estrutura superficial, a um corpus, logo, desconsiderando a
capacidade do falante de produzir sentenças.
Syntactic Structures (1957) é a obra em que Chomsky descreveu a
base da chamada gramática gerativo-transformacional, cujo objetivo foi
explicar a capacidade criadora que permite ao falante nativo produzir (ou
gerar) e compreender um número infinito de frases a partir de um conjunto

28
Linguística UAB/Unimontes

finito, a maioria das quais nunca ouviu ou emitiu antes (fato já observado por
Humboldt, no século XIX).
O programa gerativista reflete sobre os mecanismos internos
envolvidos no pensamento e na ação humana, pois assumem que a
linguagem deve ser entendida como um órgão - componente do cérebro -,
cujo caráter básico é um reflexo dos
genes. Interessa-lhes os aspectos
inatos da mente/cérebro que geram o
conhecimento da língua, pois estão
preocupados em depreender na
análise das línguas propriedades
comuns, universais da linguagem, que
constituem a Gramática Universal
(GU).
O mecanismo que essa teoria
gerativa instala é dedutivo: parte do
que é abstrato, isto é, de um axioma e
um sistema de regras e chega ao
concreto, ou seja, as frases existentes
na língua, operando, portanto, com Figura 6: Avram Noam Chomsky
Fonte: http://www.chomsky.info
hipóteses a respeito da natureza e funcionamento da linguagem.
Nessa medida, parte do princípio de que a faculdade da linguagem
B GC
é intrínseca à espécie humana: o homem já nasce com ela (faz parte de sua GLOSSÁRIO E
natureza), ou seja, ela é interna ao organismo humano (não é determinada A F
pelo mundo exterior, como afirmam os behavioristas) e deve estar fincada na
Taxionomia: ciência baseada
biologia do cérebro/mente da espécie, destinando-se a constituir a
na classificação de coisas ou
competência linguística de um falante, a qual será por ele utilizada. aos princípios subjacentes da
A aquisição da linguagem, segundo os gerativistas, é um aspecto classificação.
Gramática Universal (GU):
particular do desenvolvimento da capacidade do ser humano de captar e
gramática inata ao ser humano
dominar conhecimentos, e são as ideias e princípios inatos derivados dessa que contém, segundo o
capacidade de pensar que determinam a forma de conhecimento adquirido modelo da teoria inatista de
Noam Chomsky de 1965, as
de maneira restrita e organizada. E, para que os mecanismos inatos sejam
regras de todas as línguas. Pelo
ativados, basta haver condições adequadas (exposição aos dados modelo de 1981, a GU é
linguísticos). constituída apenas de
princípios (leis universais), os
Esse modelo teórico propõe também que, por trás de questões quais todas as línguas possuem.
exclusivamente descritivas sobre o funcionamento da linguagem, há uma
rede complexa e seletiva de operações mentais que orienta o
desenvolvimento linguístico. Assim, postula análises sintáticas de frases
pautadas na diferença entre os níveis “superficial” (estrutura superficial) e
“profundo” (estrutura profunda) do sistema gramatical e sua maior intenção
é “oferecer um meio de análise dos enunciados” que leve “em conta este
nível subjacente da estrutura” (WEEDWOOD, 2002, p. 133).
Ao gerativismo, então, atribui-se a descrição das regras que

29
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

B GC determinam a estrutura da referida competência linguística humana.


GLOSSÁRIO E Segundo Chomsky (1965),
A F
[...] a teoria linguística ocupa-se de um falante ouvinte ideal
Faculdade da linguagem:
numa comunidade de fala completamente homogênea, que
capacidade biológica do
conhece sua língua com perfeição e não é afetado por
homem para a linguagem
condições gramaticalmente descabidas, tais como limitações
(sistema linguístico inato à
e memória, distrações, mudanças de atenção ou interesse e
espécie humana).
Competência linguística erros (casuais ou característicos) na aplicação de seu
(gramatical): conjunto de conhecimento de língua ao desempenho real.
regras linguísticas internalizadas
pelo falante de uma língua,
após exposição aos dados
Ressalta-se que a abordagem gerativa calcada no aspecto biológico
dessa língua. não contraria a relevância do fator social e interacional no processamento da
Desempenho (performance): linguagem, pois, como se sabe, cada ser utiliza a linguagem de forma
uso dessas regras linguísticas
internalizadas, resultado da
particular, sob a influência do meio social em que está inserido. Pode-se
competência linguística do afirmar, consequentemente, que a linguagem, ao mesmo tempo em que
falante e de outros fatores, tais está relacionada a um órgão natural, garante, à medida que novos dados são
como convenções sociais,
atitudes, crenças, etc.
incorporados em sua constituição, a singularidade do sujeito. Salienta-se, no
Estrutura profunda: segundo a entanto, que a abordagem gerativista foca-se no aspecto natural (língua
gramática gerativa, é o interna) e não no social (língua externa) da linguagem, pois, segundo
primeiro elemento, na
produção de uma dada frase,
Chomsky (2005, p. 121), “sem estrutura inata não há efeito do ambiente
que contém todos os dados externo no processo de incrementação da língua (ou outro)”.
semânticos, isto é, o próprio Para os gerativistas, só é possível saber uma língua, se a priori
sentido da mensagem
(NIVETTE, 1975, p. 43). tivermos uma representação mental (abstrata) do procedimento gerativo.
Estrutura superficial: segundo Determina-se como língua-I esse procedimento gerativo, que se
a gramática gerativa, é o último
trata de uma propriedade do cérebro/mente. Segundo Chomsky (2005, p.
elemento no processo
transformacional da frase, 66), língua-I é “um elemento de estados transitórios da faculdade da
representado por um indicador linguagem relativamente estável” e “cada expressão linguística (de)gerada”
sintagmático, ao qual, porém,
por ela “ inclui instruções para os sistemas de desempenho nos quais a
todas as regras já se aplicaram
(NIVETTE, 1975, p. 43). língua-I está inserida”.
Essa mudança de prisma do programa gerativista, em relação ao
Estruturalismo, consiste, mais especificamente, em não focar o estudo da
língua-E (língua externa) e, sim, da língua-I (estudo da língua representada
na mente/cérebro).
Assim, a perspectiva gerativista caracteriza-se pelo
reconhecimento de estruturas inerentes às operações mentais, princípios
inatos na aprendizagem da linguagem. Ao considerar os estágios da
faculdade da linguagem, propõe que há o estado inicial, definido
geneticamente, e que, ao longo do seu desenvolvimento, passa por várias
etapas até chegar a um estado relativamente estável, propício a poucas
mudanças, exceto quanto ao léxico. Isto, então, evidencia que as línguas são
muito semelhantes e que suas diferenças são apenas marginais. Tal posição
contradiz a proposta empirista, que defende o papel preponderante da
experiência e do controle de aspectos ambientais na aprendizagem.
Ora, buscando construir uma teoria mais abrangente, que explique

30
Linguística UAB/Unimontes

não apenas as estruturas superficiais, mas também as estruturas profundas da


língua, Chomsky se reaproxima da Filosofia, pois vê a necessidade de
estabelecer universais linguísticos, e chega à conclusão de que as teorias
racionalistas são as capazes de explicar a faculdade humana da linguagem.
Assim, embora partindo de Saussure e aproximando-se das ideias de
Humboldt, Chomsky liga-se, também, aos princípios norteadores das
gramáticas gerais e, portanto, à doutrina de Port-Royal, que, apesar de
baseada em Descartes, conserva, como já foi dito, alguma influência do
pensamento aristotélico. B GC
GLOSSÁRIO E
Podemos dizer que os linguistas gerativo-transformacionalistas,
conf
A F
orme Língua-I(nternalizada):
competência linguística.
Silvei
r a
(199
8, p.
139),
progr
idem
e m
relaç
ão à
visão
estru Figura 7: O cérebro e as funções orgânicas B
Fonte: http://www.etmorfo2.blogspot.com
turali GLOSSÁRIO
sta, A F
na medida em que procuram explicar a linguagem humana pela noção de
Racionalismo cartesiano:
produtividade; contudo, numa visão unidisciplinar, propõem-se a buscar a doutrina que atribui à Razão
gramática da competência linguística (conjunto finito de regras capaz de humana a capacidade exclusiva
gerar, transformar, e supervisionar um conjunto infinito de orações) de um de conhecer e de estabelecer a
Verdade. Opõe-se ao
falante ideal, mas não real, permanecendo, assim, no plano abstrato por empirismo, colocando a Razão
terem desprezado a língua em uso. independente da experiência
sensível, ou seja, rejeita toda
Apesar de suas limitações, não se pode deixar de reconhecer a
intervenção de sentimentos,
apreciável contribuição metodológica do Estruturalismo: ampliou o somente a Razão.
conhecimento das mais diversas estruturas linguísticas, aperfeiçoou técnicas
Fonte :http://www.infoescola.br
de coleta e de controle de dados e demonstrou como certas estruturas são
passíveis de um estudo mais abstrato e generalizante; por sua vez, a teoria
gerativa estimula as discussões mais amplas a respeito da natureza intrínseca
da linguagem e dos traços fundamentais que deverão/deveriam compor
uma gramática universal. Isto é, essas duas tendências se completam, pois os
linguistas formalistas (estruturalistas e gerativistas) limitaram os seus estudos à
língua em si mesma e por si mesma e excluíram as variadas implicações que
são inerentes ao uso da língua, ou seja, aspectos como o lugar e o momento
da ocorrência, o envolvimento do falante e do ouvinte, as suas

31
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

características, as suas interpretações, o espaço de interação entre os


interlocutores, os aspectos sociais; enfim, não contemplaram em seus
estudos o homem na e pela linguagem.
Segundo Orlandi (1993, p. 48), “os recortes e exclusões feitos por
Saussure e por Chomsky deixam de lado a situação real de uso (a fala e o
desempenho) para ficar com o que é virtual e abstrato (a língua e a
competência)”.
Muitos linguistas, contudo, passaram a voltar sua atenção para a
linguagem enquanto atividade e, portanto, para as relações entre a língua e
seus usuários e para as ações que se realizam quando se usa a língua em
determinadas situações de enunciação. Assim, pouco a pouco, vai ganhan-
do terreno a linguística pragmática, a qual estuda os fatores que regem
nossas escolhas linguísticas na interação social e os efeitos de nossas escolhas
sobre as pessoas, assunto sobre o qual falaremos na próxima Unidade.

32
Linguística UAB/Unimontes

REFERÊNCIAS

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In: BASTOS, Neusa B. (Org.). Língua portuguesa – história, perspectiva,
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WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da linguística. Trad. Marcos


Bagno. São Paulo: Parábola, 2002.

33
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http://www.glottopedia.de/images/ Acesso em: 30 de nov. de 2008.

http://en.wikipedia.org/wiki/Ferdinand_Saussure Acesso em: 30 de nov. de


2008.

34
3UNIDADE 3
MOVIMENTOS LINGUÍSTICOS DO SÉCULO XX: POLO
PRAGMÁTICO

Mantendo nosso objeto de estudo, a linguagem verbal humana,


voltaremos nosso olhar, nesta Unidade 3, para a segunda tendência de
investigações linguísticas do século XX, o pólo pragmático, cujas pesquisas se
pautam, segundo Martelotta et al (2008, p. 88), na análise das “condições
de uso da língua em situações reais de comunicação, ou seja, o momento em
que se põe em, evidência a chamada competência comunicativa ou
pragmática, considerando agora as relações entre forma e função, entre os
fatores gramaticais e sociais.”
Esta terceira unidade está estruturada da seguinte maneira:
3.1 Polo pragmático
3.1.1 Funcionalismo
3.1.2 Teoria dos atos de fala
3.1.3 Pragmática
3.1.4 Linguística textual
3.1.5 Análise da conversação
3.1.6 Análise do discurso
3.1.7 Sociolinguística
3.1.8 Neurolinguística
3.1.9 Psicolinguística

3.1 POLO PRAGMÁTICO

Conforme já dito, o polo pragmático considera as condições de uso B GC


da linguagem verbal em situações reais de uso e, inseridas neste pólo que GLOSSÁRIO E
constitui um campo vasto, heterogêneo e multidisciplinar, em diálogo com A F
outras áreas dos saberes (cada uma observando a língua em uso, mas de Propostas formalistas:
estudos linguísticos que
acordo com seus modelos teóricos e metodológicos), estão as seguintes valorizam a forma (estrutura
escolas linguísticas: Funcionalismo, Teoria dos atos de fala, Pragmática, interna da língua).
Linguística textual, Análise da conversação, Análise do discurso, versus
Propostas pragmáticas:
Sociolinguística, Neurolinguística, Psicolinguística, que apresentaremos a estudos linguísticos que
seguir. consideram os fatores
contextuais como
determinantes dos usos
3.1.1 Funcionalismo linguísticos nas situações de
comunicação.

Essa vertente tem raízes antigas... Mas, também, retoma as ideias


propostas pelos estruturalistas funcionalistas e as desenvolve de uma
maneira incrível. De um modo geral, pode-se afirmar que o funcionalismo
reflete uma oposição ao estudo da forma linguística (fonologia, morfologia,
sintaxe e semântica), proposto pelas teorias formalistas (Estruturalismo e

35
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

Gerativismo), ao investigar as funções que essa forma desempenha na


comunicação diária (DILLINGER, 1991).
Para os funcionalistas, a língua é instrumento de comunicação e,
B GC por conseguinte, admitem que não pode ser vista como um objeto autôno-
GLOSSÁRIO E
mo, mas como um processo/produto das situações comunicativas.
A F
Assim sendo, consideram as situações enunciativas, ou seja, as
Funcionalistas: estudiosos que intenções do falante, o ouvinte, as situações socio-históricas e comunicati-
investigam as funções que a vas, as condições de produção de sentido, etc. Para esses estudiosos, não se
forma da língua desempenha
pode analisar um fato linguístico sem se considerar o sistema em que ele está
na comunicação diária.
inserido. Dessa maneira, qualquer investigação linguística que se paute nos
postulados funcionalistas deve atentar-se à pluralidade das funções
linguísticas e aos parâmetros de realização da atividade comunicativa.
B GC Fatores comunicativos tais como, imagem dos interlocutores,
GLOSSÁRIO E contexto enunciativo, propósito comunicativo, aspecto cultural e social,
A F determinam, de acordo com os funcionalistas, a atividade comunicativa e,
Competência linguística consequentemente, a produção de sentido. Segundo Neves (2001, p. 20),
(gramatical): capacidade de o “o problema do falante é formular sua intenção de tal modo que tenha
usuário da língua gerar um
alguma chance de levar o destinatário a desejar a modificação da sua
número infinito de sentenças a
partir de um conjunto finito de informação pragmática do mesmo modo como o falante pretende”.
elementos (conhecimento Logo, o que se coloca em foco, para essa análise linguística, é a
linguístico internalizado pelo
usuário de uma língua, ou seja,
competência comunicativa, daí decorre a tentativa de compreender o
sua gramática internalizada). percurso enunciativo de uma situação concreta de comunicação. Para os
Competência comunicativa: estudiosos dessa vertente, o sistema linguístico abrange todos os fatores
capacidade de o usuário
empregar a língua
indispensáveis para que a língua seja utilizada em uma situação concreta de
adequadamente em diversas uso. O locutor, inserido em um determinado grupo social, fala de um
situações comunicativas (ajuste determinado lugar social para um interlocutor também incluído em um
do ato verbal a situações de
comunicação distintas).
grupo social (HALLYDAY, 1985).
O texto, portanto, deve ser entendido como fruto tanto do sistema
linguístico, quanto do sistema social.
Para Dik (1989), investigar uma língua natural quer dizer analisar
como o usuário desta língua a “exerce”, já que a capacidade linguística do
ser humano seria apenas uma das muitas capacidades de que pode lançar
mão durante as práticas comunicativas.
Essa visão dinâmica da comunicação, pontuou as pesquisas
desenvolvidas no funcionalismo posterior ao período formalista quanto à
distinção estabelecida entre tema, e rema e à noção da “perspectiva
funcional da frase”. O tema de um enunciado seria, segundo Weedwood
(2002, p. 142), a “parte que se refere ao que já é conhecido ou dado no
contexto (também chamado às vezes, por outros teóricos, de tópico ou
assunto psicológico)” e o rema, “a parte que veicula informação nova”.
Já “perspectiva funcional da frase” quer dizer que “a estrutura
sintática da frase é em parte determinada pela função comunicativa dos
vários constituintes e pelo modo como eles se relacionam com o contexto
enunciado” (WEEDWOOD, 2002, p. 143).

36
Linguística UAB/Unimontes

Para atingir o seu objetivo, os funcionalistas lidam, essencialmente,


com dados de fala ou escrita retirados de contextos reais de comunicação,
desconsiderando frases criadas, dissociadas de sua função no ato da
interação comunicativa, como fazem os formalistas, que estudam a língua
como um objeto descontextualizado, já que estão interessados em suas
características internas – a forma de seus constituintes e as relações entre si –
e não nas relações entre esses constituintes e seus significados ou funções, ou
entre língua e seu meio, ou contexto de uso.

3.1.2 Teoria dos atos de fala

Na década de 1960, os estudos sobre as marcas linguísticas da


argumentação despertaram também o interesse de um grupo de filósofos
ingleses e americanos, o qual deu origem à Escola de Oxford: Austin –
autor da Teoria dos Atos da Fala e principal representante –, Searle e
Strawson.
Para Austin, a linguagem é uma prática social, não deve ser analisa-
da por si mesma, deve-se levar em conta os fatores que interferem no se uso,
ou seja, o contexto social e cultural.
Nas palavras de Austin (1990, p. 10),

fazê-lo, que palavras devemos usar em determinadas


situações, não estamos examinando simplesmente palavras
(ou seus significados, ou seja lá qual for), mas sobretudo a
realidade sobre a qual falamos ao usar estas palavras –
usamos uma consciência mais aguçada das palavras para
aguçar nossa percepção (...) dos fenômenos.

Quando se propôs a discutir a materialidade e a historicidade das


palavras, Austin refletiu sobre a possibilidade de se elaborar uma teoria que
explicasse construções interrogativas, exclamativas, sentenças que expres-
sassem comandos, desejos e concessões.
Noções interessantes propostas por Austin foram os enunciados
performativos (realizam ações, a partir do dizer) e os enunciados constativos
(realizam uma afirmação, falam de algo).
Austin propôs, ainda, níveis de ação linguística que atuam simulta-
neamente no enunciado:

Ÿ atos locucionários (dizem alguma coisa);


Ÿ atos ilocucionários (refletem a posição do/a locutor/a em
relação ao que ele/a diz);
Ÿ atos perlocucionários (produzem certos efeitos e consequências
sobre os/as alocutários/as, sobre o/a próprio/a locutor/a ou sobre outras
pessoas).

37
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

Essa nova teoria, ao conceber a linguagem como forma de ação,


não analisa a sentença, a estrutura da frase, mas sim o ato de fala, o uso da
linguagem em determinada situação juntamente com seus efeitos e conse-
quências.
B GC
GLOSSÁRIO E
A F 3.1.3 Pragmática

A Pragmática foi definida, em um momento inicial, como a ciência


Pragmática: estudo da relação do uso linguístico, ou seja, ciência que analisa o uso concreto da linguagem,
dos usuários da linguagem com
considerando os seus usuários e as condições que dominam essa prática
a linguagem (GUIMARÃES,
1983, p. 15). comunicativa.
Ao se voltar para os estudos da fala, a língua em uso social, conside-
rando as inovações e situações criativas no processo de uso da linguagem, a
Pragmática opõe-se às propostas formalistas.
Na Pragmática, há que se destacar os estudos de Mey (1985) que
discute o papel da linguagem na sociedade e aborda o conceito de manipu-
lação linguística, segundo o ponto de vista marxista; as contribuições de
Austin, na sua proposição sobre os atos de fala, conceito entendido como a
relação entre o que se diz e o que se faz; a ampliação dos estudos de Austin
por Émile Benveniste, ao classificar os atos de fala (ordenar, comandar,
decretar, etc.); o francês Ducrot; e o americano Grice.
Alguns desses estudiosos que, inicialmente, estavam inseridos nos
estudos da Pragmática, com o desenvolvimento de suas pesquisas, migra-
ram para outros campos de investigação.

3.1.4 Linguística textual

Embora frequentemente se diga que a Linguística Textual é um


ramo novo da Linguística, esta afirmação vai perdendo a sua validade, pois
começou a desenvolver-se na segunda metade da década de 1960 até
meados da década de 1970 na Europa, e, de modo especial, na Alemanha. A
origem do seu termo remonta Coseriu (1980), mesmo que ele só tenha sido
empregado pela primeira vez com o sentido que possui hoje em dia por
Weinrich (1967).
Tendo surgido de forma independente e quase simultânea, o seu
desenvolvimento não se deu de forma homogênea.
Já há mais de 30 anos Conte (1977) distinguia três momentos
fundamentais na passagem da teoria da frase para a teoria do texto, enfati-
zando que não se trata de uma distinção cronológica, e sim tipológica, por
não haver, entre eles, uma sucessão temporal, constituindo-se cada um
deles em um tipo diferente de desenvolvimento teórico. São eles: análises
transfrásticas, gramáticas textuais e linguística textual.

38
Linguística UAB/Unimontes

Uma primeira razão de projetar uma Linguística Textual, segundo


Conte, se deve ao fato de a gramática não dar conta de fenômenos como a
correferência, a pronominalização, a seleção dos artigos (definidos e
indefinidos), a ordem das palavras no enunciado, a concordância de tempos
e modos verbais, a entoação do enunciado, a relação semântica entre frases
não ligadas por conectivo e assim por diante. Tentou-se, então, encontrar
regras para o encadeamento de sentenças, a partir dos métodos até então
utilizados na análise sentencial, procurando dar conta de pares ou sequênci-
B GC
as maiores de frases. GLOSSÁRIO E
O objeto de estudo, nos três momentos propostos pela autora, foi A F
assim situado. Nível frástico: nível da frase.
No primeiro momento, o objeto de indagação não foi o texto em si
Nível transfrástico: nível além
mesmo, mas os tipos de ligação entre enunciados em uma série de enuncia- da frase, o qual considera o uso
dos – pesquisa transfrástica. pragmático da linguagem.
Nesse sentido, colocou-nos Conte que a maior parte das pesquisas
transfrásticas diz respeito às relações referenciais em particular, à identidade
referencial ou correferência, considerada como constitutiva da coerência de
um texto: vários constituintes linguísticos denotam uma única entidade
(referência).
Entretanto, ao analisar a noção de coerência tal como foi proposta
nesse momento, limitada à questão da correferência, Conte destacou que a
abordagem textual proposta sob essa ótica não dá conta de outros fatores
também responsáveis pela coerência textual e assim resume esse momento:

no primeiro momento da linguística textual superam-se os


limites do enunciado isolado, uma vez que se consideram
sequências de enunciados, mas não se chega ainda a um
tratamento completo do texto. Ao contrário, é somente
tematizando a estrutura hierárquica de um texto, a sua
coerência semântica global que se pode dar um passo do
enunciado ao texto (CONTE, 1977, p. 17).

A autora concluiu esse primeiro momento da Linguística Textual –


da análise transfrástica - caracterizando-o como uma fase preparatória da
Gramática Textual, pelo próprio tipo diferenciado de trabalhos que nela
surgiram: de um lado, pesquisadores estruturalistas como Weinrich ou
Harweg, de outro, gerativistas como Isenberg, Steinitz ou Karttunen: faltou a
esse primeiro momento um quadro teórico que garantisse um tratamento
homogêneo e uma comparação entre os resultados das várias pesquisas.
Assim, as tentativas de desenvolver uma Linguística Textual como
uma linguística da frase ampliada ou corrigida mostraram-se insatisfatórias e
acabaram sendo abandonadas.
No segundo momento, o objeto de investigação foi a competência
textual (gramática textual) e sua razão de ser se deveu à sua capacidade de
explicar fenômenos linguísticos inexplicáveis segundo uma gramática do

39
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

enunciado, e o que a legitimou, segundo Conte, foi “ a descontinuidade


entre enunciado e texto, a diferença qualitativa (e não meramente quantita-
tiva) entre enunciado e texto” (1977, p. 17-18).
Essas novas perspectivas fixaram e determinaram as seguintes
tarefas para a Gramática Textual:

Ÿ determinar o que faz de um texto um texto, quais são os princípi-


os de constituição de um texto, em que consiste a coerência de um texto, o
B GC que produz a textualidade específica de um texto;
GLOSSÁRIO E Ÿ determinar critérios para a delimitação de textos;
A F Ÿ diferenciar, no gênero texto, os diferentes tipos de texto.

Coerência: princípio de Conte (1977) apontou, como responsáveis pelo desenvolvimento


organização postulado para dar
conta do sentido de um texto dos principais modelos da Gramática Textual, Van Dijk (1972), Rieser e
(ou discurso); por meio dela, Petöfi (1973), cujos modelos compreenderam três características: um
um texto faz sentido para os quadro teórico gerativo, instrumentos conceituais e operativos da lógica e a
usuários.
Coesão: relação semântica integração da gramática dos enunciados na gramática textual.
entre um elemento do texto e Abandonou-se, pois, o método ascendente – da frase para o texto. É
algum outro elemento crucial a partir da unidade mais hierarquizada – o texto – que se pretende chegar,
para a sua interpretação,
realizada através do sistema por meio da segmentação, às unidades menores.
léxico-gramatical. Segundo Conte, o terceiro momento referiu-se ao tratamento do
Textualidade: possibilita que se
texto em seu contexto pragmático e, nesse âmbito, a pesquisa se estende do
converta uma sequência
linguística em texto. texto ao contexto, ou, no dizer de Petöfi (1973), “do co-texto (regularidade
interna ao texto), ao con-texto (conjunto de condições, externas ao texto, da
produção do texto, de sua recepção, de sua interpretação)”.
Fávero e Koch (1983, p.15), ao se referirem a esse terceiro momen-
to da Linguística do Textual destacaram que “para o surgimento das teorias
de texto contribuíram, de maneira relevante, a teoria dos atos de fala, a
lógica das ações e a teoria lógico-matemática dos modelos”.
Afirmaram, ainda, as autoras, que a abertura da Linguística à
Pragmática propiciou posicionamentos diversos entre os vários autores que
desenvolveram seus trabalhos nessa área, destacando, especialmente, as
posturas de Dressler e Schmidt.
No que se refere ao trabalho de Dressler, Fávero e Koch enfatizaram
que, para ele, a Pragmática é apenas um componente adicional do modelo
de gramática textual preexistente, cabendo-lhe tão-somente dar conta da
situação comunicativa na qual o texto é introduzido.
Chega-se, assim, à fase da Teoria do Texto ou da Linguística Textual
propriamente dita, que se propõe a investigar a constituição, o funciona-
mento, a produção e a compreensão dos textos. Os textos passam a ser

40
Linguística UAB/Unimontes

estudados dentro de um contexto pragmático, isto é, o âmbito de investiga-


ção se estende do texto ao contexto, entendido, de modo geral, como o
conjunto de condições externas – da produção, recepção e interpretação
dos textos.
Não se pode deixar de assinalar que, na Europa, a Linguística B GC
Textual teve seu impulso inicial, de maneira implícita ou explícita, com os GLOSSÁRIO E
trabalhos desenvolvidos pelos membros da Escola de Praga, entre os quais A F
Jakobson. Procedendo a análise dos enunciados, os linguistas dessa escola Tema (tópico): sintagma
ressaltaram a importância da distinção entre tema (ou tópico) e rema (ou nominal a respeito do qual se
diz alguma coisa numa frase
comentário), que só se torna admissível levando-se em conta um contexto assertiva.
mais extenso que o da frase. Muitas de suas ideias foram posteriormente Rema (comentário): parte do
adotadas por outros estudiosos como Halliday e Hasan (1976), cuja obra enunciado que acrescenta algo
de novo ao tema (DUBOIS et
Cohesion in English define e explicita o conceito de coesão, básico para os al, 2001).
estudos textuais.
Contudo, além dessas investigações já descritas que consideram o
texto como objeto de análise, temos outras propostas, conforme subunida-
des a seguir.

3.1.5 Análise da conversação

Esse outro domínio da Linguística, Análise da Conversação, consiste


em uma abordagem discursiva da língua e trata, segundo Marcuschi (1986),
da conversação, uma das formas de interação do homem com a sociedade,
ou seja, sua preocupação é com a interação verbal existente nas sociedades.
Os estudiosos desse domínio consideram a “conversação uma
atividade semântica, ou seja, um processo de produção de sentidos,
altamente estruturado e funcionalmente motivado” (DIONÍSIO in
MUSSALIM e BENTES ;2001, p. 72).
Basicamente, a Análise da Conversação investiga a estruturação da
língua e seus efeitos na conversação. Assim, o estudioso dessa área se ocupa
da organização do texto conversacional, isto é, dos detalhes e conexões
estruturais existentes no processo interativo. Em razão disso, Hilgert (1989)
propõe três níveis para o estudo da estrutura conversacional:

Ÿ macronível – analisa as fases conversacionais, ou seja, trata da


abertura, fechamento, parte central, tema central e subtemas da conversa-
ção - tópicos da conversação;
Ÿ nível médio – analisa a tomada de turnos, a sequência conver-
sacional, os atos de fala e os marcadores conversacionais denominados
turno conversacional;
Ÿ micronível – investiga a estrutura interna do ato de fala, ou seja,
sua estrutura sintática, lexical, fonológica, morfológica e prosódica.

41
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

Além disso, para uma análise da conversação, vários fatores


precisam ser considerados, tais como contexto, relações estabelecidas na
interação entre os envolvidos na conversação, tipo de interlocutores, tipo de
conversação, elementos estruturadores da conversação, aptidão linguística,
além de conhecimento partilhado e domínio das situações sociais vivencia-
das pelos interlocutores.

3.1.6 Análise do discurso

A Análise do Discurso é um ramo da Linguística que lida com a


linguagem verbal apresentando a materialização da ideologia no discurso e
seus efeitos de sentido. Em razão de o discurso ser tido como heterogêneo
pela Análise do Discurso, é impossível considerá-lo um espaço estável ou
fechado, mas controlado por possibilidades de construção de sentido que a
formação ideológica que o governa lhe permite.
Nesse aspecto, o sentido não existe por si, mas vai sendo construído
à proporção que o discurso se constrói e as posições ideológicas vão sendo
colocadas nas formações discursivas (MUSSALIM in MUSSALIM; BENTES,
2001, p. 132).
As reflexões teóricas tecidas por Bakhtin, estudioso que considerou
a língua um fato social cuja existência funda-se nas necessidades de
comunicação, forneceram bases na constituição da Análise do Discurso
(AD).
Esse estudioso propôs que a língua é algo concreto, fruto da
manifestação individual de cada falante, o que desencadeia a valorização
da fala. Também postulou que a intersubjetividade do homem concretiza-se
por meio de cada enunciado e reiterou que o processo de interação verbal
constitui realidade fundamental da língua, sendo o interlocutor um sujeito
ativo na constituição do significado.
Outra contribuição importante desse linguista está na concepção
do signo como uma entidade dialética, viva e dinâmica; visão diferente em
relação a Saussure já que, para este, o signo advém da análise da língua
como sistema sincrônico e abstrato.
Isto é, para Bakhtin (1988), a linguagem é interação social, em que o
outro desempenha papel fundamental na constituição do significado. Além
disso, ela é foco da manifestação concreta da ideologia, pois “a palavra é o
signo ideológico por excelência” - produto da interação social.
A linguagem, segundo ele, caracteriza-se pela plurivalência, por
isso é o elemento privilegiado para a manifestação da ideologia já que
retrata as diferentes formas de significar a realidade, não podendo ser
estudada fora da sociedade, dos processos sócio-históricos, ou seja, seu
estudo não pode ser desvinculado de suas condições de produção, daqueles
que a empregam.

42
Linguística UAB/Unimontes

Cunhou-se, a partir disso, o termo discurso como o ponto de


articulação dos processos ideológicos e dos fenômenos linguísticos, reco-
nhecido como uma instância que comporta um plano linguístico e um
extralinguístico.
Esse termo discurso é dispersão (formado por elementos que não se
relacionam por princípio de unidade), segundo Foucault (2002), ou seja, um
conjunto de enunciados que se remetem a uma mesma formação discursiva,
nos seus princípios de regularidades. E a Formação Discursiva (FD) seria a
composição de certa regularidade discursiva, de um sistema comum de
temas e teorias.
Foucault considera que “o sujeito é uma função vazia”, isto é, “um
espaço a ser preenchido por diferentes indivíduos que o ocuparão ao
formularem o enunciado”, por isso “deve-se rejeitar qualquer concepção
unificante do sujeito” (BRANDÃO, 1988, p. 30).
O discurso é atravessado pela dispersão do sujeito, segundo ele,
“em que diversas posições de subjetividade podem se manifestar”, redimen-
sionando “o papel desse sujeito no processo da organização da linguagem,
eliminando-o como fonte geradora de significações” (IDEM).
O outro termo muito explorado em AD, ideologia, numa aborda-
gem mais ampla, corresponde à visão/concepção de mundo de uma
determinada sociedade numa determinada circunstância histórica. O
estado dos fenômenos da linguagem e da ideologia é predominante em
razão de se concretizar na linguagem.
A ideologia, para Ricouer, tem como função geral intervir na
interação social (RICOEUR, 1977, apud BRANDÃO, 1988, p. 24-25).
Segundo ele, a ideologia:

1. “perpetua um ato fundador inicial” [...] e é a “distância que


separa a memória social de um acontecimento” ;
2. “é dinâmica, é motivadora” , [...] “impulsiona a práxis social,
motivando-a” ;
3. “é operatória”[...]; “ela opera atrás de nós”. [...] “É a partir dela
que pensamos”;
4. é desvinculada da “noção de dissimulação, de distorção, em
razão de seu “estatuto não reflexivo e não transparente”;
5. é conservadora e resistente às transformações, pois “o novo põe
em perigo as bases estabelecidas pela ideologia”.

Assim, a AD é um campo de estudo que abrange três espaços


(PÊCHEUX ; FUCHS, 1975, apud BRANDÃO, 1988, p. 32):

Ÿ “materialismo histórico como teoria das formações sociais e suas


transformações” - teoria das ideologias;

43
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

Ÿ “linguística como teoria, ao mesmo tempo, dos mecanismos


sintáticos e dos processos de enunciação”;
Ÿ “teoria do discurso, como a teoria da determinação histórica dos
processos semânticos”.
Esses três espaços são atravessados e articulados por uma teoria da
subjetividade, cujo caráter é psicanalítico.

3.1.7 Sociolinguística

Apesar da indiscutível relação linguagem e sociedade, há estudos


que não privilegiam essa relação (o polo formalista, por exemplo), o que
motiva muitos estudiosos, atualmente, a se voltarem para a natureza social,
histórica e cultural na observação, descrição e análise do fenômeno
linguístico.
E a Sociolinguística é uma das vertentes linguísticas do polo
pragmático que exerce esse compromisso, tanto que busca contribuições
na Etnologia, Psicologia, Sociologia etc. para elucidar seu objeto de estudo: a
língua falada.
Essa vertente linguística, que tem como um de seus representantes
Labov, propõe-se a analisar a língua em seu uso real, considerando as
relações existentes entre língua e sociedade
(aspectos sociais e culturais da produção
B GC
GLOSSÁRIO E linguística), partindo do princípio de que a língua
A F é constituída de um conjunto de variedades
linguísticas (heterogênea), cujas regras podem
Variação: fenômeno linguístico variar (coexistência de formas linguísticas) e
que corresponde ao fato de as alterar-se com o passar do tempo - característi-
línguas possuírem várias formas
linguísticas com o mesmo cas inerentes às línguas.
significado coexistindo em um Nesse sentido, a Sociolinguística
mesmo tempo.
considera os fatores internos e os fatores externos
Mudança: fenômeno Figura 8: William Labov
linguístico que corresponde ao Fonte: http://pt.wikipedia.org à língua que podem interferir nos fenômenos
fato de as línguas selecionarem linguísticos. Entende-se por fatores internos os aspectos gramaticais de uma
uma das diferentes formas
língua: fonético, fonológico, morfológico, sintático e semântico; além do
linguísticas coexistentes, em
detrimento das outras, em componente lexical. Já por fatores externos os aspectos não linguísticos, tais
tempos diferentes. como sexo, faixa etária, grau de escolaridade, posição geográfica, classe
social, ocupação, graus de formalidade etc.
Importante frisar que essa vertente considera a variedade e
mudança linguísticas como fenômenos constitutivos da linguagem, e não um
problema ou desvio da língua, postulados que, segundo eles, devem ser
adotados no ensino.
Contudo, apesar de a Sociolinguística defender que todos os
padrões linguísticos devam ser trabalhados na escola, sem nenhuma
conotação de valor, pertencendo ao professor o papel de conscientizar o

44
Linguística UAB/Unimontes

aluno da necessidade de adequação das formas às exigências comunicati-


vas, a tradição pedagógica no Brasil ainda supervaloriza a variedade padrão, B GC
em detrimento de outras variedades, na eleição do correto em oposição ao GLOSSÁRIO E
tido como incorreto; ainda idealiza a língua escrita, especialmente, do A F
modelo padrão.
Área de Broca: parte do
cérebro responsável pela nossa
expressão verbal e escrita. É
3.1.8 Neurolinguística
com essa parte do cérebro que
juntamos as sílabas de cada
Retoma à Antiguidade a preocupação do homem em relação ao palavra de uma forma
coerente.
cérebro, considerando-o um órgão relacionado à sensação e à inteligência. Área de Wernicke: parte do
Contudo, apenas no período do Iluminismo surgiu o interesse pela cogni- cérebro responsável pela
ção, em um momento em que a psique deixa de ser considerada um atributo compreensão e pela escolha
das palavras que usamos.
divino e se torna um atributo humano e, somente, no século XIX, o cérebro Fonte:
passou a ser investigado cientificamente. http://drauziovarella.ig.com.br/
cerebro/palavracerebro.asp
Em 1861, o
Afasia: perturbação da
francês Paul Broca linguagem em que há alteração
descreve os primeiros de mecanismos linguísticos em
todos os níveis, tanto no seu
casos de afasia motora,
aspecto produtivo (relacionado
que afeta a expressão com a produção da fala)
da linguagem. quanto interpretativo
(relacionado com a
No entanto,
compreensão e com o
Gall foi o primeiro, no reconhecimento de sentidos),
início do século XIX, a causada por lesão estrutural
adquirida no Sistema Nervoso
relacionar a “área
Central, em virtude de
cerebral lesada“ pela Figura 9: áreas do cérebro: Broca e Wernicke acidentes vasculares cerebrais
afasia a “manifestações Fonte: http://wapedia.mobi/pt/%C3%81rea_de_Broca (AVCs), traumatismos crânio-
encefálicos (TCE) ou tumores
clínicas de pacientes neurológicos”(apud MORATO in MUSSALIM e
(COUDRY, 1998 apud
BENTES, 2001, p. 150), introduzindo, assim, a linguagem entre as faculda- MORATO, 2001, p. 154).
des mentais localizadas no cérebro.
E, na primeira metade do século XX, os linguistas, acanhadamente,
começaram a estudar a afasia, com o objetivo de comprovar ou testar suas
teorias, desenvolvendo pesquisas para se compreender melhor o funciona-
mento da cognição humana, os métodos diagnósticos e terapêuticos.
Jakobson foi o primeiro a dedicar-se a esse estudo, em uma
abordagem linguística. Esse linguista almejou elaborar uma teoria geral que
abordasse aspectos da aquisição, funcionamento, estrutura e alterações da
linguagem. Segundo Morato (2004, p. 157),

[...] Jakobson ampliou, tendo como pano de fundo o


estruturalismo e o funcionalismo linguístico (sob sua forma
mais produtiva, o Círculo Linguístico de Praga), algumas das
ideias de Saussure; no entendimento dos tipos de afasia
descritos e metodologicamente com dicotomias clássicas,
estabelecendo dois grandes eixos de relações (simbólicas)

45
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

projetadas um sobre o outro, duas formas de organização da


linguagem, sintagmático/metafórico (responsável pela
combinação de unidades). Essa combinação conferiria
ATIVIDADES unidade linguística ao sistema de linguagem.

Os estudos de Jakobson serviram de incentivo aos linguistas, que


Instituto de Neurolinguística
Aplicada (INAP) passaram a se interessar pelas patologias, e, por outro lado, contribuíram
www.pnl.med.br para a interface Linguística e Neurociências.
Leia a matéria no link Dessa interface, configurou-se a Neurolinguística, que, segundo
http://veja.abril.com.br/040804 Caplan (1987), é “o estudo das relações entre cérebro e linguagem, com
/p_124.html e faça uma enfoque no campo das patologias cerebrais, cuja investigação relaciona
resenha descritiva sobre o
assunto. determinadas estruturas do cérebro com distúrbios ou aspectos específicos
da linguagem”.
Entre tantos interesses, essa área estuda a organização normal ou
patológica da linguagem; os efeitos dos estados patológicos do/no funciona-
mento da linguagem; os processos de intercâmbios de significação, seja
verbal seja não verbal em indivíduos acometidos por patologias cerebrais,
cognitivas ou sensoriais, tais como afasia, demência, surdez, etc.; os
caracteres éticos, sociais e culturais relacionados aos casos patológicos, à
B GC cognição; os metadiscursos clínico-médicos em relação às patologias e o
GLOSSÁRIO E
pensamento sobre as indicações de procedimentos terapêuticos; a organiza-
A F ção discursiva que relaciona linguagem e cognição; os aspectos interativos
Patologia da linguagem:
condições adquiridas ou
das atividades humanas e as condições histórico-discursivas que mobilizam
desenvolvidas, caracterizadas essas atividades etc.
por habilidades deficientes em Porém, mesmo com tanto progresso nessa área, ainda há muitas
compreender e gerar formas da
linguagem verbal. indagações não respondidas, principalmente, as relacionadas à atividade
cerebral e aos processos da memória, visto que a linguagem e a memória são
fenômenos cognitivos muito complexos que abrangem várias áreas cerebrais
e distintas operações simbólicas humanas e as associam a experiências da
vida em sociedade, subjetividade, consciência, cultura, arte, ciência etc.

3.1.9 Psicolinguística

A Psicolinguística - mais um ramo da Linguística Moderna - é um


campo interdisciplinar, Psicologia e Linguística, cujos estudos, inicialmente,
trataram do relacionamento entre o pensamento, o comportamento e a
linguagem. Dois foram os acontecimentos que a influenciaram:
1) o fato de a Psicologia se ancorar em fundamentos da Linguística
para entender os funcionamentos da linguagem e, segundo os psicólogos,
por conseguinte, entender o funcionamento da mente humana. Essa
interdisciplinaridade gerou duas correntes: a mentalista, que se interessava
por investigar o pensamento através do estudo da linguagem (tradição
europeia) e a corrente comportamentalista, que entendia o comportamento
linguístico como mecanismos de estímulo-resposta (tradição norte-
americana);

46
Linguística UAB/Unimontes

2) o fato de a Linguística apoiar-se em fundamentos da Psicologia, a


partir de W. Wundt, que sustentou e demonstrou que a linguagem podia ser
por esta ciência, parcialmente, explicada.
Segundo Balieiro Júnior (2001, p. 176),

A Psicolinguística desse período era um amplo painel de


pesquisas oriundas da Psicologia e orientada para a
Linguística e de pesquisas oriundas da Linguística e
orientadas para a Psicologia. Enquanto os linguistas tratavam
preferencialmente dos “estados dos comunicadores”, e, por DICAS
extensão, dos processos de codificação e decodificação.
Havia, ainda, muita dispersão teórica, sem um esforço amplo
de definição da Psicolinguística como disciplina, pipocando
pesquisas em que a teoria se encontrava em grande parte Há duas vertentes de análise e
implícita na pesquisa, ou dela emergia timidamente. experimentação psicológica nas
pesquisas sobre as estruturas
linguísticas e o processamento
Atualmente, a Psicolinguística apresenta-se em estado transitório, mental: a modularista defende
com inúmeras pesquisas interdisciplinares e questões sobre a realidade que a mente é um sistema
composto de módulos, os quais
psicológica, o processamento da linguagem e o funcionamento da mente
processam as informações de
humana estão no auge. maneira independente,
Nas pesquisas psicolinguísticas são recorrentes as seguintes havendo mecanismos de
interface entre esses módulos;
abordagens, segundo Balieiro Júnior (2001, p. 182-183), e a não modularista concebe
que não há limites definidos
entre os níveis de
Ÿ relações entre linguagem e pensamento (produto do sistema
conhecimentos linguísticos, e
cerebral); que há trocas ativas de
Ÿ relações entre linguagem e cérebro; informações entre esses níveis.

Ÿ sistemas de processamento mental da linguagem e subsistemas;


Ÿ processamento de unidades amplas da linguagem, como o texto
e o discurso;
Ÿ aprendizagem de outras operações ou sistemas linguísticos
como a leitura e a escrita.

Além da pesquisa e da construção de teorias, há a Psicolinguística


Aplicada que se ocupa da resolução de questões de aplicação das
descobertas teóricas da Psicolinguística.
Assim, ao final de todo esse estudo, reafirmamos os dizeres na
conclusão do material da disciplina anterior, Introdução à Linguística : não
há teorias superadas e nem corretas, dado que as propostas representam
aproximações de determinados aspectos da linguagem vislumbrados por
estudiosos.
Nesse quadro de inúmeras propostas o que se apresenta é um bloco
de ideias que ora se opõem, ora se complementam constituindo tendências
do pensamento humano.

47
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

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50
RESUMO

1. Os hindus, embora com objetivos basicamente religiosos, são os


primeiros povos a estudar a língua em si mesma – língua do sânscrito.
2. Tendo como ponto de partida a lógica de Aristóteles, os estudos
gramaticais gregos, no mundo ocidental, desenvolveram-se a princípio
dentro da Filosofia. A preocupação primordial deles centrava-se no que
regia a natureza da língua. Mais adiante, com os sábios alexandrinos, a
gramática constituiu-se como disciplina independente; o autor da mais
antiga gramática grega que se conhece, Dionísio da Trácia, assumiu uma
pesquisa empírica e normativa, formulando suas teorias com base no uso de
escritores ditos consagrados. Contudo, os gramáticos especulativos da Alta
Idade Média e, mais tarde, os racionalistas dos séculos XVII e XVIII voltaram a
encarar os estudos de língua como um pensamento da Lógica
3. Na Idade Média, aparece a gramática especulativa, que partia
do princípio de que a língua é um espelho que reflete a realidade subjacente
aos fenômenos do mundo físico, e tentava determinar como a palavra se
relaciona com a inteligência e com a coisa que ela representa. Na verdade,
sustentavam esses gramáticos que a palavra não representa diretamente a
natureza da coisa significada, mas apenas como ela existe de uma determi-
nada maneira ou modo: uma substância, uma ação, uma qualidade. Os
ideais dessa gramática serão revividos na França, no século XVII, entre os
sábios de Port-Royal quando publicaram sua Grammaire Générale et Raison-
née para demonstrar que a estrutura da língua é um produto da razão e que
as línguas são apenas variedades de um sistema lógico e racional mais geral.
4. A influência e o prestígio dos ensinamentos gregos atingem os
romanos, que os assimilam e os propagam, garantindo uma tradição grama-
tical que será repensada no século XVII e que tomará novos rumos a partir do
século XIX.
5. A tradição gramatical greco-latina prolonga-se no Ocidente por
toda a época medieval e é assimilada na Renascença. A pressão do latim
continua, e a filologia é a ciência de maior prestígio com o intuito de tornar a
literatura mais acessível. Esse espírito transparece não só nas gramáticas
latinas, mas também nas escritas em vernáculo, destacando a Gramática de
Fernão de Oliveira e a Gramática de João de Barros.
6. No século XVII, os estudos linguísticos vão reviver as especula-
ções de caráter filosófico. Assim é que Claude Lancelot escreve em colabora-
ção com Antoine Arnaud uma Grammaire Géneral et Raisonée, obra que

51
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

passa a ser conhecida como Grammaire de Port-Royal e cujo objetivo é


estabelecer certos princípios lógicos gerais a que todas as línguas obedeceri-
am, e ainda fornecer explicações lógicas para o seu uso. Nesse contexto, a
gramática não é o manual de um legislador da língua, mas uma disciplina
que enuncia as regras pelas quais a língua se ordena para poder existir. Além
disso, para os teóricos de Port-Royal, a gramática tem uma tarefa complexa:
não basta descrever claramente as regras, é preciso explicá-las. A gramática
geral, que transcende todas as línguas, vai, então, marcar o privilégio absolu-
to que a gramática latina desfrutava havia séculos.
7. No século XVIII, a redescoberta do sânscrito mostrava sua analo-
gia com a maioria das línguas europeias, antigas e modernas. A partir daí, os
comparativistas evidenciam que, entre aquelas línguas, não há mera seme-
lhança, mas um autêntico parentesco, elas podem ser reconstruídas por
transformações naturais de uma língua-mãe.
8. Na primeira metade do século XIX, desenvolveram-se, na Alema-
nha, importantes pesquisas linguísticas – denominadas de gramática compa-
rada, linguística histórica ou comparativismo – realizadas por Bopp e Grimm,
entre outros, cuja preocupação era com a história das línguas e com a análise
sistemática das correspondências entre as diversas formas de diferentes
línguas.
9. Na segunda metade do século XIX, um grupo de linguísticos,
principalmente alemães – impregnados pelas ideias positivistas da época –,
tentou levá-las para a linguística histórica, com a intenção de renovar a
gramática. São os Neogramáticos, para quem a linguística histórica deve ser
explicativa; assim, não se trata apenas de constatar mudanças e evoluções
linguísticas, mas de explicar suas causas – explicação que deve ser positivista,
desacreditando-se as outras de cunho filosófico. Os neogramáticos vão
sustentar que, para chegar às causas, é preciso estudar as mudanças dentro
de uma duração limitada: deve-se comparar um estado da língua, isto é, um
momento da evolução linguística abstraído do tempo com outro que o
segue.
10. Os neogramáticos propuseram que as mudanças no sistema
fonético de uma língua se davam a partir de leis fonéticas regulares (fixas) e
analogias.
11. No fim do século XIX e início do século XX, as ideias de Saussure
tornam-se um marco na evolução dos estudos linguísticos e, consequente-
mente, da gramática. Assim, o século XIX caracteriza-se pela procura das
origens das línguas e a primeira metade do século XX mostra o desenvolvi-
mento da linguística, tendo como objeto a língua em si, em determinado
momento da história; estuda-se a estrutura das línguas.
12. Movimentos linguísticos do século XX: pólo formalista (Estrutu-
ralismo e Gerativismo) - linguagem verbal é analisada desvinculada do
processo comunicativo e sociointeracional; pólo pragmático (Funcionalis-
mo, Teoria dos atos de fala, Pragmática, Linguística textual, Análise da

52
Linguística UAB/Unimontes

conversação, Análise do discurso, Sociolinguística, Neurolinguística e


Psicolinguística) - linguagem verbal é analisada considerando seu uso em
situações reais de comunicação.
13. A Semiologia/Semiótica é uma ciência que investiga qualquer
sistema de comunicação seja verbal (através da palavra) seja não verbal
(através de outros sistemas que não o da palavra).
14. A Linguística é a ciência que investiga a linguagem verbal
humana (falada/escrita) – um sistema de comunicação específico – cuja
intenção é descrever e explicar o uso natural da linguagem verbal (realidade
linguística); não há nenhuma intenção da Linguística de ditar regras linguísti-
cas para o usuário de uma dada língua.
15. Objeto de estudo da Linguística: linguagem verbal humana.
16. Outro grande impulso à linguística estrutural foi dado nos
Estados Unidos, onde a sobreposição da linguística descritiva – impulsiona-
da em grande parte pelo estudo das línguas indígenas – aos demais estudos
linguísticos era quase completa (destacando-se aí Leonard Bloomfied, com a
obra Language e Sapir no campo das descrições das línguas indígenas).
17. Um estruturalismo novo (Gerativismo) surgiu com Noam
Chomsky, cuja obra Syntatic Structures não dispensa a palavra estrutura e
sua teoria, sob muitos aspectos, está relacionada a antigas ideias do século
XVII e de Humboldt (primeira metade do século XIX).
18. Ainda no século XX, surge o polo pragmático, no qual o estudo
da língua dá-se paralelamente ao estudo da situação comunicativa, a saber –
o propósito do ato de fala, seus interlocutores, seu contexto discursivo.
Assim, a língua é usada de determinada forma justamente para satisfazer
necessidades comunicativas, sendo susceptível a transformações impostas
pelo uso.
19. Algumas escolas do polo pragmático: Funcionalismo, Teoria dos
atos de fala, Pragmática, Linguística textual, Análise da conversação,
Análise do discurso, Sociolinguística, Neurolinguística e Psicolinguística.
20. O Funcionalismo entende a língua como um instrumento de
comunicação e, portanto, reivindica a ideia que esta não pode ser concebida
como um objeto autônomo, mas como processo/produto das situações
comunicativas.
21. A Teoria dos atos de fala concebe a linguagem como forma de
ação; não analisa a sentença, a estrutura da frase, mas sim o ato de fala, o uso
da linguagem em determinada situação juntamente com seus efeitos e
consequências.
22. A Pragmática estuda a relação dos usuários da linguagem com a
linguagem (GUIMARÃES, 1983, p. 15).
23. A Linguística textual, em sua último momento, propõe-se a

53
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

investigar a constituição, o funcionamento, a produção e a compreensão dos


textos, dentro de um contexto pragmático, isto é, o âmbito de investigação
se estende do texto ao contexto, entendido, de modo geral, como o conjun-
to de condições externas – da produção, recepção e interpretação dos
textos.
24. A Análise da conversação (AC) consiste em uma abordagem
discursiva da língua e trata da conversação, uma das formas de interação do
homem com a sociedade, ou seja, sua preocupação é com a interação verbal
existente nas sociedades.
25. Os estudiosos da AC consideram a “conversação uma atividade
semântica, ou seja, um processo de produção de sentidos, altamente
estruturado e funcionalmente motivado” (DIONÍSIO in MUSSALIM ;
BENTES, 2001, p. 72).
26. A Análise do discurso (AD) é um ramo da Linguística que lida
com a linguagem verbal apresentando a materialização da ideologia no
discurso e seus efeitos de sentido. Em razão de o discurso ser tido como
heterogêneo pela Análise do discurso, é impossível considerá-lo um espaço
estável ou fechado, mas controlado por possibilidades de construção de
sentido que a formação ideológica que o governa lhe permite.
27. Para os estudiosos da AD, o sentido não existe por si, mas vai
sendo construído à proporção que o discurso se constrói e as posições
ideológicas vão sendo colocadas nas formações discursivas .
28. A Sociolinguística analisa a língua em seu uso real, consideran-
do as relações existentes entre língua e sociedade (aspectos sociais e culturais
da produção linguística), partindo do princípio de que a língua é constituída
de um conjunto de variedades linguísticas (heterogênea), cujas regras
podem variar (coexistência de formas linguísticas) e alterar-se com o passar
do tempo - caracteres inerentes às línguas.
29. Neurolinguística, segundo Caplan (1987), é “o estudo das
relações entre cérebro e linguagem, da investigação no campo das patologi-
as cerebrais, concebendo que determinadas estruturas do cérebro têm
relação com os distúrbios ou aspectos específicos da linguagem”.
30. Atualmente, a Psicolinguística trata da questão da realidade
psicológica do processamento da linguagem e do funcionamento da mente
humana.

54
REFERÊNCIAS

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59
ATIVIDADES DE
APRENDIZAGEM
- AA

1) Analise o discurso dos enunciados abaixo e comente as ideologias


presentes na charge:

______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________

2) Acerca dos dois polos de investigação linguística no século XX, assinale a


alternativa INCORRETA:
a) ( ) O polo formalista envolve as propostas da Sociolinguística e da
Análise do Discurso.
b) ( ) O polo pragmático observa as condições de uso da linguagem verbal
em situações reais de comunicação.
c) ( ) O polo formalista é constituído por estudiosos estruturalistas e
gerativistas, entre os quais, destacamos Saussure e Chomsky,
respectivamente.
d) ( ) A Análise do Discurso, que se encontra no polo pragmático, enfoca
a língua analisando as ideologias sociais implícitas no discurso.
e) ( ) O polo formalista estuda a língua sob um ponto de vista abstrato, fora
de um contexto de uso.

61
Linguística UAB/Unimontes

3) Leia as afirmativas abaixo.


I. Sob a ótica da teoria funcionalista, a língua não deve ser analisada apenas
formal e abstratamente, sem levar em conta as relações pragmáticas que
fundamentam a interação verbal. É mister abarcar na análise linguística a
produção de interlocutores reais, pois o Funcionalismo percebe a linguagem
como um instrumento de interação social entre os seres humanos, usado
com a intenção de estabelecer comunicação.
II. A gramática funcional não despreza o plano da forma, mas procura
descrever o funcionamento das unidades gramaticais em situações
comunicativas concretas.
III. A teoria gerativista, concebendo a linguagem como um objeto
autônomo, independente do uso, interpreta a língua como uma atividade
mental.
IV. No polo pragmático, parece que a cientificidade da linguística caminha
da teoria para a prática, ou seja, criado um modelo teórico, busca-se a
prática linguística para adequá-la ao modelo. Se há elementos de interação
comunicativa real que possibilitem esse ajuste, são simplesmente ignorados.

Após análise, verifica-se que a alternativa INCORRETA é


a) ( ) III, apenas.
b) ( ) I, II e IV, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) I, II, III e IV, apenas.
e) ( ) IV, apenas.

4) Relacione a tirinha abaixo à seguinte afirmação “o discurso é o jogo


polêmico em que as relações de poder e saber se articulam” e comente.

______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________

62
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

5) Enumere a segunda coluna de acordo com a primeira.

A seqüência CORRETA é
a) 1, 5, 2, 4, 3.
b) 4, 1, 2, 3, 5.
c) 2, 5, 1, 4, 3.
d) 1, 3, 2, 4, 5.
e) 1, 2, 3, 4, 5.

6) A partir da charge a seguir responda:

a) Podemos considerar que a enunciação abaixo constitui um texto? E que


aspectos linguísticos dessa charge poderiam ser explorados pelo pólo
pragmático de investigações linguísticas? Comente sua resposta.

______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________

63
Linguística UAB/Unimontes

7) A diferença entre a Linguística e a Semiologia/Semiótica é que


I. a Semiologia/Semiótica analisa a linguagem verbal humana e a Linguística
normatiza essa linguagem.
II. a Semiologia analisa apenas o caráter arbitrário dos signos da língua e a
Linguística, o seu caráter natural.
III. a Semiologia/Semiótica, em razão de se propor a investigar todo e
qualquer sistema de comunicação (verbal ou não verbal), abrange a
Linguística, que investiga apenas a linguagem verbal humana.

Está(ão) CORRETA(S) a(s) afirmativa(s)


a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II e III, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) III, apenas.
e) ( ) I, II, e III, apenas.

8) Observe os diferentes efeitos de sentidos que podem transcorrer na


tirinha abaixo, a partir da linguagem verbal, não verbal, do seu
conhecimento de mundo, conhecimento de contexto situacional, cultura,
bem como os objetivos de quem produziu esse texto e descreva-os.

______________________________________________________________
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64
Letras/Português Caderno Didático - 3º Período

9) O que se quer dizer quando se afirma que se pode fazer investigação


linguística tanto de um ponto de vista sincrônico quanto de um diacrônico?
Comente.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
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10) Assinale V para as VERDADEIRAS e F para as FALSAS.


a) ( ) A língua é convencionada por um grupo de falantes, segundo
Saussure.
b) ( ) A língua-I é construída a partir de exposição a dados linguísticos.
c) ( ) O significante é o som da fala, segundo a proposta estruturalista.
d) ( ) A competência comunicativa equivale à competência linguística.
e) ( ) O competência pressupõe o desempenho, segundo a proposta
gerativista para a linguagem.

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