You are on page 1of 20

1

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ


ESCOLA DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
DISCIPLINA DE METODOLOGIA CIENTÍFICA E PRODUÇÃO TEXTUAL
PROFESSORA: MSC. ELISIANE DONDÉ DAL MOLIN

METODOLOGIA CIENTÍFICA – UM INTRODUTÓRIO

1 METODOLOGIA CIENTÍFICA

A Metodologia Científica estuda os métodos, os caminhos do saber, do conhecimento


científico. Pelo Método Científico, encontramos uma forma de explicar o mundo e
compreendemos a realidade em que vivemos. Construído ao longo de séculos, reúne critérios
específicos para distinguir o que é uma boa explicação e o que não é.
Metodologia origina-se da fusão de duas palavras latinas: Methodos (caminho para se
chegar a um fim) e Logus (estudo, ciência que trata ou estuda). Na universidade, é a disciplina
que aponta os caminhos para o auto aprendizado, ensinando o aluno a aprender e a pesquisar.
É o estudo da melhor maneira de abordar determinados problemas e indicar as maneiras de se
encontrar as soluções.
Sempre estamos pesquisando alguma coisa e, para isso, usamos métodos. A
metodologia científica também é o ato de pesquisar, mas dentro de parâmetros científicos,
reconhecidos e comprovados, geradores de CONHECIMENTO amparado pela CIÊNCIA.
Existe uma diferença entre conhecimento e informação: a informação se trata de um
dado qualquer, seja um número, uma palavra ou um nome, acessada cotidianamente. O
conhecimento surge quando tal informação transcende essa percepção superficial e passa a ser
analisada, interpretada para a geração de explicações ou entendimentos mais aprofundados.
Suas resultantes não dependem da história e são aplicáveis a todas as épocas.

1.1 Epistemologia e Ciência

O que é epistemologia? É a relação de princípios, fundamentos e validade das


ciências, por meio da análise crítica e da ligação entre fatos, teorias e leis, ou ainda, os
discursos (logos) sobre a Ciência (episteme) (TESSER, 1995).
2

Tendo origem na filosofia, sua tarefa principal é reconstruir racionalmente o


conhecimento científico ao conhecer e analisar a organização, formação, desenvolvimento,
funcionamento e resultantes, capazes de sustentar um campo de estudo e a maneira como esse
processo acontecerá.
Nesse caso, a função da epistemologia é promover uma reflexão profunda e crítica da
ciência, esta considerada uma das atividades mais importantes do homem, sinônimo de sua
existência moderna (TESSER, 1995).
Em contrapartida, considera-se Ciência o conjunto de conhecimentos relativos a um
objeto, obtido por observação, experiência dos fatos e método próprio. Busca compreender a
realidade de maneira racional, descobrindo relações entre os fenômenos, prevendo
acontecimento e possibilitando a ação sobre a natureza (MATIAS-PEREIRA, 2012).
A Ciência se caracteriza por uma estrutura ordenada de informações. É um modo de
compreender o mundo “empírico” (cotidiano), envolvendo um conjunto de procedimentos, ou
ainda, o conhecimento do todo, a investigação da realidade que identifica essências e leis
regentes.
Configura-se também como forma de pensamento que converge instrumentos
inventados pelo homem para explicar e ajudar a entender o mundo ao seu redor –
aproximação máxima e permanente de uma existência. Por isso, devemos sempre estar
abertos a novas ideias, elas serão geradoras da pesquisa científica.
As ciências possuem (MARCONI; LAKATOS, 2012) - Objetivo ou Finalidade:
preocupação em distinguir elementos comuns de determinados eventos; Função:
aperfeiçoamento da relação do homem com o seu mundo; Objeto: material (o que se pretende
estudar) e forma (o meio como se pretende estudá-lo).
Quando falamos em ciência, relacionamos elementos que a compõem na geração de
conhecimento científico (GRANDO, 2017a). Os primeiros deles são os fatos e fenômenos, ou
seja, tudo que existe e pode ser conhecido; humano e/ou natural, cuja perspectiva é
modificada conforme o olhar de quem os vê. Para que um fato seja transformado em um
fenômeno é necessária a existência de uma consciência.
Os segundos tratam-se das Leis e das Teorias. As Leis são hipóteses que passaram
pelo crivo da verificação e tem a função de explicar, resumir e prever novos fatos. Ex. lei da
gravitação universal. Já as teorias são conhecimentos mais abrangentes, que reúnem conceitos
para organizar os fatos e explicá-los, capazes de estabelecer as relações possíveis e permitir
previsões ou prognósticos da realidade. Para isto uma teoria produz a ordenação dos fatos:
3

conceitos, classificações, correlações, generalizações, princípios, regras, leis, teoremas,


premissas, pressupostos, etc.
É importante destacar que Teorias e Fatos não são opostos - não se concebe um sem o
outro – porque não ha teoria que não se baseie em fatos, e a compilação de fatos ao acaso não
produz ciência. A teoria é o conjunto de princípios que orienta a pesquisa e a explicação dos
fatos, estes importantes para iniciar, reformular, rejeitar, redefinir e esclarecer a teoria.

1.2 Conhecimento

Manifestação da consciência de conhecer, quando se explica o “dado” vivido


(BARROS; LEHFELD, 2008). A sobrevivência do homem depende do conhecimento que ele
adquire, desde bebê, no processo de socialização, por isso que o conhecimento pode ser usado
em todas as épocas.
Para Nascimento e Sousa (2017), o domínio do conhecimento possibilita ao homem,
além de conhecer o mundo, também explicar e transformar sua realidade e, para que a
sociedade consiga se desenvolver, todos precisam ter acesso a ele e entender a relação entre
sujeito (o indivíduo) e objeto (a realidade na qual ele vive).
O conhecimento possui quatro divisões (MARCONI; LAKATOS, 2012;
NASCIMENTO; SOUSA, 2017):

1) Popular (Comum) – se fundamenta em seleção de estados de ânimo e emoções – os


valores cognocentes impregnam o objeto conhecido. Está limitado à vida diária, é falível e
inexato, pois se conforma com a aparência e com o que se ouviu dizer. Não permite a
formulação de hipóteses além da mera percepção objetiva. São as opiniões individuais e
subjetivas das pessoas sobre coisas e acontecimentos, resultantes de suas próprias
experiências. Aborda os fatos sem investigar as causas ou fundamentar técnica, sistemática ou
objetivamente. Origina-se das observações, análise e experiência pessoal, transmitidos de
geração em geração enquanto herança de um grupo social (a primeira forma de compreensão
do mundo).

2) Filosófico – conhecimento valorativo (parte de hipóteses submetidas à observação com


base na experiência); não verificável (os enunciados não podem ser comprovados ou
refutados); racional (consiste num conjunto de enunciados logicamente relacionados);
4

sistemático (suas hipóteses visam a representação da realidade estudada, tentando apreendê-la


em totalidade); infalível e exato (hipóteses não são submetidas ao teste de observação). É
caracterizado pelo esforço da razão em questionar os problemas humanos, diferenciando certo
e errado. Seu objeto de análise são as ideias e suas relações conceituais e lógicas,
prevalecendo o processo dedutivo, antecedente à experiência, sem exigir confirmação
experimental, apenas coerência lógica. Nele está a essência dos demais conhecimentos, pois
busca explicar todas as coisas em função das razões fundamentais de seus primórdios, apesar
das explicações não serem verificáveis. Ele trata de questões não quantificáveis metafísicas e
não passíveis de observação por serem reflexões críticas que procuram a contemplação
racionalidade da condição humana.

3) Religioso – ou teológico, caracteriza-se por ser valorativo (baseado em proposições


sagradas); inspiracional (revelações feitas pelo sobrenatural); infalível (por se originar no
sobrenatural); exato (não pode ser discutido); sistemático (possui um início, a continuidade e
a previsão de um final) e; não é verificável (está sempre implícita uma atitude de fé perante a
revelação). A adesão das pessoas a esse conhecimento é voluntária e parte do “crer”, pois
nenhuma das evidências apontadas é colocada em dúvida. Nesse caso, a fé não seria cega,
mas baseada em experiências espirituais e históricas, compartilhadas com uma coletividade.

4) Científico – pode ser classificado como: real (porque lida com ocorrências ou fatos);
contingente (suas hipóteses vem da veracidade ou falsidade conhecida pela razão); sistemático
(ordenado logicamente para formar um sistema de ideias); verificável (as afirmações podem
ser verificadas e comprovadas) e; falível (não é definitivo). Caracteriza-se pela capacidade de
analisar, explicar, aplicar leis e predizer eventos futuros. Sua ocorrência deriva da
comprovação por métodos de investigação racionais aceitos pela ciência, por isso, é
organizado, metódico e racional. Apresenta ainda como característica a universalização, ou
seja, seu reconhecimento e aplicabilidade a todos os casos, assim como a propensão de ser
testado para se saber se é falso ou verdadeiro.

Autores como Appolinário (2012), falam ainda de um quinto conhecimento, o


Artístico, galgado nas emoções e na intuição, cuja informação é veiculada por manifestações
artísticas fruto da natureza emocional. Por isso, é uma forma de conhecimento não-racional
5

que pode ou não assumir lógica similar ao senso comum e à ciência, por se apresentar em
diversos contornos.
Para entender as diferenças presentes essas modalidades (ou níveis) de conhecimento,
analise a tabela que segue:

Tabela 01: Comparativo entre os tipos de conhecimento

Fonte: Appolinário (2012, p. 13)

Esses conhecimentos podem se mesclar como quando, por exemplo, se estuda o


homem analisando sua atuação na sociedade, como um ser biológico, ou ainda, questioná-lo
quanto à sua origem, destino e como ser criado por Deus.

1.3 Pesquisa Científica

Pesquisa  busca ou procura  Pesquisar: buscar ou procurar resposta para alguma


pergunta, dúvida ou curiosidade  Pesquisa Científica é a procura de solução científica
comprovável a um problema que alguém queira saber a resposta – produção do conhecimento.
Por meio dela, chegamos à Ciência (BELLO, 2004), o somatório do conhecimento científico
gerado.
Atividade criadora e complexa, sem moldes rígidos, tendo por finalidade descrever,
elucidar, explicar, prever e condicionar os processos de seu âmbito. Busca alcançar
conhecimento objetivo e coletivo, sem influência de tendências e preconceitos pessoais.
6

Na pesquisa, usamos diversos instrumentos para se chegar à resposta mais precisa


possível. São procedimentos sistemáticos, baseados no raciocínio lógico, que têm por objetivo
encontrar soluções para os problemas propostos mediante o emprego de métodos científicos.
Para que pesquisar? Richardson et al. (2010), ao relacionar essa questão, aponta três
respostas possíveis:

 Para resolver lacunas práticas ou testar métodos mais eficazes de resolver os problemas
do dia a dia;
 Para formular teorias na tentativa de descobrir as relações entre fenômenos e
acontecimentos;
 Para testar teorias, visando sua confirmação (ou negação).

Ainda de acordo com os autores, o método científico se conecta aos processos de


produção do conhecimento, de estrutura, organização da sociedade e do papel da ciência.
Contudo, ela não é dona da verdade, pois a verdade científica é probabilística. Alguns tipos
de pesquisa:

 Pesquisa Experimental: envolve algum tipo de experimento.


 Pesquisa Social: procura respostas de um grupo social.
 Pesquisa Histórica: estuda o “passado”, não apenas o que já aconteceu, mas ocorrências
que foram documentadas, analisadas e explicadas por serem referenciais de um grupo de
pessoas, tornando-se, dessa maneira, parte da história humana.
 Pesquisa Teórica: analisa uma determinada teoria.

Quanto aos objetivos (RODRIGUES, 2007):

 Exploratória - Proporciona maior familiaridade com o problema: levantamento


bibliográfico ou entrevistas, pesquisa bibliográfica ou estudo de caso específico;
 Descritiva – Observa os fatos que, posteriormente, são registrados, analisados,
classificados e interpretados, sem interferência do pesquisador (limita-se à percepção dos
dados em si). Uso de técnicas padronizadas de coleta de dados;
 Explicativa - Identifica fatores determinantes para a ocorrência dos fenômenos (relação
causa - efeito). Ela trabalha basicamente com a identificação das circunstâncias geradoras
7

de determinados processos, somadas à análise, interpretação e posicionamento perante as


informações coletadas.

Quanto à forma de abordagem (RODRIGUES, 2007):

 Quantitativa – Traduz em números (ou variáveis), as opiniões e informações para serem


classificadas e analisadas. Quem trabalha com esta abordagem precisa considerar possíveis
erros de amostragem e vieses, evitando generalizações.
 Qualitativa – Descritiva, as informações obtidas não podem ser quantificáveis e os dados
são analisados indutivamente. É a forma de entender como os indivíduos atribuem
significados aos problemas sociais. Os dados geralmente são coletados no ambiente do
participante (a sociedade) e a interpretação dos fenômenos faz parte do processo.
 Estudo de Caso1 – Escolhe-se um objeto particular específico e faz-se um estudo
exclusivo e direcionado sobre ele. É uma investigação empírica de um fenômeno
contemporâneo no contexto atual, sendo necessário para tanto responder questões do tipo
“como” e “por quê” quando o pesquisador tem pouco controle sobre o objeto de pesquisa.

Creswell (2010) relaciona ainda os métodos mistos, ou seja, a combinação ou


associação entre as abordagens qualitativa e quantitativa. Por envolver suposições
“filosóficas” (abstratas, mas, ao mesmo tempo racionais) implica o uso de metodologias
conjuntas, o que torna a pesquisa mais aprofundada e complexa.

1.4 O Método Científico

Tentativa de se controlar o movimento dos objetos sobre um fato por meio da


composição de métodos adequados para a sua compreensão. Nesse ponto, é necessário
diferenciar:

Termo – palavra que se refere a um objeto


Conceito – representação daquilo que o “objeto” é (compreensão)
Definição – apresentação dos elementos contidos no conceito.

1
Autores como Creswell (2010) consideram o Estudo de Caso como uma forma de pesquisa qualitativa,
entretanto, tais classificações sofrem mudanças conforme a linha teórica seguida.
8

A definição de um conceito, em pesquisa, implica também na escolha de instrumentos,


medições ou códigos, aplicados para mensurar a presença ou ausência do fato ou fenômeno
escolhido para a investigação.
Ao se produzir conhecimento por meio do método científico, Richardson et al. (2010)
relaciona três processos:

 O impulso inicial pela capacidade de resposta a um estímulo;


 O saber, de caráter reflexivo - o homem sabe, mas não sabe como nem por que
(achismo);
 Busca explicações de maneira sistemática, metódica - esta é a fase da ciência.

As pesquisas necessariamente devem apresentar em sua estrutura cinco elementos


(RICHARDSON et al., 2010):

 Meta (objetivo do estudo)


 Modelo (abstração do que está sendo trabalhado);
 Dados (baseados nas observações realizadas);
 Avaliação (a validade do modelo) e;
 Revisão (mudanças necessárias)

Contudo, independentemente do método escolhido, ele deverá cumprir algumas


funções (BARROS; LEHFELD, 2008): Descobrir o problema em um conjunto de
conhecimentos; Colocar o problema à luz de novos conhecimentos; Procurar dados relevantes
sobre o problema; Tentar uma solução; Investigar a consequência da solução obtida;
Comprovar e; Corrigir as hipóteses se a solução obtida for incorreta.
Da mesma forma, existem ainda etapas de cumprimento obrigatório (RICHARDSON
et al., 2010), começando pela observação do mundo que nos rodeia, a formulação do
problema com base em perguntas geradas pelo próprio pesquisador (um ser curioso por
natureza) e a procura de informações relacionadas ao objeto de pesquisa.
Com isso, é possível a formulação de hipóteses, ou seja, uma possível resposta a ser
testada, para responder à pergunta feita. Ela pode ou não ser rejeitada, prever ocorrências
futuras (predição) e, finalmente, comparar resultados por meio da experimentação para
possibilitar a análise consequente do estudo desenvolvido.
9

1.4.1 Tipos de Métodos2

1) Observação: Aplicar os sentidos a um objeto para adquirir conhecimento. Quando se


observa, deve-se examinar e entender os fatos. É classificada segundo seus critérios de
estruturação (conforme a técnica empregada):

 Observação Assistemática – feita sem controle ou instrumentário apropriado.


 Observação Sistemática – é estruturada e realizada em condições controladas. A
observação sistemática é regida por perguntas: Por quê? Para que? Como? O que?
Quem?
 Observação Não Participante – o observador permanece fora da realidade a estudar.
 Observação Participante - o pesquisador participa da situação estudada, mas sem fazer
interferências.

A observação, independente da modalidade, pode ser feita no local de ocorrência do


evento, possibilitando contato direto com o fenômeno e permitindo a coleta de dados em um
conjunto de atitudes comportamentais.

2) Indutivo: Forma de argumentação e reflexão onde, partindo-se de dados particulares


infere-se uma verdade geral. Na indução devemos considerar (MARCONI; LAKATOS,
2012): a observação dos fenômenos, a descoberta da relação entre eles, a fundamentação em
premissas (fatos observados) e a generalização da relação.
Observando os fatos, pela indução chega-se a informações de situações não
observadas. As premissas são a base da argumentação e as conclusões tornam-se gerais,
utilizando o pronome indefinido todo (RICHARDSON et al., 2010).
Nesses termos, o método indutivo é orientado pela verificação do que é essencial na
relação a ser generalizada, a segurança de que são idênticos os fatos generalizados e a
imposição de regras quantitativas para sua sistematização.
Formas de indução:

2
A presente discussão foi construída a partir de Souza (2002), Marconi e Lakatos (2012), Barros e Lehfeld
(2008), Richardson et. al. (2010), Nascimento e Souza (2017), e Mezzaroba e Monteiro (2006).
10

 Completa (matemática) – substituição de termos particulares por um equivalente para


aplicação de relações infinitas
 Incompleta ou científica – fundamenta-se em uma causa ou lei, constatada por um
número significativo de casos. Eles devem ser provados para se afirmar ou negar a
legitimidade.

Regras da indução incompleta: os casos particulares devem ser experimentados até o


momento em que seja possível extrair todas as informações, necessitando analisar as
possibilidades de variações provocadas por circunstâncias acidentais. Quanto maior e mais
representativa a amostra, maior a força do argumento.

3) Dedutivo: Nesse método, a racionalização ou combinação de ideias pela interpretação vale


mais que o estudo caso a caso. Tem como ponto de partida premissas auto evidentes e sua
forma mais perfeita é chamada silogismo, ou seja, o comparativo entre elas na busca de uma
conclusão.
A explicação se dá na relação entre as premissas e a conclusão, pois uma teoria só é
reconhecida como ciência se for deduzida por observações singulares, podendo-se provar sua
falsidade ou não, testando-a.
A dedução terá, em alguns casos, argumentos dedutivos/intuitivos - quando as
premissas geram conclusões que podem ou não ser verdadeiras e quando essas conclusões
nem sempre estão nas premissas. Existem também os argumentos condicionais, quando as
premissas são essas mesmas condições e, como consequência, a conclusão é a primeira
premissa, tanto de forma positiva quanto negativa.
11

Figura 01: Esquema comparativo entre os métodos de Indução e Dedução

Fonte: Adaptado de What is this thing called Science? - Alan Chalmers, University of Queensland
Press, Open University Press, 1999.

A Figura 01 exemplifica a relação existente entre a Indução e a Dedução enquanto


métodos científicos. Ambas são interdependentes pois, por meio da Indução, é possível
observar o objeto de estudo e, a partir desta, gerar hipóteses que, por generalizações fruto de
experimentação, serão confirmadas ou refutadas. Tais generalizações possibilitam, por
Dedução, a previsão da continuidade dos processos mapeados e verificados.

4) Hipotético-dedutivo: é um instrumento de pesquisa que testa teorias por meio de hipóteses


alternativas e falseáveis. São situações submetidas a vários testes, crítica e o confronto com os
fatos, para assegurar a “veracidade” das hipóteses restantes dos processos de refutação e
falseamento. Para Bunge (1974 apud RODRIGUES, 2007) o método é dividido em etapas:

 Colocação do problema – reconhecimento dos fatos, descoberta e formulação;


 Formulação de Hipóteses – seleção de fatores para sua resolução (conjecturas);
 Dedução de consequências particulares – procura de suportes racionais e empíricos;
 Teste das hipóteses – esboço e execução da prova, elaboração dos dados e inferência da
conclusão;
 Adição ou introdução das conclusões na teoria – comparação das conclusões, reajuste
do modelo e sugestões para trabalhos posteriores.
12

5) Dialético: Possui quatro leis fundamentais:

 Tudo se relaciona - O mundo é um conjunto de processos em constante movimento e


interdependentes: não se pode analisar elementos isolados;
 Tudo se transforma – as coisas mudam ao estímulo de tradições ou mediante a negação
de uma coisa – negação da negação que resulta em algo novo (tese, antítese e síntese);
 Passa da quantidade à qualidade – analisa-se a mudança por meio de seus “picos” – O
que existe entre o 8 e o 80 – alterações na quantidade implicam na qualidade e vice-versa;
 Luta dos contrários – na contradição, elementos desaparecem para dar origem a novas
formas – evolução diferente de transformação.

A dialética é o debate entre suposições contrárias na investigação da realidade (seu


núcleo). Divide-se em tese, antítese e síntese (RICHARDSON et al., 2010):

- Tese: argumento exposto para reflexão (pretensão de verdade)


- Antítese: argumento oposto ao que foi apresentado
- Síntese: fusão dos dois argumentos, juntando os aspectos verdadeiros de ambos,
produzindo um ponto de vista.

As contradições podem ser: Internas – essência do movimento, mas não exterior a


ele; Inovadoras – contradição entre o que morre e o que se desenvolve e; Unidade dos
contrários – encerra dois termos que se opõem gerando uma unidade. Torna-se importante
quando, do contrário, um se torna o outro.

6) Análise de Conjuntura: A partir do momento em que nos atemos aos acontecimentos


atuais relacionados a uma determinada área e assunto específico, iniciamos uma análise de
conjuntura.
De acordo com Souza (2002) trata-se de uma leitura parcial da realidade, feita em
função de alguma necessidade ou interesse, que implica na busca de informações, avaliação
de possibilidades e geração de hipóteses na tentativa de prever o desenvolvimento de fatos, as
reações de seus atores e as consequências mediante possíveis tomadas de decisões.
Para fazer uma análise de conjuntura são necessárias algumas categorias (SOUZA,
2002):
13

 Acontecimentos: fatos que adquiriram sentido especial e importância para um


determinado grupo social;
 Cenários: ações sociais e políticas desenvolvidas em espaço específico, que passará a ser
considerado um cenário;
 Atores: aqueles que representam um papel dentro de um enredo, de uma trama de
relações, desde uma pessoa, partido, a uma empresa ou instituição;
 Relação de Forças: relações mantidas entre os atores, que podem ser de conflito,
coexistência, cooperação domínio, submissão, etc.;
 Articulação entre estrutura e conjuntura: nesse ponto, acontecimentos, cenários,
atores e suas relações de força ligam-se à estrutura, que convergem ligações históricas,
econômicas e sociais e geram movimentos que influenciam as unidades formadoras desta.

A junção das categorias originará análises providas de sentido e passíveis de


utilização, capazes de transformar a realidade por meio de intervenções políticas e dos
respectivos efeitos e causas.

7) Sistêmico: De acordo com Mezzaroba e Monteiro (2006), a palavra sistema refere-se a um


conjunto de elementos que obedecem a uma mesma lógica de organização e se relacionam
entre si. Trabalhar o método sistêmico, nesse caso, implica em estudar estas relações
dinâmicas mantidas de forma ordenada (que sofrem as influências do tempo e do espaço), sem
deixar de considerar as trocas decorrentes ligação sistema-ambiente e vice-versa,
características estas dos sistemas abertos.
14

Figura 02: Exemplificação do funcionamento do método sistêmico

Fonte: Mezzaroba e Monteiro (2006, p. 80)

Assim, elementos sistêmicos e não sistêmicos se influenciam mutuamente, a partir do


momento em que dados saídos do ambiente entram no sistema, sofrem suas influências e
retornam ao ambiente (feedback). Igualmente, todo o sistema sempre irá operar na busca de
uma meta, ao mesmo em que consegue se autocorrigir perante as anormalidades.

1.4.2 Principais Correntes Metodológicas das Ciências Sociais: Positivismo, Estruturalismo e


Materialismo Dialético

a) Positivismo

Sua origem parte da premissa que as técnicas das ciências naturais deveriam ser
aplicadas nas ciências sociais. Assim, o positivismo enfatiza o método científico como única
fonte de conhecimento. Insiste na existência de uma ordem natural com leis que devem ser
seguidas pela sociedade (RICHARDSON et al., 2010).
Princípio básico: o significado de uma proposição é o método de verificação,
avaliando sua veracidade (por meio de indução/dedução). Portanto, uma proposição nascida
da empiria só é significativa quando se reconhece a forma de verificá-la, provando-se
verdadeira. O resto se tornará insignificante. Principais características (GRANDO, 2017b):
15

Empirismo: parte da realidade conforme esta se ajusta aos sentidos a aos aparatos que a
expandam;
Objetividade: observador não deve influenciar o objeto investigado;
Explicabilidade: não se concebe efeito sem causa;
Mensurabilidade: matemática para explicar a realidade;
Experimentação: testes para medir a precisão explicativa de uma hipótese;
Validade: todos os fatores devem ser controlados para se chegar à precisão;
Previsibilidade: conhecendo as leis que determinam um fenômeno é possível prever seu
comportamento.

Como críticas ao positivismo, de acordo com Richardson et al. (2010), pode-se


apontar: concepção de ciência como idealista, a-histórica e empirista; sua impossibilidade de
aplicação das ciências exatas às ciências sociais; as atenções voltadas apenas à aparência do
fenômeno, sem considerar as relações existentes entre seus elementos formadores e; a falta de
preocupação com os processos de conhecimento.

b) Estruturalismo

O estruturalismo tem como princípios as infraestruturas inconscientes que devem ser


pesquisadas e compreendidas, e as relações entre seus termos formadores (RICHARDSON et
al., 2010).
Os fenômenos são produzidos por uma dada estrutura que atua segundo leis próprias.
A estrutura forma um sistema de relações, de tal ordem imbricada, que a alteração em um dos
seus elementos afeta os demais. Seus pressupostos fundamentais são a totalidade e
interdependência, sendo que o valor e importância de cada elemento da estrutura são dados
pela sua posição.

Ao estruturalismo aplicam-se dois conceitos:

 Modelo sincrônico – conjunto das estruturas formadoras


 Modelo diacrônico - sucessão de acontecimentos (reações)
16

Para as ciências sociais, o importante é compreender as relações entre os elementos


que formam a sociedade, independentemente de sua evolução e do que é exterior a eles. Não
se estudam nas ciências sociais todos os elementos, mas as ligações geradas.
Os estruturalistas pregam que, para captar a realidade, faz-se necessário afastar-se
dela, procurando suas estruturas invisíveis, o modelo teórico construído pelo pesquisador.
Entre a realidade e a estrutura está o estudo do cientista, que segue um conjunto de regras para
a validação teórica (consciente ou inconsciente, mecânico ou estatístico). Princípios fundantes
(GRANDO, 2017b):

1) Conceber uma infraestrutura de base para os fenômenos que podem investigados em uma
pesquisa;
2) Deve-se estudar a relação entre os termos que organizam infraestrutura e não os termos ou
fenômenos em si mesmos;
3) Estudos (tipos) sincrônicos: mudanças ou relações simultâneas em um mesmo período.
Diacrônicos: alterações provocadas pelo tempo.

Enquanto modelo, para ser considerado estruturalista, ele deverá oferecer


características de um sistema. A variação de um dos elementos constituintes acabará por
transformá-lo, desde que este seja da mesma matriz. Para tanto, é possível prever suas
reações.
Críticas direcionadas ao estruturalismo (RICHARDSON et al., 2010):

 Ao procurar estruturas variantes de um fenômeno pode-se esquecer suas transformações;


 Igualando o inconsciente coletivo, a consciência ficará em segundo plano;
 A estrutura precede a evolução e a origem;
 O estruturalismo simplifica a realidade por meio dos modelos estruturais;
 A estrutura não possui ponto central;
 O pesquisador pode cair em um “pré-determinismo” negativo para as transformações
sociais.
17

c) Materialismo Dialético

Antes da definição de Materialismo Dialético devemos pensar nos termos formadores.


O Materialismo, reportando-se a Marx e Engels, tem como significado que o mundo exterior
existe separado da consciência.
Por isso, todos têm existência própria, independente daquilo que pensamos. Por ser
matéria, apresenta movimento, volume, dimensão, extensão e ocupa um determinado espaço
em um dado momento. É a realidade objetiva do homem (RICHARDSON et al., 2010). Já a
Dialética, como vimos em linhas anteriores, está relacionada ao debate entre suposições
contrárias, tendo como base o uso da refutação ao argumento.
Portanto, o Materialismo Dialético consiste em um método baseado na conexão, no
movimento permanente e no desenvolvimento (RICHARDSON et al., 2010). Sustenta-se pelo
Princípio da conexão universal dos objetos (não pode existir um objeto isolado do outro - a
mudança só é possível pela ligação com outros sistemas materiais) e pelo Princípio do
movimento permanente e do desenvolvimento (tudo está em movimento por conta das
contradições internas do objeto).
Tais princípios estão conectados às leis que regem o materialismo dialético (herdadas
da dialética - RICHARDSON et al., 2010):

1ª) Unidade e luta dos contrários – O movimento é produzido devido a essa contradição, por
isso, um não pode existir sem o outro.
2ª) Transformação da qualidade em quantidade – na natureza, as mudanças qualitativas
ocorrem por acréscimo ou retirada de material, alterando também sua quantidade.
3ª) Negação da negação – Morte do velho para o nascimento do novo.

Ainda de acordo com o autor, esse método possui conceitos básicos que refletem as
propriedades do objeto, categorias necessárias para a análise dos fenômenos da natureza e da
sociedade, sendo:

1) Individual – Particular – Geral: todo o fenômeno tem características próprias, uma vez
que geral e individual estão interligados;
2) Causa – Efeito: fenômeno que produz outro fenômeno (causa), cujo efeito é a resultante
produzida, que pode ser diferente dadas as condições;
18

3) Necessidade – Casualidade: Necessidade é o que deve ocorrer dependendo as condições,


já a casualidade é o que pode ou não ocorrer (acidente);
4) Essência – Aparência: Ao reconhecer um objeto, consideramos primeiro seus aspectos
exteriores (superficiais) para, após estudo aprofundado, reconhecermos sua essência;
5) Conteúdo – Forma: conexão entre o conjunto de elementos de um fenômeno e o sistema
estável de relações entre eles no processo de composição de seu conteúdo. A simples soma
das partes não consegue constituir o objeto em si.
6) Possibilidade – Realidade: o que pode surgir na uniformidade do desenvolvimento,
interligado ao que já aconteceu. A realidade se dá pela junção destas duas ocorrências.

Neste método, para a análise ser eficiente, é necessário o estudo de todos os aspectos e
conexões do tema, principalmente sua essência, na procura das causas e motivos para os
fenômenos, incluindo a história, o tempo e o espaço.

1.4.3 Outros Métodos das Ciências Sociais

 Comparativo – estudos de semelhanças e diferenças entre os grupos para a compreensão


do comportamento humano;
 Monográfico – um caso estudado pode ser representativo de outros casos semelhantes na
obtenção de generalizações;
 Estatístico – permite obter conjuntos complexos de representações simples das relações
que mantém entre si, fornecendo uma descrição quantificada e organizada da sociedade,
medindo suas variações;
 Tipológico – compara fenômenos sociais, criando modelos ideais construídos a partir de
sua análise – separa os juízos de valor da análise científica. Delimita o tipo “ideal”;
 Funcionalista – método de investigação que considera a sociedade enquanto formada de
partes interdependentes com funções específicas, ou seja, os empregos dessas unidades;
 Etnográfico – análise descritiva das sociedades humanas considerando aspectos culturais,
baseados na observação.

Em todos os casos, o quadro de referências usado é muito importante, também


chamado de fundamentação teórica, quadro teórico ou revisão de literatura. Unido com a
metodologia de pesquisa adotada, tem como função compartilhar com o leitor resultados de
19

outras pesquisas similares já desenvolvidas e, acima de tudo, reconhecidas pelo universo


acadêmico (CRESWELL, 2010).
Por meio dele, é possível comparar os resultados obtidos, ponto chave para o alcance
dos objetivos traçados por qualquer pesquisa acadêmica, todavia, este é um assunto que será
abordado futuramente em nossa disciplina.

REFERÊNCIAS

APPOLINÁRIO, F. Metodologia da ciência: filosofia e prática da pesquisa. 2. ed. rev. e


atual. São Paulo: Cengage Learning, 2012.

BARROS, A. de J. P. de; LEHFELD, N. A. de S. Fundamentos de metodologia científica.


3. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.

BELO, J. L. de P. Metodológica científica. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em


<http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/met00.htm> Acesso em 17 abr. 2010.

CRESWELL, J. W. Projeto de Pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2010.

GRANDO, P. J. Pesquisa - Pesquisar [Manuscrito]. Programa de Pós-Graduação em


Relações Internacionais Contemporâneas. Universidade do Vale do Itajaí: Itajaí, 2017a.

__________. Relações Internacionais: Para Pensar a epistemologia da disciplina


[Manuscrito]. Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais Contemporâneas.
Universidade do Vale do Itajaí: Itajaí, 2017b.

MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de


pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. 7.
ed. São Paulo: Atlas, 2012.

MATIAS-PEREIRA, J. Manual de Metodologia da Pesquisa Científica. 3. ed. São Paulo:


Atlas, 2012.

MEZZAROBA, O.; MONTEIRO, C. S. Manual de metodologia da pesquisa no direito. 3.


ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

NASCIMENTO, F. P. dos.; SOUSA, F. L. L. Metodologia da pesquisa científica teoria e


prática: como elaborar TCC. 2. ed. Fortaleza: INESP, 2017.

RICHARDSON, R. J.; et al. Pesquisa Social: métodos e técnicas. 3. ed. rev. e ampl. São
Paulo: Altas, 2010.

RODRIGUES, R. M. Pesquisa acadêmica. São Paulo: Atlas, 2007.


20

SOUZA, Herbert José de. Como se faz análise de conjuntura. 23.ed. Petrópolis: Vozes,
2002.

TESSER, G. J. Principais linhas epistemológicas contemporâneas. Revista Educar.


Universidade Federal do Paraná. Curitiba, n. 10, p. 91-8, 1995.

You might also like