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CURSO
NA SALA DE AULA
Gra
tuit
o!
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE
PODER JUDICIÁRIO,
POLÍTICAS PÚBLICAS
E O DIREITO À SAÚDE
RÔMULO
GUILHERME LEITÃO
6
FASCÍCULO
Copyright © 2018 by Fundação Demócrito Rocha
C984
Curso Justiça na Sala de Aula: ferramentas pedagógicas para difusão e promoção de temas e
conteúdos sobre o papel da justiça no ambiente escolar / Gerência pedagógica: Viviane Pereira;
coordenação de conteúdo: Gustavo Brígido; ilustrações: Rafael Limaverde. – Fortaleza: Fundação
Demócrito Rocha/Universidade Aberta do Nordeste, 2018.
192 p. : il. color.
Dividido em 12 fascículos.
CDD 340
Todos os direitos desta edição reservados a:
OBJETIVOS DO FASCÍCULO
• Este fascículo examina uma das questões que tem despertado mais aten-
ção da comunidade jurídica brasileira: o papel do Poder Judiciário na efe-
tivação das políticas públicas na área da saúde, tema denominado de judi-
cialização da saúde.
• Para uma correta abordagem do assunto, o esclarecimento da terminolo-
gia jurídica é essencial. Assim, a princípio, um tópico do texto é dedicado à
compreensão do significado de expressões como direitos fundamentais e
direitos sociais, políticas públicas e judicialização da saúde.
• No tópico seguinte será examinado o direito fundamental à saúde a partir
do resgate histórico das discussões e resultados da 8a Conferência Nacional
da Saúde (1986), que definiram os parâmetros postos na Constituição Fede-
ral de 1988, e na Lei que instituiu em 1990 o Sistema Único de Saúde (SUS).
Aquele debate continua atual principalmente nos dias de hoje em que o
Poder Judiciário tem intervido e tentado assumir protagonismo na efetiva-
ção das políticas públicas na área da saúde, mas encontrado resistências em
setores da advocacia pública e de profissionais das áreas de saúde.
• O texto segue com uma análise da atuação do Supremo Tribunal Federal
(STF) e da maioria dos tribunais e juízes brasileiros que tem entendimento
consolidado no sentido mais amplo da obrigação de o Estado concretizar
os direitos fundamentais, principalmente o direito à saúde, fato que tem
imposto um crescimento dos gastos da União Federal, Estados e Municí-
pios na busca de cumprir as decisões judiciais, para além dos investimen-
tos ordinários que cada ente da Federação já disponibiliza e executa em
seus orçamentos públicos anuais. Esse fenômeno pode ser denominado
de judicialização da saúde e será abordado da perspectiva da atuação do
Poder Judiciário, bem como a partir da visão do Poder Executivo, principal
executor das políticas públicas.
• A atuação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) também será examina-
do nesta última parte do texto em razão do relevante papel que este órgão
tem desempenhado na busca de orientar e uniformizar procedimentos
de juízes no trato de questões judiciais envolvendo a saúde.
PARA
REFLETIR
Os direitos não nascem
todos de uma vez,
“nascem quando devem
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ou podem nascer.
Nascem quando o
aumento do poder
do homem sobre o
homem cria novas
ameaças à liberdade do
indivíduo ou permite
CONCEITOS ÚTEIS
novos remédios para
Este tópico busca facilitar a
as suas indigências:
compreensão de algumas expres-
ameaças que são
sões que serão utilizadas neste vêm expressos no texto da Consti-
enfrentadas através de
fascículo, porque cada área do co- tuição e variam de país para país.
demandas de limitação
nhecimento tem um conjunto de Os direitos (e garantias) funda-
de poder; remédios
expressões técnicas e jargões que mentais postos no artigo 5o e em
que são providenciados
acabam por atrapalhar a compreen- outros artigos da Constituição Fe-
através da exigência de
são daqueles que não atuam ou não deral são divididos em capítulos,
que o mesmo poder
estão familiarizados com o denomi- sendo os mais relevantes para este
intervenha de modo
nado “juridiquês”; as pessoas enten- texto os direitos individuais e cole-
protetor” (Bobbio, 1992)
dem as palavras, mas não assimilam tivos e os direitos sociais, que serão
o significado no universo jurídico. tratados em seguida. Os direitos in-
dividuais e coletivos tem relação ao
Direitos Fundamentais: “é (ex- conceito de pessoa humana, tais
pressão) reservada aos direitos rela- como, o direito à vida, à igualdade,
cionados com posições básicas de à segurança, à honra, à liberdade e
pessoas, inscritos em diplomas nor- à propriedade.
mativos de cada Estado. São direi- Os direitos sociais, que tam-
tos que vigem numa ordem jurídica bém são direitos fundamentais,
concreta, sendo, por isso, garantidos consistem em prestações positivas
e limitados no espaço e no tempo, do Estado, ou seja, obrigações que
pois são assegurados na medida em devem ser providas pelo poder pú-
que cada Estado os consagra” (Go- blico nas áreas da educação, saúde,
net Branco, p. 234). Os direitos fun- trabalho e previdência social, lazer,
damentais (e os direitos humanos) segurança, proteção à maternidade,
são herdeiros da Declaração dos à infância e a assistência aos desam-
Direitos do Homem e do Cidadão e parados. Os direitos sociais estão
de seguidas e concretas realizações previstos no art. 6o. da Constituição
por meio de revoluções. Diferem os Federal e buscam garantir que as
direitos fundamentais dos direitos pessoas tenham acesso a serviços
humanos, porque estes possuem que garantam uma qualidade de
um caráter universal e atemporal, vida mínima.
aplicando-se a todas as pessoas, E o que são as políticas pú-
enquanto os direitos fundamentais blicas? A professora Maria Paula
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saúde e hospitais, campanhas de ciem melhores condições de vida,
vacinação, fornecimento de medi- sobretudo, para os segmentos mais
camentos, realização de cirurgias, carentes da população; b) defini-
campanhas educativas, etc. ção, financiamento e administração
O que é judicialização (da de um sistema de saúde de acesso
saúde)? A judicialização (da políti-
ca) “ocorre porque os tribunais são
O DIREITO universal e igualitário; c) operação
descentralizada de serviços de saú-
chamados a se pronunciar onde o FUNDAMENTAL de; d) normatização e controle das
ações de saúde desenvolvidas por
funcionamento do legislativo e do
executivo se mostra falhos, insufi- À SAÚDE qualquer agente público ou privado
cientes ou insatisfatórios. Sob tais de forma a garantir padrões de qua-
condições ocorre uma aproximação lidade adequados.
entre “Direito e Política” e, em vários O marco inicial da discussão O tema 2 da conferência – re-
casos, torna-se difícil distinguir en- sobre o direito à saúde previsto na fomulação do Sistema Nacional de
tre um “direito” e um “interesse polí- Constituição Federal e nas leis brasi- Saúde – lançou as bases do Sistema
tico” (Castro, 1997). É a judicialização leiras, por razões didáticas, será o re- Único de Saúde (SUS), e lê-se na
um fenômeno mundial que tem sultado da 8a Conferência Nacional Resolução 01: “A reestruturação do
relação com causas bem genéricas de Saúde realizada em 1986, a pri- Sistema Nacional de Saúde deve re-
que vão do poder dos Estados Uni- meira do gênero que contou com a sultar de um Sistema Único de Saú-
participação popular, foi precedida de que efetivamente represente a
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cas de saúde é denominado de ju- movimento da Reforma
dicialização da saúde e as disputas Sanitária (Mobiliza
judiciais mais corriqueiras são as Saúde).
seguintes: a) fornecimento de me-
dicamentos e insumos; b) busca de
vagas hospitalares para atendimen-
A JUDICIALIZAÇÃO to de emergência (UTI) e c) interna-
ções para fins de realização de ci-
DA SAÚDE rurgias (eletivas ou emergenciais) e
outros tratamentos.
A demanda por bens e servi-
Este tópico é o núcleo da dis- ços relacionados com as políticas
cussão e abordará a questão da de saúde é uma realidade em to-
judicialização da saúde a partir de dos os centros urbanos brasileiros e
duas perspectivas: a do papel do tem se agravado nos últimos anos
Poder Judiciário na efetivação de a quantidade de ações judiciais e o
políticas públicas na área da saúde amplitude das decisões judiciais. No
e a perspectiva do Poder Executivo, Ceará as açoes judiciais são iniciadas
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