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DIPLOMACIA APLICADO

Professora Isabel Vega - Aula 17 - Online PORTUGUÊS

Texto I: Como e por que ler a poesia brasileira do século XX

1 Apesar do seu lado vanguardista, o modernismo foi no Brasil um movimento profundamente comprometido com a
tradição. Fundou uma nova tradição, ao resgatar um passado colonial que jazia praticamente enterrado e esquecido. Nesse
sentido, como gostava de dizer o mestre Silviano Santiago em suas memoráveis aulas na PUC do Rio nos anos 70/80, o
modernismo foi uma autêntica operação de desrecalque. Entrou para a história a viagem que os turbulentos modernistas
paulistas fizeram às cidades históricas de Minas, acompanhados pelo poeta francês Blaise Cendrars. Com essa viagem, a cultura
brasileira desrecalcou o passado barroco, algo que aconteceu não apenas na área poética, mas, paralelamente, no campo das
artes plásticas e da sofisticada reflexão de um arquiteto-pensador como foi Lúcio Costa.
2 Assim, a reorientação na autoimagem brasileira conquistada pelo modernismo redundou, sobretudo, na consciência de
que o Brasil não tinha começado ontem, o Brasil não era um país “novo”, como era um clichê da época usado para desculpar
nossas mazelas e injustiças. O modernismo não apenas recuperou as glórias artísticas do período colonial, como no caso de
Aleijadinho, mas também as heranças atávicas que, vindas dos tempos da Colônia, ainda moldavam nosso ser social.
3 Nossa história, portanto, não começava no grito de Pedro I às margens plácidas do Ipiranga, mas nas relações violentas
do capitalismo internacional em expansão no século XV, que levara Cabral a cair nas terras das bandas de cá do oceano e
levara Portugal a dividir o território colonizado em capitanias hereditárias, cujos donatários tinham poder local ao mesmo tempo
que eram completamente submissos à rocambolesca burocracia de Lisboa. Na perspectiva inaugurada pelo modernismo, muito
antes de Pedro I gastar o excesso de hormônios entre as coxas das mulatas cariocas, a sociedade brasileira criava uma longa
e secular tradição de encontro e violência entre as três raças formadoras da nacionalidade (europeia, indígena, negra). A partir
dessa compreensão básica, que Mário de Andrade traduziu na prosa poética de Macunaíma, erigiram-se as obras de Gilberto
Freyre, de Sérgio Buarque de Holanda, e também a obra de Caio Prado Jr., que deu a visão marxista do processo em Formação
do Brasil Contemporâneo.
4 Um dos mais marcantes poemas modernistas, o “Essa negra Fulô”, de Jorge de Lima, retrata bem o tipo de consciência
adquirida desde o modernismo sobre a corrupção e a violência racial, sexual e social como herança secular na história brasileira.
Desnecessário dizer que a partir dessa reforma radical do pensamento brasileiro, no sentido de desenvolver uma visão crítica
mais afinada e menos elitisticamente autocomplacente, tornou-se um compromisso quase obrigatório os artistas, intelectuais e
políticos de nosso país lutarem para reversão desses males de origem.
Italo Moriconi. Como e por que ler a poesia brasileira. São Paulo: Objetiva, 2002. p. 32-33. Com adaptações.

Questão 1
Julgue os itens quanto aos aspectos sintáticos e quanto ao sentido do texto I.

I. Os termos grifados em “a partir dessa reforma radical do pensamento brasileiro” (4° parágrafo) e em “que deu a visão
marxista do processo em Formação do Brasil Contemporâneo.” (3° parágrafo) desempenham a mesma função sintática
nos períodos em que se inserem.
II. O período “Entrou para a história a viagem que os turbulentos modernistas paulistas fizeram às cidades históricas de
Minas, acompanhados pelo poeta francês Blaise Cendrars.” (1° parágrafo) é composto por subordinação, e o predicado da
oração principal deve ser classificado como nominal.
III. Em “mas, paralelamente, no campo das artes plásticas e da sofisticada reflexão de um arquiteto-pensador como foi
Lúcio Costa.” (1° parágrafo), a palavra “como” é um pronome relativo e apresenta, como antecedente, o termo “arquiteto-
pensador”.
IV. O trecho “mas também as heranças atávicas que, vindas dos tempos da Colônia, ainda moldavam nosso ser social.”
(2° parágrafo) poderia ser reescrito como mas também as heranças cíclicas que, vindas dos tempos coloniais, ainda
moldavam nosso ser social., sem que fossem promovidas alterações de sentido significativas.

Questão 2
Julgue os itens que seguem, com base nos aspectos linguísticos e gramaticais do texto I.

I. Poder-se-ia reescrever o período “como gostava de dizer o mestre Silviano Santiago em suas memoráveis aulas na PUC
do Rio nos anos 70/80” (1º parágrafo), sem que houvesse modificação semântica ou prejuízos gramaticais para o trecho, da
seguinte forma: como gostava de dizer o mestre Silviano Santiago da PUC, em suas memoráveis aulas no Rio, nos anos
de 1970 e de 1980.
II. Verifica-se que a expressão “a partir dessa”, empregada em “A partir dessa compreensão básica, que Mário de Andrade
traduziu na prosa poética de Macunaíma, erigiram-se as obras de Gilberto Freyre” (3º parágrafo) e em “Desnecessário
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dizer que a partir dessa reforma radical do pensamento brasileiro” (4º parágrafo), pode ser substituída, nos dois casos, pela
locução com base nessa, mantendo-se o sentido e a correção gramatical do período.
III. Pode-se afirmar que o vocábulo “como” deve ser classificado gramaticalmente da mesma forma nos seguintes excertos: “o
Brasil não tinha começado ontem, o Brasil não era um país “novo”, como era um clichê da época usado para desculpar
nossas mazelas e injustiças.” (2º parágrafo) e “retrata bem o tipo de consciência adquirida desde o modernismo sobre
a corrupção e a violência racial, sexual e social como herança secular na história brasileira.” (4º parágrafo); na medida
em que ambos introduzem informações específicas acerca dos termos que o antecedem.
IV. No trecho “eram completamente submissos à rocambolesca burocracia de Lisboa” (3º parágrafo), verifica-se uso
conotativo e pejorativo do vocábulo “rocambolesca”, podendo ser substituído pelos termos enredada, confusa ou acidentada,
sem que haja modificação semântica no período.

Questão 3
Julgue os itens subsequentes, considerando aspectos linguísticos e gramaticais do texto I.

I. Em “Assim, a reorientação na autoimagem brasileira conquistada pelo modernismo redundou, sobretudo, na


consciência de que o Brasil não tinha começado ontem” (2° parágrafo), a forma verbal “redundou” poderia ser substituída
por resultou sem significativas alterações semânticas ou sintáticas para o trecho.
II. No fragmento “A partir dessa compreensão básica, que Mário de Andrade traduziu na prosa poética de Macunaíma,
erigiram-se as obras de Gilberto Freyre, de Sérgio Buarque de Holanda, e também a obra de Caio Prado Jr.” (3°
parágrafo), o verbo erigir é pronominal e tem o pronome “se” como parte integrante.
III. A formação do neologismo "desrecalque", no trecho "Nesse sentido, como gostava de dizer o mestre Silviano Santiago
em suas memoráveis aulas na PUC do Rio nos anos 70/80, o modernismo foi uma autêntica operação de desrecalque."
(1° parágrafo), ocorreu por meio do processo de prefixação.
VI. O verbo começar, em “Nossa história, portanto, não começava no grito de Pedro I às margens plácidas do Ipiranga”
(3°parágrafo), foi empregado como transitivo indireto, regendo a preposição em, entretanto também poderia reger a preposição
por.

Texto II: Calabar


(Jorge de Lima)

Domingos Fernandes Calabar


eu te perdoo!
Tu não sabias
decerto o que fazias
filho cafuz
de sinhá Ângela do Arraial do Bom Jesus.

Se tu vencesses, Calabar!
Se em vez de portugueses,
— holandeses!?
Ai de nós!
Ai de nós sem as coisas deliciosas
que em nós moram:
redes,
rezas,
novenas,
procissões, —
e essa tristeza, Calabar,
e essa alegria danada, que se sente
subindo, balançando, a alma da gente.
Calabar, tu não sentiste
essa alegria gostosa de ser triste!

(In: Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997.p.239)


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Questão 4
Com base nas ideias contidas nos textos I e II, julgue as afirmativas abaixo.

I. Pode-se afirmar que o texto II exemplifica a seguinte frase do texto I: “Assim, a reorientação na autoimagem brasileira
conquistada pelo modernismo redundou, sobretudo, na consciência de que o Brasil não tinha começado ontem, o Brasil
não era um país ‘novo’, como era um clichê da época usado para desculpar nossas mazelas e injustiças.” (2° parágrafo).
II. O termo “alegria gostosa de ser triste”, presente nos versos “Calabar, tu não sentiste / essa alegria gostosa de ser
triste!”, pode ser relacionado às “heranças atávicas” citadas pelo autor do texto I, no segundo parágrafo.
III. Embora pertençam a tipos e a gêneros textuais distintos, predomina em ambos os textos a função emotiva da linguagem.
IV. O segundo travessão no texto II foi empregado, a fim de destacar, entre os termos da enumeração, aquela que o autor
acredita ser a característica fundamental do povo brasileiro, que não existiria caso tivéssemos sido colonizados pelos
holandeses.

GABARITO:

1. C E E E
2. E E E C
3. C E C E
4. C C E C

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