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Raquel Farias Diniz,a Ana Alayde Werba Saldanha,b Ludgleydson Fernandes de Araújoc
a) Rua Jose Simões da Araújo, Bessa, 967. CEP 58035-070. João Pessoa-Paraíba-
Brasil; b) Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Social, Brasil; c) Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-Graduação em
Psicologia Social, Brasil
e-mail: raquelfdiniz@gmail.com
INTRODUÇÃO
doença que se estende para além do corpo do indivíduo que a adquiriu, atingindo
religiosos e éticos. A Aids suscita questões polêmicas nos mais diversos grupos sociais,
Sendo assim, a Aids surge como categoria de acusação, à medida que produz
Mundial da Saúde (2005) aponta que no ano de 2025 o país se tornará o sexto do mundo a
conviver com a população numerosa de idosos. Neste contexto, surge a Aids como uma
das dificuldades eminente do crescimento humano, doença que atinge cada vez mais os
idosos, evidenciando-se, segundo Silva (2005) uma das tendências atuais de incidência da
quanto para a sociedade em geral. A OMS (Organização Mundial de Saúde) propõe uma
vida das pessoas na terceira idade a partir de seis aspectos determinantes: econômicos,
ainda, a idéia do idoso como possível portador do vírus HIV ou como cuidador de
ao HIV. E dentre todos, a percepção do idoso como assexuado, ou seja, que não tem vida
sexual ativa torna-se o mais importante (Barbosa, 2002). A partir dos avanços
pela sociedade em geral, do uso de drogas injetáveis pelos idosos (Feitosa, Souza &
(Wooten-Bielski, 1999).
seja, a pessoa – familiar ou não - que presta ajuda, formal ou informal ao individuo
reciprocidade entre gerações quando se procede do cuidado dos filhos para com os pais
2002). Ainda nos estudos destes autores, destaca-se que o ato de cuidar de idosos, no
assistência, sendo que esta ajuda perpassada por uma troca intergeracional com
prevalência de filhos cuidando de pais, na presença de troca mutua entre quem cuida e
quem é cuidado.
tem um papel essencial, visto que toda a rede de relacionamento e suporte se desfaz e
precisa ser reconstruída para ajudá-lo no enfrentamento da doença. Colombine,
drogas.
sofrimento não atinge somente o paciente, mas também seus familiares, amigos e
parceiros sexuais que irão enfrentar com ele as dificuldades, preconceito e estigma,
Quando nos foi possível chegar até o paciente, que serviria como ponte para chegar ao
cuidador, constatou-se que: o idoso portador mora sozinho; a família não está ciente de
sua condição de soropositividade e se está não aceita; ou ainda o paciente opta por
Neste sentido, coube a nós discutir este fato inesperado e para atingir tal intento
lançar mão da literatura escassa que aborda questionamentos e indicações acerca deste
fenômeno.
1990; apud Ramos, 2002). As redes sociais formadas por amigos e familiares atenuam
trato com situações de estresse. De acordo com Orth-Gomer e Johnson (1987, apud
Ramos, 2002) a ausência de parentes próximos, tais como cônjuges ou os filhos, está
Social, as melhorias nas condições de saúde e outros avanços tecnológicos, tais como
nos meios de comunicação, elevadores, automóveis, entre outros, podem apontar para a
uma alternativa ao padecer do descaso e abandono (Debert, 1999; apud Camarano & El
mesmo (Duarte, Lebrão & Lima, 2005; apud Camarano & El Ghaouri, 2002 ).
aborda esta temática revela que no contexto da soropositividade para o HIV/Aids, mais
têm suscitado o interesse pelo suporte social. Tais situações potencializam reações
pessoas que vivem com HIV/Aids (Green, 1993; apud Seidl, Zannon & Trüccoli, 2005).
que são levados ora a esconder o próprio diagnóstico para não sofrer com o possível
afastamento deles, ora tomam a iniciativa de evitar o convívio pela mesma razão. Sendo
assim o medo de perder o contato com os amigos revela-se como um fator estressor na
sobrevida do paciente.
e Bielemann (2004) afirmam que cada família possui uma movimentação singular,
interpretando a situação de acordo com sua cultura, código e regras o que traz
outras pessoas do convívio social do doente e dos filhos, assim como do ciclo de
na busca do que estaria levando as famílias a abandonarem seu familiar doente com
Aids e fazendo com que o próprio paciente esconda que é portador da síndrome. Os
não para amigos, familiares ou um familiar específico. Esta dúvida afeta também os
alguns casos, a ser usado na tentativa de manter afastada uma realidade que não se quer
aceitar. Sousa, Kantorski e Bielemann (2004) afirmam que este silêncio é uma forma
pela qual a família pode criar um ambiente supostamente tranqüilo e seguro. Segundo as
Até aqui é possível então observar que uma limitada literatura contempla ainda à
nível exploratório a realidade das relações paciente e rede de apoio social informal.
soropositivo. A amostra caracteriza a forma de apoio proposta por Néri (2002) como
próxima.
era separada do marido há 10 anos, retornando ao convívio por não ter quem mais
ou não de uma pessoa soropositiva ao HIV está atrelada ao grau de parentesco, relação
com indivíduo e gênero da pessoa que convive com HIV/Aids. A AIDS afeta tanto a
vida das pessoas quanto a qualidade de suas relações humanas fazendo-se necessário a
1999).
família e que seu modo de agir será influenciado por diversos significados
estigmarizantes na qual a doença está envolta, podendo interferir nas relações dentro ou
naturalizada como outra doença qualquer, conforme a fala da esposa e de um amigo que
“...os médicos diz que isso é uma doença que já tem outras
coisa pior do que essa tal de Aids, e como se diz, e eu num
levo a gosto, eu tenho ela mas eu nem penso nem que
tenho, num boto na cabeça que tenho. Eu tenho ela mas
faço que nem tenho. Eu penso assim no meu organismo, na
minha cabeça tudinho mas eu penso assim na minha
cabeça que eu não tenho.” (Suj 3)
portador. Nesse sentido torna-se necessária a busca de suporte oferecido pelo serviço de
Figueiredo, 2001).
número de casos.
cunho social que envolvem morte, vergonha dentro da família e o silêncio das pessoas
como decorrentes do tipo de laço que os coloca no papel de cuidador. Sendo assim, para
o sujeito 1, a esposa que depois de 10 anos de separada, tem sob sua responsabilidade o
“Tem que morrer logo. Eu acho que sim... Acho que depois
de “véi” se pegar essa doença é pra morrer, porque existe
muitos problemas, doença, né? Ninguém morre de Aids. De
Aids num morre não... morre de outros problemas que vai
surgindo na pessoa, uma gripe, é... uma diarréia tudo isso
é que traz na pessoa. Morre daquilo. Mas de Aids mesmo
eles num morre não!” (Suj. 1)
a um olhar bitolado, já que não são mapeadas as mudanças que decorrem desse
processo. Deste modo é apenas salientado o lado triste e sombrio da doença não focando
2002).
através dos cuidados, dando amostras do papel de gênero atribuído às mulheres, mãe-
acordo com Floriani (2004) a família costuma ser a principal origem do cuidador e as
mulheres adultas e idosas preponderam nestes cuidados e alguns aspectos norteiam esta
De acordo com Neri (2002) sendo as mulheres mais longevas que os homens, e
geração, e neste caso, o papel de cuidador é direcionado à filha mais velha. Em seguida
e Bielemann (2004) afirmam que o cuidado com o portador vai além das fronteiras
também soropositivo, afirma não haver diferença em relação á faixa-etária mais nova.
para os participantes deste estudo foram decorrentes tanto da falta de quem cuidasse,
familiares como pelo portador do HIV/Aids. Dentre eles os autores destacam a negação
e a sublimação e acreditam que tais mecanismos são formas de reação por parte da
discurso contraditório onde fala das medidas preventivas ao mesmo tempo em que deixa
esposa (suj. 2), que coloca disponibilidade integral ao cuidado, que é vigilante, visando
“Eu da minha parte posso fazer tudo assim pra ajudar ele,
agora vai depender dele também né? Ele gostava de beber,
e ta sem beber, num ta “farrando” mais. Ele tem que ter o
máximo de respeito agora né?...” (Suj. 2)
No estudo realizado por Stefanelli, Gualda e Ferraz (1999) alguns temas emergiram
como mais relevantes na convivência familiar dos portadores de HIV/Aids sendo eles:
desgaste de trabalhar com esta população de maior idade, trazendo alguns estereótipos
associados à velhice.
seqüelas que podem se tornar irreversíveis na vida da pessoa que presta serviço nesse
necessitam ser esclarecidas. Os resultados apresentados pelos autores apontam para uma
CONCLUSÃO
que onde houvesse um idoso soropositivo ao seu lado estaria um parente, um amigo, um
companheiro. Mas nos deparamos com pessoas que não contavam com uma rede de
apoio informal.
público e que favorecem aos portadores a oportunidade de exercer sua cidadania, seu
convívio social e formar laços de afeto com pessoas que carregam o mesmo peso.
silêncio. A negação e o afastamento por parte das pessoas mais queridas. Porém vimos
também força e coragem. Encontramos ainda a fé e a religião como uma alternativa para
amigos. A busca pela prática religiosa torna-se a base para seguir à diante.
esperamos que sejam ampliados os estudos acerca desta temática ainda pouco abordada
pela literatura para desta forma levar à intervenções e práticas que melhorem a situação
dos pacientes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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