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METODOLOGIA
ERGONOMIZADORA
Departamento de Design
Universidade Federal de Pernambuco
SOBRE OS AUTORES
Foi co-autor de dois livros sobre Ergonomia e autor de cerca de cento e cinquenta artigos
publicados, com apresentação de trabalhos científicos em congressos e eventos na África
do Sul, Argentina, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coréia do Sul, Escócia, Espanha,
Estados Unidos, França, Inglaterra, Finlândia e Portugal. Recebeu o Student Prize da
Sociedade de Ergonomia Inglesa, a partir de uma seleção entre os estudantes de pós-
graduação na Comunidade Britânica no ano de 1997. O Prof. Marcelo é ergonomista
certificado e um dos responsáveis pela criação e implantação do Sistema de Certificação
do Ergonomista Brasileiro.
Departamento de Design
Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Artes e Comunicação
Av. Prof. Moraes Rego, s/No. Cidade Universitária
50.670-420 – Recife, PE
Telefax: + 81 2126-8316 | Email: soaresmm@gmaii.com
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 6
2. TIPOS DE PESQUISAS 8
2.1 Pesquisas descritivas e experimentais 8
2.1.1 Pesquisas descritivas 8
2.1.2 Pesquisas experimentais 8
2.2 Métodos quantitativos e qualitativos 9
2.2.1 Métodos quantitativos 9
2.2.2 Métodos qualitativos 10
2.2.3 Integração entre análise quantitativa e qualitativa 10
2.2.4 Aporte do método quantitativo ao qualitativo 12
2.3 Estudos de caso 12
2.3.1 Seleção e delimitação do caso 13
2.3.2 O trabalho de campo 13
2.3.3 A organização e redação do relatório 13
2.4 Estudos causais comparativos 14
2.5 Pesquisa participante 15
2.6 Pesquisa-ação 16
3. TIPOS DE OBSERVAÇÕES 19
3.1 Observação assistemática 19
3.2 Observação sistemática 19
3.2.1 Observação direta e indireta 20
3.2.2 Planejamento da observação sistemática 20
3.3.3 Protocolo de observação 21
3.3.4 Recomendações gerais para uma correta observação
sistemática 22
3.3.5 Uso das observações sistemáticas pelo ergonomista 23
3.3 Observação participante 25
3.4 Registro de comportamento 28
3.4.1 Definições de comportamento 28
3.4.2. Tipos de registro de comportamento 30
3.4.3 Definição de duração de intervalo para registros que envolvem
tempo de duração de intervalo previamente determinado 36
3.4.4. Cálculo de concordância entre observadores 36
4. TIPOS DE INQUIRIÇÕES 41
4.1 Entrevista 41
4.1.1 Tipos de entrevista 41
4.1.2 Temas e perguntas 44
4.1.3 Uso da entrevista pelo ergonomista 46
4.2 Questionário 49
4.2.1 Funções e características dos questionários 50
4.2.2 Tipos de questionário 50
4.2.3 Tipos de perguntas 55
4.2.4 Cuidado com as defesas e deformações 56
4.2.5 Etapas da elaboração de um questionário 57
4.2.6 O objeto e os objetivos da enquete 57
4.2.7 A pré-enquete 58
4.2..8 O pré-teste do questionário 61
4.2.9 Aplicação do questionário 62
4.2.10 A análise dos resultados 63
5
5. MÉTODOS DA ENGENHARIA 71
5.1 Diagrama de fluxo funcional e ação – decisão 71
5.2 Tabela função - informação- ação 77
5.3 Análise de sistema similar 78
5.4 Carta de – para 79
5.5 Mapofluxograma 79
5.6 Análise temporal (‘Timeline’) 81
5.7 Links 82
5.8 Matriz e rede de interação 83
5.9 Matriz e rede de restrição 87
6. AMOSTRAGEM DE SUJEITOS 88
6.1 Tipos de amostras 89
7. ANÁLISE DA TAREFA 91
7.1 Trabalho, tarefa, atividade 91
7.2 Objetivos, meios e interações da tarefa 92
7.3 Trabalho prescrito e trabalho real 93
7.4 Condutas operatórias e atividades 94
7.5 Requisitos, ambiente e comportamento da tarefa 95
7.6 O processo de análise da tarefa 96
7.7 Tomada de informações, acionamentos, comunicações,
regulações, cognição 96
7.8 Meta e atividade do sistema homem-tarefa-máquina 97
7.9 Análise da tarefa e projeto 98
6
1. INTRODUÇÃO
A ergonomia, ao realizar suas pesquisas e intervenções, lança mão dos métodos em uso
pelas ciências sociais e das técnicas propostas pela engenharia de métodos.
Pode-se citar, como exemplo, o uso de 'surveys' (termo técnico para designar um
levantamento de informações ou opiniões por meio de um questionário administrado a
uma amostra - geralmente aleatória - da população estudada) para verificar hipóteses,
para descrever as características de um fenômeno e para buscar relações quantitativas
entre variáveis indicadas.
De acordo com RUDIO (1986), há, em termos gerais, dois tipos de pesquisa - a pesquisa
descritiva e a pesquisa experimental. A diferença que geralmente se estabelece entre os
conceitos descrever e explicar pode, aproximadamente, indicar como a pesquisa
descritiva se distingue da experimental. Descrever é narrar o que acontece. Explicar é
dizer porque acontece. Assim, a pesquisa descritiva está interessada em descobrir e
observar fenômenos, procurando descrevê-los, classificá-los e interpretá-los. A pesquisa
experimental pretende dizer de que modo ou por quais causas o fenômeno é produzido.
A pesquisa participante é descrita de modo mais comum como uma atividade integrada
que combina investigação social, trabalho educacional e ação.
Por outro lado, tem-se, segundo THIOLLENT (1985), que a pesquisa-ação é organizada
para realizar os objetivos práticos de um ator social homogêneo dispondo de suficiente
autonomia para encomendar e controlar a pesquisa. O ator é freqüentemente uma
associação ou um agrupamento ativo. Os pesquisadores assumem os objetivos definidos
e orientam a investigação em função dos meios disponíveis. Mais ainda: cotejam-se
pesquisas quantitativas e qualitativas; conceituam-se estudos de caso e estudos causais
comparativos. O quadro 3.1, a seguir, apresenta os métodos e técnicas de pesquisa
analisados neste texto.
7
. registro de
duração
. registro a - freqüência
intervalos - seqüência
questionário * pergunta
aberta
Estudos
causais * pergunta - alternativas dicotômicas
comparativo fechada - múltipla escolha
s - alternativas
hierarquizadas
- pergunta dupla (“por
que?”, ”outros”)
2. TIPOS DE PESQUISAS
O estudo descritivo pode abordar aspectos amplos de uma sociedade como, por
exemplo, descrição da população economicamente ativa, do emprego de rendimentos e
consumo, do efetivo de mão-de-obra; levantamento da opinião e atitudes de
trabalhadores acerca de determinada situação; caracterização do funcionamento de
organizações; identificação do comportamento de grupos minoritários.
1 O fenômeno é o fato tal como é percebido por alguém. Os fatos acontecem na realidade
independentemente de haver ou não quem os conheça. Mas, quando existe um observador, a
percepção que este tem do fato é o que se chama fenômeno. Pessoas diversas podem observar no
mesmo fato fenômenos diferentes. Ao estudar o fenômeno, a pesquisa descritiva deseja conhecer
a sua natureza, sua composição, os processos que o constituem ou nele se realizam. Para alcançar
resultados válidos, necessita-se elaborar corretamente a pesquisa, segundo as exigências do
método.
10
De acordo com RICHARDSON (1989), o método quantitativo, como o próprio nome indica,
caracteriza-se pelo emprego da quantificação tanto nas modalidades de coleta de dados,
quanto no tratamento das informações. Utilizam-se técnicas estatísticas, desde as mais
simples como percentual, media, desvio padrão, às mais complexas, como coeficiente de
correlação, analise de regressão etc.
Os estudos que precisam investigar a correlação entre variáveis são fundamentais para as
diversas Ciências Sociais, porque permitem controlar, simultaneamente, grande numero
de variáveis e, através de técnicas estatísticas de correlação, especificar o grau pelo qual
diferentes variáveis estão relacionadas, oferecendo ao pesquisador entendimento do
modo pelo qual as variáveis estão operando.
Este tipo de estudo deve ser realizado quando o pesquisador deseja obter melhor
entendimento do comportamento de diversos fatores e elementos que influem sobre
determinado fenômeno.
Outro passo distinto é a forma de coletar dados. Para isso poderão ser utilizados
questionários, testes estandardizados, entrevistas e observações, instrumentos estes que
são empregados em outros tipos de estudos.
11
Há autores que não fazem distinção clara entre métodos quantitativos e qualitativos, por
entender que a pesquisa quantitativa é também, de certo modo, qualitativa.
O aspecto qualitativo de uma investigação pode estar presente até mesmo nas
informações colhidas por estudos essencialmente quantitativos, não obstante perderem
seu caráter qualitativo quando são transformadas em dados quantificáveis, na tentativa
de se assegurar a exatidão no plano dos resultados.
Nesse sentido, digamos que se queira medir o grau de integração de determinado grupo
social e se utilize como padrão quantificável um ‘mais ou menos’. Podemos afirmar
apenas que um grupo A é mais racista que um grupo B ou, em outro caso, que somente
uma minoria de trabalhadores se interessa por determinado problema social.
Ainda segundo GOLDENBERG (1997), a maior parte dos pesquisadores em ciências sociais
admite, atualmente, que não há uma única técnica, um único meio valido de coletar os
dados em todas as pesquisas. Acreditam que há uma interdependência entre os aspectos
quantificáveis e a vivência da realidade objetiva no cotidiano. A escolha de trabalhar com
dados estatísticos ou com um único grupo ou indivíduo, ou com ambos, depende das
questões levantadas e dos problemas que se quer responder. É o processo da pesquisa
que qualifica as técnicas e os procedimentos necessários para as respostas que se quer
13
CASTRO (1977) afirma que uma pesquisa cientifica deve buscar o estudo das relações e
seqüências repetitivas através do estudo de diferentes tamanhos do universo dos fatos
considerados. Nos casos extremos, examina-se o próprio universo, e, no outro extremo
têm-se os estudos de caso. Nos estudos de caso examinam-se apenas uns poucos
exemplos das unidades consideradas.
Vale ressaltar que, mesmo no estudo de caso, o interesse primeiro não é pelo caso em si,
mas sim pelo que ele sugere a respeito do todo.
Toma-se o caso como unidade significativa do todo e, por isso, suficiente tanto para
fundamentar um julgamento fidedigno quanto propor uma intervenção. Considera-se o
caso também como marco de referencia de complexas condições sócio-culturais que
envolvem uma situação e apresenta uma realidade e revela também a multiplicidade de
aspectos globais, presentes em uma dada situação.
A seleção e delimitação do caso são decisivas para a analise da situação estudada. O caso
deve ser uma referencia significativa para merecer a investigação. Mais ainda, por
comparações aproximativas, deve permitir a generalização a situações similares ou
autorizar inferências em relação ao contexto da situação analisada.
O relatório poderá ter um estilo narrativo, descritivo, analítico, ser ilustrado ou não,
filmado, ou fotografado. Seu objetivo é apresentar os múltiplos aspectos que envolvem o
15
Finalmente, analisando a importância que pode ter o referido tipo de pesquisa descritiva,
cabe explicitar que os estudos causais comparativos possuem certas limitações e muitas
vezes podem não fornecer informação tão precisa e confiável como a que é possível
obter através de estudos experimentais rigorosos. Por outro lado, entretanto, oferecem
instrumentos para abordar os problemas que não se podem estudar sob condições
experimentais e propiciam indícios valiosos sobre a natureza dos fenômenos.
16
7
Segundo Hall (apud DEMO, 1984), todos os métodos de pesquisa estão impregnados de
implicações ideológicas; o processo de pesquisa não pode se esgotar num produto
acadêmico, mas representar benefício direto e imediato à comunidade, ou seja, deve ter
alguma utilidade prática social; a comunidade ou a população deve ser envolvida no
processo inteiro, até a busca de soluções e a interpretação dos achados; se a meta é
mudança, deve haver envolvimento de todos os interessados nela; o processo de
pesquisa deveria ser visto como parte de uma experiência educacional total, que serve
para estabelecer as necessidades da comunidade e aumentar a conscientização e o
compromisso dentro da comunidade; o processo de pesquisa deveria ser visto como um
processo dialético, um diálogo através do tempo, e não como um desenho estático a
partir de um ponto no tempo; a meta é a liberação do potencial criativo e a mobilização
no sentido de resolver os problemas.
2.6 Pesquisa-ação
Nesta perspectiva, é necessário definir com precisão, de um lado, qual é a ação, quais
são seus agentes, seus objetivos e obstáculos e, por outro lado, qual é a exigência de
conhecimento a ser produzido em função dos problemas encontrados na ação ou entre
os atores da situação.
3. TIPOS DE OBSERVAÇÕES
RUDIO (1986), menciona Kaplan - que, por sua vez, cita Hanson - para afirmar que
"observador padrão não é o homem que vê e relata o que todos os observadores normais
vêem e relatam, mas o homem que vê em objetos familiares o que ninguém viu antes".
Cumpre mencionar que a diferença entre um e outro não reside no uso de instrumentos,
mas no fato da obtenção da informação depender ou não de uma inferência, isto é, se a
partir do registrado e medido é necessário ou não concluir a informação que se deseja.
Assim, pode-se fazer, por exemplo, a observação indireta da inteligência, através de um
teste e, por outro lado, usar um binóculo, que apenas aumenta a capacidade visual, e
permite, no entanto, que se continue a aplicar diretamente os sentidos sobre o fenômeno
numa observação direta.
Como afirmam DANNA & MATOS (1986), o protocolo de observação é o documento onde
o observador registra os dados coletados. Um protocolo contém uma série de itens, que
abrangem as informações relevantes sobre identificação geral, identificação das
condições em que a observação ocorre, registros de comportamento e circunstâncias
ambientais.
Modelo de protocolo:
1. Nome do observador
2. Objetivo da observação
3. Data da observação
4. Horário da observação
5. Diagrama da situação
6. Relato do ambiente físico
7. Descrição do sujeito observado
8. Relato do ambiente social
9. Técnica de registro utilizada e registro propriamente dito
10. Sistema de sinais e abreviações
que eliminar alguma anotação irrelevante do que tentar recuperar uma informação
que não foi registrada.
• Exige-se do observador o cultivo de atitudes objetivas e distanciadas; tendências,
preconceitos e intuições provocam distorções; talvez a mais importante
característica da observação sistemática seja que o observador observa e registra
fatos; apenas quando do tratamento dos dados os fatos devem ser avaliados; se
um trabalhador de escritório está sentado e coloca os pés sobre a mesa, este é um
fato que o observador deve registrar como tal; o observador não deve registrar,
como o gerente o faria, que o trabalhador está vadiando.
• O observador deve registrar, e mesmo procurar, fatos que não estejam de acordo
com as suas idéias ou hipóteses sobre o fenômeno observado - em outras
palavras: deve se tornar um cético curioso e obstinado.
WISNER (1987) acrescenta os seguintes cuidados para uma boa observação pelo
ergonomista:
Operações e tarefas
Não é correto descrever o trabalho sob forma de uma lista não estruturada de operações,
mesmo que esta noção seja mais rica do que a dos movimentos elementares. A operação
é um elemento completo da tarefa, com gestos de ação, de observação e de comunicação
e uma estratégia própria. A operação será, por exemplo, uma chamada telefônica, uma
coleta de sangue, a classificação da folha de resultados de um exame que chegou do
laboratório no prontuário do paciente.
Quanto ao aspecto sazonal, WISNER (op. cit.) menciona N. See que apresentou as diversas
atividades do agricultor em função dos meses do ano, sob forma de um diagrama circular
no qual o círculo mais periférico é consagrado às variações, por si só consideráveis, dos
diversos riscos profissionais.
Locais de trabalho
Postos de trabalho
De acordo com RICHARDSON (1989), na observação participante, mesmo que sob a forma
artificial, o observador não é apenas um espectador do fato que está sendo estudado: ele
se coloca na posição e ao nível dos outros elementos humanos que compõem o
fenômeno a ser observado. Se o pesquisador está empenhado em estudar as aspirações,
os interesses ou a rotina de trabalho de um grupo de operários, na forma de observação
participante, ele terá de se inserir nesse grupo de operários como se fosse um deles. Este
tipo de observação é recomendado especialmente para estudos de grupos e
comunidades. O observador participante tem mais condições de compreender os hábitos,
atitudes, interesses, relações pessoais e características da vida diária da comunidade do
que o observador não-participante.
Porém, esta técnica, como qualquer outra, pode ou não favorecer o desenvolvimento do
processo de pesquisa e, como tudo o mais na pesquisa, depende muito da habilidade do
pesquisador.
Para os contatos iniciais com o grupo a ser observado é importante explicitar as razões e
os objetivos da pesquisa, a fim de que durante a apresentação do pesquisador, ao
referido grupo a ser observado, não ocorram dúvidas e desconfianças e se facilite,
conseqüentemente, a aceitação do pesquisador pelo grupo.
Pode ocorrer que algum investigador decida penetrar em um grupo, como observador
participante, sem que o seu objetivo de trabalho seja divulgado junto a seus membros.
Para tanto, ele conseguiria o ingresso formal naquele grupo e, para todos, seria um de
seus membros. Contudo, esse comportamento pode ser desaconselhável - já que pode
prejudicar algum membro do grupo e, mais ainda, fere uma questão ética de respeito ao
grupo. No caso, o pesquisador estaria agindo como espião, já que o grupo observado
nada saberia sobre suas verdadeiras intenções. Haveria ainda a possibilidade de o grupo
descobrir a verdade, se sentir com justa razão traído e criar com isso um problema de
rejeição em relação ao observador. Cabe questionar se os resultados que vierem a ser
obtidos são tão importantes que justifiquem aquisição com todas estas implicações e
riscos.
27
1. Facilita o rápido acesso a dados sobre situações habituais em que os membros das
comunidades se encontram envolvidos.
2. Possibilita o acesso a dados que a comunidade ou grupo considera de domínio
privado.
3. Possibilita captar as palavras de esclarecimento que acompanham o
comportamento dos observados.
Porém, essa condição de participante do grupo, por outro lado, pode ser negativa para a
pesquisa no momento em que o investigador perde contato com a finalidade de sua
pesquisa. Além de ser possível ao pesquisador negligenciar involuntariamente seu
objetivo, como já foi dito, é possível, também, ele sentir-se 'tão participante' que perca a
objetividade, passando a registrar os fatos com uma grande carga de afetividade.
Entretanto, se ingressa inteiramente nas atividades do grupo, angustia-se por perder sua
identidade como pesquisador. A fim de restabelecer sua posição de pesquisador objetivo,
pode afastar-se, a fim de separar-se do grupo que observa; ao fazê-lo, pode tornar-se
suscetível a fontes de viés negativo e deformação.
O primeiro passo para resguardar-se do viés que surge dos conflitos íntimos é ter
consciência dos conflitos e da natureza de nossas defesas. Com essa consciência, o
pesquisador pode criar defesas adequadas para a natureza dos conflitos e da situação
estudada.
WISNER (1987) declara que a reunião em uma mesma pessoa das características do
trabalhador e do pesquisador pode contribuir significativamente para uma melhor
compreensão das atividades da tarefa. O autor cita os exemplos de: (i) C. Teiger, que
trabalhou um mês como operária da indústria eletrônica, (ii) de F. Buisset, que trabalhou
como operária de firmas de tabaco, e (iii) D. Dessors, que foi operadora de telefone. As
pesquisas muito se beneficiaram da observação participante para a melhor compreensão
das descrições das operadoras sobre seu trabalho e para ligar esses elementos entre si e
descobrir as estratégias.
Entretanto, observações participantes que implicam ainda mais tempo são necessárias
para descobrir a complexidade das relações sociais. Como afirma WISNER (1987),
estamos neste caso fora do campo ergonômico. Existem exemplos célebres de
observações deste tipo, quer se trate de pesquisadores que se tornaram trabalhadores
durante um certo tempo ("Journal d'usine", S. Weil) ou de trabalhadores descrevendo sua
experiência como operários, após se tornarem pesquisadores ou escritores ("Ouvriers
chez Renault", Daniel Mottet; "L'établi", Linhart).
Definições morfológicas
Quando se diz que fulano está com os ombros caídos ou que move a cabeça lateralmente
para a esquerda, o que está em foco são os aspectos morfológicos do comportamento
que fulano apresenta.
Definições funcionais
• 'pressionar a barra' - qualquer pressão sobre uma barra que seja seguido de um
clique característico do aparelho.
Definições mistas
É uma técnica mista que combina o registro cursivo com os registros das ocorrências em
período de tempo estipulado. O observador anota de modo cursivo todos os eventos,
mas, ao fazê-lo, considera subdivisões regulares do tempo de observação.
Exemplo:
Exemplo:
Exemplo:
Registro de duração
Exemplo:
33
Registro a intervalos
MIN 00 - 06 - 11 - 16 - 21 - 26 - 31 - 36 - 41 - 46 - 51 - 55 -
05 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
1 X 0 X X 0 X X X 0 0 X 0
2 0 0 X 0 X 0 X X 0 X 0 X
3 X 0 X X 0 0 X X X 0 X 0
4 X X 0 0 X X 0 X 0 0 X 0
5 X 0 X X X 0 X X X 0 X X
6 0 X 0 0 X X 0 X 0 X X X
7 X 0 X X 0 X X X X X X X
8 X X 0 X 0 X 0 X X 0 X 0
9 0 X 0 X 0 X X X 0 X X 0
10 0 0 X X X X X 0 X X 0 X
LEGENDA: Fonte: FAGUNDES (1985)
- ocorrência: X
- não ocorrência: 0
MIN 00 - 06 - 11 - 16 - 21 - 26 - 31 - 36 - 41 - 46 - 51 - 55 -
05 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
1 X 0 X X 0 X X X 0 0 X 0
2 0 0 X 0 X 0 X X 0 X 0 X
3 X 0 X X 0 0 X X X 0 X 0
4 X X 0 0 X X 0 X 0 0 X 0
5 X 0 X X X 0 X X X 0 X X
Fonte: FAGUNDES (1985)
Técnica mista que combina o registro diacrônico de freqüência temporal do evento com o
registro por amostragem de tempo. Cada vez que o observador escuta o sinal, ele
registra o que o sujeito observado está fazendo. Como também se estabelece um tempo
de observação, têm-se como resultados:
document II II II II II II II II II II II II II II
o
Freqüência total: 28 Tempo total: 84
vídeo II II II II II II II I
Freqüência total: 15 Tempo total: 45
teclado II II II
Freqüência total: 6 Tempo total: 18
s/ II I
digitar
35
/ d / - documento
/ v / - vídeo
/ t / - teclado
/ s / - sem digitar
/ f / - fora do posto
/ o / - outros
d
36
Por outro lado, enquanto o registro cursivo é uma narração dos fatos observados, e usa
como instrumento a linguagem, os demais tipos utilizam caracteres e, mais ainda,
permitem quantificar os fatos observados.
3.4.3 Definição de duração de intervalo para registros que envolvem tempo de duração
de intervalo previamente determinado
Caso se deseje obter uma completa descrição da seqüência das atividades que o
operador desempenha, então a duração do intervalo não deve ser maior do que a menor
unidade de atividade. Se a duração do intervalo é maior do que a duração de certas
atividades, elas não aparecerão, já que tendem a ocorrer entre dois sinais.
Intervalos de cinco segundos são muito usados, mas intervalos de 10 segundos são mais
comuns. Uma solução para o controle da duração dos intervalos consiste em utilizar um
gravador, com uma fita previamente gravada, que - ao sinal de cada intervalo - transmite
um sinal. Indica-se assim para o observador quando termina cada intervalo.
Cumpre observar que este tipo de registro é muito cansativo e que os observadores só
conseguem manter a atenção e a concentração necessária por um tempo de, no máximo,
30 minutos. Deve-se então, dar uma pausa antes de iniciar outra observação.
Acorde FAGUNDES (1985), quando se quer ter maior certeza a respeito dos dados de
observação, costuma-se empregar duas ou mais pessoas para que registrem os
37
CONCORDÂNCIA
ÍNDICE DE X 100
FIDEDIGNIDAD
CONCORDÂNCIA + DISCORDÂNCIA
E =
Observado A Observador B
Intervalos Intervalos
Min. 0-15 16-30 31-45 46-60 Min. 0-15 16-30 31-45 46-60
1 X X - X 1 X X - X
2 - (*) - - - 2 X(*) - - -
3 X X(*) X X 3 X -(*) X X
Legenda
X = ocorrência
- = não ocorrência
(*) = discordância
Dupla AB de observadores
Concordância Discordâncias Total Índice de concordância
s
10 2 12 83%
39
Ainda não falamos dos registros cursivos, o que fazer para calcular a concordância de
tais registros, quando realizados por dois observadores independentes. Diferentemente
das demais técnicas, os registros cursivos, por conterem dados mais qualitativos do que
quantitativos, dificultam, e às vezes impedem, que o índice de Concordância seja
aplicado. Uma maneira de fazê-lo seria, quando possível, transformar os dados do
registro cursivo em dados numéricos (por exemplo o comportamento X ocorreu tantas
vezes; o comportamento Y, tantas vez; etc.) e se proceder da maneira já mencionada para
se fazer os cálculos. Nem sempre esta transformação é possível.
Nos casos em que se utilizam mais de duas pessoas para registrar os mesmos
comportamentos, o calculo de concordância é feito entre pares de observadores. Assim,
se temos três deles (A, B e C), para os cálculos formam-se os seguintes pares: AB, AC, BC.
40
É bom esclarecer que esta maneira de proceder é comum a todos os tipos de registro. Ou
seja, independentemente do tipo particular de registro utilizado, se mais de dois
observadores forem usados, os cálculos de concordância serão feitos sempre
combinando-se os observadores dois a dois.
Se, pelo contrário, os índices de concordância obtidos estão baixos (menos de 70%), cabe
concluir que as categorias estão oferecendo dificuldades para serem detectadas ou,
quem sabe, não estão bem definidas; ou os observadores não estão suficientemente
treinados. Nestes casos, pode-se por em duvida o valor dos registros obtidos. Quando
tais coisas acontecem, costuma-se superar o problema discutindo-se com os observadores
para se tentar identificar as possíveis falhas. Às vezes pode ter sido uma simples má
compreensão das definições comportamentais; outras vezes, ocorrem falhas das próprias
definições, o que pode ser resolvido com discussão, ou então com uma reformulação das
definições comportamentais.
Depois disso ter sido feito, outras sessões de treinamento se seguiriam, calculando-se
novos índices de concordância. Atingindo valores iguais ou superiores a 70%, em cerca
de 3 ou 4 sessões consecutivas, pode-se, com certa segurança, dar o treino dos
observadores como encerrado e passar-se as sessões de coleta de dados definitivos.
41
4. TIPOS DE INQUIRIÇÃO
4.1. Entrevistas
A partir da linha crítica de Bourdieu, que THIOLLENT (1981) discute amplamente, tem-se
que a não diretividade não constitui um remédio para o problema da imposição do
pesquisador em relação ao pesquisado e acarreta ilusões quando se perdem de vista as
diferenças sociais que existem ao nível da capacidade de verbalização dos indivíduos. Em
função das classes sociais ou de outros elementos de diferenciação, os indivíduos não
possuem a mesma capacidade de falar, sobretudo em uma situação artificial, na qual um
interlocutor exterior ou estranho permanece, na maior parte do tempo, numa posição de
ouvinte.
Entrevista livre
Recomenda-se esses tipo de entrevista nos estudos exploratórios que visam a abordar
realidades pouco conhecidas pelo pesquisador, ou então oferecer visão aproximativa do
problema pesquisado. Nos estudos desse tipo, com freqüência, recorre-se a entrevistas
informais com informantes-chave ou informantes qualificados. Estes informantes podem
ser especialistas no tema em estudo, líderes formais ou informais, personalidades
destacadas no setor.
Entrevista focalizada
Utiliza-se a entrevista focalizada com pessoas que partilham ou passaram por uma
experiência específica, como realizar um determinado tipo de trabalho ou presenciar um
acidente.
Por esta razão, a entrevista focalizada requer grande habilidade do pesquisador, que
deve respeitar o foco de interesse temático sem que isso implique a diretividade da
entrevista.
Entrevista semi-estruturada
Apresenta um certo grau de estruturação, já que se guia por uma relação de pontos de
interesse, que o entrevistador vai explorando ao longo de seu curso. As perguntas
abertas funcionam como um guia de temas a serem explorados, que o entrevistador
coloca ao entrevistado que fala livremente à medida em que se refere às pautas
assinaladas. Embora a ordem das pautas não seja pré-estabelecida, quando o pesquisado
se afasta da temática das pautas o entrevistador intervém sutilmente para manter a pauta
da entrevista sem prejudicar a espontaneidade do processo.
função das características culturais dos entrevistados, pela própria natureza do tema
investigado, ou ainda pela dificuldade do pesquisador em estruturar mais a entrevista ou
elaborar um questionário fechado.
Entrevista estruturada
Por possibilitar o tratamento quantitativo dos dados, este tipo de entrevista se apropria à
análise estatística, já que as respostas obtidas são padronizadas. Em contrapartida, estas
entrevistas não possibilitam a análise dos fatos com maior profundidade, pois obtêm-se
as informações a partir de um rol prefixado de perguntas.
Após completar o plano geral da pauta, o pesquisador pode detalhar alguns aspectos do
tema. Esta série de pontos vinculados a cada pergunta funcionam como lembretes que
podem ou não ser mencionados face ao encaminhamento da entrevista. Por exemplo, ao
se propor a pergunta 'o que o senhor acha do seu trabalho?', cabem os seguintes pontos:
conceito de trabalho, esperança de progresso, conflitos pessoais.
Nem todas as perguntas de uma pauta de entrevista devem ser subdivididas em pontos,
pois corre-se o perigo de transformar uma entrevista semi-estruturada numa entrevista
estruturada e dirigida. Na maioria dos casos, utilizam-se os lembretes espontaneamente,
no curso da entrevista, para aprofundar alguns temas.
De acordo com MUCCHIELLI (1978), chama-se indução da resposta (ou das atitudes, ou
do comportamento) o fato de que a questão, tal como o pesquisador a coloca, ou a
intervenção verbal, tal como ele a formula, orienta a resposta do entrevistado. Esse
fenômeno é um caso particular da interação e representa uma forma de sugestão da
parte do entrevistador, não necessariamente desejada ou consciente. Ao contrário, na
grande maioria dos casos, a questão ou intervenção verbal induz a resposta, sem que o
fenômeno seja consciente por parte do entrevistador ou do entrevistado.
Um exemplo citado por MUCCHIELLI (1978) ilustra bem a questão da indução. Numa
enquete realizada por dois pesquisadores sérios e certos de sua objetividade, sobre as
causas da decadência social de 2.000 indigentes alojados em albergues noturnos, com
amostragem sorteada, chegou-se aos seguintes resultados:
Tal fenômeno já foi verificado muitas vezes - existe um tipo de sugestão involuntária na
formulação da pergunta, na voz, na mímica, no olhar, no gesto, na atitude geral, que
orienta a resposta do entrevistado, sem que este esteja consciente dessa sugestão.
Cumpre enfatizar que a entrevista não é uma técnica tão simples quanto parece ao
utilizador superficial. O pesquisador não pode realizar entrevistas não-diretivas na base
da intuição nem do bom senso ou da típica ingenuidade das entrevistas comuns.
entrevistado deve falar algo de sua própria formação, experiência e área de interesse. O
entrevistador deve evitar: confidências de caráter pessoal; dar conselhos ou lições de
moral; discutir aspectos relativos às respostas; apressar o entrevistado durante seus
relatos ou questionamentos; ter comportamento de 'dono da verdade' ou 'sabe-tudo';
atitudes de autoritarismo.
Tanto por razões éticas quanto técnicas, a entrevista deve encerrar-se num clima de
cordialidade. Em geral, nas entrevistas de pesquisa, o entrevistado fornece informações
sem receber qualquer tipo de vantagem - logo, merece a máxima consideração e
respeito. Como é freqüente a necessidade de outra entrevista, o pesquisador não deve
esgotar o entrevistado e sim encerrar o encontro quando o interrogado ainda mantiver
interesse em conversar sobre o assunto.
A ergonomia lança mão dos diferentes tipos de entrevista conforme as diferentes etapas,
objetivos e objetos da pesquisa. Durante a problematização e a sistematização, usam-se
entrevistas não diretivas. Quando se conhece melhor a situação de trabalho e a tarefa,
lança-se mão de entrevistas focalizadas. Nas enquetes com supervisores, engenheiros de
segurança ou médicos do trabalho procede-se à entrevista semi-estruturada.
Por outro lado, perguntar ao operador sobre o seu trabalho, fora do cenário da tarefa,
também não é suficiente para compreender o trabalho realmente realizado. Quando
levado a falar em detalhes sobre seu trabalho fora do local de execução, ele trará o
máximo possível de elementos: planos, instrução, ferramentas, peças, tentativas de fazer
esboços explicativos. Com efeito, existe um vocabulário próprio informal a toda atividade
e, por vezes, esse vocabulário é difícil de traduzir na ausência de objetos. Ocorre o
mesmo para as relações espaço-temporais dos objetos entre si.
A descrição da atividade dentro do posto de trabalho é muito mais fácil, mas necessita de
um acordo nem sempre fácil de se conseguir com a direção da empresa, a chefia do
departamento e sobretudo com os próprios trabalhadores. A descrição exige uma
alternância de atividade e interrupções para explicações que é, em geral, incompatível
com o ritmo cotidiano da rotina do setor. Mais ainda, a rapidez das explicações solicita
muito a intuição do ergonomista e acarreta o risco de perder informações e/ou perturbar
o operador para obtê-las.
Espera-se descobrir, a partir da entrevista com o ocupante do posto, os 'sinais' aos quais
reage efetivamente e qual sua reação ao funcionamento do sistema.
A partir de MUCCHIELLI (1978), que propõe uma série de perguntas, baseado em Faverge,
Leplat e Guiget, determinaram-se algumas questões que podem servir como 'guia de
comunicação':
Cumpre observar que, como em qualquer entrevista, corre-se o risco de obter 'respostas
de fachada'. Ao pesquisador, cumpre evitar qualquer sugestão ou indução psicológica - é
fundamental deixar o interlocutor se estender sobre o tema de cada pergunta, como nas
entrevistas focalizadas.
FLANAGAN (1954) propôs o método dos incidentes críticos para o estudo do posto de
trabalho. Considera-se incidente crítico tudo o que acontece de significativo ou de típico
(de bom ou de mau em relação ao funcionamento do posto), e que permite que se faça
uma idéia do que consiste o funcionamento deste posto e as dificuldades vividas pelo
operador/ manutenidor. Trata-se de obter de um grande número de pessoas o relato de
acontecimentos que poderiam traduzir-se num incidente ou num acidente durante uma
atividade determinada mais ou menos precisa: conduzir um automóvel, conduzir um tipo
específico de veículo em condições particulares (sobrecarga, má saúde).
Para CHAPANIS (1996), esta técnica é especialmente útil quando o sistema já está
operando e observam-se problemas ou suspeita-se de dificuldades, mas não se conhecem
a natureza e a severidade dos problemas e dificuldades.
De acordo com MUCCHIELLI (1978), ao tratar de incidentes críticos, deve-se atentar para
a seguinte assertiva: não se pode considerar como incidente crítico a apreciação de um
acidente ou a simples notação de um ‘desarranjo mecânico’ ou de um conflito pessoal.
1. Ser um ramo das atividades da tarefa observável e formando um todo que pode ser
isolado, considerando o relato da apreciação realizada;
2. A situação definida deste modo deverá permitir o estudo das causas, efeitos,
origens e conseqüências e permitir a compreensão a partir do ponto de vista da
atividade estudada;
3. A situação não deve ser confusa ou deixar dúvidas. Deve manifestar ou exprimir
objetivos e intenções claras;
4. Os incidentes críticos relatados devem ser casos significativos de comportamento,
notavelmente eficazes ou ineficazes em relação aos objetivos gerais da atividade
considerada.
O ergonomista, então, usa seu conhecimento técnico e sua experiência para conjecturar
sobre prováveis fontes de dificuldade e como cada uma pode ser mais estudada e
reprojetada para eliminar as dificuldades.
Tem-se como resultado dos relatos de incidentes críticos uma listagem de fontes de
dificuldades na relação homem-sistema durante o uso e a operação. Mais ainda:
apresentam-se sugestões preliminares de soluções para as dificuldades arroladas.
4.2 Questionário
GIL (1987) afirma que a diferença fundamental entre um questionário e uma entrevista
consiste em que nesta última formulam-se oralmente as questões para as pessoas que
respondem da mesma forma. Ocorre, porém, que algumas entrevistas são totalmente
estruturadas e são freqüentemente denominadas como 'questionário apresentado
oralmente'. Há autores que preferem atribuir a esta técnica o nome de 'formulário', com o
objetivo de distinguí-la tanto do questionário quanto da entrevista. No entanto, é muito
freqüente identificar como 'formulário' todo e qualquer impresso que apresente campos
para anotação de dados - não importando se esta ação é desenvolvida pelo pesquisado
ou pelo pesquisador.
Ainda GIL (1978) define o questionário como a técnica de investigação composta por um
número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo
por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, expectativas e situações
vivenciadas.
Para MUCCHIELLI (1978c), no entanto, não se deve considerar o questionário como uma
lista de perguntas. Para este autor, fazem parte do que ele chama 'questionário' todos os
meios de procura de respostas - isto é, as questões propriamente ditas, as escolhas sobre
desenhos ou imagens, os meios de medida de atitudes (escalas de avaliação), as técnicas
de revelação da personalidade (técnicas projetivas utilizadas como meios de enquete) etc.
Entende-se como resposta procurada aquela que, através da subjetividade dos indivíduos
(e mesmo, por vezes, à revelia de sua consciência refletida), exprime direta ou
indiretamente (mas sempre da maneira a mais útil e mais utilizável possível) o fenômeno
social que queremos conhecer ou compreender.
Pergunta aberta
Exemplos:
Se um jovem perguntasse hoje a sua opinião sobre o melhor futuro profissional que
poderá escolher, qual a carreira que você lhe aconselharia?
Em virtude das dificuldades para tabulação e análise, perguntas deste tipo são pouco
recomendadas em estudos descritivos ou explicativos. Cumprem, no entanto, importante
papel nos estudos exploratórios ou formuladores.
Pergunta fechada
A grande maioria dos questionários faz uso de perguntas fechadas, por exemplo:
1) Sexo:
( ) masculino
( ) feminino
2) Idade:
( ) menos de 15 anos
( ) 15 - 20 anos
( ) 21 - 25 anos
( ) 26 - 30 anos
( ) 31 - 35 anos
( ) 36 - 40 anos
( ) 41 - 45 anos
( ) 46 - 50 anos
( ) 51 - 55 anos
( ) 56 - 60 anos
( ) 61 anos e mais
O nome indica que o cliente encontrará aí aquilo que deseja, dentro do leque de
alternativas propostas - apresenta um número relativamente grande de respostas
possíveis.
52
Reúne uma pergunta fechada e outra aberta, sendo que a última se enuncia
freqüentemente sob a forma 'por que?'
Muitas vezes, o pesquisador - para não fechar totalmente uma pergunta - inclui entre as
alternativas uma categoria outros, aberta.
Nível de instrução:
Nível de instrução:
( ) primeiro grau
( ) segundo grau
( ) terceiro grau
( ) pós-graduação
De acordo com RICHARDSON (1989), existem temas que podem ser abordados facilmente
através de perguntas fechadas - sexo, nível de escolaridade, estado civil, idade - porque
se limitam quase sempre a algumas alternativas. Aspectos como religião, raça e filiação
política implicam uma quantidade limitada de categorias, sempre que se tenha uma idéia
relativamente clara das características da grande maioria de determinada população. No
Brasil, por exemplo, qualquer pergunta sobre religião deve incluir as seguintes
categorias: católica, protestante, espírita, judia.
As atitudes medem-se, em geral, por meio de afirmações com respostas fixas (concordo -
discordo - indeciso), que correspondem a uma escala atitudinal fácil de computar que
permite comparar pessoas e grupos.
De acordo com GIL (1994), as perguntas, em função de seu conteúdo, podem ser
classificadas em diversas categorias. Entretanto, essa categorização nem sempre é muito
nítida. As distinções entre elas decorrem muito mais de uma questão de hábito ou
conveniência do que de rigor técnico. Abaixo encontram-se listadas algumas categorias
de perguntas.
Referem-se a dados concretos e fáceis de precisar, tais como idade, sexo, estado civil,
número de filhos, nacionalidade, naturalidade, nível de renda, escolaridade etc.
De modo geral, estas perguntas são respondidas com sinceridade, a menos que o
pesquisado suponha alguma conseqüência negativa para ele como resultado da sua
resposta - tal como aumento de impostos, desprestígio social etc.
Tratam das experiências subjetivas das pessoas, ou seja, do que as pessoas acreditam
que sejam os fatos. Utilizam-se com freqüência em questionários cuja finalidade é
fornecer dados sobre preconceitos, ideologias e convicções religiosas.
Tratam genericamente dos padrões éticos relativos ao que deve ser feito, mas podem
envolver considerações práticas a respeito das ações que são executadas. O interesse
destas perguntas está em que podem oferecer um reflexo do clima predominante de
opinião, bem como do comportamento provável em situações específicas.
O comportamento passado ou presente de uma pessoa é um tipo de fato que ela pode
observar de uma posição privilegiada. Entretanto, esse tipo de fato é aqui isolado em
virtude do valor que pode ter para a predição do comportamento futuro. O
comportamento anterior de uma pessoa em determinada situação constitui sempre
indicador expressivo de seu comportamento futuro em situações similares.
Estas perguntas são formuladas com o objetivo de descobrir os porquês. Embora sejam
perguntas simples de serem formuladas, há que se considerar que as respostas obtidas
referem-se apenas à dimensão consciente desses porquês.
Defesa de fachada
Quando o respondente acredita que corre o risco de ser julgado, reage e se defende nas
respostas estereotipadas ou socialmente desejáveis e mascara, conseqüentemente, sua
real percepção a respeito dos fatos
Para minimizar esse efeito, deve-se evitar iniciar o questionário com perguntas que
trazem o risco de provocar 'respostas de fachada'. Convém ainda formular respostas
articuladas, de modo a possibilitar a verificação da autenticidade de uma resposta a
partir de outra. Ou, ainda, chegar à verdadeira resposta por inferência, a partir de
questões que, isoladamente, não acarretem o comportamento defensivo do interrogado.
As perguntas com redação do tipo 'O que você pensa a respeito de...' e 'Na sua
opinião,...' tendem a provocar respostas de fuga. Nessas circunstâncias, são freqüentes
as recusas ou hesitações do tipo 'Não sei', 'Não estou seguro' e 'Não tenho opinião'.
Para evitar defesas deste tipo, convém não iniciar o questionário por perguntas que
provoquem esse tipo de reação. Quando o tema for delicado, sugerem-se
preferencialmente perguntas indiretas.
56
Tendência à aquiescência
Deformação conservadora
Mas o problema da 'qualidade de vida das pessoas idosas' é muito vago e só se tornará
preciso ao se explicitar o que se deseja saber: condições de habitação, composição e
origem da renda, tipo de alimentação, atividades de lazer, ou ainda 'comparação das
condições gerais de vida - habitação, renda, alimentação, status social, ocupações, lazer -
das pessoas idosas na cidade e no campo'. Em qualquer uma das situações, será
necessário definir a faixa etária de uma maneira precisa.
A definição dos objetivos é impossível sem a explicitação das predições. Para construir
um questionário, as predições são indispensáveis. Pode-se constatar que a formulação de
qualquer questão implica uma predição. Numa questão como 'Onde você costuma
comprar pão?', a predição é que 'você compra pão em algum lugar' - o que exclui a
possibilidade que você mesmo o fabrique.
Exemplo: O que você faz quando acontece um acidente de trabalho com um dos
operários de sua seção?
4.2.7 A pré-enquete
Recomendam-se então:
Várias entrevistas de tipo não diretivas, mas centradas no tema, junto a pessoas
selecionadas por sua informação ou por suas implicações quanto ao objeto da enquete,
propiciam a obtenção de uma documentação viva sobre o tema, paralelamente à
documentação escrita. Algumas exemplos são:
59
Entrevistas participativas
Reuniões de discussão
Estudos de gabinete
Consistem nas reflexões sobre os fatores da situação a estudar e análise sistemática das
predições.
A síntese da pré-enquete permite avaliar todas essas idéias, decantá-las e filtrá-las. Desse
modo, evitam-se:
Construção do questionário
O conteúdo da resposta apresenta uma relação direta com a maneira como se formulou a
pergunta. Algumas considerações sobre a formulação das perguntas inclui:
É importante incluir, ao fim, uma pergunta que permita ao entrevistado expressar seus
sentimentos relacionados ao processo de coleta de dados. Esse tipo de pergunta
possibilitará avaliar posteriormente o questionário e o processo da entrevista.
Toda entrevista não deve prolongar-se muito além de meia hora e os questionários que o
informante responde por si mesmo não devem superar os 30 minutos.
Depois da redação - mas antes da aplicação definitiva -, o questionário deve passar por
uma prova preliminar. Esta prova, que se designa como pré-teste, objetiva evidenciar
possíveis falhas na redação, inapropriação e/ou excesso de perguntas, constrangimentos
e defesas dos respondentes.
Existem dois métodos para aplicar questionários: por contato direto ou por correio.
Para o questionário a ser aplicado pelo correio, indicam-se poucas perguntas fechadas.
Devem-se analisar as características dos que responderam imediatamente e compará-las
com as dos retardatários que responderam apenas após a segunda carta. Tal
procedimento possibilita controlar diferenças que poderiam influenciar os resultados da
pesquisa.
Tal como ocorre num diálogo, primeiro se produz a aproximação gradual ao tema,
depois fala-se sobre o tema central e, após a discussão do assunto, tem-se uma conversa
genérica para, então, ocorrer a despedida. O entrevistador deve procurar obter a
confiança do respondente e, para tanto, deve se apresentar a sua identificação e explicar
o objetivo da pesquisa e a razão da escolha dos entrevistados.
Deve-se evitar induzir as respostas dos entrevistados, seja através de 'explicações' que o
entrevistador dá ou que, muitas vezes, o entrevistado solicita; seja através de mímicas,
tons de voz, olhares, gestos e atitudes em geral.
63
Devem-se ainda acrescentar precauções que, em certos casos precisos, assumem grande
importância. Por exemplo, interrogar operários sobre idéias que fazem de seu cargo, de
seus supervisores e chefes, no seu local de trabalho, na presença dos seus colegas e
após sua apresentação por um membro da Direção (a quem se solicitou, naturalmente, a
autorização para realizar as entrevistas) equivale a acumular desvios capazes de aniquilar
toda e qualquer esperança de obtenção de informações válidas.
Isto é um erro, tanto do ponto de vista do desvio assim introduzido na amostragem (isto
é, a amostra que respondeu não corresponde mais à amostra) como, conseqüentemente,
do ponto de vista da interpretação dos resultados, com relação aos objetivos da enquete.
Ainda acorde MUCHIELLI, a não resposta está caracterizada em duas situações distintas:
(i) Desconhecimento real do tema da pergunta, por parte da pessoa interrogada. Pode
acontecer que um dos objetivos da enquete seja justamente o de avaliar se os
indivíduos do grupo representando o universo da enquete sabem ou não, podem
definir ou não, compreendem ou não alguma coisa.
(ii) Recusa a se comprometer com uma resposta firme ou com as respostas previstas.
Isto pode ter um sentido e em certos casos, pode ser visto como uma atitude de
oposição.
(iii) Fuga da resposta porque a pergunta despertou inquietação ou desconfiança. Já
foi assinalado, anteriormente, que há um aumento no número de ‘sem-resposta’
às perguntas que envolvem opinião ou atitude, quando elas são formuladas de um
modo direto.
64
Segundo GOODE &HATTT (1979), uma grande proporção de respostas ‘não sei’ ou ‘não
compreendo’ é uma boa indicação de que as questões não foram formuladas
propriamente, ou de que foi usado um mau plano de amostragem.
Se respostas desta natureza ocorrem para perguntas que foram planejadas para medir
um sentimento público, ou a história passada de uma relação emocional, ou os padrões
de comunicação de um operário com seus superiores, uma grande percentagem de ‘não
sei’ pode sugerir:
As escalas sociais são instrumentos que objetivam medir a intensidade das opiniões e
das atitudes. Consistem basicamente numa série graduada de itens - dentre os quais o
respondente deve assinalar aqueles que melhor correspondem à sua percepção sobre o
fato pesquisado.
Segundo GOODE & HATT (1979), construir uma escala social implica: definir um contínuo;
fidedignidade; validade; ponderação dos itens; natureza dos itens e igualdade das
unidades.
4.3.1 Definição de um contínuo
( ) Totalmente favorável
( ) Favorável com algumas restrições
( ) Nem aprovação nem desaprovação
( ) Desaprovação em muitos aspectos
( ) Totalmente desfavorável
67
O inconveniente geral deste tipo de avaliação é que se torna difícil agrupar os sujeitos
por graus, porque o mesmo grau que os sujeitos expressam não corresponde
efetivamente, em todos, à mesma intensidade de reações.
Exemplo: Você poderia indicar com precisão sua opinião política marcando com uma
cruz, na linha graduada, a sua posição pessoal?
Exemplo:
3 2 1 0 1 2 3
Bom Mau
Confortável Desconfortáv
el
Seguro Inseguro
Forte Fraco
Pesado Leve
Justo Injusto
Osgood, Suci e Tannenbaum criaram esta técnica em 1957. O princípio desse processo é
o de que toda opinião vai de um extremo a outro, passando por um 'ponto zero' - o que,
nem sempre, corresponde à realidade.
4.4 Verbalização
"Estas verbalizações podem ser recolhidas como entrevistas no posto de trabalho, mas
também em outro local, se as condições no posto não se apresentam favoráveis.
"A verbalização como uma das manifestações das atividades do operador só adquire
significado quando se tem a tarefa como referência."
Como afirma BAINBRIDGE (1990) para coletar dados utilizando protocolos verbais, pede-
se ao operador para "pensar alto" enquanto realiza o seu trabalho. Registram-se os
comentários em um gravador para posterior transcrição. É interessante que o
verbalizador leia o texto transcrito para corrigir erros e esclarecer passagens confusas
para evitar distorções. Mais ainda, quando se faz o registro simultâneo em vídeo da
situação da tarefa - as informações que a pessoa recebe e seleciona e os seus gestos de
ação - propicia-se uma análise muito mais detalhada.
Verbalizações simultâneas
Verbalizações consecutivas
Não perturbam o desenvolvimento normal da tarefa. Faz-se a coleta dos dados a partir da
apresentação para o operador dos resultados de uma observação.
"consistem em fazer falar o operador a partir de uma gravação em vídeo de sua atividade
registrada em situação real. O sujeito é então estimulado e conduzido pela imagem e não
existe a tentação de modificar seu comportamento para estabelecer uma conformidade
com as normas oficiais." (MONTMOLLIN, 1990. p. 100)
A verbalização tem por objeto uma ação precisa para qual se solicita ao operador que
descreva a sua execução, enquanto a realiza. Utilizam-se instruções como: "diga-me o
que você faz, ao mesmo tempo em que está fazendo" ou "diga-me o que você fez".
Trata-se nesse caso, de fazer o operador verbalizar, não aquilo que ele faz ou fez num
caso preciso, mas sim a maneira como ele procede nas diferentes condições específicas,
com as quais ele é confrontado. A verbalização de um procedimento exige que o
70
Como não existe nenhuma maneira de observar o comportamento mental dos indivíduos
diretamente, não é possível testar se existe uma correlação entre o que alguém pensa e o
que ela diz pensar. Na prática devem-se considerar as distorções para minimizar seus
efeitos. Desta forma, deve-se considerar que:
BAINBRIDGE (1990) afirma que "Mesmo numa situação controlada, sem nenhuma tarefa
complexa não é possível testar um número suficientemente de situações para explorar
todo o conhecimento das pessoas. Ao coletar protocolos na situação real de trabalho
deve-se estar atento para o fato de que os dados coletados dependerão do que acontece
durante o período." (p. 165).
5 MÉTODOS DA ENGENHARIA
A seguir, são apresentados dois dos métodos utilizados pela engenharia, necessários
para a primeira etapa da análise ergonômica, a apreciação.
Para MENDONÇA (1972), o diagrama de fluxo funcional e ação - decisão é uma descrição
gráfica da seqüência lógica das etapas de um trabalho. É uma ferramenta que dá uma
visão global e seqüencial dos passos a serem percorridos para se alcançar os objetivos
do projeto. Permite saber o fluxo das informações, a seqüência entre os eventos, as
realimentações e as inter-relações.
CHAPANIS (1996) ressalta que um dos pontos de interessante sobre este diagrama é que
as mesmas funções básicas mantém-se através dos anos. A maior diferença que ocorreu
através dos anos foi a tecnologia. Ao invés de se obter alimento matando animais ou
colhendo da terra, como nossos ancestrais faziam, a maioria de nós obtém alimento indo
ao supermercado. Ao invés de cozinhar nossa comida em gravetos ou cuias diretamente
sob o fogo, cozinhamos nossa comida no microondas ou nos fornos convencionais. Ao
invés de comermos com as mãos, como nossos ancestrais faziam, usamos pratos e
outros implementos como facas, garfos e colheres.
Cumpre observar que não existem indicações de freqüência ou de tempo neste tipo de
diagrama.
• frases compostas somente por verbo e substantivo, como por exemplo: ativar
sistema, planejar rota, checar temperatura, ou
• frases compostas por verbo, substantivo e adjetivo, como por exemplo: gravar
desempenho subsistema, selecionar item menu.
As funções são ainda numeradas de forma que fique clara suas relações, umas com as
outras, e que se possa acompanhar as funções através de todo sistema:
Para caracterizar melhor os diferentes níveis das funções, utiliza-se o seguinte sistema de
numeração:
• As funções de nível zero são as funções iniciais do sistema e indicam-se por: 1.0,
2.0, 3.0, 4.0 etc.;
• As funções de primeiro nível analisam cada função de nível zero em termos da
funcionalidade relacionada às atividades e são identificadas por: 1.1, 1.2, 1.3; 2.1,
2.2, 2.3; 3.1, 3.2, 3.3, etc.;
• No segundo nível, analisa-se cada função ou atividade de primeiro nível e se ela
ainda pode ser subdividida, as sub-atividade são identificadas por 3 dígitos - 1.1.1,
2.1.1, 3.1.1 e assim por diante;
Duas atividades estão associadas em série quando só se pode dar início à segunda após
o término da primeira.
73
Duas ou mais funções/ operações/ atividades são alternativas quando se pode optar pela
realização de qualquer uma delas, sem prejuízo para o andamento do trabalho.
Entretanto, durante a fase de execução, realizar-se-á apenas um dos eventos. Este tipo de
associação alternada é extremamente útil na etapa de planejamento, quando se definem
caminhos alternativos de solução.
Função/operação/atividade questionável
Bloco de decisão
No caso de mais de dois fluxos, cabe ao analista escolher a forma gráfica que melhor
identifique a situação e que facilite a visualização:
Isto significa que em função da resposta, afirmativa ou negativa, o fluxo pode continuar
em direção às atividades seguintes - no caso do sim -, ou voltar para funções/operações/
atividades anteriores - se a resposta for não. Quando se dá o retorno, tem-se o processo
de realimentação. Este resulta de uma resposta negativa ao bloco de decisão e implica
em que se refaça as atividades anteriores com algumas alterações ou cuidados especiais.
Cumpre ressaltar que não se considera o bloco de decisão como uma função/ operação/
atividade: ele apenas indica uma tomada de decisão.
Bloco de referência
Serve para fazer referência a alguma função que participa do fluxo, mas pertence a outra
parte do diagrama. Utiliza-se este bloco quando se faz necessário executar novamente
esta função/ operação/ atividade que já apareceu no fluxograma. Então, para não
complicar a figura, usa-se o artifício do bloco em aberto, com o número e o nome de uma
única ou de um grupo de funções/ operações/ atividades. No último caso, demarcam-se
os limites dos eventos e nomeia-se a figura. Deste modo, melhora-se a apresentação
gráfica e evita-se que o fluxograma se torne extenso demais.
Cabe, por fim, observar que o ergonomista lança mão dos diagramas do fluxo funcional e
ação - decisão em vários momentos e níveis de suas análises como, por exemplo:
Cumpre ainda observar que, mais explicitamente, no caso das operações e atividades,
elas podem-se subdividir nos seguintes eventos:
2a
Fun./Oper./ I
Atividade
1.0 4.0
Alternativa 3.0
INÍCIO
Função Função Fun./ Oper.
Operação OU Operação Atividade 1
Atividade Atividade em Série
2b
Fun./Oper./
Atividade
Alternativa
5. 6.0 7.0
Função 0 Bloco Função Atividade
1 de 2
Operação Operação Questionável
S
Atividade Decisão Atividade
N
10
a
Fun./ Oper.
Atividade
I8.0 Simultânea 11.
9.
0
Bloco de Função0 Função
E FIM
2 Operação Operação
Referência
Atividade Atividade
10
Fun./ Oper.
b
Atividade
Simultânea
77
Esta técnica aperfeiçoa cada função ou ação do diagrama de fluxo funcional pela
identificação da informação que é requerida para que cada ação ou decisão ocorra. Esta
análise é geralmente complementada com fontes de dados, problemas potenciais,
incidência de fatores associados à indução ao erro ou acidente com cada função ou ação
(CHAPANIS, 1996).
Como resultado, tem-se uma lista detalhada de requisitos de informação e de ação para
interfaces operador-sistema, que pode prever a necessidade de requisitos de suporte,
problemas potenciais, e prováveis soluções. A análise pode produzir sugestões para a
melhoria do design de hardware, software e procedimentos.
Segundo CHAPANIS (1996), este método é geralmente utilizado com sistemas existentes,
a fim de obter-se informações úteis para o planejamento de um novo sistema. A analise
da atividade e de estudos de incidentes críticos podem ser desempenhados em
simulações, o protótipos de um novo sistema, ou, se for o caso, em sistemas que
acabaram de ser desenvolvidos e colocados em operação. Todavia, como uma regra
geral, a analise de sistemas similares é uma boa maneira de se começar qualquer
projeto.
Embora não haja regras difíceis nem rápidas sobre como sistemas antecedentes deveriam
ser estudados/ analisados, o analista deve estar atento a detalhes como:
Alguns dos produtos úteis que podem resultar deste tipo de analise são:
Para cada um destes itens, é colocado um sinal (letra, marca, ou o valor da intensidade
do fluxo), na quadrícula onde se cruzam as respectivas linhas e colunas de/ para - valor
este que representa cada movimento que ocorre com o item.
O número de movimentos (ou intensidade de fluxo) que entra num determinado item e o
número de movimentos (ou intensidade de fluxo) que sai deste mesmo item devem ser
iguais. Se os valores forem diferentes, ocorreu algum erro.
Cumpre observar que, no entanto, os totais de linhas podem não ser iguais aos totais das
colunas ao se usarem apenas os valores de intensidade de fluxo mais significativos.
Algumas vezes na carta de/ para usam-se valores de fluxo relacionados ao tamanho,
peso ou volume do item para cada ocorrência do movimento. Podem-se introduzir estas
intensidades de fluxo, baseadas em medidas quantitativas. Em geral, tabulam-se as
medidas de intensidade, para todos os movimentos ou transportes de uma atividade a
outra e então colocam-se os valores finais na carta. A figura abaixo apresenta um
exemplo da carta de – para.
5.5 Mapofluxograma
De acordo com CHAPANIS (1962), “um diagrama de fluxo é um gráfico de uma tabela de
processo que mostra as localizações de todas as operações”. Como afirma FULLMANN
(1975), traça-se sobre a planta de instalação, em escala - com máquinas, estações de
trabalho, bancadas, estoques intermediários, armazenamento, almoxarifado - o caminho
ou o trajeto que seguem: as matérias primas, as peças, os produtos semi-acabados ou
acabados, os operadores ao monitorarem o sistema (como o patrulhamento dos teares
pelo tecelão), os serventes ou auxiliares de serviços gerais ao se movimentarem durante
o transporte manual de cargas.
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FREQUENCIA DE DESLOCAMENTOS
CHAPANIS (1996) afirma que este método permite arranjar o layout físico de painéis de
instrumentos, painéis de controle, estações de trabalho, ou áreas de trabalho, a fim de
atingir determinados objetivos, como por exemplo, reduzir a quantidade total de
movimentos, aumentando a acessibilidade. Segundo o autor, as entradas (‘inputs’)
primárias para esta análise são os dados da análise a atividade e da análise da tarefa, e
as observações de sistemas funcionais ou simulados.
As ligações são definidas como qualquer seqüência que use dois instrumentos ou
qualquer seqüência de ação. Isto significa uma conexão entre:
(MPD), associado ao equipamento MMS. Uma vez que estas tarefas não podem ser
executadas simultaneamente, isto significa que o co-piloto está sobrecarregado neste
ponto da atividade e tem que dividir o tempo entre as tarefas. Por outro lado, é possível
voar de helicóptero e conversar ao mesmo tempo, como mostrado no gráfico, no caso do
piloto.
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65
Decolar (P) 70 75 80 85
NOE (P)
Procura no
MMS (CPO)
P & CPO
discutem
sobre a rota
ou a
decolagem
Comunicaçõe
s com o
comando de
controle (P)
Recebimento
de mensagens
de dados
(CPO)
Legenda:
Checagem P: piloto NOE: vôo nap-of-the-earth
de mapas CPO: co-piloto MMS: equipamento de sinalização
(CPO)
Fonte: SHAFFER, SHAFER & KUTCHE (apud CHAPANIS, 1996)
5.7 Links
Segundo SANDERS & MCCORMICK (1987), são chamados de elos as relações entre
componentes do sistema - sejam pessoas ou coisas. Por exemplo: se um operador tem
83
que usar um telefone, isto é um elo homem-máquina, quando um operador primeiro gira
um botão C e depois opera uma chave D, isto identifica uma ligação entre C e D.
Elos de comunicação
• Visuais (pessoa para pessoa ou pessoa para equipamento ou equipamento para
pessoa)
• Auditivos verbais (pessoa para pessoa, pessoa para equipamento ou equipamento
para pessoa)
• Auditivos não verbais (equipamento para pessoa)
• Táteis (pessoa para pessoa ou pessoa para equipamento)
Elos de controle
• De controle (pessoa para equipamento)
Elos de movimento
• Movimentos dos olhos (detecção visual, tomada de informação, exploração visual)
• Movimentos acionais manuais (manipulação de comandos)
• Movimentos acionais pediosos (acionamento de pedais)
• Movimentos corporais posturais
• Movimentos corporais de deslocamento espacial
Matriz de interação
Para a construção de uma matriz de interação (ou restrição), deve ser observado o
seguinte procedimento:
84
A matriz de interação indica uma conexão entre fatores sem estabelecer dependência
entre eles. Essa matriz se caracteriza pela simetria, ou seja, a interação entre o "fator 2" e
o "fator 1", por exemplo, ‚ idêntica à interação do "fator 1" com o "fator 2".
(i) definição dos termos fator e elemento - os elementos considerados são os seguintes:
1. liga/desliga
2. gravação
3. emissão
4. avanço
5. retorno
6. volume de gravação
7. volume de emissão
8. ejeção
9. pausa
elemento 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1. liga/ desliga X 3 4 3 3 1 2 4 2
2. gravação 3 X 4 3 3 3 2 2 4
3. emissão 4 4 X 3 3 2 3 2 2
4. avanço 3 3 3 X 4 2 2 2 2
5. retorno 3 3 3 4 X 2 2 2 2
6. vol. gravação 1 3 2 2 2 X 1 1 1
85
7. vol. Emissão 2 2 3 2 2 1 X 1 2
8. ejeção 4 2 2 2 2 1 1 X 2
9. pausa 2 4 2 2 2 1 1 2 X
elemento 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1. liga/ desliga X 3 4 3 3 1 2 4 2
2. gravação X 4 3 3 3 2 2 4
3. emissão X 3 3 2 3 2 2
4. avanço X 4 2 2 2 2
5. retorno X 2 2 2 2
6. vol. gravação X 1 1 1
7. vol. Emissão X 1 2
8. ejeção X 2
9. pausa X
Rede de interação
A rede nada mais é do que outra forma de representar a interação dos fatores revelada
através de uma matriz. Da mesma forma que a matriz, a rede também pode ser de
interação ou restrição, de acordo com o tipo de matriz que a precede.
1 - Liga/
Pausa -
desliga
9
Volume
Emissão - 8 2-
Gravação
Volume Emissão
-7 3-
Emissão
Volume
Gravação - 6 4-
Liga/ desliga - Avanço
5
86
Volume de 6 7 Volume de
Gravação Emissão
Gravação 2 6 Emissão
5
4
Matriz de restrição
escolha do fator Y?" Neste caso, a conexão é absoluta, isto é, existe ou não
existe, embora possam existir graus diversos de dependência.
(iii) construção da matriz
1 2 3 4 5 6
1. matéria-prima X * - - * -
2. processo de * X * - * -
fabricação
3. forma * * X * - -
4. dimensões * - * X - -
5. acabamento - * - - X -
6. cores - - - - * X
Legenda: depende - *
independe - -
Como as interações não são simétricas, deve-se preencher toda a matriz. Por exemplo,
existe a interação 3/1 - isto é, a escolha da forma depende da escolha da matéria-prima,
mas a recíproca não é verdadeira.
Rede de restrição
5
3
5 2 3
88
6 1 4
6. AMOSTRAGEM DE SUJEITOS
Este item trata, de forma bastante geral, sobre a seleção da amostra para a aplicação dos
métodos e técnicas descritos anteriormente. Não se pretende esgotar o tema. Pelo
contrario, pois este é amplamente discutido na literatura de metodologia da pesquisa e
de estatística. O que se apresenta a seguir são aspectos gerais da amostragem, que
devem ser considerados quando da consulta destes manuais e na interação com
especialistas.
Segundo WILSON & CORLETT (1995), primeiramente você deve definir a população que
deseja investigar (por exemplo, em quais organizações seus respondentes trabalham, e
que cargos e/ou níveis eles estão), e depois, o tamanho da amostra - que pode ser 100%.
Segundo Guilford (apud WILSON & CORLETT, op. cit.), esta amostra será determinada pela
técnica disponível e pela precisão requerida.
Amostra acidental
No entanto, a amostra acidental pode ser útil em um primeiro contato com um problema
de investigação, quando o pesquisador ainda não tem suficiente clareza sobre as
variáveis a considerar. As conclusões tiradas a partir desta amostra poderão levá-lo,
então, a estabelecer hipóteses suscetíveis de serem contrastadas em trabalhos futuros.
Para que uma amostra seja aleatória, os elementos do universo devem ter uma
probabilidade igual ou conhecida, diferente de zero, de serem selecionados ao acaso
para participarem da amostra.
A fim de se atingir este principio, é necessário possuir, previamente, uma lista completa
dos elementos que fazem parte deste universo (denominada marco de referência ou base
90
de amostragem), para que, desta forma, a amostra composta por estes elementos possa
ser selecionada ao acaso (amostra aleatória simples ou ao acaso).
Dentre os métodos utilizados para a seleção aleatória de uma amostra são utilizados
desde o jogo de dados, passando por sorteio lotérico, até tabelas de números aleatórios
criadas cientificamente e que são apresentadas em manuais de estatística e em
programas de computador.
Amostra estratificada
Cabe ressaltar, no entanto, que as variáveis independentes que são utilizadas para
efetuar-se a divisão do universo devem ser aquelas que relacionam as estruturas da
população com a variável dependente que se deseja estudar.
Destaca-se, ainda, que o procedimento mais exato para calcular amostras aleatórias ou
estratificadas é através da utilização de fórmulas que utilizam variáveis matemáticas:
nível de confiança escolhido; a média; o desvio padrão; e o erro de estimação permitido.
Conhecendo-se estes valores, procede-se à aplicação da formula. Para aprofundar estes
procedimentos e conhecer formas de calcular estes e outros tipos de amostras,
recomenda-se procurar a literatura especializada de estatística.
7. ANÁLISE DA TAREFA
Uma outra definição que parece ter uma aplicabilidade geral é a de DRURY (1987):
Para LAVILLE (1986), tarefa e atividade são duas noções essenciais. A tarefa é o
objetivo a atingir, o resultado a obter. Assim, a tarefa de uma enfermeira é
propiciar os cuidados apropriados aos doentes. A de um motorista de caminhão,
entregar encomendas em locais definidos. Para um trabalhador em linha de
montagem de automóveis, será montar componentes nos veículos (como a
fechadura na porta). Para uma costureira, costurar os colarinhos nas camisas.
Como declara VALENTIN (1987), destes desvios entre o prescrito e o real nascem
os procedimentos de regulação que são freqüentemente custosos - seja para os
operadores (dificuldades de aprendizagem, fadiga, ...), seja para a empresa
(tempos perdidos, perda de matérias-primas, falta de conformidade na qualidade).
O ergonomista analisa estas dificuldades para propor os arranjos que permitirão
uma melhor adaptação do trabalho ao homem.
Como diz Montmollin, cumpre evitar a ilusão do 'trabalho prescrito' - mas, por
outro lado, não se deve afirmar que não cabe nada prescrever nem que o
'trabalho real' constitua em todas as circunstâncias um modelo a seguir
cegamente e acriticamente.
Na prática da análise, não se pode jamais existir um lado sem o outro - a tarefa
ou a atividade - sem se referir permanentemente à outra. Tal implica que a
análise do trabalho será freqüentemente 'em espiral', marcada pelas passagens
sucessivas da análise da tarefa à análise da atividade e, inversamente, cada uma
se enriquecendo a partir da outra a cada etapa.
Segundo DRURY (1987), todos os métodos para análise da tarefa implicam três
diferentes espécies de atividade:
Como diz o autor, todas as três atividades em conjunto têm recebido de modo
impreciso a denominação de 'análise da tarefa'.
Como afirmou FAVERGE (1972), todo trabalho comporta (mais ou menos) quatro
componentes fundamentais: motrizes, informacionais, regulatórios e intelectuais,
que podem dar origem aos quatro modos de análise seguintes:
MEISTER (1985) considera como ponto de partida para a análise da tarefa a noção
de sistema e, particularmente, de sistema homem-máquina como uma
organização do pessoal com as máquinas que eles operam e mantêm para
desempenhar uma tarefa especificada.
O primeiro cuidado para iniciar a descrição da tarefa deve ser delimitar o sistema
homem-tarefa-máquina em foco - recortar o sistema alvo e definir o seu ambiente.
Isto não é trivial, pois a noção de sistema em ergonomia se aplica tanto a um
posto de trabalho elementar quanto a organismos ou dispositivos muito
complexos empregados por um único ou por um grande número de
trabalhadores. De fato, um sistema é sempre um subsistema de um sistema mais
amplo. A análise deverá, portanto, escolher a escala de enfoque mais adequada
para o estudo. Por outro lado, é quase impossível abordar ao mesmo tempo e
com a mesma profundidade todos os aspectos do sistema; necessita-se
igualmente escolher aqueles sobre os quais focalizar a atenção ou, ao menos,
fixar prioridades e, eventualmente, estabelecer uma hierarquia.
Desempenha-se uma tarefa para realizar uma meta que se liga à saída de uma
entidade de ordem superior que é um sistema. O comportamento propositado do
indivíduo não pode ser entendido fora do conceito de sistema. Sem uma
orientação tarefa/sistema, o comportamento do homem não pode ser
interpretado significativamente. Uma conseqüência crítica de considerar o
indivíduo ou o grupo como um componente do sistema é a implicação de
considerar todos os fatores do sistema que podem influenciar o desempenho do
indivíduo ou do grupo.
Ao realizar uma análise de sistema deve-se começar pela meta e pelas entradas e
saídas. Tal implica certas funções que exigirão certas capacidades funcionais e
imporão requisitos de desempenho. Quando existem fatores ambientais ou
operacionais especiais será necessário que o sistema desempenhe funções
especiais. Um exemplo: se o veículo deve trabalhar numa temperatura muito alta,
pode ser necessário refrigerar o sistema e isto pode implicar a monitoração da
temperatura, com a possibilidade do homem ser o responsável pela monitoração.
O mesmo raciocínio se aplica aos constrangimentos, que são, num certo sentido,
um requisito de desempenho negativo.
Referências Bibliográficas
CHAPANIS, Alphonse. Humans factors in systems engineering. New York, John Wiley &
Sons, 1996. 332 p.
CHIOZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo, Cortez, 2 ed.,
1995. 165 p.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo, Atlas, 1987. 206
p.
RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social; métodos e técnicas. São Paulo, Atlas, 1989.
287 p.
WILSON, John & CORLETT, Nigel. (eds.). Evaluation of human work. London, Taylor &
Francis, 2 ed., 1995. 1134 p.
WISNER, Alain. Por dentro do trabalho; ergonomia: método & técnica. São Paulo, FTD/
Oboré, 1987.
189 p.