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uso” ou “tabaquismo”. Sabe-se que o tabagismo é uma intoxicação aguda ou crônica provocada pelo abuso
de tabaco; integra o grupo de transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de substâncias
psicoativas do CID-10 e é reconhecido pela OMS como a maior causa isolada e evitável de adoecimento e
mortes precoce em todo mundo. Além disso, é reconhecido como uma doença epidêmica, uma toxicomania,
que causa dependência física, psicológica e comportamental. A dependência ocorre pela presença da
nicotina nos produtos à base de tabaco. A dependência obriga os fumantes a inalarem mais de 4.720
substâncias tóxicas. Desse modo, o tabagismo é causa de aproximadamente 50 doenças, muitas delas
incapacitantes e fatais, como câncer, doenças cardiovasculares e respiratórias crônicas.
Questão 2) Dos cerca de 4720 componentes tóxicos presentes no cigarro, a nicotina é o principal
responsável pela tolerância e dependência. A maior taxa de absorção dessa substância ocorre no pulmão, e
menores quantidades são absorvidas pela boca e nasofaringe. Após ser absorvida, a nicotina chega ao
cérebro em segundos e ativa receptores nicotínicos que, por sua vez, contribuem para o mecanismo de
reforço. O reforço ou recompensa refere-se aos processos fisiológicos pelos quais um dado comportamento,
como o consumo de droga, torna-se habitual. Isto ocorre quando neurônios liberam o neurotransmissor
dopamina para o nucleus accumbens (NAc) após o consumo da droga. Sabe-se que essa molécula está
fortemente ligada ao reforço positivo das drogas de abuso. As drogas realçam a transmissão dopaminérgica,
principalmente pelo sistema dopaminérgico mesolímbico. Esse sistema dopaminérgico de recompensa se
origina na área tegmental ventral (ATV) e se projeta para o NAc, córtex pré-frontal e outras áreas límbicas.
Outro componente desta ampla concepção de reforço positivo é o sistema neuronal glutamatérgico, que
influencia diretamente o sistema mesolímbico dopaminérgico. Assim, a estimulação dos nAChRs na AVT
pela nicotina gera um aumento nos níveis de dopamina no NAc e, consequentemente, os efeitos de
recompensa que contribuem diretamente para a o processo de dependência. Outros neurotransmissores
também são liberados, tais como, a norepinefrina, acetilcolina, serotonina, ácido gama-aminobutírico
(GABA), glutamato e endorfinas, que medeiam vários efeitos da nicotina. Essa liberação de dopamina é
facilitada pelo aumento da liberação de glutamato mediada pela nicotina e, em longo prazo, pela inibição da
liberação do GABA. Além disso, o uso crônico do cigarro pode reduzir os níveis de monoamino-oxidases
(MAO) A e B. Isso aumenta os níveis de monoaminas nas sinapses e, consequentemente, aumenta os efeitos
de recompensa. Desse modo, o uso crônico da nicotina resulta em dependência física e comportamental .
Ademias, após exposições repetidas à nicotina, é estabelecido um processo de neuro-adaptação a alguns
(mas não a todos) efeitos da nicotina. Observa-se um aumento dos nAChRs no cérebro em resposta à
dessensibilização destes receptores mediados pela nicotina. Essa dessensibilização pode ter um importante
papel no desenvolvimento da tolerância e dependência.
Questão 3) a) Aparelho Respiratório: O epitélio que reveste o trato respiratório superior atua como a
primeira linha de defesa contra agentes agressores, podendo gerar sintomas e doenças das vias aéreas
superiores quando expostos a eles. A combustão do cigarro produz uma fumaça com mais de 4000
componentes nocivos, incluindo substâncias gasosas e substâncias particuladas. Entre elas estão a acroleína,
formaldeído, monóxido de carbono, nicotina, cotinina, dentre outros, sendo que muitos desses componentes
são comprovadamente tóxicos para o epitélio respiratório. A inalação oral assim como a inalação nasal da
fumaça de cigarro promove uma profunda diminuição in vivo no transporte mucociliar.
Estudiosos demonstraram que a cotinina, um metabólito tóxico da nicotina é capaz de reduzir de maneira
significativa o batimento ciliar de células epiteliais in vitro. A fumaça de cigarro também está associada a
profundas alterações nos mecanismos de produção de muco. A exposição crônica a essa fumaça provoca
alterações metaplásicas da mucosa respiratória com aumento no número e tamanho de células caliciformes e
consequente aumento de secreção nas vias aéreas. Além de alterações funcionais, a fumaça de cigarro
promove alterações estruturais importantes sobre o epitélio respiratório. Estudos em animais têm
demonstrado que exposições crônicas e intermitentes à fumaça de cigarro promovem alterações
morfológicas no epitélio de todo o trato respiratório, desde hiperplasia nas concentrações menores até perda
de cílios e metaplasia com queratinização nas concentrações maiores, além de espessamento e inflamação
submucosa com infiltrado neutrofílico e de células inflamatórias mononucleares. Assim, diante dessas
modificações, o tabagismo contribui para o aparecimento de patologias que acometem o sistema
respiratório, como a rinossinusite crônica (RSC). Considerando que um dos eventos terminais da RSC é a
estase de secreções nasossinusais secundária à diminuição do transporte mucociliar, as alterações exercidas
sobre o epitélio respiratório justificariam uma relação causal da RSC com o tabagismo. Entretanto, apesar
das ligações fisiopatológicas plausíveis, existem poucas evidências clínicas que comprovem a relação entre
o hábito de fumar e o desenvolvimento de RSC. Somado a essas alterações, o indivíduo tabagista pode
apresentar aumento da frequência respiratória (FR) e queda do pico de fluxo expiratório (PFE). De acordo
com pesquisadores, a queda do PFE é explicada pelo processo inflamatório agudo de broncoconstrição, que
é causada principalmente pelo alcatrão contido no cigarro, acúmulo de secreção e diminuição do calibre dos
brônquios. O PFE diminui juntamente com o volume corrente, o que obriga o indíviduo a aumentar a FR
durante o ato tabágico para manter a ventilação alveolar adequada. Devido a essas alterações, o indivíduo
pode apresentar implicações, como: destruição tecidual, tosse, pigarro, acúmulo de secreção, falta de ar
decorrente do comprometimento das trocas gasosas, deficuldades na execução de atividades da vida diária,
associada à hipertensão arterial.
b) Aparelho Cardiovascular: - Envelhecimento dos vasos arterias, que determina o aparecimento precoce de
aterosclerose. – A fumaça liberada na combustão do cigarro apresenta alto conteúdo de CO, que possui 210
vezes mais afinidade de ligação com a Hb do que com o oxigênio ao chegar aos alvéolos. O CO e sua
ligação com a Hb formam um composto altamente estável, a carboxiemoglobina (HbCO), resultando em
prejuízo na hematose. Os níveis de HbCO podem ser mensurados no sangue de indivíduos fumantes,
variando conforme o número de cigarros fumados por ele. Os fumantes têm níveis de HbCO cerca de 2 a 15
vezes maiores que os não fumantes, o que reduz a quantidade total de O2 que chega à célula, favorecendo o
metabolismo anaeróbico, com produção excessiva de oxidantes. O maior metabolismo anaeróbico nos
indivíduos leva progressivamente à lesão difusa das paredes dos vasos, tornando-as mais rígidas. Além desse
mecanismo de hipóxia tecidual, a nicotina age como potente vasoconstritor, o que resulta em aumento da
resistência vascular sistêmica e da pressão arterial (PA), podendo predispor a acidentes vasculares cerebrais
agudos, infarto do miocárdio e morte súbita. Sua ação vasoconstritora age diminuindo ainda mais o aporte
de oxigênio para a periferia. As reações inflamatórias liberam uma série de mediadores que interagem entre
si, perpetuando o mecanismo formador da lesão.
O tabagismo é fator de risco importante para o tromboembolismo venoso, doença que engloba a trombose
venosa profunda e a tromboembolia pulmonar. O uso continuado dos produtos do tabaco, além de causar
danos à circulação arterial, também lesa a camada interna dos vasos venosos, levando à diminuição da luz e
lentificação do fluxo sanguíneo. A nicotina, o monóxido de carbono e os radicais oxidantes, componentes do
fumo, produzem adicionalmente hipóxia tecidual, ativação plaquetária, com conseqüente estado de
hipercoagulabilidade sanguínea.
d) Aparelho Digestivo: O tabagismo contribui para muitas doenças comuns do aparelho digestivo, tais como
doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), úlceras pépticas e algumas doenças relacionadas ao fígado.
Fumar aumenta o risco de doença de Crohn, pólipos do cólon e pancreatite, e pode aumentar o risco de
cálculos biliares. Além disso, aumenta o risco de câncer de boca, esôfago, estômago e pâncreas. Dessa
maneira, o tabagismo é fator de risco ao estabelecimento de diversas patologias relacionadas ao aparelho
digestivo, sendo os mecanismos ainda pouco esclarecidos pelos pesquisadores. Acredita-se que o fumo
enfraquece o esfíncter inferior do esôfago, fato que contribui para a ascenção do conteúdo ácido presente no
estômago, causando azia e possível danificação da parede esofágica. Somado a isso, o tabagismo aumenta o
risco de úlceras pépticas, já que estudos sugerem que o ato de fumar aumenta o risco de infecção pelo
H.pylori, retarda a cicatrização das úlceras e aumenta a probabilidade das recidivas. Em relação ao fígado, o
tabagismo pode exacerbar algumas patologias já existentes, como a cirrose biliar primária, sendo ainda,
fonte de estudos para pesquisadores. Algumas pesquisas mostram que o hábito de fumar pode diminuir as
defesas do intestino, reduzir o fluxo sanguíneo intestinal ou causar alterações no sistema imunológico que
levem à inflamação, como a doença de Crohn.
b)O Programa Nacional de Combate ao Tabagismo tem como objetivo diminuir a prevalência de fumantes
no Brasil e a morbimortalidade consequente ao consumo de derivados do tabaco no país.
c) O programa é constituído por ações educativas, de comunicação e de atenção à saúde, junto com apoio,
adoção ou cumprimento de medidas legislativas e econômicas, que tem o intuito de:
- prevenir a iniciação do tabagismo;
- promover a cessação de fumar ;
- proteger a população da exposição à fumaça ambiental do tabaco;
- reduzir o dano individual, social e ambiental dos produtos derivados do tabaco.
d) A abordagem terapêutica é baseada em intervenções não farmacológicas e farmacológicas. Dentre as
intervenções não farmacológicas, estão as intervenções motivacionais, dispositivos Over theCounter (pouco
usado), materiais de auto ajuda e aconselhamento breve, tratamento via internet, atividade física orientada,
terapias alternativas (acupuntura, hipnoterapia, terapia a laser, eletroestimulação e avaliação de risco
biomédico – não possuem evidencias científicas, impossibilitando sua indicação), terapia por telefone.
Dentre as intervenções farmacológicas, estão a terapia de reposição de nicotina (TRN), podendo ser usado o
adesivo transdérmico de nicotina, a goma de mascar de nicotina e a pastilha de nicotina.Outras alternativas
farmacológicas são o cloridrato de bupropiona (antidepressivo e fármaco de primeira linha para cessação do
tabagismo) e o tratamento combinado entre bupropiona e as opções de tratamento de reposição de nicotina
(exemplo: bupropiona associada a pastilha de nicotina; bupropiona associada a adesivo de nicotina e pastilha
de nicotina).
Questão 5) Quando nos referimos no quesito organizacional na área da saúde, a cidade de Teófilo Otoni é
dívida em 4 distritos (norte 1, norte 2, leste e sul) sendo eles delimitados pela BR116, AV Sidônio Otoni e
AV Luiz Boali. Esses quadrantes servem para distribuir de forma homogênea o oferecimento de unidades de
saúde para cidade, que é compreendida por 4 UBRs e 33 PSFs. Quando falamos do Programa de Controle do
Tabagismo em Teófilo Otoni, esbarramos num conjunto de problemas na sua implementação devido ao
descaso das antigas gestões, onde o programa foi sucateado e as ações não tinham um atendimento
longitudinal do paciente. Com o início de 2017 e a nova gestão administrativa, o programa foi retomado e
uma enfermeira chefe é responsável por realizar o treinamento e a devida capacitação dos profissionais das
unidades de saúde e NASF para atenderem de forma adequada os pacientes. O treinamento já foi realizado
nos PSFs do distrito Norte 1, e atualmente encontra-se em andamento no distrito Sul. A princípio esse
programa é de responsabilidade da enfermeira do município (responsável por organizar, catalogar e resolver
todas as demandas na área da saúde em Teófilo Otoni), a farmacêutica do município (responsável por fazer o
registro e a estimativa da quantidade de medicamento, adesivo de nicotina e Bupropiona, que será utilizado
no município durante o trimestre, e então é realizar um pedido para toda cidade), os enfermeiros dos PSFs
(responsáveis por convidar, por intermédio dos ACS, e estimular a adesão de pacientes, bem como organizar
os grupos e participar da 1ª sessão. Observação: o enfermeiro deveria participar de todas as sessões, mas
aqui em Teófilo Otoni ele participa apenas da primeira, que é sua obrigação), o farmacêutico do NASF( que
participa da 2ª sessão, realiza dispensação de medicação, apenas nicotina, ou encaminha para o médico para
que possa ser oferecido a bupropriona para o paciente); o nutricionista (responsável pela 3ª sessão, realiza o
acompanhamento dietético do paciente que tende a ganhar peso após cessar o uso do cigarro); o psicólogo
(realiza acompanhamento final, com objetivo de não deixar que o paciente tenha recaídas ou desista do
tratamento).
Captação e acompanhamento do paciente: Na Atenção Primária de Saúde, é feito o rastreio dos pacientes
tabagistas. O agente comunitário de saúde é o responsável por através das visitas domiciliares, convidar
esses pacientes para irem à unidade de saúde para participarem do Programa Nacional de Controle do
Tabagismo. Ao aceitar o convite, o paciente faz sua inscrição e é atendido pela enfermeira responsável pela
administração do projeto. Nesse momento é feita uma anamnese detalhada sobre a história pessoal e
tabagica do mesmo. É realizado um teste muito importante chamado Teste de Fagerstrom, que quantifica o
nível de dependência ao tabaco do fumante. Após isso, iniciam-se os quatro passos das sessões semanais do
tratamento. Normalmente formam-se grupos de 9 a 15 pessoas, em média 12 pacientes de cada grupo
conseguem parar de fumar.
1) Primeira sessão: “Entender porque se fuma e como isso afeta a saúde” – Enfermeira. Reflexões
sobre o uso do tabaco, instruções sobre seus malefícios, tipos de parada (abrupta X gradual),
Redução do número de cigarros por dia e adiamento da hora do primeiro cigarro.
2) Segunda sessão: “Os primeiros dias sem fumar”- Farmacêutica. Síndrome da e como lidar,
exercícios de respiração e relaxamento, pensamento positivo e se necessário o tratamento
medicamentoso: Adesivo de nicotina (pode ser passado pela farmacêutica- duração de 24h por até 8
semanas) / Bupropiona (apenas sob prescrição médica).
3) Terceira sessão: “Como vencer os obstáculos para permanecer sem fumar”- Nutricionista. Planejar
para não engordar.
4) Quarta sessão: “Benefícios obtidos após parar de fumar”- Psicólogo. Dicas para permanecer sem
fumar, o que fazer se não parou de fumar.
5) Após essas quatro sessões semanais, fica sob responsabilidade da equipe do PSF acompanhar esse
paciente, é necessário um cuidado maior para que esse paciente não seja perdido.
6) O município de Teófilo Otoni segue o PCNT como é preconizado prelo Ministério da Saúde. De
acordo com a nova gestão de 2017, foi feita uma reestruturação no programa que, agora tem uma
enfermeira responsável pela sua administração. Desta forma, mais pacientes podem ser resgatados da
dependência do fumo e o PCNT tem efetividade na cidade.