You are on page 1of 158

IX PRINCIPIA INTERNATIONAL SYMPOSIUM

P OSSIBLE W ORLDS AND T HEIR A PPLICATIONS


IN P HILOSOPHY AND THE S CIENCES

ABSTRACTS

NEL
Federal University of Santa Catarina
Florianópolis, 2015
IX Principia International Symposium

Possible Worlds and Their Application


in Philosophy and the Sciences

Organizing Comitee Scientific Comitee


Cezar A. Mortari Otávio Bueno
Jonas Rafael Becker Arenhart John Divers
Jaimir Conte Christopher Menzel
Otávio Bueno Guido Imaguire
Marco Ruffino
With the participation of ANPOF’S GTs:
Analytic Epistemology
Philosophy of Science
Logic
Theory of Justice

Invited Speakers
André Leclerc
Federal University of Ceará
Christopher Menzel
Texas A&M University
Guido Imaguire
Federal University of Rio de Janeiro
Jeffrey Barrett
University of California, Irvine
Jean-Yves Béziau
Federal University of Rio de Janeiro
John Divers
University of Leeds
Marco Ruffino
State University of Campinas
Newton Carneiro Affonso da Costa
Federal University of Santa Catarina
Otávio Bueno
University of Miami
Roberta Ballarin
University of British Columbia
IX Principia International Symposium

Possible Worlds and Their Applications


in Philosophy and the Sciences

Praiatur Hotel
Florianópolis, SC
August 17 - 20, 2015

promoted by:

NEL – Epistemology and Logic Research Group


Principia – An International Journal of Epistemology

supported by:

Departamento de Filosofia, UFSC


Programa de Pós-Graduação em Filosofia, UFSC
Centro de Filosofia e Ciências Humanas, UFSC
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq

www.principia.ufsc.br

necl@cfh.ufsc.br
ABSTRACTS
IX Principia Iinternational Symposium

Adriana Spehrs adrianaspehrs@yahoo.com.ar


UBA
Mundos posibles, identidad de los indiscernibles y lógica inductiva

En “The Leibniz Carnap program for inductive logic”, I. Hacking sostiene que la via-
bilidad del proyecto carnapiano de lógica inductiva depende de la aceptación de su-
puestos metafísicos similares a los de la concepción leibniziana. Hacking destaca que
la concepción leibniziana de probabilidad es asimilable a la idea de posibilidad lógica,
consistencia interna o ausencia de contradicción. Y agrega que en la doctrina metafísi-
ca leibniziana expuesta en “De rerum originatione radicali” está implicada la noción de
posibilidad como disposición o propensión a la existencia, al ser actual. Según Leibniz,
así como los diversos mundos posibles concebidos por Dios se actualizan según su gra-
do de posibilidad, las disposiciones o propensiones objetivas de los sucesos de nuestro
mundo actual fundamentan nuestras expectativas. Así, la probabilidad que asignamos
a la ocurrencia de dichos sucesos se sustentaría en las propensiones o disposiciones
objetivas de éstos.
Hacking enfatiza que Leibniz adoptó —como posteriormente lo hizo Carnap— una
interpretación relacional de los juicios sobre probabilidad. De acuerdo con esta inter-
pretación, una expresión de la forma “es probable que p”, donde la posición de “p” está
ocupada por algún enunciado, no es una oración completa que pueda calificarse como
verdadera o falsa. Ya que el enunciado que ocupa el lugar de “p” es verdadero o falso
independientemente de todo elemento de juicio disponible, pero sólo puede calificar-
se como más o menos probable con respecto a la evidencia que se considere en cada
caso. Más aún, Hacking señala que la noción de descripción de estado -constituyente
esencial de la lógica inductiva de Carnap— es una rigorización relativa a un lenguaje
formalizado de la idea leibniziana de mundo posible.
En esta comunicación, cuestionamos esta tesis de Hacking destacando, en primer
lugar, algunas de las dificultades que plantea la asimilación de las descripciones de es-
tado carnapianas con los mundos posibles leibnizianos. En segundo lugar, argumen-
tamos que la tesis de Hacking que relaciona las concepciones de Carnap y Leibniz sólo
sería admisible si afirmara la existencia de un vínculo entre el concepto leibniziano de
probabilidad y la interpretación carnapiana de la probabilidad estadística en términos
de disposiciones. Pero Carnap sostiene que hay una diferencia radical entre la proba-
bilidad estadística y la probabilidad inductiva o lógica, una diversidad tal que no es
posible considerarlas como interpretaciones alternativas.
Abstracts / Resumos 5

Cuestionamos, además, que puedan asimilarse la interpretación epistémica de la


probabilidad defendida por Carnap y la interpretación óntica leibniziana. Finalmente,
destacamos que la propuesta de Carnap se enmarca dentro de una concepción for-
malista de la lógica. Por eso, la concepción carnapiana de la analiticidad del principio
de inducción no puede ser equiparada con la afirmación leibniziana de la analiticidad
de las denominadas “verdades de hecho”. Pues, las verdades analíticas de la lógica, de
acuerdo con Carnap, no tienen el carácter a posteriori que Leibniz atribuyó a las ver-
dades de hecho.

Alberto Oliva
UFRJ / CNPq
A questão do método: entre a regulamentação epistemológica e a reconstrução
metacientíca

Alguns dos raros cientistas contemporâneos que se pronunciaram sobre o método ten-
deram a considerá-lo inexistente ou desnecessário para a boa condução da atividade
de pesquisa. Desde a filosofia antiga destaca-se a preocupação em especificar regras
ou procedimentos que tornem possível a obtenção e a validação do conhecimento. A
partir da modernidade, a filosofia se torna ainda mais ambiciosa ao se considerar cre-
denciada a identificar e fundamentar o método da ciência. Talvez mais apropriado seja
dizer que a filosofia concede a si mesma a prerrogativa de elaborar o método para a
ciência. O filósofo raramente pensa que o método deve, em aspectos fundamentais,
ser derivado da ciência, de suas práticas de pesquisa. A hybris epistemologista leva o
filósofo a propor um método para a ciência como se fosse da ciência. Do século XVII a
meados do XX, poucos filósofos atrelaram a confecção da teoria do método ao acom-
panhamento da ciência tal qual praticada. Por isso a problemática do método, tal qual
tratada pelos filósofos, desponta extrínseca às atividades rotineiras da pesquisa cien-
tífica. E mais ainda porque o método utilizado pelos praticantes das ciências maduras
dispensa ser explicitado e mais ainda fundamentado; ou porque a ciência, voltada pa-
ra a obtenção de resultados instrumentalizáveis, não vislumbra a necessidade de lidar
com os ways of justification tão destacados pelos filósofos. A tese por nós defendida é a
de que à questão do método têm sido oferecidas respostas predominantemente quali-
ficáveis de regulamentações epistemológicas em virtude de se devotarem a estatuir de
que modo deve o cientista proceder na pesquisa. Poucas teorias do método procuram
— e conseguem — ser reconstruções metacientíficas capazes de incorporar a variedade
e riqueza das praticas de pesquisa nas diversas ciências. Sendo esse o caso, os filóso-
fos, obcecados com a fundamentação epistêmica dos procedimentos metodológicos,
elaboram teorias do método que estatuem regras que, concebidas na sua idealidade
funcional, se mostram desconectadas das técnicas de pesquisa em uso na ciência real.
Formadas por regulamentações epistemológicas e desprovidas de substrato metacien-
tífico, as teorias do método científico se condenam à irrelevância.

Alcino Eduardo Bonella abonella@googlemail.com


6 IX Principia International Symposium

Universidade Federal de Uberlândia


Realismo Não-Naturalista E Mundos Impossíveis

É comum dividirmos as filosofias da normatividade atualmente em disputa em três


tipos: as realistas naturalistas, as realistas não-naturalistas, e as expressivistas. Realis-
tas, em essência, acreditam que os juízos de valor são passíveis de serem verdadeiros
ou falsos, e que alguns deles são verdadeiros. Realistas não-naturalistas são assim cha-
mados porque a realidade a que os juízos de valor se referem, e que os torna falsos
ou verdadeiros, é uma realidade sui generis: os fatos que um juízo de valor verdadeiro
reporta são fatos de valor (são, eles mesmos, valores). Isso os diferencia dos realistas
naturalistas, para quem só há fatos no sentido comum da expressão, ou seja, fatos na-
turais, e para quem um juízo de valor verdadeiro reporta fatos naturais, que podem
ser detectáveis pelos métodos de conhecimento natural. Neste sentido, os realistas
não-naturalistas são realistas em sentido forte, ou robusto, já que a realidade valora-
tiva/normativa tem existência ou substrato independente seja do observador, seja da
própria realidade dos fatos naturais. Um dos problemas deste tipo de realismo pode
ser descrito como o problema dos mundos de valor impossíveis. Aparentemente, se-
gundo uma tese normalmente consensual chamada de superveniência, propriedades
valorativas/normativas (como bom, ou errado) sobrevém a propriedade não valorati-
vas/normativas (como skate, ou manobra). Se um skate é um bom skate, então outro
skate que tenha as mesmas propriedades do primeiro também tem de ser necessaria-
mente um bom skate. Uma manobra errada tem de ser em algum aspecto diferente de
uma manobra certa. Mas tais propriedades ou aspectos que tornam skates e manobras
diferentes em suas propriedades valorativas/normativas, são propriedades ou aspectos
não-valorativos/normativos. Se o skate a é leve, resistente, e veloz, e o skate b também,
ou ambos são bons, ou ambos são ruins, mas não é possível, aparentemente, que um
seja bom, e o outro seja ruim. Se um skatista faz uma manobra exatamente similar à
de outro, ou as duas performances foram erradas, ou as duas foram acertadas, mas não
é possível, aparentemente, que uma tenha sido errada, e a outra, exatamente similar,
certa. Porém, se o realismo não-naturalista fosse verdadeiro, isso teria de ser possível.
Dois skates exatamente similares em suas propriedades não-valorativas/normativas,
vale dizer, naqueles aspectos que usamos para descrever naturalmente skates, pode-
riam, caso o realista não-naturalista estivesse certo, ser, um, bom, e outro, ruim; e se
perguntássemos “em que aspecto?”, seria possível dizer “apenas nesse: um é bom, en-
quanto o outro é um ruim, mas nada mais os difere”. Isso não tem sentido. Logo, o rea-
lismo não-naturalista não tem sentido. Mas se isso é o caso, não teríamos nós de dizer
que um suposto mundo possível que seja idêntico ao nosso em todas as suas proprie-
dades não-valorativas/normativas, tem de, necessariamente, ter as mesmas proprie-
dades valorativas/normativas do nosso? Aparentemente, ao menos do ponto de vista
sintático não revisionista, teríamos, e um possível mundo mau que tenha exatamen-
te as mesmas propriedades naturais de um mundo bom, é simplesmente impossível.
Uma maneira de o realista não-naturalista enfrentar este desafio consiste obviamen-
te, em recusar a tese da superveniência. Outra, em recusar a ideia de que a existência
de um mundo mau idêntico naturalmente (descritivamente) a um mundo bom, seria
Abstracts / Resumos 7

impossível. Nos dois casos, ele teria de explicar a existência de fatos não-naturais.

Alexandre Meyer Luz meyerluz@hotmail.com


UFSC
Sobre a Semântica de Conhecer: Contextualismo x Inltração Pragmática

A discussão epistemológica contemporânea recebeu recentemente uma nova e pode-


rosa ferramenta: a tese semântica de que o verbo “conhecer” é sensível ao contexto (em
analogia a termos como “alto”). Esta tese é, supostamente, sustentada por casos como
os que seguem (DeRose, 1992). O contextualista alega que as atribuições de conheci-
mento que um observador externo pode fazer a um sujeito que usa “saber” em uma
determinada situação (S, doravante) podem variar, sem qualquer incompatibilidade,
no caso A e no B, já que os dois casos estabelecem contextos diferentes. Cada contexto
determina uma semântica diferente para “conhecer”; o verbo, nos dois casos, mantém
um núcleo semântico, associado à demanda de crença verdadeira e justificada (pelo
menos), mas aspectos como o grau de justificação apropriado, ou o tipo de contraevi-
dência admitida (dentre outros aspectos) pode variar, de acordo com as características
de cada contexto. Por conta disto, não há contradição quando um atribuidor diz que
“S sabe”, em casos de “padrão-baixo” de avaliação e diz que “S não sabe”, nos casos de
“padrão elevado” de avaliação, mesmo considerando que a evidência disponível para
S, nos dois casos, é exatamente a mesma. Esta ferramenta é apresentada como, por
exemplo, uma estratégia para dissolução de um certo tipo de desafio cético; já que os
contextos de uma situação ordinária e de uma aula de epistemologia são, supostamen-
te, diferentes, as atribuições de conhecimento são semanticamente diferentes em cada
contexto(e, por esta razão, não há contradição). As hipóteses céticas não “roubam” con-
hecimento das situações ordinárias, portanto. A despeito desta (e de outras) propalada
vantagem teórica, o contextualismo tem sido alvo de ferrenha disputa no que diz res-
peito à sua plausibilidade. Ele deve oferecer, por exemplo, um tratamento apropriado
para noções como “mudança de contexto”, explicando como tais mudanças ocorrem e
porque os falantes parecem não perceber a mudança de contexto (ou por que eles são
“semanticamente cegos”) para as mudanças de contexto associadas a “conhecimento”
enquanto eles não são cegos no que diz respeito às mudanças em “alto”, por exem-
plo. Nossa comunicação tem o objetivo de apontar dificuldades para o primeiro tipo
de problema. Se çonhecer"não se comporta como um indexical típico, de que modo
ele é sensível ao contexto. Veremos isto trará certas dificuldades importantes para uma
teoria desta natureza.

Aline da Silva Dias alisidias@yahoo.de


Doutoranda - Universidade Federal do Paraná
Platonismo naturalizado: uma alternativa ao platonista?

Em seu artigo Mathematical Truth (1973), Paul Benacerraf apresenta uma importante
objeção ao platonismo matemático. Nesse artigo ele sugere que há um problema rela-
cionado ao acesso epistêmico aos objetos matemáticos (números, conjuntos, funções,
8 IX Principia International Symposium

etc.), caso seja aceito o argumento platonista sobre existência de objetos matemáti-
cos — que são, para os platonistas, objetos abstratos que não são espaço-temporais,
são acausais e que existem independentes de nós. Benacerraf faz isso mostrando que
a semântica platonista é incompatível com o que ele considera ser a melhor teoria do
conhecimento, a saber, a teoria causal. De acordo com essa teoria, para dizermos que
um sujeito S sabe que p é preciso que S esteja causalmente relacionado ao fato p de
um modo apropriado. Contudo, de acordo com Benacerraf, se aceitamos tal teoria, te-
mos que abandonar a concepção platonista matemática. Isso porque, se aceitarmos a
existência de objetos matemáticos abstratos, teremos que admitir que não possuímos
conhecimento matemático, já que não é possível estabelecermos qualquer relação en-
tre os sujeitos (nós) e aqueles objetos. Ou seja, admitida a teoria causal do conheci-
mento, segue-se que: ou existem objetos matemáticos abstratos e não temos qualquer
conhecimento a respeito deles ou não existem objetos matemáticos abstratos (podem
existir objetos matemáticos, mas eles não são abstratos). Existiram algumas tentativas
de contornar esse problema de Benacerraf, tentativas de sustentar que há algum con-
tato com esse reino matemático abstrato ou que há conhecimento, ainda que não haja
qualquer contato com esse reino. Mas uma interessante alternativa foi desenvolvida
por Penelope Maddy: ela defendeu que há conhecimento matemático via percepção
sensível. De acordo com essa proposta de Maddy, devemos adotar uma concepção na-
turalista de objetos matemáticos abstratos, i.e., afirmar que eles estão localizados no
espaço-tempo e que, portanto, seríamos capazes de obter conhecimentos deles atra-
vés de nossa percepção sensível. Maddy tenta, desse modo, naturalizar o platonismo.
Assim, quando falamos sobre conjuntos — que são, para ela, os elementos matemáti-
cos mais básicos — estamos falando sobre “coisas” que estão localizadas onde objetos
físicos estão localizados — conjunto de canetas está exatamente onde estão várias ca-
netas juntas. Somos capazes de ver o conjunto de canetas quando vemos as canetas,
além de podermos tocar e sentir esse conjunto, ou seja, temos total acesso perceptual
a ele, ainda que ele seja, de algum modo, abstrato. Essa concepção de Maddy é en-
genhosa, porém problemática. Como entender essa abstração dos objetos? Uma vez
que Maddy oferece uma definição diferente de “objeto abstrato”, é possível considerar
sua posição como platonista? Essas são algumas das questões que podem ser suscita-
das já de início. Tendo em vista tudo isso, o que pretendemos fazer nesse trabalho é
apresentar e discutir tal concepção, explicitando suas influências e pressupostos, com
vistas a mostrar as razões pelas quais acreditamos que, embora interessante, ela não
se constitui como uma alternativa viável para se lidar com o problema epistemológico
em filosofia da matemática.

Allysson Vasconcelos Lima Rocha allysonvlr@hotmail.com


Doutorando - Universidade Federal de Santa Catarina
Virtudes Intelectuais e o Papel de Crenças Falsas na geração de Conhecimento

Em Useful False Beliefs, Peter Klein defende o papel indispensável de crenças falsas na
geração do conhecimento. Sua perspectiva é construída a partir de duas distinções.
A primeira se dá entre justificação doxástica e proposicional. A justificação doxástica
Abstracts / Resumos 9

é caracterizada, no âmbito dessa discussão, como a propriedade que se liga à crença


enquanto estado mental. A justificação proposicional, por sua vez, responde pela ba-
se evidencial adequada para justificar o conteúdo proposicional da crença. A segunda
distinção se dá entre o caminho causal da cognição e o caminho de evidências para a
crença. Ao fazer isso, o autor objetiva discernir o evento responsável pela formação de
uma crença, inserido na cognição ligada a este evento, das evidências que responde-
riam pela verdade da mesma crença. Klein posiciona a justificação doxástica estrategi-
camente, demonstrando que nela se encontra o surgimento da propriedade que, junto
à crença verdadeira, geraria o conhecimento. Estar justificado em termos doxásticos
é acreditar em algo a partir das razões corretas. No descrito cenário, o autor defende
que as razões corretas não precisam ser todas verdadeiras. As crenças falsas, em alguns
casos, são parte essencial do caminho que conduz o agente epistêmico ao conheci-
mento. Elas realizariam este papel por meio do evento responsável pela sua cognição
ou formação, apontando, dessa maneira, para o caminho de evidências que discerne
a verdade de uma crença que se encara como conhecimento. Pretendo, nesta oportu-
nidade, explorar um aspecto em específico da concepção de Klein. Este autor é ciente
de que defende o aspecto útil das crenças falsas, no mencionado texto, a partir de uma
perspectiva normativa/evidencialista da justificação. Porém, não vê impedimentos pa-
ra uma perspectiva confiabilista se conformar ao papel das crenças falsas na produção
de conhecimento. Meu objetivo, então, é desafiar este posicionamento, mas a partir
de uma concepção confiabilista em específico, a saber, aquela que se ergue a partir da
Epistemologia das Virtudes. O desafio se pauta em responder uma questão central: é
possível associar a geração de crenças falsas à posse de virtudes intelectuais por parte
de um agente epistêmico? A estratégia para respondê-la é explorar as seguintes hipó-
teses: 1) não há virtudes intelectuais associadas com a geração de crenças falsas, mas
com a capacidade de discernir as falsas das verdadeiras, como uma habilidade; 2) vir-
tudes intelectuais são vinculadas, em última instância, ao alcance do conhecimento,
sendo a associação com a geração de crenças falsas algo passível de acontecer sempre
que atende ao objetivo final. Exploro estas hipóteses ao testá-las por meio dos casos
sugeridos por Klein no texto mencionado no início deste resumo.

Amélia de Jesus Oliveira amelijeso@gmail.com


Pós-doutorado - UNICAMP
Robert Boyle sob o prisma da nova historiograa da ciência de Thomas Kuhn

Ao explicitar sua visão sobre a estrutura das revoluções científicas, Kuhn recorre mui-
tas vezes à análise da história da química e, ao menos, em duas passagens de seu livro
mais famoso, remete o leitor a seu texto de 1952, “Robert Boyle and Structural Che-
mistry in the Seventeenth Century”. Nesse texto, Kuhn expõe uma nova visão histórica
por meio da indicação de erros e interpretações mal conduzidas na literatura histo-
riográfica existente. Embora apresente uma análise crítica de vários estudos históri-
cos concernentes ao assunto, identificando mudanças que ocorreram gradativamente,
desde os historiadores mais antigos até seus contemporâneos, e que representaram
avanços na maneira de se constituir um quadro mais plausível do papel de Boyle na
10 IX Principia International Symposium

história da ciência, Kuhn busca contribuir para a revisão, com perspectivas inovado-
ras. É considerando esse texto de 1952, um de seus primeiros escritos historiográficos,
que desenvolvemos este trabalho. Buscamos discutir as menções kuhnianas ao quí-
mico Boyle, enquanto instâncias exemplificativas em sua discussão sobre paradigmas,
mudança conceitual, cumulatividade, entre outros aspectos constitutivos de sua teoria
sobre a ciência — menções que ocorrem tanto em A estrutura das revoluções científi-
cas quanto nos seus escritos posteriores. Por fim, procuramos verificar se o texto de
1952 concorre para uma maior compreensão da visão de Kuhn, especialmente, no que
se refere à mudança historiográfica revolucionária, que ele anuncia como ocorrente e
necessária dez anos mais tarde.

Ana Clara Polakof anaclarapo@gmail.com


Doutorado - Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio)
A possible delimitation between facts and states of aairs

In this presentation, we argue that it is possible to differentiate facts from states of af-
fairs ontologically and that this differentiation is advantageous. We defend a platonist
ontology, based on Chateaubriand (2001 and 2005), that is hierarchized in levels and
types. It contains (starting from level 0) concrete objects as the most basic entities, log-
ical and non logical properties, facts, states of affairs, among other entities. While some
current philosophers (such as Chateaubriand 2001 and Armstrong 1997) treat facts and
states of affairs as synonyms, we argue that this is not how they should be treated. We
consider that, even though they are both instantiated entities, facts and states of affairs
have different features. We are convinced that, in a hierarchized ontology as the one we
defend, facts and states of affairs should occupy different levels, have different types,
as well as different characteristics. In this presentation, we will try to show what is the
distinction we propose, as well as we will try to show what are the advantages that our
distinction posses.
Since our work is inspired by the work of Chateaubriand, we agree with him in treat-
ing facts and states of affairs as abstract entities and in they being the result of the in-
stantiation of a property in another entity. However, we propose that, while they do
share those characteristics, there is an essential difference between them: facts result
from the instantiation of a property in a concrete object or objects, while states of af-
fairs result from the instantiation of a property in another property or properties. This
difference, as we will try to show, will have a direct repercussion in their logical and
ontological characteristics, as well as present advantages with regards to treating them
as the same kind of entities. The advantages we propose, that are directly related to the
logical and ontological characteristics of the entities, are the following:
• Firstly, it is possible to differentiate facts and states of affairs according to the
level they occupy in the hierarchy: facts are level1 entities, while states of affairs
are entities that appear form level 2 and up;
• Secondly, it is possible to differentiate them according to temporality: facts are
temporal entities because they involve level 0 objects, while states of affairs are
atemporal because they involve only properties;
Abstracts / Resumos 11

• Thirdly, it is possible to make a more homogeneous treatment of the entities:


we will argue that facts are always non-logical entities, while states of affairs
may be logical or non-logical.

References
ARMSTRONG, D. M. A world of states of affairs. Great Britain: Cambridge University Press, 1997.
CHATEAUBRIAND, O. Logical Forms, Part 1. Campinas: Coleção CLE, 2001.
CHATEAUBRIAND, O. Logical Forms, Part II. Campinas: Coleção CLE, 2005.

Ana Claudia de Jesus Golzio anaclaudiagolzio@yahoo.com.br


Aluna de doutorado da Universidade Estadual de Campinas
Marcelo Esteban Coniglio meconiglio@gmail.com
Universidade Estadual de Campinas
Sobre a História das Hiperestruturas

O não determinismo pode ser abordado de diversas maneiras. Em álgebra, uma abor-
dagem natural pode ser feita através do uso das hiperestruturas algébricas. Esse nome
é dado à classe composta por estruturas como hipergrupos, hiper-reticulados, hiperál-
gebras, semihipergrupos, hiperanéis, etc.
De uma maneira geral, multiálgebras/hiperálgebras são álgebras onde as operações
retornam um conjunto de valores. As álgebras usuais são casos particulares das mul-
tiálgebras em que as operações sempre retornam conjuntos unitários. Porém, é im-
portante ressaltar que existem diversas definições na literatura, principalmente nas
noções de morfismos entre hiperálgebras.
A origem das hiperestruturas ainda é um pouco obscura: sabe-se que o estudo das
hiperestruturas começou com a apresentação do artigo intitulado “Sur une généralisa-
tion de la notion de groupe” (Em uma generalização do conceito de grupo), apresen-
tado em 1934, pelo matemático francês Frédéric Marty, no 8º Congresso dos Matemáti-
cos Escandinavos (Marty (1934)). Nesse artigo, Marty apresenta a noção de hipergru-
pos, uma generalização da noção de grupos, a partir da analise de suas propriedades.
Entretanto, devido à sua morte prematura, Marty só publicou mais dois artigos rela-
cionados ao seu conceito de hipergrupos.
Outro acontecimento importante em relação ao desenvolvimento da teoria das hiper-
estruturas foi a elaboração do conceito de hiper-reticulado pelo algebrista romeno Mi-
hail Benado em 1953, no artigo intitulado “Asupra unei generalizǎri a noţiunii de struc-
turǎ” (Benado, (1953)). Nesse trabalho, Benado apresenta duas definições equivalentes
de hiper-reticulado e também alguns exemplos.
Seguindo a linha de Marty e Benado, isto é, definindo hiperálgebras a partir das
hiperoperações, podemos dizer que a origem das multiálgebras aconteceu com o ar-
tigo “O zovšeobecnených algebraických systémoch” (A generalização dos sistemas al-
gébricos) de P. Brunovsky, em 1958 (Brunovský, (1958)).
A definição de hipergrupo de Marty motivou o surgimento de diversos trabalhos
relacionados às hiperestruturas. Elas são, atualmente, estudadas de diversos pontos
12 IX Principia International Symposium

de vista e aplicadas à diversos ramos da matemática como geometria, topologia, prob-


abilidade, relações binárias, teoria fuzzy, etc., assim como nas ciências da computação
(criptografia, grafos, especificações algébricas de estruturas de dados) e, mais recente-
mente, na área da lógica, através das matrizes não-determinísticas de A. Avron e I. Lev
(2001). Entretanto, a falta de consenso em relação às definições de certos conceitos
básicos e as diversas nomenclaturas existentes na literatura dificultam a elaboração
de uma cronologia detalhada. Sendo assim, apresentaremos uma análise álgébrica e
histórica de algumas das principais hiperestruturas estudadas a partir da publicação
do artigo de Frédéric Marty em 1934.

Referências
AVRON, A.; LEV, I. ‘Canonical Propositional Gentzen-type Systems’. Proceedings of the 1st Inter-
national Joint Conference on Automated Reasoning (IJCAR 2001), LNAI, v. 2083, Springer, p.
529-544, 2001.
MARTY, F. ‘Sur une généralisation de la notion de groupe’. Huitieme congrés de mathématiciens
Scandinaves, Stockholm, p. 45-49, 1934.
BENADO, M. ‘Asupra unei generalizǎri a noţiunii de structurǎ’. Bul. Şti. Secţ. Şti. Mat. Fiz., v. 5, p.
41-48, 1953.
BRUNOVSKÝ, P. ‘O zovšeobecnených algebraických systémoch’. Acta Facultatis rerum naturalium
universitatis comenianae mathematica, v. 3, p. 41-54, 1958.

Ana Fleisner afleisner@gmail.com


Universidad Nacional de Quilmes
Una revisión crítica de los mundos posibles en Kripke: el caso de los términos
de magnitudes físicas

En el presente trabajo me propongo revisar la noción de mundos posibles y su relación


con otra importante noción kripkeana, la de designador rígido. Tal revisión tiene por
objetivo analizar lo poco fructíferas que ambas nociones son cuando se intenta enten-
der el modo en el que se fija la referencia de un tipo muy particular de términos de
género natural, los términos de magnitudes físicas.
La tesis central de las teorías causales de la referencia tal como la que propone Krip-
ke puede enunciarse de la siguiente manera: el referente de un término es una entidad
con la que dicho término — o el uso del término — está vinculado causalmente. Frente
a la teoría descriptiva, los seguidores de las teorías causales niegan que la referencia
de un término esté determinada por las descripciones que los hablantes asocian con
el término y que el vínculo entre el término y su referente requiera que los hablantes
posean creencias identificadoras acerca del referente. Kripke sostiene en la conferen-
cia tercera de (1980) que un término de género natural se usa para designar (miembros
de) un cierto género de entidades; algunos hablantes, en el pasado, descubrieron enti-
dades de ese género y nosotros hemos oído hablar de ellas, de tal manera que hay una
conexión entre nosotros, en tanto que miembros de dicha comunidad lingüística, y el
género natural en cuestión. De acuerdo con este tipo de teorías de la referencia, asocia-
mos con un término de género natural ciertas propiedades identificadoras; éstas serían
las propiedades por las que originalmente se identificaron los miembros del género.
Abstracts / Resumos 13

Puede ocurrir que algunas de estas propiedades no sean verdaderas (de los miembros)
del género, pero la referencia del término de género no se ve modificada por el hecho
de que constatemos que habíamos estado equivocados acerca de algunas de dichas
propiedades. Más aún, Kripke considera que sería posible que estuviésemos equivoca-
dos no sólo acerca de algunas de las propiedades identificadoras que asociamos con
un término de género natural, sino con respecto a todas ellas. Pero para comprender
la teoría de Kripke es necesario atender a su famosa noción de designador rígido y la
relaciòn que existe entre esta y la noción de mundo posible. La noción de designador
rígido que el autor presenta en relación con los nombres propios es la siguiente: “Lla-
mamos a algo un designador rígido si en todo mundo posible designa al mismo objeto.”
(Kripke 1980, p.48). Kripke sostiene que tanto los nombres propios como los términos
de género natural son designadores rígidos; a decir verdad, sostiene que los nombres
propios lo son y al señalar las similitudes entre nombres propios y términos de géne-
ro natural, indica que una de estas similitudes radica en que ambos tipos de términos
son designadores rígidos. No obstante, las caracterizaciones de la noción de designa-
dor rígido presentes en la primera edición de (1980) y en (1971) no son inequívocas y
dan lugar a dos posibilidades. La primera de estas posibilidades es que un designador
rígido designe el mismo objeto con respecto a todos los mundos posibles. La segunda
es que un designador rígido designe el mismo objeto sólo con respecto a los mundos
posibles en los que el objeto exista, careciendo de referencia con respecto a los demás
mundos posibles.
Las teorías causales de la referencia tanto para los nombres propios como para los
términos de género natural presentan algunos problemas. Nos centraremos en uno de
ellos: no parecen poder explicar los cambios de referencia
Según las teorías causales un término de género natural y por tanto, uno de magni-
tud física, es un término que se utiliza para hacer referencia a una determinada clase
de entidades que, aunque son concebidas como si tuviesen unos determinados rasgos
identificadores — algunas de las propiedades involucradas en la introducción inicial
del término —, puede ocurrir que algunos de éstos no sean verdaderos de todas las en-
tidades designadas por el término en cuestión. En el presente trabajo se mostrará que
esto es difícilmente sostenible en el caso de los términos de magnitudes físicas ya que
las magnitudes han de concebirse como propiedades estructurales o esenciales y son
éstas son las que determinan el género.

Ana Maria Corrêa Moreira da Silva wahrheit0@gmail.com


Post-Doctoral Researcher - Pontical Catholic University of Rio de Janeiro
The concept of real possibility in the Branching Future theories

The metaphysical debate about the nature of time divides those who favour the view
that the future is unreal, adopted by tensed theories such as Presentism, Growing Uni-
verse and Branching Future, and those who advocate the ontological equivalence among
past, present and future, which characterizes some tenseless theories of time as Eter-
nalism and Block Universe. In principle the idea that the future does not exist, it is
open or not yet determined agrees only with indeterminism and temporal irreversibil-
14 IX Principia International Symposium

ity, whereas the view that the future exists or it is already determined is compatible with
determinism and temporal reversibility.
An important distinction between the theories of Growing Universe and Branching
Future relates to what happens to the Universe when the future arrives, at the exact
point that separates the past from the future, also known as the transient now. For de-
fenders of the Growing Universe, for example Charles Broad (1927), the flow of time
is the coming into existence of states of affairs that did not exist before, so that re-
ality increases over time. The unreality of the future stems from the fact that future
states of affairs are created only when they happen. Differently for the Branching Fu-
ture supporters, for example, Storrs McCall (1984, 1994) and Nuel Belnap (1992, 2007),
the merely possible states of affairs already exist in the present, in a treelike structure,
with the history of the world up to the present represented by the trunk of the tree, and
all future possibilities represented by branches, of which only one is going to be real-
ized in the future. In this conception, the future is indeterminate and unreal, because
the future alternative possibilities coexist, without any trace that can distinguish in ad-
vance the one that will become actual from the rest. However, while for McCall the
unrealized possibilities are eliminated (drop off), in a permanent decrease of reality,
for Belnap they still exist as the future possibilities that might have been, which coexist
with the future possibilities that might be.
The admission of possible future states of affairs by adherents of Branching-Future
can be compared with the theory of possible worlds of David Lewis (1986), which im-
mediately raises the issue of the difference between a trans-temporal dimension and
a transworld one. The common thread is that, just as Lewis is realistic about possible
worlds, which he considers ontologically equivalent to our world, McCall and Belnap
are realistic about the future possibilities, which they consider ontologically equivalent
to the present and past actualities.
The aim of this paper is to analyze the concept of real and objective possibility adopted
by the Branching Future theories, in relation to the concept of the indeterminateness
and unreality of the future, in order to better understand the dynamic nature of time,
characterized by the transition from the possible to the actual. In this sense, one should
search for an explanation of the process that determines the actualization of one pos-
sibility at the expense of the others, investigating whether or not it is causal, and also
what is the ontological status of these possibilities before and after each branch point.

References
BELNAP, N. ‘Branching Space-time’. Synthese, 92(3), p. 385-434, 1992.
———. ‘From Newtonian determinism to branching-space-time indeterminism.’ Logik, Begriffe,
Prinzipien des Handelns (Logic, Concepts, Principles of Action). Thomas Müller/ Albert Newen
(eds.), mentis Verlag GmbII, p. 13-31, 2007.
BROAD, C. ‘Scientific Thought’. London: Kegan Paul, p. 53-84, 1927.
MCCALL, S. ‘Counterfactuals Based on Real Possible Worlds’. Noûs, 18, p. 463-77, 1984.
——— ‘A Model of the Universe. Space-time, Probability and Decision’. New York: Oxford Univer-
Abstracts / Resumos 15

sity Press, 1994.

Ana Pessotto anapessotto@gmail.com


UFSC
Between possibility and necessity: dever and the gradual modality in Brazilian
Portuguese

It is a common assumption that both modals ‘dever’ and ‘ter que’ express necessity and
are sociolinguistic variants in Brazilian Portuguese (BP). However, a close look in the
contexts with which they are compatible shows they are not synonymous. But how do
they differ? Based on experimental work (Pessotto, 2015) and within Kratzer’s approach
for modality in natural languages (Kratzer, 1981, 1991, 2012), I argue that ‘dever’ does
not express necessity, but a kind of comparative possibility. Intuitively speaking, ‘dever’
utterances entail ‘poder’ utterances and are entailed by ‘ter que’ utterances, indicating
that ‘dever’ expresses a meaning which is weaker than necessity and stronger than pos-
sibility, close in meaning to a probability expression. In this presentation I will describe
the analysis presented in Pessotto (2015) showing that ‘dever’ is a gradual modal with
no dual, while ‘poder’ and ‘ter que’ are dual pair possibility/necessity.
The theoretical analysis was based on Kratzer’s formal model (1981, 1991, 2012) where
the meanings expressed by modal expressions (epistemic, deontic, teleological, buletic,
etc.) are determined by two functions of context — the modal base and the ordering
source — which map the world of evaluation to a set of worlds, respectively determin-
ing the type of modality expressed and the ideal parameter (stereotypical, deontic, tele-
ological or buletic). This parameter can also contribute to the derivation of the modal
force (possibility or necessity). As assumed in Pessotto (2015), ‘pode’ is an existential
quantifier over possible words (thus expressing possibility). As for the analysis of ‘dever’
and ‘ter que’, we depart from the intuition that a sentence such as ‘tem que-p’ (where p
is the sentence embedded under the modal) conveys that p is the single possible out-
come according to the context, whereas ‘deve-p’ expresses that p is the best outcome
given the context, presupposing a comparison among alternatives. The intuition was
confirmed by the speakers’ judgment.
The judgment of 113 BP native speakers about sentences with ‘poder’, ‘dever’ and
‘ter que’ was collected through a questionnaire. The questionnaire methodology was
adapted Moesteller and Youtz (1990). The informants’ task was to associate a proba-
bility to the sentences tested. The initial hypothesis, following the results of Moesteller
and Youtz (1990), was that the informants would associate a number “Up to 50%” to
‘pode’ sentences; “60% to 89%” to ‘deve’ sentences; and “From 90% and on” to ‘tem que’
sentences. The hypothesis was confirmed by the informants, indicating that ‘deve’ ex-
presses a probability lower than ‘ter que’ and higher than ‘poder’, indicating that ‘deve’
expresses a modal force which stronger than possibility and weaker than necessity.
Combining these results with the theoretical analysis, I conclude that whereas the
modals ‘pode’ and ‘tem que’ represent the duality ‘possibility/necessity’, ‘deve’ is a grad-
ual modal whose meaning can be derived from the notion of comparative possibility as
described in Kratzer (2012). The main contribution of this work is to review the orga-
16 IX Principia International Symposium

nization of the Brazilian Portuguese modal system: instead of considering ‘poder’ and
‘dever’ as the dual pair possibility/necessity, as it is usually done, the analysis shows
that the actual dual pair is ‘poder’ and ‘ter que’, while ‘dever’ is a comparative degree
modal.

References
KRATZER, A. ‘The notional category of modality’. In: Eikmeyer, H-J.; Rieser, H. (Ed.). Word, worlds,
and contexts: new approaches to word semantics. Berlin: W. de Gruyter, p. 38-74, 1981.
——— ‘Modality’. In: von Stechow, A.; Wunderlich, D. (eds). Semantics: an international hand-
book of contemporary research. Berlin; New York: W. de Gruyter, p. 639-50, 1991.
——— ‘Modals and Conditionals’. New York: Oxford University Press, 2012.
MOSTELLER, F.; YOUTZ, C. ‘Quantifying Porbabilistic Expressions’. Statistical Science, Beach-
wood, v. 5, n. 1, p.2-34, Feb. 1990.
PESSOTTO, A. L. ‘Força e evidência: uma análise teórico experimental de ‘pode’, ‘deve’ e ‘tem que’.’
1 v. Tese (Doutorado) - Curso de Linguística, Pós-graduacão em Linguística, Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2015.
PIRES DE OLIVEIRA, R.; SCARDUELLI, J. ‘Explicando as diferenças semânticas entre ‘ter que’ e
‘deve’: uma proposta em semântica de mundos possíveis.’ Alfa Revista de linguística (UNESP.
São José do Rio Preto. Online), v. 52, p. 215-236, 2008.
PORTNER, P. ‘Modality’. Oxford University Press, 2009.

André Leclerc
Federal University of Ceará
Serious Actualism and the Metaphysics of Intentionality

A conception of Intentionality is incomplete without a unified view of the possible ob-


jects of thought or intentional objects. It seems that we have, at one extreme, an austere
and restrictive view called “serious actualism,” and at another extreme, different forms
of meinongianism.
Actualism is the thesis that all the existent objects belong to the domain (D 0 ) of the
actual world (W0 ). The domain of a possible world is the set of objects existing in
it. Kripke’s Ψ function gives as a value the domain of any possible world Wi , that is,
Ψ(Wi ) = D i . Actualism says that any D i (for D i 6= D 0 ) of any Wi can only be equal or
included in D 0 (D 0 ⊇ D i ). There can be things that do not exist in some Wi , but if some-
thing exists in any Wi , it surely exists in W0 . There are no possibilia. Serious Actualism
adds the idea that an object can have properties only in possible worlds in which it ex-
ists. A Non-Being cannot have properties. This sounds commonsensical. In that sober
view of possible worlds, we just invoke possible worlds to account for the semantics of
some linguistic constructions. We do not need a “Jules Verne-o-scope” to watch what’s
happening in other possible worlds. Possible worlds are stipulated, not discovered or
explored. Ion that approach, the treatment of fictional entities seems to be something
independent, a different subject matter.
However, fiction plays a very important role in our lives. Think of our plans; reality
regularly resists and makes them hard to achieve. A lot of people died searching for
the Eldorado. Fiction invades our memory, and when we are in love, the real person
Abstracts / Resumos 17

we love could be quite different from the one we represent and idealize, etc. Now, we
do say things like: “Sherlock Holmes was a detective.” If I say: “Sherlock Holmes was a
fisherman,” the reaction could be something like: “you need some lessons in contem-
porary British literature.” This is what Routley and Priest have called the “Characteri-
zation Principle,” (CP) and it sounds commonsensical too. We do characterize fictional
entities, after all. We do attribute properties to fictional beings and there can be truths
about them. Certainly, Holmes has the property of being famous. That’s Meinong prin-
ciple of independence, something very akin to CP: the question whether an object has
properties or not is independent of its existence (or being); non-existent beings can
have, in some sense, properties. There are truths about them.
Tim Crane (The Objects of Thought, 2013) has proposed a way out recently, a middle
way between austerity and luxury. It is a kind of reductionism: truths about the non-
existent must be explained by showing how they depend on reality. My aim will be to
present and assess Crane’s complex strategy of reduction.

André Luiz de Almeida Lisbôa Neiva al.neiva@gmail.com


Mestrando - PUCRS
Por que graus de crença devem satisfazer o calculus probabilístico?

Probabilismo é uma concepção em epistemologia que defende (1) a concepção de


gradação de crenças, a saber, agentes doxásticos têm graus de crença (credences) e
que (2) tais graus de crença devem satisfazer o calculus probabilístico para que se-
jam racionais ou, em sentido rigoroso, coerentes probabilisticamente. Tipicamente,
o modelo de gradação de crenças admite que um agente pode ter uma diversidade de
graus de crença sobre diferentes proposições. Assim, e. g., um agente doxástico S crê
com grau ε em uma proposição p e crê com grau χ em uma proposição q numa dada
instância de tempo t . Por seu turno, probabilidades subjetivas representam formal-
mente tais graus ε e χ sobre as proposições p e q (respectivamente) de acordo com
os axiomas e regras de probabilidade: primeiro, ε ∈ [0; 1] e χ ∈ [0; 1]; segundo, se p é
uma tautologia, então P r (p) = ε = 1; terceiro, se p e q são mutuamente exclusivas,
então P r (p ∨ q) = P r (p) + P r (q) = ε + χ. Mas por que razão agentes devem satisfazer
esses axiomas básicos, que são condições sincrônicas de coerência probabilística, e
as consequências lógicas do maquinário de probabilidade? Por que agentes racionais
devem ser probabilisticamente coerentes? Há na literatura sobre probabilismo quatro
argumentos distintos que pretendem defender as teses (1) e (2) acima: argumento do
Dutch Book ou contrato de perda garantida (Frank P. Ramsey, Truth and Probability,
1926 [1950] e outros); argumento baseado no Teorema Representacional (Patrick Ma-
her, Betting on Theories, 1993); argumento da Calibragem (apesar de não subscrevê-lo,
Alan Hájek o expõe em Arguments for - or against - Probabilism?, 2008) e argumento
da Acurácia dos graus de crença (James Joyce, A non-pragmatic Vindication of Proba-
bilism, 1998). Pretende-se avaliar em detalhes cada um dos quatro argumentos pro-
postos, identificando seus prós e contras, e se, em última instância, o probabilismo em
18 IX Principia International Symposium

epistemologia é defensável.

Andrea Cachel andreacachel@gmail.com


UFJF
Crença No Mundo Exterior Em Hume: As Interfaces Entre Ceticismo E Nat-
uralismo Não-Reducionista

Uma tentativa de pensar as fronteiras entre naturalismo e ceticismo não é uma tarefa
original. Alguns comentadores, especialmente quando voltados à filosofia de autores
que parecem se situar no limite entre essas perspectivas filosóficas, inevitavelmente já
se colocaram diante da tarefa de ponderar em que medida elas se conectam e a par-
tir de quando se tornam contraditórias. Certamente a filosofia humeana consiste em
um dos mais representativos desafios quanto ao estabelecimento das interfaces entre
ambas e, sendo assim, uma série de comentadores dedicados a ela também tiveram
que se inserir no âmbito dessa temática. A tese de Norman Kemp Smith, no artigo The
Naturalism of Hume, de que o naturalismo humeano se opõe ao seu ceticismo e o neu-
traliza, já é célebre e suscita a necessidade de uma reflexão quanto ao naturalismo ser
um prolongamento do próprio ceticismo de Hume ou um antídoto contra a sua pos-
tura cética. A comunicação a ser apresentada se coloca nessa perspectiva temática,
aprofundando o questionamento a partir das reflexões apresentadas por Strawson, no
seu livro Skepticism and naturalism: some varieties particularmente tendo como foco a
sua distinção entre naturalismo reducionista e não-reducionista. Strawson argumenta
que apenas o naturalismo reducionista é uma vertente do ceticismo, na medida em
que pressupõe a falsidade das crenças, ao contrário do naturalismo não-reducionista,
que não declararia serem tais crenças irracionais e sim posições metafísicas inevitáveis.
No âmbito mais preciso da discussão acerca da crença no mundo exterior, Strawson
aponta uma afinidade entre naturalismo reducionista e cientificismo, o qual negaria
que qualidades sensíveis sejam objetivas e estabeleceria que a crença num mundo ex-
terior dotado de tais qualidades é uma ilusão. A discussão humeana sobre a crença
no mundo exterior nos permitirá avaliar mais diretamente essas indicações de Straw-
son. Pretende-se apontar na comunicação em que medida o debate humeano sobre a
crença nos corpos implica uma aproximação da filosofia humeana com o que Strawson
compreende como naturalismo liberal ou não-reducionsita, sendo, ao mesmo tempo,
compatível com o viés cético de Hume. Isso porque a análise humeana parte do re-
conhecimento de que a existência dos corpos é algo que tomamos como pressuposto
dos nossos raciocínios, portanto, que há uma inevitabilidade desta posição metafísica,
indicando, contudo, que a crença na existência do mundo exterior tem por base uma
ilusão, qual seja, a suposição de uma indistinção entre percepções e objetos. Na abor-
dagem do princípio que estabelece que qualidades secundárias sejam apenas mentais,
contudo, deixa claro em que medida considera que esse “princípio da filosofia mod-
erna” resultaria em um idealismo subversivo das crenças naturais, recusando, nesse
contexto, essa posição filosófica reducionista. Tendo em vista a própria possibilidade
de se compatibilizar o naturalismo humeano com o ceticismo pirrônico, hipótese ex-
plorada na comunicação, isso nos permitirá aprofundar os vínculos possíveis entre
Abstracts / Resumos 19

ceticismo e naturalismo não-reducionsita também no âmbito externo à filosofia de


Hume.

Andrea Faggion andreafaggion@gmail.com


Filosoa da Universidade Estadual de Londrina Programa de Mestrado em Filosoa da
mesma instituição e do Programa de Mestrado em Filosoa da Universidade Estadual de
Maringá
Arguments against redistributive justice based on Kant's Doctrine of Private
Right

According to Kant, “right in a state of nature is called private right” (MS, 06: 242). It is
my claim that there is no room for a right to enforce the offer of benefits in the private
right. Firstly, I will show how the concept of an innate right to freedom provides no con-
ceptual foundation for a right to enforcement of alleged duties of cooperation. Since
my argument is much more conceptual than hermeneutical, Isaiah Berlin’s analysis of
negative liberty in “Two Concepts of Liberty” will be helpful here. Both the compo-
nents of Kant’s definition of “freedom” in the context of our innate right to freedom —
the independence from being constrained and the specification of another’s choice as
the source of the relevant constraint here — fit the concept of “negative liberty” to be
found in Berlin’s famous paper. Secondly, I will argue that the Kantian concepts of orig-
inal acquisition and voluntary transfers are also at odds with the idea of a redistributive
justice. At this point, it will be very useful to notice that the first two principles of jus-
tice in holdings of Robert Nozick, in Anarchy, State, and Utopia, roughly corresponds
to the first two sections of Kant’s theory of acquisition of external things in the private
right. The principle of justice in acquisition is the first principle of the Nozickian theory
of distributive justice. It sets that original acquisition — the appropriation of unowned
things — is legitimate. A second principle of justice to be found in Nozick’s theory is
the principle of justice in transfer, which sets that it is legitimate to acquire a posses-
sion from someone else entitled to the possession providing that both of the parts agree
with the transference. Finally, I will sketch an objection against political uses of a prin-
ciple of historical rectification of acquisitions. The principle of rectification is the third
and last principle of Nozick’s entitlement theory of justice in distribution, and it should
be of concern to Kantians too, since it is a mere principle of rectification of the two
first principles. Since we do not live in an ideal world where every acquisition occurs in
accord with the first two principles of justice in holdings, is not the case that the princi-
ple of rectification would call for redistribution, i.e., for taxes over the wealthy in order
to provide social benefits to the poor? I believe such a conclusion would be a misuse
of a principle of rectification. Due to the points I am going to make, I conclude that,
if somewhere, redistributivism should make its case in Kant’s doctrine of public right,
as a right of a State. Providing that the arguments presented here are sounds, one can
assert that there is no bases for redistributive justice to be found in the concept of an
innate right to negative freedom, or in the concept of a right to acquisition of external
20 IX Principia International Symposium

things.

Angela Pereira Rodrigues Moreira angela.p.rodrigues4@gmail.com


Doutoranda - UNICAMP
Itala Maria Loredo D'Ottaviano itala@cle.unicamp.br
UNICAMP
Investigações e comparações entre os conceitos de tradução, tradução conser-
vativa e tradução contextual

Neste trabalho tratamos de três conceitos de tradução entre lógicas. O conceito de


tradução dado por (da Silva, D’Ottaviano, Sette, 1999) em que os autores propõem
uma definição bem geral para o conceito de tradução entre lógicas, e os conceitos de
tradução conservativa e tradução contextual, que são casos especiais de tradução se-
gundo (da Silva, D’Ottaviano, Sette, 1999), eles foram introduzidos, respectivamente,
por (Carnielli, Coniglio, D’Ottaviano, 2007) e (Feitosa, 1997). O objeto foi analisar quão
expressivas são essas traduções através de comparações entre elas. Verificamos se al-
gumas meta-propriedades são preservadas ou não por cada uma das traduções citadas
e observamos suas vantagens e desvantagens. Por fim, de maneira singela, envolvemos
o caso das linguagens naturais como parte da análise.

Referências
CARNIELLI, W. A.; CONIGLIO, M. E.; D’OTTAVIANO, I. M. L. ‘New dimensions on translations
between logics’. In: Proceedings of the II World Congress on Universal Logic. Xi’an: UNILOG
07, p. 44-54, 2007.
DA SILVA, J. J.; D’OTTAVIANO, I. M. L.; SETTE, A. M. ‘Translations between logics’. In: CAICEDO,
X.; MONTENEGRO, C. H. (Ed.). Models, algebras and proofs. New York: Marcel Dekker, p.
435-448, 1999.
FEITOSA, H. A. ‘Traduções conservativas’. Tese (Doutorado em Lógica e Filosofia da Ciência) -
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1997.

Arthur Cunningham cunninga@stolaf.edu


St. Olaf College
The Garden of Forking Paths: A Misleading Picture of Abilities and Possible
Worlds

In arguments concerning freedom and determinism, philosophers (following Peter van


Inwagen [1974, 1983]) sometimes frame their reasoning about an agent’s abilities in
terms of talk about which possible worlds the agent “has access to”. In this idiom, the
incompatibilist thesis
(IT1) If determinism is true, then I am never able to perform any actions other than
those that I do in fact perform,
becomes
(IT2) If determinism is true, then I never have access to any possible world other than
the actual world.
Abstracts / Resumos 21

To illustrate their arguments for (IT1&2), both van Inwagen (1983; 1990) and John
Martin Fischer (1994) appeal to the metaphor of the future as a “garden of forking
paths”, “a branching tree-like structure in which various possible futures branch off
a single past” (Fischer 1994, p.102). This metaphor is intended (in part) to illustrate
and motivate their assumption that any possible future I have access to must be a con-
tinuation of the actual past. This assumption may be stated as a principle about the
possible worlds I have access to: (CAP) “All possible worlds (paths) that I have access
to are continuations of the path-segment I have already travelled”. (van Inwagen 1983,
p.92).
In this paper, I argue that the intuitive appeal of (CAP), which is an essential element
of van Inwagen’s and Fischer’s arguments for (IT), depends on a tendency, encouraged
by the “garden of forking paths” metaphor and the “access to possible worlds” talk, to
run together a modal notion — the “can” of compossibility with the actual past — and
an ability notion — the “can” of agential power. (It is the latter that is directly rele-
vant to discussions of freedom.) This is clearest in the context of freedom and divine
foreknowledge — a context in which both Fischer (1994) and van Inwagen (2008) un-
hesitatingly affirm (CAP). Suppose God has comprehensive and infallible knowledge of
my future actions, and that I am in fact going to do X five minutes from now; then God
has already believed — in the actual past — that I am going to do X. It follows that no
world in which I do not do X five minutes from now is compossible with the actual past.
According to (CAP), then, I do not have access to any world in which I do not do X five
minutes from now. And yet it seems extremely implausible to think that divine fore-
knowledge alone either imposes or implies any limitation on my abilities. Unless we
suppose that causal determinism or something like it is a necessary precondition for
divine foreknowledge, it is difficult to see how God’s merely knowing that I am going to
do X could show that I lack the power to do otherwise — as opposed to showing only
that I will not do otherwise.
The “garden of forking paths” picture in effect represents in picture form the same
supposition that I am calling into question: that if some action is incompatible with
the actual past (from which it follows that I will not perform it) then I am unable to
perform it. That assumption may be justified with regard to certain restricted classes of
facts about the past — e.g. for the facts about the past history of physical universe. But
I think the divine foreknowledge considerations show that van Inwagen and Fischer are
mistaken in supposing that the assumption is reasonable for the past merely qua past.
I suggest that whether facts about the past have any bearing on what I am able to do
will depend on the nature of the connection between the relevant facts about the past
and my actions and abilities.

References
FISCHER, J. M. ‘The Metaphysics of Free Will’. Blackwell, 1994.
VAN INWAGEN, P. A Formal Approach to the Problem of Free Will and Determinism. Theoria 40,
p. 9-22, 1974.
——— ‘An Essay on Free Will’. Oxford University Press, 1983.
——— ‘Logic and the Free Will Problem’. Social Theory and Practice 16, p. 277-290, 1990.
22 IX Principia International Symposium

——— ‘What Does an Omniscient Being Know about the Future?’ In: J. Kvanvig (ed.), Oxford
Studies in Philosophy of Religion, Volume 1, Oxford University Press, p. 216-230, 2008.

Arturo Fatturi arturo.faturri@uffs.edu.br


UFFS - Chapecó
Convicção e Certeza em On Certainty de Ludwig Wittgenstein

1. Meu objetivo é analisar a distinção elaborada por Wittgenstein, em On Certainty,


entre (a) convicção, por ele denominada “certeza subjetiva” e (b) certeza objetiva. Se-
gundo a definição de (a), uma pessoa em estado de certeza subjetiva, crê que algo é
o caso com total ausência de dúvida, ou seja, segundo crença inabalável, sem prova
ou evidência de que a crença é verdadeira. Aqui, a pessoa decide a favor da crença a
fim de mantê-la. No caso de (b), a pessoa tem uma crença para a qual não é possível
qualquer engano. Considerando esta distinção, é importante compreender o papel da
dúvida em ambos os casos. O caso (b) não admite engano e, sendo assim, podemos
perguntar se é crença. Neste caso, não se trata de decisão quanto a manter ou não a
crença ou decidir a favor da mesma, uma vez que o engano está afastado. Caberia, tal
como diz Wittgenstein, compreender se é possível que exista tal caso e o que permite
que o mesmo seja possível (OC, § 194). Ainda, Wittgenstein diz que, de uma afirmação
como “creio que estou sentado em minha sala”, quando, de fato, não estou, não se pode
dizer que cometi um engano (OC, § 195).
2. Tal consideração paradoxal chama atenção para o papel que desempenham as
atribuições de engano em nossas afirmações de crença, certeza e convicção. Ou seja, os
casos em que estou convicto de algo, não questiono a verdade ou falsidade daquilo em
que creio, ainda que possa estar enganado. Quando, por outro lado, a certeza que tenho
afasta a possibilidade do engano, não sustento afirmações através de provas da verdade
das mesmas. Sendo elas certezas objetivas, a possibilidade do engano está afastada.
Como afirma Wittgenstein (OC, § 196), não faria sentido afirmar que consideramos
algo como evidencia certa, por ela ser evidentemente verdadeira. Ou seja, não faria
sentido afirmar que em casos em que a possibilidade de engano está afastada (como
em b), eu “considero” que a afirmação é certa. Uma vez que não me decido a favor da
verdade da afirmação.
3. Para tratar deste tema proponho, primeiramente, distinguir os casos de certeza
subjetiva ou convicção e de certeza objetiva. O objetivo neste passo é tornar claros os
casos em que podemos, legitimamente, chamar nossas afirmações ou de convicções
ou de certezas objetivas. Em segundo lugar, cabe distinguir o papel da dúvida em
cada uma destas atribuições. O objetivo é compreender como a dúvida opera em cada
caso. Por fim, estes dois passos, me permitirão discutir o papel das convicções nas afir-
mações às quais atribuímos certeza e nas que atribuímos convicção. O objetivo geral é
demonstrar que a certeza das afirmações é demonstrada não em “provas da verdade”
das mesmas, mas no papel que tais afirmações desempenham em nossa ação. Isto é,
agimos de tal forma que algumas afirmações são, para nós, certas. Mesmo que não se
Abstracts / Resumos 23

trate, neste caso, de provar a verdade das mesmas.

Azarova Yulia azar2005@yandex.ru


V. N. Karazin Kharkiv National University
Jan Lukasiewicz and New Multi-Valued Logic

In early 20th century a traditional formal logic is no longer satisfies the European philoso-
phers. They want to present the objective structure of judgment and include in scien-
tific discourse new concepts: “probably”, “necessarily”, and “possibility”. An operation
with these concepts leads to the development of modal logic. Main contribution to the
elaboration of modal logic made Jan Lukasiewicz.
During the 1920-1950s Jan Lukasiewicz explores many models of the multi-valued
logic. One of the famous examples of such logic is algebra that Lukasiewicz invented
himself. Late, he clearly describes the logical principles of the theory of probability and
prepares the reliable foundation for the para-non-contradictory logic.
Lukasiewicz formulates theory of the multi-valued logic in numerous papers: “The
concept of probability” (1920), “On three-valued logic” (1920), “Importance of logical
analysis for knowledge” (1934), “On science” (1934), “Philosophical remarks on multi-
valued systems of propositional logic” (1934), “Logic and philosophy” (1936), “A system
of modal logic” (1953).
Modal concepts, writes Lukasiewicz, plays an important role not only for logic, but
also for ontology and epistemology. Modal concepts has a specific functions in the sci-
entific cognition and therefore can not be replaced by any others concepts. Modal con-
cepts define our understanding of a truth, causality, event, contingency and regularity.
“For me, notes he, a modal logic is logic of possibility. Working with its language, I find
the unexpected thing: there is a true problematic statement that can not be truth as
assertor statement. More over, there is a true statement that can not be proven without
the use functor of probability. But such statement often extends the horizon of knowl-
edge. This conduct us beyond the truth that obtained by using the tools of non-modal
logic”.
A modal statement in Lukasiewicz’s system is a statement that has one of several
forms:
1) It is possible that p — symbolically: M p,
2) It is not possible that p — symbolically: N M p,
3) It is possible that non−p — symbolically: M N p,
4) It is not possible that non−p — symbolically: N M N p.
Lukasiewicz identifies two groups statements related to modal statements. The first
group includes statements that well known in the history of logic:
a) Ab oportere ad esse valet consequentia;
b) Ab esse ad posse valet consequentia;
c) Ab non esse ab non posse valet consequentia.
A typical example of a statement of the first group is a thesis: If is not possible that p,
24 IX Principia International Symposium

then non−p — symbolically: N M p → N p. The second group includes statements that

less known in a wide circle of logicians. Let’s say, G. Leibniz’s sentence:


d) Unum quod que, quandum est, oportet esse.
A typical example of a statement of the second group is opposite thesis: If non−p, then is

not possible that p — symbolically: N p → N M p. These statements, argues Lukasiewicz,

has a great historical tradition and we have no doubts in their admissibility. Logical sys-
tem that not includes such statements can not be named an adequate and satisfactory
modal system.
In 1920 he makes draft of tree-valued logic and introduces a value “probably”. Lukasiewicz’s
three-valued logic is solely the multi-valued logic that has clearly interpretations. In-
teresting interpretations of three-valued logic offers L. Borkowsky, G. Bryll, G. Prucnal,
B. Sobocinsky, J. Slupecky.

Breno Ricardo Guimarães Santos brenoricardo@gmail.com


PhD student at Federal University of Santa Catarina
Factive reasons and externalist responses to skepticism

In recent works, Duncan Pritchard has argued for a particular type of response to a
particular type of skeptical paradox. This paradox is one motivated by the Underde-
termination Principle, and his response is motivated by a reading of the disjunctivist
theory in its epistemic form. According to the paradox, we cannot have rational sup-
port that favours our ordinary perceptual beliefs over skeptical hypothesis — given that
both scenarios are subjectively indistinguishable, the reasons we have for preferring
one are the same that we have for preferring its incompatible alternative. Pritchard’s
position is that Disjunctivism can show where the intuition behind this problem goes
wrong. Through an examination of this approach, Pritchard offers a way of responding
to the skeptical problem that, according to him, serves both internalist and externalist
intuitions about the conditions for paradigmatic perceptual knowledge. He suggests
that, through Disjunctivism, we can have factive reasons that are also reflectively ac-
cessible to epistemic agents in epistemically friendly contexts. For the disjunctiveist,
seeing that p constitutes the solo basis for the rationality of our perceptual beliefs in
good epistemic cases. Supported by the idea that the veridical experience that we have
when seeing that p works as the reflectively accessible factive reason for believing that
p, the disjunctivist can motivate a solution to this type of skepticism. Such a solution,
according to him, cannot be offered by traditional externalist views. My aim in this pa-
per is to argue that, although fairly plausible, Pritchard’s proposal does not preclude
classical externalism, and is completely compatible with some forms of it. I want to
argue that if the disjunctivists are right, their position can be a completely adequate as
an explanation of the very intuition behind some forms of externalism. In particular, I
want to defend that a version of reliabilism, aided by coherentist features, offers a sim-
ilar response to the paradox using some of the rationale presented by the disjunctivist,
while also explaining how factivity works in the kind of rationality that an externalist
Abstracts / Resumos 25

response to skepticism needs in order to do its job. My suggestion is that the Reliabilist
Foundationalist Coherentist (RFC) branch of externalism offers a similar intuition in
explaining why
we have knowledge in “good” epistemic cases, but can also explain why defeaters al-
ter our epistemic status even when we are presented with reflectively accessible factive
reasons for believing in the content of our ordinary veridical experiences. Thus, my
idea is that disjunctivism, if correct, is only part of the story explaining why we know,
on an introspective basis, that we are in epistemically friendly contexts and not in a
context of general deceit.

Bruno Camilo de Oliveira bruno.camilo@ufersa.edu.br


Universidade Federal Rural do Semiárido
Pensando a educação cientíca no Brasil de acordo com o pluralismo de
Paul Feyerabend

Essa comunicação propõe uma análise entre o conceito de “educação científica” elab-
orado por Paul Feyerabend e o modelo de ensino que é propagado na maioria das in-
stituições de ensino no Brasil, de modo que possamos apresentar no fim uma crítica
a “educação científica” que é praticada em nossas escolas. A análise será feita tam-
bém com a compreensão dos seguintes conceitos pertinentes ao pensamento de Fey-
erabend: “pluralismo teórico”, “oportunismo”, “individualismo” e “progresso”. Os três
argumentos principais, que permitem estabelecer a crítica, podem ser assim enumer-
ados: primeiro, a “educação científica”, tal como praticada em nossas escolas, não es-
timula a criatividade dos estudantes (não há estimulo a processos revolucionários e
a inovação); segundo, numa “educação científica”, tal como nós temos, praticamente
não há possibilidade para que o estudante possa afirmar sua individualidade (não há
total liberdade na escolha de procedimentos metódicos); terceiro, a “educação cien-
tifica”, em nossas escolas, prepara o estudante para negar a sua própria conjectura
histórica por meio de convenções que se estabelecem como padrões (o estudante não é
um “oportunista”). Uma vez que a exposição desses argumentos se mostre sustentável
levando em consideração os conceitos teóricos de Feyerabend, será fácil visualizar o
problema em torno da “educação científica” no Brasil, ou seja, a “educação científica”,
que é propagada pelas instituições brasileiras, vai contra a “individualidade” do estu-
dante e não oferece estímulos para o “progresso” da ciência, se levarmos em consider-
ação as posições teóricas do pluralismo de Feyerabend.

Bruno Ramos Mendonça bruno.ramos.mendonca@gmail.com


PhD Student - UNICAMP
Hintikka normal forms and denitions of semantic information

In this presentation we analyze different attempts of describing semantic information


as a logical notion by consideration of normal forms for first order logic. More specifi-
cally, we look to approaches that define semantic information considering disjunctive
26 IX Principia International Symposium

normal forms (in the propositional case) as well as Hintikka normal forms (in the pred-
icative case). In this sense, in this presentation we are concerned with the works by Bar-
Hillel and Carnap (1952, 1953) and Hintikka (1965, 1970) on the field. These approaches
share the idea that the measure of semantic information of a formula φ is a function of
the informational measures of the clauses which compose the disjunctive or Hintikka
normal form of φ. Further, they define semantic information of a formula φ in terms
of the probability of (¬φ). Since this via of investigation permits that, in the predicative
case, we can define at least two different notions of probability, Hintikka introduces
two notions of information, namely, depth and surface information, the former deal-
ing with the “absolute” probability of a formula φ being the case and the latter dealing
with an epistemologically relativized sense of the concept. Here we argue that, con-
trary to Hintikka’s claim that surface information is a rival notion of depth information,
surface information can be defined as depth information itself considered in dynamic
contexts of measuring of semantic information. The underlying motivation for a logical
characterization of information is to give a measure of the minimum information that
formulas carry (extra logical aspects being disregarded), and, in order to achieve this
task, we need to consider at least if the following two theses are valid. Firstly, we need
to consider the soundness of the thesis that logical truths carry minimum amount of
information. Further we need to evaluate the thesis according to which logical falsities
carry maximum amount of information. Hintikka’s claim is supported by the fact that
surface information, in opposition to depth information, rejects both theses. However,
we claim that these rejections can be attributed not to a special notion of semantic in-
formation but to the dynamic context of measuring of information that defines seman-
tic information. This presentation is structured in the following way: in the first part,
we will define the Hintikka normal forms for first order logic (disjunctive normal forms
being a special case of this definition) and we will introduce some results about this set
of formulas. Also, we will present how Hintikka defines (depth and surface) semantic
information through Hintikka normal forms. Finally, we will see how these notions can
be redefined considering dynamic contexts of measuring of information.

Cailin O'Connor cailino@uci.edu


University of California, Irvine
The Evolution of Guilt: a Modeling Based Approach

Moral emotions, such as shame and guilt, are deeply important to human moral behav-
ior. Although few ethicists think the ‘is’ of evolved moral emotions should be directly
translated to an ‘ought’ of ethical imperative, evidence from psychology and biology
has increasingly made clear that, at very least, a full picture of human ethics must take
these emotions into account.
This paper focuses on the evolution of guilt specifically. The goal is to provide an
analysis of how guilt can be individually beneficial to actors, drawing on extensive lit-
erature from evolutionary game theory regarding the evolution of prosocial behavior.
In this way, work by philosophers on the evolution of guilt (like that of Joyce (2007) and
Deem and Ramsey (2015)) can be supplemented by a more detailed picture of the rel-
Abstracts / Resumos 27

evant evolutionary dynamics. As I show, this literature suggests a number of ways that
guilt can provide individual fitness benefits, both by preventing transgression in the
first place, and by leading to reparative behaviors after transgression. In an attempt to
better understand this latter role of guilt, I present novel modeling work on the evolu-
tion of apology.
The models discussed throughout the paper do not explicitly represent emotional
states of actors. In order to gain insight into the evolution of emotion, I consider the
behaviors that guilt causes in humans, find cases where such behaviors are individually
beneficial, and argue that in these cases the eliciting emotion should also be under
positive selection pressure.
First, I consider the possibility that something like proto-guilt benefits individuals
by leading them to behave more prosocially. In assessing this claim, I discuss work on
the stag hunt and prisoner’s dilemma games — two paradigm models of human proso-
ciality. Work on the stag hunt indicates that such behavior will be beneficial whenever
actors are surrounded by group mates who also tend to cooperate (Skyrms, 2004). In
prisoner’s dilemma type scenarios, altruism is less obviously beneficial to the individ-
ual, but can become so whenever actors are in a group that reciprocates against bad
behavior.
Of course, full, modern guilt is evoked when actors break culturally sanctioned norms.
The evolution of normative punishment has been supported by evolutionary models
(Boyd et al., 2003) and it is an empirical fact that humans punish norm violators (Os-
trom, 1994). In a population that punishes bad behavior, such behavior becomes in-
dividually costly. Any trait, such as guilt proneness, that prevents accidental defection
will provide an individual selective advantage in such a social environment.
In the second half of the paper, I consider whether guilt may be individually benefi-
cial after defection by acting as a signal of an actor’s future cooperative intent, and so
allowing group mates to forgive cooperative types even after anti-social behavior. There
are three ways that such a possibility could occur. As I argue, guilt can provide individ-
ual fitness benefits either by 1) leading actors to make costly apologies that prove their
cooperative intent, 2) allowing actors to make cost free, but nonetheless trustworthy,
apologies because guilt is hard to fake, or 3) allowing actors to make apologies that are
somewhere in between — partially trustworthy and partially costly. In assessing these
last two possibilities, I introduce novel modeling work on actors who apologize in the
iterated prisoner’s dilemma.

References
BOYD, R., et al. ‘The evolution of altruistic punishment’. Proceedings of the National Academy of
Sciences, 100.6, p. 3531-3535, 2003.
DEEM, M.; RAMSEY, G. ‘Guilt by Association’. Working Paper, 2015.
JOYCE, R. ‘The evolution of morality’. Mit Press, 2007.
OSTROM, E.; ROY, G.; WALKER, J. ‘Rules, games, and common-pool resources’. University of
Michigan Press, 1994.
SKYRMS, B. ‘The stag hunt and the evolution of social structure’. Cambridge University Press,
28 IX Principia International Symposium

2004.

Carline Schröder Arend carlinearend@gmail.com


Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de
Pelotas
Jovino Pizzi jovino.piz@gmail.com
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pelotas
Retratos de injustiça: um paralelo entre as teorias de Axel Honneth e Nancy
Fraser

A teoria do reconhecimento de Honneth promove uma mudança de perspectiva na


teoria crítica, ao trazer as experiências de desrespeito vivenciadas pelos sujeitos, as
quais mobilizam um saber moral que permite compreender o sujeito ofendido. Para
Honneth, a questão chave não é o consenso, mas a conflitividade. Essa mudança de
perspectiva só ocorre em vistas ao mundo da vida, o qual é composto por movimentos e
grupos sociais, cujo reconhecimento reivindica a superação da injustiça. Essa luta pelo
reconhecimento suscita desafios importantes, cujo debate abarca os aspectos moral,
político, social e filosófico.
A luta por reduzir as desigualdades sociais pautou-se, histórica e majoritariamente,
pela partilha de bens e riquezas. Atualmente, a mudança nas reivindicações dos gru-
pos minoritários amplia o leque de reivindicações: as lutas passaram a reivindicar o
reconhecimento de suas diferenças. Tais diferenças podem ser de cunho étnico, racial,
sexual, de gênero, dentre outros. Segundo Fraser, não se trata apenas de um problema
que abarque única e exclusivamente a ordem econômica, como era até alguns anos
atrás, o que nos remete à luta de classes, mas também se trata de um problema de or-
dem etnocultural. Para Fraser, essa separação é, todavia, falsa, fazendo-se necessário
refletir sobre o reconhecimento cultural e igualdade social, almejando assim, pensar
um conceito de justiça social que agregue a teorização sobre os aspectos culturais.
Honneth parte do pressuposto de que os conflitos sociais são lutas por reconhec-
imento, ou seja, a interação entre os sujeitos da sociedade se dá através do conflito,
travando, assim, uma luta por reconhecimento. Esta luta é a chave do entendimento
de como se processa a interação social, especialmente ao que concerne à constituição
e a autocompreensão dos indivíduos em sociedade.
Honneth procura salientar que, por detrás da aparente integração que o capitalismo
avançado presume, há esferas de conflitos morais e práticos. Não se trata mais da ultra-
passada suposição de classe, mas de novas formas de enfrentamentos que, hoje em dia,
são, por um lado, socialmente controladas e, por outro, individualizadas ao extremo.
Honneth tem seu ponto de partida no caráter negativo do que os menosprezados e ex-
cluídos possuem da noção de justiça. Para tanto, ele busca, através do debate público e
democrático, motivações que venham a vincular-se às mudanças sociais para repensar
questões de injustiça.
As considerações de Honneth e Fraser apontam para o paralelo entre a teoria da
redistribuição de renda (proposta por Fraser) e a teoria de reconhecimento do outro
(pautada por Honneth). Com isso, pretende-se também salientar aspectos que per-
Abstracts / Resumos 29

mitem uma análise do programa social de distribuição de renda do programa Bolsa


Família. Na verdade, esse programa é uma alternativa para superar as desigualdades
sociais crônicas do contexto brasileiro. Este seria o aspecto motivacional do estudo,
com vistas a pensar um mundo que seja possível viver sem o fantasma da desigual-
dade. No fundo, a busca de alternativas para superar as situações de injustiça e, assim,
viver em um mundo com qualidade de vida para todos.

Carlos Augusto Sartori carlos.augusto.sartori@gmail.com


Universidade Federal de Santa Maria
O Lugar das Virtudes Intelectuais na Justicação Epistêmica

O problema da justificação epistêmica, a questão do que nos habilita a pensar que uma
crença é verdadeira, esbarra em dois impasses. O primeiro diz respeito à perspectiva
da justificação, o que impõe uma opção entre internalismo e externalismo; o segundo
diz respeito à estrutura da justificação, o que coloca duas alternativas predominantes:
o fundacionismo e o coerentismo. A epistemologia das virtudes surge como uma ten-
tativa de solucionar esses impasses. A proposta é de um deslocamento do problema da
justificação ou de uma mudança de foco: em vez de a justificação epistêmica ser uma
propriedade das crenças passa a ser uma propriedade do agente doxástico, do sujeito
que forma as crenças. A proposta da epistemologia das virtudes inicia com o artigo
“The raft and the pyramid: Coherence vs. Foundations in the theory of knowledge”, no
qual Ernest Sosa aponta graves defeitos do coerentismo e do fundacionismo. Ali, Sosa
propõe que “a justificação que se requer se aplica a virtudes intelectuais, a disposições
estáveis para a aquisição de crenças, através de sua maior contribuição para nos con-
duzir à verdade”. A partir daí, Sosa desenvolve uma teoria perspectivista das virtudes
intelectuais: uma crença é justificada se 1. ela está fundada numa virtude intelectual,
uma habilidade confiável de formação de crença, como boa percepção e boa memória,
e 2. se há uma crença de segunda ordem que possa indicar que a crença de primeira
ordem foi formada com base numa virtude intelectual. Críticas endereçadas à teoria
de Sosa levaram a ampliar a aproximação com as virtudes morais. Uma teoria respons-
abilista das virtudes intelectuais como, por exemplo, a desenvolvida por Linda Zagzeb-
ski, colocará as virtudes intelectuais como um subgrupo das virtudes morais. Virtudes
intelectuais são traços da personalidade do agente epistêmico que regulam a sua ativi-
dade intelectual, tais como a imparcialidade e a coragem intelectual. John Greco, por
sua vez, defende que a questão do conhecimento deve conter uma condição de re-
sponsabilidade e uma condição de confiabilidade, desenvolvendo, assim, uma teoria
mista das virtudes intelectuais. Todavia, é preciso considerar até que ponto as teo-
rias das virtudes intelectuais constituem uma solução para o problema da justificação
e do conhecimento. Para isso, traremos para a discussão Robert Audi, que tece uma
comparação entre virtudes morais e virtudes intelectuais para mostrar a importância
das virtudes intelectuais para uma boa condução do nosso comportamento cognitivo.
Uma virtude intelectual é um traço do caráter do agente doxástico que tende a influ-
enciar seu comportamento cognitivo em direção ao ideal epistêmico de atingir a ver-
dade e evitar o erro. Mas não se trata simplesmente de formar crenças verdadeiras,
30 IX Principia International Symposium

mas de formá-las por razões adequadas, assim como uma virtude moral não é apenas
uma capacidade de realizar boas ações, mas de realizá-las por razões adequadas. As-
sim, tem-se que explicar o que é formar uma crença a partir das virtudes epistêmicas.
Para Audi, a analogia com a ética é elucidativa ao mostrar que a verdade e a falsidade
funcionam como um fim cognitivo — positivo e negativo, respectivamente — assim
como o bem e o mal funcionam como fins para a ação. Entretanto, a crença não é
uma ação e não é diretamente voluntária. Caberá mostrar, então, qual é a importân-
cia dessa assimetria para a epistemologia das virtudes. Podemos, entretanto, decidir
formar crenças somente quando temos boas bases para tal, e aqui está um dos papéis
das virtudes epistêmicas: exigir que se saiba que tipo de proposição requer boas bases
e exigir que se formem crenças nessas proposições somente quando se tem as boas
bases. Ficará claro, portanto, que as virtudes epistêmicas são um bem intrínseco e é
desejável que nossas crenças sejam, de alguma forma, guiadas por elas. Todavia, se-
gundo Audi, essa conclusão não deve ser levada longe demais, porque, novamente em
comparação com as virtudes morais, teremos uma assimetria: as virtudes intelectuais
são um bem enquanto meios, mas não um bem em si como são as virtudes morais.
A proposta deste trabalho é mostrar, seguindo Audi, como as analogias e assimetrias
entre virtudes morais e virtudes epistêmicas elucidam a questão da justificação, ao
mesmo tempo em que se apontam certas dificuldades para várias teorias sobre vir-
tudes epistêmicas.

Carlos Luciano Manholi manholi@uel.br


Universidade Estadual de Londrina
Lógica, tempo e linguagem natural: Um sistema formal para tempos verbais
do português

Em nossa comunicação pretendemos apresentar um sistema formal, que vamos chamar


de T, cuja linguagem formal L T é obtida acrescentando-se os operadores temporais P,
F, PC e I a uma linguagem L para o cálculo proposicional clássico. P e F são os op-
eradores que aparecem nos trabalhos de Prior, e podem ser lidos, respectivamente,
como ‘foi o caso que’ e ‘será o caso que’. Já PC e I são operadores que introduzimos
com a intenção de capturar alguns usos, respectivamente, do perfeito composto e do
imperfeito do português. Assim, pode-se ler PC como ‘tem sido o caso que’, e I como
‘era o caso que’.
O fluxo temporal com o qual vamos lidar é o tempo linear discreto, sem mínimo ou
máximo. Isto é, as estruturas, ou frames, que vamos utilizar para interpretar as fórmu-
las de L T serão constituídas por um conjunto denumerável T qualquer, e por uma or-
dem R linear, discreta, sem mínimo ou máximo sobre T. De um ponto de vista intuitivo,
os elementos de T vão representar instantes de tempo, e R vai representar a relação
de anterioridade entre esses instantes. Os nossos operadores PC e I vão funcionar do
seguinte modo: uma fórmula da forma PC α será tida como verdadeira em um instante
t sse houver um instante u anterior a t, e α for verdadeira no intervalo fechado [u, t].
Já uma fórmula da forma I α será tida como verdadeira em um instante t sse houver
um instante v anterior a t, e um instante u anterior a v, e α for verdadeira no intervalo
Abstracts / Resumos 31

fechado [u, v]. É fácil perceber que, dadas essas interpretações, I pode ser obtido a par-
tir de PC, já que uma fórmula da forma I α terá as mesmas condições de verdade que
outra da forma P (PC α).
Tendo apresentado o sistema formal T, pretendemos mostrar pelo menos as linhas
gerais de uma prova que obtivemos de sua correção e completude com relação ao con-
junto de todas as estruturas supracitadas, isto é, uma prova de que os teoremas de T
são precisamente aquelas fórmulas de L T que são válidas em todas as estruturas em
questão. Os conceitos e técnicas utilizados para provar a completude de T foram ex-
traídos do artigo ‘Basic tense logic’, de J. Burgess. De fato, o conjunto dos teoremas de T
que não envolvem os operadores I e PC é idêntico ao conjunto dos teoremas do sistema
formal L6 , apresentado por Burgess no artigo mencionado. Assim, nosso sistema T é
uma extensão de L6 , e os conceitos e técnicas utilizados na prova da completude de T
são, como era de se esperar, extensões dos conceitos e técnicas utilizados por Burgess
para provar a completude de L6 .
A motivação que tivemos para trabalhar com os operadores PC e I foi a proximi-
dade que a interpretação dada a esses operadores possui com relação a alguns usos
de tempos verbais que ocorrem em línguas naturais. Desse modo, embora se trate de
um trabalho em lógica temporal, acreditamos que o objeto de nossa comunicação pos-
sua alguma relevância também para a linguística ou a filosofia da linguagem. De fato,
uma vez que os operadores temporais que introduzimos, juntamente com os tradi-
cionais P e F, tornam a linguagem L T razoavelmente próxima de línguas naturais como
o português, acreditamos que, em princípio, o sistema formal T pode nos fornecer um
mecanismo inferencial capaz de resgatar o modo como, intuitivamente, racionamos
acerca do tempo.

Caroline Elisa Murr caromurr@gmail.com


Universidade Federal do Paraná
Muitos mundos e a Interpretação Ondulatória: revendo a conexão à luz da
losoa Schrödingeriana

Alguns autores, entre eles John Gribbin, Lev Vaidman e Michel Bitbol, afirmam que a
Interpretação de Muitos Mundos da Mecânica Quântica (“Many Worlds Interpretation”-
MWI) pode ter sido inspirada em Schrödinger. Neste artigo, argumentamos que tal in-
spiração não considerou adequadamente a contraparte filosófica de seu pensamento,
o que é compreensível levando-se em conta a fraca expressão da sua filosofia com-
parativamente aos outros expoentes da Revolução Quântica. Do ponto de vista físico,
pode-se dizer que a Interpretação Ondulatória de Schrödinger rejeitava o colapso da
função de onda; a superposição não deixaria de existir no ato da medição, dando lu-
gar a uma medida clássica. Schrödinger defendeu, em algum momento, que a expli-
cação por meio do colapso não era necessária, sendo suficiente interpretar a Mecânica
Quântica com base em uma teoria ondulatória. Do ponto de vista filosófico, a inter-
pretação por meio da abordagem ondulatória era também harmônica com a filosofia
de Schrödinger, que, em última instância, sugere a unidade de todas as coisas em um
“todo homogêneo”, sob uma espécie de monismo. Para Schrödinger, a unidade é fun-
32 IX Principia International Symposium

damental e as separações entre sujeitos e objetos são artificialmente estabelecidas.


Tais divisões fariam parte do processo de “objetivação” do mundo. A esfera cotidiana
segue essa objetivação, mas uma esfera científica poderia ser construída com total in-
dependência, embora, na ciência ocidental, tenha partido também do mesmo princí-
pio. Tal independência explica porque Schrödinger nega o colapso: este pode ser visto
como uma tentativa de se moldar a realidade física de acordo com os mesmos padrões
adotados no cotidiano. Esses padrões, em muitos aspectos, confundem-se com aque-
les da Física Clássica, abalado diante das situações quânticas.
Relaciona-se a interpretação de Schrödinger à de muitos mundos partindo da re-
jeição do colapso, defendendo-se que este permite a realização de cada uma das "pos-
sibilidades" contidas na superposição em um mundo distinto. Portanto, o que ocorre-
ria no momento da medição, para essa interpretação, seria a coexistência dessas pos-
sibilidades realizadas em muitos mundos.
Uma forma de encontrar harmonia de MWI com a filosofia de Schrödinger é conectá-
la à teoria segundo a qual o mundo é constituído de uma espécie de estofo neutro,
moldado conforme as tendências, e ao longo da experiência, humanas. No entanto,
a forma com que o ser humano constrói objetos e sujeitos nesse mundo não é fixa e
poderia ser diferente. Uma expressão disso seriam as muitas possibilidades contidas
em um estado de superposição. Por outro lado, Schrödinger sugere que o pensamento
filosófico ajude a remodelar os padrões epistemológicos forjadores das construções
ontológicas humanas. Logo, seria mais coerente com as suas ideias assumir a super-
posição como uma situação epistemológica peculiar, resultante de um tipo de combi-
nação matemática aplicada ao contexto da Mecânica Quântica. Sua consequência on-
tológica seria não a realização de possibilidades em muitos mundos, equivalentes a um
colapso em cada mundo, mas um estado quântico que não faz parte dos invariantes da
vida cotidiana. A Ciência e a Filosofia podem, ao longo do tempo, levar os equivalentes
de noções como essas ao senso comum, influenciando os padrões de construção da
realidade.

Celso de Moraes Pinheiro celso.mpinheiro@uol.com.br


UFPR / Dtpen
O desao liberal de garantir o pluralismo cultural através de uma política de
tolerância e reconhecimento

Um dos grandes problemas da Filosofia política contemporânea, em especial quando


se trata de Estados liberais, diz respeito à questão de como garantir a preservação das
identidades culturais e as demandas pelo reconhecimento de sua diversidade e partic-
ularidade. Mais precisamente, abordaremos a questão pelo viés das considerações de
John Rawls acerca do que seja uma sociedade liberal, isto é, uma sociedade que deve
garantir à cada um de seus membros a liberdade para escolher e realizar sua própria
concepção de “vida boa”. Um primeiro ponto que se instaura, a partir dessa consider-
ação do liberalismo, é saber como garantir a liberdade não apenas de um ponto de vista
formal, mas também material e efetivo. Nesse sentido, considerações sobre o compo-
nente jurídico do Estado podem ser relevantes para que se busque uma garantia de
Abstracts / Resumos 33

efetiva manutenção do princípio de liberdade igual para todos os cidadãos. Aliadas


às questões de garantia de liberdade, surgem questões sobre políticas de tolerância e
reconhecimento face aos desafios do convívio pacífico entre concepções distintas, e
por vezes, até conflitantes. As demandas por parte de grupos que se sentem afastados
dos direitos no seio das sociedades, aliado à necessidade democrática de garantia de
direitos e liberdade igual para todos, impõem o desafio político para se buscar uma in-
tegração efetiva entre a proteção devida pelo Estado aos direitos culturais e a promoção
e preservação de culturas por meio de vantagens específicas. A questão que surge ime-
diatamente a partir de problemas como esse é saber sobre a possibilidade de uma so-
ciedade liberal garantir a diversidade cultural protegendo, de forma específica, culturas
minoritárias. Deve-se analisar se essa promoção de vantagens específicas, para grupos
que se sentem, ou realmente são, afastados dos benefícios de direitos iguais e liber-
dade, não estará, em última instância, provocando uma contradição à idéia de igual-
dade absoluta, onde os membros de um Estado não devem ser considerados e tratados
em função de sua posição ou status na sociedade. Em resumo, buscaremos verificar
a possibilidade de se fundar políticas multiculturalistas para a preservação da diversi-
dade de identidades culturais e como os princípios de tolerância e reconhecimento são
fundamentais para a possibilidade de garantia do pluralismo cultural em sociedades
democráticas.

Charles Feldhaus charlesfeldhaus@yahoo.com.br


Universidade Estadual de Londrina
A concepção de Rawls de Direito Internacional

O foco desse estudo é reformulação rawlsiana da ideia de Kant de uma ordem mundial
pacífica, tal como imaginou o filósofo alemão em Zum ewigen Frieden, no § 58 da
obra A Theory of Justice (1971) e na obra The Law of Peoples (1999). É importante
ressaltar que mesmo leitores simpáticos à justiça como equidade de John Rawls, rea-
giram de forma adversa à extensão da justiça à esfera internacional, tal como apre-
sentada por Rawls em The Law of Peoples. como Thomas Pogge, em The Incoherence
between Rawls’s Theory of Justice, o qual procura mostrar que existem diversas incon-
sistências entre a posição de Rawls em The Law of Peoples com aquela desenvolvida em
A Theory of Justice. Não obstante, há também quem sustente, como Nilli em A Poggean
Passport for Fairness? Why Rawls’s Theory of Justice did not become global, que as su-
postas inconsistências na concepção rawlsiana somente existem na medida em que
se deixa de considerar a herança do pensamento político de Rousseau na concepção
política de direito internacional de Rawls, ou seja, Pogge teria enfatizado demais a in-
fluência de Kant no pensamento de Rawls e ignorado a influência de Rousseau. O que
também parece em parte ser a posição de Freeman, que considera que muitas críticas
a The Law of Peoples são frutos de uma falta de se prestar atenção ao fato que essa obra
deve ser interpretada muito mais à luz da obra Political Liberalism do que da obra A
Theory of Justice. Enfim, mesmo que se quisesse conceder aos defensores da concepção
de direito internacional rawlsiana, que os críticos poderiam ter feito uma leitura sele-
tiva do pensamento rawlsiana, ignorando a influência de Rousseau e a ênfase numa
34 IX Principia International Symposium

concepção política de justiça e não numa concepção de justiça distributiva no direito


internacional, com Rainer Forst em The Right to Justification. Elements of a Construc-
tivist Theory of Justice, afirmaria que uma teoria da justiça tem aspectos descritivos e
aspectos normativos, e que um erro grave no desenvolvimento dos aspectos descritivos
pode levar a uma concepção distinta no aspecto normativo do que uma descrição mais
adequada poderia implicar. Rawls comete um erro descritivo grave em The Law of Peo-
ples ao explicar a causa da desigualdade global apenas com base em fatores domésti-
cos, razão pela qual ele exclui qualquer preocupação mais abrangente com consider-
ações de justiça distributiva na esfera internacional. Não pretendo defender que uma
concepção mais abrangente necessariamente se seguiria de uma melhor descrição das
causas da desigualdade global, mas apenas sustentar que seria preciso repensar uma
teoria da justiça distributiva à luz dos novos fatos.

Christian de Ronde cderonde@gmail.com


Philosophy Institute Dr. A. Korn Buenos Aires University, CONICET - Argentina Center
Leo Apostel & Foundations of the Exact Sciences Brussels Free University - Belgium
Quantum Superpositions Do Exist! But `Quantum Physical Reality 6= Actual-
ity(Reply to Dieks and Griths)

In this paper we analyze the definition of quantum superpositions within orthodox


Quantum Mechanics (QM) and their relation to physical reality. We will begin by dis-
cussing how the metaphysical presuppositions imposed by Bohr on the interpretation
of QM have become not only interpretational dogmas which constrain the limits of
the present Orthodox Line of Research (OLR), but also how these desiderata implicitly
preclude the possibility of developing a physical representation of quantum superpo-
sitions. We will then continue analyzing how most interpretations of QM argue against
the existence of superpositions. Firstly, we will focus on those interpretations which at-
tempt to recover a classical representation about “what there is”, and secondly, we will
concentrate on the arguments provided by Dieks and Griffiths who, staying close to the
orthodox formalism, also attempt to “get rid of the ghost of Schrödinger’s cat”. Contrary
to the OLR, we will argue — based on our definition of Meaningful Physical Statements
(MPS) — that from a representational realist perspective which stays close to the ortho-
dox Hilbert space formalism, quantum superpositions are not only the key to the most
important — present and future — technological and experimental developments in
quantum information processing but also, they must be considered as the kernel of
any interpretation of QM that attempts to provide a physical representation of reality.
We will also argue that the price to pay for such representational realist development
must be the abandonment of the (dogmatic) idea that ‘Actuality = Reality’.

Christopher Menzel
Texas A&M University
A Structuralist Conception of Possible Worlds

Let ‘E !x’ mean that x exists, or is actual. Possibilism is the thesis that there are mere
Abstracts / Resumos 35

possibilia, objects that could have existed but, in fact, do not; symbolically, ♦∃x(♦E !x ∧
¬E !x). Actualism is possibilism’s denial. For the actualist, there could not have been
any mere possibilia — to be is simply to exist, to be actual; there is no division among
the things there are into different “modes” of being, the robustly actual and the merely
possible.
Basic possible world semantics (BPWS) for quantified modal languages is widely
thought to provide the most powerful and illuminating model theoretic analysis of our
ordinary modal discourse. But for actualists, for all its power and appeal, BPWS is prob-
lematic. In its simplest and most intuitive form, BPWS validates both the propositional
modal logic S5 as well as the so-called Barcan formula (BF), ♦∃xF x → ∃x ♦F x, which
tells that if there simply could be an F , then there is in fact something that is possibly
F . This leaves the actualist in a dilemma: most actualists embrace S5 as the system
corresponding most closely to our strongest logical intuitions about modality; but BF,
together with other strong and widely shared modal intuitions, appears to entail possi-
bilism.
After rehearsing several unacceptable proposals for solving the actualist’s dilemma, I
will approach the problem by drawing upon ideas from the literature on mathematical
structuralism to lay out a general structuralist conception of possible worlds and the
metaphysics of modality generally. Briefly, the idea is that certain models of a modal
language can be viewed as structural representations of ways things could have been.
This provides us with a way of understanding possible world semantics that is both
realist — in the sense possible world models can genuinely represent modal reality —
and free of any commitment to possibilia. I will then develop this conception in two
ways. Drawing upon ideas from modal structuralism, I will first build upon Kripke’s
variant of BPWS so as to invalidate BF. I will then sketch an alternative development
in which, by analogy with ante rem structuralism, the “positions” in the structures that
certain possible world models exhibit can play the role of possibilia. I will argue that
this suggests a way in which that the actualist can accept BPWS and the validity of BF
without incurring the undesirable metaphysical commitments of possibilism.

Cícero Antônio Cavalcante Barroso ciceroacb@bol.com.br


Universidade Federal do Ceará
Mundos possíveis na análise do ceticismo informacional

No artigo “Information, Possible Worlds and the Cooptation of Scepticism” (Synthese,


175:63-88, 2010), Luciano Floridi analisa dois tipos de ceticismo acerca de nossa ca-
pacidade de discernir informação de desinformação. Para empreender essa análise, ele
usa o aparato formal dos mundos possíveis acrescido de outros dispositivos matemáti-
cos (nomeadamente, números de Borel e distância de Hamming), de modo que se
torna possível avaliar com precisão as condições de verdade de enunciados de atribuição
de informação. De todo modo, para que essa análise funcione de acordo com os propósi-
tos explicativos de Floridi, um expediente que parece providencial é a adoção de uma
definição de informação arraigada em uma concepção particular do conceito. Tal defini-
ção é oriunda de outros trabalhos de Floridi e, em geral, aparece formulada deste modo:
36 IX Principia International Symposium

“informação são dados bem formados, significativos e verdadeiros”. A partir daí, torna-
se possível estabelecer uma relação entre o caráter informativo de um conteúdo c e o
número de mundos possíveis em que c é verdadeiro. A relação é inversamente pro-
porcional até certo limite. O conteúdo c deixa de ser informativo se for verdadeiro
em todos os mundos possíveis, e é informativo em grau máximo quando é verdadeiro
em um único mundo possível. É fácil concordar que esse é o limite da informativi-
dade, sendo sensato atribuir perda total de informação a qualquer conteúdo que seja
necessariamente falso. Nessas condições, o questionamento cético acerca do caráter
informacional dos dados que discriminamos em nosso mundo adquire uma formu-
lação mais clara e expedita. A questão cética seria a seguinte: é possível estabelecer
quando um conteúdo c é realmente informativo em um mundo W? As respostas pos-
síveis a essa questão podem ser igualmente iluminadas pelas noções matemáticas em-
pregadas por Floridi, e com isso delimita-se uma diferença bem marcada entre um tipo
de ceticismo radical e um ceticismo moderado em relação ao caráter informacional de
uma estrutura de dados. O propósito de minha comunicação será o de avaliar as con-
sequências de usar a análise floridiana em conjunto com uma definição mais ampla de
informação. A definição que me proponho a testar é a mesma que propus em outros
trabalhos e que analisa informação em termos de sistemas de decodificação e regras de
transição de estado. Declaradamente, o que essa definição afirma é que x é informativo
se e somente se existe um sistema de decodificação hipotético S que muda de estado
ao receber x. Minha hipótese inicial é de que, nesse caso, a análise do caráter informa-
tivo de uma estrutura de dados em termos de mundos possíveis ainda é legítima, desde
que se façam as devidas adaptações. No entanto, pode-se prever que a interpretação
do questionamento cético será diferente. Nesse novo cenário, a defesa de um ceticismo
moderado parece mais bem justificada do que na análise proposta por Floridi, uma vez
que, agora, o que se pretende não é avaliar a verdade da informação, mas a sua eficácia.

Cinthia Berwanger Pereira cinthiaberwan@hotmail.com


Mestranda - UFSC
Wesley Felipe de Oliveira wesley.filosofia@hotmail.com
Doutorando - UFSC
Uma crítica aos tipos de deveres em relação aos animais não humanos em
Zoopolis
O tema libertação animal pode ser considerado uma das questões mais discutidas at-
ualmente, não apenas no âmbito das ciências humanas, como direito, filosofia e so-
ciologia, mas também nas ciências exatas, tais como na biologia e medicina. Na obra
Zoopolis: a political theory of animals rights, Donaldson e Kymlicka desenvolveram
uma teoria política na qual os animais não-humanos são detentores de direitos as-
sim como os animais humanos. Zoopolis tem como objetivo desenvolver os conceitos
utilizados nas teorias de ética e política prática para, então, suplementar e estendê-
los às então conhecidas como “teorias tradicionais” de direitos animais. Donaldson e
Kymlicka defendem que as “teorias tradicionais” desenvolvidas na Ética/Direito Ani-
mal, cujos representantes seriam Singer e Regan e predominantes até então, fornece-
Abstracts / Resumos 37

ram uma base satisfatória às teorias de libertação animal ao atribuírem Direitos Morais
Universais aos seres sencientes, isto é, capazes de sentir dor e prazer. Zoopolis foi além
das teorias tradicionais e apresentou, por sua vez, uma teoria prática na qual os an-
imais são separados em três categorias: animais domésticos, animais silvestres e an-
imais limiares. Cada uma dessas três categorias possui direitos e obrigações especí-
ficas. De acordo com os autores, os animais domésticos, como cães, gatos, hamsters,
etc., seriam nossos co-cidadãos e, dessa maneira, possuiriam direitos e deveres simi-
lares aos nossos, animais humanos, como direito à saúde, alimentação, e até mesmo
representação política. Os animais limiares são os animais que convivem tanto no am-
biente das cidades quanto nos selvagens. São animais que não podem ser considera-
dos domésticos, mas que ainda assim vivem, de alguma forma, entre os humanos. São
animais como ratos, pássaros, cães do mato, etc. Estes animais são tomados em Zoopo-
lis como estrangeiros e possuiriam direitos similares aos estrangeiros quando em um
país que não o seu, como direito aos cuidados médicos, porém, não teriam direito a
representação política, por exemplo. Por fim, os animais selvagens como leões, ele-
fantes, onças etc., seriam considerados por Donaldson e Kymlicka como soberanos, e
tal como as nações soberanas, são considerados independentes e possuem o direito de
não interferência. Analisaremos neste trabalho as críticas que Alasdair Cochrane de-
senvolveu em um artigo acerca da teoria exposta em Zoopolis. Cochrane afirma que
Donaldson e Kymlicka falharam em capturar a variedade de deveres que os seres hu-
manos possuiriam para com os animais, pois, basearam esses deveres nas relações em
que esses animais possuiriam com os seres humanos. Cochrane alega que distinções
baseadas no tipo de relação que os animais possuem com seres humanos e no grupo
ao qual o animal pertence são menos importantes do que os autores de Zoopolis con-
cluem. Neste artigo debateremos criticamente a obra Zoopolis, assim como a posição
de Cochrane, apresentando, por fim, nossos argumentos diferentes para as mesmas
propostas e conclusões defendidas por esse autor.

Cristina Foroni Consani crisforoni@yahoo.com


Pós-doutoranda em Direito - UFRN - PNPD / CAPES
Sobre tolerância e democracia em Jeremy Waldron

Este trabalho analisa a relação entre tolerância e democracia a partir das teses de Jeremy
Waldron. O objetivo do texto é discutir em que medida uma teoria liberal e radical-
mente democrática como a de Waldron oferece respostas para se lidar com a intol-
erância, seja ela religiosa, étnica ou mesmo político-ideológica, não por parte do Es-
tado, mas por parte de grupos que podem vir a se tornar maiorias legislativas dentro
de Estados democráticos e, por conseguinte, colocar em risco o próprio princípio da
neutralidade tão aclamado pelo liberalismo, assim como outros direitos fundamentais
que também fazem parte da compreensão democrática de sociedade.

Daniela Moura Soares danielams.d@gmail.com


Mestranda - Universidade Federal do Rio de Janeiro
38 IX Principia International Symposium

The epistemic argument against the Platonist view of mathematics

The platonist view of mathematics can be put as the conjunction of the following the-
ses: a) there are mathematical objects, b) these mathematical objects are abstracts, c)
these objects exist necessarily and independently of any cognitive agents able to con-
ceive them, d) The mathematical truths are about theses abstract objects. From the
platonist’s point of view, mathematical propositions such as the one expressed by the
sentence “3 is a prime number” are about abstracts objects, that is, objects that do not
have spatiotemporal location. Thereby, in the same way that the name “Plato” in the
sentence “Plato is mortal” refers to the Plato person, the numeral “3” in the sentence
“3 is a prime number” refers to the number 3. The referents of the terms “Plato” and
“3” have, however, distinct natures: in the first case, the object referred to is a concrete
object and in the second the object referred to is an abstract object. Against this view,
Benacerraf (1973) presented the following argument: if we accept a causal explana-
tion of knowledge — according to which if S knows that P , then the fact corresponding
to P is the thing which causes S to have a true believe — together with the Platon-
ist view of mathematics, then the knowledge of mathematical propositions would not
be possible. If abstract entities are causally inert and if the facts corresponding to the
mathematical propositions are constituted by abstracts objects, these facts are them-
selves abstract entities and hence cannot be the cause of any true belief of any cog-
nitive agent. It seems, however, that there is no controversy about the possibility of
mathematical knowledge. Therefore, the following dilemma is true: either this causal
explanation of knowledge is incorrect or mathematical Platonism is a mistaken view.
Since it seems that there is nothing wrong with this causal explanation of knowledge,
it follows that the Platonist view of mathematics is mistaken. Now, Benacerraf’s point
is to show that there is an incompatibility between a good semantics and a good epis-
temology for mathematics. On the one hand, if we interpret mathematical sentences
(like “3 is a prime number”) at face value — that is, as having the same logical form
as “Plato is mortal” —, then the semantic explanation for mathematics will be all right,
but the epistemological one will not. On the other hand, if we reinterpret mathematical
sentences so as not to quantify over abstract entities, there will be no epistemological
difficulties, but we will be unable to explain why it seems that sentences like “3 is a
prime number” mean that there is an object — an abstract object, in this case — that
has a certain sort of property, namely, the property of being a prime number. That
is, we will have a semantic problem. All replies to Benacerraf’s argument try to deny
that there is an incompatibility between the mathematical Platonism and a satisfactory
epistemology for mathematics. In this communication, I will analyse some answers to
this argument, namely, Hale’s (1994), Balaguer’s (1988, cap.3) and Linnebo’s (2008). I
will argue, specifically, that Balaguer’s reformulation of traditional mathematical Pla-
tonism — namely, his full-blooded platonism — is the best of these three answers, and
also that the objections proposed by Colyvan & Zalta (1999) and Restall (2003) can be
satisfactorily answered.
Abstracts / Resumos 39

References
BALAGUER, M. ‘Platonism and Anti-Platonism in Mathematics’. Oxford: Oxford University Press,
1998.
COLYVAN, M. and ZALTA, E. N., ‘Mathematics: Truth and Fiction?’ Philosophia Mathematica, 7(3),
p. 336-349, 1999.
LINNEBO, Ø., ‘The nature of mathematical objects’. In: B. Gold and R. Simons (eds.) Proof and
Others Dilemmas: Mathematics and Philosophy. Washington: Mathematical Association of
America, p. 205-219, 2008.
HALE, B. ‘Is Platonism Epistemologically Bankrupt?’ The Philosophical Review, Vol. 101, No. 2, p.
299-325, 1994.
RESTALL, G., ‘Just what Is full-blooded platonism?’, Philosophia Mathematica, 11(1), p. 82-91,
2003.

Daniela Silveira Rozados da Silva rozados.daniela@gmail.com


Pesquisadora de pós-doutorado, Instituto de Estudos Avançados, IEA - Departamento de
Filosoa, USP
Gender inequality and the obstacles that female researchers currently face in
science and technology careers

Despite all the improvements that have been happening in the last decades, women
still face lots of difficulties and obstacles in science and technology area. Although the
presence of women has increased in scientific and technological institutions, they still
do not enjoy full equality condition. Female scientists have to stand up to numerous
challenges: discrimination, low self-confidence, dissatisfaction, sub citation by their
peers, unequal pay, funding disparities, difficulty finding jobs, difficult raising a family
and reconcile this with the academic career, bullying and sexual harassment, to name
some of them. This bias in institutions and careers can assume a subtle expression in
the daily life, but it can be also explicit and even aggressive. The subtle expressions
persist in most universities around the globe. At its most intense expression, this kind
of bias drives women out of science careers. Entering and mainly staying in science is
a persistent problem, since a lot of qualified women drop out science careers at early
stages. All these elements create an academic culture in which women don’t feel wel-
come, a context that seems to tell them all the time “you don’t belong here”. This sense
of not belonging has a very powerful effect on women, especially on the younger.
In order to combat the problem properly, it is important assuming a feminist per-
spective. Only from that point of view it is possible to address all the problems female
scientists face in their science careers, to develop relevant and often overlooked and
unseen questions, as well as proposing alternatives to possible solutions. To accom-
plish this objective, we propose at first to present a brief review of what kind of obsta-
cles women face in science and technology careers, and to point out the elements and
experiences that disclose the lack of equality in working conditions. We also intend
to, from a more accurate characterization of the phenomenon, propose a new inter-
pretation about the gender inequality in science and technology and to qualify it as a
scientific misconduct, in other words, as a kind of conduct that is not consistent with
the recommendation of good scientific practice.
40 IX Principia International Symposium

We argue that this kind of unequal treatment towards women injures one of the rules
of scientific ethos, namely universalism. According to Robert Merton, universalism is
the requirement that the acceptance or rejection of scientific propositions is not linked
to personal or social attributes of their makers. Therefore, we argue that sexism in sci-
ence and technological institutions should be treated in a serious way, from an ethical
point of view, and should be considered as problematic as another ethical problems or
scientific misconduct (or even more problematic than), such as falsification, fabrica-
tion, fraud, plagiarism. Therefore, these behaviors should be downright discouraged
by the entire scientific community, as conducts that deeply harm and violates the stan-
dard codes of scholarly conduct and ethical behavior in professional scientific research.

Danilo Dantas dfdantas@ucdavis.edu


PhD Student at University of California, Davis
Accessible beliefs as modalities

A reasoner R = 〈L, K B, π〉 may be represented as a directed graph in which the nodes


are sets of sentences in L. The graph of R is constructed by adding K B as the initial
node of the graph (K B 0 ) and then by adding the results of iterating function π for all
nodes in the graph and all integers in the domain of the function (the graph may be
infinite). The nodes of the graph represent the epistemic situations of the reasoner after
executing a certain number of inferences. The arrows in the graph represent inferences,
which are executions of function π for a given node in the graph and a given integer i .
In this context, there exists an arrow labeled i from a node K B w to a node K B w 0 in
the graph iff K B w 0 is the output of executing function π for the inputs K B w and i (i.e.
K B w 0 = π(K B w ; i )).
Example 1: Graph of R = 〈L, K B, π〉, in which K B = ; and function π is such that
π(K B ; 0) does nothing, π(K B ; 1) adds φ to K B , and π(K B ; 2) adds ψ to K B , and is unde-
fined for i > 2.
The graph of a reasoner R represents both the explicit and the accessible beliefs of
R. The explicit beliefs of R (beliefsex ) in an epistemic situation K B w are the sentences
in K B w . In the example R believesex φ and nothing more in the epistemic situation
K B 1 . The accessible beliefs of R (beliefsac ) in an epistemic situation K B w are the sen-
tences in a K B w 0 such that there exists an arrow from K B w to K B w 0 . In other words,
the set of beliefsac of R in the situation K B w is the set π(K B w ) = n π(K B w , i ). In
S
i =0
the example, R believesac φ and ψ and nothing more in K B 1 .
In this case, we can interpret the epistemic situations in the graph of R as (im)possible
worlds1 and the function π of R as an accessibility relation between (im)possible worlds.
The pair 〈K B w , K B w 0 〉 is in the accessibility relation π (i.e. π(K B w ; K B w 0 )) iff there ex-
ists an i such that K B w 0 = π(K B w ; i ). In this context, we can give a modal interpre-
tation for the notion of beliefsac where ♦φ is true at K B w iff R believesac φ at K B w
1 Impossible worlds are worlds in which the laws of classical logic fail (see Priest, 1997). For exam-
ple, the law of excluded middle may fail in an epistemic situation KB because it it is the case that
(φ ∨ ¬φ) ∉ K B .
Abstracts / Resumos 41

(i.e. φ ∈ π(K B w )).2 However, since K B w are impossible worlds, ♦φ being true at K B w
does not entail that ♦φ ∈ K B w . This may be the case, for example, because L may not
contain modal operators.
Let a function π be strictly idealac for a logic |=x iff the following requirements hold:
(i) φ ∈ π(K B w ) iff K B w |=x φ;
(ii) π(K B w , K B w 0 ) for K B w 0 ⊆ π(K B w ).
In this context, there exists a relation between properties of |=x , properties of a func-
tion π which is strictly idealac for |=x , and the modal formulas π validates (see Table
1).

Logic |=x Function π Modal Formulas


Reflexivity Reflexivity φ → ♦φ (T)
Cut Transitivity ♦♦φ → ♦φ
Cautious monotony Euclidean relation ♦φ → 2♦φ

Table 1. Relation between properties of a logic, properties of a function π which is


strictly idealac for that logic, and the modal formulas that π validates.

Classical logic |=c is reflexive, exhibits cut, and is CM, then a function π which is
strictly idealac for |=c is reflexive, transitive, and Euclidean, and, therefore, an equiv-
alence relation. This means that the set of beliefsac (π(K B )) of a reasoner R with a
function π which is strictly idealac for |=c does not change with any amount of rea-
soning (π(K B ) = π(π(K B ))). This seems to be a good result. However, a well-behaved
nonmonotonic logic |=n is also re exive, exhibits cut, and is CM (see Antonelli, 2005,
p. 4-7). This means that the set of beliefsac (π(K B ))) of a reasoner R with a function
π which is strictly idealac for |=n also does not change with any amount of reasoning
(π(K B ) = π(π(K B ))). This is not a good result because the main feature of nonmono-
tonic inference is that conclusions may be withdrawn after some amount of reasoning.
For this reason, I don’t think that the notion of beliefsac is adequate for expressing ideal
nonmonotonic reasoning.

References
ANTONELLI, A. ‘Grounded Consequence for Defeasible Logic’. Cambridge University Press, 2005.
PRIEST, G. ‘Impossible worlds - editor’s introduction’. Notre Dame Journal of Formal Logic, 38(4),
p.481-487, 1997.

Débora de Sá Ribeiro Aymoré deboraaymore@yahoo.com.br


PhD Student - University of São Paulo
Innovation and human dignity: a social approach to scientic progress

We have developed an evaluative perspective to scientific progress focused on the in-


teraction between science and social values. In order to establish a concrete basis to our
2 In other words, ∃x(φ ∈ π(K B , i )) or ∃w 0 (π(K B , K B ) ∧ φ ∈ K B ).
w w w0 w0
42 IX Principia International Symposium

reflection, we have analyzed social values as they have been expressed in the Brazilian
federal legislation, mostly in the Federal Constitution of Brazil (1988) and the Innova-
tion Law (2004). Based on their description we have been able to identify both social
interests directed to technological incentives that can be contrasted with those that aim
social protection.
Therefore, most practical situations express tensions between innovation and hu-
man dignity, two highly esteemed social values. Instead of a subjective approach to
those values, we have developed an intersubjective one, by the comparison between
the idealistic legal perspective present at the Brazilian legislation and the real expres-
sions of those values, as they have been exercised in the practice of genetic advice by
the Research Center of Human Genome and Stem Cells in the University of São Paulo,
Brazil. The ethical dilemmas that emerge from this practice express are of great inter-
est not only to the philosophical debate about the advances of biotechnology, but also
to enable social reflection on possible limitations to its applications.
Typically, philosophical approaches to scientific progress focus on the development
of theories and methodologies. But, contemporary approaches to science have both
recognized the interactions between science and values, such as, Larry Laudan and He-
len Longino, and also state the interrelation between science, technology, and society,
such as, Hugh Lacey and Philipp Kitcher. Although with differences in their perspec-
tives, these authors currently represent a trend in the philosophy of science, with which
we are aligned to.
Beyond their approaches, we have evaluated scientific progress according to the de-
gree to which social values were met (or not) in the practice of genetic advice. Because,
although biotechnology has increased the precision of the genetic diagnosis, this scien-
tific activity also raise doubts about, for instance, the disclosure of genetic information
and many possible consequences to human lives when applied in the social context, for
example, discriminatory attitudes directed to people whose genetic information were
released, or even problems related to biologic paternity. We consider that social impact
of scientific and technological practices must be publically discussed in order to allow
humans to detect more easily benefits and possible risks of those same practices.

References
KUHN, T. S. ‘The structure of scientific revolutions’. 2nd ed. Chicago: University of Chicago Press,
1970a [1962].
———. ‘Postscript’. In: T. S. Kuhn. The structure of scientific revolutions. 2nd ed. Chicago:
University of Chicago Press, 1970b [1969], p. 174-210.
LACEY, H. ‘Is science value free?: values and scientific understanding’. Great Britain: Routledge,
2005a [1999].
———. ‘Values and objectivity in Science: the current controversy about transgenic crops’. USA:
Lexington Books, 2005b.
KITCHER, P. ‘Science, truth, and democracy’. New York: Oxford University Press, 2001.
LAUDAN, L. ‘Progress and its problems’. Berkeley/Los Angeles/London: The University of Califor-
nia Press, 1977.
———. ‘Science and values: the aims of science and their role in scientific debate’. Berkeley/Los
Angeles/London: The University of California Press, 1984.
Abstracts / Resumos 43

LONGINO, H. ‘Science as social knowledge: values and objectivity in scientific inquiry’. USA, New
Jersey: Princeton University Press, 1990.
———. ‘The fate of knowledge’. New Jersey: Princeton University Press, 2002.
NELKIN, D., LINDEE, M. S. ‘The DNA Mystique: the gene as a cultural icon’. 4 ed. USA: University
of Michigan Press, 2007 [2004].

Décio Krause deciokrause@gmail.com


UFSC
Quantum mechanics and inconsistent superpositions

In this talk I shall present some arguments against the claim that quantum mechan-
ics (QM) may involve contradictory attribution of properties to physical systems. After
analyzing this idea, I propose an alternative view in arguing that even if we accept the
questionable claim that we can speak of properties of a quantum system before mea-
surement (something that of course can be disputed), the properties in the most inter-
esting case (for instance, those involving the Schrödinger’s cat) are better characterized
as contrary in the sense of the square of opposition rather than contradictories. Thus,
if inconsistencies are to be found in QM, they must be looked for in other places.

Deivide Garcia da Silva Oliveira deividegso@gmail.com


Doutorando - UFBA
Waldomiro José da Silva Filho
UFRB
Feyerabend: Uma Proposta De Racionalidade

A exposição da racionalidade feyerabendiana abriga uma série de interlocuções com


princípios e valores de pesquisa para a (des)construção da sua filosofia, sejam os princí-
pios que ele aponta como modus operandi racionalista sejam os que Feyerabend indi-
retamente “adota/usa/desusa” por força de alguma crida necessidade.
Destarte, a fim de esclarecer o cenário da proposta da racionalidade anarquista,
citaremos alguns princípios que Feyerabend ou informa certo tipo de apoio ou ataca.
Desta forma, esperamos esclarecê-los quais sejam: o Anything goes, a contra-indução,
o princípio da condição de consistência, o princípio de proliferação, o princípio de au-
tonomia, as interpretações naturais via o método da anamnese, a noção de desenvolvi-
mento desigual de teorias, o princípio da relatividade linguística, o princípio do cosmos
ordenado e as normas sobre troca guiada e troca aberta, oportunismo, o humanismo e
etc.
Naturalmente, é sabido que alguns destes aspectos são apontados por Feyerabend
como sendo de uso exclusivo do racionalista e outros como necessários para fazer
oposição ao racionalismo, contudo, o que eles especificamente denotam, como se en-
quadram no conjunto da filosofia feyerabendiana e, principalmente, em que medida
eles a subsidiam e/ou desservem? Responder a estas questões será de utilidade não
apenas na medida em que lançamos luz sobre o que seja a filosofia de Feyerabend,
44 IX Principia International Symposium

senão que, também e mais importante, impactarão no tema do conhecimento cientí-


fico através de um direcionamento sobre a filosofia anarquista. Nesta senda, será tanto
mais esclarecedor para o leitor, quanto fiel à Feyerabend se, para atribuirmos-lhe qual
seja sua racionalidade e se ele a possui de fato, não usemos um método direto ou posi-
tivo de definição, ao menos de inicio, senão que antes busquemos esclarecer os chama-
dos valores anarquistas do nosso autor.
Deste modo, nossas maiores considerações vão apontar para o entendimento da
racionalidade feyerabendiana: 1- segundo os parâmetros estipulados pela linha anar-
quista não-ingênua; 2- em diálogo com os elementos e princípios descritos, tais como
o Anything goes e 3- de modo negativo, tal como fazia Platão para conduzir seus dis-
cípulos sobre o entendimento do Eidos de Bem, i.e., de modo algum iniciando seus
escritos e cursos pelo Bem, senão que por exemplos, explicações e ideias auxiliares e
conectadas, até que enfim um dia fosse possível entender o Bem “tal como uma fag-
ulha que se acende de repente”. Como afirmou Halina Leal sobre os motivos que aju-
dam a fortalecer nossa escolha metodológica de abordagem, se pode deslindar que “o
autor não defende explicitamente uma certa forma ou noção de racionalidade cientí-
fica” (LEAL, 2002, p. 85-6). Logo, tentaremos conduzir o entendimento de racionali-
dade anarquista feyerabendiana via, grosso modo, indireta. Sob tais prerrogativas, nos
dirijamos à questão pelo entendimento da racionalidade a partir de um conjunto de
princípios interconectados e sobre como eles contribuem para o todo do anarquismo
feyerabendiano.

Delamar José Volpato Dutra djvdutra@yahoo.com.br


UFSC / CNPq
Quod tibi eri non vis, alteri ne feceris : a crítica de Habermas à regra de ouro

De acordo com Rawls, o Leviathan é o livro mais importante de filosofia política em lín-
gua inglesa. A grandeza de um autor pode ser medida pelas críticas que lhe são feitas,
bem como pelo status dos nomes que o criticam. Dentre as muitas críticas que lhe
foram endereçadas, como a de ser um positivista jurídico, duas são de particular relevo.
Um primeiro conjunto delas pode ser agregado sob a denominação de déficit obriga-
cional. Essa crítica se refere ao vínculo que as normas portam em relação à vontade do
sujeito que deve cumpri-las. Ela porta conexão com a estabilidade social, a qual tam-
bém pode ser analisada mediante a relação entre teoria e prática. Pode-se considerar
Kant como um dos primeiros críticos de Hobbes, nesse sentido, em seu texto Contra
Hobbes. Alinham-se nesse viés também Nagel, Rawls e Habermas. Nesse sentido, as
obras de Taylor e Warrender podem ser consideradas como uma tentativa de resposta
a essa problemática. Uma segunda crítica se refere ao que se poderia chamar de déficit
cognitivo presente no contratualismo de Hobbes. Essa é a principal objeção de Haber-
mas a Hobbes. Aliás, Habermas não só imputa essa crítica também a Rawls, como lhe
acresce ainda aquela que este imputara a Hobbes, qual seja, a de que sua teoria seria
portadora de um déficit obrigacional. O presente estudo trata da crítica de Habermas a
Hobbes. o texto apresenta a análise e a crítica feita por Habermas do papel que a regra
de ouro desempenha no sistema de Hobbes. Segundo Habermas, a regra de ouro sug-
Abstracts / Resumos 45

ere o tipo de argumentos que Hobbes precisaria para deduzir a leis naturais, as quais
ele pretende extrair somente da perspectiva interessada do egoísta racional no estado
de natureza. Ato contínuo, ele apresenta a mesma crítica a Rawls, mas desta feita com
base na análise da estratégia da posição original. Ou seja, a estratégia contratualista de
ambos os pensadores importaria em um déficit cognitivo no sentido de ser incapaz de
dar conta dos princípios de justiça baseados na igualdade e na liberdade, ou seja, no
ponto de vista imparcial que atenderia ao interesse de todos. Habermas é um crítico
do contratualismo por considerar que ele não realiza com a acurácia necessária as in-
tuições fundamentais do ponto de vista moral que deve considerar de forma igual o
interesse de todos. Pode-se dizer que boa parte de sua crítica tem como pano de fundo
a regra de ouro ou formulações que poderiam ser aproximadas da regra de ouro. O
problema dessa estratégia de fundamentação da ordem social e do direito é que ela
opera a partir de uma perspectiva egocêntrica da primeira pessoa. Alega ele ser im-
possível encontrar em tal determinação os elementos cognitivos necessários para dar
conta das determinações normativas fundamentais para a moral, o direito e a justiça.

Delvair Moreira delvair.moreira@gmail.com


UFSC - doutorando
Uma defesa do testemunho moral

O recente desenvolvimento da Epistemologia do Testemunho com a ampla defesa de


que o testemunho é uma fonte adequada de crenças (assim como a percepção, a memó-
ria e a razão), ou seja, crenças adquiridas por testemunho podem ser racionais, justifi-
cadas ou até mesmo conhecimento, levou alguns epistemólogos morais a questionarem
se é legitimo adquirir conhecimento moral através da autoridade do testemunho de
outrem. Na pressuposição que há algo como conhecimento moral, e considerando
que o testemunho é uma fonte de conhecimento, a seguinte questão pode ser levan-
tada: pode o testemunho ser uma fonte legitima de conhecimento moral? Otimistas
defendem que não há diferença entre conhecimento moral e não-moral quando este é
adquirido através de testemunho: do mesmo modo que alguém pode saber que houve
um acidente na estrada por meio de uma testemunha que presenciou o ocorrido, al-
guém também pode saber que matar é errado por meio do testemunho do sacerdote
de sua igreja. Pessimistas, por outro lado, defendem que exceto em casos onde o su-
jeito não pode por meio de suas próprias faculdades cognitivas obter o conhecimento
moral em questão nem pode suspender o juízo, o testemunho não é fonte legítima de
aquisição de conhecimento moral. Pessimistas argumentam que (1) há um problema
epistêmico em casos de testemunho moral: testemunhos morais, por alguma razão,
não satisfazem às condições necessárias para que o testemunho transmita conheci-
mento ou (2) o testemunho é capaz de transmitir conhecimento moral, no entanto, al-
guma norma moral torna inaceitável adquirir conhecimento moral desta forma. Uma
terceira linha de defesa do pessimismo acerca do testemunho moral sustenta que o que
é relevante para a moralidade não é o conhecimento de proposições morais, mas sim o
entendimento de proposições morais. Assim, através de uma distinção entre conhec-
imento moral e entendimento moral pessimistas que aderem essa linha de raciocínio
46 IX Principia International Symposium

argumentam que, embora o testemunho seja capaz de transmitir conhecimento moral,


dado suas limitações, o testemunho não pode transmitir entendimento moral e, por-
tanto, não é uma fonte legítima para questões morais. O assim chamado “Problema
do Entendimento Moral” constitui a principal objeção aos otimistas. Neste trabalho eu
pretendo apresentar uma defesa da tese otimista, ou seja, defender que o testemunho
é uma fonte adequada de conhecimento moral, argumentando que (1) e (2) não se
sustentam à luz das recentes defesas do testemunho como fonte de conhecimento em
geral e que o Problema do Entendimento Moral, se examinado em pormenor, é incapaz
de oferecer um obstáculo à tese otimista.

Denilson Luis Werle dlwerle@yahoo.com.br


UFSC
A gramática da justiça

Um dos pontos mais discutidos nas teorias da justiça contemporâneas diz respeito à
gramática e à realização da justiça. De um lado, estão as teorias orientadas para a
alocação/distribuição, que defendem que a questão central da justiça é saber quais
bens (recursos, níveis de bem-estar, capacidades etc.) cabem aos indivíduos em ter-
mos de justiça — quem “recebe” o que. Nas respostas a essa questão procura-se, em
geral, saber se os indivíduos possuem “o suficiente” dos bens considerados vitais para
uma vida boa ou humanamente digna. De outro lado, estão as que colocam a questão
política do poder como a primeira questão da justiça, voltando seu foco para o prob-
lema de saber como os bens a serem distribuídos surgem “no mundo”, ou seja, a dimen-
são da produção e da organização justa da cooperação social. Deste ponto de vista, a
justiça deveria estar orientada às estruturas e relações intersubjetivas, e não aos estados
subjetivos ou supostamente objetivos de provisão de bens e necessidades. O objetivo da
comunicação é discutir as razões que sustentam essas duas interpretações sobre qual
a gramática profunda da justiça e examinar algumas conseqüências para o problema
da realização da justiça.

Diana Taschetto dtaschetto@usp.br


Universidade de São Paulo
Multiverso, Princípio Antrópico e a Crise na Física

Os parâmetros livres independentes descritos pelo Modelo Padrão da Física de Partícu-


las (MP) — cerca de vinte — e aqueles descritos pelo Modelo Cosmológico Padrão
(MCP) — cerca de quinze — são finamente ajustados (fine-tuned) a graus impressio-
nantes, em uma sintonia que se manifesta desde a dança cósmica de conjuntos de
galáxias às simetrias descritas pelas teorias de calibre. Fosse, por exemplo, a massa do
nêutron 1% maior daquela experimentalmente determinada, a do próton 1% mais leve,
o elétron duas vezes mais massivo, sua carga elétrica 20% maior, e assim por diante, nú-
cleos de átomos seriam essencialmente instáveis e a emergência de uma química com-
plexa, imprescindível à vida, impossível. Existe uma dependência causal sensível entre
(a) os parâmetros livres de MP e MCP; (b) condições iniciais cósmicas descritas por
Abstracts / Resumos 47

modelos inflacionários de MCP; e (c) a emergência da vida como a conhecemos. De-


nominemos observação antrópica (OA) o fato de o universo em que vivemos apresentar
a complexidade química e astrofísica necessária para a emergência da vida [o que não
seria possível caso (a) e (b), embora regidos pelas mesmas leis, tomassem diferentes
valores]. Motivados pelo princípio leibniziano da razão suficiente e tomando OA por
explanandum, defrontamo-nos, nesta circunstância, com dois explanans possíveis e
mutuamente excludentes: (i) os valores dos parâmetros de MP e MCP são dedutíveis
de equações de leis gerais de alguma Teoria de Tudo T, absolutamente necessários para
a consistência lógica de T e, por conseqüência, para a física como um todo; (ii) os val-
ores numéricos de MP e MCP são contingentes e apresentam infinitas variações em
outras regiões (reais e causalmente independentes) do espaço-tempo.
Esforços contínuos e perseverantes para a formulação de hipóteses no sentido de (i)
— na falta de princípios que satisfaçam simultaneamente leis relativísticas e quânti-
cas que lhes sirva de eixo — não lograram êxito. A alternativa (ii) corresponde à con-
hecida hipótese do multiverso, que postula a existência de um conjunto K de universos
em inflação cósmica totalmente exteriores aos limites de nossa experiência. Os intrig-
antes valores dos parâmetros em OA são nesse contexto descritos como resultados (aci-
dentais?) de uma distribuição físico-numérica aleatória (mas que satisfaz os cálculos
probabilísticos de um mecanismo de produção de universos determinado por alguma
teoria T’ qualquer). A emergência da vida em nosso universo é explicada apelando-se
ao famoso princípio antrópico (PA): o elemento de K que observamos (isto é, o uni-
verso em que vivemos) é determinado por restrições necessárias para a nossa existên-
cia como observadores. Notemos que, embora PA implique OA (sendo que K |= P A),
o inverso não é verdadeiro. A esteira de indagações consequente desta assimetria —
somados à popularidade científica de (ii) a despeito de sua a priori não-falseabilidade
e ao desiderato de unificação no sentido de (i) — caracterizam, grosso modo, a crise na
física atual. Nesta apresentação, apresentarei esta malha de problemas, onde é difícil
discernir os fios filosóficos dos científicos.

Ederson Safra Melo edersonsafra@yahoo.com.br


Doutorando - UFSC
O paradoxo do Mentiroso: uma discussão entre gaps e gluts
Uma simples sentença que afirma sua própria falsidade é suficiente para estarmos di-
ante do Mentiroso: uma sentença que é verdadeira se e somente se for falsa. Ao analisar
o Mentiroso em língua natural, Tarski conclui que a contradição surge de aceitarmos
as leis da lógica e do fato da linguagem ser semanticamente fechada (isto é, conta com
recursos para aplicar seu predicado verdade às suas próprias expressões). Desse modo,
para lidar com o Mentiroso em linguagens formais, Tarski estabelece que a linguagem
não deve ser semanticamente fechada. Com esse artifício, não há meios legítimos para
formar a sentença do Mentiroso. Embora Tarski estivesse mais preocupado em lidar
com o Mentiroso nas linguagens formais, várias críticas foram dirigidas ao seu trata-
mento devido à sua artificialidade ao banir o fecho semântico. A solução de Tarski
parece implausível frente a muitas ocorrências de uso do termo ‘verdadeiro’. Em seu
48 IX Principia International Symposium

influente artigo Outline of a theory of truth, Kripke mostra que várias afirmações não
paradoxais são impossíveis de acomodar dentro da abordagem tarskiana. Em sua abor-
dagem, Kripke resgata o fecho semântico e lida com o Mentiroso assumindo lacunas
de valores de verdade (truth-value gaps). Nesse tratamento, o caráter gap do Men-
tiroso deriva naturalmente de um conjunto plausível de instruções para introduzir o
predicado verdade. Assim, o Mentiroso resulta nem verdadeiro nem falso, porém não
podemos expressar isso em tal abordagem. Contudo, parece razoável poder expressar
na teoria que a sentença do Mentiroso é um gap (nem verdadeira e nem falsa), mas
ao introduzirmos na linguagem, por exemplo, um predicado gap teremos recursos su-
ficientes para a construção de uma versão mais forte do Mentiroso. Esse fenômeno,
conhecido como a vingança do Mentiroso, revela a natureza hidra do Mentiroso: ao
lidar com o Mentiroso colocando-o em uma nova categoria, usa-se essa nova catego-
ria para a construção de um novo paradoxo. Alguns autores, como Soames, defendem
que o fato de não ser possível expressar que a sentença do Mentiroso não é verdadeira
é um fato que vai além do que o predicado verdade precisa expressar. Outros teóri-
cos, como Field, suplementam a abordagem de gaps com recursos adicionais a fim
de escapar da vingança. Uma abordagem diametralmente oposta tem sido defendida
por teóricos dialeteístas como Priest. Nessa abordagem, a sentença do Mentiroso re-
sulta verdadeira e falsa (truth-value glut) ao invés de nem verdadeira nem falsa. Em
tal abordagem, não há problemas em caracterizar o Mentiroso e seus correlatos (como
a vingança) como verdadeiro e falso; o problema, segundo essa concepção, é consid-
erar que de uma contradição tudo se segue (princípio da explosão). Para tanto, Priest
desenvolve uma lógica paraconsistente, conhecida como LP (Lógica do Paradoxo), em
que o princípio da explosão não vale. Na abordagem de Priest, o Mentiroso serve jus-
tamente como um argumento para justificar sua posição metafísica dialeteísta de que
há contradições reais. Todavia, essa saída dialeteísta é altamente discutível e várias
críticas tem sido endereçadas a ela. Nessa comunicação, pretendendo caracterizar o
debate do Mentiroso frente a discussão entre a abordagem de gaps e a de gluts.

Ednilson Gomes Matias matiasedn@gmail.com


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas
O conceito de verdade na losoa sistemático-estrutural de Lorenz Puntel

Na obra Estrutura e Ser, Lorenz Puntel apresenta sua filosofia como a teoria das es-
truturas mais gerais do universo ilimitado do discurso. A “estrutura” trata de tudo o que
pode ser explicitado pela teoria, ou seja, da totalidade dos temas que podem ser lin-
guisticamente articulados, os quais compõem o “universo do discurso”. Nesse sentido,
a linguagem emerge como instância de expressabilidade do mundo e como dimensão
articuladora de teorias.
Puntel apresenta três planos de determinação da linguagem: o contextual, o prag-
mático e o semântico. No plano contextual, a linguagem recebe uma determinação
externa, proveniente do contexto de comunicação. No plano pragmático, a linguagem
recebe uma determinação ao mesmo tempo externa (da ação) e interna (do proferi-
mento da ação). No plano semântico, a linguagem recebe uma determinação pura-
Abstracts / Resumos 49

mente interna, na medida em que interpreta a si mesma, sem referência a contextos,


nem a ações ou a agentes etc. Por esse motivo, Puntel considera o plano semântico o
mais apropriado para o desenvolvimento de teorias.
Para compreendermos a tese central de que semântica e ontologia se implicam mu-
tuamente, fez-se necessário apresentar os três planos das estruturas fundamentais da
linguagem. O plano das estruturas formais é o mais abstrato e constitui a configu-
ração básica do discurso. O plano das estruturas semânticas estabelece a relação en-
tre a linguagem e o mundo. O plano das estruturas ontológicas configura o “algo” a
ser articulado pelas estruturas semânticas. Puntel rejeita a semântica composicional e
a ontologia da substância, fundadas no princípio composicional, e propõe uma nova
perspectiva com base no princípio do contexto. A semântica e a ontologia contextuais
adotam um tipo específico de sentenças teóricas que não são formadas por sujeito e
predicado, a saber, as sentenças primas. Essas sentenças primas pressupõem o oper-
ador “é o caso que”, o qual é puramente teórico na medida em que considera o mundo
enquanto tal.
De acordo com Puntel, o operador teórico “é o caso que”, plenamente determinado,
apresenta-se na forma “é verdade(iro) que”. Isso significa que é o conceito de verdade
que expressa ou implica o estatuto completamente determinado da linguagem. O oper-
ador “é verdade que” designa tanto a transposição do estatuto indeterminado (ou sub-
determinado) da linguagem para um estatuto completamente determinado, quanto o
resultado dessa transposição, a saber, a determinação completa da linguagem. A refer-
ência à “realidade” é a questão central do conceito de “verdade”, uma vez que o estatuto
plenamente determinado da linguagem se refere à dimensão ontológica.
Com base nos planos de determinação linguística (contextual, pragmático e semân-
tico) e nas estruturas fundamentais da linguagem (formais, semânticas e ontológicas)
podemos compreender o papel central do conceito de verdade para a elaboração de
teorias e, mais especificamente, para o desenvolvimento da filosofia sistemático-estrutural
de Lorenz Puntel.

Referências
PUNTEL, L. B. ‘El concepto de verdad: esbozo de una teoría semántico-ontológica’. Revista Por-
tuguesa de Filosofia, Tomo 65, Suplemento, p. 899-922, 2009.
——— ‘Estrutura e ser: um quadro referencial teórico para uma filosofia sistemática’. Tradutor
Nélio Schneider. São Leopoldo, RS: Ed. UNISINOS, 2008.
——— ‘Ser e Deus: um enfoque sistemático em confronto com M. Heidegger, É. Lévinas e J.-L.
Marion’. Tradutor Nélio Schneider. São Leopoldo, RS: Ed. UNISINOS, 2011.
——— ‘Truth, Sentencial Non-Compositionality, and Ontology’. Synthese, n. 126, p. 221-259,
2001.
——— ‘O conceito de categoria ontológica: um novo enfoque’. Kriterion, Belo Horizonte, n. 104,
p. 7-32, 2001.
——— ‘The context principle, universals and primary states of affairs’. American Philosophical
Quaterly, v. 30, n. 2, abril, p. 123-135, 1993.

Eduardo Benkendorf benkendorf.e@gmail.com


50 IX Principia International Symposium

Mestrando - Universidade Federal de Santa Catarina


Algumas considerações sobre o fatalismo

Tipicamente, todos nós pensamos que parte das ações que realizaremos no futuro es-
tarão sob nosso controle, isto é, que podemos tanto escolher realizá-las como também
escolher não realizá-las. Qualquer um que busque defender uma posição diferente
desta parecerá à primeira vista injustificado. Mas os fatalistas buscam ainda assim de-
fender a posição oposta, segundo a qual não poderíamos deixar de agir da maneira
como de fato agimos. Para o fatalista, se comemos hoje no almoço uma sobremesa
de morango, então não poderíamos ter deixado de comê-la. Se é verdade que vamos
comer amanhã uma sobremesa de chocolate, então não poderemos deixar de comê-la.
Isso não quer dizer, contudo, que não podemos deixar de fazer certas coisas. Só que
de acordo com o fatalista, isso também já estava destinado a ser assim. Por outro lado,
isso também não quer dizer que nada está sob nosso poder. Aquilo que nós fazemos,
aparentemente está em nosso poder. Só acontece que se realizamos uma ação a, então
não poderíamos deixar de realizá-la, ou seja, mesmo que lutássemos contra, seríamos
incapazes de evitá-la. O debate filosófico em torno da tese fatalista — geralmente car-
acterizada nos dias de hoje como a tese de que ninguém é capaz de agir de maneira
diferente do que de fato agiu — está frequentemente associado a tentativas de rejeitá-
la. Há, no entanto, duas principais estratégias argumentativas a favor do fatalismo.
A primeira delas parte de princípios puramente lógicos ou metafísicos para estabele-
cer a conclusão fatalista. Neste caso chama-se à tese fatalista de “fatalismo lógico” ou
“metafísico”. Por outro lado, há autores que defendem que esta estratégia se divide em
duas, a saber, entre o fatalismo lógico e o fatalismo metafísico, sendo ambas indepen-
dentes entre si. A segunda estratégia consiste em procurar mostrar que a suposição
de que Deus existe e é onisciente acarreta a tese fatalista. Neste caso, chama-se à tese
fatalista de “fatalismo teológico”. Neste trabalho busco apresentar e avaliar a primeira
das estratégias mencionadas. Caberá para tal apresentar brevemente o pano de fundo
histórico da discussão em torno do fatalismo, a saber, a abordagem de Aristóteles ao
problema, que aparece no capítulo IX de Sobre a Interpretação, assim como o chamado
Argumento do Dominador, apresentado originalmente por Diodoro Cronos. A apre-
sentação não visa esgotar tal pano de fundo, tampouco será voltada apenas à história
do problema. Será dada a devida atenção às raízes históricas do problema para então
chegarmos ao seu tratamento contemporâneo, que será o foco principal. Será anal-
isada uma das principais defesas contemporâneas do fatalismo e algumas objeções a
ela.

Eduardo dos Santos Cruz cruz.eduardo.s@gmail.com


Mestrando - Universidade Federal de Santa Catarina
Respostas à objeção dretskeana ao principio de fechamento epistêmico

Os argumentos céticos têm sido usados na discussão contemporânea para estabele-


cer que há algum problema com nossas abordagens sobre o conhecimento. Intuitiva-
mente, parece claro que ampliamos o nosso conhecimento a partir da implicação en-
volvendo outras proposições conhecidas. Por exemplo, sabemos que 101 é um número
Abstracts / Resumos 51

primo e também é de amplo conhecimento que todos os números primos são divisíveis
única e tão somente por si mesmos e por um. Alguém de posse dessas informações
passará, supostamente, a saber que o número 101 é divisível única e tão somente por si
mesmo e por um, caso não saiba disso de antemão. Essa é uma instância do chamado
princípio de fechamento (chamada de princípio do fechamento do conhecimento pela
implicação), um princípio que, por permitir a ampliação do nosso conhecimento, deve
ser muito importante na nossa economia conceitual. Acontece que, foi apoiando-
se numa apresentação do princípio do fechamento que alguns argumentos céticos
poderosos têm sido desenvolvidos, argumentos que têm como conclusão a negação
de quaisquer conhecimentos comuns sobre o mundo externo. Uma das opções para
bloquear o argumento cético é rejeitar o princípio de fechamento epistêmico (dora-
vante a penas princípio de fechamento) para o conhecimento: foi o que fez Dretske em
1970. Ele acredita que o princípio de fechamento é um bom guia geral para as inferên-
cias sobre proposições conhecidas, mas há certas proposições, chamadas heavyweight
implications, que não podem ser conhecidas por inferência. O motivo pelo qual não
podem ser conhecidas de tal modo é que sua estrutura envolve a referência direta a
um aspecto do mundo externo, independente de nossas experiências perceptivas. Por
exemplo, há um objeto externo a mim diante do meu corpo é uma heavyweight impli-
cation. Tais proposições não podem ser conhecidas, para Dretske, pois os indícios que
detemos para conhecer as proposições das quais as obtemos por inferência não são in-
dícios válidos para conhecer tais heavyweight implications. Várias objeções à resposta
de Dretske aos argumentos céticos baseados no princípio de fechamento foram ensa-
iadas, nosso objetivo nesse trabalho é oferecer um panorama de tais objeções e avaliar
as estratégias argumentativas, compilando o debate de forma concisa e organizada.

Eduardo Rodrigues Rêgo de Oliveira erregodeoliveira@gmail.com


Mestrando - Universidade Estadual de Campinas
Ontological Commitment and Truth

To grasp what a person or scientific theory says that exists is of full importance to un-
derstand what this person or theory wants to convey, it seem to be that reference to
objects is central to human communication and language. Two main theories of refer-
ence dispute the difficult answer of how does it come for someone denote something,
and although it may appear that those purely epistemological questions don’t have a
direct reflex on semantics, in this presentation I’ll seek to show that on the contrary,
epistemic inclinations together with some ontological presuppositions can turn out to
be a problem for the construction of a semantics capable of truly saying of a person
or theory what it holds to exist or not, a fundamental feature of language understand-
ing. The aim of this presentation is neither a defense of an acceptance of universals,
nor a tentative to reject a theory of reference in favor of one another. The only thing
that we’ll try to show is that nominalism plus descriptivism imposes great difficulty for
constructing a coherent semantics. For doing so we’ll rely upon Quine’s theory of onto-
logical commitment and his metaphysical and epistemological preferences.
The course of our argumentation will be as follows, first we’ll try to make a clear
52 IX Principia International Symposium

presentation of what are the main motivations and constraints of Quine’s ontological
commitment criterion, then we’ll try to relate his epistemological constraints (knowl-
edge by description) with his metaphysical inclinations (nominalism) and argue that
the Tarskian treatment that he delivers to semantics is somehow misguided, later on
we’ll try to expose how he accounts for our grasping of language predicates and then
explain why his explanations seems rather unsatisfactory. Further conclusions about
the nature of truth conditions for natural languages semantics may be drawn upon the
results of the presentation, and we may also defend a correspondence or identity ap-
proach for truth instead of some other with deflationary inclinations.

Elliot Santovich Scaramal santovichscaramal@gmail.com


Mestrando em Filosoa - UFG
Duas versões da distinção entre sentido e referência:  Über Sinn und Bedeu-
tung  e as  Grundgesetze der Arithmetik 
No artigo médio “Über Sinn und Bedeutung” (1892), Frege oferece uma proposta de res-
olução do problema da diferença de valor cognitivo entre sentenças de identidade das
respectivas formas “a=a” e “a=b”, que repousa sobre a introdução, por parte do mesmo,
de uma nova dimensão semântica, distinta dos meros sinais linguísticos e daquilo pelo
que eles estão. Essa introdução se manifesta na assunção fregiana de que a atribuição
de um nome próprio a um objeto é mediada pela associação de uma descrição ao
primeiro ou, em outros termos, de que nomes próprios ordinários são termos singu-
lares de referência indireta. Tal clivagem do conteúdo semântico de um sinal é adiante
ampliada para expressões insaturadas e sentenças. Entretanto, no mesmo artigo, Frege
teria formulado sua notória distinção de tal forma que teria concedido que um sen-
tido associado a um sinal não asseguraria referência ao mesmo. No que toca a um
nome próprio, mesmo que esse tivesse um sentido associado a ele, o mesmo poderia
não referir, o que comprometeria Frege com o que passou a ser conhecido contem-
poraneamente como “nomes vazios”. Ademais, ao passo que Frege admite tanto que
o sentido e a referência de uma sentença sejam formados composicionalmente como
que a referência de uma sentença consistiria no seu valor-de-verdade, tão cedo algum
constituinte do sentido da sentença não refira, a mesma seria destituída de valor-de-
verdade.
Em “On Denoting” (1905), Russell critica os resultados do artigo supracitado, acusan-
do-o de violar o Princípio do Terceiro Excluído, ao admitir que hajam sentenças, bem-
formadas, com sentido, porém, sem valor-de-verdade. Por exemplo, caso, em uma sen-
tença singular, o nome próprio que seria o sujeito da mesma não refira. Como alterna-
tiva, Russell sugere sua Teoria das Descrições. Na presente comunicação, tentaremos
mostrar que a formulação da distinção entre sentido e referência nesse artigo não só
parece ser inconsistente com a definição canônica de sentido como “modo de apre-
sentação”, como deixa Frege sujeito às objeções de Russell por desrespeitar, dada a es-
trita distinção entre conceito e objeto, a restrita condição em que um termo singular
pode ser formado, a partir de um geral (a saber, quando o segundo é instanciado com
unicidade). Conforme formulado nas “Grundlagen der Arithmetik” (1884) e em “Über
Abstracts / Resumos 53

Begriff und Gegenstand” (1892), atribuir um artigo definido a um termo, ausentes es-
sas condições, não seria “logicamente justificado” e tornaria a expressão sinnlos. To-
davia, tentaremos argumentar que a distinção é revista nas “Grundgesetze der Arith-
metik” (1893-1903), que encarnaria tecnicamente o projeto logicista de Frege, de modo
a desfazer tais problemas. Isso se daria mediante as definições (i) do operador “ ” (I,
§ 11), (ii) de pensamento (como a expressão das condições nas quais uma sentença
denota o Verdadeiro, I, § 32) e (iii) uma observação acerca da noção de função (I, § 8),
que culminará na Doutrina da Definição Conceitual (II, § 56-67). Tais medidas bar-
rariam tanto a formação de termos singulares sem que a descrição associada a eles seja
satisfeita com unicidade quanto termos gerais que não tenham um valor-de-verdade
determinado para cada termo singular bem-formado, preservando assim o Princípio
do Terceiro Excluído.

Erick Calheiros de Lima callima er@hotmail.com



Universidade de Brasília
Reconstrução normativa, teoria da justiça e crítica social: percepções da so-
ciedade contemporânea a partir de Hegel e Honneht

A tradição de pensadores vinculados à teoria crítica da sociedade sempre pautou suas


contribuições teóricas pela possibilidade de oferecer diagnósticos acerca da sociedade
sob o capitalismo avançado. Tal esforço não se modificou nas gerações mais recentes
dessa corrente, ainda que, devido a consideráveis modificações nos quadros catego-
rias, tanto a natureza quanto as consequências desse diagnóstico tenham se alterado
consideravelmente. Mais recentemente, Honneth tem empreendido um esforço teórico
que tem vinculado a tarefa crítica e a percepção da situação das sociedades contem-
porâneas ao problema da autoridade normativa das práticas compartilhadas nas so-
ciedades atuais. Na presente oportunidade, eu gostaria de fazer algumas observações
sobre a passagem entre teoria da justiça e análise da sociedade capitalista contem-
porânea tencionada por Honneth. Com essa intenção, vou recordar, primeiramente,
alguns aspectos ainda bastante relevantes para a filosofia social contemporânea con-
tidos no argumento hegeliano para superação da moralidade na eticidade (1). A partir
disso, pretendo relembrar alguns elementos centrais do projeto de reconstrução nor-
mativa, proposto por Honneth em obras como “Sofrendo de Indeterminação” e “Di-
reito da Liberdade”, e pensado como capaz de sustentar a articulação entre teoria da
justiça e análise crítica da sociedade (2). Em seguida, gostaria de retomar o sentido
geral da compreensão proposta por Honneth para as práticas compartilhadas contem-
poraneamente no âmbito das sociedades de mercado, especialmente, nas circunstân-
cias que cercam a reprodução material, o mercado de trabalho e a esfera do consumo
(3). Finalmente, gostaria de empreender uma assimilação, a partir do quadro pensado
por Honneth, de questões suscitadas pelas formas inauditas de justificação da ação
econômica investigadas por Boltanski e questões sistêmicas acerca da intensificação
da desigualdade social, consideradas a partir das contribuições de Piketty (4).
54 IX Principia International Symposium

Evan Robert Keeling erk5n@virginia.edu


Universidade de São Paulo
Aristóteles e Erros de Percepção

Recentemente tem ressurgido o interesse na teoria da percepção de Aristóteles, mas a


atenção normalmente se concentra em saber se a alteração que constitui a percepção
é física ou “espiritual”. Poucos especialistas perguntam como Aristóteles entende erros
em percepção. Isto acontece, em parte, porque Aristóteles não dedica muita atenção a
esta questão, pois a percepção, para ele, é um tipo de conhecimento. No entanto, ele
também reconhece que nem todas as percepções são verdadeiras e critica seus ante-
cessores por não explicarem isso. De acordo com De Anima e Dos Sonhos, a fantasia
(“aparência” ou “imaginação”) explica, de alguma forma, falsas percepções. Para além
disso, no entanto, há pouco consenso entre os poucos estudiosos que trabalham sobre
este problema. O objetivo deste artigo é o de tentar entender como a fantasia desem-
penha este papel.
Fantasia é, canonicamente, um “movimento” vindo da percepção real. Em De Anima
2.6, Aristóteles distingue três tipos de objeto perceptual: próprios, comuns, e inciden-
tais. Surge então a pergunta: a fantasia resulta da percepção de todos os três tipos de
objeto? Comparando De Anima 3.3 com Dos Sonhos, primeiro resolvo uma aparente
discrepância sobre a resposta de Aristóteles a esta pergunta. A explicação de fantasia
dada em Dos Sonhos 2 e 3 diz que fantasia vem de estímulos-sensórios (aisthēmata),
e não de “percepção”. Isso levou alguns especialistas a acreditar que Aristóteles con-
sidera a fantasia como sendo um resultado apenas da percepção dos objetos próprios.
Apenas a percepção dos objetos próprios é, segundo essa visão, a percepção pura, não
adulterada. Os outros tipos de percepção são o resultado de uma combinação de per-
cepção pura e fantasia. Muitas vezes, a fantasia que se combina com a percepção pura
é pensada como sendo de alguma forma superior: por exemplo, memória ou conceitos.
Eu argumento que Aristóteles consistentemente afirma que a fantasia vem a partir
da percepção de todos os três tipos de objeto, e que nenhum dos três tipos de per-
cepção é menos percepção como um resultado disso. Na verdade, todas as percepções,
mesmo que de objetos próprios, envolvem fantasia como um elemento necessário.
Não podemos, portanto, compreender a veracidade da percepção dos objetos próprios
por meio de sua falta de fantasia. Pois, em primeiro lugar, há boas razões para pensar
que, na percepção, a possibilidade da verdade traz consigo a possibilidade de falsidade.
E, em segundo lugar, considera-se que a visão de Aristóteles é que o erro é possível em
todos os três tipos de percepção.
Por fim, argumento que embora a fantasia explique o erro perceptual, ela faz isso de
uma maneira diferente do que geralmente se pensa. Defendo que a fantasia envolvida
na percepção não é de ordem superior: não é phantasia transformada em memória
ou conceitos, ou qualquer coisa desse tipo. Fantasia aqui é apenas aparência, e o que
explica a possibilidade de equívoco é simplesmente que, mesmo enquanto estamos
percebendo, por vezes, falsas aparências entram em vista e, como resultado, o objeto
de percepção é mal entendido. Mas a percepção e a fantasia são, para Aristóteles, já
Abstracts / Resumos 55

imbuídas de uma boa quantidade de conteúdo.

Evandro Oliveira de Brito evandrobritobr@yahoo.com.br


Universidade Federal de Santa Maria
Modalidade, relação intencional e verdade

O filósofo alemão Franz Brentano é conhecido por ter reintroduzido o conceito de


intencionalidade na filosofia moderna e contribuído, de certa forma, com as origens
da filosofia contemporânea. De fato, as definições daquilo que Brentano teria con-
cebido propriamente como intencionalidade, bem como os problemas em torno das
definições de objeto intencional e relação intencional, assumiram o primeiro plano no
debate filosófico principalmente dentro da “sua escola”. Do mesmo modo, o próprio
Brentano lidou durante toda sua vida com as incompreensões, incoerências e a neces-
sidade de reformulações exigida pela sua teoria da intencionalidade, sempre que ela se
mostrou insuficiente para fundamentar sua ética, sua lógica ou sua teoria do conheci-
mento, as quais estavam fundadas em sua filosofia do psíquico. No entanto, mesmo que
sua teoria da intencionalidade tenha sido retomada, tanto pelos “membros de sua es-
cola” como também por seus opositores, as questões fundamentais da lógica, da teoria
do conhecimento e da ética foram colocadas no segundo plano, ou esquecidas, ainda
que tenham sido apontadas pelo próprio Brentano como telos de suas investigações.
Efetivamente comprometido com esse telos já na sua primeira obra, Psychologie vom
empirischen Standpunkt (1874), Brentano indicou o modo como sua teoria da inten-
cionalidade serviria de base para a elaboração de pelo menos três novas teorias: a
teoria ética; a teoria do silogismo; e a teoria do juízo. Além disso, e após terem sido
apresentadas de modo embrionário na obra de 1874, essas três teorias foram detal-
hadamente reformuladas e estabelecidas na fase intermediária da vida intelectual de
Brentano (1889). A análise aqui desenvolvida investiga, especificamente, o modo como
Brentano distinguiu e hierarquizou modalmente os juízos verdadeiros ao formular sua
teoria dos juízos e fundamentar sua teoria da verdade. A base textual aqui adotada
será a publicação resultante da comunicação de Brentano apresentada à comunidade
filosófica de Viena em março de 1889, intitulada Sobre o conceito de Verdade (Über den
Begriff der Wahrheit). Como procedimento de análise, será elaborada uma exposição
sistemática do modo como, tomando como base a noção de relação intencional de
1889, Brentano reinterpretou o conceito aristotélico de verdade como correspondên-
cia no contexto da esfera conceitual da sua Psicologia Descritiva e, para isso, explicitou
uma distinção e uma hierarquização entre os juízos verdadeiros ao descrever suas pos-
sibilidades, efetividades e necessidades.

Fábio dos Santos Creder Lopes fcreder@hotmail.com


Pós-doutorando - UERJ
Desigualdade e justiça em Rawls e Piketty

No cerne da obra seminal acerca do tema da justiça distributiva (Uma teoria da justiça,
de John Rawls) encontra-se um princípio cuja concepção foi parcialmente inspirada
56 IX Principia International Symposium

pela ideia de que a riqueza de um país cresce proporcionalmente à remuneração con-


cedida aos que a produzem. Esse princípio da diferença estipula que o respeito devido
de maneira equânime a todas as pessoas apenas permite que tais desigualdades sejam
moralmente justificadas quando beneficiarem os menos favorecidos.
A concepção rawlsiana de justiça distributiva, para ser concretizada, requer arran-
jos institucionais, no âmbito da estrutura básica de uma determinada comunidade
política, dentre os quais conta-se um sistema tributário distributivo, que onere os mais
ricos em benefício dos mais pobres.
O admirável crescimento da economia de alguns países em desenvolvimento nos
últimos anos, acompanhado de uma melhora da qualidade de vida da população em
geral, pode ser creditado à adoção de arranjos conformes ao princípio de diferença.
Nada obstante, a maioria das pessoas em países em desenvolvimento permanece na
mais absoluta miséria. Mundialmente, cerca de um bilhão de pessoas vive com menos
de US$ 1,25, as quais chegam a constituir mais de 80% da população de alguns países,
como a República Democrática do Congo, Madagascar, Libéria e Burundi. Se por uma
justificativa moral reconhecermos que o estado tem o dever satisfazer as necessidades
básicas dos indivíduos, precisamos exigir que o faça. Em uma democracia liberal igual-
itária sabemos exatamente como agir. Mas o que fazer pelos indivíduos desprotegidos,
aqueles que não contam com arranjos institucionais justos nos estados aos quais estão
submetidos?
Se uma quantidade de desigualdade no mundo, condicionada ao princípio de difer-
ença, é desejável como estímulo à competição e ao crescimento, o mesmo não pode
ser dito acerca da desigualdade profunda, crescente e disseminada que existe hoje.
Dentre as inúmeras vozes que têm denunciado a tremenda gravidade dessa desigual-
dade, destacou-se recentemente a do economista francês Thomas Piketty. Segundo ele,
há forças de divergência poderosíssimas, que fazem com que o crescimento da riqueza
dos mais ricos não concorra para o benefício, mas sim para o prejuízo dos mais pobres.
Isso acontece quando atinge-se um tal nível de desigualdade de renda e riqueza, que
a remuneração do capital supera o crescimento econômico. Quando isso acontece, a
riqueza herdada aumenta mais do que a produção, ou seja, a desigualdade não se fun-
damenta em um princípio meritocrático que estimula o empreendedor a produzir mais
em benefício dos menos favorecidos, mas premia quem não tem mérito (mas apenas
sorte) em prejuízo de todos os demais. E a concentração de renda e riqueza é tanta que
apenas 1% da população detêm metade da riqueza mundial.
Piketty sugere que apenas a adoção de um imposto progressivo sobre o capital se-
ria capaz de reverter o atual quadro alarmante de desigualdade. Entretanto, sua apli-
cação exigiria um extraordinário empenho internacional. Empenho esse acerca de cuja
possibilidade Rawls, em outra de suas obras, O direito dos povos, mostrou-se bastante
reticente.
Nesta comunicação gostaria de analisar as propostas normativas de Piketty à luz da
obra de John Rawls, particularmente de sua abordagem do urgentíssimo tema filosó-
fico político da justiça distributiva internacional.
Abstracts / Resumos 57

Fabricio Pontin fpontin@gmail.com


PhD (Brazilian Centre for Research in Democracy)
Fairness and Gain Perception in Ultimatum and Dictator Games: A Limit to
Ordinal Analysis?

Given different contexts, will people rank the fairness of the same economic trade-off
differently? If so, to what extent is this different ranking of the same economic trade-
off a rational choice? In this research I will look at some results within experiments
made in the Brain Institute, in Porto Alegre, Rio Grande do Sul, in which 70 research
subjects “played” different versions of ultimatum and dictator games in a fMRI. During
the game interaction in the fMRI, subjects responded to the same kind of trade offers
in ultimatum and dictatorship games in different choice contexts, while we mapped
for emotionally relevant data within their brain activation zones. Some of the results
within the experiment have been quite interesting in terms of fairness and gain per-
ception in context, and, in this paper, I will try to point at some limitations of ordinal
analysis of rational choice, methodologically, as a leading clue to the way we actually
morally behave. It is my contention that our perceptual field stresses our representa-
tions of actions as “good” or “advantageous” action to an extent that is incompatible
with the premises of ordinal organization of rational action. Ultimately, I will try to
point at the evidence for the non-cognitive basis of rational behavior and the conse-
quences of such basis for methodological attempts of organizing “views from nowhere”
in political theory.

Felipe de Matos Müller


PUCRS
Epistemologia do testemunho: o problema da crença baseada em boato

Os boatos [rumors] têm uma má reputação. C. A. J. Coady (2006), em seu “Pathologies


of Testimony”, ofereceu uma das poucas abordagens filosóficas acerca dos boatos. Ele
caracterizou os boatos como uma enfermidade do testemunho. Relatos não verifica-
dos por vezes recebem o título de boatos. Em sua visão, “uma vez que nós temos razões
para caracterizar algum tipo de comunicação como boato, então nós temos razões
para considerála como sem credibilidade” (COADY, 2006, p. 269.). Por outro lado, de
acordo com David Coady (2012, p. 86.), os boatos não merecem a sua má reputação.
Em sua visão, muitos boatos são dignos de crédito. O fato de uma proposição (boato)
ser propagada como verdadeira é uma evidência em favor dela ser verdadeira (COADY,
2012, p. 87.). Isso não significa que devemos acreditar em todo boato. Isso dependerá
do grau de credibilidade atribuído a ele. O fato de poder haver alteração no conteúdo
do boato é uma razão para não acreditar nele. Cada vez que um boato é propagado
há a possibilidade deliberada ou acidental de distorção sem haver a possibilidade de
correção correspondente. Por essas razões pensa-se que os boatos são inconfiáveis
e tendem a se tornar cada vez mais inconfiáveis na medida em que são propagados.
Há um princípio tradicional de que quanto mais distante o relato está da testemunha
ocular menor será a sua confiabilidade, independente da comunicação ser um boato.
De acordo com David Coady (2012), boatos podem se tornar mais precisos na medida
58 IX Principia International Symposium

em que são propagados, visto que aqueles que ouvem os boatos podem recebê-lo de
canais diferentes e independentes e ainda estar em posição de avaliar a confiabilidade
dos propagadores. Por outro lado, Cass Sunstein (2009, p. 17.) nota que um padrão que
emerge na propagação dos boatos é que seus propagadores “o fazem não porque têm
razões objetivas para acreditar que seja verdadeiro, mas porque não têm razões objeti-
vas para acreditar que seja falso”. Enfim, o problema da crença baseada em boato será
tratado como um caso particular de crença baseada em testemunho e conduz ao de-
bate reducionismo versus antirreducionismo em epistemologia do testemunho. O foco
da argumentação será sobre a transmissão e a confiabilidade do boato enquanto pos-
sível fonte de conhecimento. Essa discussão terá como principais interlocutores C. A.
J. Coady (2006), David Coady (2006, 2012), Alvin Goldman (1991, 2001), Cass Sunstein
(2009), Axel Gelfert (2013).

Referências
COADY, C. A. J. ‘Pathologies of Testimony’. In J. LACKEY & E. SOSA. (Eds.). The Epistemology of
Testimony. Oxford: Oxford UP, p. 253-71, 2006.
COADY, D. ‘When Experts Disagree’. Episteme: A Journal of Social Epistemology, 3.1-2, p. 68-79,
2006.
——— ‘What to Believe Now: Applying Epistemology to Contemporary Issues’. Chichester: Wiley-
Blackwell, 2012.
GELFERT, A. ‘Coverage-Reliability, Epistemic Dependence, and the Problem of Rumor-Based Be-
lief’. Philosophia, 41(3), p.763-786, 2013.
GOLDMAN, A. I. ‘Experts: Which Ones Should You Trust?’ Philosophy and Phenomenological
Research, 63, p. 85-110, 2001.
——— ‘Epistemic Paternalism: Communication Control in Law and Society’. The Journal of Phi-
losophy, v. 88, n. 3, p. 113-131, 1991.
SUNSTEIN, C. R. ‘On Rumors: How falsehoods spread; why we believe them; what can be done’.
New York: Farrar, Straus & Giroux, 2009.

Fernando Fabrício Rodrigues Furtado fernandofutado@campus.ul.pt


PhD. Student - University of Lisbon
The Contingently Possible

This paper is a simultaneous research in modal logic and metaphysics. I seek here by
the appropriate modal logic system to metaphysical modality or modality tout court. I
understand by ‘metaphysical modality’ to alethic modality that concerns the ways of
truth; if the truth-value of a sentence is necessary or possible. One sentence φ may
be true while necessarily φ, (), it may be false. Conversely, φ may be false while pos-
sibly φ, (♦φ), it may be true. Beyond the actual truth-value of the sentence, interests
its truth-value in non-actual worlds. Consider the sentences: i) there are objects that
travel faster than light, and ii) there are round square. Both are actually false, but some-
times it is said that there are possible worlds in which i) is true; the way as i) is false is
contingent(¬φ ∧ ♦φ). But ii) is false in all possible worlds; the way as ii) is false is nec-
essary (¬φ ∧ ¬♦φ). Who thinks that i) is necessarily false, can accept that if things had
Abstracts / Resumos 59

been different of actually as so are perhaps i) may have been true, while ii) for all alter-
native ways of being of things, could not have been true. So i) is impossible in some ways
of being of the things and ii) is impossible for any way of being of things. So i) is contin-
gently impossible (¬♦φ ∧ ♦♦φ) while ii) is necessarily impossible (¬♦φ ∧ ¬♦♦φ). I am
particularly interested in cases like i), cases of contingently possibility and contingently
necessity. The iteration of modal operators are particularly important here. The condi-
tional if necessary φ, then necessarily necessary φ is true (logically true)? It Depends. I
will present here five modal logic systems: K, T, B, S4 and S5 in order of strength, S5 are
the strongest. In S4 and S5 (transitive systems) the conditional is true, in the weakest
(nontransitive) systems it is false. S5 is typically accepted as the system appropriate for
metaphysical modality. However, there are important objections to this commonplace.
I will present two counterexamples for the S5 modal logic; the Chandler’s paradox — a
partial, but not all, modification in the original material of an artifact without it losing
its numerical identity is possible. In addition, the objection of the necessity of natu-
ral laws — under a particular necessitarist interpretation of natural laws, they can be
considered necessary, although not considered necessarily necessary.

Filipe Lazzeri filipelazzeri@gmail.com


University of São Paulo FAPESP
Coming to grips with Lewis' `perfect actor' and Kirk's `zombie'

Among the objections against behavioral approaches to psychological (or mental) phe-
nomena are those whereby one can exhibit the typical behaviors associated to a psy-
chological phenomenon without exhibiting the latter. D. Lewis’ “perfect actor” scenario
and R. Kirk’s imagined “zombie” are cases in point. According to Lewis, a behavioral
perspective (BEH), differently from a (qualified) type-type mind-brain identity theory,
does not have “a place for the resolute deceiver, disposed come what may to behave as
if his mental states were other than they really are” (‘Reduction of mind’, 1994, pp. 417-
418). Thus, Lewis suggests that an actor x could imitate the behaviors of someone else
y perfectly and, still, not exemplify the same psychological phenomena of y. This, he
suggests, implies that BEH is not the case. Kirk, by his turn, asks us to conceive of “an
organism indistinguishable from a normal human being in all anatomical, behavioral
and other observable respects, yet insentient” (‘Sentience and behavior’, 1974, p. 43).
Kirk attempts to make a case for the possibility of such scenario by describing a person’s
progressive loss of sentience until the stage of complete absence thereof. Now, contin-
ues the objection, if a creature is physically and behaviorally indistinguishable from
an average human being, and yet lacks sentience, BEH (and, for that matter, any other
materialist view) cannot be correct. The “perfect actor” and the “zombie,” according
to the former and the latter objections respectively, only appear to be having emotions
(e.g., enjoying and hating certain things), moods (e.g., being relaxed or cranky), and so
on, without really exhibiting these psychological phenomena. In this paper, I attempt
to show that these objections hold no water against BEH — at least against the version
of BEH I favor. I argue that Lewis’ alleged counterexample faces a dilemma: either the
actor x actually does not exhibit the same (kinds of) behaviors of y; or else, if Lewis
60 IX Principia International Symposium

were to insist that x really performs the same behaviors of y, x actually does not simply
imitate y (i.e., the idea of simple imitation is ruled out). Concerning Kirk’s imagined
scenario (which has been followed by some other authors), I call attention to the fact
that the applicability of psychological predicates therein would not be affected. This, I
submit, goes to show that the zombie scenario is (as Kirk himself came to think more
recently) impossible; or, at the very least, that it is no threat to the idea that psycho-
logical phenomena of many categories, among which several that sometimes involve
phenomenal qualities, are made up of behaviors. I do not imply, nevertheless, that sen-
tience itself is made up of behavior. BEH can be fine with the assumption that sentience
amounts to certain physical processes other than strictly behavioral.

Flávio Miguel de Oliveira Zimmermann flaviozim@yahoo.com.br


UFFS - Chapecó
Hume e o ceticismo moderado do período moderno

O propósito desta comunicação é o de mostrar de que forma o ceticismo de Hume e


as suas críticas ao ceticismo pirrônico se aproximam das concepções de muitos filó-
sofos preocupados com o tema dos séculos XVI e XVII e sugerir que a sua proposta de
ceticismo acadêmico ou mitigado, embora tenha sido originalmente desenvolvida por
ele, seja inspirada em noções semelhantes de outros filósofos modernos. Para poder-
mos estabelecer tal relação, apresentaremos uma breve pesquisa sobre as leituras que
Hume realizou dos que debatiam o ceticismo em seu tempo e as concepções desses au-
tores sobre o ceticismo pirrônico e acadêmico. Essa leitura mostrará que o ceticismo
de Hume, antes de ser classificado especificamente como acadêmico ou pirrônico, ele
parecerá, após compará-lo com as concepções dos autores modernos, mais com um
tipo de ceticismo peculiar, que não desprezaria certos elementos e contribuições de
cada escola cética, visto que, no geral, o ceticismo moderno consiste no uso indistinto
das ideias das escolas pirrônica e acadêmica da antiguidade. Esse tipo de ceticismo,
porém, não entraria em contradição com o seu chamado ‘ceticismo moderado’.
Os autores a serem comparados a Hume aqui são alguns dos que mais se destacaram
no tema do ceticismo na modernidade e que foram consultados pelo autor, tomando
por base suas citações diretas ou indiretas. São os seguintes: René Descartes, Michel
de Montaigne, Jean-Pierre Huet, Pierre Bayle, Joseph Glanvill, Nicolas Malebranche,
Francis Bacon, Robert Boyle, Nicole e Arnauld e Lord de Shaftesbury. Apresentaremos
curtas passagens de cada um desses autores sobre suas concepções de ceticismo a fim
de comparar com a de Hume e tentar compreender o sentido das suas críticas e pro-
postas sobre o tema.
Alguns filósofos modernos parecem retratar o cético pirrônico como radical, ousado
ou extravagante, e compreendem o ceticismo acadêmico ou filosofia moderada como
um antídoto contra tais excessos, de modo semelhante a Hume. Uma característica
desse ceticismo moderado, entre autores tais como Huet e talvez Bayle e Montaigne,
é que ele abarca determinados elementos do ceticismo pirrônico, sem deixar de ser
acadêmico ou moderado, uma vez que a filosofia acadêmica moderna toma para si
algumas concepções dos pirrônicos.
Abstracts / Resumos 61

Hume, enquanto filósofo preocupado com os problemas de seu tempo, estava atento
às críticas e concepções dos filósofos desta época. Como leitor dos filósofos acima
mencionados entre outros, ao conceber o seu próprio ceticismo, parece ter tomado
determinados elementos e concepções dos modernos. Mas, ainda que ele não tenha
sido tão original na concepção de ideias como pode parecer àqueles que estudam a sua
filosofia sem procurar se aprofundar nas suas origens históricas, Hume teve o mérito de
recolher estes pensamentos e sistematizá-los, tornando-os condizentes com a sua teo-
ria do conhecimento. Por fim, será observado que, embora o ceticismo humeano possa
ser aproximado do de certos filósofos do século XVI e XVII, existem algumas diferenças
significativas entre eles (e que o distanciaria também dos céticos antigos), tais como
determinadas dúvidas com relação a padrões de comportamento e questões de cunho
científico.

Gilmar Evandro Szczepanik cienciamaluca@yahoo.com.br


Universidade do Centro-Oeste do Paraná - Unicentro
A natureza dos problemas tecnológicos e a metodologia utilizada na tentativa
de solucioná-los

O presente texto busca caracterizar a natureza dos problemas tecnológicos. No intu-


ito de atingirmos esse objetivo, restringiremos nossa abordagem há alguns elementos
epistemológicos que circundam o tema, averiguando, por exemplo, quais são os ele-
mentos que permitem caracterizar determinado problema como tecnológico, distin-
guindo-o, na medida do possível, daqueles problemas encontrados na ciência. Devido
a essa estratégia metodológica, nossa atenção não recairá sobre os possíveis impactos,
problemas ou consequências relacionadas ao desenvolvimento e ao uso da tecnologia
nas mais distintas esferas. Estamos preocupados sim com a identificação de proble-
mas genuinamente tecnológicos e isso é de fundamental importância, pois trata-se de
um elemento chave a partir do qual torna-se possível pensar uma emancipação fraca
da tecnologia em relação à ciência, rompendo definitivamente com uma abordagem
ingênua e reducionista que tende a compreender a tecnologia exclusivamente como
ciência aplicada.
Assim, no primeiro momento, pretendemos mostrar que há problemas tecnológi-
cos típicos e que os mesmos se diferenciam dos problemas científicos especialmente
por serem maldefinidos ou mal-estruturados. De acordo com Nigel Cross (2005), ex-
iste algumas características que podem nos auxiliar na identificação de um problema
maldefinido entre as quais se destacam: i) a formulação não definitiva do problema,
isto é, a incapacidade de identificar e demarcar todas as variáveis envolvidas no pro-
cesso; ii) a formulação do problema pode incorporar inconsistências; iii) a formulação
do problema está vinculada a possibilidade dele ser solucionado; iv) as soluções pro-
postas são um meio de compreender e estruturar melhor o próprio problema e, por
fim, v) não haver uma solução definitiva para o problema. Em muitos casos, a incom-
preensão do problema nas áreas tecnológicas é tamanha que, como diz Glegg (1969) “o
problema é descobrir qual é o problema”. Há apenas uma ideia vaga de que algo pre-
cisa ser aprimorado, de que algo precisa ser feito, porém ainda sem saber exatamente
62 IX Principia International Symposium

o que, nem muito menos como isso pode ser realizado.


Num segundo momento, dada a especificidade dos problemas tecnológicos apre-
sentada por Cross (2005) — e também compartilhada por autores como Hughes (2009)
e Walter Vincenti (1990), — somos levados a compreender a tecnologia como uma ativi-
dade que visa solucionar um conjunto de problemas específicos. Mas como tais prob-
lemas são resolvidos? Há um modelo ou uma maneira específica de solucioná-los?
Questões como essas nos levam a pensar sobre a metodologia empregada nas áreas
tecnológicas. Para dar conta dos elementos metodológicos presentes nas áreas tec-
nológicas apresentaremos a noção de método tecnológico sustentada por Bunge (1980
e 1985) e Vincenti (1990), assim como, o papel central ocupado pelo design nas dis-
cussões acerca da metodologia tecnológica.
Desse modo, buscamos apresentar que é possível distinguir a tecnologia da ciência
a partir da natureza dos problemas existentes em cada uma das áreas, como também
das estratégias metodológicas adotadas para solucioná-los. Não ignoramos que ciência
e tecnologia estabeleçam contatos ou até possam trabalhar conjuntamente, porém,
considerados equivocado tomá-las como sinônimas.

Gilson Olegario da Silva gilsonolegario@gmail.com


Doutorando - Universidade Estadual de Campinas
A neutralidade carnapiana no debate entre realistas e antirrealistas

Parte importante da literatura contemporânea em filosofia da ciência trata do debate


entre perspectivas realistas e perspectivas antirrealistas. O ponto de inflexão entre elas
está na caracterização de como os termos teóricos nas teorias científicas devem ser li-
dos. A postura realista afirma que temos razões suficientes para crer que os termos
teóricos de teorias bem confirmadas descrevem — ou referem-se a — entidades ex-
istentes, isto é, os termos teóricos das teorias atuais devem ser lidos literalmente; os
antirrealistas, por sua vez, preferem evitar esse tipo de comprometimento.
Nesse debate, a posição adotada por Carnap não se enquadra bem em nenhuma das
alternativas. Carnap pretendeu ser neutro em relação a essas disputas (Psillos, 1999, §
3) quando elas são interpretadas como disputas metafísicas. Sua concepção é motivada
pela adoção de um princípio geral, o “Princípio de Tolerância”, e por uma concepção
linguística das teorias científicas e de seus termos.
Contemporaneamente a posição neutra de Carnap é questionada tanto por autores
realistas quanto por antirrealistas ou instrumentalistas. Para Van Fraassen, um dos
representantes do instrumentalismo contemporâneo, as construções carnapianas que
levaram até sua posição final em relação às disputas ontológicas são soluções para
problemas técnicos autogerados e filosoficamente irrelevantes. Como destaca Fried-
man (2012, p. 96), apesar das semelhanças entre a proposta geral carnapiana e seu
“instrumentalisto agnóstico”, Van Fraassen não tem paciência para a posição carnapi-
ana. Já pelo flanco realista, Psillos, apesar de mais paciente com a posição carnapiana
— dedicando-lhe um capítulo de seu (1999, Part I, § 3) — também chega a uma avali-
ação negativa. Para Psillos, Carnap mantém um compromisso com uma versão fraca
do realismo, o realismo estrutural, e esta forma de realismo está sujeita à mesma ob-
Abstracts / Resumos 63

jeção formulada por M. H. A. Newman à concepção estruturalista adotada por Russell


em The Analysis of Matter (1927), que, resumidamente, argumenta que a afirmação de
que somente a estrutura do mundo observável pode ser conhecida é falsa ou trivial.
Em um recente artigo, Friedman (2012, p. 102) ataca a tese de que a objeção de
Newman seja um problema para Carnap. Mesmo antes de Friedman, Uebel (2011) já
tinha chegado à conclusões semelhantes. O debate, contudo, permanece em curso e
as partes ainda não chegaram a um acordo.
As propostas de Carnap emergentes de sua concepção tardia de teoria foram ainda
pouco exploradas em relação a sua contribuição ao debate em questão. Onde encon-
traram atenção e críticas, como no caso dos trabalhos de Psillos, não parecem ter re-
cebido objeções decisivas. As réplicas de filosófos ocupados com a filosofia de Carnap,
como no caso de Friedman e Uebel, parecem, à primeira vista, responder satisfatori-
amente a tais objeções. O neutralismo carnapiano parece, então, ter sobrevivido aos
ataques e pode ser uma alternativa viável à solução (ou dissolução) do debate.
Neste trabalho, pretendo explorar a posição de Carnap em vista da defesa de seu
neutralismo como uma alternativa neutra viável à disputa metafísica entre realismo e
antirrealismo.

Giovanni Rolla rollagiovanni@gmail.com


Ph.D student - UFRGS
On Envattment

My aim in this presentation is two-fold: first, I intend to articulate theses that are often
assessed independently, and with this I hope to show that a strong version of episte-
mological disjunctivism about perceptual knowledge (hinted at in Duncan Pritchard’s
Epistemological Disjunctivism) implies a transformative conception of rationality (a
view indirectly presented by John McDowell in Mind and World).
Disjunctivism about perceptual knowledge is the thesis that there is nothing epis-
temically common between paradigmatic cases of perception and the equivalent bad
cases of illusion, hallucination or envattment (i.e., classical skeptical scenarios, the
possible world in which an individual systematically receives misleading data about
her environment). A transformative conception of rationality says that rationality is
already at work in our first-level thoughts about the world as the actualization of our
conceptual capacities in perception, which enables us to take a rational standing on
our perceptual deliverances (thus rationality is not something logically posterior to be-
lief formation). Together, the strong version of epistemological disjunctivism and the
transformative conception of rationality I present entail that individuals in vat environ-
ments are deprived of rationality, since they fail to have perceptual states, which, on the
views I am articulating, is a necessary condition for rationality.
My secondary aim is to show that the consequence outlined above, namely, that a
brain in a vat is not and cannot be rational, despite our initial temptation of ascrib-
ing epistemic responsibility and justification in some cases of envattment; must be ac-
cepted. It is not to be taken as a sufficient reason to abandon the version of disjunc-
tivism I present, nor as a good enough reason to reject the transformative view of ratio-
64 IX Principia International Symposium

nality (for, as I intend to show, this would imply the Myth of the Given). Thus I will resist
reading the argument in the preceding paragraph as a RAA of one of its premises. My
stance here depends on the assessment of attributions of rationality to individuals in
cases of illusion and hallucination (mainly cases of individuals suffering from Charles
Bonnet syndrome), for those cases are presented as real possibilities which supposedly
ground the more general possibility of being a brain in a vat.
In usual cases of illusion, I submit, one is either being systematically deceived or be-
ing rational. The same goes for hallucination: individuals that suffer from Charles Bon-
net syndrome have the ability to distinguish episodes of visual hallucination from gen-
uine cases of perception due to background beliefs and cross-modal inspection (such
as touch and hearing). Thus, they remain rational — in opposition to, for instance,
delusional individuals who fail to distinguishing perception and hallucination, thus
lacking rationality. The upshot of my presentation is that the apparent problems con-
cerning the consequence that brains in a vat are not rational is due to far-fetched uses
of everyday concepts, which makes our intuitions become fuzzy when we talk about
envattment: such uses trade upon the confusing idea of an individual being systemati-
cally deceived and manifesting perfectly functioning cognitive abilities.

Guido Imaguire guido imaguire@yahoo.com



Federal University of Rio de Janeiro
Nominalism Without Possible Worlds

Possible Worlds are certainly useful tools for different theoretical purposes in many
areas of philosophy. But sometimes philosophers stretch their use unscrupulously be-
yond a reasonable extent. In this paper I will criticize a particular case of such abuse:
the discussion of the Problems of Universals. So, for example, Lewis’ Class Nominalism
presupposes Modal Realism for dealing with the problem of coextensive properties,
and Rodriguez-Pereyra’s Resemblance Nominalism presupposes Counterpart Theory
for dealing with the problem of contingent predication. In my view, since issues con-
cerning ontological categories are ontologically much more fundamental than the con-
stitution of possible worlds, the acceptance of strong assumptions about the status of
possible worlds should be avoided in this context. The solution to be defended in my
paper is a version of the Ostrich Nominalism. I will show how Ostrich Nominalism an-
swers all different formulations of the Problem of Universals in a straightforward way
and without any assumption on the existence or nature of possible worlds.

Guilherme Augusto Guedes guiguedesbr@gmail.com


Mestrando - UFPR
Leibniz: a divisibilidade innita do contínuo e os mundos possíveis

Pretendemos explorar aqui as reflexões feitas por Leibniz no período entre 1672 a 1676
— época em que o filósofo intensificou seus estudos matemáticos — a respeito dos in-
finitesimais e do estatuto do infinitamente pequeno em relação ao contínuo. É central
nessa investigação o diálogo Pacidius Philalethi: prima de motu philosophia, de 1676,
Abstracts / Resumos 65

no qual o autor examina a noção de divisibilidade dos lugares do espaço e dos instantes
de tempo. A partir de exemplos tanto de movimento quanto lógico-geométricos, Leib-
niz investiga com maior detalhamento as condições sob as quais aquela divisibilidade
pode ser compreendida, explicitando o infinito que ela envolve. Na esteira dessa in-
vestigação, Leibniz aborda também os indivisíveis e os mínimos, tomando parte na
polêmica a respeito do estatuto ontológico das grandezas tanto infinitamente grandes
quanto infinitamente pequenas. Para o autor, a característica do contínuo é ser con-
stituído a partir de infinitos elementos indivisíveis, isto é, constituído por infinitos ele-
mentos incomensuráveis com sua grandeza. Buscaremos aprofundar os argumentos
mobilizados por Leibniz, em especial no diálogo supramencionado, visando recon-
struir o percurso das reflexões que o conduziram às suas teses a respeito das noções
de contínuo e de infinitamente pequeno. Concentrar-nos-emos na análise da divis-
ibilidade infinita, buscando compreender o impacto dos problemas do contínuo na
matemática leibniziana e na filosofia natural do autor. Tomando o argumento leib-
niziano para qualquer grandeza contínua: se grandezas com magnitude finita têm
partes infinitamente divisíveis, a realidade delas está em perigo; elas acabam esvaindo-
se em um nada. Então, se as coisas com magnitude finita devem ter alguma realidade
— como certamente parecem ter — deve haver indivisíveis fundamentando-as. Esses
fundamentos eles mesmos não podem ter magnitude finita (ainda além, sequer com-
parável a uma magnitude finita) ou serem divisíveis ou, do contrário, recairíamos no
mesmo problema. Tais fundamentos devem sem simples e, ainda assim, relaciona-
dos metafisicamente àquilo que possui magnitude de uma maneira robusta, complexa.
Essa é a essência da crítica leibniziana a Descartes no Pacidius, no que concerne à
matéria ser, fundamentalmente, extensão. Se a matéria é extensão, ela é contínua.
Se contínua, sua realidade se perde na divisão infinita. Como somente as unidades
(indivisíveis) são reais, estabelecê-las nos corpos é a única maneira viável de conferir
realidade à matéria. Ainda que sujeitados a um número infinito de decomposições,
não ocorre que a matéria, ou o átomo material, simplesmente se desfaça. O ponto é
que, dentro dos limites de uma experiência de pensamento, tais decomposições fariam
evanescer o corpo o qual se imagina. Os compostos desaparecem em nada se puderem
ser quebrados em partículas cada vez menores ao infinito, e átomos sem dimensão,
mesmo que infinitos em número, não se somarão para formar compostos finitos exten-
sos. Se, por outro lado, átomos tiverem tamanho, mas forem infinitos em número, cada
composto será de tamanho infinito, o que não se confirma. Na linguagem leibniziana
do infinito, essa realidade última, ainda que uma realidade ideal, deve ser constituída
— e não composta — de unidades indivisíveis e incomensuráveis com a grandeza con-
tínua finita da qual são indivisíveis.

Gustavo Caponi gustavoandrescaponi@gmail.com


UFSC
El Encuadramiento Fisicalista De Las Explicaciones Biológicas

Reconocer la clausura causal del dominio físico no le quita valor epistémico a las expli-
caciones causales de procesos y fenómenos biológicos que aluden a propiedades so-
66 IX Principia International Symposium

brevinientes a las propiedades físicas; y para reconocer ese valor epistémico no es ne-
cesario romper con el fisicalismo. Esto queda claro cuando se admite la concepción ex-
perimentalista de la explicación causal conforme ella fue presentada por James Wood-
ward. Según esta perspectiva, las explicaciones e imputaciones causales no suponen
enunciados nómicos, sino invariantes estables bajo manipulaciones; y hay invariantes
que sólo valen para propiedades sobrevinientes a las propiedades físicas: sin aludir a
esas propiedades sobrevinientes, tales invariantes serían invisibles. Como también se-
rían invisibles las tramas causales que ellos permiten descubrir; aun cuando, una vez
individualizadas, esas tramas causales puedan ser eventualmente reconstruidas y ex-
plicadas en términos puramente físicos.
Es decir: sin aludir a las propiedades sobrevinientes no sabríamos ni siquiera qué co-
nexiones causales rastrear en el dominio físico; y eso es lo que algunos defensores del
reduccionismo explicativo a ultranza se olvidan cuando enarbolan la clausura causal
del dominio físico como argumento suficiente en contra de las pretensiones epistemo-
lógicas de las ciencias especiales. Hay ahí una suerte de fisicalismo parásito, de valor
puramente retórico, que se limita a imaginar posibles traducciones físicas de explica-
ciones causales biológicas, que ni el demonio de Laplace habría conseguido formular.
Explicaciones causales que no sólo fue posible formular por la referencia a las pro-
piedades sobrevinientes; sino que además sólo son comprensibles si se alude a esas
propiedades.
Esas explicaciones no pueden ser traducidas a un lenguaje puramente físico sin pér-
dida se contenido; porque los invariantes que las articulan suponen la referencia a pro-
piedades sobrevinientes. Aunque prescindiendo de esos invariantes se pueda formular
otros más específicos y básicos, que valgan para diferentes casos particulares de un fe-
nómeno biológico general, eso no se hará sin pérdida de generalidad y de integración
teórica. La hybris fisicalista podría cegar a la Biología, impidiéndole su avance en el
conocimiento del mundo y yendo en contra de su integración conceptual.
Por otro lado, el hecho de que la referencia a propiedades sobrevinientes nos per-
mita enunciar invariantes efectivamente estables bajo intervenciones experimentales,
también nos indica que el conocimiento causal puede formularse en un lenguaje dis-
tinto del lenguaje de la Física y que, asumiendo la legitimidad de ese conocimiento
causal distinto del de la Física, podemos conocer conexiones causales que un abordaje
puramente físico de los fenómenos y procesos estudiados, podría llevarnos a ignorar.
Para aceptar eso no hace falta romper con el fisicalismo. Muy por el contrario: hay que
aceptarlo; porque la aplicabilidad de la concepción experimentalista del conocimiento
causal supone la proporcionalidad física entre la intervención experimental de los sis-
temas estudiados y la respuesta que esos sistemas dan a la intervención ejecutada por
el experimentador. Todo cambio supone un cambio físico con el cual guarda una pro-
porción invariante a ser detectada; no importando el lenguaje en el que esa proporción
sea enunciada.

Gustavo Emmanuel Alves Vianna de Lyra gustavodelyra@gmail.com


Mestrando - Universidade Federal do Rio de Janeiro
Irrealidade do tempo e o problema do conceito de mudança em McTaggart:
Abstracts / Resumos 67

algumas alternativas

Este trabalho pretende analisar, fundamentalmente, os argumentos de McTaggart con-


tra a possibilidade de mudança, que parecem ser a chave de sua prova da irrealidade do
tempo. Entretanto, sua concepção de mudança afasta-se da mera ideia de variação: de-
manda uma conjunção entre identidade, incompatibilidade e respeito ao princípio da
não-contradição. Em que condições, porém, seria possível conceber mudança em tais
termos? Incorreria McTaggart em uma petição de princípio? Quais soluções se apre-
sentam para este problema?
Em seu artigo The Unreality of Time, McTaggart apresenta a seguinte premissa: tem-
po envolve mudança. A partir dela, o filósofo espera provar que a existência do tempo
é contraditória e, consequentemente, ele é irreal, uma vez que a própria ideia de mu-
dança seria contraditória. Antes disso, porém, ele distingue duas possíveis caracteri-
zações do tempo. A primeira ordena os eventos em relações de anterioridade e poste-
rioridade: todos os eventos ocupariam um momento em uma série e cada momento é
anterior a um e posterior a outro. Note que estas relações não mudam. Esta é a série B.
Por outro lado, os eventos podem ser ordenados em uma série de momentos classifica-
dos como passado, presente ou futuro, a série A. Nela, cada momento é, primeiramen-
te, futuro, converte-se em presente para, finalmente, tornar-se passado. Deste modo,
eventos sofrem mudanças temporais.
Tendo estabelecido que mudanças nas propriedades de eventos levam a contra-
dições, McTaggart continua sua investigação concedendo que é possível que existam
mudanças de propriedades estritamente temporais, a saber, as propriedades de ser
passado, presente ou futuro, o que tornaria a série A mais fundamental. Com isso, ele
estrutura sua prova da seguinte forma:
1. Existe tempo → Existe mudança temporal (premissa)
2. Existe mudança temporal → Série A (premissa)
3. Série A (hipótese de redução ao absurdo)
4. Propriedades da série A são contraditórias
5. ¬ Série A (redução ao absurdo)
6. ¬ Existe mudança temporal modus tolens 2, 5
7. ¬ Existe tempo modus tolens 1, 6
No passo 4, McTaggart emprega os mesmos argumentos que usara contra a mudança,
com o pormenor de defender que propriedades temporais são constitutivas dos even-
tos, como qualquer outra propriedade. Parece, portanto, um movimento redundante.
Há de se questionar a validade do próprio conceito de mudança proposto por McTag-
gart, que aqui chamaremos de mudança forte. De fato esta concepção leva a contra-
dições, mas ela não é necessária para todas definições de tempo. Se considerarmos a
série B como mais fundamental e assumirmos uma mudança no sentido fraco, como a
variação de propriedades constitutivas dos eventos ao longo dos momentos, nos livra-
mos de tais contradições, embora perca-se a ideia de passagem do tempo que pode ser,
afinal, um mito (Williams, 1951, p. 460). Resta a tarefa de distinguir a série B de um me-
ro ordenamento. Para tanto, deve-se estabelecer uma seta temporal que, mesmo sem
68 IX Principia International Symposium

a passagem, diferencie a dimensão temporal de uma dimensão espacial. Apresentare-


mos a alternativa, não imune a controvérsias, da seta termodinâmica do tempo (Mellor,
2009, p. 451), obtida pelo inequívoco aumento da entropia em sistemas termodinâmi-
cos isolados.

Referências
MCTAGGART, J. M. E. ‘Time is not real’. Reimpresso em HOY, R. C. E OAKLANDER, N. (editores),
Metaphysics: Classic and Contemporary Readings. Belmont, Calif: Wadsworth, 1991.
MELLOR, D. H. ‘The direction of time’. In Robin POIDEVIN, Peter SIMONS, Andrew MCGONI-
GAL, Ross CAMERON (Eds). The Routledge Companion to Methaphysics. New York: Routled-
ge, 2009.
WILLIAMS, D. C. ‘The Myth of Passage’. The Journal of Philosophy, vol. 48, No. 15, p. 457-472, 1951.

Hércules de Araujo Feitosa haf@fc.unesp.br


São Paulo State University
Luiz Henrique da Cruz Silvestrini silvestrini@fc.unesp.br
São Paulo State University
On the logic of pragmatic truth

T HE LOGIC OF PRAGMATIC TRUTH

The logic of pragmatic truth (LPT) was introduced by Silvestrini (2011) as an underlying
propositional paraconsistent logic to the quasi-truth theory.
The language of LPT is the propositional language L = (¬, ∧, →), such that ¬, ∧, →
are propositional operators for the notions of negation, conjunction and conditional.

The meaning of these operators are given by the following tables:

1 1
→ 0 2 1 ∧ 0 2 1 ¬
0 1 1 1 0 0 0 0 0 1
1 1 1 1 1 1
2 0 1 1 2 0 2 2 2 2
1 0 1 1 1 1 0
1 0 2 1

The operators ∨ (disjunction) and ◦ (consistence) are defined from the basic opera-
tors.

The deductive environment of LPT was presented in the following Hilbert system:

Axioms:
(A1) ϕ → (ψ → ϕ)
(A2) (ϕ → (ψ → σ)) → ((ϕ → ψ) → (ϕ → σ))
(A3) ϕ → (ψ → (ϕ ∧ ψ))
(A4) (ϕ ∧ ψ) → ϕ
Abstracts / Resumos 69

(A5) (ϕ ∧ ψ) → ψ
(A6) ϕ → (ϕ ∨ ψ)
(A7) ψ → (ϕ ∨ ψ)
(A8) (ϕ → σ) → ((ψ → σ) → ((ϕ ∨ ψ) → σ)))
(A9) ϕ ∨ (ϕ → ψ)
(A10) ϕ ∨ ¬ϕ
(A11) ¬¬ϕ ↔ ϕ
(A12) ◦ϕ → (ϕ → (¬ϕ → ψ))
(A13) ¬ ◦ ϕ → (ϕ ∧ ¬ϕ)
(A14) ◦(ϕ → ψ)
(A15) (◦ϕ ∧ ◦ψ) → ◦(ϕ ∧ ψ)
(A16) (ϕ ∧ ¬ϕ ∧ ψ) → ¬(ϕ ∧ ψ) ∧ ¬(ψ ∧ ϕ).

Deduction rule:
(MP) ϕ, ϕ → ψ ` ψ.

P REVIOUS RESULTS ON LPT

In Coniglio and Silvestrini (2014) and Silvestrini (2011) can be found a proof of ade-
quacy (soundness and completeness) of LPT relatives to the above Hilbert system and
the LPT matrices model, using bivaluations semantics, as it is usual in the context of
paraconsistent logics.

N EW RESULTS

In this paper, we eliminate the axiom (A16), whose can be obtained from the others and
give proofs of soundness and completeness direct on the LPT matrices.

References
BOLC, L.; BOROWIK, P. ‘Many-valued logics: 1 theoretical foundations’. Berlin: Springer-Verlag,
1992.
CONIGLIO, M. E.; SILVESTRINI, L. H. C. ‘An alternative approach for quasi-truth’. Logic Journal of
IGPL, v. 22, p. 387-410, 2014.
EPSTEIN, R. L. ‘The semantic foundations of logic. Volume 1: propositional logics’. Dordrecht:
Kluwer Academic Publishers, 1990.
SILVESTRINI, L. H. C. ‘Uma nova abordagem para a noção de quase-verdade’. Tese de Doutorado,
IFCH. Campinas: UNICAMP, 2011.

Ítalo Lins Lemos italolinslemos@hotmail.com


Mestrando em Filosoa - Universidade Federal de Santa Catarina
Hume e os critérios de justicação para as crenças formadas pela imaginação

Esta comunicação tem por objetivo explicitar o sentido em que a faculdade da imag-
inação, tal como estruturada no Livro I do Tratado da Natureza Humana, é respon-
sável pela formação de crenças que possuem valor epistêmico. Numa acepção geral, a
70 IX Principia International Symposium

imaginação é uma faculdade mental que associa imagens independentemente da pre-


sença atual dos objetos aos quais se referem, produzindo, então, algo distinto do que
fora concebido pela experiência. Ainda nesta acepção, a imaginação é capaz de unir
ou separar as ideias (sejam elas simples ou complexas), o que pressupõe a validade
do atomismo humeano, isto é, o princípio de que tudo o que é distinto é separável.
Hume fornece outras definições mais minuciosas para essa faculdade quando a coloca
em oposição à memória e à razão. Deter-nos-emos à distinção relativa à razão, pois, é
somente neste sentido em que a faculdade da imaginação opera por princípios regu-
lares, possibilitando tanto a previsão quanto a explicação de eventos naturais — isto é,
ela se torna o fundamento das ciências. Dessa forma, pretendemos explorar o modo
como as ideias da imaginação formam crenças como as de identidade pessoal, conexão
necessária e mundo exterior, e em que sentido elas podem ser entendidas como natu-
rais. Embora o valor epistêmico de tais crenças não produza certeza, pois, elas operam
no âmbito da probabilidade, Hume apresenta critérios de justificação que tornam al-
gumas delas mais fortes do que outras. Estes critérios dizem respeito à constância das
experiências passadas, ao hábito e ao costume, o que evidencia o empirismo do filósofo
escocês. Em suma, pretendemos argumentar em favor de um status epistêmico posi-
tivo relativo a certas crenças formadas pela imaginação, na medida em que ela opera
por princípios associativos regulares.

Ivan Ferreira da Cunha clockwork.ivan@gmail.com


Postdoctoral researcher (CAPES) - State University of Maringá
Utopias and Dystopias as Models of Social Science

In his analyses of social science, Otto Neurath notices that social situations, the starting
point of social science, are clusters of phenomena. This means that any social situation
may be studied from many points of view, such as the sociological, the anthropologi-
cal, the psychological, the political, the historical, etc.; also play a role in the situation
the physical, chemical, biological, geographical, etc. He notices that such clusters of
diverse elements are unique in the sense that the smallest change in one of the factors
— even the, so to say, non-social factors — causes significant changes in the whole sit-
uation. Neurath draws some consequences of this particular aspect of social science.
One of these is the great difficulty to perform experiments in social science, or even to
constitute a rich background of past experiences from which to derive generalizations.
In this context, Neurath proposes that social science deals with utopias: plans set
up in relatively large scale, taking into account as many as possible elements of some
social cluster, and presented to the public in a literary manner, in order to raise de-
bates. Utopias are meant to be thought experiments, by means of which social propos-
als might be discussed and further developed with a community. In Neurath’s works,
science must always be viewed as a plural, fallible enterprise —in his well-known anal-
ogy, like a ship that must be constantly rebuilt on the open sea. Therefore, scientific
utopias should not depict a perfect world, but a society in constant process of recon-
struction. Such features appear in the literary utopias by H.G. Wells, an author occa-
sionally mentioned by Neurath.
Abstracts / Resumos 71

Neurath’s utopias may be understood as scientific models in the sense proposed by


Nancy Cartwright. According to her, a model is a blueprint of a nomological machine,
which is an arrangement that allows us to devise lawlike generalizations. So, utopias
are like blueprints of debates about social devices. In discussing utopias, scientists
and communities can draw consequences of social scientific plans, point out prob-
lems, suggest adjustments, dismiss arrangements, etc. Hence lawlike generalizations
come up, which contribute to the application of those plans of social reform presented
by the utopia.
This paper aims at bringing together Neurath’s utopias and Cartwright’s models, ad-
vancing a peculiar feature of social science that emerges in this comparison: in so-
cial scientific models, sometimes, even though everything goes as planned, the utopia
turns into a dystopia, a world where the best intentions lead to the most horrible con-
sequences. In his literary dystopia Brave New World, Aldous Huxley used this feature
to reject the idea of using scientific devices to plan social transformation, claiming that
scientism limits freedom. This paper intends to show, however, that such a problem
can be avoided if science is understood in a plural and fallible process of constant re-
construction, such as Neurath’s. Thus, in the discussion of proposed social transforma-
tions, not only utopias, but also dystopias must be taken into account.

Jairo Dias Carvalho jairodc 8@hotmail.com



Universidade Federal De Uberlândia
O Uso do Conceito de Mundos Possíveis de Leibniz em Filosoa da Arte

O objetivo da apresentação é propor um determinado uso do conceito de mundos pos-


síveis de Leibniz para pensarmos as obras de arte. A discussão acerca dos mundos pos-
síveis e seu uso estético foram postos em cena contemporaneamente a partir da dis-
cussão acerca da noção de ficção feita pela teoria literária a partir da apropriação do in-
strumental da chamada teoria semântica dos mundos possíveis. O principal expoente
desta corrente é Lubomir Dolezel. Sua apropriação do conceito de mundos possíveis
visa para pensar o estatuto da ficção. Foi na Filosofia que a teoria literária foi buscar
seus instrumentos para pensar a Literatura a partir da ficção. A semântica dos mundos
possíveis a permitiu pensar o estatuto ontológico da ficção e propor uma poética dos
textos literários. Os elementos desta discussão giravam em torno de saber qual seria o
melhor enfoque para dar conta da realidade e estatuto ontológico da ficção, sobre qual
seria o valor de verdade em literatura e sobre quais seriam as relações entre mundo fic-
cional e mundo atual. Foi Lubomir Dolezel quem fez uma apropriação da semântica
lógica dos mundos possíveis que lhe permitiu conceber uma determinada relação en-
tre realidade, ficção e mundo possível. Este uso permitiu conceber a atividade artística
como uma atividade poética de construção de mundos. Um segundo uso foi feito por
Étienne Souriau que esboçou o conceito de modo de existência dos objetos artísticos.
Este uso permitiu conceber a obra de arte como um dos modos de existência de um
mundo possível. Será na junção destas duas abordagens que nos permitirá conceber
um conceito da atividade artística como uma atividade de criação e produção de um
modo de existência de mundos possíveis. Para fazer isso, faremos uma exposição sobre
72 IX Principia International Symposium

o conceito de mundos possíveis em Leibniz, uma exposição da posição de Dolezel ac-


erca da apropriação deste conceito e uma exposição de Souriau acerca da articulação
entre artes e mundos possíveis. Ao final proporemos o conceito de “noção principal ou
primitiva do universo” de Leibniz para podermos relacionar aquelas duas concepções
para pensarmos as obras de arte como maneiras de existir dos mundos possíveis. A
noção primitiva de um mundo é uma lei geral de ordem que determina a configuração
daquilo que é possível ou impossível em um mundo em geral ou seja, sua macroestru-
tura modal. Um mundo possível é uma totalidade inclusiva articulada em torno de
uma noção modal de ordem em geral. A macroestrutura modal de ordem constitui um
mundo como tal. Cada mundo possível possui sua lei geral de ordem. A pressuposição
de que existem infinitos mundos possíveis acarreta a pressuposição de que há também
infinitas noções primitivas constitutivas dos mundos. Propomos identificar o que se
chama mundo ficcional ou mundo da obra de arte como um tipo de mundo possível,
ou como possuindo um tipo de macroordem modal gerado por uma noção primitiva.
Cada universo do discurso de uma obra de arte equivale a uma estrutura-mundo. Este
é uso do conceito de mundos possíveis que propomos fazer em filosofia da arte.

James Weatherall weatherj@uci.edu


University of California, Irvine
Understanding Gauge

A central theme in philosophy of physics has concerned how to understand the struc-
ture associated with or posited by a physical theory. For instance, Stein (1965) and
Earman (1989) have shown how debates concerning substantivalism and relationism
in Newtonian gravitation can be recast as a question of whether a classical spacetime is
endowed with certain geometrical structure. Similarly, North (2009), Curiel (2013), and
Barrett (2013) have debated whether one should prefer a Hamiltonian or a Lagrangian
formulation of classical mechanics, in part on the basis of which formulation postu-
lates more or less structure. One can understand recent debates concerning interpre-
tations of Yang-Mills theory (cf. Belot [1998, 2003], Healey [2007], Arntzenius [2012])
along similar lines.
Discussions of structure are especially salient in the context of so-called “gauge the-
ories”, which are often described as positing excess structure, beyond what is needed to
represent a physical situation; this excess structure is associated with a class of “gauge
transformations” between apparently distinct models of the theory that are believed
to represent identical physical configurations. The archetypal example of a gauge the-
ory is classical electromagnetism, but many of our best physical theories — including
general relativity, Newtonian gravitation, and Yang-Mills theory — have also been de-
scribed as gauge theories. Yet the very notion of gauge presents significant conceptual
puzzles: What does it mean to say that some structure is unnecessary or “excess”? Can
we formulate gauge theories in a way that eliminates excess structure, and if so, what is
the significance of such re-formulations?
Recent work by Halvorson, Barrett, and Weatherall (much of which will be presented
in this symposium) has attempted to develop new formal tools for studying scientific
Abstracts / Resumos 73

theories. One application of these tools is in comparing the structure posited by scien-
tific theories. Here I will apply these tools to the questions of what makes mathematical
structure “excess” structure, and to what the relationship is between a formulation of a
theory with excess structure and a formulation without that structure.
The starting point for the analysis will be two representations of electromagnetism
as categories of models, one that explicitly mentions the “gauge structure” and one
that is “gauge invariant” in the sense that the purportedly excess structure never ap-
pears. It will turn out that these theories are not equivalent as categories — indeed, the
first posits “more structure” — unless one supplements the first with additional arrows,
corresponding to the gauge transformations described above. I take this to be a way
of recovering the standard way of speaking about gauge. I will then show that Newto-
nian gravitation is a gauge theory in the same sense, but that general relativity is not. I
will conclude by turning to Yang-Mills theory, a generalization of classical electromag-
netism that has recently vexed philosophers. Though Yang-Mills theory is often cited
as the standard example of a gauge theory, I will argue that neither of the formulations
standardly discussed by philosophers are gauge theories in the sense that electromag-
netism and Newtonian gravitation are.

References
ARNTZENIUS, F. ‘Space, Time, and Stuff’. New York: Oxford University Press, 2012.
BARRETT, T. ‘On the structure of classical mechanics’.Forthcoming in The British Journal for the
Philosophy of Science, 2013.
BELOT, G. ‘Understanding Electromagnetism’. The British Journal for the Philosophy of Science
48(4), p. 531-555, 1998.
——— ‘Symmetry and Gauge Freedom’. Studies in History and Philosophy of Modern Physics
34(2), p. 189-225, 2003.
CURIEL, E. ‘Classical Mechanics is Lagrangian; It is Not Hamiltonian’. Forthcoming in The British
Journal for the Philosophy of Science, 2013.
EARMAN, J. ‘World Enough and Spacetime’. Cambridge, MA: MIT Press, 1989.
HEALEY, R. ‘Gauging What’s Real’. New York: Oxford University Press, 2007.
NORTH, J. ‘The ‘Structure’ of Physics: A Case Study’. Journal of Philosophy 106(2), p. 57-88, 2009.
STEIN, H. ‘Newtonian Space-Time’. The Texas Quarterly 10, p. 174-200, 1965.

Jean-Yves Béziau jyb.logician@gmail.com


Federal University of Rio de Janeiro, Brazil & University of California, San Diego, USA
What is a possible world?

We will discuss the relations between on the one hand the philosophical notion of pos-
sible world and on the other hand the notion of possible world as it appears in the
so-called possible world semantics, aka Kripke semantics. On the philosophical side
we will examine what can be understood as a world, the various meanings of the no-
tion of possibility and what is the fundamental idea behind the combination of these
two concepts. We will in particular recall what is the intuitive idea of possible world
as introduced by Malebranche. On the logico-mathematical side we will highlight the
main features of Kripke semantics, the various systems that can be constructed with
74 IX Principia International Symposium

this tool, including some historical remarks about the development of this theory. We
will clarify in which sense Kripke semantics gives an account of the informal idea of
possible world.

Jeane Vanessa Santos Silva jeane vanessa@hotmail.com



Doutoranda - UFSC
A suposta gradabilidade ou indexicalidade de termos epistêmicos explica a
contextosensibilidade de sentenças de atribuição de conhecimento?

O contextualismo como apresentado principalmente por Keith DeRose e Stewart Co-


hen, é uma tese semântica que alega que sentenças de atribuição de conhecimento
são sensíveis ao contexto em que são proferidas. Assim, sentenças de atribuição de
conhecimento podem possuir diferentes valores de verdade relativos a diferentes con-
textos de avaliação porque o conteúdo proposicional expresso pela mesma sentença
em ambientes de diferentes padrões pode variar em função dessa alteração, ou seja,
em relação a diferentes contextos de proferimento a mesma sentença pode ser ver-
dadeira e falsa pelo motivo de o seu conteúdo não ser o mesmo sob diferentes cir-
cunstâncias de proferimento. A afirmação da contexto-sensibilidade de sentenças de
atribuição de conhecimento tem vindo comumente acompanhada de uma explicação
que se pauta na suposta gradabilidade de termos epistêmicos; de acordo com o con-
textualista, o conteúdo proposicional da sentença proferida varia porque o verbo ‘sabe’,
em sentenças do tipo ‘S sabe que p’, tem um comportamento semelhante a termos in-
discutivelmente graduáveis como ‘alto’ e ‘plano’, por exemplo. Outra alegada origem
para a contexto-sensibilidade de sentenças de atribuição de conhecimento recorre à
suposta semelhança entre o comportamento do verbo ‘sabe’ e termos indexicais como
‘eu’ e ‘aqui’, por exemplo, que tem seu conteúdo contextualmente fixado. A despeito
disso, importantes objetores, como Jason Stanley e John MacFarlane, argumentam que
tal contexto-sensibilidade não é devida nem à gradabilidade, nem à indexicalidade.
Nosso objetivo é investigar se tais teses a respeito de termos epistêmicos, especial-
mente o termo ‘sabe’, se sustentam diante das diversas objeções que epistemólogos
apresentam contra as explicações da assumida contexto-sensibilidade de sentenças de
atribuições de conhecimento. Para tal, pretendemos apresentar de forma sucinta as
teses da gradabilidade e da indexicalidade para termos epistêmicos, os ataques que
estas propostas sofrem e se o contextualismo é capaz de lidar com tais ataques.

Jerey Barret j.barrett@uci.edu


Logic and Philosophy of Science, UC Irvine
Quantum Worlds

Hugh Everett III proposed solving the quantum measurement problem by simply drop-
ping the collapse dynamics from the standard textbook formulation of quantum me-
chanics. While there is a sense in which this proposal immediately solves the mea-
surement problem, it also leads to two new problems. The determinate record prob-
lem involves explaining how it is that measurements generate determinate outcomes.
Abstracts / Resumos 75

The probability problem involves explaining why measurement outcomes should be


expected to exhibit the standard quantum probabilities. We will consider how address-
ing the determinate record and probability problems might lead one to take alternative,
physically real worlds seriously. Then we will consider a number of different ways one
might understand such worlds. In particular, we will discuss and contrast the nature of
relative worlds, splitting worlds, emergent worlds, and thread worlds. We will also re-
flect on the extent to which each might be useful in addressing the determinate-record
and probabilities problems.

Jerey Barrett j.barrett@uci.edu


University of California, Irvine
Everett and Empirical Adequacy

Hugh Everett III proposed his relative-state formulation of pure wave mechanics as
a solution to the quantum measurement problem. He sought to address the theory’s
determinate record and probability problems by showing that, while counterintuitive,
pure wave mechanics was nevertheless empirically faithful and hence empirical ac-
ceptable. We will consider what Everett might have meant by this. The suggestion will
be that empirical faithfulness is well understood as a weak variety of empirical ade-
quacy where one can model physical processes.

Jerzy Brzozowski jerzyab@gmail.com


UFFS - Erechim
Desiderata for Criteria of Identity: A Case Study from Biology

Is the statue the same as the lump of clay it is made of? Is Tibbles the same cat after its
tail was cut off? Could the very same Queen Elizabeth II have been born out of different
sperm and egg?
While the literature on origin essentialism, individual essences, and surrounding
themes has been highly prolific, it fails to address what I believe is a central issue —
that the questions above make no sense unless we specify some scientific theoretical
background against which criteria of identity for the entities in question could be deter-
mined. In this spirit, I here try to establish some desiderata for criteria of identity (CIs)
for biological taxa, as studied by disciplines such as phylogenetic systematics. Under
this outlook, a taxon is frequently defined as a lineage composed by an ancestor and all
of its descendants. It may seem misguided to regard lineages as individuals, and per-
haps even more so to discuss whether or not they have individual essences, but I take
the taxa-as-individuals thesis as a premise. This thesis is now fairly uncontroversial
within philosophy of biology.
A CI is a way to cut up a given domain of inquiry into discrete entities. A general form
K
of a CI for a kind K is ∀x∀y(x = y ↔ Rx y), where R is the criterial relation.
I will argue for the following three desiderata about CIs for biological taxa: (1) they
should be two-leveled, with organisms or populations on the first level, and the taxon
76 IX Principia International Symposium

itself on the second; (2) identities for the first level should be bare, while for the sec-
ond they should supervene on the property of “being a descendant of”; (3) taxon CIs
should support counterfactual reasoning. Jointly, desiderata (1) and (2) are intended to
address a concern first raised by Quine: that criteria of identity are hopelessly circular.
Quine’s point could be reconstructed as follows. How is one supposed to identify x and
y in the formula above? If one is already in a position to do so, then the criterion is
redundant; in the opposite case, it is impossible to apply.
In the case of biological taxa, the solution I wish to propose involves taking x and y
to range over organisms and having organism identity as primitive or bare. Thus, the
left-hand of the biconditional in the formula above should be read as “x and y belong
to the same taxon”. The criterial relation should then spelled out, for each taxon, as “x
and y are both descendants of a”, where a is a rigid designator for that taxon’s common
ancestor.
To speak of rigid designation in this context suggests a way to fulfill desideratum
(3), e.g., by requiring that CIs be prefixed by a modal necessity operator. This solution
seems valid since, like most sciences, biology involves counterfactual reasoning, and
on the other hand, modal logic could in principle model counterfactuals. However, in
the remainder of the talk, I will attempt to explain why it is not clear that either de dicto
or de re modalities are good candidates here. I conclude with some consequences for
the debate on origin essentialism.

Joel Thiago Klein jthklein@yahoo.com.br


UFRN
A questão da propriedade e da pobreza segundo a perspectiva da Filosoa
kantiana do Direito e da Política

A presente proposta de trabalho pretende analisar e refutar uma leitura libertariana da


teoria kantiana do direito e da política. Uma versão deste paradigma interpretativo foi
defendido recentemente por Faggion (“Kantian right and poverty relieve” In. Ethic@,
v.13, n. 2, 283-302, 2014), a qual apresenta uma posição que faz eco a uma interpretação
de Kant relativamente bastante difundida.
Faggion tem como ponto de partida da sua argumentação a interpretação de que
a liberdade externa regulada pelo direito não lida com aspectos materiais, portanto,
questões empíricas não entrariam em consideração. Disso, e por meio de outros ele-
mentos argumentativos Faggion conclui que para Kant não há o dever do Estado em
obrigar os ricos a ajudar os pobres, o que seria o resultado de uma política estatal que
cobrasse mais impostos dos ricos e os distribuísse na forma da criação de um estado de
bem-estar social ou da distribuição direta de renda via programas sociais. Para isso, ela
também assume a tese de que o direito para Kant envolve apenas o direito de coerção à
coerção, ou seja, apenas no sentido de que o direito deve impedir que alguém impeça
outrem de atingir um fim segundo uma lei universalmente válida. Qual seja esse fim,
não viria ao caso. Apesar de alguns bons argumentos, existe, a meu ver, um equívoco na
sua interpretação a respeito de como deve ser compreendida a liberdade de se colocar
fins para si mesmo. Tal conclusão libertariana se assenta sobre um equívoco, a saber,
Abstracts / Resumos 77

sobre a pressuposição implícita de que e a pobreza seja fruto do desleixo ou da falta


de vontade dos indivíduos pobres e a riqueza seja fruto da competência, boa sorte ou
vontade de trabalho dos indivíduos ricos. Todavia é possível colocar sérias dúvidas de
que essa seja uma boa descrição da situação do nosso mundo ou mesmo do mundo no
qual Kant estava pensando.
Ao atentarmos para a história da formação do Estado, uma história que o próprio
Kant reconhece em textos como Ideia de uma história universal com um propósito cos-
mopolita (1784) e Início conjectural da história humana (1786), então temos na origem
empírica do Estado apenas a força, a qual não funda e nem se funda no direito. Além
disso, a partir dessa história sabemos também que vivemos em um mundo onde nem
todos podem ter riqueza ou grande acúmulo de terras sem que outros acabem ficando
com muito pouco ou sem nada. Essa questão empírica da origem da propriedade
remete também a questões históricas sobre a forma como alguns indivíduos conquis-
taram ou receberam esses privilégios. Ora, isso tem uma implicação direta na possibil-
idade de outros indivíduos poderem ter acesso aos mesmos bens ou a uma proporção
equivalente de bens, ou mesmo a uma proporção não tão desigual. Por que o Estado
na sua fundação ou mesmo ao longo de sua existência deveria compactuar com essa
injusta desigualdade que se estabeleceu ao longo da história? Por que o Estado deveria
“cruzar os braços”?
É preciso considerar seriamente a possibilidade de Marx ou Piketty estarem certos.
Nesse caso, teríamos a situação de que a partir de uma perspectiva empírica, isto é,
a partir de uma descrição e análise de dados econômicos, chegamos a conclusão de
que vivemos em um sistema político e econômico que atua como uma coação dos ri-
cos para com os pobres (Cf. V-Mo/Collins, AA 27: 455f.; 415f. (utilizo aqui a forma de
citação estabelecida pela Akademie Ausgabe)). Nesse caso, estaríamos vivendo em uma
situação em que os ricos coagem os pobres, por conseguinte, poderíamos defender que
o Estado, para evitar essa injusta coação deveria impedir que os ricos coajam os pobres,
algo que para o direito se caracteriza como uma justa coação. Essa coação do Estado
poderia se dar de diversas formas, mas talvez a mais “tranquila” delas seja exatamente
sobretaxar os ricos para que a atuação injusta e ilegítima do mercado e da economia se-
jam contrabalançadas. Portanto, seguindo esse breve raciocínio, a partir dos princípios
metafísicos do direito e numa condição empírica específica seguir-se-ia a legitimidade
e a necessidade do Estado coagir para evitar a injusta coação.
O argumento esboçado primitivamente acima pode ser sustentado segundo a filosofia
Kantiana a partir de uma compreensão a respeito do que é Metafísica dos Costumes
que Kant está propondo e de como ela opera e se relaciona com a prática, isto é, com
a antropologia e com questões históricas e empíricas. “Metafísica” implica uma apli-
cação dos princípios críticos aplicados a certos aspectos antropológicos (Cf. MS, AA
06: 217), e como a antropologia se refere a algo que não é natural, no sentido de algo
ser simplesmente dado por natureza, mas daquilo que o homem faz de si mesmo ao
longo do tempo (Cf. Anthr. AA 07: 321), então, isso implica que a Metafísica precisa ser
aplicada ou ainda, levar em conta na sua aplicação aspectos antropológicos, os quais
não seriam outra coisa senão a a consideração de como os princípios metafísicos do
direito precisam ser aplicados em um determinado contexto histórico e econômico.
78 IX Principia International Symposium

Em suma, uma compreensão adequada do significado e do âmbito da correta apli-


cação da própria argumentação desenvolvida por Kant na Metafísica dos Costumes
precisa considerar três aspectos intrinsecamente relacionados: a. Em primeiro lugar, a
interpretação coerente e sistemática do significado dos princípios metafísicos da dout-
rina do direito, o que ocorre num âmbito a priori, puro e extritamente formal; b. Em
segundo lugar, uma análise adequada daquilo que constitui a condição antropológ-
ica do ser humano em um determinado momento histórico; c. Em terceiro lugar, a
ligação adequada dos princípios metafísicos do direito com a concepção acertada de
antropologia, de modo que se possa realizar uma transição adequada entre a teoria e
a prática. Esse terceiro aspecto demanda, muitas vezes, mais teoria, a qual precisa ser
abstraída da experiência e também demanda uma exercitada capacidade de julgar (Cf.
TP, AA 08: 275ff.).
Há ainda um segundo argumento contra a interpretação libertariana da filosofia
kantiana do direito e da política, o qual se sustenta sobre uma determinada compreen-
são a respeito da diferença entre Direito e Política, entendida enquanto doutrina do
direito exercitada (Cf. PP, AA 08: 370). Segundo Faggion, o Estado não pode ter algo
como deveres de virtude, tal como se fosse um sujeito que assumisse como seu fim a
promoção do esclarecimento ou a promoção da liberdade dos seus súditos, pois isso
seria confundir os limites da ética e do direito. Porém, negar que o estato tenha deveres
de virtude não exclui que o Estado tenha fins, tais como a garantia da segurança, mas
também a promoção da liberdade e da autonomia. Negar isso, parece implicar uma
leitura descontextualizada da teoria própria doutrina do direito em relação à filosofia
política e à filosofia da história de Kant. Em À paz perpétua, por exemplo, Kant afirma
textualmente que os Estados devem ser considerados e tratados como pessoas morais
(Cf. PP, AA 08: 344). Isso parece implicar que o Estado pode e também deve ser pen-
sado como se fosse um agente com seus próprios fins morais. Isso, por sua vez, pode
ser sustentado sem que resulte necessariamente na transformação da teoria do direito
em uma teoria ética, ou em apagar as diferenças entre direito e virtude. Além disso, não
se trata de impor um conceito de bom aos súditos, situação que Kant avalia como um
Estado despótico e paternalista, mas de dar-lhes condições de se colocarem em uma
situação em que possam escolher por si mesmos e livremente um conceito de bom.

John Divers J.Divers@leeds.ac.uk


University of Leeds
Possible-Worlds Semantics: Purity, Applicability, Content and Purpose

The need to make a distinction between pure and applied possible-world semantic the-
ories is officially acknowledged by all. But the distinction is not observed as often or as
carefully as it ought to be. In this paper, I attempt to exploit fully the philosophical op-
portunities that careful and gradual implementation of this distinction offers us. I shall
attempt to show how this approach:
(a) enables us to pinpoint exactly the sources of various different sorts of commit-
ment
Abstracts / Resumos 79

(b) allows us to distinguish between applications that require different extents of


theoretical articulation
(c) encourages us to recognise that various questions that the discourse allows
us to formulate are either pseudo-questions or have answers that are interest-
relative
(d) compels us to scrutinise whether concepts and ontology that are invoked to
serve one purpose are genuinely apt to serve others.

Jonas Rafael Becker Arenhart jonas.becker2@gmail.com


UFSC
Remarks on the Received View on Quantum Non-Individuality

One of the most intriguing philosophical issues concerning the metaphysics of quan-
tum mechanics deals with the relation of identity and how it is expected to work for
quantum entities. The first efforts to understand quantum mechanics presented this
relation as completely distinct from its classical physics analogue. This difference was
grounded on the newly discovered quantum statistics and the kind of permutation
symmetry obeyed by quantum particles. A first attempt at interpreting this specific as-
pect of the theory was known as The Received View on quantum non-individuality. The
Received View had it that quantum entities are non-individuals, in opposition to their
classical mates, that have identity and are individuals. This idea of non-individuals
happens to be a metaphysical notion that encapsulates the idea that quantum entities
are thought of as having no identity. We shall investigate how this idea was turned into
a more rigorous position with the use of formal systems to formalize the concept of a
non-individual. Quantum mechanics obeys a kind of symmetry principle called Per-
mutation Symmetry, according to which, roughly put, a permutation of the labels of
particles in a state does not change the probabilities attributed for any quantity that is
calculated for that state. The Received View extracts non-individuality from Permuta-
tion Symmetry. However, the idea of non-individuality depends on how individuality
is understood and how we cash the idea of something “having identity”. Most of the
discussions on the issue follow Schrödinger on his popular exposition of the matter,
when he claimed that identity makes no sense for quantum particles. The first formal
approach to the issue is due perhaps to Newton C. A. da Costa in his formalization of
Schrödinger logics. To formally capture the claim that identity does not make sense for
quantum entities, da Costa provided for a two-sorted language in which one kind of
variables ranges only over such particles, and restricted the symbol of identity in the
definition of formula, so that when x and y are variables for quantum particles, x = y
(and any formula combining identity with these variables) is not well formed. In this
sense, identity does not make sense for particles because it cannot be said of them
that they are identical or different. The language has no resources to produce such
statements. This strategy was taken one step forward by Décio Krause, who presented
higher-order Schrödinger logics and quasi-set theory (a set theoretical version of these
logics). Krause made explicit the link between non-individuality and the fact that iden-
tity and difference statements cannot be made for these entities. We shall investigate
80 IX Principia International Symposium

in detail the metaphysical connection between Schrödinger’s claim that quantum par-
ticles have no identity with the idea behind restricting identity in Schrödinger logics
and the Received view. Our claim is that it corresponds to one possible metaphysical
articulation of the Received View, and others are possible, as we shall show.

Jonatan Willian Daniel jonatanwilliandaniel@gmail.com


Doutorando - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Sellars, necessidade natural e mundos possíveis

O objetivo do presente trabalho é expor a alternativa sellarsiana para o entendimento


da necessidade natural. Ao formalizarmos uma lei natural que estabeleça um relação
entre duas propriedades, F e G, na sentença “(x)F x > G x”, nos deparamos com a
questão de como entender o escopo da implicação (>) envolvida nessa sentença. Se
essa sentença for entendida como “todo particular existente que tem a propriedade F
tem também a propriedade G”, temos um problema porque ela não dá conta de casos
contrafactuais de particulares que não existem atualmente, mas que, caso existissem
e tivessem a propriedade F, teriam que, de acordo com a lei natural específica, possuir
também a propriedade G. Afinal de contas, uma lei natural não se limita a expor a deter-
minação do que é o caso, mas também de estados de coisas possíveis (de acordo com
essa própria lei natural). Se entendemos a formalização da lei natural como “qualquer
particular possível que tiver a propriedade F, terá também a propriedade G”, também
temos um problema acerca da generalidade dessa sentença, pois ela expressa um vín-
culo necessário entre os universais F e G. Contudo a sentença que expressa uma lei da
natureza não é uma sentença analítica. Quer dizer, para que essa formalização de uma
regularidade natural em uma lei da natureza dê conta mesmo de casos contrafactuais,
deveríamos mostrar que Gx pode ser deduzido logicamente de Fx, o que não é o caso
nas leis naturais como tradicionalmente concebidas. Em Concepts as involving laws
and inconceivable without them, Sellars explora como devemos entender a necessi-
dade das “Leis da natureza”. Ele defende que “somente ao tomar seriamente e, de fato,
expandir a concepção leibnitziana de mundos possíveis que podemos dar uma expli-
cação adequada ao conceito de necessidade natural”. A estratégia sellarsiana consiste
em mostrar que uma lei natural é necessária não em todos os mundos possíveis, no
sentido amplo do termo, mas somente numa “família de mundos possíveis”. Embora,
à primeira vista, pareça que possamos conceber mundos possíveis que tenham difer-
entes leis naturais, mas os mesmos universais, Sellars pretende mostrar que “universais
e leis são correlativos: mesmos universais, mesmas leis; diferentes universais, diferentes
leis”. Sendo assim, as “famílias de mundos possíveis” se definem em virtude dos uni-
versais e das leis naturais que apresentam, sendo essas leis necessárias somente den-
tro de suas respectivas famílias, o que permite às leis naturais serem entendidas como
gerais o suficiente para dar conta de casos contrafactuais, mas sem precisar derivar
essa generalidade de propriedades meramente lógicas, como acontece em anunciados
analíticos.
Abstracts / Resumos 81

Jonathan Elizondo Orozco jonathao@hotmail.com


Universidade Federal de Santa Catarina
Form of life -Was Wittgenstein really an anthropocentric?

With the publication in 1953 of Ludwig Wittgenstein’s Philosophical Investigations an


important turn was made in the way occidental philosophy approaches any specific
problem. By introducing the idea of Language Games, any researcher was allowed (and
forced) to ask him or herself about the use of the main concepts object of his or her
investigation. According to the Austrian philosopher, the sense of any expression is rel-
ative to its use, which depends on the specific language games that the interlocutors are
playing. But, was this pragmatic turn significant enough to let us expand the notions
of knowledge or consciousness to any living species? We find that Wittgenstein intro-
duced as well the idea of Form of Life to explain his new epistemological approach. The
Form of life of us humans enables us to communicate among ourselves: “Here the term
language-game is meant to bring to prominence the fact that the speaking of a language
is part of an activity, or of a form of life”, Philosophical Investigations, § 23. He also com-
pares the Human Form of Life to others types, such as the form of life of the lions (“If
a lion could talk, we could not understand him”). Which are the implications of this
new idea? Is it a transcendental (in the Kantian perspective) notion of knowledge, or
could it be taken as an anthropological concept? In any case, does it perpetuate the an-
thropocentric paradigm of occidental knowledge, or could it be a door that allows us to
advocate for biocentrism? This paper aims to analyze the concepts of Form of Life and
Language-games introduced on the Philosophical Investigations, and to try to use them
to understand the conflict between an anthropocentric focused knowledge and a bio-
centric one. Could wittgensteinian philosophy help to think on a change of paradigm
that could overcome the speciesism that have characterized the development of many
Legal and Ethical Theories, or would it, on the contrary, perpetuate those traditional
points of view?

Jordan Michel Muniz jordanj@terra.com.br


Doutorando - UFSC
Uma ética da cidade ante o princípio viciado da cidadania: revolta urbana e
igualdade política

As explicações das revoltas urbanas mundo afora têm variados enfoques: deficiências
na ação do Estado, impacto das novas mídias na organização popular, crises da econo-
mia, da democracia, da representação política. . . É comum negligenciar-se um prob-
lema ético primordial subjacente: a desqualificação sistemática da igualdade política.
Em relação a esta motivação, as explanações podem ser agrupadas conforme ignorem
tal causa, incluam-na sem priorizá-la, ou refiram a desigualdade e injustiça do modo
de ser da cidadania como móbil desencadeador dos embates urbanos.
A centralidade do último aspecto constituirá meu foco e a primeira parte deste es-
tudo. Não postulo que quem protesta por direitos faz necessariamente reivindicações
como discurso ético fundamentado. Isto seria supor que existem de antemão com-
preensões que com frequência só se formam coletivamente durante o conflito, ou a
82 IX Principia International Symposium

posteriori, nas interpretações dos acontecimentos. Percebidos como questões de justiça


social, os enfrentamentos nas cidades transfiguram-se em lutas pelas cidades.
Quem demanda uma ética urbana ante a corrupção do princípio da cidadania trans-
põe a cesura analítica que questiona pontualmente a credibilidade da democracia, do
Estado, da representação política. . . O bem comum e a justiça distributiva têm “estatuto
construtivo” (Brum Torres): desconsiderados, põem-se em cheque pressupostos do
contrato social e da submissão pacífica: por que a maioria deve acatar condições le-
gal e moralmente impostas à coletividade quando enfrenta no cotidiano a continuada
imoralidade da minoria dominante que subverte as regras do jogo impunemente?
Em segundo lugar, assinalarei que não se trata de incidir na falácia naturalista definin-
do o que seria o bom ou uma boa sociedade. Os manifestantes repudiam o que é ina-
ceitável e indesejável: buscam o “aprovável”, a “responsabilidade pelo futuro” (Dewey),
o “desejo coletivo por um mundo novo” (Badiou); querem reformas. Os rebeldes reagem
às atitudes costumeiras que sinalizam a subsistência de éticas diferenciadas regrando
a vida citadina, cujo efeito é ampliar desigualdades socioeconômicas e transformar a
igualdade política num formalismo vazio. Falar em ética da cidade não significa criar
uma subárea prescritiva, mas nomear exigências de mudanças que propiciem a for-
mação de solidariedades sociais. Os revoltosos reclamam da aplicação da regra capital-
ista da livre competição às relações interpessoais e ao local onde moram. Sem serem
revolucionários, os manifestantes expressam a recusa em continuar aceitando que de-
cisões relativas ao espaço vital — transporte, moradia, água. . ., baseiem-se prioritaria-
mente em critérios mercadológicos.
Ao final, dada a ressurgência de populações insatisfeitas clamando nas ruas, abdi-
carei de uma conclusão ou prognóstico. Estudos recentes sugerem a globalização inter-
ativa do engajamento pela alteração dos costumes urbanos. O confronto é político na
medida em que desafia poderes e interesses estabelecidos, porém vai além ao defender
que as pessoas modifiquem suas atitudes quanto ao lugar em que vivem de modo a agir
pensando na melhoria coletiva do ambiente. A novidade dos protestos é que agora,
antes de serem consumidores, os muitos se descobrem cidadãos e querem a cidade em
mãos visíveis, próprias. Justificativas não faltam, como indicam Boltanski, Harvey ou
Piketty. Os que buscam eticizar a cidade inspiram-se em Bookchin, Mouffe, Laclau ou
outras fontes citadas nas entrevistas feitas por Sitrin & Azzellini.

Jorge Alberto Molina molina@unisc.br; jorge-molina@uergs.edu.br


Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) da Universidade Estadual de Rio Grande do
Sul (UERGS)
Um Capítulo da Pré-História das Ciências Humanas: A Defesa por Vico da
Tópica

Antes da constituição das ciências humanas, no final do século XIX, as disciplinas que
se ocupavam do homem e da sociedade recebiam o nome de ciências morais. Elas es-
tudavam a mente humana, tanto nos seus aspectos intelectuais quanto nos afetivos, a
Moral, a Teoria do Estado, a Política e o Direito. Ao surgir a ciência moderna no século
XVII apareceu a tentativa de aplicar a esses assuntos os métodos que tão eficazes pare-
Abstracts / Resumos 83

ciam se mostrar no estudo da Natureza: o método racionalista baseado na Matemática


e o método experimental, teorizado por Bacon e aplicado por muitos dos cientistas da
Royal Society. Naquele século encontramos projetos de expor em forma geométrica
a Jurisprudência, do qual temos como exemplos os Elementos de Jurisprudência de
Felden, os Elementos de Jurisprudência universal de Pufendorf e os escritos de Leibniz
em que esse autor expõe em forma axiomática o Direito. No século XVIII o Tratado da
Natureza Humana de Hume declara querer aplicar ó método experimental de raciocínio
aos assuntos estudados pelas ciências morais. A dissertação de Vico Sobre o método
dos estudos de nosso tempo, publicada em 1708, é uma das primeiras obras, e quiçá
até poder-se-ia dizer, que é a primeira obra, na qual claramente é dito que o método
de estudo e exposição das ciências morais deve ser diferente do método das ciências
da Natureza. Para as ciências morais Vico propõe como método a Tópica que consiste
no uso dos lugares de argumentação ou topoi. A Tópica foi elaborada na Antiguidade
clássica por Aristóteles, reformulada por Cícero e transmitida à Idade Média por Boé-
cio. Na Renascença houve um predomínio da Tópica sobre a Lógica dos Primeiros e
Segundos Analíticos, devido a um renovado interesse pela obra de Cícero e à rejeição
da Lógica escolástica. Isso pode ser constatado no De Inventione Dialectica de Agri-
cola e em muitas das obras de Petrus Ramus. Na Antiguidade clássica os lugares de
argumentação foram considerados estratégias destinadas a desenvolver um discurso
argumentativo ou a refutar os argumentos de um adversário. Com o advento do carte-
sianismo, a Tópica ficou desacreditada como o mostra a Lógica ou arte de pensar de
Arnauld e Nicole, obra conhecida também como Lógica de Port Royal, texto que expõe
uma concepção cartesiana da Lógica e da Metodologia científica. A crítica dos autores
de Port. Royal contra a Tópica se dirige ao fato de que ela só permite obter conclusões
prováveis e não garante a demonstração de proposições verdadeiras. É contra a Lógica
de Port Royal que argumenta Vico em sua dissertação mencionada acima. Dessa forma
Vico deu início a uma discussão metodológica que no século XIX será expressa em ter-
mos da contraposição entre as Ciências da Natureza que explicam e as Ciências do
Espírito que compreendem. No nosso trabalho exporemos com detalhe os argumen-
tos de Vico contra a metodologia cartesiana da Lógica de Port Royal, o contexto cultural
em que Vico expôs sua dissertação, a recepção que teve no século XVIII aquela obra de
Vico e a relevância atual da dissertação de Vico para as discussões sobre a metodologia
das ciências humanas.

Josailton Fernandes de Mendonça josailtonf@gmail.com


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
Sobre as relações de acessibilidade entre mundos possíveis em Thomas Kuhn

Como entendo, a respeito dos mundos possíveis, Thomas Kuhn é um fiel proponente
do realismo modal. Realismo esse é tomado como apoio certo e seguro para ataque a
tese de que as teorias cientificas podem ser objetivamente comparadas. Em Possible
worlds in history of science (in: Possible worlds in humanities, arts and science, nobel
symposium 65, 1989) Kuhn defende que “Possuir um léxico, um vocabulário estrutu-
rado, é ter acesso a uma variedade de conjuntos de mundos nos quais aqueles léxicos
84 IX Principia International Symposium

podem ser usados para descrevê-los. Diferentes léxicos — aqueles de diferentes cul-
turas e de diferentes períodos históricos — dão acesso a diferentes mundos possíveis
em grande parte mas nunca inteiramente sobrepostos”.. Assim, teorias distintas so-
bre o mesmo tema tem léxicos distintos que as tornam incomunicáveis, de modo que
somente o domínio do velho léxico torna possível o escrutínio de alguma velha teo-
ria. Neste sentido cada léxico — equivalente em termos linguísticos a antiga noção de
paradigma — muda radicalmente durante a fase da revolução científica e, portanto, o
campo do velho léxico é radicalmente inacessível ao novo léxico. Configura-se assim
o que Philip Kitcher (In: Theories, theorists and theoretical change, philosophical re-
view. v.87, oct. 1978) denomina de um relativismo conceitual que, ao meu ver, captura
a conhecida tese de David Lewis segundo a qual existem entidades chamadas “o modo
como as coisas poderiam ter sido” que são espacial e temporalmente desconectados
um dos outros — é o realismo modal. Mas, apesar da estrutura semântica de uma teo-
ria constituir-se num mundo possível inacessível a outros léxicos, Kuhn admite que
mundos possíveis sejam estipulados, desde que, tomem por base a mesma estrutura
de vocabulário (léxico). Assim, o poder e a utilidade dos argumentos dos mundos pos-
síveis, ao menos em sua aplicação no desenvolvimento histórico, diz Kuhn, “parece
requerer sua restrição a mundo acessíveis com um dado léxico, os mundos que podem
ser estipulados por participantes de uma dada comunidade linguística ou cultura”. Por-
tanto, Mundos não são acessíveis através de outras linguagens ou léxicos. Dentre as
inúmeras questões que o tema sugere exploro no trabalho duas que me parecem rep-
resentarem melhor as dificuldades inerentes ao realismo modal de Kuhn e seu rela-
tivismo conceitual: (i) é possível salvar a objetividade inter-teórica a partir da relação
de acessibilidade entre mundos possíveis? (ii) como salvar a identidade referencial em
léxicos distintos e suscetíveis ao contexto dos mundos? Penso que a resposta aos dois
problemas é “não”. E a base para essa negativa é a mesma, ao menos é o que procurarei
demonstrar no trabalho: a visão de ciência de Kuhn é sócio-psicológica e sua semân-
tica inserida no realismo modal. Ora, o tese semântica desse realismo assume, segundo
Stalnaker (In: On what possible worlds could not be, ways a world might be, 2003) que
o possível ou o necessário devem ser analisados em termos do que é verdadeiro para al-
guns ou todas as partes, tomadas individualmente, da realidade e, portanto parece não
haver razão para acreditar em declarações modais acerca do que é meramente possível.

José Carlos Cifuentes jccifa@gmail.com


Universidade Federal do Paraná
La lógica modal subyacente a la teoría de los subconjuntos fuzzy
Si X es un conjunto y L es un retículo con 0 = inf L y 1 = sup L, un L-subconjunto de X
es una función A : X → L, en particular, A(x) = 0 para todo x denota ;, y A(x) = 1 para
todo x denota X . Si i m A ⊆ {0, 1}, A es la función característica de un subconjunto de
X que llamaremos L-subconjunto nítido. P L(X ) denotará el conjunto {A : X → L/A es
función} que llamaremos conjunto generalizado de partes de X.
P L(X ) es un retículo a respecto de lo siguiente: para A, B ∈ P L(X ) ,
a) A ⊆ B ⇐⇒ para todo x ∈ X , A(x) ≤ B (x);
Abstracts / Resumos 85

b) (A ∪ B )(x) = A(x) ∨ B (x) para todo x ∈ X ; y


c) (A ∩ B )(x) = A(x) ∧ B (x) para todo x ∈ X .
Una operación importante en P L(X ) es la operación parte nítida que denotaremos
por 2 y definiremos por (2 A)(x) = {1, si A(x) = 1; 0, si A(x) < 1}. Es la función caracte-
rística del conjunto 2 A = {x ∈ X /A(x) = 1}.
2 tiene las propiedades del operador modal de necesidad del sistema S4, por ejem-
plo: i) 2 A ⊆ A; ii) 22 A = 2 A; iii) 2(A ∩ B ) = 2 A ∩ 2B ; y iv) 2(A ∪ B ) ⊇ 2 A ∪ 2B .
Para cada a ∈ L, definimos también la operación ¬a A satisfaciendo:

para todo x ∈ X , (¬a A)(x) = 1 ⇐⇒ A(x) = a.

Además, exigiremos que ¬1 A = A y denotaremos por ¬A = ¬0 A.


Las operaciones ¬a son negaciones generalizadas y los L-subconjuntos ¬a A com-
plementos generalizados de A. El complemento clásico de A en P L(X ) es A c = ¬A y
satisface: (A c )(x) = 1 ⇐⇒ A(x) = 0.
A partir de ¬ y 2 definimos ♦ como ♦ A = ¬2¬A, resultando en el L-subconjunto
nítido ♦ A = {x ∈ X /A(x) > 0}.
♦ tiene las propiedades del operador modal de posibilidad del sistema S5: i) A ⊆ ♦ A;
ii) 2♦ A = ♦ A; iii) ♦♦ A = ♦ A; iv) ♦2 A = 2 A; v) ♦(A ∪ B ) = ♦ A ∪ ♦B ; y vi) ♦(A ∩ B ) ⊆
♦ A ∩ ♦B .
En este trabajo construimos un sistema axiomático hilbertiano para una lógica pro-
posicional modal correcta y completa a respecto de una semántica de valoraciones de-
finidas en el retículo L con las siguientes características: i) el teorema de deducción es
el del sistema S4: Γ∪{φ} ` ψ ⇐⇒ Γ ` 2φ → ψ; ii) el teorema de la prueba por reducción
al absurdo es: Γ ∪ {¬φ} `⊥⇐⇒ Γ ` ♦φ; iii) la noción de conjunto consistente de fórmu-
las es: Γ es un conjunto consistente si no existe fórmula φ y no existen a, b ∈ L con a 6= b
tales que Γ ` ¬a φ y Γ ` ¬b φ. La consistencia es entonces un fenómeno polivalente.
A continuación introducimos los conceptos de L-filtro, L-filtro maximal y L-ultrafiltro,
necesarios para una teoría de L-subconjuntos de orden superior y para las pruebas me-
tamatemáticas sobre la lógica introducida.
Sea D ⊆ P L(X ) , diremos que D es un L-filtro propio si:
i) ; ∉ D;
ii) A, B ∈ D =⇒ A ∩ B ∈ D;
iii) A ∈ D y B ⊇ A =⇒ B ∈ D; y
iv) A ∈ D =⇒ 2 A ∈ D.
Las negaciones generalizadas ¬a permiten generalizar la siguiente condición clásica
que caracteriza un filtro D ser maximal: para todo A ∈ P (X ), A ∈ D o A c ∈ D. Veamos:
Un L-filtro propio D es llamado
a) L-filtro maximal si es maximal a respecto de la inclusión en P L(X ) ;
b) L-ultrafiltro si para todo A ∈ P L(X ) existe a ∈ L tal que ¬a A ∈ D;
c) L-filtro primo si para todo A, B ∈ D tenemos que

A ∪ B ∈ D =⇒ A ∈ D o B ∈ D.
86 IX Principia International Symposium

Tenemos el siguiente resultado: si L es una cadena finita y D es un L-filtro propio en


P L(X ) , son equivalentes las tres nociones anteriores.
Como un subproducto, tomando L = {0, 1}, obtenemos una versión modal de la lógi-
ca proposicional clásica.

José Carlos Magossi magossi@ft.unicamp.br


Universidade Estadual de Campinas
Adelino Francisco de Oliveira
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo - Campus Capivari
Uma semântica de mundos possíveis para o ensino de matemática

O ensino da matemática, em específico, e o ensino das demais ciências, de maneira ge-


ral, sofrem, no contemporâneo, com as perspectivas de fragmentação e reducionismo
próprias de uma racionalidade meramente instrumental, que se encontra na base das
posturas tecnicistas, pragmáticas e utilitaristas em educação. O ensino hodierno foca
em “mundos” em um sentido isolado, não estabelecendo relações entre eles. Desse mo-
do um cenário difuso pode se instalar no ensino de matemática e conduzir a equívocos
na captação de conceitos e estruturas matemáticas. O objetivo desse estudo é ilumi-
nar o ensino de matemática — bem como de outras ciências — sob a ótica de mundos
possíveis, no sentido de Kripke, de tal forma que se possa, em um processo contínuo
e reflexivo, desenvolver e analisar relações bem definidas entre esses mundos. É preci-
so que alcance destaque uma dimensão axiomática destinada a tratar dessas relações,
tal como em uma lógica modal, possibilitando uma total conexão entre eles [4]. Esta
perspectiva alinha-se às prerrogativas de Edgard Morin, em uma visão de mundo com-
plexo [5,6,7]. Assim, o presente trabalho vislumbra apresentar, à luz do pensamento
complexo, um método para o ensino de matemática e das ciências, suportado e funda-
mentado a partir de um sistema axiomático da lógica modal. O método CHAIn — sigla
que representa a interação dinâmica entre as dimensões da comunicação, da histó-
ria, da abstração e da interdisciplinaridade — compõe-se como um instrumento peda-
gógico a serviço do processo de ensino e aprendizagem [3]. Essas dimensões, quando
compreendidas como mundos possíveis podem caracterizar um processo de interação,
superando a fragmentação do conhecimento. Essa perspectiva metodológica propõe
também um resgate à história da ciência, exposto por Oswald Spengler [8], como es-
tratégia de observar e contextualizar aspectos históricos e suas possíveis demandas no
decorrer da história da humanidade, como forma de, em última instância, fazer ma-
temática e ciência. Os equívocos cronológicos relativos ao surgimento de conceitos e
estruturas em matemática — ou mesmo em outras ciências, como a própria filosofia —
podem implicar, muitas vezes, em erros de construção matemática, inconsistências na
formulação de novos conceitos e deficiências na compreensão de conceitos já estabe-
lecidos cientificamente. Uma Lógica associada à metodologia CHAIn pode auxiliar em
uma concreta e efetiva reflexão sobre novas ferramentas matemáticas e consistência
nos conceitos já desenvolvidos. Conforme trata Jaynes, na obra Probability Theory: The
Logic of Science [1], uma análise lógica de informações incompletas se faz necessário
com o objetivo de clarear, à luz da ciência, os diferentes tipos de raciocínios, sejam eles
Abstracts / Resumos 87

lógicos, no sentido puro, sejam eles plausíveis. Essa visualização da história como ins-
trumento no processo de ensinar e fazer matemática e ciência se resume na percepção
aguda das estruturas e conceitos matemáticos que resistem e se impõe na matemática
ao longo de seu desenvolvimento [2].

Referências
[1] JAYNES, E.T. ‘Probability Theory: The Logic of Science’. Cambridge, Cambridge University Press,
First Edition, 2003.
[2] MAGOSSI, J.C.; POLETTI, E.C.C. ‘O Movimento das Estruturas Matemáticas’. International Jour-
nal on the History of Mathematics, vol. 12, n.25, p.1-13, 2012.
[3] MAGOSSI, J. C. ‘Uma Metodologia Fundamentada na Comunicação, História, Abstração e In-
teração com outras áreas da Ciência’. E-BOOK. Inovações em Atividades Curriculares. Expe-
riências no Ensino Superior com foco na Interdisciplinaridade. FE/UNICAMP, outubro, p.822-
842. ISBN 978-85-7713-160-0. 2014.
[4] MAGOSSI, J. C. ‘Uma lógica modal temporal’. Dissertação de mestrado, IFCH, Unicamp, 24 de
junho, 1994.
[5] MORIN, E. ‘A Inteligência da Complexidade’. São Paulo, Editora Fundação Petrópolis, 2001.
[6] ——— ‘Ciência com Consciência’. 6a ed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2002.
[7] ——— ‘Introdução ao Pensamento Complexo’. 3a ed. Lisboa, Instituto Piaget, 2001.
[8] SPENGLER, O. ‘A Decadência do Ocidente - Esboço de uma morfologia da História Universal’.
Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1973.

Jovino Pizzi jovino.piz@gmail.com


Universidade Federal de Pelotas
O sujeito pronominal na gramática comunicativa: uma compreensão pós-
metafísica

A filosofia contemporânea assume uma posição pós-metafísica. A mudança excede a


racionalidade típica da ratio essendi para apropriar-se dos pressupostos pragmático-
fenomenológicos da linguagem e, assim, assegurar ao sujeito o papel de coautor. Essa
coautoria indica que o sujeito apresenta uma “certa” existência autônoma na medida
em que reconhece, sustenta e se empenha pela inter-relação com os demais seres (hu-
manos e não humanos).
A transformação indica uma nova gramática da compreensão. O fenômeno da co-
municação presume as circunstancialidades da realidade. A experiência comunicativa
é um fato ligado à convivência, cuja relação se estabelece desde um sujeito pronominal.
A gramática da diferenciação verbal acompanha os tempos, os pronomes, os modos e
a voz do sujeito frente aos demais sujeitos coautores. Por isso, a pretensão de validade
de um enunciado ou de qualquer ato de fala determina sempre um pronome pessoal
presente, participante e participativo. O reconhecimento desse sujeito coautor está li-
gado, pois, a um sujeito pronominal age comunicativamente. Daí, a suposição de que
a utilização das terceiras pessoas condiz sempre com uma relação instrumental.
A perspectiva instrumental parte do pressuposto equivocado de que os seres não hu-
manos podem ser tratados enquanto “bens inertes” (Onida, 2010). Na filosofia alemã,
na perspectiva da fenomenologia, por exemplo — a começar com Husserl — também
88 IX Principia International Symposium

se insere em um debate que separa corpo (Körper) e corporalidade vivida (Leib). Por
outro lado, a tradição latina diferencia res e pessoa, aspecto que a modernidade não
prestou a devida atenção. A tradução de res enquanto “coisa” indica qualquer obje-
to desvinculado do todo. Todavia, é interessante perceber que res pode referir-se não
apenas ao aspecto de um objeto tal, mas também aos terrenos, edifícios, escravos e
animais (Onida, 2010, p. 161). A qualificação jurídica de servus abarca tanto a catego-
ria moderna de objeto quanto de sujeito do direito. Para ele, foi na modernidade que
ocorreu a separação entre sujeito e objeto, radicalizando e tornando a diferenciação
entre personae e res inflexível, pois, na tradição romana, o ser humano é considerado,
ao mesmo tempo, como pessoa e res.
Assim, a linguagem humana rechaça a atitude neutra e imparcial, isto é, a gramá-
tica comunicacional não pode aceitar o modo, tempo e sujeito pronominal isolado
e, portanto, na completa impessoalidade. Tal impessoalidade caracteriza uma relação
meramente objetual e, em razão disso, reforçando o aspecto instrumental do agir. Em
contrapartida, as potencialidades do ato de fala reforçam, pois, a experiência de uma
gramática inter-relacional vinculados a uma validez discursiva (Ferry, 2004). A conside-
ração a respeito de todos os pronomes pessoais “potencializa a experiência” interativa,
ou seja, garante a “potencialização da experiência” comunicativa (Ferry, 1991).
A teoria do agir comunicativo presume, pois, uma gramática que abandona as tercei-
ras pessoas neutras. A persistência de um sujeito “neutro” ou imparcial no tratamento
pronominal não é garantia para qualquer conceito de responsabilidade, de solidarie-
dade pública, de justiça e assim por diante. A perspectiva do agir instrumental deveria,
portanto, ser modificada. Por isso, é inapropriada a caracterização da terceira pessoa
enquanto pronome pessoal vinculado à neutralidade ou do sujeito meramente obser-
vador. A pretensa neutralidade do sujeito inexiste. Ela sequer é plausível ou justificável,
principalmente diante das novas exigências de um oikos-cosmos-logos.

Julia S. Moura juliasmoura@gmail.com


Post-Doc Researcher - UFPel
Global justice and Cosmopolitanism: questioning the liberal framework

The aim of this paper will be to address some of the shortcomings of the liberal frame-
work to the problem of distributive justice in the global domain. It will be based on an a
critical evaluation of cosmopolitan egalitarianism, specifically proposals that push for
international principles of distributive justice, such as Thomas Pogge’s influential read-
ing of Rawls’s theory of justice as fairness. While most debates that result from strong
cosmopolitan conceptions of distributive justice question the scope of such principles
(if they should have domestic or international force), the proposal of this research is
to consider the possibility of bringing the critical perspective to this debate. In this
setting, I will argue that Nancy Fraser’s theory has an important role in shedding light
to some of the limits of liberal theories of international distributive justice by bring-
ing concerns of recognition and representation to this debate. Fraser’s theory (2003)
has played a fundamental role in discussing how recognition and redistribution can
be reconciled and has also affirmed her support (2009) of the rejection of the post-
Abstracts / Resumos 89

Westphailian sovereignty principle which brings her closer to cosmopolitan concerns.


The principal aim of this study will be to consider the possibility of incorporating these
concerns to the global justice debate.

Julio Michael Stern jstern@ime.usp.br


IME-USP
Continuous Limits of Haack's Crossword Metaphor and the Structural Evolu-
tion of Chemical Anity Tables

For the last 18 years, the Bayesian research group at IME-USP — The Institute of math-
ematics and Statistics of the University of São Paulo, has been arguing that sharp or pre-
cise statistical hypotheses play a very special role in science, see Stern (2011a, 2011b,
2013, 2015). These hypotheses are statements in the form of equations, as the most
important laws of exact sciences. We claim that the sharpness or precision of these
hypotheses, characterized as algebraic sub-manifolds of zero (Lebesgue) measure in
continuous spaces, is the key to define scientific ontologies and also to define a notion
of objective (in a strong sense) symbol grounding. Our research group has also devel-
oped a Bayesian significance measure specially designed to assign a truth-value to this
kind of sharp or precise statement, namely, ev(H |X ) — the Bayesian epistemic value of
hypothesis H given the observational data X, see Pereira and Stern (1999), Borges and
Stern (2007), Pereira et al (2008), and Stern and Pereira (2013).
Susan Haack’s Crossword puzzle metaphor has been a useful tool in the exploration
of epistemology and philosophy of science, and has shed light on important aspects
of scientific activity, see Haack (1999, 2001, 2003, 2009). However, in contrast to sharp
hypotheses in the continuum, a standard crossword is a discrete and finite puzzle, that
is, its possible solutions can be counted using discrete combinatorics over finite words
and alphabets. Nevertheless, I believe that the gap between the world of finite cross-
words and the space of continuous statistical models can be easily bridged by examin-
ing some limit cases of the former.
In Atkinson and Peijnenburg (2010), the authors have already explored the case of
large but still discrete crosswords. The main goal of this article is to extrapolate Haack’s
crossword metaphor to continuous (non-enumerable) solution spaces, and explore the
epistemological and ontological consequences of this extrapolation. In particular, we
want to demonstrate how Atkinson and Peijnenburg hopes for using Haack’s metaphor
to support a notion of scientific truth can be fulfilled in a specially strong sense when
considering sharp hypotheses in continuous spaces.
In Stern (2014) and Stern and Nakano (2014) we explore some examples in the his-
torical evolution of the concept of chemical Affinity, and use them to illustrate some of
our conclusions about the role played in science by sharp hypotheses. In the present
article we continue to explore the same examples, for a good historical overview see
Goupil (1991). Affinity tables show a remarkable historical evolution: At the 17th cen-
tury they take the form of ordered reactivity lists for chemical reagents, corresponding
to a very simple discrete puzzle; At the 20th century, affinity tables are compiled from
real-valued chemical potentials, corresponding to a complex and high precision puzzle
90 IX Principia International Symposium

in the continuum.
The transition from the notion of irreversible displacement reactions to the notion
of reversible reaction networks, including the concept of equilibrium state for the same
networks defined by a system of ordinary (linear) differential equations, implies the
transformation of the former systems of linear inequalities into systems of linear equa-
tions, that are naturally stated in a continuous space. In Stern (2014) and Stern and
Nakano (2014) we have explored several epistemological consequences of this trans-
formation. In the present article we continue this exploration, using Susan Haack’s
crossword metaphor as our guideline.

References
ATKINSON, D., PEIJNENBURG, J. ‘Crosswords and Coherence’. The Review of Metaphysics, 63, p.
807-820, 2010.
BORGES, W., STERN, J. M. ‘The Rules of Logic Composition for the Bayesian Epistemic e-Values’.
Logic Journal of the IGPL, 15, 5-6, p. 401-420, 2007.
GOUPIL, M. ‘Du Flou au Clair? Histoire de l’Affinité Chimique de Cardan à Prigogine’. Paris: CTHS,
1991.
HAACK, S. ‘Defending Science - within Reason’. Principia, 3, 2, p. 187-211, 1999.
——— ‘Clues to the Puzzle of Scientific Evidence’. Principia, 5, 1-2, p. 253-281, 2001.
——— ‘Defending Science - within Reason: Between Scientism and Cynicism’. Prometheus Books,
2003.
——— ‘Evidence and Inquiry: A Pragmatist Reconstruction of Epistemology’. Prometheus Books,
2009.
PEREIRA, A. A. B., STERN, J. M. ‘Evidence and Credibility: Full Bayesian Significance Test for Pre-
cise Hypotheses’. Entropy, 1, p. 69-80, 1999.
PEREIRA, C. A. B., WECHSLER, S., STERN, J. M. ‘Can a Significance Test be Genuinely Bayesian?’
Bayesian Analysis, 3, 1, p. 79-100, 2008.
STERN, J. M. ‘Constructive Verification, Empirical Induction, and Falibilist Deduction: A Threefold
Contrast’. Information, 2, p. 635-650, 2011a.
——— ‘Symmetry, Invariance and Ontology in Physics and Statistics’. Symmetry, 3, p. 611-635,
2011b.
——— ‘Jacob’s Ladder and Scientific Ontologies’. Cybernetics and Human Knowing, 21, 3, p. 9-43,
2014.
——— ‘Cognitive-Constructivism, Quine, Dogmas of Empiricism, and Münchhausen’s Trilemma’.
Ch.5, p.1-14 in A. Polpo, F. Louzada-Neto, L.R. RIFO, J.M. Stern, M.S. Lauretto (eds.). Interdis-
ciplinary Bayesian Statistics. Heidelberg: Springer, 2015.
STERN, J. M., PEREIRA, C. A. B. ‘Bayesian Epistemic Values: Focus on Surprise, Measure Probabil-
ity!’ Logic Journal of the IGPL, 22, p. 236-254, 2013.
STERN, J. M., NAKANO, F. ‘Optimization Models for Reaction Networks: Information Divergence,
Quadratic Programming and Kirchhoff’s Laws’. Axioms, 3, p. 109-118, 2014.

Karen Franklin franklinkaren@uol.com.br


UFPR
O argumento da natureza nas políticas liberais: igualdade de gênero em
questão
Abstracts / Resumos 91

Buscamos estabelecer alguns pontos de discussão para as questões de igualdade de


gênero a partir das concepções éticas e propostas políticas que utilizam como funda-
mento o argumento da natureza. Tomamos como ponto de partida a ethics of care,
primeiramente na formulação de Carol Gilligan, tomando os problemas que daí se
derivam como fundamentais para o debate com Martha Nussbaum e John Rawls. Asse-
gurando que algumas teorias éticas buscam compreender que a teoria moral marginal-
iza valores como responsabilidade e solicitude para com pessoas particulares e partindo
do pressuposto que estes valores aproximam os seres humanos, como interdepen-
dentes e desiguais, apontamos para a discussão sobre como algumas experiências ref-
erendarem um “modo de ser” a partir da natureza. A normatização do ser “mulher
(feminino)” e “homem (masculino)”, estabelecidos pelo argumento da natureza, são
interceptados nas políticas liberais através de propostas legislativas capazes de dirimir
o problema do argumento em um primeiro momento, mas reforçando-o quando con-
vém ao mais “fraco”. O sistema proposto de compensações delibera ora a favor, ora
contra a mulher, pois sempre está em referência à história das relações, onde a exper-
iência masculina é normatizadora dos comportamentos. O discurso de ethics of care,
que mantém os argumentos baseados no fundamento da natureza e na diferença en-
tre os sexos, propõe uma ação direta nas políticas liberais, como forma compensatória
para a igualdade de gênero. Entre todos os discursos éticos que envolvem a questão
do sentido da experiência da mulher no interior das sociedades, o que mantém o ar-
gumento da natureza parece prevalecer entre outros. No mesmo sentido crescem os
argumentos de uma experiência exclusiva da mulher como fonte de inovação nas con-
cepções éticas gerais. A discussão filosófica e política que se origina desta cultura da
diferença, nos impele a centralizar a problemática da questão da igualdade de gênero a
partir do argumento da natureza humana, seja da mulher seja do homem, como centro
polarizador das políticas liberais em favor da igualdade. A partir dos princípios funda-
mentais da justiça que protegem as liberdades políticas e oportunidades sociais, bus-
camos refletir sobre como as concepções éticas que partem do argumento da natureza
se comportam quando buscam a igualdade como princípio e fim das ações. Tendo
como foco as ações individuais dos sujeitos concebidos como “mulheres”, tomamos a
perspectiva da concepção básica de ethics of care como ponto de partida para analisar
como as políticas liberais lutam com seu princípio ao propor a igualdade de gênero nas
sociedades modernas.

Kariane Marques da Silva karianecomk@gmail.com


Mestranda - Universidade Federal de Santa Maria
A crítica de Laurence BonJour aos contra-exemplos de Edmund Gettier

O que quis Edmund Gettier com seus contra-exemplos? Analisando-os, muitos epis-
temólogos pós-gettierianos defendem que as três condições não são suficientes para
estarmos de posse de conhecimento proposicional. Deste modo, parece que o prob-
lema está relacionada à definição de (e condições para o) conhecimento. Se assim for,
somos conduzidos a pensar que Gettier quis mostrar que precisamos assumir um sen-
tido fraco de conhecimento, compatível com a fraqueza da justificação. Afinal, a jus-
92 IX Principia International Symposium

tificação propostas nos contra-exemplos é fraca, pois não consegue identificar a ver-
dade da crença, e é isso que nos causa o espanto de por que esses exemplos são tão
pertinentes naquele contexto em que foram enunciados. Se essa hipótese interpre-
tativa estiver certa, então o que Gettier nos conduz a pensar não é sobre a definição
no sentido das condições para o conhecimento, mas no sentido de se de fato temos
razão para sustentar uma concepção forte de conhecimento, ao menos como a que su-
postamente Platão e outros defenderam quando escreveram seus textos sobre Episte-
mologia. Gettier contribuiu para muitas reavaliações do que vinha sendo defendido em
epistemologia. No entanto, no artigo entitulado “The Myth of Knowledge” (2010), Lau-
rence BonJour defende que Edmund Gettier teria deixado claro que o seu intento com
os contraexemplos repousava na suposição de que o nível de justificação necessário
para o conhecimento não é um nível conclusivo, e, portanto, o conceito de conheci-
mento seria uma versão fraca. A sua crítica para Gettier é referente à suposição, nos
contraexemplos, de um nível de justificação não conclusiva para o conhecimento. No
presente trabalho, pretendo apresentar que para BonJour a concepção fraca de con-
hecimento — derivada de uma concepção fraca de justificação — é insustentável e se
constiui em um mito epistemológico. E também que, quando esse mito é abandonado,
o problema de Gettier desaparece.

Karine Rossi Pereira rossipereirakarine@gmail.com


Mestranda - Universidade Federal de Santa Maria
O Status Ontológico de Espécie: Uma Discussão de Filosoa da Biologia

Neste trabalho apresentarei a dicotomia entre o pensamento tipológico e o pensa-


mento populacional. Delimitada por Ernst Mayr em “Darwin and the evolutionary
theory in biology” (1959), tal dicotomia trata de duas maneiras de pensar o status on-
tológico das espécies biológicas. Conforme Mayr, o pensamento tipológico, que pre-
dominava entre os naturalistas anteriores a Darwin, defende a concepção de que todos
os indivíduos de uma espécie possuiriam características básicas comuns, e isso é o que
os tornariam indivíduos daquela espécie. De onde surge a ideia de uma “essência” da
espécie, ou de um tipo (ou forma) ideal, que nega a variabilidade nas características do
indivíduos, afirmando que essas são imutáveis, isto é, para os tipologistas não haveria
evolução em uma espécie. Esse modo de pensar remonta aos gregos antigos — a Platão,
em particular. O pensamento populacional, por outro lado, caracteriza uma espécie
biológica não em termos de um conjunto de características básicas comuns, mas em
termos de médias aritméticas das características dos indivíduos de uma população ou
de histórias microevolutivas comuns a linhagens populacionais. Segundo Mayr, essa
foi uma das principais contribuições de Darwin para a biologia, ao lado da reunião
e análise de um conjunto significativo de indícios empíricos da evolução e da expli-
cação dos seus mecanismos pela teoria da seleção natural. Apesar da sua importância,
o modo darwinista de pensar as espécies (“o pensamento populacional”) passou larga-
mente despercebido antes de Mayr. Mas nas últimas décadas têm sido tema recorrente
de discussões em filosofia da biologia.
Essas afirmações são questionadas por autores como Elliott Sober e Robert J. O’Hara,
Abstracts / Resumos 93

que também se posicionam sobre a dicotomia. Para eles o pensamento tipológico não
nega a variabilidade entre os indivíduos, mas procura explicá-la como uma desvio de
um estado natural, explicação esta que tem inspiração na filosofia de Aristóteles. Por
fim, Maximiliano Martínez Bohórquez e Eugênio Andrade, em um releitura de A origem
das espécies, argumentam que a dicotomia pode ser superada, pois Darwin não teria
propriamente substituído o pensamento tipológico pelo pensamento populacional,
mas os unindo ao diluir as diferenças entre características primárias (estruturais) e car-
acterísticas secundárias (adaptativas).

Kátia Martins Etcheverry katia.etcheverry@acad.pucrs.br


Programa de Pós-Graduação em Filosoa da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul
Agência e responsabilidade epistêmica à luz da epistemologia da virtude

Apesar da frequência com que agentes epistêmicos são mencionados na literatura epis-
temológica há grande debate sobre a noção de agência epistêmica. Agentes prati-
cam ações, logo um agente epistêmico seria aquele que pratica ações epistêmicas, isto
é, ações relacionadas ao conhecimento proposicional. Considerando que ações são
epistêmicas quando estão conectadas a razões para crer, isto é, razões relacionadas à
verdade de uma dada proposição p, podemos perguntar: Quais ações poderiam ser
consideradas ‘epistêmicas’? Haveria um ‘ato’ de crer? Se crenças são ações qual seria
sua relação com razões epistêmicas? Ações epistêmicas poderiam resultar de razões
não epistêmicas? Essas são algumas das questões presentes na discussão sobre agên-
cia epistêmica. É inegável que nossa vida cognitiva inclui a prática de alguns atos,
como por exemplo a atividade investigativa caracterizada pela coleta e avaliação de ev-
idências. A agência epistêmica estaria constituída por este tipo de atividade? Contudo
crer que p não pode ser confundido com investigar se p é o caso, isto é, não podemos
confundir as razões que eventualmente temos para buscar mais evidências acerca da
verdade de p, com as razões que eventualmente temos para crer que p. Outra ideia
popular em epistemologia, associada à ideia de agência, é a de que somos epistemi-
camente responsáveis. Responsabilidade em qualquer perspectiva, ética, moral ou
epistêmica, pressupõe algumas condições tais como liberdade e controle por parte do
agente. No caso epistêmico a responsabilidade do agente, afirmam alguns, requer que
ele possa controlar sua crença no sentido de poder decidir quando e no que crer. Mas
a grande maioria dos epistemólogos rejeita o assim chamado ‘voluntarismo doxástico’,
alegando que crenças não podem ser objeto de nosso controle, ou de nossa vontade. É
fácil ver sua motivação. Quando consideramos uma proposição e ela nos parece ver-
dadeira, não temos como resistir à atitude de afirmar esta proposição, isto é, de crer
nela. Sendo assim, crenças são estados que nos acontecem, de modo que não está
em nosso poder escolher nossas crenças. Nosso presente foco está na estratégia de
teóricos da virtude na defesa da tese de que podemos ser agentes epistêmicos, respon-
sáveis pelo que constitui nossa vida epistêmica, apesar de nossas crenças serem in-
94 IX Principia International Symposium

voluntárias. Da avaliação de propostas como a de E. Sosa3 e L. Zagzebski,4 tendo por


baliza casos epistêmicos análogos aos casos que H. Frankfurt5 propôs no âmbito da
moral, segundo os quais podemos ser responsáveis mesmo quando não podemos agir
de modo diferente, esboçaremos uma sugestão de como a ideia de agência epistêmica
virtuosa pode contribuir para a satisfação da intuição de que há uma esfera na qual
podemos ser responsáveis epistemicamente.

Kherian Gracher kherian@gmail.com


Master's degree in Logic and Epistemology - UFSC
Troubles With The Concept of Identity

‘What is identity?Š This problem reaches at least two fields of philosophy, namely, logic
and metaphysics. In this presentation we shall discuss how this simple question can
bring more trouble than we think. Our goal is to argue that if we want to adopt a meta-
physical position that is consistent with scientific realism (i.e., assuming the existence
and behaviour of fundamental entities) and if we expect to adopt a formal system that
supports this metaphysical view, then we need to reconsider the traditional concept of
identity. Dividing this presentation into three main parts, in the first section we will
present a distinction of three kinds of problems involving identity:

Metaphysical Problems: These are problems about identity related with the under-
standing of what means for an object to be identical with itself. What would be
this relation that every object has only with itself (and with no ‘other’)? What are
the traditional intuitions about this concept?;
Formal Problems: The objective is to analyse the definitions of identity in formal sys-
tems, particularly in so-called ‘classic logic’;
Epistemic Problems: These involve the way that we can identify objects as ‘those’ ob-
jects; that is, how the identification process work (we will not discuss this sub-
ject).

Still in the first part we will characterize two important concepts for our discussion,
such as the numerical identity and the qualitative identity. In the second part we will
discuss the metaphysical and the formal problem of identity. We will make a brief ex-
position of what we call ‘The Traditional Theory of Identity’ (hereafter just TTI), which
aims to offer a better metaphysical understanding of the concept of identity. TTI adopts
a metaphysical principle conventionally attributed to the philosopher Gottfried Leib-
niz, the so-called ‘Leibniz’s Law’. The Leibniz’s Law involves two theses that are com-
plementary, namely:
3 SOSA, E. Epistemic Agency. The Journal of Philosophy, v. 110, p. 585-605, 2013.
4 ZAGZEBSKI, L. Must knowers be agents? In: FAIRWEATHER, A.; ZAGZEBSKI, L. (Eds.). Virtue
Epistemology. N. York: OUP, 2001. p. 142-157.
5 FRANKFURT, H. Alternate Possibilities and Moral Responsibilities. The Journal of Philosophy, v.
66, p. 829-839, 1969.
Abstracts / Resumos 95

(Identity of Indiscernibles) If two objects have the same properties, then they are iden-
tical;
(Indiscernibility of Identicals) If two objects are identical, then they have the same prop-
erties.
Thus, Leibniz’s Law can be (informally) formulated as: two objects are identical if,
and only if, they have all the same properties. Still in the second part we will present the
standard treatment of identity in classic formal systems (in a first-order and second-
order languages), which is the classical (or standard) formal counterpart of the Leib-
niz’s Law. In the first-order language, identity can be characterized by the principle of
reflexivity and the following axiom scheme:

∀x∀y(x = y → (ϕ(x) ↔ ϕ(y)))

Being ϕ(x) a formula where x occurs free; and ϕ(y) follows ϕ(x) by replacing some
free occurrences of x with y. In a second-order language, identity can be defined simple
as follows:

(x = y) =d e f ∀P (P (x) ↔ P (y))

Being ‘x’ and ‘y’ individual variables and ‘P ’ a predicate variable of the language.
These two ways of defining identity in classical formal systems present some problems,
which suggests that the identity relation cannot be formally defined. We shall present
some of these problems and discuss them. In the third part we will expose briefly one
case –Ű in the context of some physical interpretations –Ű that can bring trouble to the
traditional conception of identity.

Laura Machado do Nascimento lauranasciment@gmail.com


Doutoranda - UNICAMP
Mente e a relação com o corpo e o meio ambiente: A abordagem da Cognição
Corporicada

Uma das concepções mais influentes e que norteou boa parte da pesquisa filosófica e
científica sobre a mente no último século é o Cognitivismo, também chamada Teoria
Computacional da Mente, que consiste na hipótese de que “funções centrais da mente
— do pensamento — podem ser explicadas em termos da manipulação de símbolos de
acordo com regras explícitas” (Anderson, 2003, p. 93). O Cognitivismo tem como as-
pectos fundamentais a noção de representação, o formalismo e transformações basea-
das em regras. Outro aspecto importante é a ideia de que o corpo e o meio ambi-
ente têm apenas a função secundária de alimentar o sistema com informações prove-
nientes do mundo exterior. Assim, de acordo com essa concepção, o funcionamento
da mente poderia ser comparado ao de um mecanismo computacional e fenômenos
como a percepção, a compreensão da linguagem e o pensamento, por exemplo, seriam
resultantes (ao menos em parte) de processos computacionais. Este paralelo, desen-
volvido por diversos pesquisadores na Ciência Cognitiva, foi motivado pelo enorme
96 IX Principia International Symposium

sucesso atingido na área da computação e pensou-se que isso poderia ser reproduzido
em outras áreas, como a filosofia da mente, para explicar fenômenos mentais. No en-
tanto, o otimismo inicial foi diminuído pelo surgimento de obstáculos que parecem
ainda intransponíveis. Embora o desenvolvimento da tecnologia tenha proporcionado
avanços notáveis, algumas atividades realizadas com destreza por humanos e outros
animais ainda não puderam ser recriadas artificialmente de maneira satisfatória, por
exemplo. Alguns pesquisadores acreditam que essa falha deve-se ao fato de que os re-
cursos computacionais disponíveis atualmente ainda não têm capacidade suficiente
para recriar fenômenos mais complexos. Assim, seria somente uma questão de tempo
até que fenômenos mentais pudessem ser acomodados na teoria cognitivista. Uma
outra hipótese para explicar essa falha é a ideia de que os pressupostos cognitivistas
negligenciam aspectos fundamentais para a compreensão dos fenômenos em questão.
A abordagem da Cognição Corporificada (Embodied Cognition) tem buscado explorar
aspectos como a corporeidade e a relação do sujeito com o meio ambiente, entre out-
ros. Por meio da consideração de casos disponíveis na literatura filosófica e científica,
por exemplo, o caso das lentes inversoras (Stratton 1896; Noë, 2004), questionaremos a
adequação dos pressupostos cognitivistas, e indicaremos como a abordagem da Cog-
nição Corporificada pode contribuir para esse debate.

Lauro de Matos Nunes Filho laurodematosnunesfilho@yahoo.com.br


Doutorando - UFSC
Tropos e física quântica: uma ontologia não usual para entidades não usuais

Nosso propósito é discutir como uma ontologia de tropos pode ser aplicada ao caso
quântico e quais são as vantagens de tal abordagem. Necessariamente, não se trata
de defender cegamente a abordagem via tropos na mecânica quântica, mas argumen-
tar que esta via apresenta diversas vantagens sobre as demais abordagens para a MQ.
Basicamente, conservamos aqui a definição usual de tropo: um particular abstrato
espaço-temporalmente definido. As vantagens mais celebradas desta abordagem são
de que essa ontologia não recai nem no universalismo e nem no nominalismo. Con-
tudo, não pretendemos discutir esta ontologia do ponto de vista usual, tratando de
cores ou pedras, mas de entidades quânticas como os férmions e os bósons. Assim,
defendemos um uso restrito desta ontologia e pensamos o seu caso apenas em re-
lação à MQ, ou seja, pensamos esta ontologia a partir do que uma dada teoria cientí-
fica nos diz, evitando contaminar a ontologia com preconceitos ontológicos advindos
de visões clássicas das teorias científicas. Desse modo, em vista de nosso uso restrito
dessa ontologia, podemos perguntar: Afinal, um elétron possui uma essência? Seria ele
um particular concreto bem determinado? Nenhuma dessas perguntas é respondida
pela MQ, justamente por que a teoria não faz estas perguntas; elas não interessam ao
físico em geral. Então porque não aceitar uma visão que evite tais questionamentos?
O que nós queremos com isso é mostrar como diversos problemas ontológicos liga-
dos à MQ podem ser melhor resolvidos se aceitarmos uma ontologia de tropos como
ponto de partida em nossa discussão. Do nosso ponto de vista, a inserção de uma
ontologia de tropos capta de maneira mais eficiente o que se queira dizer por “objeto
Abstracts / Resumos 97

nomológico”, “genidentity” e “não-identidade”. Usualmente, seguiremos a abordagem


mereológica de Peter Simons em Particulars in particular clothing: Three tropes the-
ories of substance, porém debateremos problemas clássicos da MQ não tratados por
ele no texto mencionado. O simples fato de se propor um tropo que é um particular
espaço-temporalmente definido, mas abstrato, já oferece indícios de como essa teoria
pode ser aplicada a entidades quânticas que são ditas existir, mas que não dispõem de
contraparte real no formalismo, que podem se aniquilar e gerar novas entidades, etc. O
ponto é que, por exemplo, no caso uma partícula; não se fala de um substratum, com-
pactuando com a teoria de tropos; fala-se em propriedades essenciais, compactuando
com a teoria de tropos essenciais; a não existência de substrato em uma teoria de tro-
pos evita o problema de se uma partícula é, por exemplo, a mesma antes e depois de
uma superposição; entre outras vantagens. Enfim, para uma teoria científica não usual,
uma ontologia não usual.

Leticia Albuquerque let albuquerque@yahoo.com.br



UFSC
Pratique Éthique : la contribution de Peter Singer au débat politique, juridique
et social des droits des animaux

Peter Singer publie son ouvrage Libération Animale en 1975 et installer un débat phi-
losophique et des réflexions éthique sur la scène internationale. Le philosophe nous a
incité à nous libérer de nos préjugés à l’égard des animaux, de notre immoralité aussi et
de l’oppression qui en découle. La libération animale présente donc une rupture dans
la tradition dans la mesure où elle questionne directement l’autorisation qu’on s’oc-
troie d’user de la vie d’autres êtres vivants pour satisfaire nos besoins propres d’une
façon qui inflige douleur et souffrance, d’ailleurs le plus souvent pour nous assurer de
produits non vitaux à nous intérêts. Quelle-till la contribution du Mouvement de Li-
bération Animale au débat politique, juridique et social des droits des animaux ? La
société est prête à débattre sérieusement des droits des animaux ? Les consciences ont
évolué, des mouvements citoyens et des groupes d’électeurs et de consommateurs ont
commencé à se former et à faire pression et puis les lois ont changé. L’Union Euro-
péenne et le Conseil de l’Europe on joué un rôle important dans l’élaboration de cer-
tains textes protégeant les animaux. Le Code Civil français aujourd’hui considère les
animaux comme des être sensibles. La Constitution Suisse parle de dignité des bêtes.
La Constitution du Brésil interdit la cruauté vers les animaux. L’objectif de cet article
est faire un bilan de 40 ans de la publication de Libération Animale par Peter Singer et
les conséquences pour le débat juridique, politique et social des droits des animaux, en
particulier au Brésil. Il existe une multitude de positions : ceux qui s’opposent à toutes
formes d’exploitation des animaux (les abolitionnistes), jusqu’à ceux qui visent à ré-
duire plutôt qu’à éradiquer l’exploitation (welfaristes), et ceux qui sont à la fois aboli-
tionnistes et antiwelfaristes parce qu’il partent du principe qu’améliorer les conditions
de vie des animaux dans les exploitations, les transports, les laboratoires et ailleurs ne
fait que prolonger souffrances et injustice, et que l’application de ce principe s’oppose
98 IX Principia International Symposium

de fait à l’abolition pure et simple de l’exploitation.

Lígia Maria Coutes ligiacoutes@gmail.com


Mestranda - Universidade Estadual de Maringá
Sobre a crítica de Lacey ao suposto sicalismo adotado por Skinner

A teoria comportamentalista de B. F. Skinner foi alvo de diversas críticas e gerou inú-


meros debates. Um deles pode ser identificado na disputa entre Chomksy e Skinner
quanto a diferentes explicações para o fenômeno da geratividade da linguagem. No
livro “Psicologia experimental e natureza humana”, Lacey retoma essa polêmica na
tentativa de fornecer mais elementos para a compreensão da controvérsia Chomsky-
Skinner e, para tanto, empreende uma análise epistemológica das obras dos dois au-
tores. Segundo Lacey, a defesa de uma metodologia requer um pronunciamento on-
tológico. Assim, se pudesse escolher uma forma de encerrar a disputa entre Chomsky-
Skinner Lacey não adotaria como critério racional apenas a adequação empírica. O
processo de aceitação de uma teoria envolve os valores cognitivos aplicados a um de-
terminado domínio de fenômenos e a concepção de natureza humana subjacente, isto
é, o perfil de valores adotado pelo autor. Dessa perspectiva, Lacey avalia o comprome-
timento ontológico de Chomksy e de Skinner na defesa de seus sistemas teóricos. Para
Lacey, os autores advogam visões inconciliáveis. Enquanto Chomsky defende uma teo-
ria mentalista, Skinner se filiaria a uma abordagem fisicalista na medida em que busca
eventos observáveis e manipuláveis na explicação do comportamento. Entretanto, é
possível questionar a vinculação de Skinner ao fisicalismo por ao menos dois motivos.
Um deles é a heterogeneidade da obra de Skinner, argumenta-se que Lacey negligen-
cia uma característica fundamental do desenvolvimento da obra de Skinner : a pas-
sagem de um modelo de explicação mecanicista, inspirado no comportamentalismo
de Watson (S-R), para um modelo selecionista (S-R-C). O outro motivo seria a pró-
pria definição de comportamento adotada no programa científico skinneriano. O com-
portamento é concebido como uma inter-relação entre estado, evento e processo, de
modo que não há predileção pelo ambiente ou pelo organismo. A noção de comporta-
mento confere radicalidade à teoria de Skinner, uma vez que circunscreve os objetivos
e limites da produção de conhecimento, ou seja, a alçada do campo comportamen-
tal. Com efeito, este trabalho pretende discutir a leitura realizada por Lacey da obra de
Skinner problematizando aspectos referentes ao fisicalismo. Ao final, com base em pas-
sagens da obra skinneriana bem como em seus comentadores defende-se que Skinner
se distancia de uma abordagem fisicalista e se compromete com uma explicação rela-
cional do comportamento.

Lourenço Luciano Carneiro Filho lourencocarneiro@hotmail.com


Mestrando - UFSC
Linguagem simbólica : uma análise evolutiva e experimental dos fenômenos
linguísticos

Os fenômenos relacionados à linguagem são discutidos e debatidos nas mais diversas


Abstracts / Resumos 99

áreas, como por exemplo, na filosofia, na linguística, na psicologia, na antropologia,


etc. Este fato contribuiu, de certa maneira, para o desenvolvimento de diversas abor-
dagens teóricas referentes à linguagem. O universo linguístico não se restringe àquilo
que conhecemos como linguagem verbal, ou seja, não inclui em seus debates apenas
os problemas oriundos de alguma linguagem natural falada ou escrita, mas abrange
também outras formas de comunicação, por exemplo, a comunicação dos animais e
também as linguagens pautadas na lógica. Por assim dizer, “a linguagem é um universo
muito complexo e variado de eventos humanos para ser objeto de um único corpo de
teoria” (DUTRA, p. 13, 2014).
Mas, porque a linguagem humana se desenvolveu de maneira tão singular ? O que a
torna tão diferente das outras formas de comunicação encontradas na natureza ? Re-
sponder a estas questões não é uma tarefa fácil. Por outro lado, podemos encontrar sim
teorias interessantes que podem lançar luz a estes questionamentos, como por exem-
plo, o emergentismo evolutivo do antropólogo Terrance W. Deacon e o emergentismo
simbólico do psicólogo Murray Sidman.
Tanto Deacon (1997) como Sidman (1994) utilizam-se do referencial teórico conhe-
cido como teoria dos signos, semiótica ou semiologia. Segundo esta tipologia, proposta
inicialmente pelo filósofo Charles Sanders Peirce, compreende-se por signo “a forma
de representação que liga certo objeto (o signo justamente) com um segundo objeto e
com um intérprete, para quem o signo representa o segundo objeto” (DUTRA, p. 36,
2014).
Esta tipologia pode ser dividida, de maneira hierárquica, em três tipos fundamen-
tais : ícones, índices e símbolos. Porém, para o presente trabalho, basta saber que a
forma mais complexa de referência entre signo e intérprete é a referência simbólica,
tão presente na espécie humana. O melhor exemplo de símbolo, segundo Dutra (2014),
é “justamente uma expressão da linguagem verbal que encontramos em uso pelos fa-
lantes de uma língua natural” (p. 37).
Pode-se dizer que Deacon (1997) e Sidman (1994) se referem ao símbolo neste mesmo
sentido conceitual. No entanto, estes autores investigam o fenômeno simbólico de ma-
neira muito diferente. Deacon (1997) se propõe a investigar a co-evolução da lingua-
gem simbólica — e também do cérebro — durante o processo evolutivo, ou seja, a
emergência simbólica na espécie humana. Já Sidman (1994), por outro lado, se propõe
a investigar a função simbólica durante a vida do indivíduo, de maneira experimental.
Em síntese, Deacon (1997) propõe uma análise da linguagem simbólica pautada num
nível de análise filogenético e cultural, enquanto Sidman (1994) investiga as funções
simbólicas no nível de análise ontogenético. Espera-se que o diálogo entre estes dois
autores possam ser analisados de maneira complementar, principalmente pela possi-
bilidade de “troca de informação” nos diferentes níveis de análise em que o fenômeno
simbólico é estudado. Também se espera que esta discussão possa contribuir nos de-
bates referentes à linguagem simbólica, principalmente pela multidisciplinaridade en-
volvida na discussão.
100 IX Principia International Symposium

Referências
DEACON, T. W. ‘The symbolic species : the co-evolution of language and the brain’. New York : W.
W. Norton & Company, 1997 ;
DUTRA, L. H. ‘Filosofia da Linguagem : introdução crítica à semântica filosófica’. Florianópolis :
Ed. da UFSC, 2014 ;
SIDMAN, M. ‘Equivalence relations and behavior : a research story’. Boston, MA : Authors Coope-
rative, 1994.

Luís Estevinha Rodrigues luisestevinha@icloud.com


Universidade Federal do Ceará
Acerca da convergência da Causalidade e do Tempo

Causalidade e o Tempo são duas noções, dois conceitos (ou duas entidades) que sempre
andaram lado a lado nas cogitações dos filósofos. Tal relação encontra-se por certo
no pensamento de autores clássicos como Aristóteles (Metafísica e De Interpretatione),
Aquino (Suma Teológica), Bacon (Novum Organon), Locke (vários), Hume (vários), Kant
(1781) ou Russell (1948), acerca da natureza da causalidade, mas também nas teorias
sobre o espaço e o tempo, ou apenas sobre o tempo, de Newton (correspondência com
Leibniz via Clarke), de Einstein (1906, 1915), de Minkowski (1907), de McTaggart (1908),
de Shoemaker (1969) e de Hawkins (1988). Não obstante, esta relação —que poucos se
atrevem a classificar, seja como como algo puramente extra-mental, meramente fe-
nomenológico, meramente conceitual ou até inexistente— e suas reais consequências
raramente são abordadas na literatura (uma exceção é Tooley, 1997, onde assentare-
mos algum do nosso pensamento). A apresentação visa em primeiro apresentar uma
topologia das principais e mais relevantes convergências filosóficas dos dois temas,
tanto no que respeita ao pensamento oriundo da Metafísica Analítica como àquele que
nos chega por via da Filosofia da Ciência. Em segundo lugar, defende-se que as tenta-
tivas isoladas de construir separadamente as duas noções (Causalidade e Tempo) são
espúrias e nefastas para a compreensão dos dois fenómenos. O argumento para apoiar
esta tese procederá fundamentalmente através da exposição de exemplos históricos,
sobejamente conhecidos, que no meu entender revelam a insuficiência explicativa de
qualquer proposta sobre Causalidade ou Tempo que deixe de fora do definiens qual-
quer uma destas noções. Por último e para reforçar o ponto entre mãos, sugere-se um
primeiro esboço de argumento em que Tempo e Causalidade são redutíveis a uma se-
mântica de mundos possíveis, tal como apresentada por Lewis (1986).

Luis Rosa fsopho@gmail.com


UNILA - Universidade da Integração Latino-Americana
Implicit beliefs vs. dispositions to believe

Suppose that you form the belief that There is fire somewhere below the chimney on the
basis of your evidence that There is smoke coming out of the chimney. Do you need
to actually believe that Smoke is a reliable indicator of fire (or something along these
lines) in order for your target belief to be justifiably held? Or suppose that you form
Abstracts / Resumos 101

the belief that Anakin is Luke’s father on the basis of your evidence that Luke is Anakin’s
son. Do you need to actually believe that For every x and y, if x is the father of y and y is
male, then y is the son of x in order for your target belief to be justifiably held?
In general, the question here is whether beliefs in “bridge principles” — general
propositions establishing a relevant relationship between certain facts or properties
— are necessary for the justification of inferential beliefs.
On the one hand, if we take the possession of bridge principles to be a necessary
condition for justified inferential belief, it would seem that we are advancing an overly
demanding condition: surely I can justifiably believe that The dog is running on the
lawn without believing, e.g., that This experience of mine is a reliable indicator of the
fact that the dos is running on the lawn. Rational cognizers do not need to keep moni-
toring the relationship between their evidence and the target propositions. Further, the
requirement may give rise to an infinite regress of bridge principles—one similar to the
one present in Lewis Carroll’s ‘What the Tortoise Said to Achilles’ (1895).
On the other hand, it seems not only that I do have some sort of positive attitude
towards the relevant bridge principles, but also that if I did not, then my reasoning
would be normatively defective.
Those who embrace a possibleworlds semantics for attributions of propositional at-
titudes (e.g., Stalnaker 1984) will have no problem granting that we do have all those
beliefs in bridge principles (as long as there are no possible worlds compatible with
our evidence in which they are false). According to their interpretation of the nature of
belief, it will not be demanding for cognizers to have beliefs in bridge principles at all.
So defenders of possible-worlds analyses of belief will offer a candidate solution to our
dilemma.
Given that much, our investigation will be divided in two parts. First, we are going
to argue (along with a large group of philosophers) that the possible-worlds analyses of
belief should be rejected in virtue of being too coarse grained. For one thing, according
to these accounts we believe all the semantic consequences of our available reasons;
for another, these accounts are not able to successfully explain how can we rationally
doubt necessary truths. Second, we are going to offer an alternative solution to our
dilemma: although we may not draw inferences on the basis of beliefs in bridge princi-
ples, we can do so on the basis of rational dispositions to believe bridge principles. The
notion of a rational disposition to believe will be explicated in a precise way.

References
CARROLL, L. ‘What the Tortoise Said to Achilles’, Mind, 4(14), p. 278-280, 1895.
STALNAKER, R. C. ‘Inquiry’. Cambridge MA: MIT Press, 1984.

Luiz Felipe Sigwalt de Miranda fsmiranda@gmail.com


Universidade Federal do Paraná
Questões sobre método e certeza na matemática renascentista e moderna

A epistemologia foi marcada por uma mudança drástica nos critérios de certeza ac-
erca dos conhecimentos, durante a passagem da Idade Média para a Idade Moderna.
102 IX Principia International Symposium

Refiro-me especialmente aos critérios aristotélico-escolásticos empregados para dis-


tinguir conhecimentos vulgares de conhecimentos certos (ou científicos). O silogismo
científico de Aristóteles era empregado para se reconhecer a causa de qualquer con-
hecimento. Em suma, conhecer cientificamente, para Aristóteles, era saber pela causa.
O critério aristotélico tinha a pretensão de ser universal, ou seja, aplicável a todo
e qualquer conhecimento, e o mesmo critério valia também à Matemática. Contudo,
Alessandro Piccolomini (1508-1578), em seu questio de certitudine mathematicarum
(1547), discute o uso do silogismo dedutivo para determinar se a Matemática é um con-
hecimento científico. Conclui que a Matemática não atende a esse critério e portanto
não se trata de um conhecimento científico.
Isso gerou uma disputa ainda durante o período da Renascença entre aqueles que
defendiam uma Matemática causal (por exemplo, Giuseppe Biancani) e aqueles outros
que não defendiam (por exemplo, Benedicto Pereyra). Essa discussão ecoou na Idade
Moderna, Thomas Hobbes e Isaac Barrow defendiam a causalidade na Matemática en-
quanto John Wallis e Pierre Gassendi, não.
Essa discussão perdeu força com os trabalhos de René Descartes, principalmente
com La Géométrie (1637). Descartes acabou por oferecer com sua obra um outro modo
(também universal) para determinar a certeza de um conhecimento. Cuja inspiração
analítico-sintética foi, sem dúvida, a tradução latina (1588) de Federico Commandino
da Matemática “clássica” descrita por Pappus de Alexandria (≈ IV aC) em suas Collec-
tiones.
Por fim, pretendo com essa pesquisa (i) apresentar com mais detalhes as críticas
levantadas por Piccolomini o critério aristotélico-escolástico para determinar conhec-
imentos certos aplicado à Matemática; (ii) descrever a discussão, tanto renascentista
quanto moderna, acerca da tentativa de reabilitação de uma Matemática causal por um
lado de Biancani, Hobbes e Barrow, contra, por outro lado, Pereyra, Wallis e Gassendi;
com vistas a (iii) indicar os rumos da Nova Análise, num momento o qual essa dis-
cussão enfraquece vez por todas frente as novas possibilidades abertas pelo novo modo
de trabalhar a Matemática, cujas preocupações epistemológicas ainda giram em torno
da certeza na Matemática, contudo, sobrepostas a outros métodos matemáticos.

Luiz Henrique da Cruz Silvestrini silvestrini@fc.unesp.br


São Paulo State University
Society semantics, quasi-truth and a three-valued logic

The Society Semantics is a type of logical construction, which was introduced in 1999
by Carnielli and Lima-Marques [1] and it allows obtain new logics from the combina-
tion of the agents, i.e., the evaluations of a previously established logic. This approach
is situated in a relatively new area of study within the logic, which studies combinations
between different logical systems.
The view of the combinations of semantics and non-classical logics allows us to solve
some problems present in the “state of the art” of research in logic, such as Artificial
Intelligence and Belief Revision.
Abstracts / Resumos 103

This proposal was the initial motivation to study the processing of information ob-
tained from observations made by “classical” agents, but where the outcome of such
a process could not have classic features, such as the rejection of the principle of ex-
cluded middle or rejection of the principle of non-contradiction, without this negation
trivialize the calculus obtained (Paraconsistent Society).
In this context, we intend to define the concept of quasi-truth by da Costa through a
paraconsistent logic obtained from society semantics.
In this presentation we investigate the theory of the society semantics, in particular
the paraconsistent logic, a sort of three-valued logic as introduced by [4], obtained from
the open societies, in order to formalize the notion of quasi-truth introduced by da
Costa and collaborators [3].
Thus, this is a work in progress and we intend to provide a formal treatment for a
type of societies semantics, and show that the formalization of the notion of quasi-
truth through an open Society contemplates the notion of pragmatic satisfaction.

References
[1] CARNIELLI, W. A.; LIMA-MARQUES, M. ‘Society semantics for multiple-valued logics’. In W.A.
Carnielli and I.M.L. D’Ottaviano, editors, Advances in Contemporary Logic and Computer Sci-
ence, volume 235 of Contemporary Mathematics Series, pp. 33-52. American Mathematical
Society, 1999.
[2] CONIGLIO, M. E.; SILVESTRINI, L. H. C. ‘An alternative approach for quasi-truth’. Logic Journal
of the IGPL, v. 22, p. 387-410, 2014.
[3] MIKENBERG, I., COSTA, N. C. A. da; CHUAQUI, R. ‘Pragmatic Truth and Approximation to
Truth’. The Journal of Sy3mbolic Logic, 51-1, p. 201-221. 1986.
[4] SETTE, A. M., ‘On the propositional calculus P 1 ’. Mathematica Japonicae, 18(13), p. 173-180,
1973.

Marcelo Coniglio coniglio@cle.unicamp.br


State University of Campinas
Francesc Esteva esteva@iiia.csic.es
IIIA - CSIC
Lluís Godo godo@iiia.csic.es
IIIA - CSIC
Paraconsistent and explosive intermediate logics between the truth and degree
preserving innite-valued Šukasiewicz logic

In the last two decades, formal systems of fuzzy logic, nowadays under the discipline
known as mathematical fuzzy logic (MFL, see Cintula et. al. (2011)), have been pro-
posed and studied as suitable tools for reasoning with propositions containing vague
predicates. They are characterized by allowing to interpret formulas in a linearly or-
dered scale of truth values, which makes them specially suited for representing the
gradual aspects of vagueness.
Most of the deductive systems in MFL have been studied by considering conse-
quence relations which, as in the classical case, postulates that a formula follows from a
104 IX Principia International Symposium

set of premises if every algebraic evaluation that interprets the premises as true also in-
terprets the conclusion as true. This the truth-preservation paradigm which states that,
for an inference to be valid, every algebraic evaluation that interprets the premises as
completely true, will also interpret the conclusion as completely true. An alternative
approach that has recently received some attention is based on the degree-preservation
paradigm (see Font et. al. (2006) Bou et al (2009)), in which a conclusion follows from a
set of premises if, for all evaluations, the meet of the truth degrees of the premises is lees
or equal then the truth degree of the conclusion. It has been argued that this approach
is more coherent with the commitment of many-valued logics to truth-degree seman-
tics because all values play an equally important rôle in the corresponding notion of
consequence (see e.g. Font (2009)).
An interesting point is that, while the truth-preserving fuzzy logics are explosive, i.e.
from any theory containing a formula ϕ and its negation ¬ϕ everything follows, in two
recent papers Ertola et. al. (2015, Coniglio et. al. (2014) some (extensions of) degree-
preserving fuzzy logics have been shown to exhibit some well behaved paraconsistency
properties. In particular, this is the case of the well-known infinite-valued Łukasiewicz
logic Ł, whose degree preserving companion Ł≤ is not explosive, i.e. it is paraconsis-
tent.
Since Ł≤ is included in Ł (in terms of their consequence operators), with Ł≤ being
paraconsistent and Ł explosive, a natural question that arise in this setting is to ask
about possible intermediate logics between Ł≤ and Ł. And if so, to study them and also
to study which of them are paraconsistent and which of them are explosive.
From a syntactical point of view, since Ł≤ and Ł have the same theorems, intermedi-
ate logics will be necessarily defined as extensions of Ł≤ with inference rules admissible
in Ł≤ and derivable in Ł.
From a semantical point of view, Ł is complete with respect to the matrix ([0, 1]MV , {1}),
where [0, 1]MV is the real interval [0, 1] equipped with the usual structure of MV-algebra.
On the other hand, Ł≤ is complete with respect to the set of all matrices {([0, 1]MV , F ),
where F is an order filter of [0, 1].
In this talk, based on the paper Coniglio et. al. (2015), firstly we introduce some
families of inference rules (generalizing the explosion rule) that are admissible in Ł≤
and derivable in Ł and we have characterized the corresponding intermediate logics.
We prove that there are at least countably many paraconsistent and countably many
explosive logics between Ł≤ and Ł.
Finally, from a semantical perspective, we study logics defined by families of matri-
ces of type ([0, 1]MV , F ) where F is an order filter, obtaining again infinitely many para-
consistent and infinitely many explosive intermediate logics. It is also proved that there
are intermediate logics (like the one defined by explosion inference rule) that are not
semantically defined by this type of matrices. Actually, one needs to consider families
of matrices defined by lattice filters over arbitrary MV-algebras.

References
BOU, F.; ESTEVA, F.; FONT, J-M.; GIL, A.; GODO, L.; TORRENS, A; VERDÚ, V. ‘Logics preserving
degrees of truth from varieties of residuated lattices.’ Journal of Logic and Computation, 19(6),
Abstracts / Resumos 105

p. 1031-1069, 2009.
CINTULA, p.; HÁJEK, P.; NOGUERA, C. (eds.) ‘Handbook of Mathematical Fuzzy Logic (in 2 vol-
umes)’, volume 37, 38 of Studies in Logic, Mathematical Logic and Foundations. College Pub-
lications, London, 2011.
CONIGLIO, M. E.; ESTEVA, F.; GODO, L. ‘Logics of formal inconsistency arising from systems of
fuzzy logic.’ Logic Journal of the Interest Group of Pure and Applied Logic, 22(6), p. 880-904,
2014.
CONIGLIO, M. E.; ESTEVA, F.; GODO, L. ‘On the set of intermediate logics between the truth and
degree preserving Łukasiewicz logics.’ Sumbitted to publication, 2015.
ERTOLA, R.; ESTEVA, F.; FLAMINIO, T.; GODO, L.; NOGUERA, C. ‘Exploring paraconsistency in
degree-preserving fuzzy logics.’ Soft Computing, to appear, 2015.
FONT, J-M. ‘Taking degrees of truth seriously.’ Studia Logica, 91(3), p. 383-406, 2009.
FONT, J-M.; GIL, A.; TORRENS, A.; VERDÚ, V. ‘On the infinite-valued Łukasiewicz logic that pre-
serves degrees of truth. Archive for Mathematical Logic, 45(7), p.839-868, 2006.

Marcelo Coniglio coniglio@cle.unicamp.br


State University of Campinas
Luis Fariña del Cerro luis.farinas@irit.br
Université de Toulouse
Newton M. Peron newton.peron@uffs.edu.br
Federal University of South Frontier - Chapecó
15 modal systems without possible words

The success of Kripke’s relation semantics overshadowed some heterodox approaches,


as Kearns non-deterministic semantics [4] , based on 4-valued matrices for T , S4 and
S5 systems. In fact, Kearns’ semantics is a particular case of non-deterministic many-
valued matrices, thoroughly formalized and described in [1], denominated Nmatrices
(for instance, Nmatrices are a particular case of Possible Translation Semantics intro-
duced in [2]). In the first step of our work we obtained completeness of the systems B
and K B 5 by four-valued Nmatrices.
Trying to expand Kearns’ results, we obtained 6-valued Nmatrices for D, arguing that
4-valued are not enough to characterize systems weaker than T . However, the second
part of this work shows that six-valued Nmatrices are sufficient in order to characterize
a variant of the four systems studied in the first part, replacing axiom (T ) by axiom (D).
This is how we obtain completeness for K D4, K D5, K D45 and K DB (see [5] and [3]).
The third part of our research analyzes even weaker modal systems, eliminating the
axiom (D). In order to obtain completeness, it is necessary 8-valued Nmatrices. That
is how we have a new semantics also for K , K B , K 4, K 5 and K 45, resulting 15 modal
systems. It is worth noting that those 15 systems are well known normal modal systems.

References
[1] AVRON, A.; ZAMANSKY, A. ‘Non-deterministic semantics for logical systems’. Handbook of
Philosophical Logic, 16, p. 227-304, 2011.
[2] CARNIELLI, W. ‘Possible-Translations Semantics for Paraconsistent Logics’. In: D. Batens, C.
Mortensen, G. Priest, and J. P. Van Bendegem, editors, Frontiers of Paraconsistent Logic: Pro-
106 IX Principia International Symposium

ceedings of the I World Congress on Paraconsistency, Logic and Computation Series, p. 149-
163. Baldock: Research Studies Press, King’s College Publications, 2000.
[3] FARINAS DEL CERRO, L.; CONIGLIO, M. E.; PERON, N. M. ‘Finite nondeterministic semantics
for some modal systems’. In: Journal of Applied Non-Classical Logics. Taylor & Francis. To
appear in the 1th issue of 2015.
[4] KEARNS, J. ‘Modal semantics without possible worlds’. The Journal of Symbolic Logic, 46(1), p.
77-86, 1981.
[5] PERON, N. M. (In)Completude Modal por (N)Matrizes Finitas (Modal (In)Completeness by Fi-
nite (N)Matrices, in Portuguese). PhD thesis, IFCH, State University of Campinas, Brazil, 2014.

Marcelo Reicher Soares reicher@fc.unesp.br


São Paulo State University
Itala Maria Loredo D'Ottaviano itala@cle.unicamp.br
University of Campinas
Hypermetric and Equality

When the interpretation of what is now known as Integral and Differential Calculus was
first introduced by Leibnitz and Newton in 1684 and 1687, respectively, the notion of
infinitesimal permeated its fundaments and this fundamental notion brought severe
critics to the fundaments of the newborn Infinitesimal Calculus. In 1872 with the rig-
orous definition of real number given by Karl W. T. Weierstrass (1815-1897) it flowed a
precise definition of the concept of limit, which became a fundament of Integral and
Differential Calculus. The concept of infinitesimal remained latent until 1966, when A.
Robinson presented the fundaments of what would be known as Non-standard Anal-
ysis, which, with methods from the Modern Mathematical Logic, constructed a con-
venient structure to the development of Integral and Differential Calculus starting, as
originally conceived by Newton and Leibnitz, from the infinitesimal.
In the year 2000, Newton C. A. da Costa presented the paraconsistent differential cal-
culus, whose underlying set theory and logic are, respectively, da Costa’s paraconsistent
set theory C HU1 and paraconsistent predicate calculus with equality C 1= . Its structure
consists in a hyperring A and the quasi-ring A∗ , that extend the set R of the real num-
bers. In 2004, Carvalho T.F. presents, under the orientation of D’Ottaviano I.M.L., his
PhD thesis which studies and improves the calculus proposed by da Costa. We present
here a notion of modulus and, from this, a new concept of “metric” over the hyperring
A, that we call hypermetric, this hypermetric to become possible to discuss about a
concept of limit in the hyperring A and about the concepts of equality in R and in A.

M ETRIC AND H YPERMETRIC


o
Fix I ⊂ R a interval and a an interior point of I , denote V = φ : I → R/ lim φ(x) = 0 .
©
x→a
We define A the set of all ordered pair r, φ such that r ­∈ R ®and φ ∈ V , an element
­ ®

in A is named hyperreal number, a hyperreal of the kind 0, φ is named an infinites-


imal,® a ­real number in A has
® the­form ­ 0〉 ®. If­we define two operations
® 〈r, + and · by
r, φ + s, ψ = r + s, φ + ψ and r, φ · s, ψ = r s, r ψ + sφ + φψ then (A, +, ·) will be
­ ® ­ ®
Abstracts / Resumos 107

a comutative ® ring containing ¯a­copy ®¯ of ­R. We ¯® it hyperring A. The modulus of a ele-


¯ call
ment r, φ ∈ A, is defined by ¯ r, φ ¯ = |r | , ¯φ¯ . Is important to note that the modulus
­

in A, when restricted to R, is the usual modulus in R.


From these concepts que ¡­ can® ­to define
®¢ ¯­a Hypermetic ®¯ (on A). Take a function d A :
A × A ¡­→ A such that d A r, φ , s, ψ = ¯ r − s, φ − ψ ¯, we have:
(i) d A ¡­r, φ ®, ­s, ψ ®¢= 0 ⇔¡­r, φ ®=­ s, ψ®¢;
® ­ ®¢ ­ ® ­ ®

(ii) d A ¡­r, φ ®, ­s, ψ ®¢= d A ¡­s, ψ ®, r, φ ¢ ;


(iii) d A ­ r, φ® ­, s, ψ® ≤ d A r, φ , 〈t , θ〉 + d A 〈t , θ〉 , s, ψ .
¡ ­ ®¢

For all r, φ , s, ψ , 〈t , θ〉 ∈ A. Is important to note that the hypermetric d A when re-


stricted to R, is the same as the usual metric on R.

H YPERMETRIC AND EQUALITY

As in the metric space R, we also have in hypermetric space A that the equality of two
elements is determined by the distance among them, that is, x = y ⇔ d (x, y) = 0. In the
beginning of Differential Calculus it was said that two numbers were equal if the dif-
ference among them was infinitesimal, however, an infinitesimal was not a real num-
ber. Indeed, no one precisely knew what an infinitesimal was, and many discussions
stemmed from such fact. In the context of A we have that if two hyperreal numbers dif-
fer by an infinitesimal, then the distance among its real parts is zero, case in which we
say that the hyperreal numbers are in the same Monad. Thus, that which was intuitively
perceived in R has formally become realized in A.

References
CARVALHO, T. F. ‘Sobre o cálculo diferencial paraconsistente de da Costa’. Tese de Doutorado,
IFCH. Campinas: UNICAMP, 2004.
DA COSTA, N.C.A. ‘Paraconsistent mathematics’. In: I World Congress on Paraconsistency, 1998,
Ghent, Belgium. Frontiers in Paraconsistent Logic: proceedings. London: King’s College Pub-
lications, p. 165-179, 2000.
LIMA, E.L. ‘Espaços Métricos’. Rio de Janeiro: Coleção Projeto Euclides, IMPA, 2013.

Marcelo Sanches Miranda msm65@ig.com.br


Mestrando - UFSC
A tensão entre liberdade política e igualdade de condições: pensando a democ-
racia com Alexis de Tocqueville

Pretende-se tratar de uma questão fundamental da perspectiva tocquevilliana: a sua


preocupação com a relação entre liberdade e igualdade no processo democrático.
Tal preocupação desenha-se, especialmente, com a sua viagem à América em 1.831,
pormenorizada em sua obra A democracia na América, publicada em 1.835.
A viagem destinava-se, inicialmente, a observação das causas do êxito do sistema
penitenciário americano, aplicando-as, posteriormente, num projeto de reforma das
prisões francesas. Porém, mais do que isso, Tocqueville desejava examinar e com-
preender como a democracia americana lidava com dois temas que, na França, eram
108 IX Principia International Symposium

fonte de não pouca perturbação social e política: a liberdade política e a igualdade de


condições.
Amante explícito da liberdade — a qual ele chama de a primeira das suas paixões
— e tendo não poucas ressalvas para com a igualdade, Tocqueville, sem menosprezar
essa última, aponta-a como merecedora de constante cuidado, considerando sim seus
benefícios, mas alertando para os riscos futuros que ela, “sem rédeas”, poderia causar,
pois a chegada dessa igualdade traria a reboque novos tipos de comportamentos e sen-
timentos que podem dificultar a ordem e o convívio em sociedade, e até mesmo re-
stringir a liberdade dos homens.
Em sua minuciosa observação da democracia americana, Tocqueville não só percebe
essa predileção pela igualdade de condições como a justifica, lembrando que ela é um
sentimento novo que “forma o caráter distintivo da época em que vivem; basta isso
para explicar que a preferem a todo o resto” (TOCQUEVILLE, 1998, p. 384). Diferente-
mente, em relação à liberdade:
. . . a liberdade manifestou-se aos homens em diferentes ocasiões e sob
diferentes formas; nunca se ligou exclusivamente a um estado social e
podemos encontrá-la também fora das democracias. Portanto, não pode-
ria formar o caráter distintivo dos séculos democráticos. (TOCQUEVILLE,
1998, p. 384).
Ele chama a atenção para duas questões delicadas já presentes e resultantes dessa
ênfase na igualdade de condições, a saber, o individualismo e o excessivo apego aos
bens materiais, frutos de uma visão equivocada desses americanos, valorizando pe-
quenos e momentâneos prazeres (se bem que recorrentes) em detrimento de uma par-
ticipação política, considerada por Tocqueville fundamental para a democracia.
Sobre o individualismo, assim se expressa Tocqueville:
. . . o individualismo é um sentimento refletido e pacífico, que dispõe cada
cidadão a isolar-se da massa de seus semelhantes e a retirar-se para um
lado com sua família e seus amigos, de tal sorte que, após ter criado para
si, dessa forma, uma pequena sociedade para seu uso, abandona de bom
grado a própria grande sociedade. (TOCQUEVILLE, 1998, p. 386).
Essa é a questão em pauta: o individualismo é responsável por criar nos homens
uma excessiva preocupação com o próprio bem estar, fazendo-o ignorar a necessidade
fundamental do convívio em sociedade e de participar da coisa pública.
Daí a preocupação de Tocqueville quanto às duas questões fundamentais, segundo
ele, para uma democracia: um estado social marcado por igualdade de condições e por
dar expressão à vontade dos cidadãos.
Ainda em relação ao desafio imposto pelo individualismo, tratarei de um conceito
muito importante na ótica tocquevilliana: a doutrina do interesse bem compreendido.
Tocqueville tem plena consciência de que seria impossível anular o interesse individual
dos cidadãos, até porque tal interesse é que move as ações humanas, não sendo difer-
ente nas sociedades democráticas. O grande problema não é o interesse individual em
si, mas como cada cidadão lida com o próprio interesse, pois, se cada um considerar
apenas seu próprio interesse, em detrimento do espírito público, alienando-se do con-
junto da sociedade, o resultado certamente será um profundo individualismo. Assim, é
Abstracts / Resumos 109

importante, ao invés da tentativa pouco eficaz de impedir o interesse próprio, educá-lo,


orientá-lo.

Referências
TOCQUEVILLE, A. ‘A democracia na América’. Belo Horizonte: Itatiaia, 1998.

Marcio Kléos Freire Pereira marcio kleos@yahoo.com.br



Professor Adjunto (DEFIL-UFMA)
Quanticação e Anúncio Público

Inspirada em recursos da lógica dinâmica (concebida originalmente para lidar com


programas computacionais), a lógica epistêmica dinâmica se ocupa com a formaliza-
ção das mudanças de estado epistêmico em agentes ou grupos de agentes. Essas mu-
danças podem resultar de diferentes ações epistêmicas (p. ex., a percepção pública de
que um grupo específico de indivíduos adquiriu certa informação, desconhecida pelos
demais grupos). A versão mais simples para essa lógica é conhecida como lógica do
anúncio público, e recebe essa denominação por considerar apenas um tipo de ação
epistêmica: a divulgação simultânea e pública de uma informação verdadeira, não
importando se se trata de um anúncio propriamente dito ou da constatação pública
de um evento notório. A lógica do anúncio público apresenta pelo menos duas es-
pecificidades, não necessariamente compartilhadas por sistemas de lógica epistêmica
dinâmica que considerem outras variedades de ações epistêmicas: trata-se de uma lóg-
ica funcional (quando um anúncio for exequível, haverá somente um resultado para o
dito anúncio), e sua sintaxe dispensa a necessidade de definições e provas que depen-
dam de dupla indução (não é preciso considerar, entre as expressões da linguagem, fór-
mulas e ações como duas categorias distintas e mutuamente dependentes). Desde seu
surgimento, com os artigos “Logic of public communications” (PLAZA, 1989) e “Rea-
soning about information change” (GERBRANDY; GROENEVELD, 1997), numerosos
trabalhos foram publicados sobre o assunto, explorando diferentes axiomatizações,
tratamentos semânticos e extensões; entretanto, quase todos dedicando-se exclusi-
vamente ao nível proposicional. Em nossa pesquisa bibliográfica, encontramos so-
mente um artigo que desenvolve satisfatoriamente uma versão quantificada para a
lógica do anúncio público: “Public announcements under sheaves” (Kishida, 2013).
Contudo, apesar da extrema sofisticação e elevado rigor técnico encontrados naquele
trabalho, seu tratamento considera linguagens com anúncios públicos contendo so-
mente sentenças (fórmulas fechadas), bem como um único agente epistêmico. Além
disso, sua semântica, uma combinação de semântica de vizinhanças com semântica
de feixes, motivada por um interesse filosófico específico (a interpretação do operador
epistêmico usual como representando conhecimento verificável), pode ser vista como
desnecessariamente complicada se estivermos interessados em uma leitura standard
para aquele operador, além de comprometer-se com a perspectiva, um tanto polêmica,
de contrapartes individuais, segundo a qual o mesmo objeto no domínio de interpre-
tação não pode estar associado a mais de um ponto no modelo. Em nossa apresen-
tação, propomos duas famílias de extensões quantificadas para a lógica do anúncio
110 IX Principia International Symposium

público, considerando quaisquer conjuntos finitos não-vazios de agentes epistêmicos


e para anúncios públicos contendo quaisquer fórmulas de suas respectivas linguagens
(e não apenas sentenças). Os sistemas da primeira família estendem os correspon-
dentes sistemas epistêmicos estáticos, providos com os usuais operadores epistêmicos
primitivos para indivíduos; e os da segunda fazem o mesmo com seus correspondentes
sistemas estáticos contendo, além dos operadores epistêmicos individuais, operadores
de conhecimento distribuído em grupos de agentes. Além disso, nosso framework
semântico é o habitual (modelos relacionais), o que simplifica consideravelmente o
tratamento do assunto e não se compromete com indivíduos world-bounded.

Márcio Renato Guimarães magnusmartius@gmail.com


UFPR/SCH/DELLIN
Roberta Pires De Oliveira ropiolive@gmail.com
UFSC
O que realmente realmente signica?

Identificado como um marcador de modalidade epistêmica, na literatura, o advérbio


realmente, no entanto, difere dos marcadores de modalidade epistêmica mais clássi-
cos, como possivelmente e certamente num aspecto importante. Enquanto os mar-
cadores de modalidade epistêmica expressam um estado de coisas em que não se sabe,
ou não se pode verificar (ao menos naquele momento ou com as informações acessíveis
ao falante) o valor de verdade da proposição básica a que eles se aplicam, realmente
expressa justamente que se trata de uma proposição cujo valor de verdade já foi esta-
belecido, com relação às informações que o falante tem do mundo. Nesse aspecto, ele
tanto pode ser considerado o ponto mais alto da mesma escala em que se inserem os
epistêmicos (porque ele expressa certeza em um grau máximo) como pode ser enten-
dido como estando fora da escala da possibilidade epistêmica, uma vez que ele estab-
elece uma mudança de qualidade com relação àquilo que é mais, ou menos, posível. Já
tendo sido confirmada a verdade de uma proposição, não faria mais sentido avaliá-la
do ponto de vista do grau de possibilidade. Em outras palavras, ela é factual.
Um argumento forte para escolher a segunda possibilidade é fornecido pela teo-
ria das implicaturas, que prevê que o termo menos informativo, em uma escala, dis-
para uma implicatura conversacional generalizada, no sentido de interpretá-lo numa
opção informativamente mais forte, mas diferente da interpretação do termo mais
forte da escala (p.ex. ∃xP (x) dispara uma implicatura generalizada do tipo ¬∀xP (x)).
Proposições do tipo possivelmente p teriam que ser interpretadas, nesse caso, como
algo como ¬ realmente p, o que parece ser o caso, se entendermos que proposições
do tipo possivelmente p implicam algo como “não foi verificado/confirmado que p” e
realmente p significa p e foi verificado que p. Por outro lado ¬ realmente p se distingue
de proposições do tipo realmente ¬p, que significam “foi verificado/confirmado que
p”.

Marco Runo
Abstracts / Resumos 111

State University of Campinas


Contingent A Priori Truths: Some Perspectives

In this article I first review the classic examples of contingent a priori truths introduced
by Kripke and Kaplan. Next I discuss some objections against these examples raised
especially by Donnellan (1977) and Soames (2003, 2005). We shall see that some of
these objections may be generalized so as to apply to other combinations of modalities
(i.e., not only to contingent a priori truths), as pointed out by Jeshion (2000) and more
recently by Hawthorne and Manley (2012). Finally, I shall discuss how one can answer
to some of these objections and eliminate at least part of the appearance of strangeness
of Kripke’s and Kaplan’s examples.

Marcos Antonio Alves marcos alves@cle.unicamp.br


Universidade Estadual do Norte do Paraná
Ricardo Pereira Tassinari
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
Lógica informacional: um sistema formal com uma consequência lógica infor-
macional

Em geral, em Lógica, costuma-se definir que uma fórmula j (conclusão) é consequên-


cia semântica de um conjunto G de fórmulas (premissas) se, e somente se, a j for ver-
dadeira em toda circunstância na qual as fórmulas de G são verdadeiras. Nos anos
1930, Tarski estabeleceu algumas propriedades básicas para a consequência lógica:
reflexividade, monotonicidade e transitividade. Neste trabalho, definimos uma nova
semântica para a linguagem da lógica proposicional clássica, L, denominada de semân-
tica informacional, a partir da noção de informação, tal como sugerida na Teoria Mate-
mática da Comunicação. De acordo com esta teoria, a quantidade de informação da
mensagem m de uma fonte F , denotada por I m(F ) , é o valor numérico definido por:
I m(F ) =d f −l og 2 p m(F ) , em que “p m(F ) ” denota a probabilidade de ocorrência da men-
sagem m de F . Para desenvolver a semântica informacional, nos baseamos, na teo-
ria axiomática de probabilidades usual, adotando algumas de suas definições básicas,
tais como as de experimento aleatório, espaço amostral e evento. Um experimento
aleatório Σ é aquele que, repetido diversas vezes, apresenta diferentes resultados ou
acontecimentos. O espaço amostral de um experimento aleatório Σ é o conjunto de
todos os resultados possíveis de Σ. Um evento de um experimento aleatório Σ é qual-
quer subconjunto do espaço amostral de Σ. O valor probabilístico de um evento é
definido como usualmente feito na literatura. Construímos, então, uma semântica
probabilística para L. Inicialmente, estabelecemos uma relação funcional, denotada
por f Σ , entre as fórmulas de L e os eventos de um experimento aleatório Σ, denomi-
nada Σ-situação. O valor probabilístico em f Σ de uma fórmula j, denotado por P [ f Σ ]( j ),
é o valor numérico definido a partir do valor probabilístico do evento associado a j em
f Σ , ou seja, P [ f Σ ]( j ) = P [ f Σ ( j )]. O valor probabilístico em f Σ de um conjunto Γ finito
de fórmulas, ou seja, tal que Γ = {φ1 , . . . , φn }, é o valor numérico P [ f Σ ](Γ) = P [ f Σ (φ1 ∧
. . . ∧ φn )]. Uma fórmula j é consequência probabilística de um conjunto G de fórmu-
las de L se, e somente se, para toda f Σ , P [ f Σ ](G) ≤ P [ f Σ ]( j ). O valor informacional de
112 IX Principia International Symposium

uma fórmula j em f (Σ), denotado por I [ f Σ ]( j ), é o valor numérico definido a partir


do valor informacional do evento associado a j em f Σ , ou seja, I [ f Σ ]( j ) = I [ f Σ ( j )] =D f
−l og 2 p f Σ( j ) . Seguindo noção comum de validade, segundo a qual a conclusão de um
argumento válido jamais pode possuir mais informação do que a presente nas premis-
sas, definimos que uma fórmula j é consequência lógica informacional de um conjunto
G de fórmulas de L se, e somente se, para toda f Σ , I [ f Σ ](G) ≥ I [ f Σ ]. Uma vez exposta tal
semântica informacional, introduzimos um sistema formal, que denominamos Lógica
Informacional, com linguagem L, e demonstramos a corretude e completude da Lóg-
ica Informacional em relação à semântica informacional. Mostramos também que a
Lógica Informacional é paraconsistente e, portanto, não é clássica. Por fim, mostramos
que a consequência informacional não é reflexiva nem monotônica, ou seja, não é uma
consequência lógica Tarskiana.

Marcos Antonio da Silva marcos.asilva@univasf.edu.br


Universidade Federal do Vale do São Francisco
Las bases del nuevo debate intersubjetivo: comunidad cientíca ampliada y
evaluación social de la ciencia

Este trabajo enfoca uno de los aspectos más problemáticos para el análisis de las cien-
cias actuales: la discusión acerca de la evaluación de las ciencias y sus consecuencias
para la actividad científica. En este escenario, asume como objeto de su análisis el in-
tento de colocar en nuevas bases el debate sobre un mundo posible: la evaluación so-
cial de la ciencia, cuyo espectro ha afectado y todavía afecta los distintos puntos de
vista del problema, puestos de manifiesto por filósofos y científicos y, por consiguien-
te, por la propia comunidad científica. La comunidad científica — comunidad cientí-
fica estándar — siempre se ha mantenido como el punto básico de la evaluación de
la ciencia y de toda la actividad en la ciencia. Su configuración siempre ha sido admi-
tida como consecuencia de la propia actividad de los científicos. Por ello, este trabajo
tiene como objetivo realizar un breve análisis del proceso de mantenimiento, organiza-
ción y funcionamiento de la comunidad científica — comunidad científica estándar —,
entendiéndola como — comunidad científica ampliada —, y abogando por su consti-
tución en un sentido más amplio ya que se vislumbra como posible aquí, la posibilidad
de ampliar sus atores y el proceso de evaluación de la ciencia y de sus actividades. Esto
pone en tela de juicio el conjunto de problemas que afectan a la representatividad de
la comunidad científica estándar con respecto a la evaluación de la ciencia y de la ac-
tividad científica, es decir, de sus teorías y de sus constructos explicativos, porque en
dicho proceso sólo se lleva en cuenta los criterios y premisas epistémicas. De hecho,
en el contexto de este asunto es que, a partir de un análisis — metodológico y concep-
tual — de las contribuciones de la filosofía de la ciencia contemporánea abogamos por
la expansión de la comunidad científica e institución por consecuencia de la comuni-
dad científica ampliada, como una necesidad en vista de las nuevas “condiciones de
producción” del conocimiento científico. Los resultados de este análisis, sin embargo,
muestran que tal posibilidad — evaluación social de la ciencia — sólo se podrá ha-
cer y llevar a cabo con la creación (institución) de una comunidad científica general
Abstracts / Resumos 113

ampliada, que esté en acuerdo con las demandas y necesidades de una sociedad en
proceso de transformación continua. Para tanto, llevamos en cuenta nuevos criterios
de evaluación que, hoy en día, ponen de manifiesto la intervención de otros sujetos
(actores sociales) y de otros valores que no sólo los epistémicos en la evaluación de
la ciencia y de la actividad científica. En este contexto, el trabajo propuesto presenta
el resultado de breves reflexiones sobre la problemática en estudio e intenta propo-
ner un camino alternativo que sea capaz de superar su mayor paradoja: la defensa de
una ciencia “neutra” y de una evaluación meramente epistémica en una sociedad en
evolución. Tal camino intenta la búsqueda de equilibrio entre los distintos análisis que
se hacen de la ciencia y los intereses que involucran la práctica de los científicos. Su
presupuesto básico es que la ciencia y la actividad científica no son neutras.

Marcos César Seneda mseneda@ufu.br


Universidade Federal de Uberlândia
Simmel e a hipótese da compreensão como reconstrução de processos psíquicos

O livro de Simmel — Os problemas da filosofia da história — é percorrido pela crítica


ao realismo ingênuo. Este realismo ingênuo poderia ser entendido a partir da conce-
pção da teoria da verdade como cópia mecânica, cujo objetivo seria conectar o su-
posto real e sua representação cognitiva. Se transposto para o quadro do pensamento
kantiano, trata-se de um problema de difícil formulação e de difícil solução, porque
Simmel opera com um problema epistemológico muito diferente daquele que foi for-
mulado a partir da consolidação da física e da mecânica. Se Simmel preserva o intuito
crítico, transporta-o para outro domínio, no qual o problema que investiga poderia ser
inicialmente expresso da seguinte maneira: como podemos unificar a sequência dos
dados observáveis que constituem o conhecimento histórico, e de que modo tais da-
dos podem ser apreendidos pelo sujeito que produz esse tipo de conhecimento?
Uma das chaves da resposta está em como fazer um uso epistemológico da noção
de experiência vivida (Erlebnis). Em Kant não há, como em Dilthey, uma cisão da ex-
periência em dois locis que poderíamos denominar experiência objetiva (Erfahrung) e
experiência vivida (Erlebnis). Assim, conquanto haja em Kant, por um lado, uma teoria
cosmopolita da história, que procura posicionar o telos da ação humana a partir de seus
aspectos políticos, jurídicos e éticos, não há em Kant, por outro lado, uma teoria sobre
a especificidade da compreensão histórica. Na Alemanha, o edifício da crítica kantia-
na confinava um homem que ainda não fora penetrado pela dimensão compreensiva,
conforme descrita por Dilthey, e uma crítica da razão histórica apresentava-se como
uma meta no horizonte tanto de historicistas como de neo-kantianos. Embora não se-
ja um pensador de fácil enquadramento, também Georg Simmel se viu compelido a
percorrer os corredores dessa crítica. Seu livro — Os problemas da filosofia da história
—, já em seu prefácio, é aberto em um fecundo e direto debate com Kant, posto a partir
de um quadro de referência que só pode ser encontrado em Dilthey.
Simmel já parte do problema compreensivo, demarcando-o com a questão que em
Kant sempre abre a fundamentação: como é possível a história? E de princípio indi-
ca tal possibilidade pela capacidade do espírito de construir e se orientar em meio a
114 IX Principia International Symposium

uma totalidade, que sempre é reivindicada, por exemplo, para se unificar uma série de
ações, ou para reconstruir a coerência que pressupomos em um interlocutor, ou para
dar significado a uma seqüência de relatos, quadros, cartas, etc. Este processo nos é
apresentado por Simmel como um a priori, dado na capacidade que possuímos de va-
lorar e reproduzir hipotéticas seqüências de representações, descritivas de um virtual
estado psíquico.
Esse texto procura explicitar a tese da atualidade compreensiva que Simmel pres-
supõe como lócus de apreensão e interpretação dos processos humanos dotados de
sentido. Para explicitá-la, confronta as posições de Dilthey e Simmel sobre o papel da
vivência na fundamentação do conhecimento histórico. Ao contrário de Dilthey, no
entanto, Simmel não pressupõe uma vivência que possa ser apreendida em outrem ou
circunscrita a partir de um objeto, porque põe o fundamento da compreensão na atua-
lidade daquele que compreende. Assim, opera com possibilidades objetivas da cons-
trução de conexões de sentido por meio da projeção de processos psíquicos. Conquan-
to dificilmente seja lembrado no debate sobre a compreensão ou sobre a filosofia da
história, Simmel possui uma posição própria e consistente acerca da fundamentação
do conhecimento histórico, que pode ou abrir novos ângulos de pesquisa ou ser fecun-
da para se reexaminar perspectivas já consolidadas.

Marcos Fanton fanton.marcos@gmail.com


Instituto de Desenvolvimento Cultural (IDC) Porto Alegre
Uma psicologia moral do razoável importa para a losoa política?

Esta apresentação pretende esclarecer a estrutura do argumento da estabilidade da jus-


tiça como equidade e mostrar a importância do senso de justiça e da psicologia moral
do razoável para o seu desfecho positivo. Para tanto, ela será dividida da seguinte ma-
neira: na primeira parte, desenvolvo, em linhas gerais, uma interpretação sistemática
da teoria da justiça rawlsiana e aponto para a necessidade de se distinguir as diferentes
etapas do método do equilíbrio reflexivo. Na segunda parte, realizo uma interpretação
dos principais motivos da elaboração do argumento da estabilidade e introduzo a es-
trutura e o problema fundamental deste argumento. Na terceira parte, demonstro, em
um primeiro momento, como a noção de senso de justiça e o arcabouço da psicolo-
gia moral do razoável são importantes para a correta compreensão da teoria da jus-
tiça como uma utopia realista. Rawls viu-se às voltas com a dificuldade de convencer
seus leitores de que há a possibilidade de uma concepção política liberal tornar-se um
ponto de vista público e compartilhado entre cidadãos de uma sociedade democrá-
tica. Procurou dar conta, ainda, de mostrar como um arranjo institucional adequado
(o ideal de uma sociedade bem-ordenada) criaria condições para o desenvolvimento
de um senso de justiça suficientemente forte entre os seus cidadãos, capaz de anular
tendências destrutivas e opostas a valores liberais essenciais (ou, ao menos, torná-las
menos atraentes). Em um segundo momento, por fim, confronto a interpretação elabo-
rada com a suspeita (ou mesmo desprezo), por parte de alguns leitores da justiça como
equidade, da estratégia de uma concepção política liberal utilizar traços psicológicos
específicos para a descrição de uma sociedade democrática pluralista razoavelmente
Abstracts / Resumos 115

justa e estável.

Marcus Vinicius Lunguinho marcuslunguinho@gmail.com


UnB
Evidências em favor de modalidade coberta em português

A modalidade é uma categoria que se manifesta de variadas maneiras: além dos verbos
modais, afixos, adjetivos, advérbios, substantivos e até construções sintáticas inteiras
como as orações condicionais podem veicular o sentido de modalidade (Kratzer 1981,
1991, von Fintel 2006). Além desse tipo de modalidade manifesta, muitos trabalhos têm
argumentado que a categoria da modalidade pode ser veiculada mesmo na ausência
manifesta desses meios de expressão típicos. Isso ocorre em construções não-finitas
como Tim knows how to solve this problem, exemplo esse que pode ser parafraseado
como: Tim knows how one/he could/should solve this problem (Bhatt, 2006:2). O fenô-
meno que esse exemplo ilustra é referido na literatura como modalidade coberta (cf.
Bhatt 2006, Abraham & Leiss 2012). Sobre esse tipo de modalidade, Abraham (2012)
mostra que uma característica unificadora dos exemplos com modalidade coberta em
inglês é a preposição. Para ele, não há possibilidade de atribuir significado modal se
a preposição to não estiver presente. Diante desse quadro referente à modalidade co-
berta, este trabalho tem dois objetivos inter-relacionados. O primeiro desses objetivos
é discutir a possibilidade de haver casos de modalidade coberta em português. Mos-
trarei que essa língua faz uso de modalidade coberta em vários contextos infinitivos e
que a interpretação desse modal abstrato tanto pode ser universal quanto existencial:
A Maria não sabe para quem ligar nessa hora pode ser parafraseada como ‘A Maria não
sabe para quem pode/deve ligar nessa hora’. A análise desses casos, permite concluir
que, diferentemente do que propõe Abraham (2012) para o inglês, não é possível asso-
ciar a modalidade coberta à presença de uma preposição específica. O segundo obje-
tivo é argumentar que a postulação um modal coberto pode explicar as características
do verbo modal ter que / ter de. Tomando a versão minimalista da Teoria de Princípios
e Parâmetros (Chomsky 1995 e trabalhos subsequentes) como quadro teórico de refe-
rência, apresento de onde vem a interpretação modal de necessidade associada a esse
verbo e descrevo como se organiza a derivação com ele. Em relação à primeira ques-
tão, a análise segue o que já foi proposto por Cowper (1993) e Bhatt (1998) para o verbo
have to do inglês, e por Cattaneo (2008, 2009) para verbos semelhantes em italiano e
bellinzonese, a interpretação de necessidade é consequência direta da existência de
um modal não manifesto na sintaxe (modal coberto). No que se refere à segunda ques-
tão, a proposta é a de que ter que / ter de não constituem uma unidade lexical. O verbo
ter é derivado a partir da combinação de um verbo abstrato v com o núcleo modal não
manifesto (cf. Kayne 1993) enquanto que / de são analisados como marcadores de infi-
nitivo (Martins 2002) que realizam os traços de um T preposicional (Pesetsky & Torrego
2004), selecionado pelo núcleo modal abstrato. Se essa proposta estiver no caminho
correto, pode-se analisar o modal abstrato como o núcleo sintático que está na base de
três propriedades que se verificam nas sentenças com o verbo modal ter que / ter de,
quais sejam: a) o emprego do verbo ter, b) a presença de um infinitivo introduzido por
116 IX Principia International Symposium

que / de e c) a leitura de ter que / ter de como um verbo modal de necessidade.

Maria Alice da Silva mariaalicesilv@gmail.com


Doutoranda - UFSC
Os animais e sua autonomia prática. Uma perspectiva com ns jurídicos a
partir dos conceitos de Steven Wise

Para Wise, a capacidade de discernir moralmente não pode servir como pressuposto de
direitos, nem para fundamento apenas de direitos humanos. Pois, desta forma, exclui
também muitos desta espécie, como é o caso de crianças e outros humanos incapazes.
Observado isto, vimos que o sistema jurídico já não trabalha com esse pressuposto, já
que inclui todos da espécie humana como beneficiários do direito. Ao inserir o concei-
to de especismo e sanar o problema da incoerência em oferecer direitos entre mem-
bros de uma espécie que não possuem características desejadas para, deve-se investir
personalidade jurídica a todos os seres vivos capazes de autonomia prática mínima, e
conferir-lhes os direitos básicos de liberdade. Ao superar os limites entres os animais e
os humanos, entendemos que há razões para aceitarmos a defesa de direitos efetivos
aos animais, ou seja, de maneira em que há direitos positivos, onde o sujeito pode agir
ativamente no direito, no caso dos incapazes por representantes. Um sistema jurídico
não especista respeita a liberdade prática de todos os animais e para isso não pode atri-
buir aos animais o status de “coisa” e “propriedade”. A vantagem prática, e não só de
justiça, em atribuir tais direitos aos animais, usando como exemplo o Brasil, atribuir
tutela legal. Com isso, os tutores poderiam mover ações civis a seu favor, respondendo
juridicamente por eles, e não dependeriam de defesa do ministério ou e ONGs. Outro
benefício é possuir um estatuto como existe para as crianças. Poderia existir um consel-
ho protetor tal qual há para as crianças e ações de política pública a fim de oportunizar
o exercício de suas liberdades, e não apenas leis criminais. Apesar de existir leis que
proíbem a crueldade animal no Brasil, esta não é efetiva e regulamenta uma série de
outras leis exploratórias, pois, os animais ainda são propriedades. Além disso, haveria
leis que conferem direitos negativos, como já possui, mas também leis que atribuem
à possibilidade de animais usufruírem de direitos positivos. Com o aparato conceitual
sobre a diferença entre liberdade moral e prática de Steven Wise, percebemos que não
há diferenças significativas de liberdades e interesses de uma pessoa sui iuris e um ani-
mal.

Mariana Cabral Falqueiro marianacfalq@gmail.com


Doutoranda - UFRJ
Mundos possíveis e lógica deôntica

A lógica deôntica pode ser classificada como um sistema intensional que, por sua vez,
tem como característica, de modo geral, o uso de linguagens que envolvem semânti-
cas que utilizam da noção de mundos possíveis (Gomes, 2008). Um mundo possível
é aquele em que Sócrates esteja vivo no ano de 2015. Outro mundo possível é aquele
Abstracts / Resumos 117

em que acontece o mundo real. A semântica dos mundos possíveis possibilita que ha-
ja substituição entre a linguagem modal pela linguagem quantificacional da lógica de
1a ordem (Murcho, 2006). Pode-se dizer que a lógica deôntica é aquela que trata das
questões que envolvem normas, no que se refere ao obrigatório ou permitido. Ou seja,
a lógica deôntica deve capturar as ideias relativas a obrigações e permissões. A lógi-
ca deôntica em muito se parece com a lógica modal, uma das principais lógicas que
compõem os sistemas intensionais, principalmente na forma em que seus operadores
trabalham. Por exemplo, a lógica modal é composta por operadores aléticos de neces-
sidade (2) e possibilidade (♦). Em uma frase modal do tipo: ♦ o sol está brilhando em
Maceió; será verdadeira em pelo menos um mundo possível. Já a frase: 2 2+2=4; será
verdadeira, se, e somente se, 2+2=4 for verdadeira em todos os mundos possíveis. Des-
ta forma, tais operadores podem ser definidos, na medida em que um deles é tomado
como primitivo. Por exemplo, o operador de possibilidade (♦) tomado como operador
básico, primitivo, posso definir o operador de necessidade (2): 2φ =d f ∼ ♦ ∼ φ. Da
mesma forma, podemos definir o operador de possibilidade, tomando o operador de
necessidade como primitivo: ♦φ =d f ∼ 2 ∼ φ. É válido lembrar que nos mundos possí-
veis presentes na lógica modal deve haver relações de acesso do tipo: qualquer (sistema
K); reflexiva (sistema T); seriada (sistema D); reflexiva e transitiva (S4); e, por fim, refle-
xiva, simétrica e transitiva (S5). Apesar de a lógica deôntica, à primeira vista, parecer
ser apenas um pequeno desdobramento da lógica modal, o Princípio da Precariedade
prova que a necessidade da existência da lógica deôntica é real. Isso porque, ele pro-
va que um dos princípios aléticos mais importantes como ‘2p → p é verdadeiro’, não
se aplica ao operador deôntico análogo O (obrigação). Então, ‘Op → p será falso’. Pois,
nem sempre o que é obrigatório é cumprido. Como vimos, se 22+2=4, então 2+2=4. Já,
afirmar que é obrigatório o uso de cinto de segurança nos automóveis, não garante que
todos os usuários os utilizem. Logo, faz-se necessário o uso de operadores deônticos: O
(obrigação), P (permissão) e F(proibição), para que uma lógica deôntica possa ter bons
resultados.

Márlon Henrique Teixeira marlon.henrique@posgrad.ufsc.br


Doutorando - UFSC
The symbolism as a cheap channel code: the symbolic language's role in the
cognition

In generally, there seem to be different ways in order to human beings cognitively han-
dle with a source of information. Tasks as number guessing, velocity, weight, and ex-
tension estimation can be accomplished through different cognitive strategies — e.g.
by counting, or comparing objects’ characteristics, and so on. In most cases, these dif-
ferent ways will imply different performances and costs to the subject. In this paper, we
will offer an interpretation of these “different ways” in terms of different channel codes
whereby the environmental information is processed by the Central Nervous System
(CNS). By considering the channel codes’ cost and performance, we will distinguish
among three categories of codes, namely, the prompt processing, working memory,
and symbolic coding scheme. The code metaphor will prove to be very fertile by afford-
118 IX Principia International Symposium

ing alluring explanation to important questions, such as: why do we have the internal
representation that we have — in terms of colors, extension, and texture? Why are sim-
ple theories considered better than complex ones? Why will different representations
of a given system, even if conflicting, conduct to the same action plans (experiments)?
For the most cases, examples will be given through the number guessing experiments
though the general principals seem to be applicable to cognitive tasks broadly.

Martin Vacek, M.A. martinvacekphilosophy@gmail.com


Slovak Academy of Sciences
Extended Modal Dimensionalism

Metaphysical theories about the nature of possible and impossible worlds abound.
However, it has been argued that one such theory — genuine modal realism extended
by impossible words — is an inconsistent theory. For, it justifies the inference from ‘At
world w, A and not A’ to ‘At world w, A, and it is not the case that, at world w, A’. And
that’s a contradiction.
Modal dimensionalism presents a modified version of extended modal realism. It
‘shares a certain theoretical conviction with David Lewis’s classical modal realist the-
ory and also, superficially, with anti-Lewisian actualist theories’ (Yagisawa 2010, 1). Ac-
cording to modal dimensionalism a world is a modal index, a time is a temporal index
and a space is a spatial index. A time is a temporal relativizer of things-being thus-and-
so, space is a spatial relativizer of things-being-thus-and-so and a world is a modal
relativizer of things-being-thus-and-so. All concrete objects are modal objects since
they exist at different worlds. Worlds are makers of modal objects, although they them-
selves are not modal objects. Modal dimensionalism thus divides reality into concrete
individuals on one side, metaphysical indices those individuals inhabit, on the other.
Next, according to the theory’s initial formulation the at-a-world relation is primitive
and the indices are ontologically simple. This feature places the theory somewhere be-
tween modal realism and modal actualism and, more importantly, between two modes
of representation: genuine and ersatz.
In the paper, I argue that these features do not discredit the theory. In particular, I
present a view according to which possible and impossible worlds exist, although the
way they represent is not genuine. The proposal accounts for the nature of indices that
represent modal phenomena in a “magical” way (in a technical sense to be explained).
Firstly, I present three arguments against “magical” representation of modal indices:
an argument about meaning, epistemological argument and metaphysical argument.
Then, I argue that, generally, the arguments are either too demanding, or do not apply
to the version of modal dimensionalism I defend. In the former, it will be shown that if
the arguments are correct they apply to the original modal realism too. In the latter, it
will be argued that modal indices display structural complexity, yet do not have genuine
parts.
Although a theory that combines modal dimensionalism and an account of “magi-
cal” representation is still committed to the existence of what David Lewis calls worlds,
it avoids the undesired consequences of traditional extended modal realism. For, the
Abstracts / Resumos 119

representation goes via modal indices, that is, modal regions Lewis’s worlds belong to.
It thus can represent possible as well as impossible situations without failing into plain
inconsistency.

References
YAGISAWA, T. ‘Worlds and Individuals, Possible and Otherwise’. Oxford: Oxford University Press,
2010.

Max Rogério Vicentini mrvicentini@uem.br


Universidade Estadual de Maringá
André Rosolem Sant'Anna rosolemandre@gmail.com
Estudante PPG - Universidade Estadual de Maringá,
Raciocínio diagramático como uma ferramenta para a descoberta cientíca

Nosso objetivo neste artigo é mostrar como a noção de raciocínio diagramático, de-
senvolvida, sobretudo, por C. S. Peirce, pode nos ajudar a compreender o processo de
descoberta científica e a criatividade científica em geral. O trabalho foi dividido em três
partes: (1) em primeiro lugar, é apresentada uma definição de raciocínio diagramático
construída a partir da consideração de três noções mais básicas. Essas noções são
as de relações, sistemas representacionais e diagramas. Discutiremos cada uma e,
em seguida, ofereceremos a nossa compreensão de qual é o papel das mesmas na
constituição do que entenderemos por raciocínio diagramático; (2) em segundo lugar,
mostraremos como o raciocínio diagramático pode ser usado como ferramenta para
explicar como as novas descobertas surgem em ciências dedutivas como a matemática.
A principal dificuldade associada a essa pretensão é a de que quando se está operando
com diagramas, estamos apenas lidando com as estruturas inferenciais de nossas teo-
rias e não com o que nos diz o mundo da experiência. Mais especificamente, poder-se-
ia argumentar que os diagramas não são suficientes para estabelecer a verdade de uma
nova teoria; e (3) consideramos a alegação de que não só a matemática, mas a atividade
científica de modo mais geral, pode se beneficiar com o uso do raciocínio diagramático.
Isso vai levantar algumas questões filosoficamente difíceis sobre o que figura como os
objetos finais da ciência. Para propor uma maneira de sair desta dificuldade, em parte
(3) consideramos uma proposta defendida por Christopher Hookway (2013), segundo
a qual Peirce poderia ser visto como um estruturalista sobre a natureza dos objetos
matemáticos. Argumentamos que considerações semelhantes valem para o caso dos
objetos científicos em geral, e que a visão de Peirce sobre a natureza dos signos é a
chave para entender como o raciocínio diagramático também pode servir como uma
ferramenta para a descoberta científica. A chave interpretativa parece residir na con-
sideração do caráter icônico dos digramas.

Mayra Moreira da Costa mayramoreiracosta@gmail.com


Pesquisadora do Núcleo de Estudos do Futuro Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)
Modelos causais e fenômenos quânticos
120 IX Principia International Symposium

Nesta comunicação, abordarei o problema da ausência de um modelo causal explana-


tório adequado para fenômenos quânticos e apresentarei um modelo causal apoiado
na interepretação transacional de John Cramer (1980, 1986, 2005, 2006) da mecânica
quântica padrão6 como alternativa. Primeiramente, farei uma exposição dos mode-
los causais probabilísticos que podem ser obtidos a partir das teorias da causalidade
de Hans Reichenbach (1933, 1946, 1956, 1958) e Wesley Salmon (1965, 1977, 1984,
1997, 1998) e explico por quais razões eles não poderiam ser aplicados ao domínio
da mecânica quântica. Num segundo momento, apresentarei uma análise do modelo
causal de Phil Dowe (1992, 1995, 1996, 2000) fundamentado na interpretação transa-
cional de Cramer e os motivos pelos quais penso que devemos abandoná-lo parcial-
mente, pois, ainda que ele enfrente problemas na sua formulação original, fornece base
para uma reformulação possivelmente adequada a partir da mesma interpretação. Fi-
nalmente, proponho um esboço de tal reformulação em conjunção com uma reformu-
lação do modelo de bifurcação causal interativa de Salmon, a qual chamarei de bifur-
cação causal transacional.
O problema da aplicação da causalidade ao domínio da mecânica quântica é carac-
terizado pela dificuldade em se encontrar, propor, ou chegar a um consenso sobre um
modelo adequado que explique causalmente interações relacionadas a determinados
fenômenos quânticos. Podemos, portanto, denominá-lo propriamente como o prob-
lema da ausência de um modelo causal para fenômenos quânticos.
Considerando o caráter indeterminístico da teoria quântica e se considerarmos a re-
lação de causalidade como intrisecamente determinísta, isto é, que um efeito especí-
fico é totalmente determinado a partir da sua causa, parece evidente que não pode-
mos aplicar modelos causais a fenômenos quânticos. No entanto, se não tivermos
razões sufientes para considerarmos a relação de causalidade como intrisecamente
determinísta, podemos assumir que relações causais operam mesmo em domínios in-
determinísticos, isto é, que uma causa poderia acarretar em mais de um efeito de um
modo indeterminado a partir de sua ocorrência. Uma causa nos levaria a predições
intrisecamente aleatórias de efeitos distintos que poderiam ser explicados pela mesma
causa.
A formulação de teorias que concebem a causalidade como intimamente conectada
a correlações probabilísticas, como as teorias de Reichenbach, Salmon e Dowe, pode
ser vista com entusiasmo por alguém que tenda a acreditar na possibilidade de teorias
causais descreverem satisfatoriamente os fenômenos preditos pela mecânica quântica
e ao mesmo tempo não pretenda negar a aleatoriedade característica desse domínio.
Veremos, no entanto, que o problema da aplicação da causalidade a fenômenos quân-
ticos vai além da mera formulação de um teoria causal probaibilística e que nenhuma
dessas teorias fornece um modelo causal adequadamente aplicável a tal domínio.
Não obstante, não podemos deixar de ter em mente que mesmo considerando o
domínio da física clássica, não disposmos uma teoria ou lei da causalidade consen-
sual, de modo que o formalismo quântico não coloca em xeque a universalidade de um
6 Considero aqui o formalismo da mecânica quântica estabelecido entre os anos de 1925 e 1927
por Heisenberg (1925, 1927), de Broglie (1926, 1927a, 1927b), Schrodinger (1926a, 1926b, 1926c,
1927a, 1927b) e Born (1926a, 1926b, 1927).
Abstracts / Resumos 121

modelo causal firmemente estabelecido, no qual o conceito de causalidade mostrou


ser definitivamente correspondente, coloca em xeque, antes de mais nada, a universali-
dade de determinados modelos causais, que podem ser questionados. Embora, é claro,
também não devamos deixar de cogitar a plausibilidade de uma defesa da limitação
da relação de causalidade ao domínio clássico. Ao longo da apresentação, mostrarei
que há distintas teorias causais em debate, e que a tentativa de explicar causalmente
fenômenos quânticos, pode, inclusive, fornecer-nos luz sobre o problema geral da apli-
cação da causalidade.

Miriam M.S.Madureira miriammsm@hotmail.com


Universidade Federal do ABC - Santo André - SP
Trabalho e mercado na teoria recente de Axel Honneht

Em sua obra recente Das Recht der Freiheit, Axel Honneth modifica alguns aspectos de
sua teoria do reconhecimento. Essa modificação se nota principalmente no que diz
respeito à estruturação das diferentes esferas de reconhecimento intersubjetivo e aos
aspectos da individualidade associados a cada uma delas. Uma das consequências de
sua nova interpretação da sociedade moderna é a localização do trabalho e da forma
de reconhecimento a ele associada, em conjunto com os interesses particulares, numa
esfera de reconhecimento própria: a economia de mercado: o mercado passa a ser
visto como uma de três esferas de uma “eticidade democrática” e assim de realização
de uma forma de liberdade que Honneth a partir de Hegel denomina “social”. Dando
continuidade a reflexões anteriores, pretendo examinar aqui algumas consequências
dessas modificações para a concepção de trabalho.

Nazareno Eduardo de Almeida nazarenoeduardo@gmail.com


UFSC
Sobre a possibilidade sincrônica em Aristóteles: aspectos semânticos e on-
tológicos

Na literatura recente sobre a história dos conceitos modais, tem-se atribuído a Duns
Scotus a explicitação do conceito de possibilidade sincrônica, o qual é indispensável
para a compreensão plena da atual semântica e metafísica de mundos possíveis. Em
geral, tal explicitação é contrastada com o conceito de possibilidade diacrônica, con-
ceito considerado central para a chamada interpretação estatística das modalidades
na obra de Aristóteles e dos pensadores medievais até Duns Scotus. Minha apresen-
tação visa mostrar que o conceito de possibilidade sincrônica já se encontra na obra
de Aristóteles, sendo necessário para determinado tipo de leitura do famoso problema
dos futuros contingentes, encontrado no capítulo 9 do tratado Sobre a interpretação.
Ademais, quero indicar que este conceito também é necessário para uma adequada
compreensão de outras passagens da obra do Estagirita, em especial no que concerne
à tese ontológica da existência de possibilidades passadas e presentes não realizadas e
da existência não realizável de grandezas infinitas. Se meus argumentos interpretativos
122 IX Principia International Symposium

e filosóficos estão corretos, eles corroboram a ideia de que Aristóteles não teria susten-
tado o princípio de plenitude para todas as possibilidades, ou seja, teria defendido que
nem todas as possibilidades se realizam no decurso do tempo.

Nélida Gentile nellygentile@gmail.com


Universidad de Buenos Aires
Nelson Goodman: verdad y mundos posibles

En la clásica obra Ways of Worldmaking (1978), Nelson Goodman presenta su postura


antirrealista fundada en una pluralidad de mundos, mundos construidos a partir de
mundos previos, y no “mundos descubiertos”. Frente a la idea del realismo metafísico
de que hay una única descripción verdadera del mundo, Goodman ofrece una plura-
lidad de mundos conformados por medio de una variedad de formas de organización
impuestas por nosotros a partir de procesos tales como los de composición y descom-
posición, ponderación, ordenación, supresión, complementación y demás.
Pero el hecho de aceptar la existencia de incontables versiones alternativas del mun-
do, no equivale a decir que todo vale: el reconocimiento de que existen muchas versio-
nes alternativas del mundo no es signo alguno de una política de laissez faire. Nelson
Goodman reconoce el valor normativo de los criterios que diferencian las versiones co-
rrectas de las erróneas. Una versión es verdadera —afirma— cuando no viola ninguna
creencia que nos sea irrenunciable ni tampoco quebranta ninguno de los preceptos
o de las pautas normativas que le van asociadas. ¿ Significa esto que el único criterio
de verdad subyacente a la concepción de Goodman es simplemente un criterio cohe-
rentista? Si así fuese, no cabría hacer ninguna diferencia entre los mundos de la cien-
cia, por caso, y los mundos de ficción. Pero no parece ser esta la postura adoptada por
Goodman quien admite la importancia de diferenciar lo fáctico y verdadero de lo fic-
ticio y lo falso. A lo que se opone, es a concebir la verdad como correspondencia con
un mundo dado de antemano (Goodman 1978, p.94), pues sostiene que todo lo que
sabemos acerca del mundo está siempre incluido en alguna versión correcta sobre él.
Esto no significa que podamos construir una versión correcta de manera fortuita, o que
los mundos se “hagan” por casualidad, pues siempre se parte de alguna vieja versión
o de algún viejo mundo que se tiene a mano y al que estamos “atados”. Entre estos
viejos mundos se encuentran, por ejemplo, aquellos configurados en las leyes de la ló-
gica o aquellos resultantes de algunas observaciones experimentales, o incluso otros
construidos a partir de convicciones o prejuicios impregnados con variados grados de
firmeza. Pero este sentimiento de “obstinación a los hechos” es sólo producto del hábi-
to.
La pregunta sobre si Goodman adhiere, en última instancia, a una concepción cohe-
rentista o a una concepción correspondentista de la verdad sólo puede ser respondida
haciendo lugar a una serie de consideraciones acerca del significado de los conceptos
correspondientes en el contexto de la argumentación de Goodman. Por nuestra parte,
entendemos que Goodman asocia la noción de correspondencia exclusivamente con
la perspectiva del realismo metafísico tradicional al que él mismo se opone. Sin em-
bargo, los mundos de la ciencia pueden ser construidos, puede existir una pluralidad
Abstracts / Resumos 123

de mundos, pero la verdad o corrección de cada versión científica del mundo depen-
derá, sin duda alguna, de una correspondencia con los “hechos” aunque esos mismos
hechos formen parte, también, de un mundo alternativo.

Newton C. A. da Costa ncacosta@terra.com.br


UFSC
Mecânica Quântica e a Hipótese de Riemann

A presente conferência é basicamente expositiva. Procuramos expor algumas carac-


terísticas que vigem entre a correlação de pares de zeros da função de Riemann e de
certas estatísticas dos níveis de energia de determinados sistemas quânticos, tratando
dos seguintes tópicos: 1) A Hipótese de Riemann e seu significado. 2) O gráfico e a Hi-
pótese de Montgomery. 3) A matemática empírica de Chaitin; modelos não usuais da
aritmética de Peano e da teoria de conjuntos. Matemáticas alternativas. Wittgenstein e
o conceito de contradição.

N. C. A. da Costa ncacosta@terra.com.br
UFSC
Christian de Ronde cderonde@gmail.com
Philosophy Institute Dr. A. Korn Buenos Aires University, CONICET - Argentina Center
Leo Apostel & Foundations of the Exact Sciences Brussels Free University - Belgium
Identity and the Non-Reexive Logics in Quantum Mechanics

On the one hand, non-reflexive logics are logics in which the principle of identity does
not hold in general. On the other hand, quantum mechanics has difficulties regarding
the interpretation of ‘particles’ and their identity, also known in the literature as ‘the
problem of indistinguishable particles’. In this article, we will argue that non-reflexive
logics can be a useful tool to account for such quantum indistinguishability. In par-
ticular, we will provide a particular non-reflexive logic that can help us to analyze and
discuss this problem. From a more general physical perspective, we will also analyze
the limits imposed by the orthodox quantum formalism to consider the existence of in-
distinguishable particles in the first place, and argue that non-reflexive logics can also
help us to think beyond the limits of classical identity.

Nivaldo Machado nivaldo@unidavi.edu.br


Doutor em Filosoa e Metodologia das Ciências pela Universidade Federal de São Carlos -
UFSCar
Filosoa da mente e das neurociências: o inquérito da consciência

Certamente nas últimas décadas as discussões em filosofia da mente e das neurociên-


cias acabam convergindo, entre suas diversas temáticas, na necessidade ímpar de se
investigar o Problema da Consciência. A vários anos o Grupo de Pesquisa em Filosofia
124 IX Principia International Symposium

da Mente e Ciências Cognitivas em conjunto com o GT de Filosofia das Neurociên-


cias se dedica à pesquisa que busca integrar de modo bastante estrito os feitos das
ciências que tratam das relações mente-cérebro em suas mais diversas abordagens em
consonância com os feitos advindos do trabalho filosófico. Neste aspecto, gostaríamos
desde o início deixar claro que não apresentamos uma cisão que separe cabalmente o
trabalho do filósofo acerca do mental-cerebral dos trabalhos dos neurocientistas por
exemplo. Assim sendo, o que nos parece algo relevante é que a Consciência perpassa
desde projetos científicos mais experimentais até argumentos filosóficos de orientação
metafísica. Parece, grosso modo, que no âmbito da Filosofia das Neurociências e da
Mente a consciência se encontra justamente como elemento que, após devidamente
investigado, sendo o que irá fornecer uma base bastante interessante de contribuição
para a demarcação da própria ciência/filosofia do mental-cerebral. De modo mais
pontual buscamos discutir neste trabalho: i) Será a consciência um ente passível de ser
traduzido como um efetivo problema a ser tratado ou ela permanecerá na condição
de “mistério” — tendo em vista, grosso modo, seu necessário uso para a tentativa de
sua própria demarcação/conceituação; ii) Será possível a elaboração de modelagem
matemática para o tratamento da consciência; iii) A consciência se adequa ao modelo
monista reducionista ou seu tratamento só se dará em se aceitando uma postura du-
alista substancial aos moldes cartesianos (ou ainda, de modo mais brando, adotanto
uma perspectiva dualista de propriedades); iv) Não seria a consciência um qualia, logo,
não passível de ser avaliada através de artefactos científicos; v) Seria a consciência um
algoritmo econômico e explicativo para tratar os eventos mentais/cerebrais; vi) A con-
sciência é um evento interno de primeiro pessoa ou pode ser apresentado na perspec-
tiva de terceira pessoa e, assim, passível de análises experimentais; vii) Afinal, existe
alguma ontologia para a consciência ou ela não passa de uma mero recurso linguístico.
Todavia, tais inquietudes nos levam a ter que também tratar uma outra questão que
sempre atravessa direta ou transversalmente nossa tentativa de saída do Mistério da
Consciência para algo, pelo menos, problemático. Esta questão refere-se aos “poderes”
causais existentes entre os seguintes níveis:
a) Causação Corpo - Corpo;
b) Causação Corpo - Mente(consciência);
c) Causação Mente(consciência) - Corpo;
d) Causação Mente(consciência) - Mente(Consciência).
* Salientamos aqui que a utilização do termo consciência entre parêntesis por enten-
der, prima facie, que estados mentais estejam mais próximos dos estados de consciên-
cia do que os estados físicos. Todavia, esta não é uma relação necessária e nem que
estejamos de acordo.

Núbia Ferreira Rech nuciarech@uol.com.br


UFSC
O complemento dos modais de raiz no português brasileiro: um estudo das
restrições a predicados [-controle]
Abstracts / Resumos 125

O modelo semântico proposto por Kratzer (2012) considera que o contexto, dado pela
base modal e pela fonte de ordenação, desempenha um papel determinante na inter-
pretação do modal, restringindo-a. Nessa perspectiva de análise, é possível depreen-
der, pelo contexto, a leitura modal que está sendo expressa — epistêmica, deôntica,
teleológica ou bulética, assim como o grau de modalidade. Pessotto (2015) apresenta
os resultados de um estudo teórico-experimental, ancorado no modelo de Kratzer, em
que constata a determinação do contexto para a interpretação dos modais pode, deve
e tem que no português brasileiro. Minha proposta para esta mesa é discutir o papel
da sintaxe na interpretação de um verbo modal, através da análise do tipo de predi-
cado que ocupa a posição de seu complemento. De acordo com Cinque (1999, 2006),
os modais correspondem a núcleos funcionais indicadores de modalidade epistêmica
(ModEpistemic), lexicalizada no português pelos verbos pode e deve; e de raiz (ModAbility,
ModVolitional, ModObligation, ModPermission), lexicalizada pelos verbos tem que, deve e pode. Supo-
mos que um núcleo modal epistêmico, por ocupar uma posição alta na hierarquia de
núcleos funcionais proposta por Cinque, encontra-se em estágio avançado de gramati-
calização, não oferecendo, por isso, restrições à posição de seu complemento. Esse nú-
cleo formaria sequência com quaisquer predicados — inergativos, inacusativos, tran-
sitivos, estativos. Já núcleos modais de raiz, por estarem em posição mais baixa na
hierarquia, podem oferecer algum tipo de restrição ao seu complemento. De acordo
com Rech e Giachin (2014), núcleos de raiz que expressam modalidade deôntica e
teleológica formam sequência apenas com predicados adjetivos que exibem os traços
[+volição] e [+controle], sinalizando na direção de que esses núcleos modais requerem
para a posição de seu complemento um argumento de natureza agentiva, sobre o qual
recai a força modal. A partir deste estudo, julgamos ser possível inferir que esses nú-
cleos modais apresentam um traço [+controle], o qual precisa ser checado no domínio
do seu complemento. Se esta hipótese estiver correta, então podemos supor que modais
deônticos e teleológicos não selecionam predicados que não sejam passíveis de cont-
role, mesmo que indireto. Logo, esses modais devem oferecer restrições a adjetivos
como prematuro, sábio, albino, alto, febril, abalado, angustiado, deprimido. . .; a ver-
bos impessoais, como chover, trovejar, haver, ter. . .; a verbos inacusativos, como acon-
tecer, nascer, sobreviver, crescer, amadurecer, apodrecer, cair. . .; e a verbos psicológi-
cos que não admitem a formação da passiva verbal, como angustiar, cansar, preocu-
par, desnortear, envaidecer, desgostar, pasmar. . . É importante notar que há contextos
específicos que licenciam alguns desses predicados na posição de complemento de
modais deônticos e teleológicos, tais como o requerimento para a simulação de uma
queda, por exemplo. Nessa situação, um modal deôntico poderá formar sequência
com cair, conforme Você deve cair no início do segundo ato. É importante notar que
cair, nesta sentença, não constitui um predicado inacusativo, uma vez que se combina
com um argumento agentivo; por essa razão, é admitido na posição de complemento
de um modal deôntico. Pessotto (2015), ao empregar o modelo clmm (cumulative lin-
ear mixed model) em sua análise da variável grau, constatou que a variável comple-
mento mostrou-se significante para a predicação da força modal. Os predicados testa-
dos pela autora foram (i) escrever a tese; (ii) estudar; (iii) sair e (iv) ser a vítima. Destes,
o predicado ser a vítima apresentou resultados interessantes para o índice de Até 50%,
126 IX Principia International Symposium

associado à modalidade fraca: para o modal poder, o percentual para esta faixa foi de
89.4%; para dever, foi de 52.2%; e para ter que, modal que indica necessidade, sendo
raramente empregado em contextos evidenciais, o percentual foi ainda menor, de ape-
nas 29.2%. Os dados gerados com a aplicação deste modelo não foram discutidos por
Pessotto (2015), por fugir ao escopo do seu trabalho. Contudo, seus resultados sinal-
izam na direção de nossas hipóteses em relação ao tipo de complemento que figura em
contextos modais evidenciais.

Nythamar de Oliveira nythamar@yahoo.com


PUCRS - CNPq
A Normative Reconstruction of the Social Lifeworld and the Phenomenological
Decit of Critical Theory : Husserl, Habermas, Honneht

Edmund Husserl conceived of the lifeworld (Lebenswelt) as the dynamic horizon of hu-
man life where all our experiences (social, cultural, aesthetic, practical, theoretical)
take place, so that nothing could emerge in our lifeworld except as lived experience
(Erlebnis). According to Landgrebe, there are indeed at least two senses of Lebenswelt
to be to distinguished in the Husserlian conception, namely, our familiar, everyday sur-
rounding world or environment (Umwelt), in which material and social objects are en-
twined with practical and cultural meanings, and the universal horizon of experience
within which we find ourselves existing along with everyone else and everything else
that exists, as we tacitly assume in advance a single world-reality, allowing for the pos-
sibility of a universal consensus, transcending all linguistic and cultural particularities.
Habermas follows thus Schütz in distinguishing between two mobile dimensions of the
lifeworld: the horizon of our lived experience and the nonthematic background of im-
plicit knowledge.
In this paper, I would like to outline Habermas’s normative reconstruction of the
social lifeworld, in light of his critique of Husserl’s static phenomenology towards a ge-
netic, generative conception and the latter’s rapprochement with Heidegger’s In-der-
Welt-Sein and the late Wittgenstein’s Lebensform, so as to account for the communica-
tive, intersubjective aspects of social reproduction and their normative, emancipatory
potential in everyday practices oriented toward socially, linguistically shared under-
standing in cultural, societal, and interpersonal terms, as a dynamic stock of interpre-
tive patterns and received beliefs (culture), practical orientations to social norms, roles
and collectives (society), and competencies such as our ability to use language and in-
teract with others (personality). Although Habermas seems to do justice to Husserl’s
critique of the Cartesian program and to reconstruct the social lifeworld as a noematic,
generative correlation to communicative action, he still claims to avoid a solipsistic,
transcendental philosophy of consciousness and a monological view of passive inter-
subjectivity, mistakenly attributed to Husserl.
Furthermore, Honneth critiques Habermas’s inevitable instrumentalization of so-
cial action in the very attempt to tackle the paradox of the rationalization of lifeworldly
relations leading to social pathologies within our consolidated, modern democracies,
as communicative reason cannot be immune to the very rationalization that renders
Abstracts / Resumos 127

possible the differentiation of autonomous subsystems. Hence Honneth’s critique of


Habermas’s normative, reconstructive program unveils a phenomenological deficit of
critical theory, by recasting lifeworldly practices that resist systemic domination as they
seek mutual recognition through first-person normative claims and break away from
the demonization of the technological, instrumental domination of nature and social
control. I argue that one cannot ultimately account for the social pathologies of the
Lebenswelt (esp. racism, sexism, classism, and self-deceptive mechanisms) without a
self-understanding (Selbstverstehen) correlated to the processes of reification, juridifi-
cation, and subtle forms of subsystemic colonization. Habermas’s diagnosis of contem-
porary society cannot fully rescue the normative thrust of the lifeworld without with-
drawing the rationality of systemic mechanisms from the domain of the state and the
economy in the very attempt at solving its system imperatives. Habermas’s strategic re-
sort to the participant’s perspective might succeed in changing its perspective, as it can
be always transformed into the subject of a distanced analysis (third-person, descrip-
tive), but it cannot justify the very normative premises of a reconstructive program of
social theory.

Olexiy Bilyk murrpum@ukr.net


Kharkiv National Karazin University
Models in constructions of scientic knowledge

In constructions of scientific knowledge always exist models. Often one of sciences is


a model for all other sciences. For exemple, Galilei considered that God wrote book of
nature with the help of mathematics and that who understand mathematics can read
book of nature as God. A mathematical argumentation also was a model for all other
sciences. If we compare the argumentation which is applied in different sciences we
should recognize that the logical argumentation in its purest form is used in mathemat-
ics. Therefore there is such a problem in the history and theory of argumentation: Was
the mathematical demonstration the sample for the theory of scientifical argumenta-
tion, that is syllogistics in Aristotle’s logics, or not? Leibniz considered that argumenta-
tion more geometrico can be used in philosophy. Leibniz kept in mind those Spinoza’s
works in which Spinoza tried to use geometrical methods of proving in philosophi-
cal thinkings. Leibniz evaluated using geometrical methods of proving in philosophy
by Spinoza positively. However in our times most of people consider using geomet-
rical methods beyong geometry in other way because models of building scientifical
knowledge changed. Also an attitude to mathematical demonstration changed. For ex-
ample, in the 20th century Lakatos affirmed that mathematical demonstration didn’t
prove anything.

Osvaldo Pessoa Jr. opessoa@usp.br


Depto. de Filosoa, Universidade de São Paulo
Rafela Gesing rafaelagesing@gmail.com
Instituto de Física, Universidade de São Paulo
128 IX Principia International Symposium

Mariana Jó de Souza mariana.jsouza@gmail.com


Instituto de Física, Universidade de São Paulo
Daniel Carlos de Melo Marcílio daniel.marcilio@usp.br
Escola Politécnica, Universidade de São Paulo
Computing possible worlds in the history of science

The metaphysics of possible worlds need not speculate on the whole class of logically
possible worlds, but may concentrate on counterfactual worlds that are closer to the
actual one. “Causally possible worlds” are obtained by branching off from the actual
world at some moment of time, in such a way that the branch differs from the main
trunk by a random fluctuation of a certain degree.
Let us define an advance as any contribution made by a scientist, which is part of sci-
entific activity. Such units of scientific activity may include ideas, explanations, prob-
lems, experiments, data, etc. Advances are conceived as being related by causal con-
nections, in the sense that the absence of a cause will affect the probability of an effect
taking place. The historical development of a scientific field may be described by causal
models involving advances. A subclass of causally possible worlds refers to possible
histories of science in which the time span between causes and effects is varied ran-
domly. This subclass is explored in this paper by means of a computer program, which
generates counterfactual histories in which the time spans between advances are var-
ied according to a gamma probability distribution. The change of order in which the
advances appear may suggest new causal connections, involving “linking advances”.
As an example, consider the field of astronomy in the 16th and 17th centuries. Using
Tycho Brahe’s data on Mars, Johannes Kepler was able to infer in 1609 that its orbit is
an ellipse, independently of the discovery of the telescope by Hans Lipperhey, in 1608.
However, this discovery could well have happened before, as will be argued elsewhere.
Assume that there is a causally possible world W’ that branches off the actual world
around 1510, and that around 1540 (in W’) the telescope was developed. In this coun-
terfactual scenario, the early invention of the telescope would lead more or less rapidly
to the discovery that the orbit of each planet is an ellipse around the Sun placed at a
focus. From our perspective in W, the counterfactual causal connection between the
invention of the telescope and the discovery of the elliptical orbit of Mars in world W’
is easy to postulate and analyze, since we are imagining a technological antecedence,
i.e. a situation in which a powerful technological innovation appears before the time
it actually occurred in W. We may attribute a high probability in W’ for the discovery
of elliptical orbits before 1580, without the need of imagining any advance that did not
happen in our world.
However, from the perspective of our ancestral counterparts in W’, the postulation of
world W would involve the postponement of a technological advance (the invention of
the telescope). Could they have imagined that the elliptical path could have been dis-
covered without the telescope? One would have to realize that the construction of large
and precise astronomical instruments (such as the ones developed by Brahe) was tech-
nologically and socially viable and would give enough accuracy in the measurements of
the apparent positions of the planets to allow for the interpolation of an ellipse. Such
an advance may be called a linking advance, since, from the perspective of W’, it is a
Abstracts / Resumos 129

non-existent advance (since the early development of the telescope in W’ aborted the
construction of large naked eye observatories) that must be postulated for making the
connection between the state of art in 1510 (shared by both worlds) and the postulation
of elliptical orbits, without the involvement of telescopes.
We will investigate in greater detail a specific case involving the computer generation
of counterfactual histories in the field of optics in the 19th century.

Oswaldo Melo Souza Filho melosf.oswaldo@gmail.com


Academia da Força Aérea - Divisão de Ensino
The imaginative-theoretical or ctional style of scientic reasoning: a proposal

In order to achieve a better understanding of the activity of science, Ian Hacking have
developed the concept of ‘styles of scientific reasoning’ since he came into contact with
the ideas about ‘styles of scientific thinking’ of the historian of science Alistair C. Crom-
bie at a conference in Pisa in 1978. Crombie’s ideas about this issue culminated in
his monumental three-volume Styles of scientific thinking in the European tradition in
which he proposed six different styles of thinking: (1) deductive (first principles); (2)
experimental; (3) analogical-hypothetical; (4) taxonomic; (5) statistical; and (6) evolu-
tionary.Ever since, many other authors, both historians of science as philosophers of
science besides Hacking (e.g. Elwick 2007, Kwa 2011, Bueno 2012), have been thinking
about ‘styles of scientific reasoning’. The main question raised by the philosophers of
science is the establishment of a general criterion by means of which it is possible to
identify and characterize a particular type of style. Crombie as a historian of science
has used his extensive experience in the study of concrete historical cases, grouping
under each given style a broad field of scientific practices, be it empirical or theoret-
ical. Therefore, as I understand it, a certain style is a self-identifiable unit of analysis
that encompasses a domain of inquiry.
That being said, I propose a style of scientific reasoning that will be called “imaginative-
theoretical” or “fictional”. The theoretical reasoning counted with imaginative elements
since the beginning of philosophy and science in ancient Greece both in their inquiry
about the origin of the cosmos (among the pre-Socratic) and in their research of the
categorial structure of reality (among the Pythagoreans, atomists, Platonists and Aris-
totelians). This beginning of science presupposes indeed a theoretical science in the
sense of Aristotle’s theoretical science, i. e., the seeking of knowledge for its own sake.
However, the characterization of this reasoning as “imaginative-theoretical” only came
about effectively after the emergence of the mechanistic philosophy in the late 16t h
century and early 17t h century.
The imaginative-theoretical style in science is essentially model-type, being expressed
in a deductive manner, as well as in a hypothetical manner according to Crombie’s ty-
pology. Nevertheless, the imaginative-theoretical style makes extensive use of analo-
gies and metaphors feeding heavily on visual imagination. This fictional aspect of the
imaginative-theoretical style carries a strong speculative element that, unlike the criti-
cal and analytical tradition, nourishes not fear by error, strengthening itself in concep-
tual boldness and in a persuasive appeal to abstract and idealized figures and processes
130 IX Principia International Symposium

imaginatively constructed and descriptively-oriented. I take fiction not necessarily as a


wild phantasy, but as an intellectual device that elaborates an imaginative design or a
symbolic construction that plays an essential role in the representation of objects that
may have an explanatory function as well. Therefore, the imaginative-theoretical or
fictional reasoning has a constructive character being one of three types of fiction: on
entities or things, on properties and on experiments or occurrences (c.f. Bunge 2006, p.
213). Fiction in this sense, or scientific “phantasy”, unlike literary fiction, may search for
reality underneath phenomenon or as a heuristic device by constructing models about
the non-observable. As a style of scientific reasoning fiction may be accounted either
as truth-conditional or functional analysis (c.f. Suárez 2009, p. 11-13) being irrelevant
if it has a realist or antirealist approach. For the sake of style of scientific reasoning, it
suffices the imaginative-theoretical form of the discourse.
Thus, the fictional modeling discourse, once being built, may have a revealing tone
(revelatione), carrying the function of unveiling an unseen reality by the force of its
conceptual structure nurtured by compelling images and metaphors that may evolve
towards more detailed models such as the wormholes images in modern cosmology.
The imaginative-theoretical style in this sense may sound dogmatically or fact-like, but
can stand well with criticism by domesticating the imagination with evidences and ref-
erences of the observable world. I will illustrate it with some examples of Descartes’
physics, the caloric and kinetic theory of heat, Maxwell’s ether and Kelvin’s atom.

Otávio Bueno otaviobueno@mac.com


University of Miami
Identity and Indiscernibility in Quantum Mechanics (and Elsewhere)

Can identity and indiscernibility be distinguished, so that the (presumably) weaker no-
tion of indiscernibility is invoked instead of the full notion of identity in the interpre-
tation of quantum mechanics? In this paper, I provide a series of arguments to the
effect that the two notions cannot be taken apart in this way, and that indiscernibility
already presupposes identity. Along the way, I will also answer the probing challenges
that Décio Krause and Jonas Arenhart [2014] provided against my defense of identity’s
fundamental character (see Bueno [2014]). I clarify the sense of fundamentality at is-
sue, argue that indiscernibility is not similarly fundamental, and conclude that a single
notion of identity is presupposed in order to defend the following four claims against
Krause and Arenhart’s critique: (1) identity is presupposed in every conceptual system,
indiscernibility is not; (2) identity is required to characterize an individual, and invok-
ing indiscernibility does not bypass the need for identity; (3) identity cannot be defined,
indiscernibility can; (4) the intelligibility of quantification requires identity, but it does
not require indiscernibility. In the end, I conclude that identity is more basic than in-
discernibility, even in the context of quantum mechanics.

References
BUENO, O. ‘Why Identity is Fundamental’. American Philosophical Quarterly 51, p. 325-332, 2014.
Abstracts / Resumos 131

KRAUSE, D.; ARENHART, J. R. B. ‘Is Identity Really So Fundamental?’, unpublished manuscript,


Federal University of Santa Catarina, Brazil, 2014.

Otávio Bueno otaviobueno@mac.com


University of Miami
Imagination and Modal Epistemology

Imagination is often invoked as a means to, or as a source of, knowledge of what is


possible, as a central component of the epistemology of modality. In this talk, I will
challenge any such role for imagination in the production and generation of modal
knowledge. In particular, I will argue that imagination is not a source of knowledge of
the possible. Imagination is not the kind of thing that can provide knowledge, even
knowledge of what is possible, despite being extremely useful for related tasks (several
of which will be highlighted in the talk). It is the confusion of these various tasks that
prima facie makes imagination a plausible source of modal knowledge.
When engaged with knowledge of the modal, one need not (in fact, one should not)
be engaged with knowledge of possible worlds. There’s no such knowledge (of possible
worlds), since there are no worlds to be known, or at least, we have no reason to believe
that there are (Bueno and Shalkowski [2015]). What is possible is what can be the case
in the actual world, given suitable variations; each variation amounts to a possibility.
Modalists take these possibilities as primitive; that is, possibilities are not explained in
terms of something more basic (Bueno and Shalkowski [2009], [2013], and [2015]). I
sketch a modalist approach to modal epistemology in which no reference to possible
worlds is involved.

Otávio Bueno otaviobueno@mac.com


Universidade de Miami
Por Que Não Há Estilos de Raciocínio Matemático?

A noção de estilo de raciocínio (ou de pensamento) científico tem sido empregada


como uma ferramenta analítica para a compreensão de aspectos significativos da prática
científica (em particular, com os trabalhos de Crombie, Hacking, e Granger). Um as-
pecto importante do conceito de estilo de raciocínio consiste no fato de que ele não se
confunde com o de teoria num domínio particular do conhecimento. Em princípio, a
noção de estilo é mais ampla do que a de teoria. Nesse trabalho, argumentarei que não
há, todavia, uma forma apropriada de se formular uma noção de estilo de raciocínio
matemático. A matemática é muito maleável, e as tentativas de caracterização de uma
noção de estilo em geometria, análise, álgebra, ou teoria de conjuntos acabam por
gerar teorias matemáticas específicas a esses domínios. A prática matemática é bas-
tante diferente da prática científica nesse aspecto.

Pablo Rafael Rolim dos Santos pablorolimdossantos@gmail.com


Mestrando - Universidade Federal de Santa Maria
132 IX Principia International Symposium

A hipótese de superinteligência: possibilidades e perigos no desenvolvimento


de uma inteligência articial geral

A hipótese de superinteligência sustenta que é possível criarmos uma inteligência enorme-


mente superior à inteligência humana. Há distintos caminhos através dos quais seria
possível alcançar isso: inteligência artificial, emulação completa do cérebro, melhora-
mento cognitivo, redes e organizações com trabalho otimizado e interface entre cére-
bros e computadores (Bostrom 2014, p. 22-50). Nesse trabalho foca-se em apenas um
desses caminhos: a inteligência artificial.
A hipótese de que a inteligência artificial poderia levar a uma superinteligência baseia-
se principalmente no argumento da explosão de inteligência (Chalmers 2010). Esse
argumento afirma que uma vez que a inteligência artificial tenha alcançado o nível
da inteligência humana, se possível de exercer todas as capacidades cognitivas rele-
vantes, ela irá recursivamente se autoaprimorar de forma a ultrapassar enormemente
o nível humano. Distintos problemas filosóficos surgem com esse cenário, entre os
problemas que serão discutidos estão a) Como podemos garantir que um sistema in-
teligente construído para realizar um objetivo específico não caia em uma crise on-
tológica (Blanc 2011) ao substituir suas entidades durante o processo de autoaprimora-
mento? b) Visto que uma inteligência artificial não partilha por padrão nem ao menos
dos valores morais mais básicos que a maioria dos humanos partilha, qual sistema de
valores deve ser implantado nela? Como podemos transformar valores morais em uma
linguagem possível de ser compreendida por uma inteligência artificial? c) Quais são
as formas possíveis de falha na construção de uma superinteligência? d) É possível que
uma superinteligência implique na extinção da humanidade? Caso sim, ainda assim
devemos executar esse projeto? e) Há alguma diferença caso a transição entre uma in-
teligência artificial e uma superinteligência seja lenta, moderada ou rápida? Diferentes
propostas têm sido utilizadas na resolução desses problemas, nesse trabalho serão ap-
resentadas algumas alternativas e problemas que elas enfrentam.

Referências
BLANC, P. ‘Ontological Crisis in Artificial Agents’ Value System’, 2011.
BOSTROM, N. ‘Superintelligence: Paths, dangers, strategies’, 2014.
CHALMERS, D. ‘The Singularity: A philosophical analysis’. Journal of Consciousness Studies 17, p.
7-65, 2010.

Paulo Abrantes pccabr@gmail.com


UnB
Metodologia e Epistemologias Evolucionistas

No meu livro Método e Ciência: uma abordagem filosófica defendo que o trabalho de
filósofos em torno da metodologia científica, entendida como teoria do método, tem
sido caracterizado sobretudo por uma relação estreita com a epistemologia, de um
lado, e com a lógica, de outro. Nesse contexto, é relevante a distinção clássica entre
gerativismo e consequencialismo enquanto diferentes concepções a respeito dos pro-
cedimentos que conferem valor epistêmico aos produtos da atividade científica. Nessa
Abstracts / Resumos 133

comunicação pretendo discutir diversas maneiras como as relações entre metodolo-


gia e epistemologia foram estabelecidas na pesquisa filosófica contemporânea e ex-
plorar, de modo particular, como elas se dão no caso específico das epistemologias
evolucionistas. Isso pode contribuir para uma compreensão das atitudes diversas que
filósofos e cientistas têm tido com respeito à metodologia (que é o tema central da
mesa-redonda).

Paulo Pirozelli Almeida Silva paulopirozelli@gmail.com


Doutorando - Universidade de São Paulo
Teoria causal da referência, incomensurabilidade e signicado na obra de
Thomas Kuhn

Thomas Kuhn publicou sua mais conhecida obra, A estrutura da revoluções científicas,
em 1962. Criticado por diversos filósofos, Kuhn passou as décadas seguintes desen-
volvendo e reformulando algumas de suas ideias originais. Nunca escreveu, porém,
outro livro de filosofia, e suas ideias encontram-se espalhadas nos vários artigos que
escreveu após a Estrutura, sem que haja sistematizado de maneira mais rigorosa os
diversos temas abordados.
Uma das principais características desses textos é a construção de posições frente
ao debate com importantes correntes e autores da época. É o caso, por exemplo, de
questões como as da incomensurabilidade, significado, tradução, e do debate com filó-
sofos como Davidson, Quine e Kitcher. De maneira análoga, Kuhn não se manteve al-
heio a uma das correntes mais fortes e influentes na filosofia da ciência na década de
1980: a teoria causal da referência.
Tentaremos neste nosso trabalho, apresentar as críticas à teoria causal desenvolvidas
por Kuhn no artigo “Possible Worlds in History of Science”, escrito em 1989, e posteri-
ormente republicado em versão ligeiramente revista e reduzida como “Dubbing and
Redubbing: The Vulnerability of Rigid Designation”.
Na primeira parte de nosso trabalho, apresentaremos uma reconstrução da teoria
causal, atentos para a maneira como Kuhn compreende algumas das ideias fundamen-
tais desenvolvidas por essa corrente. Em especial, a leitura que Kuhn faz do artigo “The
meaning of meaning”, de Hilary Putnam.
Na segunda parte do trabalho, apontaremos os pontos de conflito entre as ideias de
Kuhn e as da teoria causal. Mostraremos que Putnam e Kripke colocam um desafio
para a visão antirrealista sustentada por Kuhn. Para eles, a referência de um termo
teórico seria fixada sem intermediação das teorias, permanecendo a mesma ao longo
de mudanças científicas de grande magnitude. A estabilidade da referência fornece-
ria uma continuidade contra a qual o progresso da ciência poderia ser medido. A di-
ficuldades de comparação provocadas pela incomensurabilidade, principal conceito
desenvolvido por Kuhn após a Estrutura, seriam contornadas pelo nível da referência.
Na terceira e última parte, procuraremos elaborar as críticas dirigidas por Kuhn à
teoria causal da referência. As respostas de Kuhn à teoria causal nos interessam pelo
lugar estratégico que ocupam para a compreensão da teoria do significado por ele de-
senvolvida, e ajudam a esclarecer alguns conceitos centrais ao seu pensamento, como
134 IX Principia International Symposium

os de incomensurabilidade e verdade.

Paulo Vélez León paulo.velez@uam.es, paulo.velez@usal.es


Universidad Autónoma de Madrid, Universidad de Salamanca
La expresión de lo cognoscible y los mundos posibles

Desde la Modernidad, se ha aceptado comúnmente, con énfasis, que nuestro mode-


lo de cognoscibilidad está basado en la razón; sin embargo, en décadas recientes esta
noción ha sido cuestionada en sus fundamentos, por ejemplo, las teorías contemporá-
neas del conocimiento propugnan aceptar la legitimidad de una pluralidad de formas
de acceder y expresar el conocimiento del mundo, en lugar de una única forma de co-
nocimiento fundamentado en la noción rígida de la racionalidad. Esta posibilidad se
ha visto reforzada por la noción de mundos posibles, que sostiene que nuestro mundo
es un mundo entre otros, un subconjunto de todas las cosas que existen. Esto implica
aceptar que existen mundos estructuralmente equivalentes con sus propios lenguajes
[formales], que entre sí no tienen ningún estatuto privilegiado, por ejemplo, el mundo
y lenguaje del arte o el mundo y lenguaje de la física; no obstante, la idea de aceptar
otros mundos equivalentes como mundos posibles, epistémica y ontológicamente le-
gítimos, para acceder y expresar lo cognoscible del mundo no goza de gran aceptación
entre ciertos círculos epistemológicos analíticos.
Ahora bien, dentro de la noción de mundos posibles, quiero destacar particularmen-
te la dimensión lógica de la noción, la cual se entiende como un posible estado de cosas
o un posible curso de eventos. Esta concepción es la más extendida entre todas la di-
mensiones pero al mismo tiempo es la más restrictiva de la noción de mundos posibles,
no sólo porque dicha noción transmuta en una especie de “técnica predictiva” que nos
permite analizar y visualizar posibles escenarios de un estado de cosas o un curso de
eventos, sino porque fundamentalmente, la noción de mundos posibles pierde gran
parte de su potencia conceptual. Hablar de proposiciones como conjuntos de mundos
posibles, no es un error, pero es limitar innecesariamente el alcance y campo de acción
de la noción de mundos posibles. Si entendemos dicha noción en la versión primaría
de Lewis [“Nuestro mundo actual es sólo un mundo entre otros”], sería plausible re-
cuperar, entre otras, las dimensiones ontológica y epistémica de la noción de mundos
posibles, y por ende la posibilidad objetiva de indagar en formas alternativas y legiti-
mas de acceder y expresar lo cognoscible del mundo; en este sentido, en este trabajo
me propongo: (1) retomar la noción primaria de mundos posibles de Lewis, para ana-
lizar y explicitar brevemente sus limitaciones, virtudes y requerimientos; (2) examinar
las condiciones de posibilidad de un mundo; y, (3) sugerir los lineamientos epistémicos
que deberían considerarse y explicitarse cuando se habla de y desde un mundo posible
a la hora de expresar un enunciado.

Pedro Mendes Ferreira Lemos pedromendeslemos@gmail.com


UNICAMP
Conditionals, Retrospective Judgments and Relative Truth
Abstracts / Resumos 135

In this work, I wish to analyze two kinds of puzzle regarding indicative and counterfac-
tual conditionals, for which a relativist semantics (in the style of MacFarlane’s analysis
and his notion of assessment sensitivity (2014)) might call the tune for an elegant solu-
tion. The first one regards Gibbard cases of conditionals; and the second one regards
retrospective judgments of truth or accuracy for past indicative conditionals.
Let me state first what I call the Gibbard cases, by adapting examples given in (1981).
Suppose Frank and Claire are detectives investigating a murder. There are only three
possible candidates for being the murderer: the butler, the maid and the gardener. Un-
beknownst to Frank and Claire, the butler is the murderer. Frank’s evidence rules out
the possibility of the maid being the murderer (he has seen the maid out of the crime
scene minutes before the incident), and backed up by his evidence, he seems justified
in asserting that “If it has not been the butler, it was the gardener”. Claire’s evidence, in
turn, is ruling out the gardener, and so she seems justified in asserting that “If it wasn’t
the butler, it was the maid [not the gardener]”. But how can they both be justified in
making their assertions, while their conditionals cannot be both true?
Leaving details aside, I propose (following MacFarlane) they are both justified be-
cause they obey to a Reflexive Truth Rule: “only assert p, at a context of use c 1 , if p is
true as used at c 1 and assessed from c 1 .”
On the other hand, I propose that the piece of contradictoriness between Frank and
Claire’s conditionals, stands when they try to cross assess each other’s assertion from
their own perspectives. Frank (being in his context of assessment) is not able to assess
Claire’s utterance (her context of use) as true (without giving up his beliefs). Similarly,
Claire cannot assess Frank’s utterance as true.
Now the second puzzle. In a footnote in (1978), M. Slote writes:
Imagine a completely undetermined random coin. Your friend offers you
good odds that it will not come up heads; you decline the bet, he flips, and
the coin comes up heads. He then says: “you see; if you had bet (heads),
you would have won.” I know of no theory of counterfactuals that can ad-
equately explain why such a statement seems natural and correct. (Slote,
1978, p.27)
What if, in fact, you had asserted the conditional before the coin’s landing, “If you bet
heads, you will win”? Should we asses the conditional as true? Should we assess your
previous assertion as accurate? In (1997), Edgington writes that what a counterfactual
of the form “ “If p had been the case . . . then q would have been the case” expresses at
a later time, is what “If p is the case . . . then q will be the case” expressed at an earlier
time.” (Edgington, 1997, p.108). Edgington mainly wishes to establish this connec-
tion because she wants to render the same impact of Gibbard cases for indicatives to
counterfactual conditionals. If we feel two parties are justified, but their conditionals
cannot both be true, then we should give up any account to find judgments of truth for
indicatives and counterfactuals.
This is precisely where relativist semantics may revert this situation. Here I wish to
advocate MacFarlane’s treatment of retrospective judgments of accuracy for future con-
tingents, but in the context of such conditionals “in hindsight”, and their corresponding
“later” counterfactuals. I discuss differences between acceptance of the contents of an
136 IX Principia International Symposium

assertion, and acceptance of acts of asserting; between targeting contents of speech


acts, and targeting the speech act itself. I state that one was right in claiming that p (“If
you bet heads, you will win”), which doesn’t equate to one being right to claim that p.

References
EDGINGTON, D. ‘Truth, Objectivity, Counterfactuals and Gibbard’. Mind, Vol.106. p.107-116,
1997.
——— ‘Counterfactuals and the benefit of hindsight.’ In: Dowe, P. (ed.): Cause and Chance. Cau-
sation in an indeterministic world. Routledge, 2003.
GIBBARD, A. ‘Two Recent Theories of Conditionals’. In: Harper, Stalnaker and Pearce: Ifs. Dor-
drecht: Reidel, 1981.
MACFARLANE, J. ‘Assessment Sensitivity. Relative Truth and its Applications’. Clarendon Press,
2014.
SLOTE, M. ‘Time in Counterfactuals’. The Philosophical Review, Vol.87, No.1. p.3-27, 1978.

Raze dos Santos rafize.santos@gmail.com


Mestranda - Universidade Federal do Paraná
Ideias da razão em seu uso constitutivo: uma hipótese de resposta para a
questão da causalidade kantiana

O presente trabalho tem por objetivo apresentar o argumento da causalidade, presente


na Segunda Analogia da Crítica da Razão Pura, com ênfase na avaliação da acusação
de non sequitur que tradicionalmente pesa sobre ele. Além disso, procurar-se-á ofer-
ecer uma hipótese de resposta a essa acusação, baseando-se em uma premissa in-
dependente apontada por Lewis Beck, comentador de Kant. Tal premissa será dis-
cutida à luz dos próprios argumentos do filósofo alemão, sobretudo no que diz re-
speito ao estatuto das ideias da razão. Inicialmente, serão analisados os argumen-
tos de Kant apresentados na Segunda Analogia em seus próprios termos, procurando
esclarecer os conceitos, os pressupostos e os objetivos a que se destinam. Uma das
grandes questões que envolvem esse ponto é a diferença entre os dois princípios que
envolvem a problemática da causalidade, quais sejam: “para-todo-evento-uma-causa”
e “mesmas-causas-mesmos-efeitos”. Cada um deles diz respeito a um aspecto da causal-
idade: o primeiro, ao conceito de causa propriamente dito e o segundo a um princí-
pio de regularidade (causas similares regularmente produzirão efeitos similares). Em
seguida, analisaremos os argumentos de Peter Strawson, comentador que acusa Kant
de, na Segunda Analogia, incorrer em non sequitur em sua argumentação. De modo
geral, Strawson afirma que, embora Kant consiga estabelecer o princípio “para-todo-
evento-uma-causa” na Segunda Analogia, o autor faz uma passagem indevida, ao final
de sua argumentação, para o princípio “mesmas-causas-mesmos-efeitos”, valendo-se
dos mesmos argumentos com os quais fundamentou o primeiro princípio. Contudo,
o ponto de vista de Strawson também sofreu objeções. O presente trabalho apresen-
tará uma delas, que pode ser considerada um caminho de resposta para a questão da
causalidade em Kant, norteada por Lewis Beck. Esse comentador deixa pistas impor-
tantes sobre uma possibilidade de resposta kantiana à acusação de Strawson, ao iden-
Abstracts / Resumos 137

tificar uma premissa independente no argumento kantiano cuja consideração neu-


tralizaria a acusação de non sequitur. Por fim, será feita uma tentativa de fundamentar
essa premissa, com base na análise do Apêndice à Dialética Transcendental e dos Pro-
legômenos à Toda Metafísica Futura. Essa análise terá prosseguimento com a recon-
strução da resposta de Henry Allison à acusação de non sequitur, cuja principal carac-
terística é justamente inserir o uso empírico das ideias da razão como parte constitu-
inte da teoria kantiana da causalidade, procurando levá-las em consideração como um
complemento do argumento da Segunda Analogia.

Raphael Zdebsky da Silva Pinto yksbedz@gmail.com


Bacharel e mestre em Filosoa pela UFPR
Incompossibilidade das relações em Leibniz

Na Filosofia leibniziana, a incompossibilidade pode ser descrita como a impossibil-


idade de dois indivíduos existirem em um mesmo mundo possível. No entanto, se
todo mundo possível é pensado através de indivíduos compossíveis entre si e, por
sua vez, estes últimos pensados através de conceitos simples, então não se vê como
certos mundos podem ser considerados possíveis (por não conterem incompossíveis)
e outros impossíveis (por conterem incompossíveis), já que todo conceito simples é
consistente com um outro conjunto qualquer de conceitos simples aplicados a um in-
divíduo e, além disso, indivíduos internamente consistentes parecem formar conjun-
tos de indivíduos consistentes (compossíveis) entre si. Embora Leibniz não forneça,
até onde sei, uma resposta explícita para o problema da incompossibilidade colocado
nestes termos, alguns intérpretes (Jaakko Hintikka, 1972; Edgar Marques, 2004) ofer-
ecem uma solução baseada na inconsistência entre certos tipos de predicado quando
aplicados a um mesmo conjunto de indivíduos, mesmo que formados por elementos
simples e pensados através de conceitos simples: predicados relacionais não reflexivos
e assimetricos. Como exemplo desse tipo de incompossibilidade pode-se fornecer re-
lações de paternidade, tais como: (P1) ‘João é filho de Pedro’ e (P2) ‘Pedro é filho de
João’. Se consideramos que ‘Pedro’ e ‘João’ se referem aos mesmos indivíduos em am-
bas as proposições, é evidente que não deve existir um mundo possível no qual ambas
as proposições possam ser consideradas verdadeiras a um só tempo. Em suma, essa
solução consiste em ampliar o foco desta discussão englobando a noção de relação
ao escopo do problema da incompossibilidade. Considerando essa solução plausível
(plausibilidade para qual devo explicações durante a apresentação) surgem algumas
dificuldades, tais como: se mundos que contém relações entre indivíduos possuem in-
divíduos incompatíveis entre si; como relações devem ser consideradas como perten-
cendo a um mundo possível; se, em que medida e como seria preciso considerar pred-
icados relacionais como representando relações reais para que esta solução possa ser
considerada uma boa solução, considerando que, ao que tudo indica, Leibniz parece
sustentar teses nominalistas para as relações. Nossa hipótese geral para tratar do prob-
lema será a de que, tais como os fenômenos (e talvez fazendo parte do que Leibniz
qualifica de fenômenos) as relações possuem um fundamentum in re, de maneira que
uma inconsistência entre as relações pode evidenciar um mal grupamentos de indi-
138 IX Principia International Symposium

víduos formados por conceitos simples ou um mal grupamento de conceitos simples


em indivíduos em um mundo (no caso, impossível), forçando com que estes conceitos
simples e indivíduos não possam ser agrupados da mesma maneira em mais de um
mundo possível.

Referências
HINTIKKA, J. ‘Leibniz on plenitude, relations and the “reign of law” ’. In: Harry G. Frankfurt (eds.)
Leibniz: A Collection of Critical Essays, 1972.
MARQUES, Edgar. ‘Possibilidade, compossibilidade e incompossibilidade em Leibniz’. Kriterion
vol.45 no.109, 2004.
LEIBNIZ, G. W. ‘Die Philosophischen Schriften’. Berlin.

Raquel Krempel raquelak@gmail.com


Doutoranda - Universidade de São Paulo
Sintaxe e semântica na linguagem do pensamento

No livro The Language of Thought, Jerry Fodor formula pela primeira vez a hipótese de
que o pensamento ocorre em uma linguagem que não pode ser identificada a nenhuma
língua natural. Fodor apresenta uma série de razões para negarmos a suposição bas-
tante natural, favorecida pela introspecção, segundo a qual o veículo do pensamento é
muitas vezes uma língua natural. Uma delas é a de que se o pensamento fosse identifi-
cado à linguagem, seríamos forçados a concluir que alguns animais e crianças na fase
pré-linguística não são capazes de pensar, o que para ele não é uma conclusão dese-
jável. Para Fodor, a suposição da existência de uma linguagem inata, além de explicar
como o pensamento pode ocorrer sem uma língua natural, explica também a capaci-
dade de aprendizado de uma primeira língua.
Contudo, embora o pensamento não possa, por esses motivos, ocorrer em nossa
língua materna, por exemplo, Fodor argumenta que tampouco pode ocorrer por meio
de imagens mentais. Os pensamentos que estão em questão são as atitudes proposi-
cionais, como crenças e desejos, que são, segundo Fodor, relações entre um organismo
e uma representação mental que significa uma proposição P. O que a hipótese da lin-
guagem do pensamento diz é que essas representações mentais, além de serem seman-
ticamente avaliáveis, são como sentenças, dotadas de uma estrutura sintática com-
plexa. Os argumentos principais que Fodor e Zenon Pylyshyn, outro defensor dessa
ideia, apresentam em favor da estrutura sintática das representações mentais dizem
respeito à produtividade, composicionalidade e sistematicidade do pensamento. Se-
gundo eles, somente atribuindo uma estrutura sintática às representações mentais se-
ria possível explicar o fato de podermos, em princípio, produzir e compreender uma
infinidade de pensamentos diferentes com base em um número finito de elementos
(produtividade), o fato de que o sentido de pensamentos complexos deriva de suas
partes componentes (composicionalidade) e o fato de podermos entreter pensamen-
tos relacionados — se sou capaz de pensar que “a é F” e “b é G”, sou capaz de formular
os pensamentos “b é F” e “a é G” (sistematicidade).
Abstracts / Resumos 139

Nessa visão computacional da mente, pensamentos causam outros pensamentos


em virtude de suas estruturas sintáticas, que são realizadas no cérebro, e não de seus
conteúdos semânticos. Nesta apresentação, pretendo discutir algumas questões rela-
cionadas a isso. É de fato plausível supor que processos mentais coerentes possam
surgir em virtude de relações causais que envolvem apenas formas sintáticas de sen-
tenças? Como essa linguagem mental adquire conteúdo semântico, e de que modo
esse conteúdo se relaciona com sua forma sintática?

Rejane Schaefer Kalsing rejane.kalsing@yahoo.com.br


Universidade Federal do Rio Grande do Sul
O papel da educação na realização do propósito supremo na história em Kant:
o Estado cosmopolita universal

A obra Sobre a pedagogia de Kant parece não ter obtido ainda, ao menos, a atenção
que merece no meio acadêmico. Um indício disso pode ser a literatura a seu respeito,
brasileira, ao menos que é pequena se comparada com a referente a outras obras do
filósofo.Talvez isso se deva ao fato de ela ter sido publicada pela primeira vez à beira
de seus oitenta anos, e, assim, é considerada uma obra tardia do filósofo. Além disso,
outro fato que parece contribuir é que a obra foi publicada por um discípulo de Kant e
não pelo próprio filósofo, porém o mesmo a teria revisado antes de sua publicação. Um
outro aspecto que chama a atenção é que, ao menos, a literatura filosófica brasileira a
respeito dessa obra se detém, em geral, a explorar mais os aspectos morais nela apre-
sentados e não outros aspectos possíveis e nem procurando relacioná-la com obras
como, por exemplo, as relativas à filosofia da história de Kant. É que, além do as-
pecto moral — o qual, de fato é enfatizado por Kant nessa obra, há outros aspectos
que chamam a atenção e que parecem ter vinculação, por exemplo, com a sua filosofia
da história, entre outras. São passagens em que ocorrem ideias, que, de certa forma,
já são expressas em obras como, por exemplo, Idéia de uma história universal de um
ponto de vista cosmopolita e Início conjectural da história humana. Essas ideias são,
entre outras, o progresso do ser humano da animalidade à humanidade; o desenvolvi-
mento dos gérmens presentes na humanidade; o fato de o ser humano não poder utilizar
somente o instinto, necessitando extrair de si mesmo determinadas qualidades, através
do exercício de sua razão; a ideia de uma determinação da humanidade ou de um fim
mais alto da humanidade, que é a determinação moral. O presente texto é um con-
junto de ideias preliminares para um projeto de pesquisa, o qual pretende investigar
as seguintes questões: a obra Sobre a pedagogia possui vinculações com obras de sua
filosofia da história, como por exemplo, Idéia de uma história universal de um ponto
de vista cosmopolita e Início conjectural da história humana? Que ideias ou pas-
sagens nas obras acima citadas poderiam confirmar essa vinculação entre a filosofia
da educação de Kant e a sua filosofia da história? Em se confirmando essa vincu-
lação, pode-se, a partir daí perceber um papel da educação na realização do propósito
supremo na história em Kant, a saber, o estado cosmopolita universal? Sendo assim,
que papel pode ser este? Ou, de outra forma, em que sentido a educação pode, ou
deve até, contribuir para a realização desse propósito? Assim, o objetivo geral do pro-
140 IX Principia International Symposium

jeto de pesquisa é investigar um possível papel da educação na realização do propósito


supremo na história em Kant, o estado cosmopolita universal, o qual o presente texto
pretende brevemente abordar.

Renato Cesar Cani renatocani@gmail.com


Mestrando - Univerisdade Federal do Paraná
O estatuto das leis cientícas: Resposta de Ghins aos problemas da identi-
cação e da inferência postos por van Fraassen

O trabalho discute o estatuto das leis científicas, questão recorrente nos debates en-
tre realismo e anti-realismo científicos. Nosso objetivo é apresentar a concepção re-
alista das leis científicas, proposta por Michel Ghins, como uma possível resposta às
críticas do empirismo construtivo de Bas van Fraassen. Em sua oposição às teorias
da explicação baseadas na realidade das leis, van Fraassen argumenta que as diversas
concepções contemporâneas de leis da natureza — sobretudo a regularista, de Lewis,
e a necessitarista, de Armstrong — sucumbem diante de dois problemas básicos: o
problema da identificação e o problema da inferência. O primeiro diz respeito à identi-
ficação do tipo de fato acerca do mundo que confere nomicidade aos enunciados que
se apresentam como leis; o segundo, à condição de assegurar a inferência do enunci-
ado “P” a partir da verdade do enunciado “P é uma lei”. Assim, van Fraassen pretende
demonstrar o anacronismo e a inutilidade da noção de lei para a filosofia da ciência;
para o autor, as explicações fornecidas pela ciência são pragmáticas e não excedem
o âmbito do que é observável. Quando os realistas insistem em sustentar teorias da
explicação científica baseadas em leis, acabam recorrendo a artifícios metafísicos in-
aceitáveis para o crivo empirista proposto por van Fraassen. Por outro lado, Michel
Ghins afirma que o abandono do conceito de lei científica conduziria a um empo-
brecimento inaceitável da ciência, tendo em vista que a démarche científica inclui, na
visão do autor, a busca por explicações causais. Assim, Ghins esclarece sua posição
da seguinte forma: primeiro, identifica as leis como sendo proposições universais per-
tencentes a teorias empiricamente adequadas e explicativas; segundo, desenvolve uma
metafísica da natureza em que as propriedades disposicionais, inerentes às entidades
físicas, atuam como truthmakers das leis. Ora, a caracterização das leis científicas pro-
posta por Michel Ghins pode parecer, numa primeira análise, incapaz de solucionar
satisfatioriamente os problemas apontados por van Fraassen, tendo em vista que este
considera ilegítima a resolução de problemas filosóficos por meio da postulação de
entidades metafísicas cuja existência não pode ser provada empiricamente (no caso,
as propriedades disposicionais). Atento a essa dificuldade, Ghins procura sustentar a
existência das propriedades disposicionais por meio de argumentos que possam ser
corroborados pela experiência; para isso, o autor recorre à analogia com a experiência
sensível ordinária. Desse modo, Ghins pretende solucionar os problemas da identifi-
cação e da inferência. Buscamos, à luz da crítica de van Fraassen, discutir os ganhos e
os limites da resposta proposta por Ghins.
Abstracts / Resumos 141

Renato Mendes Rocha renato.rocha@posgrad.ufsc.br


PhD. Student - UFSC
The fundamentality role of natural properties

Natural properties are meant to carve nature in its joints. Because of this special power
Dorr & Hawthorne (2013) divides the debate around natural properties between the
enthusiastic and the skeptic. This talk is on the former side. Wilson (2012) divides the
roles played by natural properties in two: the fundamentality role and the rationality
role. The latter role pretends to solve different and puzzles in contemporary philos-
ophy, as Goodman’s grue/green problem, the debate around Universals, the Putnam’s
paradox and Quine’s gavagai. The former role states that some natural properties forms
a minimal base for supervenience, are useful in the distinction between intrinsic and
extrinsic properties, in the definition of duplicates and in the formulation of material-
ism. It is also widely present in the nomonological package (causation, laws of nature,
disposition). Hence, it plays a central role in the explanation about the furniture of our
world. That is so that if the supervenience claim is true in our world it might be neces-
sary true and then true in all possible worlds. While supervenience claims for necessity,
the question of what are the most perfectly natural properties in our world is just a con-
tingent matter. After assessing the roles that natural properties plays in possible world
metaphysics, I discuss some issues related to an analytical ontology of natural proper-
ties. Thus, I argue against Mellor (2012) view, which denies that naturalness comes in
degree. For it I hold a view defended by Lewis (1983) and Schaeffer (2004) that there
are degrees of naturalness and that we gain explanatory power while considering this
classification. Moreover, the task for defining natural properties is discussed and even
if its definition is not a main issue, I argue that the definition found in Quinton (1957)
is misleading and present one that intend to be simpler than the one found in Lewis
(1983).

References
DORR, C.; HAWTHORNE, J. ‘Naturalness’. In: Karen Bennett & Dean Zimmerman (eds.), Oxford
Studies in Metaphysics, vol. 8. Oxford University Press, 2013.
LEWIS, D. K. ‘A New Work for a Theory of Universals’. Australasian Journal of Philosophy Vol. 61,
No. 4, 1983.
——— ‘Putnam’s paradox’. Australasian Journal of Philosophy 62(3), p. 221-236, 1984.
MELLOR, D. H. ‘Nature’s Joints: A Realistic Defence Of Natural Properties’. Ratio (new series) XXV
4 December 2012 p. 387-404.
NOLAN, D., ‘David Lewis’. Acumen Publishing, 2005.
QUINTON, A. ‘Properties and Classes’. Proceedings of the Aristotelian Society, New Series, Vol. 58,
p. 33-58, (1957 - 1958).
SCHAFFER, J. ‘Two conceptions of sparse properties’. Pacific Philosophical Quarterly 85(1) p. 92-
102, 2004.
SIDER, T. ‘Naturalness, duplication and intrisicality’. PhD dissertation, 1993.
——— ‘Writing the Book of the World’. Oxford University Press, 2011.
——— ‘Two Conception of Primitive Naturalness’. Unpublished draft.
142 IX Principia International Symposium

WILSON, A. ‘Naturalness and Necessity’. Handout of APP Conference’ talk in 2012.

Roberta Ballarin
University of British Columbia
The Barcan Formula and the Nature of Possibility

Since its original introduction, the Barcan Formula (BF) has been the subject of much
controversy. Despite some intuitive objections from the actualist camp, the formula
has been defended both on logical and metaphysical grounds. In a recent paper, Sim-
chen argues that (BF) is no threat to actualism and should indeed be endorsed to con-
nect modality de dicto and modality de re. In this paper, I argue on metaphysical grounds
that (BF) is false, and that its falsity is no threat to the connection of de dicto and de re
possibilities.

Robinson Guitarrari robinson.guitarrari@gmail.com


Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Kuhn, Putnam e a relatividade conceitual

Em “Dubbing and redubbing” (1990), Kuhn afirmou que “[l]éxicos diferentes (. . .) dão
acesso a conjuntos diferentes de mundos possíveis, que se sobrepõem largamente, mas
nunca inteiramente.” Sua concepção assume a distinção entre esquema conceitual e
conteúdo, admite a relatividade dos objetos em relação aos conceitos e concebe a in-
comensurabilidade semântica entre teorias como impossibilidade de tradução com-
pleta. Léxicos são vocabulários estruturados. Alterações no léxico podem mudar os
significados de termos que nele se relacionam. Um novo léxico exibe outras relações
entre alguns de seus termos e dele surgem novas possibilidades de acessar o mundo de
que se trata.
Com essa visão, Kuhn se opôs aos pronunciamentos de Putnam em “The meaning
of ‘meaning’ ” (1975), distanciando-se de uma teoria causal da referência. Kuhn nota
dificuldades na concepção de que um ato original de batismo de um termo é um de-
terminante da referência. A aplicação do termo ‘água’ na Terra e na Terra Gêmea é
um exemplo usado para destacar a diferença. Considerando o mundo possível em que
há uma Terra Gêmea, planeta como o nosso exceto no que se refere ao termo ‘água’
(enquanto aqui é H2 0, lá é XYZ), e considerando um único léxico, padronizado pela
química moderna, Putnam nota que esse caso indicaria um erro na teoria química. Na
visão de Kuhn, a teoria causal em jogo não fornece uma ponte para casos históricos:
H2 0, em 1750, era uma substância líquida; anos depois, passou a envolver as formas
gasosa e sólida.
Putnam abriu mão de componentes essencialistas quando defendeu o realismo in-
terno. Referindo-se a essa concepção, Kuhn nota “paralelos significativos” com suas
propostas. Dentre as teses compartilhadas, está a relatividade conceitual. Contudo,
Putnam não considera que esquemas conceituais bem estruturados descrevam difer-
entes mundos possíveis. De fato, Sosa corretamente esclarece que “a existência rel-
ativa a um esquema conceitual não é equivalente à existência em virtude de um es-
Abstracts / Resumos 143

quema conceitual.” Mas essa tentativa de Sosa de dar inteligibilidade à relatividade


conceitual não distingue as posições de Putnam e de Kuhn, pois ambos não defendem
que o mundo é construído pelos léxicos.
Putnam é um critico severo da incomensurabilidade semântica, entendida por Kuhn
como intraduzibilidade. No entanto, Putnam admite a relatividade conceitual, con-
siderando traduzíveis os esquemas conceituais rivais. Seu exemplo da “soma mere-
ológica” apresenta a relatividade conceitual como uma questão de convenção. Por
outro lado, ele também defende que “dois enunciados incompatíveis at face value po-
dem ser verdadeiros (e a incompatibilidade não pode ser explicada afirmando que os
enunciados possuem ‘um significado distinto’ dentro dos esquemas a que respectiva-
mente pertencem)”. Se Putnam está certo ao dizer que as traduções não preservam
a “ontologia”, podemos entender que essa mudança de “ontologia” se deva apenas ao
uso de diferentes convenções? O que, para ele, seria preservado, em uma tradução,
havendo uma mudança na “ontologia”? Das divergências entre ambos a respeito da
traduzibilidade entre esquemas conceituais rivais, decorreriam diferentes implicações
ontológicas? Que compreensão cada um possui da relatividade conceitual e de suas
implicações ontológicas?

Rodolfo Gaeta rodygaeta@gmail.com


Universidad de Buenos Aires
Relativismo y mundos posibles en la ontología de Nelson Goodman

En Ways of Worldmaking, Nelson Goodman les pone nombres a las dos características
prominentes de su concepción. Rechaza posiciones clásicas, como el materialismo, el
idealismo y el dualismo, y encuadra su pensamiento en una forma radical de relati-
vismo que se interna en el irrealismo. El punto de partida de su argumentación se en-
cuentra en la convicción de que afirmar la existencia de una realidad independiente,
un mundo “ready made” cuyas propiedades puedan ser descubiertas gracias al empleo
de ciertas facultades cognitivas, es una tesis que se auto refuta. Cualquier intento de
avanzar en la descripción de ese mundo independiente tal como fuera en sí mismo
solamente podría dar lugar a la organización de sus componentes en objetos, clases,
formas de organización, etcétera que responderían a nuestra propia manera de perci-
bir, conceptualizar y expresarnos. Si intentáramos decir algo acerca de ese mundo, no
estaríamos refiriéndonos a sus propiedades inherentes. Nuestra actividad se plasmaría
en brindar lo que Goodman llama una versión, en cuyo caso, si es que aludimos a algún
mundo, se trata exclusivamente del que se corresponde con esa versión. Goodman no
rechaza completamente la posibilidad de una realidad inefable que de algún modo es-
té relacionada con las versiones que proponemos, pero la desprecia porque piensa que
un mundo así no es algo por lo que valga la pena luchar a favor o en contra. Por otra
parte, una vez que se ha dejado de lado la existencia de un mundo único e indepen-
diente, si se quiere mantener alguna distinción entre una versión y el mundo que ella
describe, se arriba a la coexistencia de una indefinida pluralidad de mundos, no solo
los generados por el sentido común o las teorías científicas o filosóficas sino también
los producidos por la actividad artística.
144 IX Principia International Symposium

Goodman subraya que la creación de mundos se ve limitada por ciertas restriccio-


nes: hay versiones correctas (right), adecuadas a los propósitos que las impulsan, y
otras incorrectas. Y consecuentemente mundos genuinos y espurios. Aunque varias de
sus tesis fundamentales se han hecho merecedoras de importantes objeciones, la pre-
sente propuesta se focalizará en la vinculación de la pluralidad de mundos con los con-
ceptos de mundo actual y mundo posible. Goodman proclama —enigmáticamente—
que no solamente las características que conforman cada mundo son relativas, sino
que la realidad también es relativa. En esas condiciones, nos resulta extraña la inme-
diata afirmación de que el hecho de que haya muchas versiones y multiplicidad de
mundos no anula la distinción entre versiones correctas y erróneas y no reconoce la
existencia de mundos meramente posibles que respondan a versiones incorrectas. Es-
to parece implicar que la distinción entre mundo actual y mundos posibles colapsa.
Todos los mundos que responden a versiones correctas (sean estas las que fueren, y
en muchos casos incompatibles) serían automáticamente actuales, y su número cre-
cería con la invención de posibles versiones correctas. ¿ Constituye tal coexistencia de
infinitos mundos actuales algo por lo que vale la pena luchar?

Rogel Esteves de Oliveira rogeleoliveira@gmail.com


Pós-doutorando PNPD no PPG Filosoa da PUCRS
Justicação não-inferencial: Appearances versus Acquaintance

Desde que Michael Huemer (2001, 2006, 2007) elaborou a teoria (e correspondente
“princípio”) que ele chamou de “Conservadorismo Fenomênico” (Phenomenal Conser-
vatism), o Fundacionismo Internalista em epistemologia ganhou um novo aderente —
e um novo rival entre seus quadros. O Conservadorismo Fenomênico (CF), com efei-
to, passou a rivalizar diretamente com outras teorias afins, de modo especial com o
Fundacionismo Clássico (FC), esposado por Fumerton (1995, 2001, 2010) e BonJour
(2001, 2003), entre outros. Em comum, ambas as teorias defendem o fundacionismo
epistemológico: a existência de “crenças básicas”, justificadas “não-inferencialmente”
por algo que não outra crença do sujeito. Ambas teorias também são internalistas, pois
defendem que o fator que justifica uma crença (seja esta básica ou não) deve ser um es-
tado mental do sujeito, pretensamente acessível a esse sujeito. Elas divergem, de modo
importante, quando se procura identificar o que exatamente é esse fator interno do su-
jeito, “fundacional”, que justifica uma crença básica, não-inferencial. O FC, seguindo
sugestões de Bertrand Russell (1912), defende que o que justifica de modo fundacional
um sujeito S em crer que P só pode ser um estado de “acquaintace” (Fumerton, op. cit.)
ou çonsciência direta"(BonJour, op. cit.) com o fato de que P. Tais estados cognitivos
colocariam o sujeito S diretamente em contato com o fato de que P, sem qualquer inter-
mediação. Huemer contesta veementemente uma tal teoria. Para ele, o estado mental
que justifica uma crença não-inferencial é um estado de “appearance”, de aparência de
que P, o qual, diferentemente do estado de “acquaintance”, é não-factível (2006, 2007,
2013). Ou seja, enquanto o estado de “acquaintance” de que P exige que P seja o ca-
so, o estado de “appearance” não tem esta exigência. Para Huemer, esta diferença é
essencial para dar conta da justificação de crenças falsas. Mas o que exatamente é es-
Abstracts / Resumos 145

se estado? “Appearances” são atitudes proposicionais não-doxásticas em que “parece”


para o sujeito S que P é o caso (ibid.). Elas podem ser do tipo perceptual, mnemônica,
intuitiva ou introspectiva. A partir da constatação desses estados, Huemer então passa
a defender seu importante princípio: “Se parece para S que P, então, na ausência de de-
rrotadores, S tem pelo menos algum grau de justificação para crer que P” (2006, 2007).
Com este princípio, Huemer pensa ter vantagem sobre outras teorias, em especial so-
bre o FC, no que concerne à justificação de crenças básicas. Mais que isto, Huemer
alega que qualquer teoria que conteste o princípio do CF é auto-refutador (Argumento
da Auto-Refutação). A briga então se coloca. O presente trabalho tenta avaliar as crí-
ticas que defensores do FC, como Hasan (2013) e Tooley (2013), entre outros, colocam
contra o CF de Huemer. Em especial, neste trabalho queremos avaliar três frentes desta
crítica. Primeiramente, a crítica de que a noção de “appearance” de Huemer é proble-
mática, difícil de ser sustentada. Em segundo lugar, a crítica de que seu argumento de
auto-refutação tem problemas sérios em uma de suas premissas. Em terceiro lugar, de
que as teorias de “acquaintance” se saem melhor na justificação das crenças básicas.

Samuel C. Fletcher Samuel.Fletcher@lrz.uni-muenchen.de


Munich Center for Mathematical Philosophy - Ludwig-Maximilians-Universität München
Counterfactuals within Scientic Theories

The language of our scientific theories is rife with alethically modal statements. The
truth of counterfactual conditionals concerning matters that scientific theories describe,
however, is not adequately given by the application of standard possible world seman-
tics. As developed by Lewis and others, this semantics depends on entertaining possi-
ble worlds with miracles, worlds in which laws of nature, as described by science, are
violated. This is clearly unacceptable if one is interested in evaluating certain counter-
factuals not as sentences broadly of natural language, but more narrowly as proposi-
tions concerning only the connections between possibilities warranted by particular
scientific theories. It is clear that many scientific theories do describe with mathe-
matical precision the possibilities they warrant, and the practice of science itself of-
ten involves introducing additional structure on these possibilities to represent rele-
vant similarities among them. These structures include so-called uniformities, which
are used to introduce the concept of a uniformly continuous variation. Any uniform
space — a collection with a uniformity — turns out to be a model of Lewis’ system of
spheres (equivalently, his similarity measures), in particular his modal logic VWU. If the
uniformity is separating-the uniform-structure analog of the Hausdorff condition from
topology-then the corresponding system of spheres (similarity measure) yields Lewis’
modal logic VCU. (For both cases in general, the so-called Limit Assumption does not
hold.) The possible worlds, however, are all consistent with the scientific theory of in-
terest, so evaluating counterfactuals using them does not require entertaining miracles.
The analysis here is in a sense the reverse of that often found in presentations of
modal logic: instead of providing a system of axioms or inference rules for sentences
with various modal operators, and then proceeding to find mathematical models thereof,
my approach is instead to look to the practice of the mathematical sciences, identify-
146 IX Principia International Symposium

ing the kinds of structures placed on the models of a scientific theory that are used, if
only unsystematically, in alethetically modal scientific reasoning, and then point out
that these structures allow one to define counterfactual conditions satisfying familiar
axioms.
The advantage of this approach is that it provides the means to answer (at least in
part) one of the difficult questions about possible worlds semantics: whence the simi-
larity measure? Even in discourse internal to a scientific theory, there will typically be
no canonical notion of similarity amongst the models of that theory. Nevertheless, the
context of investigation can often determine which features of these models are rele-
vant for answering a given question, and a similarity measure can then be constructed
to respect these relevant features.
As an example of application, I consider the possibilities described by the theory of
general relativity — relativistic spacetimes — and the context of empirically adequate
approximation and idealization, e.g., evaluating counterfactuals such as, “If our uni-
verse were to have the (idealized) properties Pi, then our cosmological measurements
would not be too different than they are.” In such cases, the relevant notion of similar-
ity can be determined by approximation of classes of certain observable quantities for
certain observers modeled within these cosmological models.

Samuel Simon samuell@unb.br


UnB
Tiago Cunico Câmara cunicocamara@gmail.com
UnB
A Interpretação de muitos-mundos de BryceDeWitt

Em 1957, Hugh Everett III publica o polêmico trabalho onde apontou para a possibili-
dade de uma nova interpretação da Mecânica Quântica, alternativa à Interpretação de
Copenhague - a Interpretação dos Estados Relativos. Uma leitura rigorosa dos trabal-
hos de Everett, ou ao menos dos textos mais filosóficos, parece mostrar que ele não
estava primariamente interessado em questões ontológicas. A Interpretação dos Esta-
dos Relativos parece conduzir a um programa de pesquisa que buscava aplicar o for-
malismo quântico a todo e qualquer sistema físico, macroscópico ou não, negando-se
qualquer status ontologicamente privilegiado ao observador ou qualquer separação a
priori do universo entre fenômenos quânticos e clássicos. No entanto, essa Interpre-
tação parece ter conduzido BryceDeWitt a desenvolver uma Interpretação de Muitos-
Mundos, absolutamente comprometida com um realismo científico e logicamente con-
sistente, ao contrário da ortodoxia vigente. Levando em conta essas Interpretações (e
mesmo as contemporâneas teorias de múltiplos universos) podemos perguntar: o que
resta da mecânica quântica de Everett III e de seu programa de pesquisa?

Sofía N. Ache sofia.ache@fic.edu.uy


Facultad de Información y Comunicación, Universidad de la República (Uruguay)
Historia de la ciencia y mundos posibles en el último Kuhn
Abstracts / Resumos 147

Thomas S. Kuhn fue el filósofo de la ciencia más leído del siglo pasado. Si tuviera que
condensarse en una frase el proyecto tras el cual se embarcaron las reflexiones de to-
da su trayectoria intelectual, podría decirse que se trató de la explicación del cambio
científico. Ello se torna muy claro si se repara tan solo en los títulos de sus tres libros:7
La revolución copernicana. La astronomía planetaria en el desarrollo del pensamien-
to occidental (1957), La estructura de las revoluciones científicas (1962) y La teoría del
cuerpo negro y la discontinuidad cuántica, 1894-1912 (1978). Aunque todos desarrollan
temáticas distintas, comparten el objetivo de estudiar los cambios radicales ocurridos
a nivel de los esquemas conceptuales o paradigmas científicos8 a la luz de investiga-
ciones históricas.
La apelación a la historia para comprender de modo más fiel la naturaleza de la cien-
cia se conoce como “giro historicista” y afectó en los años sesenta los cimientos mismos
de la filosofía de la ciencia. El cambio de orientación de la disciplina no sólo se asocia
al nombre de Kuhn, sino también al de Norwood Russell Hanson, Paul Feyerabend y
Stephen Toulmin.
En el trabajo histórico de Kuhn, pueden destacarse dos etapas: la primera, más tem-
prana, dedicada a los estudios específicamente históricos; la segunda, bautizada por él
como “metahistórica” por extraer conclusiones filosóficas a las que justifica a través de
la apelación a casos históricos. En este sentido, es notoria la pérdida de protagonismo
de la historia en sus escritos y que como contrapartida, la indagación de tipo filosófica
termine por dominar su trabajo desde la década de los ochenta hasta el final de su vida.
No obstante, en algunas conferencias de finales de los 80’s, Kuhn se permite enla-
zar la semántica de los mundos posibles con su antigua concepción historiográfica.
Habiendo sustituido el multicitado y controversial concepto de paradigma por el de
léxico, e introduciendo con ello un carácter fuertemente lingüístico a sus estudios, es-
tablece el impacto de la renovada concepción en la estipulación y el acceso a mundos
posibles, asequibles a través de los estudios llevados a cabo por el historiador de la
ciencia.
De manera que el objetivo de este trabajo es revisar el reencuentro de Kuhn con su
antiguo amor (la historia de la ciencia) hacia el final de su vida, y el enlace que logra
trazar entre ella y su nueva concepción filosófica.

Susana Lucero susanalucero8@fibertel.com.ar


Universidad Nacional de La Plata
El papel de los mundos posibles en la concepción constructivista de las leyes

Una preocupación que motiva el presente trabajo es la pregunta acerca del rol que
cumple la postulación de mundos posibles en la fundamentación de teorías acerca
de las leyes. A fin de acotar el campo de nuestra indagación, hemos elegido —a mo-
do de casos testigo— dos teorías rivales sobre el tema: la visión del sistema o red de
leyes defendida por los filósofos Mill, Ramsey, Lewis (en adelante MRL) y, en la vereda
7 Bien sabido es que Kuhn cuenta con más de tres libros publicados. Pero el resto de ellos, más que
obras unitarias y pensadas como tales, son compilaciones de artículos, entrevistas y ponencias.
8 Dependiendo de la obra, la unidad de análisis varía.
148 IX Principia International Symposium

opuesta, una concepción realista, necesitarista y anti humeana cuyos defensores más
reconocidos son Dretske, Tooley y Armstrong (la visión DTA). La primera define las le-
yes como los axiomas o teoremas de los mejores sistemas acerca de las regularidades
del mundo que logran un balance entre fuerza y simplicidad, con la salvedad de que
aun si conociéramos todos los hechos del mundo, estos podrían estructurarse en un
sistema deductivo. La MRL es una teoría holista pues lo que determina que un enun-
ciado sea una ley no son propiedades intrínsecas del enunciado sino las relaciones que
éste mantiene con las restantes oraciones del sistema. Además el sistema es el resulta-
do de un armado lógico— lingüístico, luego es posible construir diferentes sistemas de
leyes. Su pertenencia a la tradición humeana queda definida porque no contrae com-
promisos con entidades tales como los universales ni acepta relaciones modales de re
en la formulación de las leyes, por eso es metafísicamente muy económico. En cuanto a
la concepción DTA, una ley se define por la presencia de una relación de necitación (N)
entre universales, formalmente N(F,G). Ambas visones están preparadas para dar cuen-
ta de nuestras intuiciones básicas acerca de lo que habitualmente entendemos por ley:
la capacidad para (a) distinguir entre leyes y generalizaciones accidentalmente verda-
deras, (b) soportar condicionales contrafácticos y (c) funcionar como premisas en las
explicaciones causales de los fenómenos. Una diferencia notable entre ambas teorías
es que la visión MRL es descriptiva y postula que las leyes supervienen a partir de los
hechos. Por el contrario, la DTA asume que las leyes gobiernan los fenómenos; éstos
últimos son lo que son en virtud de que están regidos por leyes. En otras palabras, las
visiones que examinamos ofrecen explicaciones diametralmente opuestas acerca de
qué fundamenta ontológicamente qué. (Beebee, 2004).
Un rasgo muy destacable en el análisis de estos temas es que ninguna de las concep-
ciones en pugna puede prescindir de la apelación a la noción de mundos posibles a la
hora de fundamentar la naturaleza de las leyes, de determinar su identidad o de res-
ponder a las objeciones cruzadas que intercambian los dos sectores. Es evidente tam-
bién que, de atenernos a la literatura clásica, los compromisos metafísicos asumidos
son de muy diferente intensidad. Hay, en efecto, un claro contraste entre la metafísica
mínima involucrada en el Humeanismo en general —y en la MRL en particular—; y por
otra parte una metafísica mucho más robusta (a veces con ribetes platónicos, caso de
Tooley) sostenida por la DTA.
El propósito de este trabajo es analizar el papel que juegan los mundos posibles y
el alcance que tiene el concepto en la constitución de las concepciones mencionadas
acerca de las leyes. Asimismo se mostrará cómo la visión de corte humeano da cabida
a ingredientes metafísicos significativos justamente en ocasión de apelar a los mundos
posibles, sea para defender el núcleo de la teoría o para replicar las objeciones de sus
adversarios. Lo que constituiría, según algunos autores (Beebee, 2004), una motivación
atractiva para optar por la visión MRL —en virtud de sus ventajas epistémicas y funda-
mentalmente por su modestia ontológica— sería al menos parcialmente cuestionable.

Taís Silva Pereira pereira tais@yahoo.com.br



Doutorado (PPGFIL/UERJ)
Abstracts / Resumos 149

Compreensão comum e agonismo: entre Charles Taylor e Chantal Moue

O presente trabalho pretende analisar os conceitos de compreensão comum e agonis-


mo a partir do pensamento de Charles Taylor e Chantal Mouffe, respectivamente, a fim
de discutir suas implicações para se pensar a democracia com bases ontológicas. Am-
bos os pensadores partem, implícita ou explicitamente, da consideração de que a polí-
tica não envolve apenas um âmbito da realidade, mas, antes, incide em uma ordenação
da própria realidade, através de nossa condição de humanos. Tomar o político enquan-
to categoria ontológica envolve, por seu turno, considerar o modo de constituição das
ações e instituições que perpassam a vida compartilhada na formação do espaço pú-
blico. E é nesta dinâmica que o conflito tem um papel fundamental na medida em que
traça os limites e determinações do próprio campo democrático. Entretanto, é neste
ponto que Taylor e Mouffe se distanciam. Por um lado, o autor canadense atrela o con-
flito ao movimento de configuração de bens — enquanto redes conceituais — tendo em
vista a compreensão comum. Compreensão esta que só pode ser exercitada, ensaiada,
na vida pública, sem necessariamente chegar a um ponto comum. Significa dizer, nes-
te sentido, que a pluralidade dos bens que nos constituem pode, apenas pode, apontar
para o entendimento entre os participantes de uma sociedade democrática. Por outro
lado, a filósofa belga enfatiza a inevitabilidade de posicionamentos irreconciliáveis na
democracia, os quais superam procedimentos deliberativos. Ao reformular o binômio
amigo/inimigo shcmittiano, Mouffe pretende colocar em xeque o foco na igualdade
prévia dos discursos que se expressam na vida pública, porque já há uma assimetria
prévia que marca o antagonismo incontornável da democracia: do “nós” sempre de-
pende o “eles”. Mais do que demarcar as diferenças das propostas, busca-se mapear
as fronteiras de ambas as linhas de pensamento brevemente explicitadas para verificar
as implicações destes posicionamentos frente às questões do pluralismo contemporâ-
neo em sociedades democráticas. Se de alguma maneira precisamos contar com a ideia
de uma comunidade política, não podemos deixar passar despercebido que faz parte
de sua construção os discursos que lutam por um lugar no espaço público de forma
desigual. Ao mesmo tempo, conflitos existentes também marcam um campo de orien-
tação, expressos nas políticas normativas. É neste sentido que a apresentação se orien-
tará em três momentos, assim delimitados: 1) O conflito como categoria fundamento
para uma ontologia política; 2) Compreensão comum e agonismo: distanciamentos e
aproximações; 3) O sentido de comunidade política nas sociedades democráticas.

Tamires Dal Magro tamiresdma@gmail.com


Doutoranda - UNICAMP
Raciocínio diagramático nas provas euclidianas

A concepção tradicional em filosofia da matemática atribui aos diagramas um papel


puramente heurístico ou meramente ilustrativo e, portanto, dispensável nas provas
matemáticas. Essa concepção defende que uma prova matemática rigorosa é um obje-
to finito, inspecionável e sentencial, (ver, por exemplo, Borwein, 2008, e Tennant, 2006)
que não é composto, portanto, de diagramas. Essa maneira tradicional de conceber a
150 IX Principia International Symposium

prova matemática tem suas raízes na proposta de formalização vislumbrada por Hil-
bert, proposta essa que, como caracteriza Lakatos (1978), busca reduzir a linguagem
das teorias matemáticas a uma linguagem formalizada, e provas são feitas a partir de
sequências de fórmulas bem constituídas. Na esteira do movimento de progressivo
abandono do apelo à intuição na justificação de provas matemáticas (e também por
influência de trabalhos filosóficos e de fundamentos da matemática como os de Frege
(1974), Russell (1937) e Hilbert (1980), entre tantos outros autores), ao final do século
XIX provas que utilizam recursos diagramáticos de maneira substancial passaram a ser
consideradas inaceitáveis, uma vez que alguns de seus passos servem-se de recursos
retirados dos próprios gráficos, os quais seriam considerados ilegítimos por recorre-
rem à suposta intuição geométrica. Assim, uma vez que o rigor de uma prova passou a
ser identificado com explicitação de axiomas e regras de inferência, provas que utilizam
recursos diagramáticos não são rigorosas. Entre essa espécie de prova, encontramos as
provas em geometria euclidiana, que já em seu primeiro teorema serve-se essencial-
mente de uma informação fornecida pela figura para justificar um passo importante
da demonstração. Hilbert, em Os fundamentos da geometria (1980), preocupou-se em
eliminar esse tipo de recurso em favor de uma prova puramente discursiva na qual
todos os passos são justificados ou por axiomas ou por regras de inferência (embora
sirva-se de figuras para desempenhar o papel de ilustração). No entanto, nas últimas
décadas do século XX as provas que utilizam recursos diagramáticos de modo subs-
tancial vêm sendo reavaliadas e podemos encontrar defesas de sua legitimidade (ver
Barwise e Shimojima, 1995; Barwise e Etchemendy, 1996, Manders, 2008). A legitimida-
de da prova nesses casos não se daria pelos passos da prova serem justificados ou por
axiomas ou por regras de inferência lógica, como nas provas sentenciais, mas sim por-
que os diagramas substituiriam em parte tais regras: algumas informações poderiam
ser lidas ou extraídas dos próprios diagramas (ver Seoane, 2006). Posto isso, cabe-nos
perguntar: se não são regras ou axiomas que justificam os passos da prova que são li-
dos dos diagramas, o que os tornaria legítimos? No presente trabalho abordaremos a
questão voltando-se para as demonstrações da geometria euclidiana. Servindo-nos da
análise desenvolvida por Manders (2008), em que o autor procura distinguir o que ele
chamou de elementos exatos — parte textual — e co-exatos — contribuições do dia-
grama — e sua análise do caráter cooperativo entre ambos nas provas euclidianas, pre-
tendemos discutir sob quais critérios os passos da prova que são extraídos das figuras
podem ser considerados legítimos.

Tânia Aparecida Kuhnen taniakuhnen@hotmail.com


Universidade Federal de Santa Catarina
O princípio universalizável do cuidado: integrando as diferentes orientações
morais

O objetivo deste trabalho é apresentar o princípio universalizável do cuidado, que sur-


ge da análise da habilidade do cuidado enquanto uma característica humana e da ava-
liação das consequências positivas da prática do cuidado em meio às relações. A valori-
zação do cuidado é a reivindicação de uma corrente feminista da teoria moral, emergi-
Abstracts / Resumos 151

da com a proposta de Carol Gilligan acerca da complementaridade entre as diferentes


orientações morais por ela identificadas, quais sejam, a voz voltada para os princípios,
direitos e a justiça e a perspectiva direcionada para a manutenção de vínculos de cui-
dado e da preocupação com os outros nas relações. O problema analisado ao longo
do estudo consiste em dizer de que forma é possível integrar em uma teoria moral as
perspectivas distintas da moralidade identificadas por Gilligan, visando sujeitos moral-
mente maduros a conviver em uma sociedade não mais ordenada segundo a estrutura
patriarcal das relações morais entre homens e mulheres. Inicialmente, mostra-se que
enquanto uma habilidade inerente à condição humana, o cuidado deve ser desenvol-
vido por todos os agentes morais, ao invés de ficar sob encargo de apenas um deter-
minado grupo na sociedade ordenada de forma patriarcal. Ao se entender o cuidado
como uma habilidade humana, vinculada a traços evolutivos como a empatia e exis-
tente muito antes da estruturação da sociedade pelo dualismo hierárquico que resulta
na dominação dos homens sobre as mulheres, pode-se desvincular tal habilidade da
relação historicamente estabelecida entre ela e as mulheres. Na sequência, averiguam-
se as consequências práticas do cuidado, e de sua falta, para as relações em meio a
sociedade e também nas relações para além da espécie humana. A falta de cuidado ex-
põe a vulnerabilidade humana. Para evitar os erros do cuidado é preciso considerar as
sete teses do cuidado de Torralba i Roselló. Além disso, o agente moral necessita levar
em conta a existência de diferentes formas de cuidado: didático, parental, preventivo,
curativo, restitutivo e paliativo. É essencial que o desenvolvimento da habilidade de
cuidar torne-se uma preocupação de processos educativos e que sua implementação
não fique sob responsabilidade apenas de agentes individuais, mas também do Estado
e de outras instituições públicas. Por fim, aborda-se a proposta do princípio univer-
salizável do cuidado — um princípio moral a ser aplicado a diferentes esferas sociais
e suas relações de cuidado de formatos diversos, incluindo as que se estendem para
além da espécie humana. Note-se que o cuidado não pode perder sua particularidade
em cada situação: o que fazer em cada caso depende da análise sensitiva e racional do
agente moral cuidador e responsável. Com isso, evita-se que o cuidado se torne uma
mera preocupação geral abstrata. Portanto, ao se integrar a noção de princípio moral
e a de cuidado nas relações não se perde a atenção particular inerente ao cuidado, ao
mesmo tempo em que se garante que o cuidado seja uma prática a ser universalizada
em meio as diferentes relações na sociedade.

Thadeu Weber weberth@pucrs.br


Professor nos Programas de Pós-Graduação em Direito e em Filosoa da PUCRS
Liberdade e reconhecimento na Filosoa do Direito de Hegel

O propósito do estudo é identificar e explicitar o papel desempenhado pelo reconhe-


cimento na concretização e efetivação da ideia da liberdade na Filosofia do Direito de
Hegel. Isso significa mostrar que a realização da vontade livre individual implica neces-
sariamente no reconhecimento dos outros e das instituições sociais. Dessa forma, di-
reito, liberdade e reconhecimento passam por diferentes níveis de realização. O desafio
é mostrar que nessas instâncias de mediação as vontades individuais não são enfra-
152 IX Principia International Symposium

quecidas ou eliminadas, mas, porque mediadas e reconhecidas, estão asseguradas e


fortalecidas.

Thaís Bravin Carmello thaisbravin@hotmail.com


Mestranda - Universidade Estadual de Maringá
A harmonia entre mundo ideal e mundo real na Filosoa Transcendental

Desde os seus primeiros textos de juventude, Friedrich W. J. Schelling (1775-1854) de-


monstra preocupação com a supressão total do sujeito pelo dogmatismo e do objeto
pelo criticismo (neste caso, ele próprio declara estar se referindo tanto ao dogmatismo
quanto ao criticismo em suas formas deturpadas). Sendo assim, encontra na Filosofia
Transcendental uma forma de aliar o mundo real do objeto e mundo ideal do sujeito,
sem ter que se preocupar em demonstrar a primazia de um sobre o outro. Vale destacar
que para ele a Filosofia Transcendental está ao lado da Filosofia da Natureza como uma
das ciências que compõem o sistema filosófico, tendo como objetivo principal explicar
a possibilidade do objetivo vir a coincidir com o subjetivo na apreensão do conheci-
mento.
É no System des transcendentalen Idealismus (1800) que o filósofo trata mais especi-
ficamente do modo de apreensão transcendental e traça o caminho a ser seguido pelos
filósofos transcendentais para cessar o conflito entre idealismo e realismo, ocasionan-
do assim, na harmonia entre o mundo ideal e o mundo real. Esta harmonia, isto é, a
relação equilibrada entre sujeito e objeto, só é possível quando uma atividade incons-
ciente traz à luz a natureza e uma atividade consciente se expressa no querer. Segundo
Schelling, cabe à filosofia transcendental demonstrar a identidade entre ambas que,
então, deve ser exibida no sujeito (a consciência-em-si), cujo “produto final” é a ativi-
dade estética.
Portanto, é no mundo estético que é possível, conscientemente, que o mundo ideal
(da arte) e o mundo real (dos objetos) sejam produto de uma mesma atividade. E assim,
Schelling consegue harmonizar elementos os quais, apesar de aparentemente contra-
ditórios, julga fundamentais para atingir o mais alto grau do conhecimento. Deste mo-
do, considera a própria Filosofia da Arte organon universal da filosofia, a qual aborda
com mais detalhes em Philosophie der Kunst (1803-04). Nesta obra ele propõe fazer
uma ciência da arte, exatamente porque não tem a intenção de fazer um juízo artísti-
co, mas de continuar o trabalho iniciado na obra de 1800, ou seja, demonstrar como
elementos opostos, de mundos contraditórios, tornam-se o mesmo e um só.
O objetivo deste artigo é, então, refazer os passos de Schelling, demonstrando como
é possível que elementos distintos se reconciliem, para que assim não seja necessá-
rio que um deles seja preterido e acabe por se anular, como é típico nas abordagens
mais extremas acerca das esferas ideais e reais. Afinal, para o autor, é impensável que
o verdadeiro conhecimento esteja concentrado apenas no subjetivo ou no objetivo —
eles se completam, necessitam de uma relação equilibrada. A obra base para este estu-
do será o System des transcendentalen Idealismus, tendo como apoio o Philosophie der
Kunst, obras as quais o sistema transcendental de conhecimento nos é apresentado e
Abstracts / Resumos 153

que retrata a virada estética para a harmonia entre mundos distintos, respectivamente.

Tiago de Carvalho Ponti tiagoponti@hotmail.com


PPGLM IFCS/UFRJ
Um argumento modal contra o tetradimensionalismo

O problema da persistência ao longo do tempo pode ser entendido como uma incom-
patibilidade em aceitar as seguintes teses: i) os objetos sofrem alterações em suas pro-
priedades (ou partes) ao longo do tempo; e ii) a lei de Leibniz é verdadeira (que de
maneira informal pode ser entendida como a ideia de que se dois objetos possuem as
mesmas propriedades (ou partes), então são necessariamente idênticos).
Existem duas maneiras de tentar compatibilizar estas duas teses, a saber: o tridimen-
sionalismo e o tetradimensionalismo. Para o tridimensionalismo, os objetos persistem
através do tempo estando completamente presentes em cada período de sua existên-
cia. Expressões como “o Navio de Teseu antes da batalha” e “o Navio de Teseu depois da
batalha” apontam para um mesmo particular concreto e, como afirma Loux, a reivin-
dicação de que o referente de uma expressão é a mesma coisa que o referente da outra
é uma afirmação de identidade literal.
De forma oposta, aqueles que defendem o tetradimensionalismo assumem que os
objetos persistem no tempo em virtude de possuírem partes temporais sucessivas. Nes-
te caso, as expressões “o Navio de Teseu antes da batalha” e “o Navio de Teseu depois
da batalha” apontam para partes temporais de um mesmo particular concreto: o Navio
de Teseu. Assim, um particular concreto seria uma espécie de agregado de suas partes
temporais. Entre os principais filósofos que defendem tal tese estão Quine, Lewis, Helle
e Sider.
Para Sider, a teoria das partes temporais é a afirmação de que o tempo é como o es-
paço em um ponto particular, nomeadamente, a respeito das partes. Da mesma forma
que os objetos extensos no espaço possuem partes espaciais (para um navio: a proa,
o mastro, o leme, a vela, etc.), os objetos extensos no tempo possuem partes tempo-
rais. As partes temporais são menores que o objeto como um todo em suas dimensões
temporais, assim como são menores as partes espaciais em relação ao objeto como um
todo, em suas dimensões espaciais. Segundo Heller, um objeto tetradimensional é o
conteúdo material de uma região do espaço-tempo.
Em seu artigo “The doctrine of arbitrary undetached parts” de 1981, Peter van Inwa-
gen apresenta um argumento modal contra o tetradimensionalismo: Assumimos que
Descartes possui partes temporais. Se isso é verdadeiro, então temos um objeto que
começa a existir quando Descartes começa a existir e que deixa de existir um ano antes
de Descartes deixar de existir.
Chamamos este objeto de Descartes-menos. Dada a premissa de que Descartes po-
deria ter vivido um ano a menos do que de fato viveu, temos que Descartes poderia
ter sido do mesmo tamanho que Descartes-menos (eles poderiam ocupar a mesma re-
gião do espaço-tempo). Mas dois objetos não podem ocupar uma mesma região, então
devemos rejeitar a existência de coisas como Descartes-menos (e por consequência, a
doutrina das partes temporais).
154 IX Principia International Symposium

Meu objetivo é apresentar as críticas de van Inwagen ao tetradimensionalismo, bem


como avaliar a defesa proposta por Heller.

Tiago Fontanella de Lima tiagofontanella@gmail.com


Mestrando - Universidade Federal de Santa Catarina
Os modelos cientícos de Nancy Cartwright

Este trabalho visa analisar o conceito de “modelo científico” na abordagem de Nancy


Cartwright. Na filosofia desta autora, os modelos são apresentados em dois momentos
e com características diferentes. Primeiramente em sua obra How the Laws of Physics
Lie (1983) através do conceito de modelo como “simulacro”. E posteriormente, em The
Dappled World (1999) os modelos são apresentados como “projetos de máquinas no-
mológicas”. Para tanto, faremos uma breve introdução ao antirrealismo de teorias de
Cartwright. O que nos permite compreender de melhor forma como a autora chega
ao conceito de modelo como simulacro. Em seguida pontuamos que este conceito de
modelo se relaciona com a explicação cientifica de tal forma que os modelos e as leis
fenomenológicas conduzem as teorias para a realidade. Desta maneira, as “leis funda-
mentais” são verdadeiras em relação aos objetos contidos nos modelos, ao passo que
as “leis fenomenológicas” em relação aos objetos da realidade. Aqui os modelos são
apresentados como ficções que possuem algumas propriedades que são semelhantes
as propriedades dos objetos modelados, e outras propriedades são “propriedades de
conveniência”. E essas propriedades de conveniência são aquelas que são utilizadas
para conduzir os objetos dentro dos modelos para uma teoria matematizada. Estes mo-
delos podem se aproximar mais ou menos da realidade, isto é, podem ser abstratos em
diferentes graus.
Em sua terceira obra, The Dappled World, a autora introdução sua concepção mais
interessante sobre os modelos científicos, isto é, os modelos como projetos de máqui-
nas nomológicas. Nesta obra, Cartwright faz uma aproximação entre os modelos da
física e os das ciências humanas, em especial a economia. No capítulo 3 da mencio-
nada obra, é onde se encontra uma defesa mais forte sobre o funcionamento das leis
e é apresentado o conceito de modelo como projeto de máquina nomológica. Os pro-
jetos seriam os modelos representativos e as máquinas os modelos interpretativos. Os
modelos interpretativos auxiliam na elaboração dos modelos representativos, estes úl-
timos, por sua vez, são aqueles que representam as situações mais concretas e é onde
as leis operam. Eles permitem trabalhar as situações que as teorias não conseguem
dar conta. Deste modo, os projetos são os modelos representativos que possuem as in-
formações essenciais sobre as máquinas nomológicas a que eles correspondem. Uma
máquina nomológicas é uma máquina que exibe determinadas leis. Ou seja, são “con-
figurações estáveis de componentes com determinadas capacidades apropriadamente
protegidas e postas em funcionamento continuamente” (CARTWRIGHT, 1999, p. 151).
E a autora nota que ao analisar o funcionamento das ciências matematizadas encon-
tramos um importante papel realizados pelos modelos científicos: “Quando prestamos
atenção ao funcionamento das ciências matematizadas, como a física e a economia,
encontramos um importante papel que os modelos podem desempenhar em nossos
Abstracts / Resumos 155

relatos do que acontece; e quando estudamos esses modelos cuidadosamente, vemos


que eles podem oferecer precisamente o tipo de informação que identifico em minha
caracterização de uma máquina nomológica”. (CARTWRIGHT, 1999a, p. 53). Desejemos
concluir assim, que dada esta concepção, há uma certa primazia dos modelos científi-
cos diante das teorias científicas.

Tiago Mathyas Ferrador tferrador@gmail.com


Doutorando - USP
Leis cientícas são necessárias para a ciência? A crítica de Bas van Fraassen
à concepção de lei em David Lewis

De início, nossa comunicação visa reconstruir a argumentação crítica de van Fraassen


à noção de lei (científica) em David Lewis, bem como tenciona discutir a viabilidade
e os possíveis problemas da posição empirista de van Fraassen acerca da questão das
leis na ciência.
Assim, na obra “Laws and Symmetry” (1989), van Fraassen sustenta uma interpre-
tação empirista das leis científicas, de forma que estas seriam somente leis de modelos
(de teorias científicas), princípios básicos de uma teoria científica, ou equações ele-
mentares desta. Com efeito, o filósofo empirista defende que as leis científicas não
espelham aspectos da realidade, tampouco da natureza, portanto, para o autor não
haveria leis da natureza, dado que as leis seriam apenas descrições fundamentais do
conteúdo de uma teoria científica. Desse modo, van Fraassen questiona as noções de
necessidade, de universalidade, e de causalidade, as quais subjazem o conceito de lei
científica, a fim de evitar os onerosos compromissos ontológicos — típicos em uma
interpretação realista da ciência, segundo o autor —, e igualmente propor uma alter-
nativa antirrealista e coerente com a tradição empirista.
Posto isso, van Fraassen elege especialmente a teoria de lei (científica) em David Le-
wis, exposta em “Counterfactuals” (1973), em razão de tal teoria não declinar em pres-
supostos metafísicos, em particular, nos sistemas filosóficos anteriores a Kant. Além
disso, o realismo modal de Lewis pode ser interpretado, e até eventualmente aceito
por um antirrealista, de sorte que mundos possíveis sejam ficções teóricas, no bojo da
abordagem semântica das teorias, como advoga van Fraassen. Em suma, o filósofo em-
pirista argumenta que a concepção de lei, em Lewis, tem a qualidade ser um objetivo
razoável — a busca de leis e regularidades nomológicas — para a ciência, considerando
que as leis sejam entendidas como princípios fundamentais da ciência, mas não enun-
ciados que espelham a estrutura da realidade, isto é, entidades e eventos inobserváveis.
Então, para van Fraassen, o problema no conceito lewisiano de lei — grosso modo,
as leis são sentenças que descrevem regularidades que são comuns a todas as teorias
científicas verdadeiras que conseguem a melhor combinação de simplicidade e força
— estaria na pressuposição antinominalista, conforme a qual, algumas classes corres-
pondem a distinções reais, outras não. A exemplo da teoria platônica das Formas ou
Ideias.
Assim, essa posição antinominalista não distingue necessidade verbal (de dicto) de
necessidade real (de re), ponto esse criticado por van Fraassen, visto que essa distinção
156 IX Principia International Symposium

permite aceitar a noção de lei científica sem se comprometer ontologicamente com


universais ou entidades inobserváveis.
Por fim, na nossa comunicação vamos retomar os argumentos contrários de van
Fraassen à formulação de Lewis. Do mesmo modo que vamos examinar a noção de
simetria, proposta pelo filósofo empirista, para avaliar se o autor teve êxito, ou não,
em elaborar um conceito, de extração empirista, à altura da tradicional e consagrada
noção de lei científica.

Valter Alnis Bezerra bezerra@usp.br


Departamento de Filosoa e Instituto de Estudos Avançados - USP
Estilo dedutivo de raciocínio cientíco e imagem dedutiva de ciência

O trabalho interroga a respeito da questão dos estatutos de um estilo de raciocínio cien-


tífico e de uma imagem filosófica de ciência, e acerca de como ambos os registros po-
dem estar relacionados, com especial referência ao caso de um estilo e de uma imagem
de tipo dedutivo.

Vanessa Furtado Fontana fontanessa@yahoo.com.br


UNIOESTE/Francisco Beltrão
Lebenswelt de Husserl e as neurociências

O presente estudo versa sobre a relação crítica entre a fenomenologia de Husserl e as


neurociências. Seria possível pensar a neurociência, que engloba várias ciências natu-
rais, por via de um olhar fenomenológico reduzido? Avalia-se primeiramente a questão
da possibilidade de unir a fenomenologia e estudos científicos sobre a consciência sem
perder o caráter universal da filosofia husserliana. Tal empreitada requer ainda olhar a
neurociência como possibilidade de abertura à uma leitura da consciência humana
capaz de ampliar os conhecimentos sobre temas ainda misteriosos para a neurologia.
Numa primeira etapa, deve-se mostra a relevância de resgatar o discurso da ciência,
mas a partir da metodologia fenomenológica. Fazê-lo seria simplesmente naturalizar
a fenomenologia ou reconduzir à neurociência ao campo universal dando-lhe ampli-
tude investigativa? No desenvolvimento da fenomenologia, Husserl esteve sempre co-
nectado às ciências, entre elas a psicologia. No texto “A crise das ciências europeias e
a fenomenologia transcendental” anexo XVII, Husserl diz ser o mundo científico per-
tencente ao mundo da vida (Lebenswelt). O termo lebenswelt pode ser traduzido por
mundo da vida e significa de forma sucinta a ideia da inclusão do mundo no campo
das vivências fenomenológicas. Cada divisão do mundo: material e formal; natureza,
corpo e espírito como aparece nas Idéias III, representa um mundo especifico regra-
do pela universidade particular determinada pelo seu fim profissional. Aqui Husserl
fala de “mundos” para incluir na sua filosofia os estudos de todas as ciências, e por-
tanto todas as facetas do mundo. Esta ideia permite pensar na inclusão da neurociên-
cia (como estudo interdisciplinar sobre a consciência (cérebro) no sentido biológico,
neurológico, psicológico e filosófico) nos estudos transcendentais da fenomenologia.
A explicação crítica da neurociência sob olhar husserliano não impede o progresso da
Abstracts / Resumos 157

ciência, mas apenas tem como motivo entender racionalmente e universalmente como
estes estudos podem auxiliar numa tentativa de desenvolvimento científico e humano.
A segunda etapa é saber como enquadrar a neurociência na fenomenologia. Por último,
pretende-se discutir a teoria de Antônio Damásio apresentada na obra “O mistério da
consciência”. Este autor faz uma leitura da consciência através da neurologia, seria esta
leitura naturalizante? Estariam a metafísica e a ontologia condenadas a não poderem
olhar para tais temas, ou pode-se ver uma abertura para tais questões sem o peso de
macular a universalidade da filosofia. Este trabalho pretende iniciar uma investigação
sobre a consciência em seus aspectos mais naturais. Mostrá-la como algo biológico e
neurológico não implica em perder a consciência pura. Tal estudo pretende pensar a
ciência, dar molde e unidade aos estudos existentes nas ciências mais modernas, co-
mo a neurologia e a biologia (genética), e ao mesmo tempo, aproveitar as novidades e
progresso do estudo científico para ampliar o horizonte de pesquisa fenomenológico.

Vincenzo Ciccarelli ciccarelli.vin@gmail.com


Phd Student - Universidade Estadual de Campinas
Fregean extensions, restricted comprehension, and the axiom of innity: in
search of an intensional correlate for ZFC sets

Frege’s conception of extension — as recognisable in his Grundgesetze — presents all


the main flaws of a naïve set theory: the axiom V plays the role of an unrestricted com-
prehension schema, extensions are non-well-founded collections, and within the sys-
tem it is possible to consider a “universal extension”. As consequence the theory is un-
dermined by Russell’s paradox and Cantor’s theorem of the power set. I will introduce
the article starting from the idea that extensions are not straightforwardly identifiable
with sets, insomuch as each of them is introduced respect to an intensional correlate:
the sense of a concept-expression. It will be argued that this view is essential to Fre-
ge’s logicism and to his conception of logic; indeed extensions are logical objects and
not mathematical ones. In this light, the purpose of the article is to show that all the
corrections and restrictions which led from naïve set theories to ZFC cannot be “sic et
simpliciter” applied to Frege’s system, without reducing extensions to arbitrary collec-
tions. First, the restrictions to the Axiom V proposed by G.Boolos and B.Hale will be
analysed, highlighting their impact on the fregean notion of concept. In this part I will
try to analyse to what extent the way of repairing the Axiom V by referring to “small
enough extensions” is a genuine distinction between concepts, and to what extent it is
a technical measure to avoid Russell’s paradox. In the second part of the article it will be
shown how the notion of power set cannot be translated into that of “power extension”
since the notion of “power concept” is not univocally definable. Moreover a prelimi-
nary attempt to formulate a possible conception of “iterative extension” will be carried
out by analysing the logical foundations of inductive definitions. In the last part of the
article I will focus on the difficulty of defining a universal extension through a universal
concept: it will be suggested that this task might not be performed with a fixed domain
of the discourse and I will try to evaluate whether an ontological expansion may be
justified for some kind of abstract objects. As conclusive remark, the main differences
158 IX Principia International Symposium

between the presented approach, the type theoretical approach, and the intuitionistic
one will be clarified.

You might also like