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INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DEPARTAMENTO DE PSICANÁLISE E PSICOPATOLOGIA
DISCIPLINA DE PSICOPATOLOGIA II
PROFª MARTA DAGORD
ALUNA: CAROLINA SEIBEL CHASSOT
No Brasil
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não quantitativo. Por isso, seguem abaixo os resumos completos dos 5 artigos como
ilustração, seguidos de comentários acerca dos recortes que pretendemos analisar.
Neste artigo, a autora faz uma revisão de conceitos de Freud sobre o mal-estar na
cultura e de Lacan sobre o sintoma social, procurando entender o que se produz na cultura e
no laço social entre os sujeitos. Vemos um interesse na relação da perversão com a cultura,
não enfocando seu aparecimento clínico no sujeito. Trata-se de um estudo de revisão
literária. Ela não afirma que a cultura é perversa, mas entende a perversão como um
produto de uma cultura que se baseia em relações de objeto fetichistas.
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um tratamento psicanalítico sob prescrição judicial? Ágora (Rio J.), Jan./June 2005, vol.8,
no.1, p.47-62. ISSN 1516-1498.
3. Este artigo tem como objetivo discutir o conceito de psicose em Lacan a partir da
evolução do conceito de foraclusão em seu ensino. Trata-se da passagem da idéia de uma
foraclusão do Nome do Pai na psicose como algo que, ao mesmo tempo, a particulariza e a
diferencia das outras estruturas clínicas, para a proposição de uma foraclusão generalizada,
que se estende também à neurose e à perversão. - LACET, Cristine. Da foraclusão do
Nome-do-Pai à foraclusão generalizada : considerações sobre a teoria das psicoses em
Lacan. Psicol. USP, Jan./June 2004, vol.15, no.1-2, p.243-262.
Neste artigo, a autora retoma a teoria de Lacan para defender que a foraclusão não
se restringe apenas à estrutura psicótica, e fala de uma foraclusão generalizada, presente
também na perversão. Mas não privilegia o entendimento da perversão sob esse novo olhar,
mantendo-a como um assunto periférico. Trata-se, assim como o artigo 1, de um estudo
conceitual teórico.
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relacionados ao material clínico. Algumas hipóteses são apresentadas a respeito da estrutura
psíquica da mãe, considerando a evolução observada e as mudanças de posicionamento
dessas pessoas, que levam ao estabelecimento de uma hipótese diagnóstica para a filha. -
BRUDER, Maria Cristina Ricotta. A alienação eternizada: uma abordagem estrutural de um
caso clínico. Psicol. USP, 2000, vol.11, no.1, p.189-205.
Neste estudo de caso, a autora apresenta uma análise com criança e levanta a
hipótese de que a menina estivesse servindo como fetiche para a própria mãe, que denegava
a castração – sendo, portanto, perversa. Novamente a perversão é um assunto periférico do
artigo.
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Cenário internacional
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Não especifica teoria utilizada / estudo empírico: 18
Outras teorias: 2
Quanto ao recorte temático (obs: o mesmo artigo pode entrar em mais de uma
categoria por priorizar mais de um tema simultaneamente):
Perversões sexuais: 23
- sadismo / masoquismo: 8
- homossexualismo / transexualismo: 7
- pedofilia: 1
- voyeurismo: 1
- adição sexual: 1
- não especificadas: 5
Conceito teórico / fenomenológico / histórico da perversão: 15
Crítica (review) de livros, filmes ou outras obras de arte que tenham como tema
principal a perversão: 10
Perversão e narcisismo: 10
Perversão na cultura: 7
Perversão e feminilidade / maternidade: 6
Psicopatas, assassinos, serial killers: 4
Perversão e violência / agressividade: 3
Perversão na relação amorosa / casais: 3
Perversão e clínica / transferência: 2
Superego na perversão: 2
Perversão e função paterna: 2
Perversão e pensamento: 2
Perversão e dependência química: 1
Perversão e ética: 1
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dos artigos refere-se à revisão de conceitos teóricos (64%) e utilizam como abordagem
fundamental a psicanálise (76%). O termo “perversão” permanece em grande parte sob o
domínio da psicanálise por, atualmente, referir-se a uma estrutura (ou uma formação, existe
este debate na área) inconsciente, e não a sintomas do sujeito. O termo foi abolido dos
grandes manuais diagnósticos, e os sintomas comumente relacionados à perversão foram
agrupados sob as denominações de parafilias, transtorno anti-social, transtorno de
personalidade anti-social.
Esta diferenciação remete a um aprofundamento da diferença entre o diagnóstico
psiquiátrico e o diagnóstico estrutural. A psiquiatria defende a existência de uma referência
universal de diagnósticos, permitindo unificar a linguagem utilizada para referir-se a
psicopatologias. Isto é possível através do DSM e do CID, manuais diagnósticos ateóricos,
descritores de sintomas e que não abordam as causas destes. Assim, inventariando sintomas
pode-se descobrir qual a moléstia que aflige os doentes mentais do mundo. Não se pode
deixar de apontar os méritos deste tipo de esforço pragmático, já que as diferenças teóricas
entre as incontáveis “escolas” que trabalham no campo da psicopatologia praticamente
impossibilitavam a comunicação científica neste campo. (Pereira in: Couto, 1996).
Já a psicanálise coloca-se na defesa árdua daquilo que chama de diagnóstico
estrutural. De muito mais difícil entendimento (enquanto o DSM e o CID, por serem
descritores de sintomas, não necessitam de muita formação, o diagnóstico estrutural na
psicanálise pressupõe anos de experiência clínica e de conhecimento teórico), este
diagnóstico parte da premissa de que existem estruturas psíquicas que não dependem de
sintomas associados. Essas estruturas correspondem à neurose, perversão e psicose
(salientando, novamente, que não há consenso na colocação da perversão como estrutura, e
este assunto deve ser aprofundado pelos meus colegas de grupo), e cada uma diz respeito à
forma de o indivíduo, na transferência, “lidar com a falta inscrita na subjetividade, que
condiciona a modalidade de cada um se haver com o sexo, o desejo, a lei, a angústia e a
morte, (...) conforme a posição do sujeito no Édipo em relação ao gozo”. (Quinet, 2001). A
grande crítica da psicanálise a este modelo comportamental (chamado assim porque remete
aos sintomas como comportamentos observáveis) é ao reducionismo que leva à exclusão da
subjetividade da prática psiquiátrica. O sintoma deixa de ser visto como uma produção do
inconsciente e passa a ser visto como fonte de sofrimento que deve ser eliminado
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diretamente, sem qualquer preocupação com suas causas. A psicanálise propõe “tratar o
sujeito do sintoma” enquanto a psiquiatria propõe o tratamento “do sintoma do sujeito”.
Justamente por esse motivo, encontramos poucos estudos empíricos dentro do
campo da perversão, sendo que estes se restringem à metodologia dos estudos de caso. Fica
nítido que, na produção de conhecimento psicanalítica, a ênfase recai sobre a elucidação de
conceitos a partir de autores anteriores, ancorando o estudo (acredita-se) em uma prática
clínica difusa, não especificada, que se soma aos conhecimentos do autor mas não é
utilizada como ilustração ou como “comprovação” da teoria. A psicanálise busca refinar os
conceitos (e nisso não procura chegar a consensos) que serão utilizados como ferramentas
na clínica de sujeitos singulares, ao invés de utilizar os dados da análise de sujeitos como
forma de generalizar premissas acerca do ser humano.
O estudo de casos clínicos aparece como método secundariamente utilizado na
pesquisa sobre perversão (22%). Chama a atenção a quantidade relativamente alta (11%) do
uso de obras de arte como formas de compreender a perversão – um método bastante
“renegado” em pesquisas científicas. A aproximação histórica da psicanálise com a arte fica
registrada nesse tipo de estudo.
É interessante notar também que grande parte (62%) das pesquisas com orientação
psicanalítica não apresentam qual a vertente psicanalítica que seguem. Um dado curioso e
talvez preocupante, em se tratando de uma área de estudo que não se apresenta com um
corpo unificado de conhecimento e que é marcada profundamente por dissidências.
Podemos relativizar esse dado relembrando que tivemos acesso apenas aos resumos dos
artigos. De qualquer forma, este dado nos parece relevante o suficiente para ser citado no
resumo, e sua ausência pode indicar uma banalização do fazer psicanalítico a partir de
conceitos pinçados aleatoriamente com pouca consistência teórico-epistemológica.
Finalizando, percebemos que quanto aos recortes temáticos a perversão é
grandemente remetida a sua expressão no campo sexual (26% dos artigos totais, 35% dos
artigos temáticos). Talvez pela importância dada a este campo em toda a psicanálise, sendo
que muitos autores (como Aulagnier-Spaironi, 2003) reduzem a estrutura perversa às
perversões sexuais.
A grande presença de estudos acerca da feminilidade é interessante e algo
surpreendente. Como a perversão é uma estrutura (?) clínica encontrada majoritariamente
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em homens e relacionada com o conflito edípico masculino, é interessante notar este
interesse naquilo que seria algo “dissidente” e que poderia trazer à tona um novo
entendimento acerca da perversão.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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