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Marcos Aurélio Pereira Valadão.
O autor é Mestre em Direito Público (UnB), Pós-
graduado em Administração Tributária (UCG), MBA
pelo IBMEC-DF, Professor de Direito Tributário da UCB
(graduação e pós-graduação) e Coordenador de
Tributos sobre Produção e Comércio Exterior da
Cosit/SRF.
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Diga-se que tal sistema de tributação favorecida é consentâneo com o art. 179 da Constituição, que
dispõe:
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Atualmente a referida MP está sendo reeditada sob o número base 2.113, e traz, nesta versão da
MP, a referida revogação em seu art. 54, inciso IV.
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Roosevelt Baldomir SOSA leciona: “[...] a missão da Alfândega não pode mais ser encarada como
uma função estatal do tipo fiscalizar as operações de Comércio Exterior. O que se denuncia é o viés
equivocado do verbo ‘fiscalizar’, ainda preso culturalmente a uma situação exclusiva de poder e força. Longe
vão os tempos em que o poder aduaneiro era sintetizado na guarda de fronteira ou na revista de bagagens nos
aeroportos” (A aduana e o comércio exterior, São Paulo: Aduaneira, 1995, p. 13), e adiante: "Uma das
características da Alfândega, ou Aduana, é seu caráter universal. Desconhece-se nação politicamente
organizada que não disponha de uma instituição aduaneira. Sua função, ou missão institucional, é
praticamente a mesma em qualquer lugar do mundo, competindo-lhe o controle das mercadorias que
ingressam ou saem de seu país em operações de importação e exportação, assim como o controle dos
veículos transportadores que demandam os portos, aeroportos ou fronteiras nacionais. Igualmente cabe à
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Aduana o controle das pessoas que, como tripulação ou equipagem, guarnecem os veículos transportadores,
assim, como aquelas que transitam em viagens internacionais, a passeio ou a negócios.” (ibidem, p. 43).
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Destacam-se: Secretaria de Assuntos Estratégicos, Ministério da Aeronáutica, Ministério da
Agricultura e do Abastecimento, Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior, Ministério
do Exército, Ministério de Minas e Energia, Ministério dos Transportes, Ministério das Comunicações
(serviço postal, collis postaux), Ministério da Justiça, Ministério da Marinha, Ministério do Meio Ambiente,
Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Saúde e, em especial, a CAMEX (Câmara de Comércio
Exterior).
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O Decreto nº 660, de 25 de setembro de 1992, instituiu o Sistema Integrado de Comércio Exterior
- SISCOMEX, que integra as atividades de registro, acompanhamento e controle das operações de comércio
exterior, mediante fluxo único e computadorizado, de informações, o qual está em operação desde 1993 para
as operações de exportação e desde 1997 para as de importação.
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Dispõe o art. 46, inciso I, do Código Tributário Nacional:
Art. 46. O imposto, de competência da União, sobre produtos industrializados tem
como fato gerador:
I – o seu desembaraço aduaneiro, quando de procedência estrangeira;
[...]
4. O DESLINDE DA QUESTÃO.
Com relação ao IPI basta que a empresa opte pelo SIMPLES para que,
uma vez sendo contribuinte deste imposto, passe a sofrer o ônus tributário
respectivo com base em 0,5% do faturamento (percentual único). Com relação ao
ICMS, depende de convênio entre o Estado onde está localizado o
estabelecimento e a Secretaria da Receita Federal, sendo que neste caso a
tributação vai depender da amplitude do faturamento da empresa, podendo
chegar a 2,5% 8.
Deve-se fazer interpretação sistemática da Lei nº 9.317/1996 para se ter a
melhor aplicação da mesma em relação à tributação pelo IPI/ICMS vinculado,
Art. 32. Fato gerador do imposto é (Lei nº 4.502, de 1964, art. 2º):
I - o desembaraço aduaneiro de produto de procedência estrangeira;
II - a saída de produto do estabelecimento industrial, ou equiparado a industrial.
Ou seja, as empresas que importam diretamente produtos do exterior são equiparadas a contribuintes
do IPI e o fato gerador ocorre quando do respectivo desembaraço aduaneiro desses produtos, sendo o IPI
cobrado quando do registro da Declaração de Importação, via débito automático em conta corrente bancária,
de acordo com as normas de importação em vigor (art. 7º da IN SRF nº 69, de 1996, combinado com o art. 1º
IN SRF nº 98 de 97).
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A Lei Complementar nº 87, de 1996, que é a norma geral do ICMS, traz os seguintes dispositivos
sobre a matéria:
Art. 2º O imposto incide sobre:
[...]
§ 1º O imposto incide também:
I - sobre a entrada de mercadoria importada do exterior, por pessoa física ou
jurídica, ainda quando se tratar de bem destinado a consumo ou ativo permanente do
estabelecimento;
II - sobre o serviço prestado no exterior ou cuja prestação se tenha iniciado no
exterior;
[...]
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O AD SRF nº 34, de 19 de maio de 2000 (DOU de 23/05/2000, p. 12) dispõe:
O SECRETÁRIO DA RECEITA FEDERAL, no uso de suas atribuições e tendo
em vista as disposições da Lei nº 9.317, de 05 de dezembro de 1996, da Instrução
Normativa nº 9, de 10 de fevereiro de 1999 e da Medida Provisória nº 1.991-15, de 10 de
março de 2000, declara:
I - as pessoas jurídicas cuja receita decorrente da venda de bens importados seja
superior a 50% (cinqüenta por cento) de sua receita bruta total e as que realizem operações
relativas à importação de produtos estrangeiros poderão optar pelo Sistema Integrado de
Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno
porte – SIMPLES;
II - a opção de que trata o item anterior, efetuada no ano-calendário de 2000 ou até
o último dia útil do mês de fevereiro de 2001, submeterá a pessoa jurídica à sistemática do
SIMPLES a partir do primeiro dia do ano-calendário de 2001;
III - no caso de início de atividade, no ano-calendário de 2000, a opção, a ser
formalizada por meio da Ficha Cadastral da Pessoa Jurídica – FCPJ, submete a optante à
sistemática do SIMPLES no próprio ano-calendário de 2000.
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Dizia o Ato Declaratório Normativo COSIT nº 06, de 12 de junho de 1998 (DOU de 16/06/1998,
p. 12) que “a exclusão do SIMPLES decorrente da importação de produtos estrangeiros somente será
efetivada, mediante comunicação da pessoa jurídica ou de ofício, quando a importação se referir a produtos
destinados à comercialização.”. Tal Ato foi revogado pela IN SRF nº 30, de 30 de março de 2001, mas sem
interrupção de sua força normativa, visto que aplicável às situações anteriores à alteração da Lei nº
9.317/1996.
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Dizem os §§ 5º e 6º do art. 5º da Lei nº 9.317/96:
Art. 5º...
§ 5º A inscrição no SIMPLES veda, para a microempresa ou empresa de pequeno
porte, a utilização ou destinação de qualquer valor a título de incentivo fiscal, bem assim a
apropriação ou a transferência de créditos relativos ao IPI e ao ICMS.
§ 6º O disposto no parágrafo anterior não se aplica relativamente ao ICMS, caso a
Unidade Federada em que esteja localizada a microempresa ou a empresa de pequeno porte
não tenha aderido ao SIMPLES, nos termos do art. 4º.
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A interpretação distorcida da legislação tributária pode levar à elisão fiscal, também denominada
“evasão lícita”. Vide, a respeito, a obra de Marco Aurélio GRECO, Planejamento fiscal e interpretação da
lei tributária, São Paulo: Dialética, 1998, em especial o capítulo 3 da II Parte: “Ensaio sobre o modelo de
interpretação da lei tributária”, p. 150-181.
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Na verdade este parágrafo 2º é totalmente despiciendo. Bastaria a Lei dizer quais os impostos que
estão no Sistema. Os que não estão no Sistema não seriam mencionados, e o efeito seria mesmo.
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O valor aduaneiro pode diferir do valor da importação, em virtude dos critérios de valoração
aduaneira contidos no GATT/OMC e inseridos no ordenamento brasileiro pelo Decreto nº 1.355, de 1994,
complementado pelo Decreto nº 2.498, de 13 de fevereiro de 1998.
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Como já foi dito, no SIMPLES, a empresa contribuinte do IPI tem um acréscimo de 0,5% no
percentual a ser pago, independentemente da faixa de receita bruta, mas com relação ao ICMS, a alíquota
varia de zero até 2,5%, dependendo do faturamento anual.
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faturamento anual, além do que, nessa hipótese, o próprio IPI compõe a base de
cálculo do ICMS (art. 13, inciso V, alínea c, da Lei Complementar nº 87/1996).
Além disto, entender-se desta forma poderia fazer com que os Estados criassem
restrições ao enquadramento dessas empresas no Sistema, quando da realização
dos convênios.
Ou seja, tributar-se com 0,5%, a título de IPI, e com outro percentual, a
título de ICMS, a despesa de empresa enquadrada no SIMPLES, quando da
importação de produtos destinados ao comércio, carece de fundamentação legal.
Para que tal situação ocorresse, haveria necessidade de expressa previsão na
Lei nº 9.317/1996.
Ressalte-se que o IPI e o ICMS, incidentes na importação, são impostos
internos e nada têm a ver, também, com o II (exceto tê-lo como integrante de sua
base de cálculo), e não têm efeitos de controle do fluxo de importações (que é
função do II), inclusive por determinação do GATT/OMC, embora tenha o efeito
de igualar o tratamento tributário do produto importado ao do produto interno –
técnica utilizada em todos os países que adotam impostos não cumulativos
(casos do IPI e do ICMS)16.
No que diz respeito às obrigações acessórias a serem cumpridas pelas
empresas optantes pelo SIMPLES, e considerando-se os controles necessários à
atividade de importação regular, entende-se que os mesmos não são
incompatíveis com as atividades das empresas enquadradas no Sistema, em
especial, considerando-se que o faturamento destas empresas pode atingir R$
1.200.000,00. Assim, não existem maiores problemas para o débito em conta
para pagamento do II e do IPI vinculado, como sucede normalmente com as
demais empresas importadoras.
5. C ONCLUSÕES
1. A Lei nº 9.317/1996, ao referir-se ao IPI e ao ICMS, só abrange a
hipótese de incidência referente à saída de mercadorias do estabelecimento, i.e.,
relativos aos fatos geradores que originam a receita bruta da empresa (base de
cálculo do SIMPLES).
2. A tributação do IPI e do ICMS nas operações de importação em outros
moldes que não os previstos na legislação específica sobre a matéria, i. e., com
base nas alíquotas previstas na Lei nº 9.317/1996, só pode ser feita se houver
expressa previsão legal.
3. A não cobrança do IPI e do ICMS nas operações de importação das
empresas optantes pelo SIMPLES configura concessão de isenção sem respaldo
legal.
4. As empresas optantes pelo SIMPLES devem submeter-se às obrigações
acessórias a que estão obrigadas as empresas que atuam na importação regular
de produtos estrangeiros.
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O IPI e ICMS são tributos internos cobrados na importação, seja de produtos e mercadorias
destinados ao comércio, seja dos destinados ao ativo imobilizado das empresas, constituindo-se benefício
fiscal sua desoneração, o que deve sempre decorrer de lei específica (art. 150, § 6º da CF/88).
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6. B IBLIOGRAFIA .
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. 11ª ed. Atualizada por Misabel
Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 1999.
http://www.receita.fazenda.gov.br/
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/MPV/Principal.htm