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O IPI E O ICMS NAS OPERAÇÕES DE IMPORTAÇÃO DAS EMPRESAS


OPTANTES PELO SIMPLES

SUMÁRIO: 1. INTRODUÇÃO: O SIMPLES E SUAS


ALTERAÇÕES EM RELAÇÃO ÀS OPERAÇÕES DE IMPORTAÇÃO.
2. S ISTEMA ADUANEIRO, IPI E ICMS. 3. A QUESTÃO QUE SE
COLOCA : COMO SE DÁ A TRIBUTAÇÃO PELO IPI VINCULADO E
PELO ICMS NAS IMPORTAÇÕES DE OPTANTES PELO
SIMPLES? 4. O DESLINDE DA QUESTÃO 5. CONCLUSÕES .
6. B IBLIOGRAFIA .

____________________________________________
Marcos Aurélio Pereira Valadão.
O autor é Mestre em Direito Público (UnB), Pós-
graduado em Administração Tributária (UCG), MBA
pelo IBMEC-DF, Professor de Direito Tributário da UCB
(graduação e pós-graduação) e Coordenador de
Tributos sobre Produção e Comércio Exterior da
Cosit/SRF.

1. INTRODUÇÃO: O SIMPLES E SUAS ALTERAÇÕES EM RELAÇÃO ÀS OPERAÇÕES


DE IMPORTAÇÃO.

A Lei nº 9.317, de 5 de dezembro de 1996, que instituiu o Sistema


Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das
Empresas de Pequeno Porte (SIMPLES), traz no seu art. 9º, diversas restrições
no sentido de vedar a algumas atividades a opção pelo Sistema. Como é sabido,
o SIMPLES é uma modalidade de tratamento tributário simplificado para essas
empresas, englobando os principais impostos e contribuições do sistema
tributário nacional1. Com relação às mencionadas restrições à opção pelo
Sistema, diz o art. 9º da Lei nº 9.317/1996, na redação original:

Art. 9º Não poderá optar pelo SIMPLES, a pessoa jurídica:


[...]

1
Diga-se que tal sistema de tributação favorecida é consentâneo com o art. 179 da Constituição, que
dispõe:

Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às


microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico
diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas,
tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de
lei.
2

XI - cuja receita decorrente da venda de bens importados seja


superior a 50% (cinqüenta por cento) de sua receita bruta total;
XII - que realize operações relativas a:
a) importação de produtos estrangeiros;
[...] (negritou-se).

De acordo com a exposição de motivos da Medida Provisória nº 1.526, de


5 de novembro de 1996, que foi convertida na Lei nº 9.317/1996, as exclusões
enumeradas no art. 9º tratavam-se de incompatibilidade de determinadas
atividades com o regime proposto e com o favor fiscal a ser concedido.
As questões discutidas neste estudo dizem respeito à hipótese do inciso
XII, alínea "a" do art. 9º, que foi revogado expressamente pelo art. 47, inciso IV,
da MP nº 1.991-15 de 10 de março de 2000 e reedições posteriores. Essa
hipótese referia-se à empresa optante pelo SIMPLES quando importador direto, já
que no caso do art. 9º, inciso XI (também revogado), tratava-se de mera revenda
de produtos importados por terceiros (o art. 41 da mesma MP autoriza a criação
de obrigações acessórias para os optantes do Sistema que realizarem operações
de importação) 2.
Desta forma, a partir da publicação da referida MP não mais subsiste a
restrição para empresas optantes pelo SIMPLES de atuarem no mercado de
importação de produtos estrangeiros.

2. S ISTEMA ADUANEIRO, IPI E ICMS.


Pode-se conceituar o sistema aduaneiro como o conjunto de normas e
instalações administrativas que tem por objetivo controlar o tráfego de bens e
pessoas, o trânsito de veículos pelo território aduaneiro e a cobrança dos tributos
que incidem nas atividades de importação e exportação e, também, dos demais
direitos aduaneiros. Assim, o sistema aduaneiro objetiva mais que o simples
controle alfandegário do comércio exterior.
De se ressaltar que os ditos controles não se referem somente às
finalidades tributárias e à cobrança de direitos aduaneiros, mas também objetivam
monitorar aspectos zoo-fitosanitários nas exportações e importações de produtos
de origem animal e vegetal e relativos à saúde humana, e envolvem, também,
aspectos ambientais, cambiários, controle de importação de determinados
produtos (armas, medicamentos, etc) 3.

2
Atualmente a referida MP está sendo reeditada sob o número base 2.113, e traz, nesta versão da
MP, a referida revogação em seu art. 54, inciso IV.
3
Roosevelt Baldomir SOSA leciona: “[...] a missão da Alfândega não pode mais ser encarada como
uma função estatal do tipo fiscalizar as operações de Comércio Exterior. O que se denuncia é o viés
equivocado do verbo ‘fiscalizar’, ainda preso culturalmente a uma situação exclusiva de poder e força. Longe
vão os tempos em que o poder aduaneiro era sintetizado na guarda de fronteira ou na revista de bagagens nos
aeroportos” (A aduana e o comércio exterior, São Paulo: Aduaneira, 1995, p. 13), e adiante: "Uma das
características da Alfândega, ou Aduana, é seu caráter universal. Desconhece-se nação politicamente
organizada que não disponha de uma instituição aduaneira. Sua função, ou missão institucional, é
praticamente a mesma em qualquer lugar do mundo, competindo-lhe o controle das mercadorias que
ingressam ou saem de seu país em operações de importação e exportação, assim como o controle dos
veículos transportadores que demandam os portos, aeroportos ou fronteiras nacionais. Igualmente cabe à
3

Muitos órgãos estatais têm influência no âmbito sistema aduaneiro4.


Contudo, a Constituição garante em seu art. 237 que a fiscalização e o controle
sobre o comércio exterior, essenciais à defesa dos interesses fazendários
nacionais, serão exercidos pelo Ministério da Fazenda – o que infirma a
prevalência desse Ministério sobre os demais, em matéria de controle aduaneiro.
O comércio exterior é de fundamental importância para a economia de um
país. Por essa razão, os governos sempre intervêm no fluxo comercial, exercendo
controles, de forma a alcançar os objetivos traçados em sua política de
desenvolvimento, por meio de diversos órgãos, em suas diversas esferas de
atuação.
Dentre esses órgãos, distinguem-se os de planejamento e comando
político e os ligados à normalização. Além destes, há os de controle específicos:
meio ambiente (poluentes), militares (armamentos), agricultura (controle zoo-
fitossanitário, saúde animal) e saúde (drogas e saúde humana). Os controles
podem chegar a ponto de impedir a importação de determinado produto em
decorrência da possibilidade de haver contaminação de espécies brasileiras por
organismos que não existam aqui.
Considerando-se que a atividade de importação deve ser controlada pelo
Estado, se uma empresa, ainda que optante pelo SIMPLES, tem a atividade de
importação regular, não se pode furtar aos controles normais da atividade,
implementadas por meio do SISCOMEX5. Desta forma, deverá ter seu registro de
importador na SECEX e todas as demais obrigações acessórias inerentes ao
Sistema. Em suma, além dos controles relativos ao Imposto de Importação (II), a
atividade de importação é, necessariamente, cercada desses cuidados, por
razões diversas (controles fitosanitários, de segurança nacional etc).
Ademais, nas operações de importação estão envolvidos outros tributos
além do Imposto de Importação, em especial o IPI (de competência da União) e o
ICMS (de competência dos Estados).

3. A QUESTÃO QUE SE COLOCA : COMO SE DÁ A TRIBUTAÇÃO PELO IPI VINCULADO E PELO


ICMS NAS IMPORTAÇÕES DE OPTANTES PELO SIMPLES?
A tributação com relação ao IPI e ao ICMS pode ensejar questionamentos,
porquanto estes impostos estão inseridos na sistemática do SIMPLES, conforme

Aduana o controle das pessoas que, como tripulação ou equipagem, guarnecem os veículos transportadores,
assim, como aquelas que transitam em viagens internacionais, a passeio ou a negócios.” (ibidem, p. 43).
4
Destacam-se: Secretaria de Assuntos Estratégicos, Ministério da Aeronáutica, Ministério da
Agricultura e do Abastecimento, Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior, Ministério
do Exército, Ministério de Minas e Energia, Ministério dos Transportes, Ministério das Comunicações
(serviço postal, collis postaux), Ministério da Justiça, Ministério da Marinha, Ministério do Meio Ambiente,
Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Saúde e, em especial, a CAMEX (Câmara de Comércio
Exterior).
5
O Decreto nº 660, de 25 de setembro de 1992, instituiu o Sistema Integrado de Comércio Exterior
- SISCOMEX, que integra as atividades de registro, acompanhamento e controle das operações de comércio
exterior, mediante fluxo único e computadorizado, de informações, o qual está em operação desde 1993 para
as operações de exportação e desde 1997 para as de importação.
4

previsto na Lei nº 9.317/1996, e a alteração introduzida pela inaugural MP nº


1.991/2000, possibilita às empresas optantes atuarem no ramo de importação
direta.
O art. 3º da Lei nº 9.317/1996 inclui o IPI e seu art. 4º inclui o ICMS,
mediante convênio da União com os Estados. Dizem os artigos referidos:

Art. 3º A pessoa jurídica enquadrada na condição de microempresa e de


empresa de pequeno porte, na forma do art. 2º, poderá optar pela inscrição no
Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das
Microempresas e Empresas de Pequeno Porte - SIMPLES.
§ 1º A inscrição no SIMPLES implica pagamento mensal unificado dos
seguintes impostos e contribuições:
[...]
e) Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI;
[...]

Art. 4º [Alterado pelo art. 3º da Lei nº 9.732, de 1998.] O SIMPLES poderá


incluir o Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias
e sobre Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal - ICMS ou
o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza - ISS devido por
microempresas e empresa de pequeno porte, desde que a Unidade Federada ou
o município em que esteja estabelecida venha a ele aderir mediante convênio.
§ 1º Os convênios serão bilaterais e terão como partes a União, representada
pela Secretaria da Receita Federal, e a Unidade Federada ou o município,
podendo limitar-se à hipótese de microempresa ou de empresa de pequeno
porte.
[...] (negritou-se).

Atualmente, no que se refere a impostos e contribuições federais, a matéria


está regulamentada na Instrução Normativa SRF nº 43, de 30 de março de 2001,
que disciplinou inteiramente a matéria e incorporou as alterações havidas
legislação de regência até a data de sua publicação.
Considerando-se que o IPI e o ICMS são elencados como impostos
integrantes do SIMPLES e que o denominado "IPI vinculado" e o ICMS incidem
na importação (o fato gerador do IPI vinculado é o desembaraço aduaneiro 6 e o

6
Dispõe o art. 46, inciso I, do Código Tributário Nacional:
Art. 46. O imposto, de competência da União, sobre produtos industrializados tem
como fato gerador:
I – o seu desembaraço aduaneiro, quando de procedência estrangeira;
[...]

Dizem os arts. 9º e 32 do Decreto nº 2.637, de 1998 (RIPI/98):


Art. 9º Equiparam-se a estabelecimento industrial:
I - os estabelecimentos importadores de produtos de procedência estrangeira, que
derem saída a esses produtos (Lei nº 4.502, de 1964, art. 4º, inciso I);
II - os estabelecimentos, ainda que varejistas, que receberem, para
comercialização, diretamente da repartição que os liberou, produtos importados por outro
estabelecimento da mesma firma;
5

do ICMS considera-se ocorrido, também, no desembaraço aduaneiro 7), surge


questão: as empresas optantes pelo Sistema devem pagar o IPI e o ICMS nas
operações de importação?
Há entendimentos divergentes. Adiante, tratar-se-á de elucidar a questão.
Doravante, para se evitar repetição de termos, quando nos referirmos ao
IPI e ao ICMS incidentes nas operações de importação, sem invidualizar um
destes impostos especificamente, diremos simplesmente "IPI/ICMS vinculado".

4. O DESLINDE DA QUESTÃO.
Com relação ao IPI basta que a empresa opte pelo SIMPLES para que,
uma vez sendo contribuinte deste imposto, passe a sofrer o ônus tributário
respectivo com base em 0,5% do faturamento (percentual único). Com relação ao
ICMS, depende de convênio entre o Estado onde está localizado o
estabelecimento e a Secretaria da Receita Federal, sendo que neste caso a
tributação vai depender da amplitude do faturamento da empresa, podendo
chegar a 2,5% 8.
Deve-se fazer interpretação sistemática da Lei nº 9.317/1996 para se ter a
melhor aplicação da mesma em relação à tributação pelo IPI/ICMS vinculado,

Art. 32. Fato gerador do imposto é (Lei nº 4.502, de 1964, art. 2º):
I - o desembaraço aduaneiro de produto de procedência estrangeira;
II - a saída de produto do estabelecimento industrial, ou equiparado a industrial.

Ou seja, as empresas que importam diretamente produtos do exterior são equiparadas a contribuintes
do IPI e o fato gerador ocorre quando do respectivo desembaraço aduaneiro desses produtos, sendo o IPI
cobrado quando do registro da Declaração de Importação, via débito automático em conta corrente bancária,
de acordo com as normas de importação em vigor (art. 7º da IN SRF nº 69, de 1996, combinado com o art. 1º
IN SRF nº 98 de 97).
7
A Lei Complementar nº 87, de 1996, que é a norma geral do ICMS, traz os seguintes dispositivos
sobre a matéria:
Art. 2º O imposto incide sobre:
[...]
§ 1º O imposto incide também:
I - sobre a entrada de mercadoria importada do exterior, por pessoa física ou
jurídica, ainda quando se tratar de bem destinado a consumo ou ativo permanente do
estabelecimento;
II - sobre o serviço prestado no exterior ou cuja prestação se tenha iniciado no
exterior;
[...]

Art. 12. Considera-se ocorrido o fato gerador do imposto no momento:


[...]
VI - do ato final do transporte iniciado no exterior;
[...]
IX - do desembaraço aduaneiro das mercadorias importadas do exterior;
[...] (negritou-se).
8
Os Estados do Maranhão e Rondônia e o Distrito Federal aderiram ao Sistema, mas posteriormente
denunciaram o convênio. Atualmente não há nenhum convênio do SIMPLES estadual em vigor, o que não
desnatura o presente estudo, com relação ao ICMS, considerando-se a possibilidade teórica de cobrança.
6

após a modificação introduzida no Sistema, que passou a permitir a atuação das


empresas optantes pelo SIMPLES no setor de importação 9. Antes da citada
alteração, as empresas optantes, quando importavam bens para o ativo
imobilizado, pagavam o IPI/ICMS vinculado (salvo benefício fiscal específico). O
que era vedada era a atividade de comerciante de bens importados 10, e não a
simples importação, por exemplo, de um equipamento para o ativo permanente, a
qual era tributada normalmente.
Entende-se que o IPI/ICMS vinculado deve ser pago pela mesma razão
que devem ser pagos o IPI e o ICMS nas aquisições, no mercado interno, pelas
empresas que optaram pelo SIMPLES. É que, nesta situação, tais impostos
devem ser assumidos como custo, já que as empresas optantes não estão
sujeitas ao regime de débitos e créditos destes impostos 11. Não há que se cogitar,
aqui, das figuras do contribuinte de fato e do contribuinte de direito.
O IPI e o ICMS referentes às aquisições (custos), sejam nas aquisições no
mercado interno, sejam nas importações, não estão inseridos no contexto da Lei
nº 9.317/1996 - é esta a interpretação correta, trata-se de interpretação

9
O AD SRF nº 34, de 19 de maio de 2000 (DOU de 23/05/2000, p. 12) dispõe:
O SECRETÁRIO DA RECEITA FEDERAL, no uso de suas atribuições e tendo
em vista as disposições da Lei nº 9.317, de 05 de dezembro de 1996, da Instrução
Normativa nº 9, de 10 de fevereiro de 1999 e da Medida Provisória nº 1.991-15, de 10 de
março de 2000, declara:
I - as pessoas jurídicas cuja receita decorrente da venda de bens importados seja
superior a 50% (cinqüenta por cento) de sua receita bruta total e as que realizem operações
relativas à importação de produtos estrangeiros poderão optar pelo Sistema Integrado de
Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno
porte – SIMPLES;
II - a opção de que trata o item anterior, efetuada no ano-calendário de 2000 ou até
o último dia útil do mês de fevereiro de 2001, submeterá a pessoa jurídica à sistemática do
SIMPLES a partir do primeiro dia do ano-calendário de 2001;
III - no caso de início de atividade, no ano-calendário de 2000, a opção, a ser
formalizada por meio da Ficha Cadastral da Pessoa Jurídica – FCPJ, submete a optante à
sistemática do SIMPLES no próprio ano-calendário de 2000.
10
Dizia o Ato Declaratório Normativo COSIT nº 06, de 12 de junho de 1998 (DOU de 16/06/1998,
p. 12) que “a exclusão do SIMPLES decorrente da importação de produtos estrangeiros somente será
efetivada, mediante comunicação da pessoa jurídica ou de ofício, quando a importação se referir a produtos
destinados à comercialização.”. Tal Ato foi revogado pela IN SRF nº 30, de 30 de março de 2001, mas sem
interrupção de sua força normativa, visto que aplicável às situações anteriores à alteração da Lei nº
9.317/1996.
11
Dizem os §§ 5º e 6º do art. 5º da Lei nº 9.317/96:

Art. 5º...
§ 5º A inscrição no SIMPLES veda, para a microempresa ou empresa de pequeno
porte, a utilização ou destinação de qualquer valor a título de incentivo fiscal, bem assim a
apropriação ou a transferência de créditos relativos ao IPI e ao ICMS.
§ 6º O disposto no parágrafo anterior não se aplica relativamente ao ICMS, caso a
Unidade Federada em que esteja localizada a microempresa ou a empresa de pequeno porte
não tenha aderido ao SIMPLES, nos termos do art. 4º.
7

sistemática, considerando-se que a tributação do Sistema está baseada na


receita bruta 12.
Para se chegar a esta conclusão, basta o cotejo do art. 3º com o art. 5º da
citada Lei, de forma que se torna evidente que a tributação pelo SIMPLES não
tem por objetivo incluir o IPI vinculado no Sistema, posto que este não está
relacionado ao faturamento, e sim a custos. É por este mesmo motivo que a
empresa optante pelo SIMPLES, quando adquire produtos tributados pelo IPI,
paga esse imposto normalmente, apesar de ele estar contido no rol do § 1º do art.
3º da Lei nº 9.317/96 - é que, como já foi dito, o IPI ali referido é o IPI normal do
faturamento da empresa. Não se cogitou desonerar, ou dar tratamento
diferenciado, ao IPI das aquisições, e o IPI vinculado pertence a esta categoria. O
mesmo raciocínio se aplica ao ICMS.
O argumento de que o IPI vinculado, para estar excluído da sistemática do
SIMPLES, deveria estar expresso no § 2º do mesmo art. 3º da Lei nº 9.317/1996
é falho. Primeiro porque o rol ali contido é exemplificativo 13, segundo porque o rol
do § 1º é que é restritivo. Terceiro, se não se quisesse a tributação relativamente
ao IPI vinculado, aí sim, é que deveria haver a exclusão expressa, já que o IPI do
Sistema é o IPI do faturamento da própria empresa optante, e não aquele contido
em suas despesas. O que também se aplica ao ICMS.
Aceitar-se que as empresas optantes pelo SIMPLES não devem pagar o
IPI/ICMS vinculado é conceder-lhes isenção sem base legal. Lembrando-se que a
concessão de isenção só pode ser feita mediante a edição de lei específica,
conforme dispõe o art. 150, § 6º, da CF/88.
Com relação, especificamente, ao IPI vinculado, entender-se que devem
pagar 0,5 % sobre o valor da importação (seria esta sua base de cálculo?) é
desvirtuar toda sistemática do IPI cobrado na importação, já que a base de
cálculo do IPI vinculado é o valor aduaneiro 14 acrescido do II. Observando-se que
o valor aduaneiro nada tem a ver com a base de cálculo do IPI no SIMPLES.
No caso do ICMS a situação se afiguraria ainda mais esdrúxula. Se
prevalecesse o entendimento de que deveria ser feita a tributação pela
sistemática do SIMPLES nas operações de importação, cada empresa optante
teria uma alíquota diferenciada15 na importação, em função do montante do seu

12
A interpretação distorcida da legislação tributária pode levar à elisão fiscal, também denominada
“evasão lícita”. Vide, a respeito, a obra de Marco Aurélio GRECO, Planejamento fiscal e interpretação da
lei tributária, São Paulo: Dialética, 1998, em especial o capítulo 3 da II Parte: “Ensaio sobre o modelo de
interpretação da lei tributária”, p. 150-181.
13
Na verdade este parágrafo 2º é totalmente despiciendo. Bastaria a Lei dizer quais os impostos que
estão no Sistema. Os que não estão no Sistema não seriam mencionados, e o efeito seria mesmo.
14
O valor aduaneiro pode diferir do valor da importação, em virtude dos critérios de valoração
aduaneira contidos no GATT/OMC e inseridos no ordenamento brasileiro pelo Decreto nº 1.355, de 1994,
complementado pelo Decreto nº 2.498, de 13 de fevereiro de 1998.
15
Como já foi dito, no SIMPLES, a empresa contribuinte do IPI tem um acréscimo de 0,5% no
percentual a ser pago, independentemente da faixa de receita bruta, mas com relação ao ICMS, a alíquota
varia de zero até 2,5%, dependendo do faturamento anual.
8

faturamento anual, além do que, nessa hipótese, o próprio IPI compõe a base de
cálculo do ICMS (art. 13, inciso V, alínea c, da Lei Complementar nº 87/1996).
Além disto, entender-se desta forma poderia fazer com que os Estados criassem
restrições ao enquadramento dessas empresas no Sistema, quando da realização
dos convênios.
Ou seja, tributar-se com 0,5%, a título de IPI, e com outro percentual, a
título de ICMS, a despesa de empresa enquadrada no SIMPLES, quando da
importação de produtos destinados ao comércio, carece de fundamentação legal.
Para que tal situação ocorresse, haveria necessidade de expressa previsão na
Lei nº 9.317/1996.
Ressalte-se que o IPI e o ICMS, incidentes na importação, são impostos
internos e nada têm a ver, também, com o II (exceto tê-lo como integrante de sua
base de cálculo), e não têm efeitos de controle do fluxo de importações (que é
função do II), inclusive por determinação do GATT/OMC, embora tenha o efeito
de igualar o tratamento tributário do produto importado ao do produto interno –
técnica utilizada em todos os países que adotam impostos não cumulativos
(casos do IPI e do ICMS)16.
No que diz respeito às obrigações acessórias a serem cumpridas pelas
empresas optantes pelo SIMPLES, e considerando-se os controles necessários à
atividade de importação regular, entende-se que os mesmos não são
incompatíveis com as atividades das empresas enquadradas no Sistema, em
especial, considerando-se que o faturamento destas empresas pode atingir R$
1.200.000,00. Assim, não existem maiores problemas para o débito em conta
para pagamento do II e do IPI vinculado, como sucede normalmente com as
demais empresas importadoras.

5. C ONCLUSÕES
1. A Lei nº 9.317/1996, ao referir-se ao IPI e ao ICMS, só abrange a
hipótese de incidência referente à saída de mercadorias do estabelecimento, i.e.,
relativos aos fatos geradores que originam a receita bruta da empresa (base de
cálculo do SIMPLES).
2. A tributação do IPI e do ICMS nas operações de importação em outros
moldes que não os previstos na legislação específica sobre a matéria, i. e., com
base nas alíquotas previstas na Lei nº 9.317/1996, só pode ser feita se houver
expressa previsão legal.
3. A não cobrança do IPI e do ICMS nas operações de importação das
empresas optantes pelo SIMPLES configura concessão de isenção sem respaldo
legal.
4. As empresas optantes pelo SIMPLES devem submeter-se às obrigações
acessórias a que estão obrigadas as empresas que atuam na importação regular
de produtos estrangeiros.

16
O IPI e ICMS são tributos internos cobrados na importação, seja de produtos e mercadorias
destinados ao comércio, seja dos destinados ao ativo imobilizado das empresas, constituindo-se benefício
fiscal sua desoneração, o que deve sempre decorrer de lei específica (art. 150, § 6º da CF/88).
9

6. B IBLIOGRAFIA .

ÁVILA, René Bergmann. ICMS. Lei Complementar nº 87/96 comentada e


anotada. 2ª ed. Porto Alegre: Síntese, 1997.

BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. 11ª ed. Atualizada por Misabel
Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 1999.

BITTENCOURT, Sidney. Comentários ao SIMPLES. Rio de Janeiro: Lumen Juris,


1997.

Diário Oficial da União, diversas edições.

GRECO, Marco Aurélio. Planejamento fiscal e interpretação da lei tributária. São


Paulo: Dialética, 1998.

OLIVEIRA, Waldemar de. Novo Regulamento do Imposto sobre Produtos


Industrializados. Anotado até 21/09/98. São Paulo: Resenha Tributária, 1998.

SOSA, Roosevelt Baldomir. A aduana e o comércio exterior. São Paulo:


Aduaneiras, 1995.

6.1 SITES CONSULTADOS:

http://www.receita.fazenda.gov.br/

http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/MPV/Principal.htm

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