Quando se trata do histórico da tomografia computadorizada tem-se uma
pequena confusão com o histórico da própria radiografia, sendo a primeira muitas vezes considerada como a evolução dos exames de raio X. Isto se deve ao fato de que os dois métodos surgiram de uma mesma descoberta. Essa descoberta data de 1895, pelo físico alemão Wilheim Rontgen, que publicou em seu artigo “Sobre uma nova espécie de raios” seus experimentos com a radiação ionizante (SILVA, 2008). Além disso, os tomógrafos atuais utilizam do mesmo princípio das radiografias para obter as imagens dos pacientes, o que justifica a necessidade do conhecimento de como são obtidas imagens através de radiação para a compreensão do funcionamento da tomografia computadorizada.
De certa forma, ambos os procedimentos são similares, usando a mesma
radiação ionizante para registrar imagens internas, funcionando como ‘fotografias’ que mostram órgãos, ossos, músculos, vasos sanguíneos e outras estruturas. A diferença principal se encontra no modo como os feixes de radiação são emitidos e captados e no posterior processamento computacional realizado nas tomografias, como será descrito mais adiante.
Nesta seção será discutido o processo de criação de imagens médicas
através da radiação utilizado tanto pelas radiografias convencionais quanto pelas tomografias computacionais mais recentes no mercado.
2.1 Raios X
Descobertos em 1895 por Rontgen, os raios X logo tiveram sua aplicação
para a visualização do interior do corpo humano reconhecida e é, até hoje, um dos meios mais usados para a aquisição de imagens médicas.
Os raios X são fótons de altas energias (entre 10³ eV e 106 eV)
provenientes de transições eletrônicas nos átomos. Eles são radiações eletromagnéticas, com comprimentos de onda entre 0,01nm e 10nm, que não são visíveis, propagam-se em linha reta e à velocidade da luz, ionizantes e que podem destruir células vivas. Além disso, possuem propriedades como: capacidade de atravessar e ser absorvidos por objetos, capacidade de produzir radiações secundárias em todos os corpos que atravessam, fazer fluorescer certos sais metálicos e enegrecer emulsões fotográficas (SILVA, 2008).
Em aplicações médicas, estes raios são gerados em um componente
denominado tubo de raios X.
2.1.1 Geração de raios X
Os raios X são gerados artificialmente através do tubo de raio X. Este
componente é constituído por um envoltório (geralmente de vidro pirex), resistente ao calor, lacrado e com vácuo formado no seu interior, onde são encontrados o cátodo e o anodo, distanciados um do outro e fixados em posição axial oposta.
O cátodo é o responsável pela liberação dos elétrons, que irão se chocar
no anodo e produzir raios X e calor. É constituído de um ou dos filamentos helicoidais de tungstênio, resistentes a temperaturas elevadas, localizados no interior de um coletor eletrônico, que tem como função evitar a dispersão dos elétrons liberados (BIASOLI, 2006).
Figura 1. Cátodo de um tubo de raios X.
Fonte: Biasoli Jr. (2006).
O anodo é uma placa metálica de tungstênio, ou uma liga tungstênio-
rênio, que possui angulação com o eixo do tubo, e é capaz de suportar altas temperaturas geradas dos choques dos elétrons oriundos do cátodo. O tamanho do foco efetivo depende do tamanho deste filamento e do ângulo de face do anodo. Quanto menor o filamento e o ângulo do anodo, melhor será o foco efetivo e, consequentemente, mais nítida será a imagem radiográfica.
Figura 2. Anodo de um tubo de raios X.
Fonte: Biasoli Jr. (2006).
O tubo de raios X é imerso em um óleo de isolamento e refrigeração na
carcaça, um invólucro metálico revestido internamente de chumbo. Ela tem a função de proteção mecânica e elétrica do tubo, dissipação de calor e absorção de radiação extrafocal, possuindo um orifício de vidro, denominado de janela, por onde emerge o feixe de radiação (BIASOLI, 2006).
Figura 3. Tubo de raios X.
Fonte: Biasoli Jr. (2006). Como visto anteriormente, os raios X tem sua origem no choque de elétrons acelerados contra um obstáculo material (geralmente de metal). A interação desses elétrons e os átomos do obstáculo resultará na formação dos raios X e calor.
Os elétrons liberados são gerados no cátodo, através do fornecimento de
energia térmica aos filamentos metálicos presentes nele. Os filamentos são aquecidos gerando os elétrons acumulados no coletor eletrônico. A intensidade desse feixe de elétrons é dada pela intensidade da corrente que passa pelos filamentos do cátodo.
Uma corrente é aplicada no tubo de raios X, de modo que o polo negativo
seja o cátodo e o polo positivo seja o anodo. Assim, os elétrons são atraídos pelo anodo e repelidos pelo cátodo, simultaneamente, o que causa a sua aceleração dentro do tubo. O vácuo no interior do tubo evita a redução de velocidade dos elétrons no deslocamento do cátodo até o anodo e isola a alta tensão aplicada nas suas extremidades. Vale ressaltar que o circuito responsável pela geração dos elétrons (controle da corrente nos filamentos do cátodo) é diferente do circuito gerador da alta tensão aplicada no tubo (BIASOLI, 2006).
Os elétrons são desacelerados no anodo e sua energia é então convertida
em calor e raios X. Quanto maior a tensão aplicada ao tubo, menor será o comprimento de onda dos raios X e maior serão a energia de aceleração dos elétrons, o poder de penetração do feixe de radiação e, consequentemente, a qualidade desse feixe.
2.1.2 Interação do feixe de radiação com o objeto
A interação do feixe radioativo com o corpo a ser examinado pode ser
dividida em três etapas, como mostrado na Figura. Figura 4. Esquematização das etapas da interação dos raios X com o corpo. Fonte: Biasoli Jr. (2006).
Na primeira, ocorre a geração e emissão do feixe pelo foco emissor até o
objeto. Nela o feixe de raios X possui ainda uma estrutura razoavelmente homogênea em qualidade e intensidade.
Na segunda etapa ocorre a interação propriamente dita do feixe com o
corpo examinado. Nesta etapa a radiação atravessa o meio absorvente, podendo interagir ou interagindo através de efeitos de absorção ou difusão que combinados geram a atenuação da radiação.
Os efeitos de absorção podem ser de absorção fotoelétrica ou de
produção de pares. No primeiro, o fóton incidente, ao chocar-se com um elétron fortemente ligado ao núcleo, fornece sua energia para ele e deixa de existir. A energia transferida determinará o deslocamento do elétron para outra órbita, gerando um vazio no seu lugar. O preenchimento desse vazio dará origem a um fóton característico. Nesse caso, quanto maior for o número atômico do material, e/ou quanto maior for o comprimento de onda do feixe de raios X, maior será a redução da intensidade do feixe de radiação (BIASOLI, 2006).
Já a produção de pares ocorre quando um fóton de energia muito elevada
interage nas vizinhanças do núcleo do átomo. Após a interação esse fóton pode desaparecer, dando origem a um par de elétrons de cargas opostas (elétron e pósitron). Os efeitos de difusão correspondem à interação de fótons com elétrons fracamente ligados ao átomo do objeto. A difusão elástica ocorre quando o fóton é desviado de sua trajetória sem perda de energia. E a difusão inelástica (ou efeito Compton) ocorre quando o fóton incidente se choca com o elétron, transferindo parte de sua energia para ele e é defletido em direção diferente da incidente, gerando um elétron Compton e um fóton que não contribuem em nada para a formação da imagem. Este efeito é independente do número atômico, sendo proporcional a densidade do material (BIASOLI, 2006).
Na terceira etapa ocorre a emergência do feixe de radiação do corpo.
Nessa etapa, o feixe já não é mais uniforme nem em número nem em energia dos fótons, sendo que apenas cerca de 5% dos fótons incidentes no corpo emergem sem sofrer alterações.
O feixe de raios X atenuado cria uma imagem não perceptível ao olho
humano que pode tornar-se visível sobre um receptor que reage à radiação de acordo com as intensidades recebidas.
No caso da radiografia convencional, a imagem é produzida através da
incidência do feixe de radiação sobre um filme radiográfico. Já na tomografia computadorizada, os detectores transformam a radiação em um coeficiente de atenuação, que são traduzidos e processados por softwares especializados para a formação da imagem.
SILVA, Maria Inês B. Caracterização de um sistema de imagem por PET/TC.
Dissertação de Mestra em Engenharia Física Tecnológica. Universidade Técnica de Lisboa, 2008.
BIASOLI JR., Antônio M. Técnicas radiográficas, 1ª edição. Editora Rubio. Rio
de Janeiro, 2006.
SUN, W; BROWN S. B.; LEACH, R. K. An overview of industrial X-ray
computed tomography. National Physical Laboratory, 2012.
MORSCH, José A. Aparelho de tomografia: para que serve, como funciona
e componentes, 2018. Disponível em <https://telemedicinamorsch.com.br>. Acesso em: Novembro de 2018.