You are on page 1of 96

Epidemiologia

CONCEITOS E APLICABILIDADE
NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

Carolina Abreu de Carvalho


Judith Rafaelle Oliveira Pinho
Paola Trindade Garcia

São Luís

2017
EPIDEMIOLOGIA: CONCEITOS E
APLICABILIDADE NO SISTEMA
ÚNICO DE SAÚDE
Universidade Federal do Maranhão
UNA-SUS/UFMA

EPIDEMIOLOGIA: CONCEITOS E
APLICABILIDADE NO SISTEMA
ÚNICO DE SAÚDE

São Luís

2017
Copyright © 2017 by EDUFMA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO


Profª. Dra. Nair Portela Silva Coutinho
Reitora
Prof. Dr. Fernando de Carvalho Silva
Vice-Reitor
Prof. Dr. Fernando de Carvalho Silva
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e Inovação
Profª. Dra. Silvia Tereza de Jesus Rodrigues Moreira Lima
Diretora do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
Profª. Dra. Ana Emilia Figueiredo de Oliveira
Coordenadora-Geral da UNA-SUS/UFMA

EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO


Prof. Dr. Sanatiel de Jesus Pereira
Diretor
CONSELHO EDITORIAL
Prof. Dr. Jardel Oliveira Santos; Profa. Dra. Michele Goulart Massuchin; Prof. Dr. Jadir Machado Lessa;
Profa. Dra. Francisca das Chagas Silva Lima; Bibliotecária Tatiana Cotrim Serra Freire; Profa. Dra. Maria
Mary Ferreira; Profa. Dra. Raquel Gomes Noronha; Prof. Dr. Ítalo Domingos Santirocchi; Prof. Me.
Cristiano Leonardo de Alan Kardec Capovilla Luz

Projeto de design
Camila Santos de Castro e Lima
Douglas Brandão França Júnior
Katherine Marjorie Mendonça de Assis

Normalização
Edilson Thialison da Silva Reis – CRB 13ª Região, nº de registro – 764

Revisão técnica
Elza Bernardes Monier

Revisão de texto
Fábio Alex Matos Santos
Revisão pedagógica
Deborah de Castro e Lima Baesse

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Universidade Federal do Maranhão. UNA-SUS/UFMA.

Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade no Sistema Único de Saúde/Regimarina Soares Reis


(Org.). - São Luís: EDUFMA, 2017.

96 p.: il.
ISBN: 978-85-7862-653-2

1. Saúde pública. 2. Epidemiologia. 3. Sistema Único de Saúde. 4. UNA-SUS/UFMA. I. Carvalho,


Carolina Abreu de. II. Pinho, Judith Rafaelle Oliveira. III. Garcia, Paola Trindade. IV. Título.

CDU 614.2

Impresso no Brasil
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, armazenada em um sistema
de recuperação ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, fotocópia,
microfilmagem, gravação ou no outro, sem permissão do autor.
INFORMAÇÕES SOBRE OS AUTORES

Carolina Abreu de Carvalho:

Docente do curso de Nutrição da Universidade CEUMA. Doutoranda no Programa


de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Maranhão.
Mestre em Ciência da Nutrição pela Universidade Federal de Viçosa (2015). Possui
graduação em Nutrição pela Universidade Federal do Maranhão (2013). Bolsista
do Programa Ciências sem Fronteiras, estudou Ciência e Tecnologia dos Alimentos
na Universidade Católica San Antonio de Murcia - Espanha (2012-2013). É técnica
em alimentos pelo Instituto Federal de Educação Tecnológica do Maranhão (2008).

Judith Rafaelle Oliveira Pinho:

Possui graduação em odontologia pela Universidade Federal do Maranhão (2004).


Doutorado em Saúde Coletiva. Tem experiência na área de Odontologia, com
ênfase em Saúde Cole-tiva e Epidemiologia, atuando principalmente nos seguintes
temas: desnutrição intrauterina e defeitos de desenvolvimento do esmalte
dentário, saúde pública, epidemiologia, educação em saúde, metodologias ativas,
integração ensino-serviço. Atualmente é docente da Universidade Federal do
Maranhão do Departamento de Saúde Pública.

Paola Trindade Garcia:

Fisioterapeuta, mestre em Saúde Coletiva (UFMA), doutoranda em Saúde Coletiva


(UFMA) com Residência Multiprofissional em Saúde (UFMA), especialista em
Saúde da Família (CEST) e em Gestão do Trabalho e Educação na Saúde (UFMA).
Possui experiência profissional na área de Saúde Coletiva e em Fisioterapia, com
ênfase na Atenção Básica em Saúde e afins. Experiência em educação à distância
e em metodologias ativas. Atualmente é docente da Universidade Federal do
Maranhão e coordenadora de Produção Pedagógica da UNA-SUS/UFMA.
SUMÁRIO

p.
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................13
2 A EPIDEMIOLOGIA NO ÂMBITO DO SUS.............................................. 15
2.1 Modelos de atenção à saúde no Brasil......................... .................... 15
2.2 Transição epidemiológica no Brasil..................................................... 20
2.3 Causalidade em saúde..............................................................................24
2.4 Modelos explicativos de doenças e agravos........................................ 24
2.5 Determinantes e condicionantes do processo saúde-doença.............28
2.6 Endemias, epidemias, surtos e pandemias.................................... 31
REFERÊNCIAS..... . ....................................................................... 39
3 INDICADORES DE SAÚDE...................................................................... 45
3.1 Padronização de indicadores no SUS.................................................. 45
3.2 Indicadores sociais, econômicos e demográficos................................ 46
3.3 Medidas de morbidade........................................................................ 49
3.4 Medidas de mortalidade...................................................................... 52
3.4.1 Mortalidade infantil.....................................................................................54
3.4.2 Mortalidade neonatal........................................................................... 54
3.4.3 Mortalidade pós-neonatal................................................................. 55
3.4.4 Mortalidade perinatal........................................................................ 55
3.4.5 Mortalidade materna............................................................................ 56
3.4.6 Mortalidade por causas específicas..........................................................56
3.5 Outros indicadores.......................................................................... 57
REFERÊNCIAS........................................................................................................61
4 SISTEMAS DE INFORMAÇÕES EM SAÚDE...................................... 65
4.1 Conceitos iniciais.........................................................................................65
4.2 Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM )............................. 71
4.3 Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc)..................... 75
4.4 Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan)................. 79
4.5 Sistema de Informação em Saúde da Atenção Básica (Sisab) e o e-SUS

.............................................................................................................. 82
4.6 Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI).
.............................................................................................................. 84
4.7 Sistemas de Informação em Vigilância em Saúde Ambiental –
SISAGUA/SISSOLO........................................................................... 86
REFERÊNCIAS..... . ....................................................................... 91
PREFÁCIO

Em 1988, no auge do processo de redemocratização do Estado


Brasileiro, é promulgada a nova carta constitucional brasileira, que
transformou a saúde em direito individual e com isso modificou
profundamente a estrutura e organização da saúde pública no país.
Desde então o Sistema Único de Saúde (SUS) está em construção, sendo
constantemente aperfeiçoado e desenvolvido, apesar das dificuldades
inerentes à consolidação de um sistema público de saúde em um país com
a extensão territorial do Brasil.
A epidemiologia destaca-se como uma ferramenta básica e
fundamental para o desenvolvimento do SUS, devido a sua aplicabilidade
em toda a extensão deste sistema de saúde. Diante disso, é essencial
que todos os profissionais e futuros profissionais envolvidos com o SUS
sejam capazes de usar a epidemiologia como ferramenta de otimização e
desenvolvimento do nosso sistema de saúde.
O livro "Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade no Sistema Único
de Saúde" traz de forma simples e objetiva conhecimentos básicos de
epidemiologia que capacitarão o leitor a entender como a epidemiologia
é praticada no SUS e como cada envolvido pode usá-la para fortalecer
e consolidar esse sistema. Trata-se de uma grande oportunidade de
explorar a aplicabilidade da epidemiologia no SUS como ferramenta de
investigação e análise de fatores de risco e agravos, com vistas ao efetivo
planejamento em saúde.
Essa publicação é de grande valia para a proposta de educação
permanente de profissionais e futuros profissionais desse SUS em
construção, que necessita do envolvimento de recursos humanos
capacitados, a fim de atingir seu pleno potencial de atuação na garantia
da saúde integral como um direito constitucional.

Carolina Abreu de Carvalho


Mestre em Ciência da Nutrição da Universidade Federal de Viçosa.
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

1 INTRODUÇÃO

A epidemiologia é definida como “o estudo da frequência, da


distribuição e dos determinantes dos estados ou eventos relacionados à
saúde em específicas populações e a aplicação desses estudos no controle
dos problemas de saúde” (LAST, 1998). Assim, trata-se de uma disciplina
fundamental no campo da saúde pública voltada para a compreensão
do processo saúde-doença no âmbito de populações (sociedades,
coletividades, comunidades, classes sociais, grupos específicos etc.). Sua
abordagem voltada a populações a difere da clínica, que estuda o mesmo
processo, entretanto, em indivíduos.
O conceito de epidemiologia evidencia sua abrangência e
possibilidades de uso na saúde pública, sobretudo, no que se refere ao
seu papel no desenvolvimento de estratégias de promoção e proteção
à saúde, sendo fundamental para a formulação de políticas de saúde.
Nesse contexto, a epidemiologia não é apenas uma disciplina teórica, mas
também essencialmente prática. Sobre essas duas fases da epidemiologia
e suas consequências, Barreto (2002, p.6) comenta:
“Temos uma epidemiologia simultaneamente como disciplina
científica (que estuda a saúde, a doença e os seus determinantes)
e como campo profissional da saúde coletiva (que produz e analisa
informações, desenvolve tecnologias e estratégias de prevenção). No
primeiro espaço, elaboram-se teorias, desenham-se estudos, dados
são coletados e analisados, produzem-se conhecimentos. No segundo
espaço, a partir do anterior, produzem-se informações e redefinem-
se os conhecimentos, delineiam-se estratégias, concretizam-se ações.
No primeiro, os erros são de ordem teórica e metodológica e a sua
correção faz parte do processo normal da ciência. No segundo, os
erros significam vidas, doenças, sofrimentos, ou ainda custos sociais,
econômicos ou políticos.”

Como ferramentas de atuação da epidemiologia daremos destaque


nesse livro aos indicadores de saúde e sistemas de informação em saúde
(SIS). Por meio dos indicadores de saúde a epidemiologia estuda e monitora
aspectos relacionados à saúde, sobretudo, a partir da ausência de saúde
na forma de doenças e agravos. Os sistemas de informação em saúde

13
reúnem um conjunto de dados e informações que serão fundamentais ao
planejamento, aperfeiçoamento e tomada de decisão em toda a extensão
do sistema de saúde (MARIN, 2010).
Por tudo que comentamos nesse primeiro momento, fica claro a
ampla aplicabilidade da epidemiologia no contexto do Sistema Único de
Saúde brasileiro, entretanto, isto será determinado pelo modelo de saúde
predominante no país. Dessa forma iniciaremos nossos estudos sobre a
epidemiologia explorando os modelos de atenção à saúde vigentes no
Brasil.

14
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

2 A EPIDEMIOLOGIA NO ÂMBITO DO SUS


Judith Rafaelle Oliveira Pinho
Paola Trindade Garcia

2.1 Modelos de atenção à saúde no Brasil

Um sistema de serviço de saúde é formado por componentes


e funções principais, entre eles: infraestrutura, organização, gestão,
financiamento e prestação da atenção. Para o componente prestação da
atenção, englobam-se as noções do modelo de atenção à saúde, incluindo-
se o cuidado e a assistência; à intervenção; às ações ou às práticas de
saúde.
O debate sobre os modelos de atenção existentes, sobretudo
a análise sobre a conservação, mudanças ou transformações de tais
modelos, tem sido marcado pela crítica e redefinição de ideias oriundas de
movimentos internacionais de reforma dos sistemas de saúde. Essas ideias
se articulam, dinamicamente, como propostas surgidas da experimentação
prática e elaboração de alternativas que refletem a especificidade das
condições nas quais se desenvolve o processo de reforma sanitária no
Brasil (TEIXEIRA; VILASBÔAS, 2014).

Mas o que vem a ser um modelo de


atenção à saúde?

De um modo geral, modelo significa uma representação simplificada


da realidade onde se retém e destacam-se seus traços fundamentais. Em
se tratando de aspectos relativos à saúde, refere-se a uma representação
esquemática de um sistema de saúde no que tange à prestação da atenção
ou assistência. Por isso, chamamos de modelo de atenção à saúde ou
modelo assistencial.

15
Paim (2013) destaca três definições de modelos de atenção à saúde,
baseadas em enfoques teórico-conceituais distintos, veja na figura 1.
Figura 1 - Definições de modelos de atenção à saúde.

A primeira delas parte da definição apresentada pela

1 OPAS em 1992, que define “modelo de atenção” como


a forma de organização das unidades de prestação de
serviços de saúde, isto é, uma maneira de organização
dos estabelecimentos de saúde.

A segunda definição baseia-se na análise crítica da

2 lógica que presidia a prestação de serviços e distingue


a atenção à demanda espontânea da oferta organizada,
tomando como principal critério a existência ou não de
um processo de identificação, seleção e priorização de
necessidades de saúde da população atendida.
A terceira definição fundamenta-se na identificação

3 de elementos estruturais do processo de trabalho em


saúde; nessa perspectiva, o “modelo de atenção” se
refere às formas de organização das relações entre os
sujeitos, mediadas por tecnologias utilizadas no processo
de trabalho em saúde, cujo propósito é intervir sobre
problemas e necessidades de saúde.
Fonte: Adaptado de: PAIM, J. S. A Constituição Cidadã e os 25 anos do Sistema Único de
Saúde (SUS). Cadernos de Saúde Pública (ENSP. Impresso), v. 29, p. 1927-1936,
2013.

E quais são os modelos de atenção


prevalentes no Brasil?

Considerando a conformação histórica do sistema de serviços de


saúde no país, podem ser identificados modelos de atenção predominantes
ou hegemônicos e propostas alternativas. Os modelos assistenciais podem

16
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

atender a lógica da demanda ou das necessidades (PAIM, 2008). Assim, no


Brasil, dois modelos convivem historicamente de forma contraditória ou
complementar: o modelo médico assistencial hospitalocêntrico e o
modelo sanitarista.
O modelo médico assistencial hospitalocêntrico caracteriza-
se pela ênfase no biologicismo, individualismo, na medicalização dos
problemas de saúde, no privilégio da medicina
curativa, no estímulo ao consumismo médico
e é centrado na figura do médico. Suas bases
conceituais fundamentam-se na clínica, forma
de organização da prática médica surgida na
Europa do século 18, a partir da redefinição do
papel do hospital que passou a ser um lugar de observação, classificação e
tratamento dos doentes (FOUCAULT, 2008).
O modelo sanitarista
desenvolveu-se a partir das iniciativas
Urgência e
Emergência
desencadeadas com a intervenção do
Estado sobre as condições de vida e
Atenção Atenção

saúde da população, em uma lógica


Hospitalar Especializada

APS extremamente diferente da procura


individual por cuidados médicos. Esse
Vigilância Vigilância e
modelo remete à ideia de campanha
Sanitária Monitoramento

ou programa, sempre presente no


imaginário social diante de uma
necessidade coletiva (PAIM, 2008). Busca atender às necessidades de
saúde da população a partir de campanhas (como as de vacinação),
adoção de programas especiais (como o de controle de tuberculose) e
ações de vigilância (especialmente sanitária e epidemiológica).

17
Acompanhe no quadro 1 as principais características dos modelos
de atenção apontados.
Quadro 1 - Características dos modelos de atenção prevalentes no Brasil.

Modelo Sujeito Objeto Meios de trabalho Formas de organização

- Rede de serviços de
Médico- - Doença e - Tecnologia médica
- Médico saúde
assistencial doentes (indivíduo) - Hospitais
- Tecnologia
- Modelos de sanitária (educação - Campanhas sanitárias
Sanitarista - Sanitarista transmissão em saúde, - Programas especiais
- Auxiliares - Fatores de imunização, - Sistemas de vigilância
risco controle de
vetores)
Fonte: Adaptado de: TEIXEIRA, C. F.; VILASBÔAS, A. L. Q. Modelos de atenção à Saúde do
SUS: transformação, mudança ou conservação? In: PAIM, J. S; ALMEIDA FILHO, N.
Saúde Coletiva: teoria e prática. Rio de Janeiro: MedBook, 2014. p. 287-301.

Como integrantes do modelo médico assistencial hospitalocêntrico,


podem ser mencionados o modelo médico assistencial privatista e o
modelo de atenção gerenciada (managed care). Como exemplos do modelo
sanitarista, cabem ser citados o Programa de Agentes Comunitários de
Saúde (PACS) e a Estratégia Saúde da Família (ESF).
Pela posição que ocupava no cenário internacional, especialmente
no período colonial, no império e na primeira república, o Brasil sofreu
influência direta do que se passava na Europa e acabou copiando parte ou
o todo de modelos adotados naqueles países, como França e Alemanha,
celeiros de desenvolvimento da medicina científica na época. Com isso, o
SUS “herdou” o modelo de atenção médico-assistencial hospitalocêntrico
e privatista, tornando-se um espaço de conflitos e negociações áridas em
torno das propostas de mudança e conservação do modelo de atenção
(TEIXEIRA; VILASBÔAS, 2014).

Pelo exposto, qual o modelo


hegemônico de atenção à saúde no
Brasil?

18
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

Pode-se constatar pelas informações citadas anteriormente que o


modelo hegemônico de atenção à saúde no Brasil é o modelo médico-
assistencial hospitalocêntrico que subordina, inclusive, as ações e serviços
que compõem o modelo sanitarista implementado no âmbito do SUS. No
entanto, esse modelo vem apresentando sinais de crise, com presença
de elevação dos gastos, redução da efetividade diante da mudança do
perfil epidemiológico da população, crescente insatisfação dos sujeitos
(trabalhadores e usuários), bem como falta de credibilidade e confiança
por parte da população (TEIXEIRA, VILASBÔAS, 2014).

REFLETINDO!

O modelo assistencial hegemônico no Brasil ainda é o


hospitalocêntrico, mas, há algum tempo, muitas estratégias estão
sendo adotados para mudança desse paradigma. Vários municípios
do país já conseguiram se reorganizar para mudança de seu modelo
de atenção à saúde. O que é necessário para que, de fato, essa
transição ocorra em todo o país?
Muitas propostas de mudança do modelo de atenção no
Brasil têm sido estudadas e discutidas, o que tem influenciado a
formulação de políticas públicas e estratégias de mudanças na
formação profissional e na organização dos serviços, apontando
para um redimensionamento de ações de amplo espectro. Dentro
dessas propostas redefinidas e/ou elaboradas no âmbito do SUS
nos últimos tempos, podemos destacar: a implantação de distritos
sanitários, oferta organizada/ações programáticas de saúde,
acolhimento/clínica ampliada, Saúde da Família e Vigilância da
Saúde (PAIM, 2013).

19
PARA SABER MAIS!

Leia o artigo Modelo de atenção à saúde: Vigilância e saúde


da família (publicado em 2006 pela EDUFBA) para aprofundar seus
conhecimentos sobre os modelos de atenção.

2.2 Transição epidemiológica no Brasil

Entende-se por transição epidemiológica as mudanças ocorridas


no tempo nos padrões de morte, morbidade e invalidez que caracterizam
uma população específica e que, em geral, ocorrem em conjunto com
outras transformações demográficas, sociais e econômicas (OMRAM,
2001; SANTOS-PRECIADO et al., 2003).
O processo engloba três mudanças básicas:
1. Substituição das doenças transmissíveis por doenças não
transmissíveis e causas externas.
2. Deslocamento da carga de morbimortalidade dos grupos mais
jovens aos grupos mais idosos.
3. Transformação de uma situação em que predomina a
mortalidade para outra na qual a morbidade é dominante.

Como ocorre a transição


epidemiológica no Brasil?

No Brasil, a transição epidemiológica não tem ocorrido de acordo


com o modelo experimentado pela maioria dos países desenvolvidos
e mesmo por vizinhos latino-americanos como Chile, Cuba e Costa

20
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

Rica. Novos e velhos problemas em saúde estão coexistindo, com


destaque para as doenças crônico-degenerativas, embora as doenças
transmissíveis ainda desempenhem um papel de importante destaque
no perfil epidemiológico. É importante conhecer aspectos da transição
epidemiológica para compreender a relação das pessoas com os serviços
de saúde.
A transformação dos perfis epidemiológicos no Brasil apresenta
um caráter peculiar que não se conforma necessariamente ao modelo de
substituição de doenças infecciosas e parasitárias por doenças crônico-
degenerativas, acidentes e violências. A avaliação do contexto brasileiro
demonstra que a transição epidemiológica não tem seguido o mesmo
padrão verificado na grande maioria dos países industrializados centrais
do capitalismo (PONTES et al., 2009). Isso indica que no Brasil não ocorre
uma transição epidemiológica propriamente dita, mas uma superposição
de contextos epidemiológicos apresentados ao longo do tempo.
Cenários como a reintrodução de processos infecciosos, como
dengue e cólera, ou a persistência e o recrudescimento de outras, como
malária, a tuberculose, a hanseníase e as leishmanioses, apontam para
uma natureza não unidirecional. Entre as regiões brasileiras, as situações
epidemiológicas evidenciam importantes contrastes, caracterizando, na
realidade, uma “polarização geográfica”, existindo ainda a “polarização
social” que se manifesta pelos desníveis nos indicadores de mortalidade e
morbidade entre os diferentes grupos populacionais (PONTES et al., 2009).
O processo de transição epidemiológica no Brasil não se resolve
de maneira clara, criando uma situação em que a morbimortalidade
persiste elevada para ambos os padrões, caracterizando uma transição
prolongada; as situações epidemiológicas de diferentes regiões em um
mesmo país tornam-se contrastantes (polarização epidemiológica) (FRENK
et al., 1991). Além disso, o envelhecimento rápido da população brasileira
faz com que a sociedade se depare com um tipo de demanda por serviços
médicos e sociais, outrora restritos aos países industrializados (SCHRAMM
et al., 2004).

21
Barreto et al (2005) enfatizam a necessidade da revisão da
teoria da transição epidemiológica, segundo o contexto específico da
América Latina. Para esses autores, as principais mudanças no padrão
epidemiológico do Brasil seriam as descritas na figura 2.

Figura 2 - Principais mudanças no padrão epidemiológico do Brasil.

1 Permanência de grandes endemias em algumas regiões do país

2 Coeficientes de mortalidade ainda elevados quando comparados


aos dos países desenvolvidos.

3 Importantes variações geográficas quanto aos padrões


epidemiológicos e aos serviços de saúde.

Fonte: Adaptado de: BARRETO, S. M. et al. Análise da estratégia global para alimentação,
atividade física e saúde, da Organização Mundial da Saúde. Epidemiologia e os
serviços de Saúde, Brasília, v. 14, n. 1, p. 41-68, 2005.

A complexidade do cenário epidemiológico atual, caracterizado pela


tripla carga de doenças na população (permanência de doenças agudas,
aumento do peso relativo às condições crônicas e às causas externas), é
decorrente, também, da forma de gestão das práticas sanitárias. Para o
SUS, que pretende ser um sistema integrador, é fundamental implementar
arranjos e estruturas organizativas na direção de seu fortalecimento
(GONDIN, 2008; TEIXEIRA, 2001). As práticas sanitárias, por exemplo,
precisam de maior organicidade para desencadear ações oportunas
que auxiliem na redução ou eliminação dos riscos à saúde e ampliem a
capacidade de resposta do SUS.
Na prática, é de extrema importância acompanhar os mapas de
situação de saúde no Brasil, por meio da avaliação e monitoramento
dos indicadores, a fim de traçar os perfis epidemiológicos e acompanhar
possíveis mudanças, conservações e/ou transformações. Descobrir,

22
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

investigar rapidamente e acompanhar patógenos emergentes de doenças


e fatores envolvidos no surgimento do quadro são fundamentais nesse
processo.
Vejamos abaixo alguns indicadores que podem ser utilizados para
ilustrar o peculiar processo de transição epidemiológica no Brasil:
a) Perfil de mortalidade.
b) Perfil das causas de internação.
c) Perfil de doenças infecciosas persistentes (incluem-se a
malária, a tuberculose, as leishmanioses, a esquistossomose,
a doença de Chagas, a febre amarela silvestre e as hepatites
virais, entre outras).
d) Perfil de doenças emergentes e reemergentes (Aids, dengue,
a cólera pelo vibrio cholerae El Tor, hantavirose, febre
chikungunya, febre pelo zika vírus).

AGORA É COM VOCÊ!

Acesse os dados do Portal da Saúde, verifique via boletins


epidemiológicos como se encontra o perfil epidemiológico das
doenças emergentes e reemergentes em seu estado nos últimos anos
e identifique quais ações de saúde poderiam ter sido intensificadas
para melhora dos quadros.

PARA SABER MAIS!

Leia o artigo “Polarização epidemiológica no Brasil”, de José Duarte


de Araújo (in memorian) publicado na revista Epidemiologia e
Serviços de Saúde, Brasília, v. 21, n. 4, dez. 2012.

23
2.3 Causalidade em saúde

A ocorrência de doenças e agravos à saúde é um fenômeno que


suscita grande interesse na identificação de seus fatores ou mecanismos
causais, contribuindo, dessa maneira, para o desenvolvimento de ações
de prevenção, controle e tratamento.
Identificar causas é uma das maneiras do pensamento científico
abordar a explicação das origens de um fenômeno. Vamos discutir as
principais formas de explicação de agravos e doenças, apontando os
modelos explicativos e suas características.

2.4 Modelos explicativos de doenças e agravos

A identificação e o entendimento acerca dos motivos pelos quais


indivíduos e populações adoecem são temas centrais na epidemiologia.
A causa seria um agente eficaz, e desvendá-la garante um conhecimento
maior a respeito de um fenômeno estudado, na medida em que é possível
intervir sobre um efeito quando se remonta à sua causa. Nesse sentido,
muitos esforços foram e são despendidos na direção do aprimoramento
de critérios e modelos que permitam qualificar associações como causais
ou não causais.
Compreender os mecanismos nos quais os fatores etiológicos
agem e interagem, ocasionando doenças e agravos à saúde, evidencia
possibilidades concretas de prevenção ou interrupção de processos
mórbidos (NADANOVSKY; LUIZ; COSTA, 2009). Considerando essa
premissa, serão brevemente apresentados três modelos explicativos da
ocorrência de doenças: o modelo ecológico, a rede de causas e o modelo
sistêmico.
O modelo ecológico de explicação da ocorrência de doenças
tornou-se bastante popular na área da saúde em meados do século 20,
junto com a disseminação dos fundamentos da medicina preventiva.
Trata a definição de saúde como resultado do equilíbrio dinâmico entre

24
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

o indivíduo (ou populações humanas) e o ambiente no qual ele se


insere (NADANOVSKY; LUIZ; COSTA, 2009). O agente e o hospedeiro são
dependentes do ambiente que, ao mesmo tempo, pode ser modificado
pelos dois. Quando ocorre a doença significa uma resposta à quebra do
equilíbrio do sistema. Observe a representação deste modelo na figura 3.

Figura 3 - Representação esquemática da tríade ecológica.


Físico
Social
Ambiente Econômico
Político
Biológico
Cultural

Idade
Biológico
Sexo
Químico
Físico
Nutricional
Agente Hospedeiro Raça
Hábitos
Costumes
Mecânico
Outros

Fonte: Adaptado de: LEAVELL H.R.; CLARK E. G. Medicina preventiva. Rio de Janeiro:
McGraw-Hill, 1976.

Posteriormente, outros modelos ecológicos foram propostos


realçando a relação entre o hospedeiro e o meio ambiente. Para conhecer
mais sobre modelos ecológicos indicamos a leitura da obra: Ecologia,
epidemiologia e sociedade, de Oswaldo Paulo Fortattini.
O modelo de rede de causas, relacionado à ocorrência da doença,
é consequência de vários fatores, ou causas, que se relacionam de forma
sequencial, organizados em diferentes vias ou mecanismos causais, os
quais acabam por levar ao adoecimento. Trata-se, portanto, de um modelo
baseado na concepção de que as doenças surgem de múltiplas causas,
algumas atuando mais proximais ou distais ao processo de adoecer. A
figura 4 mostra a representação desse modelo trazendo um exemplo da
rede de causas de uma parasitose.

25
Figura 4 - Rede de causas de uma parasitose.

Fatores biológicos

Acesso a
serviços de
saúde

Infecção
Acesso a Perda de intestinal
saneamento peso
básico Contato
Classe social
baixa com o Desnutrição
parasita
Acesso à Inapetência
água tratada
Epidemia

Consumo de
alimentos
contaminados

Não diagnóstico ou
Fatores distais Fatores proximais não tratamento ou
não controle

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Observando a figura acima, tem-se o seguinte: a classe social baixa


tem relação com o acesso a serviços de saúde, saneamento básico, água
tratada e consumo de alimentos contaminados. Todos esses aspectos
são considerados fatores distais para causas de doenças. Esses fatores,
por exemplo, aumentam a possibilidade da ocorrência de uma epidemia
da doença, que, por sua vez, sofre influência de outros fatores (como os
biológicos). Portanto, o não diagnóstico oportuno, ou o não tratamento,
ou ainda o não controle (causas proximais) aumenta a possibilidade de
ocorrência de epidemia. O modelo pode ser expandido, levando-se em
conta a possibilidade de múltiplos efeitos decorrentes de cada uma das
diversas sequências de causas.
Por fim, o modelo sistêmico explica os processos de adoecimento
de uma forma “orgânica”, articulando todas as dimensões dos indivíduos,
desde as biológicas (ligadas ao organismo humano e suas funções)
passando por aquelas ligadas à vida dos indivíduos e à família, até as mais
gerais vinculadas à estrutura da sociedade. Baseia-se na suposição de que
as causas das doenças estão em diferentes sistemas de organização, desde
o celular até o social, passando por níveis intermediários, como órgãos e
os indivíduos, conforme ilustra a figura 5.

26
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

Figura 5 - Representação esquemática do Modelo sistêmico.

Explicação biológica


Célula

Órgão
Indivíduo
Explicação social
Família
Sociedade

Fonte: MEDRONHO, R. de A. et al. Epidemiologia. Rio de Janeiro: Atheneu, 2009.

Embora esse modelo não cite claramente os fatores etiológicos


passíveis de intervenção, como nos modelos ecológicos e de rede de
causas, ele traz uma visão mais holística do processo saúde-doença, ao
clarificar uma estrutura hierárquica entre os níveis de atuação das causas.
Um exemplo da aplicação desse modelo pode ser observado na figura 6.

Figura 6 - Modelo sistêmico para diarreias e desnutrição.

COS E SOCIOECO
OLÍTI NÔM
ES P ICO
OR
FAT RES CULTURAIS
S
FATO

RES AMBIENTAIS
FATO

ES PATOGÊNIC
ENT OS
AG
alimen de

Baix itivo
tos

aqu
Alim
ez

ices

Háb res
con

o pod
Escass

is
s

enta
Água
Crend

tami
Mosca

itos
NUTR

er
BIOAGENTES

nada sanitá tos


FATORES
ICIONAIS

Diarreias Desnutrição
Habitação
esgo de
rância

Falta

Desma
Preco me
Lixo
fúndio

rios
Igno

ce

insa
Lati

lub
in tos
os
So
Fa

re
ad

e
es ento de
n

FATO RES
lo

fe im
lt

ca Al ta m
s

CO N G ITOS
ad ed

m ivo
Fal

hi l ÊN
la ulo

n bu
e

s
t

g co
ad

om i e n Con lar oa a
co tím

e t a in a ç ã o h o s p it a U s e di c
ee

és p m
ol t ic e s s o m a de rí
sc

as a al lt ag
S Fa
Po u perstiçõe s
br e
za
Desemprego e
subemprego

Fonte: ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia & Saúde. 6. ed. Rio de
Janeiro: Medsi, 2003.

27
Vale ressaltar que a causalidade foi trabalhada na epidemiologia,
a partir da busca da causa verdadeira e específica da doença. Essa
abordagem ganhou legitimidade com a identificação de agentes
específicos responsáveis pela transmissão de doenças infecciosas. No
entanto, a partir da necessidade de contornar a dificuldade de explicar a
respeito dos processos causais das chamadas doenças não transmissíveis
ou crônico-degenerativas, o tratamento conceitual e metodológico da
causalidade deslocou-se para a quantificação do risco.

PARA SABER MAIS!

- Leia o artigo “Modelos explicativos em Saúde Coletiva:


abordagem biopsicossocial e auto-organização” publicado na Physis
Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 20, 3, p.753-767, 2010,
de autoria de Rodolfo Franco Puttini, Alfredo Pereira Junior e Luiz
Roberto de Oliveira.
- Leia o artigo “Modelos de determinação social das doenças
crônicas não-transmissíveis”, de Naomar Almeida-Filho, publicado
na revista Ciência & Saúde Coletiva, v. 9, n. 4, p. 865-884, 2004.

2.5 Determinantes e condicionantes do processo saúde-doença

Planejar e programar o desenvolvimento de ações em saúde


pública exige um conhecimento detalhado das condições de vida e de
trabalho das pessoas que residem em determinado território, bem como
o entendimento dos fatores determinantes e condicionantes do processo
saúde-doença e suas implicações.
Particularmente em países como o Brasil e outros da América
Latina, a péssima distribuição de renda, o analfabetismo e o baixo grau de
escolaridade, assim como as condições precárias de habitação e ambiente,
têm um papel muito importante nas condições de vida e saúde.

28
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

Em um amplo estudo sobre as tendências da situação de saúde


na Região das Américas recentemente publicado, a OPAS (1998) mostra,
de forma inequívoca, que os diferenciais econômicos entre os países são
determinantes para as variações nas tendências dos indicadores básicos
de saúde e desenvolvimento humanos. A redução na mortalidade infantil,
o incremento na esperança de vida, o acesso à água e ao saneamento
básico, o gasto em saúde, a fecundidade global e o incremento na
alfabetização de adultos foram função direta do Produto Nacional Bruto
dos países.
Segundo Pereira (1995), os fatores de determinação em saúde
podem ser sintetizados conforme mostra a figura 7.

Figura 7 - Fatores de determinação em saúde.

Caracteres/ Sistemas
Internos complexos

Caracteres genéticos
e hereditários BIOLOGIA Envelhecimento

Promoção e
prevenção
Físico

Psicológico AMBIENTE ESTADO DE SERVIÇOS


Tratamento
SAÚDE DE SAÚDE
Social
Reabilitação

Riscos ocupacionais ESTILO DE VIDA Lazer, recreação

Consumo: alimentação
hábitos, vícios etc.

Fonte: Adaptado de: PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 1995.

29
Os fatores determinantes e condicionantes do processo saúde-
doença na contemporaneidade incluem:

Quadro 2 - Determinantes e condicionantes.

DETERMINANTES CONDIONANTES
CONDIÇÕES DE VIDA ESTILO DE VIDA
Condições materiais necessárias Formas social e culturalmente
à subsistência, relacionadas determinadas de vida que se
à nutrição, à habitação, ao expressam no padrão alimentar,
saneamento básico e às condições no dispêndio energético cotidiano
do meio ambiente. no trabalho e no esporte, em
hábitos como fumo, consumo de
álcool e lazer.
Fonte: Adaptado de: PINHO, J.R.O. et al. Conceitos e ferramentas da epidemiologia. São
Luís: EDUFMA, 2015. (Cadernos de Saúde da Família n. 2).

Além disso, é possível enumerar fatores determinantes


relacionados ao indivíduo (microdeterminantes) ou relacionados às
comunidades/populações (macrodeterminantes):

Quadro 3 – Microdeterminantes e Macrodeterminantes.

MICRODETERMINANTES MACRODETERMINANTES
• Características genéticas e • Políticas públicas;
imunológicas; • Desenvolvimento
• Renda; sustentável;
• Acesso a serviços de saúde; • Produto nacional bruto
• Escolaridade/educação; (pnb);
• Posição na sociedade; • Desigualdades de renda;
• Personalidade; • Ambiente social;
• Hábitos; • Iniquidades sociais;
• Cuidados em terceira idade e • Posição hierárquica.
outros.
Fonte: Adaptado de: PINHO, J.R.O. et al. Conceitos e ferramentas da epidemiologia. São
Luís: EDUFMA, 2015. (Cadernos de Saúde da Família n. 2).

É importante ressaltar que a sociedade espera que o setor da saúde


cuide das pessoas e da população mediante ações individuais e coletivas,

30
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

intervindo nos determinantes e condicionantes dessa área. Na medida em


que a saúde tem sido reconhecida não apenas como a ausência de doença,
o propósito almejado é que as pessoas possam ter uma vida com qualidade.

PARA SABER MAIS!

Leia o texto “A saúde e seus determinantes sociais”, de


autoria de Paulo Marchiori Buss e Alberto Pellegrini Filho, publicado
na PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 77-93,
2007.

2.6 Endemias, epidemias, surtos e pandemias

Merecem destaque as ações sistemáticas e contínuas de coleta,


análise, interpretação e disseminação de informação com a finalidade
de recomendar e adotar medidas de prevenção e controle de problemas
de saúde. Nesse cerne, o conhecimento sobre endemias, epidemias e
pandemias é fundamental. Ainda que tradicionalmente esse conhecimento
direcione a focalização de doenças infecciosas, atualmente esses
conceitos também incluem seu uso para doenças crônico-degenerativas,
os acidentes, as violências, entre outros.

Endemias, epidemias, surtos e


pandemias: você lembra a diferença
destes conceitos?

A endemia é definida como a presença habitual de uma doença,


dentro dos limites esperados, em uma determinada área geográfica, por

31
um período de tempo ilimitado. Pode, também, referir-se à ocorrência
usual de uma determinada doença, dentro de uma área (GORDIS, 2010).
Esse fenômeno ocorre quando há uma constante renovação de
suscetíveis na comunidade, exposição múltipla e repetida destes a um
determinado agente, isolamento relativo sem deslocamento importante
da população em uma zona territorial. Por exemplo: malária, febre amarela,
doença de Chagas, esquistossomose etc. (MEDRONHO; WERNECK; PEREZ,
2009).
A epidemia, por sua vez, é definida como a ocorrência em uma
comunidade ou região, de um grupo de doenças de natureza similar,
excedendo claramente a expectativa normal, derivada de uma fonte
comum de propagação.
Resulta, portanto, em um “claro excesso de casos em relação ao
esperado” quando comparado à frequência esperada (ou habitual) de uma
doença em uma determinada população, em um período determinado,
não sendo necessariamente a “ocorrência de muitos casos” (RIBEIRO,
2012).
O número de casos de uma epidemia vai variar de acordo com o
agente, o tipo e o tamanho da população exposta, além do período e do
local de ocorrência. A ocorrência de um único caso autóctone em uma
região onde nunca tenha ocorrido ou que esteja há muitos anos livre de
uma determinada doença, representa uma epidemia, pois demonstra uma
alteração substantiva na estrutura epidemiológica relacionada à doença
(MEDRONHO; WERNECK; PEREZ, 2009).

Qual diferença entre os casos


autóctones e casos alóctones?
Os casos autóctones são aqueles
oriundos do mesmo local onde
ocorreram.
Já os casos alóctones são aqueles
casos importados de outras
localidades.

32
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

Quando as condições facilitam a propagação de agentes infecciosos


no ambiente e associam-se a um grande número de pessoas suscetíveis,
pode ser dado espaço para o desenvolvimento de uma pandemia. O termo
pandemia refere-se a uma epidemia de grandes proporções geográficas,
ou seja, atingindo vários países, inclusive mais de um continente. Como
exemplo, podemos citar a doença influenza A (H1N1) no ano de 2009,
cujos primeiros casos ocorreram no México, expandindo-se para Europa,
América do Sul, América Central, África e Ásia (RIBEIRO, 2012).
A ocorrência de uma epidemia restrita a um espaço geográfico
circunscrito é denominada surto. O surto consiste em uma ocorrência
epidêmica, em que todos os casos estão relacionados entre si, acometendo
uma área geográfica pequena e delimitada (como vilas ou bairros)
ou uma população institucionalizada (como creches, asilos, escolas e
presídios). Podemos citar como exemplo, a ocorrência de inúmeros
casos de intoxicação alimentar em um asilo, após ingestão de alimentos
contaminados.
As etapas de investigação de epidemia ou surto incluem:
Figura 8 - Etapas de investigação de epidemia ou surto.

Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4


Confirmação do Confirmação da Caracterização Formulação de
diagnóstico da existência de da epidemia hipóteses
doença epidemia ou surto preliminares

Etapa 5 Etapa 6 Etapa 7 Etapa 8


Análises parciais Busca ativa Busca de dados Análise final
de casos adicionais

Etapa 9 Etapa 10 Etapa 11


Medidas de Relatório final Divulgação
controle

Fonte: Adaptado de: BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. 7.


ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.

33
As três primeiras etapas são fundamentais. Em geral, no início
da investigação, emprega-se uma definição de caso mais sensível, que
envolve casos confirmados e casos prováveis. A intenção é facilitar a
identificação, a extensão do problema e os grupos populacionais mais
atingidos. Esse processo é fundamental, pois pode levar a elaboração de
hipóteses importantes.
O processo de confirmação de uma epidemia ou surto envolve
o estabelecimento do diagnóstico da doença e do estado epidêmico.
Torna-se imprescindível conhecer a frequência habitual de casos no lugar
e período. A confirmação decorre da comparação dos coeficientes de
incidências (antes e depois).
As hipóteses são formuladas com vistas a identificar: fonte de
infecção, transmissibilidade, agente etiológico, população em maior risco e
período de exposição. O relatório final deverá ser enviado aos profissionais
que prestaram assistência médica aos casos e aos participantes da
investigação clínica e epidemiológica, representantes da comunidade,
autoridades locais, administração central dos órgãos responsáveis pela
investigação e controle do evento (BRASIL, 2009).
Vamos analisar a figura 9 que apresenta a taxa de incidência de
dengue (número de casos novos na população) no município A, de 1997
a 2015.

Figura 9 - Gráfico da taxa de incidência de dengue no município A.


ANO TAXA
250 227,21 2002 33,95
213,56 2003 120,87
200 2004 115,23
2005 227,21
146,49
2006 75,43
150
120,87 2007 55,21
109,7 99,75 108,3
2008 109,7
100 115,23 2009 146,49
83,61 87,94 2010 99,75
50 75,43
2011 27,02
33,95 55,21

27,02 2012 108,3


0 2013 83,61
2014 213,56
97

98

99

00

01

02

03

04

05

06

07

08

09

10

11

12

13

14

15
19

19

19

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

2015 87,94

Fonte: Elaborada pelas autoras.

34
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

A incidência média entre os anos foi de 107,44 casos de dengue


para cada mil habitantes. Além desse dado é necessário conhecer o desvio
padrão e os valores mínimos e máximos esperados. Nesse caso, os valores
estão entre 49,26 e 165,62, assim podemos identificar e monitorar os
índices, o que está acima do esperado, durante os anos de 2005 e 2014.
Diante disso, é correto afirmar que em 2005 e 2014 o município dado
como exemplo passou por uma epidemia de dengue? Ou seria surto?
Para chegarmos à resposta é importante levar em consideração
que os casos se distribuíram por toda a cidade, não ficando restritos a uma
única área. Portanto, o município realmente passou por uma epidemia de
dengue.
Outra observação importante é que somente no ano 2002 ocorreu
taxa menor do que o esperado. Desse modo o município também se
caracteriza como área endêmica de dengue.
Vale ressaltar que as epidemias podem ser classificadas
didaticamente quanto à origem e quanto à duração. Quanto à origem,
elas podem ser de fonte comum pontual ou fonte comum persistente
(ou propagada). Quanto à duração, as epidemias podem ser classificadas
como explosivas ou lentas. Acompanhe o detalhamento da classificação
das epidemias na figura 10.

Figura 10 - Esquema explicativo para classificação de epidemias.


ORIGEM DURAÇÃO
FONTE COMUM FONTE COMUM EXPLOSIVAS LENTAS
PONTUAL PROPAGADA

Caracteriza-se pela Caracteriza-se pela Caracterizam-se pelo Caracterizam-se pelo


inexistência de propagação transmissão direta alcance da incidência alcance da incidência
da doença entre as (pessoa a pessoa) ou pela máxima (o ápice da máxima (o ápice da curva
pessoas. transmissão por vetor. curva epidêmica) em epidêmica) de forma
A fonte é representada, Tem progressão lenta. curto intervalo de muito lenta. Os casos,
em geral, por veículos que Existe uma única fonte tempo. Por exemplo, em em geral, não ocorrem
contêm o agente, como de contaminação, à qual situação onde ocorre ao mesmo tempo, eles
água, alimentos ou ar. as pessoas são expostas intoxicação por alimento sucedem-se. A progressão
por um período maior de contaminado, como em ocorre lentamente.
tempo. uma festa.
Fonte: Elaborada pelas autoras.


Podemos destacar uma lista de apontamentos que refletem a
relevância dos conhecimentos apresentados até aqui, considerando

35
especialmente a finalidade central de prover as bases técnicas para
subsidiar os profissionais de saúde na elaboração e implementação de
ações e programas de saúde. Especialmente no tocante à epidemiologia,
temos:

• Identificar e descrever o comportamento epidemiológico das


doenças.
• Detectar epidemias e descrever o processo de
transmissibilidade.
• Avaliar magnitude das medidas de morbidade.
• Recomendar adoção oportuna de medidas de prevenção e
controle.
• Atividades de notificação de doenças e agravos, além de casos
suspeitos.
• Avaliar o impacto de medidas de intervenção.

AGORA É COM VOCÊ

Suponhamos que estejam sendo detectados inúmeros casos


de uma doença semelhante à gripe, mas ainda não claramente
identificada, no município A dado como exemplo. Os primeiros
casos foram identificados em um vilarejo próximo a uma fábrica de
cimento. Como deve ser conduzida a investigação desse possível
surto?
Os primeiros casos de uma epidemia, em uma determinada
área, sempre devem ser submetidos à investigação em profundidade.
A magnitude, extensão, natureza do evento, forma de transmissão
e o tipo de medidas de controle indicadas são alguns elementos
que orientam as diretrizes de investigação. Lembrem-se: o objetivo
central é sempre identificar formas de interromper a transmissão e
prevenir ocorrência de casos novos. Agora é só a equipe detalhar as
etapas de investigação, conforme apresentado anteriormente.

36
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

PARA SABER MAIS!

Informações detalhadas sobre Investigação Epidemiológica de


Casos, Surtos e Epidemias estão disponibilizadas no Guia de
vigilância epidemiológica publicado em 2016 que é atualizado
sistematicamente pelo Ministério da Saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste capítulo foram trabalhados conceitos importantes sobre


epidemiologia, como causalidade, endemias, epidemias e pandemias,
explorando sua utilização e aprofundando em aspectos de investigação
epidemiológica.
Os profissionais de saúde têm como desafio permanente trabalhar
para o desenvolvimento da consciência sanitária dos gestores municipais
dos sistemas de saúde, para que passem a priorizar as ações de saúde
pública e trabalhem na perspectiva de atuação em problemas de saúde
prioritários, em cada espaço geográfico.
Nesse contexto, a epidemiologia é uma ferramenta fundamental,
pois ajuda a conhecer a distribuição de fatores de risco e agravos na
população, embasando estratégias de prevenção e controle.

37
38
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

REFERÊNCIAS

ALEXANDRE, L. B. S. P. Epidemiologia aplicada nos serviços de saúde.


São Paulo: Martinari, 2012.

ARREAZA, A. L. V.; MORAES, J. C. Vigilância da saúde: fundamentos,


interfaces e tendências. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15,
supl. 4, p. 2215-2228, 2010.

BARRETO, M. L. Papel da epidemiologia no desenvolvimento do Sistema


Único de Saúde no Brasil: histórico, fundamentos e perspectivas. Rev.
bras. epidemiol., São Paulo, v. 5, supl.1, p. 4-17, nov. 2002. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
790X2002000400003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 9 dez. 2016.

BARRETO, S. M. et al. Análise da estratégia global para alimentação,


atividade física e saúde, da Organização Mundial da Saúde.
Epidemiologia e os serviços de Saúde, Brasília, v. 14, n. 1, p. 41-68, 2005.

BARROS, J. A. C. Pensando o processo saúde-doença: a que responde o


modelo biomédico? Saúde soc., v. 11, n. 1, p. 67-84, 2002.

BRAGA, J. U.; WERNECK, G. L. Vigilância epidemiológica. In: MEDRONHO,


R. A. et al. Epidemiologia. São Paulo: Ateneu, 2009.

BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. 7. ed.


Brasília: Ministério da Saúde, 2009.

BUSS, P. M. Promoção da saúde e qualidade de vida. Ciência & Saúde


Coletiva, v. 5, n. 1, p.163-177, 2000.

39
COSTA, A. J. L.; KALE, P. L. Medidas de frequências de doenças. In:
MEDRONHO, R. A. et al. Epidemiologia. São Paulo: Ateneu, 2009.

FOUCAULT, M. O nascimento da clínica. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense


Universitária, 2008.

FRENK, J. et al. La transición epidemiológica en América Latina. Boletín


de la Oficina Sanitaria Panamericana, v. 111, n. 6, p. 485-496, 1991.

GONDIM, G. M. M. Espaço e saúde: uma (inter)ação provável nos


processos de adoecimento e morte em populações. In: MIRANDA, A. C.
Território, ambiente e saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008. p. 57-75.

GORDIS, L. Epidemiologia. Rio de Janeiro: Revinter, 2010.

LAST, J. M. (Ed.). Dictionary of epidemiology. New York: Oxford


University Press, 1988.

LEAVELL, H.R.; CLARK, E.G. Medicina preventiva. Rio de Janeiro: McGraw-


Hill, 1976.

MARIN, H.F. Sistemas de informação em saúde: considerações gerais.


J. Health Inform., v. 20, n. 4, p. 20-4, jan./mar. 2010. Disponível em:
<http://www.jhi-sbis.saude.ws/ojs-jhi/index.php/jhi-sbis/article/viewFi-
le/4/52> Acesso em: 9 dez. 2016.

MEDRONHO, R. A.; WERNECK, G. L.; PEREZ, M. A. Distribuição


das doenças no espaço e no tempo. In: MEDRONHO, R. A. et al.
Epidemiologia. São Paulo: Ateneu, 2009.

MEDRONHO, R. de A. et al. Epidemiologia. Rio de Janeiro: Atheneu,


2009.

40
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

NADANOVSKY, P.; LUIZ, R. R.; COSTA, A. J. L. Causalidade em saúde. In:


MEDRONHO, R. A. et al. Epidemiologia. São Paulo: Ateneu, 2009.

OLIVEIRA, M. A. C.; EGRY, E. Y. A historicidade das teorias interpretativas


do processo saúde-doença. Rev. Esc. Enf. USP, São Paulo, v. 34, n. 1, jan.
2000.

OMRAM, A. R. The epidemiologic transition: a theory of the


epidemiology of population change. Bulletin of the World Health
Organization, v. 79, n. 2, p.161-170. 2001.

OPAS. La Salud en las Américas. v. 1. Washington: OPAS, 1998. 368 p.

____. OMS. Promoción de liderazgo y formación avanzada em Salud


Publica: la prestación de servicios de salud. Educación Médica y Salud, v.
26, n. 3, p. 293-425. 1992.

PAIM, J. S. A Constituição cidadã e os 25 anos do Sistema Único de Saúde


(SUS). Cadernos de Saúde Pública (ENSP. Impresso), v. 29, p. 1927-1936,
2013.

_____. A reorganização das práticas de saúde em distritos sanitários. In:


MENDES, E. V. et al. Distrito sanitário: o processo social da mudança das
práticas sanitárias do Sistema Único de Saúde. São Paulo, Rio de Janeiro:
HUCITEC, 1993.

_____. Modelos de atenção à saúde no Brasil. In: GIOBANELLA, G. et al.


Políticas e sistema de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2008.

_____. Modelos de atenção e vigilância da saúde. In: ROUQUAYROL,


M. Z. e ALMEIDA FILHO, N. (Org.). Epidemiologia e saúde. 6. ed. Rio de
Janeiro: Medsi, 2003.

41
PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2005.

PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 1995.

PINHO, J.R.O. et al. Conceitos e ferramentas da epidemiologia. São Luís:


EDUFMA, 2015. (Cadernos de Saúde da Família n. 2).

PONTES, R. J. S. et al. Transição demográfica e epidemiológica. In:


MEDRONHO, R. A. et al. Epidemiologia. São Paulo: Ateneu, 2009.

RIBEIRO, M. C. S. Epidemiologia descritiva. In: ALEXANDRE, L. B. S.P.


Epidemiologia aplicada nos serviços de saúde. São Paulo: Martinari,
2012.

ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, Naomar. Epidemiologia & Saúde.


6. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2003

ROZENFELD, S. Fundamentos da vigilância sanitária. Rio de Janeiro:


FIOCUZ, 2000.

SANTOS-PRECIADO, J. L. et al. La transición epidemiológica de las y los


adolescentes em México. Salud Pública de México, v. 45, supl. 1, p. 140-
152, 2003.

SCHRAMM, F. R.; CASTIEL, L. D. Health/disease process and complexity in


epidemiology. Cadernos de Saúde Pública, v. 8, n. 4, p. 379-390, 1992.

SCHRAMM, J. M. A. et al. Transição epidemiológica e o estudo de carga


de doença no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 9 n. 4, p. 897-908, 2004.

42
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

SZKLO, M.; JAVIER NIETO, F. Epidemiology: beyond the basics. 2. ed.


Massachusetts: Jones and Bartlett Publishers, 2007.

TEIXEIRA, C. F.; PAIM, J. F.; VILASBÔAS, A. L. SUS, modelos assistenciais e


vigilância da saúde. IESUS, v. 7, n. 2, p. 7-28, abr./jun. 1998. Disponível
em: <http://scielo.iec.pa.gov.br/pdf/iesus/v7n2/v7n2a02.pdf>. Acesso
em: 23 dez. 2016.

TEIXEIRA, C. F. O Futuro da prevenção. Salvador: Casa da Saúde, 2001.

_____. Promoção e vigilância da saúde no contexto da regionalização da


assistência à saúde no SUS. Cadernos de Saúde Pública, São Paulo, v. 18,
p. 153-162, 2002.

_____; VILASBÔAS, A. L. Q. Modelos de atenção à saúde: transformação,


mudança ou conservação? In: PAIM, J. S.; ALMEIDA-FILHO, N. Saúde
coletiva: teoria e prática. Rio de Janeiro: Medbook, 2014.

43
44
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

3 INDICADORES DE SAÚDE
Carolina Abreu de Carvalho
Paola Trindade Garcia

3.1 Padronização de indicadores no SUS

A vigilância da situação de saúde desenvolve ações de


monitoramento contínuo do país/estado/região/município/território por
meio de estudos e análises que traduzam o comportamento dos principais
indicadores de saúde, priorizando questões relevantes e contribuindo para
um planejamento de saúde mais abrangente e adequado (BRASIL , 2010).
Um indicador consiste em uma medida que reflete uma
característica ou aspecto particular, em geral não sujeito a observação
direta (MEDRONHO, 2009). Os indicadores de saúde têm como propósito
principal elucidar a situação de saúde de um indivíduo ou de uma
população.
A qualidade de um indicador depende das propriedades dos
componentes utilizados em sua formulação e da precisão dos sistemas de
informação empregados. O grau de excelência de um indicador deve ser
definido por:

Figura 1 – Variáveis para definição do grau de excelência de um indicador.

Validade Capacidade de medir o que se pretende.

Capacidade de reproduzir os mesmos resultados


Confiabilidade quando aplicado em condições similares.

Fonte: Adaptado de: MEDRONHO, R. A. et al. Epidemiologia. Rio de Janeiro: Atheneu, 2009.

Em geral, a validade de um indicador é determinada por sua


sensibilidade (capacidade de detectar o fenômeno analisado) e

45
especificidade (capacidade de detectar somente o fenômeno analisado).
Outros atributos de um indicador são: mensurabilidade (basear-se
em dados disponíveis ou fáceis de conseguir), relevância (responder
a prioridades de saúde), e custo-efetividade (os resultados justificam o
investimento de tempo e recursos) (RIPSA , 2016).

3.2 Indicadores sociais, econômicos e demográficos

Podemos citar, como exemplos de indicadores que se referem


diretamente à saúde de indivíduos ou de populações (ou à sua falta), as
medidas de mortalidade e morbidade, do estado nutricional, demográficas,
de exposição a fatores de risco e de satisfação com o próprio estado
de saúde. As medidas utilizadas para medir o nível de saúde e avaliar a
situação de saúde devem permitir comparações entre populações de
diferentes regiões ou países e, ao mesmo tempo, refletir o resultado dos
determinantes e condicionantes do estado de saúde (LAURENTI et al.,
2005).
Ainda que a obtenção de dados sociais,
demográficos e econômicos não seja uma especificidade
do setor de saúde, são de extrema importância para
avaliar a situação de saúde de uma população e na
previsão de recursos e estratégias para a manutenção
das ações.
Ainda que existam muitas especificidades, tendo por base
os parâmetros sugeridos pela OMS, agrupam os indicadores em três
categorias (LAURENTI et al., 2005).
1. Indicadores que traduzem diretamente a saúde.
2. Indicadores que se referem às condições do meio.
3. Indicadores que medem os recursos materiais e humanos
relacionados às atividades de saúde.

46
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

No quadro 1 sistematizamos alguns exemplos sobre tais


agrupamentos:
Quadro 1 - Exemplos de agrupamentos.

Razão de mortalidade proporcional,


Indicadores coeficiente geral de mortalidade, esperança
que traduzem de vida ao nascer, coeficiente de mortalidade
diretamente a saúde infantil e coeficiente de mortalidade por
doenças transmissíveis.
Indicadores que se Índice de abastecimento de água, rede de
referem às condições esgotos, contaminações ambientais por
do meio poluentes.
Indicadores que Índices relativos à rede de unidades de saúde
medem os recursos para a atenção básica, profissionais de saúde
materiais e humanos e leitos hospitalares.
Fonte: Adaptado de: LAURENTI, R. et al. Estatísticas de saúde. 2. ed. São Paulo: EPU, 2005.

Em publicação da Organização Pan-Americana de Saúde sobre


indicadores básicos de saúde para o Brasil, produzidos pela Rede
Interagencial de Informações para a Saúde (RIPSA), são utilizados os
seguintes agrupamentos:
• Indicadores demográficos: medem a distribuição de fatores
determinantes da situação de saúde relacionados à dinâmica
populacional na área geográfica referida.
• Indicadores socioeconômicos: medem a distribuição dos
fatores determinantes da situação de saúde relacionados
ao perfil econômico e social da população residente na área
geográfica referida.
• Indicadores de mortalidade: informam a ocorrência e
distribuição das causas de óbito no perfil da mortalidade da
população residente na área geográfica referida.
• Indicadores de morbidade: informam a ocorrência e
distribuição de doenças e agravos à saúde na população
residente na área geográfica referida.

47
• Indicadores de fatores de risco/fatores de proteção: medem
os fatores de risco (ex.: tabaco, álcool) e/ou proteção (ex.:
alimentação saudável, atividade física, aleitamento) que
predispõem a doenças e agravos ou protegem das doenças e
agravos.
• Indicadores de recursos: medem a oferta e a demanda de
recursos humanos, físicos e financeiros para atendimento
às necessidades básicas de saúde da população na área
geográfica referida.
• Indicadores de cobertura: medem o grau de utilização dos
meios oferecidos pelo setor público e pelo setor privado
para atender às necessidades de saúde da população na área
geográfica referida.

O IBGE traz uma abordagem estatística de âmbito social e


demográfico a partir de levantamentos com base na coleta de informações
dos domicílios, entre as fontes de dados, sobre uma determinada área.
Nesse tocante, podemos destacar o Censo Demográfico (que se constitui
como núcleo das estatísticas sociodemográficas) e a Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (PNAD), que levanta, anualmente, informações
sobre a habitação, rendimento e mão de obra, associadas a algumas
características demográficas e de educação. Encontram-se, ainda, como
fonte de informações sociodemográficas, as pesquisas fundamentadas em
registros administrativos, como o Registro Civil, a Pesquisa de Assistência
Médico-Sanitária e a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (IBGE ,
2016).
Uma publicação extremamente relevante que pode apoiar
os estudos sobre dados sociodemográficos refere-se à Síntese de
Indicadores Sociais (IBGE, 2015), publicada pelo IBGE, que reúne múltiplas
informações sobre a ampla realidade social brasileira, acompanhadas de
comentários que destacam, em cada uma das dimensões temáticas de
análise, algumas das principais características observadas nos diferentes
estratos populacionais.

48
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

3.3 Medidas de morbidade

A morbidade é um dos importantes indicadores de saúde. É um


termo genérico usado para designar o conjunto de casos de uma dada
doença ou a soma de agravos à saúde que atingem um grupo de indivíduos.
Medir morbidade nem sempre é uma tarefa fácil, pois são muitas as
limitações que contribuem para essa dificuldade, como a subnotificação.
Para fazer essas mensurações, utilizam-se principalmente as medidas
de incidência e prevalência. A incidência representa a frequência com
que surgem novos casos de uma determinada doença em um intervalo
de tempo. Por exemplo, os novos casos diagnosticados por dengue no
município de São Luís (MA) durante o ano de 2015. É, por conseguinte,
uma medida dinâmica. Observe como calcular a incidência:

Número de casos novos em um determinado período


INCIDÊNCIA = _______________________________________________ x CONSTANTE
Número de pessoas expostas ao risco no mesmo período

Por exemplo, para determinar a incidência de meningite no


Maranhão no ano de 2014, será necessário saber o número de casos
de meningite que ocorreram naquele período entre os residentes do
Maranhão e o número de habitantes do estado no mesmo ano (todos os
possíveis expostos à doença). A constante é uma potência com base 10
(100, 1.000, 100.000), pela qual se multiplica o resultado para torná-lo
mais fácil de interpretar, ou seja, para se ter um número inteiro. Para o
exemplo supracitado o cálculo da taxa de incidência será:

177
Casos de meningite no Maranhão em 2014
INCIDÊNCIA = ________________________________________x 100.000 = 6,68/100 mil
2.648.532
Total da população do Maranhão em 2014

49
Ou seja, no ano de 2014, houve 6,68 novos casos diagnosticados
de meningite a cada cem mil habitantes no estado do Maranhão. Como
você pode notar, os casos novos, ou incidentes, são aqueles que não
estavam doentes no início do período de observação (tempo analisado),
mas adoeceram no decorrer desse período.
As taxas de incidência tendem a variar conforme o número de
episódios da doença analisada, o número de pessoas que tiveram um
episódio de uma doença, tempo para diagnosticá-la e a duração da
investigação.

Alta incidência significa alto risco coletivo de adoecer

A prevalência representa a proporção de indivíduos de uma


população que é acometida por uma determinada doença ou agravo em
um determinado momento, sendo análoga a uma fotografia. Ela engloba
tanto os casos novos que ocorreram no período quanto os casos pré-
existentes. É considerada uma medida estática.

Número de casos novos e
pré-existentes em um determinado período
PREVALÊNCIA = ______________________________________________ x CONSTANTE
Número de pessoas
expostas ao risco no mesmo período

50
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

Na figura 2 você pode visualizar fatores que influenciam a


prevalência em uma ilustração de Kerr-Pontes, 2003:
Figura 2 - Eventos que influenciam a prevalência de doenças em comunidades abertas.
Doentes Doentes que
novos imigram

Prevalência

Número
de casos

Curas Óbitos

Doentes que emigraram

Fonte: ALMEIDA FILHO, N.; BARRETO, M. L. Epidemiologia & Saúde: fundamentos,


métodos e aplicações. São Paulo: Guanabara Koogan, 2012.

É importante frisar que as taxas de prevalência apresentarão


comportamento diferente quando estiverem tratando de doenças
crônicas. No geral, haverá variação nessas taxas, por exemplo, a depender
do tempo necessário para o doente se curar, devendo haver cautela
também na análise das condições sem cura. Além disso, influenciam as
taxas de prevalência: novos episódios de uma doença, óbitos, mudança de
localização (doentes que migram e emigram para um determinado local).

AGORA É COM VOCÊ!

Tente determinar a prevalência de hipertensos em sua comunidade


em um determinado ano. Será necessário saber o número de
indivíduos portadores de hipertensão arterial na área e o número
total de habitantes da comunidade coberta. Também será necessária
uma constante com base 10 (100, 1.000, 100.000). Para este caso, o
cálculo da taxa de prevalência será:

51
89
Indivíduos portadores de hipertensão na comunidade
PREVALÊNCIA = __________________________________ x 100 = 2,54/100 habitantes
3500
Total de moradores da
comunidade coberta pela ESF

Portanto, a prevalência de hipertensão arterial na comunidade


coberta pela ESF do exemplo anterior é de 2,54 indivíduos a cada cem
moradores. Diante dessas informações, pode-se afirmar que a prevalência
é útil: na análise da demanda por assistência à saúde e no planejamento
de ações e administração de serviços de saúde.
A prevalência e a incidência estão relacionadas, uma vez que a
prevalência é uma função da incidência mediada pelo tempo de duração
da doença. Veja na Figura 3 como determinados fatores podem influenciar
a incidência de uma doença.

Figura 3 - Eventos que influenciam a prevalência de doenças em comunidades abertas.

Prevalência = Incidência X Duração da doença


• Maior duração da doença; • Menor duração da doença;
• Aumento da incidência; • Diminuição da incidência;
• Aumento da sobrevida, sem • Maior letalidade;
Prevalência

Prevalência

cura; • Imigração de pessoas sadia


• Imigração de casos ou ou emigração de casos;
emigração de pessoas sadias; • Aumento da taxa de cura.
• Melhoria dos recursos
diagnósticos;
• Melhoria do sistema de
informação.
Fonte: ALMEIDA FILHO, N.; BARRETO, M. L. Epidemiologia & Saúde: fundamentos,
métodos e aplicações. São Paulo: Guanabara Koogan, 2012.

3.4 Medidas de mortalidade

Outro indicador de saúde tradicional na saúde coletiva é o


coeficiente de mortalidade, determinado de forma genérica pelo número
de óbitos dividido pela população exposta (total da população em
questão). Podem-se destacar as principais medidas de mortalidade no

52
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

quadro a seguir:
Quadro 2 - As principais medidas de mortalidade.

Indicador de
Descrição
mortalidade

Número de óbitos totais em todas as faixas etárias,


Coeficiente de
na população residente em determinado espaço
mortalidade geral
geográfico, no ano considerado.

Número de óbitos de menores de 1 ano de idade,


Coeficiente de
por mil nascidos vivos, na população residente em
mortalidade infantil
determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Coeficiente de Número de óbitos de 0 a 6 dias de vida completos,


mortalidade neonatal por mil nascidos vivos, na população residente em
precoce determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Coeficiente de Número de óbitos de 7 a 27 dias de vida completos,


mortalidade neonatal por mil nascidos vivos, na população residente em
tardia determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Número de óbitos de 28 a 364 dias de vida completos,


Coeficiente de
por mil nascidos vivos, na população residente em
mortalidade pós-natal
determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Número de óbitos maternos, por 100 mil nascidos


Coeficiente de
vivos de mães residentes em determinado espaço
mortalidade materna
geográfico, no ano considerado.

Coeficientes de Distribuição percentual de óbitos por grupos de causas


mortalidade definidas, na população residente em determinado
específicos espaço geográfico, no ano considerado.

Fonte: RODRIGUES, V. P. et al. Indicadores de saúde. In: PINHO, J.R.O. (Org.). Conceitos e
ferramentas da epidemiologia. São Luís: EDUFMA, 2015.

A seguir descreveremos os conceitos e aplicações de alguns


indicadores de mortalidade, segundo a RIPSA (2008).

53
3.4.1 Mortalidade infantil

A taxa de mortalidade infantil é um dos mais sensíveis indicadores


de condições de vida e saúde de uma população. Taxas elevadas de
mortalidade infantil podem refletir condições de baixo desenvolvimento
socioeconômico, precária infraestrutura ambiental, bem como o acesso
e a qualidade dos recursos disponíveis para atenção à saúde materna e
da população infantil. A maior parte dos óbitos infantis é evitável, pois
por ações efetivas dos serviços de saúde poderia ter sido redutível
(NASCIMENTO et al., 2014).
A mortalidade infantil pode ser classificada da seguinte maneira:
»» ALTA (50 óbitos por mil ou mais nascidos vivos);
»» MODERADA (20 a 49 óbitos por mil ou mais nascidos vivos);
»» BAIXA (menos de 20 óbitos por mil ou mais nascidos vivos).
No Brasil, os óbitos infantis são registrados
no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM).
Em alguns casos pode haver distorção da medida
de mortalidade infantil, a saber (SANTOS; TEJADA;
EWERLING, 2012):
»» Problemas de registros de óbitos infantis.
»» Registro de óbitos por local de ocorrência e não de residência,
pois existem locais de ocorrência que recebem muitos casos
não residentes, os quais possuem melhores condições de
atendimento, hospitais de referência etc.
»» Erros nos registros de causas de mortes e da idade da criança
na Declaração de Óbitos.

3.4.2 Mortalidade neonatal

A mortalidade neonatal estima o risco de um nascido vivo


morrer até os 27 dias de vida. Reflete, de maneira geral, as condições
socioeconômicas e de saúde da mãe, bem como a inadequada assistência

54
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

pré-natal, ao parto e ao recém-nascido. Atualmente, o principal


componente da mortalidade infantil no Brasil é a mortalidade neonatal
precoce (de 0 a 6 dias), sendo que 25% das mortes ocorrem nas primeiras
24h (RIPSA, 2008; LANSKY et al., 2014).

3.4.3 Mortalidade pós-neonatal

A taxa de mortalidade pós-neonatal estima o risco de um nascido


vivo morrer dos 28 aos 364 dias de vida. De maneira geral, denota o
desenvolvimento socioeconômico e a infraestrutura ambiental, que
condicionam a desnutrição infantil e as infecções a ela associadas. O
acesso e a qualidade dos recursos disponíveis para atenção à saúde
materno-infantil são também determinantes da mortalidade nesse grupo
etário. Quando a taxa de mortalidade infantil é alta, a mortalidade pós-
neonatal é, frequentemente, o componente mais elevado (RIPSA, 2008).

3.4.4 Mortalidade perinatal

A mortalidade perinatal refere-se ao número de óbitos ocorridos no


período perinatal por mil nascimentos totais na população residente em
determinado espaço geográfico, no ano considerado. O período perinatal
começa em 22 semanas completas (ou 154 dias) de gestação e termina
aos sete dias completos após o nascimento, ou seja, de 0 a 6 dias de vida
(período neonatal precoce). Portanto, os nascimentos totais incluem os
nascidos vivos e os óbitos fetais (RIPSA, 2008). Veja abaixo a fórmula parar
o cálculo da mortalidade perinatal:

Número de óbitos com 22 semanas ou mais de gestação a < 7 dias X Constante


Número de nascidos vivos e natimortos

A taxa de mortalidade perinatal estima o risco de morte de um feto


nascer sem qualquer sinal de vida ou morrer na primeira semana.

55
De maneira geral, reflete a ocorrência de fatores vinculados à
gestação e ao parto, entre eles o peso ao nascer, bem como as condições
de acesso a serviços de saúde e a qualidade da assistência pré-natal, ao
parto e ao recém-nascido.
Veja na figura 4 a correspondência cronológica para cada tipo de
mortalidade infantil comentada anteriormente:
Figura 4 - A correspondência cronológica para cada tipo de mortalidade infantil.
Perinatal

22 semanas Nascimento 7 dias 28 dias 1 ano

Precoce Tardia Pós-Neonatal

Neonatal

Infantil

Fonte: ALMEIDA FILHO, N.; BARRETO, M. L. Epidemiologia & Saúde: fundamentos,


métodos e aplicações. São Paulo: Guanabara Koogan, 2012.

3.4.5 Mortalidade materna

A razão de mortalidade materna estima a frequência de óbitos


femininos, ocorridos até 42 dias após o término da gravidez, atribuídos
a causas ligadas à gravidez, ao parto e ao puerpério, em relação ao
total de nascidos vivos. O número de nascidos vivos é adotado como
uma aproximação do total de mulheres grávidas. Esse indicador reflete
a qualidade da atenção à saúde da mulher, dessa forma taxas elevadas
de mortalidade materna estão associadas à insatisfatória prestação de
serviços de saúde a esse grupo, desde o planejamento familiar e assistência
pré-natal, até a assistência ao parto e ao puerpério.

3.4.6 Mortalidade por causas específicas

A mortalidade por causas específicas mede a participação relativa


dos principais grupos de causas de morte no total de óbitos com causa

56
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

definida. De modo geral, é influenciado pela participação de fatores que


contribuem para aumentar ou diminuir determinadas causas, alterando a
distribuição proporcional das demais: condições socioeconômicas, perfil
demográfico, infraestrutura de serviços públicos, acesso e qualidade dos
serviços de saúde (RIPSA, 2008).
Veja na figura 5 um gráfico clássico de mortalidade proporcional
por causas específicas:
Figura 5 – Mortalidade Proporcional no Brasil, 1930 – 2009.

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1930 1935 1940 1945 1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2009
Infecciosas e parasitárias Neoplasias Causas externas
Aparelho circulatório Outras doenças
*Até 1970, os dados referem-se apenas às capitais

Fonte: SILVA JUNIOR, J.B. et al. Doenças e agravos não transmissíveis: bases
epidemiológicas. In: ROUQUAYROL, M.Z.; ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia &
Saúde. 6. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2003.

3.5 Outros indicadores

Além dos indicadores de morbidade e mortalidade, existem


diversos outros indicadores que englobam fatores determinantes da saúde
e devem ser considerados no planejamento, monitoramento e avaliação
da situação de saúde. Veja na figura 6 alguns desses indicadores:

57
Figura 6 – Outros indicadores de saúde.

Indicam, por exemplo,


Indicadores relacionados
proporção de nascidos vivos
à nutrição, crescimento e
com baixo peso e proporção de
desenvolvimento:
adultos com obesidade.

Indicam, por exemplo,


Indicadores demográficos: distribuição da população
segundo sexo e idade.

Indicam, por exemplo,


Indicadores socioeconômicos: escolaridade, renda, condições
de moradia.

Indicam, por exemplo,


Indicadores relacionados
qualidade do solo, da água e
à saúde ambiental:
do ar.

Indicam, por exemplo,


número de profissionais da
saúde por mil habitantes e
Indicadores relacionados número de atendimentos em
aos serviços de saúde: especialidades básicas por mil
habitantes, ou o percentual da
população com fluoretação na
água de abastecimento.

Fonte: Adaptado de: RODRIGUES, V. P. et al. Indicadores de saúde. In: PINHO, J.R.O. (Org.).
Conceitos e ferramentas da epidemiologia. São Luís: EDUFMA, 2015.

58
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

PARA SABER MAIS!

Para saber mais sobre outros indicadores de saúde você


pode acessar o livro “Indicadores básicos para a saúde no Brasil:
conceitos e aplicações”, publicado em 2008 pela REDE Interagencial
de Informação para a Saúde (RIPSA).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste capítulo foram trabalhados os principais aspectos


concernentes à interpretação e utilização dos principais indicadores
de saúde, além de revisar alguns conceitos como os de incidência e
prevalência e como são construídos os indicadores de saúde utilizados
em saúde pública. Destacou-se a importância de conhecer os indicadores,
que, por sua vez, são fundamentais para avaliar as condições de saúde.
Dessa forma, é muito importante você compreender como os indicadores
podem auxiliá-lo em sua prática de trabalho. Conhecer a realidade de
saúde onde você atua é fundamental para o sucesso de suas ações e
analisar esses indicadores é primordial.

59
60
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

REFERÊNCIAS

ALMEIDA FILHO, N.; BARRETO, M. L. Epidemiologia & Saúde: fundamen-


tos, métodos e aplicações. São Paulo: Guanabara Koogan, 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.082, de 17 de dezembro de


2015. Revisa a relação de metas e seus respectivos indicadores do Pro-
grama de Qualificação das Ações de Vigilância em Saúde (PQA-VS) a par-
tir de 2016. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
DF, 18 dez. 2015a. Seção 1, p.71. Disponível em: <http://www.cvs.saude.
sp.gov.br/zip/U_PT-MS-GM-2082_171215.pdf>. Acesso em: 22 mar.
2016.

_____._____. Portaria nº 2.778, de 18 de dezembro de 2014. Revisa a re-


lação de metas, com seus respectivos indicadores, e a metodologia para
a Fase de Avaliação do Programa de Qualificação das Ações de Vigilância
em Saúde (PQA-VS) a partir do ano de 2014. Diário Oficial [da] Repúbli-
ca Federativa do Brasil, Brasília, DF, 19 dez. 2014. Seção 1, p. 200-206.
Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/
prt2778_18_12_2014.html>. Acesso em: 22 mar. 2016.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Partici-


pativa. Manual do Sistema de Cadastro e Permissão de Acesso - SCPA e
SISPACTO Perfil GESMUN - Município. Brasília, DF: Ministério da Saúde,
2015b. Disponível em: <http://189.28.128.100/sispacto/MANUAL_SCPA_
SISPACTO_-_PERFIL_MUNICIPIO.pdf>. Acesso em: 22 mar. 2016.

_____. _____. _____. Caderno de diretrizes, objetivos, metas e indica-


dores: 2013-2015. 3. ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2015c.

_____._____. _____. Nota técnica nº. 13/DAI/SGEP/MS. Brasília, DF: Mi-


nistério da Saúde, 2015d. Disponível: <http://189.28.128.100/sispacto/
Nota_Tecnica_13.pdf.PDF>.

61
_____._____. Secretaria de Vigilância à Saúde. Diretrizes nacionais da
vigilância em saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2010.

_____._____.____. Programa de Qualificação das Ações de Vigilância


em Saúde (PQA-VS): fichas de qualificação dos indicadores. Brasília, DF:
Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: < http://www.latecnologia-
emsaude.com.br/system/noticia/arquivos/000/000/124/original/cader-
no_indicadores_do_pqavs.pdf?1378995243>. Acesso em: 22 mar. 2016.

_____. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. IBGE. Síntese


de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população
brasileira: 2015. Rio de Janeiro: IBGE, 2015e. Disponível em: < http://
biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv95011.pdf>. Acesso em: 22
mar. 2016.

IBGE. Informações sociais, demográficas e econômicas. 2016. Disponível


em: < http://www.ibge.gov.br/home/disseminacao/eventos/missao/in-
formacoessociais.shtm >. Acesso em: 22 mar. 2016.

_____. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de


vida da população brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 2015. Disponível em:
< http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv95011.pdf>. Acesso
em: 28 nov. 2016.

LANSKY, S. et al. Pesquisa Nascer no Brasil: perfil da mortalidade neonatal


e avaliação da assistência à gestante e ao recém-nascido. Cad. Saúde
Pública, Rio de Janeiro, v. 30, p. S192-S207, 2014.

LAURENTI, R. et al. Estatísticas de saúde. 2. ed. São Paulo: EPU, 2005.

MEDRONHO, R. A. et al. Epidemiologia. Rio de Janeiro: Atheneu, 2009.

62
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

NASCIMENTO. S. G. N. et al. Mortalidade infantil por causa evitá-


veis em uma cidade do Nordeste do Brasil. Rev Bras Enferm. v. 67, n.
2, p. 208-12, mar./abr. 2014. Disponível: <http://www.redalyc.org/
html/2670/267030687006/>. Acesso em: 23 nov. 2016.

PORTAL DA SAÚDE. Programa de Qualificação das Ações de Vigilância


em Saúde - PQA-VS. Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/
index.php/pqavs>. Acesso em: 20 mar. 2016.

RODRIGUES, V. P. et al. Indicadores de saúde. In: PINHO, J.R.O. (Org.).


Conceitos e ferramentas da epidemiologia. São Luís: EDUFMA, 2015.

RIPSA. Conceitos e critérios. 2016. Disponível em: <http://www.ripsa.


org.br/vhl/indicadores-e-dados-basicos-para-a-saude-no-brasil-idb/
conceitos-e-criterios/>. Acesso em: 22 mar. 2016.

_____. Indicadores básicos para a saúde no Brasil: conceitos e


aplicações. 2. ed. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2008.

SANTOS, A. M. A.; TEJADA, C.A.O.; EWERLING, F. Os determinantes


socioeconômicos do estado de saúde das crianças do Brasil Rural. RESR,
Piracicaba, SP, v. 50, n. 3, p. 473-492, jul./set. 2012.

SILVA JUNIOR, J.B. et al. Doenças e agravos não transmissíveis:


bases epidemiológicas. In: ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N.
Epidemiologia & Saúde. 6. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2003.

63
64
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

4 SISTEMAS DE INFORMAÇÕES EM SAÚDE


Judith Rafaelle Oliveira Pinho
Paola Trindade Garcia

4.1 Conceitos iniciais

Em termos conceituais, “sistema” é definido como um conjunto


de elementos conectados ou todo organizado; “dado”, como um valor
quantitativo referente a um fato ou circunstância; e “informação”, como
conhecimento obtido a partir dos dados.
Um Sistema de Informação em Saúde (SIS) deve ser organizado
enquanto um instrumento de apoio à gestão do Sistema Único de Saúde
(SUS). Deve produzir informações que possibilitem:

Figura 1 - Usos das informações produzidas pelos Sistemas de Informação em Saúde.

A avaliação de uma determinada situação de saúde; a tomada de


1 decisões sobre as respostas (ações) a serem implementadas;

2 O acompanhamento ou controle da execução (eficiência e


eficácia) das ações propostas;

3 A avaliação do impacto (efetividade) alcançado sobre a situação


de saúde inicial.

Fonte: Adaptado de: FERREIRA, S. M.G. Sistema de informação em saúde conceitos


fundamentais e organização: oficina de capacitação para docentes do curso de
atualização em gestão municipal na área de Saúde. 1998. Disponível em: <https://
www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/2249.pdf>.

65
Segundo a OMS, os SIS constituem-se
em um conjunto de componentes que atuam
de forma integrada, por meio de mecanismos
de coleta, processamento, análise e
transmissão da informação necessária e
oportuna para implementar processos de
decisões no Sistema de Saúde.
O propósito dos SIS é selecionar dados pertinentes e transformá-
los em informações para aqueles que planejam, financiam, provêm e
avaliam os serviços de saúde. Em síntese, devem disponibilizar o suporte
necessário para que o planejamento, decisões e ações dos gestores, em
determinado nível decisório (municipal, estadual e federal), seja baseado
em evidências.
Para tal, incluem-se desde os materiais de registro (como
prontuários, formulários) a tabelas e gráficos de resumo, passando
por todos os recursos utilizados para transformá-los e analisá-los,
contemplando (mas não se limitando a) o uso de computadores e demais
ferramentas de tecnologia da informação. A finalidade principal refere-se
à disponibilização de informação de qualidade onde e quando necessárias
(MEDRONHO, 2009).
Na figura 2, você observa um esquema geral de produção da
informação, explicitando fases de coleta, processamento e decisão/
controle.

66
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

Figura 2 - Esquema geral de produção da informação.

COLETA PROCESSAMENTO DECISÃO E CONTROLE

Origem e Recebimento Análise


registro e preliminar
dos dados controle dos dados

Controle e digitação Comparação dos


dos documentos da resultados da análise com
coleta e/ou captura Codificação parâmetros/Indicadores
direta dos dados de alerta

Uso de sistema Pedido de Identificação e


de críticas/validação informação análise de
dos registros adicional discrepâncias

Importação Importação Opções de


Transcrição Transcrição decisão com
Transmissão Transmissão respectivos
prós e contras

Classificação
e
tabulação Decisão adotada
tendo por base
a análise da
informação produzida

Controle de
erros e
Inconsistências

Tabulações
preliminares/relatórios
de alerta

Disponibilização

Fonte: MORAES, I. L. S. Sistemas de Informação em Saúde: patrimônio da sociedade


brasileira. In: PAIM, J. S.; ALMEIDA-FILHO, N. Saúde Coletiva: teoria e prática. Rio de
Janeiro: MedBook, 2014. p. 649-665.

Vale ressaltar que os Sistemas de Informação em Saúde devem


produzir indicadores capazes de medir a eficiência, eficácia e efetividade
(PEREIRA, 1995). Sobre esses aspectos temos:
• Efetividade: obter transformações concretas na situação de
saúde, coerentes com os objetivos propostos pela gestão;
• Eficácia: por meio das ações produzidas, alcançar os melhores
resultados possíveis, principalmente em relação à cobertura
(número de pessoas atendidas) e à concentração (número de
ações oferecidas a cada pessoa);

67
• Eficiência: utilização dos recursos disponíveis da melhor
maneira possível, no menor tempo possível e com menor
custo, evitando “desperdícios”.
É de extrema importância verificar que tipos de indicadores básicos
e quais tipos de análises podem ser realizadas, considerando aspectos de
eficiência, eficácia e efetividade. Veja a sistematização de alguns exemplos
aplicáveis no quadro 1:
Quadro 1 - Indicadores e tipos de análises para identificar correspondências com eficácia,
eficiência e efetividade.

Tipos de análise que podem


Categoria Tipos básicos de indicadores
ser realizadas

Produtividade por tipo de pro- Avaliação quanto à utilização


cedimento (consultas, exames (com ou sem “desperdícios”)
laboratoriais, etc.); dos recursos disponíveis;
Utilização da capacidade insta- Considera-se como uma ava-
lada (rede física); liação da estrutura do Siste-
ma de Saúde.
Eficiência Utilização da capacidade opera-
cional (recursos humanos);
Distribuição dos gastos por tipo
de atenção prestada (ambula-
torial básica e especializada;
hospitalar e urgência; apoio
diagnóstico e terapêutico, etc.).

Cobertura alcançada através Avaliação dos resultados al-


das ações produzidas (consul- cançados pelas ações produ-
tas, vacinas, partos, etc.); zidas considerando:
Concentração de procedimen- • quantos foram atingi-
tos oferecidos (por exemplo: dos (cobertura);
três consultas de pré-natal por
• quanto foi oferecido
Eficácia gestante);
(concentração);
Resolubilidade da atenção (por
• como foi respondido
exemplo: a proporção de altas
(resolubilidade);
em relação às consultas reali-
zadas). Considera-se como uma ava-
liação do processo de traba-
lho em saúde.

68
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

Indicadores de mortalidade; Avaliação do impacto sobre


a situação de saúde consi-
Indicadores de morbidade;
derando as respostas produ-
Indicadores demográficos; zidas pelo Sistema de Saúde
Efetividade
e, também, aquelas geradas
Indicadores socioeconômicos;
por outros setores (educa-
Indicadores ambientais (sanea- ção, saneamento etc.).
mento).
Fonte: FERREIRA, Sibele Maria Gonçalves. Sistema de informação em saúde conceitos
fundamentais e organização. Oficina de capacitação para docentes do curso de
atualização em gestão municipal na área de Saúde. 1998. Disponível em: <https://
www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/2249.pdf>.

Para que você não esqueça as principais funções dos SIS,


sistematizamo-las aqui:
• Analisar a situação atual de saúde;
• Realizar planejamento com vistas ao estabelecimento de
prioridades;
• Fazer comparações de indicadores, metas e objetivos;
• Documentar a qualidade da assistência prestada;
• Avaliar mudanças ao longo do tempo;
• Subsidiar tomada de decisões;
• Demonstrar a confiabilidade e transparência dos serviços
prestados, frente à sociedade;

A palavra “informação” é
muito utilizada no cotidiano. Quando
compõe a expressão “informação
em saúde”, será que tem sempre o
mesmo sentido?
Certamente não. Existe uma
infinidade de significados que variam
em função da opinião, do interesse,
da intenção, do conhecimento etc.

69
Em síntese, podemos dizer que:

Informação em saúde consiste na descrição ou representação


limitada de um evento, agravo, atributo ou dimensão
da situação de saúde-doença-cuidado de indivíduos ou
população, no tempo e espaço definidos, que foi (foram)
tratado(s) e organizado(s) por profissionais ou gestores ou
instituições, a partir de determinados interesses e objetivos
(MORAES, 2014, p.44).

A partir da reflexão acima descrita, que pontua o conceito de


informação em saúde, podemos afirmar que:

Os Sistemas de Informação em Saúde (SIS) alimentam os


fluxos correntes de informação e repositórios de registros.
Descrevem facetas ou dimensões do fato, evento ou situação
de saúde-doença-cuidado de acordo o ponto de vista, o grau
de conhecimento e tecnologia de que dispõe os responsáveis
por desenvolvê-lo e o alcance do compromisso de quem
(profissional/instituição) define, em determinado tempo e
lugar, o que e como descartar, ocultar, ignorar, desde a coleta
até sua disponibilização e uso (MEDRONHO, 2009, p. 325).

Nas últimas décadas foram implementadas no Brasil uma série


de ações, planos e projetos visando a estruturação e a organização
das informações em saúde no âmbito nacional. Apesar de iniciativas
importantes terem ocorrido antes da década de 90 (como a implantação
do SIM em 1975 e a criação do grupo técnico de informação em saúde
em 1986), maiores avanços só foram destacados a partir dos anos 1990.
No quadro 4 são apresentadas algumas características dos principais SIS
disponíveis no Brasil.

Quadro 2- Sistemas Nacionais de Informação em Saúde.


SISTEMA NACIONAIS DE INFORMAÇÕES EM SAÚDE
Sistema de Informação em Ano de
Sigla Documento Básico
Saúde Início
Sistema de informação sobre
SIM 1975 Declaração de óbito
Mortalidade
Sistema de informação Autorização de Internação
SIH-SUS 1991
Hospitalares do SUS Hospitalar
Sistema de informações sobre Declaração de nascidos
SINASC 1990
Nascidos Vivos vivos

70
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

Ficha individual de
Sistema de informações de
SINAN 1993 notificação Ficha Individual
Agravos de Notificação
de investigação
Sistema de informações
SI-PNI do Programa Nacional de 1994 Vários
Imunização.
Sistema de informações Boletim de Produção
SIA-SUS 1994
Ambulatoriais do SUS Ambulatorial
Autorizações de Procedimentos
SIA-APAC 1996 Vários
de Alto Custo/Complexidade
Sistema de Informação da
SISAB 2015 Fichas do e-sus
Saúde da Atenção Básica
Sistema de Informações sobre
SIOPS 1999 Vários
Orçamentos Públicos em Saúde
Cadastro Nacional de
CNES 2000 Vários
Estabelecimentos de Saúde
Fonte: COELI, C. M. et al. Sistemas de Informação em Saúde. In: MEDRONHO, R.A. et al.
Epidemiologia. 2 ed. São Paulo: Atheneu, 2009.

A seguir, serão apresentados alguns dos principais sistemas de


informação no país com maior detalhamento.

4.2 Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM )

O Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) é um sistema


de abrangência nacional que tem por objetivo captar os dados de óbitos e
fornecer informações sobre mortalidade. O SIM foi o primeiro sistema de
informação em saúde do país e sua gestão está sob a responsabilidade da
Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS).
A análise dos dados do SIM permite, em
termos gerais, a construção de importantes
SIM indicadores para o delineamento do perfil
de saúde de uma região. As informações
deste sistema permitem obter a mortalidade
proporcional por causas, faixa etária, sexo, local de ocorrência e residência,
letalidade de agravos dos quais se conheça a incidência, bem como taxas
de mortalidade geral, infantil, materna etc. (OLIVEIRA, 2012).

71
O SIM tem como instrumento padronizado de coleta de dados a
Declaração de Óbito (DO), impressa em três vias coloridas (1ª via branca,
2ª via amarela e 3ª via rosa) e autocopiáveis, cuja emissão e distribuição
para os estados, em séries pré-numeradas, são de competência exclusiva
do Ministério da Saúde. A DO apresenta 59 variáveis distribuídas por nove
blocos respectivamente: identificação; residência; ocorrência; fetal ou <
1 ano; condições e causas do óbito; médico; causas externas; cartório e
localidade sem médico.
O preenchimento da DO deve ser realizado exclusivamente por
médicos, exceto em locais onde não existam, situação na qual poderá ser
preenchida por oficiais de Cartórios de Registro Civil, assinada por duas
testemunhas (BRASIL, 2011).
A obrigatoriedade de seu preenchimento, para todo óbito
ocorrido, é determinada pela Lei Federal nº 6.015/73. Em tese, nenhum
sepultamento deveria ocorrer sem prévia emissão da DO.
Vejamos os fluxos a serem seguidos nos casos de morte natural
(figura 3) e não natural. (Figura 4)

Figura 3 - Fluxo de decisão para emissão da DO nos casos de morte natural.


O médico que vinha prestando assistência
O médico do ao paciente, sempre que possível, em
SVO, nas todas as situações.
localidades que MORTE NATURAL
dispõem deste
tipo de serviço. O médico assistente e, na sua falta, o
médico substituto ou plantonista, para
óbitos de pacientes internados sob
regime hospitalar.

NÃO Com assistência SIM O médico designado pela instituição que


médica? prestava assistência, para óbitos de
O médico do serviço pacientes sob regime ambulatorial.
público de saúde mais
próximo do local onde
ocorreu o evento; e na
sua ausência, por Médico da Estratégia Saúde da Família,
qualquer médico, nas Programa Melhor em Casa e outros
localidades sem SVO. assemelhados, para óbitos de pacientes
em tratamento sob regime domiciliar.

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Federal de Medicina. Declaração de óbito: documento necessário
e importante. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. Disponível: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/declaracao_de_obito_final.pdf>.

72
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

Figura 4 - Fluxo de decisão para emissão da DO nos casos de morte não natural .

MORTE NÃO NATURAL

NÃO SIM

Em locais com IML?

Qualquer médico da localidade,


investido pela autoridade judicial O médico legista, qualquer que tenha sido o
ou policial, na função de perito tempo entre o evento violento e a morte
legista eventual (ad hoc). propriamente.

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde, Conselho Federal de Medicina, Centro Brasileiro de Classificação de
Doenças. Declaração de óbito: documento necessário e importante. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
Disponível: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/declaracao_de_obito_final.pdf>. Acesso em: 04
abr. 2016.

Figura 5 - Fluxo da declaração de óbito.


Cartório de
Hospital
Registro Civil

Preenche o documento Preenche o documento

1° Via 1° Via
2° Via 2° Via
3° Via 3° Via

Encaminha Encaminha
Família Arquiva

Secretaria Secretaria
Cartório de
de saúde de saúde
Registro Civil

Arquiva
Fonte: BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Vigilância em Saúde: Parte 1. Conselho Nacional de
Secretários de Saúde. Brasília: CONASS, 2011. 320 p. (Coleção Para Entender a Gestão do SUS 2011, 5,I).

73
No quadro 3, sistematizamos situações nas quais se emite e não se
emite a DO:

Quadro 3 - Situações de emissões e não emissões da DO.

Em que situações se emite a DO? Em que situações NÃO se emite a DO?

1. Em todos os óbitos (natural ou 1. No óbito fetal, com gestação de


violento). menos de 20 semanas, ou peso
2. Quando a criança nascer viva e menor que 500 gramas, ou estatura
morrer logo após o nascimento, menor que 25 centímetros.
independentemente da 2. Peças anatômicas amputadas.
duração da gestação, do peso Para peças anatômicas retiradas
do recém-nascido e do tempo por ato cirúrgico ou de membros
que tenha permanecido vivo. amputados. Nesses casos, o
3. No óbito fetal, se a gestação médico elaborará um relatório
teve duração igual ou superior em papel timbrado do hospital
a 20 semanas, ou o feto com descrevendo o procedimento
peso igual ou superior a 500 realizado. Esse documento será
gramas, ou estatura igual ou levado ao cemitério, caso o
superior a 25 centímetros. destino da peça venha a ser o
sepultamento
OBS: A legislação atualmente
existente permite que, na prática,
a emissão da DO seja facultativa
para os casos em que a família
queira realizar o sepultamento do
produto de concepção .
Fonte: Ministério da Saúde. Declaração de óbito: documento necessário e importante.
Brasília: Ministério da Saúde, 2006. Disponível: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/declaracao_de_obito_final.pdf>.

Consistem em funcionalidades atuais do SIM (DATASUS, 2016):


• Declaração de óbito informatizada;
• Geração de arquivos de dados em várias extensões para
análises em outros aplicativos;

74
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

• Retroalimentação das informações ocorridas em municípios


diferentes da residência do paciente;
• Controle de distribuição das declarações de nascimento
(municipal, regional, estadual e federal);
• Transmissão de dados automatizada, utilizando a ferramenta
SISNET gerando a tramitação dos dados de forma ágil e segura
entre os níveis municipal > estadual > federal;
• Backup on-line dos níveis de instalação (municipal, regional e
estadual).

REFLETINDO!

Vamos considerar as seguintes estimativas:


ശശ Estima-se em 20% o sub-registro de óbitos, que chega a
40% nas regiões Norte e Nordeste, sendo mais elevado
em crianças menores de 1 ano e idosos (RIPSA, 2008).
ശശ Estima-se que cerca de 15% das declarações de óbito
computadas no SIM não têm a causa básica definida, por
insuficiência das informações registradas (RIPSA, 2008).

Você consegue apontar implicações da subnotificação para a


qualidade da informação produzida pelos SIS? Qual efeito produzido pelo
não preenchimento adequado da DO? Como é realizada a vigilância dos
óbitos?

4.3 Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc)

O Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) é um


sistema de abrangência nacional que teve sua implantação iniciada em

75
1990. Tem como finalidade o registro dos nascidos vivos do país, além
de fornecer informações sobre gestação, parto e as condições do recém-
nascido.
O Sinasc tem como principal fonte de captação de nascimento os
serviços de saúde, o que possibilita melhor oportunidade no fluxo de
informações. Os nascimentos domiciliares são captados pelos cartórios de
registro civil.
O sistema tem como instrumento
padronizado de coleta de dados a Declaração
Sinasc de Nascido Vivo (DNV), cuja emissão, a
exemplo da DO, é de competência exclusiva
do Ministério da Saúde. Tanto a emissão da
DNV, como o seu registro em cartório serão realizados no município de
ocorrência do nascimento (BRASIL, 2011).
A obrigatoriedade do registro da Declaração de Nascidos Vivos é
dada pela Lei nº. 6.015/1973:

Art. 51. Todo nascimento que ocorrer no território nacional


deverá ser dado a registro no lugar em que tiver ocorrido o
parto, dentro de quinze (15) dias, ampliando-se até três (3)
meses para os lugares distantes mais de trinta (30) quilômetros
da sede do cartório, alterada pela lei nº 12.662/2012 que
assegura em qualquer cartório do país.

A Lei nº 8.069/1990 também trata da matéria quando manifesta:

Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção


à saúde de gestantes, públicos e particulares são obrigados
a: IV - fornecer declaração de nascimento [...] do parto e do
desenvolvimento do neonato.

A Portaria nº 116, de 11 de fevereiro de 2009, trata da


regulamentação e da coleta de dados, fluxo e periodicidade de envio das
informações sobre óbitos e nascidos vivos para os Sistemas de Informações
em Saúde sob gestão da Secretaria de Vigilância em Saúde.

76
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

A Lei nº 12.662/2012 (Mário Camargo) assegura a validade nacional


à DNV, regula sua expedição e altera a Lei nº 6.015/73.

Em síntese, a intenção é garantir direitos de cidadania para as


crianças brasileiras, antes mesmo de terem uma certidão de
nascimento. Embora não desobrigue os pais de registrarem
a criança no cartório mais tarde, auxilia as famílias que têm
dificuldade de acesso a esse serviço.

A DNV deve ser preenchida para todos os nascidos vivos no país,


segundo conceito definido pela OMS. No caso de gravidez múltipla, deve
ser preenchida uma DNV para cada criança nascida viva.
A OMS considera como nascido vivo:

Todo produto da concepção que, independentemente


do tempo de gestação, depois de expulso ou extraído do
corpo da mãe, respire ou apresente outro sinal de vida, tal
como batimento cardíaco, pulsação do cordão umbilical ou
movimentos efetivos dos músculos de contração voluntária,
estando ou não desprendida a placenta.


É importante destacar que antes da implantação do Sinasc,
em 1990, essa informação só era conhecida no Brasil por estimativas
realizadas a partir da informação censitária. Atualmente, é disponibilizada
de forma eletrônica.
Igualmente à DO, os formulários de Declaração de Nascido Vivo
são pré-numerados, impressos em três vias coloridas (1ª via - branca,
2ª via - amarela e 3ª via - rosa) e distribuídos às SES pela SVS/MS. É
preconizado que as Secretarias Municipais de Saúde (SMS) devem assumir
a distribuição aos estabelecimentos de saúde e cartórios. O fluxo na figura
19 recomendado pelo Ministério da Saúde para a DNV está apresentado
abaixo e segue a mesma lógica que orienta o da DO (BRASIL, 2011).

77
Figura 6: Fluxo de declaração de nascidos vivos.
Cartório de
Hospital
Registro Civil

DN1° Via Preencher o documento


2° Via
3° Via 1° Via
2° Via
Família
3° Via

Cartório Arquiva Encaminha


Arquiva

Secretaria Secretaria Unidade


de saúde de saúde de saúde

Fonte: BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Vigilância em Saúde: Parte 1.


Brasília: CONASS, 2011. 320 p. (Coleção para Entender a Gestão do SUS 2011, 5,I).

A DNV apresenta 52 campos que abrangem dados estatísticos,


demográficos e epidemiológicos. Essas variáveis são distribuídas
em oito blocos, respectivamente: identificação do recém-nascido;
local de ocorrência; mãe; pai; gestação e parto; anomalia congênita;
preenchimento; e cartório.
Entre os indicadores de interesse para a atenção à saúde materno
infantil, são imprescindíveis as informações contidas na DNV:
• Proporção de nascidos vivos de baixo peso;
• Proporção de nascimentos prematuros;
• Proporção de partos hospitalares;
• Proporção de nascidos vivos por faixa etária da mãe;
• Valores do índice Apgar no primeiro e quinto minutos;
• Número de consultas de pré-natal realizadas para cada nascido
vivo, entre outras.

Além desses, podem, ainda, ser calculados indicadores clássicos


voltados à caracterização geral de uma população, como a taxa bruta de
natalidade e a taxa de fecundidade geral.

78
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

PARA SABER MAIS!

• Acesse o Departamento de Informática do SUS


(DATASUS).
• Leia o Manual de Preenchimento da Declaração de
Nascido Vivo.
• Leia “Saúde Brasil 2010: uma análise da situação de
saúde e de evidências selecionadas de impacto de ações
de vigilância em saúde ”.

4.4 Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan)

O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) é o


principal sistema da vigilância epidemiológica, pois consolida o registro
das doenças de notificação compulsória no país. É facultado a Estados
e Municípios incluírem outros problemas de saúde regionalmente
importantes.
Esse sistema tem como objetivo padronizar a coleta e o
processamento de dados sobre agravos de notificação em todo o território
nacional e, assim, fornecer informações para a análise do perfil de
morbidade, contribuindo para a tomada de decisões nos níveis municipal,
estadual e federal.
Para toda doença de notificação compulsória, são definidas
as condições de casos suspeitos, confirmados e descartados segundo
critérios estabelecidos pela área técnica da SVS/MS, o que permite
dimensionar a magnitude do evento de interesse à saúde. Algumas
doenças são notificadas na vigência de suspeita, a exemplo da dengue,
doenças exantemáticas (sarampo e rubéola), leptospirose, coqueluche,
dentre outras. Outras devem ser notificadas apenas na confirmação do
caso como a tuberculose, hanseníase e Aids (OLIVEIRA, 2012).

79
AGORA É COM VOCÊ!

Você sabe quais são as doenças de notificação compulsória?


Pesquise na Portaria nº 204, de 17 de fevereiro de 2016 , que define
a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e
eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados
em todo o território nacional, nos termos do anexo, e dá outras
providências.

Observe na figura 7 o fluxograma para a notificação das doenças de


notificação compulsória.

Figura 7- Fluxo de notificação das Doenças de Notificação Compulsória (DNC).


Unidade de Saúde
VE Municipal
•Profissional de saúde capta caso
de DNC •Digita fichas no Sinan
•Profissional de saúde preenche FIN* •Gera base de dados municipal
e FII* e realiza coleta de material •Transfere base de dados para
biológico para pesquisa diagnóstica Regional de Saúde do Estado
•Fichas enviadas para VE* municipal

Regional de Saúde do Estado


•Consolida a base de dados da
regional
•Envia base de dados para a SES

Ministério da Saúde Secretaria Estadual de Saúde


•Consolida a base de dados dos •Consolida a base de dados da
estados regional
• Envia base de dados para o MS

* VE - Vigilância Epidemiológica.
* FIN - Ficha Individual de Notificação
* FII - Ficha Individual de Investigação

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância


Epidemiológica. 7. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.

O Sinan pode ser operacionalizado em nível administrativo mais


periférico, ou seja, nas unidades de saúde, seguindo a orientação de
descentralização do SUS. Caso o município não disponha de computadores
em suas unidades, o Sinan pode ser acessado nas secretarias municipais,
regionais de Saúde e/ou Secretaria Estadual de Saúde.

80
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

A utilização efetiva dos dados do Sinan permite a realização do


diagnóstico dinâmico da ocorrência de um evento na população, podendo
fornecer subsídios para explicações causais dos agravos de notificação
compulsória, além de indicar riscos aos quais as pessoas estão sujeitas.
Contribui, assim, para a identificação da realidade epidemiológica de
determinada área geográfica.
O Sinan apresenta dois instrumentos de coleta de dados: a Ficha
Individual de Notificação e a Ficha Individual de Investigação.
Ficha Individual de Notificação (FIN)
É um instrumento padronizado, pré-numerado e emitido pela
SVS/MS. Deve ser preenchida mediante a suspeita de casos de doenças
de notificação compulsória ou agravos inusitados, surtos ou para
realizar a notificação negativa, ou seja, comunicar a não ocorrência de
doenças de notificação compulsória na unidade de saúde notificante.
As informações da FIN são atribuídas em campos de dados gerais,
notificação individual, notificação de surto, dados de residência, local
provável de infecção e informações do notificante.

Ficha Individual de Investigação (FII)


É específica para cada doença de notificação compulsória e
representa um roteiro de investigação para cada agravo. Com ela é
possível levantar dados que possibilitem a identificação da fonte de
infecção e dos mecanismos de transmissão de doenças. Os campos
de dados gerais, notificação individual e dados de residência são os
mesmos encontrados na FIN, porém, acrescentam-se no geral, campos
de antecedentes epidemiológicos, manifestações clínicas, dados de
hospitalização, dados laboratoriais e de conclusão do caso.

Outros instrumentos emitidos pelo sistema são a planilha e boletim


de acompanhamento de surtos, e os boletins de acompanhamento de
hanseníase e tuberculose.
Em todas as instâncias os dados aportados pelo Sinan devem ser
consolidados e analisados. Deve existir uma retroalimentação às esferas

81
que os precederam. Na esfera federal, os dados do Sinan são processados,
analisados, acompanhado daqueles que chegam por outras vias, e
divulgados pelos instrumentos de análise de situação de saúde e informes
epidemiológicos eletrônicos.

PARA SABER MAIS!

Leia o Manual de Normas e Rotinas do Sinan (2007).


Leia o Guia de vigilância epidemiológica da Secretaria de
Vigilância em Saúde (2016).

4.5 Sistema de Informação em Saúde da Atenção Básica (Sisab) e o e-SUS

Foi desenvolvido pelo Datasus, em 1998, para coletar e sistematizar


dados de produção nas visitas às comunidades, realizadas pelos agentes
comunitários de saúde e equipe de Saúde da Família. A digitação da
produção, para a alimentação do Sisab, é realizada no Setor de Informação.
Esse sistema engloba dados do Programa de Agentes Comunitários de
Saúde (PACS), da Estratégia de Saúde da Família (ESF) e da Equipe de
Saúde Bucal (ESB).
Por muito tempo os instrumentos de coleta de dados do Sisab
foram:
• Relatório PMA2 (relatório de Produção e de Marcadores para
Avaliação);
• Relatório SSA2 (relatório da Situação de Saúde e
Acompanhamento das Famílias na Área/Equipe);
• Ficha D (registro de atividades, procedimentos e notificações);
• Ficha C (acompanhamento de crianças menores de 2 anos);
• Ficha B-GES (acompanhamento de gestantes);
• Ficha B-HA (acompanhamento de hipertensos);
• Ficha B-DIA (acompanhamento de diabéticos);
• Ficha B-TB (acompanhamento de tuberculose);
• Ficha B-HAN (acompanhamento de pessoas com hanseníase).

82
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

O Departamento de Atenção Básica (DAB) iniciou um processo


de avaliação e reestruturação dos sistemas de informação da Atenção
Básica de modo a facilitar o trabalho e a gestão da AB. Os frutos dessa
nova estratégia são o Sistema de Informação em Saúde da Atenção Básica
(Sisab) e um novo software, o e-SUS Atenção Básica (e-SUS AB) (BRASIL,
2016).
O e-SUS AB é uma estratégia do DAB para reestruturar as
informações da Atenção Básica em nível nacional. Essa ação está alinhada
com a proposta mais geral de reestruturação dos Sistemas de Informação
em Saúde do Ministério da Saúde, entendendo-se que a qualificação
da gestão da informação é fundamental para ampliar a qualidade no
atendimento à população (BRASIL, 2012).
Portanto, o e-SUS é uma estratégia que faz referência ao processo
de informatização qualificada, com vistas a um SUS eletrônico. O software
público e-SUS AB é um sistema de apoio à gestão do processo de trabalho.
Ele serve de apoio ao planejamento de atividades por profissionais das
equipes de AB, pelas equipes dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família
(Nasf), do Consultório na Rua (CnR) e da Atenção Domiciliar (AD),
oferecendo ainda dados para acompanhamento de programas como
Saúde na Escola (PSE) e Academia da Saúde.

Como o e-SUS pode auxiliar nos


processos de trabalho?

Atualmente, os instrumentos de coleta de informações do


Sisab são:
• Ficha de atividade coletiva;
• Ficha de procedimentos;
• Ficha de visita domiciliar;

83
Maior
Maior agilidade
agilidade do
do atendimen
atendimen
ee menor tempo de espera
menor tempo de espera
• Ficha de atendimento individual;
• Cadastro domiciliar;
• Cadastro individual; Informtização
Informtização das
das consultas
consultas
• Ficha de atendimento odontológico individual.
Observe as principais contribuições da estratégia e-SUS para a
gestão em saúde. Acompanhamento
Acompanhamento dos
dos
atendimentos na UBS
atendimentos na UBS
Figura 8 - Contribuições da estratégia e-SUS.

Maior agilidade do Melhoria


Melhoria no
Melhoria no
no investimento
investimento
Maior agilidade do atendimento
Maior agilidade do atendimento
atendimento e menor investimento dos
dos
dos recursos
recursos financeiros
financeiros
eemenor
menor tempode deespera
espera
tempo de espera recursos financeiros
tempo

Informtização Flexibilidade para


Flexibilidade para as as diferentes
Informatização das das consultas Flexibilidade para as diferente
Informtização das consultas diferentes estruturas
consultas estruturas
estruturas dos
dos municípiosdos municípios
municípios

Acompanhamentodos
Acompanhamento dos Avaliação
Avaliação e acompanhamento
Avaliação e e acompanhamento
Acompanhamento dos
atendimentos
atendimentos naUBS
na
atendimentos na UBS
UBS do
do trabalho
trabalho das
acompanhamento
das equipes
do
equipes
trabalho das equipes

Fonte: Adaptado de: PINHO, J.R.O. et al. Conceitos e ferramentas da epidemiologia. São
Melhoria
Melhoria
Luís: EDUFMA, 2015. noinvestimento
no investimento
dosrecursos
dos recursosfinanceiros
financeiros
PARA SABER MAIS!

Flexibilidade para as diferentes


Você Flexibilidade
pode visualizarpara
com as diferentes
mais detalhes todas as fichas no
estruturasdos
estruturas dosmunicípios
municípios
site do Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde.

Avaliaçãoeeacompanhamento
Avaliação acompanhamento
doInformações
do
4.6 Sistema de trabalhodas
trabalho das equipes
doequipes
Programa Nacional de Imunização
(SI-PNI)

Implantado em todos os municípios brasileiros, fornece dados


relativos à cobertura vacinal de rotina e, em campanhas, taxa de

84
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

abandono e controle do envio de boletins de imunização. Além do módulo


de avaliação do PNI, esse sistema dispõe de um subsistema de estoque e
distribuição de imunobiológicos para fins gerenciais.
O objetivo fundamental do SI-PNI é possibilitar aos gestores
envolvidos no programa uma avaliação dinâmica do risco quanto à
ocorrência de surtos ou epidemias, a partir do registro dos imunos
aplicados e do quantitativo populacional vacinado, que são agregados por
faixa etária, em determinado período de tempo, em uma área geográfica.
O SI-PNI é formado por um conjunto de sistemas, veja na figura 9
(BRASIL, 2011):

Figura 9 - Conjunto de sistemas do PNI.

» Avaliação do Programa de Imunizações (API): registra, por faixa etária, as


doses de imunobiológicos aplicadas e calcula a cobertura vacinal, por Unidade
Básica, município, regional da Secretaria Estadual de Saúde, Estado e País. Fornece
informações sobre rotina e campanhas, taxa de abandono e envio de boletins de
imunização.
» Estoque e Distribuição de Imunobiológicos (EDI): gerencia o estoque e a
distribuição dos imunobiológicos. Contempla os âmbitos federal, estadual, regional
e municipal.

» Eventos Adversos Pós-Vacinação (EAPV): permite o acompanhamento de casos


de reações adversas ocorridas pós-vacinação e a rápida identificação e localização
de lotes de vacinas. Para as gestões federal, estadual, regional e municipal.

» Programa de Avaliação do Instrumento de Supervisão (Pais): sistema utilizado


pelos supervisores e assessores técnicos do PNI para padronização do perfil de
avaliação, capaz de dar agilidade à tabulação de resultados. Desenvolvido para a
supervisão dos Estados.

» Programa de Avaliação do Instrumento de Supervisão em Sala de Vacinação


(PAISSV): sistema utilizado pelos coordenadores estaduais de imunizações
para padronização do perfil de avaliação, capaz de dar agilidade à tabulação de
resultados. Desenvolvido para a supervisão das salas de vacina.

» Apuração dos Imunobiológicos Utilizados (AIU): permite realizar o gerenciamento


das doses utilizadas e das perdas físicas para calcular as perdas técnicas a partir
das doses aplicadas. Desenvolvido para as gestões federal, estadual, regional e
municipal.

» Sistema de Informações dos Centros de Referência em Imunobiológicos


Especiais (Sicrie): registra os atendimentos nos Cries e informa a utilização dos
imunobiológicos especiais e eventos adversos.

Fonte: Adaptado de: BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Vigilância em


Saúde: Parte 1. Brasília: CONASS, 2011b. 320 p. (Coleção Para Entender a Gestão do
SUS 2011, 5,I).

85
PARA SABER MAIS!

Leia o Manual do Sistema de Informação do Programa


Nacional de Imunizações (2014).
Leia o Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação
(2014).
Leia o artigo “Vigilância das coberturas de vacinação: uma
metodologia para detecção e intervenção em situações de risco”
(2010).

4.7 Sistemas de Informação em Vigilância em Saúde Ambiental –


SISAGUA/SISSOLO

A Vigilância Ambiental é um campo


relativamente novo do conhecimento, que trata
da compreensão e da análise dos condicionantes
ambientais que afetam a saúde humana
(AUGUSTO, 2003).
A construção dos sistemas de informação para a vigilância
ambiental em saúde que integre aspectos de saúde e de meio ambiente,
tem permitido a produção de informações estatísticas facilitadoras da
interpretação da dinâmica com os demais sistemas, possibilitando a
construção e identificação de indicadores de saúde ambiental (BRASIL,
2002).
A Vigilância Ambiental em Saúde utiliza como ferramenta
fundamental o georreferenciamento de dados que consiste no processo
usado para referenciar registros tabulares a um lugar da superfície da terra
ou unidade territorial (bairro, município, localidade etc.), possibilitando,
assim, a elaboração de mapas de risco capazes de auxiliar a tomada de
decisão nas diversas instâncias do SUS.

86
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

Uma das tarefas primordiais para o estudo da relação entre


ambiente e saúde é a seleção de indicadores para esses níveis de
manifestação dos problemas ambientais. Esses componentes devem estar
combinados para que se defina uma estratégia eficaz para a prevenção ou
redução do impacto dos problemas ambientais sobre a saúde.
A Vigilância Ambiental em Saúde deverá dispor de informações
específicas de outros sistemas, dentre eles o Sistema de Informação
de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Solo Contaminado
(SISSOLO) e o Sistema de Informação de Vigilância em Saúde Relacionado
à Qualidade da Água de Consumo Humano (SISAGUA).

SISSOLO

É ferramenta importante para orientação e prioriza-


ção das ações de vigilância em saúde de populações
expostas a solo contaminado, permitindo o monito-
ramento da saúde destas populações por meio do
cadastramento contínuo, por parte dos Municípios
ou Estados, das áreas contaminadas identificadas, e
da construção de indicadores de saúde e ambiente.

Consiste em um sistema de informação web, elaborado e


desenvolvido pela Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental
(CGVAM), em conjunto com o Departamento de Informática do SUS
(DATASUS), e está acessível aos técnicos e gestores municipais, estaduais
e federais da Vigilância em Saúde Ambiental. Destina-se ao cadastro,
pelo nível municipal e estadual, de informações padronizadas de forma
sistematizada sobre as áreas com população exposta e potencialmente
exposta a contaminantes químicos. A alimentação do sistema deve ser
contínua, a fim de que a assistência às populações expostas dê-se por
meio dos princípios do Sistema Único de Saúde – SUS (RODRIGUES et al,
2011).

87
SISAGUA

Tem função de assegurar que a água distribuída à po-


pulação atenda aos padrões de potabilidade estabe-
lecidos pela legislação vigente. Objetiva desenvolver
ações de vigilância em saúde ambiental relacionadas
à qualidade da água para consumo humano, que ga-
rantam à população o acesso à água em quantida-
de suficiente e qualidade compatível com o padrão
de potabilidade estabelecido na legislação vigente,
para a promoção da saúde. Seu campo e forma de
atuação compreende todas e quaisquer formas de
abastecimento de água, coletivas ou individuais na
área urbana e rural, de gestão pública ou privada, in-
cluindo as instalações intradomiciliares

O SISAGUA é um instrumento do Programa Nacional de Vigilância


da Qualidade da Água para consumo Humano (VIGIAGUA) que auxilia no
gerenciamento de riscos à saúde associados à qualidade da água destinada
ao consumo humano, como parte integrante das ações de prevenção de
agravos e de promoção da saúde, previstas no Sistema Único de Saúde.
O SISAGUA foi construído tendo como base o próprio programa
VIGIAGUA e a Portaria MS n° 2.914/2011 e armazena informações cadastrais
sobre os sistemas e soluções alternativas de abastecimento de água para
consumo humano, bem como sobre a qualidade da água proveniente de
cada uma das formas cadastradas, inferida pelos prestadores do serviço
(controle) e pelo setor saúde (vigilância). A entrada de dados é dividida,
basicamente, em três partes: cadastro, controle e vigilância.

88
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

CADASTRO
• O módulo de cadastro tem como finalidade armazenar informações
sobre as características físicas e operacionais das formas de
abastecimento de água utilizadas pela população.
CONTROLE
• O módulo de controle tem como finalidade armazenar informações
sobre o monitoramento da qualidade da água realizado pelos
responsáveis pelo abastecimento coletivo de água para consumo
humano.
VIGILÂNCIA
• O módulo de vigilância tem como finalidade armazenar informações
sobre as inspeções sanitárias das formas de abastecimento de
água e sobre o monitoramento da sua qualidade realizado pelo
setor saúde (PORTAL, 2014).

A Portaria nº 2.914, de 2011, estabelece que o controle da qualidade


da água é de responsabilidade de quem oferece o abastecimento coletivo
ou de quem presta serviços alternativos de distribuição. No entanto,
cabe às autoridades de saúde pública das diversas instâncias de governo
a missão de verificar se a água consumida pela população atende às
determinações dessa portaria, inclusive no que se refere aos riscos que os
sistemas e soluções alternativas de abastecimento de água representam
para a saúde pública.

89
PARA SABER MAIS!

Leia o Manual do Usuário do Sistema de Informação de


Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Solo Contaminado –
SISSOLO (2010).
Leia o artigo “Vigilância ambiental em saúde e sua implantação
no Sistema Único de Saúde ” (2006).
Acesse os formulários de coleta de dados de Cadastro,
Controle e Vigilância do SISAGUA . Informações geradas pelo
SISAGUA podem ser acessadas na página do Atlas Água Brasil, um
sistema digital de visualização e análise de indicadores sobre a
qualidade da água, saneamento e saúde.
Leia a Portaria nº 1914/2011, que dispõe sobre os
procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para
consumo humano e seu padrão de potabilidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Brasil, apesar de vários avanços na produção da informação


pelos SIS e de suas bases de dados, as informações de saúde ainda são
fragmentadas e resultantes de diversas instituições que atuam no setor.
Por conta disso, um dos maiores desafios para a gestão da informação
em saúde no país refere-se à interoperabilidade. De forma geral, a
interoperabilidade indica a possibilidade de dois ou mais sistemas de
informação diferentes poderem se comunicar.
Outros desafios importantes dos SIS são: diferentes linguagens
de programação, diferentes rotinas, subalimentação, dificuldades de
conectividade, não valorização dos SIS e grande variedade de sistemas
existentes sem integração. Estruturar as informações referentes a
identificação do usuário do SUS, o profissional e o estabelecimento de
saúde responsável pela realização do atendimento (prontuário eletrônico
– CARTÃO SUS) pode ser um bom caminho.

90
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

REFERÊNCIAS

BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Vigilância ambiental em saúde.


Brasília: FUNASA, 2002.

BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Federal de Medicina. Declaração


de óbito: documento necessário e importante. Brasília: Ministério da
Saúde, 2006. Disponível: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
declaracao_de_obito_final.pdf>. Acesso em: 4 abr. 2016.

_____.____. Departamento de Atenção Básica. Sistema e - SUS Atenção


Básica: Manual de Exportação - API Thrift. Brasília, DF: Ministério da
Saúde, 2016. Disponível em: <http://dab.saude.gov.br/portaldab/esus/
manual_exportacao_1.3/docs/manualExportacao_e-SUSABv1_3.pdf>.
Acesso em 23 dez. 2016.

_____._____. _____. e - SUS Atenção Básica. Brasília, DF: Ministério da


Saúde, 2012.

_____.____. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de


Vigilância Epidemiológica. Guia de vigilância epidemiológica. 7. ed.
Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 816 p. (Série A. Normas e Manuais
Técnicos).

_____._____._____. Secretaria de Atenção à Saúde. Diretrizes Nacionais


da Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 108 p. (Série
F. Comunicação e Educação em Saúde) (Série Pactos pela Saúde 2006; v.
13).

_____._____._____. Departamento de Análise de Situação em Saúde.


Saúde Brasil 2010: uma análise da situação de saúde e de evidências
selecionadas de impacto de ações de vigilância em saúde. Brasília:
Ministério da Saúde, 2011.

91
BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Vigilância em Saúde
- Parte 1. Brasília: CONASS, 2011. 320 p. (Coleção Para Entender a Gestão
do SUS 2011, 5,I).

CASTELLANOS, P. L. Sobre el concepto de salud-enfermedad: Descripción


y explicación de la situación de salud. Boletin epidemiológico, v.10, n.4,
p.1-7, 1990.

_____. Epidemiologia, saúde pública, situação de saúde e condições


de vida: considerações conceituais. In: BARATA, Rita Barradas (Org).
Condições de vida e situação de saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO, 1997.
p. 31-75.

COELI, C. M. et al. Sistemas de Informação em Saúde. In: MEDRONHO,


R.A. et al. Epidemiologia. 2 ed. São Paulo: Atheneu, 2009.

DATASUS. SIM-Sistema de Informações de Mortalidade. 2016. Disponível


em: <http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=060701>.
Acesso em: 14 mar. 2016.

FERREIRA, S. M.G. Sistema de informação em saúde conceitos


fundamentais e organização: oficina de capacitação para docentes
do curso de atualização em gestão municipal na área de Saúde, 1998.
Disponível em: <https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/
imagem/2249.pdf>. Acesso em: 4 abr. 2016.

MEDRONHO, R. A. et al. Epidemiologia. São Paulo: Editora Ateneu, 2009.

MENDES, E. V. Distritos sanitários: o processo social de mudanças das


práticas sanitárias do Sistema Único de Saúde. São Paulo; Rio de Janeiro:
Hucitec Abrasco, 2003.

92
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

MORAES, I. L. S. Sistemas de Informação em Saúde: patrimônio da


sociedade brasileira. In: PAIM, J. S.; ALMEIDA-FILHO, N. Saúde Coletiva:
teoria e prática. Rio de Janeiro: MedBook, 2014. p. 649-665.

OLIVEIRA, S. S. Sistemas de Informação em Saúde. In: ALEXANDRE, L. B.


S. P. Epidemiologia aplicada nos serviços de saúde. São Paulo: Martinari,
2012.

PORTAL DA SAÚDE. Ministério da Saúde. SISAGUA. 2014. Disponível em:


<http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/
leia-mais-o-ministerio/771-secretaria-svs/vigilancia-de-a-a-z/vigilancia-
-da-qualidade-da-agua-vigiagua/l1-vigilancia-da-qualidade-da-agua-vigia-
gua/12560-sisagua#>. Acesso em: 15 fev. 2016.

PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 1995.

_____. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koo-


gan, 2005.

RIPSA. Indicadores de saúde e a Ripsa. In: _____. Indicadores básicos


para a saúde no Brasil: conceitos e aplicações. 2. ed. Brasília: Organi-
zação Pan-Americana da Saúde, 2008. 349 p. cap. 1. Disponível em:
<http://tabnet.datasus.gov.br/tabdata/livroidb/2ed/apresent.pdf.>. Aces-
so em: 6 abr. 2016.

RODRIGUES, J. C. et al. Aplicabilidade do Sistema de Informação de Vigi-


lância em Saúde de Populações Expostas a Solo Contaminado – SISSOLO.
Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, v.19, n.4, p. 411-6, 2011 Disponível
aqui: <http://www.iesc.ufrj.br/cadernos/images/csc/2011_4/artigos/
csc_v19n4_411-416.pdf>. Acesso em: 06 mar. 2016.

93
TEIXEIRA, C. F.; VILASBÔAS, A. L. Q.; JESUS, W. L. A. de. Proposta meto-
dológica para o planejamento no Sistema Único de Saúde. In: TEIXEIRA,
C. F. (Org.). Planejamento em saúde: conceitos, métodos e experiências.
Salvador: EDUFBA, 2010. p. 51-75.

WALDMAN, E. A. Usos da vigilância e da monitorização em saúde pública.


Inf. Epidemiol. Sus, v.7 n.3.Brasília set. 1998.

94
Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade
no Sistema Único de Saúde

95
96

You might also like