You are on page 1of 33

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

ANNE AMÉLIA DE ARAÚJO CUNHA (RELATORA)


CLEBER MADURO PRADO
LEON VITOR DE BRITO FRANCELINO (COORDENADOR)
MARIA CAROLINA DE OLIVEIRA CAMARGO

LIBERDADE
LIBERDADE COMO DIREITO FUNDAMENTAL

BOA VISTA, RR
2016
ANNE AMÉLIA DE ARAÚJO CUNHA (RELATORA)
CLEBER MADURO PRADO
LEON VITOR DE BRITO FRANCELINO (COORDENADOR)
MARIA CAROLINA DE OLIVEIRA CAMARGO
LIBERDADE
LIBERDADE COMO DIREITO FUNDAMENTAL

Pesquisa sobre a questão da Liberdade previstas


no artigo 5º da Constituição Federal, apresentado
ao curso de Bacharelado em Direito da
Universidade Federal de Roraima como requisito
para a conclusão da disciplina de Direito
Constitucional.

Orientador: Professor Gursen De Miranda

BOA VISTA, RR
2016
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................................................I
1.CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE LIBERDADE.................................................5

2. ANÁLISE HISTÓRICA.............................................................................................9

3. LIBERDADE NO CAPUT DO ARTIGO 5º .............................................................15

4. LIBERDADE DE AÇÃO..........................................................................................16
5. LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO............................................................................17

6. LIBERDADES DE PENSAMENTO E EXPRESSÃO..............................................18

7. LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E RELIGIÃO......................................................19

8. LIBERDADES DERIVADAS DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO..........................20

9. LIBERDADE DE EXPRESSÃO COLETIVA...........................................................22

10. LIBERDADE DE AÇÃO PROFISSIONAL............................................................23

CONCLUSÃO............................................................................................................24

REFERÊNCIAS.........................................................................................................25

ANEXO......................................................................................................................26
IV

INTRODUÇÃO

Este trabalho é orientado em razão da temática da liberdade disposta no caput e com


foco nos incisos II, IV, VI, IX, XIII, XV, XVI, XVII do artigo 5º Constituição Federal,
fazendo uma análise, especialmente histórica, englobando os fundamentos, influências e
consolidação das garantias dispostas englobadas no aspecto liberdade.
O projeto foi desenvolvido principalmente tendo como referência a Constituição
Federal brasileira de 1988. Foi envolvido estudo histórico dos antecedentes desta constituição
para esclarecimento dos fatores que levaram a sua elaboração e consolidação na forma que a
encontramos atualmente dentro do tema pesquisado.
A problemática estabelecida refere-se à necessidade de responder como se deu a
concepção da liberdade no direito brasileiro, na Constituição Federal, especialmente em seu
artigo 5º, e a disposição nos incisos do referido artigo, como também a forma como
compreendemos a liberdade hoje. Segue-se com o estudo sobre autores influentes nesta
temática e o contexto no qual tais ideias foram constituídas, trabalhando uma análise histórica,
para que possamos obter as respostas, tendo como principal foco responder o que é liberdade
como direito fundamental, além das diversas perspectivas e entendimentos a respeito das
liberdades e suas diferentes classificações na doutrina. Visando também esclarecer a
fundamentação teórica dos elementos presentes no artigo quinto da Constituição Federal que
envolvem as liberdades (dentro da compreensão de liberdades da primeira dimensão de
direitos fundamentais ou humanos).
O presente tema mostra-se de grande importância quando visto através de uma
concepção jurídica, sociológica e histórica, uma vez que em inúmeros períodos do percurso da
humanidade existiram questionamentos sobre sua existência, além de atos que hodiernamente
são considerados absurdos e ameaçaram diversos grupos sociais ao longo dos séculos (hoje
positivamente protegidos pelo estabelecimento de direitos fundamentais nas constituições e
em tratados e cartas de direitos humanos).
O estudo de seu surgimento dos direitos de liberdade e sua consolidação,
acompanhado do estudo daquilo que os fundamenta na doutrina é de extrema importância
para melhor entendimento do direito nos ramos de Direito Constitucional e Direitos Humanos.
Acerca do aspecto das liberdades contidas nos incisos do artigo 5º da Constituição
Federal, utilizaremos as interpretações de renomados juristas, dentre os quais, José Joaquim
V

Gomes Canotilho, Gilmar Mendes, Jorge de Miranda e Paulo Bonavides, além dos conceitos
elaborados por outros inúmeros doutrinadores de Direito Constitucional.
O conceito jurídico de liberdade é tido como faculdade ou poder outorgado à pessoa
para que aja segundo sua própria determinação, desde que mantendo o respeito às leis, em
Direito Constitucional as liberdades representam os direitos fundamentais (ou direitos
humanos) que garantem ao indivíduo uma área livre de intervenção do governo.
Uma das primeiras menções a liberdade como um direito surge no famoso lema da
revolução francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. É a partir dele também que se baseia a
pesquisa histórica, apesar de não ter sido necessariamente o surgimento de uma discussão
acerca dos direitos de liberdade, é um dos acontecimentos mais relevantes da Idade Moderna.
Os três elementos do lema também definiriam posteriormente o centro de cada geração de
direitos humanos, tendo liberdade como a primeira (direitos negativos), igualdade como a
segunda (direitos positivos) e fraternidade como a terceira.
Paulo Bonavides ressalta a importância dos direitos de liberdade, tidos como primeira
geração (ou dimensão) de direitos humanos:

“Direitos da primeira geração, os direitos da liberdade foram os primeiros a constar


do instrumento normativo constitucional, a saber, direitos civis e políticos, que em
grande parte correspondem, por um prisma histórico, àquela fase inaugural do
constitucionalismo do ocidente.” (BONAVIDES, 2003, p. 1)
Os direitos inclusos naquilo que se considera a primeira dimensão de direitos
fundamentais (direito à vida, à liberdade, à propriedade, à liberdade de expressão, à liberdade
de religião, à participação política) atualmente são tidos como consolidados na maior parte
das constituições, reconhecidos universalmente. São estes os principais direitos
fundamentados no quinto artigo da Constituição Federal, abordados no projeto.
George Marmelstein explica que os direitos da primeira geração teriam como objetivo
possibilitar a limitação do poder do estado e permitir a participação do povo nos negócios
públicos, estes seriam futuramente complementados pelos direitos de segunda geração (que
permitiriam verdadeiramente o desfrute da liberdade em tese oferecida pelos direitos de
primeira geração). Complementando esta ideia de necessidade da junção entre as dimensões
de direito, têm-se a ideia de Ana Paula de Barcellos:

“Adicionalmente, porém, a doutrina contemporânea destaca que o indivíduo não terá


condições de exercer liberdade alguma realmente se não puder dispor de condições
materiais mínimas indispensáveis à sua dignidade, sobretudo relacionadas com a
educação, a saúde e a assistência social. Um indivíduo faminto, desabrigado e
analfabeto não terá condições de exercer de fato as liberdades de pensamento,
expressão, reunião ou associação, assim como outros direitos, que apenas são
garantidas formalmente no texto constitucional. Nesse contexto, a garantia desse
conjunto mínimo de prestações materiais pode ser descrita como uma condição para
VI

a liberdade, embora se trate aqui de um dever prestacional do Estado, e não de uma


omissão.” (BARCELLOS, 2012, p. 523)
A concepção deste direito fundamental está no plano jurídico-político como uma
competência negativa onde o poder público se vê impedido de atuar contra a esfera individual
da pessoa, relaciona-se com a nomenclatura “direitos individuais”, embora alguns
entendimentos como o de Wilson Steinmentz1 não o achem apropriado.

“Por fim, já não é constitucionalmente adequado o uso da expressão “direitos


individuais” para qualificar e delimitar certos direitos, os de liberdade, ante outros
tipos de direitos (e.g., políticos e sociais). Além disso, do ponto de vista dogmático,
o uso dessa expressão – é verdade que primeiro pelo legislador constituinte [...].
Conceitos como direitos de defesa, direitos de participação e direitos a prestações
em sentido amplo (direitos sociais, direitos à proteção e direitos à organização e ao
procedimento) são analiticamente mais precisos e funcionais para a descrição, a
interpretação e a aplicação dos direitos fundamentais instituídos pela CF. Pode-se
objetar dizendo que o legislador constituinte optou textualmente pela expressão
“direitos individuais”. A isso se pode contra argumentar, aqui invocando tese de
Norberto Bobbio (Scienza del diritto e analisi del linguaggio, 1950), que uma das
tarefas da ciência jurídica stricto sensu, a dogmática jurídica, é purificar a linguagem
do legislador.” (STEINMENTZ, 2012, p. 331)
São abordados durante o projeto diversos temas que tangem o objeto principal de
pesquisa: as ideias de dimensões de direito, diferenças entre direitos fundamentais e humanos,
diferenças entre direitos e garantias, direitos positivos e negativos e outros que ainda são
pertinentes dentro da visão constitucional de direito. Garantias são os mecanismos criados
para neste caso, proteger os direitos de liberdade (as leis, incluindo o artigo quinto e os incisos
específicos delimitados no tema de pesquisa).
A construção do trabalho se deu por meio de pesquisa bibliográfica dos materiais
publicados sobre o assunto, tomando a Constituição Federal como base. A linguagem utilizada
ao longo do texto é formal, utilizando-se termos próprios do estudo do direito.
A pesquisa de todo conteúdo foi realizada durante o ano de 2016 entre maio e agosto, no
estado de Roraima, como um trabalho para a Universidade Federal de Roraima, realizado sob
a orientação do professor Gursen De Miranda dentro da disciplina de Direito Constitucional.

1 STEINMETZ, Wilson. Direitos fundamentais da pessoa como ser individual e autonomamente considerado.
“Identificando-se os elementos estruturais dos direitos fundamentais, sobretudo a titularidade e a natureza do
objeto, constata-se que inúmeros direitos fundamentais políticos e sociais prescritos na CF também são de
natureza individual.”
7

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE LIBERDADE

1.1. Definição

A Compreensão de liberdade de acordo com a psicologia seria algo muito mais


profundo, e dotado de maior grandeza, envolveria então toda a concepção de mundo que
temos, bem como a evolução da sociedade. Desde a forma como o humano para uma proteção
própria limitou suas liberdades a seguridade de sua vida.

“Uma grande parte da tecnologia física é resultado desta luta pela liberdade. Através
dos séculos, de diversas formas, os homens construíram um mundo onde estavam
relativamente livres de muitas espécies de ameaças ou estímulos perigosos –
extremos de temperatura, fontes de infecção, perigo, e até mesmo aqueles estímulos
aversivos secundários que podem ser denominados de desconfortantes. (SKINNER,
1983, p. 26) ”

Já na perspectiva filosófica, diferentemente da psicológica, a liberdade é transcendente


e ilimitada, partindo-se da lógica de que a prévia existência de uma barreira aniquila as
possibilidades do ser livre, a possibilidade de escolha, de não escolha. Liberdade seria então a
substância do espírito, sendo a verdade unívoca, a sua atividade e a sua essência, seu próprio
produto, seu começo e seu fim. Sua liberdade não é a mera e imóvel existência, portanto é a
negação constante de tudo o que a contesta.

“[...]ser livre aquilo que se não refere a outro nem de outros depende; só nisto
aparece a verdadeira posse de si, e a verdadeira e própria satisfação; em tudo o mais
que não seja pensamento, o espírito não alcança esta liberdade[...] ” (HEGEL, 1816,
p.342)

Ainda no contexto filosófico pode-se compreender a liberdade como condição do que


é livre; uma certa capacidade de agir por si próprio, autodeterminação, independência um agir
com autonomia. O que é facilmente identificado na tradição filosófica do liberalismo que
enfatiza o individualismo, a igualdade e a liberdade.
A concepção sociológica de liberdade seria então de que o ser não seja submetido um
ao outro e assim ter pleno poder sobre si mesmo, estando o sentido positivo de liberdade
dotado da significação da posse de direitos, implica o estabelecimento abrangente no âmbito
de direitos civis, políticos e sociais. Como afirma Auguste Comte “A liberdade é o direito de
fazer o próprio dever. ”
Congregando as demais opiniões relativas as liberdades, para o direito a concepção
mais comum ao âmbito jurídico é a de que a liberdade é um direito fundamental básico de
primeira geração e é composta de regras que garantem as liberdades emanam do direito
8

constitucional, que seriam os mesmo a impor as regras de sua restrição. As liberdades seriam
as públicas ou simplesmente liberdades, as liberdades de reservar a pessoa uma área de
atuação imune à intervenção do poder. Montesquieu afirma em seu livro O espírito das leis
que “A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem”.
A partir do conceito jurídico de liberdade podemos extrair as concepções de liberdades
individuais que reúnem todos os direitos e poderes assegurados à pessoa para que possa
livremente exercer qualquer atividade, e as coletivas que exigem a participação de vários
indivíduos para serem usufruídas, ambas respeitando os princípios e restrições anotados em
lei.

1.2. Liberdade negativa e positiva

Isaiah Berlin (1959, p. 8, tradução nossa) diferencia a liberdade positiva e negativa da


seguinte forma: “O sentido ‘positivo’ da palavra ‘liberdade’ deriva do desejo da parte do
indivíduo de ser seu próprio mestre”2

“Se eu sou prevenido por terceiros de fazer aquilo que eu outrora conseguiria, eu sou
até este ponto ‘deslivre’ (não-livre); eu posso ser descrito como coagido, ou, talvez
seja, escravizado.”3 (BERLIN, 1959, p. 3, tradução nossa)
Liberdade negativa é compreendida como não ser impedido de agir por qualquer
pessoa de fazer, sem ter limites expressos contra uma certa ação, já a liberdade positiva é vista
como um autogoverno do indivíduo, uma liberdade de caráter pessoal.
A liberdade em seu sentido negativo e positivo também pode ser explicada pela
chamada autonomia da vontade, elaborada por Kant. Nela, liberdade em sentido negativo
pode ser definida como “independência em relação a qualquer coação exterior” ligada ao
cidadão e em sentido positivo como “legislação da própria razão”.
Os dois autores têm em comum a concepção de que apesar de serem dois conceitos
diferentes, são complementares, o que abre a possibilidade para afirmar que não pode existir
um tipo de liberdade sem a outra.
Júlio César Casarin ao fazer um estudo dos textos de Berlin levanta uma questão de
suma importância:
2 “The 'positive' sense of the word 'liberty' derives from the wish on the part of the individual to be his own
master.” BERLIN, Isaiah (1958) “Two Concepts of Liberty. ” In Isaiah Berlin (1969) Four Essays on Liberty.
Oxford: Oxford University Press.
3 “If I am prevented by others from doing what I could otherwise do, I am to that degree unfree; and if this area
is contracted by other men beyond a certain minimum, I can be described as being coerced, or, it may be,
enslaved.” BERLIN, Isaiah (1958) “Two Concepts of Liberty.” In Isaiah Berlin (1969) Four Essays on Liberty.
Oxford: Oxford University Press.
9

“A inviolabilidade de domicílio seria garantida pela não-invasão do domicílio por


parte do Estado. Mas e se um particular, movido por seus desejos, paixões e
interesses, resolver violar a esfera de direitos negativos de outrem? Bem, para coibir
semelhantes intenções ou punir eventuais violações, caberia ao Estado manter um
aparato policial-preventivo e judicial-punitivo. ” (CASARIN,2008, p. 284)

Observado que uma posição totalmente negativa do Estado, não-intervencionista, não


seria o ideal para uma sociedade democrática. Deste modo também é exigido do Estado
prestações positivas, na forma de garantias, para o livre o exercício de uma liberdade positiva.

1.3. Limites da Liberdade

O que pode ser entendido como limites da liberdade é observado inicialmente como a
própria liberdade dos nossos pares, trazendo um limite que garante a não interferência na
liberdade alheia. Tal limite inerente a liberdade de um indivíduo que vive em sociedade possui
garantia expressa na forma de lei, visto que essa lei tem como objetivo meramente regular e
dispor dos meios para que os cidadãos possam gozar desse direito fundamental.

“No fim do século XVIII, Immanuel Kant revoluciona a moral política e defende
que a lei não deve fazer outra coisa senão permitir que todos os indivíduos e,
mediante procedimentos igualitários para todos esses indivíduos, tenham a liberdade
de buscar sua própria felicidade até o limite da liberdade dos demais indivíduos”
(FIORAVANTI, 2007, p. 123).
Sendo assim a função estatal da jurisdição é exercida com maior eficácia quando se utiliza
o mínimo de restrições necessárias para uma convivência pacífica. O controle da
constitucionalidade das leis é uma garantia suplementar das liberdades individuais.
Com essa compreensão o controle de constitucionalidade das leis é visto como regulador
de limitações para que o legislador não se exceda ao restringir direitos dos cidadãos de forma
abusiva. Deste modo está disposto na constituição federal de 1988 no artigo 5º, inciso II, que
o indivíduo não será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo a não ser em virtude de lei, a
limitadora da liberdade.
A legislação existe, pois, para que haja de fato e de direito liberdade, uma limitação das
liberdades individuais, embora pareça contraditório pensar que o cerceamento de alguns
direitos seja necessário para que outros sejam garantidos é o que decorre da vida em
sociedade. Visto que se não cercearmos as liberdades de cada um o todo estará em risco,
devemos gozar das nossas liberdades desde que as mesmas não interfiram na dos outros.
10

2. ANÁLISE HISTÓRICA

2.1. Consolidação dos direitos fundamentais

Na idade antiga temos diversas influencias, entre elas, o Código de Hamurabi. Datado
de 1690 a.C., foi um conjunto de leis escritas, considerada uma das primeiras codificações a
positivar direitos, destaca-se pela consagração da igualdade entre homens, prevendo a
supremacia das leis em relação ao governo.
Porém, apesar de ser um grande passo para a positivação das leis e também do que
viriam a ser as constituições e direitos fundamentais, a liberdade não era um aspecto discutido
no Código de Hamurabi, assim fundamenta Kersten:

“Em liberdade não se pode falar, porque nada havia de liberdade nessa legislação,
também não é possível dizer igualdade, um símbolo dos direitos humanos de
segunda dimensão, mas com certeza não há como deixar de lembrar dos direitos
econômicos que também fazem parte da segunda dimensão e estes com alguma
rudimentariedade estão presentes e por isso, faz-se necessário considerar a
existência de humanitarismo, o qual somente podemos depreender analisando
situações posteriores, que vêm a ser os direitos humanos e assim tentar consolidar
11

uma visão um pouco mais crítica sobre o Código, pois além de seu aspecto histórico,
não há como negar o valor de seu conteúdo.” (KERSTEN, 2007, p.3)
Apesar de não apresentar aspectos de liberdade, o código se mostrou de grande
importância para a consolidação dos direitos fundamentais ao longo da história.
Em seguida, a Lei das Doze Tábuas, de aproximadamente 450 a.C. surge como uma
constituição antiga romana, conjunto de leis e procedimentos referentes ao direito privado que
romperam pela primeira vez com a separação de classes em Roma. A Lei das Doze Tábuas é
considerada marco de consagração da liberdade, propriedade e proteção aos direitos do
cidadão. Duas foram as consequências destas leis, de acordo com Luzia Silva:

“a) a lei não mais se apresenta como formula indiscutível e que não pode ser
mudada por ditada por uma divindade, transformando-se em obra humana, deixando
de ser dívida, é reconhecida a possibilidade de sujeitar os preceitos legais a
mudanças; se a lei é feita pelo homem, este pode modifica-la
b) a lei, antes parte da religião e propriedade das famílias sagradas, torna-se
propriedade comum de todos” (SILVA, 2016, p.7)
Este conjunto de leis nivela a sociedade, tentando estabelecer uma igualdade, e
também tem em seus dispositivos um conteúdo ético, que, aliado as influencia religiosas da
época levam a uma ideia similar do que concebemos hoje como Direitos Humanos. Foi um
conjunto de leis escrito a partir da pressão popular, dos patrícios para usufruto do povo.

2.2. Consolidação da liberdade como direito fundamental

Quando falamos em direitos fundamentais na idade média, um dos maiores marcos foi
a Magna Carta de 1215 (Magna Charta Libertatum), limitando os poderes do rei e trazendo
avanços como o habeas corpus, o devido processo legal, a substituição das ordálias pelo júri.

“[...] merece destaque a Magna Carta, outorgada por João Sem-Terra no século XII
devido a pressões exercidas pelos barões decorrentes do aumento de exações fiscais
para financiar campanhas bélicas e pressões da igreja para o Rei submeter-se a
autoridade papal. ” (COMPARATO, 2003, p. 71 e 72).
Podemos então considerar a Magna Carta como garantidoras de certas liberdades civis
como a liberdade de ir e vir:

“Tal documento reconheceu vários direitos, tais como a liberdade eclesial, a não
existência de impostos, sem anuências dos contribuintes, a propriedade privada, a
liberdade de ir e vir e a desvinculação da lei e da jurisdição da pessoa do monarca. ”
(COMPARATO, 2003, p. 79 e 80).
Embora a carta de 1215 carregue muitas garantias fundamentais consideradas no
constitucionalismo atual, o medievo ainda continuou com poucas liberdades para o homem
comum, pois a carta:
12

“Os direitos da liberdade, os primeiros a constarem do instrumento normativo


constitucional, a saber, os direitos civis e políticos, que em grande parte
correspondem, por um prisma histórico, àquela fase inaugural do
Constitucionalismo do Ocidente” (BONAVIDES, p. 563.)
Há também na idade média uma grande contribuição para o conceito de liberdade na
figura de São Tomás De Aquino, dizendo que o ato de ser humano é único, que diferencia o
homem dos animais e dos demais entes criados desprovidos de razão e se manifesta na
possibilidade de a vontade humana determinar o seu fim último e os meios com os quais
pretende alcança-lo:

“No final da Idade Média, no século XIII, aparece a grande figura de Santo Tomás
de Aquino, que, tomando a vontade de Deus como fundamento dos direitos
humanos, condenou as violências e discriminações, dizendo que o ser humano tem
direitos naturais que devem ser sempre respeitados, chegando a afirmar o direito de
rebelião dos que forem submetidos a condições indignas. ” (DALLARI, 2000, p.
54)
A era moderna, por sua vez, constitui um período marcado por grandes mudanças
tanto na ordem social como econômica. O marco inicial é dado como a conquista de
Constantinopla pelos turcos otomanos e marco de seu fim sendo a Revolução Francesa. Nesse
período ocorreu a passagem do sistema Feudalista para o sistema Capitalista, com a
diminuição do poder da nobreza, a desvalorização da terra e a ascensão da burguesia e o
renascimento comercial e cultural.
Dentro desse contexto podemos destacar alguns acontecimentos históricos que tiveram
grande importância para a sedimentação da liberdade, e outros direitos, como direitos
fundamentais. De acordo com Rubio (1998) pode-se citar o Édito de Nantes, onde o Rei
Enrique IV da França proclamou liberdade religiosa, na época uma concessão real que podia
(e foi, posteriormente) desfeita.
Ferreira Filho (1998) entende como relevante para época documentos tais quais o
Petition of Right de 1628 que “reclama a necessidade de consentimento na tributação, o
julgamento pelos pares para a privação da liberdade e a proibição de detenções arbitrárias”.
Também pode ser citada a lei de habeas corpus de 1679 protegendo a liberdade de
locomoção. Destacam-se alguns acontecimentos na era moderna: Revolução Gloriosa,
Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia e Independência das 13 Colônias,
Constituição Federal dos Estados Unidos da América e a Revolução Francesa.
A Revolução Gloriosa na Inglaterra depôs o Rei Católico Jaime I, iniciando o período
protestante na Inglaterra. Com isso a Inglaterra passou definitivamente de uma monarquia
absolutista para um regime parlamentarista com o Rei sendo apenas o Chefe de Estado. Após
a revolução ocorreu a declaração do documento conhecido como Bill of Rights neste foram
13

assegurados à população inglesa direitos como a liberdade de expressão, liberdade política, na


figura da livre eleição dos membros do parlamento, e a tolerância religiosa.
A Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia e Independência das 13 Colônias,
de 1776, dispõe em seu primeiro artigo:

“Artigo 1° - Todos os homens nascem igualmente livres e independentes, têm


direitos certos, essenciais e naturais dos quais não podem pôr nenhum contrato,
privar nem despojar sua posteridade: tais são o direito de gozar a vida e a liberdade
com os meios de adquirir e possuir propriedades, de procurar obter a felicidade e a
segurança. ”
Essas prerrogativas viriam a se proliferar e influenciariam em vários direitos
fundamentais dispostos nas emendas da Constituição americana de 1787. Nesta, por sua vez, é
importante ressaltar que de início esse documento não possui nenhum conteúdo relacionado a
direitos fundamentais, mas foram estabelecidas emendas. A primeira emenda dispõe
explicitamente proibições ao congresso de cercear a liberdade dos cidadãos americanos. É
vedado ao congresso americano: estabelecer uma religião oficial ou dar preferência a uma
dada religião (a Establishment Clause da primeira emenda, que institui a separação entre a
Igreja e o Estado); proibir o livre exercício da religião; limitar a liberdade de expressão;
limitar a liberdade de imprensa; limitar o direito de livre associação pacífica; limitar o direito
de fazer petições ao governo com o intuito de reparar agravos.
Finalmente, temos a Revolução Francesa como o marco do fim da era moderna traz
também uma revolta violenta e o fim do estado absolutista e ascensão da burguesia como
classe dominante. E decorrente deste evento culminou o documento conhecido como
Declaração dos Direitos Homem e do Cidadão. Este define os direitos individuais e coletivos
dos seres humanos como universais. Influenciada pela doutrina dos direitos naturais, os
direitos dos homens são tidos como universais: válidos e exigíveis a qualquer tempo e em
qualquer lugar, pois permitem à própria natureza humana.
Porém não configura o conceito atual liberdade já que em seu primeiro já trazia uma
contradição: “Artigo 1.º Os homens nascem e são livres e iguais em direito distinções sociais
só podem fundamentar-se na utilidade comum”. Mesmo não trazendo consequências
duradouras para a França inspirou e fundamentou a estabilização de direitos fundamentais
como a liberdade.

2.3. Liberdade nas Constituições Brasileiras

A primeira Constituição brasileira, de 1824, consagrou os direitos fundamentais de


primeira dimensão, em seu oitavo título, Garantia dos Direitos Civis e Políticos dos Cidadãos
14

Brasileiros. O artigo 179 da Constituição reconheceu os direitos à legalidade, à


irretroatividade da lei, à igualdade, à liberdade de pensamento e expressão, à inviolabilidade
de domicílio, à propriedade, entre outros direitos individuais inerentes à primeira dimensão
dos direitos fundamentais.
José Afonso da Silva ressalta que a Constituição de 1824 fora a primeira no mundo a
positivar os direitos do homem, anterior até mesmo a constituição Bélgica de 1831 que é
considerada a primeira na história a ter concretizado tal feito.
A Constituição republicana, de 1891, em seu Título III - Seção II, previu a Declaração
de Direitos. Além dos tradicionais direitos e garantias individuais que já haviam sido
consagrados pela Constituição anterior, podemos destacar as seguintes previsões estabelecidas
pelo artigo 72: gratuidade do casamento civil, ensino leigo, ampla defesa, abolição das penas
das galés e do banimento judicial, abolição da pena de morte, reservadas as disposições da
legislação militar em tempo de guerra, propriedade de marcas de fábrica, Instituição do Júri.
Para o aspecto referente a liberdade surgem dois dispositivos importantes, os direitos de
reunião e associação e o habeas corpus, prevenindo a restrição ilegal da liberdade.
A Constituição de 1934, também teve as garantias fundamentais, estabelecidas em seu
artigo 113 e seus 38 incisos, acrescentando ao já disposto anteriormente em outras
constituições: consagração do direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada; escusa
de consciência, direitos do autor na reprodução de obras Literárias, artísticas e cientificas;
irretroatividade da lei penal; impossibilidade de prisão civil por dívidas, multas ou custas;
impossibilidade de concessão de extradição de estrangeiro em virtude de crimes políticos ou
de opinião e impossibilidade absoluta de extradição de brasileiro; assistência jurídica gratuita;
mandado de segurança; ação popular.
A Constituição de 1937, também consagrou direitos e garantias, prevendo 17 incisos
em seu artigo 122. Além da repetição daquilo disposto no passado, houve a inclusão de
alguns dispositivos importantes: Impossibilidade de aplicação de penas perpétuas; maior
possibilidade de aplicação da pena de morte, além dos casos militares.
A Constituição de 1946, estabeleceu em seu artigo 157 diversos direitos sociais dos
trabalhadores e empregados seguindo uma tendência da época. Foram previstos também
alguns artigos especiais para a proteção à família, educação e cultura. O artigo 141 desta
Constituição utilizou uma redação que segue sendo usada atualmente. O caput do artigo 141
dizia “A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no pais a
inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança individual e à
propriedade, nos termos seguintes [...]. ” Destaca-se que a partir de 1946 não se exclui a
15

apreciação do poder judiciário qualquer lesão de direito individual, a introdução do mandado


de segurança.
A Constituição de 1967 teve um capítulo de direitos e garantias individuais e um artigo
prevendo direitos sociais aos trabalhadores, visando à melhoria de sua condição social.
Porém, considerando o período de governo militar rígido, restringiu o direito de greve,
ampliou a justiça militar e abriu espaço para leis de censura e banimento.
A Emenda Constitucional nº 1 de 1969 institucionalizou os Atos Institucionais,
responsáveis por grande parte das brechas nos direitos, incluindo o de liberdade. Seguiu-se no
período da ditadura 26 emendas e 17 atos institucionais. Surgiram disposições como o poder
de alterar a constituição, suspender direitos políticos de qualquer pessoa e fim do habeas
corpus para crimes políticos.
Marcando o fim de um período ditatorial, a Constituição de 1988 surge e os direitos e
garantias ganham grande destaque, sendo dispostos nos primeiros artigos após o preâmbulo e
princípios que regem a constituição. Os direitos fundamentais recebem status de cláusulas
pétreas, sendo protegidas pelo parágrafo 4º do artigo 60 perante qualquer reforma de Estado.
16

3. LIBERDADE NO CAPUT DO ARTIGO 5º


O Caput do artigo 5º da Constituição Federal diz:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

A concepção de liberdade geral trazida no caput do artigo 5º é similar as anteriores as


constituições brasileiras de 1924, Constituição de 1824, artigo 179; Constituição de 1891,
artigo 72; Constituição de 1934, artigo 113; Constituição de 1937, artigo 122; Constituição de
1946, artigo 141; Constituição de 1967/1969, artigo 153. Tal reincidência do tema nas
constituições revela uma tradição constitucional positivada das liberdades gerais.
Entretanto, tal direito geral de liberdade não configura como uma concepção uniforme
visto que há divergência entre os ordenamentos constitucionais a exemplo a constituição
portuguesa que trata somente das liberdades como espécies não abordando a liberdade em
geral.
Na concepção da filosofia de direito Ronald Dworkin um conceito de geral de
liberdade é prejudicial à uma sociedade baseada em fortes conceitos de liberdades individuais,
gerando um atrito constante entre as duas ideias. Uma liberdade abstrata se confrontaria com
o direito à igual consideração e respeito.
Além desta existem outras controvérsias sobre esta questão, no entanto sua posição no
sistema constitucional brasileiro não é alvo de contestações sendo visto como um reforço
positivo a lista minuciosa de liberdades no texto constitucional. Ainda na visão do renomado
constitucionalista e juiz Klaus Stern a presença de um conceito de liberdade geral cria uma
ideia de direito à liberdade sem lacunas preenchendo assim possíveis abstenções no texto
jurídico em questão.
17

4. LIBERDADE DE AÇÃO

II – Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

A liberdade de ação, prevista no artigo 5º, é a base de todas as outras liberdades,


recebendo o nome de "liberdade-matriz", "liberdade-base".
Este inciso expressa o princípio da legalidade, ao mesmo tempo é o princípio que dá
os limites ao princípio de liberdade. Rayanna Carvalho escreve que a restrição à liberdade só
pode ser considerada válida quando o poder legislativo constituído democraticamente,
legalmente, sob uma legislação construída a partir de uma constituição derivada de soberania
popular.
É no inciso II que temos a correlação de liberdade e legalidade sendo uma a
garantidora da outra:

“A Constituição de 1988, em seu art. 5º, II, traz incólume, assim, o princípio liberal de
que somente em virtude de lei podem-se exigir obrigações dos cidadãos. Ao incorporar
essa noção de lei, a Constituição brasileira torna explícita a intrínseca relação entre
legalidade e liberdade. A lei é o instrumento que garante a liberdade. ” (MENDES, p.
1385)

Tal confirmação deixa explícito que a interdependência dessas garantias é de extrema


relevância para que haja de fato a liberdade e para que esta possa ser concretizada.

5. LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO
XV - É livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer
pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
Seguindo a garantia do direito geral de liberdade, assegurado no caput do artigo 5 o, é
afirmado no inciso XV do mesmo artigo que a livre locomoção é direito de todos, nos termos
da lei. O mesmo figura como um pressuposto ao real cumprimento e realização de outros
18

direitos fundamentais contidos na constituição. Dentre tais direitos está prevista a concessão
de habeas corpus.

“conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de


sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso
de poder” (art. 5º, LXVIII).”
Assim como os outros direitos fundamentais, pode existir sua restrição em
determinados casos, tanto na esfera civil quanto penal. No entanto, em caso de restrição do
direito de locomoção, exige-se que seja seguido o devido processo legal, como dispõe o inciso
LIV, também do artigo 5º na Constituição Federal:

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal;
O direito de ir e vir não é exclusividade das constituições modernas, sendo garantido
aos cidadãos desde os tempos da Grécia e Roma, tento momentos de revoltas ligados a
necessidade de proteção deste direito durante a Idade Média. Fora garantida na Magna Carta,
aos cidadãos livres como direito de sair, entrar, e residir e percorrer em território Inglês.

A revolução francesa tem como consequência a Declaração dos Direitos do Homem e


do Cidadão, que diz em seu quarto artigo os direitos naturais de cada homem, de onde pode-se
retirar implicitamente e existência da liberdade de locomoção. Este direito é declarado através
da Declaração universal dos Direitos Humanos, em seu art. 13, dispondo que: I) - Todo
homem tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada
Estado. II) - Todo o homem tem direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este
regressar.

Tendo em vista que o direito de ir e vir deve ser equiparável ao interesse social, para
que além da busca pela pacificação tenhamos também a segurança. Sendo legítimo
constitucionalmente eventuais restrições condicionadas à satisfação do princípio da
proporcionalidade. Possuindo também como limite natural o direito do outro.

6. LIBERDADES DE PENSAMENTO E EXPRESSÃO

IV- é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato.


Sendo o homem um ser social é normal que se anseie externar suas convicções sobre
qualquer assunto, o pensamento é então um juízo de valor dando luz à opinião do indivíduo
no momento de sua exteriorização, liberdade essa protegida na constituição federal em seu
artigo 5º e também no artigo 220 “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a
19

informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição,
observado o disposto nesta Constituição.”
Sendo o pensamento extremamente íntimo e restrito ele se torna absolutamente livre, pois
enquanto não exteriorizado não é fato relevante para a comunidade.

“[...] o pensar, o raciocinar, o refletir são absolutamente livres, pois que a ninguém e
a nenhum organismo é lícito invadir essa esfera da interioridade humana.” (SOUZA,
2006, p.27)
A partir então da sua expressão sendo qualquer a forma, que são impostos limites ao
pensamento tendo em vista a responsabilidade civil e penal do emitente

“A liberdade de pensamento nesta seara já necessita de proteção jurídica. Não se


trata mais de possuir convicções íntimas, o que pode ser atingido independentemente
do direito. Agora não. Para que possa exercitar a liberdade de expressão do seu
pensamento, o homem, como visto, depende do direito. É preciso, pois, que a ordem
jurídica lhe assegure esta prerrogativa e, mais ainda, que regule os meios para que se
viabilize esta transmissão. ” (BASTOS, 1988, p. 187)

Junto ao direito de expressão temos também o direito de resposta previsto no artigo 5º:

V- é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização


por dano material, moral ou à imagem”
“O direito de resposta é meio de proteção da imagem e da honra do indivíduo que se
soma à pretensão de reparação de danos morais e patrimoniais decorrentes do
exercício impróprio da liberdade de expressão. O direito de resposta, portanto, não
pode ser visto como medida alternativa ao pedido de indenização por danos morais e
materiais. ” (BRANCO, 2009, p. 406)

É importante notar a posterioridade do direito de resposta e o do direito de indenização


o que os torna ferramenta de reparação e não de censura.

7. LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E RELIGIÃO

VI – É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre


exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de
culto e a suas liturgias;
A liberdade religiosa é caracterizada como valores, dogmas e práticas que um indivíduo
escolhe seguir. A liberdade de consciência seria um conceito similar estando ausente o caráter
religioso.
Surge com isso um conflito dogmático em relação a doutrina portuguesa de Jorge Miranda
que vê a liberdade religiosa como um derivado da liberdade de consciência, e a doutrina
brasileira de Pontes de Miranda que vê a liberdade religiosa como fruto da liberdade de
pensamento. Mas essas distinções só nos levam a concluir que existe uma relação de
20

interdependência entre liberdade religiosa, liberdade de consciência e liberdade de


pensamento pois são inerentes a formação da identidade do indivíduo podendo se destacar a
ampla liberdade constitucional de valores adotados pelo mesmo. Considerando que essas
liberdades ecoam na conduta do indivíduo é assegurada ampla proteção a conduta sendo essa
não somente a prática de seus hábitos culturais e sociais, mas também a objeção de outras
práticas.
Nasce uma problemática então quando essas condutas são penalmente tipificadas, algumas
delas quando se tratando de bem jurídico disponível tem sua tipicidade excluída pelo
consentimento do ofendido, mas em casos que há danos a terceiros o direito positivo
prevalece a convicção subjetiva.
21

8. LIBERDADES DERIVADAS DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Com o trauma da violação sistemática de direitos durante o regime militar a constituição


de 1988 nasce com a intenção de reafirmar direitos e garantias fundamentais e embora a
liberdade de expressão em sentido amplo estenda suas asas sobre as liberdades a seguir o
constituinte opta por impregna-las no texto constitucional.
8.1 Liberdade de Informação

IV – É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

Sendo a participação popular essencial para o Estado Democrático de Direito é de suma


importância que o se possa informar e ser informado sobre o meio em que vive, é uma
consequência da liberdade de informação a opinião pública. Deve então a informação ser
compreendida lato sensu agregando fatos, notícias e a utilização de seus diversos meios de
veiculação sendo estes livres de censura.

“É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”.


(Constituição Federal artigo 220 § 2)
“Nesse sentido, a liberdade de informação compreende a procura, o acesso,
o recebimento e a difusão de informações ou ideias, por qualquer meio, e
sem dependência da censura, respondendo cada pelos abusos que
cometer. ” (SILVA, 1998, p. 249)
Deste modo é vedado a censura de qualquer natureza, com as objeções ao
conteúdo da informação sendo garantidas com o direito resposta que também é
garantido no contexto da liberdade de expressão no inciso V do artigo 5º, mas nunca
proibição anterior a publicação.

“Relativamente ao direito de informar, o mesmo encontra-se intimamente


relacionado com a liberdade de imprensa e de comunicação social e com os
direitos dos jornalistas. No entanto, importante salientar que,
particularmente no domínio da autodeterminação político-democrática da
comunidade, as ideias de verdade e objetividade, a despeito de suas
limitações, assumem centralidade como instrumentos de salvaguarda de
bens jurídicos de natureza individual e coletiva. Isso se traduz na existência
de uma obrigação de rigor e objetividade por parte das empresas
jornalísticas e noticiosas para além de uma obrigação de separação, sob
reserva do epistemologicamente possível, entre afirmações de facto e
juízos de valor, informações e comentários. ” (JÓNATAS, 2002, p. 417)
Além de livre de censura a informação também necessita também ser livre de
manipulação na comunicação dos fatos, sendo a liberdade de informação não
somente a liberdade de informar, mas também o direito de ser informado sendo a
liberdade de informação não somente individual, mas sim o direito coletivo à
informação.
22

8.2 Liberdade artística

IX - É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de


comunicação, independentemente de censura ou licença

A arte, enquanto fundamento da liberdade artística, diferencia esta liberdade dos outros
direitos que compõe o conteúdo da liberdade de expressão em sentido amplo, logo, ainda que
seja espécie do gênero liberdade de expressão. A Constituição assegura, o direito de resposta e
indenização por dano material ou moral a imagem. O texto traz, então, como solução para
eventuais conflitos entre a liberdade de expressão e os direitos da personalidade o direito de
resposta e a indenização por dano moral ou material, mostrando, claramente, uma opção pela
reparação posterior do dano, em detrimento da censura prévia de qualquer forma de
manifestação do pensamento. Além do artigo 5º o artigo 220 da Constituição cujo caput
determina que a manifestação do pensamento, a expressão e a criação, não sofreram qualquer
restrição, observado o disposto na Constituição.

8.3 Liberdade intelectual


A liberdade intelectual seria para Polanyi:

“o direito de escolher o problema a investigar, em conduzir a pesquisa sem qualquer


controle externo e em ensinar o assunto em pauta à luz de opiniões próprias" já a
liberdade cientifica seria a liberdade de “buscar a exploração dessas crenças e de
defender, sob sua orientação, os padrões da comunidade científica”. (POLANYI,
1964, p. 9)
A liberdade intelectual e a liberdade cientifica estão estreitamente ligadas pois as duas
estão ligadas ao meio acadêmico.

9. LIBERDADE DE EXPRESSÃO COLETIVA

As liberdades de expressão coletiva pressupõem uma pluralidade de pessoas para ser


exercido são modalidades de direitos individuais, pertencem ao indivíduo, abrangendo o
direito de reunião e o direito ou a liberdade de associação. No inciso XVI do artigo 5º, apenas
é tratado o direito de liberdade de reunião.
23

9.1 Liberdade de Reunião

XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao


público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à
autoridade competente
A liberdade de reunião deve ser entendida como o agrupamento de pessoas,
organizado, de caráter transitório, com uma determinada finalidade. Em locais abertos ao
público devem ser observados alguns requisitos: a) reunião pacifica, sem armas; b) fins
lícitos; e c) aviso prévio à autoridade competente (atende a uma necessidade administrativa,
sua finalidade é evitar a frustração de outra reunião previamente convocada para o mesmo
local).
É importante salientar que o aviso prévio não deve ser confundido com a autorização
do Poder Público. A reunião em locais fechados é garantida pelo Texto constitucional de
forma implícita, podendo ser exercida de forma absoluta, sem exigência de aviso prévio à
autoridade competente. O direito de passeata também é assegurado pela Constituição, pois
nada mais é do que o exercício do direito de reunião em movimento.

9.2 Liberdade de Associação


XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter
paramilitar;
A Liberdade de associação é um conceito legal constitucional que se caracteriza pelo
direito que os homens têm de mutuamente escolherem os seus associados para cumprir um
determinado fim. Este conceito encontra-se incluído em diversas constituições bem como
na Convenção Europeia dos Direitos Humanos.
24

10. LIBERDADE DE AÇÃO PROFISSIONAL

A liberdade de profissão encontra-se disposta no inciso XIII do artigo 5º da


Constituição Federal e dispõe:
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas
as qualificações profissionais que a lei estabelecer;
De acordo com o inciso, o exercício de qualquer profissão é livre, desde que sejam
atendidas as qualificações profissionais (assim entendida como as condições de capacidade
técnica) que a lei estabelecer. Isso não impede, por outro lado, que a lei ou o contrato,
regulamentem o direito de liberdade profissional, expandindo a eficácia. Entretanto, a
regulamentação não pode aniquilar a liberdade, sob pena de tornar a essência do direito
ilusória. Coloca-se como um direito individual com natureza de liberdade negativa, porque é
apenas a não interferência do Estado no direito pessoal, como descreve Máriton Lima (2003):

“[...] sem garantir o trabalho ou seu conteúdo, nem a possibilidade de trabalhar, nem
o emprego, tampouco as condições materiais para a investidura num ofício ou para a
aquisição de qualquer profissão.” (LIMA, 2003, p.1):
Este inciso permite que os indivíduos possuam autonomia na escolha de suas
profissões sem interferências indevidas do Estado, garantindo duas faces de um mesmo
direito: a liberdade de escolha (de acordo com seu desejo e vocação) e livre exercício (de
acordo com sua capacidade, dentro da lei) da profissão. Sua importância se demonstra através
da compreensão de que não é o Estado responsável por determinar as profissões exercidas,
mas sim cada pessoa, seguindo suas vontades, conhecimentos e necessidades. Nesse mesmo
entendimento, diz Sarlet:

“[...] (há) forte relação com o direito ao desenvolvimento da personalidade, pelo


fato de que se trata tanto de uma finalidade quanto de um fundamento da vida
pessoal, ao mesmo tempo viabilizando que o indivíduo possa contribuir para a vida
social como um todo”. (SARLET, 2012, p. 487)
Como limites dessa norma fundamental, existem as leis que limitam atuação
profissional, impondo exigências necessárias para o exercício de determinadas profissões.
Fora as leis que regulamentam esta ação, há ainda alguns contratos que determinam condições
especificas de trabalho, mas estas, não interferem no âmbito pessoal, quanto a determinação
do indivíduo sobre si mesmo.
25

CONCLUSÃO

Ao término da elaboração deste trabalho, nos foi possível obter melhor compreensão
sobre liberdade como direito fundamental, tudo o que congregou para sua fundamentação e
evolução no decorrer do tempo, a partir da análise feita pelos autores referenciados e nos
quais fundamentamos o projeto. Para a composição da compreensão de liberdade é
imprescindível a contribuição de cada jusfilósofo, psicólogo, sociólogo, dentre outros, pois, a
mesma foi construída sob diversas perspectivas através dos séculos.
A contribuição de todos estes referidos até o momento é valorada em nosso trabalho.
Desde a idade antiga, até a compreensão contemporânea das constituições, é possível observar
as mudanças pelas quais a liberdade passou e como veio a ser entendida. É na visão
constitucional moderna, influenciada pelo iluminismo, ideais da Revolução Francesa e
fundamentadas no Estado democrático de direito que se consolida a compreensão como um
direito fundamental de todos os indivíduos.
Na história brasileira desde a primeira constituição a liberdade se mostra um elemento
presente, embora limitado pelas diferenças de classes e mais tarde, por alguns aparatos
políticos influenciados por regimes autoritários, e em 1988 sendo consagrada desde o
preâmbulo com um conceito de liberdade geral e com destaque especial no quinto artigo, com
as liberdades específicas. Foi uma grande conquista após décadas obscuras e com violações
recorrentes ao direito de liberdade provocadas por uma ditadura militar.
A liberdade vem disposta em oito incisos do artigo quinto, destacados de maneira a
separar e caracterizar cada um deles, tornando possível uma análise individual para
compreender o contexto por trás de cada de garantia, sua história e fundamentação teórica no
direito brasileiro.
26

REFERÊNCIAS

ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO Vicente. Direito constitucional descomplicado I.


14. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO: 2015.

ALEXY, Robert. Teoria discursiva do direito. Organização, tradução e estudo


introdutório: Alexandre Travessoni Gomes Trivisonno. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2014.

AQUINO, Rubim Santos Leão de. História das sociedades modernas às sociedades
atuais. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2009, 664 p.

BARCELLOS, Ana Paula de. A Eficácia Jurídica dos Princípios Constitucionais. O


princípio da dignidade da pessoa humana. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.

BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional contemporâneo: os


conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 19.ed. atual. São Paulo:
Saraiva, 1998. p.187.

BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Direitos Fundamentais em espécie. In: MENDES,


Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de
direito constitucional. 4.ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2009. p.406.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF: Senado, 1988. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 27 de maio.
2016.

BERLIN, Isaiah (1958) “Two Concepts of Liberty.” In Isaiah Berlin (1969) Four
Essays on Liberty. Oxford: Oxford University Press.

BOBBIO, Noberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. 19 ed.
Rio de Janeiro: Elsevier, 1992.

BONAVIDES, Paulo. Direitos fundamentais, globalização e neoliberalismo. Revista


Latino-americana de Estudos Constitucionais, Belo Horizonte, v. 2, p. 351-361, 2003.
27

CARVALHO, Rayanna Silva. Liberdades constitucionais: breves anotações.


Disponível em <www.ambito-juridico.com.br/site/?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12809>.

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Comentários à Constituição do Brasil. São


Paulo: Saraiva/Almedina, 2013.

CASARIN, Júlio César. ISAIAH BERLIN: AFIRMAÇÃO E LIMITAÇÃO DA


LIBERDADE REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 16, Nº 30: 283-295 JUN. 2008.
P. 286, 2008

COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 3 ed.


São Paulo: Saraiva, 2003.

CORBISIER, Roland. Filosofia política e liberdade. 2 ed. Coleção Pensamento


Crítico; v. 27. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

COSTA, Irina Simeão Garrido da. O exercício da liberdade como um direito


fundamental para a construção da dignidade humana. JUS SOCIETAS-JS, v. 4, n. 1, p. 50-67,
2010.

DIMOULIS, Dimitri. Dicionário brasileiro de direito constitucional. 2. Ed. São Paulo:


Saraiva, 2012.

FERREIRA, Pedro Luiz Bragança. O direito fundamental à liberdade de expressão e o


estudo do caso Ellwanger. 2012.

FIORAVANTI, Maurizio. Constituición. De La Antigüedad a nuestros dias. Tradução,


para o espanhol, de Manuel Martínez Neira. Madrid: Editora Trotta, 2007. Capítulo 3.

FONSECA, Francisco Tomazoli da. A liberdade religiosa como direito fundamental e


a laicização do estado democrático de direito. Francisco Tomazoli da Fonseca. Pouso Alegre –
MG. FDSM, 2014. 161p.

FUSTEL DE COULANGES, Numa Denis. A cidade antiga: estudo sobre o culto, o


direito e as instituições da Grécia e Roma. 2 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2011.

GRECCO, Vicente Filho. Tutela constitucional das liberdades. São Paulo: Saraiva,
1989.
28

GURSEN DE MIRANDA. Noções de Direito Constituição (Na obra de Otto Bachof:


Normas Constitucionais Inconstitucionais?). Boa Vista (Roraima): ABLA, 2011. 300 p.

HACHEM, Daniel Wunder; GUSSOLI, Felipe Klein. Restrições ao direito


fundamental à liberdade de exercício da advocacia pelos servidores do Ministério
Público. Revista de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito, v. 7, n. 3, p.
334-350, 2015.

JORGE MIRANDA. Estado, liberdade religiosa e laicidade. Estado laico e a liberdade


religiosa. São Paulo: Ltr, 2011.

KERSTEN, Vinicius Mendez. O Código de Hamurabi através de uma visão


humanitária. Disponível em: < http://www.ambito-juridico.com.br/site/?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4113>. Acessado em: 25 jun. 2016.

LEFEBVRE, Georges. La rivoluzine francese, tradução de P. Serini, Turim, Einaudi,


1958, 162 p. ed. Brasileira: a Revolução Francesa, São Paulo, Ibrasa, 1989.

LEYSER, Maria Fátima Vaquero Ramalho. Direito à liberdade de imprensa. São


Paulo: J. de Oliveira, 1999.

MARMELSTEIN, George. Curso de direitos fundamentais. São Paulo: Altas, 2008.


p.50.

MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de direito constitucional. Gilmar Ferreira Mendes,


Paulo Gustavo Gonet Branco. 9. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014.

PINTO, Alexandre Guimarães Gavião. Direitos Fundamentais – Legítimas


prerrogativas de liberdade, igualdade e dignidade. Revista da EMERJ, v. 12, n. 46, p. 126,
2009.

POLANYI, Michael, Science, Faith and Society. Chigago University Press, p.9, 1964.

RUBIO, Valle Labrada. Introduccion a la Teoria de los Derechos Humanos:


Fundamento. Historia. Declaracion Universal de 10 de diciembre de 1948. Madrid: Civitas,
1998.

RUIZ, Thiago. O direito à liberdade: uma visão sobre a perspectiva dos direitos
fundamentais. Revista do Direito Público, v. 1, n. 2, p. 137-150, 2006.

SANKIEVICZ, Alexandre. Liberdade de expressão e pluralismo: perspectivas de


regulação. São Paulo: Saraiva, 2001.
29

SARLET, Ingo Wolfgang. Direitos fundamentais sociais: estudos de direito


constitucional, internacional e comparado. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.

SARMENTO, Daniel. A liberdade de expressão e o problema do “Hate


Speech”. SARMENTO, Daniel. Livres e iguais: estudos de Direito Constitucional. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2006.

SILVA, DE PLÁCIDO E. Vocabulário jurídico conciso. Atualizadores: Nagib Slaibi


Filho e Priscila Pereira Vasques Gomes. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012.

SILVA, Luzia Gomes da. A evolução dos Direitos Humanos. Conteúdo Jurídico,
Brasília: DF. 08 abr. 2013. Disponível em <http://www.conteudojuridico.com.br/?
artigos&ver=2.42785&seo=1>. Acesso em 07 jun. 2016.

SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 28ª ed. rev. e atual.
São Paulo: Malheiros, 2007.

SKINNER, Burrhus Frederic. O mito da liberdade. Tradução de Elisane Reis Barbosa


Rebelo. São Paulo: Sammus, 1983.

SOUZA, Nelson Oscar de. Manual de direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense,
2006. p.427.

STEINMETZ, Wilson. Direitos fundamentais da pessoa como ser individual e


autonomamente considerado. – Dicionário brasileiro de direito constitucional. 2. Ed. São
Pualo: Saraiva, 2012.

SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 16ª ed. rev.
atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 249.

MACHADO, Jônatas E. M.. Liberdade de Expressão. Dimensões constitucionais da


esfera pública no sistema social. Coimbra: Coimbra, 2002, p. 417.
30

ANEXO A

29/07/2016 Pesquisa de Jurisprudência :: STF Supremo Tribunal Federal

Pesquisa de Jurisprudência

Acórdãos

ADI 4815 / DF DISTRITO FEDERAL


AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA
Julgamento: 10/06/2015 Órgão Julgador: Tribunal Pleno

Publicação

PROCESSO ELETRÔNICO
DJe‐018 DIVULG 29‐01‐2016 PUBLIC 01‐02‐2016

Parte(s)

REQTE.(S) : ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS ‐ ANEL


ADV.(A/S) : GUSTAVO BINENBOJM
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPUBLICA
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DO CONGRESSO NACIONAL
ADV.(A/S) : ADVOGADO‐GERAL DA UNIÃO
AM. CURIAE. : INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO ‐ IHGB
ADV.(A/S) : THIAGO BOTTINO DO AMARAL
AM. CURIAE. : ARTIGO 19 BRASIL
ADV.(A/S) : CAMILA MARQUES BARROSO E OUTRO(A/S)
AM. CURIAE. : ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
ADV.(A/S) : ALBERTO VENANCIO FILHO E OUTRO(A/S)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO EDUARDO BANKS
ADV.(A/S) : ROBERTO FLÁVIO CAVALCANTI
AM. CURIAE. : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL ‐ CFOAB
ADV.(A/S) : OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JÚNIOR E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : MARCUS VINICIUS FURTADO COELHO
AM. CURIAE. : INSTITUTO DOS ADVOGADOS DE SAO PAULO ‐ IASP
ADV.(A/S) : IVANA CO GALDINO CRIVELLI E OUTRO(A/S)
AM. CURIAE. : INSTITUTO AMIGO
ADV.(A/S) : MARCO ANTONIO BEZERRA CAMPOS E OUTRO(A/S)

Ementa
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTS. 20 E 21 DA LEI N.
10.406/2002 (CÓDIGO CIVIL). PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA REJEITADA.
REQUISITOS LEGAIS OBSERVADOS. MÉRITO: APARENTE CONFLITO ENTRE PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS: LIBERDADE DE EXPRESSÃO, DE INFORMAÇÃO, ARTÍSTICA E
CULTURAL, INDEPENDENTE DE CENSURA OU AUTORIZAÇÃO PRÉVIA (ART. 5º INCS. IV, IX,
XIV; 220, §§ 1º E 2º) E INVIOLABILIDADE DA INTIMIDADE, VIDA PRIVADA, HONRA E
IMAGEM DAS PESSOAS (ART. 5º, INC. X). ADOÇÃO DE CRITÉRIO DA PONDERAÇÃO PARA
INTERPRETAÇÃO DE PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL. PROIBIÇÃO DE CENSURA (ESTATAL OU
PARTICULAR). GARANTIA CONSTITUCIONAL DE INDENIZAÇÃO E DE DIREITO DE
RESPOSTA. AÇÃO DIRETA JULGADA PROCEDENTE PARA DAR INTERPRETAÇÃO CONFORME
À CONSTITUIÇÃO AOS ARTS. 20 E 21 DO CÓDIGO CIVIL, SEM REDUÇÃO DE TEXTO. 1. A
Associação Nacional dos Editores de Livros Anel congrega a classe dos editores,
considerados, para fins estatutários, a pessoa natural ou jurídica à qual se atribui o direito
de reprodução de obra literária, artística ou científica, podendo publicála e divulgála. A
correlação entre o conteúdo da norma impugnada e os objetivos da Autora preenche o
requisito de pertinência temática e a presença de seus associados em nove Estados da
Federação comprova sua representação nacional, nos termos da jurisprudência deste
Supremo Tribunal. Preliminar de ilegitimidade ativa rejeitada. 2. O objeto da presente ação
restringese à interpretação dos arts. 20 e 21 do Código Civil relativas à divulgação de
escritos, à transmissão da palavra, à produção, publicação, exposição ou utilização da
imagem de pessoa biografada. 3. A Constituição do Brasil proíbe qualquer censura. O
exercício do direito à liberdade de expressão não pode ser cerceada pelo Estado ou por
particular. 4. O direito de informação, constitucionalmente garantido, contém a liberdade
31
de informar, de se informar e de ser informado. O primeiro referese à formação da opinião
pública, considerado cada qual dos cidadãos que pode receber livremente dados sobre
assuntos de interesse da coletividade e sobre as pessoas cujas ações, públicoestatais ou
públicosociais, interferem em sua esfera do acervo do direito de saber, de aprender sobre
temas relacionados a suas legítimas cogitações. 5. Biografia é história. A vida não se

http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudenciaDetalhe.asp?s1=000300312&base=baseAcordaos 1/9
29/07/2016 Pesquisa de Jurisprudência :: STF Supremo Tribunal Federal

desenvolve apenas a partir da soleira da porta de casa. 6. Autorização prévia


para biografia constitui censura prévia particular. O recolhimento de obras é
censura judicial, a substituir a administrativa. O risco é próprio do viver. Erros
corrigemse segundo o direito, não se coartando liberdades conquistadas. A
reparação de danos e o direito de resposta devem ser exercidos nos termos da
lei. 7. A liberdade é constitucionalmente garantida, não se podendo anular por
outra norma constitucional (inc. IV do art. 60), menos ainda por norma de
hierarquia inferior (lei civil), ainda que sob o argumento de se estar a
resguardar e proteger outro direito constitucionalmente assegurado, qual seja,
o da inviolabilidade do direito à intimidade, à privacidade, à honra e à
imagem. 8. Para a coexistência das normas constitucionais dos incs. IV, IX e X
do art. 5º, há de se acolher o balanceamento de direitos, conjugandose o
direito às liberdades com a inviolabilidade da intimidade, da privacidade, da
honra e da imagem da pessoa biografada e daqueles que pretendem elaborar
as biografias. 9. Ação direta julgada procedente para dar interpretação
conforme à Constituição aos arts. 20 e 21 do Código Civil, sem redução de
texto, para, em consonância com os direitos fundamentais à liberdade de
pensamento e de sua expressão, de criação artística, produção científica,
declarar inexigível autorização de pessoa biografada relativamente a obras
biográficas literárias ou audiovisuais, sendo também desnecessária autorização
de pessoas retratadas como coadjuvantes (ou de seus familiares, em caso de
pessoas falecidas ou ausentes).

Decisão

O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto da


Relatora, julgou procedente o pedido formulado na ação
direta para dar interpretação conforme à Constituição aos
artigos 20 e 21 do Código Civil, sem redução de texto, para,
em consonância com os direitos fundamentais à liberdade de
pensamento e de sua expressão, de criação artística,
produção científica, declarar inexigível o consentimento de
pessoa biografada relativamente a obras biográficas
literárias ou audiovisuais, sendo por igual
desnecessária autorização de pessoas retratadas como
coadjuvantes (ou de seus familiares, em caso de pessoas
falecidas). Falaram, pela requerente Associação Nacional dos
Editores de Livros ‐ ANEL, o Dr. Gustavo Binenbojm, OAB/RJ
83.152; pelo amicus
curiae Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro ‐ IHGB, o
Dr. Thiago Bottino do Amaral, OAB/RJ 102.312; pelo amicus
curiae Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil ‐
CFOAB, o Dr. Marcus Vinicius Furtado Coelho, OAB/PI 2525; pelo
amicus
curiae Instituto dos Advogados de São Paulo ‐ IASP, a Dra.
Ivana Co Galdino Crivelli, OAB/SP 123.205‐B, e, pelo amicus
curiae INSTITUTO AMIGO, o Dr. Antônio Carlos de Almeida Castro,
OAB/DF 4107. Ausente o Ministro Teori Zavascki, representando o
Tribunal no simpósio em comemoração aos 70 anos do Tribunal de
Disputas Jurisdicionais da República da Turquia, em Ancara.
Presidiu o julgamento o Ministro Ricardo Lewandowski. Plenário,
10.06.2015.
ÍNDICE

You might also like