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MILITAR.

DEMISSÃO EX OFICIO
DECORRENTE DE POSSE EM CARGO
PÚBLICO PERMANENTE. RESERVA
NÃO REMUNERADA. MANUTENÇÃO
DO POSTO DE OFICIAL. PERDA DO
POSTO SOMENTE COM DECISÃO DE
TRIBUNAL MILITAR.
CONSTITUCIONALIDADE. RECURSO
ORDINÁRIO A QUE SE NEGA
SEGUIMENTO.

DECISÃO: Trata-se de agravo regimental no recurso ordinário em


mandado de segurança interposto pela União contra decisão que proferi,
que deu provimento ao recurso ordinário interposto por Tiago de
Almeida Paim, nos seguintes termos:

“MILITAR. CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO.


PENALIDADE IMPOSTA APÓS A PERDA DA CONDIÇÃO
DE MILITAR DECORRENTE DE POSSE EM CARGO
PÚBLICO. IMPOSSIBILIDADE RECURSO ORDINÁRIO EM
MANDADO DE SEGURANÇA PROVIDO.”

Inconformada com a referida decisão, a agravante sustenta que


embora tenha sido demitido demitido em decorrência de posse em cargo
público permanente, o impetrante só perderá o posto e a patente se for
julgado indigno do oficialato, nos termos do art. 142, § 3º, VI, da
Constituição da República.
Alega, ainda, que:

“- O oficial da reserva não remunerada mantém a patente e terá


os direitos e deveres do posto no caso de convocação;
- Se, de fato, o oficial é considerado indigno para o Oficialato ou
com ele incompatível, não possui autoridade moral e demais requisitos
para exercer liderança sobre os seus subordinados, não sendo,
inclusive, merecedor da confiança de seus superiores;
- Se o militar reformado, que sequer pode ser convocado,
submete-se ao Conselho de Justificação, não há razão para que o
Oficial da reserva não remunerada não possa igualmente submeter-se
ao Conselho;
- O militar cometeu, em tese, as faltas ainda na ativa e deverá
responder pelas mesmas. O encerramento do processo sema a
apreciação das condutas tidas como irregulares demonstra
impunidade e exerce influência negativa sobre a tropa, enfraquecendo
os alicerces da disciplina e da hierarquia;
- Nos últimos anos vem ocorrendo um aumento na evasão de
militares em busca de outras carreiras melhor remuneradas,
especialmente através de concursos públicos, e a tendência natural é o
incremento desse tipo de ocorrência;
- A manutenção da decisão recorrida poderá criar uma
jurisprudência nociva à Forças, por dar a entender que ocorrerá
impunidade pelo simples fato de militares iniciarem uma carreira
civil;”

O Ministério Público Federal opinou pelo desprovimento do recurso,


em parecer assim ementado:

“Agravo regimental no recurso em mandado de segurança.


Militar submissão ao Conselho de Justificação. Demissão ex officio
decorrente de posse em cargo público. Perda da condição de militar.
Processo administrativo não ultimado. Falta de condição de
procedibilidade. Parecer pelo desprovimento do recurso.”

É o relatório. Decido.

Transcrevo a ementa do acórdão recorrido, proferido pelo Superior


Tribunal Militar, nos autos do Processo n° 2008.01.000712-0/DF:

“Mandado de Segurança. Decisão proferida em processo


oriundo de Conselho de Justificação e reexaminado em Embargos
Infringentes do Julgado. Ex-oficial demitido ex oficio pelo exército
brasileiro visando, por meio do mandamus, a nulidade do julgado
proferido em Conselho de Justificação, sob alegação de falta de
condição de procedibilidade. Ausência de liquidez e certeza do direito.
Não-conhecimento. As decisões desta Corte nos processos relativos ao
conselho de Justificação e aos Embargos Infringentes do Julgado, cujos
atos são ora impugnados, foram lavradas com observância dos
preceitos constitucionais e em consonância com as regras do estatuto
dos Militares, inexistindo qualquer vício de ilegalidade ou de abuso
de poder. Preliminarmente, o Tribunal não conheceu do writ, por
entender inexistir direito líquido e certo a ser amparado pela via
mandamental. Decisão majoritária.”
O art. 142, § 3º, II, da Constituição Federal, estabelece:

“II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou


emprego público civil permanente, será transferido para a reserva, nos
termos da lei;” (Incluído pela EC nº 18, de 1998) (Redação
anterior à EC nº 77, de 2014)

O Estatuto dos Militares, Lei nº 6.880/1980, em seu artigo 117, com a


redação da Lei nº 9.297/1996, trata da demissão do oficial que passe a
ocupar cargo público permanente, verbis:

“Art. 117. O oficial da ativa que passar a exercer cargo ou


emprego público permanente, estranho à sua carreira, será
imediatamente demitido ex officio e transferido para a reserva não
remunerada, onde ingressará com o posto que possuía na ativa e com
as obrigações estabelecidas na legislação do serviço militar, obedecidos
os preceitos do art. 116 no que se refere às indenizações.”

Dessa forma, passará integrar a reserva não remunerada, mantendo


o posto que possuía.
Verifico que não poderia ser diferente, pois além do já referido inciso
II, o artigo 142, § 3º, VI, prevê que:

“VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado


indigno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de tribunal
militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal
especial, em tempo de guerra;” (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 18, de 1998)

Embora o artigo 1º da Lei nº 5.836/1972, que regulamenta a


instauração do Conselho de Justificação, trate apenas da questão da
incapacidade do militar para permanecer na ativa, o seu artigo 16 assim
dispõe:

“Art. 16. O Superior Tribunal Militar, caso julgue provado que


o oficial é culpado de ato ou fato previsto nos itens I, III e V, do artigo
2º ou que, pelo crime cometido, previsto no item IV, do artigo 2º, é
incapaz de permanecer na ativa ou na inatividade, deve, conforme o
caso:
I - declará-lo indigno do oficialato ou com ele incompatível,
determinando a perda de seu posto e patente; ou
II - determinar sua reforma. “

Ao impetrante, já tendo sido demitido por ter assumido cargo


público de natureza civil, somente era possível a declaração de
indignidade.
Desse entendimento não divergiu o acórdão do Superior Tribunal
Militar.
Ex positis, reconsidero a decisão agravada e nego seguimento ao
recurso ordinário.
Publique-se.
Brasília, 7 de outubro de 2015.
Ministro LUIZ FUX
Relator
Documento assinado digitalmente

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