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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE – FURG

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO – IE

POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO – HISTÓRIA LICENCIATURA

DOMINGOS S. X. MARTINS JR – 123492

RESENHA REFERENTE AO DOCUMENTÁRIO “NUNCA NOS SONHARAM”

A presente resenha busca associar temáticas trabalhadas no documentário com relação


aos conteúdos dos textos e debates da disciplina de Políticas Públicas da Educação. Para melhor
estruturação da argumentação, a análise será realizada a partir dos subcapítulos apresentados
no documentário, assim possibilitando maior abordagem nas diversas temáticas apresentadas.

O documentário inicia de forma direta apresentando a fala de jovens, como: “eu acho
que eu sou um defeito de fábrica”; “quero que saia do seu mundinho e cresça”; assim como
sobre “a partir do momento que o sonho foi tirado de mim, eu desisti também”. Logo o primeiro
capítulo, “Tempestade e Trovão”, nos apresenta justamente a realidade dos jovens adolescentes
da sociedade brasileira. Onde há toda a questão de desafios para suas vidas. Onde precisam
enfrentar o mundo novo, adequar-se a mudanças psicológicas e físicas da adolescência.
Também como a curiosidade e possibilidade de descobrirem e viverem o mundo, ajudam a
formar a sua opinião, seu caráter e propriamente, o seu ser. Um momento em que vivem
indecisões, rupturas e vivências muito intensas, onde sonhos, ideias e escolhas se entrecruzam
na vida. Isso é refletido em uma das falas em que, apesar desse turbilhão de transformações que
enfrentam, “[os adultos] julgam os jovens por é só uma fase” (...) “em momento algum
dialogam com a gente”.

Com a compreensão do jovem, como um ser em constante transformação e encontro de


si, o documentário vem trazer o cerne de sua questão: a educação. Onde a escola, tem como
função dialogar com esse jovem e ser uma ferramenta de transformação da sociedade, e
também, voz desse jovem. Também apresenta a questão da escola muitas vezes não cumprir o
seu dever quanto uma motivadora e influenciadora de sonhos. Onde muitas vezes a comodidade
e formação puramente instrumentalista, não semeia o potencial dos educandos, em especial
quando trata-se da periferia. Não permite que o jovem possa sonhar além do horizonte, mas
apenas manter-se dentro da bolha, da qual ele imagina que não poderá sair. Essa temática é
concordante com todo o aspecto que fora debatido nas aulas, na qual a educação deve ser
emancipadora (no conceito de Paulo Freire). Onde a escola é a ponte de quebra das mazelas
sociais e fundamento base para a democratização da sociedade em todos os níveis. Local onde
os jovens devem ser vistos como protagonistas da sociedade.

Prosseguindo, o próximo subcapítulo, “A Chave”, trata justamente que a educação é


essa porta de entrada para a sabedora, para o direito de ser e como uma ferramenta de libertação.
Ela é um poder, uma chave para o novo e em que não pode ser tirada de uma sociedade. Mas
mesmo assim, isso não é totalmente apresentado. Vivemos numa sociedade desigual e injusta,
onde o preconceito permanece latente e firme. Apresento isso no conceito da escola pública,
pois esse preconceito, estigma que o jovem da escola pública é o mais preguiçoso, relaxado,
desinteressado e sem nenhum plano de vida. Quando na verdade, o próprio sistema e a
desvalorização da educação são as raízes desse problema. O jovem da educação pública, na
verdade vive de batalhas. Batalhas em que entra a questão da meritocracia e as impossibilidades
e cegueiras que são impostas para ele. Isso, podemos perceber como a não percepção do
horizonte, estando dentro da bolha, a quantidade empecilhos para a educação, como o trabalho,
problemas pessoais (como citado no documentário, a gravidez), as distâncias para a educação
e falta de investimento nas escolas. Mazelas essas que enquadram o jovem como um “inferior”
aos “esforçados”.

A partir disso, a desvalorização da escola torna-se grande. Onde a escola não faz sentido
para ele, na qual a rua, torna-se mais interessante do que tudo aquilo que ele está enclausurado
aprendendo e sem sentido nenhum para sua vida. Partindo desse pressuposto, podemos analisar
a questão que fora muito debatido nas aulas que é a “qualidade da educação”. Esse conceito
que é muito apresentado e elevado em argumentação, mas que muitas vezes não é posto em
prática levando o educando como fator de importância para o problema. A “qualidade da
educação” não deve ser referente à padrões comuns, esquematizados e classificados por
sistemas de qualificação, mas sim referente ao desenvolvimento dos jovens diante da educação.

No capítulo seguinte, “A Utopia”, recaímos sobre a análise do papel do educador na


vida do jovem. O professor, não deve ser um ser acomodado onde cumprirá horários, como
numa empresa fechada, mas sim um ser ativo, criativo, estimulado para o desafio e que busque
a educação e sua reflexão sempre. A educação, como é apresentada no documentário e na nossa
realidade, já não é uma educação em que um apenas fala e outro apenas escuta. Mas sim, uma
relação de aprendizagem transversal, onde os alunos são protagonistas. No qual o professor não
é o detentor total do conhecimento, e que os outros alunos são literalmente, alumnos. Apresenta
no documentário a seguinte fala: “envolvimento da vida com a matéria sintetiza o
conhecimento”. E é a partir disso que a educação de hoje deve ser trabalhada: a realidade do
educando com o conhecimento. A significação do conhecimento para o aluno, diante de sua
vida, quebra completamente a ideia de conteúdos pragmáticos e sem sentido, assim também
quebrando a questão de a escola ser um local distante e que não faz sentido nenhum da realidade
dele. Isso engaja os educandos a perceberem a escola não como um local chato, classificatório
e sem sentido, mas sim, um local agradável de construção para a vida e exploração das suas
diversas potencialidades além de cognitivas. Também, é um local de aspirar, estimular, motivar
e envolver os sonhos. Onde se quebra a bolha limitadora, no qual o jovem se verá como um
protagonista de sua vida e de sua sociedade, no qual ele é atuante importante.

Todo esse envolvimento de uma utopia, conversa diretamente com um dos primeiros
temas debatidos em aula: a educação emancipadora. Na qual os educadores não devem ser
meros funcionários, mas sim, agentes transformadores da sociedade. O professor não deve
permanecer acomodado e um cuspidor de conhecimento. Mas sim, um agente de transformação
na vida dos educandos, para os que mesmos sejam transformadores da sociedade. Onde a
consciência do poder da educação e do poder dos jovens seja nítida para eles. Além de
desenvolverem suas potencialidades, não apenas cognitivas, mas sim física, mental, de caráter,
social e afetiva. Por isso a importância da docência não ser apenas mais uma profissão em que
apenas trabalhará num sistema de empresa, mas sim como uma profissão transformadora e com
enorme responsabilidade social diante da sociedade que se forma, e dos seus sonhos pessoais.

Um dos capítulos mais instigantes é a “Orquestra”, no qual cita um fator importante e


que muitas vezes é ignorado: a gestão. A relação de professor e aluno, é de extrema importância
para o desenvolvimento da educação, mas não deve ser gerida através de um estamento
medieval e autoritário, mas sim transversal. Além de que, o professor não transformará a vida
do jovem sozinho, mas sim com a união da família, dos alunos, dos outros professores, da gestão
da escola e das políticas governamentais. Sendo que todos devem trabalhar juntos, como uma
orquestra, para que a educação se concretize. A escola deve transformar alunos engajados com
a escola, fazendo-os perceber a escola como parte da vida deles, significativa para a formação
da sociedade. E para isso, deve contar com a ajuda dessa gestão, para o fortalecimento de todos
os fatores positivos que buscam desenvolver a educação.

Em especial, podemos citar a má governança como sujeito direto que afeta toda a
estrutura da educação. A falta da percepção da educação como uma ferramenta emancipadora,
ou até a sua percepção, e não ação para melhoria afeta toda a estrutura, e em si, a sociedade.
Quando digo a sua percepção, é referente ao que fora dito no próprio documentário “a sociedade
quer que a favela continue na favela”. Isso é forte e historicamente bem atual, diante de
propostas governamentais para a educação, que busquem cortar a emancipação dos jovens,
através do pensamento crítico. Na qual pretendem voltar a um sistema de fechamento de bolha
para a formação instrumental de meros funcionários que precisam acordar, trabalhar e dormir.

E quando tratamos dessa questão de enclausuramento da educação através de falhas no


sistema da gestão, seja local ou governamental, entramos na questão das “Grades”. Nesse
capítulo aborda-se em especial esse aprisionamento e encaixotamento da educação. Onde a
educação fica pequeno diante do poder da criatividade dos jovens de hoje. Na qual a sociedade
se transforma numa velocidade e a escola não consegue acompanhar por n empecilhos. Duas
citações do documentário são válidas de recorte: “a gente aprende a decorar, a gente não
aprende para aprender” ; “a escola não é dos alunos não, é do governo”.

Isso é nítido e refletido na questão da sistematização e categorização dos próprios alunos


mediante a exames de qualificação. Na qual a acomodação apenas transforma educandos cheios
de possibilidades em meros reprodutores de conhecimentos, sem nenhuma contextualização
crítica, apenas com fundamento para obterem aprovação diante de exames sistematizados. Isso
quebra a educação numa ferramenta meramente instrumental, voltando novamente a questão de
finalidade objetiva do trabalho ou de aprovação em alguma seleção. Desprovendo o aluno da
noção que a educação realmente é. Aprisionando-o na concepção de que a escola é local de
estudar para passar em provas, para no futuro conseguir arranjar algum emprego. Isso se deve,
em especial por muitas políticas do próprio governo, que aprisiona a educação no sentido mero
da obtenção de certificação de aprovação, assim limitando o espaço e o poder de execução da
educação em seu todo. Limitando o jovem e distanciando-o de uma plena formação para a vida.

Por fim, é citado a questão da Tâmaras. E aqui não devemos ser sintéticos quanto a isso,
mas sim esperançosos e ativos. O professor diante de todos os empecilhos, deve ser o atuante,
juntamente ao educando, para plantar a semente da transformação, mesmo que ela não seja
colhida agora. Toda essa discussão, todo esse reflexo feito sobre a docência, a escola, a gestão
e a sociedade, corrobora com a nova geração que já está presente entre nós. Educandos ativos,
em busca de serem protagonistas de suas vidas e da sua sociedade. São os novos revolucionários
que elevam questões antes repudiadas para a o megafone: gênero, racismo, preconceito, cultura
das minorias, e etc; num patamar de prioridade. São esses educandos que se tornam cada vez
mais ativos e altivos na sociedade e que buscam espaço para uma equidade e com maior
sensibilidade e empatia diante o outro.

E na função de professores educadores, não devemos apenas ser os meros transmissores


do conhecimento, mas sim sujeitos ativos juntos com os educandos, que os ajudem a construir
suas vidas, suas escolhas, que deem suportes para suas potencialidades e movimentações,
perante a educação. Utilizando a educação e a escola como as ferramentas nas quais os jovens
se libertem, se conheçam, se busquem, transformem, falem, escutem e revolucionem. Pois o
futuro é dos jovens. E o futuro será transformado por eles, somente através da educação.

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