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História do Brasil
Colônia ii
1ª EDIÇÃO ATUALIZADA
2014
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
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Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
A sociedade colonial: trabalho, cultura e economia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
A mineração e o sistema colonial no século XVIII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
A crise do antigo sistema colonial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
A crise do estado português e a falência dosistema colonial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Atividades de Aprendizagem- AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
História - História do Brasil Colônia II
Apresentação
Prezado(a) Acadêmico(a):
A disciplina História do Brasil Colônia II é um dos principais temas para a formação do pes-
quisador e professor de História. A disciplina História tem as suas particularidades e suas sub-
divisões. É a partir destas que você poderá compreender a disciplina em sua totalidade, pois a
separação em diversas etapas da história permite compreender os processos sociais, políticos,
econômicos e culturais que caracterizam a História em seus diversos tempos.
Você, enquanto historiador e professor, perceberá que a disciplina História do Brasil Colônia
II será de suma importância para a compreensão não apenas da História do Brasil, como também
da formação de toda a era moderna.
Além disso, o estudo do período colonial brasileiro é uma oportunidade temática de repen-
sar valores, culturas e práticas políticas dos homens do passado, neste caso, do passado colonial.
Essa é, indiscutivelmente, uma das grandes questões que você deve ter em mente enquanto his-
toriador e professor de História, já que ela norteia a teoria e a prática da sua formação acadêmica,
conforme você observou desde o início do seu curso.
Os objetivos desta disciplina são muito claros, e podem ser pensados a partir dos seguintes
aspectos:
• Analisar as relações sociais que se deram na colônia, bem como a estruturação da sociedade
nos trópicos;
• Repensar a dinâmica na economia mineratória e o papel de Minas Gerais no sistema colo-
nial;
• Compreender a crise do antigo regime e as contradições vivenciadas na colônia;
• Avaliar as revoltas sociais e políticas que se deram na América Portuguesa, culminando na
efetivação da crise do sistema colonial;
• Analisar a chegada da família real no Brasil como elemento de desgaste final das relações
Brasil-Portugal.
Tendo isso em mente, este material foi produzido e Dividido em quatro grandes unidades.
Na primeira unidade, intitulada “A sociedade colonial: trabalho, cultura e economia”, procu-
ra-se fazer o panorama geral das relações sociais e culturais que se passaram na colônia, ao longo
dos três séculos.
A unidade 2 analisa as relações sociais, políticas e econômicas da região das Minas, procu-
rando compreender como a região foi, ao mesmo tempo, um dos momentos de fortalecimento
da administração portuguesa e, por conseguinte, espaço propício para os desgastes e contradi-
ções do sistema colonial.
A terceira unidade, “A crise do antigo sistema Colonial”, objetiva analisar como o final do sé-
culo XVIII foi responsável por revelar as maiores contradições externas e internas do regime colo-
nial, culminado em eventos como a Inconfidência Mineira.
Por fim, a última unidade procura relacionar a vinda da família real para o Brasil com o efeti-
vo desgaste do poder de Portugal sobre a colônia, buscando compreender como se deu o nosso
processo de independência.
Você perceberá, portanto, que esta disciplina será fundamental para todo o seu curso. Nas
demais disciplinas de História do Brasil, é imprescindível que você identifique criteriosamente
como se deu o nosso passado colonial, bem como as metodologias para o ensino de História do
Brasil Colônia II.
O texto está estruturado a partir do desenvolvimento das unidades e subunidades. Você de-
verá perceber que as questões para discussão e reflexão são muito importantes e acompanham
o texto, bem como as sugestões para transitar do ambiente de aprendizagem aos sites, para
acessar bibliotecas virtuais na web, etc.
As sugestões e dicas estão localizadas junto ao texto, aparecendo com os respectivos íco-
nes. A leitura dos textos complementares indicados, também, é importante, pois eles indicam os
possíveis desenvolvimentos e ampliações para o estudo e a discussão.
São recursos que você pode explorar de maneira eficaz, pois buscam promover atividades
de observação e de investigação que permitem desenvolver habilidades próprias da análise so-
ciológica e exercitar a leitura e a interpretação de fenômenos sociais e culturais.
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UAB/Unimontes - 3º Período
Ao planejar esta disciplina, consideramos que essas questões e sugestões seriam fundamen-
tais, de forma a familiarizar o acadêmico, gradativamente, com a visão e procedimentos próprios
da disciplina.
Agora é com você. Explore tudo, abra espaços para a interação com os colegas, para o
questionamento, para a leitura crítica do texto, bem como para as atividades e leituras comple-
mentares.
Bom estudo!
Alysson Luiz Freitas de Jesus
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História - História do Brasil Colônia II
Unidade 1
A sociedade colonial: trabalho,
cultura e economia
1.1 Introdução
O estudo das relações sociais na América Portuguesa permite compreender parte da nossa
formação colonial. O Brasil foi, sem sombra de dúvida, uma das maiores empreitadas coloniais da
história, constituindo-se na principal colônia portuguesa até o final do século XVII.
As relações de trabalho, as manifestações culturais e as formas político-econômicas que se
deram na sociedade colonial são os principais objetivos desta unidade inicial.
A colônia se estruturou a partir de várias dinâmicas, entre as quais o universo rural e o uni-
verso urbano, bem como as inúmeras diferenças regionais que se deram em todo o território co-
lonial. Analisar essas dinâmicas e estruturas sociais é o nosso objetivo central neste momento.
Nesse sentido, esta unidade está dividida nos seguintes tópicos:
• A estrutura da sociedade: um panorama geral;
• A colônia no mundo rural e no mundo urbano;
GLOSSÁRIO
• As dinâmicas, o “antigo regime nos trópicos” e as diferenças regionais.
Endogamia: casamen-
to entre indivíduos do
mesmo grupo,seja este
panorama geral
etnia, língua, seja por
qualquer outro critério.
Família patriarcal:
relativo à concentração
de poder e de prestígio
Os objetivos da colonização, que privilegiavam a grande propriedade, implicaram, também, na figura do patriarca.
na outorga de autoridade delegada para comandar os moradores, ficando a seu cargo a ocupa-
ção e a defesa da terra.
O povoamento frágil não criou condições para a ação comunitária de famílias ou grupos em
projetos comuns. Os grandes proprietá-
rios, com os parentes indígenas de suas
concubinas, seus bastardos e alguns
aventureiros europeus foram, então, os ◄ Figura 1: Senhor de
responsáveis pela expansão do povoa- engenho e família
mento. Fonte: Disponível em
http://www.azza.blo-
A posterior formação de família gspot.com. Acesso em:
legal pelo proprietário não resultou no 01/07/2009
desaparecimento ou exclusão daquela
família parentela, constituída pelas con-
cubinas indígenas, seus bastardos e pa-
rentes que constituíram o clã rural, ao
qual se devem acrescentar os escravos
negros.
A endogamia, quase uma neces-
sidade na fase inicial, tornou-se um
costume consagrado, fosse por razões
econômicas, como o desejo de não di-
vidir a propriedade, fosse por precon-
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UAB/Unimontes - 3º Período
GLOSSÁRIO
Estamento (ou Esta-
mental): Estado em
que pode cada um sub-
sistir ou permanecer.
Assembleia, congresso,
parlamento.
Figura 3: Jesuítas e ►
padres na colônia
Fonte: Disponível em
http://www.mundo-
educacao.com.br/.../
jesuitas.htm. Acesso em:
01/07/2009
Autores como Gilberto Freyre e Antonio Candido ressaltaram a importância da família como
“organização fundamental do período colonial, produção, administração, defesa e status social
do indivíduo sendo dependente disto” (FREYRE, 1977 p.181).
A sociedade colonial deve ser, pois, analisada à luz dessa organização baseada na grande
propriedade particular, no trabalho escravo de indígenas e africanos e na miscigenação inevitá-
vel pela falta inicial de mulheres brancas e pelas tentações do poder absoluto do senhor sobre
servas submissas.
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História - História do Brasil Colônia II
◄ Figura 5: Nobreza
Fonte: Disponível em
bloggdehistoria.blo-
gspot.com. Acesso em:
24/11/2010
Mas qual seria a condição básica para que um colono, português ou brasileiro, pudesse as-
pirar à condição de “nobre”? O autor Luis da Silva P. Oliveira inicia suas considerações a respeito
com sutil ironia, o que não diminui a veracidade das suas informações quando afirma:
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UAB/Unimontes - 3º Período
Figura 7: Negros ►
trabalhando na colônia
Fonte: Disponível em
novahistorianet.blogs-
pot.com. Acesso em:
01/07/2009
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História - História do Brasil Colônia II
Para os letrados, formados em leis por Coimbra, em Portugal, ou para funcionários mais gra-
duados que vinham de Portugal para “fazer a América”, existia o caminho bem mais fácil, o do
casamento com filhas de ricos proprietários, que muitas vezes procuravam “branquear a raça”, GLOSSÁRIO
mesmo pela união com um imigrante pobre. Cristãos-novos: Cris-
tão-novo ou converso
era a designação dada
em Portugal, Espanha
e Brasil aos judeus e
muçulmanos conver-
tidos ao cristianismo,
em contraposição aos
cristãos-velhos.
◄ Figura 8: Letrados ou
intelectuais da época
Fonte: Disponível em
caferepublica.blog.com.
Acesso em 01/07/2009
Para todos aqueles que, pelas regras, valores e preconceitos predominantes seriam excluí-
dos, como era o caso dos cristãos-novos, negros, mestiços, oficiais mecânicos, mercadores de loja
aberta eram necessárias a cumplicidade, a tolerância ou a proteção da sociedade para que pu-
dessem infiltrar-se nos círculos proibidos.
É interessante lembrar, por fim, o importante papel do Estado como poder que sancionava
ou rompia as regras do processo da mobilidade e que, em larga medida, dirigia a evolução da
sociedade colonial, segundo seus objetivos de máximo aproveitamento dos recursos locais e ma-
nutenção da ordem. ATIVIDADE
Pesquise sobre o
Estado Português entre
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UAB/Unimontes - 3º Período
GLOSSÁRIO
Agregado: Criado, ser-
viçal. Aquele que vive
em fazenda ou enge-
nho alheio, cultivando
certa porção de terra Figura 9: Mapa do ►
e prestando serviço ao Brasil no século XVI
proprietário alguns dias Fonte: Disponível em his-
por semana, mediante torianet.com.br. Acesso
remuneração; morador. em 01/07/2009
ATIVIDADE
Faça uma pesquisa
sobre o jesuíta Antonil
(André João Andreo-
ni) e as obras que ele
publicou, retratando
o funcionamento do
O Brasil é conhecido pela sua enorme condição territorial, o que nos mostra uma variedade
sistema colonial.
de formações sociais, a depender das regiões que se deram. Compreendê-las é fundamental para
um melhor entendimento do funcionamento da América Portuguesa, ao longo dos três séculos
de colonização.
No que se refere ao mundo rural, as vilas tornaram-se meros apêndices desertos e tristonhos
da grande propriedade e, se não desapareceram de todo, foi apenas porque a prudente políti-
ca metropolitana exerceu grande pressão no sentido de reunir os povoadores dispersos. Perce-
bendo as forças que atuavam na sociedade colonial, procurou conquistar pela persuasão os que
queriam viver entre os indígenas e punir com advertências ou multas os “homens-bons” que se
recusavam a participar das sessões das Câmaras e das procissões régias.
A largueza da hospitalidade rural, indispensável pela falta de instalações adequadas para os
viajantes, era um elemento a mais para o prestígio e força do proprietário. Era outra forma de
ostentar uma das qualidades estimadas pelo sentido aristocrático da vida - a capacidade de dar e
até de desperdiçar.
O triunfo da grande propriedade como unidade produtora e social não resultou, entretan-
to, na criação de uma classe genuinamente camponesa e, com certeza, foi responsável pelo seu
atrofiamento.
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História - História do Brasil Colônia II
O único recurso que ao pobre cabe é pedir, ao que possui léguas de terra, a
permissão de arrotear um pedaço de chão. Raramente lhe é recusada tal licen- Figura 12: Senhor de
ça, mas, como pode ser cassada de um momento para o outro por capricho ou engenho
interesse, os que cultivam terreno alheio e chamam-se agregados só plantam Fonte: Disponível em enci-
grãos, cuja colheita pode ser feita em poucos meses, tais como o milho e o fei- clopedianordeste.com.br/
jão, não fazem plantações que só dêem ao cabo de longo tempo, como o café no va405.php. Acesso em:
(SAINT-HILAIRE, 1938, p. 39-40). 01/07/2009
▼
Agregados ou moradores, além de suprirem a propriedade com algum excedente de
produtos de subsistência, prestavam serviços como garantir a posse pela sua mera pre-
sença, levar recados e, sobretudo, servir como homens de armas para a defesa ou vingan-
ça do senhor rural.
O isolamento do agregado, sem família para apoiá-lo, a inexistência de laços comu-
nitários com seus iguais, a ação do paternalismo do senhor rural estorvava a formação da
noção do interesse coletivo que levasse a uma atuação reivindicatória consciente.
Segundo Tollenare (1957), os moradores eram em geral mestiços de mulatos, negros
livres e índios que trabalhavam pouco e cujas mulheres eram vítimas da exploração se-
xual dos senhores de engenho, o que, por vezes, levava às vinganças sangrentas. Certo
senhor de engenho não se afastava mais de ¼ de légua de sua casa por temor aos “mora-
dores” que prejudicara (TOLLENARE, 1957, p. 95-96).
Enquanto os agregados ou moradores representam uma categoria social constante
em toda a colônia, tanto no campo como na cidade, as áreas açucareiras apresentavam
uma estratificação social mais complexa, com a presença de lavradores com diversos
graus de dependência do senhor de engenho e de artífices assalariados, além da massa
escrava.
A mais complexa descrição da economia e sociedade açucareiras do Nordeste pode ser en-
contrada na obra de Antonil, escrita na primeira década do século XVIII, mas cujas informações
são confirmadas por inúmeros cronistas e viajantes que o precederam e sucederam até a primei-
ATIVIDADE
ra metade do XIX.
Ao definir a posição do empresário rural, proprietário da unidade produtora de açúcar - o Faça uma pesquisa so-
bre as principais formas
engenho - com suas terras, escravos e instalações fabris, Antonil traça uma analogia com a no-
de castigo e violência
breza metropolitana, o que, como já vimos, não é descabido, dados os princípios estamentais de sofridas por escravos
que gozava. Assim dizia Andreoni: negros no Brasil.
O senhor de engenho é título a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser
servido, obedecido e respeitado de muitos. E se fôr, qual deve ser, homem de
cabedal e govêrno, bem se pode estimar no Brasil o ser senhor de engenho,
quanto proporcionalmente se estimam os títulos entre os fidalgos do Reino
(ANDREONI, 1967, p. 139).
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História - História do Brasil Colônia II
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UAB/Unimontes - 3º Período
A tática de encorajar com certa consideração e, possivelmente, com algum trabalho mais es-
pecializado, os escravos que aprendessem o português e cumprissem algumas práticas católicas,
resultou na fervorosa adesão dos mesmos a muitas confrarias religiosas de negros e mulatos.
A região açucareira, que pouco mudou até os fins do século XIX, conheceu o modelo mais
estruturado de sociedade colonial e as variações regionais, ditadas por diferentes atividades pro-
dutivas, tenderam sempre à sua reprodução, desde que as condições permitissem.
A sociedade dos engenhos, que representa o tipo clássico mais hierarquizado e duradou-
ro de nossa história, foi característica das regiões açucareiras da Bahia, Pernambuco e capitanias
vizinhas. O desenvolvimento tardio da produção açucareira no Rio de Janeiro e em São Paulo,
onde só se intensificou no século XVIII, resultou em formas mais flexíveis e menos hierarquizadas.
ATIVIDADE
Faça uma pesquisa
sobre a formação da
pecuária na região sul
do Brasil e no norte de Acima dos artífices, achavam-se os comerciantes, cuja importância variava de acordo com o
Minas, e procure avaliar
as principais diferenças caráter e extensão das trocas que realizavam. Excluindo os escravos de ambos os sexos, que co-
dessa atividade econô- merciavam por conta de seus amos desde produtos agrícolas, animais, doces, salgados, refrescos,
mica nas duas regiões. carnes, até artigos manufaturados como tecidos e bordados, temos em lugar os pequenos mer-
cadores das vendas. Estas, que podiam estar instaladas também à beira das estradas, realizavam
um pobre comércio de produtos alimentícios, velas, fumo, cordas e aguardente de cana, todos
de origem local.
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História - História do Brasil Colônia II
regionais
DICA
O funcionamento do sistema colonial deu-se por meio de variadas dinâmicas, tendo em vis- É importante lembrar
ta que Portugal procurou estabelecer uma forte estrutura de poder sobre a colônia. Esta, por sua que as regiões do
vez, imprimiu um ritmo próprio de funcionamento, já que algumas características colocaram a sertão no Brasil foram
colônia em choque com a metrópole. realmente muito utili-
zadas para a pecuária,
Um dos elementos que tornava ainda mais dinâmica a relação entre Brasil e Portugal eram além do fato de que se
as diferenças regionais. A partir delas, é possível compreender como, aos poucos, o sistema colo- tornaram espaço para
nial foi se tornando inviável, mesmo que ainda não fosse possível romper os laços que uniam as variadas relações de
duas nações. violência.
Essas diferenças regionais nos permitem entender o quanto o Brasil se construiu por meio
de um universo plural e dinâmico, o qual chamamos de “Brasil Colônia”.
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UAB/Unimontes - 3º Período
Além da separação entre universo rural e urbano, percebemos outras relações sociais, eco-
nômicas e políticas, como foi o caso da pecuária e das relações sociais que se deram nos sertões
do Brasil.
Ainda que a sociedade colonial de quase todo o Brasil fosse baseada na grande propriedade
e no binômio senhor-escravo, a variação das atividades econômicas e das condições locais criou,
por vezes, condições para que surgissem relações de produção e estruturas sociais diferentes das
já descritas.
A formação social mais frequente e dispersa por todo o país, de norte a sul e pelo centro
-oeste, foi a que se ligava às atividades pastoris.
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História - História do Brasil Colônia II
Desde a instalação dos primeiros núcleos coloniais, ao lado da agricultura, surgiu a criação
de gado, que, encontrando condições ideais de expansão, viria a ser o suporte básico e motor do
povoamento do país.
Introduzido pelos donatários e governadores, o gado expandiu-se, de forma espontânea
ou organizada, a partir de três núcleos principais: São Vicente, Bahia e Pernambuco. Do planalto
paulista atingiu os Campos de Curitiba e os pampas do Rio Grande do Sul, onde, depois de pro-
pagarem-se como gado selvagem, caçado aos milhares por índios e brancos, apenas para apro-
veitamento do couro, tornou-se importante produto de subsistência no período da mineração.
Mais tarde, o gado sulino chegaria, também, ao Mato Grosso, onde a atividade pastoril viria a
subsistir, no fim do século colonial, à mineração decadente.
A pecuária foi grande recurso dos que, não possuindo cabedal para adquirir escravos, nem
influência para obter sesmarias, encontraram uma atividade que lhes permitia, em alguns anos,
obter alguma estabilidade econômica ou, até mesmo, ascensão social. Ali, predominou o traba-
lho livre de elementos mais ou menos marginalizados pela economia escravista que, como assa-
lariados ou associados dos fazendeiros, conseguiram, por sua vez, ter sua própria fazenda, sem
necessidade de capital inicial.
Na fase inicial da implantação, dificilmente o fazendeiro possuía capitais para a aquisição de
escravos, além do fato de que as condições de vida e trabalho no sertão, com perigo de animais
ferozes, ataques indígenas, assaltos de criminosos fugidos, exigia uma participação mais interes-
sada dos trabalhadores. O vaqueiro foi o tipo social básico do sertão.
Os sertanejos eram, geralmente, mulatos, mamelucos, pretos forros e índios mansos, que
encontravam nesta atividade um modo de vida áspero, mas livre de controles e castigos, além
da esperança da ascensão social. Por isso, atraiu os marginalizados do litoral, que para lá fugiam,
por razões econômicas ou para escapar à justiça por crimes cometidos. Essa circunstância, aliada
às necessidades de lutas contra os índios e ao abandono a que foi relegada a região pelas autori-
dades metropolitanas, por largo tempo, deu origem à violência costumeira do sistema de justiça
privada.
O homem do sertão aprendia a defender-se de todos os perigos e a fazer frente à justiça
com as próprias mãos, criando um código de honra próprio, em que os agravos e disputas eram
resolvidos no âmbito particular, com auxílio de familiares e dependentes.
Na região de São Paulo e suas vilas, percebemos um grupo social de enorme importância na
estrutura da vida colonial: os bandeirantes.
Na capitania de São Vicente, na vila de São Paulo e adjacências, surgiu, desde o início do
povoamento, uma sociedade baseada no apresamento de índios e pesquisa de metais preciosos.
Premidos pela pobreza da região, onde a distância dos centros mais desenvolvidos e as dificulda-
des de comunicação com o litoral impedira a agricultura comercial, seus habitantes voltaram-se
para a captura de escravos indígenas. Estes foram utilizados como mão de obra na lavoura de
subsistência, nas atividades artesanais, no transporte de cargas e revendidos no Rio de Janeiro e
na Bahia.
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UAB/Unimontes - 3º Período
Sua Magestade podia se valer dos homens de São Paulo, fazendo-lhes honras
e mercês, que as honras e interesses facilitam os homens a todo perigo, porque
são homens capazes para penetrar todos os sertões por onde andam continua-
mente sem mais sustento que caças do mato, bichos, cobras, lagartos, frutas
bravas e raízes de vários paus, e não lhes é molesto andarem pelos sertões
anos e anos, pelo hábito que têm feito aquela vida (ABREU, 1954, p. 191).
São umas agregaçoens, que fazemos alguns de nos entrando cada hã com os
servos de armas que tem e juntos imos ao sertão deste continente não para ca-
tivar {...} senão adquirir o Tapuia gentio brabo e comedor de carne humana p.a
o reduzir ao conhecimento da urbana, e humana sociedade.
{...} e desses assyadqueridos, e reduzidos, engrossamos nossas tropas, e com el-
les guerreamos a obstinados e renitentes a se reduzirem: e se ao despoiz nos
servimos dellesp.a as nossas lavouras; nenhuma injustiça lhes fazemos; pois
tanto he para os sustentarmos a elles e a seyus filhos como a nós e aos nossos;
e terminava, alegando que se lhes ensina plantar o que não sabiam fazer por si
(ENNES, 1938, p. 205).
À época de Domingos Jorge Velho, o bandeirismo de apresamento (as bandeiras que busca-
vam capturar índios) já estava em plena extinção, predominando a forma de contrato, na qual os
paulistas eram contratados pelas autoridades coloniais para realizar tarefas específicas, como a
pacificação dos índios. Realizadas as tarefas, muitos bandeirantes se estabeleceram como criado-
res de gado nos sertões baianos, alagoanos e piauienses.
Até meados do século XVIII, terminadas as descobertas do ciclo minerador, os bandeirantes
haviam cumprido sua missão histórica de exploradores do “hinterland” brasileiro, em que desco-
briram riquezas, abriram caminhos, garantiram a posse de territórios, mas, também, despovoa-
ram pelo massacre e captura dos índios as regiões anexadas.
24
História - História do Brasil Colônia II
◄ Figura 25: Os
bandeirantes na colônia
Fonte: Disponível em
http://www.achetudoe-
regiao.com.br/atr/Bandei-
rantes.htm. Acesso em:
04/07/2009
25
UAB/Unimontes - 3º Período
Referências
ABREU, Capistrano de. Capítulos de história colonial. 4. ed. Rio de Janeiro: Sociedade Capistra-
no de Abreu/Livraria Briguiet, 1954.
ANDREONI, João Antônio (André João Antonil). Cultura e opulência do Brasil. São Paulo: Cia.
Editora Nacional, 1967.
CALDAS, José Antônio. Notícia geral de toda esta capitania da Bahia desde seu descobri-
mento até o presente ano de 1759. Salvador: Editora Fac-Similar, 1951.
ELLIS, Myriam. As bandeiras na expansão geográfica do Brasil. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de
(Dir.). História geral da civilização brasileira. Tomo I. v. 1. São Paulo: Difusão Europeia do Livro,
1963.
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VIANA, Oliveira. Instituições políticas brasileiras. 3.ed. v. 1. Rio de Janeiro; São Paulo: Distribui-
dora Record, 1974.
26
História - História do Brasil Colônia II
Unidade 2
A mineração e o sistema colonial
no século XVIII
2.1 Introdução
A descoberta do ouro na região centro-sul da colônia provocou importantes transformações
nas relações sociais e políticas que se davam entre Brasil e Portugal.
A economia mineratória aumentou o fluxo das riquezas que circulavam na região, levando
Portugal a aumentar o seu interesse pela exploração e administração das Minas. Nesse sentido, a
colônia viu aumentar a sua capacidade produtiva, bem como se percebeu uma maior integração
entre as várias regiões da colônia, especialmente em função do abastecimento das Minas.
Contudo, a região das Minas e outras regiões do Brasil, também, presenciaram um novo mo-
mento histórico, que consistia no início do desgaste das relações entre a colônia e a metrópole.
Aos poucos, o século XVIII foi presenciando a crise do sistema colonial, que acompanhava a crise
do antigo regime europeu.
Esta segunda unidade pretende compreender o papel de Minas Gerais nesses dois aspectos:
no momento do auge do ouro, compreendendo, assim, o funcionamento da exploração do ouro,
bem como o momento onde tais relações começam a entrar em crise, em especial pelo fato de
Portugal criar um sistema administrativo específico para as Minas. Tal administração levou a re-
voltas, acentuando a crise das relações coloniais.
Para tal intento, esta unidade está dividida nos seguintes tópicos:
• A economia mineratória e o papel de Minas Gerais;
• O ouro e as relações escravistas;
• O ouro e a administração colonial portuguesa;
• Minas Gerais e as contradições do sistema colonial.
Apesar das grandes distâncias a serem vencidas e dos obstáculos oferecidos pelo relevo, a
notícia da descoberta de ouro espalhou-se rapidamente, atraindo milhares de colonos e de rei-
nóis para a região.
Em Portugal, a ‘febre do ouro’ atingiu tal proporção que obrigou a Coroa a limitar a emigra-
ção de seus súditos, a partir de 1720. Logo surgiram povoados, roças, igrejas. A região do ouro
teve um rápido crescimento, criando um polo econômico novo e dinâmico no interior da colônia.
27
UAB/Unimontes - 3º Período
28
História - História do Brasil Colônia II
Não foi apenas no campo econômico que se fizeram sentir as grandes mudanças na colônia Figura 30: Carlos Julião
com a atividade mineratória. Politicamente, percebemos algumas alterações, como a mudança Fonte: Disponível em
da capital do país, que é transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, um centro mais próximo http://www.multirio.
da área mineratória. rj.gov.br Acesso em:
04/07/2009
Ao contrário da atividade açucareira, que tinha um caráter estritamente rural, no caso des-
sa nova economia, percebemos que seu caráter é mais urbano, auxiliando inclusive na intensi- ▼
ficação do comércio. A sociedade também apresenta alguns
caracteres distintos da economia anterior: aqui se percebe uma
maior diversidade social.
No ano de 1702, é criada a Intendência das Minas, com o
objetivo de controlar a produção do ouro e cobrar tributos, bus-
cando um controle cada vez maior para evitar o contrabando.
Quando se encontrava um novo depósito de ouro, o fato deveria
ser comunicado à Intendência, que mandava funcionários ao lo-
cal para fazer a demarcação de terras. A forma como se procedia
à cessão dos direitos de exploração do ouro revela que as autori-
dades procuravam estimular a descoberta de novas jazidas.
Podemos perceber, também, que a Coroa tratava de forma
diferenciada os grandes mineradores, proprietários de muitos
escravos, preparados para extrair da terra grandes quantidades
de minério. Parte desse ouro revertia a Portugal, na forma de
imposto.
Já no ano de 1720, são criadas as Casas de Fundição, onde
o ouro seria transferido para barras. Todo esse aparato era cria-
do buscando-se acabar ou pelo menos solucionar em parte o
alto índice de contrabando do ouro na colônia.O contrabando
do ouro envolvia toda a sociedade: clérigos, autoridades, mine-
radores e escravos. São famosas as histórias dos ‘santos de pau
oco’, imagens de madeira, ocas por dentro, feitas especialmente
para ocultar o metal precioso.
29
UAB/Unimontes - 3º Período
Os impostos criados por Portugal para extrair e lucrar ao máximo na atividade mineradora
são diversos. O quinto é um deles, onde seria tributado um percentual de 20% sobre o ouro que
ATIVIDADE passava pelas Casas de Fundição. Outros exemplos de impostos nesse setor é o finto, que esta-
Pesquise sobre as belecia uma quantia anual de 30 arrobas, e a capitação, que determinava um valor devido por
principais formas de número de escravos utilizados por determinado proprietário na região que este se propunha à
contrabando do ouro extração.
na região das Minas.
Pesquise sobre o No ano de 1734, Portugal estabelece uma quantia anual de 100 arrobas que deveria ser co-
funcionamento das brada à colônia; caso este piso não fosse atingido, deveria ser aplicada a derrama, onde se busca-
Casas de Fundição e as va – inclusive através da violência – o pagamento da “dívida” dos colonos para com a metrópole.
consequências que as
mesmas geraram nas A extração de ouro e diamantes deu origem à intervenção regulamentadora
Minas. mais ampla que a Coroa realizou no Brasil. O governo português fez um grande
esforço para arrecadar os tributos. Tomou também várias medidas para orga-
nizar a vida social nas minas e em outras partes da colônia, seja em proveito
próprio , seja no sentido de evitar que a corrida do ouro resultasse em caos
DICA (FAUSTO, 2002, p. 99).
30
História - História do Brasil Colônia II
Todas as festividades cívicas eram abrilhantadas por concertos de música de câmara ou re-
ligiosa. Nesse campo, as irmandades costumavam encomendar peças novas para ocasiões sole-
nes, o que estimulou a criatividade de inúmeros compositores como José Joaquim Américo Lobo
de Mesquita, Francisco Gomes da Rocha, Inácio Parreiras Neves, Marcos Coelho Neto, e muitos
outros que ficaram anônimos. O excesso de músicos mulatos que irritava o Desembargador José
João Teixeira Coelho, em 1780, foi responsável por uma tradição musical em Minas Gerais, que se
prolongou muito depois da decadência das atividades mineradoras (COELHO, 1888, p. 458).
A já mencionada rivalidade das irmandades, responsáveis pela construção de templos, pe-
los sepultamentos e pela assistência social, dada à proibição da instalação de ordens religiosas,
deu grande impulso à arquitetura e escultura, onde se destacou a obra genial do mulato Anto-
nio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Em sua longa vida, desenhou igrejas e esculpiu estátuas e
ornamentos para os templos, sempre utilizando a plasticidade da “pedra-sabão”, deixando para
os pósteros um dos mais belos exemplos da arte barroca na América.
Ao findar o período colonial, se, à primeira vista, a sociedade brasileira dividia-se entre se-
nhores e escravos, examinada mais de perto, revelava certa mobilidade possibilitada pelo enri-
quecimento. Embora determinações legais sancionassem preconceitos sociais e estamentais, as
necessidades da colonização abriram caminhos para a ascensão social dos mais empreendedo-
res ou protegidos.
31
UAB/Unimontes - 3º Período
32
História - História do Brasil Colônia II
Nesta sociedade, até mesmo os escravos tinham tratamento distinto dos que trabalhavam
na indústria açucareira. Nesse sentido, se é verdade que a mineração matava mais que os enge-
nhos, nas minas um escravo com sorte podia obter sua alforria contentando seu dono com a des-
coberta de um bom filão de ouro. Além disso, em meio a uma sociedade urbana, poderiam ser
utilizados em outras funções que não fosse só na mineração e até serem treinados para a prática
do contrabando.
No caso das negras, entre outras funções, era comum utilizá-las como escravas de ganho
(praticavam pequeno comércio para seus senhores), além de serem empregadas no contraban-
do de ouro e diamantes.
33
UAB/Unimontes - 3º Período
34
História - História do Brasil Colônia II
◄ Figura 40: Os
desclassificados
(mendigos)
Fonte: Disponível em
http://www.baudeatmos-
feras.blogspot.com Acesso
em: 05/07/2009
35
UAB/Unimontes - 3º Período
O que estes aspiravam para sua colônia americana é que fosse uma simples
produtora e fornecedora de gêneros úteis ao comércio metropolitano e que
se pudessem vender com grandes lucros nos mercados europeus. Este será o
objetivo da política portuguesa até o fim da era colonial. E tal objetivo ela o
alcançaria plenamente, embora mantivesse o Brasil, para isto, sob um rigoroso
regime de restrições econômicas e opressão administrativa; e abafasse a maior
parte das possibilidades do país (PRADO Jr., 1979, p. 55).
Raymundo Faoro, em seu livro Os donos do poder, publicado em 1958, aponta que o movi-
mento expansionista pelo interior do Brasil teve como um importante centro irradiador a Capi-
tania de São Vicente, onde a plantação da cana-de-açúcar, produto agrícola importante para o
comércio português, não se desenvolveu, tendo os paulistas tomado outro rumo que lhes asse-
gurasse vantagens econômicas e remediasse a pobreza da agricultura policultora e de subsistên-
cia do planalto paulista.
Desta forma, para Raymundo Faoro, formava-se uma poderosa camada de potentados, cujo
poder vinha da força militar. Os funcionários metropolitanos tinham dificuldades em controlar
a rebeldia das camadas dominantes na colônia. A Coroa portuguesa, que muitas vezes fechou
os olhos à rebeldia nos sertões, passou, então, a não tolerar a indisciplina e a atuar no fortale-
cimento gradual do poder real, principalmente depois das descobertas auríferas. Sendo assim,
Raymundo Faoro defende a ideia de um sucesso na imposição da ordem pública e de uma eficá-
cia do aparelho burocrático repressivo e fiscalizador na região das minas (FAORO, 1987).
A política seria, daqui por diante, outra: o governo metropolitano calaria a insubmissão – o
rei tomaria conta, diretamente, do seu negócio, negócio seu e não dos paulistas. O ciclo do ouro,
no fim do século XVII, se conjuga com as medidas centralizadoras e absolutistas do Portugal res-
taurado. Os paulistas ocupam os postos civis e militares, mas sob a direta vigilância do rei, dobra-
dos ao organismo hierárquico, vertical, sob o domínio direto da Coroa. Acabam as transações, a
tolerância e o pedido de favores em troca de honrarias. [...] O contexto é um só, ao norte e ao sul.
O agente régio, reinol de nascimento, substitui o turbulento conquistador, caudilho e potentado.
Primeiro, ele o assiste, ajudado como os seus meios. Depois, o controla, para, finalmente, dominá
-lo e, se necessário, garroteá-lo (FAORO, 1987, p. 162-3).
Ao analisar a administração portuguesa no Brasil, este autor afirma que, no início do século
XVIII, a Coroa portuguesa introduziu uma série de medidas administrativas, com vistas a deter a
anarquia e instaurar uma certa estabilidade nas zonas de mineração. Eram três os principais pro-
pósitos dessas medidas: promover um governo eficiente no âmbito local e regional, administrar
36
História - História do Brasil Colônia II
a justiça e aplicar a lei e, por último, cumprir as obrigações reais de defensor da fé. O instrumento
fundamental dessa política era a elevação de vários povoados à categoria de “vilas”, que repre-
sentavam a estabilidade, a manutenção da justiça e a presença da Coroa.
Para o autor, o padrão característico de povoamento nas minas era de núcleos isolados a
considerável distância um do outro, mas, com a criação das vilas, em Minas Gerais, a presença de
esferas concêntricas de influência administrativa ajudou a diminuir esse isolamento e a aumen-
tar a eficiência do controle administrativo efetivo. A fundação de vilas no interior do Brasil tinha
como função ajudar na aplicação da lei e na instauração da ordem.
Talvez o exemplo mais espetacular do bom êxito dessa política tenha vindo da Bahia. Entre
1710 e 1721, ocorreram em Jacobina 532 mortes por arma de fogo; nos quatros anos que se se-
guiram à sua elevação à categoria de vila, em 1721, houve apenas duas mortes violentas, uma
por faca e outra por espada.
Por esses inúmeros aspectos, o governo das Minas sempre foi uma tarefa difícil e delicada,
exigindo a mistura de agressividade e suavidade nos assuntos que se referiam especificamente
às Minas. Havia por parte do Estado Português a preocupação em fazer-se sentir presente, usan-
do a força quando necessário e, ao mesmo tempo, buscando evitar transtornos com a sua pre-
sença.
Não obstante, tais conflitos não puderam ser evitados, levando Minas Gerais a apresentar al-
guns dos principais conflitos políticos, sociais e econômicos que marcariam os passos iniciais do
desgaste entre Brasil e Portugal. A Guerra dos Emboabas é um exemplo singular.
A imagem do caos – tão típica dos relatos dessa época – estava também associada à fluidez
geográfica dos povoados, que se moviam de um lado para o outro. Ao sabor das novas desco-
bertas e do esgotamento das velhas lavras.
Segundo Adriana Romeiro (2006), em artigo recente sobre os conflitos na região das Minas,
Antonil teria feito impressões importantes sobre a região. Uma bela expressão sua foi feita para
descrever o movimento dos arraiais da região: “Freguesias móveis de um lugar para outro como
os filhos de Israel no deserto.”
Para Romeiro (2006), em pouco tempo a corrida do ouro desencadearia efeitos perversos.
Do ponto de vista econômico, o êxodo de milhares de escravos negros colocou em risco as la-
vouras do tabaco e do açúcar, considerados os pilares da economia colonial. A autora ainda
acentua que o episódio serviu para mostrar à Coroa os limites do seu domínio sobre a região e a
força dos poderosos locais que, não por acaso, viriam a substituir o magistrado que pouco antes
haviam escorraçado (ROMEIRO, 2006, p. 16).
Ainda analisando o episódio da Guerra dos Emboabas, Romeiro revela que as discensões en-
tre paulistas e forasteiros remontavam às primeiras descobertas, radicalizando-se muito com o
passar do tempo. Os paulistas alegavam a sua condição de descobridores para pleitear um trata-
mento especial, reivindicando para si o monopólio das terras de sesmarias e dos cargos e postos
administrativos.
37
UAB/Unimontes - 3º Período
▲ ▲
Figura 44: A guerra dos emboabas Figura 45: A guerra dos emboabas
Fonte: Disponível em http://www.alunosonline.com.br/ Fonte: Disponível em http://www.opiniaocaete.com.br/
historiab/guerra-dos-emboabas/. Acesso em: 05/07/2009 conheca_caete.htm. Acesso em: 05/07/2009
Faça uma pesquisa de- Por fim, Adriana Romeiro conclui, demonstrando como a região das Minas levou o sistema
talhada sobre a Guerra
dos Emboabas, bem colonial a apresentar as suas primeiras contradições, especialmente quando analisa que a Guerra
como as suas impli- dos Emboabas deixaria um legado amargo para a história política da capitania. As formulações
cações para a história sobre o direito dos povos à resistência contra a tirania, a noção de direito de conquista – expres-
de Minas Gerais e São so na visão potencialmente sediciosa de que a descoberta das Minas foi feita à custa de sangue,
Paulo. sem o apoio de Portugal, e a ideia, trazida pelos paulistas, de que os vínculos entre vassalos e
Coroa tinham um “caráter contratualista”, condicionando a fidelidade dos primeiros à atitude da
segunda – “tudo isso viria a imprimir uma marca indelével no imaginário político dos mineiros,
fomentando sedições e motins por todo o século XVIII” (ROMEIRO, 2006, p. 16).
Pesquise sobre o papel da mulher no processo de exploração do ouro e na região das Minas.
Uma boa dica é pesquisar um pouco sobre a trajetória de Chica da Silva.
38
História - História do Brasil Colônia II
Essas questões revelam o quanto o ouro da região das Minas, além de enriquecer aqueles
que se envolveram na sua exploração, levou a conflitos dos mais variados.
Outra revolta também deve ser lembrada: a Revolta de Filipe dos Santos – ou Sedição de
Vila Rica. A revolta se deu como consequência do processo direto de exploração do ouro, tendo
como estopim a criação das chamadas Casas de Fundição. Liderados por Filipe dos Santos, os
mineiros da cidade de Vila Rica – atual Ouro Preto – se revoltaram contra as determinações da
Coroa, provocando mais uma tensão no chamado sistema colonial, já em crise devido ao desgas-
te do antigo regime na Europa.
Nesse sentido, fica evidente que o sistema colonial entrava em crise, o que levou Portugal a
propor reformas na sua administração na América Portuguesa. A escolha: o Marquês de Pombal,
novo homem forte do poder em Portugal, que tentaria salvar a Coroa Portuguesa da sua falência
iminente.
Pelo Tratado de Methuen, Portugal, com uma economia destruída pelas décadas de domi-
nação espanhola e de lutas pela restauração de sua independência, comprometeu-se a adquirir
tecidos de lã ingleses, enquanto a Grã-Bretanha compraria os vinhos produzidos em Portugal.
Os efeitos do tratado foram desastrosos para o Estado português, pois ele impediu o franco de-
senvolvimento das atividades manufatureiras naquele país e, ao mesmo tempo, estabeleceu a
dependência econômica de Portugal em relação à economia britânica.
Um dos grandes administradores portugueses no Brasil Colonial foi o Marquês de Pombal
e, por isso, nos dedicamos a enfatizar algumas medidas e atitudes dessa figura. Desde o ano de
1750, Pombal foi o dirigente da economia em Portugal, trabalhando para Dom José I.
39
UAB/Unimontes - 3º Período
Em 1777, o poderoso ministro deixou o governo português sob várias acusações de crimes
e arbitrariedades. Entretanto, suas diretrizes em relação ao controle do comércio minerador con-
tinuaram. Além disso, a sucessora de D. José I, D. Maria I, visando garantir as exportações da me-
trópole, proibiu a indústria artesanal de tecidos de algodão no Brasil. As medidas da rainha fica-
ram conhecidas como viradeira.
Referências
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Editora Nacional, 1967.
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FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 7 ed. Rio
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PRADO JR., Caio. História econômica do Brasil. 22.ed. São Paulo: Brasiliense, 1979.
ROMEIRO, Adriana. A febre do ouro. Revista Nossa História, 2006, p. 12- 18.
SOUZA, Laura de Mello e. Canalha indômita. Revista Nossa História, 2005, p. 36-41.
TORRES, Luis W. Tiradentes, a áspera estrada para a liberdade. São Paulo: Obelisco, 1965.
40
História - História do Brasil Colônia II
Unidade 3
A crise do antigo sistema colonial
3.1 Introdução
O Sistema Colonial passou, ao longo do século XVII, por inúmeras crises. Com a crise do an-
tigo regime, o sistema entrou em profunda decadência, consequência natural do desgaste das
relações entre metrópoles e colônias.
França, Inglaterra e Estados Unidos forneceriam os exemplos para que as colônias lutassem
pela emancipação política. Suas revoluções foram parâmetro para a ideia de “soberania dos po-
vos”. Nesse sentido, a América viveria um novo ambiente histórico, e o Brasil se inseria nesse mo-
mento.
O objetivo desta unidade é compreender como se deu essa crise no final do século XVII, a
partir da análise da situação externa e interna que levou à crise do antigo sistema colonial. Para
tal, esta unidade está dividida nos seguintes tópicos:
• Liberdade, liberdade, liberdade;
• As revoltas nativistas e o sistema colonial;
• As Conjurações, a crise do sistema colonial e os exemplos da Inconfidência Mineira e da
Conjuração Baiana;
• Tiradentes: uma liberdade, ainda que tardia.
A história da humanidade tem sido marcada por lutas sangrentas, em nome da busca pela
liberdade política, econômica e social. No Brasil, os embates por uma sociedade justa e igualitária
foram e ainda são uma constante. A situação persiste porque, na prática, a maioria da população
brasileira não teve acesso a direitos considerados fundamentais, como saúde, educação, mora-
dia, emprego, justiça, lazer – enfim, cidadania plena.
Não éramos e já não queríamos ser ‘reinóis’ ou ‘filhos de Portugal’, mas também não podía-
mos nos considerar indígenas. Tanto nos costumes como na cultura tínhamos absorvido os ele-
mentos básicos da civilização europeia, e tudo o que nossos ascendentes pretendiam era partici-
par dela.
A Revolução Francesa foi, indiscutivelmente, um marco para o processo de nascimento da
idade contemporânea. Com os franceses, aprendemos o significado dos ideais de “liberdade,
igualdade e fraternidade”, entendendo como a ação social e política nos levaria a atingi-los.
41
UAB/Unimontes - 3º Período
ATIVIDADE
Pesquise sobre os
Figura 49: A queda da ►
principais eventos que
bastilha
se deram na França no
final do século XVIII, Fonte: Disponível em
especialmente sobre a http://www.ufrgs.br/.../
pao/curiosidades/bas-
Revolução Francesa. tilha.htm. Acesso em
06/07/2009
Quase todos os eventos sociais do final do século XVIII e início do século XIX tiveram a Fran-
ça como parâmetro. E o Brasil não fugiu a essa regra:
Quem está ou foi privado de liberdade sabe quanto ela faz falta. É doloroso vi-
ver preso em poucos metros quadrados. A liberdade é para o homem o que o
céu é para o condor, como diria Castro Alves. Vida e liberdade quase sempre se
confundem. [...] Todo mundo quer ser livre. Por causa da liberdade, quantas dis-
cussões nas famílias, nos edifícios, nos colégios e na sociedade! Até os animais
gostam de usufruir de sua “liberdade” (CORDI, 2002, p.108).
Aos poucos, a influência da Inglaterra também passou a ser decisiva. Depois das revoluções
no país, em especial a Revolução Industrial, os ingleses passaram a influenciar várias nações com
a ideia de liberdade comercial, baseados nos princípios de Adam Smith.
42
História - História do Brasil Colônia II
Quanto aos Estados Unidos, a sua decisiva contribuição reside no fato de ter sido a primeira
colônia a lutar diretamente pela sua emancipação.
◄ Figura 53: As
treze colônias e a
independência dos
Estados Unidos
Fonte: Disponível em
http://www.portalsaofran-
cisco.com.br. Acesso em
06/07/2009
43
UAB/Unimontes - 3º Período
DICA
É importante notar O pioneirismo da América inglesa na ruptura do sistema colonial está ligado à afirmação
o quanto os EUA crescente de uma identidade própria, primeiro local e depois norte-americana. Nesse processo,
representaram para a colônias separadas conceberam um projeto coletivo e aproximaram-se numa confederação de
formação do mundo
contemporâneo, o que Estados, que mais tarde evoluiu para uma unidade política federativa. Tendo como marco a inde-
vai muito além da ideia pendência dos Estados Unidos, movimentos semelhantes aconteceram nas Américas espanhola
atual de se posicionar e portuguesa, sempre utilizando como parâmetro a Declaração Unânime dos Treze Estados Uni-
contra os norte-ameri- dos da América.
canos, o anti-america- “Nós, os Representantes dos Estados Unidos da América, reunidos em Congresso, plenário,
nismo.
tomando o Juiz supremo do mundo como testemunha da retidão de nossas intenções em nome
e por delegação do bom povo destas colônias, afirmamos e declaramos solenemente:
Que estas Colônias Unidas são, e devem ser de direito, Estados Independentes, que elas es-
tão dispensadas de fidelidade à Coroa Britânica, e que todo vínculo político entre elas e o Estado
da Grã-Bretanha está, e deve ser, inteiramente desfeito.” (Declaração Unânime dos Treze Estados
Unidos da América, 1776 (APTHEKER, 1969).
Nesse sentido, a ideia de liberdade entrava na ordem do dia. O Brasil caminhava, mesmo
que a passos ainda lentos, em busca da sua liberdade diante de Portugal.
44
História - História do Brasil Colônia II
45
UAB/Unimontes - 3º Período
46
História - História do Brasil Colônia II
◄ Figura 59: A
independência dos EUA
Fonte: Disponível em
http://catatau.blog-
some.com Acesso em:
06/07/2009
ATIVIDADE
As influências a esses movimentos separatistas se dão não apenas na independência dos Procure fazer uma
EUA, como também pela Revolução Francesa e pelo Iluminismo. pesquisa mais deta-
Para Caio Prado Jr, em seu livro Evolução Política do Brasil, a colônia caminhava a passos lar- lhada de alguns dos
gos para o futuro processo de independência. Rompia-se parte das relações entre metrópole e Inconfidentes de Minas
colônia: Gerais. Tais homens são
fundamentais para se
compreender o perfil
Mas, rompera-se o equilíbrio político do regime colonial minando-lhe surda- das elites coloniais à
mente a base, e manifestando-se por vezes na superfície em atritos e choques época.
violentos, trabalhavam forças contrárias, que dia a dia mais comprometiam a
estabilidade. O choque destas forças, interesses nacionais e lusitanos, no terre-
no econômico: autonomia local, representada pela alta administração dos co-
lonos, e sujeição administrativa, representada pelo poder soberano da Coroa
portuguesa, no terreno político; o choque destas formas contrárias assinala a
contradição fundamental entre o desenvolvimento do país e o acanhado qua-
dro do regime de colônia. Dele vai resultar a nossa emancipação (PRADO Jr.,
1999, p. 44).
Inegavelmente, a Inconfidência Mineira foi o maior exemplo dessa crise colonial que o Brasil
vivia.
A Inconfidência Mineira é datada do ano de 1789, ou seja, o mesmo período de início da
Revolução Francesa, não sofrendo, entretanto, influência direta do movimento francês. O movi-
mento tem como principal característica o fato de se tratar de um evento político e elitista, onde
a participação popular não se via de maneira tão intensa.
◄ Figura 60: OS
inconfidentes de Minas
Gerais
Fonte: Disponível em
http://www.conversade-
menina.wordpress.com.
Acesso em: 06/07/2009
47
UAB/Unimontes - 3º Período
Desde 1734, o valor mínimo do quinto exigido pelo governo português era de
cem arrobas anuais. Em 1650, estabeleceu-se que os impostos atrasados se-
riam cobrados através da derrama. Quer dizer, nos anos em que o recolhimen-
to do quinto da capitania de Minas Gerais não atingisse cem arrobas, o débito
seria cobrado à força da população mineira. [...] Na verdade, com o declínio da
mineração, tornou-se cada vez mais difícil cobrir as cem arrobas anuais exigi-
DICA das. A partir de 1763, os mineradores não conseguiram mais pagar o quinto
Você sabia que Tiraden- estabelecido e os impostos atrasados começaram a acumular-se (ANASTASIA,
tes não era o homem 1995, p. 18).
mais pobre que partici-
pou da Inconfidência? Muitos membros da elite mineira
circulavam pelo mundo e estudavam
na Europa. Em 1787, entre os dezenove
estudantes brasileiros matriculados na
Universidade de Coimbra, dez eram de
Minas.
Figura 62: A execução ► Os objetivos da inconfidência se-
de Tiradentes
riam, então, o rompimento definitivo
Fonte: Disponível em
http://histoblogsu. com a metrópole, estabelecendo um
blogspot.com. Acesso em: governo independente, assim como
07/07/2009 o que foi feito na independência das
treze colônias dos EUA. Entre outros
planos, os inconfidentes pretendiam
fundar uma Universidade em Vila Rica e
criar algumas indústrias.
Não haviam propósitos mais vol-
tados para questões de cunho social,
como, por exemplo, a abolição da es-
cravidão nas minas (somente uma mi-
noria se via do lado deste tipo de me-
didas).
A liderança fora atribuída a Tira-
dentes – hoje considerado o grande
líder da Inconfidência Mineira e nosso
herói da República, mas o movimento
fracassa, devido à traição de um de seus membros, Joaquim Silvério dos Reis. O processo contra
os inconfidentes arrastou-se durante dois anos. A sentença inicial condenou à morte vários deles
e ao degredo outros.
Posteriormente, a Rainha Dona Maria I comutou todas as sentenças de morte, modificando
-as para degredo, com exceção da sentença de Tiradentes.
48
História - História do Brasil Colônia II
É importante destacar que esses movimentos deram uma grande contribuição à Indepen-
dência do Brasil, afinal fazem parte de um contexto contrário à situação colonial do Brasil. Mais
do que a boa vontade de Dom Pedro, essas revoluções são, na verdade, o grande empurrão para
o processo de independência da nação.
49
UAB/Unimontes - 3º Período
A associação do herói com Cristo faz parte deste processo. Ela já se fazia pre-
sente nos anos 60 do século XIX, e se consolidava com a obra de Joaquim Nor-
berto de Souza e Silva em 1873. O condenado que saiu da cadeia em ‘soliló-
quios com o crucifixo’, que havia perdoado a seu próprio carrasco, tinha seu
50
História - História do Brasil Colônia II
Referências
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1995.
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1998.
PRADO JR., Caio. Evolução Política do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1999.
51
História - História do Brasil Colônia II
Unidade 4
A crise do estado português e a
falência do sistema colonial
4.1 Introdução
Portugal entrou no século XIX em crise já acentuada. O estado português parecia falido
diante da não adaptação dos lusitanos ao capitalismo liberal, já que Portugal permanecia atrela-
do ao antigo modelo absolutista e mercantilista.
Nações como França e Inglaterra, cada qual da sua forma, impulsionavam a crise do antigo
regime e, por sua vez, à crise do sistema colonial. Dessa forma, as relações entre essas nações le-
variam ao processo de independência do Brasil.
O objetivo desta unidade é compreender como se deu o processo definitivo de fim do siste-
ma colonial, especialmente por meio da vinda da família real portuguesa ao Brasil que, inegavel-
mente, traria consequências definitivas para a relação entre Brasil e Portugal. Para tal, essa quarta
unidade está dividida nos seguintes tópicos:
• Portugal, Inglaterra, Brasil, Napoleão;
• A família real no Brasil: burocracia, poder, história e ficção,
• O significado da independência.
No começo do século XIX, a situação do Brasil, do ponto de vista político, não era muito di-
ferente do século anterior. Depois da chegada de Dom João e da Corte portuguesa, em 1808,
várias mudanças políticas e administrativas começaram a ocorrer no Brasil. Quando as Cortes de
Lisboa quiseram promover a recolonização do Brasil, os brasileiros logo reagiram. No ano seguin-
te ao da partida de Dom João e da Corte para a metrópole, foi proclamada a Independência.
A Independência do Brasil não aconteceu devido a um fato isolado. Vários são os fatores que
contribuíram no processo, acarretando a nova condição para o Brasil.
As influências externas são diversas, trazendo-se da Europa contribuições para tornar os co-
lonos mais conscientes e aptos a contestarem, para efetivar a independência do Brasil, e a trans-
ferência da corte portuguesa para o Brasil, mais precisamente para o Rio de Janeiro.
53
UAB/Unimontes - 3º Período
Perguntaríamos, então, por que aconteceu tal situação. O que levaria a corte portuguesa a
se estabelecer em uma colônia? Na Europa, passava-se por um momento onde o cenário políti-
co-militar era dominado por uma figura: Napoleão Bonaparte. Este, por meio do seu domínio na
França, estende sua influência por toda a Europa, decretando o chamado Bloqueio Continental.
ATIVIDADE
Faça uma pesquisa so-
bre a história da Revo-
lução Francesa em sua
última fase, e procure
analisar o papel de Na-
poleão no processo de
estabilização da França Figura 68: Napoleão ►
depois da Revolução de Bonaparte
1789. Fonte: Disponível em
http://www.finalsports.
com.br. Acesso em:
07/07/2009
Com este bloqueio, os países da Europa estariam obrigados a interromperem suas relações
diplomáticas com a Inglaterra, inimiga da França. Com essa medida, Napoleão pretendia enfra-
quecer a Inglaterra, privando-a de seus mercados consumidores e de suas fontes de abasteci-
mento.
54
História - História do Brasil Colônia II
Como sabemos, a ligação entre Portugal e Inglaterra era muito grande, afinal a economia
portuguesa tinha uma grande dependência em relação aos ingleses.
Pressionado por Napoleão, que exigia o
fechamento dos portos portugueses ao comér-
cio inglês, e ao mesmo tempo pretendendo
manter as relações com a Inglaterra, Dom João
◄ Figura 70: Dom João VI
tentou adiar o mais que pôde uma decisão
Fonte: Disponível em
definitiva sobre o assunto. No entanto, tal si- embaixada-portugal-bra-
tuação levou à desobediência do Bloqueio por sil.blogspot.com. Acesso
parte da Coroa portuguesa. em: 07/07/2009
Com isso, Napoleão invade Portugal, le-
vando a Coroa a procurar um novo local para
se estabelecer: o Brasil. Toda a administração
portuguesa se transfere para a colônia, e o
Brasil passa a ser a nova sede da Coroa Portu-
guesa.
A chegada de Dom João à Bahia, onde fi-
cou pouco mais de um mês, ocorreu em 22 de
janeiro de 1808. Teve início, então, uma nova
época na História do Brasil, pois a colônia foi a
grande beneficiada com a transferência da Corte. A presença da administração real criou pouco a
pouco condições para a futura emancipação política da colônia.
55
UAB/Unimontes - 3º Período
Figura 71: A ►
transferência da família
real para o Brasil.
Fonte: Disponível em
http://www.portaltosa-
bendo.com.br. Acesso em:
07/07/2009
Figura 72: A ►
transferência da família
real para o Brasil
Fonte: Disponível emem-
baixada-portugal-brasil.
blogspot.com. Acesso em:
07/07/2009
Além das abordagens históricas sobre o tema, preocupações das mais variadas são perceptí-
veis quando se estuda o famoso evento de 1808. Eventos dramáticos e pitorescos fazem parte do
episódio.
Segundo Schwarcz (2005), o evento carrega em si várias curiosidades. O tempo para a trans-
ferência era curto, além de se tratar de uma empreitada única.
O plano era mais complexo do que se podia imaginar. Afinal, seguiriam viagem, acompa-
nhando a família real, não apenas alguns poucos funcionários selecionados. Já em relativa pron-
tidão e expectativa, encontravam-se outras inúmeras famílias – as dos conselheiros e ministros
de Estado, da nobreza, da corte e dos servidores da Casa Real. Para Schwarcz (2005, p. 22), “não
eram, porém, indivíduos isolados que fugiam, carregando seus objetos pessoais.
Portanto, o evento é dotado de várias possibilidades de estudo, o que implica outras tantas
interpretações (SCHWARCZ, 2005).
Não apenas a história se preocupou em analisar a vinda da família real. No ano de 2008 a
História, a Mídia, a Literatura, entre tantas outras áreas do conhecimento se voltaram para a com-
preensão do evento que ocorrera no ano de 1808.
Em texto recente, Jesus (2008) procura estudar o tema sobre a percepção da ficção, em uma
abordagem que intenciona aproximar os leitores comuns ao evento de 1808. Sobre Dom João,
revela o autor:
56
História - História do Brasil Colônia II
de nepotismo e mal uso da máquina pública. Uma escola, sem dúvida. Dom
João era um exemplar perfeito daqueles políticos bonachões, ridículos mesmo
(JESUS, 2008, p. 42-3).
ATIVIDADE
A intenção do Jesus (2008), obviamente, é apenas “brincar” com os detalhes e diversas con-
Pesquise sobre a bio-
cepções que envolvem o evento. Nesse sentido, o autor lança mão da ficção, revelando o quanto grafia de Dom João VI
o estudo do tema pode atrair a atenção de pessoas comuns e especialistas. e da família real, espe-
Não obstante, a administração de Dom João VI foi marcante para a História do Brasil. cialmente Dona Maria
Logo que chega ao Brasil, Dom João trata de colocar em prática as suas prerrogativas de I, a louca, e Carlota
imperador. Menos de uma semana depois de sua chegada, ainda na Bahia, o Príncipe Regente Joaquina.
tomou a primeira e mais importante medida de caráter econômico. Em 28 de janeiro de 1808,
influenciado por José da Silva Lisboa, mais tarde Visconde de Cairu, Dom João expediu a carta
régia de abertura dos portos do Brasil às nações amigas de Portugal. Daí em diante, o Brasil po-
deria comerciar diretamente com quem quisesse.
Abrindo os portos para as nações amigas de Portugal, na verdade se apresenta um outro
discurso: abriam-se os portos para a Inglaterra, a grande parceira da Coroa portuguesa no cená- ATIVIDADE
rio europeu:
Faça uma pesquisa so-
bre a história da Revo-
A abertura dos portos foi um ato historicamente previsível, mas ao mesmo lução Francesa em sua
tempo impulsionado pelas circunstâncias do momento. Portugal estava ocu- última fase, e procure
pado por tropas francesas, e o comércio não podia ser feito através dele. Para a analisar o papel de Na-
Coroa, era preferível legalizar o extenso contrabando existente entre a colônia poleão no processo de
e a Inglaterra e receber os tributos devidos (FAUSTO, 2002, p. 122). estabilização da França
depois da Revolução de
Sendo assim, o sentido do Pacto Colonial já não seria mais o mesmo. Na verdade, essas me- 1789.
didas põem fim ao Pacto entre o Brasil e Portugal, pois agora a “colônia” estaria aberta para ou-
tras nações (leia-se Inglaterra); portanto, o decreto de abertura dos portos pôs fim ao monopólio
luso sobre o comércio brasileiro, que era a base da política colonial portuguesa.
Aqui, surge um momento importante da história do Brasil: a união que vai permear as rela-
ções entre o Brasil e a Inglaterra. Era como se o Brasil passasse a ter uma nova metrópole com a
independência em relação a Portugal.
Alguns tratados são assinados entre Portugal e Inglaterra, buscando facilitar a entrada e
ação dos ingleses na colônia. Os Tratados de Comércio e Navegação e de Aliança e Amizade são
os grandes exemplos.
ATIVIDADE
Procure assistir ao filme
“Carlota Joaquina”,
Em 1810, Dom João assinou vários tratados com a Inglaterra. O mais importante deles foi o dirigido por Carla Ca-
murati, um dos filmes
Tratado de Comércio e Navegação, que estabelecia uma taxa de apenas 15% sobre a importação de maior relevância na
de produtos ingleses. Para avaliar o significado dessa medida, basta lembrar que a taxa de impor- produção cinematográ-
tação de produtos portugueses era de 16% e a de produtos de outras nações de 24%. Com esses fica brasileira.
tratados, portanto, os ingleses praticamente eliminavam a concorrência no mercado brasileiro,
dominando-o por completo.
57
UAB/Unimontes - 3º Período
Como podemos perceber, esses processos vão colocando a Inglaterra com um domínio
cada vez maior sobre a economia brasileira.
Tratados como os mencionados acima fazem dos produtos ingleses os mais presentes na
nação, inviabilizando um possível desenvolvimento da indústria nacional. Entre outras medidas
tomadas pelo governo português no Brasil, sob a influência inglesa, está a questão da escravi-
dão. Dom João se compromete a acabar com o tráfico de escravos no Brasil, o que só vai ocorrer
no ano de 1850, e mesmo assim somente acaba com o tráfico internacional, persistindo a prática
do tráfico interno.
Dom João foi o responsável por algumas medidas de grande repercussão no país. Quando
veio ao Brasil, trouxe com ele uma corte parasitária de cerca de 15 mil pessoas apadrinhadas.
Portanto, essas pessoas vão viver no país à custa da população da colônia, sendo um mo-
mento de grande corrupção e atos incompetentes do imperador.
Entre outras realizações, Dom João cria o primeiro Banco do Brasil, a Casa da Moeda, a Bi-
blioteca Pública, o Jardim Botânico. Percebemos também medidas de cunho cultural, como a
criação do Teatro Real. Era como se o Rio de Janeiro fosse preparado para abrigar a corte real.
58
História - História do Brasil Colônia II
Com a revolução, as cortes portuguesas passam a exigir o retorno de Dom João VI a Portu-
gal e que o processo de recolonização do Brasil fosse colocado em prática. Era preciso que o Bra-
sil voltasse a ser de Portugal. Somente de Portugal. A volta de Dom João é conseguida: ele volta a
Portugal e deixa como Regente do Brasil Dom Pedro I.
Internamente, no Brasil, esse fato contribuiu para a independência, na medida em que a
pressão sobre Dom Pedro I vai se acentuar, levando o mesmo a declarar o Brasil como uma nação
independente.
59
UAB/Unimontes - 3º Período
4.4 O significado da
independência
Os acontecimentos ocorridos em 1821
evidenciaram ser inevitável a independência
do Brasil. Porém, internamente, as classes mais
abastadas discutiam o melhor modo de con-
Figura 78: Dom Pedro I ► quistá-la, levando em conta seus interesses e
Fonte: Disponível em orientação política.
algosobre.com.br. Acesso Nesse sentido, em regra, a aristocracia ru-
em: 07/07/2009 ral escravista (ou grandes proprietários rurais)
e parte dos grandes comerciantes que se bene-
ficiaram com o fim do pacto colonial represen-
tavam a base dos chamados moderados. Este
grupo, mesmo conciliando algumas ideias que
iam de liberais a conservadoras, era favorável a
uma independência sem alteração na estrutu-
ra de poder, sem a participação popular e com
Dom Pedro I à frente de uma monarquia cons-
titucional.
Já a classe média urbana (advogados, letrados,
padres, militares e jornalistas, entre outros) re-
presentava a base dos chamados radicais, que
também eram favoráveis ao processo de independência, porém com alteração na estrutura do
poder.
Este grupo, que se dividia entre partidários de um processo revolucionário de independên-
cia, republicanos e monarquistas, acabou aceitando o projeto de monarquia constitucional com
Dom Pedro I à frente, como queriam os moderados. Este consenso viabilizou a formação do cha-
mado Partido Brasileiro, que foi favorável à independência do Brasil.
No outro extremo, portugueses e até brasileiros que não queriam a independência acaba-
ram se articulando em torno do Partido Português.
ATIVIDADE Atendo-se a Dom Pedro I, sua permanência no Brasil descontentou as cortes de Lisboa,
Pesquise sobre a bio- que passaram a emitir decretos procurando limitar seu poder, bem como exigir seu retorno a
grafia de Dom Pedro I Portugal.
e de José Bonifácio, e Em meio a essas circunstâncias, Dom Pedro I, no dia 9 de janeiro de 1822, após receber uma
procure intercalar as
relações políticas da petição com mais de 8 mil assinaturas pedindo sua permanência no Brasil, resolveu desobedecer
época e o papel desses ao governo português e ficar. Tal fato ficou conhecido como o “Dia do Fico”.
dois homens no proces-
so de independência
do Brasil.
Essa atitude não foi bem recebida pelos militares portugueses encarregados de conduzir
Dom Pedro I. Assim, este, após ter solicitado juramento de fidelidade da tropa, passou a conside-
60
História - História do Brasil Colônia II
rar inimigas as tropas portuguesas que desembarcassem no Brasil. Em maio de 1822, procurando
ampliar seu poder frente a Portugal, Dom Pedro I baixou o decreto do “Cumpra-se”, estabelecen-
do que os decretos portugueses só seriam cumpridos no Brasil mediante sua assinatura.
Diante dos fatos e considerando que, informalmente, a independência já estava em curso,
em junho de 1822, Dom Pedro I convocou uma Assembleia Constituinte, com José Bonifácio à
frente, com o intuito de elaborar uma constituição para o Brasil.
O descontentamento de Portugal em relação à política de Dom Pedro I cresceu e, em setem-
bro de 1822, novas exigências e ameaças foram feitas e levadas ao conhecimento de Dom Pedro,
que se encontrava em São Paulo, retornando de uma viagem.
Assim, no dia 7 de setembro de 1822, diante das circunstâncias, foi proclamada a indepen-
dência do Brasil, como os moderados queriam, sem povo e com a manutenção da estrutura do
poder, ou seja, a manutenção de uma sociedade dominada pela aristocracia rural escravista, que
marcou todo o período imperial no Brasil, como se verá adiante.
61
UAB/Unimontes - 3º Período
primeiro imperador. Teófilo Otoni, líder da ala radical do Partido Liberal, publi-
camente recusou participar da inauguração, pois a estátua representava a In-
dependência como “uma doação do monarca” (KRAAY, 2004, p. 23).
Referências
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 10. ed. São Paulo: Edusp, 2002.
JESUS, Alysson Luiz Freitas de. 1808-2009: Interseções. São Paulo: Annablume, 2008.
SCHWARCZ, Lília Moritz. A grande fuga. Revista de História da Biblioteca Nacional, 2005, p. 20-
27.
62
História - História do Brasil Colônia II
Resumo
O presente material tem como objetivo analisar as relações coloniais do Brasil entre os sécu-
los XVIII e XIX. Trata-se da parte complementar dos estudos coloniais, que privilegiam determina-
dos temas, relacionando Brasil e Portugal no contexto da colonização e, em especial, à crise do
sistema colonial.
O objetivo principal desta disciplina é compreender parte do sistema colonial, especialmen-
te a partir dos séculos XVIII e XIX, e, por outro lado, entender como se deu o processo de crise do
sistema colonial brasileiro, levando ao processo que culminou com a Independência.
A análise se inicia a partir do estudo da sociedade colonial, procurando avaliar como se for-
maram os grupos sociais na América Portuguesa, bem como as formas regionais e as dinâmicas
das relações políticas, sociais e culturais na colônia.
Logo em seguida, privilegiam-se os estudos sobre a região das Minas, evidenciando as rela-
ções econômicas e de poder que se deram no espaço político de Minas Gerais.
Referindo-se já diretamente ao processo de crise do sistema colonial, as duas últimas unida-
des têm o objetivo claro de estudar como a região colonial se comportou diante da crise do anti-
go regime, bem como o processo que levou diretamente à ruptura entre Brasil e Portugal.
Assim, é importante frisar que esse material trata apenas dos 2 séculos finais da colonização
portuguesa no Brasil. Analisamos aqui somente o funcionamento político e econômico da colô-
nia, com o objetivo de compreender a crise que levou à derrocada do sistema colonial.
63
História - História do Brasil Colônia II
Referências
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Complementares
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66
História - História do Brasil Colônia II
Atividades de
Aprendizagem- AA
1) No Brasil colônia, a pecuária teve um papel decisivo na
2) “O senhor de engenho é título a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser servido, obe-
decido e respeitado de muitos”. O comentário de Antonil, escrito no século XVIII, pode ser consi-
derado característico da sociedade colonial brasileira, porque
a. ( ) o movimento Baiano fracassou, porque tinha o mesmo caráter elitista do Mineiro, de-
sejando manter a escravidão.
b. ( ) a Inconfidência Mineira, assim com a Conjuração Baiana, foi movimento realizado pe-
los ricos comerciantes das regiões, visando à liberdade da população em geral, assim como
dos negros.
c. ( ) ambos os movimentos estão situados num contexto de crise do sistema colonial,
sendo responsáveis diretos pela proclamação de um governo Republicano em Minas Gerais
e Bahia, após a independência do Brasil.
d. ( ) os planos da Inconfidência Mineira foram realizados por uma elite letrada, sendo por
isso um movimento elitista, sem a participação popular; ao contrário da Baiana, que defen-
dia a igualdade social e teve um caráter mais popular.
e. ( ) ambas tiveram sucesso, levando à independência do Brasil.
4) Na verdade, o que Portugal queria para sua colônia americana é que fosse uma simples produ-
tora e fornecedora dos gêneros úteis ao comércio metropolitano, que se pudessem vender com
grandes lucros nos mercados europeus. Esse será o objetivo da política portuguesa até o fim da
Era Colonial. E tal objetivo ela o alcançaria plenamente, embora mantivesse o Brasil, para isso,
sob um rigoroso regime de restrições econômicas e opressão administrativa; e abafasse a maior
parte das possibilidades do país.
Prado Júnior, Caio. – História do Brasil.
Pela leitura do texto, podemos concluir que
a. ( ) apesar de o Brasil ser uma colônia de exploração, os princípios mercantilistas não fo-
ram aplicados aqui com rigor, o que possibilitou o desenvolvimento de atividades que visa-
vam ao crescimento da colônia.
b. ( ) mesmo tendo a Metrópole se afastado dos princípios econômicos do sistema colo-
nial, os seus objetivos foram plenamente alcançados.
67
UAB/Unimontes - 3º Período
5) A economia brasileira no período colonial esteve vinculada, ora ao setor açucareiro, ora ao cam-
po da mineração. Com base nessas duas áreas econômicas, identifique a alternativa CORRETA.
a. ( ) o açúcar foi utilizado no Brasil porque era um produto rentável, apesar de que a sua
utilização foi difícil, devido não ter no Brasil solo próprio para o seu cultivo.
b. ( ) a sociedade açucareira tem como sua principal característica a questão da “imobili-
dade social”, devido à dificuldade de melhoria de condição social das camadas mais pobres
da sociedade.
c. ( ) a mineração tem um caráter mais urbano, e foi utilizada no Brasil devido à necessida-
de dos americanos (EUA) de retirar o maior volume possível de riquezas do Brasil.
d. ( ) no processo mineratório, vários impostos foram criados por Portugal para controlar a
exploração das riquezas preciosas, destacando- se impostos como o plantation e a mita.
e. ( ) a economia do ouro não possibilitou lucros a nenhum dos grupos envolvidos em sua
exploração.
6) A abertura dos portos foi um passo decisivo para a nossa independência, porque
7) No Brasil, a bandeira e o seu lema “Liberdade ainda que tardia” estão associados a um movi-
mento político que questionava o pacto colonial. Eles simbolizavam a
8) A Conjuração Baiana (1798) diferenciou-se da Conjuração Mineira (1789), entre outros aspec-
tos, porque aquela
a. ( ) envolveu a alta burguesia da sociedade do nordeste.
b. ( ) pretendia a revogação da política fiscal do Marquês de Pombal.
c. ( ) aglutinou a oficialidade brasileira insatisfeita com seu soldo.
d. ( ) teve um caráter popular, com preocupações, sobretudo, sociais.
e. ( ) ficou também conhecida como “revolta dos marinheiros”.
9) “Trata-se da principal revolta anti-colonial que ocorreu no nordeste brasileiro, sendo um even-
to de caráter popular”.
68
História - História do Brasil Colônia II
a. ( ) Revolução Farroupilha
b. ( ) Abertura dos Portos
c. ( ) Guerra de Canudos
d. ( ) Conjuração Baiana
e. ( ) Conjuração Alagoana
10) “Trata-se da economia que levou a região de Minas Gerais a se tornar uma das mais impor-
tantes de todo o sistema colonial na América.”
a. ( ) Ouro
b. ( ) Açúcar
c. ( ) Pecuária
d. ( ) Tabaco
e. ( ) Soja
69