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FENÔMENOS DE

TRANSPORTES

autor
ADRIANO SILVA BELISIO

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2017
Conselho editorial  roberto paes e luciana varga

Autor do original  adriano silva belisio

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  luciana varga, paula r. de a. machado e aline karina


rabello

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  bfs media

Revisão linguística  bfs media

Revisão de conteúdo  gentil oliveira pires

Imagem de capa  jens ottoson   |  shutterstock.com

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2017.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

B434f Belisio, Adriano Silva


Fenômenos de transporte. / Adriano Silva Belisio.
Rio de Janeiro: SESES, 2017.
88 p: il.

isbn: 978-85-5548-451-3

1. Fenômenos de transporte. 2. Fluidos. I. SESES. II. Estácio.

cdd 660

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário
Prefácio 5

1. Introdução a fenômenos de transportes 7


Introdução 8
Aplicações práticas na engenharia 9
Análise dimensional 12
Sistema Internacional de Unidades (SI) 16

2. Definição e propriedades dos fluidos 23


Definição de um fluido 24

Propriedades dos fluidos 27


Densidade específica e gravidade específica 27
Princípio da aderência 29
Viscosidade 29
Viscosidade absoluta ou dinâmica 31
Viscosidade cinética (v) 33
Efeito da pressão na viscosidade 35
Capilaridade 36
Características de um escoamento ideal 36

3. Estática dos fluidos 39


Pressão e pressão hidrostática 40
Pressão 40

Pressão e pressão hidrostática 42


Equação básica da estática dos fluidos 43
Forças decorrentes da pressão 45

Teorema de Stevin 46

Pressão atmosférica 48

Princípio de Pascal (lei de Pascal) 50

Princípio de Arquimedes 51
4. Fundamentos de hidrodinâmica 55
Definição de hidrodinâmica 56

Linhas de corrente 56

Conservação da massa ou equação de continuidade (Euler) 58

Tipos de escoamento e suas classificações segundo o critério de Reynolds 60


O número de Reynolds (Re) 62
Equação da continuidade para regime permanente 64

Princípio fundamental da hidrodinâmica ou teorema de Bernolli 65


Tipos de energias mecânicas associadas a um fluido 66
Equação de Bernoulli 66
Aplicações 68

5. Processos de propagação e transmissão de


calor e massa 73
Definições 74

Propagação do calor por condução 75


Paredes planas 76

Propagação do calor por convecção 81

Propagação do calor por radiação 84


Radiação de corpo negro 85

Transferência de massa por difusão 87


Prefácio

Prezados(as) alunos(as),

Fenômenos de transporte é a disciplina que abarca além do estudo da mecâ-


nica dos fluidos, o estudo da transmissão de calor e de massa. Trata-se de uma dis-
ciplina da formação básica de vários cursos de engenharia, como por exemplo as
engenharias de produção, civil, mecânica e química. A disciplina de fenômenos de
transporte consta do conteúdo programático do Exame Nacional de Desempenho
dos Estudantes (Enade) do Ministério da Educação.
Muitos fenômenos difusivos da mecânica dos fluidos, da transmissão de calor
e da transferência de massa podem ser descritos por meio de modelos matemáticos
que se diferenciam devido às grandezas físicas envolvidos no processo com seus
respectivos coeficientes de difusão. Tais assuntos são estudados em conjunto e
denominados de fenômenos de transporte.
Entender os princípios básicos da disciplina fenômenos de transporte é en-
tender as diversas etapas que estão presentes na indústria e em vários processos
que envolvam produção. Foi com o conhecimento desta disciplina que muitos
equipamentos de medição foram desenvolvidos.
Procurou-se, aqui, apresentar o fenômeno de transporte de forma clara e prá-
tica. Não com o intuito de formar especialistas nessa área, mas sim de propor-
cionar a você, caro aluno, uma compreensão dos elementos fundamentais que
compõem essa ciência, visando à aplicação na sua área de atuação. Não se tem a
intenção de esgotar o assunto, mas sim de apresentar os elementos necessários para
que você realize uma leitura satisfatória da realidade que o cerca e das informações
que têm a sua volta.
A maioria dos exemplos aqui apresentados é hipotética. São exemplos de si-
tuações que ocorrem de forma semelhante na prática. Os dados, também mos-
trados não são reais, foram criados apenas para ilustrar a aplicação do conteú-
do representado.

Bons estudos!

5
1
Introdução a
fenômenos de
transportes
Introdução a fenômenos de transportes
Sejam bem-vindos ao curso de fenômenos de transporte! O seu livro didático
está dividido em cinco capítulos. Neste livro, foram incluídos como sugestões leitu-
ras complementares, vídeos, dentre outros, como forma de melhorar a compreensão
e o seu aprendizado na disciplina. Espero que este livro seja um convite a pensar,
resolver problemas, a interagir com os colegas, fazer as leituras propostas, se interes-
sar pelo conhecimento, pesquisar, trabalhar em equipe e argumentar. Neste primeiro
capítulo, é destacada a relevância da disciplina, além de mostrar a importância que
ela tem para os alunos de engenharias, definir e mostrar a influência da análise di-
mensional bem como o Sistema Internacional de unidades (SI).

Vamos começar?

OBJETIVOS
•  Destacar a importância da disciplina;
•  Apresentar a análise dimensional como importância;
•  Apresentar o Sistema Internacional de Unidades.

Introdução

A área de fenômenos de transporte tem por escopo o estudo do movimento


dos fluidos, e as forças responsáveis por tal movimento, ou seja, fenômenos de
transporte buscam tratar do comportamento dos fluidos tanto em repouso quanto
em movimento.
De início, as aplicações industriais não eram controladas automaticamente
e sim pautados em intuição e experiência dos operadores. Como era o caso do
controle combustão, em que o operador era o “instrumento” controlador, segun-
do seu julgamento com base em experiência, da reação eletroquímica receber ou
não mais ar ou combustível. Para isso, ele observava a estabilidade ou não da
coloração da chama. Assim, o resultado era uma combustão de pouca qualidade,
que implicava consumo excessivo de combustível, altas emissões de gases e de
material particulado.

capítulo 1 •8
Aplicações práticas na engenharia

Segundo, Çengel; Cimbala (2007), o conhecimento de fenômenos de trans-


porte é bastante utilizado diariamente nos vários projetos de engenharia moder-
nos, tais como os de aspirador de pó, as aeronaves supersônicas, dentre outros.
No corpo humano, os fluidos desempenham um papel vital. “O coração bom-
beia sangue para todas as partes do corpo humano por meio das artérias e veias, e
os pulmões são as regiões de escoamento de ar em direções alternativas”. Çengel;
Cimbala (2007).
Na indústria cerâmica, a compreensão dessa disciplina é importante para vá-
rios processos como a moagem, atomização, dentre outros.
As principais aplicações dos fenômenos de transportes são destinadas ao estu-
do de escoamentos de líquidos e gases, máquinas hidráulicas, aplicações de pneu-
mática e hidráulica industrial, sistemas de ventilação e ar condicionado, além de
diversas aplicações na área de aerodinâmica voltada para a indústria aeroespacial.
Na engenharia civil, a grande importância é para o escoamento de água, ou
seja, tratamento, abastecimento, consumo e saneamento, por exemplo.
Na Engenharia Sanitária e Ambiental é fundamental para o estudo da difusão
de poluentes no ar, na água e no solo.
Já na engenharia mecânica ela é importante para os processos de usinagem,
processos de tratamento térmico, cálculo de máquinas hidráulicas, transferência
de calor das máquinas térmicas e frigoríficas e para a engenharia aeronáutica.
Por fim, na engenharia elétrica e eletrônica é relevante para os cálculos de dis-
sipação de potência, seja nas máquinas produtoras ou transformadoras de energia
elétrica, seja na otimização do gasto de energia nos computadores e dispositivos
de comunicação.
Outras aplicações de fenômenos de transporte são:
I. Estudo do comportamento relativo a fenômenos meteorológicos;
II. Turbina a vapor é a máquina térmica que utiliza a energia do vapor sob
forma de energia cinética;
III. As ondas de pressão e calor produzidas na explosão de uma bomba;
IV. A bomba nuclear;
V. Projeto, operação e manutenção de turbinas eólicas;
VI. Projeto de otimização da mistura multifásica em processos industriais etc.;
VII. Características aerodinâmicas de aviões, foguetes etc.;
VIII. O fluxo de água através de um canal;

capítulo 1 •9
IX. Projetos de carros esportivos;
X. Projeto, operação de sistemas de ventilação industrial, climatização e con-
forto térmico;
XI. Projeto de todos os tipos de máquinas de fluxo (bombas, separadores,
compressores, turbinas e o sistema circulatório humano);
XII. Aerobarcos;
XIII. Pistas inclinadas e verticais para decolagem;
XIV. Cascos de barcos e navios;
XV. Projetos de submarinos e automóveis;
XVI. Sistemas de aquecimento e refrigeração para residências particulares e
grandes edifícios comerciais.

O entendimento dos princípios e conceitos básicos é essencial para qualquer


projeto ou análise no qual o fluido é o meio atuante.
A ponte de Tacoma, a seguir na figura 1.1, foi uma ponte pênsil, localizada
sobre o Estreito de Tacoma, Washington, Estados Unidos da América. Ela é um
exemplo no qual os princípios dos fenômenos dos transportes são negligenciados.
A ponte de Tacoma sempre balançava devido ao vento, porém num dia, o vento
atingiu uma velocidade de aproximadamente 65 km por hora e com isto come-
çou a gerar movimentos de torção, os quais fizeram a estrutura a ter um colapso.
Segundo, Billah, K.; R. Scanlan (1991), ao contrário do que vem sendo publicado
em alguns livros de física, acredita-se que os grandes movimentos foram causados
devido ao fenômeno de flutter aeroelástico e não de ressonância, conforme se vê
na figura 1.2.

COMENTÁRIO
Flutter é uma autoexcitação de dois ou mais modos de vibração de um sistema, devida-
mente alterado e realimentado pelo escoamento de um fluido. Pode causar oscilações de
amplitude que crescem exponencialmente levando a estrutura a uma falha dinâmica.

capítulo 1 • 10
©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 1.1  –  Ponte de Tacoma.

Figura 1.2  –  Figura ilustrativa de parte do artigo de Billah, K.; R. Scanlan (1991).

capítulo 1 • 11
CURIOSIDADE
Acesse o link a seguir e saiba mais sobre o que aconteceu com a ponte de Tacoma.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XggxeuFDaDU>. Acesso em:
9 mar. 2016.

Análise dimensional

De acordo com Munsun et al., 2004, é fundamental quantificar e qualificar


uma quantidade.
Segundo o manual do SI do Inmetro, 2003, o Bureau Internacional de Pesos
e Medidas (BIPM) foi criado pela Convenção do Metro, assinada em Paris em
20 de maio de 1875 por 17 estados, por ocasião da última sessão da Conferência
Diplomática do Metro. Esta Convenção foi modificada em 1921.
O Bureau Internacional, que tem por missão assegurar a unificação mundial
das medidas físicas, é encarregado de
•  Estabelecer os padrões fundamentais e as escalas das principais grandezas
físicas e de conservar os protótipos internacionais;
•  Efetuar a comparação dos padrões nacionais e internacionais;
•  Assegurar a coordenação das técnicas de medidas correspondentes;
•  Efetuar e de coordenar as determinações relativas às constantes físicas que
intervêm naquelas atividades.

O Bureau Internacional funciona sob a fiscalização exclusiva do Comitê


Internacional de Pesos e Medidas (CIPM), sob autoridade da Conferência Geral
de Pesos e Medidas (CGPM).

A Conferência Geral é formada de delegados de todos os estados-membros


da Convenção do Metro e reúne-se, atualmente, de quatro em quatro anos. Ela
recebe em cada uma de suas sessões o Relatório do Comitê Internacional sobre os
trabalhos executados, e tem por missão:
•  Discutir e provocar as medidas necessárias para assegurar a propagação e o
aperfeiçoamento do Sistema Internacional de Unidades (SI), forma moderna do
sistema métrico;

capítulo 1 • 12
•  Sancionar os resultados das novas determinações metrológicas fundamen-
tais e as diversas resoluções científicas de cunho internacional;
•  Adotar as decisões importantes concernentes à organização e ao desenvolvi-
mento do Bureau Internacional.

Segundo Roma, et al., 2006, o objetivo das unidades de medidas foi padroni-
zar as unidades utilizadas na quantificação de fenômenos físicos.
Em 1960, um comitê internacional estabeleceu um conjunto de unidades pa-
drões para as grandezas físicas. O sistema estabelecido é uma adaptação do sistema
métrico e é chamado de SI, que é a abreviação do nome do sistema em francês
“Système International”. O SI foi criado na XI Conferência Geral da Comissão
Internacional de Pesos e Medidas, em outubro de 1960 em Paris. O SI é com-
posto de sete unidades fundamentais correspondentes a uma determinada gran-
deza física.
Em cursos de engenharia, matemática e física e muitos outros, é comum en-
contrar afirmações do tipo: “a dimensão de trabalho é ML2T–2”, mas a definição
do que sejam “dimensões” é raramente, ou nunca, encontrada. O nome que se dá
ao estudo das dimensões físicas das variáveis de um problema e dos parâmetros
que o governam, é a análise dimensional. A análise dimensional tem um impacto
profundo em todos os problemas de engenharia (BARENBLATT,1996).
Na análise dimensional pode ser utilizada na previsão, verificação e resolução
de equações que relacionam as grandezas físicas, garantindo sua integridade di-
mensional, homogeneidade dimensional e na previsão de fórmulas físicas.
A figura 1.3 mostra um resumo da importância da análise dimensional.
Identifica grandezas

Análise dimensional Verifica a homogeneidade da equação

Prevê fórmulas a partir de conclusões de experimentos

Figura 1.3  –  Resumo da análise dimensional.

A análise dimensional consiste, basicamente em expressar todas as relações


em função de três dimensões fundamentais, também conhecidas como primitivas

capítulo 1 • 13
cuja conceituação independe de outras grandezas; são elas a massa (M), o compri-
mento (L) e o tempo (t), como mostra a tabela 01. Neste caso, algumas grandezas
comuns em mecânica dos fluidos seriam facilmente expressas da forma seguinte:

COMPRIMENTO TEMPO MASSA


m s Kg

L T M

Tabela 1.1  –  Dimensões fundamentais.

Algumas das grandezas comuns em mecânica dos fluidos são:


•  Área: [L2]
•  Volume: [L3]
•  Densidade: [ML-3]
•  Velocidade: [Lt-1]
•  Aceleração: [Lt-2]
•  Força: [MLt-2]
•  Pressão: [ML-1t-2]
•  Energia/trabalho/calor: [ML2t-2]
•  Potência: [ML2t-3]
•  Torque: [ML2t-2]
•  Tensão: [ML-1t-2]

Exemplos de análise dimensional.

 ∆s 
1. Velocidade  v =  [m / s]
 ∆t 

∆s = L
∆t = T
L
[v] = ⇒ [ v ] = LT −1
T
 ∆v 
2. Aceleração  α =  [m / s2 ]
 ∆t 

∆v = LT-1

capítulo 1 • 14
∆t = T

LT −1
[ α] = ⇒ [ α] = LT −2
T

3. Força (F = m ⋅ a )N ( kg ⋅ m / s 2 )

[m] = M
[α] = LT-2
[F] = MLT-2

Uma equação física verdadeira deve ser dimensionalmente homogênea, isto é,


deve ter ambos os membros a mesma equação dimensional.

EXEMPLO
Nas equações I e II
I: A = B + C
II: D = E · F
Em que A, B, C, D, E e F são grandezas físicas. [A], [B], [C], [D], [E] e [F] são suas respec-
tivas fórmulas dimensionais.

EXEMPLO
Vamos admitir uma equação do tipo y =  · k · w; qual deve ser a fórmula dimensional da
grandeza k para que a equação seja dimensionalmente homogênea?

[ y ] = ML−1T −2 ,[λ ] = ML−3 e [ w ] = L


[ y ] = [λ ].[ k ][ w ]
ML−1T −2 = ML−3 .[ k ].L
M M
2
= 3 .[ k ].L
LT L
[ k ] = LT −2 (aceleração )

capítulo 1 • 15
Sistema Internacional de Unidades (SI)

O Bureau Internacional de Pesos e Medidas (BIPM) foi criado pela Convenção


do Metro, Convenção Internacional assinada em Paris em 20 de maio de 1875
por 17 estados livres, inclusive o Brasil. O propósito da Convenção do Metro era
estabelecer uma autoridade internacional no campo da metrologia, e dela resultou
a adoção do metro como unidade básica de medida do comprimento; Neto, 2012.
Segundo o Inmetro, 2012, por convenção as grandezas físicas são organizadas
segundo um sistema de dimensões. Cada uma das sete grandezas de base do SI é
considerada como tendo sua própria dimensão, que é simbolicamente representa-
da por uma única letra maiúscula em tipo romano sem serifa. Os símbolos utili-
zados para as grandezas de base e os símbolos utilizados para indicar sua dimensão
são dados a seguir na tabela 1.2.
As definições atuais de algumas das principais unidades de base, extraídas dos
Comptes Rendus (CR) das respectivas CGPM em que foram aprovadas, são:

GRANDEZAS DE BASE E DIMENSÕES UTILIZADAS NO SI


GRANDEZAS DE SÍMBOLO DE SÍMBOLO DE
BASE GRANDEZA DIMENSÃO
Comprimento l, x, r, etc. L

Massa m M

Tempo, duração t T

Corrente elétrica I, i I

T e m p e r a t u r a
T θ
termodinâmica

Quantidade de substância n N

Intensidade luminosa Iv J

Tabela 1.2  –  Sistema internacional de Unidades, Inmetro, 2012, p. 17.

É importante se fazer a distinção entre a definição de uma unidade e a realiza-


ção prática dessa definição. A definição de cada unidade de base do SI é redigida

capítulo 1 • 16
cuidadosamente, de maneira que ela seja única e que forneça um fundamento teó-
rico sólido que permita realizar medições mais exatas e mais reprodutivas. A reali-
zação da definição de uma unidade e o procedimento segundo o qual a definição
da unidade pode ser utilizada a fim de estabelecer o valor e a incerteza associada
de uma grandeza de mesmo tipo que a unidade. Uma descrição da maneira como
as definições de algumas unidades importantes são realizadas na prática é dada
na página da internet do BIPM, nos seguintes endereços: <www.bipm.org/en/si/
si_brochure/> (em inglês) ou <www.bipm.org/fr/si/si_brochure/> (em francês).
Inmetro, 2012.

Unidade de comprimento (metro)

A definição do metro atual, de acordo com o Inmetro, 2012 é a da 17a CGPM


(1983, Resolução 1; CR 97 e Metrologia, 1984, 20, 25) e diz que,:

O metro é o comprimento do trajeto percorrido pela luz no vácuo durante um intervalo


de tempo de 1/299 792 458 de segundo.

Unidade de massa (quilograma)

A 3a CGPM (1901; CR, 70), conforme o Inmetro, 2012, numa declaração


para acabar com a ambiguidade existente no uso corrente da palavra “peso”, con-
firmou que:

O quilograma é a unidade de massa; ele é igual à massa do protótipo internacional do


quilograma.

Unidade de tempo (segundo)

A definição do segundo foi dada pela 13a CGPM (1967/68, Resolução 1; CR


103 e Metrologia, 1968, 4, 43) substituiu a definição do segundo pela seguinte:

O segundo é a duração de 9.192.631.770 períodos da radiação correspondente à


transição entre os dois níveis hiperfinos do estado fundamental do átomo de césio
133.

capítulo 1 • 17
Conclui-se que a frequência de transição hiperfina do estado funda-
mental do átomo de césio 133 é exatamente igual a 9.192.631.770 hertz,
v(hfs Cs) = 9.192.631.770 Hz.
Na sessão de 1997, o CIPM confirmou que essa definição se refere a um áto-
mo de césio em repouso, a uma temperatura de 0 K. Inmetro, 2012.

Unidade de temperatura termodinâmica (kelvin)

A definição de temperatura termodinâmica foi dada pela 13a CGPM


(1967/68, Resolução 3; CR, 104 e Metrologia, 1968, 4, 43) que adotou o nome
kelvin, símbolo K, em vez de “grau kelvin”, com o símbolo ºK, e assim definiu a
unidade de temperatura termodinâmica como se segue (1967/68, Resolução 4;
CR, 104 e Metrologia, 1968, 4, 43) Inmetro, 2012:

O kelvin, unidade de temperatura termodinâmica, é a fração 1/273, 16 da temperatura


termodinâmica do ponto triplo da água.

Disso resulta que a temperatura termodinâmica do ponto triplo da água é


exatamente 273,16 kelvins, Ttpw = 273,16 K.

A unidade de temperatura Celsius é o grau Celsius, símbolo ºC, igual a uni-


dade kelvin, por definição. Um intervalo ou uma diferença de temperatura pode
ser expresso tanto em kelvins quanto em graus Celsius (13a CGPM, 1967/68,
Resolução 3, mencionada anteriormente), o valor numérico da diferença de tem-
peratura é o mesmo. Contudo, o valor numérico de uma temperatura Celsius,
expressa em graus Celsius, está relacionado ao valor numérico da temperatura
termodinâmica expresso em kelvins pela relação:

t / ºC = T/K - 273,15

O kelvin e o grau Celsius também são as unidades da Escala Internacional de


Temperatura de 1990 (EIT-90) adotada pelo CIPM 1989 em sua Recomendação
5 (CI-1989; PV, 57, 26 (fr) ou 115 (in) e Metrologia, 1990, 27, 13), Inmetro,
2012.

capítulo 1 • 18
Unidade de quantidade de substância (mol)

Adotando a proposta da IUPAP, da IUPAC e da ISO, o CIPM deu uma defi-


nição do mol em 1967 e confirmou-a em 1969. A seguinte definição do mol foi
adotada pela 14a CGPM (1971, Resolução 3; CR, 78 e Metrologia, 1972, 8, 36):

1. O mol é a quantidade de substância de um sistema que contém tantas entidades


elementares quantos átomos existem em 0,012 quilograma de carbono 12; seu sím-
bolo é “mol”.
2. Quando se utiliza o mol, as entidades elementares devem ser especificadas, po-
dendo ser átomos, moléculas, íons, elétrons, assim como outras partículas ou agrupa-
mentos especificados de tais partículas.

Conclui-se que a massa molar de carbono 12 é exatamente igual a 12 gramas


por mol, exatamente, M (12C) = 12 g/mol, Inmetro, 2012.

Prefixos do SI

A 11a CGPM (1960, Resolução 12; CR, 87) adotou uma série de nomes de
prefixos e símbolos de prefixos para formar os nomes e símbolos dos múltiplos e
submúltiplos decimais das unidades do SI variando de 1012 a 10–12. Os prefixos
para 10–15 e 10–18 foram adicionados pela 12a CGPM (1964, Resolução 8; CR,
94), os prefixos para 1015 e 1018 pela 15a CGPM (1975, Resolução 10; CR 106
e Metrologia, 1975, 11, 180-181) e os prefixos para 1021, 1024, 10–21, 10–24 pela
19a CGPM (1991, Resolução 4; CR; 97 e Metrologia, 1992, 29, 3). Os prefixos e
símbolos de prefixos adotados aparecem na tabela 1.3, Inmetro, 2012.

FATOR NOME SÍMBOLO FATOR NOME SÍMBOLO


101 deca da 10-1 deci d

102 hecto h 10-2 centi c

103 quilo k 10-3 mili m

106 mega M 10-6 micro µ

109 giga G 10-9 nano n

capítulo 1 • 19
FATOR NOME SÍMBOLO FATOR NOME SÍMBOLO
1012 tera T 10-12 pico p

1015 peta P 10-15 femto f

1018 exa E 10-18 atto a

1021 zetta Z 10-21 zepto z

1024 yotta Y 10-24 yocto y

Tabela 1.3  –  Prefixos do SI.

Os símbolos dos prefixos são impressos em tipo romano (vertical), do mesmo


modo que os símbolos das unidades, independentemente do tipo usado no texto,
e estão ligados aos símbolos das unidades sem espaço entre o símbolo do prefixo
e o símbolo da unidade.

EXEMPLO
2,3 cm3 = 2,3 (cm)3 = 2,3 (10–2 m)3 = 2,3 · 10–6 m3
1 cm–1 = 1 (cm)–1 = 1 (10–2 m)–1 = 102 m–1 = 100 m–1
1 V/cm = (1 V)/(10–2m) = 102V/m = 100 V/m
5.000 μs–1 = 5.000 (μs)–1 = 5.000 (10–6 s)–1 = 5 · 109 s–1

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ÇENGEL, Y. A. CIMBALA, J. M. Mecânica dos fluidos: Fundamentos e Aplicações 1. ed. McGrauHill,
2007.
Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Tacoma_Narrows_Bridge_(1940)>. Acesso em: 9 mar.
2015.
BILLAH, K.; R. SCANLAN (1991). Resonance, Tacoma Narrows Bridge Failure, and
Undergraduate Physics Textbooks.
BARENBLATT, G. I. (1996). Scaling, self-similarity and intermediate a symptotics. Cambridge
University Press.
ROMA, W. N. L. Fenômenos de Transporte para Engenharia, Ed. Rima, São Carlos: SP, 2. ed.,
2006.

capítulo 1 • 20
MUNSON, B. R., YOUNG, D. F., OKIISHI, T. H.; Fundamentos da Mecânica dos Fluidos, Ed. Edgard
Blücher, São Paulo: SP, 1. ed., 2004
Inmetro, SI sistema Internacional de Unidades, 2012.
NETO, J. C. da S.; Metrologia e Controle Dimensional; ed. Campus; Rio de Janeiro: RJ. 1. ed.; 2012.

capítulo 1 • 21
capítulo 1 • 22
2
Definição e
propriedades dos
fluidos
Definição e propriedades dos fluidos

OBJETIVOS
•  Definição de um fluido;
•  Propriedades dos fluidos;
•  Densidade específica e gravidade específica;
•  Princípio da aderência;
•  Viscosidade;
•  Viscosidade absoluta ou dinâmica;
•  Características do escoamento;
•  Viscosidade cinética;
•  Efeito da pressão na viscosidade;
•  Capilaridade;
•  Características de um escoamento ideal.

Definição de um fluido

Uma substância existe em três estados, também chamados de fases funda-


mentais, são elas: a fase sólida, líquida e gasosa. Existe ainda um quarto estado
chamado de plasma, que existe em temperaturas muito altas.
Segundo Cengel, 2007, uma substância no estado líquido ou gasoso é deno-
minada de fluido. A diferença entre um sólido e um fluido é verificada em sua
capacidade de resistência ao cisalhamento aplicado que tende a mudar sua forma.
O sólido é resistente a tal fenômeno e se deforma, enquanto o fluido deforma-se
continuamente sob a influência da tensão de cisalhamento, não importando a sua
intensidade. Em sólidos, a tensão é proporcional à deformação, já nos fluidos ela
é proporcional à taxa de deformação.
Para Brunetti, 2013, a definição mais elementar de fluido explica: fluido é
uma substância que não tem uma forma própria, assume o formato do recipiente.
Assim, fluidos são líquidos e gases, sendo que este difere daquele por ocupar todo
o recipiente e não apresentam uma superfície livre.

capítulo 2 • 24
CURIOSIDADE
Segundo Belísio, 2007, o termo plasma foi introduzido na física pelos cientistas Tonks
e Langmuir em 1922, para designar um sistema formado por partículas carregadas em mo-
vimento que interagem entre si, por meio de forças eletromagnéticas (FERNANDES et al.,
2001; BELLAN, 2004). Em ciências biológicas, a denominação plasma significa um fluido
claro que sobra depois de se remover todo o material corpuscular do sangue. Segundo Bel-
lan, 2004, esse conceito foi introduzido pelo fisiologista Jan Evangelista Purkinje.

Com a atenção voltada à física, pode-se dizer que quase todo o material do
universo apresenta-se em forma de gás ionizado, isto é, na forma de plasma. No
meio interestelar o plasma é de baixa temperatura e baixa densidade, enquanto
no interior das estrelas ele é extremamente quente e denso. As auroras boreais
(figura 2.1a) são exemplos de plasma de baixa temperatura e densidade; enquanto
que o centro do Sol, que tem uma temperatura de aproximadamente 107 K, e a
fotosfera, que tem uma temperatura de aproximadamente 6.000 K, são exemplos
de plasma de alta temperatura (figura 2.1b).

©© PIXABAY.COM

capítulo 2 • 25
©© NASA EARTH OBSERVATORY | WIKIMEDIA.ORG

Figura 2.1  –  Exemplos de Plasma: a) plasma frio: aurora boreal, b) plasma quente: Sol.
(BELÍSIO, A. S., 2007)

Um plasma pode ser caracterizado, entre outros, por dois parâmetros: a densi-
dade de partículas, n (número de partículas por unidade de volume) e sua tempe-
ratura T. Valores típicos desses parâmetros cobrem várias ordens de grandeza. Por
exemplo, para plasmas utilizados em fusão termonuclear, n ≈ 1022 m–3 e T ≈ 108
K; para a ionosfera, que é a camada de plasma que envolve o nosso planeta e tem
grande importância nas telecomunicações, n ≈1012 m-3 e T ≈ 102 K (FERNANDES
et al., 2001). O plasma utilizado em nitretação, por exemplo, possui uma densi-
dade de 10–4 íons por partícula neutra, ou seja, um íon para cada 10.000 átomos
(BALLES, 2004). Outro parâmetro importante do plasma é seu grau de ioniza-
ção, que é a fração das espécies neutras originais que foram ionizadas.
Uma das características mais importantes no comportamento do plasma é a
interação eletromagnética entre as partículas. Como as forças eletrostáticas variam
com o inverso do quadrado da distância, elas são de longo alcance, podendo assim
atuar sobre um considerável número de partículas; dessa forma, essa e outras for-
ças atuam de maneira coletiva no plasma.
Normalmente, um plasma é eletricamente neutro, sendo que qualquer desba-
lanceamento de carga resultará em campos elétricos que tendem a mover as cargas
de modo a restabelecer o equilíbrio. Como resultado disso, a densidade de elétrons
mais a densidade de íons negativos deve ser igual à densidade de íons positivos
(ALVES JR., 2001).

capítulo 2 • 26
Propriedades dos fluidos

O nome dado a qualquer característica de um dado sistema é chamada de


propriedade como a pressão P, temperatura T, volume V, massa m, viscosidade v,
condutividade térmica K, dentre outras.
Podemos considerar as propriedades como sendo intensivas e extensivas.
A propriedade é chamada de intensiva quando não depende da massa de um
sistema. Ex.: temperatura.
Já as propriedades extensivas, são as dependentes do tamanho do sistema. Ex.:
massa total.
As propriedades extensivas por unidade de massa são denominadas de pro-
priedades especificas. Como exemplo, podemos citar o volume específico v = V/m.
De forma geral, são usadas letras maiúsculas para indicar que a propriedade é
extensiva (a exceção é a massa m) e minúsculas para as intensivas (a exceção são
a pressão P e a temperatura T).
Segundo CENGEL, 2007, a descrição de um estado em um determinado sis-
tema é caracterizada por suas propriedades (não há necessidade de descrever todas
as propriedades do sistema para a determinação do estado). Uma vez que a uma de-
nominada quantidade foi especificada, as outras assumem valores. Como determi-
nar a quantidade de propriedades para determinar um estado? A resposta para essa
pergunta encontra-se no postulado de estado: o estado de um sistema compressível
simples é completamente definido por duas propriedades intensivas independentes.
Duas propriedades são independentes se uma delas puder variar enquanto a
outra for mantida constante, CENGEL, 2007.
Algumas propriedades são primordiais na análise de um fluido e representam a
base para o estudo dos fenômenos dos transportes; essas propriedades são específicas
para cada tipo de substância em análise e são muito importantes para uma correta ava-
liação dos problemas comumente encontrados na indústria. Dentre essas propriedades
podem-se citar a massa específica, o peso específico e o peso específico relativo.

Densidade específica e gravidade específica

A densidade específica é definida como a massa por unidade de volume, isto é:


m
p= (kg / m3 ) (2.1)
V

capítulo 2 • 27
O volume específico (v) é o inverso da densidade, ou seja, volume por unidade
de massa, ou seja:
1
v= (2.2 )
p

Em geral, a densidade de determinada substância depende da temperatura e


da pressão. Nos gases, em sua maioria, ela é proporcional à pressão e inversamente
proporcional à temperatura. Já os líquidos e os sólidos são substâncias essencial-
mente incompressíveis e a variação da sua densidade com a pressão geralmente é
desprezível, CENGEL, 2007.
A uma temperatura de 20 ºC, por exemplo, a densidade da água muda de
998 kg/m3 a 1 atm para 1.003 kg/m3 a 100 atm.
Em alguns casos, a densidade de uma determinada substância é dada em
relação à densidade de uma substância bem conhecida. É chamada de gravidade
específica ou densidade relativa, definida como a razão entre a densidade de uma
substância e a densidade de alguma substância padrão a uma temperatura especi-
ficada (geralmente água a 4 ºC para a qual págua = 1.000 kg/m3), CENGEL, 2007.
Assim:
p
GE = (2.3)
págua

O peso específico p de uma substância é o seu peso por unidade de volume,


com módulos dados por:

y = pg (2.4)

A unidade no SI é: N/m³.

COMENTÁRIO
A densidade de líquidos é essencialmente constante e, assim, podem ser consideradas
substâncias incompressíveis na maioria dos processos.
Um fluido incompressível é qualquer fluido cuja densidade sempre permanece constante
com o tempo, e tem a capacidade de opor-se à compressão do mesmo sob qualquer condição.

capítulo 2 • 28
Princípio da aderência

Quando as partículas de um determinado fluido estão em contato com super-



fícies sólidas, elas adquirem a mesma velocidade v do contorno dos pontos dessa
mesma superfície sólida que estabeleceram o contorno.
Consideremos duas placas sólidas distantes entre si, como as mostradas na fi-
gura 2.2a, em repouso na qual a distância h entre elas é preenchida por um fluido.
Ao aplicarmos uma força Ft na placa superior, figura 2.2b, essa força faz a placa

deslizar sobre o fluido com velocidade v o constante denominada de “velocida-
de limite”.

Ao atingir a velocidade limite, v o , pode-se dizer que ela está em equilíbrio
dinâmico, conforme a figura 2.2c ,e o somatório das forças é nula, ou seja, ∑Fi = 0.
Ft v Ft
v0
b v1 v1 h + dh v + dv
v2 τ τ τ v2
h a v3 h1 h2 h v
va = 0
(a) (b) (c)

Figura 2.2  –  Princípio da aderência.

Como consequência, surge uma tensão tangencial (t) entre camadas sucessi-
vas, escrita matematicamente como:
dv dv
τα ou τ = µ (2.5)
dh dh

Na equação 2.5, que é conhecido como a lei de Newton da viscosidade, v é a


viscosidade absoluta ou dinâmica do fluido, τ é a tensão tangencial entre camadas
simultâneas e dv é o gradiente de velocidade.
dh
Viscosidade

Os fluidos podem ser classificados de acordo com a relação entre tensão de


cisalhamento aplicada e a taxa de deformação (FOX; McDONALD, 1998).
A viscosidade pode ser definida como a propriedade de um fluido, devido à
coesão e interação entre moléculas do fluido e que oferece resistência à deformação
devida ao cisalhamento. Os fluidos diferentes deformam com valores diferentes

capítulo 2 • 29
para uma mesma tensão de cisalhamento. Fluidos com uma alta viscosidade de-
formam mais lentamente que fluidos com uma viscosidade baixa. Todos os fluidos
viscosos denominados “fluidos newtonianos” obedecem à relação linear denomina-
da lei da viscosidade de Newton.

Segundo Brunetti, 2013, Newton descobriu que em muitos fluidos a tensão


de cisalhamento é proporcional ao gradiente de velocidade, ou seja, à variação da
velocidade com h.
dv
τα (2.6 )
dh

Em que τ é a tensão de cisalhamento e dv é o gradiente da velocidade.


dh
1 · 10–2
8
6
1 m2/s = 10,8 pé2/s
4
Ól

2
eo
SA

1 · 10 –3
E3
Ól

8
Gl
0
eo

ice

6
SA

rin
E

4
a
10
W
-3

Hélio
0

2
Viscosidade cinemática, v (m2/s)

Hidrogênio
1 · 10–4
8
Ól

6
eo
SA

4
E

Metano
10
W

2 Ar

1 · 10–5
8 no
de carbo
6 Bióxido
4
Quer
osen
2 Ág e
ua
1 · 10 –6

8 Heptano
6
Octano
4
Tetracioret
o de carbon
2 o
Mercúrio
1 · 107
8
6
–20 0 20 40 60 80 100 120
Temperatura, T (°C)

Figura 2.3  –  Viscosidade cinemática de fluidos comuns (à pressão atmosférica) como uma
função da temperatura (FOX; McDONALD, 1998).

capítulo 2 • 30
Viscosidade absoluta ou dinâmica

De acordo com a equação 2.6, na lei de Newton da viscosidade, há uma


proporcionalidade entre a tensão de cisalhamento e o gradiente da velocidade
(BRUNETTI, 2013). Assim, se faz necessária a introdução de um coeficiente de
proporcionalidade da equação 2.6. Assim, o coeficiente é indicado por τ e chama-
do de viscosidade dinâmica ou absoluta.
A equação 2.6 fica na forma
dv
τ=µ (2.7 )
dh

O coeficiente v é uma propriedade do fluido bem como de suas condições,


como exemplo, temos a temperatura. Segundo Brunetti, 2013, a viscosidade de
um fluido tem como origem a coesão entre moléculas, assim como os choques
entre elas.
A viscosidade não é uma propriedade que se possa observar num fluido em
repouso, porque qualquer que seja a força tangencial, o fluido vai deformar.
Portanto, pode-se dizer que viscosidade dinâmica é a propriedade dos fluidos
que permite equilibrar, dinamicamente, forças tangenciais e externas quando os
fluidos estão em movimento. Matematicamente, v é a constante de proporcio-
nalidade da lei de Newton da viscosidade. De foma simplificada, viscosidade é
a propriedade que indica a maior ou menor dificuldade de o fluido escoar
(escorrer); Brunetti, 2013.
Cada fluido possui um valor diferente de viscosidade dinâmica e pode variar,
também, para um mesmo fluido, principalmente com a variação de temperatu-
ra. Vale ressaltar que os gases e os líquidos possuem comportamentos diferentes
quanto a esse aspecto.
Segundo Brunetti, 2013, a viscosidade dos líquidos diminui com o aumento
da temperatura, ao passo que nos gases ocorre o oposto.

Características do escoamento

Quando um fluido está em movimento, podemos classificá-lo em dois tipos


de escoamento, são eles: regular ou laminar e turbulento.
O fluxo é dito regular ou laminar, se cada partícula do fluido segue uma tra-
jetória plana, de modo que as trajetórias das diferentes partículas nunca se cruzem

capítulo 2 • 31
uma com a outra, como na figura 2.4. Portanto, quando o fluxo é constante,
a velocidade em qualquer ponto do fluido permanece constante. (SERWAY &
JEWETT, 2014)

Figura 2.4  –  Movimento laminar.

Acima de uma velocidade crítica (que depende da viscosidade), o fluxo do fluido


torna-se turbulento. O fluxo turbulento é um fluxo irregular caracterizado apenas por
regiões de redemoinhos, como mostra a figura 2.5. Exemplificando, tem-se o fluxo de
água em um rio tornando-se turbulento em regiões com rochas e outros obstáculos,
muitas vezes formando corredeiras “de água branca” (SERWAY & JEWETT, 2014).
©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 2.5  –  Turbulência causada pela asa de um avião.

capítulo 2 • 32
Viscosidade cinética (v)

A viscosidade cinética é o quociente entre a viscosidade dinâmica e massa


específica, isto é:
µ
ν= (2.8)
ρ
2
A unidade no SI da viscosidade cinética é m .
s
O nome viscosidade cinemática deve-se ao fato de a grandeza não envol-
ver forças, somente comprimento e tempo, que são grandezas fundamentais da
cinemática.

CURIOSIDADE
São exemplos de fluidos newtonianos a água, o leite e os óleos vegetais, soluções
açucaradas, veja exemplos nas figuras 2.6 a 2.8.
©© WALTER J. PILSAK | WIKIMEDIA.ORG

Figura 2.6  –  Água.

capítulo 2 • 33
©© AFRICA STUDIO | SHUTTERSTOCK.COM

Figura 2.7  –  Leite.


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Figura 2.8  –  Óleo vegetal.

capítulo 2 • 34
Já como fluidos não newtonianos independentes do tempo, temos
os seguintes:
99 Plásticos: a tensão aplicada deve atingir certo valor mínimo antes de iniciar
o escoamento. Um exemplo típico são os cremes dentais, que não fluem para o
exterior até apertarmos o tubo e empregarmos certo esforço (nestes fluidos n = 1).
99 Plástico tipo Bingham: tal como o plástico (n = 1) a tensão deve atingir
um valor mínimo. Como exemplo: chocolate, mostarda, ketchup, maionese, tin-
tas, asfalto, sedimentos de águas residuais.
99 Pseudoplásticos: não é necessária uma tensão mínima para se dar o es-
coamento. A viscosidade diminui com o aumento da taxa de tensão. Exemplos:
plasma sanguíneo, polietileno fundido, soluções polímeras e polpa de papel em
água (n < 1). Conhecidos como não dilatantes.
99 Fluidos dilatantes: a viscosidade aumenta com a taxa de deformação (n >1).
No gráfico, a tensão de corte se encontra por baixo da tensão de corte dos fluidos
newtonianos. Inicia com uma inclinação baixa, o que indica baixa viscosidade apa-
rente. Suspensões de amido e de areia.
99 Fluidos tixotrópicos: existem também fluidos não newtonianos depen-
dentes do tempo, os quais são complicados de analisar e denominados fluidos ti-
xotrópicos. Neles, o gradiente de velocidade varia com o tempo. Exemplo: alguns
óleos de petróleo cru à baixa temperatura, a tinta de impressão, o nylon, a massa
de farinha e várias soluções de polímeros.

Efeito da pressão na viscosidade

A alta pressão pode também provocar mudanças na viscosidade de um líqui-


do. As pressões aumentam o movimento relativo das moléculas, requerendo mais
energia e dessa forma aumenta a viscosidade. Em gases, a viscosidade é pratica-
mente independente da pressão desde alguns centésimos de atmosfera até várias
atmosferas. Para altas pressões, a viscosidade aumenta com a pressão. Na maioria
dos líquidos, a viscosidade não é afetada pela pressão, contudo para pressões muito
elevadas, a viscosidade aumenta com o aumento da pressão. Por exemplo, a visco-
sidade da água a 10.000 atm, corresponde a duas vezes o valor de 1 atm.

capítulo 2 • 35
Capilaridade

A tensão superficial origina, em tubos de pequeno diâmetro, uma subida ou


descida, dependendo do grau de adesão e coesão do líquido nas paredes do tubo.
Esse fenômeno é denominado de capilaridade. Os líquidos sobem nos tubos que
eles molham (adesão > coesão) e descem nos tubos que não molham (coesão >
adesão). Para tubos com diâmetro menor que 10 mm, a capilaridade é importan-
te, mas é desprezível para tubos com diâmetros maiores que 12 mm. Em mecânica
dos fluidos, a capilaridade é importante em problemas de movimento dos líquidos
no solo ou em outros meios porosos, no escoamento de filmes finos, formação de
gotas e quebra do jato de líquidos.

Características de um escoamento ideal

Podemos definir escoamento ideal ou escoamento sem atrito, como aquele


em que não existem tensões de cisalhamento atuando no movimento do fluido.
Segundo Fox & McDonald, 1998, a principal subdivisão indicada é entre o
escoamento viscoso e não viscoso (invíscido). Ao escoamento em que os efeitos
da viscosidade (v) são desprezíveis é dado o nome de escoamento invíscido. Nesse
tipo de escoamento, a viscosidade do fluido (v) é considerada igual a zero. Fluido
com viscosidade nula não existe; porém, para efeitos de simplificação em alguns
problemas a hipótese de inexistência de forças viscosas simplifica a sua análise,
bem como leva a resultados que são significativos. A figura 2.9 mostra as classifi-
cações possíveis de mecânica dos fluidos.

Mecânica dos fluidos

Não viscoso ou
Viscoso
Invíscodo

Laminar Turbulento

Compressível Incompressível Interno Externo

Figura 2.9  –  Classificações possíveis de mecânica dos fluidos.

capítulo 2 • 36
O estudo do escoamento viscoso é em decorrência de que todos os fluidos
possuem viscosidade e seu estudo é de grande importância.
Em um fluido em movimento, sua velocidade que está em contato com uma
superfície sólida estacionária é zero. Sabendo que todo o fluido encontra-se em
movimento, gradientes de velocidade e de tensões de cisalhamento devem estar
presentes no escoamento e como consequência, essas tensões afetam o movimento
do fluido (FOX & McDONALD, 1998).

a) Escoamento estacionário
Quando o escoamento é estacionário, as grandezas que o caracterizam não
variam no tempo.
b) Escoamento incompressível
Em geral, os líquidos podem ser considerados incompressíveis, mas os gases
por outro lado, são bastante compressíveis.
c) Escoamento irrotacional
Um escoamento é considerado irrotacional quando não possui velocidade an-
gular, o que elimina a possibilidade de existirem vórtices e turbulência.
d) Escoamento invíscido
A viscosidade está associada à fricção entre as moléculas do fluido. Um fluido
invíscido escoaria livremente sem perdas internas de energia, devido à fricção e às
perdas por arrasto que não existiriam junto às paredes do condutor.
e) Escoamento viscoso
Na realidade, devido à viscosidade, quando um fluido escoa em um tubo, a
velocidade é nula nas paredes e vai aumentando gradualmente até atingir seu valor
máximo no centro do condutor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BELLAN, P. M. Fundamentals of Plasma Physics, published by cup, 2004; p. 1-3.
FERNADES, A. S.; MARQUES, W. Propagação de Ondas Longitudinais Eletrostáticas em Plasmas,
Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 23, no. 2, junho, 2001.
ALVES JR., C. Nitretação a Plasma: Fundamentos e Aplicações, EDUFRN, Natal, Brasil, 2001.
BELÍSIO, A. S. Simulação da transferência de calor em amostras aquecidas por plasma,
Dissertação de Mestrado, UFRN, 2007.
CENGEL, Y. A. CIMBALA, J. M. Mecânica dos fluidos: Fundamentos e Aplicações 1. ed. McGrauHill,
2007.

capítulo 2 • 37
BRUNETTI, F. Mecânica dos Fluidos, 2. ed. Ed. Pearson, São Paulo: SP, 2013.
ROMA, W. N. L., Fenômenos de Transporte para Engenharia, 2. ed.; Ed. Rima, São Paulo: SP, 2006.
FOX, R. W. McDONALD, A. T. Introdução à Mecânica dos Fluidos, 5. ed., Ed. LTC, Rio de Janeiro: RJ,
1998.
NUSSENZVEIG, H., M. Curso de Física Básica. v. 2 – Fluidos, Oscilações, Calor e Ondas, 4. ed. Ed.
Edgard Blücher Ltda; São Paulo: SP, 2002.
SERWAY, R., A.; JEWETT, J., W., JR. Princípios de Física – Movimento Ondulatório e Termodinâmica,
v. 2, ed. 5. ed. Cengage Learning, São Paulo: SP, p. 107, 2014.

capítulo 2 • 38
3
Estática dos fluidos
Estática dos fluidos

OBJETIVOS
•  Estática dos fluidos;
•  Pressão hidrostática;
•  Teorema de Stevin;
•  Princípio de Pascal;
•  Princípio de Arquimedes.

Pressão e pressão hidrostática

Pressão

Vamos imaginar uma força aplicada em uma superfície de um corpo, com


a força cujas componentes paralelos e perpendiculares à superfície. Se o corpo é
um sólido em repouso sobre uma mesa, a componente da força perpendicular à
superfície pode levar esse corpo a se achatar, dependendo de quanto rígido seja o
objeto. Supondo que ele não deslize pela mesa, a componente da força paralela à
superfície do corpo o levará a se distorcer (SERWAY & JEWETT, 2014).
Temos a ponta de um prego como exemplo, o objetivo é diminuir a área de
contato entre ele a madeira. Desta forma, a força que um fluido exerce sobre uma
superfície tem sua origem de colisões das moléculas do fluido com a superfície.
Cada colisão resulta na reversão da componente do vetor velocidade da molécula
perpendicular à superfície. Pelo teorema do momento, bem como a terceira lei
de Newton, cada colisão resulta em uma força sobre a superfície. (SERWAY &
JEWETT, 2014)
Quando uma força é aplicada sobre uma superfície, essa força pode ser de-
composta em dois efeitos: um tangencial, que dá origem a tensões de cisalhamen-
to, e outra normal, dando origem às pressões.

capítulo 3 • 40
Se uma força Fn (força normal) que age numa superfície cuja área A, e dFn
a força normal infinitesimal que age numa área infinitesimal dA, a pressão num
ponto será dada por:
dFn
P= (3.1)
dA

No caso em que a pressão seja uniforme, sobre a área ou caso se busque a


pressão média, então temos:
Fn
P= (3.2 )
A

Assim, a unidade de pressão é N/m2 no SI. Um outro nome para a unidade de


pressão no SI é o pascal (Pa), dessa forma:

1 Pa = 1 N/m2

CURIOSIDADE
Os mergulhadores sabem que a pressão, abaixo da superfície da água, aumenta com
a profundidade. Eles usam um medidor de profundidade, que na verdade é um sensor
de pressão.
Podemos perceber que força e pressão são grandezas distintas. É possível ter uma pres-
são muito grande a partir de uma força relativamente pequena quando se diminui a área onde
está a força aplicada. É o caso de agulhas utilizadas em seringas. A área da ponta de uma
agulha, por ser muito pequena, faz uma pequena força de intensidade empurrar a agulha,
esta força é suficiente para que a pressão seja grande o bastante para perfurar a pele. É
possível ainda criar uma pressão pequena a partir de uma força grande, a partir da ampliação
da área em que a força atua. Esse é o princípio por trás da produção dos sapatos para neve,
os quais possibilitam que a força sobre a neve originada do peso exercido por uma pessoa
possa ser espalhada sobre uma área maior, reduzindo a pressão o suficiente para a superfí-
cie da neve não ceder.
A atmosfera de um planeta exerce pressão sobre a superfície do mesmo. Na superfície
da Terra e sobre tudo que se encontra em sua superfície, a pressão atmosférica na Terra é
considerada como sendo:

capítulo 3 • 41
1 atm = 1,013 = 105 Pa (Pascal)

1 atm = 1.013,25 hPa (hectopascal)

1 atm = 1,033 kgf/cm² (quilograma-força por centímetro quadrado)

1 atm = 1,01325 bar

1 atm = 14,6959487755 psi (libra por polegada quadrada)

1 atm = 760 mmHg (milímetro de mercúrio)

1 atm = 29,92126 polHg (polegada de mercúrio)

1 atm = 10,1797339656 mca (metro de coluna de água – mH2O)

Tabela 3.1  –  Conversão de atm para outras unidades.

CURIOSIDADE
As pressões que são superiores à pressão atmosférica são usadas na medicina hiperbá-
rica ou oxigenoterapia hiperbárica (OHB). Tal terapia foi desenvolvida inicialmente para tratar
distúrbios associados com acidentes relacionados a mergulho, como doenças descompres-
sivas e embolias. Atualmente, é usada para um grande leque de situações médicas.
Para que o paciente possa receber oxigenoterapia hiperbárica, ele fica reclinado em
câmaras especiais (SERWAY & JEWETT, 2014).
Para mais informações acesse: <http://sbpt.org.br/espaco-saude-respiratoria-
oxigenoterapia/>. Acesso em: 9 maio 2016.

Pressão e pressão hidrostática

A hidrostática pode ser chamada de estática dos fluidos ou fluidostática


(hidrostática, cujo nome é uma referência histórica do primeiro fluido estudado,
a água) e é a área da física que estuda as forças exercidas por fluidos em repouso.

capítulo 3 • 42
Equação básica da estática dos fluidos

A fim de obtermos uma equação que nos possibilite a determinação do cam-


po de pressão em um fluido estático, deve ser aplicada a segunda lei de Newton.
Tomemos um elemento diferencial de massa dm = ρdV , com lados dx, dy, dz,
como mostrado na figura 3.1.

dy
2
p y o dy p y
p (dxdz)( j ) p (dxdz)( j )
p 2 p 2
dx
y

Figura 3.1  –  Campo de fluido no qual forças superficiais de campo estão atuando na dire-
ção y.

Existem dois tipos de campos (genéricos) que podem ser aplicados em um


fluido, são as forças de campo e as de superfície.
Na maioria dos problemas de engenharia, a única força de campo que deve
considerada é aquela que decorre do campo gravitacional, em algumas situações
cuja origem são os campos elétricos ou magnéticos, quando esses estão presentes.
Considerando um elemento de fluido diferencial, a força de campo é dada por:
  
dFB = gdm = gρdV (3.3)


Em que ge é a aceleração da gravidade local,  é a massa densidade (massa
específica) é o volume do elemento diferencial. Em coordenadas cartesianas, tem-
 
se que a equação 3.3 passa a ser escrita na forma dFB = ρgdxdydz .
A pressão é um campo escalar que é dado como p = (x, y, z); em que ela varia
com a posição dentro do fluido. A força resultante da variação da pressão é dada pela

capítulo 3 • 43
soma das forças que atuam em todas as faces do elemento do fluido. A força líquida
de pressão que resulta dessa variação pode ser avaliada somando-se todas as forças
que atuam nas seis faces do elemento fluido (FOX, R. W., McDONALD, 1998).
Seja p a pressão no centro O do elemento. A fim de determinarmos a pressão
em cada uma das seis faces do elemento, utilizaremos um desenvolvimento em
série de Taylor da pressão em torno do ponto O. A pressão na face esquerda do
elemento diferencial é dada pela equação 3.4 (FOX, R. W., McDONALD, 1998).
∂p ∂p  dy  ∂p dy
pL = p +
∂y
( y L − y ) = p + −  = p −
∂y  2  ∂y 2
(3.4 )

Segundo Fox, R. W. & McDonald, 1998, os termos de ordem mais elevadas


são omitidos porque desaparecem no processo de desenvolvimento. Assim, a pres-
são na face interna do elemento diferencial é:
∂p ∂p dy
pR = p +
∂y
( yR − y) = p +
∂y 2
(3.5)

As forças de pressão que atuam nas duas superfícies y do elemento diferencial


foram mostradas na figura 3.1. Cada força de pressão é um produto de três ter-
mos. Sendo o primeiro a magnitude da pressão, que é multiplicada pela área da
face para dar magnitude da força de pressão. A introdução de um vetor unitário é
para indicar o sentido. Podemos perceber que a força de pressão atua contra a face.
Assim, uma pressão positiva corresponde a uma tensão normal de compressão
(FOX, R. W., McDONALD, 1998).
As forças de pressão nas outras faces do elemento são obtidas do mesmo modo.
Combinando todas essas forças, obtemos a força superficial total agindo sobre o
elemento. Dessa forma, de acordo com Fox, R. W., McDonald, 1998:
  ∂p dx   ∂p dx 
dFS =  p −
 ∂x 2  ()
 (dydz ) ˘i +  p −
 ∂x 2 
( )
 (dydz ) −˘i

 ∂p dy   ∂p dy 
+ p −
 ∂y 2 
()
 (dxdz ) ˘j +  p −
 ∂y 2 
( )
 (dxdz ) −˘j (3.6 )

 ∂p dz   ∂p dz 
+ p −
 ∂z 2 
()
 (dxdy ) k˘ +  p −
 ∂z 2 
( )
 (dxxdy ) − k˘

capítulo 3 • 44
Agrupando e simplificando termos:
  ∂p ∂p ∂p 
dFS = −  ˘i + ˘j + k˘  dxdydz (3.7 )
 ∂x ∂y ∂z 

O termo entre parêntese na equação 3.7 é denominado de gradiente de (ou


da) pressão e pode ser escrito grad p ou ∇p. Em coordenadas retangulares, confor-
me explicitam Fox, R. W., McDonald, 1998:

 ∂p ∂p ∂p   ∂ ∂ ∂
grad p ≡ ∇p ≡ ˘i + ˘j + k˘  ≡ ˘i + ˘j + k˘  p (3.8)
 ∂x ∂y ∂z   ∂x ∂y ∂z 

O operador gradiente na equação 3.8 pode ser visto como um operador veto-
rial; tomando-se o gradiente de um campo escalar, obtém-se um campo vetorial.
Usando a designação de gradiente, a equação 3.8 pode ser escrita como descrevem
Fox, R. W., McDonald, 1998:

dFS = −grad p (dxdydz ) = −∇pdxdydz (3.9)

Forças decorrentes da pressão

A pressão exercida pela água é sempre perpendicular à superfície (da barra-


gem ou da comporta) e varia com a profundidade.
Considere um volume cúbico de água. Estando este em repouso, o peso da
água acima dele necessariamente estará contrabalançado pela pressão interna neste
cubo. Para um cubo cujo volume tende para zero, ou seja, um ponto, esta pressão
pode ser expressa por:

P = r gh (3.10)

Em que no SI:
•  P é a pressão hidrostática (em Pascal);
•  p é a massa específica da água, ou densidade (em quilogramas por me-
tro cúbico);
•  g ou a é a aceleração da gravidade (em metros por segundo ao quadrado);
•  h é a altura do líquido por cima do traço (em metros).

capítulo 3 • 45
No caso de a pressão atmosférica não ser desprezível, é necessário acrescentar
o valor da sua pressão, tomando a equação 3.10 o seguinte aspecto:

p = patm + r gh (3.10)

Figura 3.2  –  Pressão hidrostática num ponto de um fluido.

Teorema de Stevin

Simon Stevin foi um físico e matemático belga que concentrou suas pesquisas
nos campos da estática e da hidrostática, no final do século 16 (1586), também
desenvolveu estudos no campo da geometria vetorial. Entre outras coisas, de-
monstrou, experimentalmente, que a pressão exercida por um fluido em repouso,
com sua superfície livre em contato com a atmosfera depende exclusivamente da
sua altura.
Segundo Brunetti, 2013 o teorema de Stevin também é conhecido por teore-
ma fundamental da hidrostática e pode ser enunciado como:

A diferença de pressão entre dois pontos de um fluido em repouso é igual ao produto


especifico do fluido pela diferença de cotas dos fluidos.

É possível verificar que a lei de Stevin não depende da área de contato do


líquido. Apesar de recipientes terem bases com áreas diferentes, como na
figura 3.3, as bases são submetidas à mesma pressão, uma vez que o líquido está
com a mesma altura.

capítulo 3 • 46
P=0d

a
h
b
z

Figura 3.3  –  Fluido em vasos comunicantes.

Logo, a diferença de pressão entre dois pontos genéricos é igual ao produto


do peso específico do fluido pela diferença de cotas entre os dois pontos, como se
queira demonstrar. (BRUNETTI, 2013)
Observações importantes:
•  Na diferença de pressão entre dois pontos não é importante a distância en-
tre eles, mas sim a diferença de cotas.
•  A pressão de dois pontos quaisquer num mesmo plano ou nível horizontal
é a mesma.
•  Não é importante o formato do recipiente para o cálculo da pressão em
algum ponto do fluido. Por exemplo, na figura 3.3, em qualquer ponto do nível
a, tem-se a mesma pressão Pa, e em qualquer ponto do nível b, tem a pressão Pb
desde que seja o mesmo fluido.
•  Se a pressão na superfície livre de um líquido contido em um recipiente for
P = 0 (nula) a pressão num ponto a uma profundidade h dentro do líquido será
dada pela equação 3.9.
•  Nos gases, devido ao peso específico ser pequeno, se a diferença de pressão
não é muito grande, pode-se desprezar a diferença de pressão entre eles, segundo
a figura 3.4.

gás
A
B

C
PA ≅ PB ≅ PC

Figura 3.4  –  Diferença de pressão em um gás.

capítulo 3 • 47
A expressão matemática usada para determinar a pressão hidrostática é a equação 3.10:

P = Patm + r gh (3.12)

Sendo que:
P é a pressão em um certo ponto do líquido;
Patm é a pressão atmosférica;
r é a massa específica;
g é a aceleração da gravidade;
h é a profundidade do ponto de pressão z.

CURIOSIDADE
Os pedreiros, para nivelar dois pontos em uma obra, costumam usar uma mangueira
transparente, cheia de água. Outro exemplo de vaso comunicante é o sistema de sifão exis-
tente nos vasos sanitários e que impede que o mau cheiro do esgoto penetre no banheiro.

Pressão atmosférica

A pressão atmosférica é a pressão hidrostática devido ao peso do ar acima do


ponto de medição. Áreas de baixa pressão têm menos massa atmosférica acima do
local, enquanto que as áreas de alta pressão têm mais massa atmosférica acima do
local. Da mesma forma, quanto maior for a elevação, menos massa atmosférica
acima haverá, por isso que a pressão diminui com o aumento da altitude.
Na época de Galileu, um construtor projetou, para os jardins do Duque de
Toscana uma bomba aspirante muito elevada, mas verificou-se que a água podia
ser aspirada a uma altura superior a 10 m. A experiência foi dada por um estudan-
te de Galileu, Evangelista Torricelli, que foi seu sucessor na Academia de Florença.
Torricelli afirmou: “Vivemos no fundo de um oceano de ar, que conforme mostra a
experiência, sem dúvida tem peso.” devendo, portanto, exercer sobre um corpo uma
pressão atmosférica (NUSSENZVEIG, 2002).
Se esta pressão era justamente suficiente para elevar uma coluna de água a uma
altura de aproximadamente 10 m,Torricelli previu que elevaria uma coluna de mer-
cúrio (13,6 vezes mais denso de que a água) a uma altura de 10 m/13,6 /76 cm. A
experiência conhecida hoje como "experiência de Torricelli" foi realizada em 1643

capítulo 3 • 48
por seu colega Vicenzo Viviani: um tubo de vidro de aproximadamente 1 m de
comprimento, fechado numa extremidade cheio de mercúrio, foi invertido numa
cuba de mercúrio, tampando antes com o dedo a extremidade aberta (figura 3.1). A
coluna de mercúrio baixa até uma altura aproximada de 76 cm. Como no "espaço
de Torricelli" acima da coluna forma-se um bom vácuo (a pressão de vapor do mer-
cúrio é muito pequena), a equação 3.10 mostra que a pressão atmosférica p0 é dada
por p0 = r gh, em que r é a densidade do mercúrio. O instrumento constitui um
barômetro de mercúrio: a altura da coluna de mercúrio permite obter diretamente a
pressão atmosférica (NUSSENZVEIG, 2002).

©© WIKIMEDIA.ORG
Tomando conhecimento desta ex-
periência, Pascal concluiu que a altura
da coluna barométrica devia diminuir
no topo de uma montanha, onde a
pressão atmosférica deveria ser menor.
Pediu a seu cunhado Périer que fizesse a
experiência no topo de uma montanha
chamada Puy de Dome, e o resultado foi
que, para uma diferença de altitude da
ordem de 1 000 m, a coluna de mer-
cúrio baixava aproximadamente 8 cm
(1648). Em 1654, Otto vonGuericke,
burgomestre de Magdeburgo, realizou
uma demonstração espetacular da pres-
são atmosférica. Conseguiu produzir
um bom vácuo numa esfera de cobre
formada juntando dois hemisférios,
e duas parelhas, de oito cavalos cada e
não conseguiu separá-los. Essas expe- Figura 3.5  –  Experiência de Torricelli: na
riências tiveram um papel importante, parte superior do tubo há quase vácuo.
eliminando o preconceito do "horror ao
vácuo" (NUSSENZVEIG, 2002).

O manômetro de tubo aberto (figura 3.6) é um tubo U contendo um líquido,


com uma extremidade aberta para a atmosfera e a outra ligada ao recipiente onde
se quer medir a pressão p. Pela equação 3.12, a pressão num ponto C do fundo do
tubo se escreve, sendo  a densidade do líquido, (NUSSENZVEIG, 2002):

capítulo 3 • 49
PC = p + r gz = pO + r g(h + z) (3.13)

O que dá

p - pO = r gh (3.14)

Esse resultado da equação 3.14, também exprime a igualdade das pressões em


pontos M e N do líquido situados à mesma altura z, na figura 3.6. O instrumento
mede a pressão manométrica p – p0; conhecendo a pressão atmosférica p0, obtém-
se a pressão absoluta p.

patm
B

h
A
p
d
M N

Figura 3.6  –  Manômetro de coluna líquida em forma de U (adaptada).

Na Terra, todos os corpos estão envoltos em ar e, como todos os fluidos, ele cau-
sa uma pressão nos corpos imersos nele. Mais comumente expressa em Pa (N/m²),
a pressão atmosférica pode ser expressa ainda em outras unidades como atmosfera
(atm), milímetros de mercúrio (mmHg) ou metros de coluna de água (mca).

1 atm = 101.325 Pa = 10,2 mca = 760 mm Hg

Princípio de Pascal (lei de Pascal)

O princípio de Pascal enuncia-se da seguinte forma, segundo Brunetti, 2013:

A pressão aplicada num ponto de um fluido em repouso transmite-se integralmente a


todos os pontos do fluido.

capítulo 3 • 50
F1
F1

A1 A2

Figura 3.7  –  Teorema de Pascal.

Uma variação de pressão provocada num ponto de um fluido em equilíbrio transmite-


se a todos os pontos do fluido e às paredes que o contêm.

Aplicando uma força F1 no êmbolo da área A1 da figura 3.7, o líquido fica sujeito a
um acréscimo de pressão P1 = F1/A1. Como a variação de pressão provocada num pon-
to de um fluido em equilíbrio é transmitida a todos os pontos do fluido e às paredes
que o contêm, o êmbolo maior fica sujeito ao acréscimo de pressão P2 = F2/A2, igual à
pressão P1, dessa forma:
F1 F2
= (3.15)
A1 A2

A lei de Pascal apresenta sua maior importância em problemas de dispositivos


que transmitem e ampliam uma força por meio da pressão aplicada num fluido
(BRUNETTI, 2013).

CURIOSIDADE
O princípio de Pascal é aplicado no freio hidráulico de um automóvel, no qual a pressão
exercida pelo pé do motorista no pedal é transmitida até as rodas por meio de um líquido (óleo).
Uma outra aplicação é a prensa hidráulica, figura 3.6.

Princípio de Arquimedes

Se um corpo denso, mergulhado em água, é pesado em uma balança de mola


(figura 3.6), o peso aparente do corpo quando mergulhado é menor do que o
peso do corpo. Essa diferença existe porque a água exerce uma força para cima

capítulo 3 • 51
que equilibra parcialmente a força da gravidade. Essa força para cima é ainda
mais evidente quando mergulhamos uma rolha. Quando completamente imer-
sa, a rolha sofre uma força para cima da pressão da água, que é maior do que a
força da gravidade, de modo que, ao ser liberada, ela acelera para a superfície. A
força exercida por um fluido sobre um corpo total ou parcialmente imerso nele é
chamada de força de empuxo. Ela é igual ao peso do fluido deslocado pelo corpo.
(TIPLER, 2009)
Segundo Tipler, 2009, o teorema de Arquimedes é:

Um corpo total ou parcialmente mergulhado em um fluido sofre um empuxo de baixo


para cima igual ao peso do fluido por ele deslocado.

FE = mfg (3.16)

–P0 aj

d
d+h

–Mgj Paj

Figura 3.8 – A parcela do fluido em equilíbrio

Como a amostra da figura 3.7 esta em equilíbrio, a força resultante no sentido


vertical tem de ser zero.

∑ Fy = 0 → Pa − P0a − Mg = 0 (3.17 )

Como a massa do líquido na amostra é M = ∆V = gah, a força gravitacional


no líquido na amostra é Mg = r gah. Portanto:

Pa = Poa + r gah (3.18)


Ou
Pa = Po + r gh (3.19)

capítulo 3 • 52
Quando um corpo está totalmente imerso em um líquido, podemos ter as
seguintes condições:

a) Caso o corpo permaneça parado no ponto onde foi colocado, a inten-


sidade da força de empuxo será igual à intensidade da força peso (E = P).

b) Se o corpo afundar, a intensidade da força de empuxo será menor do


que a intensidade da força peso (E < P).

c) Caso o corpo seja levado para a superfície, a intensidade da força de


empuxo será maior do que a intensidade da força peso (E > P).

CURIOSIDADE
Localizado no Oriente Médio, o Mar Morto recebe esse nome em razão da grande con-
centração de sal que possui, chegando a ser 10 vezes maior do que nos oceanos. Essa
grande quantidade de sal impossibilita a vida de peixes e microrganismos.
Na realidade, o Mar Morto é um grande lago com uma área de aproximadamente
1.050 km2 e é abastecido pelo Rio Jordão. A grande quantidade de sal faz a densidade da
água ser muito alta. Essa característica atrai turistas do mundo inteiro, já que as pessoas
flutuam facilmente em suas águas.

CURIOSIDADE
Os icebergs são grandes massas de água no estado sólido, que se deslocam seguindo
as correntes marítimas nos oceanos. Em geral, a ponta do iceberg corresponde a aproxima-
damente 10% do volume total do mesmo. O gelo tem uma densidade ligeiramente menor
do que a água (0,9178 kg/m3), próxima do ponto de fusão da mesma. Assim, os icebergs
flutuam devido à menor densidade do gelo.

capítulo 3 • 53
©© UWE KILS, WISKA BODO | WIKIMEDIA.ORG

Figura 3.9  –  Iceberg.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BELLAN, P. M. Fundamentals of Plasma Physics, published by cup, 2004. p. 1-3.
FERNADES, A. S. MARQUES, W. Propagação de Ondas Longitudinais Eletrostáticas em Plasmas,
Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 23, no 2, junho, 2001.
ALVES JR., C. Nitretação a Plasma: Fundamentos e Aplicações, EDUFRN, Natal: Brasil, 2001.
BELÍSIO, A. S. Simulação da transferência de calor em amostras aquecidas por plasma.
Dissertação de Mestrado, UFRN, 2007.
ÇENGEL, Y. A. CIMBALA, J. M. Mecânica dos fluidos: Fundamentos e Aplicações 1. ed. McGrauHill,
2007.
BRUNETTI, F. Mecânica do Fluidos, 2. ed. Ed. Pearson, São Paulo: SP, 2013.
ROMA, W. N. L. Fenômenos de Transporte para Engenharia, 2. ed. Ed. Rima, São Paulo: SP, 2006.
FOX, R. W., McDONALD, A. T. Introdução à Mecânica dos Fluidos, 5. ed.,Ed. LTC, Rio de Janeiro: RJ,
1998.
NUSSENZVEIG, H., M. Curso de Física Básica, v. 2 – Fluidos, Oscilações, Calor e Ondas, 4. ed. Ed.
Edgard Blücher Ltda; São Paulo: SP, 2002.
SERWAY, R., A.; JEWETT, J., W., JR. Princípios de Física – Movimento Ondulatório e Termodinâmica,
v. 2, ed. 5. ed. Cengage Learning, São Paulo: SP, p. 107, 2014.

capítulo 3 • 54
4
Fundamentos de
hidrodinâmica
Fundamentos de hidrodinâmica

OBJETIVOS
•  Fundamentos de hidrodinâmica;
•  Definição de hidrodinâmica;
•  Linhas de corrente;
•  Equação de continuidade (Euler);
•  Tipos de escoamento e suas classificações segundo o critério de Reynolds;
•  Equação de Bernoulli.

Definição de hidrodinâmica

O objeto de estudo da hidrodinâmica são os fluidos quando estes estão em


movimento. A análise desse livro sobre a hidrodinâmica irá considerar duas hipó-
teses simplificadoras em nossos apontamentos:
•  O fluido é estacionário, ou seja, a velocidade do fluido em cada ponto é
   
constante: v (r, t ) = v (r ) .
•  Os fluidos são perfeitos, ou seja, não viscosos. A viscosidade de um fluido
representa o atrito que resulta do movimento interno do fluido.
•  Os fluidos são homogêneos.

Linhas de corrente

Podemos fazer a seguinte pergunta: Como podemos descrever o movimento de


um fluido? Podemos imaginar o fluido subdividindo-o em elementos de volume
infinitesimais para que possamos tratá-los como uma partícula, para que depois
possamos descrever o movimento de cada partícula desse fluido.
“Para se identificar uma partícula, basta que tenhamos a sua posição inicial
r0 no fluido em um instante inicial t0. Num instante posterior t, a sua posição
será dada por r = r(t, r0, t0). Com a variação do tempo, o vetor posição r irá
descrever a trajetória da partícula do fluido. Na prática, é possível individuali-
zar a partícula colocando corante no ponto inicial com coordenadas (r0, t0). Sua

capítulo 4 • 56
trajetória seria visualizada por meio de uma fotografia de longa exposição do flui-
do.” Nussenzveig, 2002.
Ao se calcular a função r(f ), genérica, pode-se descrever o movimento do flui-
do em estudo. Isso é possível utilizando o método descrito por Lagrange. Porém,
há dificuldades na obtenção da solução completa, e claro, na vida prática são mí-
nimas as vezes o interesse em detalhes das trajetórias das partículas do fluido, de
forma que esse método não é muito empregado.
O método mais utilizado, segundo Nussenzveig, 2002, é o método de Euler.
O mesmo autor destaca ainda que a velocidade num ponto deve variar com o
tempo, ou seja, (dv/dt). Sendo suficiente a fixação de pontos no fluido, ou seja:
  
v = v ( r, t ) ( 4.1)

Assim, a cada instante t, uma partícula diferente do fluido irá passar pela
posição r.
Quando se associa um vetor para cada ponto de um fluido, define-se nele um
campo vetorial, que é, neste caso, denominado campo de velocidades no fluido.
A linha de corrente (figura 4.1) consiste em uma linha contínua traçada no
líquido, no lugar geométrico dos pontos, que, num mesmo instante t, mantém-se
tangente em todos os pontos à velocidade v. As linhas de corrente são as “linhas de
força” do campo de velocidade, elas correspondem à trajetória da partícula no fluido.
Tempo t0 Tempo t1
Y Y

X X

Figura 4.1  –  Linhas de corrente.

CURIOSIDADE
Em particular, a linha de corrente que se encontra em contato com o ar, num canal, duto
ou tubulação se denomina linha d'água.

capítulo 4 • 57
O conjunto de todas as linhas de corrente que passam por uma pequena curva
fechada é definido como um tubo de corrente, visto na figura 4.2.
C2

C1
v3

v1
v1

Figura 4.2 – Linhas de corrente.

A figura 4.2 mostra linhas de corrente que são representadas por linhas sólidas
azuis e por linhas pontilhadas cinza. As setas vermelhas mostram a direção e a
magnitude da velocidade do fluido e são tangentes à linha de corrente. O grupo
de linhas de corrente entre as superfícies verdes (e) forma um tubo de corrente. As
superfícies e as laterais do tubo formam uma superfície de corrente. Em geral, as
linhas e tubos de corrente variam de instante para instante.

MULTIMÍDIA
Acesse os links a seguir e veja vídeos mostrando as linhas de corrente.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=m6l9WLePr5E>. Acesso em: 10
mai. 2016.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=X70r5WhqIt4>. Acesso em: 10
mai. 2016.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=q_eMQvDoDWk. Acesso em: 10
mai. 2016.

Conservação da massa ou equação de continuidade (Euler)

“Se considerarmos um tubo de corrente como o da figura 4.3, cuja secção


transversal no entorno de um dado ponto do fluido num dado instante tem área
S. Se v é a velocidade do fluido num determinado ponto e num instante con-
siderado t, será a massa contida num cilindro cuja base denotada de S e altura

capítulo 4 • 58
v∆t, em que v = |v|. O volume desse cilindro é dado por: Sv∆t; logo, se ∆ (den-
sidade do fluido) ao redor do ponto considerado, a massa ∆m será dada por pela
equação 4.2.” (NUSSENZVEIG, 2002)
∆m = ρSv∆t ( 4.2 )

v∆t

Figura 4.3  –  Massa que atravessa a área S no tubo.

Consideremos um escoamento estacionário e uma porção do tubo de cor-


rente situada entre duas secções retas diferentese de áreas S1e S2 (figura 4.4), em
que as velocidades e densidades são, respectivamente, (v1, ρ1) e (v2, ρ2). Como o
escoamento é estacionário, a massa m do fluido contida entre as secções A1 e A2
é constate, ou seja, não pode variar com o tempo. Dessa forma, a massa ∆m1 que
entra por A1 num intervalo de tempo dt tem de ser igual à massa dm2 que sai do
tubo por A2 nesse mesmo intervalo, de outra forma: “a massa que entra é igual a
massa que sai”.

S1 S2

v2

v1

Figura 4.4  –  Fluxo de massa em um tubo.

Como não é observado acúmulo de fluidos no tubo, irá correr a conservação


da massa, ou seja, ∆m1 = ∆m2. Assim:

∆m1 = ρ1S1v1∆t = ∆m 2 = ρ2 S2 v 2 ∆t ( 4.3)

capítulo 4 • 59
O que resulta em:
ρ1S1v1∆t = ρ2 S2 v 2 ∆t ( 4.4 )

Ou seja, o produto ∆Av permanecerá constante ao longo de todo o tubo de


corrente, representando o fluxo de massa por unidade de tempo que atravessa a
secção transversal do tubo.
Em particular, se o fluido é incompressível, temos ρ1 = ρ2 = ∆ (constante), e
a a equação 4.4 se reduz a:
S1v1 = S2 v 2 (fluido incompressível) ( 4.5)

O produto Av = constante, neste caso, irá medir o volume de fluido que atra-
vessa a secção transversal do tubo por unidade de tempo. Podemos chamar esse
produto de vazão. A unidade de vazão no SI é m3/s.

Esta é a equação da continuidade e expressa, na hidrodinâmica, a conserva-


ção da massa para um fluido com densidade constante. Chamando de vazão o
quociente do volume de fluido que escoa através de uma seção reta do tubo pelo
intervalo de tempo correspondente:
v
Q= ( 4.6 )
∆t

A vazão pode também ser escrita como:


Q = Sv ( 4.7 )

Tipos de escoamento e suas classificações segundo o critério de


Reynolds

“O escoamento de líquido ou de um gás através de tubos ou dutos normal-


mente é usado em aplicações de aquecimento e/ou resfriamento e em redes de
distribuição de fluidos. O fluido de tais aplicações em geral é forçado por um
ventilador ou uma bomba ao escoar através de uma secção de escoamento. O
atrito será diretamente relacionado à queda de pressão e à perda de carga durante
o escoamento por meio de tubos e dutos. A queda de pressão é usada para deter-
minar o requisito de potência de bombeamento. Um sistema típico de tubulação
envolve tubos de diâmetro diferentes conectados entre si por diversos acessórios

capítulo 4 • 60
ou cotovelos para transportar o fluido, válvulas para controlar a vazão e bombas
para pressurizar o fluido.” (CENGEL & CIMBALA, 2007)
Se precisamos estudar o escoamento de um fluido numa dada região, precisamos
descrever antes as leis dos seus movimentos, seja feita a abordagem no sistema e/ou em
volumes de controle. Dessa forma, utiliza-se o teorema de transporte de Reynolds.
Você já viu um incenso queimar? Se sim, percebeu que sobe dele uma coluna
suave de fumaça e, em seguida, se inicia a flutuação aleatória da fumaça em todas
as direções enquanto ela continua subindo. Segundo Cengel & Cimbala, 2007,
ocorre o mesmo num escoamento do fluido a baixas velocidades, mas torna-se
caótico à medida que a velocidade aumentar acima de um valor chamado de crí-
tico. No primeiro caso, o regime de escoamento é chamado de laminar, carac-
terizado por linhas de correntes suaves e movimento ordenado, e é turbulento
no segundo caso, caracterizado pelas flutuações de velocidade e pelo movimento
altamente desordenado.

O escoamento de transição do escoamento laminar para turbulento não ocorre de ma-


neira instantânea; ele ocorre em uma região na qual o escoamento flutua entre os es-
coamentos encontrados. Na prática, a maioria dos escoamentos é turbulento e o escoa-
mento laminar é encontrado em fluidos altamente viscosos.

Cengel & Cimbala, 2007.

©© PIXABAY.COM

Figura 4.5  –  Fumaça proveniente de incensos.

capítulo 4 • 61
O número de Reynolds (Re)

O número de Reynolds é importante, pois é por meio dele é possível avaliar a


estabilidade do fluxo, podendo obter uma indicação se o escoamento flui de forma
laminar ou turbulenta. O número de Reynolds constitui a base do comporta-
mento de sistemas reais, pelo uso de modelos reduzidos. Como exemplo, podemos
citar o túnel aerodinâmico (túnel de vento) no qual é possível medir as forças desta
natureza em modelos de asas de aviões. Se o número de Reynolds for o mesmo
para dois sistemas quaisquer, dizemos que eles são dinamicamente semelhantes.
“A transição de um escoamento laminar para escoamento turbulento depen-
de da geometria, da rugosidade da superfície, da velocidade de escoamento, da
temperatura da superfície e do tipo de fluido, entre outras coisas. Mas, o regime
de escoamento depende principalmente da relação entre as forças inerciais e as
forças viscosas do fluido. Essa relação é chamada de número de Reynolds e é
expressa para o escoamento interno em um tubo circular” como definem Cengel
& Cimbala, 2007:

Forças inerciais Vméd D ρVméd D


Re = = = ( 4.8)
Forças viscosas υ µ

Em que:
•  Vméd = velocidade média de escoamento (m/s);
•  D = comprimento característico da geometria (diâmetro neste caso, em m);
•  v = m/r = viscosidade cinemática do fluido (m2/s).

O número de Reynolds é uma quantidade adimensional, ou seja não há uni-


dade. Além disso, a viscosidade tem a unidade m2/s, e pode ser vista como difu-
sividade viscosa ou difusividade para o momento, segundo Cengel & Cimbala,
2007.
“Como números de Reynolds grandes, as forças inerciais, proporcionais à
densidade do fluido e ao quadrado da velocidade do fluido, são grandes com rela-
ção às forças viscosas e, portanto, as forças viscosas não podem evitar as flutuações
aleatórias e rápidas do fluido. Com números de Reynolds pequenos ou moder-
nos, porém, as forças viscosas são suficientemente grandes para suprimir essas
flutuações e manter o fluido “alinhado ”. Assim, o escoamento é turbulento no
primeiro caso e laminar no segundo.”(CENGEL & CIMBALA, 2007)

capítulo 4 • 62
Para Cengel & Cimbala, 2007, o número de Reynolds diz que o escoamento
torna-se turbulento é chamado de número de Reynolds crítico, Recr. O valor do
número de Reynolds crítico varia de acordo com a geometria e as condições de
escoamento. Para o escoamento interno em um tubo circular, o valor geralmente
aceito do número de Reynolds crítico é Recr = 2.300.
Para o escoamento através de tubos não circulares, o número de Reynolds tem
base no diâmetro hidráulico Dh definido como:
4Ac
Dh = ( 4.9)
p

Em que Ac é a área da seção transversal do tubo e p é seu perímetro molhado.


O diâmetro hidráulico é definido de forma que se reduza ao diâmetro comum D
para tubos circulares:

4Ac 4 ( πD2 / 4)
Para tubos circulares: Dh = = =D ( 4.10)
p πD
Com certeza, deseja-se possuir valores precisos para os números de Reynolds
dos escomentos laminar, de transição e turbulento, mas na prática isso não acon-
tece. A transição do escoamento laminar para o turbulento também depende do
grau de perturbação do escoamento por rugosidade superfícial, vibrações do
tubo e flutuações do escomento. Na maioria das condições práticas, o escomento
de um tubo circular é laminar para Re ≤ 2.300, turbulento para Re ≥ 4.000 e de
transição entre esses valores, segundo Cengel & Cimbala, 2007, ou seja:

RE ≤ 2.300 Escoamento laminar

2.300 ≤ RE ≤ 4.000 Escoamento de transição

RE ≥ 4.000 Escoamento turbulento

Tabela 4.1  –  Relação tipo de escoamento com o número de Reynolds. Cengel & Cimbala,
2007. Adaptada.

“No escoamento de transição, o escoamento muda de laminar para turbulento


aleatoriamente. É importante lembrar que o escoamento laminar pode ser manti-
do para números de Reynolds muito mais altos em tubos muito “suaves”, evitando,

capítulo 4 • 63
assim, os distúrbios no escoamento e vibrações do tubo. Experimentalmente, o es-
coamento laminar se mantém para números de Reynolds até 100.000”, conforme
afirmam Cengel & Cimbala, 2007.
A tabela 4.2 apresenta alguns valores típicos do número de Reynolds.

DESCRIÇÃO RE
Espermatozoide (D = 0,007 mm) em
6 x 10–3
movimento

Gotícula d’água caindo (D = 0,07 mm) 6,4 x 10–1

Vento (10 m/s) sobre fios em postes 1 x 103

Bola de beisebol (V = 35 m/s) 2 x 105

Tubarão (D = 1,5 m) nadando em máxima


8 x 106
velocidade

Boeing 747 em velocidade e altitude de


7 x 107
cruzeiro

Navio no oceano (L = 324 m, V = 15 m/s) 4,5 x 109

Tabela 4.2  –  Valores típicos do número de Reynolds, Fortuna, 2000.

Equação da continuidade para regime permanente

A vazão da sua massa Qm1 e na saída Qm2, em uma seção de entrada, corres-
ponde ao escoamento de um fluido em um tubo de corrente. Para que o regime
seja permanente, é necessário que não haja variação de propriedades, em nenhum
ponto do fluido com o tempo, leciona Brunetti, 2013.

A1 A2 Qm2
Qm1
m

Figura 4.6  –  Tubo de corrente.

capítulo 4 • 64
Caso, Qm1 = Qm2, então em algum ponto interno ao tubo haveria redução
e/ou acúmulo de massa, segundo Brunetti, 2013.
Q m1 = Q m 2 ou ρ1Q m1 = ρ 2 Q m 2 ou ρ1v1 A1 = ρ2 v 2 A 2 ( 4.11)

A equação 4.11 é chamada de equação da continuidade para um fluido em


regime permanente.

Caso o fluido seja incompressível, então a massa específica na entrada e na


saída do volume V deverá ser a mesma. Dessa forma, a equação 4.11 ficará:
ρ1Q m1 = ρ 2 Q m 2
Q 1 = Q 2 ou v1 A1 = v 2 A 2 ( 4.12 )

Assim, a vazão do volume de um fluido incompressível é a mesma em qualquer secção


do escoamento. A equação 4.12 é a equação da continuidade para um fluido incom-
presível, v1 e v2 são as velocidade médias.

BRUNETTI, 2013

A equação 4.12 mostra que, ao longo do escoamento, velocidades médias e


áreas são inversamente proporcionais, isto é, à diminuição da área correspondem
aumentos da velocidade de média na seção e vice-versa.

Princípio fundamental da hidrodinâmica ou teorema de Bernolli

É possível inferir da equação 4.11 que, na hipótese de haver um regime per-


manente, a massa do fluido que atravessa uma seção de um tubo de corrente deve
ser igual àquela que sai por outra seção na extremidade oposta. Segundo, Brunetti,
2013, é possível, dessa forma fazer um balanço das massas ou vazões em massas entre
as secções de entrada ou de saída de um determinado escoamento, devido ao fato
que a energia não pode ser criada nem destruída, mas apenas transformada. Assim, é
possível construir uma equação que permitirá fazer o balanço das energias, da mesma
forma como foi feito para as massas, por meio da equação da continuidade.
A equação que permitirá tal balanço chama-se equação da energia e permitirá,
associada à equação da continuidade, resolver inúmeros problemas práticos como, por
exemplo: determinação da potência de máquinas hidráulicas, determinação de perdas
em escoamento transformação de energia, dentre outros. (BRUNETTI, 2013)

capítulo 4 • 65
Tipos de energias mecânicas associadas a um fluido

a) Energia potencial (Ep)


É o estado de energia do sistema devido à sua posição no campo da gravidade
em relação a um plano horizontal de referência e essa energia é medida pelo po-
tencial de realização do trabalho do sistema (BRUNETTI, 2013).
b) Energia cinética (Ec)
É o estado de energia determinado pelo movimento do fluido. Seja um sistema
de massa m e velocidade v, e energia cinética será dada por (BRUNETTI, 2013):
mv 2
Ec = ( 4.13)
2

c) Energia de pressão (Epr)


Essa energia corresponde ao trabalho potencial das forças de pressão que
atuam no escoamento do fluido (BRUNETTI, 2013).

Equação de Bernoulli

O teorema de Bernoulli descreve o comportamento de um fluido que se


move ao longo de uma linha de corrente e traduz para os fluidos o princípio da
conservação da energia (sem atrito).
Considerando um tubo de corrente cujos limites sejam duas seções trans-
versais de áreas A1 e A2, situadas nos pontos 1 e 2 do fluido, respectivamente
(figura 4.7), em que as pressões são p1 e p2, as magnitudes das velocidades são v1 e v2
e as alturas z1 e z2. Levando em conta que o tubo seja suficientemente delgado para
que se possa desprezar a variação de todas essas grandezas sob sua seção transversal.

1 3
p1 A1 v2∆t

2 4
z1 p2
A2
z2

Figura 4.7  –  Filete de corrente em um duto com fluido movendo-se para a direita. Estão
indicados a pressão, a altura, a velocidade, a distância (s) e a área da seção transversal.

capítulo 4 • 66
CURIOSIDADE
Um tubo estreicto chama-se um filete de corrente.

“Durante o intervalo de tempo dt, a seção 1 e 2, se deslocará para uma nova posição,
compreendida entre, 3 e 4, respectivamente, (figura 4.7). Como o escoamento é esta-
cionário, a porção do filete compreendida entre 3 e 4 não precisa ser levada em conta
no balanço de energia, pois as condições nessa porção permanecem as mesmas. Para
esse balanço, tudo se passa como se a porção entre 1 e 3 fosse transportada para a
região compreendida entre 2 e 4. Pela equação 4.12 as massas dessas duas porções
são iguais.”, conforme Nussenzveig, 2002:

∆m1 =ρA1v1∆t = ρA 2 v 2 ∆ = ∆m 2 ( 4.14 )

A variação de energia cinética correspondente será:


1 1
∆T = ∆m 2 v 22 − ∆m1v12 ( 4.15)
2 2

Esta variação é igual ao trabalho realizado pelas forças de pressão e pela


gravidade.
O deslocamento 1 para 3 é no mesmo sentido das forças de pressão, enquanto
2 para 4 é em sentido contrário, de modo que o trabalho das forças de pressão é:

(p1 A1 ) ( v1∆t ) − (p2 A 2 ) ( v 2 ∆t ) ( 4.16 )

O trabalho realizado pela força de gravidade é contrário à variação da energia


potencial, ou seja:

−g ( ∆m 2 z 2 − ∆m1z1 ) ( 4.17 )

Somando as equações 4.16 e 4.17 e igualando o resultado à equação 4.15,


tem-se que:
1 1
∆m 2 v 22 − ∆m1v12 = p1 ( A1v1∆t ) − p2 ( A 2 v 2 ∆t ) − g ( ∆m 2 z 2 − ∆m1z1 ) ( 4.18)
2 2

capítulo 4 • 67
Como ∆m1 = ∆m2, resulta em:
1 2 p 1 p
v 2 + gz 2 + 2 = v12 + gz1 + 1 ( 4.19)
2 ρ 2 ρ

Segundo, Nussenzveig, 2002, a equação 4.19 demonstra a conservação da


energia por unidade de massa ao longo do filete. O fluido foi considerado com-
pressível porque para um fluido compressível existe a possibilidade adicional de
variação da energia interna, armazenada sob a forma de energia térmica. Para o
caso considerado do fluido incompressível, essa possibilidade não existe, e a equa-
ção 4.19, multiplicada por ρ, dá equação de Bernolli.
1 2
ρv + p + ρgz = C ( 4.20)
2

Em que C é uma constante. Segundo Nussenzveig, 2002, este resultado foi


publicado por Daniel Bernolli em seu tratado Hidrodinâmica, em 1938.

“A constente C pode assumir valores diferentes, em geral, sobre filetes de corrente


diferentes (um valor de C dever se associado ao escoamento de corrente). Entretanto,
é comum na prática aplicar a equação de Bernolli ao escoamento estacionário de um
líquido que se origina num grande reservatório cuja superfície livre está em contato
com a atmosfera e se mantém quase inalterada, apesar de escoamento, se o reser-
vatório é suficientemente grande. Logo, na superfície do reservatório, p = p0 (pressão
atmosférica), z = z0 constante e v2 é desprezível”, conforme Nussenzveig, 2002:

C = p0 + ρgz 0 ( 4.21)

Nesse caso, tem o mesmo valor para todo o escoamento.

Aplicações

•  Fórmula de Torricelli

A fórmula de Torricelli nada mais é do que uma aplicação da equação de


Bernoulli e ela estuda o fluxo de um líquido contido em um recipiente, por meio
de um pequeno orifício, sob a ação da gravidade.

capítulo 4 • 68
A partir da equação de Torricelli é possível calcular a veia líquida que escapa
por orifício. Como é mostrado na figura 4.8, a veia líquida que sai pelo orifício C
afunila-se, sofrendo uma contração, até que ele tenha forma cilíndrica num ponto
muito próximo à parede, para depois encurvar-se, sob a ação da aceleração da

gravidade ( g ), em um jato de forma parabólica. Devido ao orifício ser pequeno,
o nível do reservatório irá baixar gradativamente. A velocidade inicial v0 da super-
fície é desprezível.
Aplicando a equação de Bernolli entre=os0 pontos A e B na parte cilíndrica do
jato, cuja pressão é p0 e velocidade v:

v 2 po v2 p
z+ + = z0 + 0 + 0 ( 4.22 )
2g ρ 2g ρg

Como z0 = z = h, obtemos:

v = 2gh ( 4.23)

p0
A
z0

h
p0
B z
v

Figura 4.8  –  Escoamento por um orifício.

•  Tubo de Pitot

O tubo de Pitot é um dispositivo que mede ao mesmo tempo a pressão p que


é medida no ponto 2 e a pressão p0 no ponto 1, que é medida por meio de furos na
superfície exterior do tubo, de forma a permitir o cálculo da velocidade do fluxo.
Esse dispositivo combina duas sondas, veja na figura 4.10. Assume-se que a pres-
são p não varie ao longo do instrumento. Os pontos 1 e 2 devem ficar distantes
o suficiente para que o tubo não perturbe demais o fluxo. As linhas de corrente
precisam ser linhas retas para que não haja alterações em p ao longo do fluxo.

capítulo 4 • 69
Figura 4.9  –  Diagrama esquemático de um tubo de Pitot.

A velocidade aerodinâmica pode ser calculada por:

ρ0
v= 2 gh ( 4.24 )
ρ

Este sistema é usado para medir a velocidade de aviões.

•  Fenômeno de Venturi (tubo de Venture)

“O efeito Venturi (tubo de Venturi) ocorre quando em um sistema fechado, o fluido,


num escoamento estacionário de um duto uniforme, comprime-se momentaneamente
ao encontrar uma zona de estreitamento diminuindo sua pressão e consequentemen-
te, aumentando sua velocidade ao atravessar a zona estreitada na qual ocorre "tam-
bém" uma diminuição pressão, e se neste ponto se introduzir um terceiro duto ou uma
sonda, encontraremos uma sucção do fluido contido nessa ligação. Esse efeito foi
demonstrado em 1797 e recebe seu nome do físico italiano Giovanni Battista Venturi
(1746-1822).” segundo Nussenzveig, 2002.

capítulo 4 • 70
h + ∆h

∆h v2
v1
A1 A2 2 ρ
1
p1 p2

Figura 4.10  –  Esquema do efeito Venturi.

Um exemplo de aplicação do fenômeno de Venturi é o medidor de Venture,


que é empregado para medir velocidade de escoamento ou vazão numa tubulação.
A relação de velocidade é dada por:

2gh
v1 = A 2 ( 4.25)
A12− A 22

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BELLAN, P. M. Fundamentals of Plasma Physics, published by cup, 2004; p. 1-3.
FERNADES, A. S.; MARQUES, W. Propagação de Ondas Longitudinais Eletrostáticas em Plasmas,
Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 23, no 2, junho, 2001.
ALVES JR., C. Nitretação a Plasma: Fundamentos e Aplicações, EDUFRN, Natal: Brasil, 2001.
BELÍSIO, A. S. Simulação da transferência de calor em amostras aquecidas por plasma.
Dissertação de Mestrado, UFRN, 2007.
CENGEL, Y. A. CIMBALA, J. M. Mecânica dos fluidos: Fundamentos e Aplicações. 1. ed. McGrauHill,
2007.
BRUNETTI, F. Mecânica dos Fluidos, 2. ed. Ed. Pearson, São Paulo: SP, 2013.
ROMA, W. N. L. Fenômenos de Transporte para Engenharia, 2. ed. Ed. Rima, São Paulo: SP, 2006.
FOX, R. W., McDONALD, A. T. Introdução à Mecânica dos Fluidos, 5. ed. Ed. LTC, Rio de Janeiro: RJ,
1998.
NUSSENZVEIG, H., M. Curso de Física Básica. v. 2 – Fluidos, Oscilações, Calor e Ondas, 4. ed. Ed.
Edgard Blücher Ltda; São Paulo: SP, 2002.
SERWAY, R., A.; JEWETT, J., W., JR. Princípios de Física – Movimento Ondulatório e Termodinâmica,
v. 2. 5. ed. Cengage Learning.

capítulo 4 • 71
MUNSON, B., R.; YOUNG, D., F.; OKIISHI, T., H. Fundamentos da mecânica dos fluidos. Ed. Edgard
Blücher, 1. ed. São Paulo: SP, 2004
FORTUNA, A., de O. Técnicas computacionais para dinâmica dos fluidos: conceitos básicos e
aplicações. EDUSP, São Paulo: SP, 2000.

capítulo 4 • 72
5
Processos de
propagação e
transmissão de
calor e massa
Processos de propagação e transmissão de
calor e massa

OBJETIVOS
•  Processos de propagação e transmissão de calor e massa;
•  Definição de calor e seus modos de propagação;
•  Propagação do calor por condução;
•  Propagação do calor por convecção;
•  Propagação do calor por radiação;
•  Transferência de massa por difusão.

Definições

Segundo, Levi (2004), o calor pode ser definido como “a energia que é trans-
ferida em função de uma diferença de temperatura”. A área da física que estuda as
propriedades de um dado sistema, bem como as suas trocas de calor com sua vizi-
nhança, e ainda, que fornece informação sobre a energia envolvida de um estado
inicial até um estado final é chamada de termodinâmica.

A área de transferência de calor fornece dados sobre como as temperaturas


estão distribuídas, além do fluxo de calor. Quanto aos “mecanismos de transferên-
cia de calor”, estes são três: condução, convecção e radiação.

Define-se fluxo de calor (taxa de transferência de calor) como a quantidade de calor


que é transferida através de uma superfície por unidade de tempo, e densidade de
fluxo de calor como a quantidade de calor que é transferida por unidade de tempo e
por unidade de área, ou seja, a densidade de fluxo de calor é a taxa de transferência
de calor por unidade de área., de acordo com Levi, 2004.

capítulo 5 • 74
Propagação do calor por condução

A transferência de condução é caracterizada pela transferência de energia, que nes-


se caso se dá em meio sólido ou fluido, por existir um gradiente de temperatura, ∇T.
Em que:
 ∂T ∂T ∂T 
gradT = ∇T =  , ,  (5.1)
 ∂x ∂y ∂z 

A direção do vetor irá indicar o sentido do crescimento da temperatura. Já o


módulo indica sua intensidade.

“Sempre que existir um gradiente de temperatura em um meio sólido, o calor fluirá da


região de temperatura mais elevada para a de temperatura mais baixa. A taxa na qual o
calor é transferido por condução, qk, é proporcional ao gradiente de temperatura dT/dx
multiplicado pela área A através da qual o calor é transferido:” conforme Kreith, 2004.

dT
q k αA (5.2 )
dx

Na equação 5.2,T(x) é a temperatura local e x é a distância na direção do


fluxo de calor, k é condutividade térmica do material, sendo uma propriedade
do material que indica a quantidade de calor que irá fluir por unidade de tempo
através de uma unidade de área quando o gradiente de temperatura for unitário.
No SI (Sistema Internacional de Unidades) a área é expressa em metros (m) e a
taxa de calor em watts (W), a condutividade térmica em watts por metro por
kelvin (W/m · K). Já no sistema inglês, a taxa de calor é expressa em BTU/h ft ºF
(1 W/m · K = 0,578 BTU/h ft ºF). Para a condução em um meio homogêneo, a
taxa de transferência é dada por:
dT
q k = − kA (5.3)
dx

O sinal negativo (–), na equação 5.3, é devido ao fato de o calor fluir de tem-
peraturas mais elevadas para temperaturas mais baixas. Dessa forma, o gradiente
de temperatura dT é negativo. A equação 5.2, define a condutividade térmica e
dx
é a lei de Fourier.

capítulo 5 • 75
Paredes planas

O fluxo de calor, unidimensional, em estado estacionário através de uma pa-


rede, o gradiente de temperatura, ∇T, e o fluxo não variam com o tempo e com a
área da seção, sendo o fluxo de calor uniforme. Separando as variáveis da equação
5.3, temos:
L Tfria T2
qx
A ∫ dx = − ∫ kdT = − ∫ kdT (5.4 )
o Tquente T1

CONDUTIVIDADE TÉRMICA A 300 K


MATERIAL W/M · K BTU/H FT ºF
Cobre 399 231

Alumínio 237 137

Aço-carbono, 1% C 43 25

Vidro 0,81 0,47

Plástico 0,2 – 0,3 0,12 – 0,17

Água 0,6 0,35

Etilenoglicol 0,26 0,15

Óleo de motor 0,15 0,09

Freon (líquido) 0,07 0,04

Hidrogênio 0,18 0,10

Ar 0,026 0,02

Tabela 5.1  –  Condutividade térmica de alguns metais, sólidos não metálicos, líquidos e ga-
ses, Kreith, 2004.

Os limites da integral da equação 5.4 podem ser inferidos da figura 5.1, em


que a temperatura T1(x = 0) é uniforme e a temperatura T2 (x = L).

capítulo 5 • 76
Assumindo que k é independente da temperatura T, após a integração, a
equação para a taxa de condução de calor através da parede é dada por:
Ak ∆T
qk =
L
( T1 − T2 ) =
L Ak
(5.5)

L
T1 > T2

T1
Tx
qk
T2

x1 x x2

Figura 5.1  –  Perfil de temperatura em uma parede (adaptada).

Na equação (5.5) a quantidade L/Ak equivale à resistência térmica Rk que a


parede oferece ao fluxo de calor por condução:
L
Rk = (5.6 )
Ak

FLUIDO INTERFACIAL RESISTÊNCIA (M2 K/W)


Ar 2,75 x 10–4

Hélio 1,05 x 10–4

Hidrogênio 0,720 x 10–4

Óleo de silicone 0,525 x 10–4

Glicerina 0,265 x 10–4

Tabela 5.2  –  Resistência térmica de contato para a interface alumínio-alumínio* com dife-
rentes fluidos interfaciais, Kreith, 2004.

*Rugosidade da superfície igual a 10 m sob pressão de contato de 105 N/m2

capítulo 5 • 77
Na figura 5.2, estão representados graficamente alguns resultados experimen-
tais da resistência de contato entre superfícies metálicas brutas diferentes em fun-
ção da pressão de contato, à pressão atmosférica, Kreith, 2004.

1,0

b
f
Resistência de contato RJ (m3 k/kW)

h, l
0,1 j
q
e

d o

a
i

0,01 p
g
k
m

0,001
0 5 10 15 20 25 30 35

Pressão de contato (MPa)

Figura 5.2  –  Resistência de contato entre superfícies metálicas brutas diferentes. Blocos
de metal sólido no ar à pressão de 1 atmosfera absoluta. (Legenda na página seguinte)
Kreith, 2004.

capítulo 5 • 78
Legenda para a figura 5.2 Kreith, 2004.

CURVA NA RUGOSIDADE
MATERIAL ACABAMENTO
FIGURA 5.2 rms (µm)
Aço inoxidável 416
a Retificado 0,76 - 1.65
7075 (75S)T6 Al

7075 (75S)T6 Al
b Retificado 1,65 - 0,76
para aço inoxidável

Aço inoxidável
c 19,94 - 29,97
Alumínio

Aço inoxidável
d 1,02 - 2,03
Alumínio

Aço Bessemer
e Retificado 3,00 - 3,00
Latão de fundição

f Aço Ct-30 Laminado 7,24 - 5,13

g Aço Ct-30 Retificado 1,98 - 1,52

Aço Ct-30
h Laminado 7,24 - 4,47
Alumínio

Aço Ct-30
i Retificado 1,98 - 1,35
Alumínio

Aço Ct-30
j Laminado 7,24 - 4,42
Cobre

Aço Ct-30
k Retificado 1,98 - 1,42
Cobre

Latão
l Laminado 5,13 - 4,47
Alumínio

Latão
m Retificado 1,52 - 1,35
Alumínio

Latão
n Laminado 5,13 - 4,42
Cobre

capítulo 5 • 79
CURVA NA RUGOSIDADE
MATERIAL ACABAMENTO
FIGURA 5.2 rms (µm)
Alumínio
o Laminado 4,47 - 4,42
Cobre

Alumínio
p Retificado 1,35 - 1,42
Cobre

Urânio
q Retificado
Alumínio

CURVA NA TEMP. DISPERSÃO


MATERIAL CONDIÇÃO
FIGURA 5.2 (OC) DOS DADOS
Fluxo de calor
Aço inoxidável
do aço inoxi-
a 416 7075 (75S) 93 ± 26%
dável para o
T6 Al
alumínio

Fluxo de calor
7075 (75S)
do alumínio
b T6 Al para aço 93 - 204 ± 30%
para o aço
inoxidável
inoxidável

Aço inoxidável
c 20 Limpa
Alumínio

Aço inoxidável
d 20 Limpa
Alumínio

Aço Bessemer
e Latão de 20 Limpa
fundição

f Aço Ct-30 20 Limpa

g Aço Ct-30 20 Limpa

Aço Ct-30
h 20 Limpa
Alumínio

capítulo 5 • 80
CURVA NA TEMP. DISPERSÃO
MATERIAL CONDIÇÃO
FIGURA 5.2 (OC) DOS DADOS
Aço Ct-30
i 20 Limpa
Alumínio

Aço Ct-30
j 20 Limpa
Cobre

Aço Ct-30
k 20 Limpa
Cobre

Latão
l 20 Limpa
Alumínio

Latão
m 20 Limpa
Alumínio

Latão
n 20 Limpa
Cobre

Alumínio
o 20 Limpa
Cobre

Alumínio
p 20 Limpa
Cobre

Urânio
q 20 Limpa
Alumínio

Propagação do calor por convecção

“O mecanismo de convecção é caracterizado pela transferência de calor cau-


sada pelo deslocamento de uma massa do fluido. Num fluido em movimento, em
que existe uma distribuição não uniforme de temperatura, o calor é transferido
pelo transporte de massa fluida e, também, por condução devido aos gradientes de
temperatura.", de acordo com Levi, 2004.
A transferência de calor por convecção pode ser classificada, em função do
escoamento em: convecção forçada e convecção natural ou livre. A convec-
ção forçada ocorre quando o escoamento do fluido é devido a agentes externos,
como por exemplo: ventiladores, bombas, dentre outros, segundo Levi, 2004. Já

capítulo 5 • 81
na convecção natural ou livre, o escoamento tem sua causa atribuída às forças de
empuxo bem como aos gradientes de massa específica produzidos pelas diferenças
de temperatura no fluido, conforme Levi, 2004.

Quando um fluido está em movimento sobre uma superfície sólida pode-se, de uma
maneira geral, dividir o campo de velocidade de escoamento em duas regiões prin-
cipais: junto à superfície sólida há uma região com gradientes de velocidade que é
chamada de camada limite hidrodinâmica. E a uma distância maior, distante da su-
perfície sólida, (fora da camada limite hidrodinâmica) existe uma região que apresenta
distribuição uniforme de velocidade, chamada de escoamento livre.
Levi, 2004.

Quando existe diferença de temperatura entre a superfície do sólido e de um


fluido adjacente, é possível dividirmos em duas regiões o campo da temperatura.
Há uma região próxima da superfície cujos gradientes de temperaturas, são cha-
mados de camada limite térmica; e na região além da camada limite térmica, o
fluido apresenta uma distribuição uniforme de temperatura.

Na situação em que a transferência por convecção forçada, em uma placa


sólida que foi aquecida até uma temperatura T e em seguida mantida constante
em um fluido cuja temperatura é Tx, existirá uma película fluida que em repouso,
adere à placa e transfere o calor apenas por condução.

Quando a superfície da placa e o escoamento livre do fluido possuem temperaturas


diferentes, ocorre o desenvolvimento de uma camada limite térmica com espessura
que aumenta à medida que o fluido escoa sobre a superfície sólida.
Levi, 2004.

A relação entre as espessuras das camadas limites hidrodinâmica e térmica depende


de um parâmetro adimensional, chamado de número de Prandtle representado por
Pr, que é definido como o quociente entre a viscosidade cinemática e a difusividade
térmica do fluido, ou seja,
Levi, 2004:

v
Pr = (5.7 )
α

capítulo 5 • 82
“O número de Prandtl fornece uma medida relativa entre as intensidades
do transporte difuso de momento linear e da transferência difusiva de calor que
ocorrem nas camadas limites hidrodinâmica e térmica em escoamento laminares.”
Levi, 2004, em metais Pr << 1, e nos óleos viscosos, Pr >>1.

A taxa de transferência de calor por convecção entre uma superfície e um


fluido pode ser calculada por:

q c = h c A∆T (5.7 )

Em que qc = taxa de transferência de calor por convecção, W (BTU/h)


A = área de transferência de calor, m2 (ft2)
∆T = diferença entre a temperatura da superfície Ts e uma temperatura T em
algum local especificado, K (ºF)
h c = coeficiente médio de transferência de calor por convecção sobre a área
A, W/m2. K (BTU/ h ft2 ºF)

O valor de h c , em um sistema, depende de alguns fatores como a geometria


da superfície, sua velocidade, assim como das propriedades físicas do fluido e da
diferença de temperatura ∆T. Como essas grandezas não são constantes, o coefi-
ciente de transferência de calor por convenção também pode variar de um ponto a
outro. E por esse motivo, há o coeficiente de transferência de calor por convenção
“local” e uma média. O coeficiente local h c é definido por
dq c = h c dA( Ts − T∞ ) (5.9)

O coeficiente médio h c pode ser definido como


1
hc =
A
∫∫ hc dA (5.10)
A

Para a maioria das aplicações de engenharia, os valores típicos de coeficientes


médios de transferência de calor por convecção, são os da tabela 5.3, Kreith, 2004.
Coeficiente de transferência de calor por convecção

capítulo 5 • 83
COEFICIENTE DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR POR CONVECÇÃO
FLUIDO W/M2 . K BTU/H FT2 ºF
Ar, convecção livre 6 –30 1–5

Vapor ou ar superaqueci-
30 – 300 5 – 50
dos, convecção forçada

Óleo, convecção forçada 60 – 1.800 10 – 300

Água, convecção forçada 300 – 1.800 50 – 3.000

Água, em ebulição 3.000 – 60.000 500 – 10.000

Vapor condensado 6.000 – 120.000 1.000 – 20.000

Tabela 5.3  –  Ordem de magnitude dos coeficientes de transferência de calor por correção,
Kreith, 2004.

Utilizando a equação 5.8, é possível definirmos uma grandeza chamada de


condutância térmica para a transferência de calor por convecção kc como:

k c = hA (5.11)

E a resistência térmica para a transferência de calor por convecção Rc, que é


igual à reciprocidade da condutância como:

k c = hc A (W / K) (5.12)

Propagação do calor por radiação

Segundo Levi, 2004, a transferência de calor por radiação é o transporte de


energia por radiação térmica. Uma característica muito importante é a dispensa de
um meio material para haja a transferência de calor. Assim, a condução máxima
ocorre no chamado “vácuo absoluto”.

capítulo 5 • 84
CURIOSIDADE
Qualquer superfície que possua temperatura acima de zero kelvin emite radiação térmica.

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Figura 5.3  –  O metal aquecido à temperatura próxima à de fusão emite radiação no infra-
vermelho e no visível próximo ao infravermelho. O primeiro é invisível ao olho humano, mas o
segundo pode ser percebido pelo brilho avermelhado.

Radiação de corpo negro

Define-se como corpo negro uma superfície que absorve totalmente a radia-
ção que incide sobre ela. Um radiador ideal (corpo negro) irá emitir radiação
térmica com uma densidade de fluxo dada pela lei de Stefan-Boltzmann, que pode
ser escrita segundo Levi, 2004, como:

q = σTs4 (5.13)

capítulo 5 • 85
Em que:

•  q é a densidade de fluxo de energia radiante emitida pela superfície;


•  σ é a constante de Stefan-Boltzman
•  σ Ts é a temperatura absoluta da superfície.

14
5000 K
Intensidade (Unidades Arbitrárias)

12
Teoria Clássica (5000 K)
10

6
4000 K
4

2
3000 K

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3
Comprimento de Onda (µm)

Figura 5.4  –  Curva de radiação de um corpo negro.

À medida que a temperatura diminui, o pico da curva da radiação de um


corpo negro se desloca para menores intensidades e maiores comprimentos de
onda. O gráfico de emissão de radiação de um corpo negro também é comparado
com o modelo clássico de Rayleigh e Jeans. Nas superfícies reais há menos emissão
energia que um corpo negro. A densidade de fluxo de energia radiante dada por:

q = εσTs4 (5.14)

Em que ε é a emissividade da superfície.


A emissividade ε é uma propriedade intrínseca da superfície. Ela indica a efi-
ciência com que a radiação térmica é emitida pela superfície tendo como referên-
cia um corpo negro.

capítulo 5 • 86
A análise da troca de calor por radiação entre superfícies é geralmente bastante com-
plexa. Consideremos um caso ideal mais simples, em que consiste em duas superfícies
escuras planas e paralelas, de dimensões infinitas, com temperaturas absolutas T1 e
T2, respectivamente. Considerando ainda, que o meio entre as superfícies não absorve
radiação térmica, tem-se que a densidade de fluxo líquida de troca de calor por radia-
ção entre essas superfícies negras é dada por conforme nos mostra Levi, 2004:

q = σ ( T14 − T24 ) (5.14)

As situações reais de troca de calor por radiação são muito mais complicadas,
pois não são corpos negros.

Transferência de massa por difusão

Observa-se que na natureza e em processos tecnológicos, uma grande variedade de


fenômenos de transferência de massa, como, por exemplo, a difusão de açúcar num
copo com água, a evaporação de líquidos, os processos de secagem e de umidificação,
a dispersão de poluentes na atmosfera e nas águas, a difusão de água através da pa-
rede de um vaso de cerâmica e a difusão de átomos em metais em alguns processos
na metalurgia. De uma maneira geral, nos sistemas que contêm dois ou mais com-
ponentes químicos cujas concentrações variam de ponto a ponto, ocorrem fluxos de
massa que tendem a uniformizar os campos de concentrações desses componentes.

Levi, 2004.

Analogamente à transferência de calor, o transporte de massa pode ocorrer por dois


mecanismos: difusão molecular e convecção. A difusão molecular se caracteriza pela
transferência de massa de um componente em uma mistura devido à existência de
gradientes de concentração. Quando o transporte de massa ocorre através de um flui-
do em repouso ou em um sólido em função de uma diferença de concentração, tem-se
que a massa é transferida somente por difusão molecular por causa dos gradientes
de concentração.

Levi, 2004.

capítulo 5 • 87
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Dissertação de Mestrado, UFRN, 2007.
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2007.
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Rio de Janeiro: RJ, 2004.
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2003.

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