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Atendimento Educacional Especializado E As Intervenções

Neuropsicopedagógicas
Por SBNPp | Artigos acadêmicos | Sem comentários | 30 agosto, 2018 | 0

Artigo por Rosa Elena Seabra Gaspar

Professor Orientador Cristiano Pedroso

Resumo
Enfatiza-se nesse artigo a Educação Inclusiva tendo como foco o A. E. E. – Atendimento
Educacional Especializado, suas atribuições e contribuições para os alunos que são encaminhados
para esse atendimento. As intervenções realizadas por meio de estudos da Neurociência e Educação;
a Neuropsicopedagogia já que as recentes pesquisas comprovam a eficácia da relação do encéfalo
com o processo de ensino aprendizagem. A importância da estimulação precoce, a dinâmica de
atividades e recursos humanos especializados bem como o ambiente escolar adequado as
necessidades educacionais desses atendidos. A importância de permitir o desenvolvimento da
criatividade na criança, que é inerente ao ser humano, para ocorra de fato a aprendizagem
significativa, pois o cérebro é capaz de criar, e de aprender, mas precisa de experiências para garantir
que as mudanças interpessoais aconteçam.
Palavras-chave: Atendimento Educacional Especializado. Intervenção Neuropsicopedagogica.
Criatividade com aprendizagem significativa.

INTRODUÇÃO
A percepção de Escola Inclusiva baseia-se em identificar na diversidade humana suas
potencialidades, e no que se refere a aprendizagem, em respeitar o tempo de aprender de cada um,
considerando a complexidade, heterogeneidade e suas especificidades.

A Educação Especial como uma categoria da educação escolar, tem como imcumbencia o
atendimento educacional especializado, espaço esse que deve ter nova estrutura organizacional,
dotada de currículos flexíveis e estratégias tanto teóricas como metodológicas mais eficientes
utilizando mais recursos, e contando sempre com o envolvimento e participação da família.

Segundo o MEC (2006),

“Os alunos com necessidades educacionais especiais têm assegurado pela Constituição Federal de
1988, o direito a educação(…)e o atendimento especializado complementar realizado
preferencialmente em salas de recursos na escola onde estejam matriculados ou em outras escolas.”
O AEE é um ensino diferenciado do ensino escolar que é realizado em salas de recursos
multifuncionais e, portanto, não deve e nem pode caracterizar-se como um espaço de reforço escolar
ou complementação das atividades escolares.
Esse atendimento deve focar alunos com necessidades educacionais por meio de um
desenvolvimento de estratégias de aprendizagem que estejam centradas na construção de um novo
fazer pedagógico que estimule a construção de novos conhecimentos fazendo com que os alunos
desenvolvam o currículo e participem efetivamente de atividades direcionadas e elaboradas que
garantam o desenvolvimento de suas habilidades cognitivas por meio de uma aprendizagem
significativa.
Esse artigo enfatiza, a partir de relatos de experiências adquiridas em sala de A. E. E. e também por
meio de estudos e pesquisas bibliográficas, a necessidade que o profissional que desenvolve esse
trabalho seja interativo e criativo, possibilitando a esses educandos com dificuldades, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, o desenvolvimento de suas
potencialidades.

O Atendimento Educacional Especializado (AEE) é um serviço da educação especial que tem por
objetivo identificar, elaborar, e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem
as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades “específicas”
(Inclusão: R. Educ. esp., Brasília, v. 4, n. 1, p. 7-17, jan./jun. 2008).
Destaca-se a importância da Neuropsicopedagogia nesse trabalho, pois, estudos comprovam a
importância da relação do encéfalo com o processo ensino-aprendizagem. A neurociência tem
contribuído muito, tanto para uma melhor compreensão dos problemas e transtornos de
aprendizagem quanto para o desenvolvimento de estratégias das intervenções pedagógicas.

CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA COGNITIVA PARA O AEE

Quando pensamos no ato de aprender, devemos considerar que o encéfalo humano é a base que
necessitamos para que tal processo ocorra, sendo ele também responsável pela adaptação do
indivíduo em seu ambiente natural.
É necessário compreender os instrumentos que formam as bases neurológicas da aprendizagem, pois
são ferramentas essenciais que contribuem com os profissionais que desenvolvem esse trabalho, para
que possam melhorar o ato de ensinar; fundamentando também, os processos do ato de aprender, de
agir e interagir com os demais ao longo da vida.
Para que haja êxito na aprendizagem faz-se necessário e urgente conhecer e compreender o
funcionamento neurológico. Entender sobre o seu desenvolvimento e sobre como acontece esse
processo de maturação cerebral. A partir daí, iniciam-se as possibilidades de intervenções nas
potencialidades cognitivas de cada indivíduo, tanto no desenvolvimento da linguagem como no da
aprendizagem em si.
Uma estimulação adequada que respeite cada uma das fases do desenvolvimento cognitivo e
neurológico da criança leva a uma aprendizagem significativa com êxito e a conduz ao
desenvolvimento pleno de suas potencialidades.

“As neurociências cognitivas fornecem (…) bases consistentes sobre o funcionamento do cérebro e
suas possíveis aplicações no processo de ensino-aprendizagem (…) conhecer o cérebro e o seu
funcionamento, pode permitir agregar à atuação clínica e pedagógica, conhecimentos sobre a
maturação neurológica e o desenvolvimento de funções superiores (…) para oferecer estímulos
coerentes e adequados a cada faixa etária.” (PANTANO e ZORZI, 2009, p.11)
Devemos entender que o processo de aprender pode nos levar a consequências que são resultantes
desse ato, e essa ação pode apresentar-se como sendo, ou não, benéfica para o aprendente. Mudanças
físicas e comportamentais, bem como um conjunto de fatores de natureza mental e emocional, que
motivam o comportamento humano, e especialmente, os que aparecem como reação inconsciente aos
estímulos ambientais, no qual podemos inserir o espaço escolar.
Segundo Fuentes (2008), (…) “A atenção dirigida, sustentada e dividida, regula os mecanismos
conscientes. Manter um comportamento requer selecionar estímulos relevantes e desprezar os
irrelevantes”.
Sendo assim devemos considerar quais estratégias a serem usadas e utilizar de estímulos sensoriais
para que tais mudanças sejam eficientes e, venham a beneficiar o individuo a ponto de provocar nele
alterações positivas e significativas no que diz respeito ao desenvolvimento de suas potencialidades
e habilidades cognitivas.
Não se deve esquecer que os fatores psicodinâmicos citados, são determinantes tanto para aquele que
ensina quanto para o que aprende.
A empatia é um fator decisivo nesse processo. A sintonia presente entre o ensinante e o aprendente,
é necessária para garantir um ambiente de aprendizagem onde as relações interpessoais aconteçam,
garantindo às partes envolvidas, uma resposta de melhor qualidade.
O encéfalo precisa de experiências para aprender e para garantir que as mudanças aconteçam, ele
determina o tipo de aprendizado que pode ocorrer. Nesse processo de criar bases para o
desenvolvimento humano, o tempo sempre deverá ser utilizado como um aliado de valor.
Utilizamos memórias implícitas (inconscientes) e explícitas (consciente); e as variantes que
aparecem nesse processo como a disfunção neurológica, social, emocional, psicomotora, psicológica
e escolar podem alterar ou até mesmo impedir que o aprendizado aconteça.
Compete ao profissional que atua com o campo do conhecimento que é a aprendizagem, reconhecer
a individualidade de cada um, respeitando as suas especificidades e avaliar, não no sentido
quantitativo, mas qualitativo. E por fim intervir de forma consciente no funcionamento cognitivo do
individuo de maneira que ele adquira novos conceitos de forma flexível, autônoma e inicie um
processo de elaboração mental com maior desempenho cognitivo.

APLICAÇÃO NEUROCIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO

O desafio proposto pela aprendizagem nasce da relação direta da atividade educacional conduzindo e
estimulando a parceria entre emoção (sistema límbico) e cognição (córtex frontal).
O processo pelo qual, as competências, habilidades, conhecimentos, comportamento ou valores são
adquiridos requer uma precisão neurobiológica; além das habilidades cognitivas, emocionais e
também pedagógicas. Isso tudo permeado de estímulos apropriados.

Chamamos de funções executivas ao conjunto de funções cerebrais básicas que permitem a


recepção e o processamento de estímulos (externos e internos) e as respostas aos mesmos. Em
conjunto representam o que comumente chamamos de pensamento, possibilitando a elaboração do
raciocínio e da emoção, atributos que encontram sua máxima expressão na espécie humana (MAIA,
2011, p.31).
A intervenção precoce é uma dinâmica positiva que visa proporcionar estímulos e facilitar
aquisições de habilidades, para enriquecer as vivências de crianças que apresentem alterações ou
disfunções que podem ser físicas, cognitivas e/ou psíquicas. Isso enfatiza a necessidade de
estimulação precoce nas crianças através de brincadeiras, com diferentes atividades sensoriais e
exploração da imaginação.
Não devemos desassociar a intervenção da estimulação precoce e do ambiente onde serão realizadas
as atividades. O conceito de “estimulação precoce” adotado é:

“Conjunto dinâmico de atividades e de recursos humanos ambientais incentivadores que são


destinados a proporcionar à criança, nos seus primeiros anos de vida, experiências significativas
para alcançar pleno desenvolvimento no seu processo evolutivo”. (Diretrizes educacionais sobre
estimulação precoce: o portador de necessidades educativas especiais / Secretaria de Educação
Especial – Brasília: MEC, SEESP,1995).
Entender os processos cognitivos implícitos no ato de aprender no âmbito escolar é fundamental para
que a adaptação pedagógica seja uma realidade na sala de ensino regular, ou em sala de A.E.E. para
atender as crianças independente de possuírem necessidades educacionais especiais, ou não.

PRÁTICAS NO AEE

O atendimento desenvolvido no A. E. E. sugere o uso de fotos como registro das atividades


desenvolvidas, que oferece aos atendidos uma oportunidade de armazenar na área da memória de
trabalho as atividades desenvolvidas, o que comumente é prejudicada nos casos de crianças com
transtornos de aprendizagem e déficit intelectual. É possível constatar os avanços cognitivos dos
atendidos por meio dessa estratégia.
Muitos exemplos poderiam ser citados de experiências vivenciadas dentro do A. E. E. no que diz
respeito a atividades criativas que envolvem o uso da imagem, fotos, artes, pinturas, modelagem,
musica, softwares educativos; como alguns dos instrumentos usados tanto para avaliação como
intervenção nos transtornos de aprendizagem.
Além da memória, é necessário estabelecer o vínculo afetivo, ou o que Goleman (2012 p.87) chama
de empatia e descreve como; (…) “A capacidade essencial na consciência social é a empatia – sentir
o que os outros estão pensando e sentindo, sem que eles nos digam em palavras” (…)
À medida que o envolvimento entre professor e aluno aumenta na sala de A. E. E, percebe-se que
esse grau de empatia emocional interfere na empatia cognitiva, pois os atendidos são capazes de
maior desempenho nas atividades sugeridas e consequentemente, sentem-se mais motivados. Isso faz
com que aumente dentro dele a sensibilidade de perceber o que o outro está precisando e isso se dá
espontaneamente, prontamente.
CRIATIVIDADE E APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
É fundamental estudar o processo do desenvolvimento humano no quesito aprendizagem, pois é
certo que continuamos a aprender por toda a vida. Que tempo é melhor para aprender a desenhar,
pintar, cantar ou tocar um instrumento? Nesse caso, ele não dependeria dos estímulos oferecidos
para buscar cada uma dessas habilidades? Segundo Romanelli (2010);

“o cérebro foi feito para criar! (…) Para o aluno a criatividade é uma possibilidade privilegiada de
superar dificuldade. Ao vencer o desafio, o aluno aprende, ou seja, a criatividade permite
desenvolver uma aprendizagem significativa; em outras palavras, uma aprendizagem real. (…)
Resumidamente podemos dizer que para o aluno a criatividade permite experimentar o prazer da
criação que é um estímulo para os seus estudos também conhecida como motivação intrínseca”
(ROMANELLI, 2010, p.88).
O tempo tanto pode determinar perdas neuronais e, portanto, cognitivas; quanto também pode
tornar-se um aliado no processo aquisitivo de conhecimento quando se respeita o relógio interno que
regulamenta o momento de cada um.
De fato são muitos questionamentos, mas o certo é que isso tem que ser proporcionado por alguém.
Nossas crianças estão sendo “cobradas” a uma aprendizagem maçante e muitas vezes massacrante. E
tudo isso, por força de um sistema de ensino que exige na mais tenra idade que se alfabetizem e
aprendam cálculos matemáticos; esquecendo-se que existe algo que antecede a tudo isso. É preciso
considerar que muitos estímulos têm que ser realizados para que haja um bom desenvolvimento
neuropsicomotor e, consequentemente, cognitivo.

Envolvê-las no ato de criar, significa dar-lhes a oportunidade de experimentar o prazer nessa criação,
em fazer parte do processo da aprendizagem e daí sim tornar essa aprendizagem significativa.
Dentro dessas atividades é essencial o trabalho com as artes, para tornar possível o desenvolvimento
da criatividade. Romanelli (2010) complementa dizendo que,

(…) “para o professor a criatividade é, sobretudo, uma forma de seduzir seus alunos para os
conteúdos que pretende ensinar… (…) outro aspecto essencial é a improvisação (…) confundida
como estratégia de ensino que não deve ser usada pelos bons professores, a improvisação é um
caminho privilegiado para tornar uma aula um magnífico estímulo a aprendizagem. Uma boa
improvisação que decorre de m planejamento sólido, que a torna um ato criativo” (ROMANELLI,
2010, p.88).
É preciso que haja encantamento para que os atendidos sejam envolvidos no desejo de aprender e de
superar os seus próprios limites. Incapacidades estas, que muitas vezes são estabelecidas por um
sistema de educação que não favorecem o desenvolvimento cognitivo de crianças que apresentem
dificuldades de aprendizagem acentuadas.

Importante salientar que a maioria desses alunos, se não todos, chegam ao inicio do atendimento
muito desestimulados, desmotivados e descrentes de si mesmo.
Resgatar sua autoestima e a motivação intrínseca é um processo muitas vezes demorado, mas isso é
possível, e as atividades criativas proporcionam a busca do belo que existe em todo ser humano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No início dos atendimentos realizados no A.E.E. não era possível ter noção do trabalho com o qual
eu iria me deparar e me envolver. Com a experiência de pedagoga e psicopedagoga, fui aos poucos
percebendo que esses conhecimentos eram insuficientes diante dos desafios que me aguardavam
com tanta diversidade proveniente dos atendidos.
O Atendimento Educacional Especializado requer do profissional que, além de qualificado para
desenvolver o trabalho; que ele seja também comprometido com estudos e pesquisas contínuas sobre
cada caso especificamente.
Aperfeiçoar-me no conhecimento de neurociências e educação fez com que eu fosse me apropriando
do centro da aprendizagem cognitiva: o encéfalo.
Isso tornou possível estabelecer uma relação entre o aprendizado adquirido pelos atendidos com a
função cerebral, e as conexões correspondentes.
Exigiu a elaboração de um trabalho diversificado, mas, pautado em uma rotina de atividades
adaptadas para desenvolver a capacidade de reter as informações recebidas do ambiente e assim,
tornar mais fácil o acesso a essas informações diárias armazenadas, que chamamos de memória.
Os aspectos afetivos como insegurança, ansiedade, conflitos familiares e escolares sempre foram
observados nos atendimentos, pois estes podem deslocar ou reduzir a atenção dos alunos.
Por fim enfatizo a necessidade relevante de criar um vinculo sólido com os alunos, estabelecer laços
de afetividade, cumplicidade com o outro; pois isso desenvolve as áreas cerebrais, gera motivação,
interesse e alegria.

REFERÊNCIAS

ALVES, D. O. Sala de recursos multifuncionais. Espaço para o atendimento educacional especializado. Brasília:

Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2006.

DIRETRIZES, educacionais sobre estimulação precoce: o portador de necessidades educativas especiais / Secretaria

de Educação Especial – Brasília: MEC, SEESP, 1995.

FUENTES, Daniel. Neuropsicologia: teoria e pratica. Porto Alegre: Artmed, 2008.

GOLEMAN, Daniel. O cérebro e a inteligência emocional: novas perspectivas. Tradução Carlos Leite da Silva, – Rio de

Janeiro: Objetiva, 2012.

INCLUSÃO: Revista da Educação Especial/Secretaria de Educação Especial. v.1, n.1 (outubro 2005).-Brasília:

Secretaria de Educação Especial,2005-

MALLOY- Diniz, Leandro F… Avaliação neuropsicológica [et al.]. -Porto Alegre: Artmed ,2010.

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