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BRASILIEN Sprache. Kultur. Deutschland.

DIREITOS DIGITAIS FUNDAMENTAIS

“UMA DISCUSSÃO POLÍTICA


NECESSÁRIA”

CULTURA AUTORA
Revista Anna Schughart trabalha como
Projetos jornalista freelancer em Berlim entre
Especiais outros para a Wired e para a agência
Blog dpa.
Serviços
Tradução: Soraia Vilela
Copyright: Text: Goethe-Institut, Anna
Schughart. This work is licensed
under a Creative Commons
Attribution – Share Alike 3.0 Germany
license.

A sociedade vem se modificando. | Foto (detalhe): © bluraz - Fotolia.com Junho de 2017

Nossos direitos fundamentais nos protegem também na era digital?  Você tem alguma dúvida sobre
esse assunto? Escreva para nós!
Através da criação da Carta dos Direitos Digitais Fundamentais da União
Europeia, especialistas alemães tentaram encontrar uma resposta a essa
pergunta. É o que relata em entrevista Wolfgang Kleinwächter, um dos  0 Comentários
mentores da iniciativa.
 compartilhar 248
Por que precisamos de direitos fundamentais digitais?

O mundo no qual vivemos mudou. Na era digital, muita coisa antes considerada  tuitar
segura passa a ser questionada. Por isso é preciso se assegurar de que forma
os direitos fundamentais são válidos também na era digital, e onde há uma  compartilhar
demanda mais ampla de interpretação.
 Informações sobre proteção
A questão é: os direitos fundamentais garantidos pela União Europeia nos de dados
protegem de ameaças como vigilância e censura também em tempos de “big
data”, redes sociais e algoritmos? Vozes críticas à Carta Digital afirmam: sim,  Imprimir artigo
eles só precisam ser aplicados adequadamente.

Os direitos fundamentais vigentes protegem a esfera privada de cada indivíduo LINKS RELACIONADOS
de desmandos do poder público. Isso é bom, mas não basta. Percebemos no
 Digitalcharta.eu
momento que, na era de uma comunicação ilimitada, calcada na tecnologia e
 Ethics for Machines: Artificial
economicamente mercantilizável, o Estado-nação não é onipotente a ponto de Intelligence (goethe.de)
garantir as liberdades de maneira ampla e irrestrita. Empresas privadas como o  Life as a raw material: data
Facebook gerenciam muitos elementos da comunicação. Isso causa efeitos protection (goethe.de)
sobre os direitos individuais como a liberdade de expressão e a proteção de
dados. O esboço da Carta Digital vai além do direito hoje existente: queremos
A Deutsche Welle (DW) é a
responsabilizar também as empresas privadas quando se trata de proteger os
emissora internacional da Alemanha.
direitos fundamentais.
 dw.com/portuguese
DETER-SE E AVALIAR
Mas tanto o Facebook quanto os outros já criaram, há muito tempo, suas
próprias regras.

Nossa sociedade é organizada em Estados-nações com jurisdições próprias. O


ciberspaço, por sua vez, desconhece fronteiras nacionais. Isso torna a situação
complicada e gera tensões, que só podem ser aplainadas através de uma
estreita cooperação entre aqueles que geram o “código” de um lado e os que
geram a “lei” de outro. Nos últimos anos, regeu o consenso de que a internet
não pode ser “estrangulada” por uma regulamentação severa. Censura e
regulamentações monstruosamente burocráticas enforcariam a inovação e as
vantagens da sociedade da informação. Mas não se pode, por outro lado, deixar
a evolução de tudo isso apenas nas mãos das empresas e dos especialistas em
tecnologia.

Nessas alturas, discute-se abertamente sobre regras e leis para a vida digital.
De onde vem essa mudança?

Os efeitos da revolução da informação só agora vêm se tornando visíveis aos


poucos. Tudo – do modelo de negócios até a comunicação privada – está sendo
submetido a uma avaliação. Isso diz respeito também às nossas regras sociais.
Tudo isso lembra muito as reações à Revolução Industrial. Naquela época
tampouco houve, de início, uma legislação social, que só surgiu quando os
efeitos negativos do capitalismo foram se tornando visíveis. Através da internet
podemos fazer coisas que há 20 anos não teriam sido possíveis, mas é também
possível abusar de toda e qualquer liberdade. A criminalidade cibernética é
apenas um exemplo. Nesse sentido, é preciso deter-se e avaliar se o status quo
jurídico e seus instrumentos são suficientes, ou se é preciso acrescentar ou
ampliar algo.

A Carta Digital não diz respeito apenas a questões atuais, mas também ao
futuro do trabalho ou à inteligência artificial. Não se sabe ainda quais serão os
efeitos desta tecnologia sobre nosso dia a dia. A Carta Digital tenta
regulamentar uma coisa que nem sequer existe?

Não se pode correr o risco de ser acusado no futuro de ter marchado rumo a
uma catástrofe de olhos abertos. Será possível que a inteligência artificial um
dia se volte contra a humanidade? Ainda é muito cedo para dar uma resposta
jurídica a isso, mas do ponto de vista político essa discussão é necessária.
Especialmente quando se fala da Internet das Coisas (IoT) ou de inteligência
artificial, a situação é comparável ao desenvolvimento da energia nuclear. Se a
tecnologia nuclear abriu, por um lado, novas possibilidades, ela trouxe, ao
mesmo tempo, a ameaça de uma guerra atômica. É preciso discutir
intensamente, a fim de encontrar as linhas divisórias.

LIÇÕES DO PASSADO
Você menciona a Revolução Industrial e a energia nuclear: no contexto deste
debate, o que podemos aprender com as grandes transformações do passado?

Não ter medo, mas não se deixar levar pela leviandade. Precisamos costurar
alianças amplas, que abarquem todos os envolvidos e participantes. Não
apenas o governo, mas também o setor privado, a sociedade civil, as
comunidades acadêmica e da tecnologia.

Embora o título seja Carta dos Direitos Digitais Fundamentais da União


Europeia, somente integrantes de uma elite digital alemã trabalharam em sua
criação.

A dúvida de si próprios assolou os membros do grupo desde o primeiro dia, mas


a realidade é que alguém tinha que botar a mão na massa. A verdade é que,
para algo acontecer, a discussão precisa partir do círculo elitista de ativistas
empenhados voluntariamente em prol de uma causa.

Com o objetivo de criar uma estrutura jurídica europeia comum?

Na verdade, isso também não é suficiente. A internet é um fenômeno global e é


preciso chegar a soluções globais. Mas se os europeus se fizerem ouvir de
maneira duradoura no contexto global, eles poderão influenciar
significativamente as regulamentações globais. No entanto, esse processo
ainda vai demorar alguns anos até que se chegue a resultados concretos.

A quantas anda a discussão em torno dos direitos digitais fundamentais em


outros países?

Essas discussões começaram o mais tardar desde a Cúpula Mundial sobre a


Sociedade de Informação da ONU, que aconteceu no ano de 2003. Um passo
adiante, nesse sentido, foi a aceitação, em 2014, da Declaração Universal sobre
os Princípios Básicos de Governança da Internet na Conferência NetMundial,
em São Paulo. Ali estabeleceu-se que os direitos humanos ssão o fundamento
de qualquer política global relacionada à internet. Esta iniciativa atual da
Alemanha é outra contribuição, ou seja, nós de alguma forma jogamos mais
água em um rio que já estava correndo. Até então, esse debate não vinha
sendo conduzido na Alemanha com a seriedade necessária, nem nas altas
esferas políticas. Nossa maior motivação foi dar um pontapé inicial à discussão.
Os direitos digitais fundamentais não são somente para especialistas em
tecnologia, mas sim para qualquer cidadão. E eles pertencem à esfera política
tanto quanto a segurança na rede ou a economia digital.
Por mais direitos digitais: Wolfgang Kleinwächter, especialista em governança da internet. |
Foto (detalhe): © Acervo particular

O alemão Wolfgang Kleinwächter é especialista em comunicação e


governança da internet e um dos mentores da Carta dos Direitos Digitais
Fundamentais da União Europeia. Desde 1998, é professor de Política e
Regulamentação na Universidade de Aarhus, na Dinamarca. Foi membro
da diretoria do ICANN e integra hoje a Comissão Global sobre a
Estabilidade no Ciberspaço (GCSC).

A Carta Digital (Carta dos Direitos Digitais


Fundamentais da União Europeia) foi iniciada por
ativistas da internet, políticos, pesquisadores e
jornalistas, tendo sido publicada no dia 30 de novembro
© Digitalcharta de 2016. Em 23 artigos publicados até junho de 2017,
ela exige, na esfera europeia, direitos fundamentais
juridicamente assegurados no mundo digital. Em dezembro de 2016, a
Carta Digital foi apresentada à Comissão de Liberdades Civis, Justiça e
Assuntos Internos do Parlamento Europeu.

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