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1ª atividade de literatura

O que é literatura?

Conforme solicitado na atividade, deixo a seguir minha compreensão sobre o que é literatura, a partir da
leitura do primeiro capítulo do livro de Jerry Eagleton e de conhecimentos prévios. A partir da leitura de algumas
respostas e com base no que foi exposto no capítulo estudado, começo por discorrer sobre algumas características
equivocadas, que se atribui ao texto, para julgá-lo como literário ou não literário:

1. Definir a literatura como a escrita “imaginativa”, no sentido de ficção, ou seja, escrita que não é literalmente
verídica. Pensar que esta é uma característica pontual de um texto literário é um erro, uma vez que os
sermões do Padre Antônio Vieira são considerados textos literários, porém foram baseados nos
ensinamentos da Bíblia, que para muitos é um livro que contém relatos verdadeiros. Em contrapartida, as
histórias de heróis dos quadrinhos são ficção, mas nem por isso são considerados literatura.
2. Outro erro é considerar a literatura como a expressão do pensamento do seu autor, como a expressão dos
seus sentimentos, desejos e angústias. Considerar a literatura como uma produção que emerge
naturalmente, por meio de inspiração divina ou talento nato de criar. Essa forma de pensar a literatura foi
bastante disseminada no romantismo. Porém, ao analisarmos um texto literário, percebemos que é
resultado de técnicas muito bem elaboradas para compor o todo. Nada está no texto literário por acaso,
tudo é o emprego de técnicas direcionadas para criar um objeto autônomo.
3. Algumas pessoas também incorrem no erro de considerar como literatura a escrita que lhes parece “bonita”,
ou seja, “escrever bonito”. Nesse caso, o bonito é empregado em dois sentidos: o texto literário como o
texto que comporta uma linguagem socialmente aceita, não admitindo como literatura, por exemplo, texto
com palavras impróprias, ofensivas, rude, obscenas, agressivas ou imorais, sob o ponto de vista dos valores
sociais vigentes; No segundo caso, seria literário o texto escrito segundo a norma culta da língua, não
admitindo desvios. Ou seja, a ideia de que a literatura é um tipo de escrita altamente valorizada e
respeitada. Como foi comentado antes nas respostas, sabemos que alguns textos literários trazem em seu
conteúdo uma linguagem altamente agressiva, empregada propositalmente para criar o belo. Também,
alguns textos literários em suas técnicas de composição utilizam os desvios gramaticais justamente para criar
o efeito que faz com que aquela obra seja única.

Se literatura não é totalmente ou não é absolutamente nada do que citamos até o momento, então o
que seria literatura? Jerry Eagleton, em seu livro, fala sobre o que seria literatura, segundo os formalistas russos.
O formalismo russo é uma escola de crítica literária que aplicou a linguística ao estudo da literatura;
consideravam a obra literária como uma reunião mais ou menos arbitrária de técnicas, que incluíam som,
imagens, ritmo, sintaxe, métrica, rima, técnicas narrativas, ou seja, incluíam todo o estoque de elementos
literários formais. Em suma, para eles literatura é forma e não conteúdo, sendo este apenas a motivação da
forma, uma ocasião ou pretexto para um tipo específico de exercício formal, que utiliza uma linguagem densa,
desautomatizando a linguagem cotidiana, e causando assim estranhamento.

A linguagem literária “deforma” a linguagem cotidiana. Utilizando-se dos artifícios literários, a linguagem
comum é intensificada, condensada, torcida, reduzida, ampliada e invertida, ou seja, a torna densa. Esse
processo desautomatiza a linguagem e causa estranhamento. Vejamos um exemplo do estranhamento causado
pelo texto literário, no trecho a seguir do poema Pôr-do-sol em Itatiaia:

“Negros megalitos
Em doce decúbito
Sob o peso frágil
Da pálida abóbada”

Analisando de maneira superficial, nota-se que ao atribuir qualidades humanas seres inanimados (“doce e
pálida”) e ao utilizar palavras que a maioria das pessoas não utilizam habitualmente, ou seja, ao utilizar uma
linguagem densa, o poeta consegue desautomatizar a linguagem e causar estranhamento. O problema de pensar
que literatura se resume a isso é que considerar uma linguagem como densa ou não depende do contexto
histórico-social em que o indivíduo está inserido. Além disso, pensar na literatura como os formalistas o fazem é,
na verdade, considerar toda literatura como poesia, uma vez que um texto em prosa, dificilmente causa
estranhamento.

Percebe-se que até então temos falado de características que podem ser encontradas no texto literário,
mas que elas não o legitima como literatura. Outra característica trazida por Eagleton é o fato de a literatura ser
subjetiva, ou seja, a definição de literatura fica dependendo da maneira pela qual alguém resolve ler, e não da
natureza daquilo que é lido. Um segmento de texto pode começar sua existência como não sendo literário, e
depois passar a ser literatura. Alguns textos nascem literários, outros são classificados como tal, e a outros tal
condições é imposta. Portanto, o que descobrimos até agora é que a literatura não existe da mesma maneira
que os insetos, e que os juízos de valor que a constituem são historicamente variáveis, mas que esses juízos têm,
eles próprios, uma estreita relação com as ideologias sociais.

Ainda, segundo Antônio Cândido, o externo (no caso, o social) importa, não como causa, nem como
significado, mas como elemento que desempenha certo papel na constituição da estrutura, tornando-se assim,
interno. Ou seja, o social é transformado pelo autor/poeta/artista para criar um objeto autônomo. O social do
texto literário não é uma mera imitação da realidade, se assim o fosse não seria literatura. Literatura é um
recorte no tempo. Vejamos o exemplo do poema a seguir:

PÔR-DO-SOL EM ITATIAIA
Campo Belo , 1940

Nascentes efêmeras
Em clareiras súbitas
Entre as luzes tardas
Do imenso crepúsculo.

Negros megalitos
Em doce decúbito
Sob o peso frágil
Da pálida abóbada

Calmo subjacente
O vale infinito
A estender-se múltiplo

Inventando espaços
Dilatando a angústia
Criando o silêncio....

http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/por-do-sol-em-itatiaia

Logo no primeiro verso, percebemos que o pôr-do-sol de Itatiaia de Vinícius de Moraes é único, logo quando
ele diz que suas nascentes são efêmeras, ou seja, todos os dias suas nascentes se renovam e não são as
mesmas do dia anterior. Não importa quantas vezes formos a Itatiaia, o Pôr-do-sol de Vinícius de Moraes
não será o mesmo que vemos, porque ele é um recorte no tempo, um objeto autônomo.

Por fim, a literatura é forma, ou seja, desataumatiza a linguagem cotidiana causando estranhamento,
pode ser ficção, pode usar de desvio da norma culta como técnica para sua composição, é subjetiva, pode
fazer uso ou não da violência verbal, é transfiguração da realidade, é um recorte no tempo, é um objeto
autônomo. Não pode ser traduzida ou resumida, para não perder sua essência, as técnicas que as definem
como literária. Porém, todas essas características não são perenes e não são uma forma de bolo para definir
o que é literatura. Não existe uma essência da literatura. O que antes não era considerado arte, hoje pode
ser e vice-versa.
Cláudia Barrozo / Polo Palmares

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