Professional Documents
Culture Documents
Introdução
No Brasil contemporâneo, o estudo de Filosofia está regulamentado judicialmente, Lei
nº 11.684/08 que estabelece diretrizes e bases da educação nacional, para incluir a Filosofia
e a Sociologia como disciplinas obrigatórias no currículo do ensino médio3. Tendo em vista
esse cenário, o Professor de Filosofia se coloca como protagonista do ensino da reflexão
filosófica, “a filosofia é sempre um método - pensar é saber pensar – mas um método
acompanhado de sua razão de ser uma verdadeira cultura”4, então, o licenciado percebendo
uma condição primordial para elaborar estratégias em sua conduta, condição “sine qua non”
para empreender os métodos reflexivos filosóficos, com isso é de fundamental importância
o professor perceber que a sala de aula é um terreno muito fértil para elaboração de uma
filosofia da práxis.
1 Graduando em Filosofia Bacharel, 3º Período na Universidade Federal de Pernambuco UFPE ano 2014.
2 Doutor em Filosofia, Professor efetivo no curso de Filosofia na Universidade Federal de Pernambuco UFPE.
Professor da Cadeira Filosofia da Práxis 2014.1.
3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11684.htm (02-07-2014)
2
5 Perspectiva Filosófica, Revista dos Programas de Pós-Graduação em Filosofia UFPE. Volume II-N .38, p. 30.
3
6 Conceito Marxista de Homem: com a tradução dos manuscritos econômicos e filosóficos de Karl Marx. P.85.
7 Ibidem, p.87.
4
8 Ibidem,89.
9 Ibidem, p.90.
5
O objeto produzido pelo trabalho que é o produto, se opõe a quem o fabrica, assim é
alienado como uma força independente do produtor, como se o objeto tivesse uma “vida
própria”. Assim, descreve que o produto do trabalho incorporado a um objeto é convertido
em coisa física, surgindo a objetificação do trabalho, logo a execução do trabalhador, ou seja
seu ato de fazer é simultâneo sua obejetificação.
A perspicácia em seus estudos revelou que o trabalhador ao se relacionar com o
produto do seu trabalho, faz com que se torne um objeto alienado, ou seja, ambos
mercadoria, por conseguinte o trabalhador coloca sua vida no objeto, e essa não lhe
pertence mais, e sim ao objeto. A execução do trabalho é como uma perversão do
trabalhador, a objetificação como uma perda e uma servidão frente ao objeto e a apropriação
do objeto como alienação.
Identificou também, que o que está incorporado ao produto de seu trabalho não é
mais dele mesmo e quanto mais produz mais ser tornará miserável e diminuto. Assim explica
que a alienação do trabalhador em seu produto não significa apenas que o trabalho dele se
converta em objeto, assumindo uma existência externa mas que ainda que existe
independentemente, fora dele mesmo, e a ele estranho, e que lhe opõe como uma força
autônoma, a coisa que ele criou se volta contra ele mesmo de força estranha e hostil. O
mundo da produção é constituído também, sobre dois pilares, o da natureza e da
propriedade privada. Quanto a natureza, que é o mundo exterior sensorial, a qual a produção
é dependente e tudo cria-se a partir dela.
O material que se concretiza propriamente dito o trabalho, em que este atua e produz
coisa. Diante disso, a natureza proporciona os meios de existência do trabalho e do
trabalhador. Isso faz com que o homem se apropria do mundo externo por seu trabalho.
Esse processo faz com que o trabalhador se torne escravo da natureza, pois ela é a única
que habilita a existir primeiro como trabalhador depois como sujeito físico. Foi identificado
que quanto mais requer inteligência para a realização do cenário para o trabalho, no caso a
10 Ibidem, p.91.
6
11 Ibidem, p.92
12 Ibidem, p.100.
7
filosofia da práxis, e que é indispensável uma atenção e reflexão adequada por parte do
leitor quando se dirige a obra. Esses escritos sendo textos filosóficos, pode o Professor intuir
em ministrar tal conteúdo em aulas do ensino médio, devido ao tempo e a densidade do
assunto talvez não possa fazer, isso faz com que haja necessidade de que tais problemas
sejam superados, e pode se apontar para direção do cinema.
13 http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-49792013000100013&script=sci_arttext (02-07-2014)
14http://www1.folha.uol.com.br/paineldoleitor/agendafolha/1160164-colecao-celebra-espirito-critico-de-
charles-chaplin.shtml (02-07-2014)
8
“Charles Chaplin com seu filme Tempos Modernos (Modern Times, 1936) sintetizou
como ninguém o período histórico marcado pelo desemprego em massa, queda
acentuada do produto interno bruto em decorrência do declínio da produção industrial
e dos preços das ações subsequente à Quebra da Bolsa de Nova Iorque em 1929. A
Grande Depressão gerou grandes repercussões para a nação norte-americana –
cerca de 325 bilhões de dólares foram perdidos só em bens. O declínio econômico
trazido pela Depressão teria custado aproximadamente um ano e dois meses de
emprego. Entretanto, a fenda no padrão de vida não se configurou de forma
equânime para todas as parcelas da população estadunidense. Oficiais das Forças
Armadas, pilotos de linhas aéreas, professores universitários e alguns operários
especializados se mantiveram estáveis. Alguns norte-americanos ainda conseguiram
prosperar em seus negócios, chegando em poucos casos acumular fortunas
significativas. É evidente que a maior parte da população não se enquadrou nesse
perfil. (GRAHAM JUNIOR, 1976)”15
A história do filme, o drama tem como personagem, Chaplin, um operário e uma jovem
órfã. Ele trabalha numa grande fábrica, que por sua vez desempenha o trabalho repetitivo
de apertar parafusos que vem passando por ele em cima de uma esteira. Pois, de tanto
apertar parafusos, ele tem problemas de “stress” e, estafado, perde a razão de tal forma que
pensa que deve apertar tudo o que se parece com parafusos, como os botões de uma blusa
de um personagem que com ele contracena. Com essa passagem percebemos muitos
aspectos importantes da vida do operário nas fábricas;
Continuando a discussão sobre o papel das máquinas, existe um momento que no filme faz
a abordagem da questão da importância das máquinas na organização da fábrica, ou seja,
uma máquina para alimentar os operários de forma automática para que o processo de se
alimentar seja concomitante ao processo de produção, para que não seja desperdiçado
nenhum tempo qualquer;
15http://www.tempopresente.org/index.php?option=com_content&view=article&id=1894:resenha-tempos-
modernos-1936&catid=26:cine-tempo&Itemid=171 (02-07-2014)
16 Ibidem, (02-07-2014).
9
Obstante, ele desenvolve uma nova doença ocasionado pelo trabalho repetitivo, logo
com esse “novo” problema ocasionado pela repetição, ele é despedido e, logo em seguida,
internado em um hospital. Após ficar algum período internado em um hospital, sai de lá
“recuperado”, mas com a eterna ameaça de estafa que a vida moderna impõe: a correria
diária, a poluição sonora, as confusões entre as pessoas, os congestionamentos, as
multidões nas ruas, o desemprego, a fome, a miséria e todas mazelas provenientes desse
modo de vida na fábrica de uma grande cidade, em sua época.
Ao sair do espaço hospitalar, se depara com a fábrica onde trabalhara estava fechada.
Ao passar por uma rua, nota um pano, que acabara de cair de um caminhão (supostamente
vermelho, pois, ficará subentendido que é um líder sindical marxista que usa as cores do
partido). Ao empunhar o pano na tentativa de devolvê-lo ao motorista do caminhão, atrai um
grupo enorme de manifestantes que passava por ali. De forma equivocada, a polícia o
prende como líder grevista comunista, simplesmente pelo fato de ele estar agitando um
pano, parecido com uma bandeira, em frente a uma manifestação, que nem sabia que estava
acontecendo. Após passar um tempo na prisão, o operário é solto pela polícia por
agradecimento, uma vez que ajudou na prisão de um traficante de cocaína que tentava fugir
da prisão.
Em uma nova cena surge a outra personagem do filme, "a moça – uma menina que
vivia na margem do porto que se recusa a passar fome". A jovem (Paulette Goddard),
vivendo na miséria, pratica o roubo alimentos para subsistência. Ela mora com as suas duas
irmãs menores, seu pai está desempregado e as três são órfãs de mãe. O pai morre durante
uma manifestação de desempregados e as duas pequenas são internadas em um orfanato.
A moça foge para não ser internada e volta a roubar comida. Numa de suas investidas, ela
conhece o operário: depois de roubar o pão de uma senhora, a polícia vai prendê-la e o
operário assume a autoria do assalto. A polícia o prende, mas o solta em seguida após
descobrir o engano. Quando vê a moça sendo presa, o operário arma um esquema para ser
preso também: rouba comida em um restaurante. São colocados no mesmo camburão e,
durante um acidente com o carro, os dois fogem e vão morar juntos.
17 Ibidem, (02-07-2014)
10
“Em uma cena mais adiante, Carlitos volta à fábrica só que agora na condição de
assistente de manutenção das máquinas. Uma leitura possível é que o velho que
acompanha Chaplin represente os antigos artesãos metalúrgicos. A cena em que o
funcionário mais antigo fica preso nas engrenagens pode demonstrar que o novo
capitalismo marcado pelo taylorismo-fordismo suplantara o sistema de produção
artesanal.”18
Dando seguimento ao drama do filme, novamente ocorre outra greve na fábrica e, ele
é preso mais uma vez, agora por "desacato à autoridade policial". Mas dias depois, ele é
liberado e a jovem o espera na saída da prisão para levá-lo a “nova casa” – um barraco de
madeira perto de um lago. A jovem consegue, então, emprego em um café com dançarina
e arruma outro para Carlitos, só que como garçom/ cantor. Os dois são um sucesso,
principalmente Carlitos que, durante uma improvisação de uma música, arranca milhares de
aplausos dos presentes ao café.
Interrompendo a festa, entra em cena novamente a polícia, desta vez com uma
anotação acerca dos dados da moça e uma ordem para prende-la em num orfanato. Chaplin
e moça saem em fuga e assim começar tudo novamente.
No entanto, essa obra de arte do cinema, de forma radical crítica todo um período de
um determinado contexto social, que transcende a questão do entretenimento, do lazer, do
humor, indo adiante como um retrato fiel do que se faz com o ser humano com o dito
progresso das máquinas;
18 Ibidem, (02-07-2014)
11
“Na sociedade capitalista, o trabalho não é voluntário, mas obrigatório, pois não é
satisfação de uma necessidade, mas só um meio de satisfazer outras necessidades.
"O trabalho exterior, o trabalho em que o homem se aliena, é um trabalho de sacrifício
de si mesmo, de mortificação" (Manuscritos econômico-filosóficos,1844, I, 22). Esse
uso do termo tornou-se corrente na cultura contemporânea, não só na descrição do
trabalho operário em certas fases da sociedade capitalista, mas também a propósito
da relação entre o homem e as coisas na era tecnológica, já que parece que o
predomínio da técnica "aliena o homem de si mesmo" no sentido de que tende a fazer
dele a engrenagem de uma máquina.”20
A partir desse conceito, é notório onde todas as partes no filme abordam quando
Carlitos está diante daqueles engenhos de máquinas, onde se encontra exalto devido a se
submeter a tarefa de apertar parafusos, que tal atividade faz dele outro, que foge de toda
sua condição natural de homem, se submetendo-se a questão do trabalho e suas condições
no sistema capitalista. Assim, o professor em sala de aula pode discutir a questão da
condição alienante que o sistema de trabalho de exploração submete as peças de suas
engrenagens, que são os trabalhadores.
19 Ibidem, (02-07-2014)
20 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Editora Martins Fontes. São Paulo, 2007. p.26.
12
Outro aspecto a ser discutido agora será sobre o que caracteriza a propriedade privada,
e qual o seu lugar na referida discussão, que pode ser entendida como uma coisa um dono,
e ele tem plenos poderes sobre ela.
No caso do filme podemos demonstrar a propriedade privada como a fábrica, pois,
ela tem seu dono que é o patrão daquele lugar e tem o poder de dizer como que as coisas,
no caso as relações de trabalho se desenvolveria. A propriedade privada naquele caso
estabelece as relações existentes na sociedade e no meio do trabalho. No entanto, seria
essa a discussão na sala de aula, sobre a implicação das relações ante a propriedade
privada e as suas concepções no sistema capitalista.
Mais uma importante questão que Marx aborda, e tem uma ligação de explicação no
filme, é a separação do trabalho, que seria onde cada trabalhador desenvolveria uma tarefa
diferenciada. No filme, isso e demonstrado na linha de produção que existe, onde, na esteira
de uma das máquinas os objetos são passados e cada indivíduo cumpre uma função no
fazer da mercadoria. No caso, Chaplin apertando parafusos é uma aferição desse conceito,
que é totalmente diferente da época dos produtos manufaturados, onde o artesão coletava
desde a matéria prima, indo até o acabamento final do produto e o comercializando. Através
dessas cenas o professor poderá abordar tal questão e as implicações sociais e de
exploração existente do de trás de tal atividade.
Portanto, esses conceitos apontados, são apenas para demonstrar a possibilidade de
se utilizar o cinema como fonte de explicação de conteúdos filosóficos. Ficando a cargo do
professor de filosofia fazer um levantamento prévio a respeito de como irá utilizar
determinado conteúdo que dialogue com determinado linha cinematográfica, para
posteriormente aferir sobre os pontos de contato existente e assim estimular a reflexão sobre
a filosofia, permitindo que ela não fique apenas no campo abstrato mas também tendo um
sentido na prática, no cotidiano do discente. Isso permitirá um melhor aproveitamento das
aulas da parte do professor e tornando mais crítico e aberto a filosofia por parte do aluno, e
desta forma confirmando a possível eficácia na fusão de cinema e filosofia.
13
Referência
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Ed Martins Fontes.2007, São Paulo.
FROMM, Erich. Conceito Marxista de Homem. Ed. Zahar Editores. Rio de Janeiro, 1962.
Sites consultados
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11684.htm (02-07-2014)
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-49792013000100013&script=sci_arttext (02-07-
2014)
http://www1.folha.uol.com.br/paineldoleitor/agendafolha/1160164-colecao-celebra-espirito-
critico-de-charles-chaplin.shtml (02-07-2014)
http://www.tempopresente.org/index.php?option=com_content&view=article&id=1894:resen
ha-tempos-modernos-1936&catid=26:cine-tempo&Itemid=171 (02-07-2014)